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vergonha nenhuma p’ra mim...” (S: 354) Agenor replica com o seu tradicional “Ô diabo!” e a
conversa continua:
- Mas, aí, quando eu vi que estava ali estava morto sem santos-óleos,
clamei o nome de Nossa Senhora, porque pular é que eu podia pular mais...
Então, me deu um repente, e eu fiquei brabo e gritei ordens: - Segura,
Camurça! Segura, Melindre!... - Ai, meus boizinhos de minha junta do coice,
boizinhos bons, de peso e sujeição!...
- Sei deles... Bois de lei...
- Ara, se ara!... Abaixo de Deus, eu tiro o chapéu p’ra eles dois, porque
foram que me salvaram!... Só eu gritar, e eles estacando e estribando, e não
arredaram mais. Foi mesmo no lugar da ladeira a pique, ali no meio do
escorregador da descida... Sem desageração, mas era só o carro fazendo peso
p’ra descer, e cortando, sem licença de aluir do lugar, porque Melindre mais
Camurça sojigavam o chão com os cascos, mas não entregavam o corpo!... Eu
mesmo nunca vi bois p’ra terem tanto poder desse jeito: aquilo eles garraram a
sapatear, virando roda, e ficaram tremendo assim. (S: 354)
João Bala em seu relato diverge de Agenor, pois clama por Nossa Senhora, além disso,
faz o elogio aos bois, concede-lhes lugar privilegiado “abaixo de Deus” e reconhece-lhes o
“poder”. Mais adiante afirma enternecido: “Magina, se não fossem meus boizinhos
abençoados!” (S: 355) Na despedida, Agenor garante que confirmará a todos a versão do
colega. Mas, ao subir em seu carro, se desdiz: “Bestagem!... Patranha de violeiro ruim que
põe a culpa na viola. Tião, esperta, que eu quero mostrar p’ra esse João Bala como é que que
a gente sobe o Morro-do-Sabão!...”(S: 356) E para melhor se exibir sobe no cabeçalho.
Porém, pede a Tiãozinho para conversar com os bois por ele (atitude contraditória, pois se
julga o melhor). Reconhece, desse modo, a competência do menino por ele contestada em
toda a viagem.
Sobem o morro. Para espantar a tristeza o menino tenta desviar o pensamento e se
concentra no nome e nas características das vacas do Major Gervásio: Espadilha, Bolívia,
Azeitona, Mexerica, Porcelana, Guiamina.
Em Entremeio com o Vaqueiro Mariano, Guimarães Rosa registra um número
significativo de nomes (entre eles, Pombinha, Biela, Boliviana, Moeda, Careta, Paraguanha,
Piorra, Olho-Preto, Já-foi-Minha, Dois-Bicos, Saudade, Coca, Silina, Sarada, Cantiga,
Europa, Só-sozinha, Catarina, Jeitosa, Me-Ama, Abalha, Chumbada, Passa, Cozinheira, Bem-
feitinha, Cebola, Capivara, Senhora, De-Casa, Garrucha Lorota Rabeca, Sota Rapadura Dá-
duas, Estrela, Estrangeira) e características das vacas, ressaltando-lhes a cor, as “manias”, o
porte, os hábitos, os berros e até o leite. Descreve diferentes consistências do líquido: suco
espesso de amêndoas, gorda neve e espumada, leite cuspe e creme de luar. Além de informar