134
clarinetas, clarone, sax, trompete, trombone, gaita), cordas (violino, viola, cello,
contrabaixo, violão, guitarra), percussão, bateria, vozes e piano. Alguns começaram do zero
e outros saíram de bandas ou conservatórios. O que mais chama a atenção no conjunto são
a fluência rítmica dos músicos, a consciência harmônica e, sem dúvida, a aparente
satisfação em tocar em grupo.
Seguindo a genealogia musical de Hermeto Pascoal, a música e a educação musical
de Itiberê são necessariamente arraigadas na tradição musical brasileira. Desenvolvendo a
pedagogia criada intuitivamente por Hermeto, o método de Itiberê valoriza sobretudo uma
vivência rítmica intensa e a consciência harmônica, tudo isso aprendido oralmente. Na
maioria das vezes, Itiberê cria músicas e arranjos in loco, no momento, e passa oralmente a
parte de cada músico, que deve aprendê-la, tirando-a no instrumento para, em seguida,
registrá-la no caderno. Esse procedimento não só valoriza a expressão do intérprete, como
também aguça sua audição e a atenção na dinâmica de trabalhar em grupo. A improvisação
é desenvolvida focalizando também a experiência presente, sem a necessidade de
parâmetros racionais, o solista deve se guiar pelo som e pela intuição. O método, que ele
chama de corpo-presente, desenvolve a liberdade e a intuição musical com limites bem
definidos, de uma forma integradora.
A primeira oficina do Itiberê realizada na Escola de Música da UFMG, em 2002,
teve duração de três dias, de manhã e à tarde. Durante esses três dias, um grupo de músicos
dos mais variados instrumentos (clarinetas, flautas, trombones, trompetes, saxofones, piano,
teclado, percussão, violão, baixo, vozes, viola) se reuniu na sala 3003. Foi uma experiência
intensa, Itiberê, atuando ao mesmo tempo como um maestro-educador-compositor, passava
as partes oralmente para cada músico, que deveria tirá-la no instrumento. Espontaneamente,
as funções de cada um foram surgindo, como em uma família. Alguns tomaram a iniciativa
de registrar em caderno as partes, outros ajudavam aqueles que tinham dificuldade em tirar
as notas ou memorizá-las. As harmonias e polirritmias realizadas não eram nada fáceis.
Todos vibravam juntos ao ver a música sendo criada, cada um como uma parte essencial de
uma orquestra que estava sendo formada. Foi uma experiência singular para muitos,
acostumados a ler partituras. Nessa oficina, muitos músicos tiveram oportunidade não só de
tocar de cor, como também de tocar ritmos complicados, mas dançantes e animados. Ao