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da palavra de Deus, dentro do qual as pessoas aprendiam de memória os salmos e
orações”
(MESTERS, 2003:143, n. 45).
Em casa, as pessoas rezavam várias vezes por dia; normalmente de manhã, ao
meio-dia e à noite. Essa reza consistia na recitação de sentenças salmódicas como as
tefillot, um conjunto de orações proferidas nas sinagogas nos dias de Jesus. Note a
primeira das
Dezoito Bênçãos da oração:
Sê bendito, Senhor nosso Deus e Deus de nossos pais, Deus de Abraão, de
Isaac e Deus de Jacó, Deus grande e forte e venerado, Deus excelso, que dás
a recompensa e crias todas as coisas; lembra-te da piedade dos pais e faz
que o redentor venha para os filhos dos seus filhos, em favor do teu Nome,
com amor. Rei libertador, que ajudas, salvas e defendes. Sê bendito Senhor,
escudo de Abraão (Benção nº. 1. Trad. de Di Sante).
Este conjunto de orações recebe um outro nome bastante conhecido, Shemoneh
Esreh, que em hebraico significa dezoito, o número de bênçãos contidas na oração.
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Junto com o Shemá
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e a utilização de salmos bíblicos, estes textos compunham
o dia-a-dia litúrgico do povo judeu. Assim, com repetições contínuas de orações, textos
sagrados e hinos; as pessoas aprendiam e memorizavam os preceitos da fé judaica.
Qualquer membro de uma família judaica que nascia nesse ambiente considerava isso
como parte de seu modus vivendi, uma escola cotidiana de preceitos que ditavam o
comportamento do indivíduo. Jesus, por exemplo, é descrito pelos evangelistas como
alguém ligado a estas práticas. Certamente, as orações e as bênçãos que Jesus promoveu
(e.g. Mc 1:35; 10:16; Lc 9:16; 24:30), por mais que fossem revestidas de expressões
individuais, remetiam a uma base comum conhecida. Além de realizar isso a nível
individual, ele participava semanalmente dessas no âmbito da sinagoga ou ainda em
eventos de maior envergadura como os efetuados no Templo. Utilizando-se da síntese
de Mesters:
Foi naquele contexto familiar e comunitário, impregnado pela oração dos
salmos, e na convivência com pessoas como aquelas descritas por Lucas,
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Recebendo ainda um terceiro nome, Amidah (do verbo ‘amad, “manter-se em pé”. Por isso, a oração é
recitada pelo orante estando em posição ereta.), o Shemoneh Esreh é uma coleção de bênçãos recitada
durante os três serviços diários de orações judaicas (manhã,
shacharit; tarde, mincha; e noite: maariv).
Apesar do nome, a oração possui atualmente
19 bênçãos, tendo sido incluída a décima segunda, Contra os
Heréticos
(birkat ha-minim), no conselho de Jâmnia (c.90/100 d.C).
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O Shemá vem da expressão shem‘a Isra’el (“Ouve, ó Israel”), encontrada em Dt 6:4-9. A recitação das
palavras do Shemá eram feitas diariamente,
“estando no leito (ao deitares), e ao levantar-te” (v. 7, Bíblia
Sagrada Edições Paulinas). Ou seja, a leitura do Shemá faz parte do rol diário de orações, sendo recitado à
noite e pela manhã segundo o mandamento bíblico. A resposta de Jesus em Mc 12:29, parece ser uma
citação explícita ao Shemá.