RESUMO
A malária é uma doença infecto-parasitária que ainda hoje acomete cerca de 500
milhões de pessoas e mata um milhão no mundo a cada ano, principalmente no
continente africano. No Brasil, são registrados cerca de 500 mil casos anuais, dos
quais 99,7% ocorrem na Amazônia Legal. Anopheles neotropicais são importantes
vetores do parasito da malária humana. A colonização destes vetores em laboratório
é de suma importância para se estudar características biológicas e comportamentais
visando, entre outros, seu controle. No entanto, é sabido que algumas espécies de
anofelinos neotropicais possuem certas limitações para a colonização em laboratório.
Neste estudo, colonizamos uma espécie críptica, pertencente ao Complexo
Albitarsis, Anopheles marajoara, incriminada como vetor primário de malária no
estado do Amapá, Brasil. Por meio da técnica de cópula induzida, alcançamos até o
momento a geração F19. Também foram avaliados alguns aspectos básicos do
desenvolvimento e da reprodução de Anopheles albitarsis e Anopheles aquasalis,
duas espécies já estabelecidas no laboratório. Com relação ao desenvolvimento,
verificamos que a viabilidade de larvas L1 até a emergência do adulto de Anopheles
albitarsis, utilizando o mesmo procedimento de criação da colônia e diferentes
quantidades (60 e 100 larvas por bacia), ficou em torno de 35%. Observamos ainda
que estas diferentes condições não interferiram na cinética de emergência dos
adultos. A emergência de machos adultos antecede a de fêmeas, confirmando
resultados da literatura. Verificamos que o período de tempo entre o repasto
sanguíneo e a postura influencia a taxa de eclosão das larvas de forma distinta para
cada espécie. Realizamos ensaios de longevidade comparando diversas situações
fisiológicas: fêmeas virgens e acasaladas, alimentação apenas com açúcar, ou
adicionada de repasto sanguíneo e, neste último caso, com possibilidade ou não de
realização de postura. Todos os grupos de Anopheles albitarsis foram equivalentes,
embora houvesse tendência a menor longevidade de fêmeas alimentadas
exclusivamente com açúcar. No caso de Anopheles aquasalis, ao contrário, a menor
longevidade foi detectada em fêmeas que fizeram repasto sanguíneo. Com relação
aos aspectos reprodutivos, observamos em Anopheles albitarsis que, com exceção
de 25 casais por gaiola, todas as outras densidades avaliadas, até 250 casais por
gaiola, proporcionaram pelo menos 60% de fêmeas inseminadas. Na avaliação da
influência do tempo de contato entre machos e fêmeas Anopheles albitarsis sobre a
eficácia de cópula livre, usando densidade de 100 casais por gaiola, obtivemos
percentuais crescentes de fêmeas inseminadas entre três e seis noites de contato,
quando taxa superior a 80% foi alcançada. Utilizando a técnica de cópula induzida
com Anopheles albitarsis, verificamos que quase 100% dos machos utilizados com
até quatro dias de idade adulta agarram as fêmeas e aproximadamente 70% as
inseminam. Machos mais velhos tendem a perder sua eficiência para agarrá-las;
entretanto, a maioria dos que conseguem agarrar, as inseminam. Identificamos ainda
que um mesmo macho, com três dias de idade, pode ser usado com sucesso para
copular continuamente até quatro fêmeas com percentual de aproximadamente 60%.
Os parâmetros avaliados servem como ferramenta para tornar mais eficiente a
criação de anofelinos neotropicais em condições de laboratório. A colonização de
Anopheles marajoara será usada, inicialmente, para estudos de isolamento
reprodutivo das espécies do Complexo Albitarsis.