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“A mulher é A Bela Adormecida, Cinderela, Branca de Neve. Nas canções, nos contos,
vê-se o jovem partir aventurosamente em busca da mulher; ele mata dragões, luta contra
gigantes, ela se acha encerrada em uma torre, um palácio, um jardim, uma caverna,
acorrentada a um rochedo, cativa, adormecida, ela espera”.(BEAUVOIR, 1980, p. 33)
A mulher fica relegada à posição de permanecer nos bastidores, escondida em sua
natureza, determinada pela fragilidade de seus órgãos sexuais. Muitas vezes, parece que o
verdadeiro destino de mulher, enquanto ser vivo, não se inscreve no que os livros de biologia
ensinam; ao invés, de “nascer, crescer, reproduzir e morrer”, como qualquer ser humano, a
mulher deve “nascer, crescer, casar, reproduzir, ser mãe e morrer”. Assim, a finalidade impressa
no papel do casamento e da maternidade é inserida dentro do esquema biológico feminino, de
modo a determinar às mulheres atitudes moldadas pelas convenções sociais.
Partindo da idéia do conservador prussiano Heirich von Treitschke, historiador protestante
do século XIX, que considera que a “verdadeira vocação da mulher será sempre a casa e o
casamento” (THERBORN, 2006, p. 46), conclui-se que a mulher acaba sendo condicionada ao
seu papel biológico e social ao aceitar a idéia de que a sua função na sociedade é ser
simplesmente esposa e mãe.
Pouco a pouco, a mulher vai aprendendo que a sociedade espera que ela considere o
casamento como sua meta mais importante. Ao contrair casamento, espera-se que ela dê sua
parcela de contribuição à sociedade, gerando filhos. Com o nascimento da prole é preciso que a
mulher cumpra mais um importante papel – educadora.
É justamente ao educar uma criança, que a mulher acaba cristalizando modelos que se
encontram inscritos na própria segregação que a coloca como um ser à parte na sociedade. É
nesse sentido que podemos concluir que “os dois sexos participam da mesma ideologia”
(D’AVILA NETO, 1980, p. 29).