
65
O Sr. Ministro da Agricultura não considerou o indígena apenas
como um trambolho embaraçoso que a civilização remove pelo
extermínio, como preconizou o sr. von Ihering, ou relega, por
uns restos de complacência, para a catequese espontânea dos
missionários e a disciplina vegetativa dos aldeamentos inúteis; o
ilustre republicano teve a coragem de afirmar oficialmente que o
indígena era um homem, com os mesmos direitos dos outros
homens dentro do país em que nasceu
169
.
Nesse mesmo ano, alguns meses depois, durante o Governo do Presidente Nilo
Peçanha, foi criado o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores
Nacionais/SPILTN
170
, repartição inicialmente subordinada ao Ministério da Agricultura
que, a partir de 1930, passou a integrar o Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio
171
.
O Projeto que o propunha foi encaminhado pelo Ministro Rodolfo Miranda,
contendo as diretrizes que iriam nortear os atos do SPILTN que passou a vigorar a partir
de 20 de junho de 1910 pelo Decreto nº 8.072, tendo, sua inauguração agendada para o
dia 7 de setembro do mesmo ano
172
. Nascia alicerçado sobre uma base republicana
positivista, pois, desta forma, com a atuação do órgão recém-criado, os índios seriam
pacificados e engajados no processo produtivo. O país ficaria livre da censura de
entidades humanistas internacionais e das pressões da opinião pública nacional, que
condenavam a chacina de índios
173
. No cargo de diretor-geral assumia Cândido Mariano
da Silva Rondon
174
e no de secretário, Luiz Bueno Horta Barbosa
175
.
Antonio Carlos de Souza Lima, antropólogo, comenta sobre o motivo da
divergência das datas da criação e inauguração pública do SPI, que contemplou o dia 07
de setembro para atender ao gosto positivista ortodoxo pelas datas significantes da
169
Jornal O Paíz. Proteção aos selvagens. 22/06/1910. Apud. GAGLIARDI, op. cit., p. 227.
170
Não é objetivo desta pesquisa reconstituir todo o contexto que envolveu a criação do SPI.
Remetemos o leitor ao estudo realizado por LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um Grande Cerco de Paz:
poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1995. Para acompanhar
a função social do SPI em Santa Catarina remete-se o leitor ao Capítulo III de NÖTZOLD, Ana Lúcia
Vulfe. Nosso Vizinho...passim.
171
LIMA, op. cit., p. 12.
172
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no
Brasil moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 157.
173
GAGLIARDI, op. cit., p. 227.
174
Militar, que teve sua carreira indigenista iniciada em 1890, ao ser designado pelo exército para
construção da linha telegráfica Cuiabá-Araguaia. Foi o primeiro Diretor do SPI e posteriormente exerceu o
cargo de orientador. RIBEIRO, op. cit., p. 132 e 160. Cândido Mariano da Silva Rondon inicia sua
atividades no SPI (1910/1930) como Tenente-coronel e sai General. In: LIMA, op. cit. p. 338.
175
Civil, professor universitário, intelectual positivista, devoto à causa indígena, dirigiu durante
anos o SPI, formulou os princípios básicos da política indigenista brasileira. Ibid., p. 176 e 509.