
30
de estudo, como se verá adiante, algumas de suas colocações permanecem
extremamente pertinentes e rendem bons frutos em análises que se debruçam sobre a
alimentação e a culinária. Em As formas elementares da vida religiosa, Durkheim deu
atenção aos tabus alimentares e seus significados simbólicos ao tratar do consumo
periódico do animal totêmico nos clãs, e colocar que refeições realizadas em comum
podem promover a criação de laços de parentesco.
55
Mauss
56
disse algo parecido: nas
refeições em comum, cada um participa da substância do outro.
57
A comunhão
alimentar insere os homens em um continuum, ou seja, os que comem juntos hoje
passam a ter os mesmos antepassados (ainda que estejamos falando de simbolismo).
Ainda que seja possível encontrar referências às práticas alimentares entre os
clássicos da sociologia, a especialização dos profissionais da área em torno da temática
se dará somente com a difusão da Sociologia da Cultura
58
O olhar dos sociólogos,
segundo Meneses e Carneiro, voltou-se para problemas como as diferenciações sociais
pelos alimentos, a comensalidade e o consumo. Estes autores citam trabalhos que, desde
os anos de 1970 até a atualidade, ocupam-se do tema numa perspectiva sociológica.
Entre os estudos voltados para a comensalidade predominam questões que tratam da
alimentação como matriz de sociabilidade, da importância do aspecto comensal em
sociedades antigas
59
, além da percepção das refeições como instituição social, e os
ícones que a envolvem.
60
As pesquisas sobre o consumo, por sua vez, permitiram a
compreensão do impacto das inovações tecnológicas e das mudanças da alimentação na
linha temporal.
55
DURKHEIM, Emile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
56
MAUSS, Marcel. Sociologia y antropologia. Madrid: Tecnos, 1971.
57
Marcel Mauss entende sentimentos como lealdade e identidade em sua relação com a coesão social e à
perpetuidade desta coesão. No momento oportuno, tratarei deste tema de maneira mais profunda.
58
MENESES e CARNEIRO, op. cit. p. 23.
59
Neste ponto os autores citam PANTEL, Pauline Schmitt, La cité au banquet. Histoire des repas publics
dans les cités grecques. Roma/Paris, École française de Rome/De Boccard, 1992; LOMBARDO, Mario.
Pratiche di comensalità nei banchetti greci. In: GROTTANELLI, c. & PARISE, N. F., eds., Sacrificio e
società nel mondo antico. Bari, Laterza, 1988: p. 211 – 230 e NIELSEN, Inge & NIELSEN, Hanne
Sigismund, eds. Meals in a social context. (Aahus Studies in Mediterranean Antiquity,1).
60
Aqui, são destacados os trabalhos de DOUGLAS, Mary. Deciphering a meal. Daedalus, n. 101: p. 61 –
91, 1972; DOUGLAS, Mary. Taking the biscuit. The structure of the British meals. The New Society, v.
30: p. 744 – 7, 1974; WOOD, R., The Sociology of the meal. Edinburgh, Edinburgh University Press,
1995; HERPIN, N. Le repas comme institution: compte-rendu d’une enquête exploratoire, Revue
Française de Sociologie, v. 29: p. 503 – 21, juillet-sept. 1988; VISSER, Margaret, Much depends on
dinner. The exptraordinary history and mythology, allure and obsessions, perils, and taboos of an
ordinary meal London. Grove/QPB, 1987 e LUCAS, Michael T. Ala russe, à la pell-mell or à la practical?
Ideology and compremise at the late 19th century dinner table. Historical Archaeology, v. 28, n. 4: p. 80 –
93, 1994.