
O ex-aluno do Colégio do Camargo, que já havia presenciado a confecção daquele
pequeno jornal escolar, logo se aproximou da redação da
Gazeta
. O semanário, fundado por
Alípio Nogueira, em junho de 1916, passou por uma nova fase, em 1919, quando então S.
Araújo assumiu a edição. Daí em diante, passou a ter diversos colaboradores. Em novembro
de 1921, o advogado Cândido Alves Nilo tornou-se o novo redator. Grande entusiasta das
letras e incentivador dos novos talentos, ele, algumas vezes, preencheu a primeira página do
jornal apenas com poemas, contos, crônicas e conferências literárias, escritos, em geral, por
meninos com menos de 20 anos de idade. Um caso exemplar é o da publicação da conferência
“Uma glória feminina brasileira”, em que, José Carlos Lisboa
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, com 17 anos, discursou sobre
a obra de Francisca Júlia. A transcrição do texto ocupou integralmente as 4 páginas do jornal,
formato 25 x 35 cm. Outro incentivo de Alves Nilo era permitir que Jurandir Ferreira, aos
dezesseis anos, as
sumisse a redação do jornal nas ocasiões em que se ausentava.
Desde sua origem, a Gazeta de Pouso Alegre teve um viés literário. Em suas páginas
dos anos 10 já circulavam os sonetistas da cidade: José Macedo, Joaquim Queiroz Filho, A.
Duarte, Mario Casassanta, Furtado de Mendonça etc. A maioria dotada de bastante rigor
formal e pouca expressividade. O jornal trazia ainda crônicas e contos, esses conhecidos
apenas em sua forma regionalista. No começo dos anos 20 e, sobretudo, a partir do segundo
semestre de 1921, quando Alves Nilo assumiu a redação, esses poetas, que já vinham
cantando o fim da mocidade, perderam espaço.
O grupo, ao qual Jurandir Ferreira se uniria, era formado por João de Mello Macedo
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,
Sebastião Ferraz de Barros, Jaime de Oliveira, José Ca
rlos Lisboa e alguns outros. A principal
mudança trazida por eles diz respeito ao abandono do culto da forma. Estavam longe de
esconjurar os mestres do passado, admirava-os ainda, entretanto, buscavam seus referenciais,
principalmente, nos últimos românticos. Macedo e Lisboa sobressaíram aos demais e Jurandir
logo se tornou amigo deles, poetas que “ouvia com respeito e com os quais muito aprendeu”,
para usar as palavras da apresentação de
Saia branca
. Em carta de 12 de abril de 1978, Lisboa
recordaria a Jurandir os velhos tempos de faculdade, em que ele, Jurandir, “o mais moço da
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J
OSÉ
C
ARLOS
L
ISBOA
(Lambari-
MG
, 1902 – Rio de Janeiro, 1994), irmão da poeta Henriqueta Lisboa.
Farmacêutico, advogado, tradutor, dramaturgo, romancista, professor emérito de Língua e Literatura Espanhola
da UFMG e da UFRJ. Foi membro da Academia Mineira de Letras, da Academia Brasileira de Filologia e do
Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica. Publicou, entre outros:
Tirso de Molina, cria
dor de Dom Juan
, 1950;
O
teatro de Cervantes, 1952; Vicente e o outro (romance), 1985. Cf. Abigail de Oliveira Carvalho e Guy de
Almeida (orgs.).
José Carlos Lisboa: o mestre, o homem
, 2004.
2
J
OÃO DE
M
ELLO
M
ACEDO
(Santa Rita de Cássia-
MG
, 1905 – Tanabi-
SP
, 1981). Farmacêutico, poeta.
Desbravador do sertão paulista, fundou a cidade de Macedônia. Publicou três coletâneas de poesias:
Arribada
,
1935;
Versos de outro tempo...
, 1946; e Cântico do pioneiro
, 1961.