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UFRRJ
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA
VETERINÁRIA
DISSERTAÇÃO
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da
intoxicação experimental por monofluoroacetato
de sódio em ovinos
Tiago da Cunha Peixoto
2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
(PATOLOGIA ANIMAL E CIÊNCIAS CLÍNICAS)
ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS E LABORATORIAIS DA
INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL POR
MONOFLUOROACETATO DE SÓDIO EM OVINOS
TIAGO DA CUNHA PEIXOTO
Sob a Orientação da Professora
Marilene de Farias Brito Queiroz
e Co-orientação do Professor
Paulo Fernando de Vargas Peixoto
Dissertação submetida com
o
requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Ciências, no
Curso de Pós-
Graduação em
Medicina Veterinária, Área de
Concentração em Patologia Animal.
Seropédica, RJ
Janeiro de 2010
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UFRRJ / Biblioteca Central / Divisão de Processamentos Técnicos
636.3089
P379a
T
Peixoto, Tiago da Cunha, 1983-.
Aspectos clínico-
patológicos e
laboratoriais da intoxicação experimental
por monofluoroacetato de sódio em ovinos
Tiago da Cunha Peixoto – 2010.
127 f. : il.
Orientador: Marilene de Farias Brito
Queiroz.
Dissertação (Mestrado) Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de
Pós-Graduação em Medicina Veterinária.
Bibliografia: f. 92-118.
1. Ovino - Doenças - Teses. 2.
Intoxicação Teses. 3. Patologia -
Teses. I. Queiroz, Marilene de Farias
Brito, 1960-. II. Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro. Curso de Pós-
Graduação em Medicina Veterinária. III.
Título.
Aos meus pais, a minha irmã e a minha
namorada, por todo o amor, apoio,
incentivo e conselhos que foram
essenciais para esta conquista.
AGRADECIMENTOS
A Deus pela minha vida, família, saúde e oportunidades.
Aos meus pais, Paulo José Peixoto e Elenice da Cunha Peixoto e a minha irmã Luiza da Cunha
Peixoto por zelarem sempre pela minha educação e formação moral, pelos sábios ensinamentos
de vida e exemplos de caráter. Obrigado pela confiança, amizade, conselhos e apoio
incondicional.
À Professora Marilene de Farias Brito por despertar em mim a vontade de querer ser
patologista, através de sua sabedoria e amor cativante à profissão. Agradeço pela primeira
oportunidade na patologia, por ter me recebido como monitor e me orientado no mestrado
visando sempre o meu aprendizado. Obrigado pelo apoio na execução desse trabalho e pelos
inúmeros ensinamentos técnicos.
Ao Mestre Paulo Vargas Peixoto, grande patologista e pessoa que admiro muito. Obrigado
pelo apoio e dedicação na execução desse trabalho. Agradeço pela confiança em mim
depositada, pela oportunidade, pelos grandes e valiosos ensinamentos técnicos e estímulo ao
estudo.
À Professora Ticiana do Nascimento França, agradeço pelos ensinamentos, pela ajuda e apoio
no desenvolvimento desse trabalho.
Ao Grande Mestre Carlos Hubinger Tokarnia, ilustre pesquisador e pessoa, exemplo de
profissional que tive o privilégio de conhecer e conviver. Agradeço pela grande ajuda na
realização deste trabalho. Obrigado pelos nobres ensinamentos, pela paciência e apoio.
Aos amigos Ana Paula Gama Aragão, Vivian Assunção Nogueira, Saulo Andrade Caldas,
Michel Abdalah Helayel, Elise Miyuki Yamasaki, Luís Gustavo Oliveira, Bruno Martini-Santos,
pela valiosa ajuda nos experimentos.
À minha namorada Juliana Torres Zoltay pelo incentivo, apoio, carinho e amor durante todo
este trabalho. Te amo!
Aos colegas Cleide Domingues Coelho e Cristiano Veiga pela dedicação na realização dos
exames complementares.
À CAPES, pelo apoio financeiro.
Enfim, agradeço a todos que contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
PEIXOTO, Tiago da Cunha. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da
intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. 2010. 127p.
Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária, Patologia Animal). Instituto de
Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2010.
O monofluoracetato de sódio (MF) tem sido isolado de diversas plantas na África do
Sul e na Austrália, bem como de três (Palicourea marcgravii, Arrabidaea bilabiata e,
possivelmente, de Mascagnia rigida) das 12 plantas brasileiras que causam “morte
súbita” (BSDCP) em bovinos. O MF bloqueia o ciclo de Krebs e a produção de ATP. A
morte sobrevém pelo efeito mais intenso sobre o coração, SNC, ou ambos, dependendo
da espécie animal intoxicada. Em 1959, Döbereiner e Tokarnia detectaram no rim de
bovinos intoxicados por P. marcgravii, uma lesão por eles considerada pica para essa
intoxicação, a degeneração hidrópico-vacuolar (DHV) dos túbulos uriníferos
contornados distais associada à picnose nuclear. Mais tarde verificou-se que esse tipo de
alteração também aparecia no rim de bovinos intoxicados com todas as outras BSDCP.
O objetivo deste trabalho foi verificar se a ingestão de doses únicas e de frações diárias
da dose letal de MF a seis ovinos induz a clássica DHV observada no rim de bovinos
intoxicados por BSDCP, o que indicaria que esse composto é responsável pelas mortes
dos animais que ingeriram essas plantas. O MF foi administrado, por via oral, em doses
únicas de 0,5 e 1,0 mg/kg, cada dose para dois ovinos, e em doses subletais repetidas
diariamente de 0,1 mg/kg/dia, por quatro dias, e 0,2 mg/kg/dia, por seis dias, cada dose
para um ovino. Todos os ovinos que receberam o MF morreram, exceto um que recebeu
0,5 mg/kg e, não mostrou sintomas. A evolução da intoxicação variou de 3min a
33h:5min. Clinicamente os animais apresentaram taquicardia, respiração abdominal,
tremores musculares, ligeira perda de equilíbrio, por vezes cambaleavam, deitavam e
apoiavam a cabeça no flanco. Na fase final, os ovinos caíam em decúbito lateral,
esticavam os membros, faziam movimentos de pedalagem, apresentavam opistótono e
morriam. O exame ecocardiográfico evidenciou dilatação cardíaca e redução da fração
de encurtamento sistólico. A análise dos níveis séricos de uréia e creatinina revelou
moderada a acentuada azotemia. O MF provocou “morte súbita” em todos os ovinos
que mostraram sintomas. À necropsia verificaram-se aurículas e veias jugulares, cavas,
ázigos e pulmonares moderadamente ingurgitadas e, em alguns animais, edema
pulmonar. O exame histopatológico revelou, em todos os animais, leve a acentuada
DHV das células epiteliais dos túbulos contornados distais, associada à picnose nuclear.
Adicionalmente, verificou-se discreta vacuolização e, por vezes, necrose de coagulação
de hepatócitos. Não encontramos referências a esse tipo peculiar de lesão, à exceção das
descrições sobre lesões renais associadas à ingestão de BSDCP e de recentes estudos em
bovinos intoxicados com MF. De fato, DHV tem sido observada em animais que
desenvolvem nefrose tubular tóxica aguda, porém, nestes casos, a alteração não está
restrita aos túbulos distais e não cursa com picnose nuclear. Dessa forma, esse trabalho
demonstra, em ovinos, que tanto doses letais únicas quanto subdoses diárias de MF
induzem a DHV dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear,
o que confirma que essa substância é o princípio tóxico determinante da morte dos
animais intoxicados por plantas brasileiras que causam “morte súbita”.
Palavras-chave: monofluoroacetato de sódio, patologia, ovino.
ABSTRACT
PEIXOTO, Tiago da Cunha. Clinic-pathological and laboratory aspects of
experimental poisoning by sodium monofluoroacetate in sheep. 2010. 127p.
Dissertation (Master Science in Veterinary Medicine, Animal Pathology). Instituto de
Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica , RJ, 2010.
Sodium monofluoracetate (MF) has been isolated from several plants in South Africa
and Australia, as well as in Brazil from three (Palicourea marcgravii, Arrabidaea
bilabiata and, probably from Mascagnia rigida) of the 12 plants that cause "sudden
death" in cattle. MF blocks the Krebs cycle and the production of ATP. The death is due
to the most intense effect either on the heart, SNC, or both, depending on the poisoned
animal species. In 1959, Döbereiner and Tokarnia detected hydropic-vacuolar
degeneration (HVD) of the distal convoluted uriniferous tubules, associated with
nuclear picnosis, a lesion they considered typical for the poisoning by P. marcgravii.
Furthermore, it was seen that this alteration also appears in the kidney of cattle poisoned
by all the other Brazilian sudden death causing plants (BSDCP). The objective of this
study was to verify if the ingestion of single doses of MF and daily quantities of 1/2.5
and 1/5 of the lethal dose in six sheep causes the same lesion in the kidney of cattle
poisoned by BSDCP. This would prove that MF is responsible for the death of animals
which ingest these plants. MF was administered orally in single doses of 0.5 and 1.0
mg/kg to four animals, and repeated daily doses of 0.1 and 0.2 mg/kg to two animals.
Death occurred in five of six animals. The course of the poisoning lasted from 3 min. to
33h 5 min. Clinically the animals presented palpitation, abdominal breathing, slight
balance loss with sometimes swaying gait, the animals laid down and placed the head
on their flank. In the “dramatic phase”, all the animals fell into lateral decubitus,
stretched out the legs, made peddling movements, presented opistotonus, and died. The
electrocardiographical examination showed heart dilatation and reduction of the systolic
shortening fraction. Laboratory hematological exams revealed increased urea and
creatinine. MF caused the clinical and pathological symptoms of “sudden death”. At
postmortem examination, heart auricles and jugular, cava, azygos and pulmonary veins
of all animals were moderately ingurgitaded, and in some sheep, pulmonary edema was
observed. Histopathology revealed HVD of the epithelial cells of the distal convoluted
uriniferous tubules associated with nuclear picnosis in all animals. Vacuolation and less
often necrosis of liver cells was seen in some cases. No references on that peculiar type
of lesion could be found in the literature, exception the description of kidney lesions in
animals associated with the ingestion of BSDCP, and recent studies of MF poisoning in
cattle. HVD has been observed animals that develop toxic tubular nephrosis; however,
in these cases, this lesion is not restricted to the distal kidney tubules and does not occur
with nuclear picnosis. The present study demonstrated in sheep that single lethal doses
or repeated doses of fractions of the lethal doses of MF causes HVD of the distal
convoluted uriniferous tubules, associated with nuclear picnosis. This confirms that this
compound is the toxic principle responsible for the death of animals poisoned by
BSDCP.
Keywords: sodium monofluoracetate, pathology, sheep.
LISTA DE FIGURAS
PÁGINA
Figura 1
Estrutura química do monofluoroacetato de sódio ..........................
3
Figura 2
“Coleiras tóxicas” anexadas à garganta de um ovino (A) e de um
caprino (B) .......................................................................................
6
Figura 3
Estrutura química do fluorocitrato ..................................................
8
Figura 4
Estrutura parcial do complexo aconitase-fluorocitrato ....................
8
Figura 5
Bloqueio do ciclo de Krebs pelo monofluoroacetato de sódio ........
9
Figura 6
Aspecto botânico de Palicourea marcgravii ...................................
43
Figura 7
Monofluoroacetato de sódio utilizado nos experimentos ................
58
Figura 8
Intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em
ovinos. Exame ecocardiográfico (Ovino 5766) ...............................
60
Figura 9
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino
5766 (doses repetidas de 0,2 mg/kg/6dias) apático e com jugular
ingurgitada (seta) .............................................................................
65
Figura 10
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino
5761 (dose única de 0,5 mg/kg) em decúbito esternal e postura de
auto-auscultação ..............................................................................
65
Figura 11
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino
5766 (doses repetidas de 0,2 mg/kg/6dias) prostrado, com pescoço
distendido e cabeça apoiada no chão ...............................................
66
Figura 12
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Ovino 5761 (dose única
de 0,5 mg/kg) eliminando líquido espumoso pelas narinas e boca,
o que caracteriza acentuado edema pulmonar .................................
66
Figura 13
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino
5765 (dose única de 1,0 mg/kg) com rigidez dos membros na
“fase dramática” ...............................................................................
67
Figura 14
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino
5762 (dose única de 1,0 mg/kg) em movimentos de pedalagem na
“fase dramática” ...............................................................................
67
Figura 15
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação
experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Veia
jugular acentuadamente ingurgitada (seta). Ovino 5765 (dose
única de 1,0 mg/kg) .........................................................................
72
Figura 16
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Veias cava caudal (CL) e
cranial (C), ázigos direita (A), costo cervical (CC) repletas. Ovino
5765 (dose única de 1,0 mg/kg) ......................................................
73
Figura 17
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5766 (doses
repetidas de 0,2 mg/kg/6dias) com aurícula esquerda (AU), veias
cava caudal (CL) e cranial (C) e ázigos direita (A) repletas ...........
73
Figura 18
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Ovino 5762 (dose única
de 1,0 mg/kg) com acentuado edema pulmonar caracterizado por
espuma rosada na traquéia ...............................................................
74
Figura 19
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Ovino 5761 (dose única
de 0,5 mg/kg) com acentuado edema pulmonar ..............................
74
Figura 20
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à
picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino 5761 (dose única de 0,5
mg/kg) ..............................................................................................
78
Figura 21
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à
picnose nuclear. Lesão incipiente (seta) e lesão mais avançada
(cabeça da seta) caracterizada por marcada picnose nuclear. Obj.
16. Ovino 5766 (dose repetidas de 0,2 mg/kg/6dia) ........................
78
Figura 22
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à
picnose nuclear (seta - lesão incipiente e cabeça da seta - lesão
mais avançada, caracterizada por marcada picnose nuclear). No
detalhe, picnose nuclear (seta) e vacuolização citoplasmática
(cabeça da seta). Obj. 25. Ovino 5764 (dose repetidas de 0,1
mg/kg/4dia) ......................................................................................
79
Figura 23
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à
picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino 5766 (dose repetidas de 0,2
mg/kg/6dia) ......................................................................................
79
Figura 24
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à
picnose nuclear. Lesão incipiente (seta). No detalhe, núcleos
picnóticos (seta) e sem alteração (cabeça da seta). Obj. 40. Ovino
5762 (dose única de 1,0 mg/kg) .......................................................
80
Figura 25
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Degeneração hidrópico-
vacuolar das células epiteliais dos túbulos retos associada à
picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino 5766 (dose repetidas de 0,2
mg/kg/6dia) ......................................................................................
80
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1
Países que fazem uso do monofluoroacetato de sódio atualmente no
controle populacional de espécies-alvo ..........................................................
7
Tabela 2
Doses orais letais do MF para diferentes espécies animais e para o homem .
11
Tabela 3
Dose oral letal média e progressão da intoxicação por MF em diferentes
espécies animais .............................................................................................
12
Tabela 4
Intoxicações acidentais por MF notificadas na Nova Zelândia entre 1980 e
1992 ................................................................................................................
18
Tabela 5
Quadro clínico causado por pesticidas considerados diagnósticos
diferenciais da intoxicação por MF em cães e gatos ......................................
34
Tabela 6
Aspectos clínco-patológicos da intoxicação experimental pelas outras nove
plantas tóxicas brasileiras que causam “morte bita” em bovinos e, que
provavelmente, contêm MF como princípio ativo .........................................
40
Tabela 7
Substâncias isoladas de Palicourea marcgravii .............................................
42
Tabela 8
Principais dados sobre o delineamento experimental e desfecho da
intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos ..........
64
Tabela 9
Análises bioquímicas dos ovinos intoxicados experimentalmente com
doses únicas de monofluoroacetato de sódio .................................................
69
Tabela 10
Análises bioquímicas dos ovinos intoxicados experimentalmente com
subdoses diárias de monofluoroacetato de sódio ...........................................
70
Tabela 11
Resultados dos exames ecocardiográficos realizados no ovino 5766 (0,2
mg/kg/dia) ......................................................................................................
71
Tabela 12
Resultados dos experimentos com monofluoroacetato de sódio em ovinos .. 76
Tabela 13
Alterações histopatológicas observadas no rim de ovinos intoxicados por
MF ..................................................................................................................
81
ADP
Adenosina difosfato
Anvisa
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ATP
Adenosina trifosfato
BSDCP
Brazilian sudden death causing plants
CaCl
2
Cloreto de cálcio
CCD
Cromatografia em camada delgada
CG
Cromatografia gasosa
CK
Creatinaquinase
CK-MB
Fração cardíaca da creatinaquinase
CLAE
Cromatografia líquida de alta eficiência
CO
2
Dióxido de carbono
CoA
Coenzima A
DCA
Dicloroanilina
DCC
Diclorohexilcarbodiimida
DHV
Degeneração hidrópico-vacuolar
ECG
Eletrocardiograma
EM
Espectometria de massa
EUA
Estados Unidos da América
FC
Frequência cardíaca
FE
Fração de encurtamento
FR
Frequência respiratória
FADH
2
Forma reduzida da flavina-adenina dinucleótido
GABA
Ácido gama-aminobutírico
HCN
Ácido cianídrico
HE
Hematoxilina-eosina
Ht
Hematócrito
IM
Intramuscular
IV
Intravenoso
LD
50
Dose letal mediana
LPCs
Livestock protection collars - “coleiras tóxicas” (sic.)
MAO
Monoamina-oxidase
MF
Monofluoroacetato de sódio
MR
Movimentos ruminais
NADH
Forma reduzida da nicotinamida adenina dinucleotídeo
OMS
Organização Mundial de Saúde
Ov
Ovino
pH
Potencial hidrogeniônico
RMN
19
F
Ressônancia magnética nuclear flúor
19
SAP
Número de registro no Setor de Anatomia Patológica
SC
Subcutânea
SNC
Sistema nervoso central
TºC
Temperatura em graus Celcius
TCD
Túbulos contornados distais
TDA
Departmento de Agricultura do Texas
UNESP
Universidade Estadual Paulista
VO
Via oral
2-Me THBC
2-metiltetraidro-
β-carbolina
LISTA DE ABREVIAÇÕES
SUMÁRIO
Página
1.
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
2.
REVISÃO DE LITERATURA ...............................................................
3
2.1
Monofluoroacetato de Sódio ..................................................................... 3
2.1.1 Sinonímias .................................................................................................
3
2.1.2 Propriedades físico-químicas .....................................................................
3
2.1.3 História e utilização do MF ....................................................................... 4
2.1.4 Toxicocinética e toxicodinâmica ............................................................... 7
2.1.5 Toxicidade para os animais domésticos, selvagens e seres humanos .......
10
2.1.6 Tolerância ................................................................................................. 14
2.1.7 Desintoxicação .......................................................................................... 15
2.1.8 Efeito acumulativo .....................................................................................
15
2.1.9 Intoxicação secundária .............................................................................. 16
2.1.10
Quadro Clínico-patológico da Intoxicação por MF ............................. 19
2.1.10.1
Herbívoros.................................................................................................. 19
2.1.10.2
Onívoros ....................................................................................................
21
2.1.10.3
Carnívoros ................................................................................................. 22
2.1.10.4
Roedores .................................................................................................... 23
2.1.10.5
Répteis e anfíbios ...................................................................................... 24
2.1.10.6
Aves ........................................................................................................... 24
2.1.10.7
Animais selvagens em cativeiro ................................................................ 24
2.1.10.8
Seres humanos ........................................................................................... 24
2.1.11
Diagnóstico da intoxicação por MF ....................................................... 25
2.1.12
Prognóstico da intoxicação por MF ....................................................... 28
2.1.13
Tentativas terapêuticas na intoxicação por MF ................................... 28
2.1.14
Diagnóstico diferencial da intoxicação por MF .................................... 33
2.1.14.1
Intoxicação por organofosforados, carbamatos, organoclorados e
estricnina ....................................................................................................
33
2.1.14.2
Deficiência de selênio e vitamina E .......................................................... 35
2.1.14.3
“Falling disease” ........................................................................................
35
2.1.14.4
Intoxicação por plantas cianogênicas ........................................................ 35
2.1.14.5
Intoxicação por Ricinus communis (folhas e pericarpo) ............................
37
2.1.14.6
Intoxicação por plantas que causam “morte súbita” ..................................
38
2.2 Ocorrência Natural do MF em Plantas Tóxicas de Interesse
Pecuário ....................................................................................................
38
2.2.1 Plantas que contêm MF ............................................................................. 38
2.2.2 Plantas que provavelmente contêm MF ....................................................
39
2.3 Histórico dos Estudos que Visaram Identificar o Princípio Tóxico de
Palicourea marcgravii ...............................................................................
42
2.4 Aspectos Gerais e Clínico-patológicos da Intoxicação por Plantas
que Contêm MF .......................................................................................
48
2.4.1 Palicourea marcgravii ...............................................................................
48
2.4.2 Arrabidaea bilabiata ................................................................................. 52
2.4.3 Mascagnia rigida .......................................................................................
55
3.
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 58
3.1 Animais ......................................................................................................
58
3.2 Monofluoroacetato de Sódio ..................................................................... 58
3.3 Local .......................................................................................................... 58
3.4 Delineamento Experimental ...................................................................... 59
3.5 Exames Complementares .......................................................................... 59
3.5.1 Bioquímica Sérica ..................................................................................... 60
3.5.2 Urinálise .................................................................................................... 60
3.5.3 Exames Ecocardiográficos ........................................................................ 60
3.6 Necropsia ................................................................................................... 61
3.7 Histopatologia ............................................................................................
61
4.
RESULTADOS ........................................................................................ 62
4.1 Dose Administrada e Evolução Clínica ..................................................... 62
4.2 Aspectos Clínicos ...................................................................................... 62
4.2.1 Início dos sinais clínicos ............................................................................
62
4.2.2 Quadro clínico geral .................................................................................. 62
4.3 Exames Complementares .......................................................................... 68
4.3.1 Bioquímica sérica ...................................................................................... 68
4.3.2 Urinálise .................................................................................................... 68
4.3.3 Exames Ecocardiográficos ........................................................................ 68
4.4 Achados de Necropsia ............................................................................... 72
4.5 Achados Histopatológicos ......................................................................... 75
5.
DISCUSSÃO ............................................................................................
82
6.
CONCLUSÕES ........................................................................................
91
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 92
8.
ANEXOS .................................................................................................. 119
Anexo A. Resumo dos protocolos dos experimentos ................................
119
Anexo B. Incidência de DHV em bovinos e coelhos intoxicados
experimentalmente pelas plantas brasileiras que causam “morte súbita” .
123
Anexo C. Comparação do quadro clínico da intoxicação pelo MF e por
plantas que causam “morte súbita” manifestado por diversas espécies
animais. Complementação e modificações das categorias propostas por
Chenoweth e Gilman (1946) .....................................................................
124
Anexo D. Período decorrido entre a administração de doses únicas de
folhas frescas de Palicourea marcgravii e a morte dos bovinos e a
intensidade da DHV................................................................................
127
1
1 INTRODUÇÃO
No Brasil são conhecidas, até o momento, 12 plantas que causam “morte súbita”. Nesse
grupo, estão incluídas as plantas tóxicas de interesse pecuário mais importantes do país, e que
são, de fato, responsáveis por cerca de 600.000 mortes de bovinos, todos os anos. Dentre essas,
destaca-se Palicourea marcgravii, por sua elevada toxidez, ampla distribuição, boa palatabilidade
e efeito acumulativo (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Desde a década de 1930
P. marcgravii tem sido objeto de diversos estudos, sobretudo, no que se refere à identificação e
quantificação de possíveis substâncias tóxicas ou de ação farmacológica, contudo, não havia
consenso, entre os pesquisadores, sobre qual substância, dentre as diversas já isoladas, seria o
princípio tóxico da planta capaz de determinar o quadro clínico-patológico e o óbito dos animais
intoxicados e, ainda hoje, persistem incertezas.
O monofluoracetato de sódio (MF) tem sido isolado de diversas plantas tóxicas, cuja
ingestão determina “morte súbita” na África do Sul e na Austrália; no Brasil, essa substância foi
identificada por cromatografia em camada delgada e/ou espectroscopia por ressonância
magnética nuclear flúor
19
em P. marcgravii (OLIVEIRA, 1963) e Arrabidaea bilabiata (KREBS;
KEMMERLING; HABERMEHL, 1994); há ainda indícios da presença do MF em Mascagnia
rigida por técnicas cromatográficas (CUNHA, 2008). Sabe-se que o MF inibe, por competição, a
enzima aconitase, o que resulta no bloqueio do ciclo de Krebs e da produção de ATP (PETERS,
1952). O óbito sobrevém pelo efeito mais intenso sobre o coração, SNC, ou ambos, dependendo
da espécie animal intoxicada (CHENOWETH; GILMAN, 1946). Embora o quadro clínico-
patológico verificado em animais que ingerem essas plantas corresponda, em grande parte, ao
observado nos casos de intoxicação por MF, alguns autores acreditam que esse composto não
seria o princípio tóxico determinante das mortes dos animais que ingerem essas plantas ou que
haveria outras substâncias que poderiam causar a morte dos animais ou contribuir para a
toxicidade dessas plantas.
Em 1959, Döbereiner e Tokarnia detectaram no rim de bovinos intoxicados por P.
marcgravii, uma lesão por eles designada degeneração hidrópico-vacuolar (DHV) dos túbulos
uriníferos contornados distais, que consideram pica para essa intoxicação e de grande valor
diagnóstico, em função de sua distribuição seletiva, quase exclusiva a esses túbulos e pela
marcada picnose nuclear. Mais tarde, verificou-se que tal lesão também aparecia no rim de
grande parte dos animais intoxicados com doses únicas de todas as outras 11 plantas brasileiras
que causam “morte súbita” e, em parte menor dos bovinos e ovinos que ingerem frações diárias
da dose letal de algumas plantas desse grupo. Recentemente, Nogueira (2009) demonstrou que
bovinos intoxicados experimentalmente com doses únicas de MF desenvolvem a típica DHV,
entretanto, ainda não foi demonstrado se a administração diária de frações da dose letal do MF a
animais, bem como se a intoxicação aguda por MF em ovinos é capaz de determinar essa lesão
renal e, se esse composto é o responsável pela morte dos animais que ingerem essas plantas.
A demonstração de que a intoxicação por MF é capaz de induzir lesões semelhantes às
observadas nos rins de bovinos intoxicados pelas plantas que causam “morte súbita” confirmaria
que esse composto é o princípio tóxico determinante da morte dos animais intoxicados por essas
plantas. Essa comprovação, além do seu significado diagnóstico, pode ter grande relevância
econômica na pecuária, uma vez que estudos genéticos no sentido de tornar bactérias ruminais
capazes de metabolizar o MF, tornando-o inócuo, têm sido desenvolvidos na Austrália (GREGG
et al., 1998). No Brasil, esses estudos encontram-se em fase inicial de desenvolvimento pelo
2
intitulado Projeto Milênio coordenado pelo Dr. Franklin Riet-Correa
*
. Tal condição tornaria
possível a profilaxia da intoxicação natural por plantas que causam “morte súbita” que, é
inviável, em termos práticos, através da utilização de antídotos.
O presente trabalho teve como objetivo caracterizar o quadro clínico-patológico e
laboratorial da intoxicação experimental por MF em ovinos, com a finalidade de verificar se a
ingestão de doses únicas e de frações diárias da dose letal desse composto induzem lesões
histológicas semelhantes às observadas nos bovinos e ovinos intoxicados por plantas que causam
“morte súbita”, além de confirmar que esse composto é o princípio tóxico responsável pelas
mortes dos animais que ingerem essas plantas e realizar uma profunda revisão de literatura acerca
da intoxicação por MF em diversas espécies.
*
Franklin Riet-Correa, Universidade Federal de Campina Grande/Centro de Saúde e Tecnologia Rural. Hospital Veterinário/
Laboratório de Anatomia Patológica/Campus de Patos – PB, Santa Cecília, 58700-000 - Patos, PB, Brasil.
3
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Monofluoroacetato de Sódio
2.1.1 Sinonímias
O monofluoroacetato de sódio (MF), conhecido quimicamente também como ácido
monofluoroacético e fluoroacetato de sódio (OMS, 2001) e, pelo nome popular “mão branca”
(BALLANI et al., 2008) é uma das substâncias mais tóxicas descoberta (SCHWARTE, 1947;
TWIGG; KING, 1991; MORAES, 1993; ZURITA et al., 2007). Recebeu a denominação 1080,
correspondente ao seu número de série, quando testado, entre milhares de outros compostos,
como rodenticida na década de 1940 nos Estados Unidos (EASON, 2002). Ficou conhecido
também como veneno de gifblaar, nome popular de Dichapetalum cymosum, uma importante
planta tóxica africana (STEYN, 1934), cujo MF foi identificado por Marais em 1944.
2.1.2 Propriedades físico-químicas
Em relação aos seus aspectos físico-químicos, o MF é um tóxico, cristalino (McGIRR;
PAPWORTH, 1955), branco, inodoro, insípido (McGIRR; PAPWORTH, 1955; OLIVEIRA,
1955; EGEKEZE; OEHME, 1979a), higroscópico quando exposto ao ar (EGEKEZE; OEHME,
1979a), solúvel em água, (McGIRR; PAPWORTH, 1955; OLIVEIRA, 1955; GRIBBLE, 1973;
EGEKEZE; OEHME, 1979a; EISLER, 1995; BEASLEY, 2002), relativamente insolúvel em
solventes orgânicos (McGIRR; PAPWORTH, 1955; EGEKEZE; OEHME, 1979a, EISLER,
1995; BEASLEY, 2002), tais como querosene, álcool, acetona ou óleos vegetais e animais
(EGEKEZE; OEHME, 1979a). É uma substância não volátil (OLIVEIRA, 1955), quimicamente
estável (OLIVEIRA, 1955; GRIBBLE, 1973) à luz solar e à temperatura de 5C (EPA, 1995),
devido à forte ligação entre os átomos de carbono e flúor, porém é instável a temperaturas
superiores a 110º C (EISLER, 1995) e se decompõe a partir de 200º C (EISLER, 1995;
BEASLEY, 2002). Algumas soluções aquosas de MF retêm suas propriedades rodenticidas por
pelo menos 12 meses, enquanto, outras perdem pelo menos 54% da sua toxicidade após 24 dias
(EISLER, 1995). Apresenta fórmula molecular CH
2
FCOONa (Figura 1) e massa molecular
100,02 g/mol (BEASLEY, 2002).
Figura 1. Estrutura química do monofluoroacetato de sódio.
4
A grande popularidade do MF como agente pesticida de vertebrados, quando comparado a
compostos alternativos, se deve a uma série de fatores, incluindo o seu baixo custo (McILROY,
1996; EASON, 1997), potência (McILROY, 1996), alto grau de eficácia (EASON, 1997),
relativa facilidade de utilização, em particular, no preparo de iscas, baixo risco de contaminação e
de persistência ambiental, bem como de bioacumulação (McILROY, 1996; EASON, 1997). Cabe
ressaltar que a persistência do MF em iscas e no ambiente é altamente dependente de fatores
ambientais. De fato, em áreas com altos índices de pluviosidade, esse composto é facilmente
lixiviado de iscas e, quando atinge o solo, é degradado por pelo menos 20 espécies diferentes de
microrganismos, principalmente, por Pseudomonas spp. Por outro lado, sua toxicidade e
longevidade são maximizadas em áreas com clima frio e seco. Adicionalmente, diversos estudos
concluíram que não nenhuma evidência da persistência do MF no solo ou em cursos de água
na Austrália e Nova Zelândia após o término das campanhas de controle de espécies-alvo, onde o
MF foi empregado massivamente (AUSTRALIA, 2003).
2.1.3 História e utilização do MF
O MF foi sintetizado, primeiramente, na Bélgica em 1896 pelo químico Swarts
(GRIBBLE, 1973), porém, naquela ocasião, ganhou pouca atenção de químicos e farmacologistas
(ATZERT, 1971). De fato, nenhuma menção foi feita acerca de sua toxidez até a década de 1920
quando foi, inicialmente, reconhecido o seu efeito nocivo contra insetos e patenteado como
agente anti-traças (TWIGG; KING, 1991).
Na Alemanha, em 1934 foi detectada, pela primeira vez, sua acentuada natureza xica
(ATZERT, 1971) e na década seguinte, verificou-se o seu potencial como pesticida de
vertebrados (KALMABACH, 1945). Entretanto, apenas no ano de 1942 os pesquisadores
concluíram que a morte provocada por esse composto era causada por convulsões seguidas de
falha respiratória (BRISCOE, 1942; FELDBERG; KILBY; KILBY, 1942). Durante a II Guerra
Mundial (1939-1945), devido à falta de rodenticidas como tálio e estricnina (EISLER, 1995),
foram intensificadas as pesquisas por pesticidas alternativos, a base de MF, visando à produção
de um potente raticida capaz de proteger as tropas aliadas contra doenças transmitidas por
roedores (CALVER; KING, 1986). Contudo, outro autor acredita que devido à sua grande
toxicidade, o MF foi considerado, desde o início da II Guerra Mundial, como uma potencial
arma de guerra, capaz de envenenar provisões de água das populações inimigas (GRIBBLE,
1973). De fato, segundo Eisler (1995) no século XVIII o MF havia sido usado com esse
propósito, quando Dichapetalum toxicarium, uma planta Africana, nessa época reconhecida por
conter um composto tóxico letal para ratos, animais de produção e humanos, posteriormente,
identificado como MF, foi utilizada por nativos da África para envenenar as fontes de água de
tribos inimigas.
Em junho de 1944, o Departamento de Pesquisa Científica e Desenvolvimento dos
Estados Unidos forneceu o MF e outras substâncias químicas ao Centro de Pesquisa de Animais
Selvagens para serem testados como agentes rodenticidas. O Centro de Pesquisa atribuiu ao MF o
número de série 1080. Amostras de MF também foram encaminhadas ao Centro de Pesquisa de
Animais Selvagens de Denver, EUA, para testes adicionais em outras espécies animais. Nesses
testes, o MF mostrou-se extremamente eficaz e foi empregado extensivamente como rodenticida
nos anos do pós-guerra (CALVER; KING, 1986), quando, vários países, inclusive a Inglaterra,
Estados unidos, Polônia e Alemanha haviam desenvolvido, independentemente, métodos
eficientes para sintetizá-lo (GRIBBLE, 1973). Adicionalmente, verificou-se o eficiente potencial
do emprego do MF no controle de predadores de animais de produção (ATZERT, 1971).
5
Na mesma década, o MF foi introduzido nos Estados Unidos como rodenticida
(PROUDFOOT et al., 2006) e, mais tarde, passou a ser utilizado como pesticida de vertebrados,
empregado no controle de coiotes (Canis latrans) que atacavam rebanhos (EPA, 1995), bem
como no controle de coelhos (Lepus spp. e Sylvilagus spp.) (HORNSHAW et al., 1986;
AULERICH et al., 1987), do roedor norte-americano pocket gopher (Geomys spp.), esquilos
(Spermophilus spp.) e cães da pradaria (Cynoms spp.) (McILROY, 1982a; EISLER, 1995). Entre
1946 e 1949, pelo menos 12 pessoas morreram acidentalmente nos Estados Unidos intoxicadas
por MF, quando este foi utilizado como rodenticida. Nesta ocasião, uma criança adoeceu após
comer carne cozida de um esquilo intoxicado com MF, mas depois se recuperou (EPA, 1976).
Em 1952, foi utilizado, pela primeira vez, para controlar populações de coelhos na
Tasmânia (CHURCHILL; CORKHILL; RICHARD, 2007) e, em 1954, foi empregado, com o
mesmo objetivo na Nova Zelândia, exclusivamente, para combater espécies animais introduzidas
no país como gambás (Trichosurus vulpecula), gatos selvagens (Felis catus) e coelhos
(Orcytogalus cuniculus), que se tornaram pragas e causavam prejuízos econômicos e danos
ambientais (COWAN, 1991).
Nas décadas seguintes (1950 e 60), o MF foi empregado, restritamente, como pesticida de
vertebrados, em diversos outros países. Foi utilizado no controle de coiotes e lobos no Canadá, de
porcos indianos (Hystrix indica) na Índia, de coiotes no México e do chacal de dorso preto (Canis
mesomelas) na África do Sul (PEACOCK, 1964).
Nos Estados Unidos, entre 1959 e 1969 o MF foi incriminado como o responsável por 16
óbitos de seres humanos, sendo quatro suicídios e pelo menos 12 mortes acidentais. Nesse
mesmo período, foram notificados 37 casos de intoxicação por MF em animais domésticos
decorrentes de sua utilização por agências governamentais (ATZERT, 1971). Aproximadamente
40 anos depois, foram descritos outros casos do uso de soluções de MF (1%) como tentativa de
suicídio (CHI; LIN; CHEN, 1999).
No Brasil, em 1989, três funcionários da empresa Aços Vilares S.A morreram e 76 foram
hospitalizados intoxicados por MF devido à manipulação inadequada do produto (PALERMO-
NETO; MORAES-MOREAU, 1995).
No ano de 1972, a U.S. Environmental Protection Agency tornou o uso do MF ilegal nos
Estados Unidos (CALVER; KING, 1986) devido, em parte, às mortes de animais não-alvos
(BALCOMB; BOWEN; WILLIAMSON, 1983) e de espécies ameaçadas de extinção
(PALMATEER, 1989, 1990). No entanto, em 1985 foi desenvolvido um novo método para
controlar coiotes, que ameaçavam os rebanhos de pequenos ruminantes, através do emprego do
MF nos chamados livestock protection collars (LPCs) (Figura 2). Esses LPCs, também
conhecidos, como “coleiras tóxicas” [sic] (EPA, 1985) são anexados à garganta de ovinos e
caprinos e protegem o rebanho de predadores, uma vez que, ao ataque de coiotes, através da
típica mordida na região da garganta, o predador se intoxica (WALTON, 1990; BURNS;
TIETJIN; CONNOLLY, 1991). Desta forma, em 1985, o uso dessa substância, foi mais uma vez
permitido nos EUA, porém, exclusivamente, para tal finalidade (EPA, 1985).
6
Figura 2. “Coleiras tóxicas” anexadas à garganta de um ovino (A) e de um caprino (B). Fonte: Texas
Department of Agriculture (TDA) (1994).
No Brasil, o MF foi introduzido como rodenticida em 1965, entretanto, o seu emprego
tornou-se restrito a campanhas públicas a partir de 1980, e, em 1982 sua fabricação,
comercialização e uso foram proibidos pelo Ministério da Saúde (ADESP, 2007). Posteriormente,
a sua utilização em produtos rodenticidas domissanitários foi legalmente proibida pela Portaria
321, de 28 de Julho de 1997 (BRASIL, 1997). O seu comércio, bem como o de outras
substâncias não regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é
considerado prática criminosa, tipificada como crime contra a saúde pública, devido ao risco à
vida de pessoas. Entretanto, mesmo após tal proibição, o MF ainda é ilegalmente comercializado
por ambulantes e em estabelecimentos comerciais e utilizado de forma ilícita como rodenticida
doméstico (APEVISA, 2009). Atualmente, o seu uso também é proibido em diversos países
como Alemanha, Japão, Panamá, Belize, Chile, Colômbia, El Salvador, Filipinas, Guatemala,
México e Tailândia, devido à sua elevada toxicidade e potencial risco à saúde humana e
ambiental (NIETO, 2001). Por outro lado, continua amplamente empregado em outros países,
sobretudo na Austrália (McILROY, 1982a, 1982b, 1982c; McILROY, 1992; EASON; TURCK,
2002; CHURCHILL; CORKHILL; RICHARD, 2007) e Nova Zelândia (Tabela 1) (NIETO,
2001; BEASLEY, 2002; EASON; TURCK, 2002), onde seu uso é permitido com restrições
(NIETO, 2001), no controle da populacional de mamíferos nativos e de outras espécies animais
introduzidas no país (CALVER; KING, 1986) que destroem plantações, comprometem a
biodiversidade (CHURCHILL; CORKHILL; RICHARD, 2007), causam danos econômicos e
ambientais (EASON et al., 1994; COWAN, 1991) e ameaçam espécies nativas por competição
(CALVER; KING, 1986) ou predação (CALVER; KING, 1986; EASON, 2002). Nos Estados
Unidos, o MF ainda é empregado, exclusivamente, nas chamadas “coleiras tóxicas”
(PALMATEER, 1989, 1990; EISLER, 1995; EASON et al., 1999) e, na África do Sul na
proteção de rebanhos contra o chacal asiático (Canis aureus) (WALTON, 1990).
No Brasil, entre janeiro e março de 2004, o MF foi utilizado de forma criminosa na
Fundação Parque Zoológico de São Paulo, onde, pelo menos, 73 animais morreram intoxicados
por esse composto, segundo a perícia (ORTIS, 2005). Aptekman et al. (2003) relatam que cães e
gatos são as principais espécies intoxicadas de forma acidental ou criminosa pelo MF, sendo
7
frequentes os atendimentos clínicos no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia – UNESP, em Botucatu, SP.
Tabela 1. Países que fazem uso do monofluoroacetato de sódio atualmente no controle
populacional de espécies-alvo
País Espécies-alvo Referências
Coelhos europeus (Orcytogalus cuniculus),
cães e porcos selvagens (Canis familiaris dingo
e Sus scrofa) e raposas (Vulpes vulpes).
McIlroy (1992)
Austrália
Gambás (Trichosurus vulpecula), cangurus de
Bennett (Macropus rufogriseus) e “pademelon”
da Tasmânia (Thylogale billardierii).
McIlroy (1982a, 1982b,
1982c)
Gambás (Trichosurus vulpecula).
Cowan (1991) e Eason
(2002)
Nova Zelândia
Gatos selvagens (Felis catus) e coelhos
europeus (Orcytogalus cuniculus).
Cowan (1991)
Estados Unidos Coiotes (Canis latrans)
Eisler (1995)
África do Sul Chacal asiático (Canis aureus)
Walton (1990)
2.1.4 Toxicocinética e toxicodinâmica
O MF é rapidamente absorvido pelos tratos gastrintestinal e respiratório, mas não é bem
absorvido através da pele intacta (FOSS, 1948; BROCKMANN; McDOWELL; LEEDS, 1955;
ATZERT, 1971). Em geral, a toxicidade do MF é a mesma independentemente se a via de
administração do composto for oral, subcutânea, intramuscular, intraperitoneal ou intravenosa
(CHENOWETH; GILMAN, 1946; WARD; SPENCER, 1947). Apesar da absorção dérmica,
o manuseio diário do produto por trabalhadores constitui um risco potencial e, nestes casos, são
adotados procedimentos rigorosos de segurança (EASON et al., 1999; EASON, 2002).
Uma vez absorvido, o composto se distribui uniformemente nos tecidos, incluindo o
cérebro, coração, fígado e rim (PEACOCK, 1964). No entanto, antes do aparecimento dos
primeiros sinais clínicos um período de latência, que varia, em geral, entre 30 minutos a duas
horas e meia após a administração do MF, independentemente da via de administração
empregada (EGEKEZE; OEHME, 1979a). Mesmo quando doses elevadas são utilizadas o início
das manifestações clínicas não é imediato, embora o período latente seja reduzido (PATTISON,
1959). Esse período de latência corresponde ao intervalo de tempo necessário para que o MF seja
absorvido, entre nas células e, em especial, para que ocorra a conversão enzimática em seu
metabólito tóxico, o fluorocitrato (SHERLEY, 2004) em quantidade suficiente para alterar as
funções intracelulares e induzir os sinais clínicos (ATZERT, 1971; PATTISON, 1959). A
8
variabilidade na duração do período latente entre as diferentes espécies está diretamente
relacionada a diferenças nos processos bioquímicos (EGEKEZE; OEHME, 1979a).
A toxicidade do MF ocorre, exclusivamente, pela ação do fluorocitrato (Figura 3),
formado no organismo por meio da denominada “síntese letal” (PETERS, 1952). Tal termo foi
atribuído à conversão de um composto não tóxico a outro extremamente tóxico por Peters (1952),
em contraste à comum “síntese protetora” bem conhecida pelos bioquímicos, onde moléculas
estranhas ao organismo são convertidas em compostos de menor toxicidade (STECOL, 1941).
O fluoroacetato é capaz de mimetizar a função do acetato e se incorporar ao ciclo de
Krebs, devido a sua semelhança estrutural com esse composto (PETERS; WAKELIN; BUFFA,
1953; COLLICCHIO-ZUANAZE; SAKATE, 2005). Desta forma, o fluoroacetato se liga à acetil
coenzima A (CoA) para formar fluoroacetil CoA, que substitui o acetil CoA no ciclo de Krebs.
Deste modo, o fluoroacetil CoA se conjuga com o oxaloacetato e reage com a enzima citrato
sintase para produzir fluorocitrato (PETERS, 1952; 1963). Este composto bloqueia
competitivamente a aconitase (LOTSPEICH; PETERS; WILLSON, 1952), através da ligação
irreversível do átomo F do fluorocitrato ao íon Fe
2+
do centro ativo dessa enzima (Figura 4)
(KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994) e impede a conversão do citrato em isocitrato
(PETERS, 1952; 1963), o que resulta no acúmulo de grandes quantidades de citrato nos tecidos
(BUFFA; PETERS, 1949; GAL; PETERS; WAKELIN, 1954). Cabe ressaltar que o citrato, em
concentrações normais, age como um precursor da acetil-coenzima A na síntese de ácidos graxos
(GROLLMAN, HARRISON; HARRISON, 1961). Em suma, essa sequencia de reações acarreta
no bloqueio do ciclo de Krebs (PETERS 1952, 1963), também conhecido como ciclo do ácido
tricarboxílico ou ciclo do ácido cítrico (NELSON; COX, 2002), o que impede a formação das
coenzimas NADH e FADH
2
, não havendo, desta forma, transferência de elétrons para a cadeia
respiratória e formação de adenosina trifosfato (ATP) a partir de ADP, conforme apresentado na
Figura 5.
Figura 3.
Estrutura química do
fluorocitrato (Fonte: KREBS;
KEMMERLING; HABERMEHL, 1994).
Figura 4
.
Estrutura parcial do complexo aconitase-
fluorocitrato (Fonte: KREBS; KEMMERLING;
HABERMEHL, 1994).
9
Figura 5. Bloqueio do ciclo de Krebs pelo monofluoroacetato de sódio. Adaptado de (VICKERY; VICKERY, 1973; GRIBBLE, 1973; EGEKEZE; OEHME,
1979a; MARRAZZI; HOLLIDAY, 1981; COLLICCHIO-ZUANAZE; SAKATE, 2005).
Monofluoroacetato de sódio
=
Fluoroacetil Co
A
+
+
Fluorocitrato
Aconitase
X
Ciclo de
Ciclo de Ciclo de
Ciclo de
Krebs
KrebsKrebs
Krebs
10
Como consequência, diminuição da produção de ATP em até 50% e os processos
metabólicos dependentes de energia são bloqueados (GAL; PETERS; WAKELIN, 1956;
BOWMAN, 1964; WILLIAMSON, 1967). É evidente que os órgãos que possuem alta taxa
metabólica, como coração, cérebro e rim, são os mais afetados (SUZUKI, 1999). Além disso, o
citrato acumulado no organismo exerce um efeito quelante sobre o cálcio sérico, com
consequente hipocalcemia (GAL; PETERS; WAKELIN, 1956; OMARA, SISODIA, 1990). De
fato, os níveis de cálcio sérico total são inversamente proporcionais aos do citrato
(BOSAKOWSKI; LEVIN, 1986). Segundo alguns autores, o grau da hipocalcemia está
relacionado com o prolongamento do intervalo Q-T no ECG (CHENOWETH; GILLMAN, 1947;
SHAPIRA; TITELMAN; BURSZTEIN, 1980). Cabe ressaltar, que o prolongamento do intervalo
Q-T é associado a risco de vida por arritmias ventriculares e, é relatado como a principal causa do
óbito de animais experimentalmente intoxicados por MF, bem como de seres humanos
acidentalmente intoxicados por esse composto (TAITEMAN et al., 1983). Outra consequência do
acúmulo de citrato nos tecidos é a inibição secundária da enzima fosfofrutoquinase
(WILLIAMSON, 1967; GODOY; CARMEN, 1974), com subsequente inibição da glicólise, o
que também resulta na redução da produção e oferta de energia, falha da respiração celular
seguida de morte celular ((DUNN; BERMAN, 1968; EGEKEZE; OEHME, 1979a).
Adicionalmente, em casos de intoxicação por MF, verifica-se aumento dos níveis de
glicose e glicogênio séricos. A hiperglicemia ocorre devido ao aumento dos níveis de cortisol
endógeno, que por sua vez, é decorrente de sua inadequada metabolização hepática por baixa
disponibilidade de ATP. Como consequência, observa-se hiperglucagonemia, bem como
hipoinsulinemia nos animais intoxicados por essa substância (BALLARD; HYDE, 1967).
Verifica-se ainda diminuição do metabolismo dos substratos provenientes da oxidação de
carboidratos, lipídeos e proteínas no ciclo de Krebs (GAL; PETERS; WAKELIN, 1956), bem
como da oxidação do acetato (LIFSON; SVANSON, 1953; GAL; PETERS; WAKELIN, 1956).
Ocorre aumento nos níveis de ceto-substâncias no sangue, uma vez que há aumento da síntese
hepática de acetoacetato e inibição de sua utilização nos tecidos (LIFSON; SVANSON, 1953).
marcada redução na utilização de piruvato e da incorporação de CO
2
nos ácidos orgânicos
(MEHLMAN, 1968). O acúmulo de ácido lático provoca diminuição do pH sanguíneo (NOVÁK;
MISUSTOVÁ; HOSEK, 1972).
O MF afeta ainda, de forma direta ou indireta, a função de diversas outras enzimas, tais
como succinato desidrogenase (FANSHIER; GOTTWALD; KUN, 1964), hexoquinase
(BOWMAN, 1964), acetil CoA carboxilase, malonil CoA, piruvato carboxilase (MEHLMAN,
1968) e ATP citrato-liase (ROKITA; WALSH, 1983). Contudo, ainda não é bem esclarecida a
relevância de tais interferências enzimáticas na toxicidade do MF (SHERLEY, 2007).
2.1.5 Toxicidade para os animais domésticos, selvagens e seres humanos
O MF é altamente tóxico para todas as espécies de animais (HUMPHREYS, 1988),
inclusive para o homem (McTAGGART, 1970), no entanto, os efeitos xicos são muito
variáveis em função da espécie intoxicada e da sensibilidade individual (Tabela 2) (McILROY,
1981). Além disso, o período de latência existente antes do aparecimento dos primeiros sinais
clínicos e o intervalo de tempo entre a ingestão do MF e o óbito apresenta diferenças
significativas entre as diversas espécies de vertebrados. De fato, alguns animais morrem em
poucos minutos e outros sobrevivem por vários dias (McILROY, 1986), conforme apresentado na
Tabela 3.
11
Tabela 2. Doses orais letais do MF para diferentes espécies animais e para o homem
Espécie Dose oral letal
(mg/kg)
Referências
Cães 0,06 - 0,20
Parton (2006)
Bovinos 0,15 - 0,62
Humphreys (1988)
Ratos 0,10 - 3,0
Chenoweth (1949)
Ovinos 0,25 - 0,50
Humphreys (1988)
Caprinos 0,30 - 0,70
Humphreys (1988)
Gatos 0,30 - 0,50
Humphreys (1988)
Suínos 0,30 - 0,40
Humphreys (1988)
Cobaios 0,5 - 1,0
Foss (1948)
Equinos 0,50 - 1,75
Humphreys (1988)
Camundongos
0,50 - 17,0
Chenoweth (1949)
Coelhos 0,80
Parton (2006)
Passeriformes 2,50
Chenoweth (1949)
Galinhas 5,0 - 7,50
Chenoweth (1949)
Macacos 10,0 -12,0
Foss (1948)
Sapos 150,0 (SC)
*
Chenoweth (1949)
Homem 2,0 - 10,0
Gajdusek e Luther (1959);
* Via subcutânea.
Dentre as diversas espécies animais, os canídeos, em geral, apresentam maior
sensibilidade a essa substância, seguidos por outros carnívoros, herbívoros e aves, os répteis e
anfíbios são os menos sensíveis (Tabela 3) (McILROY, 1986). Alguns autores acreditam que tal
variação de sensibilidade esta relacionada ao grau de eliminação ou de condensação da substância
com o oxaloacetato (HATCH, 1987), bem como com a taxa metabólica do organismo,
especificamente, do metabolismo oxidativo celular, que pode favorecer ou não a metabolização e
a eliminação de substâncias xicas (GONCHAROV; JENKINS; RADILOV, 2005). Contudo, a
razão exata para essa variação ainda não é totalmente compreendida (GOH et al., 2005).
Em relação à sensibilidade individual, foi observado que tanto mamíferos jovens quanto
fêmeas de mamíferos aquáticos durante o cio, são mais sensíveis ao MF, quando comparados
com outros animais da mesma espécie (McILROY, 1981). Outros estudos verificaram que sob
temperaturas elevadas (23-37ºC) os guaxinins (
Procyon lotor)
são mais sensíveis ao MF do que
em temperaturas mais amenas (13-23ºC) (EASTLAND; BEASOM, 1986b), assim como,
camundongos e sapos (CHENOWETH, 1949), uma vez que, a temperatura ambiental altera o
metabolismo individual e a sensibilidade a essa substância (EASTLAND; BEASOM, 1986b). Por
outro lado, ratos intoxicados experimentalmente com 5,0 mg/kg de MF, quando submetidos a
temperatura ambiental de 23º e 17ºC apresentaram comportamento oposto, já que a taxa de
mortalidade aumenta de 3% para 47%, respectivamente (MISUSTOVÁ; NOVÁK; HOSEK,
1969). Segundo Buffa e Pasqualli-Ronchetti (1977), o variável grau de permeabilidade da
membrana celular ao MF, bem como diferenças morfológicas e funcionais entre grupos celulares
podem, de certa forma, justificar a diferença na toxidez da substância para as diversas espécies
animais. Entretanto, Eisler (1995) considera que a variação na resposta individual ao MF pode ser
atribuída à reduzida habilidade em converter o fluoroacetato em fluorocitrato.
12
Tabela 3. Dose oral letal média e progressão da intoxicação por MF em diferentes espécies
animais
Espécie animal LD
50
(mg/kg)
Início dos sintomas
após a
administração do
MF (h)
Intervalo de
tempo entre a
administração
do MF e o óbito
(h)
Mamíferos:
Herbívoros marsupiais
“Brushtail possum” (Trichosurus vulpecula)
*
0,47 – 0,79 1,0 – 19,8 5,0 – 97,0
Cangurus de Bennett (Macropus rufogriseus)
*
> 0,21 < 16,9 – 23,2 8,9 – 38,9
“Southern hairy-nosed wombat” (Lasiorhinus
latifrons)
0,21 5,1 – 39,4 16,2 – 59,3
“Eastern grey kangaroo” (Macropus giganteus) ~ 0,1 – 0,35 < 13,2 – 23,9 20,9 – 62,1
Herbívoros eutérios
Equinos (Equus caballus) 1,0 ~ 1,5 – 2,0 6,0 – 10,5
Ovinos (Ovis aries) 0,5 6,2 – 37,6 9,6 – 61,6
Coelhos (Oryctolagus cuniculus)
*
0,34 – 0,5 1,1 – 10,1 3,0 – 44,3
Bovinos (Bos taurus) 0,39 1,5 – 29,0 1,5 – 29,3
Onivoros/carnívoros marsupiais
“Northern quoll” (Dasyurus hallucatus) 5,66 3,0 – 361,9 10,0 – 450,7
Diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii) 4,24 0,3 – 1,6 2,6 – 22,3
“Eastern quoll” (Dasyurus viverrinus) 3,73 0,2 – 2,24 < 2,0 – 63,2
“Stripe-faced dunnart” (Sminthopsis macroura) 0,95 1,7 – 4,0 3,4 – 13,1
Onivoros/carnívoros eutérios
Porco selvagem (Sus scrofa)
*
1,0 1,9 – 47,3 2,8 – 80
Gatos (Felis catus)
*
0,40 1,0 – 5,6 20,7 – 21,0
Dingo (Canis lupus dingo)
*
0,11 4,8 – 14,6 5,3 – 10,8
Raposa-vermelha (Vulpes vulpes)
*
0,12 4,1 5,5
Roedores:
Camundongo (Mus musculus) 8,33 1,3 – 2,8 2,2 – 68,3
“Grassland melomys” (Melomys burtoni) 2,65 0,6 – 1,9 14,1 – 205,8
“Bush Rat” (Rattus fuscipes) 1,13 0,6 – 5,1 0,7 – 24,8
Rato-preto (Rattus rattus)
*
0,76 0,8 – 27,8 2,4 – 36,5
Répteis e anfíbios:
“Blotched blue-tongued lizard” (Tiliqua
nigrolutea)
336,4 13,3 – 160,9 14,4 – 68,3
Dragão-barbudo (Pogona vitticeps) < 110 15,2 14,9 – 24,2
Sapo “spotted grass” (Limnodynastes
tasmaniensis)
~ 60 12,9 – 77,5 36,8 – 98,3
“Gould’s monitor” (Varanus gouldii) 43,6 24,2 – 141,2 66,5 – 292,5
Aves:
Emu (Dromaius novaehollandae) ~ 278 1,5 – 5,8 124
Cacatua-de-crista-amarela (Cacatus galerita) 3,46 9,9 – 17,7 9,0 – 73,7
“Australian magpie (Gymnorhina tibicen) 9,93 3,6 – 10,7 9,0 – 73,7
Águia “wedge-tailed” (Aquila audax) 9,49 1,0 – 60,0 8,0 – 158,5
Tabela adaptada de Sherley (2007) que foi baseada nos dados fornecidos por Mcilroy (1981; 1982a; 1982b; 1983a; 1983b; 1984;
1985), Meldrum e Bignell (1957), Marks et al. (2000) e Robison (1970).
* Espécies-alvo australianas.
13
O MF exerce efeito direto sobre o sistema efetor da termorregulação. O bloqueio
específico do ciclo de Krebs, pelo fluorocitrato, provoca, secundariamente, uma redução na
produção de calor e do metabolismo aeróbico com consequente hipotermia (MISUSTOVÁ
NOVÁK; HOSEK, 1969). De fato, gatos (COLLICCHIO-ZUANAZE et al., 2006) e ratos
(SIKULOVÁ; NOVÁK, 1970), experimentalmente intoxicados com MF frequentemente
apresentam hipotermia. Por outro lado, cães manifestam inicialmente hipertermia, porém, tal
controvérsia pode ser justificada pela aferição da temperatura durante os períodos de
hiperexcitabilidade e convulsões tônico-clônicas (DE PAULA, 2000).
Em ratos, foi demonstrado experimentalmente que o acúmulo de citrato é mais acentuado
no rim e fígado (SPENCER; LOWENSTEIN, 1967) e, em coelhos, no miocárdio e cérebro
(HUANG; PANG; CH`ANG, 1980). Outros estudos verificaram que a concentração do citrato no
rim aumenta progressivamente da região cortical para a medular (SIMONNET; GAUTHIER;
PELLET, 1980) e que, a excreção do citrato acumulado no organismo está diretamente
relacionada às condições metabólicas durante a intoxicação por MF (GROLLMAN, HARRISON;
HARRISON, 1961). Segundo esses autores, em quadros de acidose e acidificação da urina
uma considerável diminuição da excreção do citrato.
Alguns autores acreditam que as convulsões observadas em intoxicações por MF
decorrem do acúmulo de citrato associado à depleção de cálcio ionizado (BUFFA; PETERS,
1950), porém, outros autores rejeitam essa hipótese, uma vez que a administração de cálcio IV ou
subaracnóideo não impede a ocorrência de crises convulsivas induzidas pelo MF
(BOSAKOWISKI; LEVIN, 1986; HORNFELDT; LARSON, 1990).
Estudos acerca da toxicidade do MF sobre mitocôndrias do cérebro, coração e rim de
ratos, mostraram que a taxa de oxidação de alguns substratos é muito reduzida em mitocôndrias
isoladas desses tecidos (CORSI; GRANATA, 1967). Em gatos adultos, a intoxicação por MF
provoca inibição dos neurônios inibitórios no córtex motor. No entanto, nesse caso, o MF atua de
forma direta sobre o córtex cerebral, uma vez que a inativação prévia da saída de íons cloro nos
neurônios motores causa inibição cortical pós-sináptica da geração do potencial de ação
(RAABE, 1981). Convulsões induzidas pela hipoglicemia insulínica diferem daquelas
provocadas por MF. Na primeira, ocorre redução da concentração de glicose para o SNC, uma
vez que reduz a glicemia e, consequentemente, todas as formas de oxidação da glicose. Já a
intoxicação por MF, causa o bloqueio específico do ciclo de Krebs e as convulsões são
decorrentes do reduzido suprimento energético ao SNC (MARRAZZI; HOLLIDAY, 1981). Em
coelhos, a convulsão e fibrilação ventricular iniciam-se, em geral, após um estímulo externo ou
pela contenção dos animais; tal constatação, sugere que o aumento na liberação de catecolaminas
durante a intoxicação pode exercer um fator desencadeador das alterações cardíacas nestes
animais (HUANG; PANG; CH`ANG, 1980).
Foi verificado que o fluorocitrato também é metabólito cardiotóxico do quimioterápico 5-
fluorouracil (FOLB, 1988); segundo Lemaire (1992), essa cardiotoxicidade pode ser oriunda de
impurezas presentes no medicamento. O mesmo autor detectou a presença do fluorocitrato na
urina de seres humanos tratados com tal medicamento. Em sapos, a ação do fluorocitrato sobre o
coração, caracteriza-se por efeito inotrópico positivo sem aumento da frequência cardíaca.
também, acúmulo de citrato no miocárdio (BURANDE; GOYAL; VERMA, 1983).
Sherley (2007) sugere que a causa do efeito tóxico do MF seja provavelmente a
associação entre a depleção de energia celular (PETERS, 1952; FANSHIER; GOTTWALD;
KUN, 1964), o acúmulo de citrato nos tecidos e no sangue com consequente acidose metabólica
(FOSS, 1948; PETERS, 1952) e outros distúrbios eletrolíticos resultantes, incluindo a
hipocalcemia e hipocalemia (CHI et al., 1996).
14
2.1.6 Tolerância
Alguns herbívoros da Austrália ocidental têm desenvolvido naturalmente, uma elevada
tolerância ao MF (McILROY, 1982a; TWIGG, 1994), devido à coexistência com plantas nativas
australianas que contêm esse composto com princípio ativo e, que são consumidas por esses
herbívoros, a milhares de anos (TWIGG; KING 1991;
TWIGG, 1994; TWIGG et al., 1996a,
1996b; TWIGG; WRIGHT; POTTS, 1999). De fato, em estudos acerca dos riscos de intoxicação
por MF em espécies nativas australianas não-alvo, constatou-se que os valores da LD
50
de
diversas espécies de mamíferos da Austrália ocidental são substancialmente maiores do que
aqueles verificados em populações da mesma espécie que habitam o leste da Austrália. As
espécies estudadas incluíram o canguru-vermelho (
Magalsia rufa
), o canguru-ocidental
(
Macropus fuliginosus
), bem como ratos (
Rattus fuscipes
) e gambás (
Trichosurus vulpecula
)
(OLIVER; KING; MEAD, 1977).
Da mesma forma, alguns répteis como o lagarto (
Tiliqua rugosa
), que coexistem na
Austrália ocidental com plantas que contêm MF, tais como
Gastrolobium
e
Oxylobium
são muito
menos sensíveis a intoxicação por esse composto, do que os lagartos da mesma espécie que
habitam o sul da Austrália, onde tais plantas tóxicas não são encontradas (McILROY; KING;
OLIVER, 1985; TWIGG et al., 1988; TWIGG; MEAD, 1990). Outros autores afirmam que certas
espécies de aves, provavelmente, também desenvolveram tolerância ao MF devido à ingestão de
plantas que contêm MF ou de insetos e outros organismos que se alimentam dessas plantas
(McILROY, 1984).
Em águias, ratos, camundongos e macacos foi demonstrado que a administração de doses
subletais de MF resulta no desenvolvimento de tolerância a subsequente ingestão de doses letais.
Controversamente, em cães, cobaios, coelhos e patos selvagens, a administração de doses
subletais repetidas ocasiona acúmulo de níveis letais de MF (ATZERT, 1971).
Segundo alguns autores, o desenvolvimento de tolerância ao MF é um fenômeno
relacionado ao intervalo de tempo entre as administrações. Ratos que receberam doses de 0,5
mg/kg de MF, quatro a 24 horas antes de uma dose de 5,0 mg/kg, foram mais resistentes do que
outros que não haviam recebido previamente o MF (ATZERT, 1971). Contudo, segundo
Chenoweth (1949), em camundongos, ratos e macacos
Rhesus
o efeito protetor da exposição
prévia, a doses gradualmente crescentes de MF, raramente persiste por mais de 48 horas.
Entretanto, Kalmbach (1945) relata que ratos de laboratório podem adquirir tolerância ao MF
através da ingestão de doses subletais por um período de 5-14 dias e, que a interrupção do
tratamento por sete dias, causa a perda de tolerância adquirida. Por outro lado, alguns autores
afirmam que ratos não desenvolvem tolerância significativa, após a ingestão de doses subletais de
MF, embora os que sobrevivam possam desenvolver uma aversão a esse composto (GREEN
1946; PEACOCK, 1964).
Outros estudos realizados por Howard, Marsh e Palmateer (1973), com a finalidade de
verificar se roedores são capazes de desenvolver resistência hereditária ao MF, confirmaram que
ratos (
Rattus norvegicus
) têm predisposição ao desenvolvimento de considerável resistência
genética ao MF. Neste estudo, verificaram-se que ao fim de cinco gerações, a LD
50
aproximada
passou de 2,0 mg/kg para 3,5 mg/kg. Além disso, a porcentagem de sobrevivência dos ratos da
quarta geração intoxicados com MF, por via oral, na dose de 5,0 e 6,0 mg/kg foi 3,75 e 4,75
vezes maior, respectivamente.
15
2.1.7 Desintoxicação
Durante muito tempo, a ligação entre átomos de carbono e flúor existente entre diversos
compostos fluorados, incluindo o MF, foi considerada refratária a ataques biológicos. No entanto,
estudos posteriores demonstraram que alguns destes compostos, inclusive o MF podem ser sofrer
desfluoração
in vivo
. De fato, algumas pesquisas realizadas em ratos revelaram que o flúor é o
metabólito principal da desintoxicação do MF (EGEKEZE; OEHME, 1979a). Achados similares
foram descritos por Oliver, King e Mead (1977), que verificaram elevadas concentrações
plasmáticas de flúor em cangurus, gambás e ratos após a administração de MF. Tais autores
sugeriram que nesses animais, possivelmente, ocorria desintoxicação com provável desfluoração
do MF ou de seus metabólitos. Alguns autores acreditam que todos os animais possuem, em
maior ou menor grau, a habilidade de desfluoração do MF (EGEKEZE; OEHME, 1979a).
Gal, Drewes e Taylor (1961) verificaram que ratos são capazes de metabolizar o MF em
metabólitos não-tóxicos, e podem excretar tanto o MF, quanto o fluorocitrato, seu metabólito
tóxico. Nesse estudo, a desfluoração do MF foi demonstrada de forma convincente pela detecção
de aproximadamente 2% de carbono previamente marcado (
14
CO
2
) no ar expirado de ratos,
quatro horas após a administração intraperitoneal de 10,63 mg/kg de fluoroacetato-2-C
14
.
Adicionalmente, esses autores verificaram que 32% da radioatividade administrada aos ratos foi
excretada pela urina em um período de quatro dias e, que apenas 3% desse valor, se apresentava
na forma de fluorocitrato.
Outros estudos confirmaram a capacidade de desfluoração do MF
in vivo
, através de
análises realizadas com eletrodo específico (SMITH; GARDNER; YUILE, 1977; EGEKEZE;
OEHME, 1979b), contagem de [
19
F] (SYKES et al., 1987) ou por
19
F-RMN (TECLE; CASIDA,
1989). Tais estudos demonstraram que após a administração do MF a ratos e camundongos há
aumento da concentração de fluoreto inorgânico no plasma, fígado, rim (EGEKEZE; OEHME,
1979b) e urina (SMITH; GARDNER; YUILE, 1977; SYKES et al., 1987; TECLE; CASIDA,
1989.
Pesquisas subsequentes foram desenvolvidas com a finalidade de identificar o mecanismo
envolvido na desintoxicação do MF. Kostyniak, Bosmann e Smith (1978) identificaram
in vitro
no citossol de hepatócitos de ratos um sistema capaz de desfluorar o MF, cuja atividade era
inibida pelo maleato e estimulada pela glutationa. Posteriormente, foi confirmado
in vivo
o papel
protetor da glutationa em ratos, uma vez que a redução nos níveis dessa substância no organismo,
através da administração de 736 mg/kg de dietilmaleato resulta em significativa redução da LD
50
do MF (35%) (KOSTYNIAK, 1979). Soiefer e Kostyniak (1983; 1984) caracterizam na fração
citossólica do fígado e rim de camundongos, uma enzima aniônica, que catalisa a desfluoração do
MF, com liberação de fluoreto livre e, verificaram que a maior atividade dessa enzima ocorre no
fígado. Essa reação possui necessidade específica de glutationa, que atua como co-substrato ou
como um ativador. Tais autores purificaram essa enzima desalogenadora e concluíram que,
embora compartilhem algumas propriedades, ela é distinta das conhecidas isoenzimas múltiplas
catiônicas e aniônicas da glutationa-S-transferase, encontrada no citossol hepático de mamíferos.
2.1.8 Efeito acumulativo
O efeito acumulativo do MF é um fenômeno intimamente associado à amplitude do
intervalo de tempo entre as administrações e a espécie em questão (CHENOWETH, 1949;
ATZERT, 1971). De fato, a administração diária de 1/4 da LD
50
do MF a cães domésticos resulta
em convulsões e morte do animal após a quinta dose. Por outro lado, doses subletais maiores
16
podem ser administradas a cães em dias alternados ou em intervalos maiores, sem o
desenvolvimento de efeitos adversos (FOSS, 1948). Posteriormente, verificaram-se também em
ovinos que a administração de MF, por via IV, nas doses de 0,25 mg/kg e 0,1 mg/kg repetidas a
cada três dias, provocam sintomas e a morte dos animais, entretanto, quando o intervalo de tempo
entre as administrações é aumentado, os animais manifestam apenas sintomas leves (ANNISON
et al., 1960). Rowley (1963) comprovou através de experimentação que repetidas doses subletais
de MF também podem acumular e causar a morte de coelhos silvestres. Outros autores
demonstraram que doses de 0,05 mg/kg/dia de MF administrado via fístula ruminal, provoca a
morte de ovinos em até três semanas (JARRETT; PACKHAM, 1956).
Outro achado interessante se refere à espécie envolvida. Foi verificado que a
administração de subdoses a algumas espécies animais como águias, ratos, camundongos e
macacos resulta no desenvolvimento de tolerância. Por outro lado, em cães, cobaios, coelhos e
patos selvagens, a administração de doses subletais repetidas ocasiona acúmulo de níveis letais de
MF (ATZERT, 1971).
2.1.9 Intoxicação secundária
Os riscos da intoxicação secundária em seres humanos (EASON et al., 1994) e em
animais domésticos (EASON, 2002; O`HAGAN, 2004) e selvagens (GOONERATNE et al.,
1995) têm sido estudado por diversos pesquisadores, principalmente, em países como Austrália e
Nova Zelândia, que fazem uso do MF, em níveis de até 200 kg e 4 toneladas por ano
respectivamente, no controle populacional de algumas espécies de animais (AUSTRALIA, 2003).
Na literatura são descritos casos de intoxicação secundária à ingestão de carcaças
contaminadas e de resíduos tóxicos presentes no vômito de animais intoxicados pelo MF
(HEYWARD; NORBURY, 1998; GOONERATNE et al., 1995; EASON, 2002). Sabe-se que tal
ocorrência depende da quantidade de isca consumida pela espécie primária, bem como das partes
ingeridas do animal morto e da sensibilidade da espécie consumidora (OSWEILER et al., 1985).
Raposas, dingos, cães e gatos parecem ser mais susceptíveis a intoxicação secundária do
que aves e mamíferos nativos australianos, especialmente, ao consumo da musculatura de coelhos
intoxicados com cerca de 5,0 mg de MF (McILROY, 1992). De fato, segundo Green (1946) cães
e gatos, por serem muito sensíveis a esse composto, podem morrer após o consumo de roedores
intoxicados ou após a ingestão de carcaças, iscas ou água contaminada por essa substância.
Alguns autores afirmam que nestas duas espécies, a intoxicação secundária à ingestão de
roedores intoxicados por MF é frequente (EISLER, 1995). Outros autores sugeriram que a
intoxicação secundária ao consumo desses roedores também seria possível em raposas (
Vulpes
vulpes
), porcos e carnívoros selvagens (PEACOCK, 1964; SCHITOSKEY, 1975), o que foi
comprovado anos depois, com as descrições de óbitos de suínos (CASPER; McMAHON;
PAULSON, 1985) e furões (HUDSON; TUCKER; HAEGELE, 1984) após consumirem roedores
intoxicados por MF.
Na Austrália, sete cães da raça Maremma morreram intoxicados por MF, possivelmente,
de forma secundária. Neste surto, a intoxicação foi confirmada através de análises toxicológicas,
apesar da fonte de exposição ao MF não ter sido encontrada. Acredita-se que a morte dos cães
seja resultado do consumo da carcaça de um animal que morreu após ingerir o MF em uma
propriedade, localizada a 25 km de distância, onde esse composto tinha sido utilizado. O autor
considera possível que uma ave de grande porte tenha transportado a carcaça ou parte dela, a essa
distância, o que possibilitou a intoxicação dos cães. De fato, no vômito de um cão foram
observados fragmentos de pele e pêlos, material este considerado ser a fonte da intoxicação
17
secundária (O`HAGAN, 2004). Hegdal et al. (1986), relataram que diversos cães e gatos foram
encontrados mortos a 450 metros de uma área onde o MF era empregado, e que embora não
tenham sido detectados resíduos de MF em análises químicas, os sinais clínicos de intoxicação
por MF eram evidentes. Alguns autores consideram que os cães são particularmente vulneráveis à
intoxicação secundária por MF porque, além de serem muito sensíveis a esse composto, muitas
vezes, vivem dentro de propriedades ou em áreas próximas de onde são realizadas as campanhas
de controle populacional de espécies-alvo australianas (GOH et al., 2005).
Eason et al. (1994) avaliaram os riscos do consumo de carnes ovina e caprina oriundas de
regiões que fazem uso do MF no controle de predadores domésticos, bem como a possibilidade
de intoxicação secundária do homem, através da análises da presença de resíduos de MF no
sangue, músculo, fígado e rim. Nesse estudo, verificou-se que o MF apresenta meia-vida
plasmática de 10,8 horas em ovinos e 5,4 horas nos caprinos e que nos demais órgãos, as
concentrações são inferiores às do plasma e persistem em doses baixas por até 96 horas. Apesar
disso, esses autores consideram ser pouco provável a intoxicação de humanos, secundária ao
consumo da carne desses animais (EASON et al., 1994). Recentemente, Collicchio-Zuanaze
(2006) verificou em gatos experimentalmente intoxicados por MF, por via oral, na dose de 0,45
mg/kg que 95,19% do MF, em média, é metabolizado até seis horas após a administração da
substância. Neste período, 4,81% de resíduo do MF não metabolizado foram detectados no soro
desses animais. Estudos experimentais adicionais demonstraram que a persistência de resíduos do
MF em coelhos é dose dependente e que a concentração de MF nos músculos esqueléticos, rim e
fígado de coelhos também é significativamente menor do que no plasma (GOONERATNE et al.,
1995). Tais autores verificaram ainda que a concentração e retenção do MF nos tecidos diminuem
substancialmente, ao longo do tempo, após a putrefação das carcaças. Contudo, esses autores
acreditam que a intoxicação secundária de cães é possível devido à sua extrema sensibilidade ao
tóxico, mas pouco provável em aves, que são mais resistentes a essa substância (GOONERATNE
et al., 1994).
Outros estudos investigaram os riscos da intoxicação secundária de espécies não-alvo
através da ingestão de carcaças de coelhos que receberam doses letais e sub-letais de MF
(GOONERATNE et al., 1995). Nesse estudo, verificou-se que após os coelhos ingerirem uma
dose subletal de MF, a eliminação total desse composto dos tecidos ocorre dentro de
aproximadamente 6 horas, o que representa um risco limitado às espécies não-alvo. No entanto, a
concentração plasmática do MF em coelhos que receberam uma dose letal, pode ser
significativamente maior que a LD
50
para os cães. É possível também, que iscas contendo doses
letais de MF possam permanecer parcialmente não digeridas no estômago de animais após a
morte. Devido a este fato, os autores desse estudo, sugerem que a intoxicação secundária ao
consumo de um animal recentemente intoxicado pode ter risco significativo, especialmente, para
carnívoros não-alvos, como o cão (GOONERATNE et al., 1995). De fato, foi demonstrado em
visons
(
Mustela vison
) que o fornecimento de carcaças de coelhos intoxicados por MF, após a
remoção do trato gastrintestinal, como constituintes de 40% da dieta total não resulta na morte
desses animais (AULERICH et al., 1987). Esses autores sugerem que a toxicidade secundária do
MF é devido, principalmente, ao consumo do composto não metabolizado no intestino das
espécies intoxicadas.
Casper et al. (1986) verificaram a morte de coiotes após a ingestão de esquilos
intoxicados com 3,0-6,0 mg de MF, o equivalente a 0,24-0,63 mg/kg de peso corpóreo dos
coiotes. Por outro lado, foi demonstrado também em coiotes que o consumo de um esquilo
intoxicado com MF por dia, durante 5 dias ou uma dose total estimada de 0,12-0,27 mg/kg de
peso corporal, geralmente, não resulta na morte do animal (MARSH; SCHIMIDT; HOWARD,
18
1987). Esses autores sugerem haver baixo risco de intoxicação secundária ao consumo diário de
pequenas doses de MF. Da mesma forma, nenhuma evidência de intoxicação secundária foi
observada em coiotes, cães domésticos, gambás (
Mephitis mephitis
) e pegas que receberam
experimentalmente por 14 a 35 dias carcaças e sceras de coiotes que morreram após a ingestão
de 5,0-15,0 mg de MF (BURNS; CONNOLLY; OKUNO, 1986). Neste estudo, os resíduos
máximos de MF nos tecidos dos coiotes mortos foram 0,66 mg/kg no músculo, 0,79 mg/kg no
intestino delgado e 0,76 mg/kg no estômago. Outros estudos experimentais, também não
conseguiram reproduzir em “virginia opossums” (
Didelphis virginiana
) (EASTLAND;
BEASOM 1986a), cangambá (
Mephitis mephitis
) (EASTLAND; BEASOM 1986a; BURNS;
TIETJIN; CONNOLLY, 1991), guaxinins (EASTLAND; BEASOM, 1986a; HEGDAL et al.,
1986) ou texugos
(Taxidea taxus)
(HEGDAL et al., 1986) a intoxicação secundária ao consumo
de tecidos de coiotes intoxicados por MF. De fato, alguns autores afirmam que os riscos da
intoxicação secundária de animais que ingerem carcaças de es da pradaria (
Cynomys
)
intoxicados por MF é mínima, uma vez que as concentrações do MF nos tecidos desses animais
são inferiores a 0,1 mg/kg (HUGGHINS; CASPER; WARD, 1988).
Não existem dados específicos sobre a real frequência das intoxicações acidentais que
ocorrem na Austrália, no entanto, um resumo do número de casos e surtos notificados a
Animal
Health Laboratory Network in New Zealand
é apresentado na Tabela 4.
Tabela 4. Intoxicações acidentais por MF notificadas na Nova Zelândia entre 1980 e 1992
Ano Espécie animal
Cães
Bovinos
a
Ovinos
Outros
b
1980 3 0 0 0
1981
6 0 1 1
1982
11 3 4 0
1983
6 1 2 0
1984
7 5 4 2
1985 15 8 0 1
1986
8 1 1 3
1987
9 4 2 2
1988
10 4 6 6
1989
8 3 9 0
1990 4 2 9 0
1991 16 3 5 1
1992 17 12 3 5
Total 120 46 46 21
Fonte: Orr e Bentley (1994).
a
Se refere ao número de surtos.
b
Equinos, suínos, caprinos, cervos, gatos e aves.
19
A maioria das intoxicações secundárias ocorre quando os animais têm acesso a áreas onde o
MF é empregado ou quando os animais retornam para essas regiões após 6 a 8 semanas (ORR;
BENTLEY, 1994). Contudo, no intuito de ser evitada a intoxicação secundária em regiões onde o
MF é utilizado no controle populacional de espécies alvo, recomenda-se que todos os animais
domésticos sejam confinados ou removidos da área onde o MF será empregado (PEACOCK,
1964). Após seu uso, todas as iscas remanescentes, bem como as carcaças dos animais
intoxicados devem ser coletadas e incineradas (GREEN, 1946), além disso, nenhum animal
intoxicado por MF deve ser consumido por seres humanos ou animais (CONNOLLY, 1989;
1993).
2.1.10 Quadro clínico-patológico da intoxicação por MF
Uma característica toxicológica peculiar do MF é a extrema variação da sensibilidade e
dos sinais clínicos manifestados pelas diversas espécies de animais quando intoxicadas por esse
composto. De fato, poucos são os compostos químicos conhecidos capazes de provocar variáveis
quadros clínico-patológicos em diferentes espécies animais como o observado nas intoxicações
por MF (EGEKEZE; OEHME, 1979a). Chenoweth e Gilman (1946) constataram, através de uma
série de experimentos, que os sinais clínicos e a causa da morte em animais intoxicados por MF
variam de acordo com a espécie. Com base nessas constatações, elaboraram um sistema de
classificação em categorias, que permitiu agrupar as diversas espécies animais em função do
efeito provocado pelo MF. Na classe I, a ação principal do MF ocorre sobre o coração e a morte
sobrevém, em geral, por fibrilação ventricular. Na classe II, tanto o coração quanto o SNC; são
afetados e a morte resulta, geralmente, de falha respiratória durante episódios convulsivos e,
ocasionalmente, devido à fibrilação ventricular. Na classe III, a ação do MF é mais marcada
sobre o SNC, predomínio de convulsões epileptiformes e a morte está associada à parada
respiratória. Na classe IV, estão incluídos os animais que exibem uma resposta atípica,
caracterizada por bradicardia e fraqueza.
Outros autores sugerem que, em geral, herbívoros intoxicados por essa substância
apresentam comprometimento cardíaco (classe I), carnívoros manifestam alterações marcadas
sobre o SNC e o óbito sobrevém pela depressão respiratória (classe III), os onívoros
manifestam tanto alterações cardíacas quanto nervosas (classe II) (EGEKEZE; OEHME, 1979a).
Por outro lado, Sherley (2004) afirma ser falha a afirmação de que os vertebrados possam ser
agrupados em quatro categorias, com base nos sinais clínicos manifestados durante a intoxicação
por MF, e que, apesar de certas semelhanças, o comprometimento neurológico é muito mais
comum do que o anteriormente inferido.
2.1.10.1 Herbívoros
Em coelhos, caprinos e equinos a morte sobrevém pelo efeito mais intenso no MF sobre
o coração, mais especificamente por fibrilação ventricular e por isso estão incluídos na classe I
(CHENOWETH; GILMAN, 1946). Os coelhos manifestam distúrbios motores caracterizados,
principalmente, por extensão dos membros anteriores e tremores musculares (CHENOWETH;
GILMAN, 1946); observam-se ainda, fraqueza muscular, ataxia, hipersensibilidade sonora
(FOSS, 1948; MELDRUM; BIGNELL, 1957; McILROY, 1982a), depressão, letargia,
inquietação e angústia respiratória (QUIN; CLARK, 1947; FOSS, 1948; MELDRUM;
BIGNELL, 1957; NWUDE; PARSONS; ADAUDI, 1977; McILROY, 1982a). Outros sinais
clínicos descritos incluem alteração comportamental, hipotermia, diminuição da frequência
20
cardíaca e fibrilação ventricular (HUANG; PANG; CH`ANG, 1980), geralmente seguido de
morte (FOSS, 1948; HUANG; PANG; CH`ANG, 1980).
Os equinos podem manifestar, além da fibrilação ventricular (CHENOWETH; GILMAN,
1946), evidências de colapso circulatório incluindo fraqueza, taquipnéia, hipotermia (QUIN;
CLARK, 1947; FOSS, 1948;), tremores musculares, sudorese profusa (EGEKEZE; OEHME,
1979a) e pulso acelerado com evolução a óbito por insuficiência respiratória (QUIN; CLARK,
1947; FOSS, 1948;).
Em bovinos intoxicados experimentalmente com MF, o achado mais marcante foi à
ausência de sinais clínicos detectáveis até minutos antes do óbito. De fato, segundo o autor, os
animais aparentemente sadios, subitamente manifestam sintomas durante 3 a 20 minutos antes da
morte, que caracterizam-se por micção frequente, andar cambaleante, queda, espasmos
musculares seguidos por movimentos de pedalagem e morte (ROBISON, 1970). Tal quadro
clínico foi considerado, pelo autor, extremamente consistente. Schnautz (1949) descreveu um
surto de intoxicação acidental por MF em quatro bovinos, que ocorreu em uma propriedade que
havia utilizado essa substância no controle de roedores. Em geral, os bovinos intoxicados não
manifestaram sinais clínicos prévios, e de súbito mostraram alterações que se iniciaram por
dificuldade locomotora, espasmos clônicos da musculatura do pescoço e da cabeça, micção
frequente, mugidos, andar cambaleante, queda, convulsões com duração em torno de dois
minutos e intensos movimentos de pedalagem seguido de morte. Recentemente, Nogueira (2009)
demonstrou que bovinos intoxicados com doses de 0,5 e 1,0 mg/kg de MF, por via oral,
manifestam, além dos sintomas acima descritos, taquicardia (FC 128 a 162), jugular repleta com
pulso venoso positivo, veias da face ingurgitadas, respiração abdominal, perda de equilíbrio,
sialorréia, nistagmo, tremores musculares, respiração ofegante e opistótono.
Segundo Joon et al. (1982), bovinos e caprinos experimentalmente intoxicados por MF
manifestam depressão, dispnéia, ranger de dentes, vômito, mugido (bovinos) e balidos (caprinos),
opistótono e morte. Adicionalmente, caprinos podem apresentar fraqueza, taquipnéia (FOSS,
1948) e depressão seguida por agitação (NWUDE; PARSONS; ADAUDI, 1977).
Os achados macroscópicos em bovinos consistiram de aurículas, veias cava cranial,
jugulares, ázigos direita, costo cervical, subclávia direita e pulmonares leve a moderadamente
ingurgitadas, raras petéquias no pulmão, leve a acentuado edema pulmonar, avermelhamento da
mucosa do abomaso, raras petéquias na mucosa da vesícula biliar e acentuação do padrão lobular
do fígado, esplenomegalia, congestão hepática e hidropericárdio. Havia ainda leve a moderado
edema da subserosa nos locais de fixação da vesícula biliar no gado, além de leve edema em
torno do intestino delgado (duodeno) em contato com pâncreas (NOGUEIRA, 2009). Outros
autores descrevem ainda, sangue com coloração escura, conteúdo espumoso na traquéia,
hiperemia e hemorragia na traquéia e pulmões, rins hiperêmicos e tumefeitos, hemorragia
subepicárdica, hiperemia do abomaso, intestino e cérebro (JOON et al., 1982).
O exame histopatológico evidenciou, no rim dos bovinos leve a acentuada degeneração
hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contorcidos distais e, por vezes, túbulos retos,
associada à cariopicnose; adicionalmente, observou-se leve a moderada congestão. No fígado
observaram-se edema do espaço de Disse, leve a moderada congestão, necrose de coagulação
paracentral ou necrose individual aleatória, vacuolização de hepatócitos na região centrolobular,
leve tumefação difusa dos hepatócitos, leve a moderado infiltrado inflamatório linfo-
plasmocitário e macrofágico periportal, proliferação das vias biliares, leucocitoestase e
corpúsculos de choque nos sinusóides hepáticos. No coração observaram-se focos de leve
infiltrado inflamatório linfo-plasmocitário e leve congestão. Havia ainda leve a moderado edema
pulmonar (NOGUEIRA, 2009). Outras alterações histológicas descritas incluem, hemorragia
21
pulmonar, necrose do epitélio tubular e hemorragia intersticial renais, necrose coagulativa focal
do miocárdio, hemorragia no pâncreas e baço, dilatação do espaço perivascular e hiperemia no
cérebro, necrose com descamação do epitélio do abomaso e intestino delgado (JOON et al.,
1982).
Os sinais clínicos observados em ovinos incluem ansiedade, ranger de dentes, agitação,
hiperatividade (SCHULTZ et al., 1982), alterações posturais (“sentado na garupa”) (JENSEN;
TOBISKA; WARD, 1948), diminuição dos movimentos ruminais, incontinência urinária
(SCHULTZ et al., 1982), fraqueza, taquicardia, arritmia, pulso fraco (JENSEN; TOBISKA;
WARD, 1948; SCHULTZ et al., 1982), taquipnéia, dispnéia (SCHULTZ et al., 1982), espasmos
musculares (JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948; ANNISON et al., 1960; SCHULTZ et al.,
1982), convulsões tetânicas, hipersensibilidade a estímulos nervosos e movimentos de pedalagem
(SCHULTZ et al., 1982), caem ao solo, convulsão e morte (JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948;
ANNISON et al., 1960). Observaram-se ainda períodos de excitação, em que o animal
repentinamente começa a correr e a colidir contra obstáculos (JENSEN; TOBISKA; WARD,
1948; SCHULTZ et al., 1982).
À necropsia observaram-se congestão venosa (SCHULTZ et al., 1982) e pulmonar
(JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948; SCHULTZ et al., 1982), edema pulmonar, hidropericárdio,
hidrotórax, hidroperitôneo (SCHULTZ et al., 1982), hemorragias no epicárdio (JENSEN;
TOBISKA; WARD, 1948; SCHULTZ et al., 1982) e endocárdio e palidez miocárdica
(SCHULTZ et al., 1982).
Ao exame histológico verificaram-se lesões caracterizadas por degeneração e necrose
individual ou de pequenos grupos de fibras no miocárdio e degeneração no hipocampo e núcleos
do trato solitário no cérebro. Verificaram-se adicionalmente, edema cerebral e infiltração
linfocítica no espaço de Virchow-Robin (SCHULTZ et al., 1982). Outros autores não observaram
alterações histológicas significativas (JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948).
Gambás (
Trichosurus vulpecula
) experimentalmente intoxicados por MF apresentaram
letargia, respiração ruidosa, alteração postural, vocalizações, hipersensibilidade sonora, ataxia,
convulsões e espasmos associados à ejaculação. Outros marsupiais herbívoros manifestaram
anorexia, fraqueza, letargia, apatia, alteração postural, angústia, dispnéia, ataxia, convulsões e
movimentos de pedalagem (McILROY, 1982a).
2.1.10.2 Onívoros
Existem na literatura poucos dados acerca do quadro clínico e, principalmente, patológico
da intoxicação experimental por MF em onívoros. Suínos e macacos
Rhesus
(
Macaca mulatta
),
intoxicados por MF apresentam sintomas cardíacos e neurológicos e, portanto, estão agrupados
na classe II. De fato, o óbito sobrevém por fibrilação ventricular ou insuficiência respiratória.
Em suínos, verifica-se dificuldade locomotora, depressão respiratória, excitabilidade,
tremores e fibrilação ventricular, seguida de convulsões miotônicas de origem nervosa
(CHENOWETH; GILMAN, 1946). Porcos selvagens manifestam letargia, vômitos, dispnéia,
convulsões e paralisia parcial (McILROY, 1983a).
O quadro clínico apresentado por macacos
Rhesus
caracteriza-se por espasmos da
musculatura facial, nistagmo, sialorréia, seguida de convulsões tônicas e eventualmente fibrilação
ventricular (CHENOWETH; GILMAN, 1946). Outros autores descrevem ainda, apatia, vômitos
midríase, movimentos de rotação com a cabeça e tremores (FOSS, 1948).
“Bandicoots” (membros da família Peramelidae) e “Striped skunks” (
Mephitis mephitis
)
exibem sintomas cardíacos e neurológicos e, também estão incluídos na classe II. “Bandicoots”
22
apresentam depressão, bradipnéia, vômitos, hipersensibilidade a estímulos, tremores e convulsões
(McILROY, 1983b). Já em “Striped skunks” (
Mephitis mephitis
), observam-se perda do controle
sobre os musculatura esquelética, vocalização e convulsões (EASTLAND; BEASOM, 1987).
2.1.10.3 Carnívoros
Em gatos, o MF exerce efeito sobre o coração e SNC, portanto, estão agrupados na classe
II (CHENOWETH; GILMAN, 1946). Os sinais clínicos incluem sialorréia, hiperexcitabilidade,
vômitos, midríase, taquipnéia e convulsões tônico-clônicas (CHENOWETH; GILMAN, 1946;
FOSS, 1948; COLLICCHIO-ZUANAZE et al., 2006); o óbito resulta, geralmente, de falha
respiratória e, ocasionalmente, devido à fibrilação ventricular (CHENOWETH; GILMAN, 1946).
Também são descritos, incontinência, ataxia e paralisia parcial (FOSS, 1948), miados frequentes,
hipotermia (GAMMIE, 1980; COLLICCHIO-ZUANAZE et al., 2006), nistagmo
(COLLICCHIO-ZUANAZE et al., 2006), bradicardia, tremores musculares, reflexos exagerados
e hiperestesia à luz e ao toque (GAMMIE, 1980).
À necropsia verificaram-se hemorragia, edema, equimoses, congestão e enfisema
pulmonares; dilatação cardíaca direita, petéquias e sufusões no endocárdio e pericárdio; efusões
pleural e pericárdica; congestão e moderada degeneração hepática; gastroenterite catarral; efusão
peritoneal; congestão e degeneração renais cortico-medular; sufusões e equimoses vesicais;
congestão e edema cerebrais (COLLICCHIO-ZUANAZE, 2006).
O exame histopatológico revelou edema, congestão, hemorragia, necrose multifocal e
infiltrado inflamatório focal por polimorfonucleares no miocárdio; edema, congestão e
hemorragia acentuadas, bem como, discreto infiltrado inflamatório mononuclear e/ou
polimorfonucleares nos pulmões. No fígado, verificaram-se congestão, degeneração hidrópica e
gordurosa, além do infiltrado inflamatório mononuclear; congestão e hemorragias difusas nos
rins, bem como, degeneração e necrose tubular e, por vezes, glomerular, além de infiltrado
inflamatório mononuclear. Adicionalmente, havia edema e congestão das substâncias branca e
cinzenta, focos hemorrágicos difusos, tumefação celular, cromatólise, gliose, satelitose,
neuronofagia e no baço, observou-se retração esplênica com predominante diminuição da polpa
vermelha (COLLICCHIO-ZUANAZE, 2006).
Em cães intoxicados por MF as alterações neurológicas são predominantes (classe III)
(CHENOWETH; GILMAN, 1946). Cães intoxicados experimentalmente exibem vômitos, latidos
excessivos (CHENOWETH; GILMAN, 1946; CHENOWETH; ST. JOHN, 1947; FOSS, 1948;
HARRIS, 1975; BUCH; OSWEILER; VANGELDER, 1976), hiperexcitabilidade, sialorréia
(CHENOWETH; GILMAN, 1946; FOSS, 1948; HARRIS, 1975), espasmos da musculatura
facial, nistagmo (CHENOWETH; GILMAN, 1946), convulsões nicas (CHENOWETH;
GILMAN, 1946; CHENOWETH; ST. JOHN, 1947; FOSS, 1948; HARRIS, 1975), movimentos
de pedalagem (CHENOWETH; GILMAN, 1946; FOSS, 1948; HARRIS, 1975) e óbito por falha
respiratória (CHENOWETH; GILMAN, 1946; CHENOWETH; ST. JOHN, 1947). Também são
descritas, agitação, incontinência urinária, midríase e convulsões clônicas (FOSS, 1948;
HARRIS, 1975). Há um relato na literatura, acerca da ingestão acidental do MF em cães, em uma
propriedade na Austrália, que fez uso deste composto no controle de predadores domésticos.
As alterações macroscópicas incluem palidez do trato gastrointestinal (O’HAGAN, 2004),
congestão hepática, petéquias no endocárdio e edema pulmonar (FOOS, 1948).
O exame histológico revela congestão e hemorragia renal e pancreática, bem como,
congestão e degeneração gordurosa no fígado (O’HAGAN, 2004). Porém, em outro estudo,
23
verificaram-se intensa vacuolização cerebral em cães intoxicados cronicamente com doses diárias
de 0,03 mg/kg por via oral durante 3 meses (YAMASHITA; YADA; ARIYOSHI, 2004).
O quadro tóxico observado em raposas intoxicadas com MF é semelhante àquele
verificado em cães. Clinicamente manifestam hiperatividade, espasmos tetânicos, convulsões
clônicas e movimentos de pedalagem (MARKS et al., 2000). Estudos relacionados à toxicidade
do MF para diversos marsupiais carnívoros australianos verificaram sinais clínicos variados
incluindo vômitos, depressão, taquipnéia e respiração superficial, tremores, hiperatividade,
vocalizações incomuns, sialorréia, espasmos da musculatura facial, nistagmo, ataxia,
hipersensibilidade aos estímulos, midríase, convulsões tetânicas e clônicas, paralisia parcial,
movimentos de pedalagem e morte (McILROY, 1981). Os achados macro e microscópicos nessas
espécies não são descritos.
2.1.10.4 Roedores
Chenoweth e Gilman (1946) estudaram os efeitos do MF sobre cobaios (
Cavia porcellus
),
ratos e hamsters. Esses autores verificaram que cobaios apresentam alterações nervosas
semelhantes àquelas descritas em es e, desta forma, são incluídos na classe III. De fato,
observam-se episódios convulsivos longos, hipersensibilidade a estímulos mecânicos e o óbito
resulta de depressão respiratória (CHENOWETH; GILMAN, 1946). Outros autores descreveram
ainda dispnéia, apreensão, hiperexcitabilidade e convulsões tônicas (QUIN; CLARK, 1947;
FOSS, 1948).
Ratos e hamsters manifestam sinais considerados por Chenoweth e Gilman (1946) como
atípicos (classe IV), pois raramente apresentam fibrilação ventricular e a morte ocorre de forma
aguda por falha respiratória, além disso, os animais que sobrevivem à intoxicação apresentam
fraqueza, ataxia e severa bradicardia. Entretanto, esses autores também descrevem sintomas
iniciais caracterizados por tremores, alteração postural, hiperexcitabilidade e convulsões tônicas
provocadas por estímulos mecânicos. Foss (1948) e Egekeze e Oehme (1979a) relatam que
repetidas convulsões são comuns em ratos, porém Chenoweth e Gilman (1946) descreveram ser
rara sua ocorrência. Segundo Egekeze e Oehme (1979a) ratos Sprague-Dawley intoxicados por
MF, em geral, não manifestam sinais clínicos perceptíveis até minutos antes do início das
convulsões. Outros autores descrevem ainda prostração, tremores de cabeça, pelos arrepiados
(CUNHA, 2008), depressão, alterações posturais sugestivas de dor abdominal, vocalizações
atípicas, dispnéia, espasmos da musculatura abdominal, midríase (FOSS, 1948; HAYES;
SHORT; GIBSON, 1973; EGEKEZE; OEHME, 1979a), convulsões clônicas (FOSS, 1948;
HAYES; SHORT; GIBSON, 1973; EGEKEZE; OEHME, 1979a; CUNHA, 2008) e tônico-
clônicas, decúbito e movimentos de pedalagem.
A necropsia revelou congestão cerebral e hepática.
Ao exame histológico verificaram-se congestão, edema e hemorragia cerebral, em
especial no cerebelo, córtex motor, terceiro e quarto ventrículos, núcleos da base e tronco
encefálico. No coração havia múltiplos focos hemorrágicos; no fígado, moderada congestão e
degeneração vacuolar microgoticular centrolobular e, no córtex renal, observou-se nefrose
(CUNHA, 2008). Outros autores descrevem ainda, severa hipoespermia epididimal e
degeneração dos túbulos seminíferos (EASON; TURK, 2002).
Em camundongos (
Mus musculus
) intoxicados por MF os sinais clínicos incluem
letargia, apreensão, hiperexcitação, espasmos tetânicos e dispnéia (QUIN; CLARK, 1947; FOSS,
1948). Outros autores descrevem ainda, prostração e convulsões (PEREIRA; PEREIRA, 2005).
os cães da pradaria (
Cynomys ludovicianus
) apresentam taquipnéia, hiperatividade e intensas
24
convulsões (HUGGHINS; CASPER; WARD, 1988). Alguns roedores nativos da Austrália
exibem depressão, alteração postural, hipotermia, hipersensibilidade, vocalizações atípicas,
ataxia, tremores, convulsões nicas com movimentos de pedalagem, ejaculação e paralisia
parcial (McILROY, 1982a; 1982b).
2.1.10.5 Répteis e anfíbios
Em sapos, a intoxicação por MF induz sinais neurológicos (classe II), caracterizados por
convulsões e paralisia (CHENOWETH; GILMAN, 1946). No entanto, outros autores relatam
ainda, efeito inotrópico positivo, sem aumento da frequência cardíaca (BURANDE; GOYAL;
VERMA, 1983). Répteis e anfíbios nativos da Austrália manifestam clinicamente letargia,
sialorréia, espasmos musculares, convulsões e movimentos de pedalagem (McILROY, 1985).
2.1.10.6 Aves
Galinhas intoxicadas por MF apresentam convulsões persistentes e o óbito sobrevém por
fibrilação ventricular (CHENOWETH; GILMAN, 1946); no entanto, Quin e Clark (1947) não
evidenciaram sinais clínicos prévios à morte. Em intoxicações experimentais, pássaros (
Sturnus
vulgaris
) (BALCOMB; BOWEN; WILLIAMSON, 1983) e diversas aves nativas da Austrália e
Nova Zelândia (McILROY, 1984; McINTOSH et al., 1966) apresentaram depressão, prostração,
vômitos, alteração postural, vocalizações incomuns, tremores, sialorréia, dispnéia,
hipersensibilidade à estímulos, ataxia, perda de equilíbrio, hiperatividade, convulsões com
movimentos de pedalagem, convulsões tetânicas, opistótono e paralisia parcial.
2.1.10.7 Animais selvagens em cativeiro
Entre 24 de janeiro e nove de março de 2004, cerca de 130 animais morreram no
Zoológico de São Paulo. Dentre esses, 73 animais foram comprovadamente intoxicados por MF
de forma criminosa. Os animais intoxicados e mortos por essa substância, segundo a perícia,
foram três chimpanzés, três antas, cinco dromedários, um elefante, um bisão, um
orangotango, um macaco-de-cheiro, três tamanduás mirins, um sagui-preto-de-mão-
amarela, dois macacos cairaras, sete micos-leões-dourados, um mico-de-cheiro, um macaco-
da-noite e 43 porcos-espinhos (ORTIS, 2005).
Parte desses animais intoxicados foram encontrados mortos em seus recintos, sem que
tenham sido observados sinais clínicos prévios. Em alguns casos observaram-se, principalmente,
quadros de asfixia e convulsões seguidos de óbito.
À necropsia, verificaram-se, em geral, achados semelhantes caracterizados por edema
pulmonar, lesões cardíacas, hepáticas e pulmonares [sic]. Observou-se ainda congestão cerebral
e, em uma das antas, havia necrose cardíaca (ORTIS, 2005).
2.1.10.8 Seres humanos
No homem, a intoxicação por MF produz sinais clínicos cardíacos e nervosos e, desta
forma, estão inclusos na classe II (GAJDUSEK; LUTHER, 1950). Na literatura relatos de
intoxicações acidentais (McTAGGART, 1970; REIGART; BRUEGGEMAN; KEIL, 1975) e
propositais, como tentativas de suicídio (CHI; LIN; CHEN, 1999).
25
Os primeiros sinais clínicos, comumente observados na são caracterizados por
manifestações gastrintestinais como vômito e diarréia, acompanhados de dor abdominal,
alterações respiratórias, agitação e convulsões (CHI et al., 1996). Outros sinais incluem,
ansiedade, irritabilidade, agitação, hiperatividade, taquicardia, confusão, dores de cabeça e
musculares, náuseas, desconforto respiratório, hiperexcitabilidade, hiperestesia, tremores
musculares, espasmos tetânicos, arritmia, convulsões epileptiformes e tônico-clônicas
(GAJDUSEK; LUTHER, 1950; BROCKMAN; McDOWELL; LEEDS, 1955; McTAGGART,
1970; REIGART; BRUEGGEMAN; KEIL, 1975; CHUNG, 1984; CHI; LIN; CHEN, 1999;
ROBINSON et al., 2002), além de insuficiência renal aguda oligúrica ou não oligúrica (CHUNG,
1984).
Estudos eletrocardiográficos revelam alterações inespecíficas de segmento ST e
anormalidades na onda T. As alterações eletrolíticas mais comuns no homem, nesses casos, são
hipocalcemia e hipocalemia (CHI et al., 1996).
Em um caso de intoxicação aguda por MF, na tentativa de suicídio de uma adolescente
observaram-se náuseas, vômitos, dor abdominal, convulsões, coma por 18 meses após a
intoxicação e a permanência de alterações neurológicas como disfunções cerebelares, distúrbios
de memória e comportamento depressivo. De fato, durante o acompanhamento clínico da
paciente, através de uma série de tomografias computadorizadas, verificaram-se atrofia cerebral
difusa, dilatações da cisterna basal, bem como dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo.
Essas alterações foram atribuídas ao longo período de anóxia cerebral ocorrido durante a fase
aguda da intoxicação (TRABES; RASON; AVRAHAMI, 1983). Peters, Spencer e Bidstrup
(1981) relataram um caso de intoxicação subaguda ocupacional em um homem, que apresentou
sinais terminais caracterizados por convulsões e arritmias ventriculares. Durante a necropsia,
observaram-se congestão pulmonar, hepática e renal. O exame microscópico revelou miocardite
intersticial focal e congestão dos pulmões, fígado e rins.
2.1.11 Diagnóstico da intoxicação por MF
O diagnóstico da intoxicação por MF deve ser realizado com base no histórico, nos sinais
clínicos, nos achados de necropsia e confirmado por análises toxicológicas (EGEKEZE;
OEHME, 1979a). As amostras enviadas ao laboratório para análises químicas devem incluir, pelo
menos, 50g (O’HAGAN, 2004; PARTON; BRUERE; CHAMBERS, 2001) de iscas suspeitas,
vômito, conteúdo estomacal, fígado ou rim (EGEKEZE; OEHME, 1979a). No entanto, a análise
laboratorial é complexa, demorada e disponível em apenas alguns laboratórios. Além disso, o
processamento da amostra tem que ser rápido, uma vez que, o MF é rapidamente metabolizado
por bactérias (GOH et al., 2005).
O quadro clínico dessa intoxicação, muitas vezes, é inespecífico e existem poucos estudos
relacionados ao seu diagnóstico laboratorial (CHI et al., 1996, CHI; LIN; CHEN, 1999;
O’HAGAN, 2004). Contudo, algumas alterações bioquímicas não específicas têm sido descritas
e, incluem aumento da glicemia uréia, creatinina, e a atividade da transaminase glutâmico-
pirúvica (BOSAKOWSKI; LEVIN, 1986). Outros autores descrevem acidose metabólica e
hipocalemia (SUZUKI, 1999). Além disso, a concentração rica de citrato pode estar até três
vezes maior do que os parâmetros de referência (BOSAKOWSKI; LEVIN, 1986). Desta maneira,
o citrato sérico pode ser investigado como um indicador periférico da presença de compostos que
inibem o seu metabolismo, como o MF. Em cães e ratos, o aumento da concentração sérica de
citrato está relacionado ao aparecimento e à gravidade dos sintomas da intoxicação por MF
(BOSAKOWSKI; LEVIN, 1986). Estudos realizados em humanos
verificaram que a elevação da
26
concentração de citrato nos tecidos pode indicar intoxicação por compostos organofluorados
(EGYED, 1978). Entretanto, segundo Schultz et al. (1982) os níveis de citrato no sangue ou
tecidos, de ovelhas intoxicadas por esse composto, não possuem valor diagnóstico definitivo. De
acordo com Marrazzi e Holliday (1981) a hiperglicemia pode ser um achado laboratorial
consistente nos casos de intoxicação por MF e, portanto, pode auxiliar no diagnóstico.
Collicchio-Zuanaze (2006) avaliou o perfil hematológico e bioquímico de gatos
intoxicados experimentalmente por MF, por via oral, na dose de 0,45 mg/kg, com o intuito de
estabelecer parâmetros para uma triagem diagnóstica laboratorial. Nesse estudo verificaram-se
alterações transitórias no perfil hematológico, caracterizadas por leucopenia com neutropenia,
linfopenia e eosinopenia absolutas, assim como trombocitopenia 12 a 30 horas após a
intoxicação. Foi demostrado que, 96 horas após a administração do MF, tais alterações não são
mais detectadas. As avaliações bioquímicas revelaram hiperglicemia e aumento da atividade das
enzimas lactato desidrogenase, creatinaquinase (CK) e sua fração cardíaca (CK-MB), bem como
hipocalemia, hipofosfatemia e hipomagnesemia transitórias, a partir de seis horas após a
administração do MF. A análise toxicológica por CLAE demonstrou ser um método diagnóstico
simples, rápido e eficiente em estágios iniciais de intoxicação por MF em gatos, uma vez que foi
possível quantificar a substância em 75% (12/15) das amostras de soro examinadas; dessa forma,
o método utilizado foi considerado efetivo no diagnóstico toxicológico da intoxicação por MF.
Porém, a autora ressalta que o método seria mais eficaz antes da metabolização total do tóxico no
organismo e do desenvolvimento de sinais clínicos avançados da intoxicação e, sugere que a
quantidade residual detectada no soro sanguíneo pode ser útil para relacionar a quantidade de MF
circulante no organismo, com a evolução da intoxicação e o prognóstico.
A confirmação do diagnóstico da intoxicação por MF pode ser realizado através de
análises toxicológicas para identificação do composto. Usualmente são empregados métodos
qualitativos que foram desenvolvidos, principalmente, para detecção desse composto em iscas
líquidas, amostras de solo, sangue, urina, tecidos e plantas tóxicas (SAKAI; MIYAHARA, 1981).
Traços do MF (0,6 m/L) podem ser detectados na água através de CG por captura de
elétrons e em amostras biológicas em concentrações de 10-15 m/kg (EISLER, 1995). Além disso,
esse composto pode ser quantificado em soluções com baixas concentrações (0,2 mg/L)
(KIMBALL; MISHALAINE, 1993). Em tecidos biológicos, vários métodos têm sido utilizados
para determinar o MF, incluindo colorimetria, eletrodos de íon fluoreto, cromatografia de gás-
líquido e de alta pressão, no entanto, esses métodos envolvem longos procedimentos de extração,
possuem baixas taxas de recuperação e seletividade (ALLENDER, 1990).
A técnica de cromatografia em camada delgada é usada para identificar o MF a partir de
misturas extraídas de ácido fórmico e fluoreto de sódio para determinações fluorométricas
(SAKAI; MIYAHARA, 1981, McGARY; MELOAN, 1982).
Análises toxicológicas quantitativas podem ser realizadas por técnicas de CG e CLAE
(KRAMER, 1984; OZAWA; TSUKIOKA, 1989; ALLENDER, 1990; MINNAAR et al., 2000;
DEMARCHI et al., 2001; SPORKERT et al., 2002; ZEFERINO et al., 2005). A CG é capaz de
determinar a presença do MF como ácido livre em solventes aquosos (KIMBALL;
MISHALAINE, 1993). Outros métodos bastante sensíveis para detecção do MF incluem a
eletroforese de zona capilar, comumente realizada em iscas (FUYU; HUIFANG; YI, 1996) e o
isolamento do MF de amostras biológicas por cromatografia de troca iônica com conversão a seu
éster dodecil (BURKE; LEW; COMINOS, 1989).
A determinação do MF em tecidos biológicos e iscas através de CG com extração em
acetona e água seguida por derivatização com brometo de pentafluorobenzil, é uma técnica de
alta sensibilidade e que possui baixo limite de detecção (ALLENDER, 1990). Outros autores
27
quantificaram do MF por CG com espectrometria de massa e derivatização do extrato das
amostras biológicas também em pentafluorobenzil, porém, a extração foi realizada com a
utilização de tungstato de sódio e acetato de etila (CASPER; McMAHON; PAULSON, 1985).
Segundo Kimball e Mishalaine (1993) esse composto também pode ser identificado como ácido
livre em solvente aquoso por CG com detector de massa seletivo utilizando colunas capilares de
polietilenoglicol.
Análises qualitativas do MF foram realizadas em amostras de rim, fígado e estômago com
a utilização de éster benzil em CG. Nesse estudo, ao comparar os métodos de detecção com
benzilação ativada por pirólise de sal de amônio quaternário, verificaram-se que os limites de
detecção do MF nos tecidos são menores pela técnica da foto-ionização (15 mg/kg), quando
comparados ao método de detecção por ionização em chama (100 mg/kg). Cabe ressaltar que o
limite de detecção com estes procedimentos é menos sensível do que a CG/EM, no entanto, a
CG/EM não está normalmente disponível nos laboratórios de diagnóstico veterinário
(HOOGENBOOM; RAMMELL, 1987).
Outro método descrito de análise do MF por CG com espectrometria de massa, que
apresenta alta sensibilidade com baixos limites de detecção (SPORKERT et al., 2002).
DEMARCHI et al. (2001) otimizaram um método anteriormente descrito por Ozawa e
Tsukioka (1989), e determinaram por CG a concentração de MF no sangue de coelhos. A
extração otimizada do MF foi realizada com a utilização de colunas de alumina e a derivatização
em acetato de etila, utilizando-se o diclorohexilcarbodiimida (DCC) como catalisador da reação e
2,4 dicloroanilina (DCA) como agente da derivação para detecção no cromatógrafo. A
purificação do derivado foi feito com acetonitrila (DEMARCHI et al., 2001). Técnicas de CLAE
também foram desenvolvidas para análises quantitativas de MF em amostras biológicas e iscas,
além de serem utilizadas na identificação do princípio ativo de algumas plantas tóxicas como
Dichapetalum cymosum
e
Palicourea marcgravii
(MINNAAR et al., 2000). Neste estudo, o MF
foi identificado em tais plantas tóxicas, bem como em amostras de fígado e rúmen de bovinos por
meio de CLAE. Segundo esses autores, em amostras biológicas mantidas a temperatura ambiente
por 14 dias ocorre redução de 50% na capacidade de identificação do MF, uma vez que, tais
amostras se mantidas em temperatura ambiental devem ser analisadas em até sete dias
(MINNAAR et al., 2000).
Outro autor estudou um método analítico, como forma alternativa de diagnóstico nas
intoxicações causadas por
P. marcgravii,
através da caracterização do seu princípio tóxico, que
considerou ser o MF, por cromatografia delgada do macerado de vísceras de coelhos intoxicados
experimentalmente por essa planta. Nesse trabalho, verificou-se que o MF pode ser identificado
por cromatografia em diversos órgãos (cérebro, coração, gado, rim e estômago) e no conteúdo
estomacal de animais intoxicados pela planta. O autor afirmou que essa técnica tem
aplicabilidade na rotina laboratorial devido a praticidade, baixo custo e rapidez (PONTUAL,
2000).
Recentemente, Zeferino et al. (2005) desenvolveram um procedimento analítico simples,
rápido, econômico e preciso para quantificar o MF em amostras de soro sanguíneo de gatos. O
método utiliza CLAE com detector de condutividade onde é realizada a extração líquido-líquido.
A detecção do MF através dessa técnica reduz significativamente o consumo de solventes e o
tempo das análises quando comparado aos outros métodos descritos na literatura (COLLICCHIO-
ZUANAZE, 2006).
28
2.1.12 Prognóstico da intoxicação por MF
Em geral, o prognóstico da intoxicação por MF varia de ruim a grave e depende da
quantidade ingerida do tóxico, bem como da gravidade dos sinais clínicos. Contudo, melhora
do prognóstico quando o tratamento com acetamida ou bicarbonato de sódio é instituído
precocemente (PARTON, 2006). Embora no homem, achados como hipotensão, acidose
metabólica e aumentado da concentração de creatinina sérica sejam indicadores de mau
prognóstico (CHI et al., 1996), em animais não se conhece a relevância de tais alterações no
estabelecimento do prognóstico (GOH et al., 2005).
2.1.13 Tentativas terapêuticas na intoxicação por MF
Embora os mecanismos de toxicidade do MF tenham sido suficientemente estudados e
compreendidos há mais de quatro décadas, ainda não foram desenvolvidos, até o momento,
protocolos terapêuticos satisfatórios no tratamento da intoxicação por MF (PROUDFOOT;
BRADBERRT; VALE, 2006). O tratamento da intoxicação por MF é um desafio para os médicos
e veterinários (GOH et al., 2005), uma vez que não se conhece nenhum agente capaz de impedir
ou reverter de maneira eficaz os efeitos do MF, além disso o desfecho dessa intoxicação é quase
sempre fatal (BURGER; FLECKNELL, 1994). De fato, a maior parte das tentativas de reversão
dos efeitos tóxicos do MF não tem obtido êxito e, apenas poucos estudos relatam sucesso na
terapia contra essa intoxicação (O’HAGAN, 2004).
O tratamento da intoxicação por MF consiste basicamente em desintoxicação, terapias de
suporte e específica, com a administração de antídoto. Como tentativas de desintoxicação, em
geral, são realizadas a indução de êmese e lavagem gástrica, quando o animal não vomitou, e
administração de adsorventes como o carvão ativado, colestipol ou resinas de troca iônica, que
deve ser realizada o mais rápido possível após a ingestão do MF (OSWEILER, 1996; NORRIS;
EASON; WICKSTROM, 2000), entretanto, na literatura são escassos os dados confiáveis acerca
da eficácia desse método (GOH et al., 2005). Em ratos (WICKSTROM; COOK; EASON,
1998a), diferentemente do que ocorre em cães (GOH et al., 2005), o colestipol reduz a 50% a
concentração sérica do MF durante as primeiras quatro horas após a intoxicação (WICKSTROM;
COOK; EASON, 1998a) e reduz a mortalidade dos ratos, quando administrado 30 minutos após a
exposição ao MF (NORRIS; EASON; WICKSTROM, 2000). Contudo, quando são
administradas altas doses de MF, tanto o carvão ativado como o colestipol, não são capazes de
reduzir a absorção do MF de forma suficiente para proteger os ratos do óbito (WICKSTROM;
COOK; EASON, 1998a). Em cães, a utilização de diálise peritoneal, embora recupere quantidade
substancial do MF, não é eficaz na redução da concentração sanguínea dessa substância
(WICKSTROM; COOK; EASON, 1998a). Na terapia de suporte, são utilizadas medicações que
controlam as convulsões, com auxílio da intubação e ventilação (OSWEILER, 1996).
Uma grande variedade de potenciais antídotos têm sido estudados, em especial, em ratos e
camundongos, incluindo o monoacetato de glicerol (CHENOWETH et al., 1951; PETERS;
MORSELLI, 1965; TAITEMAN et al., 1983; RAMMELL; LIVINGSTONE, 1985), acetamida
(EGYED; SCHULTZ, 1986; GÓRNIAK; PALERMO-NETO; SPINOSA, 1994), sais de cálcio
(CHENOWETH; GILLMAN, 1947; CHENOWETH et al., 1951; SHAPIRA; TITELMAN;
BURSZTEIN, 1980) gluconato de cálcio associado ao
α
-cetoglutarato de sódio e succinato de
sódio (OMARA; SISODIA, 1990), bicarbonato de sódio (CHURCHILL, 1996), agentes
moduladores de neurotransmissores (COOK et al., 2001) e 4-metilpirazole (FELDWICK et al.,
1997).
29
Com base no mecanismo de ação do MF, acredita-se que compostos precursores de
acetato (referidos como “doadores de acetato”) sejam capazes de reduzir a inibição competitiva
do MF pelo mesmo sítio ativo (coenzima A) (PATTISON, 1959). Como consequência, tais
compostos exerceriam efeito protetor nas intoxicações pelo MF, por impedirem ou reduzirem a
ocorrência da chamada “síntese letal” (terapia específica) (EGYED; SCHULTZ, 1986). Diversas
substâncias foram pesquisadas e testadas para essa finalidade, entretanto, apenas um número
reduzido dessas apresentou valor terapêutico. Para serem consideradas eficazes, além de serem
doadoras de acetato, devem ser solúveis e penetrar rapidamente nas estruturas celulares
(PATTISON, 1959). Poucos compostos se enquadram nestes critérios, incluindo o etanol, o
acetato de sódio, a acetamida e o monoacetato de glicerol (Monoacetin
). Cabe ressaltar que
entre essas substâncias existem diferenças de eficácia, que são relacionadas com a espécie animal
envolvida e com a potência de seus efeitos (MORAES, 1993). Adicionalmente, diversos estudos
foram realizados no sentido de desenvolver antídotos capazes de converter o fluorocitrato de
volta a MF. Contudo, nenhum dos mais de 400 compostos testados apresentaram os resultados
desejados (PATTISON; PETERS, 1966).
O monoacetato de glicerol é considerado o agente protetor mais eficaz em casos de
intoxicação por fluoroacetato em ratos, coelhos, cães e macacos
Rhesus
(CHENOWETH et al.,
1951; RAMMELL; LIVINGSTONE, 1985), quando administrado precocemente, na dose de 0,5
mg/kg/hora, por via intravenosa (IV) ou intramuscular (IM) (MOUNT, 1992). Entretanto,
segundo O`Hagan (2004), esse composto não esta disponível para a maioria dos veterinários. O
efeito protetor do monoacetato de glicerol no tratamento profilático está relacionado ao rápido
suprimento do radical acetato para as células. Cabe ressaltar que a dose terapêutica pode ser
próxima da dose tóxica (CHENOWETH et al., 1951). Peters e Morselli (1965) verificaram em
ratos experimentalmente intoxicados por MF, por via intraperitonial, que o monoacetato de
glicerol permite o prolongamento no tempo da sobrevida quando fornecido até 20 minutos após a
intoxicação.
Em 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou o uso do monoacetato de
glicerol na dose de 0,5 mg/kg, por via intramuscular, a cada 30 minutos por 12 horas (RAMELL;
LIVINGSTONE, 1985). Outro protocolo descrito para o homem é baseado em estudos realizados
em macacos (CHENOWETH et al., 1951) e consiste na administração de 0,1-0,5 mL de solução
60% de monoacetato de glicerol/kg, diluída à uma concentração de <1%, antes da administração
por via intravenosa. Todas essas abordagens terapêuticas continuam infundadas (PROUDFOOT;
BRADBERRT; VALE, 2006). No entanto, alguns autores recomendam para cães doses de 2-4
mg/kg/hora via IM (KIRK, 1980) ou inicialmente 0,5 mL/kg/IM, e doses seguintes de 0,2
mL/kg/IM a cada 30 minutos por 5 horas (RAMELL; LIVINGSTONE, 1985). Em macacos
Rhesus
, nos quais a resposta ao Monoacetin
é similar à do homem, verificam-se tanto a redução
da mortalidade como dos sinais clínicos da intoxicação, mesmo quando fornecido 30 minutos
após a administração IV do MF, ou seja, inclusive após o início das convulsões (CHENOWETH
et al., 1951).
Gribble (1973) sugere que o tratamento preventivo da intoxicação por MF seria eficaz
pelo fornecimento de altas doses de monoacetato de glicerol ou etanol. Entretanto, tal conduta
requer a administração dessas substâncias imediatamente após a ingestão do MF.
A oxidação de etanol leva ao aumento da concentração sanguínea de acetato e
consequente inibição da produção de fluorocitrato. A mortalidade de ratos, cobaios e coelhos
intoxicados é significativamente reduzida através da administração de 800 mg/kg de solução de
etanol a 10%, por via subcutânea, em até 30 minutos após a exposição ao MF. O efeito protetor
30
mais marcante foi observado em camundongos, quando o etanol foi fornecido 10 minutos após a
intoxicação. Por outro lado, em cães, esse efeito não é observado. (HUTCHENS; WAGNER;
PODOLSKY, 1949). Outra opção é administrar 8,8 mL/kg de solução de 1:1 de etanol a 50%,
por via oral, associado ao ácido acético a 5%, embora seja menos eficaz que o Monoacetin
(PALERMO-NETO; MORAES-MOREAU, 1995). Em ratos (TOURTELOTE; CONN, 1949) e
camundongos (CHENOWETH, 1949), foi demonstrado experimentalmente que o acetato de
sódio e o etanol, quando administrado juntos, possuem efeito sinérgico protetor na intoxicação
por MF (CHENOWETH, 1949; TOURTELOTE; CONN, 1949). Neste estudo, verificou-se
redução da mortalidade de 80% para 30% após o emprego desse protocolo terapêutico em ratos
intoxicados com doses de MF duas vezes maiores que a LD
50
(TOURTELOTE; CONN, 1949). À
semelhança, outros autores observaram, em camundongos que receberam MF em doses 10 vezes
maiores que a LD
50
(170 mg/kg), redução da mortalidade em 90% nos animais tratados com
acetato de sódio (2-3 g/kg), por via intraperitoneal, dissolvido em etanol (1,6 g/kg)
(TOURTELLETTE; COON, 1950). Em macacos, a administração de 2,0 g/kg de acetato de sódio
associada a 2,0 g/kg de etanol é recomendada para o tratamento da intoxicação por MF
(PEACOCK, 1964).
Pecuaristas da África do Sul, apesar de desconhecerem o mecanismo de ação desses
antídotos, fazem uso de um interessante tratamento popular empírico para reverter à intoxicação
por
Dichapetalum cymosum,
planta da África do Sul que contém MF, em animais de produção,
baseado na utilização de partes iguais de vinagre (ácido acético) e cerveja de sorgo (etanol)
(STEYN, 1934).
Ao avaliar a eficácia da administração de acetamida (CH
3
CONH
2
) na intoxicação
experimental por
D. cymosum
em cobaios e ovinos verificaram-se que, em cobaios, a
administração de doses de 2,5 e 5,0g/kg de acetamida, por via oral, simultaneamente com 2,0 e
4,0 g/kg da planta preveniu os sinais clínicos e a morte de 4/4 e 8/8 cobaios, respectivamente.
Todos os animais controle, que receberam a mesma dose da planta, porém sem a acetamida
morreram (2/2 e 10/10, respectivamente). Nos experimentos realizados em ovinos, observou-se
que a administração de folhas de
D. cymosum
para os animais controles nas doses de 1,0, 2,5 e
5,0 g/kg foram 100% letais. Nos estudos subsequentes, nos quais foram administrados acetamida
em doses únicas de 5,0 g/kg para três ovelhas, em até 24h antes da administração de 5,0 g/kg de
D. cymosum
todos os animais vieram a óbito. Em experimentos realizados com a mesma dose de
acetamida, porém repetida em até quatro vezes, conforme o protocolo a seguir: Ovino (Ov.) 4
recebeu acetamida 18h antes e 1h após a administração de 5,0 g/kg da planta e o Ov. 5
recebeu acetamida 24h, 19h e 1h antes e 10 minutos depois da administração de 5,0 g/kg da
planta, verificaram-se sinais clínicos nos dois animais e óbito do Ov. 4, porém, o animal 5
recuperou-se após 5 dias. Já nos experimentos realizados com a administração de doses únicas de
2,0 g/kg de acetamida para três animais, simultaneamente com o fornecimento de 1,0 g/kg da
planta não foram observados sinais clínicos e nem óbito dos animais. Por outro lado, nos
experimentos com a administração de acetamida (2,0 g/kg) repetida, em até três vezes antes e
durante a administração da planta (1,0 g/kg), para outros dois ovinos, verificaram-se discretos
sinais clínicos e recuperação dos animais após 24 horas (EGYED; SCHULTZ, 1986). Esses
autores concluíram que a eficácia da acetamida depende de diversos fatores, incluindo a toxidez
da planta em questão, a dose de acetamida administrada e do tempo decorrido entre a intoxicação
e fornecimento do antídoto. E sugerem que a eficácia de 100% da acetaminda como antídoto
contra a intoxicação por
D. cymosum,
aparentemente, ocorre quando ela é fornecida na dose de
2,0 g/kg aos ovinos que ingeriram a dose letal de 1,0 g/kg da planta.
31
Outros autores estudaram o efeito da acetamida em ratos intoxicados por extrato aquoso
Palicourea marcgravii
(117,9 mg/kg)
e MF (1,09 mg/kg) e, verificaram que a administração de
1,25 g/kg de acetamida, por via intraperitoneal, uma hora antes da intoxicação dos animais, em
ambos os casos, evita o desenvolvimento de sinais clínicos e do óbito
(GÓRNIAK; PALERMO-
NETO; SPINOSA, 1994).
A eficiência do uso de gluconato de cálcio (130 mg/kg),
α
-cetoglutarato (252 mg/kg) e
succinato de sódio (240 mg/kg) como antídotos contra a intoxicação por MF foram avaliados
individualmente e associados, em camundongos intoxicados com 15,0 mg/kg de MF, por via
intraperitoneal (OMARA; SISODIA, 1990). Os tratamentos foram realizados 15 minutos a 36
horas após a administração do MF. A administração isolada desses três antídotos, bem como a
associação do gluconato de cálcio com o alfa-cetoglutarato foi ineficaz na redução da mortalidade
dos animais. No entanto, a administração do succinato de sódio associado ao gluconato de cálcio,
15 minutos após a intoxicação por MF, gera um forte efeito protetor. Por outro lado, o uso de
succinato de sódio em doses elevadas (360-480 mg/kg) associado ao gluconato de cálcio (130
mg/kg) não produz efeito protetor (OMARA; SISODIA, 1990) por razões, até então,
desconhecidas (PROUDFOOT; BRADBERRT; VALE, 2006). Outros estudos demonstraram que
a administração de 5 a 10 mL de uma solução a 10% de gluconato de cálcio, por via endovenosa,
previne o desenvolvimento dos quadros tetaniformes, resultantes da acidose láctica (LLOYD,
1983; SCHVARTSMAN, 1971). Collicchio-Zuanaze et al. (2006) avaliaram o efeito da
administração de succinato de sódio e gluconato de cálcio a 10%, em gatos intoxicados
experimentalmente por MF e constataram taxa de sobrevida de 75% nos animais tratados contra
25% do grupo controle (não-tratado). Verificaram-se ainda, a normalização precoce do pH, dos
íons bicarbonato e do cálcio ionizado, bem como uma reversão mais eficiente dos quadros de
acidose metabólica e hipocalcemia. Adicionalmente, esses autores ressaltam que é extremamente
importante o emprego um protocolo eficaz no controle dos episódios convulsivos, uma vez que a
convulsão observada em gatos intoxicados por MF podem ser fatais. Tais autores verificaram que
o uso de anticonvulsivantes, como os benzodiazepínicos no controle das convulsões tetânicas
somente promovem efeito satisfatório se forem administradas repetidas vezes. Desta forma, a
utilização de barbitúricos foi considera pelos autores como a melhor opção no controle das
convulsões (COLLICCHIO-ZUANAZE et al., 2006).
Foi demostrado que o uso de barbitúricos em es intoxicados por MF, também possui
valor terapêutico, em especial, quando administrados precocemente (TOURTELLETTE; COON,
1950). Nesse estudo, verificou-se que a administração do barbitúrico 30 min após a intoxicação
por MF, com doses quatro vezes maiores que a LD
50
resulta na sobrevida de 80% dos cães. Por
outro lado, quando a terapia é efetuada 3 horas após a intoxicação, a taxa de sobrevida é reduzida
consideravelmente (17%). Adicionalmente, foi observado que com altas doses de MF (seis vezes
o valor da LD
50
), os barbitúricos são ineficazes (TOURTELLETTE; COON, 1950). Outros
autores estudaram o efeito profilático da reserpina na prevenção dos distúrbios cardíacos
causados pelo MF em coelhos (HUANG; PANG; CH`ANG, 1980). Nesse estudo foram
realizadas três administrações prévias de reserpina, com intervalo de quatro horas, por via oral, na
dose de 0,25 mg/kg e, em seguida, os animais receberam 1,5 mg/kg de MF. A maioria dos
animais do grupo tratado com reserpina apresentou prolongamento no tempo de sobrevivência e,
alguns animais, se recuperaram completamente. Todos os coelhos do grupo controle morreram.
Os autores concluíram que a reserpina preveniu a estimulação adrenérgica de aminas vasoativas,
liberadas durante a intoxicação, como mecanismo compensatório para a deficiência do
suprimento energético para o coração e, que, o tratamento com reserpina não é tão eficiente como
a acetamida, na terapia da intoxicação por MF (HUANG; PANG; CH`ANG, 1980).
32
A avaliação da eficácia do tratamento com gluconato de cálcio 10% e monoacetato de
glicerol, como antídotos em es, não demonstrou diferenças estatísticas significativas quando
comparados com o grupo controle. No entanto, a comparação da taxa de sobrevida dos animais
submetidos aos diferentes tratamentos, revelou que os cães tratados com gluconato de cálcio
apresentaram maior sobrevida (DE PAULA, 2000).
A administração de 5 a 10 mL de solução a 10% de cloreto de cálcio (CaCl
2
), por via
intravenosa lenta e contínua, acompanhada de monitorização previne a taquicardia e a fibrilação
ventricular. Tal tratamento tem como finalidade restaurar os níveis de lcio ionizado que foram
supostamente quelados pela elevada concentração do citrato rico (PALERMO-NETO;
MORAES-MOREAU, 1995). Outros autores relatam que o tratamento com CaCl
2
prolonga o
tempo de vida de gatos intoxicados e sugerem que a concentração deste íon é um ponto
importante frente à patogênese da intoxicação por MF (ROY; TAITELMAN; BURSZSTEIN,
1980).
Foi verificado que a administração de doses elevadas de bicarbonato de sódio, com taxa
de infusão contínua (300 mg/kg durante 15 a 30 minutos), causa aumento considerável na taxa de
sobrevida de cães expostos ao MF, que manifestam sinais clínicos avançados (CHURCHILL,
1996). Segundo outros autores, o bicarbonato de sódio é vital no combate à acidose metabólica
observada em casos de intoxicação por MF (PALERMO-NETO; MORAES-MOREAU, 1995).
Em ratos intoxicados com
P. marcgravii,
o emprego de hidrato de cloral associado à
xilazina mostrou-se capaz de prevenir as convulsões e morte e, desta forma, sugeriu-se que essa
substância pode atuar como doadora de acetato (GÓRNIAK; PALERMO-NETO; SPINOSA,
1993).
Em pesquisa recente, realizada com a finalidade de encontrar um antídoto para o MF,
foram testadas diversas substâncias em camundongos intoxicados com 15 mg/kg de MF, por via
intraperitoneal (IP) (PEREIRA; PEREIRA, 2005). As substâncias ensaiadas foram administradas
IP, 30 minutos após os camundongos terem recebido o MF e, incluíram, triacetato de glicerila,
acetilmetionina, citrato de sódio, cloridrato de d,1-carnitina, cloreto de magnésio, tiosulfato de
magnésio e tiosufalto de sódio, todos na dose de 100 mg/kg, exceto o cloreto de magnésio, cuja a
dose foi 50 mg/kg. Verificou-se que a substância com maior atividade antagônica para doses
letais do MF foi o tiosulfato de magnésio, uma vez que, o seu emprego, evitou o óbito de todos os
camundongos (10/10). Adicionalmente, administraram-se uma solução com 50 g de tiosulfato de
magnésio, por via endovenosa, a um novilho de 300 kg, intoxicado com
P. marcgravii
e que
manifestava sintomas leves de intoxicação. No dia seguinte, o animal estava completamente
recuperado. O mecanismo de ação do tiosulfato de magnésio na intoxicação por MF é
desconhecido (PEREIRA; PEREIRA, 2005).
Outros autores estudaram o valor terapêutico da utilização de agentes moduladores de
neurotransmissores na intoxicação por MF em ratos e, verificaram que o uso isolado de agonistas
GABA é capaz de controlar apenas alguns sinais clínicos, em especial, as convulsões, embora
não aumente a sobrevida dos animais intoxicados (WICKSTROM; COOK; EASON, 1998b). Por
outro lado, o uso concomitante de diferentes neuromoduladores aumenta significativamente a
sobrevida dos animais (WICKSTROM; COOK; EASON, 1998b; WICKSTROM; COOK;
EASON, 1998c). De fato, em estudos complementares verificaram-se que a administração
associada de agentes moduladores de neurotransmissores, incluindo inibidores de glutamato e
óxido nítrico, bloqueadores dos canais de cálcio e sódio, agonistas GABA, agonistas kappa
opióides, agonistas dopaminérgicos e serotoninérgicos, bem como diversos fatores de
crescimento neurotróficos e drogas antinflamatórias não-esteróidais, quando administradas, por
via oral, a ratos, ovelhas e galinhas, proporciona significativa proteção contra os efeitos letais do
33
MF (WICKSTROM; COOK; EASON, 1998a; COOK et al., 2001). Em ratos e ovelhas, esse
efeito protetor pode ser otimizado pelo uso de pirrolopirimidinas, que aumentam a velocidade de
transferência do antídoto pela barreira hematoencefálica (COOK et al., 2001). Cabe ressaltar que,
em ratos, a margem de segurança da administração combinada de diversos neuromoduladores é
pequena, uma vez que a utilização de doses duas a quatro vezes maiores que a dose terapêutica
aumenta a taxa de mortalidade dos animais (WICKSTROM; COOK; EASON, 1998a).
Estudos recentes desenvolvidos na Austrália e na Nova Zelândia avaliaram os potências
benefícios da terapia com 4-metilpirazole, um fármaco indicado no tratamento de intoxicação por
etilenoglicol, em ratos intoxicados por MF (FELDWICK et al., 1997). Esses autores verificaram
que a administração de 4-metilpirazole reduz a produção de oxaloacetato através da inibição da
enzima malato desidrogenase, o que resulta na redução da produção de fluorocitrato. Embora os
sinais clínicos manifestados pelos animais tratados sejam mais leves do que aqueles apresentados
pelo grupo controle, o foi verificado redução significativa na concentração sérica de citrato
entre os animais experimentais e o grupo controle (FELDWICK et al., 1997).
2.1.14 Diagnóstico diferencial da intoxicação por MF
As enfermidades a serem consideradas no diagnóstico diferencial da intoxicação por MF
variam em função da espécie em questão, uma vez que alguns animais manifestam sintomas
predominantemente cardíacos, outros neurológicos ou referentes a ambos os sistemas.
2.1.14.1 Intoxicação por organofosforados, carbamatos, organoclorados e estricnina
Os principais diagnósticos diferenciais da intoxicação por MF em cães e gatos incluem
intoxicações por organofosforados, carbamatos, organoclorados e estricnina (O’HAGAN, 2004).
Na Tabela 5 são descritos os principais sinais clínicos apresentados por cães e gatos intoxicados
por essas substâncias. Em animais intoxicados por esses compostos, não são observadas lesões
macroscópicas características ou significativas (HUMPHREYS, 1988; CAMPBELL;
CHAPMAN, 2000; PLUMLEE, 2004; RADOSTITS et al., 2002).
Os sinais clínicos da intoxicação por carbamatos e organofosforados ocorrem devido ao
acúmulo de acetilcolina, o que resulta em hiperestimulação do sistema nervoso parassimpático.
Desta forma, os efeitos tóxicos reproduzem as respostas muscarínicas, nicotínicas e sobre o SNC
causados pela acetilcolina. Os efeitos muscarínicos manifestam-se por dispnéia, sudorese,
sialorréia, miose, vômito e diarréia. Os efeitos nicotínicos caracterizam-se por fraqueza,
contrações espasmódicas, tremores e tetania, convulsões, paralisia flácida e opistótono
(RADOSTITS et al., 2002). No sistema nervoso central, o excesso de acetilcolina causa
inquietação, ataxia, convulsão, depressão e coma (BARROS; DRIEMEIER, 2007).
Em cães e gatos intoxicados por carbamatos o início dos primeiros sintomas ocorre, em
geral, 30 minutos a 3 horas após a exposição ao tóxico. Clinicamente, verifica-se sialorréia,
hipersecreção brônquica, ataxia, diarréia, tremores musculares, fraqueza, hiperestesia, agitação e
incontinência urinária. Em casos graves, pode ocorrer bradicardia, depressão respiratória,
convulsões, cianose e morte (CAMPBELL; CHAPMAN, 2000). A evolução pode variar de
poucos minutos a várias horas (PLUMLEE, 2004). Ao exame macroscópico de cães intoxicados
por Aldicarb, um tipo de carbamato, podem apresentar no pulmão, hemorragia, edema e
congestão, além de congestão em fígado e rim, petéquias e sufusões na pleura, hemotórax e
hidrotórax (XAVIER; KOGIKA; SPINOSA, 2002). A confirmação do diagnóstico é feita através
34
de exames laboratoriais que determinem a presença de carbamatos/organofosforados
(RADOSTITS et al., 2002).
Cabe ressaltar que intoxicações acidentais por organofosforados e carbamatos podem
ocorrer em ovinos, caprinos, bovinos, suínos e equinos após o emprego de inseticidas em
plantações ou uso de antiparasitários em concentrações inadequadas (RADOSTITS et al., 2002),
contudo a sintomatologia difere daquela observada em casos de intoxicação por MF.
Em relação à intoxicação por organoclorados, embora uma variedade de efeitos clínicos e
subclínicos sejam atribuídos a esses compostos (Tabela 5), os sinais clínicos da intoxicação
aguda são, predominantemente, neuromusculares. Em geral, os primeiros sintomas se iniciam
poucos minutos a dois dias após a exposição a essa substância. O diagnóstico pode ser
confirmado pela demonstração laboratorial do tóxico no cérebro, fígado, gordura ou sangue
(PETERSON; TALCOTT, 2006).
A intoxicação por estricnina em animais de companhia cursa com sintomatologia
semelhante aquela acima descrita, nas intoxicações por pesticidas e inseticidas (Tabela 5).
Geralmente, os primeiros sinais clínicos se manifestam 10 a 120 minutos após de ingestão dessa
substância. Os sintomas incluem ataxia, espasmos e rigidez muscular, convulsões intermitentes
ou contínuas e opistótono. Estímulos externos agravam os episódios convulsivos. O vômito não é
comumente observado. A evolução pode variar entre 10 minutos a 48 horas (PLUMLEE, 2004).
Exames toxicológicos e o aumento dos níveis de citrato nos tecidos diferenciam a
intoxicação por MF das demais intoxicações acima descritas (EGYED et al., 1977).
Tabela 5. Quadro clínico causado por pesticidas considerados diagnósticos diferenciais da
intoxicação por MF em cães e gatos
Substância Sinais clínicos
Monofluoroacetato de sódio Início agudo, vômitos, diarréia, micção frequente, inquietação,
edema pulmonar, hipersensibilidade, convulsões tônico-
clônicas, decúbito, movimentos de pedalagem, opistótono e
óbito.
Estricnina Início agudo, tremores musculares, extensão e rigidez dos
membros, hiperestesia, opistótono, tetania e convulsões
provocadas por estímulos externos.
Organofosforados e carbamatos Início agudo, efeitos muscarínicos (sudorese, sialorréia,
lacrimejamento, miose, náusea, vômito e diarréia), efeitos
nicotínicos (rigidez e tremores musculares, debilidade, paresia
e paralisia), e sinais nervosos (ataxia, hiperatividade,
convulsão, depressão e coma).
Organoclorados Início agudo, sialorréia, tremores musculares, hiperatividade,
ataxia, andar em círculos, hipertermia, convulsões tônico-
clônicas induzidas por estímulos externos.
Tabela adaptada de Parton (2006).
35
2.1.14.2 Deficiência de selênio e vitamina E
O selênio (Se) e a vitamina E são agentes antioxidantes que protegem as membranas
celulares contra a ação de radicais livres. O Se é um componente essencial da enzima glutationa
peroxidase, que ocorre, principalmente, no citosol das células e detoxifica peróxidos de lipídeos
que podem destruir a integridade estrutural celular e provocar desordens metabólicas. A vitamina
E complementa a ação do Se uma vez que atua no meio intracelular, enquanto o Se age no meio
extracelular (TAKAHASHI; NEWBURGER; COHEN, 1986; GORGI, 2004).
As manifestações da síndrome da deficiência de selênio e vitamina E incluem,
principalmente, miopatia nutricional (doença dos músculos brancos) em bovinos, suínos, ovinos e
equinos; hepatose dietética, doença do coração de amora e diátese exsudativa em suínos; retenção
de placenta em bovinos e baixa eficiência reprodutiva em ovinos. Contudo, os animais podem
morrer subitamente sem manifestarem sinais clínicos prévios ou após apresentarem
repentinamente depressão, dispnéia, corrimento nasal espumoso tingido de sangue e acentuada
taquicardia. Nessa forma aguda, em geral, a morbidade é 100% e a mortalidade 15%. As lesões
de mionecrose segmentar são características dessa enfermidade, mas não diagnósticas. Para a
confirmação do diagnóstico é necessário avaliar os níveis de Se, no fígado e córtex renal, bem
como de tocoferol no parênquima hepático (BARROS, 2007).
2.1.14.3 “Falling disease”
A “falling disease” (doença da queda), descrita pela primeira vez na Austrália por Bennets,
Beck e Harley (1948), é considerada uma manifestação terminal da carência de cobre em
bovinos, que cursa com “morte súbita”. No Brasil, entre 1986 e 1990, foram descritos cinco
surtos de “falling disease”, em bovinos em propriedades localizadas às margens da Lagoa Mirim
e Lagoa dos Patos no Estado do Rio Grande do Sul. Em todos os casos, a “morte súbita” foi
observada quando os bovinos, aparentemente sadios, eram movimentados. Durante o transporte,
alguns animais caiam e morriam subitamente, apresentando apenas tremores musculares. Ao
exame macroscópico não foram observadas lesões significativas (RIET-CORREA et al., 1993).
Contudo, na Austrália, verificaram-se no coração, flacidez e coloração mais pálida que o normal
e, a histopatologia revelou atrofia do miocárdio e substituição por tecido fibroso (BENNETS;
BECK; HARLEY, 1948). O diagnóstico é confirmado pela determinação dos níveis hepáticos ou
séricos de cobre (RIET-CORREA, 2007).
2.1.14.4 Intoxicação por plantas cianogênicas
As plantas cianogênicas contêm como princípio ativo o ácido cianídrico (HCN), um
líquido incolor, muito volátil e, que é considerado ser uma das substâncias mais tóxicas
conhecidas. Quando essas plantas são ingeridas, o HCN é rapidamente absorvido pelo trato
gastrointestinal, em especial, no rúmen. Em seguida, ganha à circulação sanguínea e,
posteriormente, uma parte é eliminada pelos pulmões. No fígado, a maior parte é transformada
em tiocianetos, substâncias pouco tóxicas que são excretadas pela urina. Contudo, a intoxicação
ocorre somente quando as doses tóxicas são ingeridas em um curto espaço de tempo (2,0 a 4,0
mg de HCN/kg de peso vivo/hora). O HCN causa um quadro de anóxia aguda tecidual, que se
desencadeia como resultado ao bloqueio da cadeia respiratória, ao nível da enzima
citocromoxidase, que impede o aproveitamento de oxigênio pelos tecidos. Devido à rápida
absorção do HCN, os sinais clínicos da intoxicação se manifestam logo após, ou mesmo durante a
36
ingestão da planta e podem provocar o óbito do animal em poucos segundos, com convulsões e
parada respiratória. Doses menores causam respiração acelerada e mais profunda, taquicardia,
mucosas visíveis inicialmente com coloração avermelhada e, depois cianóticas, tremores
musculares, andar cambaleante, queda, contrações tônico-clônicas e coma (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000).
Em casos agudos, a necropsia não revela lesões significativas, exceto pela coloração
vermelho-viva do sangue venoso, semelhante ao sangue arterial (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000). O exame histológico evidencia, em animais que apresentaram evolução mais
longa, ou foram expostos várias vezes ao cianeto, necrose focal da substância cinzenta e branca
no cérebro. Tais lesões são semelhantes àquelas descritas em casos de envenenamento por
monóxido de carbono e, provavelmente, são decorrentes da hipóxia (JONES; HUNT; KING,
2000).
O diagnóstico dessa intoxicação pode ser confirmado através de análises toxicológicas
capazes de detectar o HCN em fragmentos de fígado ou músculo e amostras de conteúdo ruminal
(TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; HARAGUCHI, 2003). O tratamento clássico é
realizado com a administração de hipossulfito de sódio, por via endovenosa, que induz a
formação de metemoglobina, a qual se conjuga ao HCN e forma uma substância atóxica
denominada cianometemoglobina. O HCN é liberado e fixado pelo tiossulfato para formar
tiocianeto, que por sua vez é excretado pela urina (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO,
2000).
No Brasil, a intoxicação por plantas cianogênicas é menos frequente e importante do que a
que ocorre pelas plantas do grupo das que causam “morte súbita” (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000). A seguir são descritas as principais plantas cianogênicas de interesse pecuário
que ocorrem no país.
O gênero
Manihot
(Euphorbiaceae) engloba as plantas cianogênicas mais importante do
Brasil. Dentre essas, destaca-se
Manihot esculenta
Crantz., a espécie mais conhecida e
denominada popularmente por “mandioca”. Os termos “mandioca”, “macaxeira” e “aipim” são
empregados para denominar as variedades pobres (mansas) em glicosídeos cianogênicos
(linamarina e lotaustralina). as variedades “bravas” são ricas nessas substâncias e são
utilizadas na fabricação de farinha de mandioca, goma e polvilho (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000). A intoxicação por
M. esculenta
em bovinos ocorre, sobretudo, sob condições
de escassez de pastagens (TOKARNIA et al., 2007), quando os animais invadem áreas cultivadas
com essa planta (CHEW, 1972) ou ainda após o fornecimento de raízes tuberosas aos animais,
sem os devidos cuidados. São descritas ainda, outras espécies de
Manihot
silvestres, conhecidas
como “maniçobas” ou, em algumas regiões, como “mandiocas-bravas”, que ocorrem em todo o
país, sob a forma de árvores ou arbustos (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Foi
demostrado experimentalmente, que doses a partir de 2,5 g/kg e 9,3 g/kg de duas espécies
silvestres,
Manihot piauhyensis
Ule. e
Manihot glaziovii
Muell Arg., respectivamente, são fatais
para bovinos (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1994).
Prunus sphaerocarpa
(Rosaceae), conhecida como “pessegueiro-bravo”, é uma planta
cianogênica encontrada nas Regiões Sudeste e Sul do país, cujas folhas são ricas no glicosídeo
cianogênico amigdalina. Sob condições naturais, a intoxicação por essa planta foi descrita em
bovinos, no Estado de São Paulo e Santa Catarina (SAAD; CAMARGO, 1967; GAVA et al.,
1992), em caprinos no Estado de São Paulo (SAAD; CAMARGO, 1967) e, reproduzida
experimentalmente em caprinos (SAAD; CAMARGO, 1967). Outros autores comprovaram
através de experimentos em bovinos, a toxidez de
P. selowii
(=
P. sphaerocarpa),
que era
incriminada por criadores e veterinários, como a planta responsável por frequentes mortes do
37
gado em Santa Catarina. Doses entre 3,5 g/kg e 5,0 g/kg de folhas frescas foram letais. O óbito
ocorreu entre 48 minutos a 4 horas e 50 minutos após a administração da planta (GAVA et al.,
1992).
Piptadenia macrocarpa Benth. (=Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan
) é uma
árvore da família Leguminosae Mimosoidea, conhecida pelo nome popular de “angico-preto”,
que ocorre em todo Nordeste (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Tokarnia et al.
(1999) reproduziram experimentalmente, em bovinos, a intoxicação por
P. macrocarpa
e,
verificaram que doses a partir de 13,9 g/kg foram letais. A evolução variou entre 47 minutos a 6
horas e 36 minutos.
Piptadenia viridiflora
(Kunth.)
Benth. (Leguminosae Mimosoidea), é uma árvore
conhecida popularmente como espinheiro” ou “surucucu” que ocorre no Oeste da Bahia
(TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Estudos experimentais, realizados por
Tokarnia et al. (1999) em bovinos, com o intuito de comprovar a toxidez que era atribuída a essa
planta, por alguns criadores de gado da Bahia, demonstraram que
P. viridiflora
induz um quadro
clínico-patológico semelhante ao observado na intoxicação por
P. macrocarpa
. Doses de 10 g/kg
e 14,1 g/kg foram capazes de provocar sintomas e a morte dos animais. A evolução da
intoxicação variou de 3 horas e 35 minutos a 5 horas e 10 minutos.
Sorghum vulgare
Pers. e outras gramíneas tóxicas tornam-se perigosas, especialmente,
quando em brotação ou quando fatores que impedem seu pleno desenvolvimento ou provocam
seu murchamento, como estiagem, geadas e pisoteio, predispõem o aparecimento de altas
concentrações de glicosídeos cianogênicos ou a liberação de HCN. Dentre essas gramíneas, as
mais conhecidas são
Cynodon
,
Triglochin
e
Sorghum
. A intoxicação por tais gramíneas, em geral,
ocorrem 2 a 3 horas após a introdução dos animais na pastagem (HENRICI, 1926). Cabe ressaltar
que, embora existam diversas espécies de
S. vulgare
, apenas algumas são tóxicas (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). No Brasil, são escassos os relatos de intoxicações naturais
por essas gramíneas. De fato, apenas dois surtos de intoxicação cianídrica em bovinos
mantidos em pastagens de
Cynodon
sp. (“tifton 68”), que foram recentemente descritos em Santa
Catarina (GAVA et al., 1998a) e outro por
Sorghun halepense
(L.) Pers. relatado no município de
Santa Luzia, semi-árido da Paraíba (NÓBREGA et al., 2006). Gava et al. (1998a) reproduziram
experimentalmente a intoxicação
Cynodon
sp., através da administração de folhas verdes da
planta, por via oral, a bezerros e, verificaram que a dose de 8,0 g/kg foi capaz de provocar
sintomas e a morte dos animais. No surto de intoxicação por
S. halepense,
dois bovinos de nove,
introduzidos em pasto na fase de rebrota, morreram. À necropsia foram observados congestão e
cianose das mucosas, musculatura escura, pulmão com petéquias e edema, além das folhas das
plantas no rúmen. O teste do papel picro-sódico resultou positivo (NÓBREGA et al., 2006).
2.1.14.5 Intoxicação por
Ricinus communis
(folhas e pericarpo)
Ricinus communis
L., conhecido popularmente como “mamona” ou “carrapateira”, é um
arbusto da família Euphorbiaceae que ocorre, sob forma espontânea, em todo o país, além de ser
cultivada em algumas regiões. Sob condições naturais, a intoxicação pelas folhas só é descrita em
bovinos (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). A ingestão das folhas, pericarpo ou
ambos causam sintomas, predominantemente, neuromusculares (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000). A ingestão da planta, provavelmente, ocorre sob condições de fome. De fato,
relatos de intoxicações consequentes à invasão de áreas onde a planta é cultivada (TORRES;
FERNANDES, 1941). A dose letal das folhas frescas é 20 g/kg (DÖBEREINER; TOKARNIA;
CANELLA, 1981; TOKARNIA; DÖBEREINER; CANELLA, 1975).
38
Os primeiros sintomas de intoxicação pelas folhas ocorrem entre três e seis horas após o
início da ingestão da planta. A evolução é aguda e, em geral, a morte sobrevém 4 a 16 horas após
o início dos sintomas. Entretanto, na intoxicação pelo pericarpo, os primeiros sintomas aparecem
entre 1 hora e 45 minutos a 4 horas e 30 minutos após a sua ingestão e, a evolução varia de 1 hora
e 30 minutos a 4 horas e 40 minutos após iniciados os sintomas (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000). Clinicamente verificam-se andar desequilibrado, dificuldade para entrar em
decúbito após curta marcha, tremores musculares, sialorréia, movimentos de mastigação e, às
vezes, eructação excessiva. Os que apresentam sintomas graves morrem rapidamente. À
necropsia, não são observadas alterações significativas. Contudo, animais intoxicados pelas
folhas da planta apresentam rápido aparecimento de pseudo-timpanismo após a morte. Ao exame
histopatológico verifica-se, sobretudo no caso da ingestão das folhas, leve a acentuada
vacuolização do parênquima hepático (Sudam III negativo) (TOKARNIA; BEREINER;
PEIXOTO, 2000).
2.1.14.6 Intoxicação por plantas que causam “morte súbita”
A intoxicação por plantas brasileiras que causam “morte súbita” em bovinos e búfalos
deve ser considerada o principal diagnóstico diferencial da intoxicação por MF. Cabe ressaltar
que, até o momento, não se conhece a intoxicação por essas plantas, sob condições naturais, nas
demais espécies de animais de produção.
2.2 Ocorrência Natural do MF em Plantas Tóxicas de Interesse Pecuário
O MF foi isolado de diversas plantas na África do Sul (MARAIS, 1944; VICKERY;
VICKERY; ASHU, 1973), Austrália (OELRICHS; McEWAN, 1962; McEWAN, 1964; APLIN,
1967; EVERIST, 1974; BARON et al., 1987) e Brasil (OLIVEIRA, 1963; MORAES-MOREAU
et al., 1995; KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994; CUNHA, 2008), cuja ingestão
determina a morte com evolução superaguda em bovinos. ainda, fortes indícios de que essa
substância também seja o princípio ativo das outras plantas tóxicas brasileiras que também
determinam a chamada “síndrome da morte súbita” (SDCP -
Sudden death causing plants
).
Acredita-se que, pelo menos 600.000 bovinos, morrem anualmente no Brasil intoxicados por
SDCP (TOKARNIA, comunicação pessoal).
2.2.1 Plantas que contêm MF
No Brasil, o MF foi identificado por cromatografia em camada delgada (CCD) nas folhas
de
Palicourea marcgravii
(OLIVEIRA, 1963; MORAES-MOREAU et al., 1995) e, através de
espectroscopia por ressonância magnética nuclear flúor
19
(RMN
19
F) tanto em
P. marcgravii
(KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994; MORAES-MOREAU et al., 1995), quanto
em
Arrabidaea bilabiata
(KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994). Cunha (2008)
tentou identificar o MF em extratos de
Mascagnia rigida
através de CCD e CLAE e detectou a
presença de pico cromatográfico com tempo similar ao observado para MF, entretanto, ressalta
que “paira a dúvida se realmente o pico observado confirma, de forma definitiva, a presença de
fluoroacetato no extrato da planta”, uma vez que segundo a autora “por esta técnica não pode ser
descartada a presença de interferentes com tempo de retenção similar”.
Na África do Sul, esse composto foi isolado e identificado por Marais (1944) em
Dichapetalum cymosum
e, posteriormente, em diversas outras espécies de plantas desse gênero
39
(VICKERY; VICKERY, 1972; VICKERY; VICKERY; ASHU, 1973; NWUDE; PARSONS;
ADANDI, 1977). Na Austrália, outros autores identificaram o MF por cromatografia gasosa em
Acacia georginae
(OELRICHS; McEWAN, 1961; OELRICHS; McEWAN, 1962) e
Gastrolobium grandiflorum
(McEWAN, 1964). Estudos posteriores detectaram e quantificaram o
MF por espectroscopia de RMN
19
F em
Oxylobium
spp.,
A. georginae
e
Gastrolobium
spp.
(BARON et al., 1987), e por espectroscopia infra-vermelha em
A. georginae
(OELRICHS;
McEWAN, 1962) e
G. grandiflorum
(McEWAN, 1964).
2.2.2 Plantas que provavelmente contêm MF
Embora ainda não tenham sido desenvolvidos estudos com a finalidade de detectar a
possível presença do MF nas outras nove plantas brasileiras que causam “morte súbita” (
P.
grandiflora, P. juruana, P. aeneofusca, Arrabidaea japurensis, Pseudocalymma elegans,
Mascagnia elegans, M. pubiflora, M. exotropica e M.
aff.
rigida
) é provável, que esse composto
também seja o principio tóxico determinante dos sinais clínicos e da morte dos animais
intoxicados por essas plantas. Na Tabela 6, encontra-se resumido o quadro clínico-patológico
observados nos casos de intoxicação por essas plantas.
40
Tabela 6. Aspectos clínco-patológicos da intoxicação experimental pelas outras nove plantas tóxicas brasileiras que causam “morte
súbita” em bovinos e, que provavelmente, contêm MF como princípio ativo (continua).
Planta Dose letal
(g/kg)
Tempo entre a
administração e o
óbito
Quadro clínico Achados de
necropsia
Achados histopatológicos
Palicourea aeneofusca 0,75 12h a 24h Cai em decúbito lateral e morre. Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais dos
rins e vacuolização de hepatócitos.
Palicourea juruana 2,0 11h 50min a
13h 46min
Dispnéia, taquicardia, queda, perda do
controle dos movimentos, decúbito
lateral, movimentos de pedalagem,
mugidos e morte.
Negativos Necrose hepática e necrose do miocárdio
(em um bovino). Leve a moderada
degeneração hidrópico-vacuolar dos
hepatócitos.
Palicourea grandiflora 1,0 e 2,0 Até 24 h Relutância em mover-se, decúbito
esternal, decúbito lateral, opistótono,
movimentos de pedalagem, mugidos e
morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais
associada à picnose nuclear.
Arrabidaea japurensis 1,5 a 10 6h a 22h Andar cambaleante, tremores musculares,
súbita perda de equilíbrio, deita-se
repetidas vezes, dispnéia, taquicardia,
pulso venoso positivo, decúbito esterno-
abdominal, decúbito lateral, movimentos
de pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais
associada à picnose nuclear.
Pseudocalymma elegans
2,5 a 10 12h a 44h Andar rígido, instabilidade, tremores
musculares, deita-se rápido ou cai em
decúbito esternal com membros
posteriores esticados, opistótono,
nistagmo e taquicardia.
Ocasionalmente
ressecamento do
conteúdo do
omaso e reto.
Vacuolização citoplasmática de
hepatócitos e miocárdio. Degeneração
hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos
contornados distais associada à picnose
nuclear.
Tabela adaptada de Pinto (2008).
Família Rubiaceae
Família Bignoniaceae
41
Tabela 6. Continuação.
Planta Dose letal
(g/kg)
Tempo entre a
administração e o
óbito
Quadro clínico Achados de
necropsia
Achados histopatológicos
Mascagnia elegans Indeterminada Indeterminada Queda ao solo, taquicardia, micções
frequentes, ligeira sobrecarga ruminal,
falta de apetite, tremores musculares,
movimentos de pedalagem e morte.
Negativos Não há dados.
Mascagnia publiflora 5,0 a 20 16h 48h Relutância em mover-se, andar rígido,
tremores musculares, micção frequente,
deita-se ou cai quando movimentado,
decúbito lateral, movimentos de
pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais
associada à picnose nuclear.
Mascagnia aff. rigida 0,625 a 2,5 17h 45min a 37h 45min Queda em decúbito esterno-abdominal,
depois decúbito lateral, movimentos
desordenados com a cabeça, tremores
musculares, pulso venoso positivo,
dispnéia, movimentos de pedalagem,
mugidos, respiração espaçada ou
forçada, movimentos de pedalagem e
morte.
Em administrações
repetidas,
observaram-se áreas
branco-acinzentadas
na região do músculo
papilar.
Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais
associada à picnose nuclear. Em
administrações repetidas, processo
degenerativo, necrótico, proliferativo e
inflamatório na região do músculo
papilar.
Mascagnia exotropica 5,0 a 10 14h a 23h Cansaço, jugular ingurgitada, tremores,
taquicardia, decúbito, morte.
Coloração
avermelhada na
mucosa do intestino
delgado e edema da
subserosa da parede
da vesícula biliar.
Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais
associada à picnose nuclear, congestão
hepática centrolobular e hemorragias na
mucosa do intestino delgado.
Tabela adaptada de Pinto (2008).
Família Malpighiaceae
42
2.3 Histórico dos Estudos que Visaram Identificar o Princípio Tóxico de
Palicourea
marcgravii
Dentre as diversas plantas xicas brasileiras,
Palicourea marcgravii
St. Hil. (Figura 6),
recebeu ao longo de décadas, atenção de vários pesquisadores. Foi a primeira planta tóxica
brasileira estudada (HOEHNE, 1932; PACHECO; CARNEIRO, 1932a, 1932b; DÖBEREINER;
TOKARNIA, 1959) e tem sido, até os dias de hoje, objeto de diversos estudos relacionados à
presença de substâncias xicas ou farmacológicas (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO,
2000), possivelmente por atribuírem a ela uma grande mortalidade de bovinos (GAGNIN;
MARAVALHAS, 1969) e ser a planta tóxica mais importante do Brasil (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Embora vários estudos tenham sido realizados com o intuito
de elucidar o mecanismo toxicológico de
P
.
marcgravii
, por muito tempo, houve divergências,
entre os pesquisadores, na comprovação do princípio tóxico determinante dos sintomas e da
morte dos animais e, ainda hoje, persistem incertezas. Na Tabela 7 encontram-se descritas, de
forma resumida, diversas substâncias já isoladas de
P. marcgravii
.
Tabela 7. Substâncias isoladas de
Palicourea marcgravii
Substâncias isoladas Referências
Monofluoroacetato de sódio Oliveira (1963); Krebs; Kemmerling
e Habermehl (1994); Moraes-Moreau
et al. (1995).
Alcalóides Guimarães (1934); Barnes e Gilbert
(1960); Gagnin e Maravalhas (1969);
Morita et al. (1989).
Saponinas Guimarães (1934); Mello e Fernandes
(1940); Barnes e Gilbert (1960).
Ácidos málico, palicúrico e miotônico Peckolt (1868).
Salicilato de metila e cristais de oxalato de cálcio Coelho et al. (2007).
Tanóide Guimarães (1934).
Ácido salicílico e amida do ácido o-metoxibenzóico Cascon e Mors (1962).
Cafeína Górniak (1986).
Alcalóide N-metiltiramina Cascon e Mors (1962); Kemmerling
(1996).
Alcalóide 2-metiltetrahidro-
β
-carbolina Kemmerling (1996).
43
Desde o século XIX, se comentava sobre a toxidez de
P. marcgravii
(SAINT-
HILAIRE, 1824; HOEHNE, 1932) e havia, inclusive, referência no pioneiro livro de Martius,
Systema materiae medicae vegetabilis brasiliensis,
a respeito de suas propriedades tóxicas
(MARTIUS, 1843). Tal toxicidade, também era popularmente conhecida a longa data, uma vez
que há, na literatura, registros datados do ano de 1843 que esclareciam a origem do nome
popular, erva-de-rato, atribuído a essa planta, ao fato dos antigos utilizarem seus frutos triturados
e misturados ao azeite ou a outros alimentos como raticida (MARTIUS, 1843; HOEHNE, 1939).
Além disso, acredita-se que os “feiticeiros dos mucambos” [sic] empregavam essa planta no
extermínio, tido como infalível, de seres humanos, por nefrose e degeneração cardíaca (MELLO;
FERNADES, 1940).
Figura 6. Aspecto botânico de
Palicourea marcgravii
(Fonte: MARTIUS, 1915).
44
Em 1868, Peckolt, um botânico e farmacêutico germânico, realizou análises químicas
detalhadas em
P. marcgravii
e relatou ter encontrado em 1000 g da planta 0,009 g de substância
volátil (aldeído), 0,005 g de ácido miotônico (venenoso), 0,655 g de ácido palicúrico cristalizado,
0,060 g de palicurina cristalizada (sem efeito tóxico), 0,180 g de palicurato de cal, 1,839 g de
substância resinosa, 1,360 g de ácido málico e sais de cloro, 1,800 g de matéria extrativa de gosto
enjoativo, 0,400 g de matéria extrativa amarga, 22,327 g de matéria extrativa sacarina, 0,027 g de
substância corante amarela, 8,727 g de nitrato de potassa, 2,736 g de cloreto de potassa e 959,848
g de resina, extrato, fibra e água. O pesquisador afirmou que o princípio tóxico dessa planta
tratava-se de um ácido volátil, denominado de ácido miotônico. Com base nesta afirmação,
Peckolt questionou a proposta feita por alguns autores da época, de que
P. marcgravii
seria um
substituto da
digitalis
, pois segundo o autor, tal princípio tóxico, por ser volátil, desapareceria
durante o dessecamento da planta.
No ano de 1909 foi realizada a primeira constatação da toxidez de
P. marcgravii
para
animais de laboratório, através de ensaios tóxicos experimentais, quando se verificou que o
principio tóxico dessa planta atuava sobre os nervos motores e músculos estriados e causava
perda de excitabilidade, o que levou o autor a sugerir uma semelhança entre a ação fisiológica
desse princípio ativo com o
curare
(BAPTISTA-LACERDA, 1909).
Mais tarde, foram realizados experimentos de maior amplitude, composto inicialmente
por estudos preliminares, seguido por investigações meticulosas, com a finalidade de verificar
diversos aspectos relacionados à toxidez de
P. marcgravii
para animais domésticos (PACHECO;
CARNEIRO, 1932a). Nesse estudo, foi comprovada sua toxidez para bovinos, caprinos, equinos,
cães, coelhos, cobaios e ratos. Verificou-se que a planta dessecada mantém sua toxidez e que o
fruto é a parte mais tóxica da planta
.
Observou-se ainda, que o principio tóxico de
P. marcgravii
é, prontamente, solúvel em água fria, possui a propriedade de fixação e acumulação no
organismo. Tudo indica que o princípio ativo da planta se fixa eletivamente no músculo cardíaco
e em seguida em outros órgãos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a). Em outro trabalho publicado
por esses autores, foi sugerido que o principio tóxico de
P. marcgravii
atuava diretamente sobre o
coração e que a morte repentina sobrevinha por súbita parada cardíaca (PACHECO;
CARNEIRO, 1932b). Além disso, naquela época, esses autores ressaltavam que o
desenvolvimento de um antídoto não tinha aplicabilidade na prática, uma vez que não haveria
tempo hábil para sua administração.
No intuito de identificar o princípio tóxico de
P. marcgravii
, foi realizado um estudo
abrangente acerca da composição química dessa planta, através de uma série de análises químicas
de suas folhas e raízes. Inicialmente, essas análises foram baseadas na procura por alcalóides,
pois, se sabia naquela época, que as plantas desta família (Rubiaceae) eram ricas em tais
substâncias. De fato, verificou-se a presença dos alcalóides emetina, psicotrina e cefaelina, tanto
nas folhas quanto raízes da planta, porém em maior quantidade nas raízes. Entretanto, apesar
dessas substâncias isoladas serem potencialmente nocivas, elas não seriam responsáveis pela
acentuada toxidez da planta, uma vez que, esses alcalóides estavam presentes em maior
quantidade nas raízes do que nas folhas, e, segundo ela, as raízes de
P. marcgravii
são menos
tóxicas do que as folhas. Observou-se ainda, que a concentração dos alcalóides na planta não era
constante e que estava sujeita a variações, conforme a época do ano e, possivelmente, ao grau de
desenvolvimento das raízes. Devido ao fato de ter sido utilizado, neste trabalho, sempre a planta
seca não foi possível identificar o ácido miotônico incriminado por Peckolt (1868) como o
princípio tóxico de
P. marcgravii
(GUIMARÃES, 1934). Sugere-se ainda, que a palicurina,
provavelmente, seria a mistura de alcalóides, e, que a reação ácida de
P. marcgravii
seria
decorrente da saponina ácida e não dos ácidos orgânicos, que teriam sido denominados por
45
Peckolt como palicúrico. Foi identificada ainda, a presença de um tanóide semelhante ao
existente na raiz da ipeca. Já se deduzia, na época, que o principio tóxico dessa planta era solúvel
em água e insolúvel em solventes neutros de acordo com estudos do Laboratório do Instituto
Biológico. Ao fim de várias tentativas sem êxito, foi obtido um extrato tóxico das folhas dessa
planta, e, com base neste achado afirmou-se que o princípio tóxico de
P. marcgravii
,
determinante da morte dos animais, trata-se de uma saponina ácida, uma glicóside, presente em
maior quantidade nas folhas da planta do que na raiz (GUIMARÃES, 1934). Alguns anos depois,
Hoehne (1939) que partilhava da mesma opinião de Guimarães (1934), afirma que a planta não
perde a toxidez após a dessecagem e que o seu principio tóxico, indubitavelmente, seria uma
glicóside e não uma essência volátil inodora.
Estudos adicionais, com a finalidade de verificar a toxidez de
Palicourea
longipedunculata
e identificar o seu princípio tóxico foram realizados por Mello e Fernandes
(1940); no entanto, sabe-se hoje que, naquela ocasião, a planta utilizada era, na verdade
P.
marcgravii
,
conforme foi demonstrado posteriormente por Canela et al. (1969). Apesar desse
equívoco, os autores realizaram estudos interessantes em relação às propriedades tóxicas da
planta e identificaram a presença de traços de alcalóides e a existência de uma saponina neutra,
de elevado poder hemolítico e alto índice de espuma, porém não conseguiram demonstrar a
presença de emetina. Experimentos subsequentes, demonstraram que os extratos contendo essa
saponina foram tóxicos para cobaios. Contudo, Mello e Fernandes (1940) concluíram que o óbito
desses animais era resultado da seletividade dessas saponinas pelo sistema nervoso,
principalmente, sobre o bulbo. Desta forma, esses autores incriminaram a ação tóxica da planta,
hoje sabidamente
P. marcgravii
, exclusivamente à presença de tal saponina.
Outros trabalhos foram realizados em 1960 visando a investigação de substâncias
químicas em diversas plantas brasileiras. No estudo desenvolvido com
P. marcgravii
confirmou-
se a presença de alcalóides terciários e saponinas, porém, ambas as substâncias foram
encontradas em pequenas quantidades (BARNES; GILBERT, 1960).
Em estudos subsequentes de investigação química, com o intuito de identificar
substâncias farmacológicas ativas nas folhas de
P. marcgravii
, foram isolados o ácido salicílico, a
amida do ácido o-metoxibenzoico e N-metiltiramina (CASCON; MORS, 1962). Os autores
confirmaram ainda, a existência de alcalóides na fração básica do extrato das folhas da planta,
conforme havia sido descrito anteriormente por Guimarães (1934). Por outro lado, os mesmos
autores, verificaram através da experimentação em coelhos, que os extratos aquosos e alcoólicos
das sementes dessa planta, que a nosso ver tratavam-se dos frutos, as quais conteriam tais
saponinas, não eram tóxicos e, que a toxidez permanecia no resíduo das sementes moídas [sic].
Deste modo, o autor conclui que as saponinas, anteriormente incriminadas por outros autores
como responsáveis pela toxicidade da planta, não seriam, de fato, o verdadeiro princípio tóxico
envolvido na morte dos animais, nem as outras três substâncias por eles isoladas da planta
(CASCON; MORS, 1962).
Oliveira (1963) ao estudar
P. marcgravii
, sob o ponto de vista toxicológico, isolou de suas
folhas o monofluoroacetato de sódio, por CCD e realizou ainda, testes biológicos em cobaios
durante todo o processo de isolamento do MF; ficou constatado que os sintomas apresentados
pelas cobaias de seu estudo eram compatíveis aos descritos na literatura para animais intoxicados
por MF. Desta maneira, o MF, foi atribuído como o princípio tóxico de
P. marcgravii
responsável pelo quadro clínico superagudo nos casos de intoxicação pela planta. Por outro lado,
Habermehl (1986) constatou não ser o MF, o responsável pelos sinais clínicos e morte dos
animais intoxicados por
P. marcgravii
. Mais tarde, o mesmo autor, relata não ter obtido sucesso
46
na detecção da presença do MF nessa planta, através da cromatografia líquida de alta pressão
(HABERMEHL, 1988).
Algum tempo depois, Vianna (1968) relatou que os princípios ativos, determinantes da
toxidez de
P. marcgravii
, ainda não eram bem conhecidos e, inclusive, que alguns autores
renomados negavam sua presença, enquanto, outros a confirmam, e sugeriu que, provavelmente,
essa planta fosse eventualmente tóxica, o que explicaria, portanto, a divergência que persiste
entre os pesquisadores a cerca do principio tóxico.
No ano seguinte, novos estudos foram realizados por Gagnin e Maravalhas (1969) com a
finalidade de verificar a ocorrência de alcalóides em quatro espécies do gênero
Palicourea (P.
marcgravii, P. coriacea, P. squarrosa
e
P. rigida
). Nesse estudo, foi demonstrado o teor de
alcalóides totais em 100 g de diversas partes da planta seca e, obtiveram-se, desta maneira, os
seguintes resultados: 0,124 g no fruto, 0,064 g nas folhas, 0,024 g na flor, 0,006 g na raiz e 0,005
g no caule, através de métodos cromatográficos. Além disso, também foi identificada a presença
da emetina, como o único alcalóide constante, nas quatro espécies de
Palicourea
estudadas
(GAGNIN; MARAVALHAS, 1969). Esses dados confirmam os achados anteriormente descritos
por Guimarães (1934), Barnes e Gilbert, (1960) e Cascon e Mors (1962), que também verificaram
a presença de alcalóides em
P. marcgravii
. Por outro lado, em relação à distribuição dos
alcalóides na planta, Gagnin e Maravalhas (1969) obtiveram resultado oposto ao observado por
Guimarães (1934), que encontrou maior concentração de alcalóides nas raízes do que nas folhas.
Além disso, os teores de alcalóides encontrados nesse trabalho foram inferiores aos encontrados
por Guimarães (1934), o que, segundo os autores, poderia ser justificado pela idade da planta
utilizada, uma vez que, à medida que a planta envelhece, seu teor em alcalóides diminui. Os
autores afirmam ser provável, que condições ecológicas possam estar relacionadas à maior ou
menor concentração de alcalóides nas plantas.
Gagnin e Maravalhas (1969) relataram ainda que, apesar de
P. marcgravii
ser a espécie
mais estudada desse gênero, os trabalhos a ela relacionados, em sua maioria, são confusos e não
alcançam conclusões definitivas; e acreditam que, parte dessas contradições, tenha origem na
coleta da planta de forma equivocada. No mesmo ano, Corrêa (1969) afirmou que o princípio
tóxico de
P. marcgravii
, era o ácido miotônico, o qual havia sido inicialmente proposto por
Peckolt (1868). Porém, em seguida, o autor faz referência ao trabalho e às conclusões de
Guimarães (1934), no qual, afirma-se que uma saponina ácida seria o princípio tóxico de
P.
marcgravii
. Desta forma, Corrêa (1969) não expressa de fato sua opinião sobre qual seria o
verdadeiro princípio tóxico da planta.
Alguns anos depois, foram realizados estudos analíticos em diversas espécies de plantas
africanas, australianas e brasileiras com o intuito de determinar a concentração de possíveis
compostos fluorados. Verificou-se que nas plantas africanas da família Dichapetalaceae, o teor de
flúor é muito maior nos caules e raízes do que nas folhas da planta. Por outro lado, o oposto foi
observado nas plantas australianas (
Gastrolobium
spp. e
Oxylobium
spp.) e brasileiras
(
Palicourea marcgravii
). Além disso, foi demonstrado que havia altas concentrações de flúor
orgânico nos frutos da maioria das espécies analisadas, exceto em
Acacia georginaea
(HALL,
1972).
Em 1986, Tokarnia e Döbereiner com a finalidade de complementar o conhecimento
acerca da toxidez de
P. marcgravii
em bovinos
,
compilaram todos os dados de seus estudos desde
1959. Tais dados eram constituídos por estudos experimentais sobre a intoxicação por essa planta
em bovinos, bem como dos casos espontâneos de intoxicação por eles diagnosticados. Desta
forma, afirmaram não ser possível, até então, concluir através de seus estudos, qual o mecanismo
de ação de
P. marcgravii
para causar o óbito dos animais e, presumiram que o(s) seus(s)
47
princípio(s) tóxico(s) interfere(m) no funcionamento do coração e que o óbito sobrevém por
colapso cardíaco, consequente à insuficiência cardíaca aguda.
No mesmo ano, Górniak (1986) estudou os efeitos tóxicos de
P. marcgravii
em animais
de laboratório e, adicionalmente, realizou análises químicas das folhas da planta. Nessas análises,
foi identificada a presença de alcalóides xantínicos, inclusive cafeína. A autora sugeriu que a
cafeína seria um princípio tóxico de
P. marcgravii
, e que, tal substância, poderia estar envolvida
com a convulsão, morte ou ambas. Além disso, foi proposto que essa planta teria pelo menos dois
princípios tóxicos, um com ação similar a um neuroléptico e outro, que seria a cafeína, estaria
envolvido com o desenvolvimento da convulsão. Dois anos depois, Górniak (1988) em estudos
experimentais com
P. marcgravii
em ratos, com frações aquosas e clorofórmicas dessa planta
,
verificou a presença de princípios ativos distintos nessas frações, e concluiu que os responsáveis
pela convulsão, morte ou ambos, estão presentes na fração aquosa e que tanto o MF, quanto a
cafeína, seriam as substâncias hidrossolúveis que poderiam contribuir no desencadeamento do
quadro de intoxicação.
Algum tempo depois, foram realizados estudos experimentais em ratos visando comparar
o quadro clínico decorrente da intoxicação aguda pelo extrato cru de
P. marcgravii
com a
intoxicação por MF. Os sinais neurotóxicos evidenciados nos experimentos com a planta e com o
MF foram semelhantes; os efeitos neurotóxicos da planta seriam decorrentes da presença do MF
em suas folhas (ECKSCHIMIDT et al., 1989).
Em outros estudos relacionados à composição química de
P. marcgravii
, foi isolado um
alcalóide indólico glicosilado das folhas da planta, denominado palicosídeo (MORITA et al.,
1989).
Com o objetivo de confirmar que o MF é o princípio tóxico presente nas folhas de
P.
marcgravii,
responsável pela convulsão e morte dos animais intoxicados, Moraes em 1993
realizou diversas análises químicas e ensaios biológicos em ratos. Apesar de várias substâncias
terem sido identificadas nas folhas dessa planta, ainda não tinha sido demonstrado de forma
inequívoca, até aquele momento, a relação entre tais compostos com os supostos efeitos tóxicos
que causariam aos animais. Inicialmente, fracionou-se o extrato bruto das folhas dessa planta e,
em seguida, verificou-se que dentre as frações testadas, apenas o resíduo aquoso reproduziu tanto
convulsões quanto a mortes dos animais. Em experimentos subsequentes verificou-se, através de
bioensaios, que os sintomas desencadeados na intoxicação por MF e pelo extrato bruto e aquoso
de
P. marcgravii
eram semelhantes. Foi realizada ainda a identificação química do MF na fração
que se mostrou experimentalmente tóxica (resíduo aquoso), utilizando-se espectroscopia RMN
19
F
e também por CCD; conclui-se que o MF, presente nas folhas da planta é o princípio ativo
determinante das convulsões e mortes dos animais.
Krebs, Kemmerling e Habermehl (1994) identificaram o MF nas folhas de
P. marcgravii
e
Arrabidaea bilabiata
através de métodos analíticos e por espectroscopia de RMN-F
19
.
Alguns anos depois, dois alcalóides isolados de
P. marcgravii
, N-metiltiramina e 2-
metiltetraidro-
β
-carbolina (2-Me THBC), foram atribuídos como prováveis substâncias
responsáveis pela toxidez da planta, além do MF. Ambos os alcalóides potencializariam os
efeitos tóxicos do MF, através do bloqueio da atividade da monoamina-oxidase (MAO), enzima
responsável pela degradação das catecolaminas. Tal bloqueio enzimático eleva a concentração de
adrenalina e noradrenalina sanguínea e consequentemente, gera intensa estimulação dos
receptores
β
-adrenérgicos do sistema simpático e, como resultado, há aumento da pressão arterial
e da demanda energética, principalmente, das células cardíacas. Em suma, esses alcalóides
estimulam por via adrenérgica o ciclo de Krebs, pois, aumentam a demanda por ATP, ao passo
que, o MF o bloqueia. Sob essas condições, o MF seria rapidamente distribuído no organismo e
48
transformado em seu metabólito tóxico, o fluorocitrato, que bloqueia o ciclo de Krebs
(KEMMERLING, 1996). A presença desses alcalóides em
P. marcgravii
permite esclarecer as
diferenças no período de evolução observado entre ruminantes e equinos intoxicados
experimentalmente com doses similares da planta. Desta forma, a ocorrência de “morte súbita”
em ruminantes poderia ser atribuída à maior absorção desses dois alcalóides pelo trato
gastrointestinal, uma vez que, encontram-se desprotonados e mais apolares no rúmen; por outro
lado, a evolução mais longa observada nos equinos, se justificaria pelo menor grau de absorção
desses alcalóides, em decorrência de sua protonação no estômago, devido ao pH extremamente
ácido (KEMMERLING, 1996).
Pontual (2000) identificou o MF por CCD do macerado de vísceras de coelhos
intoxicados experimentalmente por
P. marcgravii
. Adicionalmente, foi constatada a presença do
MF e de cumarinas, bem como a ausência de saponinas e de glicosídeos cianogênicos, através de
estudos fitoquímicos a partir de amostras da planta
utilizada nos experimentos.
Em estudos mais recentes, Coelho et al. (2007) isolaram, além do MF, cristais de oxalato
de cálcio e salicilato de metila das folhas de
P. longiflora
, consideraram tais substâncias como
princípios ativos da planta e levantaram a hipótese da associação dessas duas substâncias com o
MF no desenvolvimento do quadro toxicológico das plantas desse gênero. Sugerem ainda, que o
MF e o salicilato de metila poderiam ser introduzidos na pele e faringe dos animais, em
consequência da injúria provocada pela ação mecânica dos cristais de oxalato de cálcio.
Frente ao exposto, fica claro que os pesquisadores em estudos contemporâneos, apesar de
algumas divergências e, por vezes, falta de consenso, de uma maneira geral, atribuem o quadro
clínico-patológico de evolução superaguda observado na intoxicação por
P. marcgravii
, à ação
do MF presente nas folhas e frutos da planta.
2.4 Aspectos Gerais e Clínico-patológicos da Intoxicação por Plantas que Contêm MF
2.4.1
Palicourea marcgravii
Palicourea marcgravii
St. Hil.
(Rubiaceae), popularmente conhecida como “cafezinho”,
“erva-de-rato”, “café-bravo”, “roxa”, “roxinha”, “roxona” e “vick” é a planta tóxica para
herbívoros mais importante do país devido à sua boa palatabilidade, ampla distribuição
(encontrada por quase todo o Brasil, exceto na Região Sul e no Sertão do Nordeste), alta toxidez
(0,6 g/kg) e efeito acumulativo. Na Região Amazônica, ela é responsável por 80% das mortes em
bovinos causadas por plantas tóxicas. Possui como habitat regiões de boa pluviosidade e terra
firme. Sob condições naturais são afetados, sobretudo bovinos e, com menor frequência, falos
(TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; TOKARNIA et al., 2007). Não existem relatos
da intoxicação por
P. marcgravii
em equinos e ovinos e, raros históricos sugestivos dessa
intoxicação em caprinos (TOKARNIA et al., 2007). Experimentalmente, têm sido intoxicados,
por via oral, bovinos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a; DÖBEREINER; TOKARNIA, 1959;
CAMARGO, 1962; COSTA et al., 1984; TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986; BARBOSA et al.,
2003); búfalos (BARBOSA et al., 2003), ovinos (TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER,
1986), caprinos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a; TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER,
1991), equinos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a; TOKARNIA et al., 1993), cães (PACHECO;
CARNEIRO, 1932a) coelhos (PACHECO; CARNEIRO 1932a; PEIXOTO et al., 1987;
TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1994), ratos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a;
GÓRNIAK, 1986, 1988; ECKSCHIMIDT et al., 1989; MORAES, 1993; PINTO et al., 2008),
49
camundongos, hamsters (GÓRNIAK, 1986) e cobaios (PACHECO; CARNEIRO 1932a;
GÓRNIAK, 1986).
Seus frutos são mais tóxicos que as folhas (PACHECO; CARNEIRO 1932a;
TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1994) e a planta quando dessecada não perde a
toxidez (PEIXOTO et al., 1987).
Tokarnia, Peixoto e Döbereiner (1986) realizaram experimentos com ovinos no intuito de
verificar a toxidez de
P. marcgravii
para essa espécie, complementar os estudos sobre o efeito
acumulativo da planta, bem como avaliar o desenvolvimento de tolerância/imunidade ou
sensibilidade pelos animais. Neste estudo, verificaram-se que a administração da planta fresca
recém-colhida em doses únicas de 0,125 mg/kg e 0,25 mg/kg não causaram sinais clínicos de
intoxicação, enquanto que doses de 0,5 g/kg e 1,0 g/kg foram letais. Nos experimentos com
folhas dessecadas a dose letal correspondeu a 0,75-1,0 g/kg da folha fresca. Administrações
diárias de frações da dose letal da folha dessecada (1/2,5; 1/5; 1/10 e 1/20) revelaram, em uma
série de experimentos, que a planta tem efeito acumulativo acentuado até a dose diária de 1/10 da
dose letal, e leve na dose diária de 1/20. Entretanto, em outra série de experimentos, verificaram-
se efeito acumulativo leve até a dose diária de 1/5 da dose letal. Adicionalmente, demonstrou-se
que a administração de uma dose letal única da planta, aos sobreviventes desses últimos
experimentos, não induz tolerância ou imunidade, nem aumento da sensibilidade dos ovinos à
toxidez da planta. O quadro clínico-patológico apresentado pelos ovinos foi de “morte súbita”,
sendo os sinais clínicos e a morte precipitados ou provocados pelo exercício. A evolução foi
superaguda e variou de poucos minutos a 59 minutos, exceto em um animal, que apresentou
evolução maior que 7 horas. Clinicamente, os ovinos manifestaram taquipnéia, taquicardia,
relutância à movimentação, eventualmente deitam em posição esterno-abdominal, tremores
musculares generalizados, instabilidade, decúbito lateral, respiração ofegante e cada vez mais
espaçada, movimentos de pedalagem intermitentes, opistótono e morte. À necropsia revelou
edema pulmonar em 4/6 ovinos que receberam frações da dose letal repetida diariamente e em
4/5 animais que receberam doses letais adicionais. Esse achado não foi observado em nenhum
dos seis que receberam doses únicas. Ao exame microscópico, foram verificadas alterações
principalmente no fígado, rim e coração. No fígado e rim, as lesões eram de natureza regressiva e
circulatória, e no miocárdio, de natureza regressiva, inflamatória e proliferativa. No rim dos seis
ovinos que receberam doses únicas observaram-se tumefação das células epiteliais tubulares, na
cortical e na junção córtico-medular (3/6 50%), degeneração hidrópico-vacuolar (DHV) das
células epiteliais dos túbulos uriníferos contornados distais com picnose nuclear (2/6 33%),
havia também lise de células epiteliais em alguns túbulos e aumento da filtração glomerular,
caracterizada pela presença de substância amorfa eosinofilíca nos espaços de Bowman e luz dos
túbulos uriníferos (3/6 50%). Já no rim dos 11 ovinos que receberam doses repetidas ou uma
dose adicional, observou-se tumefação de células epiteliais (9%), DHV das células epiteliais dos
túbulos uriníferos contornados distais com picnose nuclear (36%) e aumento da filtração
glomerular (18%). Adicionalmente, a tais lesões degenerativas e de aumento de permeabilidade,
havia também lesões necróticas em cinco animais (5/11- 45%) (TOKARNIA; PEIXOTO;
DÖBEREINER, 1986).
Algum tempo depois, foram realizados estudos experimentais com caprinos para
estabelecer a dose letal e caracterizar o quadro clínico-patológico da intoxicação por
P.
marcgravii
nesta espécie (TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1991). A administração, por
via oral, de doses entre 0,6 g/kg e 1,0 g/kg de folhas frescas da planta foram capazes de provocar
sinais clínicos e o óbito de mais de 2/3 dos animais. Verificou-se que o exercício precipita ou
provoca os sinais clínicos de intoxicação e a morte, além de acentuar os sintomas uma vez
50
manifestados. A evolução variou de um minuto a dois dias. Os sinais clínicos observados
incluíram relutância à movimentação, andar com membros rígidos, decúbito esterno-abdominal,
tremores musculares, decúbito lateral, dispnéia acentuada e morte. A necropsia não revelou
alterações significativas. Microscopicamente verificaram-se alterações, principalmente, de
natureza regressiva no coração, fígado e rim. No miocárdio foram observados, em 50% dos
casos, pequenos focos de necrose de coagulação de fibras cardíacas; no fígado havia, na maioria
dos animais, vacuolização e necrose de hepatócitos; no rim, em apenas um caso, houve necrose
de coagulação das células epiteliais dos túbulos uriníferos do córtex (TOKARNIA; PEIXOTO;
DÖBEREINER, 1991).
Pacheco e Carneiro (1932a) demonstraram a toxidez de
P. marcgravii
para bovinos,
através da administração 1,0 g/kg. Mais tarde, Döbereiner e Tokarnia (1959) investigaram a
etiologia da mortandade de bovinos que ocorria anualmente, durante a época das chuvas, no Vale
do Itapicuru, Maranhão. Naquela ocasião, foram realizados experimentos com cinco plantas
apontadas como suspeitas de terem intoxicado os animais, o que possibilitou a comprovação do
diagnóstico da intoxicação por
P. marcgravii
, em bovinos, pela primeira vez.
Anos depois, foram realizados estudos experimentais adicionais com a finalidade de
complementar os conhecimentos acerca da toxicidade de
P. marcgravii
(TOKARNIA;
DÖBEREINER, 1986)
.
De início, foram feitos experimentos com doses únicas das folhas frescas
em 30 bovinos e com folhas dessecadas em 11 animais. E posteriormente, administrações
repetidas de doses subletais das folhas dessecadas a cinco bovinos, para verificar se a planta
possuía efeito acumulativo. Verificou-se que a dose letal das folhas frescas é 0,6 g/kg. Foi
demonstrado que a planta possui efeito acumulativo acentuado com doses de 1/5 da dose letal e,
em menor escala, com doses de 1/10 da dose letal. As mesmas doses administradas
semanalmente ou menores frações diárias da dose letal não causaram sinais clínicos. O quadro
clínico-patológico apresentado foi de “morte súbita”, e os sintomas e a morte dos animais eram
precipitados pelo exercício. Em geral, os sintomas observados foram semelhantes aos descritos
anteriormente para os ovinos, exceto pelo marcado pulso venoso positivo comumente
manifestado pelos bovinos. A necropsia não revelou alterações em quase metade dos bovinos
(17/35) e, nos outros animais, os achados foram escassos e inconsistentes, caracterizados,
principalmente, por hemorragias no epicárdio e congestão pulmonar. Ao exame microscópico,
verificaram-se alterações no coração, rim e fígado. Contudo, a lesão que mais chamou a atenção
foi observada no rim, sob a forma de degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos contornados
distais, verificada em 17 dos 28 bovinos (60%) intoxicados com folhas frescas da planta
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986)
.
Em um estudo recente foi comparada a resistência de búfalos e bovinos à toxidez de
P.
marcgravii
(BARBOSA et al., 2003). Verificou-se que em búfalos, doses de 0,5 g/kg, 1,0 g/kg e
2,0 g/kg não causaram sinais clínicos de intoxicação e que, foram necessárias doses entre 3,0
g/kg e 6,0 g/kg para causar a morte desses animais. Por outro lado, em bovinos, doses de 0,5 g/kg
e 2,0 g/kg foram suficientes para determinar a morte. Nos búfalos, os primeiros sintomas de
intoxicação foram observados entre 8h e 28h17min após o começo da administração da planta e
tiveram a duração dos sintomas graves de 10min a 1h28min. os bovinos manifestaram os
primeiros sintomas 7h50min a 17h53min após o começo da administração da planta e a duração
dos sintomas graves até a morte desses dois bovinos foi de 3 a 9 minutos. Verificou-se que tanto
a influência do exercício sobre o aparecimento dos sinais clínicos, quanto os próprios sintomas,
foram semelhantes nas duas espécies. Em ambas as espécies, a necropsia não revelou alterações
significativas. Microscopicamente verificaram-se degeneração hidrópico-vacuolar das células
epiteliais dos túbulos contornados distais, caracterizada por vacuolização citoplasmática e
51
picnose nuclear e, em alguns túbulos, havia lise de células epiteliais. Os autores concluíram que
búfalos são aproximadamente seis vezes mais resistentes do que os bovinos à ação tóxica dessa
planta
.
Experimentos subsequentes foram desenvolvidos com o intuito de melhor caracterizar a
intoxicação por
P. marcgravii
em equinos, através da administração de doses de 0,15 g/kg a 2,0
g/kg de folhas frescas recém-colhidas, por via oral, a oito animais. Doses de 0,15 g/kg e 0,3 g/kg
não causaram sinais clínicos, exceto por um animal que recebeu 0,3 g/kg e manifestou sintomas
leves. Foram necessárias doses entre 0,6 g/kg e 1,0 g/kg para causar a morte desses animais. Nos
casos fatais, o início dos primeiros sintomas ocorreu entre 2 horas e 40 minutos a 6 horas e 25
minutos, após a administração da planta, e a evolução variou entre 10 e 43 horas. O quadro
clínico manifestado pelos equinos foi bastante uniforme. Inicialmente os animais apresentaram
intensa sudorese, seguida de inquietação, tremores musculares, movimentos abruptos de cabeça
às vezes atingindo todo corpo (tiques), instabilidade, flacidez do lábio inferior, taquicardia,
conjuntivas congestas, taquipnéia, respiração ofegante e exsicose. Ao exame necroscópico não
foram observadas lesões de relevância ou constantes. O exame histopatológico revelou, em todos
os animais, necrose das células epiteliais dos túbulos uriníferos (picnose nuclear) e vacuolização
citoplasmática com frequente evolução para lise; no fígado, foi observada leve a moderada
degeneração turva, principalmente, nas zonas central e intermediária do lóbulo (TOKARNIA et
al., 1993).
A toxidez de
P. marcgravii
foi estudada em coelhos, através de uma série de
experimentos realizados pela administração de folhas dessecadas, por via intragástrica, a 200
coelhos e de folhas frescas, por via oral, a três outros (PEIXOTO et al., 1987). Doses menores
que 0,125 g/kg não causaram a morte de nenhum animal e, foram necessárias doses de 2,0 g/kg
para causar a morte de quase todos os coelhos, no entanto, a menor dose que causou a morte foi
0,125 g/kg. A planta dessecada pulverizada e guardada em vidros de tampa plástica, à
temperatura ambiente conservou sua toxidez inalterada por 4-5 anos após sua coleta. Por outro
lado, quando acondicionada em sacos de pano, pelo mesmo período de tempo, perdeu toda ou
grande parte de sua toxidez. Nos experimentos realizados com folhas dessecadas, o tempo
decorrido entre a administração da planta e o início dos sinais clínicos variou de 34 minutos a 13
horas e 1 minuto. Na maioria dos casos, a evolução foi superaguda e variou de 1 a 5 minutos. Os
sinais clínicos caracterizavam-se pelo seu súbito aparecimento, tanto nos experimentos com
folhas dessecadas quanto nos com as folhas frescas. Na maioria das vezes, os animais
aparentemente sadios começavam a debater-se, geralmente de forma violenta, caiam em decúbito
lateral, emitiam gritos, apresentavam movimentos de pedalagem, respiração fraca e espaçada e o
óbito sobrevinha dentro de poucos minutos. Os achados de necropsia consistiram em alterações
principalmente no fígado, sobretudo congestão e lobulação evidente, porém não muito típicas. O
exame microscópico revelou alterações de natureza peculiar no fígado, rim e coração. No gado
observaram-se necrose, tumefação e vacuolização de hepatócitos, presença de microtrombos nos
sinusóides e nas veias sublobulares e edema dos espaços de Disse; no coração, edema intracelular
e afastamento entre as fibras, aumento da eosinofilia com perda de estriação das fibras e raros
infiltrados inflamatórios linfocitários; no rim, tumefação e degeneração hidrópico-vacuolar das
células epiteliais dos túbulos contorcidos distais (14/116 - 12%). Os autores concluíram que tais
alterações hepáticas e cardíacas sugerem fortemente que o óbito dos animais esteja intimamente
relacionado com falha cardíaca e que, a experimentação em coelhos pode ser utilizada como
recurso auxiliar seguro no reconhecimento dessa planta, especialmente, para distingui-la de
outras Rubiáceas, de aspecto semelhante, porém não tóxicas (PEIXOTO et al., 1987).
52
Os efeitos tóxicos de
P. marcgravii,
em diversas espécies de animais de laboratório foi
reproduzido por diferentes vias de administração. A administração de extrato aquoso da planta,
por via oral, no volume de 1,5 mL a camundongos, 6,0 mL a hamsters e ratos, e 12,0 mL a
cobaios foi capaz de provocar episódios convulsivos seguidos de morte em todos os animais,
exceto no camundongo. A manifestação dos primeiros sintomas variou de 1 a 8 horas após a
administração da planta. Adicionalmente, verificou-se que ratos que receberam extratos de
P.
marcgravii
, coletada no município de Vassouras, RJ, na diluição 1:6 manifestaram sinais clínicos
com um menor período de latência (1 a 2 horas) do que os outros (3 a 4 horas) que foram
intoxicados com extratos na diluição 1:10, da planta coletada no município de Rio Claro, RJ.
Ratos intoxicados com o extrato da planta com doses entre 0,53 a 1,58 g/kg, por via endovenosa,
apresentaram progressiva prostração no decorrer da infusão contínua e morte sem convulsões
prévias, 16 a 92 minutos após início da infusão. Por outro lado, coelhos intoxicados com a mesma
metodologia que receberam doses de 0,17 e 0,31 g/kg, manifestaram convulsões tônico-clônicas
seguidas de morte, uma hora após o início da infusão do extrato. A infusão contínua de doses
entre 0,82 e 2,23 g/kg, por via subcutânea, em ratos causou um quadro clínico semelhante ao
observados na administração de extrato aquoso da planta, por via oral, porém o período de
latência para o aparecimento dos primeiros sintomas após o começo da administração do extrato
foi menor (83 a 117 minutos) nos animais intoxicados, por via subcutânea (GÓRNIAK, 1986).
Cobaios que ingeriram espontaneamente 10 g de folhas frescas apresentaram convulsões
seguida de morte. Um cão experimentalmente intoxicado com extrato aquoso de 6,0 g de
P.
marcgravii,
por via intraperitoneal, manifestou os primeiros sintomas de intoxicação 15 minutos
após a administração do extrato. Clinicamente, o cão apresentou vômitos frequentes e, uma hora
depois, acentuada sialorréia seguida por episódios convulsivos intermitentes, rigidez muscular,
opistótono e morte. A evolução foi de duas horas (PACHECO; CARNEIRO 1932a).
2.4.2
Arrabidaea bilabiata
Arrabidaea bilabiata
(Sprague) Sandw., conhecida pelos nomes populares de “gibata” ou
“chibata” é a bignoniaceae mais importantes das regiões de várzea da Bacia Amazônica e a
segunda em importância, quando considerada toda a Região Amazônica, por ser a planta tóxica
responsável pela grande maioria das numerosas mortes de bovinos que ocorrem nessas áreas. É
um cipó ou arbusto escandente abundante em muitas áreas da Bacia Amazônica, mas é
encontrada apenas nas partes baixas (várzeas, restingas e abas-de-teso) que se inundam durante o
período de “cheia” isto é, nas margens do Rio Amazonas, de seus paranás, lagos e afluentes
(TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Sob condições naturais, a intoxicação por
A.
bilabiata
é observada em bovinos e búfalos (TOKARNIA et al., 2007). Estudos experimentais
têm sido realizados em bovinos (DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983), falos
(TOKARNIA et al., 2004) e coelhos (DÖBEREINER; PEIXOTO; TOKARNIA, 1984; JABOUR
et al., 2006).
Na Venezuela, onde a toxidez de
A. bilabiata
foi primeiramente descrita, tem-se sugerido
que a estação do ano influencia a toxicidade da planta; quanto maior a precipitação
pluviométrica, menor seria a toxidez (CORTEZ, 1969/71).
Em estudos realizados nos Estados do Amazonas, Pará e Acre com a finalidade de
investigar a causa das numerosas mortandades de bovinos que ocorriam nas partes baixas da
região Amazônica, foram feitos uma série de experimentos em bovinos através da administração
da brotação e de folhas maduras da planta fresca, por via oral, colhidas em diversas épocas do
ano e em diversos municípios da Amazônia (DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983).
53
Nesses experimentos, verificou-se uma grande variação na toxidez da planta, uma vez que, a
administração da planta a 23 bovinos, causou o óbito de nove, em doses que variaram de 2,5 g/kg
a 15 g/kg. Entretanto, em outros experimentos com as folhas frescas, colhidas em um
município (Itacoatiara, AM) e na mesma época, 1,25 g/kg das folhas causaram graves sintomas
de intoxicação e 2,5 g/kg provocaram a morte. Em outros estudos experimentais, também na
Amazônia, mas em locais e épocas diferentes, a maior dose que não causou sintomas de
intoxicação foi de 10 g/kg. Contudo, não se conseguiu estabelecer os fatores responsáveis pela
grande variação da toxidez da planta. Os primeiros sintomas de intoxicação foram observados
entre 3 horas e 25 minutos a 23 horas e 45 minutos após o início da administração da planta. A
evolução variou entre 5 minutos e 4 horas e 4 minutos. O quadro clínico-patológico apresentado
foi de “morte súbita”, e o exercício teve pequena influência sobre o aparecimento dos sintomas.
Os achados de necropsia foram praticamente negativos. A histopatologia revelou no rim, de três
dos nove bovinos, degeneração hidrópico-vacuolar das células epiteliais dos túbulos uriníferos
contornados distais (DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983).
Recentemente, foram realizados estudos adicionais com o intuito de verificar a
sensibilidade de búfalos à
A. bilabiata
, compará-la à dos bovinos, além de investigar a eventual
diferença de toxidez entre as folhas novas e maduras da planta, bem como entre diferentes épocas
do ano (TOKARNIA et al., 2004). Verificou-se que as folhas novas da planta são duas vezes (em
outubro, fim da época da seca) ou uma vez e meio (em maio, fim da época de chuva) mais tóxica
do que as folhas maduras, e que a planta é mais tóxica em outubro. Nos experimentos realizados
em búfalos, com a planta coletada em outubro de 2002, a menor dose das folhas novas que levou
os animais à morte foi 3,0 g/kg e com as folhas maduras 6,0 g/kg. Dois búfalos que receberam a
planta mostraram sintomas leves entre 3h15min e 5h50min após a administração da planta e,
sintomas graves, após 4h49min a 6 h45min do início do experimento, sem terem sido exercitados.
outro búfalo manifestou sinais clínicos graves após movimentação. A evolução desde o
início da manifestação dos sintomas graves até a morte variou de seis a 40 minutos. O quadro
clínico caracterizou-se por andar lento e desequilibrado, tremores musculares, queda e imediato
decúbito lateral, movimentos de pedalagem intermitentes, tremores musculares ocasionais,
respiração ofegante, às vezes com a boca aberta e a língua protrusa, e adicionalmente estrabismo
e nistagmo. O exame necroscópico revelou edema pulmonar caracterizado por espuma na
traquéia e nos brônquios, além de aspecto úmido na superfície de corte do parênquima pulmonar
e discreto a acentuado, enfisema pulmonar. Os exames histopatológicos revelaram no pulmão
áreas de enfisema alveolar, congestão e, em alguns alvéolos, edema. No rim havia necrose
incipiente das células epiteliais (núcleos com cromatina condensada e citoplasma mais
eosinófilico) de alguns túbulos uriníferos do córtex e ausência de lesões renais em um animal
(TOKARNIA et al., 2004).
Nos experimentos realizados em búfalos, com a planta coletada em maio de 2003, a dose
letal mínima das folhas novas foi 6,0 g/kg e das folhas maduras 9,0 g/kg. O início da
manifestação dos sinais clínicos ocorreu entre 5 horas e 40 minutos, e 9 horas e 10 minutos após
o começo da administração da planta. A evolução não foi observada em um falo e, no outro, a
fase final foi de 6 minutos. Clinicamente, o animal apresentou decúbito; quando estimulado a se
levantar, dava alguns passos e se deitava logo; às vezes rangia os dentes levemente. Quando
exercitado, mostrou dificuldade para se locomover; apresentava a jugular ingurgitada, tremores
musculares na região do peito e da escápula e respiração com a boca aberta e morte. À necropsia,
os pulmões estavam mais pesados e avermelhados (congestão e edema) em um dos dois animais.
Os exames histopatológicos revelaram no pulmão moderada a acentuada congestão difusa e leve
edema interlobular e, no fígado e baço, moderada congestão (TOKARNIA et al., 2004).
54
Em relação aos bovinos experimentalmente intoxicados com a planta coletada em maio de
2003, a menor dose das folhas novas que causou a morte foi 2,0 g/kg e das folhas maduras 3,0
g/kg. Entretanto, a dose de 1,0 g/kg causou um quadro patológico muito grave. Desta forma,
esses autores concluíram que o búfalo é pelo menos duas vezes mais resistentes que o bovino à
ação tóxica de
A. bilabiata
. Um bovino apresentou sintomas leves a partir de 10 horas e 27
minutos após o começo da administração da planta. Dos cinco bovinos que morreram, três
manifestaram sintomas leves quando exercitados entre três horas e nove minutos e 12 horas e 56
minutos após o início da administração da planta. Estes animais, mais tarde, independente de
exercício, subitamente mostraram sintomas graves e morreram entre dois e 11 minutos. No dia
seguinte da administração, outro bovino subitamente manifestou sintomas graves antes do
segundo exercício e morreu. Os sintomas consistiram de relutância a movimentação, jugular
saliente, ingurgitada e pulsando, súbita perda de equilíbrio, queda ao solo, decúbito lateral,
respiração ofegante, mugidos, movimentos de pedalagem e morte. À necropsia verificou-se
congestão pulmonar em um bovino. Os exames histopatológicos revelaram no pulmão, áreas com
edema alveolar; no rim, acentuada degeneração hidrópico-vacuolar das células epiteliais dos
túbulos uriníferos contorcidos distais; no baço, moderada congestão e, no fígado, moderada
vacuolização dos hepatócitos na zona intermediária, moderada congestão e ausência de alterações
em dois bovinos (TOKARNIA et al., 2004).
Com a finalidade de verificar se o coelho pode ser usado como animal experimental no
estudo sobre a ão tóxica de
A. bilabiata
e avaliar o seu emprego como recurso auxiliar, no
diagnóstico dessa intoxicação em bovinos, Döbereiner, Peixoto e Tokarnia (1984)
admininstraram a 57 coelhos folhas dessecadas e pulverizadas da planta, em doses únicas, por
sonda gástrica, em quantidades que variaram de 0,5 g/kg a 6,0 g/kg. Neste estudo, verificaram-se
grande variação nas doses capazes de causar sinais clínicos e o óbito dos animais. A menor e a
maior dose capazes de induzir a morte foram, respectivamente, 1,0 g/kg e 6,0 g/kg. Entretanto,
alguns coelhos que receberam 1,0 g/kg; 2,0 g/kg; 4,0 g/kg e 6,0 g/kg não morreram. O inicio dos
sintomas variou entre 2 horas e 22 minutos a 12 horas e 07 minutos após a administração da
planta. A evolução variou de 30 segundos e 17 minutos. Os principais sintomas observados foram
movimentos desordenados e violentos que se iniciaram subitamente. Os coelhos debatiam-se ou
pulavam; outras vezes faziam movimentos desordenados lentos e em seguida caíam, em geral,
em decúbito lateral. Dispnéia e diminuição da frequência respiratória, em geral, antecediam o
óbito. A maioria dos animais emitia gritos, com maior ou menor frequência, desde o início do
aparecimento dos sintomas até a morte. A necropsia, da maioria dos animais, não revelou
alterações significativas (15/26), nos demais coelhos, verificaram-se congestão hepática. Ao
exame histológico verificaram-se, no fígado, necrose com figuras de cariopicnose e cariorrexia,
preferencialmente, nas zonas intermediárias, atingindo às vezes partes das zonas centrais dos
lóbulos hepáticos. Em alguns casos havia vacuolização do citoplasma dos hepatócitos (Sudam III
negativo). Os hepatócitos se mostravam tumefeitos e, às vezes com degeneração albuminosa
granular (Sudam III negativo). Havia congestão e dissociação dos cordões hepáticos em
praticamente metade dos casos. No rim, a lesão mais importante foi uma degeneração hidrópico-
vacuolar das células epiteliais dos túbulos contorcidos distais, caracterizada pela presença de
vacúolos grandes (Sudam III negativo) associados a núcleos picnóticos (9 casos - 37,5%). No
coração, houve afastamento das fibras cardíacas em alguns casos, e infiltrado eosinofílico das
fibras cardíacas, que se tornaram homogêneas com perda de estriação, além de edema intracelular
das fibras cardíacas (DÖBEREINER; PEIXOTO; TOKARNIA, 1984).
Recentemente, foi realizado um estudo em coelhos com objetivo de complementar os
estudos sobre a toxidez de
A. bilabiata
, realizando-se experimentos com folhas maduras e
55
brotação dessecadas, coletadas no mesmo local e nas mesmas épocas do ano, que os
experimentos previamente realizados por Tokarnia et al. (2004) em búfalos. Quinze coelhos
adultos receberam a brotação e as folhas maduras de
A. bilabiata
em
suspensão aquosa, por via
intragástrica, nas doses entre 0,25 g/kg e 6,0 g/kg. Nos experimentos realizados com a brotação
coletada em outubro (fim da época de seca), a menor dose letal foi 0,5 g/kg e, em maio (fim da
época de cheia), 1,0g/kg. Nas administrações de folhas maduras coletadas em outubro, a menor
dose capaz de causar a morte dos coelhos foi de 4,0 g/kg, e, em maio, 6,0g/kg. A evolução foi
superaguda em todos os casos letais. Clinicamente, os coelhos de súbito debatiam-se com vigor,
caíam em decúbito lateral ou esternal, apresentavam movimentos de pedalagem, acentuada
dispnéia e morriam. Macroscopicamente não foram observadas alterações significativas. Ao
exame histopatológico as lesões mais importantes caracterizaram-se, nos rins, por degeneração
hidrópico-vacuolar das células epiteliais dos túbulos contorcidos distais (em 50% dos casos); no
fígado por vacuolização difusa do citoplasma e necrose de hepatócitos, predominantemente
centrolobular e paracentral e presença de esférulas eosinofílicas nos sinusóides hepáticos; no
coração, por grupos de fibras cardíacas com eosinofilia aumentada. Este estudo evidenciou que a
toxidez de
A. bilabiata
varia de acordo com a época do ano, e com o seu estado de maturação,
uma vez que a planta foi mais tóxica em outubro e quando em brotação (JABOUR et al., 2006).
2.4.3
Mascagnia rigida
Mascagnia rigida
(Juss.) Griseb., ciou arbusto escandente da família Malpighiaceae, é
a planta tóxica mais conhecida, difundida e importante da Região Nordeste e de parte da Região
Sudeste do Brasil. Os principais nomes populares da planta são “tingui” e “timbó”. Na Bahia é
conhecida ainda como “quebra-bucho” e “pela-bucho”; nos vales dos rios do Jequitinhonha e
Mucuri (Minas Gerais), é conhecida pelos termos “salsa-roxa” e “rama-amarela”, e no vale do rio
Doce (Minas Gerais e Espírito Santo), pelos nomes “suma-branca” e “suma-roxa” (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000).
Sob condições naturais, a intoxicação por
M. rigida
ocorre, principalmente, em bovinos
(TOKARNIA; CANELLA; DÖDEREINER, 1961; MEDEIROS et al., 2002), mas são descritos
surtos de intoxicação pela planta também em ovinos (VASCONCELOS et al., 2008) e caprinos
(OLIVEIRA et al., 1978). Experimentalmente têm sido intoxicados, além dos bovinos
(TOKARNIA et al., 1961, 1994, SANTOS, 1975), também ovinos (VASCONCELOS et al.,
2008), caprinos (PARAGUASSU, 1983; VASCONCELOS et al., 2008) e coelhos (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 1987; MEDEIROS et al., 2002).
Recentemente, foram descritos três surtos de intoxicação natural por
M. rigida
em ovinos
no semi-árido paraibano. Dois surtos ocorreram no município de São José do Bonfim e o outro no
município de Cacimbas, Paraíba. No primeiro surto, o rebanho acometido era composto por 30
animais, dos quais seis manifestaram sinais clínicos de intoxicação e quatro morreram; no
segundo surto, dos 12 ovinos existentes na propriedade, nove apresentaram sintomas e dois
morreram; já no último surto, dois dos 40 ovinos do rebanho, mostraram sinais clínicos e
morreram (VASCONCELOS et al., 2008). Adicionalmente, foi realizada a reprodução
experimental da intoxicação por
M. rigida
em três ovinos e em três caprinos, através da
administração, por via oral, de folhas frescas nas doses de 5,0 g/kg, 10 g/kg e 20 g/kg. A dose de
5,0 g/kg causou apenas leve taquicardia, tanto no ovino, quanto no caprino, que se recuperaram
totalmente após 14h e 16h40min, respectivamente. Doses de 10 e 20 g/kg causaram a morte de
todos os ovinos e caprinos. O ovino que recebeu a dose de 10 g/kg apresentou os primeiros
sintomas de intoxicação 2h25min após a administração da planta e, evolução de 1h54min. Já o
56
outro ovino intoxicado com 20 g/kg, manifestou sinais clínicos 3h05min após a administração da
planta e morreu 21h35min após o inicio dos sintomas. Nos experimentos realizados com
caprinos, doses de 10 g/kg e 20 g/kg causaram os primeiros sintomas de intoxicação 5h e 1h após
a administração da planta, respectivamente. Nesses casos, a evolução foi de 1h e 54min, no
animal que recebeu a dose de 20 g/kg e de 17h para o caprino que ingeriu a dose de 10 g/kg
(VASCONCELOS et al., 2008). Por outro lado, em estudos experimentais realizados por outros
autores com
M. rigida
em caprinos no Nordeste, verificou-se que a menor dose capaz de causar a
morte foi 20 g/kg, enquanto outro caprino que recebeu a dose de 41,5 g/kg nem sequer
manifestou sintomas (PARAGUASSU, 1983).
O quadro clínico observado em ovinos e caprinos caracterizou-se por relutância a mover-
se, ingurgitamento das veias jugulares, tremores musculares, taquicardia, instabilidade, queda,
respiração ofegante e morte. Ao exame macroscópico verificaram-se discreta evidenciação do
padrão lobular do fígado (ovinos e caprinos), hidropericárdio, petéquias nas superfícies pleural,
subepicárdica (ovinos) e edema pulmonar (ovinos e caprinos). A histopatologia revelou discreta
(ovinos) a acentuada (caprinos) degeneração hidrópico-vacuolar das células epiteliais dos túbulos
contornados distais, principalmente na região córtico-medular. Os autores sugerem, com base nos
resultados experimentais obtidos, que ovinos e caprinos não apresentam diferenças de
susceptibilidade à toxidez de
M. rigida,
quando esta possui a mesma procedência
(VASCONCELOS et al., 2008).
Tokarnia, Canella e Döbereiner (1961) acompanharam casos naturais de intoxicação e
morte de bovinos, atribuídos por vaqueiros à ingestão de “tingui” no município de Messejana,
Ceará e, posteriormente, realizaram uma série de experimentos. Nas observações dos casos
naturais, acompanharam a remoção de 50 vacas mantidas em um pasto infestado por
M. rigida,
no município vizinho de Pacatuba, onde foram mantidas por um mês. A marcha, de poucos
quilômetros, desse pasto até a outra propriedade, se iniciou às 6 horas da manhã, e teve três horas
de duração, uma vez que, era de conhecimento popular que o gado que ingeriu a planta deve
ser movimentado com cuidado e calma, para evitar casos de “morte súbita”. Aproximadamente às
7 horas e 45 minutos, uma vaca avançou de repente para o lado da estrada, subitamente caiu em
decúbito lateral, apresentou movimentos de pedalagem e, foi eutanasiada, poucos instantes após o
início do estado agônico. Uma hora depois, outra vaca repentinamente caiu ao solo e morreu com
o mesmo quadro clínico manifestado pelo outro animal. A necropsia, dos dois bovinos, não
revelou alterações significativas.
Mais tarde, foram realizados 13 experimentos pela administração da planta, por via oral,
em quantidades e períodos variáveis a 11 bovinos (TOKARNIA; CANELLA; DÖBEREINER,
1961). Nesses experimentos, oito bovinos morreram, todos apresentaram a chamada síndrome da
“morte súbita”, sem manifestação de sintomas prévios evidentes de intoxicação. A menor dose
única capaz de causar a morte foi de 50 g/kg, no entanto, outro animal sobreviveu, sem
manifestar sinais clínicos, após receber dose única de 94 g/kg. A administração diária de 5,0 g/kg,
por três dias, foi capaz de causar a morte de um bovino, enquanto outro que recebeu a mesma
dose repetida diariamente por 30 dias, não apresentou sintomas. Não foi possível determinar a
dose letal para bovinos, devido à grande variabilidade nas doses que foram capazes de provocar a
morte, nem demonstrar a influência do exercício na precipitação dos sintomas, uma vez que, não
houve “morte súbita” de bovinos enquanto tocados. Em geral, os achados de necropsia foram
negativos. A histopatologia revelou importantes lesões cardíacas, porém essas eram menos
acentuadas do que nos casos naturais (TOKARNIA; CANELLA; DÖBEREINER, 1961).
Anos depois, foram realizados experimentos com bovinos, nos quais e também se não
conseguiu estabelecer a dose letal da planta, mas ficou demonstrado, em parte, que o exercício é
57
capaz de provocar ou precipitar os sintomas. Adicionalmente, também não foi possível
correlacionar a variação de toxidez da planta com a procedência ou com o estado de
amadurecimento das folhas (SANTOS, 1975; TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1994).
Entretanto, ao contrário do que foi demonstrado anteriormente em bovinos, a movimentação dos
caprinos, experimentalmente intoxicados por
M. rigida
foi um fator decisivo no aparecimento dos
sintomas (PARAGUASSU, 1983).
Tokarnia, Döbereiner e Canella (1987), dando continuidade aos estudos sobre a toxidez de
M. rigida
administraram experimentalmente, por via oral, doses únicas das folhas (2,0 e 4,0 g/kg)
e dos frutos (0,06125 a 2,0 g/kg) da planta dessecadas a coelhos, com o intuito de verificar se
essa espécie animal é sensível à intoxicação por
M. rigida
e avaliar o seu emprego como animal
experimental de pequeno porte na continuação das pesquisas sobre a ação tóxica da planta, bem
como no isolamento e identificação de seus princípios tóxicos. Neste estudo, verificou-se que, em
sete coelhos, doses de 2,0 g/kg das folhas não causaram sintomas e foram necessárias doses de
4,0 g/kg para causar a morte de outros sete animais. Em relação aos frutos, doses de 0,5 g/kg ou
maiores causaram a morte de todos os três coelhos; 0,25 g/kg de três dos quatro animais e 0,125
g/kg de um dos dois coelhos que receberam essas doses. Contudo, foi demonstrado que os frutos
são aproximadamente 20 vezes mais tóxicos que as folhas. Nos experimentos realizados com as
folhas, os coelhos mostraram os primeiros sintomas de intoxicação entre 5h47min e 11h35min,
no caso dos frutos, entre 1h15min e 28h13min, após a sua administração. A evolução da
intoxicação foi de um a quatro minutos. O quadro clínico apresentado pelos coelhos foi de “morte
súbita”, ou seja, repentinamente faziam movimentos desordenados, caiam em decúbito lateral,
emitiam gritos, apresentavam respiração espaçada e dispnéica, seguida pela morte. Os principais
achados de necropsia foram congestão e evidenciação do padrão lobular do gado e congestão
pulmonar. O exame microscópico revelou no fígado, rim e coração alterações de naturezas
degenerativas e vasculares. No rim, havia degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos
contornados distais em cinco coelhos.
Recentemente, Medeiros et al. (2002) realizaram experimentos em coelhos, como método
auxiliar no diagnóstico de um surto de intoxicação por
M. rigida
em bovinos no Agreste da
Paraíba. As folhas dessecadas da planta, coletada na área onde o surto ocorreu, foram
administradas, por via oral, a três grupos de coelhos, cada grupo com dois animais, nas doses de
1,25 g/kg, 2,5 g/kg e 5,0 g/kg. Doses de 1,25 g/kg não causaram sintomas. Todos os coelhos que
receberam doses de 2,5 e 5,0 g/kg manifestaram os primeiros sintomas de intoxicação 3h e 24min
a 15h e 50min após a administração da planta. O quadro clínico apresentado pelos animais foi de
“morte súbita” e a evolução da intoxicação foi de um a três minutos. Adicionalmente, foram
realizados experimentos com a mesma metodologia, porém com a planta coletada na região do
Sertão, onde a doença o ocorre e, com doses de 5,0 g/kg, 10 g/kg e 20 g/kg. A única dose que
causou sintomas de intoxicação e a morte de um coelho foi 20 g/kg. Os primeiros sintomas
ocorreram 3h e 27min após a administração da planta e, a evolução foi de 2 min. Desta maneira,
foi demonstrado que a planta apresenta uma grande variação de toxidez de acordo com a região,
uma vez que, a planta coletada na área onde o surto ocorreu foi, aproximadamente, oito vezes
mais tóxica do que a coletada onde a doença não ocorre.
58
MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Animais
Foram utilizados sete ovinos clinicamente sadios, sem raça definida, machos e fêmeas,
com idades entre 6 meses e 3 anos e pesos entre 19 e 53 Kg. Esses ovinos faziam parte de um lote
de animais, que havia sido destinado a descarte, mas foram doados pelo proprietário à
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
3.2. Monofluoroacetato de Sódio
Todo o experimento foi conduzido utilizando-se o MF (Sigma-Aldrich Co
), com grau de
pureza
95%, pertencente ao lote 23207046 (Figura 7). As doses administradas aos ovinos foram
estabelecidas com base naquelas descritas por Humphreys (1998), previamente pesadas em
balança eletrônica de precisão e diluídas, no momento de sua administração, em 10 mL de água
destilada.
Figura 7. Monofluoroacetato de sódio
utilizado nos experimentos.
3.3. Local
Os experimentos e as necropsias foram realizados entre abril e maio de 2008 no Setor de
Anatomia Patológica do Projeto Sanidade Animal, convênio Embrapa/UFRRJ, Km 47, município
de Seropédica, Rio de Janeiro. Os ovinos foram mantidos em baias individuais de alvenaria com
área de 4,0 m
2
e piso de cimento. O processamento do material coletado durante as necropsias,
Sigma-Aldrich, 3050 Spruce Street, St. Louis, MO 63103 EUA, http://www.sigma-aldrich.com
59
assim como a confecção de lâminas para o exame histológico, foram realizados no Laboratório de
Histopatologia do Setor acima descrito.
3.4. Delineamento Experimental
Os ovinos foram previamente submetidos a um exame clínico minucioso (Anexo A),
vermifugados com ivermectina e adaptados ao local por pelo menos uma semana. A dieta era
constituída de capim picado (
Panicum maximum
) e água à vontade.
Os animais foram pesados
por ocasião do início do experimento.
O experimento piloto, denominado de auto-direcional, foi realizado em dois animais, com
o objetivo de utilizar o menor número possível destes, por se tratar de um estudo descritivo. Os
experimentos subsequentes foram executados de forma sucessiva, de dois em dois animais, na
dependência dos primeiros resultados obtidos. Dos sete ovinos utilizados nos experimentos, seis
receberam o MF por via oral. Um animal, mantido nas mesmas condições que os demais, não
recebeu o MF e serviu como controle; para esse animal administrou-se 10 mL de água destilada
por via oral.
O MF foi administrado nas doses únicas de 0,5 e 1,0 mg/kg, cada dose para dois animais,
e em doses subletais repetidas diariamente de 0,1 e 0,2 mg/kg/dia, cada dose para um animal,
conforme descrito na Tabela 8.
Os animais foram observados continuamente e examinados clinicamente, no mínimo, a
cada duas horas, desde o momento da administração do MF até a morte, exceto os dois animais
que receberam doses subletais repetidas diariamente, os quais foram inicialmente observados,
pelo menos, oito vezes ao dia e examinados clinicamente quatro vezes por dia, até que o
somatório das subdoses administradas atingisse a dose letal descrita na literatura. A partir desse
momento, esses animais, também foram observados continuamente e submetidos ao exame
clínico com a mesma metodologia inicialmente descrita. Durante o exame clínico era realizada a
avaliação dos seguintes parâmetros clínicos: frequências cardíaca e respiratória, temperatura
retal, frequência e intensidade dos movimentos ruminais, presença ou não de pulso venoso, a
postura e o comportamento dos animais. Foram observados ainda, a ingestão de água e capim,
bem como a frequência da micção e defecação.
A cada ovino foi atribuído um número de registro para sua identificação e os dados
obtidos nos exames clínicos realizados antes e durante os experimentos foram anotados em fichas
clínicas individuais (Anexo A).
3.5 Exames Complementares
Foram feitas coletas de sangue de todos os ovinos, e urina de três destes. As amostras de
sangue destinadas à bioquímica sérica (uréia e creatinina) foram obtidas da veia jugular e
acondicionadas em tubos secos, a fim de permitir a formação e retração do coágulo. Foram
coletadas amostras no tempo zero (imediatamente antes da administração do MF) de quatro
animais, porém após a administração do MF o intervalo de tempo entre as coletas variou de
acordo com a dose de MF administrada, conforme descrito nas Tabelas 9 e 10. As amostras de
urina foram coletadas por micção espontânea durante o exame clínico e/ou por punção vesical,
durante a necropsia, quando esta estava repleta e acondicionadas em frascos coletores estéreis.
Imediatamente após esse procedimento, as amostras foram refrigeradas e encaminhadas para o
60
Laboratório de Patologia Clínica (Lacani) no Rio de Janeiro, onde foram processadas, em média,
até 6 horas após a sua obtenção.
O ovino 5766, que recebeu doses subletais 0,2 mg/kg repetidas diariamente de foi
submetido a exames ecocardiográficos no terceiro e no quarto dia (87h40min e 119h25min,
respectivamente) após a administração da primeira subdose, com o intuito de se observar os
efeitos do MF sobre o funcionamento do coração.
3.5.1 Bioquímica Sérica
As dosagens de uréia e creatinina foram realizadas através de kits comerciais (Bioclin
®
) e
as leituras foram feitas no espectrofotômetro (Bioplus
®
, modelo Bio 2000).
3.5.2 Urinálise
Para a realização deste exame foi utilizada a metodologia descrita por Garcia–Navarro
(1996).
3.5.3 Exames Ecocardiográficos
Utilizou-se o aparelho da marca Sonosite, modelo 180 Plus com transdutor microconvexo
C11 (frequência 4 a7 MHz) (Figura 8).
Figura 8. Intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos. Exame
ecocardiográfico (Ovino 5766).
61
3.6
Necropsia
Todos os ovinos foram necropsiados imediatamente após a morte, exceto o ovino 5764
que encontrado morto e necropsiado dentro de poucos minutos. Foram coletados encéfalo,
medula e hipófise íntegros e fragmentos de coração, fígado, vesícula biliar, rins, baço, pulmões,
trato gastrintestinal, bexiga, testículo ou ovário, pâncreas, adrenal, tireóide, linfonodos e grupos
musculares isolados (intercostal, diafragma e longíssimo dorsal). Esse material foi fixado
imediatamente em formalina a 10% tamponada com carbonato de cálcio; os fragmentos de
músculos foram fixados duas horas após a coleta. A formalina foi trocada oito horas após a
primeira fixação.
3.7 Histopatologia
Após a fixação, os fragmentos foram clivados, desidratados em álcool etílico absoluto,
diafanizados em xilol, incluídos em parafina e cortados em micrótomo à espessura de 5
µ
. Os
cortes foram corados pela hematoxilina-eosina (HE) e as lâminas examinadas em microscópio
óptico.
62
4 RESULTADOS
Os principais dados sobre o delineamento experimental e o desfecho encontram-se na
Tabela 8. Dos seis ovinos utilizados em nosso estudo que receberam o MF, cinco morreram. O
ovino utilizado como controle não apresentou qualquer alteração clínica.
4.1 Dose Administrada e Evolução Clínica
A evolução da intoxicação variou de 3min a 33h e 5min. Nos experimentos com doses
únicas, os ovinos 5762 e 5765 que receberam doses de 1,0 mg/kg apresentaram evolução clínica
superaguda (10 e 3min respectivamente); para o ovino que recebeu a dose de 0,5 mg/kg a
evolução foi de 7h e 55min (5761); o segundo animal (5763) que recebeu essa mesma dose não
manifestou sinais clínicos. Nos experimentos com subdoses repetidas diariamente, o ovino
5766 que recebeu 0,2 mg/kg/dia por 4 dias apresentou evolução de 33h e 5min e o ovino 5764,
que recebeu 0,1 mg/kg/dia por 6 dias, foi encontrado morto 86h e 18min após o início da
administração do MF. Convém ressaltar que esse animal ainda mantinha a temperatura corporal
(38,1ºC), não apresentava
rigor mortis
, exibia mucosas ainda úmidas e sangue não-coagulado.
A dose de 0,2 mg/kg/dia foi a que ocasionou a evolução mais longa (33horas e 5min).
4.2 Aspectos Clínicos
4.2.1 Início dos sinais clínicos
Observaram-se sinais clínicos em quatro dos seis animais experimentais. O ovino 5763
não manifestou sinais clínicos e o ovino 5764, que recebeu 0,1 mg/kg/dia durante 4 dias, foi
encontrado morto no dia 21 de abril de 2008 às 8 horas da manhã, sem que tivesse sido observado
qualquer sinal clínico.
O tempo decorrido entre a administração do MF e a manifestação dos primeiros sinais
clínicos variou de 9h e 44min a 88h e 31min. Com doses únicas de 1,0 mg/kg, os sinais clínicos
se iniciaram 9h e 44min (5765) e 13h e 20min (5762) após a administração do MF; o ovino
5761, que recebeu 0,5 mg/kg e morreu, os sinais clínicos tiveram início 14h e 6min após a
administração do MF. Com subdoses repetidas diariamente de 0,2 mg/kg/dia, os sinais clínicos
se iniciaram 88h e 31min (5766) após a primeira administração.
4.2.2 Quadro clínico geral
Os principais achados clínico-patológicos encontram-se nas Tabelas 12 e 13. Detalhes
sobre os sinais clínicos encontram-se em protocolos experimentais no Anexo A.
Nos quatro animais em que foram observados sinais clínicos, verificaram-se taquicardia,
taquipnéia, arritmia, respiração abdominal, ligeira perda de equilíbrio, por vezes cambaleavam,
apoiavam a cabeça no flanco (postura de auto-auscultação), levantavam e deitavam em decúbito
esterno-abdominal repetidamente (Figura 10). Três ovinos (5761, 5762 e 5766) manifestaram
tremores musculares e apatia (Figura 9). Dois animais apresentaram jugulares ingurgitadas (5765
e 5766) (Figura 9), poliúria (5761 e 5766), nistagmo (5762 e 5765), prostração (5761 e 5766)
(Figura 11), estertores pulmonares (5761 e 5762), subitamente começaram a correr (5762 e 5765)
e um colidiu contra a parede (5762). Um ovino exibiu pulso venoso positivo (5766), relutância
em mover-se (5766), dispnéia (5761), distendia o pescoço e apoiava a cabeça no solo (5766) e
63
presença de líquido espumoso saindo pelas narinas e boca (5761) (Figura 12). Na fase final, em
geral, os animais caíam em decúbito lateral, esticavam os membros (Figura 13), faziam
movimentos de pedalagem (Figura 14), apresentavam opistótono, respiração ofegante e morriam
em poucos minutos.
64
Tabela 8. Principais dados sobre o delineamento experimental e desfecho da intoxicação experimental por monofluoroacetato de sódio em ovinos
Identificação
do ovino
(Reg. SAP)
Sexo Idade Peso
(kg)
Dose
do MF
Nº de
administrações
Dose total
(mg)
Data e hora da
administração
Início dos sinais
clínicos após o
começo da
administração do
MF
Evolução da
intoxicação
Desfecho
5761
(31260)
Fêmea
3 anos 31 0,5 mg/kg 1 15,5 04/04/2008
21:16
14h e 6min 7h e 55min Morreu
5763
Fêmea
2 anos 37 0,5 mg/kg 1 18,5 17/04/2008
17:37
----
----
Sem
sintomas
5762
(31261)
Fêmea
6 meses 19 1,0 mg/kg 1 19,0 05/04/2008
03:15
13h e 20min 10min Morreu
5765
(31265)
Macho 3 anos 53 1,0 mg/kg 1 53,0 22/04/2008
17:08
9h e 44min 3min Morreu
5764
(31263)
Fêmea
2 anos 36 0,1
mg/kg/dia
4 14,4
(3,6 mg/dia)
17/04/2008
17:42
*
----
----
Encontrado
morto
**
5766
(31266)
Macho
3 anos 44 0,2
mg/kg/dia
6 52,8
(8,8 mg/dia)
19/04/2008
17:00
*
88h e 31min
33h e 5min Morreu
Controle Macho
3 anos 43 ----
----
10 ml de
água
destilada
04/04/2008
21:20
----
----
----
*
Data e hora da 1
a
administração.
**
Encontrado morto 86h e18min após a 1ª administração.
65
Figura 9. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Ovino 5766 (doses repetidas de 0,2
mg/kg/6dias) apático e com jugular ingurgitada (seta).
Figura 10.
Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5761 (dose única de 0,5 mg/kg) em
decúbito esternal e postura de auto-auscultação.
66
Figura 11. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5766 (doses repetidas de 0,2 mg/kg/6dias)
prostrado, com pescoço distendido e cabeça apoiada no chão.
Figura 12. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de dio em ovinos. Ovino 5761 (dose única de 0,5 mg/kg)
eliminando líquido espumoso pelas narinas e boca, o que caracteriza acentuado edema
pulmonar.
67
Figura 13. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5765 (dose única de 1,0 mg/kg) com
rigidez dos membros na “fase dramática”.
Figura 14. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5762 (dose única de 1,0 mg/kg) em
movimentos de pedalagem na “fase dramática”.
68
4.3 Exames Complementares
4.3.1 Bioquímica sérica
Todos os ovinos apresentaram alteração em pelo menos um dos parâmetros bioquímicos
avaliados, conforme apresentado de forma detalhada na Tabelas 9 e 10. Verificou-se moderado a
acentuado aumento nos níveis de uréia em todos os animais. Os níveis de creatinina nos animais
5761, 5763 e 5764 revelaram-se discretamente aumentados, porém nos demais ovinos (5762,
5765 e 5766) apresentaram-se normais. No entanto, no animal 5766, observou-se, através de
análises seriadas, um aumento gradual dos níveis de creatinina até atingir o valor de referência
máximo (1,9 mg/dL) no momento da última coleta de sangue realizada (122 horas após a
administração da primeira subdose de 0,2 mg/kg),
4.3.2 Urinálise
Não foram observadas alterações à análise das amostras de urina coletadas durante o
experimento.
4.3.3 Exames ecocardiográficos
Os principais achados ecocardiográficos encontram-se na Tabela 11. Verificaram-se, aos
exames realizados no ovino 5766, marcada redução da fração de encurtamento sistólico do
ventrículo esquerdo (30% e 21%), leve aumento de tamanho do átrio esquerdo e direito, bem
como das dimensões do ventrículo direito.
69
Tabela 9. Análises bioquímicas dos ovinos intoxicados experimentalmente com doses únicas de monofluoroacetato de sódio
Identificação do ovino
e dose administrada
Bioquímica sérica
Horas após a administração
0h 17h
Valores de
referência
Ovino 5761 (0,5 mg/kg)
Uréia (mg/dL) ---
17,7
8 – 10
Creatinina (mg/dL) --- 1,98 1,2 –1,9
Ovino 5763 (0,5 mg/kg)
Uréia (mg/dL)
10,0 23,3
8 – 10
Creatinina (mg/dL) 1,81 1,96 1,2 –1,9
Identificação do ovino
e dose administrada
Bioquímica sérica
Horas após a administração
0h 10h
Valores de
referência
Ovino 5762 (1,0 mg/kg)
Uréia (mg/dL) --- 19,7 8 – 10
Creatinina (mg/dL) --- 1,33 1,2 – 1,9
Ovino 5765 (1,0 mg/kg)
Uréia (mg/dL)
11,8 17,1
*
8 – 10
Creatinina (mg/dL) 1,10 1,46
*
1,2 – 1,9
* Colheita de sangue realizada no momento da morte.
70
Tabela 10. Análises bioquímicas dos ovinos intoxicados experimentalmente com subdoses diárias de monofluoroacetato de sódio
Identificação do ovino
e dose administrada
Bioquímica sérica
Horas após a administração
0h 86h
Valores de
referência
Uréia (mg/dL) 9,6
24,5
*
8 – 10
Ovino 5764 (0,1 mg/kg/dia)
Creatinina (mg/dL)
1,57 1,97
*
1,2 – 1,9
Identificação do ovino
e dose administrada
Bioquímica sérica
0h 51h 86h 118h 122h
Valores de
referência
Uréia (mg/dL) 10,0
15,1 20,7 21,8 23,0
8 – 10
Ovino 5766 (0,2 mg/kg/dia)
Creatinina (mg/dL) 0,89 1,45 1,49 1,51 1,90 1,2 – 1,9
* Colheita de sangue realizada no momento da morte
.
Horas após a administração
71
Tabela 11. Resultados dos exames ecocardiográficos realizados no ovino 5766 (0,2 mg/kg/dia)
Data e hora do
exame após o início
da administração
do MF
Frequência
cardíaca
Débito
cardíaco
Fração de
encurtamento
sistólico do
ventrículo esquerdo
*
Átrio
esquerdo
Valvas
mitral,
tricúspide e
aórtica
Ventrículo
esquerdo
Septo inter-
ventricular
Aorta Átrio
direito
Ventrículo
direito
23/04/2008
87h e 40min
136 bpm 3,3 L/m 30% 3,4 cm
(aumentado)
Sem
alterações
Parede com
espessura
normal
(1,4 cm)
Espessura
de 1,1 cm
(normal)
Normal
(1,8cm)
Levemente
aumentado
(2,4 cm)
Dimensões
levemente
aumentadas
24/04/2008
119h e 25min
166 bpm 2,6 L/m 21% 3,9 cm
(aumentado)
Sem
alterações
Parede com
espessura
normal
(1,4 cm)
Espessura
de 1,1 cm
(normal)
Normal
(1,8cm)
Levemente
aumentado
(2,5 cm)
Dimensões
levemente
aumentadas
*
Valores de referência
: 37,2% (MOSES; ROSS, 1987), 40% (RABBANI; AHMADI; FAYAZZADEH, 2006) e 42% (DODIC et al., 2001).
72
4.4 Achados de Necropsia
À necropsia, verificaram-se em todos os ovinos, aurículas, veias cava cranial e caudal,
jugulares (Figura 16), ázigos, costo cervicais (Figura 17 e 18), ilíacas e pulmonares leve a
acentuadamente ingurgitadas. Havia moderada dilatação cardíaca direita e esquerda no animal
5761 e 5766 e leve dilatação do ventrículo esquerdo no ovino 5765, bem como raras petéquias no
epicárdio do animal 5764 e leve (5766) a moderado (5762) hidropericárdio. Observaram-se ainda
leve a moderada presença de líquido espumoso (5761 e 5766), por vezes, avermelhado (5762,
5764 e 5765) da traquéia aos brônquios (Figura 19). No animal 5762, verificou-se também,
presença de líquido espumoso avermelhado do esôfago até a base da língua. Os pulmões
apresentavam-se com aspecto armado (5762 e 5766), pesados (5761 e 5762), brilhantes (5761),
irregularmente avermelhados (5761 e 5765), leve a moderadamente congestos (5761 e 5764) e
com pequenas áreas de atelectasia (5761). Os demais achados constituíram-se de raras petéquias
(5766) e equimoses no pulmão (5762, 5765 e 5766), leve edema subpleural (5761) e leve (5764)
a moderado (5762 e 5766) edema pulmonar (Figura 20).
Figura 15. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação experimental por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Veia jugular acentuadamente ingurgitada (seta).
Ovino 5765 (dose única de 1,0 mg/kg).
73
Figura 16. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Veias cava caudal (CL) e cranial (C), ázigos
direita (A), costo cervical (CC) repletas. Ovino 5765 (dose única de 1,0 mg/kg).
Figura 17. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5766 (doses repetidas de 0,2 mg/kg/6dias)
com aurícula esquerda (AU), veias cava caudal (CL) e cranial (C) e ázigos direita (A)
repletas.
CL
C
A
CC
AU
CL
C
A
74
Figura 18. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5762 (dose única de 1,0 mg/kg) com
acentuado edema pulmonar caracterizado por espuma rosada na traquéia.
Figura 19. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Ovino 5761 (dose única de 0,5 mg/kg) com
acentuado edema pulmonar.
75
4.5 Achados Histopatológicos
O exame histopatológico evidenciou, no rim de todos os ovinos, discreta
(5765 e 5762) a acentuada (5761, 5764 e 5766) degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais e, por vezes, túbulos retos (5764 e 5766),
associada à picnose nuclear (Figuras 20 a 25). Havia ainda, leve congestão (5761 e
5766) e discreto infiltrado linfoplasmocitário intersticial (5762 e 5765). No fígado,
em geral, observaram-se leve a moderada congestão, tumefação e vacuolização de
hepatócitos predominantemente periportal, necrose individual aleatória de
hepatócitos e, em um animal havia leve leucocitoestase (31265). No pulmão havia
leve (5762, 5765 e 5766) a moderado (5761) edema e leve (5761, 5762 e 5764) a
moderada (5765 e 5766) congestão. Nos demais órgãos não foram encontradas
alterações significativas. Os principais achados histopatológicos observados no rim
encontram-se na Tabela 13.
76
Tabela 12. Resultados dos experimentos com monofluoroacetato de sódio em ovinos (continua).
Identificação
do ovino
(Reg. SAP)
Peso
(kg)
Dose
do MF
Nº de
administrações
Dose total
(mg)
Início dos
sinais clínicos
após a
administração
Evolução da
intoxicação
Manifestações clínicas Desfecho Achados de necropsia
5761
(31260)
31 0,5 mg/kg 1 15,5 14 h e 6 min 7h 55 min Poliúria, tremores musculares,
taquicardia, taquipnéia, respiração
abdominal, dispnéia, presença de
espuma avermelhada saindo pelas
narinas e boca, estertores,
arritmia, apatia, prostração, perda
de equilíbrio, andar cambaleante,
apoiava a cabeça no flanco,
decúbito esternal, movimentos de
pedalagem e morte.
Morreu
Aurículas, veias cava cranial e
caudal, jugulares, ázigos, costo
cervicais, ilíacas e pulmonares
leve a moderadamente ingurgitadas.
Leve a moderada presença de
líquido espumoso da traquéia aos
brônquios. Modera dilatação
cardíaca direita e esquerda.
Pulmões pesados, brilhantes,
irregularmente avermelhados, leve a
moderadamente congestos e com
pequenas áreas de atelectasia. Leve
edema subpleural.
5763
37 0,5 mg/kg 1 18,5 ----*
----*
Sem sintomas
Sem
sintomas
----
*
5762
(31261)
19 1,0 mg/kg 1 19,0 13 h e 20 min 10 min Taquicardia, taquipnéia,
estertores, apatia, tremores
musculares, perda de equilíbrio,
andar cambaleante, apoiava a
cabeça no flanco, respiração
abdominal, subitamente começou
a correr e pular até chocar-se
contra a parede, decúbito esternal,
opistótono, nistagmo, arritmia,
movimentos de pedalagem e
morte.
Morreu
Aurículas, veias cava cranial e
caudal, jugulares, ázigos, costo
cervicais, ilíacas e pulmonares
leve a moderadamente ingurgitadas.
Leve a moderada presença de
líquido espumoso avermelhado da
traquéia aos brônquios e, do
esôfago até a base da língua.
Moderado hidropericárdio.
Pulmões pesados e com aspecto
armado, com algumas equimoses.
Moderado edema pulmonar.
5765
(31265)
53 1,0 mg/kg 1 53,0 9 h e 44 min 3 min Taquicardia, taquipnéia,
subitamente começou a correr em
círculos, perda de equilíbrio,
andar cambaleante, respiração
abdominal, apoiava a cabeça no
flanco, nistagmo, jugulares
ingurgitadas, decúbito esternal,
arritmia, opistótono, movimentos
de pedalagem e morte.
Morreu
Aurículas, veias cava cranial e
caudal, jugulares, ázigos, costo
cervicais, ilíacas e pulmonares
leve a moderadamente ingurgitadas.
Leve a moderada presença de
líquido espumoso avermelhado da
traquéia aos brônquios. Leve
dilatação do ventrículo esquerdo.
Pulmões irregularmente
avermelhados, com algumas
equimoses.
*Animal não manifestou sintomas
77
5764
(31263)
36 0,1 mg/kg/dia 4 14,4
(3,6 mg/dia)
----**
----**
Encontrado morto
Morreu
Aurículas, veias cava cranial e
caudal, jugulares, ázigos, costo
cervicais, ilíacas e pulmonares
leve a moderadamente ingurgitadas.
Leve a moderada presença de
líquido espumoso avermelhado da
traquéia aos brônquios. Algumas
petéquias no epicárdio. Pulmões
leve a moderadamente congestos.
leve edema pulmonar.
5766
(31266)
44 0,2 mg/kg/dia 6 52,8
(8,8 mg/dia)
3 d 16 h e 31
min
33 h e 5 min Taquicardia, taquipnéia, poliúria,
tremores musculares, apatia,
prostração, apoiava a cabeça no
flanco, relutância em mover-se,
andar cambaleante, perda de
equilíbrio, respiração abdominal,
arritmia, jugulares ingurgitadas e
pulso venoso positivo, decúbito
esternal, opistótono, movimentos
de pedalagem e morte.
Morreu
Aurículas, veias cava cranial e
caudal, jugulares, ázigos, costo
cervicais, ilíacas e pulmonares
leve a moderadamente ingurgitadas.
Modera dilatação cardíaca direita e
esquerda. Leve a moderada
presença de líquido espumoso da
traquéia aos brônquios. Leve
hidropericárdio.
Pulmões - aspecto armado, algumas
petéquias e moderado edema
pulmonar.
Controle 43 ----
----
10 ml de
água
destilada
----
----
Sem sintomas
Sem
sintomas
----
**Animal encontrado morto
Tabela 12. Continuação.
78
Figura 20. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos
uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino
5761 (dose única de 0,5 mg/kg).
Figura 21. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos
uriníferos contornados distais. Lesão incipiente (seta) e lesão mais avançada (cabeça
da seta) caracterizada por marcada picnose nuclear. Obj. 16. Ovino 5766 (dose
repetidas de 0,2 mg/kg/6dia).
79
Figura 22. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos
uriníferos contornados distais (seta - lesão incipiente e cabeça da seta - lesão mais
avançada, caracterizada por marcada picnose nuclear). No detalhe, picnose nuclear
(seta) e vacuolização citoplasmática (cabeça da seta). Obj. 25. Ovino 5764 (dose
repetidas de 0,1 mg/kg/4dia).
Figura 23. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos
uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino
5766 (dose repetidas de 0,2 mg/kg/6dia).
80
Figura 24. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos
uriníferos contornados distais. Lesão incipiente (seta). No detalhe, núcleos
picnóticos (seta) e sem alteração (cabeça da seta). Obj. 40. Ovino 5762 (dose única
de 1,0 mg/kg).
Figura 25. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais da intoxicação por
monofluoroacetato de sódio em ovinos. Degeneração hidrópico-vacuolar das células
epiteliais dos bulos retos associada à picnose nuclear (seta). Obj. 25. Ovino 5766
(dose repetidas de 0,2 mg/kg/6dia).
81
Iden
tificação
do ovino
(Reg. SAP)
Dose
do MF
Degeneração hidrópico-
vacuolar das células epiteliais
dos túbulos contornados
distais com picnose nuclear
Degeneração hidrópico-
vacuolar das células
epiteliais dos túbulos retos
Congestão Infiltrado inflamatório
linfoplasmocitário
intersticial
5761
(31260)
0,5 mg/kg
+ + +
-
+
-
5762
(31261)
1,0 mg/kg
+
-
-
(+)
5765
(31265)
1,0 mg/kg
(+)
-
-
(+)
5764
(31263)
0,1 mg/kg/dia
+ + +
+
-
-
5766
(31266)
0,2 mg/kg/dia
+ + +
++
+
-
*
Lesões: acentuada +++, moderada + +, leve +, discreta (+), ausente -.
TabTab
ela 13.
Alterações histológicas observadas no rim de ovinos intoxicados por MF
82
5 DISCUSSÃO
Nos ovinos desse estudo, a administração de doses letais únicas de MF, assim como de
frações da dose letal (1/2,5 e 1/5) repetidas diariamente, provocaram quadro clínico-patológico de
“morte súbita”, isto é, uma intoxicação de evolução superaguda, que correspondeu, em diversos
aspectos, ao observado nos casos de intoxicação por plantas brasileiras que causam a síndrome da
“morte súbita”.
Clinicamente, os ovinos apresentaram, em geral, taquicardia, taquipnéia, arritmia,
respiração abdominal, poliúria, tremores musculares, perda de equilíbrio e apoiavam a cabeça no
flanco. Na “fase dramática”, os animais caíam em decúbito lateral, esticavam os membros,
faziam movimentos de pedalagem, apresentavam opistótono, respiração ofegante e morriam em
poucos minutos. Quadro semelhante foi descrito em ovinos experimentalmente intoxicados com
Palicourea marcgravii
(TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1986),
Pseudocalymma
elegans
(CONSORTE; PEIXOTO; TOKARNIA, 1994) e
Mascagnia rigida
(VASCONCELOS
et al., 2008) e nos casos, recentemente relatados, de intoxicação natural por
M.
exotropica
(BANDARRA et al., 2007) e
M. rigida
(VASCONCELOS et al., 2008) em ovinos, bem como em
diversos estudos realizados em caprinos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a; TOKARNIA;
PEIXOTO; DÖBEREINER, 1991; TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1993;
VASCONCELOS et al., 2008), bovinos (MELLO; FERNANDES, 1940; DÖBEREINER;
TOKARNIA, 1959; TOKARNIA; CANELLA; DÖBEREINER, 1961; CAMARGO, 1962;
TOKARNIA et al., 1969; TOKARNIA; DÖBEREINER, 1973; TOKARNIA; DÖBEREINER,
1981; TOKARNIA; DÖBEREINER; SILVA, 1981; TOKARNIA; DÖBEREINER, 1982;
TOKARNIA et al., 1983; DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983; COSTA et al., 1984;
TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1985; TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986;
TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1990; GAVA et al., 1998b; MEDEIROS et al., 2002;
BARBOSA et al., 2003; TOKARNIA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2004; BANDARRA et al.,
2007; HELAYEL, 2008), búfalos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a; BARBOSA et al., 2003;
OLIVEIRA et al., 2004; TOKARNIA et al., 2004) e coelhos (PACHECO; CARNEIRO, 1932a;
TAVARES et al., 1974; DÖBEREINER; TOKARNIA, 1982; TOKARNIA; DÖBEREINER,
1982; DÖBEREINER; TOKARNIA, 1983; DÖBEREINER; PEIXOTO; TOKARNIA, 1984;
TOKARNIA; PEIXOTO DÖBEREINER, 1985; DÖBEREINER et al., 1986; TOKARNIA;
DÖBEREINER; CANELLA, 1987; PEIXOTO et al., 1987; JABOUR et al., 2006; HELAYEL,
2008) com as 12 plantas que causam “morte súbita”.
Adicionalmente observaram-se, ao exame externo, jugulares ingurgitadas (em 2 dos 5
animais = 2/5) e pulso venoso positivo (1/5). A necropsia revelou dilatação cardíaca direita e/ou
esquerda (3/5), além de aurículas e grandes vasos da base do coração ingurgitados (5/5), achados
clínicos e patológicos que foram recentemente relatados em bovinos intoxicados
experimentalmente com MF (NOGUEIRA, 2009) e por
P. elegans
(HELAYEL, 2008) e que, não
haviam sido descritos em animais intoxicados por MF, nem nos experimentos realizados com
plantas brasileiras que causam “morte súbita”, à exceção do pulso venoso positivo, que tem sido
observado em bovinos intoxicados por
P. marcgravii
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986;
BARBOSA et al., 2003)
, P. juruana
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1982; OLIVEIRA, et al.,
2004),
Arrabidaea bilabiata
(DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983; TOKARNIA et al.,
2004)
, A. japurensis
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1981) e
M.
aff
. rigida
(TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 1985) e pela jugular ingurgitada, que é relatada em casos de
intoxicações por
P. marcgravii
(BARBOSA et al., 2003),
P. juruana
(OLIVEIRA, et al., 2004),
A
.
bilabiata
(TOKARNIA et al., 2004) e
M. exotropica
(GAVA et al., 1998b) em bovinos, além
83
de ovinos e caprinos intoxicados por
M. rigida
(VASCONCELOS et al., 2008). Acreditamos,
contudo, que em uma avaliação clínico-patológica mais acurada, esses achados também podem
ser observados nos casos de intoxicação pelas demais plantas desse grupo, sobretudo, quando a
evolução for um pouco mais longa do que o comum, conforme o verificado por Helayel (2008);
segundo Jones, Hunt e King (2000), tais achados podem ocorrer em animais que morrem de
insuficiência cardíaca aguda.
O ovino (5762) intoxicado com 1,0 mg/kg de MF, após exibir leves tremores musculares,
repentinamente começou a “correr cegamente” (
run around blindly
) dentro da baia até colidir
contra a parede e morrer em poucos minutos. É interessante mencionar que esse achado já foi
descrito em ovinos (BELL et al., 1955) e caprinos (BASSON et al., 1982) intoxicados,
respectivamente por plantas australianas (
Acacia georginaea
) e africanas (
Dichapetalum
cymosum
), que contêm MF como princípio ativo, bem como em outros dois ovinos
experimentalmente intoxicados por esse composto (JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948;
SCHULTZ et al., 1982).
Tradicionalmente as diferentes espécies animais são classificadas em categorias (I, II, III
e IV), em função do efeito provocado pelo MF. Esse sistema de classificação elaborado em 1946
por Chenoweth e Gilman (1946) foi recentemente contestado por Sherley (2004), que, após
revisar a literatura relacionada ao quadro clínico manifestado por vertebrados intoxicados por
MF, afirmou que esse método de classificação não considera o fato de que vários sinais dessa
intoxicação são comuns à maioria das espécies animais e que pouco embasamento para a
divisão dos animais intoxicados por MF em grupos sintomáticos. Somos da opinião que essa
classificação deve ser revista e complementada com os dados recentemente disponíveis. Por
exemplo, Chenoweth e Gilman (1946) não realizaram experimentos com bovinos e ovinos, e,
portanto, não agruparam essas espécies em nenhuma categoria. A nosso ver, tais espécies devem
ser incluídas na categoria I, uma vez que o principal efeito do MF em bovinos (SCHNAUTZ,
1949; ROBINSON, 1970; JUBB; KENNEDY; PALMER, 2007; NOGUEIRA, 2009) e ovinos
(JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948, ANNISON et al., 1960; SCHULTZ et al., 1982) se faz
sobre o coração, o que pôde ser evidenciado em nossos experimentos.
Em relação aos equinos, Chenoweth e Gilman (1946) incluíram essa espécie na categoria
I, no entanto, afirmaram ser difícil determinar se havia, de fato, ausência de sintomas nervosos,
uma vez que os animais foram anestesiados. Anos depois, outros autores descrevem sintomas
referentes também ao SNC (EGEKEZE; OEHME, 1979a). Desta forma, acreditamos que essa
espécie deva ser incluída na categoria II.
os ratos e hamsters foram agrupados na categoria IV, ou seja, animais que
apresentam sintomatologia atípica, caracterizada por fraqueza e extrema bradicardia
(CHENOWETH; GILMAN, 1946). Entretanto, esses sinais clínicos foram observados, no dia
seguinte à administração do MF, em animais que sobreviveram e, a nosso ver, não deveriam ter
sido tão valorizados. Controversamente, esses autores também descreveram sintomas iniciais
caracterizados por tremores, alteração postural, hiperexcitabilidade e convulsões tônicas
provocadas por estímulos mecânicos. De fato, estudos posteriores demonstraram que ratos
intoxicados por esse composto apresentam típica sintomatologia nervosa, caracterizada, em
especial, por frequentes convulsões (FOSS, 1948; EGEKEZE; OEHME 1979a; CUNHA, 2008).
Além disso, em 1948, Foss observou que ratos e camundongos intoxicados por MF apresentavam
sinais clínicos nervosos idênticos aos manifestados por cobaios. Convém lembrar que Chenoweth
e Gilman (1946) verificaram que cobaios apresentam alterações nervosas semelhantes àquelas
descritas em cães e, desta forma, são incluídos na categoria III. Contudo, somos da opinião que
ratos e hamsters pertencem à categoria III. Desta forma, fica evidente que algumas
84
complementações e modificações devem ser feitas nesse tradicional sistema de classificação. No
Anexo C apresentamos as modificações por nós propostas.
Os ovinos que receberam doses únicas de 1,0 mg/kg de MF apresentaram evolução
clínica de poucos minutos (3 a 10min), muito semelhante ao observado nos experimentos de
administrações únicas de
P. marcgravii
em ovinos (3 a 8min) (TOKARNIA; PEIXOTO;
DÖBEREINER, 1986), bovinos (1 a 5min) (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986) e coelhos (1 a
5min) (PEIXOTO et al., 1987). Por outro lado, Jensen, Tobiska e Ward (1948) verificaram em
ovinos experimentalmente intoxicados com doses únicas de 1,0 mg/kg de MF, evolução um
pouco mais longa (15min a 1h).
Algumas considerações podem ser feitas a respeito do fato do ovino 5761 (0,5 mg/kg) ter
apresentado evolução mais longa (7h55min) do que os outros animais desse estudo, que
receberam doses únicas de MF e, por ter exibido acentuado sinais clínicos de edema pulmonar.
Ao que tudo indica, essa divergência pode ser justificada, em parte, devido à dose administrada
para esse animal ser limítrofe, ou seja, muito próxima da dose não letal. Também corrobora com
essa hipótese o fato do ovino 5763, que recebeu a mesma dose (0,5 mg/kg) não ter mostrado
sintomas de intoxicação. Cabe ressaltar que experimentos realizados por Jensen, Tobiska e Ward
(1948), que visaram determinar a dose letal do MF para ovinos, doses de 0,25 mg/kg não foram
capazes de provocar sintomas, enquanto doses de 0,5 mg/kg, apesar de ter causado sintomas e
óbito, cursaram com evolução mais longa (variou de 1h35min a 1h45min) do que a observada em
outros experimentos realizados com doses maiores (0,75; 1,0; 2,5 e 10 mg/kg). Em relação ao
acentuado edema pulmonar verificado no ovino 5761 (0,5 mg/kg), outros autores também
descreveram esse achado à necropsia de um ovino intoxicado com a mesma dose, cuja evolução
da intoxicação foi longa (18h30min), além de outros sete ovinos (8/10) intoxicados com doses
únicas, que variaram entre 0,5 e 1,0 mg/kg e, que, apresentaram evolução entre 4h35min e 9h
(SCHULTZ et al., 1982). Convém reportar que, edema pulmonar foi descrito recentemente em
dois bovinos (2/6) que receberam doses únicas de MF (NOGUEIRA, 2009) e, em outro,
intoxicado com 0,5 g/kg de
P. elegans
, cuja evolução foi mais longa do que o comum
(73h12min) (HELAYEL, 2008). De fato, segundo Jones, Hunt e King (2000), embora edema
pulmonar não ocorra na insuficiência cardíaca aguda, esse achado pode ser observado em casos
de insuficiência cardíaca em que a morte não é imediata, cuja evolução estende-se por um ou
mais dias (JONES; HUNT; KING, 2000). É importante ressaltar que, ovinos intoxicados com
doses iguais de MF apresentam algumas variações, no que diz respeito ao tempo decorrido entre
a ingestão e o aparecimento dos primeiros sintomas, bem como na evolução da intoxicação e nos
sinais clínicos apresentados (SCHULTZ et al., 1982). Tais variações também são descritas em
bovinos intoxicados por plantas que causam morte súbita” (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000), o que deve ser considerado como variação individual. Eisler (1995) considera
que a variação na resposta individual ao MF pode ser atribuída à reduzida habilidade em
converter o fluoroacetato em fluorocitrato. Por outro lado, Goncharov, Jenkins e Radilov (2005)
sugerem que as diferenças de sensibilidade estão relacionadas à taxa metabólica do organismo,
especificamente, do metabolismo oxidativo celular, que pode ou não favorecer a metabolização e
a eliminação de substâncias tóxicas.
Embora os ovinos que receberam MF não tenham sido exercitados, é possível que o
deslocamento do animal 5766, por cerca de 50 metros, bem como sua contenção física para a
realização dos exames ecocardiográficos tenha precipitado (no caso do exame) e intensificado
(no caso do exame) os sintomas da intoxicação, devido a uma maior liberação de adrenalina,
da qual resulta taquicardia e fibrilação (NOGUEIRA, 2009). Convém lembrar que esse animal
manifestou os primeiros sinais clínicos logo após o 1º exame ECG e que morreu 2 horas após o 2º
85
exame. A influência do exercício sobre o aparecimento dos sintomas, foi descrita, de forma
semelhante, em ovinos intoxicados com
P. marcgravii
(TOKARNIA; PEIXOTO;
DÖBEREINER, 1986) e
Pseudocalymma elegans
(CONSORTE; PEIXOTO; TOKARNIA,
1994), assim como em bovinos intoxicados por MF (NOGUEIRA, 2009) e com plantas que
causam “morte súbita” (DÖBEREINER; TOKARNIA, 1959; TOKARNIA; CANELLA;
DÖBEREINER, 1961; TOKARNIA et al., 1969; TOKARNIA; DÖBEREINER, 1973;
TOKARNIA; DÖBEREINER, 1981; TOKARNIA; DÖBEREINER; SILVA, 1981;
TOKARNIA; DÖBEREINER, 1982; DÖBEREINER; TOKARNIA; SILVA, 1983; TOKARNIA
et al., 1983; TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1985; TOKARNIA; DÖBEREINER,
1986; TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1990; GAVA et al., 1998b; TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; BARBOSA et al., 2003; OLIVEIRA, et al., 2004;
TOKARNIA et al., 2004; HELAYEL, 2008).
Outra importante característica comum entre a intoxicação por plantas que causam “morte
súbita” e por MF pôde ser evidenciada em nossos experimentos. Administrações diárias de 1/2,5
e 1/5 da dose letal do MF a ovinos demonstraram que esse composto possui efeito acumulativo,
à semelhança com as descrições de ovinos intoxicados com frações da dose letal (1/2,5; 1/5 e
1/10) de
P. marcgravii
(TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1986)
e
(1/5, 1/10 e 1/20) de
Pseudocalymma elegans
(CONSORTE; PEIXOTO; TOKARNIA, 1994), bem como em diversos
outros estudos realizados em bovinos intoxicados com plantas que causam “morte súbita”
(TOKARNIA; CANELLA; DÖBEREINER, 1961; TOKARNIA et al., 1969; TOKARNIA;
DÖBEREINER; SILVA, 1981; TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 1985; TOKARNIA;
DÖBEREINER, 1986; TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000). Convém dizer que
embora o efeito acumulativo do MF tenha sido demonstrado em ovinos (JARRETT;
PACKHAM, 1956; ANNISON et al., 1960) e em coelhos silvestres (ROWLEY, 1963), foi
verificado que, sob certas condições experimentais, este composto não apresentou efeito
acumulativo em ovinos (SCHULTZ et al., 1982). Acreditamos que a explicação para essa
discordância envolva o intervalo de tempo entre as administrações do MF, uma vez que segundo
McEwan (1978) esse composto possui efeito acumulativo apenas quando administrado em doses
repetidas por curtos períodos. De fato, nos experimentos realizados por Schultz et al. (1982), em
geral, o intervalo entre a administração das frações da dose letal foram muito longos, por
exemplo, foram realizadas de 6 a 10 administrações de 0,1 mg/kg em um período de 33 a 66 dias.
Nesse ponto, uma comparação pode ser feita com os experimentos de acumulação realizados com
plantas que causam “morte súbita”. Em bovinos, a administração de 1/2 da dose letal das folhas
dessecadas de
M. pubiflora
, repetidas quatro vezes, com intervalos de uma semana mostraram
que, em tais condições, a planta também não tem efeito acumulativo (TOKARNIA,
DÖBEREINER, 1973). O mesmo foi observado em experimentos com folhas dessecadas de
P.
juruana
administradas a bovinos em doses semanais de 1/5 e 1/10 da dose letal durante 7 a 18
semanas respectivamente (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1982). Não obstante, Tokarnia e
Döbereiner (1986) demonstraram que a administração de doses correspondentes a 1/5, 1/10 e
1/20 da dose letal de folhas dessecadas de
P. marcgravii
a bovinos, com intervalos de uma
semana, durante 25, 30 e 30 semanas respectivamente, não é capaz de provocar sintomas, ao
passo que, administrações diárias de 1/5 e 1/10 da dose letal, evidenciaram o efeito acumulativo
da planta. Com a redução do intervalo entre as administrações os bovinos manifestaram sintomas
e morreram após a 5ª e 50ª administração respectivamente. É interessante dizer que alguns
autores atribuem o efeito acumulativo do MF, em grande parte, à baixa velocidade de eliminação
desse composto pelo rim (CHENOWETH, 1949).
86
A avaliação ecocardiográfica realizada no ovino 5766 evidenciou, inicialmente,
moderada redução da fração de encurtamento (FE) sistólico do ventrículo esquerdo (30%), a qual
tornou-se marcada (21%), após aproximadamente 32 horas. A comparação dos valores por nós
obtidos com aqueles considerados referência para ovinos, 37,2% (MOSES; ROSS, 1987), 42%
(DODIC et al., 2001) e 40% (RABBANI; AHMADI; FAYAZZADEH, 2006), permite clara
evidenciação do comprometimento da função cardíaca induzido pelo MF. Achados similares (FE
= 32,4% e 29,5%) foram recentemente descritos em ovinos intoxicados com 20 g/kg de
M. rigida
(LAGO et al., 2009). De acordo com alguns autores, a redução da fração de encurtamento ocorre
nos estágios iniciais da insuficiência cardíaca e indicam alterações de ordem ventricular
(KITTLESON; KIENLE, 1998; SILVA; MELO; MUZZI, 2008).
O moderado a acentuado aumento dos veis de uréia, observado em todos os ovinos do
presente estudo, bem como do discreto aumento de creatinina verificado em 50% dos animais são
indicações seguras de que o MF realmente lesa o rim, provavelmente, durante o processo de
excreção. Também corrobora com essa hipótese o fato de homens intoxicados por MF
desenvolverem variáveis graus de azotemia (e uremia) até o ponto de ocorrer insuficiência renal
(CHUNG, 1984). Convém dizer que, embora os ovinos desse estudo tenham apresentado
azotemia, não foram observados quaisquer sinais clínicos de uremia.
Embora os ovinos do nosso estudo, intoxicados por MF não terem apresentado alterações
macroscópicas específicas à necropsia, Goh et al. (2005) afirmam que o estabelecimento do
rigor mortis
é antecipado. Entretanto, na literatura não existem relatos dessa alteração, na marcha
natural dos fenômenos cadavéricos, em bovinos intoxicados por plantas que causam “morte
súbita”, uma vez que a necropsia é realizada, sempre que possível, imediatamente após a morte.
Desta maneira, nunca foi dada atenção a esse detalhe. É provável que, nesses casos, o
rigor
mortis
também seja precocemente estabelecido, em consequência da depleção dos níveis de ATP.
De fato, recentemente foi observado quadro idêntico em ratos intoxicados, por via oral, com
extratos aquosos das folhas dessecadas de
P. marcgravii
e
M. exotropica
. Nesses experimentos,
verificou-se o desenvolvimento do
rigor mortis
, em até 13 minutos, após o óbito dos animais
(PEIXOTO et al, 2009 dados-não-publicados).
Outra semelhança curiosa entre a intoxicação pelos frutos de
P. marcgravii
(MARTIUS,
1843; HOEHNE, 1939)
e
por MF (CALVER; KING, 1986), diz respeito ao uso popular de
ambos, inicialmente, como eficazes agentes rodenticidas.
No presente estudo, a administração do MF em doses únicas ou em frações diárias da dose
letal aos ovinos determinou, em todos os casos com desfecho fatal, o aparecimento da clássica
degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose
nuclear, lesão idêntica à descrita em 1959 por Döbereiner e Tokarnia no rim de bovinos
intoxicados com doses únicas de
P. marcgravii
e, mais tarde observada também no rim de
bovinos intoxicados natural e experimentalmente com todas as outras plantas brasileiras que
causam “morte súbita” (Anexo B) (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; BARBOSA
et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2004; HELAYEL, 2008), bem como em ovinos (TOKARNIA;
PEIXOTO; DÖBEREINER, 1986; CONSORTE; PEIXOTO; TOKARNIA, 1994), caprinos
(TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1993) e em coelhos (PEIXOTO et al
.
, l987;
HELAYEL, 2008) intoxicados experimentalmente por plantas desse grupo. Convém ressaltar que
estudos experimentais complementares verificaram que administrações diárias de frações da dose
letal de
P. marcgravii
(TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1986) e
Pseudocalymma
elegans
(CONSORTE; PEIXOTO; TOKARNIA, 1994) a ovinos, assim como de
P. marcgravii
(TOKARNIA; PEIXOTO; DÖBEREINER, 1986)
, P. grandiflora
(TOKARNIA;
DÖBEREINER; SILVA, 1981) e
Mascagnia rigida
(TOKARNIA; CANELLA; BEREINER,
87
1961) a bovinos também induzem a típica DHV túbulos uriníferos contornados distais. Essa lesão
diferencia-se das degenerações que ordinariamente ocorrem nas células epiteliais do rim pela
acentuada tumefação citoplasmática associada à evidente picnose nuclear e por sua peculiar
distribuição seletiva, quase exclusiva, aos túbulos uriníferos contornados distais, uma vez que
ocasionalmente afeta também os túbulos retos (TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986).
Em relação à degeneração hidrópico-vacuolar, embora tumefação celular e degeneração
hidrópica sejam alterações comuns no epitélio tubular, à exceção das descrições sobre lesões
renais secundárias à ingestão de plantas que causam “morte bita” no Brasil (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000), não encontramos na literatura menção de outras substâncias
que causam esse tipo especial de lesão, ou pelo menos não foram descritas como tal.
De fato, DHV tem sido observada em envenenamentos por diversas substâncias como
dioxano (JONES; HUNT, 1983) e selenito de dio (KHATTAB, 2007), porém, nestes casos, a
alteração não está restrita aos túbulos distais e, no primeiro, não cursa com evidente picnose
nuclear. Por outro lado, diversas outras substâncias como cisplatina (FILLASTRE; RAGUENEZ-
VIOTTE, 1989), dicromato de potássio (CRISTOFORI et al., 2007), glicerol 50% (RODRIGO et
al., 2004) e solução de ácido tartárico (FRIEDMAN; KAPLAN, 1943), causam DHV específica
dos túbulos uriníferos contornados proximais, sem afetar os túbulos distais.
Em trabalhos experimentais ou em intoxicações acidentais ou intencionais com MF em
animais, também não encontramos quaisquer referências a esse tipo de lesão, no entanto,
frequentemente descrevem-se degeneração e necrose tubular. Não é conhecida a razão pela qual
essa lesão, até o momento, ainda não tenha sido relatada em casos de intoxicação por MF.
Contudo, é provável que em parte dos estudos conduzidos com MF, o rim não foi o órgão objeto
das principais análises e, desta maneira não foram realizados exames histológicos mais acurados.
Acreditamos ainda, que possa haver discordância quanto à nomenclatura empregada. De fato, a
análise das fotomicrografias publicadas por Cater e Peters (1961), que estudaram as lesões renais
induzidas pela inoculação intraperitoneal de fluorocitrato em ratos, permite a visualização de
lesão semelhante à DHV, no entanto, essa lesão foi descrita como marcada “degeneração
gordurosa” dos túbulos contornados. Da mesma forma, em uma análise mais cuidadosa das
fotomicrografias publicadas por Collicchio-Zuanaze (2006) que estudou as alterações
histológicas renais em gatos intoxicados experimentalmente com MF, verifica-se que as lesões
apresentadas, em parte, são semelhantes àquelas observadas nos rins de animais que ingerem
plantas que causam “morte súbita”, embora tenha descrito apenas degeneração tubular e hialina e
necrose tubular. Também foi descrito necrose do epitélio tubular em bovinos intoxicados por MF
(JOON et al., 1982). De fato, se considerarmos que a picnose nuclear indica células inviáveis e,
portanto mortas, não estaria errado denominar de necrose a DHV com picnose. Lim, Jensen e
King (1975) relataram que, em ratos intoxicados experimentalmente com fluoreto de sódio, há
degeneração e necrose dos túbulos contornados, mas a análise das fotomicrografias publicadas, a
lesão também é semelhante à DHV com picnose.
Convém discutir outra questão referente à nomenclatura. Segundo Nieberle e Cohrs
(1966), a degeneração hidrópica ocorre de duas formas morfológicas e patogeneticamente
distintas, uma denominada de vacuolar e, outra de vesicular. A degeneração hidrópico-vacuolar é
caracterizada pelo rápido aparecimento de vacúolos citoplasmáticos (em casos experimentais
ocorre entre 20 e 30min) sem alterações nucleares. Por outro lado, no caso da degeneração
hidrópico-vesicular, as células apresentam-se aumentadas de tamanho (células vesiculares) e
exibem picnose nuclear. Tais alterações degenerativas vesiculares se desenvolvem lentamente
(mais de 2 ou 3 dias). Entretanto, esses autores afirmam que podem ocorrer formas intermediárias
entre esses dois tipos de degeneração hidrópica. Frente ao exposto, não seria errado designar a
88
degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos contornados distais com picnose nuclear, detectada e
denominada como tal por Döbereiner e Tokarnia (1959) e, verificada em nossos estudos
experimentais em ovinos, bem como recentemente em bovinos (NOGUEIRA, 2009) intoxicados
por MF, como degeneração hidrópico-vesicular dos túbulos uriníferos contornados distais.
Por outro lado, nos casos de intoxicação por plantas africanas
(
Dichapetalum
spp.) e
australianas
(
Gastrolobium
spp.
, Oxylobium
spp
.
e
A. georginae
), que contêm MF como
princípio ativo, cuja ingestão determina um quadro clínico-patológico de “morte bita”, muito
semelhante ao que ocorre na intoxicação pelas SDCP brasileiras (TOKARNIA; DÖBEREINER;
PEIXOTO, 2000), essa típica lesão renal não tem sido mencionada, ou pelo menos não foram
descritas como tal. Contudo, a análise mais cuidadosa das descrições feitas por Steyn (1928)
acerca das lesões renais observadas em animais intoxicados por
Dichapetalum cymosum “In
these areas the staining of the tubuli were fainter than that of the adjoining tissues. These
changes in the kidney can be described as a localized necrobiosis”
, bem como do que foi
descrito por Kamau et al. (1978) em ratos intoxicados por
D. ruhlandii
degenerative changes
involving primarily the hepatocytes, and convoluted tubes of the kidneys”
sugere que a DHV
também ocorra nesse tipo de intoxicação, apenas não foi descrita como tal. Em relação à
intoxicação por
Gastrolobium
spp.
e
Oxylobium
spp. é provável que o mesmo tenha ocorrido,
uma vez que Gardner e Bennetts (1956), no livro “The Toxic Plants of Western Australia”
menciona “
toxic changes particularly in the epithelium of the convoluted tubules
”.
Na literatura humana, relacionada à intoxicação por esse composto, também não
encontramos referências específicas à ocorrência desse tipo de lesão renal. Pode-se inferir que em
seres humanos a DHV dos túbulos uriníferos contornados distais não ocorra ou esteja associada a
alterações ainda mais graves (necrose coagulativa), que são morfologicamente mais evidentes
que a DHV, exatamente como ocorre em casos de intoxicações por
P. marcgravii
e
P. elegans
em
equinos, os quais desenvolvem, predominantemente, necrose coagulativa de túbulos uriníferos e,
em menor extensão, DHV (TOKARNIA et al., 1993; 1995).
Antes da reprodução da DHV demonstrada neste estudo e recentemente em bovinos
intoxicados por MF (NOGUEIRA, 2009), já havia evidências circunstanciais muito fortes de que
o MF seria a causa, ou pelo menos um dos compostos importantes na determinação da morte dos
animais que ingerem plantas que causam “morte súbita”. De fato, diversos outros compostos que
foram isolados dessas plantas, sobretudo de
P. marcgravii,
como alcalóides (GUIMARÃES,
1934; BARNES; GILBERT, 1960; GAGNIN; MARAVALHAS, 1969; MORITA et al., 1989),
saponinas (GUIMARÃES, 1934; MELLO; FERNANDES, 1940; BARNES; GILBERT, 1960),
ácidos málico, palicúrico e mioctônico (PECKOLT, 1868), salicilato de metila, cristais de oxalato
de cálcio (COELHO et al., 2007), tanóides (GUIMARÃES, 1934), ácidos salicílico e o-
metoxibenzóico (CASCON; MORS, 1962), cafeína (GÓRNIAK, 1988), alcalóides N-
metiltiramina (CASCON; MORS, 1962; KEMMERLING, 1996) e 2-metiltetrahidro-
β
-carbolina
(KEMMERLING, 1996) não induzem o quadro clínico-patológico acima descrito e, muito menos
a DHV. Além disso, o quadro clínico observado em bovinos, ovinos, caprinos, equinos, cães,
coelhos e em ratos intoxicados experimentalmente por plantas do grupo das que causam “morte
súbita” corresponde totalmente ao observado quando esses animais são intoxicados por MF,
conforme demonstrado no Anexo C. Bovinos, ovinos e coelhos desenvolvem quadro de
insuficiência cardíaca aguda (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000), ratos mostram
sintomas relacionados ao SNC (PINTO et al., 2008) e os equinos, sinais clínicos relativos aos
dois sistemas (TOKARNIA et al., 1993; 1995). Entretanto, outros autores são da opinião que o
MF não seria o princípio determinante das mortes dos animais que ingerem essas plantas
(HABERMEHL, 1986; GONZÁLES et al., 2000) ou que haveria outros compostos que poderiam
89
causar a morte dos animais (PECKOLT, 1868; CORRÊA, 1869; GUIMARÃES, 1934;
HOEHNE, 1939; MELLO; FERNANDES, 1940; GÓRNIAK et al., 1986), ter efeito sinérgico
com o MF (KEMMERLING, 1996) ou contribuir para a toxicidade da planta (GÓRNIAK, 1988;
COELHO et al., 2007).
Algumas considerações devem ser feitas em relação à parte dos animais intoxicados por
plantas que causam “morte súbita” não desenvolverem a típica DHV. Acreditamos que alguns
fatores como a quantidade ingerida da planta e o tempo de evolução da intoxicação sejam
fundamentais na gênese dessa lesão. Sabe-se que quanto maior a dose ingerida de
P. marcgravii
(TOKARNIA; DÖBEREINER, 1986) ou MF (JENSEN; TOBISKA; WARD, 1948; PATTISON,
1959), mais curto é o período para o aparecimento dos sintomas. Portanto, parece razoável que
animais que ingiram maiores quantidades de MF, contido ou não em plantas, morram por parada
cardíaca antes que a eliminação desse composto ou de seus metabólitos tenha induzido a lesão
renal. De fato, segundo Eason et al. (1994) a maior parte do MF é excretada pela urina,
principalmente, durante as primeiras 48 horas após a ingestão desse composto, o que justifica a
ausência ou a menor intensidade dessa lesão em casos cuja evolução é mais curta. Além disso,
Tokarnia e Döbereiner haviam verificado em 1986, que uma nítida tendência, pela qual
quanto maior o tempo decorrido entre a administração de
P
.
marcgravii
e a morte dos bovinos,
maior a incidência e a intensidade da DHV (Anexo D). Tendência similar ocorre também nas
intoxicações por outras plantas brasileiras que causam “morte súbita” (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000), nas quais, em geral, verifica-se, que há, em função da dose
ingerida, uma correlação positiva entre evolução longa e desenvolvimento da DHV. Tal
constatação acima descrita constituiu outro interessante ponto em comum entre os ovinos de
nosso estudo, intoxicados por MF, e a intoxicação por plantas que causam “morte súbita”. A
administração de doses altas (1,0 mg/kg) de MF aos ovinos, também provocou o aparecimento
dos primeiros sintomas em um período de tempo mais curto, além de cursar com uma evolução
menor e causar DHV de menor intensidade, quando comparado aos animais que receberam doses
menores (0,5 mg/kg) ou frações da dose letal (0,1 e 0,2 mg/kg) repetidas diariamente.
Diversos autores afirmam que embora os animais intoxicados por MF manifestem
marcados sinais clínicos (EGEKEZE; OEHME, 1979a), o diagnóstico dessa intoxicação é difícil,
uma vez que tanto o quadro clínico (CHI et al., 1996; CHI; LIN; CHEN, 1999; O’HAGAN,
2004), quanto os achados de necropsia (EASON; GOONERATNE; RAMMELL, 1994;
EGEKEZE; OEHME, 1979a) podem ser inespecíficos. Além disso, segundo Egekeze e Oehme
(1979a) o exame histopatológico é de pouco valor no diagnóstico dessa intoxicação (EGEKEZE;
OEHME, 1979a). Desta forma, até hoje, tem sido preconizado, que a confirmação do diagnóstico
da intoxicação por MF deve ser realizada através de análises toxicológicas que identifiquem esse
composto (SAKAI; MIYAHARA, 1981; EASON; GOONERATNE; RAMMELL, 1994). Antes
de tudo, devemos ressaltar que em 1959, Döbereiner e Tokarnia já consideravam a DHV dos
túbulos uriníferos contornados distais muito típica e de grande valor no estabelecimento do
diagnóstico da intoxicação por
P. marcgravii
em bovinos e, mais tarde, também foi demonstrada
a importância diagnóstica dessa lesão na intoxicação pelas outras 11 plantas que causam “morte
súbita” no Brasil (TOKARNIA; DÖBEREINER; PEIXOTO, 2000; BARBOSA et al., 2003;
OLIVEIRA et al., 2004; HELAYEL, 2008; OLIVEIRA et al., 2004), das quais, sabemos hoje,
que três delas contêm MF como princípio ativo (OLIVEIRA, 1963; KREBS; KEMMERLING;
HABERMEHL, 1994; CUNHA, 2008) e, possivelmente, também as outras nove plantas desse
grupo possuam essa substância. Contudo, a nosso ver, a DHV dos túbulos uriníferos contornados
distais é de grande valor no diagnóstico da intoxicação por MF e a sua ocorrência sempre deve
ser investigada em casos onde haja a suspeita dessa intoxicação, uma vez que essa lesão se
90
mostrou muito característica tanto nos ovinos desse estudo, como em bovinos recentemente
intoxicados por esse composto (NOGUEIRA, 2009).
O diagnóstico diferencial entre a intoxicação por MF e plantas que causam “morte
súbita”, deve ser realizado, sobretudo, com base nos dados epidemiológicos, uma vez que não há
quaisquer diferenças clínico-patológicas. Entretanto, devemos lembrar que, ao contrário do que
ocorre em bovinos, a intoxicação de ovinos por plantas desse grupo, sob condições naturais, é
pouco comum. São descritos apenas alguns surtos de intoxicação por
M. rigida
na Paraíba
(VASCONCELOS et al., 2008) e por
M. exotropica
no Rio Grande do sul (BANDARRA et al.,
2007). Embora a intoxicação criminosa por MF deva ser considerada em casos de “morte súbita”
de ovinos, acreditamos que sua ocorrência seja pouco provável, pois a comercialização desse
composto é proibida no país (ADESP, 2007). Por outro lado, sabe-se que este composto ainda é
ilegalmente comercializado por ambulantes (APEVISA, 2009) e que, se armazenado sob
condições adequadas, a sua toxidez é mantida por décadas (EISLER, 1995). Convém ressaltar
ainda que, recentemente, pelo menos 73 animais de diversas espécies morreram intoxicados, de
forma criminosa, por esse composto na Fundação Parque Zoológico de São Paulo (ORTIS,
2005).
Contudo, esse trabalho demonstra que tanto doses letais únicas como subdoses diárias de
MF induzem a DHV dos túbulos uriníferos contornados distais em ovinos. O que torna evidente
que o desenvolvimento de estudos no Brasil que envolvam a metabolização do MF por
bactérias ruminais tem grande aplicabilidade econômica, uma vez que pelo menos 600.000
bovinos morrem, anualmente, intoxicados por plantas que causam “morte súbita”. Cabe ressaltar
que pesquisadores australianos modificaram geneticamente a bactéria ruminal
Butyrivibrio
fibrisolvens
, através da introdução de um gene isolado de
Moxarella
sp., que codifica uma
dehalogenase, capaz de hidrolizar o MF tornando-o inócuo (GREGG et al., 1994, 1998). A
implementação dessa tecnologia no rebanho bovino brasileiro seria uma técnica profilática
viável contra a intoxicação por plantas que contêm o MF como princípio ativo.
91
6 CONCLUSÕES
O quadro clínico-patológico da intoxicação por MF em ovinos corresponde ao observado nos
casos de intoxicação por plantas brasileiras que causam “morte súbita”.
Através de administrações diárias de 1/2,5 e 1/5 da dose letal do MF a ovinos demonstrou-se
que, esse composto tem efeito acumulativo, à semelhança com o verificado em estudos realizados
em animais intoxicados com plantas do grupo das que causam “morte súbita”.
A alteração do funcionamento cardíaco (marcada redução da fração de encurtamento) induzido
pelo MF pode ser detectada através do exame ecocardiográfico.
A intoxicação por MF em ovinos cursa com azotemia, provavelmente, decorrente da lesão renal
desenvolvida durante o processo de excreção renal dessa substância.
Esse trabalho demonstra que, tanto doses letais únicas quanto subdoses diárias de MF induzem
a degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose
nuclear em ovinos, à semelhança com as recentes descrições de bovinos intoxicados com doses
únicas desse composto, o que confirma que essa substância é o princípio tóxico determinante da
morte dos animais intoxicados por plantas brasileiras que causam “morte súbita”.
92
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADESP, 2007. Associação das Empresas Controladoras de Pragas do Estado de São Paulo.
Disponível em: < http://www.adesp.org.br/noticias/noticias.php>. Acesso em: 07 jul. 2007.
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119
8 ANEXOS
Anexo A. Resumo dos protocolos dos experimentos
Ovino 5761 (SAP: 31260) fêmea, mestiça, com 3 anos de idade e 31kg. Em 04/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 112, FR 40, T 39,6º C, MR 1 em
um minuto, mucosas normocoradas e Ht 28%. No mesmo dia, às 21:16 foi administrado o MF
na dose única de 0,5 mg/kg de peso (15,5 mg) por via oral.
Os primeiros sinais clínicos foram
notados em 05/04/2008, às 11:22 horas (14 horas e 6 minutos após a administração); a evolução
do quadro clínico foi de 7 horas e 55 minutos. O animal apresentava-se em estação com tremores
em diversos grupos musculares, os quais eram mais intensos nos membros posteriores; exibia
respiração acelerada (FR 104) e predominantemente abdominal, constante balançar da cabeça
com presença de espuma avermelhada saindo pelas narinas e boca; à auscultação verificou-se
estertores. Às 11:23 horas, apresentou taquicardia (FC 216) e respiração dispneica (FR 104). O
quadro clínico permaneceu inalterado até às 11:36 horas, quando se agravou e verificou-se FC
248, respiração dispnéica predominantemente abdominal com acentuada taquipnéia (FR 104) e
intensos tremores musculares. À auscultação verificou-se edema pulmonar. Às 11:45 horas, o
animal tentou comer, mas sem êxito e apresentou FC 252. Às 11:51 horas, a respiração tornou-se
ruidosa (estertorosa) e muito acelerada (FR 152); o animal estava inquieto. Deitou às 11:54 horas
com o pescoço estendido e cabeça encostada no chão, após 19 minutos levantou-se e em seguida
deitou novamente. Às 12:18 horas, verificaram FC 184, FR 100, T 38,9º C, o animal continuou
com os mesmos sinais clínicos até 13:22 horas, quando levantou-se, urinou, defecou e passou a
deitar e levantar com frequência (inquietação). Às 14:06 o animal estava mais calmo e
apresentava FC 180, FR 80 e T 38,9º C, mas a respiração permaneceu ruidosa e dispnéica. Após
duas horas o animal manifestava respiração abdominal intensa (FR 96) ainda dispnéica e com
estertores, FC 212, T 38,8º C, apatia. Às 18:25 comeu capim picado e deitava e levantava com
frequência e observou-se FC 120 e FR 100. Às 19:14 levantou cambaleante e com intensa
dispnéia (FR 124) e respiração predominantemente abdominal. Um minuto depois entrou em
decúbito esternal, esticou os quatro membros e passou ao decúbito lateral esquerdo com o
pescoço esticado e encostado no chão. O animal morreu às 19:17 horas.
Achados de necropsia: veia cava caudal e cranial, ázigos e ilíacas dilatadas e repletas
++(+); jugulares ingurgitadas ++(+). Coração com moderada dilatação do lado esquerdo e direito.
Presença de líquido espumoso avermelhado da traquéia aos brônquios ++(+). Pulmões pesados,
brilhantes, irregularmente avermelhados, com pequenas áreas de atelectasia, acentuada congestão
e leve edema subpleural.
Ovino 5763 (SAP: 31269), fêmea, mestiça, com 2 anos de idade e 37kg. Em 17/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 84, FR 24, T 39,3°C, MR 1 e ½
em dois minutos, mucosas normocoradas e Ht 32%. No mesmo dia, às 17:37 horas foi
administrado o MF na dose única de 0,5 mg/kg de peso (18,5 mg) por via oral. O animal não
manifestou sintomas.
Ovino 5762 (SAP: 31261), fêmea, mestiça, com 6 meses de idade e 19kg. Em 05/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 120, FR 24, T 39,7º C, MR 1 em
um minuto, mucosas normocoradas e Ht 32%. No mesmo dia, às 03:15 foi administrado o MF
na dose única de 1,0 mg/kg de peso (19 mg) por via oral.
Os primeiros sinais clínicos foram
notados em 05/04/2008, às 16:35 horas (13 horas e 20 minutos após a administração); a evolução
120
do quadro clínico foi de 10 minutos. O animal apresentava-se de pé, com a cabeça baixa e
intensos tremores em diversos grupos musculares, taquicardia (FC 184), poucos segundos depois,
o animal subitamente começou a correr e a pular dentro da baia até chocar-se com a cabeça
contra a parede e cair em decúbito lateral esquerdo com a cabeça encostada no lado esquerdo do
tórax, apresentou opistótono, esticou os quatro membros e parou de movimentar-se. Às 16:38
horas, o animal começou a manifestar tremores musculares intensos, bem como, movimentos de
pedalagem com os 4 membros por 1 minuto e meio. Às 16:43 horas, verificou-se FC 216 com
moderada arritmia. O animal morreu às 16:45 horas.
Achados de necropsia: Veia cava caudal e cranial e ilíacas dilatadas e repletas ++(+);
vasos intercostais dilatados +(+). Presença de quido espumoso avermelhado do esôfago até a
base da língua. Havia líquido no saco pericárdico +(+) (hidropericárdio) e quido espumoso
avermelhado da traquéia aos brônquios ++(+), edema pulmonar. Lobos pulmonares caudais
pesados, armados e com pequenas manchas avermelhadas distribuídas por todo o parênquima;
lobos apicais com algumas manchas avermelhadas na face medial. Fígado com discreto
pontilhado branco.
Ovino 5765 (SAP: 31265), macho, mestiço, com 3 anos de idade e 53kg. Em 22/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 88, FR 36, T 39,2°C, MR 1 em
um minuto, mucosas normocoradas e Ht 35%. No mesmo dia, às 17:08 horas foi administrado o
MF na dose única de 1,0 mg/kg de peso (53 mg) por via oral. Os primeiros sinais clínicos foram
notados em 23/04/2008, às 02:52 horas (9 horas e 44 minutos após a administração); a evolução
do quadro clínico foi de 3 minutos. O animal apresentava-se em decúbito esternal, levantou-se e
subitamente correu em círculos dentro da baia por 10 segundos até cair em decúbito lateral
esquerdo; exibiu moderado tremor muscular nos membros pélvicos e de leve a moderado nos
torácicos e em seguida esticou os quatro membros. Às 02:54 horas verificou-se taquicardia (FC
180) com moderada arritmia. O animal morreu às 02:55 horas.
Achados de necropsia: veia cava caudal e cranial dilatadas e repletas ++(+), veia ilíaca
dilatada ++(+); jugular ingurgitada +++. O coração apresentava-se com o ventrículo direito
saculado, dilatado e com as aurículas congestas ++. Presença de líquido espumoso avermelhado
+(+) da traquéia aos brônquios do lobo caudal direito. O lobo caudal esquerdo do pulmão
apresentava, na superfície, uma área mais avermelhada irregular com pequenos pontos de
hemorragia (pequenas equimoses). A bexiga estava repleta.
Ovino 5764 (SAP: 31263), fêmea, mestiça, com 2 anos de idade e 36kg. Em 17/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 80, FR 32, T 39,0º C, MR 2 em
um minuto, mucosas normocoradas e Ht 27%. No mesmo dia, às 17:42 horas, foi realizada a
primeira administração do MF na dose subletal de 0,1 mg/kg de peso (3,6 mg) por via oral. No
dia seguinte 18/04/2008 às 17:05 horas, verificaram FC 92, FR 32, T 39,2º C e foi realizada a
segunda administração do MF na dose subletal de 0,1 mg/kg de peso. Em 19/04/2008 às 17:10
horas, verificaram FC 88, FR 32, T 38,2º C e foi realizada a terceira administração do MF na
dose subletal de 0,1 mg/kg de peso. No dia seguinte 20/04/2008 às 17:00 horas, verificaram FC
84, FR 44, T 38,6º C e foi realizada a quarta administração do MF na dose subletal de 0,1 mg/kg
de peso. Não
foram notados sinais clínicos e no dia seguinte 21/04/2008 às 8:00 horas, o ovino
foi encontrado morto em decúbito lateral esquerdo, dentro da baia, ainda quente (temperatura:
38º,1 C), não apresentava
rigor mortis
(a musculatura estava flácida), com as mucosas ainda
úmidas e sangue não-coagulado.
121
Achados de necropsia: Veia cava caudal e cranial dilatadas e repletas ++(+), veia ilíaca
dilatada ++ e vasos intercostais evidentes. Jugular ingurgitada ++(+). Coração com petéquias no
epicárdio +(+) e aurículas esquerda e direita congestas +++. Presença de líquido espumoso
avermelhado da traquéia aos brônquios +. Pulmões congestos +(+) e com edema +.
Ovino 5766 (SAP: 31266), macho, mestiço, com 3 anos de idade e 44kg. Em 19/04/2008
foi realizado exame clínico completo. O animal apresentou FC 92, FR 32, T 38,6°C, MR 2 em
um minuto, mucosas normocoradas e Ht 34%. No mesmo dia, às 17:00 horas, foi realizada a
primeira administração do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso (8,8 mg) por via oral. No
dia seguinte 20/04/2008 às 16:40 horas, verificaram FC 104, FR 32, T 38,7º C e foi realizada a
segunda administração do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso. Em 21/04/2008 às 16:57
horas, verificaram FC 80, FR 44, T 39,3º C e, em seguida, foi realizada a terceira administração
do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso. No dia seguinte 22/04/2008 às 16:11 horas,
verificaram FC 76, FR 24, T 39,2º C. Quarenta minutos depois, realizou-se a quarta
administração do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso. Os primeiros sinais clínicos foram
notados logo após o exame ultra-sonográfico em 23/04/2008, às 09:31 horas (3 dias, 16 horas e
31 minutos após a administração); a evolução do quadro clínico foi de 33 horas e 5 minutos. Ao
fim do exame ultra-sonográfico, o animal se manteve em decúbito esternal, apresentava tremores
em diversos grupos musculares e taquicardia (FC 148). O quadro clínico permaneceu inalterado
até às 10:24 horas, quando o animal levantou-se e os sintomas ficaram menos evidentes,
verificou-se FC 136, FR 32 e T 38,2º C. Às 14:01 horas, o animal estava mais calmo, deitou e
ruminou. Trinta minutos depois, o animal manifestava leves tremores musculares na região da
escápula e glútea, e verificaram FC 112, FR 32, T 38,2º C. Às 17:03 horas, foi realizada a quinta
administração do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso. Uma hora depois, o animal
apresentava-se um pouco apático, verificaram FC 124, FR 32, T 38,8º C e começou a deitar e
levantar com frequência. Durante o exame clínico, realizado às 20:01 o animal levantou-se e
apresentou FC 136, FR 24, T 39,3º C. Uma hora depois, ainda apresentava taquicardia (FC 144).
Às 22:29 horas, apresentou intensa taquicardia (FC 184), FR 24 e 39,5º C. No dia seguinte
24/04/2008 às 00:00 horas, verificaram FC 156, FR 28, T 39º C, apatia e relutância ao
movimento. Duas horas depois apresentava a jugular ingurgitada e mantinha relutância à
movimentação, verificou-se FC 108, FR 32, T 38,4º C. Meia hora depois, o animal apresentava-
se de pé, parado e com a cabeça baixa. Após dez minutos, deitou-se e permaneceu deitado,
apático até o próximo exame clínico às 05:00 horas, quando levantou cambaleante, urinou,
apresentava relutância ao movimento e FC 120, FR 24, T 38,2º C. Em seguida, deitou-se com o
pescoço estendido e com a cabeça encostada no chão. Às 07:50 horas, o animal ficou de pé com a
cabeça baixa, apático, apresentava tremores musculares em diversos grupos musculares e FC
108, FR 32, T 37,8º C. Em seguida, passou a deitar-se e a levantar-se com frequência. O quadro
clínico permaneceu inalterado até às 09:40 horas, quando se agravou e verificou-se FC 132,
respiração abdominal moderada e taquipneica (FR 80), T 37,9º C e tremores musculares mais
intensos. Vinte minutos depois, deitou-se com o pescoço estendido e a cabeça encostada no chão.
Às 10:15 horas, o animal ficou de mas permaneceu com a cabeça baixa e respiração
predominantemente abdominal (FR 64). Dez minutos depois, estava inquieto, deitava e levantava
várias vezes. Após 5 minutos, o animal apresentava-se apático e deitou-se com o pescoço
esticado e com a cabeça encostada no chão. Verificou-se a FC em intervalos de
aproximadamente quinze minutos, durante uma hora; às 10:30 horas, observou-se FR 36, e FC
128, e em seguida FC 136, 144, 156 e às 11:30 horas 136. O quadro clínico se manteve inalterado
até ás 13:56 horas, quando verificou-se gradativa diminuição da FC (120, 116 e 112) em
122
intervalos de uma hora até as 15:56 horas. Em seguida, às 16:25 horas, foi realizado o exame
ultra-sonográfico. Durante o exame verificou-se acentuada taquicardia (FC 184) e taquipnéia (FR
120). Ao término do exame, vinte minutos depois, o animal deitou-se e encostou a cabeça no
chão. Dez minutos depois, o animal apresentou arritmia e FC 128. Às 17:00 horas, foi realizada a
sexta administração do MF na dose subletal de 0,2 mg/kg de peso. O animal não comeu nada o
dia todo, apesar de ter sido fornecido capim à vontade no cocho. Às 17:23 horas, o animal estava
de pé com a cabeça baixa e verificaram FC 120, FR 36 e T 38,7º C. Às 18:08 horas, deitou-se em
decúbito esternal e após 12 minutos apresentava FC 204. Às 18:30 horas, o animal passou para o
decúbito lateral direito. Quatro minutos depois, apresentava taquicardia (FC 200), arritmia,
respiração abdominal intensa (FR 92). Um minuto depois, esticou os membros posteriores,
flexionou os anteriores e exibiu leve opistótono. O animal morreu às 18:36 horas.
Achados de necropsia: veia cava caudal e cranial dilatadas e repletas ++(+), veia ilíaca
dilatada ++(+) e vasos intercostais dilatados +(+). Jugular ingurgitada ++(+). Modera dilatação
cardíaca direita e esquerda. Aurículas esquerda e direita congestas ++. Hidropericárdio +.
Presença de líquido espumoso avermelhado da traquéia aos brônquios ++(+). Pulmão “armado”
com presença de petéquias e equimoses na superfície e, ao corte saia líquido espumoso +(+)
123
Anexo B. Incidência de DHV em bovinos e coelhos intoxicados experimentalmente pelas plantas
brasileiras que causam “morte súbita”.
Planta Intoxicação pelas folhas
frescas
Intoxicação pelas folhas
dessecadas
Espécie animal
Bovinos Coelhos
Palicourea marcgravii
18/27
a
66,6%
14/116
12,0%
Palicourea aeneofusca
1/2
50%
____
Palicourea juruana
1/3
b
33,3%
3/14
21,4%
Palicourea grandiflora
4/6
66,6%
1/7
14,2%
Arrabidaea bilabiata
4/9
44,4%
9/26
34,6%
Arrabidaea japurensis
7/8
87,5%
1/9
11,1%
Pseudocalymma elegans
3/8
37,5%
1/13
7,7%
Mascagnia rigida
3/7
42,8%
5/7
71,4%
Mascagnia pubiflora
3/5
60%
3/7
42,8%
Mascagnia
aff.
rigida
3/6
50%
7/14
50%
Mascagnia exotropica
3/5
60%
____
Mascagnia elegans
____ ____
Tabela adaptada de Peixoto et al. (1987) e Tokarnia, Döbereiner e Peixoto (2000).
Dados referentes à intoxicação por Palicourea juruana em bovinos (OLIVEIRA et al., 2004).
Dados referentes à intoxicação por Pseudocalymma elegans coelhos (HELAYEL, 2008) e Tavares, Rezende e Döbereiner (1974).
a
Em búfalos 1/3 (33,3%), Barbosa et al. (2003).
b
Em búfalos 1/1 (100%), Oliveira et al. (2004).
124
Anexo C. Comparação do quadro clínico da intoxicação pelo MF e por plantas que causam “morte súbita” manifestado por diversas espécies
animais. Complementação e modificações das categorias propostas por Chenoweth e Gilman (1946) (continua).
Categoria Espécie
animal
Principais sinais clínicos da
intoxicação por MF
Referências Principais sinais clínicos da
intoxicação por plantas que
causam “morte súbita”
Referências
Ovinos
a
Agitação, hiperatividade, alterações
posturais, diminuição dos
movimentos ruminais, fraqueza,
incontinência urinária, taquicardia,
arritmia, pulso fraco, taquipnéia,
dispnéia, espasmos e tremores
musculares, caem ao solo e/ou
entram em decúbito, apresentam
movimentos de pedalagem e morte.
Schultz et al. (1982); Jensen,
Tobiska e Ward, 1948);
Annison et al. (1960).
Taquipnéia, taquicardia, relutância
em mover-se, decúbito esterno-
abdominal, andar com passos curtos
e membros rígidos, tremores
musculares generalizados, fraqueza,
incapacidade de ficar de pé,
decúbito lateral, respiração ofegante
e espaçada, dispnéia, movimentos
de pedalagem intermitentes,
opistótono e morte.
Tokarnia, Peixoto e Döbereiner (1986);
Consorte, Peixoto e Tokarnia (1994);
Vasconcelos et al. (2008).
Caprinos
Depressão, fraqueza, tremores
musculares, taquipnéia, dispnéia,
ranger de dentes, vômito, balidos
frequentes, opistótono, fibrilação
ventricular e morte.
Chenoweth e Gilman (1946);
Foss (1948); Joon et al.
(1982).
Relutância em caminhar, andar com
os membros gidos, decúbito
esterno-abdominal, taquicardia,
taquipnéia, respiração ofegante,
dispnéia, arritmia, tremores
musculares, instabilidade, balidos
frequentes, decúbito lateral,
ingurgitamento das veias jugulares,
pulso venoso positivo, movimentos
de pedalagem, opistótono e morte.
Pacheco e Carneiro (1932a); Tokarnia, Peixoto
e Döbereiner (1991); Tokarnia, Peixoto e
Döbereiner (1993); Vasconcelos et al. (2008).
I
O efeito se faz
primariamente
sobre o
coração
Bovinos
a
Taquicardia, jugular repleta com
pulso venoso positivo, respiração
abdominal, perda de equilíbrio,
apoiam a cabeça no flanco,
levantam e deitam em decúbito
esternal repetidamente, poliúria,
tremores musculares, sialorréia,
veias da face ingurgitadas, queda,
decúbito lateral, movimentos de
pedalagem, respiração ofegante,
opistótono, nistagmo, mugidos e
morte.
Nogueira (2009); Robison
(1970); Schnautz (1949);
Jubb, Kennedy e Palmer
(2007).
Pulso venoso positivo,
instabilidade, perda de equilíbrio,
taquipnéia, dispnéia, taquicardia,
relutância em mover-se, micção
frequente, nistagmo, tremores
musculares, decúbito esterno-
abdominal e, posteriormente,
lateral, queda, movimentos de
pedalagem, mugidos, opistótono,
tremores musculares
Döbereiner e Tokarnia (1959); Tokarnia,
Canella e Döbereiner (1961); Tokarnia et al.
(1969); Tokarnia e Döbereiner (1973);
Tokarnia e Döbereiner (1981); Tokarnia,
Döbereiner e Silva (1981); Tokarnia e
Döbereiner (1982); Döbereiner, Tokarnia e
Silva (1983); Tokarnia et al. (1983); Tokarnia,
Döbereiner e Peixoto (1985); Tokarnia e
Döbereiner (1986); Tokarnia et al. (1990);
Gava et al. (1998); Tokarnia, Döbereiner e
Peixoto (2000); Barbosa et al. (2003); Oliveira
et al. (2004); Tokarnia et al. (2004); Helayel
(2008).
a
Chenoweth e Gilman (1946), não realizaram experimentos com bovinos e ovinos, e, portanto não agruparam essas espécies em nenhuma categoria. A nosso ver,
essa espécie deve ser incluída
na categoria I.
125
I
O efeito se faz
primariamente
sobre o
coração
Coelhos
Distúrbios motores, tremores,
fraqueza muscular, incordenação,
hipersensibilidade sonora, apatia,
letargia, inquietação, dispnéia,
alteração comportamental,
hipotermia, fibrilação ventricular e
morte.
Chenoweth e Gilman (1946);
Foss (1948); Meldrum e
Bignell (1957); Mcilroy
(1982a); Quin e Clark (1947);
Nwude et al. (1977); Huang et
al. (1980).
Súbitos movimentos desordenados,
debatem-se e/ou pulam, em geral,
violentamente, caem em decúbito
lateral ou esternal, apatia, tremores,
respiração ofegante e espaçada
seguido de morte.
Pacheco e Carneiro (1932a); Peixoto et al.
(1987); Tokarnia e Döbereiner (1982);
Döbereiner e Tokarnia (1983); Jabour et al.
(2006); Döbereiner, Peixoto e Tokarnia (1984);
Döbereiner e Tokarnia (1982); Tavares,
Rezende e Döbereiner (1974); Döbereiner et al.
(1986); Górniak (1986); Tokarnia, Döbereiner e
Canella (1987); Tokarnia, Döbereiner e
Peixoto, (1994).
Gatos
Sialorréia, vômitos, miados
frequentes, midríase, nistagmo,
taquipnéia, dispnéia,
hiperexcitabilidade (reflexos
exagerados e hiperestesia à luz e ao
toque) hipotermia, incontinência
urinária, tremores musculares,
ataxia, convulsões tônico-clônicas
e, ocasionalmente, fibrilação
ventricular e morte.
Chenoweth e Gilman (1946);
Foss (1948); Collicchio-
Zuanaze et al. (2006);
Gammie (1980).
Vômitos, miados frequentes,
nistagmo midríase, apatia,
hiperexcitabilidade,
hipersensibilidade a estímulos
externos, tremores musculares e
convulsões
b
.
Brito (2009, dados-não publicados)
b
.
II
O efeito se faz
tanto sobre o
coração
quanto sobre o
SNC
Equinos
c
Podem manifestar, além da
fibrilação ventricular evidências de
colapso circulatório incluindo
fraqueza, taquipnéia, hipotermia
tremores musculares, sudorese
profusa e pulso acelerado com
evolução a óbito por insuficiência
respiratória.
Chenoweth e Gilman (1946);
Quin e Clark (1947); Egekeze
e Oehme (1979a).
Sinais de insuficiência cardíaca,
como pulso venoso positivo,
conjuntivas congestas, respiração
ofegante, dispnéia e sintomatologia
nervosa caracterizada por sudorese
intensa, inquietação, tremores,
movimentos abruptos involuntários
da cabeça ou generalizados (tiques),
instabilidade, incordenação e
flacidez do lábio inferior.
Pacheco e Carneiro (1932a); Tokarnia et al.
(1993); Tokarnia et al. (1995).
Cães
Vômitos, micção frequente, latidos
excessivos, sialorréia, espuma na
boca e narinas, taquipnéia,
convulsões tônico-clônicas
recorrentes, dispnéia e morte.
Chenoweth e Gilman (1946);
Chenoweth (1949); Egyed e
Shupe (1971); Buch et al.
(1976).
Vômitos frequentes, acentuada
sialorréia, latidos excessivos,
episódios convulsivos intermitentes,
rigidez muscular, opistótono e
morte.
Pacheco e Carneiro (1932a).
III
O efeito se faz
primariamente
sobre o SNC
Cobaios
Episódios convulsivos,
hiperexcitabilidade, dispnéia,
apreensão e convulsões tônicas.
Chenoweth e Gilman (1946);
Quin e Clark (1947); Foss
(1948).
Hiperexcitabilidade, tremores
musculares, incoordenação,
movimentos de pedalagem,
convulsões e morte.
Pacheco e Carneiro (1932a); Tavares, Rezende
e Döbereiner (1974); Górniak (1986).
b
Sinais clínicos manifestados por gatos após a ingestão acidental de carcaças de ratos experimentalmente intoxicados com extratos aquosos de M. rigida e P. elegans
(possível intoxicação
secundária).
c
Chenoweth e Gilman (1946) agruparam equinos intoxicados por MF na categoria I, no entanto, afirmaram ser difícil determinar se havia, de fato, ausência de sintomas nervosos, uma vez que
os
animais foram anestesiados. Anos depois, outros autores descrevem sintomas referentes também ao SNC (E
GEKEZE; OEHME, 1979a). Desta forma, acreditamos que essa espécie deva ser
incluída na categoria II.
Anexo C. Continuação.
126
Ratos
Fraqueza, severa bradicardia,
apatia, prostração, pelos arrepiados,
midríase, tremores, taquipnéia,
dispnéia, alteração postural,
hiperexcitabilidade, vocalizações
atípicas, tremores de cabeça,
espasmos musculares, convulsões
do tipo tônicas e tônico-clônicas,
movimentos de pedalagem e morte.
Chenoweth e Gilman (1946);
Egekeze e Oehme (1979a);
Foss (1948); Hayes et al.,
(1973); Eckschimidt et al.
(1989); Moraes (1993);
Górniak, Palermo-Neto e
Spinosa (1994); Cunha
(2008).
Apatia, progressiva prostração,
pelos arrepiados, taquipnéia,
dispnéia, decúbito abdominal,
tremores musculares, mioclonia
facial, tremores de cabeça,
convulsões do tipo tônicas e tônico-
clônicas, movimentos de pedalagem
e morte.
Pacheco e Carneiro (1932a); Pinto et al. (2008).
Górniak (1986); Górniak (1988); Eckschimidt
et al. (1989); Moraes (1993); Górniak, Palermo-
Neto e Spinosa (1994); Cunha (2008).
III
O efeito se faz
primariamente
sobre o SNC
Hamsters
d
Fraqueza, severa bradicardia,
tremores, hiperexcitabilidade,
hipersensibilidade a estímulos,
alteração postural e convulsões
tônicas.
Chenoweth e Gilman (1946); Episódios convulsivos seguidos de
morte
Górniak (1986).
d
Segundo a classificação de Chenoweth e Gilman (1946), ratos e hamsters pertencem à classe IV, por apresentarem sintomatologia atípica. Estudos posteriores demonstraram que ratos
intoxicados por esse composto apresentam típica sintomatologia nervosa, caracterizada, em especial, por frequentes convulsões (FOSS, 1948; EGEKEZE; OEHME 1979a; CUNHA, 2008;
PEIXOTO et al., 2009 dados-não-publicados). Contudo, somos da opinião que ratos e hamsters pertencem à classe III.
Anexo C. Continuação.
127
Anexo D. Período decorrido entre a administração de doses únicas de folhas frescas de
Palicourea marcgravii
e a morte dos bovinos e a intensidade da DHV.
Bovino n° Dose
g/kg
Tempo decorrido entre a
administração da planta e a
morte do animal
Intensidade da
DHV
*
3433 1,2 -
3445 1,0 ++(+)
3982 2,0 +
3983 2,0 -
4067 2,0 ++
4087 2,0 (+)
866 2,1 -
880 2,1 -
3432 3,0 -
4176 3,0 +
4272 3,3
Até 8h
-
3442 0,77 +
3434 1,8 +++
3583 2,0 -
4271 1,24 +++
500 5,41 ++
953 15 -
3973 5,0
Entre 8h e 12h
-
955 1,7 +++
956 0,5 ++(+)
3769 0,6 +++
3773 0,4 +++
4174 1,0 +(+)
505 6,6 ++
508 3,3 +++
843 3,1 ++
4182 3,2
Mais de 12h
++(+)
Tabela adaptada de Tokarnia e Döbereiner (1986).
*
Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear: acentuada +++,
moderada a acentuada ++(+), moderada + +, leve +, leve a moderada +(+), discreta (+), ausente -.
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