
E estando visto nestes termos, o quaes os nossos inimigos não podem
ignorar, discorro, que todas as Tropas que temos em Viamão, e naquellas
partes, se achão em evidente perigo de poderem ser cortadas, e nos todos no
mesmo risco de ficarmos impedidos para as poder socorrer, por que se aos
inimigos lembrar, o mandarem tomar o Porto de Ararangua e sobindo a
Serra ou fazendo descer de Missoens Indios que impidão a passage do
Rio das Pelotas, fica cortada (a meo parecer) toda a passage para
Viamão, e embaracada a praya, e caminho do Sertão por donde
haviamos de mandar todos os Socorros, ficando desta sorte as nossas
Tropas e todo aquelle Contin.
te
a ponto de se Render sem Remedio.
V. Ex.ª ha de achar nessa Cidade algu bom pratico, do qual poderá
informarse e examinar melhor a sustancia deste ponto, para lhe dar prompta
providencia, que eu pelo modo que posso, tenho nomeado hum Capitão
Mor para hir congregar a gente que se acha espalhada por aquelle Sertão
do Rio das Pelotaz, com Ordem de o defender de toda a invazão, q por
aly possão intentar os inimigos, e lhe tenho feito comprar polvora, e
expedido as Ordens necessariaz; porem como a distancia he de trezentas
Leguas, receyo eu, que este remedio não chegue a tempo, ou que o dito
Capitão Mor, não execute o que promete, e o que lhe ordeno, depois de se
achar tão remoto, donde não pode receyarlo castigo. [AHU_ACL_CU_023-01,
cx. 29, doc. 2644, 1766, fl.1 v. e 2, grifo nosso]
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.
Em outra correspondência, de Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, o
Morgado de Mateus, Capitão General e Governador da Capitania de São Paulo, ao
Conde de Oeiras, dando conta do estado em que se achava esta capitania,
menciona detalhadamente, em fins de março de 1766, a situação em que se
encontravam os Campos de Lages, descrevendo os seus limites geográficos:
Nos Campos das Lages, q‟ são os ultimos confins, q‟ hoje tem esta Capitania,
da parte do Sul, e se estendem em te ás bordas do Rio das Pelotas, cuja
margem he inaccessivel, e não ha passágem em todo elle mais q’ hum
só unico paso, q’ se atravessa com perigo em canoas; se achão retirados
muitos moradores daquelles q‟ vivião em Rio grande ao tempo q‟ o
devastarão os Castelhanos, e passado o dito Rio das Pelotas se seguem os
largos Campos da Vaccarîa, q‟ se estendem por muitas legoas em te Missões.
Considerando eu estas circonstancias julgo ser o passo do Rio das Pelotas
hum posto muito importante, porq‟ pela facilidade, com q‟ podem descer
de Missões pelos Campos da Vaccaria, o podem tomar; e tomandoo nos
fechão a passage, e unico caminho, q’ temos por sima da Serra p.
a
Viamão: Falei a hum Paulista, q‟ tem Fazendas naquellas vizinhanças com
intento de o fazer mudar com toda a sua Familia p.
a
aquellas terras p.
a
ali
me servir de Capitão mor; e poder ajuntar, e aleitar aquella gente, e tela
prompta p.
a
defender a dita passage do Rio das Pelotas: O tal Paulista está
rezolvido a mudarse com a sua Familia, porem como a distancia q’ ha de S.
Paulo áquele destricto he de trezentas legoas não poço segurar que elle
execute o q‟ eu lhe ordenno, e elle me promete, depois de se ver tão longe
donde não pode recear muito o castigo. (IAN/TT, 1766, fl. 6, grifo nosso)
.
Neste documento, obtêm-se informações interessantes para a análise do
trecho do Caminho das Tropas situado nos Campos de Lages. A primeira referência
Documento manuscrito: CARTA de Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus,
Capitão General e Governador da Capitania de São Paulo, ao Conde de Oeiras, [...]. Santos, 30 de
março de 1766. IAN/TT, Fundo do Ministério do Reino – Governo Ultramarino, maço 600, caixa 703,
folhas 1, 1 v., 2, 2 v., 3, 3 v., 4, 4 v., 5, 5 v., 6, 6 v., 7 e 7 v.