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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ÁREA EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE
LINHA DE PESQUISA: “EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE”
GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ÁGUAS PANTANEIRAS NOS RITOS, MITOS E
GRITOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
DOLORES APARECIDA GARCIA-WATANABE
PROF.ª ORIENT. MICHÈLE SATO
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Cuiabá/2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ÁREA EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE
LINHA DE PESQUISA: “EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE”
GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ÁGUAS PANTANEIRAS NOS RITOS, MITOS E GRITOS DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
DOLORES APARECIDA GARCIA-WATANABE
CUIA – MT
2005
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
-
Gra
duação em Educação, do Instituto de Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte
dos requisitos para a obtenção de título de “Mestre
em Educação”, na linha de pesquisa em Educação e
Meio Ambiente, sob a orientação da
PROF.ª DR.ª
MICHÈLE SATO
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Índice para Catálogo Sistemático
1. Educação Ambiental
2. Mitos
3. Lendas
G216a Garcia-Watanabe, Dolores Aparecida
Águas pantaneiras nos ritos, mitos e gritos da educação
ambiental / Dolores Aparecida Garcia-
Watanabe._ _ Cuiabá:
UFMT/IE, 2006.
xiii, 123 p.:il. color.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em
Educação, do Instituto de Educação
da Universidade Federal de
Mato Grosso como parte dos requisitos para a obtenção do
título de “Mestre em Educação”, na linha de pesquisa em
Educação e Meio Ambiente, sob a orientação da Profª Drª
Michèle Sato.
Bibliografia: p. 122-123
CDU – 37: 504
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UFMT
Professores Componentes da Banca Examinadora
________________________________________________
Prof.° Dr.Valdo Barcelos
Examinador Externo
________________________________________________
Prof.° Dr. Luiz Augusto Passos
Examinador Interno
Prof.ª Dr.ª Michèle Sato
Orientadora
Cuiabá, 16 de dezembro de 2005
SÃO PEDRO DA JOSELÂNDIA
Imagem 2: religiosidade de São Pedro
Fonte: Dolores Garcia
Local: São Pedro Joselândia
Data: maio/2005
iv
DEDICATÓRIA
v
Tenho como espelho de minhas lutas, imputadas a alcançar o meu intento, a
Tenho como espelho de minhas lutas, imputadas a alcançar o meu intento, a Tenho como espelho de minhas lutas, imputadas a alcançar o meu intento, a
Tenho como espelho de minhas lutas, imputadas a alcançar o meu intento, a
dedicada e incansável Professora Michèle Sato, no papel de orientadora. Seu incontestável e
dedicada e incansável Professora Michèle Sato, no papel de orientadora. Seu incontestável e dedicada e incansável Professora Michèle Sato, no papel de orientadora. Seu incontestável e
dedicada e incansável Professora Michèle Sato, no papel de orientadora. Seu incontestável e
profundo conhecimento na área de Educação Ambiental, proporcionou
profundo conhecimento na área de Educação Ambiental, proporcionouprofundo conhecimento na área de Educação Ambiental, proporcionou
profundo conhecimento na área de Educação Ambiental, proporcionou-
--
-me momentos d
me momentos dme momentos d
me momentos d
e
e e
e
reflexão, orientando
reflexão, orientandoreflexão, orientando
reflexão, orientando-
--
-
me por qual caminho trilhar para que pudesse a contento, compartilhar
me por qual caminho trilhar para que pudesse a contento, compartilhar me por qual caminho trilhar para que pudesse a contento, compartilhar
me por qual caminho trilhar para que pudesse a contento, compartilhar
com as pesquisas enveredadas no contexto entre mitos e lenda.
com as pesquisas enveredadas no contexto entre mitos e lenda. com as pesquisas enveredadas no contexto entre mitos e lenda.
com as pesquisas enveredadas no contexto entre mitos e lenda.
Tendo em vista a degradação desenfreada provocada pelo ser humano, tenta
Tendo em vista a degradação desenfreada provocada pelo ser humano, tenta Tendo em vista a degradão desenfreada provocada pelo ser humano, tenta
Tendo em vista a degradação desenfreada provocada pelo ser humano, tenta
de certa forma trazer a to
de certa forma trazer a tode certa forma trazer a to
de certa forma trazer a to
na lendas mitificadas com o passar dos anos. No intuito de
na lendas mitificadas com o passar dos anos. No intuito de na lendas mitificadas com o passar dos anos. No intuito de
na lendas mitificadas com o passar dos anos. No intuito de
gerarmos avivamentos de medo para que tenssemos imputar respeitos à natureza. Tendo
gerarmos avivamentos de medo para que tenssemos imputar respeitos à natureza. Tendo gerarmos avivamentos de medo para que tentássemos imputar respeitos à natureza. Tendo
gerarmos avivamentos de medo para que tenssemos imputar respeitos à natureza. Tendo
como foco primordial as águas e seus entes míticos.
como foco primordial as águas e seus entes míticos.como foco primordial as águas e seus entes míticos.
como foco primordial as águas e seus entes míticos.
Dedico principalmente aos meus pais Antônio e Alice, que t
Dedico principalmente aos meus pais Antônio e Alice, que tDedico principalmente aos meus pais Antônio e Alice, que t
Dedico principalmente aos meus pais Antônio e Alice, que t
anto lutaram para
anto lutaram para anto lutaram para
anto lutaram para
dar
dardar
dar-
--
-
me educão e estudos, sacrificando seus próprios benecios e prol do meu futuro, para
me educão e estudos, sacrificando seus próprios benecios e prol do meu futuro, para me educão e estudos, sacrificando seus próprios benecios e prol do meu futuro, para
me educão e estudos, sacrificando seus próprios benecios e prol do meu futuro, para
que conseguisse chegar onde cheguei até o presente momento, sem os quais, creio não ter
que conseguisse chegar onde cheguei até o presente momento, sem os quais, creio não terque conseguisse chegar onde cheguei até o presente momento, sem os quais, creio não ter
que conseguisse chegar onde cheguei até o presente momento, sem os quais, creio não ter-
--
-
me
me me
me
sido possível.
sido possível.sido possível.
sido possível.
Nem mesmo tive tempo festivo para comem
Nem mesmo tive tempo festivo para comemNem mesmo tive tempo festivo para comem
Nem mesmo tive tempo festivo para comem
orar minhas e nossas vitórias, pois
orar minhas e nossas vitórias, pois orar minhas e nossas vitórias, pois
orar minhas e nossas vitórias, pois
meigamente impuseram
meigamente impuserammeigamente impuseram
meigamente impuseram-
--
-me continuar sem medir esforços, estimulando
me continuar sem medir esfoos, estimulandome continuar sem medir esfoos, estimulando
me continuar sem medir esfoos, estimulando-
--
-
me seguir em frente e
me seguir em frente e me seguir em frente e
me seguir em frente e
a galgar o flamular de novas bandeiras.
a galgar o flamular de novas bandeiras.a galgar o flamular de novas bandeiras.
a galgar o flamular de novas bandeiras.
Tenho reservado também, com carinho, um cantinho especial em meu corão
Tenho reservado também, com carinho, um cantinho especial em meu corão Tenho reservado também, com carinho, um cantinho especial em meu coração
Tenho reservado também, com carinho, um cantinho especial em meu corão
à minha filha Pâme
à minha filha Pâmeà minha filha Pâme
à minha filha Pâmella, que soube entender
lla, que soube entenderlla, que soube entender
lla, que soube entender-
--
-
me nas horas da minha ausência. Foi e
me nas horas da minha ausência. Foi e me nas horas da minha ausência. Foi e
me nas horas da minha ausência. Foi e
continuasendo de fundamental imporncia o apoio de meus queridos irmãos Márcia,
continuasendo de fundamental imporncia o apoio de meus queridos irmãos Márcia, continuasendo de fundamental importância o apoio de meus queridos irmãos Márcia,
continuasendo de fundamental imporncia o apoio de meus queridos irmãos Márcia,
Fátima, Leandro e Paulo que infelizmente já não se encontra entre nós, mas que acudiam
Fátima, Leandro e Paulo que infelizmente já não se encontra entre nós, mas que acudiamFátima, Leandro e Paulo que infelizmente já não se encontra entre nós, mas que acudiam
Fátima, Leandro e Paulo que infelizmente já não se encontra entre nós, mas que acudiam-
--
-
me
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me
nas horas de afliçã
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nas horas de aflição, não permitindo
o, não permitindoo, não permitindo
o, não permitindo-
--
-me em nenhum momento renúncias.
me em nenhum momento rencias. me em nenhum momento rencias.
me em nenhum momento rencias.
A Comunidade de São Pedro de Joselândia pelo carinho com que nos receberam.
A Comunidade de São Pedro de Joselândia pelo carinho com que nos receberam.A Comunidade de São Pedro de Joselândia pelo carinho com que nos receberam.
A Comunidade de São Pedro de Joselândia pelo carinho com que nos receberam.
Imagem 3: Riozinho
Imagem 3: Riozinho Imagem 3: Riozinho
Imagem 3: Riozinho
Fonte : Dolores Garcia
Fonte : Dolores GarciaFonte : Dolores Garcia
Fonte : Dolores Garcia
Local: Pantanal
Local: PantanalLocal: Pantanal
Local: Pantanal
Data: maio/2005
Data: maio/2005Data: maio/2005
Data: maio/2005
Aos meus pais, em especial, Alice e Antonio por
Aos meus pais, em especial, Alice e Antonio porAos meus pais, em especial, Alice e Antonio por
Aos meus pais, em especial, Alice e Antonio por
terem me proporcionado
terem me proporcionado terem me proporcionado
terem me proporcionado
uma educão de primeira linha.
uma educão de primeira linha.uma educão de primeira linha.
uma educão de primeira linha.
As minhas irmãs, Márcia etima, e aos meus irmãos, Leandro que me
As minhas irmãs, Márcia etima, e aos meus irmãos, Leandro que me As minhas irmãs, Márcia etima, e aos meus irmãos, Leandro que me
As minhas irmãs, Márcia etima, e aos meus irmãos, Leandro que me
acudia nas horas de aflição e ao meu irmão, Paulo, quenão está
acudia nas horas de aflição e ao meu irmão, Paulo, quenão está acudia nas horas de aflição e ao meu irmão, Paulo, quenão está
acudia nas horas de aflição e ao meu irmão, Paulo, quenão está
mais aqui, mas tenho no corão os belos momentos.
mais aqui, mas tenho no corão os belos momentos.mais aqui, mas tenho no corão os belos momentos.
mais aqui, mas tenho no corão os belos momentos.
A minha filh
A minha filhA minha filh
A minha filhamella que soube me entender nas horas da ausência.
a Pâmella que soube me entender nas horas da ausência.a Pâmella que soube me entender nas horas da ausência.
a Pâmella que soube me entender nas horas da ausência.
AGRADECIMENTOS
Para que tenhamos sucessos em nossos intentos, é de fundamental
importância o apoio de pessoas que visem o bem estar de uma vitória,
imputando forças conjuntas. Pessoas essas como: profe
ssores, amigos,
parentes, instituições que de certa forma nos proporcionaram
conforto, e o próprio meio ambiente em que vivemos, que nos deu
respaldo para que efetuássemos as pesquisas.
À professora Michèle Sato, minha orientadora. Sempre presente para
me orientar de forma sábia e afetuosa.
Ao professor Valdo Barcelos. Ao Prfº Passos. Ao prof° Silas pelas
valorosas contribuições que ajudaram a reconstruir esse trabalho.
À instituição UFMT e toda equipe da Pós-
graduação do Instituto de
Educação.
A todos
os professores e professoras do mestrado, pelas contribuições
para a construção do conhecimento, em especial aos da linha de
Educação e Meio Ambiente: Profº Drº Germano Guarim Neto, Profª
Drª Suise Monteiro Leon Bordest e a Prfª Drª Miramy Macedo.
À equi
pe do SESC Pantanal pelo apoio nas realizações das atividades
.Aos guardas-
parque, e, com carinho especial ao Manezinho e ao
Cássio, guias e piloteiros de nossa pequena equipe.
Ao CNPQ, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
Ao moto
rista Francisco, carinhosamente chamado de Chico, da UFMT
que gentilmente nos levou até o local da Pesquisa, nos auxiliando.
À Roberta minha companheira de viagem e de pesquisa.
A todos e todas as colegas do mestrado, particularmente
, Celso,
Fernanda, João, Imara, Lika, Michele, Regina e Samuka.
Às minhas amigas Carla, Edna, Glauce
, Giovana, Lúcia, Márcia e
Rosana
Ao meu amigo Rosemar, Ferraz e Thiago. E em especial ao meu amigo
Paulo, amizade que se fez virtualmente, pela leitura e a contribuição
carinhosa.
Aos meus pais, Antonio e Alice, minha filha, Pâmella, minhas irmãs,
Márcia e Fátima, meus irmãos, Mário, Paulo (in memoriam), Leandro
e aos meus sobrinhos e sobrinhas. Em especial Marcos.
E finalmente, A Deus Senhor Supremo e Absoluto, por permitir-
me
caminhar com saúde para que possa também dar um pouco de mim
em prol dos menos assistidos.
Imagem 4: Pássaro
Fonte: Dolores Garcia
Local: Pantanal
Data: maio/2005
vi
vii
Sumário
PRÓLOGO – Cenários Inicias
01
1.Paisagens Iniciais
03
1.2 Caminhos trilhados
14
1.3 A organização dos atos
16
ATO – I – Revisão literária
19
1. Aprendizagens Literárias
20
1.1 Educação Ambiental
23
1.2 Lendas e Mitos
29
1.3 Comunidade Pantaneira com seus Ritos e Mitos
38
ATO – II – Esperança
44
2. Meta 45
2.1 Espaço do Pantaneiro
48
2.2 Água
54
2.3 Dimensões Míticas da água
57
2.4 Pequeno Histórico do Processo de ocupação do Distrito de
São Pedro da Joselândia
59
2.5 Estância Ecológica SESC Pantanal e Reserva Preservada do
Patrimônio Natural - RPPN
64
2.6 Pesquisa ecológica de Longa Duração – PELD
67
2.7 Grupo Pesquisador em Educação Ambiental - GPEA
68
ATO – III - Metodologia
70
3. Caminhos percorridos
71
3.1 Pesquisa Qualitativa
72
3.2 Fenomenologia
74
3.3 Coleta de Dados
76
3.4 Os Mistérios do Pantanal
82
viii
ATO – IV – Interpretando o mito
85
4 A Água Mítica e as Lendas na Educação Ambiental
86
4.1 A Serpente e o imaginário
91
4.2 O Minhocão do Pantanal
94
4.3 Palavras Finais
114
4.4 Bibliografia Citada
119
4.4.1 Bibliografia Consultada
122
4.4.2 Webliografia
123
ix
LISTA DE FIGURAS E FOTOS
Imagem 1:
Ninhal cabeça-seca
I
Imagem 2:
Religiosidade de São Pedro
Iv
Imagem 3
Riozinho
v
Imagem 4
Pássaro
Vi
Imagem 5
A porta
01
Imagem 6
Igreja
08
Imagem 7
Mapa reserva
10
Imagem 8:
In loco
11
Imagem 9:
Altar das Casas
12
Imagem 10
Céu cambará
19
Imagem 11
Tuiuiú
44
Imagem 12
Saboreando causos
52
Imagem 13
Loco Móvel
53
Imagem 14
Posto telefônico
63
Imagem 15
Ninhal
70
Imagem 16
Divino Espírito Santo
85
Imagem 17
Jacá
103
Imagem 18
Árvore cabeça
114
x
LISTA DE ABREVIATURAS
EA Educação Ambiental
EESPC Estância Ecológica Sesc Porto Cercado
GPEA Grupo Pesquisador em Educação Ambiental
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PELD Programa de Ecologia de Longa Duração
PIE Programa Integrado de Ecologia
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
SESC Serviço Nacional do Comercio
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
xi
Resumo
Foi no Pantanal mato-grossense, numa região paradisíaca, onde o imaginário
toma conta e invade nossa alma, onde no mundo das águas surgem os mitos e
lendas, que fazem parte do ambiente ribeirinho. Nesse contexto realizamos
nossa pesquisa nas comunidades localizadas no entorno da Reserva Particular
de Patrimônio Natural, localizada no Município de Barão de Melgaço Mato
Grosso, entre os rios Cuiabá e São Lourenço a 145 km da capital mato-
grossense. Esse trabalho faz um registro cultural nas comunidades
pantaneiras, onde pesquisamos várias lendas com sabedorias e versões
diferenciadas, todas tendo como protagonistas os seres guardiões da natureza,
mas para essa pesquisa nos delimitaremos em apenas duas lendas d’água, por
considerar muito profundo o estudo, focalizaremos nossa pesquisa na lenda do
Minhocão e do Peixe que cai do céu. A Educação Ambiental e as lendas e
mitos da região foi o meio utilizado para sensibilizarmos as populações, quanto
à necessidade de preservar, conservar ou recuperar as matas, rios, animais e
até mesmo os seres humanos.
Palavras-chave: Educação Ambiental;mitos; lendas.
xii
Abstract
It was in the Pantanal of Mato Grosso, in a paradise-like region, where the
imaginary catches and invades our soul, where from the water world arise the
myths and legends that are a part of the riparian environment. Within this
context we conduced our research of the communities located in the
neighborhoods of the Particular Reserve of the Natural Patrimony, in the
Municipality of Barão de Melgaço – Mato Grosso, between the Cuiabá and São
Lourenço rivers, in a distance of 145 km from the capital of Mato Grosso. This
paper makes a cultural registration of the Pantaneiro communities, where we
researched various legends with differentiated wisdoms and versions, all of
them having as protagonists the guardian entities of Nature, but for this
research we are going to delimit only two water-related legends, in
consideration to the excessive depth of the study, focusing our research in the
legends of the Minhocão (Big Worm) and the Fish Falling from the Sky. The
Environmental Education, the legends and the myths of that region have been
the means utilized to sensitize the population about the necessity to preserve,
conserve or recuperate the forests, rivers, animals and even the Human being.
Palavras-chave: Environmental Education; myths; legends; fenomenologia.
xiii
1
Imagem 5: A Porta
Fonte: Magritte
PRÓLOGO – Cenários iniciais
A PORTA
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que
diz ( a mim bem me
importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Vinicius de Moraes
2
A escolha da poesia - A PORTA de Vinicius de Moraes representa
metaforicamente à abertura para uma viagem ao imaginário pantaneiro, devido
aos contorcionismos dos movimentos das águas dos rios, fantasia-se e
assemelha-se como o movimento de um minhocão, onde uivos ou gargalhadas
entendidas como o cocorocar das galinhas, levam-nos a turbilhar de
imaginações amedrontadoras, como o mito do lobisomem, seu grito nos põe em
pânico, assustador também é o pé-de-garrafa, pronto para atacar-nos, quando
incautos e perversos seres agridem ou devastam as matas. Lendas, essas
Mitológicas, que nos levam acreditar que as lendas e mitos, vivem cada vez
mais fortes no dia a dia dos pantaneiros, pois é nesse imaginário de encantos
que conseguem preservar a fauna e a flora. Formando um conjunto de mitos
que se relacionam com doutrinas, dessa forma não deixando morrer o
imaginário.
No fundo, muitas das lendas, devemos respeitar como se fossem reais,
compartilhando, alimentando, incentivando e as fortalecendo. Portanto,
conseguiremos enxergar mentalmente esses seres encantados e mitológicos,
ao compartilhamos com o próprio coração, que aberto para os encantos da
vida, sensibiliza-nos e capta a diversidade de conhecimentos míticos e de
novos saberes, povoando e fertilizando nossas mentes, principalmente se
estivermos em locais onde a penumbra chega mais cedo que a realidade do
tempo. Em nossas andanças, conhecemos pessoas que armazenam estudos
mais profundos em suas pesquisas e que merecem todo o nosso respeito.
3
1. PAISAGENS INICIAIS
momentos, em nossas vidas que nos induzem a conhecer e explorar
a cidade na qual nascemos e suas histórias. Muitos seriam os caminhos a
trilhar, mas não querendo desvirtuar, escolhemos como tema da dissertação o
Pantanal e suas lendas. Pesquisando entre renomadas bibliografias que
continham informações que puderam atuar como elo enriquecendo ainda mais
nossas pesquisas, que pouco a pouco foi nos envolvendo a tal ponto de nos
deixar insaciadas e entusiasmadas com as descobertas jamais imaginadas,
mantendo assim, cada vez mais acesa a chama do descobrir e do por vir, pois
um sopro, provindo do interior do nosso ser, manteve acesas as chamas da
busca incessante. Existia, existe e existirá por tempos sem fim, compulsão e
ansiedade por novas revelações e descobertas. Perguntas mal formuladas e
respondidas permanecem presentes como panos de fundo na nossa
consciência, vindo à tona, a indagação:
Onde estão os elos necessários para se estabelecer o contato entre as
lendas e a Educação Ambiental? Foi então que reconhecemos estar diante de
uma indagação que iria exigir uma pesquisa mais aprofundada e detalhada,
para que pudéssemos chegar a um consenso.
À medida que o ser humano desrespeitou a natureza e dela se afastou
passou a vê-la não mais como lugar de possível vida, mas como lugar de
riquezas para poucos, transformando-a em lucro egoístico com as destruições
devastadoras. Somos reféns de uma sociedade consumista, de uma civilização
depredadora, onde muitos estudiosos alertam-nos de que devemos mudar os
nossos relacionamentos com a terra, ou vamos ao encontro do pior (BOFF,
2003).
4
Hoje se tem percebido com maior efetividade que o ser humano, e outras
espécies, necessitam desse planeta para sobreviver, pois alguns anos o
tinham consciência quanto ao futuro, pouco se falava e menos ainda agiam,
portanto, somente o ser humano tem essa consciência e pode usar da
sensibilização para tentar amenizar os malefícios causados pelo próprio ser
humano na sua ânsia de poder. Nesse ínterim, necessita-se de uma reflexão
sobre as relações da sociedade/natureza e em nossa forma de pensar a
educação como um todo.
Surgiu na década de 60 e 70 a educação ambiental, com o propósito de
melhorar a qualidade de vida não dos animais como de nós seres humanos.
Assim sendo, acredita-se que a sociedade poderá ser mais participativa e
comprometida com o seu próprio bem estar.
Através de nossas pesquisas, não pretendemos fornecer receitas de
como fazer Educação Ambiental, mas sim, fortalecer as reflexões em cima das
lendas quanto à forma em que estamos aproveitando do meio ambiente em que
vivemos. Desta forma, tentaremos sensibilizar as pessoas e mostrar que
através do levantamento das lendas, é possível conhecer pessoas preocupadas
com o seu meio.
Com esta pesquisa pretendemos também fazer um registro cultural das e
nas comunidades pantaneiras, onde catalogamos lendas concretizadas com
versões diferenciadas, todas tendo como protagonistas folclóricos os seres
guardiões da natureza. Tanto da água, quanto do mato, com isto, tivemos árdua
tarefa em escolhermos as lendas que poderíamos dentro dos parâmetros
interpretarmos. Difícil foi a escolha, mas delineando afazeres, optamos por
duas, por considerarmos adequadas ao que nos propusemos fazer.
Procuraremos mostrar às pessoas a necessidade e a importância de
recuperarmos os mananciais, matas, encostas e tantos outros lugares que nós
5
mesmos os poluímos e, dessa forma, cuidando dos que ainda não estão.
Procurando harmonizar a nossa pesquisa daremos ênfase as lendas
“Minhocão” e um breve recorte do “Peixe que cai do céu”.
Criado em 2002 o Projeto Pantanal, tendo como parcerias o SESC -
Serviço Nacional do Comércio Pantanal, o Programa de Ecologia de Longa
Duração (PELD) e o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental (GPEA),
coordenados pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os recursos
provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq gerou a principal fonte financiadora dos estudos realizados.
As comunidades pesquisadas estão localizadas no entorno da Reserva
Particular de Patrimônio Natural (RPPN) SESC - Pantanal, localizada no
Município de Barão de Melgaço - MT, entre os rios Cuiabá e São Lourenço
distante 145 km da capital, composta por uma área de 110 mil hectares. A
pesquisa teve início em fevereiro de 2002, juntamente com pesquisadores e
pesquisadoras do Programa de Pós-Graduação em Educação, abrangendo na
linha Educação e Meio Ambiente.
O procedimento inicial da nossa pesquisa foi delinear a área de estudo,
para que pudéssemos abordar a rica cultura regional com suas lendas e mitos.
As entrevistas foram iniciadas primeiramente com os guardas-parque da RPPN
SESC Pantanal, ribeirinhos e moradores das comunidades do entorno.
Daremos ênfase às personagens da nossa pesquisa, ora os chamando de
ribeirinhos, ora de pantaneiros. De forma controversa, a população ribeirinha
não é chamada de pantaneira. Atribui-se esta denominação aos fazendeiros e
donos de terra. Para as comunidades, entretanto, que se sentem próximas a
terra, com identidades tradicionais do Pantanal, elas se sentem Pantaneiras.
Em reconhecimento a esta biofilia, ou ao amor ao local pertencido proposto por
Gaston Bachelard, estaremos tratando este universo estudado, ora como
ribeirinhos, ora como pantaneiros. Tivemos a liberdade de empregar esses dois
termos como se fossem sinônimos, embora mesmo sabendo que o o o na
6
visão dos estudos gramaticais. Iremos também, identificar nossos
colaboradores com nomes fictícios, por questões éticas.
Segundo os narradores, entre 1960 a 1970 englobavam, dentro da
reserva, 16 fazendas, com aproximadamente 15 a 20 famílias, tendo em cada
família, cerca de cinco pessoas. Teoricamente tem-se um total aproximado para
mais ou para menos de 160 pessoas, conforme pesquisas elaboradas pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Os fazendeiros da região concentravam em suas fazendas grandes
concentrações de gado. Alguns deles, por razões adversas, venderam suas
terras para pessoas despreparadas para as manterem produtivas. Os novos,
também despreparados, não souberam trabalhar com as próprias famílias e a
dos seus colonos na limpeza dos pastos. Introduziu-se então, máquinas.
Tempos depois, chegaram à conclusão que não seria viável criar gado no
Pantanal da maneira como pretendiam. Ainda hoje, desde 1980, existem locais
na região pantaneira que não possuem gado e nenhum outro tipo de produção,
nem mesmo agropecuária, a não ser a própria vegetação natural.
Esses procedimentos levaram à diminuição drástica da população
pantaneira. Muitos agricultores vindos do sul de nosso País, desfazendo de
suas terras no intuito de imigrarem em massa na esperança do “Eldorado” na
agricultura a ser implantada no Pantanal, trazendo quinas e novas
tecnologias de ponta, que também o foram suficientes para mantê-los fixos
no solo adquirido, fracassaram. Tentaram introduzir na região pastagem
artificial, mas também não obtiveram êxito. Somente os pantaneiros de famílias
tradicionais continuaram na região, por saberem respeitar o ciclo da seca e da
cheia no Pantanal, sem subestimarem a sábia natureza, que merece respeito e
cuidados. A biodiversidade pantaneira hoje violentada, tem tido muitos inimigos,
começando pela violência e a expulsão permanente de homens e mulheres de
suas terras que sempre as defenderam e que eram passadas de gerações para
7
gerações. Onde fazendeiros desorganizados e sem escrúpulos, sem a mínima
preocupação ambiental têm devastado a região com agriculturas não orientadas
através de tecnologias, lançando resíduos químicos nas lavouras que através
das chuvas escorrem e se acumulam nos rios pantaneiros (SATO & PASSOS
2002).
Dezenas de pessoas de diferentes culturas, interesses e regiões
compraram fazendas e passaram a morar na região, Como isso, muitos
ribeirinhos sentiram-se sufocados, acuados e, conseqüentemente, foram
desaparecendo da região. O SESC apropriou-se de algumas dessas antigas
fazendas tornando-as produtivas, funcionando também, como posto de
observação da RPPN. Em algumas fazendas, foram construídas igrejas, onde
as pessoas se reuniam não como religiosos, mas também para tratarem de
assuntos políticos envolvendo a região e a comunidade. Muitas delas, por falta
de conservação e interesses, não suportaram as intempéries do tempo, se
transformando em ruínas caindo no esquecimento, coberta por mato, como se
no passado, não muito distante, não tivessem tido a menor importância para as
pessoas da região, (figura 6).
A reserva é considerada umas das maiores do país, (fig.7), e dessa
forma, vemos o quanto as comunidades foram ficando separadas, cortadas pela
reserva, deixando um grande vazio na sua tradição, rompendo com o passado,
como nessa igreja, (fig.6) hoje esquecida por muitos e ignorada por todos que
nela e dela dependeram um dia.
8
imagem 6: Igreja
Fonte: Dolores Garcia
Local: RPPN do SESC
Data: julho/2004
No entorno da RPPN existem dezenas de comunidades que sofrem com
a desigualdade social. Preocupados com a preservação e o futuro dos rios que
alimentam o pantanal, os ribeirinhos, que vivem da pesca, admitem que várias
espécies de peixes não são mais encontrados com a mesma facilidade, os
submetendo a pescas de subsistência, ou seja: sem muita opção de escolha
por peixes mais nobres, acabando assim, por matarem qualquer um dos peixes
que caem em suas redes ou anzóis.
9
Figura 7: Reserva Preservada-Sesc Pantanal
Fonte: SESC
10
Com isto, concluímos que não mais são boatos, mas sim, confirmados
pelos ribeirinhos através de nossa pesquisa in loco, que por unanimidade
disseram que: “os peixes estão sumindo”, e que para que tenham sucesso
precisam submeter-se a ficar muito mais horas a disposição da pesca, às vezes
levando um dia inteiro, e que também, não são raras as suas frustrações, após
longas jornadas. Quando de retorno e indagados, falam de suas frustrações,
nitidamente percebido em suas falas estorvadas de muita tristeza, pois estão
sentindo o efeito da modernidade e das ocupações desordenadas, provocando
avalanches de lixos que acabam como tendo destino final os próprios rios que
deles dependem e tiram os seus sustentos.
Também constatamos em nossas árduas pesquisas, que não foram
poucas às vezes em que andando de sol a sol, desbravando caudalosos rios,
num vai e vem frenético, castigados pelos mosquitos, pela fome, sede, diversos
foram os intempéries do tempo, que nos forçou a interromper por momentos,
acarretando o prolongar dos nossos trabalhos de pesquisas de campo.
11
Imagem 8 : in loco
Fonte: Fernanda Machado
Local: Pantanal
Data: julho de 2005
Ficamos cientes que as comunidades ribeirinhas estão sendo enxotadas
das margens dos rios demarcadas pelas reservas ambientais. Assim sendo,
separando-as, desaparecendo toda uma cultura, essa que mantém viva a
memória de um povo.
O excesso de burocracia envolvido numa pesquisa de campo é
realmente algo desmotivador. Mosquitos, pernilongos e muriçocas nos fazem
de alimento colocando em dúvida quem, de fato, ocupa o topo da cadeia
alimentar. Adversidades alheias as nossas vontades põem em risco o tempo
cronológico da finalização de um mestrado em 24 meses. Entretanto,
transcendendo a avaliação do programa de pós, é inegável o prazer de se
deliciar as aventuras de uma pesquisa empírica no Pantanal, (fig. 8).
12
A adoção do “grupo pesquisador” no marco da sociopoética faz com que
a sociabilidade, do grupo possibilite a amizade. E o palavra que traduz o
significado de se aprender através de coletivos – ambos educadores e amigos
Aproveitando as reuniões festivas e religiosas nas comunidades,
reivindicavam constantemente seus direitos de ir e vir que foram tolhidos da
liberdade dentro da reserva. Constatamos a presença marcante da religiosidade
na vida dos pantaneiros E em suas casas, ao longo do rio Cuiabá, preservam
hábito de cultivar pelo menos um “nicho”, onde podem ser encontradas uma
vasta iconografia diversificadas por cultos.
A foto que mostramos a seguir, nos garante a realidade do fato (imagem
9) observamos que a idolatria religiosa é marcante nas comunidades
pantaneiras:
Imagem 9: altar das casas
Fonte: Dolores Garcia
Local São Pedro da Joselândia
Data: julho de 2005
No cenário vemos quadros, estátuas de Santos de devoção, velas,
Santos impressos em papéis, bandeirolas, e também fotos da família e de
amigos, para pedir proteção a todos. Nesta iconografia estão presentes
13
imagens de pessoas famosas como: artistas, políticos, militares, cantores e
tantos outros de que algumas formas comovem e mexem com os seus
sentimentos. Sem esquecermos dos sonhos de consumo, como: barcos,
aviões, roupas elegantes, pessoas bonitas, as mais diversificadas orações,
receitas e bulas de remédios, a mesmo radiografias constatando lesões
traumáticas por acidentes e que com o passar dos tempos se sentiram curados
por santos de suas religiosidades e nelas colando.
Podemos afirmar com toda certeza, ao presenciarmos as festas de
santos na comunidade de Pimenteira, que a cultura e o folclore dos ribeirinhos
deixaram-nos fascinados, pois sentimos a força de um povo reunido e
esperançoso na luta por uma vida melhor. Viver no Pantanal se faz sentir a
terra vibrante, captando conceitos e espíritos folclóricos de cada lugar, inseridos
na história. Os pantaneiros que ainda vivem, apesar de escorraçados, se
sentem prisioneiros, devido as marcantes vidas de seus ancestrais,
acostumados e conhecedores profundos da geografia pantaneira, como
também da variação constante das intempéries típicas do clima da região, com
regime de chuvas e constantes ventos (BOFF, 2001).
Dentre as comunidades situadas no entorno da RPPN, deu-se mais
ênfase às entrevistas conduzidas no distrito de São Pedro da Joselândia,
devido a uma maior aproximação de nós pesquisadoras com a comunidade.
14
Se todo mundo olhasse
Prestasse bem atenção
No jeito que vive os bichos
Na água, no ar e no chão
O homem aprendia muito
A respeitar seu irmão.
Marly A. Serejo
1.2 CAMINHOS TRILHADOS
Em nossas pesquisas conseguimos formar uma teia de informações
obtidas através de entrevistas, que obedeceram aos critérios e procedimentos
da pesquisa qualitativa, usando a metodologia fenomenológica, onde pudemos
registrar os fatos. Esta metodologia nos deu suporte para as interpretações
voltadas para a pesquisa a qual nos destinamos. Optando assim, pelas
entrevistas semi-estruturadas, levando em conta que estas técnicas
reconhecem nossas presenças ativas enquanto investigadoras e ao mesmo
tempo não cerceavam, e nem inibiam os personagens investigados, abrindo
espaços para liberdades e confianças mútuas com a espontaneidade das
respostas dos nossos participantes. Chamo-os de participante por
considerarmos que sem as preciosas ajudas dessas vozes ribeirinhas e
comunidades, este trabalho de pesquisa não teria sido realizado.
Compartilhamos e vivenciamos cada fase com os narradores que
souberam, com carinho, dar-nos a atenção devida, pois, pacientemente
mostraram-nos e nos acompanharam, conduzindo-nos entre caminhos, trilhas e
rios, para que pudéssemos obter e nos aproximarmos o mais possível da
realidade e principalmente boa vontade nos fornecendo as informações
necessárias.
Algumas leituras se tornaram imprescindíveis para o entendimento de
alguns aspectos, as quais foram como suporte para a pesquisa. Lemos e
15
relemos para que pudéssemos melhor interpretar e refletirmos, destacando
pontos que nos respaldaram como objeto de estudo. Temos ciência, de que
muito que conseguimos captar, muito mais nos passou despercebido, mas com
o tempo retornaremos às novas pesquisas, sempre que necessário se faça para
esclarecer dúvidas que por ventura venham surgir.
Esta pesquisa tem como pauta a Educação Ambiental dentro da cultura
pantaneira junto às comunidades, abordando suas lendas e o imaginário
histórico fictício. Tivemos como meta definida a indagação sobre como o
registro da identidade cultural, mais especificamente as lendas, poderiam
contribuir para a educação ambiental. Partimos da hipótese de que os
conhecimentos das práticas sociais, que orientam a formação da sociedade,
servem como balizadores na reconstrução da identidade dos indivíduos.
Para esse devaneio ao imaginário, real ou fictício - propagaram um
paradoxo, nas comunidades do entorno da RPPN. Para que pudéssemos
galgar êxitos em nossas primeiras pesquisas, utilizamos barcos, entrevistamos
guardas-parque que se prontificaram a nos acompanharem até as comunidades
ribeirinhas do entorno. Por ser à época das cheias muitos moradores deixaram
de ser entrevistados por terem sidos expulsos de suas terras com a subida das
águas, abandonando suas casas e indo para a cidade de Poconé e só retornam
na época da vazante.
Para irmos a São Pedro da Joselândia, utilizamos o veículo cedido pelo
PELD e também contamos com a gentileza simpática do motorista que tão bem
conhece os caminhos que transpomos na época da seca. Para que
pudéssemos manter em registro as entrevistas e depoimentos dos nossos
colaboradores fizemos o uso de um gravador, facilitando assim a transcrição e
interpretação dos relatos com as devidas respostas às nossas perguntas semi-
elaboradas, como também uma máquina fotográfica para o registro iconográfico
das imagens. Imagens estas e interpretadas que compõem o corpo do trabalho
16
escrito. O registro cultural, nesse contexto, é essencial para o despertar da
valorização do que lhe é próprio, e inerente à identidade cultural pantaneira.
O ser humano é o resultado do meio cultural, herdeiro do processo
acumulado de conhecimentos e experiências adquiridas pelas numerosas
gerações que o antecederam (LARAIA, 2003). Todas as manifestações
culturais são válidas e deveriam ser respeitadas. As diversidades biológicas,
culturais, religiosas, étnicas, ideológicas são na verdade as nossas riquezas
socioambientais, e hoje fazemos uso destes conhecimentos e experiências para
realizarmos esta dissertação.
Existem palavras que transportam idéias perenes.
E, quando o que elas querem dizer começa a ser
esquecido, ou começa a ser sepultado por outras
palavras, então é o momento de voltar a elas.
De recriá-las em cada tempo.
Carlos Rodrigues Brandão (2002)
1.3 A ORGANIZAÇÃO DOS ATOS
Na tentativa eficaz pós-moderna contra a exagerada racionalidade
científica, este trabalho se propõe a dividir os cenários em atos. Sem a
arrogante pretensão de sermos dramaturgos Shakespearianos ou literários,
como Jorge Amado. Em nossos panoramas encontramos uma gama muito
grande de diversificações de caminhos, uns epistemo-metodológicos que
merecem ser destacados individualmente, inclusive para melhor organização
didática favorecendo a compreensão da pesquisa.
A apresentação deste trabalho está dividida em quatro atos “assim
chamados”, por questões metodológicas. Classificamos em Atos pelo fato que a
cada tópico seria como se estivéssemos abrindo um cenário diferenciado em
um palco como o da vida. Na abertura que antecede o primeiro ato, teremos em
17
destaque O PRÓLOGO
como introdução ao nosso trabalho de pesquisa,
recebendo o nome de PAISAGEM INICIAL, com abordagens amplas quase
que generalizando um todo, onde se encontram pequenos recortes ilustrando a
nossa pesquisa, bem como, nosso objeto de investigação e a metodologia
privilegiada:
O Primeiro Ato -
Aprendizagens literárias
-
abordando pequenas revisões dos principais aspectos das pesquisas
por nós realizadas. Também destacamos tópicos de suma
importância que nos deram conceitos, para sugerirmos sobre a
importância da Educação Ambiental, entre lendas e mitos pertinentes
às Comunidades Pantaneiras.
O Segundo Ato
Esperança
trata-se do Objetivo da nossa
pesquisa, os espaços pantaneiro, águas, dimensões míticas das
águas, os contextos históricos das Comunidades Pantaneiras de São
Pedro de Joselândia, como parceiros das pesquisas, temos o SESC,
RPPN e PELD.
O Terceiro Ato -
Caminhos Percorridos
De
comum acordo, debatemos questões metodológicas dentro do
contexto sugerido, buscando esclarecer a metodologia adotada.
18
No Quarto Ato
A vez e a hora dos mitos
-
compreende a pesquisa empírica propriamente dita, onde cada ato
leva-nos aos mistérios do Pantanal, em forma de narrativa.
Procuramos retratar as histórias e lendas das Comunidades
Pantaneira, finalizando nossa pesquisa, que apesar de árdua, tornou-
se prazerosa, pelos conhecimentos adquiridos e pelas honrosas
amizades que fizemos ao longo de nossas pesquisas. Compartilhando
com os/as companheiros (as) de equipe e colaboradores, que se s
pudéssemos escolher entre tantos temas, com muita honra faríamos
tudo novamente.
19
ATO - I – Revisão Literária
Imagem 10: céu cambará
Fonte Dolores Garcia
Local: RPPN – SESC
Data: julho/2005
Quero que a leitora e o leitor saibam de
minhas pequenas sensações, pois são elas
que me fazem grande -
talvez não tanto como
o mar, rios ou baías do Pantanal, ma
s
intenso no sentido de acreditar na utopia,
de querer mudanças e protagonizar
esperanças.
MICHÉLE SATO/2004
20
1. - APRENDIZAGENS LITERÁRIAS
No quadro dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, é cada vez
mais comum falarmos em “interdisciplinaridade” e conceitos que traduzem
modos de lidarmos com os objetos propostos para estudos mais aprofundados,
como também com os planos teóricos e metodológicos. Os estudos das
relações comparativas entre Educação Ambiental e outros campos de
investigação, buscam na medida do possível a realidade da verdade
aproximada, pois sabedores somos, que nada na face da terra ou em qualquer
dimensão, chega-se a uma verdade final, que amanhã, novas pesquisas nos
levam a acreditar que seja definitivo aquele tema da nova descoberta e que
também no amanhã do dia seguinte, seja novamente o mesmo tema definitivo.
Sucessivamente, novas descobertas ocorrem com os mesmos temas
que antes eram definitivos. Propomos discutirmos aceitando críticas ao
criticarmos os modos de colaboração entre EA e outras áreas de estudo,
especificamente relacionado ao tema que nos propomos defender na
dissertação, que são as lendas e mitos conhecidos e vividos pelas
comunidades pantaneiras. A transversalidade e a disciplina não convencional
são muitas vezes morosas, polêmicas e complexas (SATO, 2002.a).
A educação Ambiental, por sua interdisciplinariedade, tem um importante
papel na reflexão e na construção de novos hábitos e conhecimentos, portanto
propiciando as comunidades ribeirinhas a participarem dos problemas locais.
Temos na EA, teóricos preocupados com a educação, cada um com
diálogos entre as diferentes áreas do conhecimento. Tentaremos neste trabalho
dar mais um passo na aproximação da EA, mitos e lendas. Isto é possível
tendo em vista o uso de vastas bibliografias, que são elos que formam a
interdisciplinariedade. O levantamento cultural dos temas de pesquisa forma um
contexto, que fortalecido se torna essencial para o despertar da consciência na
21
valorização do que lhe propôs ser próprio e inerente à sua identidade cultural
resgatada de outrora, que não é somente uma resposta específica apresentada
frente a desafios a nós impostos. Sabemos que necessita irmos mais além da
consciência ecológica que conseguimos através de nossos estudos
conhecermos.
Sabemos também que a educação é a base para o desenvolvimento e a
vida civilizada. Por meio dela, temos subsídios para exigir das autoridades
competentes os nossos direitos e o cumprimento dos mesmos. Portanto, em
punhos cerrados amparados pela maioria que luta pela educação como um
todo, fortalecidos teremos o importante papel de sermos cidadãos de uma
grande nação, como a que vivemos. Desta forma, nós os educadores,
participamos ativamente em todos os sentidos e formas das questões
pertinentes à sociedade. Na vida, por mais que tenhamos a certeza de
estarmos imunes, mais ignorantes somos, por não conhecermos o dia seguinte.
Pesquisas comprovam que o desleixo, o egoísmo, a displicência, o
interesse pessoal, causam a degradação do meio ambiente, permitindo o
surgimento cada vez menos controlado de grandes programas de reflexão
interdisciplinar, pondo em relevo críticos importantes questões de ordem
epistemológica propícios a domínios diferenciados de educação, cultura e
poder, na interação das ciências da terra, da ciência da vida, da ciência da
natureza e das ciências sociais. Apesar de uma abundante literatura no campo
interdisciplinar, as respostas continuam sendo buscadas, ainda que,
paradoxalmente lapidados por grandes monopólios, tamanhos é a inadaptação
dos fundamentos paradigmáticos na concepção tradicional das ciências da vida
e da frágil natureza (PENA-VEGA, 2003).
Para que pudéssemos compreender e chegarmos a um consenso na
diferenciação das expressões exigiu-nos um longo diálogo com interpretações
de gestos e comportamentos em cada comunidade, por isto de comum acordo
22
optamos: seguirmos a compreensão fenomenológica de Bachelard. Podemos
dizer que as leituras realizadas ajudaram-nos a interpretar as narrativas
registradas, principalmente as relacionadas à água, essas são respeitadas e
temidas pelos moradores.
Esse líquido tão precioso nos propõe verdadeiro devaneio ao mundo
imaginário, onde olhamos e não vemos somente este ou aquele líquido,
fornece-nos estudos e curiosidades, abre um vasto leque de informações, uma
dessas, com intermináveis respostas, colocou-se em suspense: O que poderia
ser encontrado no fundo de um rio, mar ou a mesmo oceano? Ficará por
infinitos anos a pergunta, tanto quanto as infinitas respostas.
A visão e a morfologia das imagens captadas pelos nossos olhos,
dialogam por si de forma harmônica, transformando-as em sinfonia fina, assim
sendo, comparamos com simetrias mitológicas narrativas orais, que nos
mostram o quanto devemos nos preocupar com a EA, dando importância
primordial para as águas que compõem o nosso eco sistema. O quanto tem que
gritar sobre a importância da água hoje e no futuro, não podemos pensar
somente no futuro temos que refletir e agir agora. Os rios do pantanal têm
gritado por meio das lendas.
Deslumbrados ficam com o Minhocão, as águas que formaram o seu
contorcionismos seduzem e nos encantam, afagando nossas utopias e nos
levando para conceitos quiméricos. Portanto, devemos e temos que usufruir
desses meios para que possamos sensibilizar autoridades, órgãos competentes
e as próprias pessoas como um todo, dependentes, para que dela cuidem antes
que falte, fazendo com que aos rios voltem devidamente tratadas. Devemos ter
cuidado com a nossa água. “Se quero estudar a vida das imagens da água,
preciso, portanto, devolver ao rio e as fontes de minha terra seu papel principal”
(BACHELARD, 2002, p. 8).
23
Tivemos como principal elo de apoio às nossas pesquisas, as
bibliografias do pensador francês Gaston Bachelard. Suas obras nos deram
respaldo para que pudéssemos construir e defender também em tese, a nossa
dissertação, respaldada em pesquisas, por ser ele, um dos intérpretes e
conhecedor no campo de estudos do imaginário, facilitando a abertura em
direção a EA e as lendas que são recheadas de mitos, como um instrumento de
sensibilização. E foi na beleza do imaginário desse extraordinário pesquisador
que ilustrou seres dando-os vida, influenciando de certa forma no alavancar da
EA. Proporcionando-nos prazeres diversificados para desenvolvermos esta
pesquisa, e não apenas a obrigatoriedade para obtermos o título de mestre,
mas, sobretudo, como dissemos no início desta dissertação, uma inquietação e
uma angústia sentem na busca do conhecer e do saber, sobre as lendas e a
EA.
Consideramos que a Educação Ambiental deve gerar,
com urgências, mudanças na qualidade de vida e maior
consciência de conduta pessoal, assim como harmonia
entre os seres humanos e destes com outras formas e
fontes de vida. Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
Fórum Global / ECO 92
1.1 - EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A EA apresentou como uma preocupação no âmbito da educação na
década de 70, quando o meio ambiente deixou de ser notado somente pelos
amantes da natureza e passou a se tornar preocupação como um todo, pois as
pessoas estavam tendo um descontrole generalizado de desrespeito com a
natureza. Num olhar radical, haverá aqueles que afirmam que i impacto
ambiental surge ainda no Paleolítico, quando o ser humano passa de nômade a
agricultor. A aragem da terra, plantio e exaustão do solo podem ser a 1ª
evidência deste impacto. Uma outra parte da literatura, em especial ao modelo
24
ecologista mundial, ai usa a industrialização como causadora danosa dos
dilemas ambientais. Estamos convictas de que o capital é grande
responsável pelas mudanças, entretanto, convém sublinhar que mesmo nos
países do bloco socialista, os impactos ambientais existem. É fato, assim, que
os problemas ambientais transcendem o espectro da direita e da esquerda,
“norte e sul”, ocidente e oriente, demonstrando que a complexidade ambiental
não enxerga fronteiras e que a terra é um planeta sofrendo da catástrofe
sócio-ambiental.
Uma outra questão, muito discutida, é que a EA não deveria ser uma
disciplina. Ao contrário, deveria sim representar a contribuição de diversas
disciplinas e experimentos educativos, acoplando ao conhecimento e
compreensão do meio ambiente, assim como, à resolução dos seus problemas
e gestões. O enfoque interdisciplinar poderia abrir para o mundo educações
compartilhadas com as comunidades, incitando seus comandados e
comandantes à ação e não ficarem a mercê.
A EA deve ter como meta, uma ação transformadora e incentivadora
permanente, uma vez que está estreitamente vinculada, direcionada e adaptada
para o pleno exercício dos direitos e deveres da cidadania. Podemos considerar
que a EA, no Brasil, surge e se mantém ainda hoje desde as décadas de 80/90,
quando as lutas ecológicas e as afirmações dos direitos ambientais foram mais
extensas e debatidas, o que antes eram considerados uma denúncia dos
ambientalistas, hoje, por meio de fiscalizações e comunicações mais
abrangentes e rápidas, passou a ser divulgada quase que ao mesmo tempo de
seu surgimento, causando sensibilidades entre as sociedades civis gerando
opiniões públicas diversificadas quanto à questão ambiental.
Ela não está vinculada simplesmente à transmissão
de conhecimento sobre natureza, mas sim, à
possibilidade de ampliação de participação política
das pessoas a medida em que ela reivindica e
25
prepara os cidadãos para exigir justiça social,
cidadania nacional e planetária autorização e ética
nas relações sociais e com a natureza (...) a melhor
qualidade de vida para todos (...) a Educação
Ambiental deve orientar-se para a comunidade e
procurar incentivar o indivíduo a participar
ativamente (...) atuando nas suas comunidades
(REIGOTA 1994, p.10 e 58).
A Educação Ambiental tem o intuito de informar e de dialogar com as
linhas teóricas que se entrelaçam nessa rede, que costumamos chamar de EA,
mas também, sobretudo, construirmos outras trilhas investigativas, que
entendemos serem tão “pertencentes” a EA, como a água é para nós.
Abordaremos não a história da EA, mas sim, o que representa, mediante
levantamentos feitos pelos teóricos a respeito de sua importância em nosso
meio. Voltaremos nossa atenção para teóricos brasileiros, pois como disse
Barcelos “A Educação Ambiental brasileira é uma das mais criativas e
diversificadas do mundo” (2004, p.198).
Apostamos neste diálogo entre as diferentes disciplinas e saberes que
poderá levar-nos a construção de caminhos diferenciados em EA. Contudo,
quando falamos em caminhos reafirmamos que não acreditamos em uma
fórmula, ou metodologia única e salvadora para este e tantos outros desafios,
mas sim em parcerias sólidas, bem construídas e com os mesmos interesses,
pois mesmo aquelas ações que às vezes consideramos como sendo simples ou
menos abrangentes, podem vir a ser globais. A educação ambiental tem como
base o respeito pela diversidade natural e cultural, que inclui as especificidades
de classes, etnias e gêneros. Ao fazermos o estudo dos mitos e lendas,
buscamos interpretar fenomenologicamente as possíveis contribuições para o
entendimento das questões ambientais no intuito de reunir subsídios
(teóricos/epistemonológicos) para a construção de alternativas de EA. Nestas
perspectivas as nossas crenças, nossos ritos e mitos são nossos companheiros
inseparáveis. Os mitos acompanham nossas imaginações desde as mais
remotas épocas (BARCELOS, 2001).
26
Para Freire (1977, p.75) a educação se define como um processo
constante de libertação do ser humano. “A educação como prática, não é a
transferência do saber nem da cultura; não é extensão de conhecimentos
técnicos; o é o ato de depositar informes ou fatos nos educando. É um
esforço através do qual, os homens decifram a si mesmos como homens”.
A educação ambiental (EA) tem sido muito discutida em diferentes
contextos. Por isto vamos falar do compromisso que todos devem ter. A EA tem
o compromisso de formar cidadãos capazes e ambientalmente responsáveis
para atuar na sociedade, mostrando forma e não a fórmula de educar para que
possam exercer seus direitos e deveres. É necessário que esses conjuntos de
práticas e experiências se apliquem, de maneira crítica construtiva, tendo o
caráter social e educativo, onde devem promover o desenvolvimento e a
socialização de todos os cidadãos. A interdisciplinaridade e até a
transdisciplinaridade vêm sendo constantemente mencionadas como enfoques
teóricos, metodológicos e da educação (TRISTÃO, 2003).
A sustentabilidade de um povo é colocada em destaque, quando o saber
tradicional em concordância com o saber acadêmico podem subsidiar decisões
compartilhadas que visem o planejamento de um bem estar social, abrangendo
o relacionamento humano e sua complexibilidade cio cultural morfológica
com o passar dos tempos, tratando da forma exterior dos organismos e suas
transformações sociais, culturais e antropológica, pois, percebemos que as
propostas educacionais tidas como específicas para o meio ambiente têm, em
geral, sido tratadas somente os aspectos técnicos e biológicos da questão
ambiental. Significa que devemos ficar mais atentos aos problemas sócios
culturais que mereceriam serem vistos com outros olhos, para que a própria
humanidade desfrutasse de maneira contemplativa e participativa de
conhecimentos esclarecedores. Compreensões equivocadas dos problemas
que merecem ser esclarecidos, a paixão, o prazer e o amor pelo conhecimento
e pelas pessoas, fazem nos ter a necessidade de pesquisarmos (SATO, 2000).
27
A EA quando trabalhada em conjunto com as comunidades sem nos
preocuparmos com patentes e desníveis sócio cultural ou social, vinculadas às
questões humanas, partilharia responsabilidades éticas para o enfrentamento
de desafios impactuados naturalmente com novas ações propostas. Além disso,
temos a certeza necessária à efetivação da EA no transcurso da tentativa de
melhorias das qualidades de vida ambiental, mostrada em desigualdade com a
comunidade e seu meio. As lendas e mitos estão para a EA, assim como, o
meio ambiente está à mercê da sociedade política defensoras do bem estar,
entrevendo não necessariamente com a comunidade. Desta forma, ao
resgatarmos as conversas de raiz, significa inflar-mos historias cuidando de
conseguir aviventar os mitos e lendas que ainda afloram fortes em nossos
meios. Teremos com isso, uma certeza viva de melhor conhecermos as
comunidades e suas interações com o meio ambiente (PEDROSO-JUNIOR &
SATO, 2003).
Paulo Freire sempre lutou por uma educação crítica, que visa combater o
comportamento mecânico, imitativo e dependente produzido por determinadas
propostas e práticas pedagógicas, ou práticas decorrentes do excesso de
racionalidade de nosso tempo (FREIRE,1977).
Para se adquirir uma sensibilização crítica sobre as questões ambientais,
é preciso que todos se envolvam em um aprendizado constante, pois as
transformações naturais também se dão de maneira continuada. Esse processo
de aprendizagem envolve ações coletivas, entre a sociedade e indivíduos, onde
todos possam participar da construção do seu conhecimento, favorecendo uma
aprendizagem com a EA. Ana Maria Freire (2003, p. 18) comenta que “um
mundo melhor significa não apenas a sobrevivência dos seres, mas o da vida
saudável e feliz”.
Para que possamos esclarecer o contexto, mostramos em evidência a
real necessidade de educarmos não os futuros cidadãos brasileiros e de
28
outros países como empreendedores de modo responsável e sustentável do
meio ambiente e das vidas que nos cercam, pois a sensibilização não deve ser
transmitida e nem medida somente nas escolas, mas sim, também, dentro de
nossos próprios lares. A educação ambiental não deve ser direcionada somente
nas escolas, para alunos, alunas, professores e professoras, mas a todos e a
todas, as crianças e a jovens que manifestam cuidados ecológicos (SATO &
PASSOS, 2002).
A EA deve ser considerada como uma grande contribuição filosófica e
metodológica à Educação em geral, ela tem um importante papel, não na
possibilidade de percepção do ser humano em seu meio. Ela possui um
compromisso político de enorme envergadura. Para reivindicar este status,
porém, necessita de um arcabouço teórico-metodológico que consiga cumprir
seus compromissos de forma consistente. Isso o implica, entretanto, que ela
seja desprovida de uma alma, construída também através dos afetos, da
emoção, do carinho e do desejo da felicidade humana. A educação ambiental
tem, por premissa, que a reflexão sobre as ações individuais e coletivas e sua
ação prática respondem pelo processo de aprendizagem (NAIME & GARCIA,
2004, p. 80).
29
Mito designa clichês ou crenças
coletivas acerca de temas relevantes que circulam na
cultura. [...] Constitui uma forma autônoma de
pensamento; diferente da razão. É então legítima como
qualquer outra. Constitui uma expressão da inteligência
emocional, distinta da funcional.[...]
O mito configura sempre representações da consciência coletiva, ditas e reditas em cada geração.
Leonardo Boff.
1.2 LENDAS E MITOS
Neste tópico, proporemos viajarmos juntos através do inimaginável no
intuito de mantermos viva a cultura de uma raça através dos mitos, lendas e
vivência sócios cultural, para que não mergulhemos em vagas lembranças
através dos tempos. Que fique clara a nossa intenção, não queremos com isto
que se assumem convivências de ares excursionistas e que muito menos
vaguem em devaneios não contemplativos no resgate de uma cultura.
Entregaremo-nos à leitura de corpo e alma, para que possamos viajar
literalmente no intuito de descobrimos através da sensibilidade pessoal nossas
próprias paisagens míticas imagináveis. Deparando e comparando, o quanto a
EA e os mitos podem vagar em ondas de interpretações pelos labirintos
significativos de nossas mentes.
Os mitos constituem um gênero especial de literatura. Não são
usualmente escritos ou criados por um ser individual, porque na realidade são
produtos de uma imaginação coletiva, são experiências de toda uma era, de
toda uma cultura. Parece que eles se formam gradativamente quando certos
motivos emergem; e são propositadamente às vezes por interesses elaborados
com requintes de detalhes. Uma vez lapidados, emergem com força e
finalmente se perpetua, à medida que as pessoas contam e recontam as
histórias que sofrem severas metamorfoses com o passar dos tempos e que de
uma forma ou de outra acabam prendendo a nossa atenção e muitas das vezes
30
nos amedrontam fortalecido pelo nosso inconsciente fragilizado devido aos
nossos imprevisíveis sentimentos. Deste modo, temas que o exatos e
universais mantêm-se vivos, mesmo sofrendo impactos adversos nas
sociedades, enquanto que aqueles que tendem aos elementos peculiares de
alguns povos ou comunidades estes desaparecem. Resgatados o são quando
necessários o fazem trazer a tona para estudos do abalo psicológico ou moral
causado por um acontecimento.
Mitos, portanto, retratam acontecimentos, imagens coletadas de alguma
forma, e que mostram coisas que são verdadeiras e conhecidas por todos em
um determinado grupo, comunidade ou sociedade. Sentimentos estes que
aparecem quando alcançamos o imaginário que os mitos nos trazem. Os mitos
são arcaicos e distantes da realidade vivida por nós que vivemos afastados das
comunidades carentes onde normalmente eles ganham corpo, mas se
prestarmos bastante atenção e os encararmos com mais acuidade,
começaremos por ouvi-los com mais seriedade e entender-lhes o significado.
Estes saberes se caracterizam pela tentativa de responder muitas questões,
que se encontram inacessíveis para uma “realidade vigente e de outrora”
concreta ao universo humano e existencial a exemplo de como o mundo
surgiu? E quem o criou? Os mitos são narrativas que nos respondem em tese
essas perguntas.
Originou-se o mundo, que fomentou o ser humano, o seu estatuto, a sua
sociabilidade e a sua sorte de luta na e pela natureza. Criaram-se crenças, as
mais diversificadas relacionadas com os deuses e os espíritos míticos. Mas os
mitos o falam por si de cosmos, não falam por si de passagem ou
miragens, muito menos de naturezas cultuadas, mas também de tudo que
concerne à identidade de um passado ou de um povo passado para o futuro, do
possível, e do impossível, e de tudo o que suscita as interrogações, e às
curiosidades. Assim como as necessidades, as aspirações. Transformando as
histórias das comunidades. Fortalecidos os mitos e lendas, construíram-se,
31
vilarejos os transformado em cidades, dando-lhes origens às diversificações de
povos e crenças. “Torna-se lendária, e mais geralmente, tendem a desdobrar
tudo que acontece no nosso mundo real e no mundo imaginário para ligá-los
projetar juntos no mundo mitológico” (MORIN,1986, p. 150).
Os mitos também tentam explicar costumes e rituais de uma determinada
sociedade. Além de fornecer explicações, são usados para justificar o modo de
vida que constituem como forma de entender a realidade e de saber sobre o
início da existência da humanidade. A narrativa lendária pertence à tradição
cultural e oral de um povo que explica através do apelo sobrenatural, ao divino
e ao misterioso a origem do universo, assim como, o funcionamento da
máquina natureza. Os mitos ajudam a captar a mensagem dos símbolos, pois o
ser humano precisa e busca esclarecimentos, de modo que compreenda o
sentido e significado da vida, da morte, do eterno e principalmente do
misterioso.
O universo mitológico, para Morin (1986, p. 151) aparece como um
universo, nos quais as características fundamentais dos seres animados se
encontram com coisas inanimadas “(...) nas mitologias antigas ou em mitologias
contemporânea de outras civilizações (...) o universo é povoado de espíritos,
gênios, deuses”.
Com uma educação voltada para a sociedade industrial à cultura é
transformada, disto, resulta que os mitos e lendas vão sendo desqualificados
daquilo que os legitimavam na origem. Os indivíduos, constituintes de memórias
dinâmicas, estão relacionados com a natureza, essa que se modifica com o
decorrer dos anos, essa que corresponde a um passado de uma determinada
pessoa, autora, de sua própria história e pensamento, traz na sua narrativa a
realidade, como constata Merleau-Ponty (1996, p. 389), “O mito considera a
essência na aparência, o fenômeno mítico não é uma representação, mas uma
verdadeira presença”.
32
São infinitamente diversificadas as lendas e mitos, teorias surgem de
maneiras adversas também da realidade descrita trazendo contrastes e
problemas que a humanidade não consegue absorver com facilidade através de
atitudes impensadas, ou de “interesses” mal elaboradas. Tanto é que da
mesma forma, mitos componentes advindos de relatos de experiências vividas
ou vivenciadas adquirem importâncias específicas quando à natureza a que são
agregados.
Assim sendo, lendas e mitos o envolvidos na complexidade de cada
ambiente oriundos da junção com a educação e a sociedade que se preocupam
direta ou indiretamente com a conservação de suas miticidades. A mítica é
ainda mais representativa quando oriundas fantasmagoricamente elevadas ao
inimaginário sentimental do adentrar nas profundezas das florestas sombrias
que estão no imaginário, cheias de entes sobrenaturais e amedrontadores que
punem os que as destroem. Podemos citar entre tantas a “Caipora/Curupira”;
“Mãe da Mata/Boitatá”; “Pé-de-Garrafa”, entre outros. Tendo como protetor dos
animais que vivem e procriam nas matas o “Anhangá” Nas águas... Diz a lenda,
que a “Mãe d´água”, quando enfurecida com a matança indiscriminada de
peixes, vira as canoas dos. Pescadores que retiram peixes além de suas
necessidades, pondo-os em desperdícios (DIEGUES, 1998).
O Minhocão, assim chamado pelo povo cuiabano, reside nas
proximidades do poço do Rio Cuiabá. Diz à lenda que o "Minhocão", mito
folclórico da terra, também conhecido culturalmente por ribeirinhos e
pescadores freqüentadores dos rios do sul do país desde os primórdios os
tempos coloniais. A mitologia diz que aterrorizava as pessoas e todos os seres
vivos ao se apresentar altivo em forma de cobra em tamanho descomunal.
Com isso, a mitologia perniciosa, provocava desabamentos de
preconceitos de machismos medidos por forças de sentimentos de
masculinidade, provocado pela ria do Minhocão, que era capaz das mais
33
enfadonhas façanhas, quando sentia fome ou era propositadamente despertado
de sua hibernação alimentar, afundando barcos, dizimando comunidades
inteiras ao destruir casas, roçados e alimentando-se dos animais domesticados.
É um mito que se perpetua no imaginário do barranqueiro, sendo a lenda
mais conhecida em todo o Estado do Mato Grosso. Alguns descrevem o
Minhocão como uma serpente descomunal com olhos esbugalhados e
luminosos. Diz a lenda, que planava sobre as calmas águas, num silêncio
profundo com sua cabeça alta parecendo à proa de um barco. Seus olhos
pareciam dois faróis a luminar seus caminhos. O monstro ao encurralar sua
presa soltava um gemido ensurdecedor e apavorante capaz de paralisar a
preza por alguns instantes, tempo suficiente para saboreá-la. Tão logo saciado,
saracoteava a cauda espanando as águas ou seu redor formando ondas
gigantescas capazes de solaparem encostas, devastando margens.
Boiúna é o nome dado ao Minhocão na Amazônia, que significa cobra
grande, uma mito que aterroriza as crianças, as mulheres e muitos crédulos
caboclos. Mesmo os mais destemidos homens, sentem-se incomodados em
seus sentimentos de homens bravos e valentes, mas se inevitável for
depararem-se frente a frente, tremerão com medo da terrível assombração que
se apresenta de maneira imponente como o palco da imensa vastidão
amazônica. As noites amazonenses são temerosas para os ribeirinhos que a
cada tempestade como guardiã da noite, aparecia camuflada sob os focos de
luzes de seus olhos parecendo arco-íris. Acredita-se ainda, que é, por causos
contados sobre a Sucuri, que correm todas estas lendas e mitos que a
imaginação temerosa teceu por anos a fio.
Não resta a menor dúvida que na apuração das medidas entre as várias
serpentes do mundo a nossa sucuri é uma das maiores, podendo chegar,
segundo as recentes estimativas mais de 14 metros. Note-se que uma
serpente com metade deste tamanho, pode asfixiar um homem ao apertá-lo.
34
Conta-se também que em Goiás, uma gigantesca cobra Sucuri,
encurralou um cavaleiro e sua montaria. Após várias tentativas de fuga, abatido
e engolidos inteiros, tanto o homem como o seu cavalo. Dias depois, foi
expelido apenas o arreio/cela, em perfeito estado como se nada tivesse
acontecido.
Mitos e lendas são muitos, mas a desobediência e o espírito de aventura
podem acabar em tragédias. A serpente é o animal que mais provocou
interpretações míticas e simbólicas. Animal muito estranho, rastejador, faz eco
aos primórdios dos tempos, como fonte do pecado e de todos os terrores.
Ambígua, masculina ou feminina, ela desafia suas contradições. É a expressão
apavorante da noite, intimamente ligada a terra, vive em buracos escuros e
sombrios.
Fantasiosamente acredita-se que o minhocão possua o poder de auto-
renovação, por causa de sua habilidade de renovar a sua pele. Este caráter deu
origens às crenças e mitos que he atribuíram o poder da imortalidade. Acredita-
se que através da mente os mitos e as lendas nos mostram a abertura de
nossos sentimentos para enxergarmos o que queremos e o que nos contam
mesmo sendo temerosos nos fazemos perceber frágeis. Também vinculados
aos padrões cio-econômicos das comunidades, principalmente carentes, mal
informadas e com poucas instruções.
Muitas das vezes as conotações de crenças e de como o contadas
possibilitam-nos que compreendamos a cada conotação de medo. Situações
estas, que nos dão respaldo dos conhecimentos e das experiências vividas em
nossas pesquisas de campo, pois possuem significados diferenciados
dependendo, entretanto, do rumo dado a cada história e a cada maneira de se
interpreta.
35
As respostas pesquisadas dos mitos nos são fornecidas na
individualidade pela própria natureza que de alguma forma os gerou. De certa
forma, tem como origem os animais, as plantas e o próprio ser humano que
detém através do medo, inúmeras histórias relacionadas aos seres
sobrenaturais. Podemos até mesmo dizer que existe, e que os Entes
Sobrenaturais desenvolveram muito uma atitude criadora no princípio (ELIADE,
1996).
Nos tempos Antes de Cristo, e ainda hoje, povos e seres humanos,
idolatram imagens e objetos inanimados como se fossem deuses, dando vida
às coisas abstratas, as qualificando abrangendo característica de força e poder.
Quando decepcionados com a não satisfação de um desejo ou de um encanto,
caem em desespero de consciência, refletindo sobre equívocos na sua vida.
Outros permanecem fieis aos seus deuses, mesmo sofrendo conseqüências
malignas, ingenuamente personificam fenômenos sobrenaturais, dando-os vida,
os transformando em mitos, que ao passar dos anos tornam-se lendas.
Os povos antigos que acreditavam em tudo que era obscuro e que
pudessem trazer-lhes mal feitos ou assombros generalizados espalhavam que
as pessoas tinham medo até mesmo de se olharem nos espelhos. Ainda hoje,
quando o ser humano percebia qualidades e características humanas como
pertencentes a objetos ou coisas inanimadas, essas qualidades e
características não eram o somente idéias arbitrárias, mas reflexão das suas
qualidades inconscientes. Encarava fenômenos naturais, personificados, como
nos mitos e lendas, interpretava a natureza de acordo com sua representação
da natureza. Compreender o mito o é acreditar no mito, é verificar o que ele
quis dizer (MERLEAU-PONTY, 1996).
Em mitos folclóricos pouco conhecidos de povos antigos encontram-se
relíquias do pensar primitivo, estas, entretanto, não estão extintas, mas
reaparecem hoje entre povos fervilhando no inconsciente, como forma de
36
sonhos e fantasias amedrontadoras, muitos símbolos que se transformaram
mitos fazendo parte do ser humano, quando comparados com as mais diversas
espiritualidades que envolvem divindades, como a religiosidade significativa de
uma sociedade que se busca sentido na captação das mensagens dos mitos e
lendas referendando símbolos através dos tempos. O mito é formado com a
representação do imaginário nem sempre social, onde as imagens mitificadas
passam de gerações arrastando-se nos tempos, causado pelo impacto da
simbologia formada pelos nossos inconscientes, passando de geração a
geração (CAMPBELL, 1990).
Ressaltamos a importância dos aspectos míticos dentro dos impactos
causados pelas simbologias referentes a um determinado lugar ou coisa,
sabedor se faz que o aspecto mítico possa exercer fortes influências nas várias
categorias sócio culturais na vida de comunidades ribeirinhas principalmente
entre povos menos aquinhoados e afastados da civilização.
O termo mitologia remete ao imaginário alegórico, idéia em forma
figurada, participando da construção de mundos, partindo da constatação de
que o ser humano está indissociável em relação à natureza. A mitologia tenta
explicar os cuidados que se devem ter com os ambientes e através dos mitos,
muitas das vezes ignorados. Compreende-se que estes, não são milagrosos no
sentido de solucionarem os problemas ambientais causados pelos seres
humanos, tentar-se ao contrário, é refletirmos sobre as relações que se
estabelecem com os ambientes que nos propomos compartilhar.
Toda herança mítica, traz da Antigüidade, contribuições que contribuem
para a sensibilização das populações em relação e a necessidade de se
conhecer um pouco da história de seu surgimento e as preservarmos,
conservando assim, através do medo ou até mesmo com forte probabilidade de
recuperação de reservas florestais ou de matas isoladas, abrangendo os lagos,
37
rios e animais, além de outros elementos da nossa biodiversidade (CINTRA &
MUTIM, 2002).
A lenda é uma narrativa que contextualizaria o mito, situando-o, o é
uma ficção, fábula ou romance, mas uma história que quando contada, pode
sofrer alterações na intencionalidade, onde é passível de forma de acordo com
a relação que estabelece com o local e as relações existentes.
Os mitos e as lendas são capazes de insinuar o que está visível
ajudando a delinear a “alma” de um povo. Uma mesma versão pode apresentar
diferentes possibilidades de interpretação de uma mesma realidade e, ainda
assim, manter a essência da história perpetuando o mito. Isso contribui para a
idéia de que o mito é vivo.
Em determinados contextos ambientais as lendas foram alteradas no
decorrer do tempo, deixando muitas vezes de existir, mas mesmos sendo
fantasiosos, nada deve ser desqualificado, pois eles, muitas das vezes,
sinalizam a necessidade de terem algum elo, que garanta o prosseguimento da
vida. Esses entes possuem diferentes papéis, eles podem nos proteger, nos
castigarem, nos assustarem, nos presentearem, ou até mesmo nos anunciarem
e nos pedirem algo quando a eles damos vida. Porém, possuem sempre algo a
nos passarem, são esses os mitos que possuem regras de comportamentos
sentimentais, preserva-los e respeitá-los, faz parte das culturas, que como a
natureza precisam ser respeitados e preservados (CINTRA & MUTIM 2002).
Assim sendo, conseguimos comparar e separar valores que no fundo
somam e compartilham com a consolidação do mito com o imaginário, que ao
ser evocado instintivamente, estimulam diálogos com os sentimentos da
comunidade de maneira a de reduzirmos o isolado e sombrio e misterioso
consciente que existem dentro de nós. Bombardeados somos todos os dias
com poluições visuais e auditivas, influenciando-nos aos resgates de
38
lembranças afáveis ou o, enchendo-nos de palavras marcadas, as
apelidando-as.
Porque a maneira de reduzir o isolado que somos dentro de
nós mesmos, Rodeados de distância e lembranças, é botando
enchimento nas palavras. É botando
apelidos, contando lorotas. É enfim, através
das validias palavras, ir alongando nossos limites.
(Manoel de Barros)
1.3 COMUNIDADE PANTANEIRA COM SEUS RITOS E MITOS
Mesmo hoje, através do uso sustentável com tecnologias avançadas e
em nome da humanidade, ainda se tem mentalidades, e metodologias
retrógradas em relação ao meio ambiente que sofre com os desmatamentos
controlados (dito controlados) e ambiciosos, que vem sendo, ao longo dos
anos, explorados de forma egoísta e errônea como são mostrados e
bombardeados pela mídia a todo instante, sem que as autoridades
competentes, que também tiram proveito, tomem as devidas providências
cabíveis para frear e interromper a morte do nosso ecossistema. Com isso os
grandes contingentes da natureza encontram-se em falência de vida por serem
conseqüentemente explorados com intensa e descontrolada rapidez.
Por isto, sentimos, diante da comunidade ribeirinha do Pantanal Mato-
grossense a necessidade de trabalharmos no contexto da parceria, para que
pudéssemos ter perspectivas positivas no intuito de contribuirmos de forma
responsável, e mantermos a todo custo a sustentabilidade da formação
planejada dos cidadãos pantaneiros e ribeirinhos, para que pudéssemos suprir
de maneira cultural que seria o forte desejo globalizado das comunidades,
contribuindo assim com equivalência, senão a extinção das diferenças
determinantes que envolvem as degradações do meio ambiente.
39
Iniciamos nossas pesquisas com caminhadas entre as comunidades,
buscando e conhecendo suas culturas e modos de vida. Enaltecidos e
glorificados com as descobertas que nos deixaram cientes das necessidades de
serem compreendidos mostraram-nos através de seus olhos em súplicas, que
enxerga a realidade ao ufanar-se com a multiplicidade de formas ao mostrar-
lhes semelhanças de se enxergar ao verem o mundo comparativo com outros
mundos fora do seu ambiente natural, ou até mesmo levando a eles os outros
mundos de interesses das comunidades que visam o seu próprio bem estarem
e não a manterem a diferenciação de um povo entre culturas.
Um mesmo espaço no Pantanal, por exemplo, pode ser percebido e
utilizado de maneira diferenciada. Da mesma maneira o tempo é vivenciado de
maneiras particulares por diferentes culturas; um pescador do pantanal observa
o rio, o movimento das águas, a fase da lua, as estações, eles entendem o seu
lugar. Alguém que vive no campo sabe observar os sinais provenientes da
natureza, do comportamento dos animais, do céu, das estrelas, da lua, enfim
desenvolver um conhecimento extremamente refinado de seu meio para que
possa planejar melhor suas atividades e tirar o maior proveito possível de suas
atividades.
O que aprendem da natureza é necessariamente
inferido para o mundo do conhecimento. Enquanto
coletividade, eles são parte integrante viva e
dinâmica da natureza que os recorta e define
como parte da realidade circundantes. Seu corpo
carrega simbolicamente os desejos, as
necessidades e o movimento geral que cerca o
mundo que os apreende (SATO & PASSOS 2002,
p. 25).
Percebemos através de pesquisas por nós engendradas que cada vez
mais os imaginários governam de maneira sustentável as nossas vidas no
cotidiano, organizando com planejamentos vitais para se viver política e
socialmente em comunidades. Comparamos os relatos supostamente
40
imaginários e míticos de cada comunidade por nós visitadas. Chegamos à
conclusão de que o imaginário se desenvolve com mais pertinência nas
comunidades menos desenvolvidas, onde seus mundos parecem
profundamente imersos nas divergentes extensões que separam uma
comunidade da outra dentro do pantanal.
Como exemplos comparativos, temos a população de São Pedro da
Joselândia, onde em parte concentramos nossos estudos, e onde existem duas
estações de transição, onde a seca e a cheia são entremeadas por - a vazante
que leva à seca e a enchente que leva às cheias transbordantes. São
consideradas estações com nítidas diferenciações das passagens do ciclo do
tempo.
Nas cheias, as comunidades pantaneiras ficam com seus povos
aprisionados e encurralados, impossibilitados de se movimentarem livremente
pelas trilhas e estradas por causa da elevação das águas. Perdendo com isso,
o contato via terrestre com Cuiabá. Só sendo possível através de embarcações,
tornando ainda mais distantes e isoladas as comunidades. Os recados quando
necessários se fazem para serem dados a parentes que moram em Cuiabá, são
utilizados rádios, no intuito de passarem os devidos recados. Por serem muitas
das vezes, comunidades pequenas onde todos se conhecem e sempre existe
um membro atento aos recados ouvidos através de seu radinho de pilha,
existente em boa parte das casas nos longínquos alagados do pantanal.
O transir da cultura local, repassadas através das danças como as do
Siriri e a do Cururu, permanece através dos tempos, evidentes e marcantes,
nas reuniões por ocasião das festas de Santos, aniversários, casamento ou
eventos culturais, onde os contos de “causos” se intensificam em pequenos
grupos, onde ferrenhas disputas proverbiais fazem-se o imaginário fluir
livremente sem receios de represálias, pelo contrário, o sorriso faz parte da
festança. As junções de espiritualidades opostas fazem com que transcrevam
41
decisões concebidas em reuniões antes jamais imaginadas que pudessem
acontecer na certeza manifesta, devido as divergência de idealismos inerentes
a cada culto.
Nas paisagens da natureza, a presença do ser humano tem peso, tanto
quanto as constantes mudanças climáticas, sendo de relevante consideração a
escassez de águas, que mortificam drasticamente a nossa biosfera. O clima
não está só, como causador da desertificação de áreas de nossas terras, mas
também culpamos os mitos e as lendas, que impõem culturas de povos
extrativistas e que não contemplam a reposição na mesma proporção, achando
que não fará falta uma árvore tombada, mas se esquecem que milhões de vidas
dela dependem não para seus próprios sustentos como de um povo. Com
isso, os ciclos ecológicos sofrem também, restringindo ao quebrar as cadeias
de renovações necessárias e fundamentais para o crescimento da fauna e da
flora.
A paisagem passa por modificações sucessivas que estão condicionadas
a presença ou ausência da água das enchentes; os espaços passam por
importantes modificações condicionadas aos ciclos ecológicos, tais como a
oferta e disponibilidade de recursos e /ou sua utilização, presença de animais
migratórios e de pastagens. Assim, a paisagem em São Pedro é
incessantemente modificável, nunca é a mesma; onde hoje é um caminho,
amanhã pode não ser, o aspecto da vegetação obedece a este ritmo da
temporalidade e do cíclico, ou seja, é como se tudo parecesse como um círculo.
Os cururueiros exaltam a grandeza da festa aderindo ao miticismo
folclórico pertinente ao santo festivo ou protetor, que geralmente é obrigatório
em certos cultos o levantamento do mastro com uma bandeira ilustrando o
santo festivo da época. Dando exaltação sentimental aos cururus, os siriris e a
diversidade de comidas típicas. O ponto alto da festa é o momento em que os
devotos prestam suas homenagens ao santo, cantando e dançando. Num dado
42
momento, quando estão dançando em roda, uma das mulheres dirige-se ao
centro e saracoteia em danças e requebrados, segurando com louvores e
glórias a imagem do santo festivo sobre a cabeça.
Os cururueiros manifestam-se em constantes duelos musicais que o
fazem tocam ao lado ou à frente do altar, que é considerada como a presença
viva desse santo "violeiro", cuja imagem é representada, em Mato Grosso,
carregando uma viola de cocho. Como não poderíamos deixar de citar, a festa
gira varando a madrugada ao som do Cururu que, tem como tema central, o
santo "cururueiros", vinculados a ele os seus milagres.
Os santos cururueiros m também a função indireta de reunir pessoas e
o de incentivar os reencontros entre parentes, que distantes uns dos outros,
muitas das vezes se vêem de ano em ano, como sendo também uma forma
de trocarem olhares ao procurarem um sonho de união, de descontração em
danças envolventes e a renovação de valores e significados dos grupos.
As festas locais consideradas tradicionais sofrem fatores de identidade e
expressões constitucionais coletiva. A religiosidade entre pessoas, está
diretamente proporcional ligada a satisfações pessoas que pedem proteção ao
santo de sua devoção. O pantanal, com a sua furtividade mística, nos mostrou
sua espiritualidade onde agrega uma gama de fantasias sem limites de
extensão e compreensão para os pantaneiros e pantaneiras. Deram-nos a
entender que a crença e a espiritualidade, dão-nos sugestões complexas de
podermos compreender alguns fenômenos sobrenaturais e não corriqueiros que
acontecem com as comunidades ribeirinhas dentro do Pantanal. Considerando
os intrínsecos elos, que fazem as ligações entre o místico e o mítico,
alavancados pela percepção de um povo. A diferença entre mítico e místico é o
próprio mito que não tem e nunca teve vida real, enquanto místico relaciona-se
a divindade de coisas espirituais idolatradas religiosamente.
43
Quando se devasta uma área pantaneira os moradores dela dizem que
estão invadindo a morada do “encantado”. Ele habita um lugar de divindade e
de espiritualidade. O pantanal é amplo, cheio de surpresa. Sua longa extensão
de terras, com moradias distantes, proporciona certo distanciamento entre as
pessoas, porém nas festas religiosas, casamento, competições esportivas,
música, dança e as comilanças, torna-se pequena à distância das pessoas das
comunidades do entorno, elas vão participar por vários dias, com muita carne e
bebida, cantando e dançando o Cururu e o Siriri.
A espiritualidade do homem/mulher e a espiritualidade da natureza são
gêmeas e mantém uma unidade no Pantanal. Eles formam o tripé da existência
do próprio Pantanal. Tudo está ligado à natureza e à razão de ser da mesma
natureza. Os fenômenos naturais do Pantanal transformam-se nas linguagens
do mistério, e por esse olhar vemos algo a mais, algo que não amos com um
simples olhar, os fenômenos são as leis que orientam os que vivem neste
mundo.
As pessoas devem se preocupar mais com o pantanal, com os rios e as
matas do nosso Pantanal. O homem pantaneiro e a mulher pantaneira como
conhecem a natureza e o meio ambiente obedecem ao ritmo de vida, sabe que
uma atitude impensada pode levar o extermínio do viver e da beleza natural,
patrimônio inerente a este espaço natural em que vivem.
44
ATO - II- ESPERANÇA
Imagem 11: Tuiuiu
Fonte: Dolores Garcia
Local: Riozinho - RPPN
Data: 07/ 2005
O rio não precisa ser
nosso; a água não
precisa ser nossa. A
água anônima
conhece todos os
segredos. E a mesma
lembrança jorra de
cada fonte. GASTON
BACHELARD
45
2. META
A meta da pesquisa foi compreender as lendas e os mitos pantaneiros do
entorno da RPPN, mostrando a relação desses seres com a EA, e a real
necessidade de preservarmos, conservando as matas, os lagos, os rios, os
animais e o próprio ser humano, desta forma, também, estaríamos resgatando
memórias culturais dos moradores das comunidades visitadas.
Estabelecemos paralelos entre as lendas e mitos com os devidos
cuidados para que não desvirtuássemos a procedência da natureza da lenda ou
mito e com os seres em geral, respeitando os limites do uso do nosso
patrimônio ambiental, que muitas das vezes em nossas caminhadas,
constatamos explorações estarrecedoras e fora de controle. Vinculados a EA,
tem-se a consciência vital da importância comparativa através das pesquisas
narrativas obtidas junto aos ribeirinhos, como sendo o instrumento vital da
possibilidade de se manter discussões ininterruptas das partes em prol de um
todo. Porém, constatamos que as populações ribeirinhas podem apresentar
conhecimentos diferenciados e refinados dependendo do ambiente em que
vivem e da maneira em que são estimulados culturalmente.
Os motivos que nos levaram a pesquisarmos as lendas, os mito e
paralelamente a EA, foi o de mostrarmos que caminha visando o mesmo
objetivo, o de formarem e perpetuarem fenômenos que manifestem os espíritos.
Necessário se faz deixarmos os espíritos se manifestarem, para que possam
fluir idéias e conceitos que estão dentro de cada um, por isso é necessário ter-
se um contador, que transcenda os relatos a sua maneira, resgatando os
folclores através de seus conhecimentos e que compartilhem nas rodas de
conversas dando vida ao seu imaginário, fortalecendo fantasias que ao serem
resgatadas trazem o medo. Assim sendo, prenderá a atenção de todos.
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Em toda sociedade, existe e sempre existirão, pessoas que se destacam
e cativam outras através de um bom papo e carisma, fazendo-se se sentir
admirada, principalmente quando acobertada de conhecimentos amplos que as
possibilitem deliberarem com rapidez de raciocínio as resoluções suscitas de
interesses mútuos, e também os alheio circunstanciais concernentes a um
indivíduo ou a própria comunidade. “E possibilidades de pensar e resolver
situações e de momentos nos quais possam alcançar a plenitude ao envolver o
bem-estar coletivo como parte de si mesmas” (CINTRA & MUTIM, 2002, p. 18).
Em nossas pesquisas, quando em descanso, sentávamos às margens do
rio, sob frondosa sombra provocada pela copa de espessas árvores. Em
silêncio, imposto por nós mesmo sem esboçarmos uma única palavra, para que
pudéssemos contemplar a sabedoria da natureza e tentar entendê-la,
decifrando momentos por momento de sua mutação, provocada pelas
intempéries climáticas e o soprar dos ventos entrementes. Sublime se faz
embevecido de encantos entre uivos ao forçar passagens entre galhos e folhas.
De repente, robusto e valente se fez impor respeito, desfolhando árvores
com voraz tenacidade jamais vista por s. Pós calmaria, por meio dos
sentidos, aperfeiçoamos ainda mais nossos conhecimentos, chegando à
seguinte consideração: infinitos foram os mitos e lendas, que através dos
ventos surgiram. Nós, os pesquisadores, protegidos entre árvores, notamos que
folhas mais espessas passavam raspando em s, e muitas das vezes se
chocavam nas árvores que delas fizemos nossos escudos, fazendo barulhos
amedrontadores, com isso, nossos sentimentos atemorizados deixavam fluir
com certas facilidades a adrenalina do pavor. Chegamos até mesmo quase que
por unanimidade darmos corpo e alma a uma folha mais afoita que adentrou
pelo mato em velocidade descomunal, batendo em um galho, dividiu-se caindo
em mergulho no mato desaparecendo.
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Ao retratarmos como se fosse algo enviado pelo além. Daí, as nossas
suspeitas de que como nós, talvez outras pessoas, também tenham enfrentado
situações semelhantes e que o medo pelo e do desconhecido tenha tomado
outras conotações, que interpretadas viraram mitos, acrescidos de símbolos,
personagens ou qualquer outra coisa que a eles foram-lhes dando os devidos
nomes, acrescidos de histórias fantasiosas, sendo eles, fonte inesgotável de
sabedoria. Para essa sabedoria contamos com a colaboração de contadores,
moradores do Pantanal.
O contador, por sua vez, compartilha nas suas rodas de conversa, tendo
como pano de fundo sua sabedoria, nos seduz com as palavras, gestos e com
as expressões visíveis em sua face. Descreve a mesma passagem inúmeras
vezes, fundindo lembranças de outrem, trocando palavras, adicionando
personagens. Pelos caminhos trilhados, os contadores de pulhas talvez
soubessem que não haveria a possibilidade de buscas interpretações
universais. Como subterfúgios reflexivos e exagerados das histórias narradas
com as emoções dos contadores acrescida de vestimentas maltrapilhas em
frangalhos, como se tivessem sido atacados por um ser fantasioso ou vestidos
à moda de uma época festiva, onde em rodas de Cururu, a imaginação corria
solta no mundo místico, vagando na crença da existência do ocultismo.
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No Pantanal ninguém pode passar a régua. Sobretudo
quando chove. A régua é existidura de limites e o
Pantanal não tem limites ( Manoel de Barros)
2.1 ESPAÇO PANTANEIRO
Como introdução a este tópico, nada melhor do que citarmos Manoel de
Barros, poeta mato-grossense, que muito se preocupa com o pantanal, deixou
isto bem claro nas suas poesias. As preocupações com o pantanal são temas
constantes de poesias, dissertações, teses. Temos no Pantanal além dos
ribeirinhos e pantaneiros mais de 10 etnias indígenas. Resguardamos-nos em
falarmos do povo indígena localizado no Pantanal, assunto que trataremos
oportunamente.
Tantos os índios como os ribeirinhos, não enfrentam problemas com
as intempéries climáticas, como também com a alavancada pesca predatória,
em todo o Pantanal Mato-grossense, como também com o turismo
desordenado. O que mais afeta todo o sistema pantaneiro são a discriminação
e o descaso do poder público. Nos corixos, considerados os berços da
renovação da biodiversidade, estão sofrendo com a pesca predatória, pois são
nessas maternidades que os pescadores predadores estão invadindo, sem um
mínimo de respeito.
os pantaneiros, conhecedores da fragilidade da renovação de vidas,
acostumados com os ciclos das águas, respeitam piamente o espaço onde
vivem, conhecedores inclusive dos intricados caminhos que as águas delineiam
na época das cheias. As curvas dos rios desaparecem embaixo de um mar de
águas, peixes circulam livremente pelos pântanos formados, na vazante, muitos
ficam presos em pequenas poças d´água, onde a fábula diz: esses são os
“peixes que caíram do u”. Lenda conhecida em toda região, pois o são
poucos os ribeirinhos que deles se alimentam, mas também baseado no mítico
por medo de comerem os preparam para darem de comer aos seus cachorros,
49
pois acreditam segundo a lenda, que os arco-íris após as cheias, devolvem os
peixes, que sugaram dos rios nas épocas de seca, os depositando nos lagos
para morrerem a mingua, quando da vazante das águas.
As populações ribeirinhas são formadas por uma mescla de índios,
brancos, negros, bugres e mamelucos, daí surgiram, contradições de
tempestuosidade e meiguice entre pessoas nas comunidades pantaneira. Desta
forma, com as constantes transições de culturas entre diferentes pessoas e de
idades, tendem provocar a disseminação de culturas folclóricas tradicionais.
Podemos observar os traços dos pantaneiros através do seu modo de vida.
Normalmente gostam de tomarem banhos nos rios, dormirem nas redes,
andarem sobre montarias, tanto a cavalos, como sobre búfalos, mas também
não dispensam as canoas, mantendo o lamentável hábito das queimadas.
Quando nos referimos aos pantaneiros, vemos pessoas que valorizam
suas liberdades e seus hábitos, falam com cadência, normalmente são
hospitaleiros, conhecem os remédios da flora medicinal, gostam de uma boa
prosa, de contar e ouvir “causos” de assombração, das lendas herdadas ou de
fatos do dia-a-dia. Talvez isso ocorra influenciado pelo lugar e provavelmente
pelo pequeno isolamento ou talvez por ser um lugar encantado, que faz fluir as
inspirações.
A baixa declividade faz com que o pantanal se comporte como uma
esponja, retendo a água que chega pelos rios da Bacia do Alto Paraguai,
liberando-a lentamente para a parte sul. A bacia está localizada no centro da
América do Sul, tem uma área de cerca de 360 mil quilômetros quadrados.
O clima é quente e úmido no verão, considerada baixa para a região.
Ninguém deve ficar espantado se encontrar uma lareira nas casas pantaneiras
porque podem ocorrer geadas. De junho a outubro é a época de seca e o
50
período das cheias vai de novembro a maio. As chuvas se concentram nos
meses de dezembro e janeiro.
A penúria do Pantanal está ligada diretamente com a política não
ambiental de preservação, onde a mítica realidade faz histórias. As políticas
públicas de sustentação andam paralelamente de os dadas com a EA nas
formações de consciências e de participações em comitês que tratam dos
estudos das bacias hidrográficas. Como também, no aproveitamento da
produção intelectual e de materiais educativos para o desenvolvimento das
pesquisas visando alternativas renovadas de metodologias da pesquisas
científicas direcionadas para linguagens compreensíveis visando a capacidade
pedagógica como um elo de defesas da biodiversidade.
A baixa declividade do terreno provoca as cheias. E no ciclo das águas
rege a vida do pantaneiro: em época de cheia, os peões são obrigados a
levarem o gado para as terras mais altas. É mais cil ver as aves, pois se
alojam na copa das árvores, enquanto os mamíferos, por exemplo, se
escondem nos capões e cordilheiras - trechos de vegetação mais altos -
esperando as águas baixarem. Mas ninguém consegue dizer o que é mais
bonito: o Pantanal coberto de água ou quando está seco.
Basicamente, distinguem-se no Pantanal três
zonas: uma permanentemente alagada, chamada
aquática; outra alagável temporariamente,
denominada hidrófila; e a mesófila, sempre a salvo
das inundações. Observe-se que essas divisões e
terminologia estão em correspondência, e se
definem, a partir das relações do espaço com a
água (LEITE, 2003, p. 37).
Ao lado da pesca, ainda hoje a pecuária extensiva de corte representa a
mais importante atividade regional - com mais de dez milhões de cabeças - e
tem se mostrado compatível com a preservação/conservação do Pantanal. O
51
sistema de criação de livre pastoreio em pastagens nativas, sem nenhuma
seleção, forjou um tipo de gado adaptado às condições adversas da região.
Nos últimos 50 anos deu-se a explosão de vendas de terras, passando a
serem ocupadas por sulistas, mineiros, cariocas, paulistas, que insaciáveis e
sem nenhuma ou quase pouco formação agropecuária compraram fazendas e
suas terras foram subdivididas, modificando as técnicas de manejo de livre
pastoreio, passando para o confinamento. Com isto, ocorreram fortes
mudanças nos hábitos e principalmente nos valores.
Algumas comunidades do extenso Pantanal as conversas, os Cururus e
as roda de fogueira não estão ocorrendo com a mesma assiduidade como
dantes, legitimando a culpabilidade da modernização e a forças impostas pelos
aparelhos de televisões que hoje tem volumes expressivos. Como em toda
regra existem exceções, algumas comunidades por falta de energia elétrica
presenciar pessoas se reunindo para contar causos de assombração,
independente de faixa etária, onde podemos observar idosos e jovens nessa
roda de causos (imagem 12)
.
52
Imagem12: saboreando os causos
Fonte: Dolores Garcia
Local: Escola São Pedro Joselândia
Data; 07/2004
Através de nossas pesquisas, entre outros fatos, presenciamos
alterações comportamentais dos peões pantaneiros, que estão sentindo na
própria pele, as novas normas com distribuição de funções, adequadas às
novas técnicas impostas pelos grandes latifundiários dentro do conglomerado
pantaneiro. Proprietários estes, que estão enfrentando a falta de mão de obra
especializada, e ao tentarem impor suas cnicas estão propiciando e
incentivando o êxodo rural dos pantaneiros que praticamente de gerações em
gerações, ali criaram suas famílias. Poucas ou quase nenhuma, são as
comitivas contratadas que continuam tirando o gado das áreas alagadas e as
levando para as áreas mais altas do pantanal. Com o passar dos tempos, foram
substituídas por comboios de caminhões, restringindo o espaço de tempo gasto
em mais de três quartos, reduzindo a mortalidade e o desgaste dos animais e
dos próprios boiadeiros.
Na cada de 1970, fazendeiros paulistas compraram terras no
Pantanal, desconhecendo os ciclos da chuva e da seca, ou seja, seis meses de
53
chuva e seis meses de seca, trouxeram de São Paulo uma loco móvel (imagem
13), uma locomotiva movida à lenha para puxar a água do rio São Lourenço e
irrigar o pantanal. Tamanho despreparo e desconhecimento da realidade
climática e do próprio solo fizeram tamanho descalabro com a própria natureza,
devastando matas, fazendo lenhas, para sustentarem a famigerada locomotiva
que trabalhava dias e dias ininterruptos para “irrigar o Pantanal”. Após 35 anos,
essa geringonça encontra-se no mesmo lugar, encoberta por matos e sujeiras.
Virando um verdadeiro mausoléu, contribuindo com a poluição do Pantanal. Isto
é a prova de que pessoas gananciosas e sem o mínimo de conhecimento
geológico e histórico a respeito da região. Fazendo do Pantanal seus
laboratórios particulares de desastres ecológicos, atingindo no alvo o
ecossistema em contrapartida a todos nós.
Imagem 13: Loco móvel
Fonte: João Carlos Gomes
Local: RPPN – Rio São Lourenço
Data: 07/2004
54
As águas risonhas,os riachos irônicos,
as cascatas ruidosamente alegres encontram-se nas mais
variadas paisagens literárias. Esses risos, esses chilreios
são, ao que parece, a linguagem pueril da Natureza. No
riacho quem fala é a natureza criança
GASTON BACHELARD
2.2 A ÁGUA
Ao submergirmos nas águas do Pantanal, muito temos que aprender
com os mitos e ritos para que possamos interpretá-los, caso a caso de seu
surgimento. A água é de fundamental importância, presente e em todas as
vidas existentes na face da terra, mas que muitas das vezes passa-nos
despercebidos a sua importância.
São temas para diferentes teses, dissertações e tantos outros estudos
que surgem com o intuito de nos alertarem sobre o futuro deste líquido, que é
de responsabilidade de todos nós.
A ausência de tão precioso líquido nos assombra tanto quanto os
caminhos dos mitos e os das ciências, que tendem para um ponto comum. “O
mito, a arte, a linguagem e a ciência aparecem como símbolos” (CASSINER,
1992). A água está no princípio de todas as coisas, ao darmos uma olhada para
trás veremos que ela existe desde que o mundo é mundo, esculpindo, saciando
e inspirando. A água nos envolve a todos: répteis, aves e mamíferos, ela é
versátil, serve para tantas e com diversificadas finalidades.
O fundamento desta proposta se centrou na idéia de que a participação
das comunidades é um elemento chave para o êxito dos programas de comitês
de Bacias hidrográficas, por isso, a mobilização de diversos grupos e a
possibilidade de que tenham acessos às informações sobre o tema,
constituindo-se em um fator importante para as promoções de ações concretas
55
nestes campos. Assim sendo, fica consagrado o dia 22 de março, como sendo
o dia Mundial da água, durante a conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) promovido no Rio de Janeiro.
O Pantanal, pela sua beleza impar, está sendo invadido também pelos
turistas e pescadores, de final de semana, predadores, pois quem tira férias
quer um lugar que tenha água, sejam em forma de rios, lagos, baias,
cachoeiras, praias e afins, mas infelizmente muitos visitantes não se preocupam
com o lugar que a eles não pertencem. Quando de retorno para seus lares,
abandonam nas matas e rios toneladas de lixos, dessa forma resulta em
degradações e poluições, cada vez mais constantes das águas e matas,
destruindo também as espécies que fazem parte dos ecossistemas que
dependem também das águas. A repetição periódica da poluição das águas
exterminam espécies fundamentais de seres vivos que proporcionam o
equilíbrio ambiental. Portanto, para termos a qualidade das águas e seu
potencial é importante que haja uma sensibilização e educação ambiental, e
nesse trabalho propomos que por meio dos mitos e lendas das águas
possamos atingir o maior número de pessoas e sensibiliza-las com as
preocupações que nos afligem a falta d’ água, que podevir a ser o principal
motivo de disputas sangrentas entre nações.
Inúmeros fatores contribuíram para que as nossas preocupações com as
águas, pudessem nos trazer tantos desconfortos, principalmente com o
crescimento populacional desordenado que desestrutura qualquer planejamento
sócio ambiental e de impacto na natureza, discernindo cada vez mais
assustadores as famigeradas poluições por falta de saneamentos básicos, os
desmatamentos, as construções de hidrelétricas mesmo com estudos de
impactos ambientais não são precisos e capazes a mudarem os cursos
originais dos rios. Junto com os desperdícios, geram fatores de estudos
específicos e qualificados, o que não é a nossa meta de estudos dentro daquilo
que planejamos, mas sim, dando ênfase.
56
Sabemos que o Brasil, num futuro não muito distante, será alvo de
cobiça por termos em sua extensão enormes mananciais de estoques de
águas, como a Amazônia, consideradas a maior bacia hidrográfica do mundo e
no Pantanal, temos uma das maiores áreas úmidas da face da terra, onde seu
ecossistema vem sofrendo com a expansão da cultura da soja, que avançou
rapidamente, tomando espaço da pecuária extensiva, tradicional da região e
vem encurtando as áreas ainda preservadas do Pantanal.
Percebemos também, que o desmatamento nas barrancas dos rios e
lagos, conhecidas como matas ciliares ou matas de galerias que tem a função
de ajudar a reter as margens dos rios e as erosões para que não desbarranque,
o que torna cada vez mais debilitado pelo próprio homem com a destruição das
matas e suas vegetações rasteiras. Podemos dizer com toda a certeza da
importância viva das “vidas dos rios”.
É possível, através de estudos mais apurados, podemos regular e
controlar o fluxo de água no canal, através da sustentação das margens. que
nas cheia ou nos períodos chuvosos, seriam impedidos pelas águas correntes e
aos ventos, de serem levados para os leitos dos rios. Com isso, os solos
ficariam exposto à chuva e ao vento, sem sofrerem tanto com o arrastar das
águas, que arrastam tudo que encontram pelo caminho depositam no fundo dos
rios, acumulando cada vez mais resíduos, causando o assoreamento, um
fenômeno que faz com que o rio fique mais raso consequentemente com menos
capacidade de escoamento, sem falar nas grandes barragens que modificam
nosso ecossistema, trazendo inúmeras conseqüências desfavoráveis e de peso
comparados com a qualidade de vida.
57
A vida é uma viagem experimental feita
involuntariamente.
É uma viagem do espírito através da matéria
e como é o espírito que viaja, é nele que se vive
Fernando Pessoa
.2.3 DIMENSÕES MÍTICAS DA ÁGUA
Inúmeras e distintas são as características relacionadas ás águas como:
berço da vida, na religiosidade é tida como purificadora dos pecados do mundo,
e assim por diante As águas propiciaram as origens das civilizações, que
conglomeraram às margens dos rios e mares, dando força fertilizadora.
Contribuiu para que se tornasse um símbolo de vastos e complexos significados
nas mais diferentes culturas, estando presente nos seus mitos e lendas.
Para entendermos de onde provém a água, torna-se necessário
relembrarmos os estados em que ela se encontra. Existe na natureza a água no
estado gasoso em suspensão na atmosfera, provenientes das evaporações
causadas por todas as superfícies úmidas existentes – rios, lagos, mares,
oceanos em estado líquido, como sendo os maiores tanques de depósitos de
água do planeta, e no subsolo, constituindo os chamados lençóis freáticos; e
em estado sólido, nas regiões frias do planeta. Da atmosfera, a água se
precipita em estado líquido, como chuva, orvalho ou nevoeiro, ou amesmo
em estado sólido, como neve ou granizo. Todas estas formas de água são
intercambiáveis e representam o Ciclo da Água ou Ciclo Hidrológico.
As primordiais civilizações que antecederam a propagação de nossas
espécies trazem incógnitas do surgimento e formação das águas no planeta,
alimentando o imaginário dão força aos mitos das águas e a eles credenciam
méritos, como os animais que habitam as profundezas. Sem a água, fica
58
impossibilitado de se ter vida ao redor, mas também, o líquido precioso como
sendo a fonte de vida, transforma-se em vil, quando o respeitada
transformando-se em monstro mortífero.
Dentre infinitos mitos, podemos citar de origem grega o mito relacionado
ao jovem Narciso, de beleza estonteante que provocavam nas mulheres
independentes de classes sociais, quando para ele direcionava os olhos,
paixões alucinógenas, até que um dia, uma delas decepcionada, humilhada e
escorraçada por ele, antes de se afastar de seu convívio, lançou-lhe a maldição
da perda da razão momentânea aonde ele iria apaixonar-se por si mesmo e não
seria correspondido.
Assim diz a lenda e assim aconteceu ao debruçar-se às margens de um
rio para beber água, Narciso, o homem encantador se viu encantado com a
própria imagem refletida nas águas. A paixão por si mesmo, o alucinou,
cegando-o para a realidade a ponto de atirar-se ao rio na tentativa de abraçar a
sua própria imagem refletida, que o levou a morte. No lugar do término de sua
existência, como bia a natureza, frondosa e exuberante nasceu uma flor de
suas lágrimas que recebeu o nome de Narciso.
A água presente em nossas vidas necessita ser cuidadosamente
preservada e respeitada. Desta forma, através de estudos de diferentes
dimensões, poderemos dar ênfase a real necessidade da grande importância
que temos que dar às águas em prol da continuidade de nossas vidas. A água
está para nossas vidas, como os mitos a ela intricado, gerando crenças
adversas, tanto quanto doenças, fontes de energias e abastecimentos, meios
de transporte, opções de lazeres e alimentos. Tantos são os méritos e razões
de preservarmos tão precioso e mítico líquido, que nos leva acompanhar suas
trajetórias contorcionistas entre curvas de caudalosos rios para que possamos
refletir no intuito de preservarmos nossas vidas, antes que caiamos no
imaginário de um dia ali as águas passaram trilhando caminhos.
59
A mitologia diz que as águas, dos oceanos, armazenadas em um imenso
tanque a céu aberto, são reservas de vida do universo, e é sem dúvida seu
maior, símbolo, ocultando segredos ainda não decifrados pela própria ciência,
quando revolto, sua fúria a todos nós, nas mais variadas formas, apavoram-nos
ao ligarmos com a evocação dos elementos míticos em nossas mentes.
Ao contemplarmos um rio, tanto caudaloso como em aparente remanso
(de calmaria), traz-nos sentimentalmente lembranças ouvidas de mitos a ele
atribuídos. Nós, os seres humanos, deparamos com situações e desafios cada
vez mais complexos, os quais com sabedoria que temos nos safarmos, visto
que desde a gênese da história das civilizações os domínios das águas foram e
serão sempre perseguidos por povos cada vez mais cobiçantes. Os deuses
podiam simbolizar a admiração pelas águas, como a comparando também, com
os grandes fenômenos provocados pelas destruições causadas pelas
sismologias naturais.
O homem é o resultado do meio cultural
em que foi socializado. Ele é um herdeiro de
um longo processo acumulativo, que reflete o
conhecimento e a experiência adquiridas pelas
numerosas gerações que o antecederam.
Laraia, 2003
2.4 PEQUENO HISTÓRICO DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO
DISTRITO DE SÃO PEDRO DA JOSELÂNDIA
No município de Barão de Melgaço, encontra-se localizado o distrito de
São Pedro de Joselândia com uma população estimada de 1.500 habitantes, e
estatisticamente considerados aptos a votos totalizam 780 eleitores. As
comunidades fronteiriças que limitam as extensões territoriais e formam um
60
conglomerado de pequenas colônias são: as comunidades de: Colônia Santa
Isabel, Colônia Pimenteira, Colônia da Lagoa de Algodão, Colônia do Brejo
Grande, Colônia do Retiro de Brandão, Colônia do Porto Bocaiuval e Colônia do
Porto Limoeiro; como também as fazendas Santa Maria e Espírito Santo, de
propriedade da RPPN-SESC .
Segundo os historiadores e dados levantados junto aos cartórios, a Comunidade
conhecida como Macacos, vinculado a grande quantidade de primatas existentes nas
matas e que hoje, tendo o nome trocado para distrito de São Pedro de Joselândia, onde
os pioneiros Sabino Brandão, José Ferreira da Silva, José Dias de Moura e os irmãos
Antônio José da Silva e Lourenço Xavier da Silva, deram início ao processo de
povoamento da região, formando comunidades que hoje se orgulham de intitularem-se
como cidades.
Os moradores do distrito de São Pedro de Joselândia contam em
divergentes conversas e controvertidas certezas sobre como e de que maneira
iniciou-se a ocupação da colônia. A história diz, que dois negros fugitivos da
Usina Flexas lá fixaram moradia, contribuindo no aumento da contingência
populacional da região.
A Em 1931 fundou-se a Igreja de São Pedro, localizada no Município de
São Pedro da Joselândia, foi fundada em 1931. Sob as lideranças de Fernando
da Costa Leite, mais conhecido como raizeiro, teve como mestra do
bramanismo e conselheira e líder espiritual de visão direcionada para o local a
ser destinado à construção da igreja de São Pedro, Doninha de Caeté que, por
sua vez, o incumbiu de construir a igreja na comunidade. Doninha, ou Senhora
Laurinda Lacerda Cintra, nascida em 1931, moradora do povoado de Tanque
Novo comunidade localizada dentro da colônia de Poconé. Curandeira
conhecida, Doninha, tinha em sua bagagem profundos conhecimentos de curas
provenientes das plantas medicinais, com as quais curava pessoas
manipulando ervas e pelo intermédio da que remove montanhas, mas
61
também tinha o dom de fazer previsão futurísticas. Concluída a construção da
Igreja de São Pedro, em plebiscito comunitário com a unanimidade dos votos
dos eleitorados acrescentou-se ao nome São Pedro o de Joselândia. Assim
sendo, aos 29 dias do s de junho no ano de 1932, foi realizada a primeira
missa e festa de São Pedro.
Comunidade crescente, com políticos influentes como Alfredo da Costa
Marques, prefeito de Santo Antônio de Leverger, comunidade vizinha, fundou a
primeira escola em 1949. A cidade passou a ser chamada, após a fundação da
igreja, de o Pedro da Joselândia. Com o tempo, outras escolas e igrejas
católicas e evangélicas foram se instalando, formando uma comunidade
fortalecida pelas divergentes crenças. Em tempos de festas espirituais,
casamentos, ou qualidade de vida nas casas dos festeiros a concentração de
pessoas tem seu número em quantidades elevada devido à aproximação das
outras colônias de moradores, que muitas das vezes fazem da praça central
ponto de referência, concentração e acampamentos por dias durante as
festividades. Onde se alimentam e dançam o Siriri, mais ao entardecer de cada
dia festivo, dirigem-se às casas de bailes.
Normalmente participam das festividades na maioria os moradores
carentes e necessitados em infinitos aspectos, e que procuram nas festividades
uma oportunidade de emprego, vinculando protestos pelo descaso no sistema
de tratamento de água dado pelas autoridades, que fazem do palanque festivo,
seu próprio palanque político, no intuito de angariar votos nas próximas eleições
prometendo mundos e fundos sem nada concretizarem. Não são poucas as
crianças das escolas comunitárias que adoecem após ingerirem a água a elas
fornecida sem um mísero tratamento bacteriológico ou higiênico plausível e
aceitável conforme normas da Secretaria de Saúde Pública.
Os moradores de São Pedro da Joselândia, conforme nos relatou Carlos,
com a explosão demográfica, passou a sofrerem discriminações devido às
62
desigualdades sociais, trazendo-os desconfortos e dificuldades financeiras, uma
vez pobres, mas felizes, hoje explorados pelos latifundiários, assemelham suas
tristes sinas aos maus políticos.
Carlos, morador antigo de São Pedro, cabisbaixo, lamentava a crescente
transformação da comunidade, não conseguíamos fixar uma resposta
convincente que pudéssemos fazer âncora, pois imediatamente rebatia,
acusando veementemente o descaso com o povo da comunidade e porque da
discriminação ao caírem no esquecimento dos governantes que deles
precisam na hora do voto, oferecendo bugigangas fortalecidas com promessas
de ilusões. Revoltado em suas palavras, segundo ele, nenhum político
manifestou-se ou teve interesses pela comunidade, a não ser em disputas para
angariar votos de seus eleitorados, que não tinham outra opção a não ser
continuarem aceitando promessas e mais promessas e nada mais que
promessas políticas. Seu semblante de uma tristeza profunda não mediu
sentimentos em suas palavras.
Nós já passamos uma temporada ruim, sem
conforto de saúde...mas nós daqui, não temos meio
de transporte, aqui funciona uns três caminhos
você vai na carroceria......na seca..de avião .e de
barco.Antes não tinha nem estrada....nós
atravessamos do outro lado.(...)Como eu mesmo,
eu estou sofrendo, tem dia, sorte que meu filho tem
um que acompanha aqui que a gente tira água aí do
poço um... que deixa que nós passa o dia, né, mas
é um perigo também
Entre as atividades, destacam-se a agricultura de subsistência com o
cultivo de arroz, mandioca, milho e feijão. O comércio local é movimentado pelo
salário dos aposentados e dos funcionários públicos. Na comunidade não
saneamento básico e nem energia elétrica. A comunidade conta com um
orelhão movido por energia solar, (imagem, 14) um campo de futebol, um
63
cemitério, um cartório, um posto de saúde, um auxiliar de enfermagem, um
tabelião e um juiz de paz.
Imagem 14: Posto telefônico
Fonte:Dolores Garcia
Local: São Pedro de Joselândia
Data: 07/2005
O acesso à comunidade é dificultado em períodos de chuvas, onde
somente se tem acesso através do rio Cuiabá via barco ou canoa. Dentre os
lazeres, os pantaneiros optam pela reza na igreja, pelo futebol, pela pareia de
cavalos, pelas festas de santos e pelos bailes à luz de velas ou lampiões, som
mecânico alimentado por baterias cansadas e de pouca duração, que são
64
constantemente trocadas por outra carregada, atrapalhando os casais que
estão curtindo o embalo do som.
Viver em uma sociedade sem poesia
seria como viver em uma sociedade sem palavras.
sem palavras nosso diálogo
certamente se empobreceria em muito
Barcelos, 2003
2.5 ESTÂNCIA ECOLÓGICA SESC PANTANAL E RESERVA
PRESERVADA DO PATRINÔNIO NATURAL
A Estância Ecológica SESC Pantanal é uma organização que atua como
hotel favorecendo e incrementando o turismo local. Estabelecendo parcerias
para desenvolvimento de projetos em diversos estudos e pesquisas sobre a
fauna, flora, recursos hídricos, solos, clima, turismo, organização social, meio
ambiente e educação ambiental (SESC).
O gerente de Infra-estrutura do SESC, nos relatou dados sobre como a
RPPN é subdividida, sendo que a maior parte cabe RPPN SESC Pantanal,
caracterizada como Zona Primitiva e de preservação ambiental, onde pouca ou
quase nenhuma ocorrência ocasionou a invasão humana a ponto de intervir na
cadeia natural de preservação ambiental, mesmo com a formulação de
pastagens artificiais que somam não mais que 5%, implantadas pelos antigos
fazendeiros, que abandonaram as áreas que com o passar dos tempos,
começam a se restaurarem naturalmente, ajudadas pelos animais e aves que
ao deixarem seus excrementos, trazem com sigo sementes que germinam
reformulando o ciclo de vida.
65
Considerado como Posto de Proteção Ambiental, o SESC Pantanal, tem
demarcado, zonas de uso especial, designados especificamente para a
manutenção da administração, onde devidamente através de estudos de
impacto ambiental, são instaladas as brigadas de incêndio e defesa, conhecidas
como Casas dos Guardas Parques, oficina e posto de observação dos
pesquisadores da fauna, flora e toda a biodiversidade sob e sobre solo. Paralela
a área demarcada para pesquisas, foram demarcadas outras áreas para a
recreação, e palco com expressivas belezas naturais, no intuito de
desempenhar o papel de escola, visando à educação ambiental para todos que
do Pantanal fazem passagem de lazer ou dele dependem de sua sobrevivência.
Com isso, ensina-se o respeito que devemos ter e compreender a natureza,
para que no futuro possamos inúmeras vezes contemplar as mesmas
paisagens, caminhando entre matas e trilhas com as mesmas admirações e
vislumbramentos.
O Complexo do Pantanal, com 186,5 mil ha., é um exuberante exemplo
de áreas alagadas abrangendo o Parque Nacional do Pantanal Mato-
grossense. O Pantanal representa a maior planície de água doce alagada do
mundo, concentrando as maiores e mais espetaculares populações da fauna
silvestre neotropical. A vegetação é um prolongamento do Cerrado brasileiro e
ao norte sofre influência da região amazônica, possuindo características de
ambos os ecossistemas. Exatamente por isso, guarda uma das faunas mais
variadas do planeta.
No obstante da realidade, constatada por nossa equipe, conseguimos
entender do porquê do êxodo pantaneiro. Os colonos, mal orientados,
aceleraram o processo de degradação de algumas reservas, com a exploração
inadequada, com isso, enfraquecida a terra a desertam, deixando a mercê das
próprias intempéries da natureza em se regenerarem. Outros ribeirinhos,
mesmo em conflito com o seu bem estar, permanecem nas terras onde sempre
viveram, só que, com maiores dificuldades do que dantes. Como a Comunidade
66
de Pimenteira que faz divisa com a RPPN. Desabafava para a nossa equipe,
uma jovem moradora da colônia, em tons ríspidos e ofensivos a nós dirigidos.
Imaginando que fôssemos funcionários do SESC Pantanal. Esclarecidos os
equívocos, nos identificando como sendo pesquisadores da UFMT, e que
estávamos defendendo uma dissertação, para conclusão de nossos estudos e
graduação, mesmo assim, ainda bastante abalada e revoltada com a
construção da reserva RPPN. Sua instalação trouxe agravos generalizando
discordâncias entre os ribeirinhos, exaltando ainda mais com os problemas
sociais existentes dentro da comunidade que com o tempo, tomou proporções
desfavoráveis para o bem estar geral da Comunidade Pimenteira.
Os povos ali antes existentes inibiam a invasão de predadores humanos
que o tinham e nem se importavam com a necessidade de preservarem
absolutamente nada, apostamente, queriam sim, gananciosamente usarem
todos os subterfúgios possíveis para alimentarem suas ambições de ganhos
monetários, embora tivessem ciências da necessidade de se evitarem a
devastação e o extermínio de boa parte de nossa fauna e flora.
Os ribeirinhos sempre trouxeram harmonias mútuas com a natureza,
postergando benefícios próprios, visando sempre o bem estar da comunidade e
em prol de todos. Infelizmente não deparamos com essas realidades,
principalmente por terem sido tolhidos da liberdade de ir e vir, na verdade seus
passos são rigorosamente monitorados pela RPPN, como se fossem animais.
Nem mesmo a pesca de sustento de suas famílias pode ser livre, devendo dar
satisfações a quem de direito, caso contrário o transtorno seeminente. Isso
influencia sem a menor sombra de dúvidas, podendo cair no esquecimento boa
parte de alguns mitos e lendas pertinentes às águas, o que seria lastimável
para as culturas ribeirinhas e para o próprio meio ambiente, que seria
desbravado pelos homens sem receios das lendárias assombrações
imaginárias mitigadas.
67
Ao matizarem os espaços das reservas pantaneiras, por razões
supostamente científicas, inibem espécies da biodiversidade, a se reproduzirem
livremente. Com isso, muitas das espécies de animais e vegetais tendem a
desaparecer devido às manipulações indevidas e inadequadas. Embora
tenhamos em mente, a certeza, que a natureza tem sons mudos, ouve e fala
em suplícios ao nos exibir majestosamente encantadora, para que possamos
compreendê-la e respeitá-la, a preservando para futuros distantes de s hoje
presentes, pois as poesias das matas ditam versos, que nos encantam. O que
seria de nós se o houvesse os diálogos, obviamente que seria um mundo
sem sonhos, sem beleza, sem dignidade e o pior sem razão de viver
(BARCELOS, 2003).
Uma das bonitezas de nossa maneira de estar
No mundo e com o mundo como
Seres históricos, é a capacidade de,
intervindo no mundo, conhecer o mundo.
Freire, 1996
2.6 PESQUISA ECOLÓGICA DE LONGA DURAÇÃO – PELD
Em decorrência dos estudos preliminares da possibilidade de parcerias,
as áreas “core” do Site Pantanal Norte é a RPPN SESC - Pantanal, que fazem
parte da Estância Ecológica SESC - Pantanal. A rede nacional forma o
Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), do CNPq. O
PELD é um subprograma do Programa Integrado de Ecologia – PIE. Destina-se
a estruturar e programar redes de pesquisas ecológicas de longa duração e a
promoverem suportes a um conjunto de áreas destinadas às pesquisas
representativas dos biomas brasileiros, mediantes editais dirigidos às
instituições responsáveis pelas programações científicas, tecnológicas e de
manutenções das áreas pré demarcadas.
68
O programa PELD visa permitir o desenvolvimento de estudos ecológicos
de longa duração, segundo uma agenda comum de pesquisas garantidas por
linhas especiais de financiamentos que contemplam alguns temas como a
conservação da biodiversidade, padrões e controles das produtividades
primárias e secundárias, dinâmicas de populações e organizações de
comunidades e ecossistemas.
Dinâmicas de nutrientes e efeitos de perturbações naturais e impactos de
atividades antrópicas. Através das parcerias constituídas entre a RPPN do
SESC/PANTANAL, estas Instituições tiveram acessos as áreas ecologicamente
preservadas, possibilitando estudos ecológicos, que serviriam de subsídios na
concorrência nacional do Programa Ecológico de Longa Duração (PELD) do
CNPq. Foi elaborado e aprovado pelo CNPq um grande projeto Multidisciplinar,
envolvendo 20 grupos de pesquisas de diversas áreas com a cooperação da
UFMT. Para que as pesquisas alcancem objetivos favoráveis e contemplativos,
é fundamental que a EA desenvolva projetos, que ensejam a construção da
consciência global sobre as questões diretamente relacionadas com o bem
estar, dando-lhes conforto e esperança de vidas melhores.
A Educação Ambiental deve ser desenvolvida com os
objetivos de auxiliaros alunos a construírem uma
consciência global das questões relativas ao meio, para
que possam assumir posições afinadas com valores
referentes à vida.
Michèle Sato
2.7 GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL - GPEA
A UFMT, junto ao seu corpo docente, forma Grupos de Pesquisadores
em Educação Ambiental - GPEA, com títulos de graduação e pós graduação
69
abrangendo projetos relacionados com a Educação Ambiental, com finalidades
de promoverem diálogos com e entre comunidades ribeirinhas, para que
possam definir metas que gerem o bem estar social e apazigúem
harmoniosamente com a biodiversidade, preservando a formação de totalidade
dos circuitos e dispositivos de comutação que permitam as ligações entre as
entidades nacional ou internacionais, com metas específicas de reordenar
critérios que possam garantirem programas específicos que atendam dentro
das comunidades a Educação Ambiental.
Tivemos incluídos em nossas bagagens de pesquisas, a oportunidade de
compartilharmos de uma forma ou de outra, contribuindo sistematicamente para
uma melhor formação dos membros das sociedades visitadas por nossa
equipe. Variadas foram as formas e temas, com complexidades pertinentes de
caso a caso, relacionados com os conjuntos de indivíduos unidos por
características somáticas, culturais e lingüísticas comuns às comunidades.
O fato de sermos pesquisadoras causou-nos entusiasmos múltiplos, ao
sermos lisonjeadas com elogios, por fazermos parte de um grupo de pessoas
que não se preocupam com o bem estar da comunidade ribeirinha e entorno
como também, promovemos debates com a participação da sociedade
comunitária sobre assuntos diversos, diagnosticando o potencial do turismo
rural, que deve ter primordial controle físico e cultural. Assim sendo,
colaboramos com os resgates de mitos e lendas. Concretizamos em nosso
cenário mato-grossense de pesquisas, resultados plausíveis de orgulho de
nossa equipe que nos honrou ao desenvolvermos pesquisas direcionadas a EA,
fortalecendo nossos currículos acadêmicos, definidos e acrescentados pelas
indagações minuciosas promovidas pelo grupo, junto às comunidades, com
diversidades de dificuldades.
70
ATO - III – METODOLOGIA
Imagem 15: ninhal
Fonte: Dolores Garcia
Local: Pantanal – RPPN
Data: 07/2004
Esta não é minha voz, mas de muitas águas, aqui
não se organiza simplesmente um texto, aqui se
fala de encantamentos.
Lya Luft (2002)
71
3. CAMINHOS PERCORRIDOS
As dificuldades inicialmente falando, foram ínfimas em comparação ao
que vimos na prática, principalmente ao enfrentarmos desconfianças e receios
mútuos quando da abordagem para coletarmos informações pertinentes a
nossa pesquisa. Para que pudéssemos evoluir, tivemos que nos respeitarmos,
formando ligações de amizades ou dependência moral, com simpatias mútuas
entre pesquisadores e narradores. Com isso, descobrimos valores ocultos aos
ouvidos do povo, ao depararmos com indivíduos que conseguem se
expressar poetizando, o que nos deixou encantados, que deverá ser um
método e o uma pesquisa metodológica, diferenciando métodos novos a
serem construídos, de métodos de conhecimentos construídos e ultrapassados.
Formando pesquisadores capazes de discernir junto às comunidades,
propostas sociais, mesmo que não as transformem em realidades nossas
propostas, mas consequentemente passarão a permanecerem em pauta para
cobranças futuras, que nosso grupo de pesquisas detectou afazeres,
capazes de gerar conceitos e bem estar comunitário, consequentemente
resgatando mitos. Este propósito é concretizado através da formação do
grupo-pesquisador. As pessoas que compõem os sujeitos da pesquisa são
transformadas em co-pesquisadores, enquanto os pesquisadores oficiais se
tornam os facilitadores da investigação. Assim, o conhecimento produzido na
pesquisa emerge do grupo-pesquisador como todo. O todo do grupo-
pesquisador é o da sóciopoética. A transformação das pessoas pesquisadas
em grupo-pesquisador é uma exigência ética e política fundamental
(GAUTHIER, 1999).
Apesar de a Sóciopoética tratar-se essencialmente de um meio de
pesquisa e conseqüentemente, de indagação e não de transformação explícita
da realidade, o pesquisador oficial pode incorrer na tentação de tentar
transformar os co-pesquisadores, ao invés de escutá-los e aprender com os
72
mesmos. Queremos também alertar, primordialmente sobre o respeito que
temos que ter com as diferenciadas cultura e seus valores, principalmente
quando abortados para entrevistas.
Realmente não creio, porque não concebo que possa
vir um dia em que a ciência esteja completa e acabada.
Haverá sempre novos problemas, e, ao mesmo
tempo ritmo com que a ciência foi capaz de resolver
problemas que se consideravam filosóficos há uma dúzia
de anos ou há um século, voltarão a aparecer novos
problemas que não haviam sido apercebidos como tais.
Claude Levi-Strauss/1978
3.1 PESQUISA QUALITATIVA
As pesquisas por nós elaboradas são essencialmente qualitativas e
instrutivas, pois quando da elaboração do conteúdo, trouxemos conhecimentos
e interpretações diversificadas das descrições por nós observadas entre
entrevistas e vivências, elas foram primordiais para nós em todos os sentidos.
Fundamentalmente como base foi consequentemente a nossa
persistência para que pudéssemos conseguir chegarmos o mais perto possível
da realidade de uma evidência focalizada. Por isto, tivemos como ponto alto, a
qualidade das informações hipoteticamente definida, mesmo porque,
andávamos de mãos dadas com o abstrato num universo de significados, pelas
inspirações fortalecidas pelas crenças.
A nossa pesquisa se conteve qualificativamente na busca de objetivos,
dando-lhes formas e qualidades genuínas das coisas nos exatos momentos de
suas essências de sentido, conotando sentimentos as experiências e
descobertas através dos nossos olhares. Compreendermos os significados de
acordo com a teoria da alma. Concebida como origem da alma individual, às
imagens ancestrais e simbólicas materializadas e existentes nas lendas e nos
73
mitos da humanidade constitui os inconscientes coletivos que revelam nos
indivíduos através dos sonhos, delírios, perturbações e em alguns, despertam
manifestações artísticas jamais imaginadas pelo indivíduo, que passam a
contribuir instintivamente com a EA.
As entrevistas elaboradas por nós abrangeram várias pessoas,
selecionadas entre moradores das comunidades ribeirinhas do Pantanal Mato-
grossense. As pessoas, com diversificação de idades, tempo de moradia na
região, sexo, religião, idolatria, cultura para que pudéssemos obter informações
não generalizadas, mas sim, com interpretações pessoais, que muito nos
surpreenderam com a diversidade de informações.
Tivemos o cuidado de ao entrevistarmos, usarmos de metodologias
direcionadas com a interação social, sem a qual esta pesquisa, provavelmente
poderia sofrer desvirtuações significativas e tumultuadas. Ao tentarmos resgatar
a realidade de cada símbolo, a sua interação com a ciência, com a fisionologia,
com a maturidade de sua existência e procedência.
...resgatamos conversas, histórias da localidade e,
através de seus mitos e lendas, buscamos
conhecer a população através da interação
simbólica que então se estabelece. O
conhecimento científico dos mbolos, se
realmente existe, dependerá da articulação de
todas as demais ciências (SATO & PASSOS,
2002, p. 03).
Temos em mente, que o imaginário se torna popular, quando se vê ou se
depara com sentimentos de perigo e isolamento, forçando a mente ver coisas
que a transformem em reais seres e a elas dão vidas, poderes, corpo,
tamanhos vinculados aos fenômenos, subjetivando ramificações míticas,
geradas pelo olhar humano. É impossível uma vida em sociedade sem que haja
uma rede simbólica de sustentação de uma realidade polissêmica relacionada a
um mito.
74
Falar na fenomenologia é falar de uma perspectiva
Do olhar humano por sobre
Uma realidade polissêmica, é de alguma maneira ver
o mundo a partir de um sujeito que o acolhe, luta,
se contrapõe, distingue, ama, recusa.
Passos/1998
3.2. FENOMENOLOGIA
Para descrever, meditar para interpretar a percepção e os fenômenos
sobrenaturais e fora do cotidiano, mas vividos por comunidades ribeirinhas,
contamos com os estudos da fenomenologia que busca interpretações, a
fenomenologia é aquilo que nossas mentes imaginária deixou gerar como foco
de um fato, ou seja: deu vida ao imaginário, gerando um corpo presente com
múltiplas formas e ferocidades distintas a cada ser mitificado. É muito fácil
contar uma história acrescentando heroísmos, muito mais fácil ainda é gerar um
monstro construído do imaginário e ao mundo mostrar-lhes com vida.
O espaço do medo que vida ao medo e nos protege sem o qual,
seríamos afoitos e destemidos, sendo assim, poucos de nos conseguiríamos
viver nesse mundo mítico, impulsionado por desafios.
A fenomenologia é a essência do estudo de um fato mitológico, que
busca na origem, espaços para se resgatar mitos e lendas alienáveis a cada
acontecimento, e cujo esforço contenta-se em encontrar parâmetros plausíveis
de sustentação. Promovendo a busca da pureza enquanto permanece como
fenômenos de essências e referências, filtrando componentes incômodas a
natureza histórica do fato.
Considerada pela fenomenologia, quando o brilho perde a sonoridade de
um contexto, iguala-se ao precipício de um eclipse gerando histórias e coisas
75
tangíveis provenientes dos fenômenos que rapidamente geram manifestos pela
interpretações, que antes de serem mitificados, deveriam ser consideradas as
manifestações perceptivas, significando secundariamente as subjacências que
uma história proporciona quando da posição de linhas que divergem ao se
afastarem progressivamente da realidade do fato da além da acepção em que
é empregada.
Por mais que ouça sobre teoria da fenomenologia, por diversos teóricos,
não posso deixar de citar Merleau-Ponty, pois é para s um dos grandes
teóricos sobre fenomenologia. A verdadeira filosofia de nossos estudos e
pesquisas nos fortalece ao captarmos o mundo místico, com isto,
reaprendemos a respeitar as lendas, sentir e compartilhar de uma história
elaborada e narrada, dando-nos a oportunidade de certificarmos da
profundidade filosófica miticamente estudada. As reflexões de nossos
sentimentos nos responsabilizam pelos nossos destinos. “Nós tomamos em
nossas mãos o nosso destino, tornamo-nos responsáveis pela reflexão em que
empenhamos nossa vida” (MERLEAU-PONTY, 1980, p. 71).
A fenomenologia mostra os parâmetros conscienciosos de todos os
indivíduos, sejam eles adultos, crianças ou idosos, gerando métodos e
diretrizes de investigações mais apuradas dentro da ciência interpretativa dos
fenômenos que causa choque, impactuados com os sentimentos de defesa, ou
seja, o que se mostra para si a própria relação. Defesa e conceito ao ser
amedrontado pela maneira e procedência do relato a ele imposto. E em si
mesmo tal como é. Desta feita, “...as investigações fenomenológicas mostram a
consciência do sujeito, através dos relatos de suas experiências internas, e
trata de viver em sua consciência por empatia os fenômenos relatados pelo
outro” (ASTI-VERA, 1980, p. 71).
Bacherlad (2002) em seu livro “A água e os sonhos’ completou a chave
para uma leitura possível, através de sua filosofia poética do sonho e da
76
fenomenologia do cotidiano, sobretudo nas simbologias e imagens relativas à
água. Seu livro traz uma definição atraente a respeito da imaginação que
somente pode ser esclarecida pelos poemas que ele inspira: ”A imaginação
inventa mais que coisas e dramas; inventa vida nova, inventa mente nova; abre
olhos que têm novos tipos de visão” (p. 18).
De tudo que se escreve, aprecio somente o que alguém
escreve com seu próprio sangue e aprenderás que o
sangue é espírito - (NIETZSCHE)
3.3 PRODUÇÃO DOS DADOS
Ao sairmos a campo, percebemos que a situação não seria tão fácil, pois
para tudo tínhamos que ter a autorização do SESC e do próprio PELD, pois
dependíamos de barco, hospedagem, alimentação, carro e motorista. Muitas
das nossas viagens acabavam sendo canceladas por não conseguirmos
autorizações pertinentes a nossa locomoção ou motivos adversos aos nossos
desejos.
Registramos em nossas pesquisas, uma infinidade de fatos que geraram
lendas direcionadas às comunidades pantaneiras. Cuidadosamente
assemelhadas com sua origem, e de versões diferenciadas, como em uma
peça teatral, com seus protagonistas os seres guardiões da natureza. Apesar
da variada gama de mitos, destacamos em epígrafe apenas duas lendas
d’água, por considerarmos serem necessários estudos mais profundos. Tendo
por mérito a pesquisa fortalecida pela lenda do “Minhocão” com comentários
breves não menos desprezíveis da lenda do “Peixe que cai do céu”.
Quanto às entrevistas, procuramos sondar o cotidiano dos moradores,
com isso, fluía com mais naturalidade por parte dos nossos colaboradores
77
visitados no decorrer do dia varando noites em conversas de fogueiras. Os
pantaneiros têm por hábito, no período de 10 da man até às 15:00 horas,
tirarem uma “cesta”, devido ao sol resplandecente e de claridade intensa o que
estimula não só a uma soneca, como muitos a não saírem de suas casas nesse
período. Em todas as entrevistas, sempre havia aqueles que se mostravam
resistentes quanto ao assunto. Achavam que estávamos ali para debochar de
suas crendices, como disse Curupira.
Deparamos também com entrevistados que nem sequer conheciam os
mitos de sua comunidade, chegando a nos dizer que jamais haviam visto falar
do minhocão.
Nunca o vi, apesar de constantemente cruzar o rio
em todos os seus sentidos. Inúmeras foi às vezes
que adormeci dentro do barco, o deixando a deriva
ou ancorado às margens. Acho que se ele existe,
tem medo de mim. Todo mundo diz que ele existe,
e eu particularmente acho que ele também existe.
Se existiu no passado ele tem que existir agora, só
que ninguém mais o viu. Dizem os amigos de meu
pai que ele está hibernando desde que se
alimentou com uma porção de gente do barco que
ele pôs a pique. Se existia no passado, porque não
agora, apesar de ninguém ter conseguido chegar
nas profundezas das águas de nosso Pantanal
onde ele se acomoda em sua caverna.
Portanto, muitos até acostumarem com a nossa presença, omitiam
informações, mas com o passar do tempo, após algumas conversas se
sentiram bem à vontade, e dessa forma fluíam os causos com naturalidade.
Dando-nos rescaldo para continuarmos nossas pesquisas, com isso,
aproveitamos todas as insinuações e gestos de cada um para que pudéssemos
somar esforços.
78
Utilizamos como instrumento o auxílio de um gravador, para facilitar a
transcrição e análise dos relatos; e ainda uma máquina fotográfica para o
registro iconográfico das imagens. Não causamos nenhum constrangimento
com os nossos entrevistados, pelo contrário, na primeira visita ao registrarmos
as fotos, os mesmos pediram que retornássemos para levar as fotos tiradas
deles, pois eles disseram que muitos pesquisadores iam ate tiravam foto e
informações deles, mas que não voltavam para levar o relato e nem as fotos. O
que nos comprometemos tão logo fosse possível a eles mostraríamos o
compartilhamento de nossas pesquisas.
Nas visitas subseqüentes, mais precisamente na segunda, honrados nos
sentimos gloriosos em poder cumprir o que havíamos prometido. A todos eles,
mostramos as fotos aos colaboradores, e a cada um fizemos questão de
entregar-lhes um exemplar a eles. Gesto simples que nos deu sensatez de
confiança mútua, abrindo portas para futuros pesquisadores, com isso,
pudemos observar a alegria contagiante em seus olhares, causando sorrisos e
comentários.
Para preservarmos a identidade e a intimidade dos nossos
cooperadores, reportaremos a eles com nomes fictícios. Acreditamos não
serem necessários às identificações pelos nomes verídicos. Durante as
pesquisas de campo não privilegiamos a idade, nem o sexo, nem a
religiosidade de nossos colaboradores entre 12 anos, até pessoas com idades
mais avançadas próximas aos 86 anos. Os entrevistados nos encantaram com
o jeito mágico dos sons das suas palavras, divertindo-nos com os movimentos
de seus gestos, expressões e onomatopéias que nada mais é, que a formação
de uma palavra cujo som tenta imitar ou reproduzir o que significa e isso nos
levou a sorrisos desconcertantes, trazendo-nos conforto de espírito e presenças
satisfatórias dentro das comunidades, com a quais compartilhamos dias e dias
de prazerosas entrevistas.
79
A liberdade e satisfação tua proporcionaram-nos a ouvirmos o contar
repetitivo dos fatos inúmeras vezes, mas a cada relato, acrescentavam-se
novas informações hora análoga, ora divergente relacionado ao mesmo mito.
Estes levantamentos permitiram uma relação lendária do passado, baseada no
tempo e na sua origem até o momento presente. Pelas interpretações
memoriais em relação ao passado, misturando-se com as percepções
imediatas, ativas, latentes e penetrantes, ocultamente invasora.
A fala pantaneira molda nossos ouvidos, como se o som fosse uma
melodia, os pantaneiros imprimem sentidos nas suas falas, nos contagiando. As
onomatopéias criam, fazendo com que o ouvinte seja levado para o momento
da ação. Por exemplo: Iara relatou-nos a lenda do Minhocão da seguinte forma:
“Eu morava pra baixo onde tem aquela volta, eu morava ali, ai de fronte era
uma fauna, você escutava o barranco fazer assim; ruc, ruc, ruc, ruc, de repente
caia o barranco, eu tenho medo do bicho, eu já andei de canoa, aqui em Piraim,
onde estava desta altura de espuma” (Mostrava). Os efeitos sonoros e visuais
de suas falas fazem-nos vivenciarmos os momentos imaginários, como se
tivéssemos tido antes, tornando-se quase que realista suas narrativas.
Os contadores de causos, independentes da sexualidade, fazem
harmoniosamente entre gesto e a onomatopéia, o sentido de vida, deixando
nossas mentes vagarem livremente, pois um bom narrador utiliza desses
recursos para prender a atenção de quem está apreciando sua narrativa,
porque não basta narrar, é preciso dar vida às palavras. A voz pantaneira é
poética e melodiosa.“A voz poética assume a função coesiva e estabilizante,
sem a qual, o grupo social não poderia sobreviver (...) o espelho mágico do qual
a imagem não se apaga mesmo que eles tenham passado” (ZUMTHOR, 1993,
p. 139).
As variações lingüísticas existentes no Pantanal são peculiares à região,
moldam nossos ouvidos, como se suas falas fossem sinfonias. Os termos
80
regionais chamam-nos à atenção, pelas maneiras narrativas, que ao nosso ver
eram algo mágico. Os olhares, a pausas dadas nas horas convenientes, os
gestos, as entonações, os movimentos, todos esses ingredientes nos faziam
ficarmos embriagados e envolventes ao ouvirmos os causos com profunda
atenção. Compreendemos que não basta ouvirmos as narrações, é
fundamental termos a precisão do sentido, dando graças e seriedades às
palavras ditas. Como relatou-nos o Pai do mato:
Sim, mais as crianças não gosta que eu saio, mas
quando eu chequei num riozinho chamado Sopé,
que deságua no rio Cuiabá mesmo, eu ia indo, vi
aquele negócio num lugar de poço fosfosco
escumando de um lado pro outro, ficou nessa
artura ,(mostrou-nos com gestos de sua mão a
altura) ai eu ia remando assim, assim,
assim,(mostrou-nos como) bem na beiradinha do
barranco, assim onde era a barranqueira, meio
parado, eu vi fundo um trocinho assim, (gesto)
que foi afundando, afundando, afundando, assim,
eu vi falei né, pensei comigo o que será que é,
quem sabe é a aba de alguma arraia e ele foi
fazendo um friozinho assim um borbulha
cumpriduuu, eu passei e ainda fico esse
borbulhadinho da água né, peguei o anzó e fui
numa distancinha assim (gesto) e joguei o anzó, foi
que joguei o anzó eu vi tava boianu que tava,
até ferveu, ai eu joguei o anzó quando acabei de
jogar a linha estirou, eu ferrei era um pacu, um
pacu desse bom assim,(gesto) aí eu puxei ele,
peguei na linha suspendi aqui na canoa, a hora eu
suspendi o pacu, o rabinho do anzó rebentou e o
pacu caiu na canoa e começou corcovano,
corcovano, corcovano e eu carquei ele nessa
hora, a hora que eu tava carcanu ele assim, eu
tinha pegadu o cacete, como daqui ali naquele
com barzinho assim, mais dispencou um trecho de
barranco. Nossa senhora, foi feio, a água cresceu
da artura dessa teia, dessa artura, eu dei uma
cacetada assim no pacu, joguei ele peguei o remu
e mandei pra baixo, não demoro estando outro,
falei vigi Maria o bicho fico bravo porque passei ali,
há mais esse dia me deu medu pesca lá.
81
Ao olharmos as narrativas dos moradores da comunidade de São Pedro,
nossas relações ficaram cada vez mais próximas, algo peculiar dos moradores
do Pantanal. Como nossas entrevistas foram fotografadas e gravadas em fita
cassete, procuramos preservar gestos e o modo de falar dos entrevistados.
Formas gramaticais não convencionais, cacoetes (“né”, “daí”, “é”), pronúncias
típicas ou específicas de cada narrador (“cum”, para dizer “com”; “cê”
substituindo “você” etc), as concordâncias nominais e verbais foram mantidas.
A omissão de sílabas e letras, como no uso do gerúndio. Exemplo; falamu,
escrenu, falo, grito, andamu, ou ausência do “s” nós vamu, falamu, pois são
características das comunidades, pois acreditamos que essas peculiaridades
fariam diferenças, e de forma alguma iríamos prejudicar as pesquisas.
Em nossas longas peregrinações entre comunidades pantaneiras, na sua
faculdade de sentirem, pensarem e agirem, acumulamos experiências,
incentivando talentos ocultos através das artes, hábitos, condutas e técnicas. A
humanidade deveria pensar de forma universal e subjetiva, ao buscarem
melhorias de suas vidas comparativas com as dos outros, pois sabedores
somos que são ilusões ao pensarmos que apenas as teorizações científicas
são capazes de resolverem os problemas de um povo.
82
“O imaginário é esta encruzilhada antropológica que permite
esclarecer um aspecto de uma determinada ciência humana por
um outro aspecto de uma outra “
Gilbert Durant/ 2002
3.4 OS MISTÉRIOS DO PANTANAL
Veremos aqui muitas narrativas, todas tão encharcadas de mistérios,
quanto à região, pois antes de tudo estão mergulhadas no saber pantaneiro.
Desse saber, através das interpretações, resgata-se mitos, ritos e gritos caídos
no esquecimento, como os lugares de suas origens, e peso de seus assombros,
que geram sentimentos de medo. Lembranças de pessoas que de uma forma
ou de outras, sofreram na própria pele as fantasias do mito, como as histórias
de benzedeiros, que “benzem mordidas de cobra em animais domésticos, a
quilômetros de distância e o curou”.
O Pai do Mato contou-nos episódios acontecidos e repletos de devaneios
sobre misticismos, em destaque, os repertórios ouvidos através dos indivíduos
que a eles também contaram por anos a fio desde ainda menino. Os mitos lhe
eram repassados com fortes tendências do sobrenatural e o naturalmente vivido
por cada um que se assombram no negritar das noites, quando s, e
necessário se faz deslocarem-se entre comunidades e forçosamente precisam
atravessar as matas, a fantasia e o medo povoam suas mentes, revelando-os
seres muitas das vezes fictícios. Desvela-se que a natureza tem mais coisas
que a razão podem nos dar contas de explicarem. Tudo que acontece no
Pantanal vira causo, transformando em lenda ao serem entrelaçadas para
serem repassadas como sendo verdadeiras. Mesmo sendo acontecimentos
verdadeiros, quando a imaginação os recheia de fantasias, deixam de serem
83
um “simples acontecimento”, passando a somar entre mistério, enriquecendo a
mítica.
Essas narrativas artesanais, despidas de preconceitos, mas com muita
imaginação e sabedoria, trazem muito do que é ser povo pantaneiro, do que é o
Pantanal, abrangendo o misticismo, a fauna, flora e todo o seu ecossistema
existente. As narrativas estão repletas de sematologia lingüísticas que são
fáceis de serem compreendidas. Mesmo sendo subjacentes e simples, são
carregadas de sotaques e modo de agir e do pensar pantaneiro, onde a
criatividade, o imaginário e a maneira do contar fazem a diferença.
Fatos e contos de causos assumem importância dinâmica com tal
proporcionalidade, que o indivíduo que o narra, como o que o ouve, compartilha
dos momentos de euforias que ambos sentem no próprio corpo, como se
estivessem vivenciando ou recriando aquele momento. Como afirma Paul
Zumthor (1992, p. 142) “o corpo não é somente um agregado de membros que
gesticulam sob nossos olhos(...) é a nossa maneira de ser no mundo, nosso
modo de existir no tempo e no espaço”.
Para que possamos canalizar para análises nossas pesquisas teremos
como apoio o filósofo e educador francês Gaston Bachelard, no caso da análise
dos mitos das águas. Um dos pontos consistentes de nossa partida, foi o
desenvolvimento de metodologias gradativas desobrigando-nos a mantermos
as amarras das categorizações, e nos libertarmos para as aventuras das
pluralidade dos significados característicos dos imaginários.
É sabido, que o contador de fatos jocosos, não é prisioneiro de um
modelo inalterável, transfigurando em sua mente estruturas que o permitem
apoderar-se do fictício cristalizado pelo passar dos tempos ou pela tradição
oral e, assim, sendo, como um artista, transforma sentimentos alheios em
medos ao contar o mito, folcloriando ainda mais ao tentar repassar a sua
84
maneira, dando veracidade aos fatos meramente míticos. De maneira que
deixa em suspense desequilíbrio a individualidade de sentimentos, que é se
não os únicos motivos da existência das lendas. Na realidade a cada novo
desempenho pela maneira de como foi contada e o toque de como será
recontada, traz sinais evidentes de mutações do engenhoso artístico de cada
narrador. As narrativas relatadas/gravadas são as verdadeiras expressões da
multiplicidade do viver pantaneiro, envolve emoções, sonhos, devaneios,
aspirações, realizações, frustrações, idéias, encantos e desencantos. Enfim,
toda a vida dividida em floresta e água dessa planície mágica.
As paisagens compostas e emolduradas pelos rios e florestas significam
para os habitantes da região seus alimentos e suas sobrevivências, seus
medos e suas histórias, espaços de vida e trabalhos, que para eles a
existência de um cotidiano repetitivo, onde os elementos fantásticos são
maravilhosos, fazem no dia a dia, as paisagens mudarem aos seus olhos.
85
ATO – IV – Interpretando o Mito
Imagem 16: Divino Espírito Santo
Fonte: Dolores Garcia
Local: Mimoso
Data: 07/2005
A vida é breve, a alma é vasta.
(Fernando Pessoa)
E penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e com os pés
E com o nariz e com a boca.
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós, que
trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender.
86
4. A ÁGUA MÍTICA E AS LENDAS NA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
As águas foram, e sempre serão personagens de grandes destaques no
Pantanal, onde o mítico, e o imaginário estarão sempre presentes nas
comunidades pantaneiras. A importância e o poder das águas residem também
numa aura de mistérios, de segredos, de simbologias mágicas e psíquicas; de
fluxos invisíveis, mas perfeitamente perceptíveis, mesmo para quem tem
sensibilidades pouco sutis.
O medo, ligado às águas profundas sempre a imaginou cheia de
monstros, um lugar por excelência recheado de medos e de monstros, sempre
prontos para devorarem pessoas que ali por ventura vissem a passar. As águas
associadas ao medo fazem materializarem-se monstros, dando-lhes formas
como o Minhocão. Serpente de tamanho descomunal e voraz. São seres,
obviamente criados no momento de um fato que gerou o medo,
consequentemente o imaginário deu-lhe vida e corpo, e o sentimento temos ou
veneração com o passar dos tempos. O rio torna-se assim a própria serpente,
engolindo embarcações e pessoas que não o respeita.
A água, considerada substância volúvel e complacente nas misturas em
seu estado líquido. Segundo os ribeirinhos, as águas pantaneiras pela sua
doçura e encantos, a consideram feminina, por seu berçário vasto, guardando
em seu útero, vidas diversificadas, tendo os próprios movimentos de fluxos e
refluxos de vida, ligadas às fertilidades dos campos, simbolizando continuação
de vidas, sentimentos, emoções e perplexidades inconscientes, que é conjunto
de processos e fatos psíquicos que o exteriores ao âmbito da consciência e
impossíveis de serem trazidos à memória, mas que podem manifestarem-se
nos sonhos, em estados depressivos e neuróticos, quando a consciência não
está desperta, e cujo principal teorizador é a própria devastação causada pelo
desacautelado homem. “Às vezes a penetração é tão profunda, tão íntima que,
87
para a imaginação, o lago conserva em plena luz do dia um pouco dessa
matéria noturna, um pouco dessa matéria noturna (...). torna-se um negro
pântano onde vivem os pássaros monstruosos” (BACHELARD, 2003, p. 105).
Outros a vêem como água próspera ou até mesmo como águas
enfadadas por desequilíbrios, mesmo assim, devaneiam em sonhos imaginários
proporcionados pelos encantos pantaneiros que se transformam em palco de
lendas e mitos folclóricos. Têm o poder de absorver para si, as fantasias das
forças naturais, presentes na maioria dos rituais folclóricos, satânicos,
sagrados, profanos e nas cerimônias religiosas de todo o mundo. As águas têm
poderes magnéticos de possessividades capazes de atraírem forças sobre
naturais visíveis ou invisivelmente mitigadas. Quando expurgadas são
benéficas, mas quando enxovalhadas trazem transtornos para os ecos sistemas
subtraindo vidas.
Essa água pode ser classificada como água viva e água morta, onde une
o sonho e sonhador e o faz devanear com todo o imaginário que o lugar
proporciona, produzem dramas, inventa vida nova, mente nova, onde coloca-
nos um convite para abrirmos os olhos e a mente para vermos esses novos
olhares (BACHELARD, 2002).
As lendas ou os mitos, normalmente surgem ao caírem das noites às
margens de rios ou nas imensidões das matas. Onde caboclos apanhados
pelas bocas das escuridões, passam a exalarem medo dos imaginários,
tornando-os enfraquecidos de suas carapaças. Com isso, geram sentimento de
pavores principalmente de vibrações sonoras vindas de direções opostas às
suas. Se adentrados nas matas, tornam-se vulneráveis aos sons das noites ou
se a beira das águas, tomados de pavores e calafrios, relembrando ou
confabulando histórias folclóricas, lhes restam tomarem de fantasias
movidos pelo oculto medo, gerando-os as suas próprias bulas míticas ao
levarem suas façanhas de terror e desespero aos ouvidos alheios.
88
Pouco a pouco, no mundo imaginário começa a fluir, como o curso de um
rio, o imaginário, seja ele: o sonho, devaneio, mito ou relato de imaginação. A
noite o imaginário flui, na beira do lago ou rio nos traz um medo específico, uma
espécie de medo úmido que penetra o sonhador e o faz estremecer. A água
nunca está sozinha, mesmo as mais claras trazem obsessões. A água a noite
dá um medo penetrante (BACHELARD, 2003).
Os rios não estão imunes aos assombros, pois, confabulam com as
mentes receosas, instigando o imaginário pantaneiro, fortalecidos pelo medo.
Apesar de vida cada rio ter, tantos outros o fantasiados como a água ferve e
caso gritem, assobiem ou falem em tons elevados triplicando de volume e
sobem inundando pastos. Desdobram-se em seus rios, lagos e corixos
encantados, onde vagam as almas, de afogadas, em rios intransponíveis e
temidos que enriqueçam as lendas.
Toda e qualquer sociedade, necessita dos mitos, eles encarnam suas
qualidades e atributos, além de servirem de referencial à própria sociedade que
os criou. De certa maneira, são elementos de ligação entre o humano e a
natureza. Eles nos fazem ver o que o está claro, ajuda-nos a entender uma
cultura. Analisar um mito, vivemos em um mundo transfigurado e impregnado
da presença de seres sobrenaturais.
Esses seres sobrenaturais encontram-se por todo o Pantanal e no
imaginário dos moradores das comunidades pantaneiras. Podem ser criados e
imaginados nos rios, nas baias, nos corixos, nas águas e nas matas. Basta
darmos atenções aos encantamentos do Pantanal. Portanto, para que esses
seres possam ajudar a preservarem os rios e as matas, precisam continuar a
existirem e a terem vidas longas. Temos que sensibilizar-nos e a todos, pois a
educação produz cultura e transforma a natureza.
89
Seria ingenuidade de nossa parte pensar na existência apenas uma
versão dos mitos, o que não é verdade, que mítica expande por ramificações
infinitas a cada versão uma vez contada e da maneira como ela é contada, e
tem mais, a diferenciação de idade dos contadores, tem pesos marcantes nas
controvérsias. A sociedade como um todo, acolhe para si, seu próprio mito, e
dele faz a sua bandeira em favor da preservação da natureza, como também
lhes vidas, o raras são as vezes que o cultuam. Cada versão é parte do
mito, não existe o certo e o errado, o que o interpretações diferentes, são
olhares diferentes. Conforme Jozef “O mito é a maneira em que uma sociedade
entende e ignora sua própria estrutura, revela sua presença mas também uma
carência. Isso se deve a que o mito assimila os acontecimentos culturais e
sociais” (1996, p. 117).
Cada povo, cada raça, cada etnia, cada religiosidade, contam suas
histórias desde a origem dos surgimentos de seus próprios mitos e lendas, na
tentativa de resgatarem suas memórias as eternizando.
O surgimento de um mito ocorre, quando é nutrido com relatos de
dramaticidade de um povo, acrescido de fantasias amedrontadoras,
provenientes de indivíduos cuja visão do oculto parte sempre da sua própria
personalidade e a outrem incentiva o medo imposto pela sensibilidade de cada
indivíduo, podendo assumir diferentes facções e com gradações de cores,
formatos, grandezas, espessuras, enfim... uma gama de metamorfoses, são
tidos como inteligentes ao serem eruditos, e saberes, como aconselhar,
proteger, castigar, assustar, presentear, anunciar ou pedir algo, mas sempre
ensinam. Esse é o meio da população preservar conservar ou recuperar matas,
rios e animais, respeitando seus espaços.
As lendas são um dos caminhos para a sensibilização ambiental, pois
por meio delas, é possível rever exemplos de como devemos ter cuidado com
nosso meio ambiente. Em epígrafes das modernidades foram excluídas todas e
90
qualquer coisa fora das ciências. Rumo à busca da verdade, estudiosos ou
filósofos traçaram planos à humanidade, projetando-os como saberes que
explicavam os fenômenos do mundo. Mas Shakespeare diria que “há mais
mistérios do que supõem-se nossas vãs filosofias”, e de fato outras formas de
saberes foram impondo as necessidades de abrirmos diálogos, recompondo-
nos na tentativa de compreendermos o mundo. Ciente, porém, que não são
apenas uma única verdade científica, mas múltiplos campos de conhecimentos.
No caso específico das metodologias de tantas narrativas presentes nos
“causos e assombrações” do Pantanal, elas conservam as estreitas ligações
“sociedade-ambiente”. Absurdas ou não, foram criadas nas expressões étnicas
de povos ou regiões, igualdades na tentativa de compreensão do mundo. Fitar
o mundo fenomenologicamente no contexto da EA, o significa apenas
compreendermos seus fenômenos. Significa cuidarmos e zelarmos dos seus
corações. Estes talvez sejam os sentidos mais profundos que façam emergirem
as consistentes ligações entre mitos e a EA.
As lendas e mitos são contribuintes para um processo que agregadas
aos ambientes, essas narrativas orais, componentes da cultura transmitida por
gerações são também, determinadas quanto aos avanços depredantes dos
desenvolvimentos econômicos onde se observa os deterioramentos e os
desfacelamentos de peculiaridades culturais de uma sociedade, comunidade ou
grupo determinado.
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A serpente é, em nós, um símbolo motor,
um ser que não tem nadadeira, nem pés, nem asas,
um ser que
não confiou suas capacidades motoras
a órgãos externos, a meios artificiais, mas que se
fez o móvel intimo de todo seu movimento
Bachelard, 2003
4.1 A SERPENTE O IMAGINÁRIO
A serpente é o animal que mais provocou interpretações míticas e
simbólicas. Considerado um animal peçonhento, de estética estranha,
rastejante, faz repercussões desde os primórdios dos tempos, representando
lendas, fantasias folclóricas e símbolos dos mais horripilantes pecados e de
todos os temores a ela designados. Por ser ambígua, está intimamente ligada a
terra e a água, vivendo em defesa e preservação das espécies em buracos
escuros, no qual, para os antigos era o submundo. A serpente está ligada à
chuva fertilizadora e a fertilidade. Para Bachelard, “A palavra serpente opera em
múltiplos registros. Vai das seduções murmuradas até as seduções irônicas das
doçuras lentas a um súbito silvo” (2003, p. 209). As lendas, fortalecidas pela
vontade alheia, a têm, como símbolo da sedução. Em crenças antigas
acreditava-se que as cobras podiam engravidar as mulheres. Pensava-se ainda
que a mordida de uma cobra fosse responsável pela primeira menstruação de
uma menina.
A fenomenologia interpreta a aparição dos répteis e serpentes, que com
o passar dos anos, emergiram das profundezas dos túneis subterrâneos,
segundo a lenda, descobrindo e dividindo rios e matas como seus novos
habitares. Infinitas são as lendas, tantas quantas importantes para a
conservação do meio ambiente, mas o Minhocão tem seu espaço reservado na
mente dos ribeirinhos pantaneiros, como sendo um dos mais temidos pela sua
sobrenaturalidade de tamanho e robustez, permanecendo, mesmo com o
92
passar dos anos desde a sua mitificação, persevera impoluto na imaginação
das comunidade ribeirinhas, alimentados pelos desconhecidos mundos
obscuros das profundezas subterrâneas, fazendo com que a imaginação
fustigada de fantasias tenebrosas, emaranha-se ainda mais nos labirintos da
mente.
A fantasia do medo diz que: todo ser rastejante tem afinidade familiar
com a serpente, tendo seu habitar natural nas profundezas das águas, não
importa se mares, oceanos, rios, poços, lagoas, o que importa é que tenha
água em abundância e seja profundo como o medo e o devaneio da mente.
Onde a imaginação faz esse ser circular nos meandros dos labirintos, dando
vida a todo ser rastejante, que é aparentado com a serpente, esse ser habita
baías profundas aparecendo também em poços e lugares fundos
(BACHELARD, 2003).
Podemos citar a fala de como narrou-nos o senhor Curupira, contador de
causos com uma boa dose de petas, como se lê:
Aquele cabelo vermelho, aquele cabelo cumpridu,
eu fiquei assim até bobo de ver, eu agüentei a
canoa, ele foi saindu no seco e saiu no seco, saiu
no seco e tinha um canto poço, assim que dava
pro outro lado no areião né, ele meteu pra lá, mas
a carcunda dele tinha a largura dessa mesa
(gesto). Aquele monstro de trem, era um poço
feio né. Ah! Eu agüentei a canoa né. Ele saiu no
seco e nem me olhou não fez nada, seguiu e
desceu pra lá (gesto). Ai eu ainda imbiquei a canoa
e falei eu vou olhar o rastro dele, (demonstrava
com as mãos os movimentos da canoa) pra se
é como de gado, e como que é. Num consigui vê.
Cheguei ali vi aquela unharada. Eu acho que é
esse que é o minhocão. Esse eu vi aí no rio que eu
vi na minha vida. Ai na hora no rio, que eu fiquei
assombrado com ele, foi este, um trem desse cai
numa armadilha, nem rede da nesse ai,
né...he.he.he.he”
93
Não foram poucas às vezes em que ficamos horas e horas ouvindo
causos sentados em escola rodeados por contadores, geralmente pessoas
idosas e moradores antigos da comunidade e pessoas curiosas que se
aproximavam para também ouvirem ou darem suas “palhinhas”. As pessoas
que a nós se achegavam, não enveredavam os pés, pois curiosos e atentos aos
causos, formavam uma roda de pessoas sentadas ao redor do contador, que
nos faziam gargalhar vez por outra.
Também tivemos o prazer de lermos muitas obras literárias de
pesquisadores consagrados. Após lermos muito, e escutarmos muitas histórias,
percebemos que nas narrativas a serpente às vezes é tida como um arco-íris, e
às vezes também é conhecida como espírito da água, às vezes é terrível em
sua cólera, ela possui o poder da auto-renovação, por causa de sua habilidade
de mudar e renovar a sua pele.
Os mitos e lendas, normalmente relembrados pelos contadores de
histórias, de certa forma, acabam passando de gerações em gerações, mesmo
sofrendo mutações de origens, acabam sendo imortalizados ao serem
recrutados por poetas e historiadores, que dão vidas e movimentos aos mitos.
Este caráter mutante deu origem às crenças que atribuem o poder da
imortalidade. Seus movimentos fazem com que poetas imaginem e crie
momentos mágicos nas suas poesias. Bachelard seduz-nos com sua fala
(2003, p. 208), ”Fazendo a serpente mover-se em contracorrente no riacho, o
poeta liberta a imagem tanto do reino da água quanto do reino do réptil (...) Ela
é mesmo movimento sem matéria. Aqui ela é movimento puro”.
Esta divindade não é inspiradora, também é destruidora. Une o reino
vegetal e o reino animal, como se a serpente fosse à ligação, o casamento
perfeito. Com efeito, de maneira profunda, a morte e a destruição estão ligadas
à vida e ao nascimento. Bachelard (2003, p. 202) traz “A serpente é um dos
arquétipos mais importantes da alma humana. É o mais terrestre dos animais. É
94
realmente a raiz animalizada e, na ordem das imagens, o traço de união entre o
reino vegetal e o reino animal”.
Os historiadores tentam intercalar a dimensão do significado simbólico e
mitológico divisando o sentido mítico. O ser humano, por natureza, tem a
virtude da atitude de simbolizar cada lenda, tendo em destaque quase que
generalizado pela serpente. Buscar sentido, encontrar significado, nos remete
à dimensão do simbólico, pois simbolizar significa descobrir o sentido. A atitude
simbolizadora é constitutiva do ser humano. Bachelard (2003, p. 203) traz “se
acrescentarmos que esse movimento fura a terra, perceberemos que, tanto
para a imaginação dinâmica como a imaginação material, a serpente se mostra
um arquétipo terrestre”. A função do imaginário é, pois, a de mediar
simbolicamente, as nossas relações; ele é um mapa com o qual lemos o
mundo, pois é através dele que organizamos, recursivamente, o real.
Essa água, geográfica, que só é pensável
em vastas extensões oceânicas, esta água quase
orgânica à força de ser espessa, a meio caminho
entre o horror e o amor
que inspira, é o próprio tipo da substância de uma
imaginação noturna
Durand, 1989
4.2 MINHOCÃO DO PANTANAL
Começamos o sub-titulo como Minhocão do Pantanal, porque existem
dentro de nossas fronteiras territoriais, histórias sobrenaturais semelhantes, e
que viraram mitos, gerando lendas com o passar dos tempos. O Minhocão em
destaque, escrita pela escritora mato-grossense Dunga Rodrigues (1997), para
que pudéssemos ter uma fonte de consulta através de suas pesquisas e melhor
compreensão das diversificações narrativas:
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Este rio tem história! Quando vir manso e silencioso,
não se iluda com ele. A minha avó me contava e eu
mesma vi coisas de arrepiar e de dar carreira no
homem mais valente aqui da povoação. Quantas
vezes nós descíamos, em bando, às margens do
Rio Cuiabá, com as trouxas de roupa na cabeça ou
simplesmente uma bacia equilibrando-se na rodilha
que amortecia o peso. Depois de um esvaziamento
do rio, só vendo a algazarra quando o barranco
escorregadio provocava até quedas acompanhadas
de risadas alegres e caçoadas inofensivas”.
(...) pois o Minhocão do Pari, assim chamado por ter
o seu ninho nas praias daquela região, era uma
espécie de serpente, longa e cabeçuda. Sua cor não
se distinguia ao certo; deslizando em baixo do barro
das barrancas, vivia sempre coberto de terra
deixando, ao passar, o chão solapado e cheio de
socavões em forma de sua descomunal cabeça.
Quando o Minhocão se zangava ou saia para catar
alimentos, dava cambalhotas no rio. Devorava
pescadores, virava canoas, mesmo embarcação
pesada, que, se de pequeno calado, não agüentava
com ele.
Foi numa dessas violentas rabanadas que alguém
lhe divisou a cor preta e reluzente, retrocedendo-
se no meio do rio.
Mas, voltando ao assunto, minha Nossa Senhora do
Muquém! Veja como eu me arrepio sé de lembrar do
caso.
(...)nesse dia, a roupa que Merém levava era em
dobro, pois sua mãe, lavadeira da enfermaria do
Quartel, estava com um estrepe no dedão que a
impossibilitava de esfregar os lençóis(...) Os
moleques que por ali apareciam ou iam conosco
sempre jogavam o anzol; e o peixe fácil e abundante
logo ia chiar na panela para o nosso almoço, de
modo que voltávamos só à tardinha.
Nesse dia a peixada foi arromba, embora desse
“sopro-fogo”; mas estavam gordinhos, uma
gostosura, com molho de pimenta chumbinho verde,
arroz sem sal e pirão de farinha de mandioca.
(...) Apesar de lusco-fusco, pois ia anoitecer rápido,
reconhecemos o vulto de Zé Timote em pé, na polpa
da embarcação. Ele voltava de um frete que fizera.
Os olhos de Merém se iluminaram (...)Seus
pensamentos foram quebrados por um ruído
estranho e medonho. E não vinha da terra, vinha da
água. Parece que a canoa guindou para um lado.
Mas Timote estava firme de pé. Esfregou o
96
olho para ter certeza do que vira, mas novo e
próximo ruído ecoou fortemente, ao mesmo tempo
que uma laçada negra fez um oito no ar, afundando
com fragor e carregando para a profundezas do rio,
canoeiro, remos, canoa e tudo, ainda salpicando
água a muitos metros de distância.
- Foi o Minhocão. Não havia dúvida. Eu vi com
esses olhos que a terra há de comer.
(...) Foi assim que a Merenciana enlouqueceu e
nunca mais sarou.
Nas narrativas dos causos ouvimos falar muito de um monstro em forma
às vezes de serpente, às vezes de minhoca que habita os rios do Pantanal.
Muitos narradores o chamam de “encantu” ou “encantadu”, para se referir aos
seres da natureza. Esse termo é utilizado como uma referência aos seres
míticos do Pantanal, sua descrição varia desde uma serpente gigante, anta,
jacá, batelão e até de cor vermelha e cabeludo, como relata Curupira
Eu fui na beira do rio, nem poço eu tinha ainda, eu
morava embaixo da banda do Limoeiro (lugar)...ai
eu subi pra matar umas piranhas...daí tava meio
dia, fora de hora. Eu fui parei tomei um guaraná
com ele e tava um anzol na canoa, umas
iscas e falei:”meu padrinho me essas iscas ai e
um anzol, eu vou matar umas piranhas pra mim
levar”. Ele falou:”filho está ai”. Peguei e fui pra
cima, quando eu vi, rio dos barreiros. Eu pensei
que fosse barranco vinha descenu um ta ta ta,
aquele estrondo na água, né! E tem uma boca que
chama que tinha desmoronado, né! Quando eu
olho assim pra baixo vinha atravessanu aquele
bicho vermelho, assim que joguei o anzol na
canoa, pensei que fosse um veado, que caiu na
água. Falei eu vou adiantar ele. Quando eu fui
cheganu e tinha uma praia grande, assim do outro
lado, né! Da ilha...Era monstro mesmo de trem,
oia, ele tinha aquele bicão, assim desse tamanho
(gesticula) do braço de um homem, dessa
grossura. Eu acho que esse é o Minhocão. Aquele
cabelo vermelho, aquele cabelo cumprido, eu
fiquei assim até bobo de ver....
97
Fitando as barrancas dos rios sem matas ciliares poderemos entender o
porquê de suas narrativas. Sob as águas, existem infinitas dissemelhanças
lendárias de imagens cada vez mais profundas, cada vez mais tenazes, que
levam nós leitores, ouvintes e humanos, a sentirmos em nossas próprias
contemplações e meditações, uma simpatia ou impassibilidade apática por
esses aprofundamentos lendários, donde de nossas imaginações surgem
seres que a eles damos formas saracoteando o leitor ao mundo imaginário.
Nas narrações, percebemos que tudo é passível de veracidade e que no
mito, a atitude de um gesto forma em nós uma cadeia de verdades, ou seja, os
acontecimentos que ele, o contador narra, e a maneira como ele se expressa
crava em nossas mentes como fatos puramente verídicos. Quando os
pantaneiros usam a expressão “tomei um guaraná, significa que tomar um
guaraná faz parte da cultura pantaneira, por ter em abundância na região a
referida fruta da qual extraem o guaraná. Todas as narrativas são incorporadas
com fatos de origens culturais, unindo-os ao sobrenatural. Dessa forma, as
expressões narrativas podem ser convincentes e originais, pois ao relatarem
tais passagens acrescentam coisas que fazem parte de suas rotinas diárias.
Para que uma cultura seja realmente ela mesma e
esteja apta a produzir algo de original, a cultura e
os membros têm de estarem convencidos da sua
originalidade e em certa medida, mesmo da sua
superioridade sobre os outros; é somente em
condições de subcomunicação que ela pode
produzir algo. Hoje em dia estamos ameaçados
pelas perspectivas de sermos apenas
consumidores, indivíduos capazes de consumir,
seja o que for que venha de qualquer ponto do
mundo e de qualquer cultura, mas desprovidos de
qualquer grau de originalidade ( LEVI-STRAUSS
1978, p. 34).
Senhor Antônio, que por longas horas nos fez as honras com sua
presença incansável por horas a fio, mergulhado no prazer de trazer a tona os
mitos encorpados com os seus relatos, narrando fatos e acontecimentos.
98
Segundo ele, vividos pelos seus amigos e parentes, levando-nos a navegarmos
nas incógnitas como se realmente tivesse acontecido algo sobrenatural com as
pessoas insinuadas. Mediante contexto de pavor, age o subconsciente em favor
da natureza. Por isto, existe constante necessidade de se resgatar mitos,
pontilhando a mente dos ribeiros na intenção de chamar-lhes a atenção para
terem os devidos cuidados que se devem ter com o mundo que os secam
visando um melhor meio de vida, caso contrário a degradação será inevitável,
como diz a lenda “quando o Minhocão derruba o barranco é para mostrar que
tem que ser respeitado o meio ambiente”. Como conta o Pai do Mato
Ouvi falar que a canoa ia passando assim, (gestos)
ele decostado na canoa assim, (gesto) maior que a
canoa , aquele monstro de bicho, nado no fio da
água, ai ele deu uma pontada remo, assim né, deu
aquele salavanco nele que levou a canoa , ele
endireitou e mando, já estava perto de casa, que ele
chegou em casa dele, que imbicou a canoa no
porto e saiu em terra viu o barranco caindo,
derrubando o barranco, trem brem brem, escutando
na casa.
Vivenciamos, além das narrativas que as explicações do fato natural,
entendemos que antecede ligações de cada conto com o sobrenatural. O
desmatamento e o descuido com as margens dos nossos rios provocam o
assoreamento, em conseqüência, causam verdadeiros estragos no meio
ambiente. Em todas as narrativas ouvidas, pudemos perceber sem receio de
generalizarmos que o Minhocão tem a índole de mal humorado, bravo e
violento. O respeito do ser humano pelo meio ambiente e os mitos protege os
recursos naturais, necessários à garantia de vida. Induzindo os pantaneiros a
retomarem consciências quanto às técnicas e saberes nas lidas sem afetarem
tão drasticamente a natureza. As representações da natureza ora demonstram
fúrias, impondo-se frente a humanidade, a qual conferem atitudes conciliares
por meio de representações míticas, ora denunciam a ocupação por terceiros
na região pantaneira. As personagens míticas são conhecidas através de suas
99
supostas façanhas de outrora gerando atitudes criadoras e de sacralidades. Os
mitos são descritos devidos às infinitas diversidades de suas formas, forças,
tamanho e profundeza tocante nas mentes (ELIADE, 1998).
Tivemos também a honra de passarmos bons momentos com a Iara,
pessoa humilde de traços castigados pela vida, mas de um carisma cativante,
que a nós, envolveu com o seu jeitinho peculiar de resgatar os mitos em seus
contos. Tamanha desenvoltura na maneira de falar transparecia como se
verdade fosse ou estivéssemos vivendo naquele momento o fato histórico
lendário ao tocar fundo em nossos sentimentos amedrontados ao negritar
das noites, que em silêncio profundos vozes e sons ouvíamos distantes,
deixando-nos a mercê da imaginação. Olhando em seus olhos, sentíamos a
felicidade e a satisfação estampada em seu semblante por ali estarmos a
confabular. Não deixou por menos, querendo nos amedrontar mais do que
estávamos, resgatou com requinte imaginativo, um fato que havia acontecido
há muito tempo. Com o passar dos anos, caiu no esquecimento dos mais
jovens, mas Iara sabia tim tim por tim:
Ele encurta a vida das pessoas, eu mesma tive um
irmão... esse que morava pra baixo de Porto
Cercado, ai ele veio todo ritruncudo com cara de
pouco jeito, veio aqui pra cima. Sempre ele vinha
qui em casa e falava: Bastiana, ta feio o bicho
cavucando”. Eu dizia pra ele... larga dele mano
vei, num chucha cum ele, deixa ele cavuca, não
meche cum ele, mas ele era demais de teimoso.
Quando foi um dia ele chuchou o troço, ai ele veio
pra meio assustado e falanu: “chuchei ele
Bastiana, chuchei ele Bastiana, o troço é cascudo
que nem lixa e fei”. Ai ele me disse todo
apavorado: Eu vou casá e mudá daqui. Não
demorou muito tempo, casô e, foi embora pra
Cáceres, e daí um ano dispois ele morreu todo
cascudo. Diz o benzedero que foi dele olhar pro
lombo do bicho mau e cutucá, o bicho jogou
mandinga nele. Agora não mexendo com ele, nois
ele passando rio acima e pra baixo, mais ainda
eu não cheguei de ver ele, mais o povo que viu
100
ele, mais fala que o bicho é grande. Minha neta
viu, tem bastante gente que viu ele, esse meu
cumpadre, ele pescava, meia noite ele saia pra
pesca, ele ia subindo na beira da praia e viu um
galho de um lado do outro do rio, ai ele imbicava a
canoa na praia, até o bicho sumi, outra vez ele
incostou na canoa dele, e foi rodando, até que ele
largou da canoa dele, ele é assim minha filha.
Em suma, os mitos nos ensinam que o mundo, o ser humano e a vida
têm uma origem e uma história sobrenatural. Ambas significativamente
preciosas e exemplares, fazendo do contador personagem importante ao
resgatar fabulando míticas. . Os próprios pantaneiros visando a sobrevivência
de seu povo, resgatam as lendas de maior repercussão e pavor sentimental,
para que pessoas alheias aos seus meio ambientes, temam pela própria vida e
assim conseguem preservar o meio ambiente, este, repletos de seres lendários
que castigam e matam os animais, destroem as florestas e rios. Essas
correspondências das imagens com a palavra o as correspondências
realmente salutares, o imaginário e as imagens engendradas nas palavras,
mostra que uma imagem pode ser lida através de metáforas, essas
correspondências são salutares, dizendo-nos que precisamos para se
enveredar pelo exercício de uma ciência do imaginário (BACHELARD, 2002).
Em nossas pesquisas, a idade não tinha peso, mas sim, o que o
indivíduo sabia e pudesse nos repassar, com isso, caipora de 38 anos,
melodioso em suas palavras, trouxe a sua versão ao nos relatar a lenda do
Minhocão a sua maneira, fazendo-nos acreditar piamente em sua fala,
chegando a induzir-nos a levitar para que pudéssemos viajar em pensamentos
aos primórdios dias de sua existência desde a origem, como também deixava-
nos dúvidas quanto a sua existência. O Pai do Mato gesticulava
incessantemente:
101
Ele parece quase direto ele parece, ele tem mas a
turma nunca foi capaz de firma ele, porque ele é
incantadu, esse bichu é, porque ele parece de
tuda maneira, ele parece tipo de tambor, ele
parece tipo uma canoa assim, troço preto que vem
no rio, ai logo desaparece, eu não sei o que
acontece que a turma não é capaz de firma ele pra
mostra pru povo, que existe esse Minhocão ai
existe, bem aqui na frente eu vi ele, ele sempre
acaba com a praia, num faiz dia ele acabou com
aquela.
Os métodos das narrativas em forma de ascensões das lendas, como as
do Minhocão, fortalecem as vidas e as mortes do sensível para o inteligível,
como métodos de deduções, instigados pelos imaginários que recebem
facilmente as impressões ou sensações dos sentimentos pessoais de cada um.
Nutrindo imagens criadas pela impressionabilidade do instinto imaginário dos
ribeirinhos, onde vêem o mito Minhocão, também intitulado como “batelão”, que
não deixa de ser o prodígio da verdade, comparado às semelhanças descritas
de aparências monstruosas. O batelão, nome dado a uma espécie exótica de
canoa larga que se parece com um monstro das profundezas, que quando
necessitado de alimentar-se emerge imponente e vagarosa pela sua robustez.
Considerado o batelão, instrumento de trabalho, sobrevivência e de carga, com
a qual os ribeirinhos cruzam o Pantanal em todos os sentidos. O batelão torna-
se antítese do monstro devorador. A possibilidade de vida diante da ameaça. O
batelão virado ameaça de morte, refere-se ao minhocão. Batelão normal
garantia de vida, onde o pescador tira seu sustento, mais uma vez vida e morte.
Onde o natural e o sobrenatural aparecem de dia, de noite nas águas do medo,
da morte e do desconhecido ( LEITE, 2005).
Pai do Mato compara o dorso do lendário Minhocão, com um tambor de
200 litros, para que possamos ter a noção de sua espessura, para se calcular o
tamanho em comprimento, basta usarmos a simples equação do medo, que
nada mais é o efeito causado por um estímulo vindo do exterior, provocando
excitações sobre nossas mentes ou em nossos sentidos. Tendo o coeficiente
102
igual ao Pânico. O Pai do Mato também fez a comparação do Minhocão com
jacá de tamanho avantajado. Seus entrelaços de taquara mais parecem com
um lombo cascudo, principalmente quando fica muito tempo imerso com o
dorso de fora e cheio de peixes, que ao se debaterem para tentar fugirem,
acabam dando vida ao jacá, rebolando de um lado para o outro, como narra:
“parece esse troço assim diferente é outras coisas diferentes que a gente nem
conhece, às vezes parece jacá de casca grossa cheia de cabeças de prego
fincado, pra engana e pega. Porque esse bicho d´água mesmo onde ele
mora tem um encanto”.
O jacá é um depósito de peixes, tem um formato de cesto
comprido, é feito, geralmente, de taquara. Parte dele
permanece dentro do rio, onde são colocados os peixes
vivos, durante alguns dias, enquanto esperam para ser
vendidos. Mais uma vez tem-se a ameaça de morte
traduzida em utensílio de sobrevivência e vida. O símbolo
de morte traduz-se em cotidiano (LEITE, 1995, p. 83).
Justifica até certo ponto, a comparação do jacá com o Minhocão, pois o
jacá, quando cheio de peixes em movimentos constantes, fazem com que se
desloque a todo o instante, caso não esteja devidamente amarrado e com isso,
ao mexer-se, diz-se que está prenhe de peixes vivos, caracterizando com uma
forma de dissimulação do monstro. O jacá, como mostra a figura 17, dizem os
ribeirinhos que o Minhocão toma forma de jacá para poder apanhar as pessoas
que não respeitam o ecossistema e a própria natureza.
103
Imagem: 17 ja
Fonte: Mário Frielander
A semelhança do Minhocão com classes de vertebrados tetrápodes ou
ápodes, ovíparos ou ovovíparos, de sangue frio, com o corpo revestido de
escamas e que respiram por pulmões, são tidos como animais fabulosos
mitificados como sobrenaturais e tenebrosos. Para a humanidade, e em
especial para os ribeirinhos, são apontados como bichos “encantados” ou
“encantus”. Como narrou entusiasmada a senhora Ana, de idade já avançada e
que muito gentilmente dentro de sua simplicidade ribeirinha de visão profunda
da realidade pantaneira e que segundo ela, não foram poucas às vezes que do
“encantus” chegou até ela, histórias sobrenaturais da avidez de consumo do
Minhocão. Apesar de sua idade, com fala dificultosa e arrastada,
pausadamente nos disse: “Eu não conheçu, veju, fala que bichus d`água é
encantus”. Muitas pessoas têm medo inté de pronunciar o nome dus bichus por
achar que pode chamar a atenção du “bichu” e ele subi na terra e invadi nossa
casa e cumê tudo que encontra, até as galinha ficam paralisadas ou correm em
direção a bocona du bichu quando ela olha no zói du bichu ”.
Praticamente, se não a totalidade dos moradores das comunidades
ribeirinhas relatam seus ou de pessoas que tiveram os dissabores de
104
encontros com os seres “encantados” ou até mesmo surpreendidos quando
navegando em calmarias, repentinamente são surpreendidos por enormes
ondas, provocadas pelo deslocamento do “bichu” nas profundezas ou até
mesmo formam redemoinhos ao chupar as embarcações que submergem
rapidamente, sem tempo para que os tripulantes possam tentar uma rota de
fuga. Uma vez sugados os tripulantes, a embarcação é expelida e jogada
distante às margens dos rios, como nos relata nos relata em outra entrevista o
senhor Saci. Trêmulo, mas risonho por tudo que a vida lhe proporcionou:
Se as pessoa, se ta em uma canoa ele chupa a
canoa e a pessoa, ele vai chupando, chupando, a
canoa vai defianu, defianu, ai tem que apanhar a
faca, se não tiver naquela hora é morte certa, mas
se tiver uma faca e tem que ser rapidim, pois é a
única maneira de conseguir fugir do bichu é fazer
um riscu com a ponta da faca em forma de cruz na
canoa e dispois enfiar a faca no centro da curz
desenhada na canoa, daí ele sorta. Porque o
símbolo da cruz com a faca enfiada forma a
mandinga que cai sobre o bichu e ele sente
imediatamente como se a faca estivesse sendo
enfiada nele, coisa que você não consegui por
causo dele ser grande e bravu. Assim que ele
sorta imediatamente o bichu afunda e vai longe. Só
assim pra ele sorta.
A lenda tem tanto peso emocional e sentimental que na sua maioria, os
indivíduos que por necessidades precisam cruzar os rios pantaneiros, levam
embainhadas em suas cinturas, facas como talismã ou defesa pessoal contra
os bichus Segundo a lenda, o Minhocão pantaneiro, possui um gemido que lhe
é peculiar e audível a distâncias incríveis. Dizem que iguala ao gemido de dores
e sentimentos talvez de remorsos pelas almas que morreram afogadas e por
ele foram comidas. Sua fúria, segundo nos narrou o senhor Lobisomem, é
relacionado às tristezas pelos descasos com as águas pantaneiras:
Se vocês ficarem em silêncio na beira do rio e
prestarem bastante atenção, vão a senhora escuta
os gemidos dele nas profundezas das águas do
105
rio, mas cuidado ele não gosta de ser escutado.
Mas que ele gemi duro, há! Isso ele geme. Esses
gemidos são como as vozes das águas que fazem
ecoarem distante. O Minhocão, eu num vi, mas
meus cumpadres disseram que quando o viram
novamente, estava bastante doente e furioso,
porque as águas estão ficando dia pós dia cada
vez mais pesada e escura devido a poluição de
tudo quanto há. Onde se não tivermos os devidos
cuidados essas nossas águas vão morrerem mais
rápidas que nós humanos, sem falarmos nos
bichus.
Por isso, que o Minhocão com seus nebres murmúrios, continuará
ecoando nas profundezas dos rios até que acabem com as destruições das
matas e as poluições. Dessa forma as águas continuaram a levar poetas a
devanearem na beira dos rios, onde supostamente podem reencontrar os
mortos, como sendo, um possível encontro com suas almas (BACHELARD,
2002).
Os bitos pantaneiros fazem com que as lendas e mitos permaneçam
influenciando direta e indiretamente no eco sistemas do Pantanal, pois estão
atribuídos, mensagens que possibilitam por anos e anos a fio a continuação
dos, costumes de preservação dos mananciais, rios, matas ciliares, florestas,
reservas e de todo o eco sistema. Amedrontados e temerosos desde os seus
ancestrais com o chacoalhar das lendas e mitos, passaram, ainda nos dias de
hoje a respeitarem certos horários e locais.
Conforme consta em nossas pesquisas, após incessantes procuras de
dias e dias caminhando pelas margens ribeirinhas do Pantanal, tivemos a feliz
oportunidade de encontrarmos em sua casa construída sobre palafitas à beira
do rio, uma jovem senhora de nome Serpente Encantada de 23 anos no
momento ela estava sozinha, pois seu marido estava pescando, com três filhos
de 03, 05 e 07 anos, que os sustentam do que tira da própria natureza somente
o necessário para suas sobrevivências, inclusive cria em precárias condições.
De sorriso largo, porém triste, devido às dificuldades ali encontradas. Implantou
106
na mente das crianças a lenda do Minhocão, no intuito de afastá-las dos rios,
fazendo-os acreditarem e a temerem o “bichu”, como sendo coisas vindas do
desconhecido e das profundezas das águas.
Conforme o andamento de nossas pesquisas, pudemos perceber, que os
mitos dentro das comunidades ribeirinhas têm peso de sentimentos de pavor
muito forte, capazes de fazerem com que os nativos ribeirinhos respeitem
alguns dias considerados sagrados e os próprios locais. Muitas das vezes nem
sequer aventuram cruzarem os rios, mesmo tendo saído de suas casas por
diversos motivos, retornam no dia seguinte ao dia sagrado. Aconteça o que
acontecer, mesmo em casos extremos, tomados de medos e pavores é incapaz
de cruzarem os rios e matas repletos de superstições.
Como de praxe e é constante, deparamos com um enorme tronco de
árvore que descia sorrateiramente correnteza a baixo. Nisso, um dos ribeirinhos
que estavam ao nosso lado, imediatamente disse que era o lombo do Minhocão
e que ele estava com fome, por isso saiu a caçar. Refletindo sobre a sua
reação, chegamos nós mesmos a imaginarmos ser uma imensa cobra, vista de
relance. Dando-nos parâmetros da dinâmica da mente em querer que
acreditássemos que fosse coisa fantasiosa, mas não era e sim um simples
tronco.
Dias depois, encontramos novamente a senhora Iara, mais solta e
confiante com a nossa presença, relatou-nos “Dentro das profundezas das
águas, existem mais olhos vivos do que fios de cabelos soltos por sobre a
terra”. Bastante povo fala isso. Que tem muitas coisas. Ela quis nos dizer com
essa fala de que ela acredita, e de que seus antepassados acreditam nesses
seres poderosos que habitam no fundo do rio, nessa água silenciosa, sombria,
dormente, insondável que causa alucinações e morte.
107
Interpelamos por momentos, quando em diálogos com um grupo de
ribeirinho em uma roda de ping pong (bate papo) sobre seus costumes e de que
maneira e como suas vidas estão ligadas às suas lendas, que, conforme
constatamos, praticamente estão paralelamente unidos a religiosidades e ao
imaginário. Não foi muito difícil obtermos uma resposta comparativa, mesmo
porque, responderam quase que unanimemente ao mesmo tempo. Tendo como
suporte anterior às crenças dos ancestrais que são passadas e muitas das
vezes deturpadas da realidade de origens por gerações a gerações. Logo
associam com os costumes dos mais velhos, como se aquele costume não
fizesse parte da cultura deles Pé-de-Garrafa de 74 anos nos disse que: “O povo
mais velho fala que dentro da água...” Eles e elas usam a experiência, a fala de
alguém mais idoso para dar veracidade, valor a sua fala.
Os moradores do pantanal convivem com a enchente ou cheia, vazante,
seca e chuva, essas alterações acontecem de 6 em 6 meses. Nos meses de
dezembro a março acontece o período da chuva. Onde todo o Pantanal vira
água, onde antes era terra nessa época vira lagoa de vida, de peixe de ser
encantado, a espera de mais uma aventura. A água é que manda no Pantanal,
é o sangue, é a vida, é ela que modela toda a paisagem, que a leva para o seu
destino, ou seja, na enchente à água invade os campos e na seca forma os
corixos, onde se tornam verdadeiros berçários (BACHELARD, 2002).
Começa o ciclo nos meses de abril a junho/julho a época da vazante,
onde era lagoa de vida passam a ser de fuga dos peixes, as lagoas secam e os
peixes que foram até elas a procura de comida, acabam presos no seco, alguns
ainda conseguem se arrastar e se salvar, outros não possuem o mesmo
destino, morrem. Muitos moradores ao irem ao campo presenciam os peixes
uns tentando se salvar, outros agonizando e outros mortos. Esses peixes são
encontrados a quilômetros de distância do rio, lago ou corixo, esse fato faz com
que esses homens e mulheres criem, recriem imagens e lendas, tal qual foi dito
anteriormente, fazem-nos acreditar que esses “peixes caem do céu”. Surge aí a
108
lenda do “Peixe-que-cai-do-céu”, não encontramos registro dessa lenda, por
isso iremos relatar somente o que Jorge de 63 anos nos relatou.
A lenda que nos chamou muito a atenção, foi a do “Peixe que cai do
céu”, muito difundida pelos ribeirinhos e que acreditam nela, tendo influência
direta o “Arco Íris”, que suga os peixes dos rios os levando para a nuvens e
depois os devolve junto com as chuvas torrenciais que acontecem de dezembro
a março, época das cheias no Pantanal. Obviamente que são fantasias
engendradas pelas mentes fantasiosas dos ribeirinhos, para justificarem a
grande quantidade de peixes como Robalos, Traíras, Piaus, Bagres e tantos
outros que aventuram nas épocas das cheias a procura de alimentos que são
fartos nestes períodos e também época de se acasalarem e desovarem.
Imprudentes alguns peixes, se negam a abandonarem seus refúgios aos
primeiros sinais das vazantes compreendidas de abril a julho, o que justifica a
permanência e morte de muitos peixes, nas matas, nos pântanos, nas lagoas,
nos corixos, nas estradas com sulcos inundadas posteriormente, nas trilhas e
no próprio campo onde são facilmente encontrados a quilômetros de distâncias
dos rios mais próximos, como se estivessem pastando que nem gado, mas que
não tiveram a chance de chegarem novamente nos rios. Suas mortes começam
a se agravarem com as fortes secas, que vão do início de agosto até finalzinho
de novembro. Daí fantasiado pelos ribeirinhos surgiu a lenda do “Peixe que caiu
do céu”:
Eu conheço, o peixe que cai bastante é o rubalo,
traira, fala lobo também, mas tudo é um só, mas
quando chuva grande a gente anda na beira da
estrada onde não tem água corrente nesse lugar a
gente acha bastante rubalo assim na água da
chuva, não é toda veis, meu irmão saiu no campo
e veio com cada rubalo deste tamanho (mostrou)
grandão mesmo tudo vivo, eu cortei ele pra
cachorro, eu nunca comi, mais ele é igual aos
outros memu, tinha água da chuva e daí ele
trouxe ele eu cortei ele, cozinhei e dei pro
cachorro, acho na estrada, tinha água da
109
chuva, pois é e num foi uma veis foi diversas
vezes a gente acha ele assim, quando chove
grande, eu acho que é o arco-íris que bebe ele e
joga do outro lado, pelo menos é assim que os
antigos falam, o arco íris bebe a água e daí bem a
chuva, e não é eu que vi diversas gente viu,
num é que ele encontrou morto eu, ele trouxe vivo,
eu vi esse ai brigandu assim ele acaba a água da
chuva ele morre, porque a água da chuva seca.
Nos meses seguintes as águas diminuem cada vez mais, inicia-se a fase
da seca. Quando menos se imagina o ciclo recomeça, vem a chuva, onde a
terra começa a ficar cheia de água, dando início a vida, esse é o momento de
fertilidade, onde a terra e a chuva se entrelaçam, a água entra na terra
fecundando-a. Deixando-a prenhe de vida, essa água segue o curso normal, cai
sempre, acabando sempre em sua morte horizontal, onde leva a imaginação e
a morte, ao sofrimento da água no infinito, pois ela está a procura do curso do
rio (BACHELARD, 2002).
Os ciclos das vidas pantaneiras recomeçam ao caírem as primeiras
gotas das chuvas no período chuvoso, inundando rapidamente todo o vale, mas
também traz o desconforto e a morte, pois na trilha das águas, são arrastados
detritos Quando chega a primeira chuva sobre o solo, ela vem carregada de
matéria orgânicos que não foram decompostos durante o período das secas,
com isso, submersas provocam reações químicas de fermentação, turvando e
apodrecendo as águas. Essa água cai sobre essa matéria, começa a
decomposição da matéria orgânica, as conseqüências são estranhas, porque
causa uma água escura, suja e podre. Recebe o nome de “diquada” pelos
moradores ribeirinhos do Pantanal, gerando lendas associadas ao Minhocão,
que revoltado com a degradação do meio ambiente, revolve das profundezas
das águas fazendo com que toda a lixarada venha a tona e permaneçam por
quilômetros na superfície e muitas das vezes sendo expelidos para as margens
onde ficam presos entre galhadas. Essa água leva os moradores a fazerem
associações e usar da imaginação.
110
a água é a substância que melhor se oferece às
misturas (...) vai turvar o lago em suas profundezas
vai impregna-lo. (...) Às vezes a penetração é tão
profunda tão íntima que, para a imaginação, o lago
conserva em plena luz do dia um pouco dessa
matéria noturna. (...) Torna-se o negro pântano
onde vivem os pássaros (...) Deve-se reconhecer
que a água lhes um centro em que elas
convergem melhor, uma matéria em que elas
convergem melhor, uma matéria em que elas
perseveram por mais tempo. Em muitas narrativas,
os lugares malditos têm em seu centro um lago de
trevas e horrores (BACHELARD, 2002, p.105-106).
Nessa água o oxigênio é roubado pela matéria orgânica e muitos peixes
morrem por falta de oxigênio, as águas evocam os mortos com o seu cheiro;
tornando-se essas águas mortas e dormentes (BACHELARD, 2002).Na lenda
do Minhocão nós temos o seguinte comentário de Iara:
É, a catinga dele é forte, num pega, eu que tava
aqui um dia tava pensano eu e minha filha, vamu
pescar, que ta pegando bastante sardinha.
Pegamo a canoa e fomu, e eu remano, quando
olhei do lado de lá, minha filha perguntou:
mamãe o que que é esse?” é um galho, quando
eu olho minha filha, uma roda desse tamanho
(mostrou com os braços), bem preto, quando ele
foi pra fror da água , os peixes fugindo, e eu fiquei
olhando para ele, é não vi quando ele sumiu, um
troço bonito assim oh, uma roda.
O fenômeno da “diquada” acontece não só nos períodos chuvosos, como
também nas épocas das secas, enlameando ainda mais as águas empossadas
provocadas também pelas evaporações. As águas começam novamente a
fortalecerem as vidas ao clarearem, tornando-as quase pura para o consumo
humano. Até chegar num período em que a água fica clara e dessa forma
podemos entrar num devaneio e sonhar, imaginar, adorar aquela pureza da
água verde e clara, a água torna-se assim pouco a pouco, uma contemplação
que se afunda e se aprofunda numa contemplação materializante
(BACHELARD, 2002).
111
Na vazante, as águas são claras até chegar no outro período da seca,
em que as águas ficam presas em corixos, onde justifica o porquê da água ser
feminina e ser uma verdadeira maternidade, onde além de ter caráter feminino
leva a imaginação poética. Onde vemos nascer, crescer e muitas vezes morrer,
com poluições nas margens dos nossos rios (BACHELARD, 2002).
Através das narrativas levantadas, pudemos perceber que elas estão
direcionadas e preocupadas com o meio ambiente, elas têm também caráter
preservacionista, mostram que seres sobrenaturais agem como protetores de
certos lugares, impedindo que caçadores ajam de forma desequilibrada com o
ambiente. No entanto, são seres que estão tendo seus espaços invadidos, seus
lugares que antes eram sagrados estão entrando em extinção, estão
desaparecendo, isso em função do desequilíbrio ambiental provocado pela
ação antrópica.
Em nossas andanças pelas ribeirinhas do Pantanal, ouvimos relatos de
que muitos moradores das colônias conhecem ou tem na própria família,
tragédias causadas pelas ondas dos rios pantaneiros que chegam a um metro
de altura ou mais, dependendo da época e que devido aos atrevidos barqueiros
ou incautos barranqueiros foram apanhados e muitas das vezes levados à
morte. Nas nossas coletas de dados presenciamos alguém dizendo que perdeu
um amigo ou parente nos rios pantaneiros, mas sabemos que algumas vezes
ocorre do pescador ser incauto e com isso sofrem Culpando novamente o
tempestuoso Minhocão, impondo-lhe culpas e fama de fazedor de almas, por
ter sacudido o seu dorso e causado fatalidades, provocadas pelas ondas, que
dependendo da época chegam a levantar ondas com mais de 1 metro de altura,
nessas horas os pescadores só conseguem ver o movimento do “minhocão” ao
submergir. Como relatou-nos Pé-grande:
Eu falei pra ele oia aqui tem um bichu que trabaia
aqui ele não gosta de gritu de jogar pau nele
quando ele ta trabaianu, ele foi e limpou uma terra
112
grande pra planta batata, ai eu foi e falei pra ele,
ele não acreditou, daí quando ele começou a jogar
o barro, limpa joga o siscu no rio, o bichu
embrabeceu, começou a trabalhar lá, ele ia
panhava esses tocão e jogava no rio, cabou cum
limpo dele pranta batata, e uma dessas horas que
ele veio pra jogar um tocu, quase que ele foi, o
barranco abriu como laje ia levar ele também, ele
correu e pulo. Esse eu conto porque eu vi, ai eu
falei pra ele, não falei pro senhor que o bicho
trabaia aqui, o senhor vai da reiva pra ele, num
mexe cum ninguém, larga mão dele, acabou com a
terra dele pranta a batata.
Os ribeirinhos dizem que o minhocão recebe esse nome, pelo fato de
revirar e fuçar o barranco, como uma minhoca, mostra assim que ele tem um
lado terrestre. Esses movimentos de furar a terra a serpente se mostra um ser
terrestre, onde o bicho faz ali ser o local de trabalho (BACHELARD, 2002).
Para muitos ribeirinhos o minhocão é um trabalhador, nesses exemplos,
que podem se multiplicar, vemos a imaginação trabalhar embaixo da terra para
uma valorização do horrível. Podemos afirmar que a realidade aqui não importa,
que o imaginário é mais importante para aquele momento (BACHELARD,
2002).
Em nossas pesquisas ao cair da noite, a equipe chegou a recear por
longos momentos em continuarmos os trabalhos. Não pelo cansaço estampado
em nossos rostos, mas sim, pelas histórias que nos deixavam completamente
enfraquecidas de coragens. Ficamos a nos imaginar dentro da pele dos
pantaneiros que passam suas vidas naquele lugar sem terem para onde irem.
Muitos nem sequer conhecem além dos limites das comunidades, quanto mais
uma média cidade onde se vivem completamente diferenciados dos moradores
ribeirinhos, coisas que acontecem entre gerações e gerações.
Boitatá é um exemplo vivo, nunca, jamais se afastou de suas terras,
apesar de ter... como nos relatou, que numa madrugada chuvosa, sua
113
plantação de batatas foram devoradas pelo Minhocão. Ao revirar a terra a
procura de raízes como parte de suas dietas alimentares. Saciado voltou para o
rio e bebeu boa quantidade de água. Regozijando, em seguida turvou toda a
água, provocando espumas mal cheirosas e borbulhantes, como se estivessem
em efervescência, levando ao desespero de causo o ribeirinho. Mesmo assim,
jamais quis abandonar suas terras, e nos disse mais... “morrerei aqui e daqui
ninguém me tira”.
Pensamentos invadem nossa mente e novamente queremos saber o
porquê dele revirar a terra, acreditamos que por ele ser da terra, necessita
alimentar-se dela, e Bachelard (2003) ajuda-nos a entender dizendo que: “para
alimentar essa criatura nascida da terra, que melhor alimento do que a própria
terra? A serpente comerá a terra inteira, assimilará o lodo, até tornar-se o
próprio lodo, até tornar-se a matéria prima de tudo. O minhocão ao comer a
terra, assume um trabalho devorador, que no seu movimento faz a água
espumar, turvar e ferver, levando os ribeirinhos ao temor e a devaneio.
Conforme depoimento de Lobisomem de 38 anos:
“Quando cheguei na bera do barranco achei que
era uma tora, olhei assim na água tava fervenu ai
chamei o cumpadre e falei vamu tirar a canoa de lá,
que o bicho já vai acaba com o barranco ai, tiremu a
canoa, quando fez poca hora que tiramu a canoa
que rodeamu ali, ele acabou com aquele mundo
veio todo. Ele existe já fazuns treis anos”.
Em nossas coletâneas deixou-nos claro que os sinais que a natureza
tenta nos passar apesar de muda, faz-nos entender através de suas belezas
que estão sendo degradadas em processos continuados, mesmo alertados com
as transformações das intempéries do tempo, provocados pelas queimadas e
poluições do ar atmosférico. A natureza tenta nos avisar por meio de
mensagens de grandeza, beleza, perplexidade, dor e força, para ser evitado
alguma calamidade, basta o ser humano dar atenção aos ritos, mitos e gritos
que a natureza nos passa. Temos que ser capazes de perceber que muitos
114
sinais nos são passados como alerta, devemos levar em consideração, não
desprezando esses avisos, mas respeitando, estudando e valorizando,
independente de fazer parte da sabedoria popular de um povo, esse povo sabe
o que fala e acredita que se hoje estão sofrendo, por causa do descaso dessa
sociedade, dessa sociedade dita organizada e preconceituosa.
Imagem18: árvore cabeça
Fonte: Storm Thorgerson
Quanto mais breve for a vida, mais extensa será sua alma
Dolores Garcia/ 2005
4.3. PALAVRAS FINAIS
Podemos dizer que a natureza é como esta imagem de uma cabeça,
onde idéias surgem, mas que devemos aprender, a saber, usa-la. Poderá guiar-
nos e dizer-nos quando e como poderíamos exercitar nossas mentes, mas
infelizmente não damos os devidos valores a estes encantos da natureza ao
desconsideramos o que não deveriam ser desconsiderados.
115
A convivência com outros mundos, não relacionados aos nossos no
cotidiano, trouxe-nos aconchegos de espíritos, principalmente por deixarmos
por onde passamos amigos esperançosos de que um dia seja possível os
governantes cientes da necessidade de preservarem o meio ambiente, a eles
estendam os benefícios. Sem contarmos que ao nosso redor, ou seja, nos
arredores de nossas cidades existem culturas, mitos, lendas, fantasias
folclóricas, tão incríveis que divergem da realidade das grandes cidades.
Chegamos ao final da viagem ao imaginário pantaneiro, onde passamos
pela cultura, por lugares encantados e uma comunidade calorosa. Buscamos
efetuar uma síntese coerente de nosso navegar pela água pantaneira, lendas e
mitos, ritos e gritos e educação ambiental.
Presenciamos o turvar das águas pós chuvas, o reviver de um eco
sistema bastante saqueado por humanos egoístas e egocêntricos, também
tivemos a felicidade de fazermos amigos e deixarmos saudades. Vimos como a
água, desde os tempos antigos, estava impregnada de símbolos e de tentativas
de domínio humano. Em nossas peles vivenciamos com os ribeirinhos os
sentimentos de medos dos obscuros, das visões míticas, das lendas, das
fábulas e das próprias escuridões, onde o guia era nada mais nada menos que
o próprio rio, refletidos opacamente pelas negras nuvens, que de quando em
vez faziam com que nossos frágeis corpos achincalhavam nossas resistências
ao medo. Além de seu uso indispensável para sobrevivência, a água foi
inspiradora de indagações e motivo de veneração por diferentes culturas.
Contudo, o ser humano se viu constantemente que a visão mítica foi o modelo
interpretativo utilizado durante a maior parte da pesquisa e que ela é ignorada
por muitos. Desde os tempos remotos, a água, por ser um dos elementos vitais,
era revestida por um vasto conteúdo simbólico, demonstrando a sua
importância na vida dos seres humanos. Diante de situações e desafios
concretos e onde o domínio da água era perseguido, explorado, sendo que, a
116
mesma deveria ser percebida, entendida, estudada e pesquisada por diferentes
visões, mas jamais usada de forma degradante, gritante.
A água foi e será fonte de inspiração para muitos escritores sensíveis a
realidade de nossos tempos, pois em devaneios, através delas dão vida a cada
partícula de sua formação, passando pelas profundezas terrestres, imensidões
dos mares, dos oceanos, e de tantos quantos forem os lugares em que ela se
faça presente para reinar, pois ela é fonte inspiradora, onde a imaginação brota,
brota como a água, foi dessa imaginação que a comunidade pantaneira a criou
seus mitos protetores.
Os mitos existentes na face da terra não têm autor, muito menos autores.
São relíquias pertinentes às sabedorias triviais dos povos conservados e
relembrados com o passar dos anos pelas novas gerações que ouviram de
seus antepassados. Dando às lendas, forma, cores, corpo, ferocidade, símbolos
repletos de fantasias, inclusive em alguns casos inserem vestimentas
espalhafatosamente coloridas e mascaradas pelo inconsciente coletivo sob a
forma e grandes símbolos, de arquétipos e de figuras exemplares. A cada
geração emerge na consciência sob mil rostos (BOFF, 2001).
O que nos deixou profundamente chocados, foi a constatação acelerada
do desaparecimento das matas ciliares, com isso, os animais, a flora e toda a
fauna, além de suas perseguições e degradações, acabam morrendo por falta
de seu habitat natural, levando a extinção centenas de tesouros desta frágil
natureza. Sem falarmos da própria degeneração dos seres humanos com a
falta d’água e de ar puro para se continuar a viver. Mas não para por aí,
constatamos que as comunidades ribeirinhas, apesar de terem ainda peixes
com certa abundância, sofrem problemas seríssimos no tocante a alimentação,
frente de trabalho, educação ambiental e pessoal, saúde médica extremamente
precária, habitação deprimente com a falta de saneamento básico, energia
elétrica favorecendo quase que especificamente aos fazendeiros e os mais
117
aquinhoados monetariamente. o observações fundamentais, mas existem
outras de igual peso para o bem estar das comunidades. “O desaparecimento
das matas e de espécies animais, o aumento galopante da poluição e o
acúmulo de lixo podendo resultar na derrota da humanidade, se não hoje, nas
próximas gerações, caso não se mude a forma de intervenção na natureza”
(CINTRA & MUTIM, 2002, p. 92).
Não os culpamos propriamente dito pelas degradações impostas pelas
circunstâncias da vida, mas sim, ao sistema governamental de distribuição de
rendas e poderes. Comparamos o Pantanal como sendo um palco de teatros da
vida cotidiana pantaneira, onde os atores ribeirinhos exercitam seus cânticos,
entoados em honra das divindades as quais suplicam reflexões direcionadas ao
povo ribeirinho, que apesar da EA se fazer presente, não é o suficiente para
emanar sensibilidades de sustentação na maior atenção ao povo pantaneiro.
Portanto, ao mesmo tempo em que são atores, são vítimas da
degradação ambiental e social a que estão expostos em seu cotidiano. A
reflexão sobre as lendas e a EA nos leva a pensar a possibilidade de se atingir
um novo patamar de desenvolvimento da sensibilidade humana, respeitando as
diversidades e biodiversidades sócio-ambiental-cultural. Reforça a idéia de que
deve ser vista não só a questão ecológica, fauna e flora, mas também a
questão cultural, esse conhecimento não acadêmico, mas cheio de sabedoria.
Esta pesquisa deve despertar no leitor a na leitora que a EA vai além da
paisagem, ela deve fazer-nos ter sensibilidade e preocupação com o que nos
rodeia.
As lendas podem ajudá-los a preservar o Pantanal, mas não o
ferramenta o forte capazes de impedirem as ganâncias cada vez mais
subdivididas entre posseiros, fazendeiros e novos adquirentes de terras, o que
provoca diretamente o empobrecimento marcante dos ribeirinhos e das próprias
118
terras devastadas, assolando rios, lagos, mares e até mesmo a própria vida de
todos nós.
Acreditamos que os mitos têm peso marcante como invólucros da
conservação das culturas pantaneiras e guardam em suas simbologias, tudo o
que essas culturas alcançaram desde os primórdios dos tempos. Atenuando o
desaparecimento da cultura ambiental das comunidades ribeirinhas, se não
tivéssemos o poder do imaginário, que é um componente importante para
explicar a complexidade do sentir do ser humano, não teríamos a consciência
do que é deprimente. A diferença do saber e do sentir, é percebida quando
nós sentimos na própria pele, pois na nossa dói e nas dos outros passa.
Estamos fazendo uma comparação relativa a reciprocidade entre pessoas ou
coisas, para que possam entender a necessária conservação do eco sistema
universal, mas em princípio relacionados ao Pantanal.
Sendo o Brasil, um país extenso abrangendo diversidades étnicas,
raciais, culturais e de ideologias próprias, que ao se mesclarem, dificultam ser
implementados o bem estar das comunidades, principalmente expurgados
socialmente ou de certa forma excluídas por pressões econômicas ou
fundiárias, dissipando suas histórias, consequentemente suas culturas e
saberes que acabam caindo no esquecimento. Os deixando ainda mais
vulneráveis ao considerarmos as características culturais e suas próprias
sustentabilidades ambientais.
.
119
A natureza humanizada é sempre uma natureza
Encantada e sobrenatural,
Ao mesmo tempo
Mario Leite/2000
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www2.opopular.com.br/almanaque
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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