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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
CARLA GIANNUBILO BENEDUCE
HOSPITALIDADE SUBSTANTIVO FEMININO?
SÃO PAULO
2007
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
CARLA GIANNUBILO BENEDUCE
HOSPITALIDADE SUBSTANTIVO FEMININO?
SÃO PAULO
2007
Dissertação de Mestrado apresentada como
exigência parcial para a obtenção do título de
Mestre em Hospitalidade, área de concentração
Planejamento e Gestão Estratégica em
Hospitalidade e Turismo e Linha de Pesquisa
Dimensões Conceituais e Epistemológicas da
Hospitalidade e do Turismo, da Universidade
Anhembi Morumbi, sob orientação da Prof. Dra.
Ada de Freitas Maneti Dencker.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha filha Giovanna, que hoje tem apenas sete anos, mas que
daqui a uns vinte anos será uma mulher.
A você minha filha, que a vida te ensine a nunca se afastar de seus valores, de sua
vocação, e qualquer que venha a ser sua profissão amanhã, que você saiba levar para ela, a
dedicação de uma mãe e os valores de uma família.
Que quando você tiver sua família, você não tenha que levar o trabalho para a casa,
mas que saiba levar a sua casa, o seu lar para o seu trabalho, e assim realizá-lo com amor,
vontade e motivação.
Que esta pesquisa possa ser seu guia, e que Deus me dê saúde para eu assistir sua
realização profissional e pessoal como mulher.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que participaram de minha vida nestes dois últimos anos
e que me incentivaram a chegar ao final deste trabalho.
Agradeço, em especial, minha orientadora, professora Ada de Freitas Maneti Dencker,
que soube entender minhas inseguranças, que me apoiou na escolha deste tema, e tão bem me
orientou em todas as etapas desta pesquisa.
Agradeço a minha mãe, por ter me agüentado, e ter tido a sabedoria e paciência para
deixar que eu escolhesse meus caminhos por conta própria nos momentos que tive minhas
dúvidas e questionamentos.
Agradeço às minhas amigas do Centro Social Morro Velho, do qual faço parte, como
voluntária na formação de jovens, e cujos conselhos e “broncas” foram decisivos para que eu
seguisse em frente, nas horas em que eu pensava em desistir.
Agradeço à rede de Hotéis Atlantica, em especial à Cristina Munte, que abriu as portas
da empresa, e que me colocou em contato com as executivas do grupo, o que tornou possível
a pesquisa de campo desta dissertação. Agradeço a todas executivas que responderam à
pesquisa, pela dedicação de seu tempo, pelo seu interesse pela pesquisa e por exporem de
forma transparente seus interesses profissionais e pessoais.
E por fim, agradeço a Deus por ter colocado todas essas pessoas em meu caminho, nas
horas e momentos certos em que precisava de seus conselhos, de suas palavras e, sobretudo de
seu silêncio.
Agradeço ter um dia escutado, de fonte desconhecida, a seguinte frase:
“Deus não escolhe os capacitados, Deus capacita os escolhidos”,
pois não tenho dúvidas de que fui escolhida por Ele para ser capacitada através deste
trabalho.
Que em cada mulher, seja ela casada ou solteira,
sua função maternal, é em sua essência a mesma.
Seu fim como ser humano é o de realizar ao máximo
todas suas potencialidades, crescer harmonicamente
em todos e em cada um de seus valores (físico,
social, intelectual, profissional, espiritual); e sua
missão essencial como mulher, seja qual for sua
posição ou cenário em que trabalhe, até aonde sua
capacidade alcance, é a de ajudar os seres humanos
a construir-se a si mesmos (EDAC, 1997, p. 197).
RESUMO
Tendo por objeto de estudo o feminino na sua forma e conteúdo sob o ponto de vista sócio-
cultural, essa pesquisa se propõe investigar de que forma as características do feminino foram
construídas ao longo do tempo e se colocaram em sintonia com tendências de construção de
um mundo mais voltado para o humano nesse início do século. O recorte especial desse
estudo de gênero será a hospitalidade nos âmbitos doméstico, social e comercial, tendo como
problema ser investigado os papéis do feminino na cultura ocidental, e de que forma tais
papéis desempenhados na prática da hospitalidade doméstica contribuem para a identificação
e desempenho profissional da mulher em atividades da hospitalidade comercial. Partindo da
hipótese de que a hospitalidade comercial é inspirada nos padrões da hospitalidade doméstica,
entende-se que a construção de papéis do feminino a partir desse cenário facilitaria a atuação
das mulheres em atividades profissionais junto ao segmento de hospedagem, caso essa venha
a ingressar nesse segmento. A mulher vem desempenhando importantes papéis fora do
ambiente doméstico nas últimas décadas, o que faz com que atributos do universo feminino
passem a integrar o mundo do trabalho de modo crescente. É razoável supor que ambientes de
trabalho que se aproximem mais das atividades desenvolvidas pelas mulheres no ambiente
doméstico possam vir a contribuir para o seu desempenho de papéis profissionais inspirados
na esfera própria do feminino, sendo um facilitador para seu ingresso no mundo do trabalho,
bem como para seu desempenho devido a uma forte identificação com a área. O estudo das
características femininas e sua compatibilidade com a área de hospitalidade podem ser um
importante elemento para auxiliar na gestão e recrutamento e formação de recursos humanos
para esse setor. Sendo um estudo de gênero não contrapõe homens e mulheres, mas sim se
entende que o gênero feminino apresenta características que facilitam atitudes hospitaleiras,
sendo que tais características podem se manifestar tanto em homens quanto em mulheres.
Palavras-chave: Gênero. Cultura. Educação familiar. Hospitalidade doméstica. Papéis
sociais. Personalidade executiva.
ABSTRACT
This research investigates how female characteristics have been built and developed along
time, in parallel with trends of a world that since the beginning of the XXI century
increasingly emphasizes the human side. The focus is on the feminine, its form and content,
seen through the lenses of a social-cultural approach. This gender study differs from others in
its focus on hospitality in the domestic, social and commercial arenas. The problem to be
investigated is the feminine roles in the western culture and how these roles that are carried on
in the domestic hospitality environment spill over to facilitate the identification and
professional performance of women in the commercial hospitality environment. Starting with
the hypothesis that commercial hospitality is inspired on the domestic hospitality, it is
understood that the role of the feminine at the domestic level works to facilitate the
performance of women in professional hospitality activities. In the last decades, women have
been engaging in increasingly important roles outside the domestic arena. Feminine
characteristics consequently are transported from the domestic to the professional areas, and
become part of work. In this sense, it is hypothesized that working environments that are close
related to domestic activities performed by women in the domestic arena can contribute to the
professional performance of women in the area. The feminine roles work as facilitators that
help women to enter the working force and to perform, due to strong links among the two
environments. The study of feminine characteristics and its compatibility with the hospitality
area can be an important element in the recruitment and formation of human resources in this
sector. Being a gender study, it does not contrast men and women, as it is understood that the
feminine gender has characteristics that facilitate a hospitality attitude, where such
characteristics can be manifested in both men and women.
Key Words: Gender. Culture. Family education. Domestic hospitality. Research in social
studies and executive personality.
LISTA DE QUADROS
Quadro I Construção do papel feminino a partir dos referenciais teóricos ..................... 77
Quadro II-a Resultado da Pesquisa: Características da Personalidade Executiva
Feminina ................................................................................................. ....... 100
Quadro II-b Resultado da Pesquisa: Características da Personalidade Executiva
Feminina Qualidades Pessoais ...................................................................... 101
Grupo I: Características do gênero
feminino............................................................................................................ 101
Grupo II: Características identificadas na forma
de gestão masculina...........................................................................................102
Quadro III Comparativo de liderança entre os gêneros..................................................... 117
Quadro IV Características da liderança feminina............................................................... 118
Quadro V Parâmetros da empresa dentro do modelo da “Nova Sensibilidade”............... 120
LISTA DE DIAGRAMAS
Diagrama I Construção da personalidade executiva .............................................................. 78
LISTA DE GRÁFICOS
Gráficos 1 e 2 Taxa de participação das mulheres nas IES ................................................. 53
Gráficos 3 e 4 Estatística de concluintes por sexo no censo de Educação Superior ............ 54
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................12
CAPÍTULO 1 – FEMININO, MASCULINO E DOMINAÇÃO...........................................................................21
Paradoxos da diferença de gênero ..............................................................................................................22
Gênero e mercado de trabalho....................................................................................................................25
CAPÍTULO 2 – INFLUÊNCIA DA CULTURA NA DEFINIÇÃO DO GÊNERO.............................................27
A problemática dos estudos de gênero.........................................................................................................30
A educação na formão do gênero ............................................................................................................33
CAPÍTULO 3 – A FORÇA DO TRABALHO FEMININO: A PREDISPOSIÇÃO A SERVIR........................41
Trabalho remunerado e lazer ......................................................................................................................43
O ato de servir .............................................................................................................................................45
Responsabilidade.........................................................................................................................................49
CAPÍTULO 4 – O PAPEL SOCIAL FEMININO..................................................................................................53
Lar: espaço feminino...................................................................................................................................56
O trabalho no lar: aprendizado de uma profissão e formação em hospitalidade .......................................65
Carreira na hospitalidade comercial: vocação?.........................................................................................66
Hospitalidade: virtude semeada no espaço doméstico................................................................................72
CAPÍTULO 5: AS CARACTERÍSTICAS FEMININAS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE
EXECUTIVA.............................................................................................................................................................76
Busca de Relacionamento Interpessoal .......................................................................................................78
Paciência, Capacidade de Ouvir.................................................................................................................81
Tomada de Decisão com Foco no Processo................................................................................................82
Transcendência e Amor ao Próximo............................................................................................................86
Intuição, Versatilidade e Criatividade.........................................................................................................87
Emotividade e Formas de Comunicação.....................................................................................................90
O significado do trabalho e do poder para as mulheres..............................................................................94
Perfeccionismo: Atenção aos detalhes.........................................................................................................96
CAPÍTULO 6: LIDERANÇA FEMININA...........................................................................................................104
A personalidade da gestora feminina e sua identificação com a área da hospitalidade...........................107
Liderança masculina e feminina: um comparativo....................................................................................117
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................122
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................127
BIBLIOGRAFIA AMPLIADA..............................................................................................................................135
APÊNDICE – ENTREVISTAS..............................................................................................................................138
Entrevista1:................................................................................................................................................139
Entrevista 2:...............................................................................................................................................141
Entrevista 3:...............................................................................................................................................143
Entrevista 4:...............................................................................................................................................145
Entrevista 5:...............................................................................................................................................148
Entrevista 6:...............................................................................................................................................149
Entrevista 7:...............................................................................................................................................151
Entrevista 8:...............................................................................................................................................152
Entrevista 9:...............................................................................................................................................154
12
INTRODUÇÃO
A escolha do tema da presente dissertação de mestrado, apresentada ao Mestrado em
Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, relaciona-se com a experiência da
pesquisadora como docente voluntária em uma escola de hotelaria, de nível técnico,
direcionada para a formação de moças na região de Cotia em São Paulo. O trabalho realizado,
por mais de três anos, com essas jovens permitiu à pesquisadora observar a existência de um
diferencial no comportamento das alunas dessa escola, as quais demonstravam uma maior
aptidão, ou mesmo uma espécie de vocação, para atuar no segmento da hospitalidade
comercial. Durante o período em que a pesquisadora atuou na instituição recebeu a
incumbência de coordenar uma pesquisa junto a uma equipe de jovens que deveriam elaborar
um trabalho nos moldes de iniciação científica, para que fosse avaliado por uma banca e
posteriormente apresentado no evento: Congresso Mundial - Incontro Romano. O tema que
coube ao grupo coordenado pela pesquisadora se enquadrava na área de Educação, e tratava
do aprendizado das técnicas de hotelaria devendo necessariamente incluir uma reflexão sobre
as práticas aprendidas na escola e as interações com as práticas do ambiente doméstico. O
título do trabalho orientado foi: “O aprendizado na Casa do Moinho refletindo na própria
família”. Para a elaboração do material foi realizada uma pesquisa que incluía o registro de
depoimentos das alunas sobre seu papel dentro do ambiente doméstico, sua educação e
valores familiares. Pelas narrativas ficava evidente que existia uma forte identificação das
jovens com o trabalho doméstico, não apenas pelo fato de lidarem diretamente com ele, mas
também pela relação que tinham com este tipo de trabalho que era bastante positiva em suas
vidas: elas o faziam com amor, dedicação e se sentiam valorizadas por estarem envolvidas
neste tipo de tarefa. O fato de suas mães, avós, irmãs e elas próprias fazerem este tipo de
atividade, criava laços familiares mais fortes, e elas buscavam levar as técnicas aprendidas na
escola para dentro de seus lares, como forma de “presentear” ou gratificar seus parentes com
seu aprendizado.
Mesmo tendo consciência de que a postura da instituição era justamente de valorizar
esse tipo de trabalho, com base, inclusive, em princípios religiosos por se tratar de uma
organização de trabalho voluntário relacionada com a Igreja Católica, chamou a atenção da
pesquisadora o fato de que essas jovens, diferentemente da maioria das mulheres do mundo de
hoje marcadas pelas demandas do feminismo, não pareciam estar em conflito com suas raízes,
13
sua educação, e principalmente com o exercício do trabalho doméstico. Percebia-se que elas
estavam utilizando esses elementos como formas de enriquecer e enobrecer o seu lado
profissional quando vinham a atuar dentro da área da hospitalidade, ao mesmo tempo que
utilizavam conceitos e princípios aprendidos na escola para sua vida pessoal e familiar
aprimorando e cultivando essas relações sociais. Para elas, ingressar na carreira da
hospitalidade não significava romper com sua história de vida, mas, ao contrário, apropriar-se
dessa história e transportá-la para o ambiente social e comercial.
Evidente também era o impacto que este tipo de comportamento e atitude tinham no
mercado de trabalho quando as egressas do curso nele ingressavam. De forma unânime
gerentes do segmento de hospedagem, do porte de redes internacionais da cidade de São
Paulo, para onde eram encaminhadas as alunas ao se formarem, atestavam que a atitude e o
comportamento dessas moças iam ao encontro da proposta e filosofia de hospitalidade que
queriam implantar em suas empresas, como por exemplo: respeito ao próximo, cordialidade,
ética, relacionamento interpessoal, enfim, qualidades comportamentais e não meramente
técnicas.
Essas características observadas no comportamento das jovens e sua identificação com
a área da hospitalidade, doméstica ou comercial, levaram a uma inquietação: seria possível
relacionar essa identidade com o trabalho com o papel que desempenhavam no ambiente
doméstico e com os papéis desempenhados em seu meio social? Seria possível afirmar que o
ambiente em que essas jovens haviam sido criadas e socializadas as orientava para ter um
cuidado especial com “o outro”? A trabalhar e prestar serviços para esse “outro”? Essas eram
questões que intrigavam a pesquisadora e que, como profissional de administração, com
atuação na área de hotelaria, lhe pareceram ser de bastante pertinência para o entendimento de
quais seriam as condições que levam a uma maior aptidão para o desempenho de tarefas na
área de hospitalidade. Seria essa uma área em que os valores predominantes eram fortemente
femininos contribuindo para o bom desempenho das mulheres? Sendo o feminino uma
categoria de análise sócio-cultural, quem seriam essas mulheres em termos de cultura,
educação, classe social, história de vida, e o que as levaria a ter uma maior aptidão para atuar
na hotelaria e porque isso acontecia, eram questões que permeavam a reflexão.
Com esses elementos em mãos, surgiu o interesse, por parte da pesquisadora, de
estudar o gênero feminino em nossa cultura para entender de forma mais profunda as
condicionantes sócio-culturais que determinavam o domínio do feminino em nossa sociedade,
e que características apresentavam essas jovens alunas do curso em que a pesquisadora atuava
que as diferenciavam e faziam com que manifestassem uma forte identidade com a área da
14
hospitalidade. Seriam essas características construídas pelo gênero feminino de uma forma
geral?
A leitura de estudos sobre hospitalidade realizada nas aulas do curso de mestrado
permitiu entender que existe uma relação entre as formas de hospitalidade doméstica e a
hospitalidade comercial. A hospitalidade comercial se reporta ou se inspira na hospitalidade
doméstica. Sendo o espaço doméstico, mesmo diante das mudanças socioeconômicas que
estão redefinindo os papéis desempenhados por homens e mulheres de diferentes classes
sociais no conjunto da sociedade, um espaço que pode ser considerado próprio do domínio do
feminino em nossa cultura, seria razoável supor que a vivência no ambiente doméstico fosse
um elemento facilitador para o ingresso do gênero feminino no mercado de trabalho de
hospitalidade.
É importante, deixar claro desde o início, que aqui se tratará de diferenças de
comportamento e atitudes dentro do gênero. Não se pretende tratar de diferenças biológicas
entre homens e mulheres, nem associar melhor ou pior desempenho na área de hospitalidade
às diferenças entre o homem e a mulher, e muito menos argumentar que a mulher, de um
modo genérico, tem maior identidade com a área da hospitalidade, ou que é uma profissional
melhor que o homem nesse segmento. A intenção do estudo é investigar que qualificações do
gênero feminino, advindas de educação, lugar na sociedade, contribuem para que a mulher se
identifique, ou até mesmo, venha a apresentar uma espécie de “vocação quase que natural”
para atuar no segmento da hospitalidade.
No caminho da pesquisa percebeu-se a complexidade do campo de estudos, sendo
necessário o levantamento de trabalhos desenvolvidos em diferentes áreas do conhecimento, o
que exigiu que se abrisse o leque da investigação, para diferentes disciplinas, como a
Antropologia, Sociologia, Administração e Marketing, procurando pontos de interceptação
com conceitos e propostas de hospitalidade.
Na área especifica da hospitalidade, tomou-se por base o livro Em busca da
Hospitalidade, organizado por Conrad Lashley e Alison Morrison, traduzido para o português
e publicado no Brasil em 2004 pela editora Manole, que reúne contribuições conceituais
valiosas de vários autores para o estudo da hospitalidade. Entre esses textos temos a
contribuição de Paul Lynch e Doreen MacWhannell que fizeram um estudo em torno da
questão do conceito de “lar”, do significado do gênero e do espírito empreendedor feminino,
propondo a importância do lar como início de atividade para a hospitalidade comercial.
Ressaltando que não se deve restringir o conceito da hospitalidade do lar no contexto da
descrição física ou de serviço do lar. “O importante é o significado simbólico do lar; o que o
15
lar representa, o que evoca, mais do que sua aparência externa”. (LYNCH;
MACWHANNELL, In: LASHLEY;MORRISON, 2004 p. 149)
Com base em diversos autores cujas citações se reproduzem a seguir, Lynch e
MacWhannel, no texto acima referido, discutem a questão do lar. Assim também Rybczynski
(1988) se refere ao lar como residência, mas também tudo aquilo que estiver nele e em torno
dele, assim como as pessoas e a satisfação e contentamento que tudo isso transmite. O lar
como uma idéia associada ao conforto, à domesticidade; lugar sob o controle feminino; lugar
de ritos e hábitos foi estudado por Telfer, 1995 e também por Rybczynski, 1988; e como local
de relações patriarcais por Whatmore, 1991. (LYNCH; MACWHANNELL, In: LASHLEY;
MORRISON, 2004, p. 145-66).
Não é possível afirmar que o lar seja mais importante para as mulheres do que para os
homens. O que é possível observar é que as mulheres ainda têm um papel central na
administração do lar, na sociedade ocidental. Essa configuração tem origem na sociedade
patriarcal, que atribuiu ao homem a responsabilidade de provedor e à mulher o de dona do lar,
dos cuidados da casa, da família e do esposo, e isto, mesmo com todos os protestos e literatura
produzida pelo movimento feminista, na segunda metade do século passado, é um fato que
ainda não se pode contestar.
A idéia de lar, enquanto construção social, especialmente nas culturas ocidentais
também engloba “idéias de segurança, afeição e bem-estar”, segundo Madigan e Munro,
1991. Esses autores consideram que não somente homens e mulheres sentem a moradia de
modo diferente, como sugerem que há bons motivos para acreditar que a casa ocupa uma
maior centralidade na vida das mulheres do que na dos homens, como resultado do papel
doméstico das mulheres. (LYNCH; MACWHANNELL, In: LASHLEY; MORRISON, 2004,
p. 157).
Diante destas propostas, parece que tomar a questão do “lar” e do doméstico dentro de
um estudo do gênero no campo da hospitalidade seja de fundamental relevância para se
entender as relações sociais criadas pela mulher no espaço doméstico e que são próprias do
gênero feminino.
Procurando entender melhor a questão do papel social ocupado pela mulher, recorreu-
se ao estudo do sociólogo francês Bourdieu (1999) sobre a dominação masculina. Sendo o
conceito de gênero de origem relacional é necessário para entender a personalidade feminina,
que se considere o contraponto do que seria o masculino. Entende-se, assim, que o atual papel
desempenhado pelas mulheres na sociedade foi construído historicamente em sua relação com
os homens, entendendo-se por homem a figura masculina, a sociedade, a política e a religião.
16
Considerando que não parece possível entender quem é a mulher de forma isolada do homem,
se tomará para efeito desse trabalho, o estudo de Bourdieu.
Na área da Educação, existem estudos interessantes que pesquisaram a forma de
brincar de meninos e meninas, o que vem a contribuir com a confirmação de que as diferenças
de gênero se apóiam em questões culturais. Pesquisadores na área da Psicologia, como Cris
Evatt (1993), e a tese de Daniela Finco, pela UNICAMP - na área de Educação, sobre
“Educação Infantil, Gênero e Brincadeiras: das naturalidades às transgressões”, mostram que,
desde crianças, através de suas brincadeiras, meninos e meninas são “condicionados” ao que é
certo e o que é errado, o que se expressa no: “Azul para meninos, rosa para as meninas”.
Esse aprendizado sobre como devem ser e como devem atuar e de que lado devem estar, os
indivíduos levam para a vida adulta e profissional refletindo no modo como lideram, delegam
e conquistam seus espaços nas empresas.
No campo das Ciências Sociais aplicadas, consultou-se o trabalho, na área de
Marketing, apresentado pela norte-americana Martha Barletta, 2003, que investiga o que leva
as mulheres a comprar. Para essa pesquisa Barletta traz contribuições de importantes
descobertas sobre os sexos, em campos diversos como antropologia, bioquímica e psicologia.
O modelo de Marketing Gender Trands desenvolvido por ela, explica porque as mulheres
tomam decisões de compra de modo diferente, dos homens e mostram como elas reagem,
também de forma diferente a estratégias de Marketing que as empresas utilizam para que elas
tomem suas decisões. O estudo de Barletta traz excelentes contribuições ao estudo do gênero,
uma vez que faz uma investigação sobre as desigualdades e influências evolutivas, biológicas,
estudando as formas femininas de saber, seus sentidos e sua sensibilidade contra as formas
masculinas de saber e seus teoremas.
Outra contribuição importante na área de Administração é a de Marilyn Loden (1985),
que estudou a Liderança Feminina na sociedade americana. Na época em que realizou o
trabalho, década de 1980, a autora relata que eram editados muitos livros voltados para
mulheres que desejavam desenvolver suas carreiras, trazendo ensinamentos, regras e
posicionamentos para que pudessem galgar os degraus empresariais de forma mais rápida e
eficiente. Alguns desses livros eram baseados em pesquisas, outros eram apenas teóricos e de
pouco conteúdo. De forma geral, esses livros enfocavam a mulher como uma “aprendiz dos
homens”, como se a mulher precisasse ser igual ao homem para desempenhar uma função
semelhante, ignorando a possibilidade de que ela pudesse desempenhar tais papéis a partir da
sua identidade feminina.
17
Igualando-se ao homem, a mulher estaria, desde logo, abrindo mão de seu grande
diferencial – ou seja – da sua maneira feminina de executar uma tarefa, chegando
pelo seu próprio caminho ao mesmo resultado que um homem, com idênticas
qualificações profissionais chegaria. (SCHUTZER, apresentação In: LODEN, 1985).
Loden (1985) enumera, em seu estudo, as habilidades da líder feminina, destacando o
papel da socialização, e as habilidades interpessoais chave, como: habilidade de percepção,
habilidade de ouvir, administração de sentimentos, intimidade e autenticidade, e importância
relevada ao impacto pessoal. Todos esses fatores parecem ir ao encontro, mais uma vez, do
cenário de construção de relações proposto pela hospitalidade. Daí a importância do estudo
para esta pesquisa.
No campo da Sociologia, a socióloga americana Rebecca Abrams (2001) analisa e
contesta os resultados obtidos pelas teorias feministas, que buscaram nos últimos anos
garantir igualdade de direitos para as mulheres no mercado de trabalho, exigindo-lhes
melhores salários, melhores condições e um tratamento igualitário. Essas questões, segundo a
autora, não foram resolvidas até hoje. Abrams apresenta ainda outra perspectiva, sobre as
diferenças de gênero: ela afirma que a desigualdade não está apenas na vida profissional, mas
também em outros aspectos, como é o caso do lazer que, freqüentemente, é deixado de lado
pelas mulheres:
Mesmo nas sociedades mais pobres os homens têm garantido um espaço para o
lazer, tanto quanto para o trabalho. Mas enquanto as mulheres lentamente garantem
direitos iguais no mundo profissional, o lazer feminino continua sendo visto como
algo frívolo e indulgente. (ABRAMS, 2001, contra-capa).
Do ponto de vista dessa socióloga a conquista de direitos no trabalho pela mulher,
acabou escondendo uma jornada tripla, de trabalho, tarefas do lar e cuidado com os filhos. A
contribuição deste trabalho de Abrams para a questão do gênero na hospitalidade é a análise
que ela faz sobre o imperativo de servir que, para ela, faz parte do comportamento da mulher
determinado pela cultura, como se fosse algo nato e que a segue ao longo de sua vida.
Outro estudo encontrado na revisão bibliográfica, foi um trabalho realizado pela
Universidade de Navarra – Espanha, pelo grupo EDAC - Estúdios de Administración
Aplicada, que gerou a serie de publicações Mujer Hoy, e cujo último volume dessa série foi
Mujer y Trabajo, La Mujer como humanizadora del mundo laboral. Este estudo é bastante
rico em contribuições aplicáveis à área da hospitalidade. O coordenador dessa pesquisa foi o
professor, doutor em Filosofia, Carlos Llano Cifuentes (1997). O objetivo desse estudo foi de
explorar as potencialidades que a visão feminina aporta às empresas e, em particular, às
18
empresas de serviços, nas quais sua participação é maior, e onde elas podem, através de seu
carisma próprio, humanizar tudo que está a sua volta.
Todos temos a sensação de haver perdido o calor de nosso mundo natural caseiro,
para nos acomodarmos na insensibilidade da técnica. Esta sensação é o efeito da
ausência da mulher no campo do trabalho: é a mulher que tem a seu cargo o cuidado.
Daí deriva a nostalgia dos aspectos originários e definitivos no mundo do trabalho:
não somente o cuidado, se não também o sentido da proximidade, do tom e do
detalhe, da ternura, o equilíbrio e a harmonia, o sentido da dependência e da
colaboração, a atenção ao concreto. A ausência desses valores femininos constitui
um profundo vazio nas organizações e nas empresas, que hoje é patente. (LLANO,
CARLOS, 1997 – p. 7, tradução nossa).
As propostas de Llano (1997) de “humanização” das empresas e da sociedade pela
mulher, são de profunda contribuição para o estudo da hospitalidade. Llano (1997) defende a
idéia de que a mulher desse novo século deva trabalhar junto e não contra ou em oposição, ao
homem. Ele propõe que os desafios da mulher para este novo milênio serão: enfrentar seu
próprio desenvolvimento, assistir à sua família e participar ativamente da vida social. Para ele,
hoje, mais do que nunca, no ambiente organizacional são necessários os valores femininos
para dar “calor” ao trabalho e diminuir as tensões nas relações entre os homens.
Com base nesses estudos se elaborou o referencial teórico básico da pesquisa
costurado a partir das ciências sociais aplicadas, mostrando que o gênero não se situa em um
campo de estudo apenas, mas que se trata de objeto de estudo de disciplinas diversas. Feita
esta tessitura teórica procurou-se mostrar de que forma essas pesquisas, em outras áreas de
estudo, contribuem para a construção do estudo do gênero para a hospitalidade.
Buscando-se uma aproximação à realidade empírica foi realizada pesquisa de campo
por meio de entrevistas, com o objetivo de investigar de que forma as executivas (gerentes
gerais e gerentes de serviço na área de hospedagem, dentro do segmento da hospitalidade),
aplicavam em seu trabalho os papéis desempenhados pela mulher na esfera privada
(doméstica) e social (família, escola, meio social), e de que forma estes papéis influenciavam
sua performance profissional, facilitavam seu trabalho e sua identificação com a área da
hospitalidade.
Essa observação foi norteada pelos seguintes questionamentos que constituíram a
base da formatação do instrumento de coleta de dados em que se procurou identificar:
Quais os papéis, domésticos e sociais, da mulher se reproduzem na sua atuação
como profissional?
19
De que forma esses papéis contribuem para que tenha um melhor desempenho em
suas carreiras?
Se consideram que suas carreiras na área da hospitalidade se deram por uma
questão de oportunidade ou de vocação.
A escolha do público de executivas a nível de gerencia dentro do segmento de
hospitalidade se deu, pelas seguintes razões:
- ainda que, a identificação do comportamento voltado à área da hospitalidade tivesse
sido dado junto ao universo de alunas de classe média-baixa, acreditava a pesquisadora que
este comportamento tendesse a ser do universo feminino, de uma forma geral, independente
da classe social a que pertencesse essas mulheres;
- o objetivo do estudo foi o de identificar se as mulheres apresentavam características e
comportamentos tidos como hospitaleiros, e se os levavam de seus lares para o mercado de
trabalho, daí a necessidade de se escolher um publico que estivesse inserido no mercado de
trabalho, dentro do segmento da hospitalidade;
- a escolha de um público feminino a nível executivo (alta e média gerencia), se deu
devido ao interesse da autora em identificar, se a nível de gestão e liderança, se identificavam
os papéis próprios do feminino advindos dos espaços social e doméstico.
Na seqüência, procedeu-se ao confronto do referencial teórico obtido na pesquisa
bibliográfica com os dados da pesquisa de campo, de modo a tecer considerações procurando
delinear o processo de formação de identidade sócio-cultural do perfil das executivas, o qual,
aparentemente, resgata valores integrantes do “universo feminino” e papéis desempenhados
pela mulher em nossa cultura. Com isso, espera-se contribuir para que as mulheres passem a
considerar que a conquista de posições no mercado de trabalho não implica necessariamente
na adoção de comportamentos típicos do universo masculino, mas sim, ao contrário, em
assumir e pôr em prática a “essência do feminino”. O entendimento dessas questões é
importante para o gerenciamento das carreiras de executivas que atuam no mercado de
trabalho e uma contribuição para o entendimento dos papéis de gênero no segmento da
hospitalidade.
Metodologicamente a pesquisa se caracteriza como estudo exploratório com base nos
procedimentos de pesquisa bibliográfica para construção do referencial teórico e de pesquisa
em profundidade por meio de entrevistas na observação de campo, buscando encontrar
evidências empíricas que confirmem ou refutem as teorias levantadas.
20
Para as entrevistas foi definido um grupo de executivas, com no mínimo dois anos de
atuação na área de hospitalidade, colhendo-se depoimentos a partir do roteiro semi estruturado
que se encontra no apêndice 1.
Essa dissertação está estruturada em seis capítulos, iniciando por uma discussão sobre
as diferenças de gênero e a questão da dominação masculina no primeiro capítulo se
estabelece, na seção seguinte, as influências culturais que determinam esse cenário. No
terceiro capítulo são apresentadas as principais características do feminino no mercado de
trabalho destacando a questão da existência de uma espécie de predisposição para servir, nas
mulheres, decorrente do condicionamento cultural e que se manifesta quase que como uma
atitude natural do feminino. Os papéis femininos são analisados no quarto capítulo
estabelecendo um paralelo entre as atividades próprias do lar e sua aproximação com as
atividades relacionadas a uma atuação profissional voltada para a hospitalidade. No quinto
capítulo procura-se definir quais as características femininas que determinam o perfil da
mulher executiva, discutindo, em separado, as questões de liderança no capítulo sexto.
Trechos das entrevistas realizadas foram inseridos no decorrer da exposição procurando
reforçar as análises teóricas, estando as mesmas reproduzidas, em sua íntegra, no apêndice.
Tratando-se de um estudo exploratório não existiu a pretensão de formular conclusões,
mas sim de tecer considerações que permitissem melhor compreender as relações entre o
universo feminino e a hospitalidade. Assim, com relação à afirmação de que a hospitalidade
ser de fato, algo substantivamente feminino, no sentido de configurar a própria essência de
um ser real, permanece uma indagação. Sendo o gênero uma construção sócio-cultural talvez
a hospitalidade possa ser um substantivo feminino e masculino, no sentido daquele que se
emprega ou como substantivo feminino ou masculino sem que o gênero da palavra
corresponda a um dos dois sexos.
21
CAPÍTULO 1 – FEMININO, MASCULINO E DOMINAÇÃO
As diferenças de gênero podem ser explicadas de maneiras diversas em função do foco
de análise e da formação do pesquisador. Assim, é possível encontrar muitos estudos de
gênero na área das ciências biológicas e até mesmo das ciências humanas, como a Psicologia,
que defendem a idéia de que as diferenças de gênero podem ser explicadas com base na
constituição biológica e hormonal de homens e mulheres.
Na área das Ciências Médicas o médico e escritor Eliezer Berenstein, autor do livro “A
inteligência hormonal da mulher”, explorou este tema de forma profunda. A análise de
Berenstein (2001) explica o comportamento voltado para a ação, competição, conquista,
síntese ao falar e pensar, determinação ao agir em perigo e, ao mesmo tempo, a tendência à
solidão, como sendo atitudes tipicamente masculinas, o que se justificaria pela testosterona
presente em maior quantidade nos homens. Nas mulheres seriam basicamente três hormônios:
a progesterona, o estrógeno e a prolactina, os responsáveis por seu comportamento e definição
de características tipicamente femininas, como: tendência para o lado emocional, atitudes de
cooperação, maior intuição, e outras formas de comportamento que seriam, assim, próprias
das mulheres.
Outro trabalho na área médica, foi do doutor em cardiologia, Marco Aurélio Dias da
Silva (2000), autor do livro “Mulheres que abrem passagem”, e que também estudou a
vertente biológica e cultural para explicação das diferenças de gênero, como um dos fatores,
além das questões biológicas, que justificam o domínio do homem sobre a mulher, e que seria
justamente a desproporcional diferença de porte e força física entre os gêneros. Para esse
pesquisador a superioridade física possibilitava ao macho humano sempre possuir a fêmea,
mesmo que contra a vontade dela. A única barreira que poderia ter era a presença de outro
macho. Para defender a mulher e assumir a posição de “homem protetor de mulheres” o
macho humano evoluiu para a figura de marido e de pai, criando a família e, com ela, o poder
masculino e o patriarcado, estando aí a origem da dominação.
Mesmo havendo correlação entre níveis hormonais e comportamentos, ou entre
características físicas próprias dos sexos e formas de dominação, não é essa a questão que
define o que é próprio do feminino e do masculino, uma vez que essas características são
fortemente condicionadas pela cultura. É indiscutível que as diferenças de gênero se
justificam por determinantes culturais, porém Silva (2000) chama atenção para o fato de que
os fatores biológicos não podem ser descartados, citando o estudo realizado pelos
22
antropólogos Beatrice e John Whiting que analisaram a agressividade de jovens em aldeias do
Japão, Filipinas, México, Quênia e em Orchard Tower (Nova Inglaterra). O estudo mostrou
que, em todas essas culturas, os homens eram mais agressivos que as mulheres, o que
permitiu concluir que, embora os fatores culturais contribuíssem inegavelmente para explicar
as diferenças entre homens e mulheres, essas diferenças também poderiam ser parcialmente
explicadas pelos níveis de testosterona mais elevados nos homens e, em especial, nos mais
jovens.
Parece correto assumir que explicações de fundamento biológico, embora pertinentes,
não são suficientes para explicar as diferenças de gênero. A explicação biológica é
reducionista restringindo o conceito de gênero a uma visão “sexista”, onde o fato de ser
homem ou mulher justificaria qualquer forma de comportamento. Embora os hormônios
possam influenciar o comportamento de ambos os sexos, isso não explica nem justifica as
relações de submissão e dominação que podem ser observadas nas relações entre homens e
mulheres em diferentes sociedades em períodos históricos diversos. Acreditar que a
dominação masculina por séculos na história ocidental, decorre de diferença hormonal, sendo
uma questão biológica, é simplificar inadequadamente a complexidade que é própria das
relações humanas e da vida dos homens em sociedade. Estudiosos das Ciências Sociais
Aplicadas, Antropólogos e Historiadores, entendem as diferenças de gênero de uma forma
mais complexa e ampla, muito além do determinismo biológico.
Paradoxos da diferença de gênero
Interessado no estudo da diferença de gênero, na área das Ciências Sociais Aplicadas –
Administração – o autor brasileiro, Phd pela Cornell University, Júlio Lobos (2002), em sua
obra Mulheres que abrem passagem, oferece argumentos que permitem contestar razões
biológicas como explicação para as diferenças de gênero. Lobos explica as diferenças de
gênero por razões biológicas, arqueológicas, psicológicas, antropológicas, entre outras,
identificando dois paradoxos:
O primeiro paradoxo é que “as desigualdades mais aparentes entre os gêneros são as
que menos justificam qualquer dominação”. (LOBOS, 2002, p. 38). Partindo de uma
diferença biológica bastante comum entre homens e mulheres, o fato dos homens serem em
média 10% mais altos do que as mulheres, Lobos argumenta que isso não significa
superioridade, pois tamanho e força muscular não determinam dominação dos mais fortes
23
sobre os mais fracos, mesmo porque, do ponto de vista hormonal, a mulher seria mais bem
equipada do que o homem. Se a testosterona torna o homem mais agressivo, na mulher o
estrogênio, hormônio da feminilidade e a progesterona, hormônio da maternidade,
contribuiriam para um ser mais humano mais rico e complexo. Lobos ressalta que os estudos
arqueológicos não apresentam evidências de que o homo sapiens fosse superior à sua fêmea, e
que, na ausência de registros, não se sabe se a fêmea era ou não valorizada ou depreciada.
Existem, sim, evidências em estudos antropológicos de que havia certa mística da mulher face
ao seu papel na reprodução, o que pode ser observado no grande número de representações de
mulheres em estado de gravidez.
O segundo paradoxo colocado por Lobos (2002) é que: “as diferenças menos notórias
entre os gêneros seriam as mais determinantes” (LOBOS, 2002, p. 39), e aqui estão diferenças
psicológicas e culturais. Para justificar a questão psicológica recorre Lobos (2002) à
explicação do pai da psicanálise, Sigmund Freud (1933).
... em contraste com a mulher, que fica apenas intrigada perante a sua suposta
“castração”, o homem reage belicosamente ao se sentir mais frágil (por imaturo e
dependente que é) do que ela, do ponto de vista sexual. Daí a sua propensão a
subjugá-la e humilhá-la sempre que puder. (FREUD, 1933 apud LOBOS, 2002, p.
39).
Assim, questiona Lobos, onde se encontraria a justificativa para as diferenças de
gênero e para a dominação da mulher pelo homem? A resposta estaria no plano cultural, na
própria humanidade, na medida em que é a cultura que nos faz humanos, alem do que a
cultura não é um fenômeno natural, e sim uma criação do próprio homem.
O patriarcado trouxe com ele a noção de poder, de propriedade, e vinculado a essa
última a noção de monogamia, que teria origem na necessidade por parte do homem, de
controlar e apropriar-se das mulheres e de sua sexualidade. Aqui se faz necessário um
esclarecimento em relação à questão de dominância e dominação no conceito de poder.
“Dominância, ou predominância, é a capacidade inata ou adquirida, de um membro do grupo
sobressair-se, liderar ou conduzir” (MURARO, 1992 apud SILVA, 2000, p. 50). O importante
é que dominância não inclui a repressão e a “coerção da vontade dos outros membros”.
Assim, esclarece Silva (2000), o poder entendido como a capacidade ou habilidade de obrigar
outras pessoas a agir, fazer o que queremos e como queremos, é uma criação exclusivamente
humana e que surgiu com o patriarcado. Deriva do sistema patriarcal o início da dominação
dos homens exercida sobre as mulheres tanto pelo fato de estas últimas se encontrarem
alijadas do processo de produção como por receberem a incumbência de gerar herdeiros para
24
garantir fortunas acumuladas. A exclusividade sobre a mulher era a garantia de que os filhos
fossem de fato herdeiros legítimos.
As marcas do patriarcado não se restringiram à dominação das mulheres, mas também
se refletiram na dominação do homem sobre outros homens, o poder e a competição. Essa
competição teve como conseqüência aparente uma “doentia necessidade masculina de deter o
poder”. (SILVA, 2000, p. 53). Essa questão de natureza cultural foi suficientemente forte para
sobreviver por séculos e civilizações e se fazer presente dentro da sociedade contemporânea,
refletindo-se nas relações do gênero no âmbito familiar, social e do trabalho.
Assim a cultura define os papéis do gênero na sociedade e, por conseqüência, no
ambiente empresarial. A cultura define o que é próprio do masculino e do feminino
estabelecendo regras de comportamento e de julgamento. Segundo Lobos (2002), as
diferenças de gênero e o comportamento da mulher na sociedade, se entendem a partir de
questões culturais, questões essas criadas pela própria humanidade.
Essas questões estão na base da situação da mulher ocidental, que pode ser narrada
como uma história de dominação e de submissão. No século passado as mulheres tinham
domínio do espaço privado doméstico, e sua vida era reduzida a este espaço, imposição esta
da sociedade e da igreja. Na análise de Bourdieu (1999):
... as próprias mudanças da condição feminina obedecem sempre à lógica do modelo
tradicional entre o masculino e o feminino. Os homens continuam a dominar o
espaço público e a área de poder (sobretudo econômico e de produção), ao passo que
as mulheres ficam destinadas (predominantemente) ao espaço privado (doméstico,
lugar de reprodução) em que se perpetua a lógica da economia de bens simbólicos,
ou a essas espécies de extensões deste espaço, que são os serviços sociais (sobretudo
hospitalares) e educativos, ou ainda aos universos de produção simbólica (áreas
literária e artística, jornalismo, etc). (BOURDIEU, 1999, p. 112).
Para Bourdieu (1999) os padrões masculinos dominam os femininos no espaço do
trabalho. Isso é forte e faz com que as mulheres que saem de seu cenário de domínio, o
doméstico, procurem assumir posturas próprias do masculino, em decorrência da necessidade
de sobreviver no ambiente social e empresarial. Ao assumir um novo papel a mulher se
distancia das características próprias do feminino o que pode ser um fator que contribui para a
sua perda de identidade.
... quando as camponesas européias começaram a trabalhar por dinheiro, supunha-se
que no novo ambiente ela iriam se comportar como no lar, ou seja, de forma
educada, afetuosa e, sobretudo, humilde. A lavoura, as feiras e as fábricas têxteis,
afinal pouco exigiam. Mas foi só o trabalho feminino enobrecer, principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, que o tempo fechou. Comportar-se submissamente
25
foi visto como “pouco profissional”, mas, ao mesmo tempo, agir ao contrário
continuou a ser tachado de “pouco feminino”. (LOBOS, 2002, p. 43).
A razão pela qual as estruturas antigas da divisão de trabalho ainda determinarem a
direção e a forma das mudanças, se justifica, segundo Bourdieu (1999), pelo fato de que, além
de estarem objetivadas nos níveis, nas carreiras, nos cargos mais ou menos fortemente
sexuados, elas atuam através de três princípios práticos que não só as mulheres, mas também,
seu próprio ambiente põe em ação em suas escolhas, o primeiro princípio é de que as funções
que convém às mulheres se situam no prolongamento das funções domésticas: ensino,
cuidados, serviço; segundo princípio trata de que uma mulher não pode ter autoridade sobre
homens e tem, portanto, todas as possibilidades de ver-se preterida por um homem para uma
posição de autoridade ou de ser relegada a funções subordinadas, de auxiliar; e por fim o
terceiro princípio, que confere ao homem o monopólio de manutenção dos objetos técnicos e
das máquinas.
Pode-se dizer que as mulheres ficaram confinadas ao ambiente doméstico e a
atividades ligadas à reprodução biológica e social da descendência, atividades estas tidas
como maternas, e que somente são reconhecidas quando subordinadas às atividades de
produção, uma vez que essas últimas têm um caráter econômico e social e estão sob o
domínio masculino.
Gênero e mercado de trabalho
Um aspecto bastante importante do trabalho doméstico feminino é que ele não é
remunerado, o que acaba por criar uma identificação da mulher com atividades não lucrativas
e de caráter desinteressado. As mulheres, segundo Bourdieu (1999) não foram acostumadas a
pensar no trabalho em termos de equivalência em dinheiro, o que faz com que estejam, muito
mais que os homens, dispostas às atividades de beneficência, sobretudo religiosa e de
caridade. O sociólogo esclarece que é importante lembrar, para também se entender a questão
da submissão feminina, que as mulheres sempre foram tratadas nas sociedades como meios de
troca, elas sempre foram um meio para o homem acumular capital social e simbólico, o que
era obtido mediante a aliança de casamento. Ainda hoje, elas contribuem de forma direta e
decisiva na produção e reprodução do capital simbólico da família, expressando o capital
simbólico do grupo doméstico, em tudo que esteja relacionado a sua aparência (maquiagem,
trajes, porte etc), o que as levou a serem classificadas do lado “do parecer” e “do agradar”. E,
26
esclarece ainda, que este ser, agradar e parecer é para o ponto de vista masculino, ou por um
olhar marcado pelas categorias masculinas.
Estando as mulheres socialmente levadas a tratar a si próprias como objetos
estéticos, e por conseguinte, a dedicar uma atenção constante a tudo que se refere à
beleza, à elegância do corpo, das vestes, da postura, elas têm naturalmente a seu
cargo, na divisão do trabalho doméstico, tudo que se refere à estética e, mais
amplamente, à gestão da imagem pública e das aparências sociais dos membros da
unidade doméstica, dos filhos, obviamente, mas também do esposo, que lhes delega
muitas vezes a escolha de sua indumentária. (BOURDIEU, 1999, p. 119).
Para a mulher sua imagem está associada a um lar asseado e limpo. Como se o lar, sua
decoração, objetos refletissem sua própria personalidade, tão forte é a identificação desse
espaço como espaço feminino. Para a mulher uma casa desarrumada e filhos mal vestidos
refletirão uma dona de casa desleixada. O homem desmazelado e bagunçado é considerado
normal, uma mulher suja é obscena. O atributo externo torna-se, nesse sentido, uma qualidade
moral, para a mulher, não para o homem. “A mulher orgulhosa do lar equipara sua imaculada
casa ao seu eu virtuoso e extrai o senso de seu valor pessoal da mais perfeita arrumação dos
armários em vez de qualidades de sua mente ou alma.” (GREER, 1939, p. 161).
Esta preocupação com a estética do lar, com os cuidados da família é possivelmente
transportada pela mulher para seu papel dentro da empresa, o que justifica que, via de regra,
seja designada para coordenar atividades de apresentação e de representação, de recepção e
acolhida, ocupando cargos de recepcionista, aeromoça, anfitriã, guia turística, acompanhante,
(e outras correlacionadas), como também a gestão de rituais nas empresas, ao modelo dos
rituais domésticos, os quais têm por finalidade manter ou incrementar o capital social de
relações das empresas.
O que se pode concluir a partir da análise cultural proposta por Bourdieu (1999) é que
a posição ocupada pela mulher tanto no âmbito social como comercial, se explica em grande
parte pelo papel que desempenha dentro do âmbito doméstico. A atuação da mulher em
qualquer esfera que esteja inserida parece importar elementos e formas de atuação de seu
mundo doméstico. As próprias relações que estabelece na sociedade e dentro de seu ambiente
corporativo, estão fundamentadas no modelo de relações doméstico familiares. Isto parece
explicar o por que a mulher no cenário coorporativo atue em pleno século XXI, sob o domínio
masculino, mas por outro lado, também pode explicar porque elas tendem a apresentar as
características e qualificações requisitadas pelo segmento da hospitalidade, abordagem esta
que será tratada nos próximos capítulos deste trabalho.
27
CAPÍTULO 2 – INFLUÊNCIA DA CULTURA NA DEFINIÇÃO DO
GÊNERO
Quando se fala em gênero, adota-se o ponto de vista sócio-antropológico para explicar
as posições que homens e mulheres ocupam em suas comunidades e sociedades uma vez que
se entende que os comportamentos são definidos por influências culturais e não biológicas.
Analisando além dos estudos biológicos, os pesquisadores estudam todas as características,
hábitos, doutrinas, relações de poder que uma determinada cultura ensina a homens e
mulheres, em um determinado lugar e em um determinado momento histórico.
Adotando a abordagem de gênero, o psicólogo e antropólogo Highwater (1992), critica
os estudos sexistas que, segundo ele, vêem nos genitais o selo de destinos das sociedades, por
meio da determinação de padrões fixos de comportamento que seriam comuns a todos os
grupos sociais. O autor ressalta o processo de socialização a que o sexo é submetido em cada
cultura a qual define as práticas que considera como próprias ou não, morais ou imorais,
inadequadas ou adequadas. Trata-se de papéis definidos culturalmente e que não decorrem de
diferenças físicas.
O conceito de gênero permite entender que existam características do feminino e do
masculino tanto em homens quanto em mulheres. Dessa forma, fazendo um paralelo pode-se
entender que enquanto o sexo se refere às diferenças físicas, o gênero se faz em cima de
diferenças socioculturais entre homens e mulheres.
Nessa perspectiva entende-se que as diferenças no comportamento dos homens e das
mulheres se desenvolvem a partir da aprendizagem social, das identidades construídas do
masculino e do feminino. Entende-se, assim, que as diferenças físicas de sexo são um signo e
não uma causa determinante dos diferentes papéis sociais desempenhados pelos indivíduos
em uma sociedade. O gênero pode ser assim entendido como uma somatória de diferentes
papéis culturais que homens e mulheres assumem em contextos culturais específicos e em
épocas determinadas, e que variam, portanto de cultura para cultura e através do tempo, não
sendo estáticos, nem universalmente válidos.
Assim em decorrência de sua natureza cultural a idéia que temos do masculino e do
feminino varia de uma cultura para outra, e dentro de uma mesma cultura em diferentes
momentos históricos.
O professor e doutor em Antropologia Pereiro (2004), autor da tese ‘Antropologia do
Gênero’, em com base em RIBEIRO (2000) afirma que o gênero é uma categorização vivida e
28
imposta que leva à identificação de determinadas pessoas, incluindo-as em determinados
grupos homogêneos. Diferentemente do sexo, que é dado, o gênero é construído. Ou seja, é o
gênero que determina como o sexo deve ser encarado e vivido em uma determinada cultura.
Essas afirmações vão de acordo às evidências de estudos antropológicos, entre eles o
da antropóloga Margaret Mead (1979) que atestam que o grau de agressividade e de doçura
varia de uma cultura para outra. Através de pesquisa empírica em Papua – Nova Guiné, Mead
comprovou que o gênero é construído de formas diferentes em culturas diferentes, conforme
comprovam os resultados de sua pesquisa apresentados no quadro abaixo:
GRUPO ARAPESH GRUPO MUNDUGUMOR GRUPO TCHAMBULI
Os homens e as mulheres
atuavam como tradicionalmente
os norte-americanos esperavam
que se comportassem as suas
mulheres: de forma suave,
maternal e sensível.
* Cultura maternal
Os homens e as mulheres atuavam
como os norte-americanos queriam
que se comportassem os homens:
agressivamente e ferozmente.
* Cultura agressiva
Os homens tchambuli eram
“felizes”, enrolavam o cabelo,
iam às compras, etc. As mulheres
tchambuli eram enérgicas,
organizadoras e davam menor
importância ao aspecto pessoal
do que o faziam os homens.
MEAD, M. Apud PEREIRO, (2004-2005, s/p)
A relação intergêneros pode se dar no campo da afetividade, da agressividade e na
dimensão da vida social e, dentro dessa, no trabalho. Nessa dimensão os papéis de gênero se
fazem bastante importantes, uma vez que, segundo Pereiro (2004) se referem às tarefas e às
atividades que uma determinada cultura atribui a cada gênero.
Ligados com os papéis do gênero, Pereiro (2004) faz referência aos estereótipos do
gênero, que são idéias redutoras fortemente assumidas, sobre os papéis de homens e mulheres.
O estereótipo generaliza um atributo (as mulheres são dóceis; os homens são viris) e converte
a este uma característica fixa para todas as mulheres ou todos os homens. O estereótipo leva
com ele muitas associações que são, às vezes, pejorativas. Indicam como se percebem as
pessoas, e podem ter um efeito normativo, de se criar padrões de comportamento, tentando
atuar de acordo com eles, uma vez que exercem forte pressão social.
A idéia de estereótipo torna-se clara, quando se analisa o papel dos gêneros dentro do
mercado de trabalho, especificamente em relação às tarefas atribuídas a cada um deles.
Um estudo sobre a divisão sexual de trabalho, intitulado “Gênero: Multiplicidade de
Representações e Práticas Sociais, da Universidade Luterana do Brasil, do núcleo de História
Social, de autoria de Evangelia Aravanis (2006), identificou que as mulheres no Brasil de
1920 compunham a maioria absoluta do operariado no ramo têxtil, em certos ramos de
confecção, na produção de fumos, charutos, perfumarias, mas estavam ausentes da indústria
29
metalúrgica, construção civil, curtume e gráficas, campo estes estritamente masculinos.
Segunda a análise da pesquisadora, embora se encontrassem abertas as portas para o ingresso
maciço das mulheres no mundo fabril do trabalho, essa entrada foi muito matizada por sua
condição histórica de gênero. O que Aravanis (2006) pode observar em seu estudo foi que o
ingresso no mercado de trabalho se deu pelo reforço de funções tidas como naturais à mulher
no período – a delicadeza, a paciência, a agilidade manual, a lida com alimentos e fios e
agulhas – sendo essas qualidades frutos de toda sua trajetória feminina vinculada às atividades
domésticas e reprodutivas – ser mãe, ser dona-de-casa e esposa – que eram modelos e papéis
do feminino naquela época. Como os estudos de gênero são de natureza relacional, ou seja, o
feminino só pode ser entendido em contraposição ao masculino, a pesquisadora ressalta que
também em relação aos homens, havia uma matização histórica de gênero, certamente
resultado do fato do espaço público ser, no período, um “mundo” entendido como
eminentemente masculino. Assim no período considerado pela pesquisa (década de 20),
Aravanis (2006), pôde destacar que, o homem exercia funções (assumia papéis), relacionadas
a valores positivos de construção da masculinidade à época: a força, a virilidade, a coragem.
Outro conceito importante ligado ao estudo do gênero, citado por Pereiro (2004) se
refere à estratificação do gênero, e está relacionado aos conceitos citados. Trata-se da
distribuição desigual de recompensas entre homens e mulheres (poder, prestígio, liberdade
pessoal). Esta estratificação pode ser observada pelas diferentes posições ocupadas por
homens e mulheres dentro de uma hierarquia social, em especial, dentro da política e das
empresas. Uma explicação da estratificação do gênero nas culturas foi dada pela antropóloga
Sherry Ortner (1981), segundo a qual existe uma tendência em quase todas as culturas de se
relacionar a mulher com a natureza, a reprodução e o privado; enquanto os homens são
associados à cultura, à produção e ao público, dado que a cultura sempre dominou a natureza,
advindo daí a tendência de dominação dos homens sobre as mulheres.
O que parece ser verdade, é que quando há uma segregação entre o espaço público e o
privado, normalmente as atividades públicas passam a ter maior prestígio que as domésticas, o
que acaba por gerar uma estratificação do gênero, ficando a mulher encarregada do espaço
doméstico e o homem do espaço público.
Segundo uma idéia do senso comum, existente no mundo ocidental, existe uma
tendência dos homens de levarem o trabalho para casa enquanto as mulheres levariam a casa
para o trabalho.
O espaço simbólico do ambiente doméstico teria características femininas, enquanto
que o espaço simbólico do ambiente de trabalho extradoméstico seria mais do domínio
30
masculino. Essa divisão leva a uma segregação que tende a fazer com que cada gênero
perpetue sua vantagem e seu poder no espaço em que predomina. Sendo assim o mundo do
trabalho um universo mais masculino do que feminino a facilidade de acesso seria maior para
os homens que deteriam, no caso, um poder maior nesse espaço. O espaço está diretamente
ligado ao acesso, ao conhecimento e, portanto, ao poder de decisão e ao prestígio. (ORTNER
e WHITEHEAD, 1981). As barreiras espaciais que enfrentam as mulheres para que possam
ingressar no ambiente de trabalho extra doméstico acabariam por criar a estratificação e a
desigualdade de gênero.
É evidente a divisão de trabalho vinculada ao gênero em todas as culturas, porém as
tarefas destinadas aos homens e às mulheres não correspondem a diferenças de nível de
resistência e de força física, mesmo porque, em muitas culturas, os homens se dedicam à
produção de artesanato e cerâmica. O que se observa, segundo a antropóloga e socióloga
Sanday (1982) é que nas culturas em que a contribuição de homens e mulheres nas tarefas
domésticas é mais igualitária, a estratificação de gênero tende a decrescer no mundo de
trabalho extradoméstico.
A problemática dos estudos de gênero
É comum associar os estudos de gênero a pesquisas que focam a questão do feminino.
Isso decorre dos estudos que abordam a questão do ingresso da mulher, e conseqüentemente
do feminino, no mercado de trabalho que, até a pouco, na cultura ocidental era um mundo de
domínio masculino. Segundo a doutora em história, Matos (1997), por apresentar
característica basicamente relacional, a categoria gênero procura destacar que os perfis de
comportamento feminino e masculino definem-se um em função do outro.
Estudar o gênero requer uma abertura transdisciplinar, envolvendo a perspectiva
biológica e a diferenciação entre o masculino e feminino enquanto categorias culturais
definidas cultural e historicamente. É um erro grave quando se recorre ao determinismo
biológico para explicar situações de subordinação de ordem sócio-cultural como se a
desigualdade tivesse um fundamento natural que justificasse a superioridade de um sobre o
outro. Infelizmente, ao longo da história tem sido freqüente o uso dessa distinção para
justificar o tratamento desigual dado aos gêneros: “Seja no âmbito do senso comum, seja
revestida por uma linguagem “científica”, a distinção biológica, ou melhor, a distinção sexual
serve para compreender e justificar a desigualdade social” (LOURO, 1996, p. 34).
31
Com base na pedagoga Louro (2000), Finco (2003) afirma que, foi no final da década
de 1970 e entrada nos anos 80 que novas concepções acerca de estudos do gênero apareceram,
com o desenvolvimento de estudos com o foco na questão do feminino. O movimento
feminista colocou em questão os paradigmas de “biologizacão” dos sexos, dando origem aos
estudos de gênero.
De grande relevância na área da História Cultural, foi o estudo da historiadora
americana Joan Scott (1996) – “Gênero em questão – apontamentos para uma discussão
teórica”, que distingue os estudos da categoria mulher em relação a estudos de gênero,
fazendo uma crítica dos trabalhos produzidos na linha da História Cultural, que tinham o foco
na mulher como objeto isolado de estudo, em um contexto social e político isolado. Para Scott
(1996) a inclusão do termo gênero nos estudos, foi uma forma de legitimar os estudos
acadêmicos feministas nos anos 80. Para se chegar a utilizar o termo gênero na área
acadêmica, Louro (1997) coloca que foram necessários alguns anos, muitos debates, muitas
pesquisas, artigos, palestras e seminários. Foram muitas disputas, segundo a autora, para que
se começasse a romper os núcleos de estudos “de mulher” para “gênero”, e assim o conceito
adquirir um novo estatuto.
Nas últimas décadas cresceu consideravelmente o número de estudos sobre o gênero
no meio acadêmico em diferentes áreas. Há um grande número de teses defendidas, bem
como cursos, seminários, encontros, colóquios, o que comprova o amadurecimento dessa
categoria de estudos. Publicações como a Revista de Estudos feministas da UFSC, Cadernos
PAGU da UNICAMP e Núcleos de Pesquisa como o GEERGE da UFRGS e da Fundação
Carlos Chagas – SP apresentam importantes trabalhos sobre o assunto.
As áreas que reúnem um maior número de estudos são as de História, Sociologia e
Antropologia. Acredita-se que esse interesse pelos estudos de gênero tem origem nas novas
configurações femininas nos quadros sociais, das novas condições assumidas pelas mulheres
em seus meios, nas sociedades modernas.
... como não se interrogar sobre o novo lugar das mulheres e suas relações com os
homens quando nosso meio século mudou mais a condição feminina do que todos os
milênios anteriores? As mulheres eram “escravas” da procriação, libertaram-se dessa
servidão imemorial. Sonhavam ser mães no lar, agora querem exercer uma atividade
profissional. Estavam sujeitas a uma moral severa, hoje a liberdade sexual ganhou
direito de cidadania. Estavam confinadas nos setores femininos, ei-las que abrem
brechas nas cidades masculinas, obtêm os mesmos diplomas que os homens, e
reivindicam paridade política. Sem dúvida, nenhuma revolução social de nossa
época foi tão profunda, tão rápida, tão rica de futuro, quanto à emancipação
feminina. (LIPOVETSKY, 2000, p. 11).
32
Para a historiadora Matos (1997),
Na década de 70, as mulheres “entraram em cena” e se tornaram visíveis na
sociedade e na academia... Isso instigou os interessados na reconstrução das
experiências, vidas e expectativas das mulheres nas sociedades passadas,
descobrindo-as como sujeitos e objetos de estudo. (MATOS, 1997 In: MATOS e
SOLER, 1997, p. 88).
O estudo de gênero é tema de pesquisa em áreas diversas possibilitando o diálogo e a
troca entre diferentes visões e disciplinas, reunindo as múltiplas formas de se estudar e de se
ver o gênero. Têm-se estudos em Ciências Sociais, Educação, Literatura, Psicanálise, História,
Sociologia, Antropologia, Psicologia, Educação Física e em Estudos Feministas, em uma
variedade de pesquisas de gênero que mostram os reflexos que a educação, a sociedade e a
cultura acabam por reproduzir na forma de desigualdades presentes e claras em nossa
sociedade.
“O estudo de gênero se situa em uma questão de fundo epistemológico em um
contexto de mudanças e crises de paradigmas”. (SCOTT, 1995, p. 85) Entender que homens e
mulheres são diferentes uns em relação aos outros, e entre eles próprios, e só são
compreensíveis dentro de uma perspectiva relacional foi a grande contribuição da instituição
do gênero enquanto categoria de estudo. Para a historiadora Scott (1995), as mulheres e os
homens são definidos em termos recíprocos e não se poderia compreender qualquer um dos
sexos por meio de um estudo inteiramente separado.
Silva (2004), em sua tese de doutorado em História, “Gênero em Questão,
apontamentos para uma discussão teórica’, com base em Linda Nicholson (2000), afirma que
o gênero foi desenvolvido e é utilizado em oposição ao “sexo”, para descrever o que é
socialmente construído, em oposição ao o que é biologicamente dado.
A questão do estudo do gênero dentro de uma perspectiva relacional, também foi
colocada por Matos (1997). Segundo a historiadora, a categoria gênero apresenta uma
característica relacional, a partir do momento que procura mostrar que os perfis de
comportamento feminino e masculino se definem um em função do outro. “As relações do
gênero são um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças hierárquicas
que distinguem os sexos e são, portanto, uma forma primária de relações significantes de
poder.” (MATOS, 1997, In: MATOS e SOLER, 1997, p. 97).
O gênero enquanto categoria de análise deve ser entendido como um elemento
constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, que
fornece um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre
33
as várias formas de interação humana. O estudo do gênero vem, portanto, a ser a construção
social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres.
O conceito de gênero possibilita a introdução da discussão sobre a desconstrução do
antagonismo masculino/feminino:
... na nossa forma usual de compreender e analisar as sociedades, empregamos um
pensamento polarizado sobre os gêneros: ou seja, freqüentemente, nós concebemos
homem e mulher como pólos opostos que se relacionam dentro de uma lógica
invariável de dominação – submissão. (LOURO, 2000, p. 16).
Para Louro (2007) a desconstrução trabalha contra a lógica de que existe um lugar fixo
e “natural” para cada gênero, levando a perceber que a oposição é construída, e não inerente e
fixa. Dentro desse enfoque, a proposta desconstrutiva visa romper com esta forma de pensar.
Significa problematizar a constituição de cada pólo, demonstrar que cada um, na verdade,
supõe e contém o outro, mostrar que cada pólo não é único, mas plural; mostrar que cada pólo
é internamente fraturado e dividido e, por fim. sugere que a desconstrução destas dicotomias
pode ser um dos primeiros passos para o questionamento das relações de gênero.
A educação na formação do gênero
A observação de diferentes culturas permite afirmar que existe um tratamento
diferenciado que é dispensado desde o nascimento para os bebês meninos e os bebês meninas.
Na nossa cultura os primeiros tendem a ser embrulhados em mantas azuis, enquanto os
segundos tendem a ser embrulhadas em mantas cor de rosa. Desde o momento que nascem, as
brincadeiras, os brinquedos, os gestos, as palavras, as atitudes e os livros passam a exercer
uma forte influência na construção da personalidade dos meninos e das meninas. As crianças
são educadas, ao longo da vida, a se comportar dentro de determinados padrões, do que é
certo e do que é errado, de acordo ao grupo de gênero a que pertencem. As crianças são
moldadas, e passam a usar rótulos impostos pela sociedade e agir de acordo a eles: os meninos
devem ser corajosos, agressivos, não ser emotivos, ter liderança em seus grupos e times e
devem ser racionais; já as meninas devem ser delicadas, sensíveis e cuidar de sua aparência e
beleza, e ter especial dedicação pelo bem estar dos outros.
Para a filósofa existencialista francesa Simone de Beauvoir (1999), autora da obra “O
segundo sexo”, a questão da educação da menina, principalmente por uma mulher, se dá por
meio da imposição de fazê-la semelhante a ela própria.
34
Do mesmo modo, as mulheres, quando se lhes confia uma menina, buscam, com um
zelo em que a arrogância se mistura ao rancor, transformá-la em uma mulher
semelhante a si próprias. Dão-lhe por amigas outras meninas, entregam-na à
professora, insuflam-lhe os tesouros da sabedoria feminina, ensinam-lhe a cozinhar,
a costurar, a cuidar da casa. Incutem-lhe a arte de seduzir e o pudor; vestem-na com
roupas incomodas; penteiam-na de maneira complicada, impõem-lhe regras de
comportamento. “Endireite o corpo, não ande como uma pata” ou “Sente como uma
moça, cuidado ao cruzar as pernas”, e assim por diante. (BEAUVOIR, 1999 apud
DIAS, 2000, p. 119).
Assim, segundo Beauvoir (1999), para ser uma moça de verdade, ela aprende que deve
reprimir sua espontaneidade, ou seja, não pode tomar atitudes de menino. Ela é proibida de
praticar exercícios violentos. “Ensinam-na, em suma, a exemplo de suas mães e avós, a viver
o esquizofrênico papel de serva e ídolo.” (BEAUVOIR, 1999 apud SILVA, 2000, p. 119).
A sociedade por meio de suas normas prescreve posturas, comportamentos e atitude
diferenciada para homens e mulheres. Desde a infância, tais atitudes são impostas pela
família, pela escola e pelo meio social no qual a criança está inserida. Valores são construídos
e mesmo que não explícitos, acabam por determinar o comportamento dos gêneros. Portanto,
apesar das evidências biológicas e de sua parcela de contribuição na justificativa das
diferenças, não se pode negar que as diferenças devam ser explicadas e entendidas sob o
ângulo da Sociologia e Antropologia, por estar alicerçada em justificativas culturais.
Nesse contexto, a autora de ‘Como as mulheres compram’, Martha Barletta, faz o
seguinte relato:
... A maioria de nós já leu que, mesmo sem perceber, as pessoas tratam os bebês
enrolados em manta cor-de-rosa de maneira diferente da que tratam os bebês
enrolados em mantas azuis. E isto é apenas o começo. Ao longo de suas vidas,
meninos e meninas recebem mensagens diferentes sobre o que é “normal” para eles
– na escola, nas brincadeiras, na tela da TV. A questão é: meninos e meninas são
diferentes porque são tratados de forma diferente? Ou são tratados de forma
diferente porque são diferentes? (BARLETTA,2003, p. 53).
Entretanto, mesmo havendo essa compreensão da definição cultural dos gêneros, é
comum que estudiosos como Gail Evans (2000), vice-presidente executiva da CNN, procurem
sugerir causas biológicas para explicar diferenças de gênero.
Vou falar um pouco dos meus três filhos – dois meninos e uma menina -, que me
comprometi a criar em um ambiente de total igualdade entre os sexos. Desde o
primeiro dia, identifiquei disparidades baseadas nos sexos. Por exemplo, a forma de
mamar de meus dois filhos e de minha filha: os meninos comportavam-se de forma
parecida. Sugavam até ficar de barriga cheia, arrotavam, enchiam as fraldas e logo
depois caíam no sono. Era uma transação rápida, simples. Ponto final. Com a minha
filha era diferente. Ela sugava um pouco, fechava os olhos, depois tocava-me,
35
procurava-me, sentia-me, sugava, descansava, abria os olhos, arrotava, sugava,
tocava-me, e assim por diante. Ficou claro, desde o primeiro momento, que ela
estava interessada em desenvolver algum tipo de relacionamento social comigo.
Queria saber quem eu era e onde ela estava. Os meninos queriam apenas saciar a
fome. (EVANS, 2000, p. 23).
Abrams (2001) com base nos estudos de psicólogos, por ela citados em seu livro,
afirma existir diferenças de comportamento entre os gêneros desde quando crianças: segundo
a autora os psicólogos Golombok e Fivush (1994) consideram que meninos e meninas
comportam-se de maneira diferente desde a infância: os bebês do sexo feminino comem
menos e choram menos, sorriem mais e dormem mais. Os psicólogos Maccoby e Jacklin
(1987), também citados pela autora, relatam que aos três anos de idade, as meninas são menos
enérgicas fisicamente e fazem menos barulho que os meninos; Miller, Danahar e Forbes
(1986), em outros estudos que serviram de fonte para Abrams (2001), concluíram que quando
chegam à idade de ir para o maternal as meninas se esforçam mais para cooperar, obedecer e
agradar que os meninos; outro estudo referido é o de Opie e Opie (1984), que constataram que
aos sete anos de idade, os meninos são “mais egoístas, empreendedores, competitivos,
agressivos e ousados”, do que as meninas. Para Abrams (2001), que analisou todos os estudos
citados, existe uma defasagem no desenvolvimento infantil. As meninas aprendem a
comportar-se de modo diverso porque, desde pequenas, recebem um tratamento diferente.
“São tratadas de um modo mais gentil, cada mamada dura menos, desmamam mais cedo,
param de usar fraldas mais cedo, são mais desencorajadas a brincar com a comida e mais
encorajadas a comer sem bagunça e sem sujar-se”. (MOSS, 1967, apud ABRAMS, 2001, p.
172).
A questão da diferença de gêneros é tão polêmica porque existem dados em todas as
ciências que oferecem uma explicação aceitável para sua existência. Cada ciência traz sua
verdade, que para efeito de estudo de gênero deve ser aceita e respeitada. Existem dados
científicos e comprovados que confirmam a existência de diferenças significativas entre
homens e mulheres em todos os campos que estudam as diferenças. “Cada gênero vem
equipado com seu próprio conjunto de competências, atitudes, prioridades, preferências, etc”
(BARLETTA, 2003, p. 51). O que se poderia acrescentar a este comentário de Barletta é: cada
gênero já vem equipado com componentes, peças e engrenagens determinados pela biologia,
porém o equipamento será montado, pela sociedade sendo que o seu funcionamento, seu
desempenho e seu espaço, provavelmente serão determinados pela cultura em que vier a se
desenvolver, pois o papel dos gêneros se faz diferente em diferentes culturas.
36
Embora não se possa precisar se existem diferenças psicológicas natas entre meninos e
meninas, as crenças sobre como as crianças devem se comportar e serem tratadas, ainda se
baseiam em convicções profundamente arraigadas sobre as diferenças entre homens e
mulheres (ABRAMS, 2001, p. 174). Segundo a psicóloga, as crianças são direcionadas para
brincadeiras diferentes, independentemente de suas preferências inatas. O poder dos
estereótipos de sexo é tal que, desde cedo, eles moldam nossa forma de brincar.
... meninos e meninas são tratados de formas diferentes por seus pais e mães desde o
momento do nascimento. Ao alcançarem seu terceiro ano de vida, sua identidade
sexual geralmente já está bem estabelecida e suas preferências de brincadeira são
claramente influenciadas pelas percepções do que é apropriado para meninos e para
meninas. (GOLDSCHMIED e JACKSON, 2002, p. 146).
Para a psicóloga clínica americana, PhD, Dra Margo Maine, autora do livro Father
Hunger (2004) os meninos são encorajados a serem independentes e a arriscar; as meninas
são encorajadas a cuidar dos outros e das coisas e da busca de aprovação. Ainda com relação
às brincadeiras de criança, Finco (2003), em sua dissertação de mestrado em Educação
‘Educação Infantil – Gênero e Brincadeiras’ observou meninos e meninas, na faixa de 4 a 6
anos de idade, a fim de analisar o modo como se relacionavam e se manifestavam
culturalmente frente às questões do gênero, relata que os resultados mostraram como as
hierarquias de gênero são contestadas e mantidas por meninos e meninas que convivem em
um ambiente coletivo e público de educação.
Finco (2003), observou que meninos e meninas que conviviam na escola de educação
infantil pesquisada, movimentavam-se, circulavam e se agrupavam de diferentes formas, que
mantinham trocas e experimentações entre si, o que a levou a concluir que nessa idade,
quando deixados a brincar da forma que queriam, meninos e meninas, se socializavam por
meio das brincadeiras e assumiam diferentes papéis, transgredindo os modelos pré-
determinados de brincadeiras e comportamentos de meninos e meninas criados pela
sociedade. Segundo Finco as crianças ao brincarem fazem escolhas de acordo com aquilo que
lhes dá prazer, e não há uma classificação, por elas, do que seja brincadeira ou brinquedo de
menino ou de menina. Diz a autora, ser possível afirmar que as categorizações dos brinquedos
são construções criadas por adultos e não tem significado para as crianças no momento das
brincadeiras.
Finco cita o trabalho da psicóloga e escritora de livros infanto-juvenis, Ruth Rocha
(1998), “Faca sem ponta, galinha sem pé”, no qual narra a troca de sexo entre dois irmãos. Ao
experimentarem a troca de sexo um com o outro, os irmãos percebem que a diferença entre
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meninos e meninas é uma mera convenção e que não existe esta história de “coisas de
meninos e coisas de meninas”. No final da narrativa os dois irmãos superam as diferenças,
percebendo que elas são construídas e não naturais, sendo que essa viagem para dentro deles
mesmos confirmou a existência de características tidas como femininas ou masculinas em
ambos.
Em suas observações de campo, Finco (2003) pôde notar que a variedade dos
brinquedos e as diversas opções de brincadeiras favoreciam para que todos os espaços fossem
ocupados por ambos, meninos e meninas indiscriminadamente. As crianças escolhiam e
brincavam com qualquer brinquedo sem maiores constrangimentos. Observando que tanto
meninos como meninas participavam de brincadeiras como cuidar da casa, cozinhar, passar
roupa, cuidar dos filhos, que seriam funções de mulheres. A pesquisadora concluiu que as
crianças observadas não possuíam práticas sexistas em suas brincadeiras, ou seja, não
reproduziam o sexismo presente no mundo adulto, mas usavam a brincadeira para trocarem e
experimentarem os papéis do gênero.
Para Finco (2003), são os adultos, familiares e educadores, que se preocupam com a
categorização das brincadeiras entre os gêneros, pois tem dificuldade em diferenciar a
identidade do gênero da identidade sexual, para eles estas identidades estão inter-relacionadas.
Assim, para efeitos de estudo de gênero, e construção de sua identidade, deve-se tomar em
conta a influência que a educação seja familiar ou escolar, exerce sobre a reprodução das
desigualdades de gênero encontradas na sociedade.
Um estudo na área de Psicologia ‘Construindo Identidades Sexuais na Educação
Infantil’ por Felipe (2000) estuda a formação de meninos e meninas, na primeira metade do
século XIX, e evidenciou que as crianças eram educadas por meio de aconselhamentos e
prescrições de comportamento e conduta. A educação das meninas se caracterizava pela
preocupação com a proteção do corpo, em controlar a manifestação dos sentimentos e afetos,
e estava sob um rígido controle de comportamento social. Já a educação dos meninos cultuava
a masculinidade, e se alicerçava na coragem física, no trabalho, na competitividade e no
sucesso.
Segundo Finco (2003) as pesquisas sobre gênero e educação indicam que as
instituições escolares, por meio de seus regimentos, organização de espaços e distribuição de
tempo, são um importante instrumento para a formação de crianças e jovens.
As crianças aprendem o sexismo na escola ao se defrontar com a hierarquia do
sistema escolar, onde os papéis feminino e masculino estão determinados. Tal
sistema define que, no futuro, os homens serão dirigentes no mundo do trabalho,
38
enquanto às mulheres está destinado o segundo lugar nos processos de decisão. Isto
imprime no inconsciente e no consciente das meninas um limite para suas ambições.
(ALAMBERT, 1999 apud VALENZUELA e GALLARDO, 1999, p. 25).
Os estereótipos do sexo são reforçados pelos brinquedos que damos às crianças, as
roupas com que as vestimos, os cortes de cabelo que escolhemos para elas e a maneira que
reagimos a diferentes tipos de comportamentos. (ABRAMS, 2001).
... o comportamento que é considerado “apropriado” para o sexo da criança é
percebido, encorajado e elogiado, enquanto que o comportamento que contraria a
convenção é ignorado, desencorajado e até mesmo punido. Os meninos são
encorajados a mostrar curiosidade, agressividade e tenacidade, mas desencorajados a
comportar-se de formas que são tidas como “femininas”; as meninas são encorajadas
a ser condescendentes, gentis e alegres. (HENDRY, 1986 apud ABRAMS, 2001, p.
173).
Finco (2003) faz uma referência ao estudo da italiana Elena Belotti (1975) na área da
Educação com relação ao gênero. O estudo de Belotti (1975) foi realizado quando se
desencadeou o movimento feminista em seu país, e por isso, a autora, apresenta uma
preocupação com as formas de pressão social para a construção de homens ativos e poderosos
e mulheres passivas e submissas. Em relação à educação dos gêneros, Belotti (1975) alega
haver muito mais condescendência na educação dos meninos do que das meninas, e que estas
têm muito menos oportunidades que os meninos. Para ela da mesma forma como os
brinquedos ditos femininos reproduzem uma determinada feminilidade, os brinquedos ditos
masculinos reproduzem os valores de uma masculinidade hegemônica.
Para Belotti (1975), a diferenciação dos gêneros se torna evidente quando se estudam
os brinquedos. Dessa forma, assim como há brinquedos neutros, adequados para ambos
meninos e meninas, como jogos, quebra-cabeça, instrumentos musicais, etc, existem aqueles
brinquedos compostos por elementos perfeitamente identificáveis e estruturados, tornando
bastante clara a categorização entre o gênero.
Para as meninas existe uma vastíssima gama de objetos miniaturizados que imitam
utensílios caseiros, como serviços de cozinha e toalete, bolsas de enfermeira com
termômetro, faixas, esparadrapo e seringas, dependências como banheiros, cozinhas
completas com eletrodomésticos, salas, quartos, quartinhos para bebês, jogos para
coser e bordar, ferros de passar, serviços de chá, eletrodomésticos, carrinhos,
banheirinhas e uma série infinita de bonecas com o respectivo enxoval.
Para os garotinhos em geral os brinquedos divergem completamente: meios de
transporte terrestre, navais e aéreos de todas as dimensões e de todos os tipos: navios
de guerra, porta-aviões, mísseis nucleares, naves espaciais, arma de todo o tipo,
desde a pistola de cow-boy perfeitamente imitada até alguns sinistros fuzis-
metralhadoras que diferem dos verdadeiros, apenas pela menor periculosidade,
espadas, cimitarras, arcos e flechas, canhões: um verdadeiro arsenal militar.
(BELOTTI,1975, p. 75-76).
39
Ainda, segundo Belotti (1975), quando se busca conhecer as causas sociais e culturais
das diferenças entre os sexos, se poderá descobrir sua gênese em pequenos gestos cotidianos,
que de tão corriqueiros já passam despercebidos.
Quando os adultos afirmam que a própria criança faz suas opções a respeitos dos
jogos, não refletem que para manifestar preferências por este ou aquele jogo, deve a
criança ter aprendido os jogos com alguma pessoa. E esta já fez uma opção em lugar
da criança, no âmbito das possibilidades que se oferecem, ou seja, do material para
jogar, encontrável e disponível. Numa palavra, jogos e brinquedos são frutos de uma
determinada cultura em cujo âmbito se pode fazer escolhas aparentemente amplas,
mas na realidade bastante limitadas. (BELOTTI, 1975, p. 71).
Finco (2003) sugere que essa construção social do gênero decorre da preocupação que
se tem com a futura escolha sexual da criança. Lembra, porém que o fato de um menino
brincar com uma boneca e de uma menina brincar com um carrinhoo significa que eles
terão, no futuro, uma orientação homossexual. Esta é uma preocupação presente no adulto em
relação à orientação sexual da criança, que de acordo a Louro (1997) e Felipe (1999), aponta
para a obsessão com sexualidade normalizante no sentido de uma vigilância exercida pela
família e pela escola, a partir dos primeiros anos de vida da criança, para que se possa garantir
a manutenção de uma masculinidade ou feminilidade considerada hegemônica. “Qualquer
possibilidade de rompimento das fronteiras de gênero aponta para uma classificação no
campo da patologia, da anormalidade”. (LOURO, 1997, p. 27).
A transgressão em relação à utilização dos brinquedos considerados “certos” e
“errados” para cada sexo, foi fato observado por Finco, em sua pesquisa de campo, junto ao
grupo de crianças:
Os meninos e meninas brincam de tudo que lhes dê prazer: de bola, de boneca, de
empinar pipa, de carrinho, de casinha. Ao brincar com todos os brinquedos que
desejam, não deixam que idéias, costumes e hábitos, que já faziam parte da
educação de meninos e meninas na primeira metade do século XIX (Felipe, 2000),
limitem suas formas de conhecer e vivenciar o mundo, determinando o que devem
ser, o que devem pensar e que espaços devem ocupar. (FINCO, 2003, p. 13).
Dessa forma, tudo indica que a categorização é um fenômeno cultural e um
condicionamento do adulto influindo diretamente na formação da personalidade de ambos os
gêneros, bem como definindo os lugares certos para cada um. O fato é que essa categorização
acabou por criar não apenas os espaços de meninos e meninas na sua infância, em relação aos
brinquedos e brincadeiras corretas, como acabou esculpindo a personalidade de homens e
mulheres, definindo seus papéis e espaços no meio doméstico, social e empresarial.
40
Este tipo de análise, sobre as brincadeiras e brinquedos como instrumentos de
construção da cultura do gênero, explica o comportamento de homens e mulheres na vida
adulta, em ambiente social e empresarial, dada a notória relação existente entre as
brincadeiras e jogos de infância com os seus respectivos papéis na vida adulta.
Segundo Serrano (1961, p. 17), que produziu um estudo sobre a Economia Doméstica:
...desde a infância, nós mulheres, manifestamos acentuada tendência para os
misteres domésticos. Ao passo que o menino se interessa particularmente pelos
soldados, pelas armas, pelos aviões, pelos barquinhos, pelos automóveis e
locomotivas, assim indicando as suas futuras predileções por determinadas carreiras,
nós, quando meninas, preferimos a boneca, o fogão, as panelinhas, as mobílias e os
aparelhos de louça, divertindo-nos em cortar trapinhos para vestirmos a boneca ou
então cozinharmos para lhe servirmos o ‘jantar de mentira’ na mesa que arrumamos
com flores, talheres e pratos minúsculos, imitando aquela mesa onde tomamos as
nossas refeições no tranqüilo recesso de nossos lares... Um dia, por certo, teremos de
preparar a mesa com pratos e talheres de tamanho normal, servindo almoços e
jantares ‘de verdade’. Muito provavelmente teremos de vestir bonecas de carne e
osso, bonecas que terão almas pelas quais seremos responsáveis.
Vale ressalvar aqui, que se trata de uma análise feita dentro do contexto da década de
1960, portanto, refere-se a brincadeiras e comportamentos das brincadeiras de crianças de
quase cinqüenta anos atrás, por outro lado, vale também dizer, que tais brincadeiras e
brinquedos do passado, não se diferem muito das brincadeiras das meninas em pleno século
XXI, dado o tipo de brinquedos que ainda encontra-se nas lojas nos dias de hoje, e que as
mães compram e estimulam que suas filhas brinquem.
Assim parece ser clara a influência da educação na construção dos papéis que os
adultos virão a desempenhar como disse Beauvoir, “ninguém nasce mulher, torna-se mulher.
(1999 apud SILVA, 2000 p. 119). Para SILVA (ibidem) a frase significa que diferenças
fisiológicas não são suficientes para explicar a magnitude das diferenças de papéis exercidos
pelos dois gêneros, em especial pelo papel secundário exercido pela mulher, sendo que a
cultura e a sociedade é que impõem tal comportamento:
Imposição e ensinamento que, como vimos, começam pela influência da mãe e das
outras mulheres que com a garota convivem, e que se perpetuam ao longo da vida,
como se todo o conjunto de normas sociais e da força da cultura e da civilização a
encarcerassem no papel que a sociedade espera e exige que ela cumpra. (SILVA,
2000, p. 120).
41
CAPÍTULO 3 – A FORÇA DO TRABALHO FEMININO: A
PREDISPOSIÇÃO A SERVIR
Entender o papel social ocupado pelas mulheres no mundo atual remete ao estudo de
seu papel em culturas remotas, uma vez que este papel está fortemente atrelado e
fundamentado no modelo da sociedade patriarcal, com o comando do homem e a obediência
da mulher, ainda que esta possa ter sido o alicerce do casal e possivelmente a força maior da
relação. O patriarcado conseguiu justificar a posição do homem como voz de mando, mas não
conseguiu ocultar a importância do papel da mulher dentro da sociedade, em especial no
ambiente doméstico. Foi esse papel que garantiu às mulheres o cargo de geradora, educadora
e formadora de pessoas, cargo este aparentemente difícil de ser assumido pelo homem.
Tomando por base a situação da mulher no século passado observa-se que
aparentemente a mulher socialmente sempre recebeu a atribuição do papel de ser mãe, tendo
como missão principal acolher, cuidar, e criar. Essa era a principal razão da existência da
mulher, como se aquela que não viesse a ser mãe, não tivesse cumprido sua missão de mulher.
Isso explica o papel daquelas que seguiram por outros caminhos encontrando por meio de sua
profissão formas de cuidar, de acolher e de proteger, sinônimos de hospitalidade, como as
freiras missionárias e as enfermeiras, profissões femininas até os dias de hoje. “As mulheres
fazem todo o trabalho na reprodução humana, também tem feito a maior parte do trabalho
necessário para a sobrevivência humana.” (GREER, 1999, p. 142).
Ainda, segundo Greer (1999), embora a mulher se coloque em uma posição
aparentemente inferior em relação ao homem, existem evidências de que ela desfruta de uma
maior “força” que seu companheiro e, isto se refere tanto à força física, como a força
intelectual.
Existem relatos de que em algumas culturas, enquanto o homem no papel de caçador-
coletor passeava nas imediações da moradia carregando a lança e a vara de pescar, sua
parceira o acompanhava carregando o filho, o abrigo, os suprimentos alimentares e sua pá de
escavar. Era ela quem apanhava a lenha e carregava a água. Era ela também quem preparava a
comida para alimentar a família. Na divisão de trabalho entre os sexos cabia freqüentemente à
mulher o trabalho árduo e pesado, para que o homem pudesse satisfazer seu apetite pela caça,
jogos, sonhos, rituais, religião e expressão artística.
42
“Quando os animais eram domesticados, os homens os conduziam. Se o animal
morresse, a mulher puxava o arado e o homem dirigia. Mesmo hoje, em muitos lares
agrícolas, os valiosos animais são tratados com mais consideração que as
substituíveis mulheres. O peso do trabalho jamais foi motivo para as mulheres não o
fazerem; ao contrário, não se admitiam mulheres em tarefas que exigissem força
intelectual ou aptidões administrativas, mesmo quando a única coisa a ser
administrada era um burro.” (GREER, 1999, p.143)
Em certas culturas existem registros de mulheres realizando o trabalho mais
intelectual: a agricultura foi desenvolvida pelas mulheres, elas descobriram as técnicas de
plantio e cuidavam das plantações, de onde tiravam o alimento para a alimentação de suas
famílias. Por meio da agricultura, começaram a se formar as comunidades, uma vez que esta
cultura exigia que as famílias fixassem suas moradias num determinado local, e não tivessem
de se deslocar em busca do alimento, como era a atividade da caça, praticada pelo homem.
Essa etapa da evolução representou uma mudança no processo de socialização humana,
passou-se a viver em comunidade e na companhia de outras famílias. Foi no período da
descoberta da agricultura que surgiam em algumas localidades, a sociedade familiar do
matriarcado, um momento que marca a ascendência feminina pelo trabalho agrícola e que
coloca a mulher em um plano superior ao homem, pela experiência do trabalho. Nesta
sociedade, a mulher tinha o controle da família, da produção, e as regras sociais eram
determinadas por ela, ficando o homem em papel secundário. Os filhos e a autoridade
estavam a cargo da esposa em um lar que era só dela. A não proliferação do matriarcado para
outras civilizações é um mistério para sociólogos e antropólogos, bem como ainda é uma
questão aberta sobre como o homem caçador, rude, manejador de dardos e clavas permitiu ser
despojado de seu papel dominador, dando espaço ao surgimento de uma sociedade, sob o
comando feminino. (CASCUDO, 2004).
O patriarcado, que marca da cultura ocidental, por sua vez, é uma fase clara, sem
possibilidade de negação. O patriarca, pai de família, possuía a voz de mando sobre
a mulher e aos filhos. O patriarcalismo é uma sociedade que valoriza a ascendência,
sagrando o homem sacerdote, como o mais próximo da égide protetora.
(CASCUDO, 2004, p. 678).
A pós-feminista Germaine Greer (1999) é bastante radical na sua forma de colocar a
mulher em relação ao homem, ao comparar seus papéis sociais. Assim, ao se referir à divisão
de trabalho entre os sexos, alega que o trabalho penoso e estafante era diário e atribuído à
mulher, isto para que o homem pudesse satisfazer seu apetite pela caça, jogos, sonhos, rituais
e expressão artística. Isto reflete o fato de, ainda hoje, em algumas comunidades camponesas,
43
se poder ver o homem andando em cima do burro e a mulher ao seu lado acompanhando-o a
pé, “da mesma forma no mundo rico, o equivalente é o marido que dirige e a mulher que anda
ou toma o ônibus”. (GREER, 1999, p.143). Aparentemente é assim em todo o mundo, as
mulheres fazem os trabalhos mais pesados, árduos e repetitivos. Apanham lenha ao longo de
muitos quilômetros e carregam-na para a casa nas costas ou na cabeça. A água também, elas é
que a carregam, embora seja um serviço pesado, os homens não o fazem. As mulheres seriam
o sexo trabalhador. As meninas aprendem desde pequenas que seu tempo é destinado ao
trabalho. (GREER, 2001).
Comparar a carga de trabalho das mulheres com a dos homens é bastante difícil, uma
vez que grande parte do esforço das mulheres não é reconhecida como trabalho, pelo fato de
não ser uma tarefa remunerada, exemplo disso é que ao preencherem um formulário, no
campo ocupação/profissão, até hoje, a dona-de-casa que não trabalha fora, coloca “do lar”, o
que significa dizer que não tem uma profissão. O tempo gasto com os filhos não é
considerado trabalho, mesmo que a mulher não consiga fazer nenhuma tarefa simultânea
enquanto cuida e dá atenção a sua prole. Ao dar a luz a uma criança a mulher sabe que seu
tempo de lazer estará cancelado pelos próximos dezesseis anos, embora a educação e
cuidados com o desenvolvimento de seu filho não sejam considerados trabalho, além disso, se
não tiver trabalho remunerado será considerada como ociosa e economicamente inativa.
Trabalho remunerado e lazer
As análises econômicas convencionais, só consideram trabalho, para efeito de
estatísticas, as atividades que envolvem fluxo de dinheiro, portanto, boa parte das atividades
das mulheres fica excluída destes índices. Grande parte do trabalho feminino permanece tão
invisível para os métodos convencionais de coleta de dados quanto o trabalho dos animais. “O
trabalho não remunerado em todo mundo é quase que completamente feminino, nos países
desenvolvidos, as mulheres fazem três quartos de toda a preparação alimentar e limpeza, em
alguns países esta proporção chega a noventa por cento.” (GREER, 2001, p. 145).
Ainda assim, as mulheres foram levadas a acreditar que o trabalho do homem é mais
duro e mais estressante do que o delas, o que é uma grande ilusão. Percebe-se que os homens
sentem o peso do trabalho e buscam o descanso e o ócio como contraponto, o que justifica
que, no fim de semana, o homem descanse, saia com os amigos, pratique ou assista a um
44
esporte. A explicação para esse fato é cultural, uma vez que a hierarquia masculina associa
ociosidade a status. A mulher, freqüentemente, aproveita seu fim de semana para por ordem
na casa, fazer a faxina de semana. Este comportamento também tem uma origem no seu
ancestral homo sapiens e no comportamento das fêmeas no reino animal: “gorilas fêmeas e
abelhas operárias estão constantemente trabalhando, ao contrário dos animais machos, que
podem passar horas inativos”. (GREER, 2001, p.146).
Em nossa sociedade também se pode averiguar a mesma situação, segundo a psicóloga
Rebecca Abrams, autora do livro “Jogo de cintura, como as mulheres podem conciliar lazer e
trabalho”, ela declara que “as mulheres são presas especiais da cultura do excesso de
trabalho”(ABRAMS, 2001, p. 30). As mulheres estão em situação de maior risco que os
homens pelo simples fato de seu trabalho, de forma geral, nunca parar, enquanto o do homem
pára. O homem pode trabalhar por longas jornadas de trabalho diárias, mas seu trabalho em
geral finda, quando ele sai do escritório; já as mulheres que trabalham fora de casa, quando
saem de seus empregos, devem enfrentar outra jornada de trabalho, a doméstica: cozinhar,
cuidar de filhos, da organização da casa etc.
Afora este fato, Abrams (2001) menciona que há diferenças na experiência de trabalho
de homens e mulheres: o trabalho dos homens inclui momentos de lazer, o que já não
acontece com as mulheres. Os homens podem tratar de negócios durante uma partida de golf,
um jogo de tênis, um chopp no final de tarde, eles podem fazer suas reuniões de trabalho em
restaurantes ou em clubes. As empresas que promovem jogos de futebol, ou outros esportes
aumentam a satisfação do homem, porque iniciativas deste tipo vão ao encontro às suas
necessidades possibilitam que eles desenvolvam amizades e proporcionam momento de lazer
dentro do expediente de trabalho. Essas práticas não favorecem as mulheres que
freqüentemente não participam por falta de disponibilidade de tempo: as mulheres têm de
pegar os filhos na creche ou na escola, o que as impede de esticar depois do expediente, sendo
que muitas acham este tipo de programa pura “perda de tempo”.
O tempo da mulher, de uma forma geral, está condicionado à programação de vida de
outras pessoas: filhos, pais, cônjuge. Dessa forma, o seu tempo de lazer, quando existe, acaba
por ser absorvido pelas necessidades dos outros.
A cultura do trabalho, segundo Abrams (2001), coloca a mulher sob uma forte pressão
quando ela se dedica a atividades de trabalho remuneradas e não remuneradas. Em
decorrência, somente uma pequena parte do trabalho da mulher é remunerado, o resto é feito
porque deve ser feito e porque alguém tem de fazê-lo.
45
Com isso a mulher acabou se acostumando a administrar o acúmulo de tarefas. São
poucas as mulheres que conseguem ficar paradas, sem alguma coisa nas mãos para fazer, já os
homens parecem não apresentar esse tipo de dificuldade. As mulheres não saem de casa sem
levar alguma coisa, os homens mantêm as mãos livres e andam desimpedidos. A idéia que se
forma é de que as mulheres são ocupadas, os homens ociosos. Os homens não precisam se
preocupar com a aparência, o máximo que devem fazer é barbear-se. A manutenção dos
cabelos masculinos é barata, suas roupas duráveis e próprias para os outros lavarem, suas
providências domésticas são mais simples que as das mulheres.
As mulheres poderiam, assim, ser comparadas com abelhas operárias, sendo os
homens zangões. É interessante que isso pode ser observado na natureza em outras espécies
animais como os leões: são as leoas que caçam para alimentar seus filhotes e o leão macho.
Parece que animais machos são notavelmente mais desocupados que as fêmeas, porém o
macho humano conseguiu convencer a fêmea humana de que é ele, e não ela, quem trabalha.
Essa carga de trabalho que é destinada à mulher possui origens culturais, relaciona-se
com a sociedade paternalista que educou a mulher para estar presente no lar. Dentro do
modelo paternalista, cabe ao homem o papel de provedor e à mulher o papel de
administradora do lar e zeladora do bem-estar da família, o que faz com que as atividades da
mulher estejam fortemente ligadas ao ato de servir.
O ato de servir
Abrams (2001) faz uma reflexão sobre a possível tendência da mulher ao “ato de
servir”, procurando investigar e justificar o comportamento do gênero diante desta questão.
De acordo com a autora a razão principal que coloca a mulher com facilidade diante do “ato
de servir”, é o que ela mesma chama de “deslocamento”. Segundo a autora, a mulher tem uma
grande facilidade de deslocar sua atenção e seus interesses de si mesma para a vida e
necessidades do outro, deixando que os demais ocupem um espaço central em sua vida. Esse
comportamento ou atitude da mulher se explica em boa parte por pressões culturais que
sempre induziram a mulher ao dever de encontrar o sentido de sua vida e sua realização
através da felicidade dos outros, além de sempre valorizar as necessidades do outros em
detrimentos de suas próprias.
Assim, Abrams (2001) coloca que a palavra egoísmo tem conotações diferentes entre
os gêneros:
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Chame um homem de “egoísta” e, num certo sentido, estará afirmando sua
masculinidade: o adjetivo implica determinação, franqueza, ambição – não de todo
bom, mas tampouco de todo mau. Chame uma mulher de “egoísta” e estará fazendo
um comentário francamente depreciativo sobre ela: o mesmo adjetivo agora
subentende maldade, algo fora do natural, abandono do dever. (ABRAMS, 2001, p.
135).
Assim, ser egoísta enaltece a masculinidade, ao mesmo tempo em que representa
perda da feminilidade.
O termo “imperativo de servir” foi designado pela psicóloga Susie Orbach (1992),
alegando que a idéia que a mulher tem de valorizar as necessidades alheias mais do que as
suas próprias, é uma das principais razões de muitas mulheres terem dificuldade para
identificar suas próprias necessidades de diversão e ir atrás delas. Em um de seus artigos
Orbach escreveu que uma das exigências que enfraquecem a feminilidade contemporânea,
qualquer que seja a classe social da mulher ou sua posição no mapa cultural, é o imperativo de
servir, dar, partejar, fazer para os outros.
Abrams (2001) diz que um dos pilares do “imperativo de servir” está sustentado, na
forte pressão cultural que é feita sobre as meninas para agradar aos outros.
Jane White, em 1989 realizou um estudo junto a um grupo de estudantes, e pôde
constar que as meninas tinham uma tendência muito maior que os meninos a sentarem-se
quietas, comportar-se e procurar agradar o professor, seguindo suas instruções da melhor
forma possível. O estudo identificou, ainda, que as meninas eram levadas a se comportar
dessa forma, uma vez que recebiam estímulos de seus professores, ou seja, eram encorajadas e
elogiadas por se comportar e agir com obediência e polidez. Isso mostra que desde cedo as
meninas aprendem que não ser “boa” gera um desconforto nas outras pessoas, e assim, devem
evitar esta atitude negativa a todo o custo. Para uma menina, desagradar alguém, não levando
em considerando seus sentimentos ou necessidades, significa assumir uma atitude tipicamente
não feminina: o egoísmo. Com isso as meninas aprendem, ao longo de suas vidas, a se adaptar
às necessidades e exigências dos outros.
A tendência à adaptação ao meio, pela mulher, é objeto de estudo de outras ciências:
Um estudo bastante interessante no campo da lingüística, realizado pela lingüista americana
Débora Tannen, (2001) analisou como as mulheres e homens ocupam espaços dentro de uma
conversação. Tannen, concluiu que homens e mulheres apresentam diferentes estilos de
conversação, sendo que o estilo dos homens não se afeta pela pessoa com quem estão
conversando, já as mulheres tendem a adaptar seu estilo de conversação conforme a pessoa
47
com quem estejam conversando, principalmente quando elas estão em grupos mistos, isto é,
nos momentos em que as mulheres estejam em conversação com homens. Isso leva as
mulheres, de uma forma geral, a falar menos quando em grupos mistos e, quando abrem a
boca para falar, o fazem por períodos menores de tempo.
Já a neurolínguista Elizabeth Áries (1982), realizou um estudo sobre a postura não
verbal, de jovens de ambos os sexos. Comparando a postura corporal dos dois grupos ela pode
constatar que os homens tendiam a utilizar um espaço físico maior que o das mulheres, isto
estivessem eles não companhia de homens ou de mulheres. Já as mulheres ficavam mais
relaxadas quando em companhia de outras mulheres, mas quando em presença do sexo
masculino sua postura era mais retraída e confinavam-se em espaços pequenos, limpos e
arrumados.
Pesquisas sobre a brincadeira na infância e na adolescência mostram claramente que
estas têm por objetivo ensinar aos meninos a inovar, a correr riscos, explorar, o que vai contra
ao propósito da brincadeira das meninas, que é o de cooperar, e fugir dos conflitos.
Abrams (2001) diz que a explicação para esta diferença de comportamento das
meninas e meninos diante das brincadeiras pode estar em parte na biologia, uma vez que há
componentes hormonais que fazem os meninos serem mais “agressivos” que as meninas. Mas
também atribui parte desta explicação ao que ela chama de self que, segundo ela, a brincadeira
dos meninos não ensina e que tem a ver com a questão da empatia, cooperação e comunicação
verbal, características estas bem presentes nas brincadeiras das meninas. Devido a esse
comportamento, através das brincadeiras, desde a infância, as meninas acabam tendo
dificuldades, ao longo de suas vidas, de construir limites entre os outros e elas próprias. “Para
uma mulher torna-se bastante difícil preencher suas necessidades de diversão quando, a vida
inteira, recebeu a mensagens de que ser uma mulher significa cuidar e agradar os outros”.
(ABRAMS, 2001, p. 140).
Outro pilar do “imperativo de servir” apontado por Abrams (2001) está ligado à
questão de ser útil, e que está fortemente ligada à questão que as meninas devem desde cedo
ajudar suas mães no trabalho doméstico. “Na adolescência, o trabalho doméstico pode tomar
até dezesseis horas por semana do tempo livre de uma menina, enquanto raramente reduz o
tempo de lazer dos meninos.” (ABRAMS, 2001, p.141).
Em Yorkshire, Vivienne Griffiths, (1989) realizou um estudo junto a 50 meninas
adolescentes, e foi constatado que a maioria delas tinha responsabilidade por tarefas
domésticas diárias, o que incluía cuidar de crianças, limpar, lavar e cozinhar. Apesar de
algumas delas reclamarem destes serviços e alegarem que seus irmãos estavam isentos dessa
48
responsabilidade, a maioria parecia aceitar este encargo como fazendo parte de sua realidade
de vida.
Essa experiência significava a preparação para o trabalho doméstico não remunerado e
para as responsabilidades maternais. Para Griffiths (1989), elas já estavam aprendendo a
sacrificar seu próprio tempo e seus interesses em favor das necessidades dos outros.
Como herança de sua infância, tudo que a mulher faz está ligado a trabalho, se não
trabalha para seu sustento, e fica em casa, ela trabalha sua aparência, seu corpo e suas roupas.
Ficar em casa para lavar os cabelos significa trabalhar na própria aparência. Quando tem uma
casa para administrar, trabalha longas horas nesta atividade. Quando tem um relacionamento,
se dedicará muito mais a ele que seu parceiro, quando tem um filho, o trabalho de educá-lo é
sua obrigação. Se tiver um parente idoso ou doente, é sua obrigação cuidar dele.
A verdade é que há uma clara exigência em torno da mulher que ela deve estar
disponível para ajudar. E dentro do processo de ajuda, talvez o ato de cuidar seja o que tenha
maior peso. “O papel de cuidar foi atribuído às mulheres por tanto tempo que define, em
grande parte, o que é considerado comportamento feminino apropriado.” (ABRAMS, 2001, p.
143).
As mulheres superam os homens em atividades “de cuidar” e em trabalhos sociais
voluntários que ofereçam cuidados com o próximo, como cuidar de idosos, de adoentados, de
incapacitados e dos netos.
Ao longo da história foram as mulheres as responsáveis pelo cuidado e pela proteção
da sociedade. Vários motivos levaram as mulheres a exercer este tipo de trabalho, pressões
econômicas, exigências políticas ou por puro fanatismo ou vocação. Não que este tipo de
trabalho não remunerado não traga qualquer tipo de realização a quem o faz, mas a verdade é
que a mulher acabou não tendo um tempo livre de lazer para si. No caso da maioria das
mulheres, o tempo de lazer é uma extensão e não um intervalo da tarefa de cuidar que
desempenham o dia todo, todos os dias. “Na sociedade contemporânea, o papel de cuidar dos
outros que é atribuído às mulheres desde cedo determina, em grande parte, como elas usam o
seu tempo e direciona-as para certos tipos de trabalho e lazer.” (ABRAMS, 2001, p. 146).
Segundo Abrams (2001), a habilidade que as mulheres têm em abrir mãos de seus
próprios compromissos e interesses em funções das demandas dos outros é um pré-requisito
fundamental da função de cuidar, o que é bem verdade, se, se pensar que aquele que cuida
deve estar disponível para atender o outro na hora em que este o necessita.
Para explicar este comportamento na mulher, a autora volta à questão da educação e
das brincadeiras de meninos e de meninas. Segundo ela, desde cedo as meninas são
49
encorajadas a ter um padrão de consciência e resposta às insinuações externas, combinado à
repressão das internas. Nas brincadeiras, enquanto os meninos tendem a disputar jogos que
desenvolvem suas habilidades motoras e organizacionais e envolvem competitividade, as
meninas tendem a participar de jogos onde praticam a sensibilidade, consideração e empatia.
Aos três anos de idade, essas diferenças são percebidas com clareza, pois os meninos
brincam com jogos ativos e agressivos que incluem ações de bater e empurrar, enquanto as
meninas brincam de festinhas, lanches e chás, escovam os cabelos umas das outras, brincam
de boneca e vestem-se de chiques.
“Em qualquer sociedade, a definição da personalidade feminina tem mais base nas
outras pessoas do que a identidade masculina.” (CHODOROW, 1999 apud ABRAMS, 2001,
p. 146).
Responsabilidade
A questão de cuidar traz engajada em si o ato da responsabilidade. O hábito de assumir
responsabilidades é introduzido pouco a pouco na vida das mulheres desde antes de sua
adolescência. Segundo Abrams (2001), sem este sentido de responsabilidade, as mulheres
seriam provavelmente menos inclinadas a assumir as funções de agradar, ajudar e a cuidar que
adotaram para si. “da forma como as coisas acontecem, agradar, ajudar e cuidar são meios
socialmente aceitáveis de expressar esse hábito subjacente de responsabilidade.” (ABRAMS,
2001, p. 147).
A autora recorre à própria infância e se recorda que os seus professores faziam um
apelo para “meninas responsáveis” e “meninos grandes e fortes”. Assim recorda-se eram os
meninos que faziam a tarefa de mudar as mesas da sala de aula de lugar, enquanto as meninas
levavam bilhetes para a diretoria, com o cuidado de não amassar. Faz ainda um paralelo com
as atividades das bandeirantes, as quais recebiam distintivos de reconhecimentos se serviam
chá na cama para suas mães em uma manhã de domingo ou se passavam a ferro as toalhas. Os
escoteiros por sua vez, aprendiam o código Morse e faziam fogueiras no acampamento.
Para Abrams (2001) o tempo investido nas meninas para se criar o hábito de
responsabilidade não foi em vão. As meninas, embora realizassem tarefas leves na infância e
tivessem uma baixa carga de trabalho, foram treinadas para coisas maiores, como a
responsabilidade para com os filhos, os maridos, os pais idosos, os vizinhos. Na verdade antes
de assumirem tais responsabilidades, as meninas foram treinadas para ter um sentido de
50
responsabilidade, aprendendo a avaliar as necessidades dos outros, a ter o senso de valor
pessoal através da ajuda aos outros.
Em uma pesquisa coordenada pela psicóloga Carol Gilligan foram entrevistadas
meninas adolescentes na Escola Emma Willard nos Estados Unidos, no início da década de
1980, e a palavra “responsável’ foi apontada diversas vezes nessa pesquisa. Quando
entrevistadas por Janet Mendelsohn (1980) sobre o tipo de mulher que admiravam e que
gostariam de ser um dia, todas as trinta meninas entrevistadas incluíram “responsável” na sua
lista de atributos pessoais. Para essas meninas além da responsabilidade sobre si próprias,
anteviam uma responsabilidade futura conciliando sua família e trabalho. Esta pesquisa
concluiu que para aquelas meninas “tornar-se mulher era visto como um processo de ter
controle de suas necessidades e ao mesmo tempo procurar abranger as necessidades das outras
pessoas”. (ABRAMS, 2001, p. 148).
Interessante colocar que ser responsável tem um significado especial na vida das
mulheres. As meninas passam a se ver como mulher através da responsabilidade. Assim, elas
não vinculam a responsabilidade à repressão de suas próprias necessidades, mas à aquisição
de influência pessoal. A responsabilidade não era vista como uma carga, mas como o que
mantinha os aspectos agradáveis de uma união.
Para Bourdieu (1999), o papel da mulher dentro do contexto doméstico está voltado
em boa parte a criar uma integração da família e uma relação desta com seu entorno social.
Sustentar relações de parentesco e todo o capital social com a organização de toda
uma série de atividades sociais ordinárias, como as refeições que toda a família se
encontra, ou extraordinárias, como as festas e cerimônias destinadas a celebrar
ritualmente os laços de parentesco e a assegurar a manutenção das relações sociais e
da projeção social da família, ou as trocas de presentes, de visitas, de cartas ou de
cartões postais e telefonemas. (BOURDIEU, 1999, p. 116).
Esta análise de Bourdieu sobre o papel da mulher dentro das relações familiares sugere
que ela seja a responsável por manter as relações humanas no que se refere a cultivar laços de
parentesco, e manter a família em contato com o seu meio social. Assim, ao que tudo indica
mesmo quando restrita ao espaço doméstico, a mulher parece ter uma aptidão para cultivar
relacionamentos, e o faz não só promovendo eventos de socialização, trazendo pessoas para
dentro de seu espaço (lar), como mantendo elos de ligação com as pessoas através do uso
instrumentos de relação (telefonemas, correspondências, etc).
Abrams (2001) também abordou esta questão - do papel da mulher na construção de
relacionamentos sociais. Segundo a socióloga, as mulheres tendem dentro de seus
51
relacionamentos pessoais a tomar a si as responsabilidades dos que com ela convivem. Assim,
é natural que as necessidades de seus filhos, marido e pais acabem por tirar-lhe qualquer
tempo livre de diversão que poderia ter para si mesma. É a mulher que via de regra, assume a
tarefas de administrar o dia-a-dia das pessoas que ama. “... quem se lembra do aniversário de
casamento da mãe dele, do aniversário da irmã dele, da entrevista importante de trabalho do
amigo dele?” (ABRAMS, 2001, p. 152).
A socióloga faz ainda uma citação de um levantamento realizado pelo Conselho
Nacional de Mulheres da Grã-Bretanha em 1992, que constatou que 88% das mulheres
assumem a responsabilidade principal de manter contato com a família, os amigos e os
vizinhos.
Você sabe onde a carteira de dinheiro dele está, mesmo quando ele não sabe (e ele
confia no fato de você saber); você garante que a caixa de jogos de sua filha esteja
limpa na manhã de quarta-feira e que o gravador de seu filho esteja na mochila da
escola na sexta-feira. (ABRAMS, 2001, p. 150).
É ainda bastante comum, segundo Abrams (2001), em muitos segmentos da sociedade
a mulher ter de escrever os cartões de agradecimento, e até mesmo nos casais mais instruídos,
a mulher assume um papel de uma secretária social informal, sendo responsável por
desenvolver e alimentar as amizades e os relacionamentos.
Um depoimento de uma dona de casa americana em pleno século XXI ilustra
claramente a questão do papel assumido pela mulher em relação aos cuidados com relações
familiares e de amizades dentro da família..
Sou em quem lembra Adrian de telefonar para a sua mãe... Se as pessoas querem nos
visitar ou telefonam para convidar-nos a sair, Adrian simplesmente me passa o
telefone ou avisa que vou telefonar quando chegar em casa.... Honestamente, acho
que se eu não me encarregasse de marcar os encontros com os amigos e parentes,
nós nunca veríamos ninguém. (Emily, 41 anos apud ABRAMS, 2001, p. 153).
Além dessas responsabilidades, as mulheres também assumem a responsabilidade pelo
bem-estar de seus relacionamentos. Quando estão com suas amigas, as mulheres dispõem
desse tempo para discutir sobre os problemas de seus relacionamentos com seus parceiros e
filhos. Os homens por sua vez, quando em companhia de seus amigos, utilizam-se desse
tempo, com a mera finalidade de lazer, conversam sobre tudo, menos sobre seus problemas de
relacionamentos. Para os homens sua responsabilidade sobre o relacionamento está vinculada
ao que eles devem trazer para o relacionamento, e não ao que dedicam; ao que eles tiram e
não ao que eles dão.
52
As mulheres desde sua adolescência tendem a adequar seu tempo de lazer às
necessidades de seus parceiros e a de seus filhos, modificando suas preferências para que se
adequem às preferências deles. Assim, parece ficar muito claro que a idéia de serviço faz
parte da personalidade da mulher construída social e culturalmente e, se assim o é, o seu papel
dentro da hospitalidade comercial pode, de uma forma geral, ser desempenhado de forma
mais natural, uma vez que há fortes indícios, através das fontes estudadas, que o verdadeiro
espírito de serviço não possa ser treinado, por não se tratar de uma habilidade, mas sim de
uma atitude, de uma predisposição para agir de determinada forma, que é própria do feminino
o que faz com que nesse setor as mulheres tendam a ter boas condições de desempenho.
53
CAPÍTULO 4 – O PAPEL SOCIAL FEMININO
Se, por um lado, é evidente a mudança do papel social da mulher nos últimos
cinqüenta anos, com maior ênfase após a 2.a Guerra Mundial (1945), período que marca o
ingresso da mulher no mercado de trabalho de forma mais significativa, por outro lado, nunca
se poderá deixar de analisar a construção de seu papel social, sob o prisma da dominação
masculina e de séculos de história de submissão dentro de uma sociedade patriarcal, cenário
este que marcou de forma profunda seu papel social na família, bem como sua personalidade
executiva até os dias atuais.
Não se pode dizer que a educação das meninas e das jovens seja a mesma que a de 50
anos atrás dentro do núcleo familiar. Isto se explica, por um lado, pelo fato de que a própria
instituição família tenha sofrido mudanças nas últimas décadas e novos arranjos familiares
tenham surgido, arranjos estes que passam a exigir da mulher uma participação ativa dentro
do sistema de produção. Como conseqüência, há um aumento o número de mulheres que
ocupam os assentos das universidades, sendo que, hoje, a participação das mulheres nos
cursos de gestão se equipara à participação masculina.
Gráfico 1 e 2: Taxa de Participação das Mulheres nas IES (Instituições de Educação Superior)
Ano 2004.
Mulheres no Campus
e na Sociedade – Brasil 2004
Homens no Campus
e na Sociedade – Brasil 2004
Fonte: INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Informativo Ano 4,
n.127 – 13/Fev/2006, disponível em http://www.inep.gov.br/informativo127.htm, acesso em 17 mar. 2007.
54
O Censo da Educação Superior revela que o número de vagas ocupadas pelo sexo
feminino concentra 56,4% do total de matrículas nas IES brasileiras, e o Censo do IBGE
demonstra que as mulheres representam 51,3% da população nacional. Conclui-se que a taxa
de participação das mulheres na educação superior do Brasil é maior ainda do que na
população do país. Quanto aos homens, essa realidade se inverte, uma vez que o sexo
masculino representa 47,3% da população e 43,6% dos estudantes matriculados nas IES.
Gráfico 3 e 4: Estatística de concluintes por sexo no Censo de Educação Superior Ano 2004.
Percentual de Ingressantes e Concluintes
na Educação Superior, por sexo
Fonte: INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Informativo Ano 4,
n.127 – 13/Fev/2006, disponível em http://www.inep.gov.br/informativo127.htm
, acesso em 17 mar. 2007.
As mulheres são maioria no número de matrículas das IES brasileiras e essa realidade
é percebida comparando-se os números de ingressantes, mas, sobretudo, quando se verificam
as estatísticas de concluintes no Censo da Educação Superior. Do total de alunos que
concluem os cursos superiores, 62,6% são mulheres. Esse percentual é mais de sete pontos
maior do que o de alunas que ingressam nas IES (55,1%), e isso demonstra que os homens
têm rendimento inferior ao das mulheres ao longo de sua formação superior.
De acordo com o gráfico acima, nota-se que a mulher não é mais preparada apenas
para o casamento, mas também dentro de uma educação acadêmica voltada para o mercado de
trabalho. È o que escreve Christina Larroudé de Paula no ano de 1994 em sua tese de
mestrado em Administração, ‘Mulheres muito além do teto de vidro’:
55
Cada vez parece mais longínqua a época em que os bancos da faculdade eram
exclusivamente ocupados por homens e é cada vez mais freqüente a presença da
mulher no setor produtivo da economia em posições elevadas. Todas estas
transformações estão a indicar que a educação das meninas, embora ainda
diferenciada em relação à dos meninos, se aproxima cada vez mais de um roteiro
pragmático, que mais do que prepará-la exclusivamente para o casamento, tenta
aproximá-la das duras realidades da vida e equipá-la com alguns recursos básicos
para o enfrentamento da escassez. Evidente, não se trata de uma equiparação de
estilos na formação familiar da menina e do menino, mas de uma nova postura
menos ortodoxa que tenta preparar a mulher para a vida em sociedade e para a luta
pela subsistência, abandonando definitivamente o ideal de salvação pelo casamento.
(LARROUDÉ, 1994, p. 57).
Em pleno século XX, a educação familiar foi a grande responsável pela formação do
papel social da mulher na vida adulta. Embora este quadro tenha passado por um processo de
mudança, permaneceu o cenário de dominação masculina sobre a mulher, caracterizado pela
proteção paterna no seu primeiro lar e posteriormente passada ao marido, após contração de
matrimônio, que caracteriza o papel social da mulher, uma posição subalterna de ‘protegida’
pela figura masculina ao longo de sua existência. Ainda que a marca do século XXI seja a de
emancipação da mulher e de independência em relação ao homem, ao que tudo indica a
posição usufruída por séculos de história, de ‘protegida’, ainda parece imperar se não a nível
consciente, mas de forma inconsciente de forma geral nas mulheres dos tempos atuais, como
se quisessem sua independência e ao mesmo tempo tivessem a necessidade de seguirem sob a
proteção da figura masculina.
Grande parte dessa necessidade de proteção à mulher vem de sua educação na infância
Larroudé (1994) é uma das defensoras desse ponto de vista, e o fundamenta em Beauvoir
(1989), segundo a qual a influência familiar nos anos de infância da mulher é verdadeiramente
profunda e marca de forma definitiva sua trajetória profissional futura.
Com efeito, a menina, desde a mais tenra idade, é fortemente exposta a orientações
familiares que predefinem seu destino futuro como adulta. As histórias e lendas que
ela ouve embalando seu sono infantil reforçam a coragem e o heroísmo de
personagens masculinas, sempre às voltas na proteção de indefesas donzelas. São os
príncipes, cavaleiros e caçadores, sempre no encalço de malfeitores ou bruxas que
atacam princesas e avós desprotegidas. Os heróis são justiceiros e conseguem
realizar a vitória do bem sobre o mal. As mulheres cabe, exclusivamente, o papel de
receberem esta proteção. (LARROUDÉ, 1994, p.55).
Outra questão colocada por Larroudé (1994) em sua tese tem referência ao casamento.
Segundo ela ao contrair matrimônio, homem e mulher assumem papéis sociais distintos e
determinantes em suas vidas. Conforme os estudos das historiadoras Maluf e Mott (2004) que
se acha apresentado mais adiante neste capítulo, o casamento declara mais uma vez um
acordo de submissão da mulher em relação ao homem. O casamento confere ao homem o
56
poder, a responsabilidade e o status de provedor da sua família. “Para a mulher o significado
praticamente oposto: através da cerimônia, a subordinação ao pai era transferida ao marido.”
(LARROUDÉ, 1994, p.68).
Ainda que seja fato que o papel da mulher como filha e como esposa tenha mudado de
forma significativa na ultima metade de século para cá, marcado pelo ingresso das jovens no
mercado de trabalho, é fato que tanto no lar paterno, como na condição de esposa que possui
uma atividade remunerada além das responsabilidades do lar, é bastante comum mesmo em
pleno século XXI, a sustentação do lar paterno pelo pai e posteriormente pelo marido. Dessa
forma, ainda que a filha trabalhe fora em grande parte das famílias, e aqui se está referindo a
famílias de classe média e média alta, o pai segue sendo o principal provedor das despesas da
casa. Após contrair matrimônio, mesmo que trabalhe fora e divida as despesas da casa com o
cônjuge, fato bastante comum nos arranjos familiares atuais, ainda assim espera a mulher que
seu parceiro tenha um cargo superior ao seu e uma remuneração acima da sua, como se esse
fato trouxesse a ela a imagem de um parceiro protetor e responsável pela família. Fato que
comprova essa situação é o de que é geralmente a mulher que segue o homem, quando a
carreira deste exige mudança de cidade, sendo bastante raro que se dê o inverso. Ainda é hoje,
o trabalho do homem e sua carreira que está em primeiro lugar, a mulher casada parece ainda
defender seu trabalho à sombra do trabalho de seu companheiro.
O que se pode entender desse quadro é que, apesar das mudanças na educação familiar
e no papel social da mulher (no lar paterno, no casamento e na comunidade) ter sofrido fortes
mudanças nos últimos 50 anos, parece que tais mudanças não foram suficientes para criar uma
nova identidade da mulher, a ponto de mudar o seu papel, quer como filha, esposa ou
executiva.
Assim ao que tudo indica o papel social da mulher permanece bastante ligado à sua
formação no lar, e suas ocupações no mundo do trabalho parecem não passar ainda de uma
continuidade de suas tarefas e papéis domésticos, com as funções de acolher, cuidar, educar,
formar.
Lar: espaço feminino
Como explicado nos capítulos anteriores, desde a infância as mulheres são
incentivadas a praticar atividades domésticas quase como se tivessem para isso uma aptidão
natural. Isso é reforçado pelos brinquedos “ideológicos” que simulam situações que serão
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realidade na vida adulta como cuidar das bonecas, cozinhar, arrumar a louça. No futuro
assumirão naturalmente essas tarefas acreditando que existe uma tendência ou vocação natural
que a faz feminina.
Observa-se que ao longo do tempo as meninas desde cedo foram designadas a ajudar
suas mães nas tarefas domésticas, enquanto os meninos eram incentivados a ir brincar na rua.
Hoje, por medidas de segurança, os meninos são direcionados para brincar em seus quartos,
com vídeo games e computadores, o que justifica, em parte, seu aparente melhor domínio
sobre informática, do que as meninas.
As mães tendem a assumir as brincadeiras de suas filhas como óbvias, considerando-
as como treinamento vocacional. “Brincar de bonecas ajuda a ser boa mãe”; “brincar ajuda as
crianças no futuro, especialmente as meninas com a cozinha” (ABRAMS, 2001, p. 175). O
que se nota na diferença das brincadeiras de meninos e meninas, é que desde a idade dos
quatro anos, as brincadeiras das meninas contêm muito trabalho, fingido ou real, como
cozinhar, limpar e cuidar de criança; em contraste as atividades dos meninos contêm mais
elementos que podem ser realmente denominados de brincadeiras. Para Abrams (2001) como
conseqüência direta das brincadeiras que se realizam quando crianças, meninos e meninas,
acabam por desenvolver habilidades, inclusive mentais, e certos aspectos da personalidade
que os tornam diferentes uns dos outros. Nas meninas a brincadeira geralmente desenvolve a
autoconsciência social, a auto limitação, a cooperação, a obediência e a passividade.
A administração de um lar sempre foi tarefa feminina na nossa cultura. Embora hoje a
participação masculina nas tarefas domésticas tenha aumentado, devido à dupla jornada de
trabalho da mulher fora e dentro do lar, ainda assim, cabe à mulher a responsabilidade pela
administração desse espaço.
No dicionário Aurélio básico da língua portuguesa (1995, p. 229), “doméstico”
significa: “Adj. 1. Referente à casa, à vida da família; familiar. 2. Necessário ao
funcionamento de uma casa, à saúde ou ao conforto de seus moradores. 3. Diz-se do animal
que vive ou é criado em casa. SM 4. Empregado que executa o serviço doméstico;
empregado, criado”. “Doméstico” vem do verbo “domesticar” – “1. Tornar doméstico;
amansar, domar. 2. Civilizar, colonizar”.
A origem da palavra que descreve as responsabilidades das mulheres de séculos
atrás até os dias atuais, mostra que barreiras já foram rompidas, mas ainda há muito
por fazer para que as atividades de dominação, ou melhor, domésticas não sejam
apenas de responsabilidade feminina. (FUSIJAWA, 2006, p. 22).
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Estudar o papel social da mulher exige uma análise profunda do seu papel no âmbito
doméstico, não apenas da compreensão desse espaço, mas acima de tudo das relações sociais
geradas e administradas em seu interior. O vínculo da mulher ao espaço doméstico é tão forte,
que seu ingresso ao mundo do trabalho, e em especial ao setor da hospitalidade comercial,
parece ser uma transferência do cenário doméstico para o comercial, sem que se livre dos
encargos e das responsabilidades do primeiro, transfere para o segundo seu papel de
educadora, protetora e gerenciadora de pessoas.
E será a esta análise, da sociologia do trabalho doméstico que se dedicará esse
capítulo, pois se entende que a trajetória da mulher no mercado de trabalho deva ser entendida
a partir de sua história no ambiente doméstico, do lar.
O papel atribuído à mulher, desde os tempos imemoriais como se viu em capítulo
anterior, parece ter sido um só: servir ao próximo. Essa aparente vocação teria feito da mulher
o protótipo do não-líder. Esta condição não se alterou nem mesmo com o surgimento das
cidades e da vida urbana. A fêmea sempre teve a posição “passiva”, baseando-se na
simbologia que o esperma vinha do macho, portanto, a ele cabia a posição “ativa” na relação.
As mulheres educadas eram ridicularizadas como “... algo que você mostra aos curiosos, tão
inútil quanto um cavalo de carrossel”. (BRUYÉRE apud LOBOS, 2002, p. 50).
Segundo Beauvoir (2002, p. 62):
... na Antiguidade, Aristóteles dizia que “a mulher é mulher em virtude da falta de
certas qualidades”. Alguns séculos depois, Montaigne afirmou que não sem razão as
mulheres recusam as regras que são introduzidas no mundo, sobretudo porque os
homens as fizeram sem consultá-las.
Assim, a história social da mulher é uma história de submissão ao homem, “e as
atividades domésticas atribuídas a ela sempre serviram como instrumento de repressão e
dominação”. (FUJISAWA, 2006, p. 24).
O trabalho doméstico, entretanto, não pode ser analisado apenas como uma carga para
a mulher, pois é preciso considerar a riqueza das relações sociais nele envolvidas para que se
entenda o papel social que a mulher vem ocupando nos últimos tempos. Foi justamente
mediante essa atuação no contexto doméstico que a mulher desenvolveu habilidades e
características que hoje a qualificam para atuar de uma forma diferenciada no contexto social
e empresarial. E será esta análise que será feita dentro deste e dos próximos capítulos desta
dissertação.
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Se, por um lado, a história social da mulher foi marcada por sua submissão em relação
ao homem, o que acabou por restringi-la ao espaço doméstico, é bastante provável que tenha
sido essa mesma condição que a habilitou para as atividades da hospitalidade comercial, e
mais, deu a ela não apenas a habilitação para o “saber fazer” mas acima de tudo, a formou
para administrar as relações humanas, ensinando-a a “saber ser” uma protagonista “ideal”
para atuar neste cenário.
A mulher teria, em nossa cultura, o nobre e insubstituível papel de educação e
formação do caráter de seus filhos. Ao homem, a sociedade paternalista desde há muito
tempo, atribuiu o papel de prover o sustento da esposa e da prole, proporcionando-lhes os
meios materiais necessários e suficientes ao seu desenvolvimento e bem-estar físico e
material. Ainda que este provento seja, hoje em dia, dividido, na maioria das famílias entre o
homem e a mulher em nossa cultura, continua ainda ser nos dias de hoje, responsabilidade
atribuída ao homem o sustento da família, portanto, o papel de provedor. Dessa forma,
entende a sociedade que o homem não tem tempo para cuidar da administração do lar e da
educação dos filhos, tarefas estas, portanto, de responsabilidade e de competência da mulher.
Toda a vida da sociedade familiar depende da sua energia, da sua inteligência, da sua
dedicação. Na residência em que falta uma dona-de-casa, ou quando a esta faltam as
qualidades necessárias à administração do lar e à educação dos filhos, o ritmo da vida familiar
fica comprometido e faltam à residência as condições essenciais para se constituir um lar.
Para Isabel Serrano, autora do livro sobre Economia Doméstica, na década de 60, o papel
social da mulher, visto do ponto de vista da Igreja Católica, era bastante claro: “Companheira
e amiga do homem, esposa, mãe, irmã, é a mulher o anjo tutelar da família.” (Serrano, 1961,
p. 43).
É a mulher, mãe de família e dona de casa, que na aparente modéstia de suas tarefas,
cuidando da administração do lar, que com seu tato e delicadeza, características
estas peculiarmente femininas, tem a seu cargo a formação básica do caráter de seus
filhos, moldando-os, corrigindo-lhes, plantando as sementes das virtudes, que mais
tarde farão germinar um precioso fruto: “o homem justo, bom, trabalhador e
honesto, cumpridor de seus deveres, um verdadeiro homem de bem”. (SERRANO,
961, p. 21).
Ainda, quando no lar paterno, no seu papel de filha, irmã, ela já contribui para a
sociedade doméstica, executando tarefas a ela destinadas, estudando, mantendo em ordem
seus pertences e auxiliando sua mãe nos cuidados da casa. “Filha, irmã, esposa, mãe, primeira
mestra de seus filhos, administradora dos bens da família, enfermeira, amiga, fiel e dedicada
60
companheira do homem, este é o verdadeiro e original papel da mulher.” (Serrano, 1961, p.
44).
Analisar a situação da mulher no mundo ocidental, em particular no Brasil, de meados
do século passado para cá, deixa de forma clara e evidente a centralidade que o lar ocupava na
vida da mulher, como também sua posição de dependência em relação ao homem.
Interessante também notar que a vida social e a forma com que as mulheres entraram no
mercado de trabalho se explicam através e a partir de suas condições dentro do ambiente
doméstico, ou seja, não se pode analisar um cenário em separado, sem que um esteja
interceptado no outro. Na verdade o trabalho na vida da mulher é uma extensão de sua vida no
ambiente doméstico, tanto ao nível de espaço, em alguns casos, como ao nível de relações
sociais, de uma forma geral.
Uma grande contribuição é um estudo sobre a vida privada no Brasil no decorrer do
século passado, das historiadoras Marina Maluf e Maria Lucia Mott (1998), intitulado
“Recônditos Femininos”, no qual reproduzem com detalhes a situação da mulher brasileira de
classe média neste período, em termos de vida privada e limitações da vida social. As autoras
relatam que quando a mulher se uniu ao homem, pelos laços do matrimônio, o casal se
submeteu a um acordo definido pela sociedade, pela Igreja e pelo Estado, de que ao homem
cabia o papel de provedor do lar, enquanto a mulher deveria retribuir este “sustento” com seu
trabalho dentro do ambiente doméstico. A mulher não podia trabalhar fora, sendo que isto
somente poderia vir a ocorrer mediante a prévia autorização por escrito de seu cônjuge, de
acordo com o Código Civil vigente no início do século passado. Ainda assim, ela só poderia
trabalhar se seu trabalho fosse necessário para o complemento da renda familiar e nunca por
vontade própria ou realização pessoal.
Como esta divisão de papéis fazia parte das regras sociais da época, para o homem era
humilhante o fato de sua esposa ter de trabalhar fora de casa para ajudá-lo nas despesas do lar,
uma vez que deveria ser este o seu papel. Isto explica porque muitos dos trabalhos realizados
pelas mulheres começaram ser desenvolvidos de forma camuflada dentro de seus lares, e por
esta razão eram trabalhos ligados às tarefas domésticas como o de lavar, passar e costurar para
fora. Já os trabalhos fora do lar, bastante escassos na época, estavam ligados a profissões de
professora, telefonista e enfermeira. Como se pode notar, existia uma forte identificação das
primeiras profissões e atuações profissionais da mulher com as tarefas do lar: enfermeira,
cozinheira, lavadeira, e outras atividades correlatas, mas também de cuidados com o próximo,
como secretária, costureira e professora.
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O que se verifica é que o trabalho da mulher se desenvolveu a partir e dentro do
ambiente doméstico, e isto pode se notar tanto aqui na cultura brasileira, como poderá ser
encontrado o mesmo cenário social na Europa, como mostram estudos na área de
hospitalidade, apresentados por Lashley e Morrison (2000) onde o papel social da mulher na
cultura européia é bastante similar ao que ocorre no cenário brasileiro.
Autores que na Europa estudaram a questão dos lares e do gênero, como forma de
origem das primeiras atividades e suposta origem da indústria da hospitalidade, fazem
importantes colocações sobre o papel social da mulher naquela cultura: “Sem querer reforçar
as diferenças de gênero, parece que os provedores de hospitalidade comercializada dentro de
um lar privado são predominantemente femininos”. (LYNCH, 1996 apud LASHLEY, 2004,
p. 154).
Segundo a antropóloga e socióloga Whatmore (1991), este fato tem duas explicações,
de um lado estrutural que está relacionada à posição que as mulheres ocupam no mercado de
trabalho, e a outra explicação está relacionada às relações patriarcais estabelecidas dentro do
lar.
Outra pesquisadora sobre as questões do gênero foi Oakley que, em 1980, contribui
para o estudo do papel da mulher dentro do lar, estudando o papel da dona-de-casa e do
trabalho relativo às prendas domésticas.
Um trabalho tradicionalmente feminino que surge dentro dos lares na Inglaterra e que
está diretamente ligado à hospitalidade foi o bed&breakfast. Este trabalho foi uma forma de
condensar o ambiente feminino e doméstico, isto é, o trabalho não remunerado de uma dona
de casa tradicional.
O trabalho do bed&breakfast aponta uma questão bastante importante: da existência
de uma relação de hospitalidade dentro desta atividade comercial, uma vez, que além de
envolver tarefas de compras, preparo e fornecimento de alimentos, limpeza e arrumação de
quartos e da casa para proporcionar uma atmosfera limpa e asseada para o hóspede, este
trabalho proporcionava uma criação de um “lar”, dentro de uma atmosfera ordenada,
acolhedora e segura.“Enquanto estão na casa, os hóspedes talvez possam ser vistos como
parte de uma grande família, com o provedor-chave (a mulher, dona da casa), sendo
considerado quase uma figura materna.” (LYNCH apud LASHLEY, 2004, p. 156).
Faz-se necessário também entender as motivações que levaram a mulher a abrir seu
lar, fazendo dele o cenário de sua atividade. Se por um lado existiram razões financeiras
(pouco investimento), estruturais (ter disponíveis os instrumentos de trabalho) e de logística
(não necessitar se deslocar para trabalhar, podendo estar perto da educação de seus filhos),
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não pode ser deixada de lado uma motivação que parece ter sido a principal, que foi a busca
da socialização. Pelo fato de viver ‘isolada’ dentro de sua casa, e pela necessidade de criar
vínculos, parece ter encontrado a mulher, neste tipo de atividade, uma forma de unir o
“necessário ao agradável” suprindo a sua necessidade de convívio social, de troca e de contato
humano. É bastante interessante esta análise, uma vez que ela vai de encontro à personalidade
da mulher e da razão que a leva a exercer, de uma forma geral, qualquer tipo de atividade, que
é justamente a busca da criação de vínculos. E provavelmente o que levou a mulher a entrar
para a hospitalidade comercial, no exemplo do bed&breakfast, ao que tudo indica, foi
exatamente a busca destes vínculos.
O que sugerem tais estudos é que há fortes indícios de que a mulher esteve presente
em cenários que deram início à hospitalidade comercial, e que deram a essa um caráter social,
pelo fato de terem ido buscar esse tipo de trabalho como uma forma de socializar-se. Assim,
teria sido a própria condição da mulher restrita a seu espaço, que lhe proporcionou o ingresso
para uma atividade de socialização e, sobretudo, na qual suas qualidades e perfil, acolhedor,
educador, vieram a contribuir para o diferencial e sucesso de seu trabalho.
Aqui no Brasil, é possível ver o desenvolvimento das atividades ligadas à indústria da
hospitalidade, pelas mulheres, em dois níveis sociais, sendo que em ambos os casos, tais
atividades também tiveram início dentro do espaço doméstico.
Foi nas camadas mais pobres da população, que surgiu, na primeira metade do século
passado, o trabalho de lavadeira e passadeira, realizado pelas mulheres que residiam em
cortiços e que em grupos iam aos chafarizes da cidade ou aos córregos. Faziam este trabalho
para as freguesas mais ricas da cidade. Era um trabalho que podiam fazer dentro de seu
espaço doméstico, sem pôr em prejuízo suas responsabilidades de mãe junto aos seus filhos.
(Maluf e Mott, 2004).
No Brasil, os serviços de costura começaram a ser feitos por mulheres de classe média
e por outras razões: como à mulher competia a administração doméstica do lar, o que incluía o
controle das despesas da família, ela não deveria ficar pedindo dinheiro ao marido com
freqüência, ou gastar além daquilo que ele lhe dava, sendo muitas vezes tida como
“perdulária”, se assim agisse. Como a ordem de sua administração era a economia, ela devia
consertar roupas e fazer roupas pra a família para não ter que gastar nas compras deste item.
Este fato tinha tanta importância, que as mulheres que sabiam costurar eram tidas como as
verdadeiras “rainhas do lar”, enquanto aquelas que não sabiam o ofício eram consideradas
uma “verdadeira lástima”. Assim as mulheres começaram a fazer trabalhos manuais de
consertos, costuras, depois trabalhos de bordado e de crochê. Este trabalho veio trazer
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realização para a mulher, não só pela renda extra que podia obter por conta própria, sem
depender do marido, bem como porque a punha em contato com vizinhas, ampliando seu
círculo de amizades e sua socialização, o que a tirava, de certa forma, da rotina do pesado
trabalho doméstico. Mais uma vez vê-se aqui a necessidade de socialização satisfeita através
do trabalho. (Maluf e Mott, 2004).
Interessante notar que o trabalho da mulher fora do lar, veio alertar a sociedade da
época, no sentido de que a mulher poderia fazer trabalhos manuais, porém desde que estes não
prejudicassem suas obrigações domésticas. A mulher jamais poderia colocar sua realização
pessoal em um trabalho que lhe desse prazer acima das tarefas que deveria realizar em prol do
bem estar de sua família. A mulher que assim agisse era considerada desvirtuada e egoísta.
Por sua vez o trabalho de telefonista, outra função ocupada pela mulher, e até hoje
uma profissão feminina, também tem uma conotação cultural bastante curiosa. Muitos
acreditavam que pelo fato da mulher ter fama de tagarela e bisbilhoteira ela tenha se
identificado com a função e dominado uma “invenção do homem”: o telefone. Outras
correntes já explicam, que a mulher foi ocupar tal posição nas fábricas e pequenas empresas,
pelo fato do espaço da telefonista sempre ser fechado e, portanto, isto a preservaria dos
olhares de estranhos e do assédio de outros homens, o que parece culturalmente fazer mais
sentido. (MALUF, MOTT, 2004).
Assim, sempre coube à mulher, ainda que trabalhasse fora, a responsabilidade do lar.
Conforme os manuais de “Boa Esposa” publicados nas revistas femininas ao longo da
primeira metade do século passado, a mulher jamais deveria importunar seu marido com os
problemas da casa e ainda menos solicitar sua ajuda nos afazeres domésticos. O marido
jamais deveria ser importunado com problemas domésticos, o lar para ele era um local de
refúgio, onde podia encontrar tranqüilidade e paz, longe dos problemas de seu trabalho, e à
boa esposa cabia lhe acolher e o fazer relaxar e esquecer de seus problemas. Para isso ela
deveria recebê-lo sempre arrumada e com muito bom-humor. A mulher que assim não se
portasse, não estaria cumprindo o seu papel dentro do contrato do matrimônio, sendo taxada
de egoísta e pondo em risco sua relação.
No ano de 1924, foi publicado na Revista Feminina, o “Decálogo da Boa Esposa”, no
qual se pode notar claramente a dominação da mulher pelo homem, dentro da relação
conjugal, a qual era construída dentro de imposições às atitudes e comportamentos dos
homens e das mulheres. A mulher casada devia ser educada de acordo ao seguinte decálogo:
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I- Ama teu esposo acima de tudo na terra e ama o teu próximo da melhor forma que
puderes; mas lembra-te de que a tua casa é de teu esposo e não do teu próximo;
II- Trata teu esposo como um precioso amigo; como a um hóspede de grande
consideração e não como uma amiga a quem te contam as pequenas contrariedades da
vida;
III- Espera teu esposo com teu lar sempre em ordem e o semblante risonho; mas não te
aflijas excessivamente se alguma vez ele não reparar nisso;
IV- Não lhe peças o supérfluo para o seu lar; pede-lhe sim, caso possas, uma casa alegre e
um pouco de espaço tranqüilo para as crianças;
V- Que teus filhos sejam sempre bem-arranjados e limpos; que ele ao vê-los assim possa
sorrir quando se lembre dos seus, em estando ausente;
VI- Lembra-te sempre que te casaste para partilhar com teu esposo as alegrias e as
tristezas da existência. Quando todos o abandonarem fica tu a seu lado e diz-lhe: Aqui
me tens! Sou sempre a mesma;
VII- Se teu esposo possuir a ventura de ter sua mãe viva, seja boa para com ela pensando
em todas as noites de aflição que terá passado para protegê-lo na infância, formando o
coração que um dia havia de ser seu;
VIII- Não peças à vida o que ela nunca deu para ninguém. Pensa antes que se fores útil
poderás ser feliz;
IX- Quando as mágoas chegarem não te acovardes: luta! Luta e espera na certeza de que
os dias de sol virão;
X- Se teu esposo se afastar de ti, espera-o. Se tarda em voltar, espera-o; ainda mesmo que
te abandone, espera-o! Porque tu não és somente a tua esposa; és ainda a honra do seu
nome. E quando um dia ele voltar, há de abençoar-te.
(Revista Feminina, 1924, MALUF e MOTT In: NOVAIS, 2004, p. 395).
Dessa forma, cobrava-se da mulher que antes de qualquer tipo de trabalho profissional
que viesse a realizar, ela deveria ser uma boa dona-de-casa.
A mulher que estuda parece abdicar dos deveres domésticos... toma uma posição
falsa de desconfiança para a sociedade, que geralmente a julga inapta para exercer o
elevado sacerdócio do lar... ser boa dona-de-casa deve ser uma qualidade intrínseca
da “alma feminina “não importando se de uma doutora ou de uma engomadeira...
(Revista Feminina, dez.1921, MALUF e MOTT, 2004, In: NOVAIS, 2004, p. 403).
Mesmo restrita ao espaço do lar, esperava-se que as mulheres dominassem diferentes
assuntos, entre eles, higiene, ciências naturais, química, artes, geografia, indústrias, etc, a
mulher devia ser uma mestra e ter uma vasta gama de conhecimentos para saber responder a
todas indagações de seus filhos.
Para que a mulher pudesse simultaneamente administrar esta gama de conhecimentos e
realizar as tarefas do lar, era preciso desenvolver um método para realização de seu trabalho,
uma “administração científica” do lar, racionalizando seu tempo, empregando recursos de
forma racional, evitando atropelos, e o “mau-humor” que não fazia parte da imagem
idealizada da dona de casa.
A mulher, ainda a das melhores qualidades, mas cuja casa não seja bem dirigida, que
não saiba distribuir o trabalho pelos outros, que ignore a ciência da divisão das
horas, essa mulher de coração excelente há de ter momentos de impaciência que em
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seguida lamentará amargamente, mas que nem por isso deixará de trazer a
perturbação e o incômodo ao interior da família. (MALUF e MOTT In: NOVAIS,
2004, p. 406).
A mentalidade da época era de que para a dona de casa ser agradável aos seus
familiares e para que fosse bem servida pelos empregados, ela deveria ter um gênio
controlado e constante, e que tal serenidade de espírito só poderia ser obtida em uma casa bem
organizada, onde tudo pudesse ser previsto com antecedência, quer fosse uma dona de casa de
classe social elevada ou humilde.
Segundo os pesquisadores Madigan e Munro (1991), o “lar” visto como “construção
social” nas culturas ocidentais reporta a idéias de segurança, afeição e de bem-estar. Para eles
homens e mulheres não só percebem a moradia de forma diferente, como esta tem uma
centralidade maior na vida das mulheres, e isto se explica em grande parte por seu papel
doméstico.
Para Rybczynski (1988 apud LASHLEY, 2004 p. 154) existem diferenças claras
quanto à idéia de lar para dos gêneros.
... enquanto a idéia masculina a esse respeito é basicamente sedentária, isto é, de um
lugar de refúgio das inquietações do mundo, um local para se estar em paz, a idéia
feminina é dinâmica, referindo-se ao bem-estar, mas também ao trabalho; assim,
com o passar do tempo, o foco muda da sala de visitas para a cozinha.
Hoje em dia é fato que a tecnologia aliviou em muito o peso das tarefas domésticas,
hoje existem máquinas para quase tudo. Fogões elétricos, microondas, aspiradores de pó,
máquina de lavar e ferro a vapor. O trabalho da mulher se tornou mais leve com a ajuda dessa
tecnologia, mas, o tempo das tarefas domésticas não se reduziu, e ainda hoje é ela quem
administra a casa, cuida e educa seus filhos, recebe seu marido em um ambiente arrumado,
limpo e organizado. A tecnologia dos utensílios domésticos é sem dúvida uma grande aliada
da mulher moderna, mas ainda não inventaram a máquina que faz acolher, que faz cuidar, e
este é o verdadeiro papel que a mulher desempenha na sociedade. Administrar um lar é muito
mais que limpar, lavar, passar e cozinhar. Administrar um lar requer acima de tudo cuidados
com pessoas, e a partir daí a prática de ações hospitaleiras. Eximir a mulher desta função seria
o fim da civilização tal como a conhecemos.
O trabalho no lar: aprendizado de uma profissão e formação em hospitalidade
Administrar uma casa exige conhecimento de técnicas para realizar tarefas e
treinamento e habilidades para manusear equipamentos e fazer uso de tecnologia. Além disso,
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é preciso saber administrar relações sociais, cuidar de pessoas e, portanto, saber lidar com
fatores emocionais, estados de ânimo e motivações de terceiros. Ao que parece esse dom não
foi fruto de treinamento, e sim, de uma educação recebida pelas mulheres, em nossa cultura,
por seguidas gerações. Assim se poderia dizer que se o paternalismo confinou a mulher ao lar,
e a fez acreditar por séculos, que era inferior ao homem, foi graças a esse paternalismo que a
mulher teve a oportunidade de aprender, no espaço restrito de seu lar, a criar e manter
relações sociais, a cuidar do próximo e a se dedicar às causas alheias.
Por gerações seguidas, a empresa que a mulher administrou foi sua casa, e seus
colaboradores e clientes foram seus familiares e parentes. Isto proporcionou à mulher uma
personalidade executiva voltada à administração de relações e emoções, que nenhuma escola
de administração poderia formar. As mulheres são dotadas do ‘dom de gentes’, e de atitude de
serviço, ingredientes esses que vão ao encontro à proposta de alguns estudiosos da área da
hospitalidade. Wood (1994) sugere que é importante se entender o lar para se entender a
hospitalidade comercial, devido à apropriação do primeiro pelo último. Segundo o autor, se
fizermos uma análise histórica, poderemos verificar que “os hotéis, enquanto instituições
sociais acompanharam intimamente em seu desenvolvimento, os valores centrados no lar”
(WOOD, 1974, p. 78). Nota-se que Wood (1974) se refere às relações sociais e importação de
valores, portanto, não meramente à reprodução de tarefas.
Segundo Darke (1994) e Gurney (1997), a identidade feminina é muito mais ligada à
casa do que a masculina, portanto, os padrões que regem a administração doméstica, se
alicerçam no modelo das relações sociais patriarcais. Isso leva a construção de uma relação
entre o papel feminino dentro das famílias, e o papel das anfitriãs. Assim, afirmam as autoras
que “a hospitalidade no setor comercial presta os serviços de uma mãe ou esposa substituta”.
(DARKE e GURNEY apud LASHLEY, 2004, p. 120).
Carreira na hospitalidade comercial: vocação?
Antes de se analisar os papéis e comportamentos, dos protagonistas do ‘evento
hospitalidade’, cabe aqui um parênteses, para algumas definições dos termos que estarão
sendo analisados, a fim de se entender as relações que ocorrem dentro desse contexto e que
serão a seguir apresentadas.
Segundo o mestre em Hospitalidade Gidra (2004 IN DENCKER, 2004, p.122), para
se definir hospitalidade faz-se necessário obedecer a três requisitos fundamentais:
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“Reconhecer e estudar a hospitalidade como um fenômeno psicossociocultural;
reconhecer sua complexidade como fenômeno humano; reconhecer a necessidade de
estudar a hospitalidade com base em enfoques teóricos holísticos da sociedade e em
uma visão interdisciplinar... pela psicologia social, sociologia e antropologia, entre
outras ciências.”
A definição de hospitaleiro, dada pelo Oxford English Dictionary (1970, p. 405) traz
em si ingredientes de relações sociais, indicando que para ser hospitaleiro deve haver uma
motivação da pessoa para “querer ser”:
... oferecer ou proporcionar recepção e acolhida a estranhos (...)
pessoas (...) objetos, sentimentos, qualidades etc (...) dispostos a
receber ou recepcionar cordialmente; abertos e generosos de mente
ou disposição (...). Conseqüentemente, uma “hospitalidade”, uma
qualidade ou caráter hospitaleiro.
Como se vê, a definição acima menciona “o caráter hospitaleiro”, e a palavra caráter é
assim definida pelo Dicionário Aurélio (1994/1995, p. 128):
(...) Qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa (...) o conjunto
dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um
grupo; índole, temperamento. (...) o conjunto das qualidades (boas ou
más) de um indivíduo. (...) gênio, humor, temperamento.
Para a doutora em Ciências da Comunicação e mestre na Área de Meios de
Hospedagem, Dias (2000), a noção de hospitalidade carrega sentidos diversos, como o ato de
acolher, hospedar, a qualidade do hospitaleiro; boa acolhida; recepção; acrescentado de um
tratamento afável, e uma atitude cortês, amável e de gentileza por parte de quem recebe
(anfitrião).
A proposta de Cassee e Reuland (1983), para definir a hospitalidade, mais uma vez
apresenta elementos de comportamento do anfitrião, sendo que assim define hospitalidade:
“uma mistura harmoniosa de comida, bebida e/ou abrigo, um ambiente físico, bem como o
comportamento e atitude das pessoas envolvidas”. (REULAND, 1983, apud GIDRA; DIAS,
2004 IN DENCKER, 2004, p.126).
Avena (2002) define as relações pessoais embutidas nas relações de hospitalidade.
Para ele, dentro da hospitalidade comercial, “o gestor ‘hospitaleiro’ é aquele que pensa que,
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além dos laços comerciais, existem entre ele e seu cliente laços quase familiares” (AVENA,
2002, apud GIDRA; DIAS, 2004, p.127). Segundo o autor:
“uma das expectativas mais fortes da clientela dos hotéis se traduz em um desejo de
pertença, sendo que o hotel se configura como um lar temporário. O viajante deseja
ser reconhecido e respeitado como ser humano e, sobretudo, quer ser desejado, bem-
vindo. O cliente espera que o acolhedor, aquele que o hospeda, faça tudo para
protegê-lo... e ele tem a necessidade que se ocupem dele, como uma mãe se ocupa
de uma criança.” (AVENA, 2002 apud GIDRA; DIAS, 2004, p. 127).
Quando se passa a estudar a hospitalidade comercial, com origem a partir da
hospitalidade doméstica, se notará não apenas que a segunda tem muitos elementos da
primeira, bem como que os hospedeiros comerciais, podem possuir o que se chama de virtude
da “hospitalidade” (TELFER, 2004).
Telfer (2004) faz uma distinção entre ser um bom anfitrião, ao que ela chama de ser
hospedeiro e ser uma pessoa hospitaleira. Para ela, para ser um bom anfitrião se requer
habilidades e empenho, mas receber bem e agradar seus hóspedes, não significa
necessariamente ser hospitaleiro. As pessoas hospitaleiras, por sua vez, são atenciosas, mas
não necessariamente hábeis, portanto, podem não ser bons hospedeiros ou bons anfitriões. Isto
porque, segundo a autora, para que um hospedeiro se comporte com hospitalidade, ou seja, se
torne hospitaleiro, ele deve ter um motivo apropriado para estar exercendo esse papel.
Ao que parece, ser hospitaleiro está ligado a questões “de ser”, enquanto ser bom
anfitrião, ou ser bom hospedeiro está ligado à questão do saber receber, portanto, do “saber
fazer”. Assim os motivos que levam uma pessoa a ser anfitriã ou gestor da hospitalidade
comercial, podem estar relacionados a motivações financeiras, e seu trabalho, para isso, pode
estar restrito a prestar um serviço de qualidade, que atenda e satisfaça seu hóspede dentro
daquilo que este pagou por esse serviço; contudo, os motivos que levam uma pessoa a ser
hospitaleira, parecem ir além das motivações financeiras que, segundo Telfer (2004),
pertencem a um grupo de motivos que envolvem: consideração pelo outro, incluindo desejo
de agradar a terceiros, a preocupação ou a compaixão, e até a obediência ao que se
consideram deveres da hospitalidade, como o dever de ser hospitaleiro, acolher ou ajudar a
quem está em dificuldade, o desejo de ter companhias ou fazer amizades, e por fim, o desejo
pelos prazeres da hospitalidade. Dessa forma, se poderia entender, que os motivos que levam
alguém a ser hospitaleiro pertencem à esfera do “saber ser”, sendo uma qualidade da vontade.
69
A análise de Telfer (2004) sobre os motivos que levam alguém a ser hospitaleiro é que
se trata de uma questão de “querer ser”, portanto, não depende de treinamento, mas sim da
personalidade da pessoa, de sua vontade e motivação para se hospitaleira. Aqui entra uma
distinção entre qualificações do “saber fazer” e do “saber ser”, enquanto as primeiras fazem o
perfil do bom hospedeiro, e podem ser obtidas através de cursos de formação e treinamento,
as segundas já são frutos decorrentes da educação recebida.
Com isso, conclui Telfer (2004), o que leva uma pessoa a entrar para a área da
hospitalidade, pode não ser apenas um acaso ou escolha de uma profissão qualquer, visando
trabalho, dinheiro e posição. Segundo ela, é bastante provável que o que leva uma pessoa a
fazer a escolha profissional pela área da hospitalidade, são os mesmos motivos que levam o
hospedeiro privado a ser hospitaleiro: “gostar de deixar as pessoas felizes acolhendo-as”
(TELFER, 2004 IN LASHLEY, 2004, p.63). Dessa forma, se além de desempenhar suas
tarefas de forma eficiente e correta, por dever, e por querer preservar seu emprego, ou
ascender na área, a pessoa procurar desempenhá-lo bem, indo além do que o trabalho requer
(o que está na descrição de seu cargo, ou no contrato que faz com o hóspede), e o fará dessa
forma pelo desejo de agradar o hóspede ou por ter uma noção de valores de hospitalidade por
ele (hóspede) almejado, esta pessoa estaria apresentando um comportamento, que ela
denominou, de hospitaleiro.
Na pesquisa de campo realizada junto às executivas do setor de hospitalidade, foi
colocada a seguinte questão: “Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu
por uma questão de oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação?”, algumas respostas
mostram de forma evidente a questão da vocação, como se coloca a seguir
1
:
“Acredito ter ocorrido por uma questão de vocação. Já trabalhei com outras atividades
anteriormente. Todas sempre foram ligadas a pessoas, ao servir, e isso me satisfaz muito.
Às vezes me surpreendo em alguma situação fora do trabalho em que estou tentando
ajudar alguém. Me dá prazer fazer alguém conseguir algo que deseja ou necessita e eu
saber que fiz parte disso. Gosto de ser lembrada com carinho.” (Depoimento de Leandra
G.Antão, gerente geral, 22/Jan/ 2007).
“No mercado no qual atuo, a principal matéria-prima é a capacidade de relacionar-se, já
que a infra-estrutura é similar. Um empreendimento se diferencia pelo atendimento de uma
equipe focada no hóspede e sua satisfação. Desta forma, acredito que meu crescimento se
deu por questão de vocação. Minha preocupação com a satisfação do cliente e
colaboradores da empresa, não se dá apenas pelo cargo e função, mas também por minha
personalidade”. (Depoimento de Maisa Duque, gerente de serviços, 21/Jan/2007).
1
Os depoimentos serão destacados com o recurso itálico, para diferenciar das citações.
70
“Minha carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de vocação. Na época
de prestar vestibular (por volta do 2.o colegial) comecei a ler a respeito das profissões e
me identifiquei muito com a hotelaria por diversos motivos: por ser algo dinâmico, sem
rotina, por lidar com pessoas diferentes, de culturas e costumes diferentes, por ter
oportunidade de servir as pessoas (no sentido de ajudar, satisfazer) e ao mesmo tempo
(lógico que depois que adquiri muita experiência na linha de frente) por trabalhar o lado
administrativo (seja de processos, seja de pessoas).” (Depoimento de Regina Carrijo,
gerente geral, 22/ Jan/ 2007).
A questão em torno da hospitalidade comercial é discutida no âmbito de que se pode
dar, ou melhor, existir o espírito da hospitalidade, dentro de um espaço regido pela troca
monetária, isto quer dizer: será que pode se dar a hospitalidade como verdadeira intenção de
acolhimento, proteção e intenção de fazer o outro feliz, ou será que a verdadeira intenção é o
lucro do estabelecimento, no caso do gestor, ou o salário, no caso do colaborador? Talvez
aqui, haja algo indicando que a mulher, dentro de sua formação, papel e condição social,
através de sua educação e dos papéis desempenhados no âmbito doméstico e social possa vir a
representar o papel da pessoa hospitaleira, atuando na área da hospitalidade comercial,
imbuída de um genuíno espírito de hospitalidade, com a real intenção e desejo de ajudar e
acolher o próximo.
Austin (2001) aborda essa questão do gênero, dentro da área médica, especificamente
da psicologia. “De vez em quando, algum outro paciente me pergunta: Mas como você pode
se importar? Afinal de contas, você é designada para ser minha médica. Você não me
atenderia se eu não lhe pagasse”. (AUSTIN, 2001, p.38).
Segundo a autora, muitos dos relacionamentos que estabelecemos nos são “impostos”
e não escolhidos como pais e filhos que são impostos uns aos outros. Faz menção ainda à
existência de muitos relacionamentos em que ocorre uma prestação de serviço ou pagamento
em dinheiro, citando o exemplo do ensino, da mesma forma que se dá na hospitalidade
comercial, aqui estudada. Porém, alega que, mesmo nesses relacionamentos compulsórios,
podem se desenvolver fortes sentimentos de afeição e lealdade, ainda que haja a existência da
troca financeira pelo serviço e que o cultivo desses sentimentos podem enriquecer a vida de
quem presta tais serviços.
Na vida profissional, o amor pode se expressar de uma forma muito saudável, ao
mesmo tempo que disciplinada e bem estruturada. A profissional demonstra seu
amor quando não ultrapassa os limites da privacidade alheia ou não sobrecarrega
outros com seus próprios problemas, o respeito a esses limites é que permite que a
relação perdure. (AUSTIN, 2001, p. 38).
71
Telfer (2004) faz uma análise da hospitalidade como uma virtude moral, se baseando
nos conceitos de Foot (1978). Para Foot as virtudes morais apresentam três aspectos: são
qualidades que “um ser humano precisa ter, para seu próprio bem e de seus semelhantes”
(FOOT, 1978 apud TELFER IN LASHLEY, 2004, p.72); as virtudes são qualidades da
vontade e não do intelecto ou da circunstância ou do físico. “Se a coragem, a moderação e a
sensatez beneficiarem tanto o possuidor quanto os outros, a justiça e a caridade beneficiarão
principalmente os outros, algumas vezes à custa do próprio possuidor”. (FOOT, 1978, p. 2-3,
apud TELFER, 2004).
Segundo Telfer (2004) o caráter da hospitalidade parece ser apenas um modo a mais
entre outros de ser útil: uma pessoa pode ser generosa, imbuída de espírito público,
compassiva ou afetuosa, sendo ou não verdadeiramente hospitaleira. A questão proposta por
Telfer é: “Se a hospitalidade” é um meio opcional de materializar virtudes mais amplas, por
que uma pessoa escolhe esse meio e não outros para fazer o bem? (TELFER IN LASHLEY,
2004, p.74).
Telfer responde sua própria pergunta, dando duas opções de respostas que vão ao
encontro de possíveis justificativas para a identificação do gênero com a área, dado seus
talentos e papéis sociais assumidos: a primeira razão proposta por ela seria de que a escolha
pela área da hospitalidade se dê por prazer, sendo assim, uma pessoa que sente prazer em
acolher possui uma disposição, uma inclinação que facilita que seja genuinamente
hospitaleira; a segunda razão que aponta, estaria suportada pelo talento. Segundo ela, a
hospitalidade não é apenas uma questão de talento, mas se as pessoas acreditarem que
possuem talentos, interesses ou dons de temperamento
que as permitam serem úteis neste
setor, provavelmente poderão buscá-la.
Em cima da proposta de Telfer, fica fácil entender o por que de tantas mulheres terem
ingressado nessa área, se identificado com a dinâmica de suas tarefas e relações, bem como
terem construído carreiras sólidas nesse setor.
Outra análise feita por Telfer, que coloca a mulher como protagonista no cenário da
hospitalidade, é de que, a razão principal que leva uma pessoa a buscar o caráter da
hospitalidade, é que ela se sente atraída por um ideal de hospitalidade, com base na percepção
da importância emocional do lar, do acolhimento e dos benefícios especiais que o ato de
compartilhar pode trazer. Assim, se o lar, o doméstico, como visto, é um espaço do domínio
feminino, nada mais natural, que a mulher se sinta familiarizada nesse cenário e tenda a
reproduzir nesse espaço as mesmas relações e papéis que lhe são tão próprios.
72
Assim, a pessoa dispõe do “caráter da hospitalidade” desde que não seja hospitaleira
apenas por obrigação. Se a hospitalidade é um aspecto que envolve diversas virtudes morais,
isto pode se dar tanto no espaço doméstico, quanto no espaço comercial. “Ao escolher esse
tipo de trabalho, o hospedeiro comercial elegeu, de fato, a ‘ hospitalidade’ como o modo pelo
qual tentará demonstrar generosidade, bondade e assim por diante, pois grande parte de sua
vida se dá em contextos em que se requer essa qualidade.” (TELFER in LASHLEY, 2004,
p.77), e por tudo que foi visto até aqui, parece ser exatamente esse o contexto em que está
inserido a maioria das mulheres em nossa cultura, quer atuem na área de hospitalidade ou não.
Hospitalidade: virtude semeada no espaço doméstico
Para se falar a respeito da hospitalidade como uma virtude gerada dentro do espaço
doméstico, se fará referência a um trabalho realizado pelo grupo EDAC – Estúdios de
Administrácion Aplicada, da Universidade de Navarra (Espanha), em 1996, que aborda
estudos sobre a mulher e que gerou oito volumes de publicações, intitulada “Mujer Hoy”, e
que em um dos volumes dessa série, sob o título “Mujer y Hogar”, os pesquisadores abordam
a questão da hospitalidade recebida através da educação familiar, dentro do lar.
Para esse grupo de estudos, a hospitalidade é uma virtude que começa a ser aprendida
em família, sendo a mulher a sua principal geradora dentro desse espaço.
Assim, definem a hospitalidade doméstica como “virtude de quem recebe em sua casa
com solicitude, agrado e acolhimento”. A hospitalidade “É uma autêntica virtude que exige
entrega, atenção, carinho e esmero nos detalhes.” (EDAC – Mujer y Hogar, 1996, p. 167).
Estudiosos do tema apontam que o lar e a indústria de hospitalidade têm uma relação
muito estreita, e a explicação que dão para esse fato é a de se querer importar o clima do lar
para os serviços que a indústria de hospitalidade oferece. Assim, é comum se ouvir dizer
nesse meio: “Coma como em sua casa, durma como em sua cama, sinta-se em casa...”.
A mulher aparece, dentro do espaço doméstico, como geradora de hospitalidade, uma
vez que, atuando no papel de mãe e companheira aprendeu a atuar em benefício de outras
pessoas, desinteressadamente e com agrado, considerando sempre as necessidades do outro,
ainda que isto represente um esforço de sua parte. A mulher aprendeu a desenvolver um forte
sentido social, um espírito de serviço e generosidade a fim de compreender as necessidades do
outro e ajudar a resolvê-las. Assim, afirma o grupo do EDAC, “a hospitalidade é uma virtude
73
individual, e embora seja praticada em uma escala pessoal, pode ser passada para a prática
coletiva e profissional.” (EDAC – Mujer y Hogar, p. 168).
Ainda, segundo o estudo, é através da atuação da mulher, que a hospitalidade começa
a ser aprendida no seio familiar, na intimidade do lar. Quem aprende os valores da
hospitalidade em seu lar, é capaz de semeá-la no trabalho e na vida em sociedade. A
hospitalidade é algo marcante nas famílias bem constituídas, a capacidade de ser hospitaleiro
e generoso, é transportada para o ambiente empresarial da forma mais genuína e verdadeira, é
algo que vem das raízes.
Uma pessoa pode se aperfeiçoar como profissional da hospitalidade, quando foi
educada sob valores da generosidade, do desprendimento, do uso adequado da autoridade,
valores de amor ao próximo e da vontade de servir e de conviver com os demais, e isto é algo
que se aprende através da educação familiar.
É por meio da hospitalidade, que se aprende a escutar o outro, a se interessar pelo
próximo, aprende-se a conversar, a compreender, a aceitar cada pessoa como ela é, pelo seu
próprio valor, a respeitar outras formas de se pensar e de se ver a vida, a desenvolver a
capacidade de se expressar e de se enriquecer com novas experiências. Este é um autêntico
valor que não se deve, por motivo algum perder, e que, de acordo a seu ponto de vista, se
encontra ameaçado pelo tipo de vida que se leva nos dias atuais: a agitação, a falta de tempo,
a falta de recursos materiais, quando se acredita que para receber é necessário fazer grandes
investimentos. Segundo o estudo, deve-se aprender que o importante é a convivência, mesmo
quando se recebe de uma forma muito simples, o importante é que a pessoa se sinta bem
recebida, e isto depende muito mais da atitude de acolhimento, do que do requinte de itens
materiais que se possa oferecer.
EDAC coloca o lar hospitaleiro como o lugar mais próximo da intimidade do indivíduo,
onde se dá seu crescimento e desenvolvimento de seu potencial humano.
1. No aspecto material, para cobrir suas necessidades básicas (bem estar).
2. No aspecto afetivo e de sua formação (onde se amadurece e se forma sua
personalidade).
3. No aspecto de serviço (ordem, beleza e participação que facilita o desenvolvimento
pessoal e sua integração no ambiente social).
O que se vive no lar tem uma grande influência no social: os costumes, as crenças, os
hábitos, que começam a ser vividos nos lares, marcam de forma decisiva o modo como se vai
viver no meio social.
74
Dentro das funções do lar, das atividades domésticas, a mulher já vem desempenhando a
hospitalidade, que em seu conteúdo são as mesmas funções do setor de hospitalidade
comercial, só que neste âmbito profissionalizadas e com tecnologia mais avançada.
Porém, a riqueza do aprendizado doméstico, é que ele embute nas tarefas operacionais, a
idéia da hospitalidade, a partir do momento que ela é feita pela mulher, no lar, para servir ao
outro com amor e dedicação.
Assim, conclui o estudo, a atuação da mulher no setor de hospitalidade tem suas raízes
no seu papel como esposa e mãe, como a tutora do lar. As mulheres que aprendem os valores
da hospitalidade dentro de seus lares, têm maiores possibilidades de transportá-los para fora
dele, prestando a hospitalidade nas tarefas operacionais do setor profissional (hotéis,
restaurantes, hospitais etc). Assim, os gestores da hospitalidade comercial deveriam, segundo
conclusões desse estudo, exigir de seus participantes uma sólida formação em hábitos
familiares, para que possam construir ambientes agradáveis, de ajuda mútua e de bem estar: a
formação familiar da mulher, sem dúvida, marca o início da formação para a hospitalidade.
Na pesquisa de campo se questionou as executivas sobre a existência de uma relação
entre a hospitalidade comercial e a doméstica, através da seguinte questão aberta: “A
hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?”. As entrevistas, de forma geral, concordaram com a assertiva:
“Sim. A mulher se preocupa mais com os detalhes. O lençol passado sem marcas,
as maçãs brilhantes no lobby, a apresentação do buffet no café da manhã, o
uniforme e a apresentação pessoal dos colaboradores, muitas vezes passam
desapercebidos pelos homens, mas não pelas mulheres.
O fato do cliente (seja ele hóspede em um hotel ou enfermo em um hospital) se
sentir acolhido, desperta nele uma sensação prazerosa de cuidado materno,
fidelizando-o no caso de um hóspede ou diminuindo sua angústia ao se tratar de
um enfermo no hospital.” (Depoimento de Maisa Duque, gerente de serviços, 21/
Jan/ 2007).
“Concordo. Podemos comparar o ato de receber visitas em casa e receber um
hóspede no hotel. No meu caso, existem fatores da hospitalidade doméstica que
acabo reproduzindo na hospitalidade comercial, tais como: detalhismo na limpeza;
detalhismo na organização física; prazer em receber pessoas/ servir; preocupação
em deixar a visita a vontade; preocupação em deixar a visita satisfeita para que
retorne outras vezes; apresentação do ambiente, do que é servido; preocupação
em”entreter” a visita, seja com assuntos ou com uma programação que a deixe
satisfeita; treinar, educar e desenvolver pessoas.” (Depoimento de Regina Carrijo,
gerente geral, 22/ Jan/ 2007).
“Concordo plenamente que a hospitalidade comercial é uma extensão da
hospitalidade doméstica e que a mulher sabe muito bem como “receber” em casa.
A hospitalidade doméstica envolve questões como, vou receber calorosamente, vou
75
fazer com que a pessoa sinta-se acolhida, vou cuidar da minha “visita”, enfim:
“Na minha casa ele vai sentir-se em casa”. O dia a dia dentro de um hotel tem de
ser exatamente assim. Essa idéia, esse pensamento, deve estar na cabeça de cada
funcionário que faz parte da equipe. Nada mais é que gostar de servir, ter prazer
nisso!” (Tatiana Teixeira Vaz, gerente de serviços, 19/ Jan, 2007).
“Atenção aos detalhes, e carinho na hora de arrumar um quarto! Recebi em uma
ocasião um comentário de um hóspede e ele disse que a camareira cuidava melhor
da roupa dele e dos sapatos que deixava jogado no apartamento, do que a própria
esposa... Isso prova que se fizermos tudo com um toque especial, essa
hospitalidade doméstica será sentida pelo hóspede!” (Depoimento de Rachel
Golfetto, gerente geral, 24/ Jan/ 2007).
“Há alguns comportamentos que reproduzo no trabalho. Estão ligados aos
sentimentos pelo próximo e preocupação com o bem-estar. Certa vez, em um
treinamento, ouvi que não devemos interferir no comportamento de um
colaborador se este não interfere ou prejudica o trabalho. Já me peguei muitas
vezes dando orientações de comportamentos e atitudes ou perguntando
diariamente se todos almoçaram para me certificar de que todos estão bem e se
tudo está em harmonia. Acho que tudo isso tem relação com o desejo de educar,
algo ligado à maternidade, talvez, e desejo de ver todos bem.” (Depoimento de
Leandra Gallo Antão, gerente geral, 22/ Jan/ 2007).
“Concordo, pois há diversas ações praticadas durante a hospitalidade comercial
que remetem ao doméstico. Por exemplo, atenção, ou melhor, participação, pois só
conseguimos interagir com os hóspedes, pois participamos dos detalhes que eles
nos mostram e com os familiares fazemos o mesmo.” (Depoimento de Fernanda
Muniz, gerente de serviços, 18/ Jan/ 2007).
“Concordo que a hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade
doméstica, o fato de você receber, acolher, entreter, alimentar, dar abrigo e
segurança é a base da hospitalidade doméstica e é tudo que fazemos na vida
profissional.” (Depoimento de Mariana Fiori, gerente geral, 28/ Jan/ 2007).
“Plenamente, porém em proporções diferentes. A relação produzida é a da
limpeza, preocupação com o bem estar, cuidado com os pertences, proporcionar,
ter sensação de cuidado, atenção e segurança” (Depoimento de Cristina Reis
Marques, supervisora operacional, 26/ Fev/ 2007).
Através dos depoimentos das executivas pode-se entender que é clara a reprodução
dos papéis da mulher do ambiente doméstico no ambiente comercial, e que tais papéis
envolvem muito mais que elementos de reprodução das tarefas, como limpar, servir e
organizar, mas, acima de tudo, reproduzem atitudes e comportamentos da mulher no lar, como
o papel de esposa e de mãe, daí os papeis de se relacionar, se envolver, de cuidar e de educar
que, de alguma forma, contribuem para seu desempenho no setor.
76
CAPÍTULO 5: AS CARACTERÍSTICAS FEMININAS NA FORMAÇÃO
DA PERSONALIDADE EXECUTIVA
“Se as mulheres são melhores ou piores que os homens, isso não posso dizer. Mas
posso sim, afirmar que certamente não são piores.” (Golda Meir).
Esse capítulo estuda as características da personalidade feminina, por meio dos papéis
representados pelas mulheres, procurando entender de que forma tais papéis e características
acabaram contribuindo para a construção do perfil de uma pessoa hospitaleira.
Para analisar a personalidade feminina e sua identidade com a área da hospitalidade
este estudo tomou por base o referencial teórico apresentado nos capítulos anteriores, e que se
encontra apresentado de forma resumida, no Quadro I, com a finalidade de investigar a forma
como os papéis desempenhados pela mulher, em nossa cultura, nos ambientes domésticos e
sociais, contribuíram, ou melhor, permeiam o que se pode chamar de personalidade executiva,
personalidade esta que faz com que a mulher se identifique com a área da hospitalidade
comercial, especificamente no segmento de hospedagem.
Se as mulheres foram educadas e culturalmente ‘lapidadas’ dentro do ambiente
doméstico, por séculos de história, de que forma essa educação e restrição de espaço social
contribuíram para a formação de sua personalidade executiva atual, e de que forma essa
personalidade vai ao encontro do que seria a personalidade da pessoa hospitaleira conforme
teorias e estudos da hospitalidade.
Para melhor entender essa questão recorreu-se aos depoimentos das executivas
entrevistadas, procurando ilustrar a existência das características e papéis levantados e
estudados no referencial teórico. A idéia foi verificar, ainda que de modo empírico e não
passível de generalização, se é possível identificar essas características em gestoras da área da
hospitalidade comercial, se de fato tais características contribuem para sua atuação como
pessoa hospitaleira e se esse perfil tem lhes ajudado na construção de suas carreiras, de acordo
a avaliação das mesmas..
77
Quadro I – Construção do Papel Feminino a partir dos referenciais teóricos estudados
Estudiosos Área Pontos de destaque
Rebecca Abrams Sociologia *Imperativo de servir.
*Responsabilidade pelo outro, como papel feminino.
*Estudo dos papéis desempenhados e do conteúdo das brincadeiras de infância:
cooperação e socialização característica predominante das brincadeiras de
meninas.
*Cultivo de relações sociais e de parentesco, pela mulher, dentro da unidade
familiar.
Pierre Bourdier Sociologia *Herança dos papéis femininos pela dominações masculinas, justificadas pelo
controle da produção, por parte do homem.
*Proposta de estudo do gênero de forma relacional: papel do feminino em relação
ao papel do masculino.
*Educação para as tarefas e papéis femininos através de brincadeiras de crianças.
*Mulheres responsáveis pelo cultivo das relações sociais e familiares dentro da
unidade familiar.
Daniela Finco Educação *Definição de espaços e papéis aos gêneros através das brincadeiras de crianças.
*Papéis assumidos pelo aculturamento e educação desde a infância.
Cris Evatt Psicologia *Estudo dos papéis dos gêneros através das brincadeiras de crianças.
Germaine Greer *Associação e identificação da imagem e do papel da mulher ao espaço doméstico.
*Aspectos de organização e asseio como identidade da mulher.
*Estudo dos papéis femininos, busca de profissões que incluem formas de cuidar,
acolher e proteger o outro.
Simone de
Beauvoir
Filosofia *Influência da educação das meninas na definição do papel social da mulher.
Maluf e Mott História Social *Estudo papel social da mulher de classe média no Brasil no séc. XX.
*Análise dos aspectos de dominação masculina: homem provedor, mulher ‘rainha
do lar’.
*Restrição da mulher ao espaço doméstico.
*Estudo das primeiras atividades femininas fora do lar no Brasil: continuidade das
tarefas do lar, costureira, cozinheira, enfermeira e professora.
*Trabalho como forma de socialização: talvez o principal significado do trabalho
para a mulher.
Evangelia
Aravanis
História Social *Estudo papéis sociais da mulher
*Identificação com papéis do espaço doméstico: dona-de-casa, esposa e mãe.
Marco Aurélio
D.Silva
Ciências
Biológicas
*Propõe diferenças do gênero são de ordem cultural.
*Estudo do papel da mulher na sociedade (desde sociedades primitivas até os dias
atuais) através da dominação masculina.
Paul Lynch Ciências Sociais
Aplicadas:
Administração
*Mulher como protagonista do cenário da hospitalidade comercial, a partir de seu
espaço e papel doméstico.
*Trabalho da mulher na área da hospitalidade como forma de socialização.
Elizabeth Telfer Filosofia *Análise da hospitalidade comercial a partir da hospitalidade doméstica.
*Análise dos motivos relativos à hospitalidade.
*Comportamento e atitude da pessoa hospitaleira.
Doreen Mac
Whannell
Sociologia *Análise do significado social do gênero.
*Análise do estudo empreendedor feminino.
Martha Barletta Ciências Sociais
Aplicadas:
Administração
*Estudo das desigualdades entre os gêneros.
*Análise das influências biológicas: hormônios masculinos e femininos na
construção dos papéis.
*Estudo das formas femininas de saber, sentidos e sensibilidades.
Marylin Loden Ciências Sociais
Aplicadas:
Administração
*Estudo do estilo de liderança feminino.
*Análise das habilidades da líder feminina e sua contribuição para a administração.
EDAC Ciências Sociais
Aplicadas:
Administração e
Filosofia
*Proposta da mulher como humanizadora do espaço empresarial para esse novo
século (XXI).
*Explora as potencialidades que a visão feminina, adquirida através de seu papel
no lar, aporta às empresas.
*Propõe o inicio do aprendizado da hospitalidade no espaço dos lares, com a
mulher como protagonista neste ensino.
Júlio Lobos Ciências Sociais
Aplicadas:
Administração
*Estudo da personalidade executiva das mulheres no Brasil.
*Proposta e análise de 14 características encontradas na mulher executiva.
Fonte: A autora (2007)
78
Diagrama I – Características da Personalidade Executiva desejável para atuação em
hospitalidade comercial.
Fonte: A autora (2007)
Busca de Relacionamento Interpessoal
A diferença entre os gêneros se inicia a partir do momento que se faz a primeira
pergunta sobre um recém nascido: “é menino ou menina?”. É a partir dessa identificação que
se inicia o processo de socialização, sendo que os sexos passam a receber cuidados e
educação distintos.
Busca
Relacionamen-
to
Interpessoal
Perfeccionismo
Atenção aos
detalhes
Emotividade
e
Forma de
Comunicação
Transcen-
dência
e
Amor ao
Próximo
Intuição
Versatilidade e
Criatividade
Tomada de
Decisão
com
Foco no
Processo
Significado
Trabalho e do
Poder
Paciência
e
Capacidade
de ouvir
SERVIR
ao próximo
79
Os meninos são treinados para competir, e doutrinados para vencer; para as meninas
não basta vencer, elas querem ficar bem com o adversário. Com isso as meninas aprendem
desde cedo a cuidar melhor dos relacionamentos interpessoais, valorizando os contatos
bilaterais e evitando a situação de confronto. “Isto explica, em parte, porque os executivos
mostram-se amistosos, enquanto as executivas fazem amigos.” (LOBOS, 2002, p. 84).
As mulheres, segundo Lobos (2002) têm a capacidade de apaziguar diferenças, ignorar
ataques e estabelecer relacionamentos amistosos, o que as torna úteis em duas frentes
estratégicas: clientes e colaboradores.
Não importa se estamos falando com o sujeito da lavanderia, o caixa, ou o chefe;
queremos saber de sua história de vida, queremos trocar sentimentos, queremos
fazer com que a outra pessoa se torne isso mesmo, uma pessoa, em vez de apenas a
outra parte envolvida numa transação. (EVANS, 2000 apud LOBOS, 2002, p. 84).
Para alguns autores faz parte do código genético da mulher achar que as pessoas são o
elemento mais importante e mais interessante da vida. Para elas todas as situações, decisões,
suas atitudes e comportamentos, têm a ver com gente. (BARLETTA, 2003). Ainda, segundo a
autora, é clara a diferença entre homens e mulheres no que se refere às interações sociais. Ela
faz uma comparação entre ambos, constatando que:
1. Enquanto os homens são solistas, as mulheres são integrantes do conjunto.
2. Enquanto os homens aspiram a ser “vencedores”, as mulheres preferem ser
“acolhedoras”.
3. Enquanto os homens ocupam uma pirâmide, as mulheres ocupam um
grupo de amigos. (BARLETTA, 2003, p. 86).
Os homens tendem a ver a si mesmos como a estrela do show de sua própria vida, e
esperam que os demais o vejam da mesma forma. As mulheres enxergam o mundo da
perspectiva do grupo. Para as mulheres o melhor sentimento do mundo é o de estar com
pessoas com as quais tenham algo em comum, sentem orgulho de seu carinho, consideração e
lealdade, demonstram o sentimento cuidando dos outros: seja sua família, seus vizinhos, seus
parentes ou colegas de trabalho. Elas estão freqüentemente oferecendo ajuda, possuem uma
“percepção periférica” que as torna atentas às coisas que podem ser relevantes para alguém
que conhecem e com quem se importam.
O sentimento de proximidade e conexão com outra pessoa é importante para as
mulheres, pois elas consideram importante ser pessoal, o que requer saber da vida da outra
pessoa, conhecer seus gostos, suas aspirações, preferências, mágoas, enfim tudo o que poderá
80
conectá-la a outra pessoa. As mulheres agem por cooperação e para elas as outras pessoas são
fonte de energia, um ombro para se apoiar. (BARLETTA, 2003, p. 88).
Para Barletta (2003), a vida dos homens é sedimentada no pilar da competição. Isto se
aplica na forma com que eles trabalham, jogam e se comunicam. Desde sua infância se
organizavam em times opostos, onde alguém é o líder e dita as regras. O objetivo do jogo para
os homens é o resultado, porque a vitória está vinculada a um prêmio. Quem conquista é o
vencedor.
As mulheres, desde os tempos primitivos, não se excitam da mesma forma ao vencer
uma luta, pois agir agressivamente com o parceiro implicava em ser menos atraente, ter
menos filhos, na luta pela reprodução. (GLANTZ e PEARCE, 1989).
Já o homem considera cada encontro, profissional ou pessoal, uma competição, onde o
resultado não pode ser o empate. O lema é: que “vença o melhor”. (BARLETTA, 2003, p.
91). Como conseqüência, os homens guardam uma distância maior nos relacionamentos,
consideram mais seguro manter certa desconfiança e distância em relação ao outro do que se
expor. E, por isso também, são mais adeptos dos esportes, uma vez que situações esportivas
oferecem a oportunidade aos homens de estarem com outras pessoas, sem que tenham a
pressão para a intimidade. (EVATT, 1993, p. 53)
A maneira de os homens se aproximarem das pessoas é fazendo coisas em conjunto,
enquanto as mulheres se aproximam conversando. Quando os homens querem passar
algum tempo com amigos eles jogam bola, vão pescar ou assistir a um jogo juntos.
As mulheres, por sua vez, acham que o mais importante no ato de estarem juntas é
conversar. (BARLETTA, 2003, p. 68).
Pelo fato de se concentram fundamentalmente nos outros, as mulheres se preocupam
menos em ganhar e mais em cooperar, uma vez que a competição ameaça a proximidade.
“Para elas, cada encontro é uma oportunidade para estabelecer ligações, cada pessoa é um
aliado em potencial, e o bom resultado de uma negociação é aquele em que todos ganham
algo, em qualquer situação.” (BARLETTA, 2003, p. 93)
81
Paciência, Capacidade de Ouvir
Paciência
O homem não valoriza a paciência, enquanto que a mulher considera a paciência como
uma virtude. Essa característica coloca a mulher como o elemento estável, aquela que espera,
enquanto o homem se aventura e se arrisca. Assim, por razões hormonais ou culturais, os
homens são tidos como mais aventureiros, “eles vêem na paciência uma forma de derrotismo,
disfarçada de virtude”. (LOBOS, 2002, p. 85).
“... O homem sempre é quem vai, enquanto a mulher fica, e espera” (LOBOS, ibidem).
Esta é a forma como as mulheres foram educadas, e que é passada de geração a geração. O
comportamento esperado de uma moça “direita” deve ser este: não tomar a iniciativa, e sim,
esperar que o homem a tome.
Capacidade para Ouvir
Segundo Lobos (2002), é simplesmente impossível ser um bom ouvinte sem
habilidades empáticas, as quais incluem: transmissão de confiança e afeto, linguagem de
corpo, perspicácia, compaixão, e acima de tudo o desejo íntimo de entender e de ser entendido
pelos outros, habilidades estas inerentes à mulher. “Além de destacar-se na coleta de
informações, as mulheres comunicam-se melhor do que os homens no âmbito superior-
subordinado, superando-se em acessibilidade, escuta atenta e feed-back.” (Mc LEOD,
SCRIVE, WAYNE, 1992, p. 343-365).
As mulheres se preocupam com o bem do próximo e em se relacionar bem com o
outro, assim elas se interessam por suas histórias e pormenores, e para isto devem ter a
paciência de escutar. Porém, a capacidade de ouvir, segundo Lobos (ibidem), tem um
interesse maior que simplesmente serem empáticas e “boas” para com o próximo, segundo ele
as mulheres se utilizam desta habilidade para conduzir, “seduzir” as pessoas.
A comunicação é uma via de mão dupla, em que o emissor envia a mensagem, e o
receptor a escuta. Assim não se pode falar que um bom comunicador é aquele que sabe apenas
se expressar e, sim, que um bom comunicador é aquele que, além de falar bem, sabe escutar
seu emissor. E neste quesito as mulheres parecem estar, de forma geral, bem à frente dos
82
homens, e isto por uma razão muito simples: as mulheres são mais centradas nos outros,
portanto, mais favoráveis a escutar. Alguns estudos, inclusive, indicam que elas emitem mais
sons que os seus parceiros enquanto escutam, e se utilizam mais da comunicacão não-verbal,
fazendo gestos, acenos de cabeça e sorrisos, enquanto escutam.
A linguista Tannen (1991), faz os seguintes comentários a respeito da escuta: quando
os homens falam, as mulheres escutam, porém, quando as mulheres falam, os homens as
interrompem, porque competem pela posição de oradores, costumando mudar de assunto ou
acrescentar sua própria informação. “Os homens buscam sempre ter o controle da conversa,
não aguentam ser ouvintes por muito tempo, pois isto os põe numa posição de inferioridade”.
(TANNEN apud EVATT, 1993, p. 68).
Um estudo coordenado pelos sociólogos West e Zimmerman (1975 apud EVATT
1993, p. 69), na Universidade de Los Angeles, apontou que ao conversarem com mulheres
que haviam acabado de conhecer, os homens as interrompiam 75% do tempo, além de
mudarem o assunto da conversa para assuntos que lhes interessavam mais. Esta situação já
muda quando a conversação se dá entre mulheres, neste momento ouvir é tão importante
quanto falar, porque esta mão dupla permite que estabeleçam uma intimidade entre si, que é
exatamente o que as mulheres querem e buscam. As mulheres não apenas querem ouvir as
histórias de suas companheiras, como demonstram empatia, utilizando expressões como: “Sei
como se sente, aconteceu exatamente o mesmo comigo...” (TANNEN, 1991 apud EVATT,
1993, p. 68).
A versão de Lobos (2002) para a interrupção de conversas por parte dos homens é de
que, no mundo masculino, a auto-propaganda funciona como recurso de dominação. Assim,
os executivos interrompem e esperam ser interrompidos e, na verdade, só não respeitam quem
fica calado, isto porque o ritual masculino é definido por “quem manda”.
Tomada de Decisão com Foco no Processo
“As mulheres, em geral, se apaixonam pelos processos. Basta ver os nove meses de
gestação.” (TRAJANO – diretora Magazine Luiza apud LOBOS, 2002, p. 93). O processo a
que Trajano se refere não é o dos processos de engenharia, e sim das dinâmicas humanas
inerentes ao processo produtivo.
As formas femininas de saber estão sustentadas nos sentidos e na sensibilidade.
83
“Os homens são melhores na visão focada (pense em uma “lanterna”), enquanto as
mulheres têm melhor visão periférica (pense em um “holofote”).” (FISHER, 1999, p. 90).
Segundo relatos de psicólogos as mulheres pensam mais regularmente em termos
contextuais e holísticos, o que significa que elas relacionam os elementos que vêem uns com
os outros e os integram num todo mais amplo, sendo assim pode-se dizer que na média as
mulheres são sintetizadoras (elas reúnem as coisas). Por outro lado, elas têm dificuldade em
realizar a tarefa oposta, especialidade dos homens que, por serem analistas, tendem a
destrinchar as coisas, isto é, eles têm facilidade de discernir objetos separados de seus
contextos ou ambientes. (Barletta, 2003)
As mulheres tendem a ter uma visão mais completa dos problemas processuais e de
suas causas não técnicas, elas sempre se perguntaram num processo de tomada de decisão:
“Alguém ficará feliz (ou infeliz) com o que iremos fazer? Enquanto os homens já se
perguntariam: “Para que servirá?”, “Funcionará? Sim ou não?” (LOBOS, 2002, p. 93).
Pelo fato de analisar o processo para a tomada de decisão, a mulher é tida como
cautelosa, por um lado pelo fato de não gostar de correr riscos, e por outro, devido a sua
tendência ao perfeccionismo.
Lobos (2002, p.92) faz um comentário bastante curioso a respeito da serenidade
feminina: “É difícil imaginar um homem partindo para a briga, sem uma mulher atrás dele
pedindo calma.”
A serenidade na mulher está relacionada à sua cautela em relação à tomada de
decisões. Um estudo conduzido por Fischer (1999), relacionado à área de comunicação,
constatou que, quando convidados a escolher entre as prioridades da lei e as necessidades
legítimas do indivíduo, os homens tendem a ficar ao lado da lei, enquanto as mulheres tendem
a escolher pessoas.
Os psicólogos dizem que, quando se trata de resolver situações interpessoais
complexas, as mulheres costumam basear sua reflexão em exemplos e na experiência pessoal,
enquanto os homens tendem a pensar mais em termos de ideais de certo e errado, justiça,
imparcialidade ou dever. Os homens dizem: “Esse é o certo, as regras são essas”; as mulheres
dizem “depende”. (FISHER, 1999, p. 15).
As mulheres tendem a considerar por valor na tomada de decisão aquilo que
acalentam, aquilo que curtem, aquilo de que se orgulham, ou de uma forma mais
ampla tudo aquilo que importa a elas, diferentemente das coisas que os homens
valorizam. (Barletta, 2003, p. 83).
84
Dentro do meio empresarial, uma das tarefas mais importantes parece estar ligada à
tomada de decisões. Seja a que nível hierárquico for, uma pessoa que esteja nesse meio,
deverá diariamente ter de tomar decisões. E aqui mais uma vez os gêneros se comportam de
forma bastante diferentes. Para os homens a tomada de decisão parece ser uma questão de
honra: “Aquele que hesita está perdido, esta é a máxima masculina. No campo de batalha, os
guerreiros têm de ser decididos, assim como os homens nos negócios são resolutos nas salas
de diretoria das empresas” (EVATT, 1993, p. 70).
Segundo Moir e Jessel (1991), a forma de tomar decisão dos homens, está diretamente
ligada aos seus processos intelectuais que se dão de forma linear, por isso, o caráter
administrativo masculino exige decisões rápidas.
As mulheres já levam mais tempo para tomar uma decisão, porque tendem a analisar
primeiro o lado das pessoas envolvidas. Para elas, via de regra, sempre virá em primeiro lugar
o lado humano da questão, seja uma decisão doméstica ou empresarial. Elas costumam
explorar todas as possibilidades e analisar os sentimentos das pessoas, antes de tomar uma
decisão. Este tipo de comportamento se explica, pelo fato de as mulheres se concentrarem
mais nos relacionamentos, portanto, costumam incluir outras pessoas em suas decisões, o que
as leva a pensar mais antes de decidir. (GRAY, 1990).
Assim, ao tomar decisões as mulheres não consideram somente os fatos que fazem
parte dos problemas, mas também seus sentimentos - e os das outras pessoas envolvidas
também. Os homens tendem a ser mais analíticos, costumam separar o essencial do detalhe
circunstancial com maior facilidade que as mulheres, enquanto as mulheres costumam
acrescentar à equação um elemento extra de sensibilidade. (MOIR e JESSEL, 1991).
Os homens tendem a tomar decisões sozinhos e julgam as considerações emocionais
como supérfluas. Por serem práticos e se orientarem para soluções, eles se sentem
responsáveis por tomar atitudes que produzirão um efeito sobre o mundo. Assim, ao se
concentrarem apenas nos fatos, eles conseguem criar soluções que podem ser implantadas
sem que se leve em consideração as conseqüências emocionais. Conforme analisou Gray
(1990): “Primeiro, o homem toma uma decisão na privacidade de sua caverna, depois ele a
checa com os outros. Se sua conclusão não for aceita, se tranca de novo para pensar”.
As mulheres, segundo Evatt (1993), também tendem a pedir mais conselhos que os
homens, não em busca de respostas, mas sim de empatia. Quando uma mulher pede um
conselho para um homem, ele entende como um pedido de ajuda e quer achar logo uma
solução e dar uma resposta, mas na verdade o que ela quer é empatia.
85
No mundo feminino dar e receber empatia é algo extremamente valorizado. A
maioria dos homens, ao contrário, tende a evitar o excesso de solidariedade, porque
tendem a manter uma certa distância dos problemas pessoais dos outros, para evitar
a sensação de sufocamento que tanto temem. Isto explica o por que eles geralmente
mudam de assunto quando as mulheres lhes trazem problemas pessoais. Trata-se de
uma forma de autodefesa. (EVATT, 1993, p. 74).
As mulheres, ao contrário, já não se sentem abafadas pelos problemas alheios, para
elas é natural e bem-vindo um envolvimento mais profundo com outra pessoa. O nível de
preocupação das mulheres, segundo Fall (1987), é de duas a três vezes maior que o dos
homens, isto se dá porque a preocupação é uma forma de tentar obter controle sobre as
pessoas e as situações, como também é uma forma de se estabelecer intimidade com os
outros, assim quanto mais centralizada nos outros for uma mulher, mais ela se preocupará
com eles.
As mulheres têm uma tendência a colocar as prioridades dos outros acima de suas
próprias, a se sentir responsáveis por tomar conta dos outros, e incluem em seus julgamentos
os pontos de vistas das pessoas com as quais se relacionam. (GILLIGAN, 1982).
Já os homens, segundo Braiker (1988) preferem resolver seus problemas, ao invés de
se preocuparem com eles. Assim quando estão preocupados com alguma questão, a sua reação
é tentar resolver o problema ou distrair-se.
Elementos de aproximação entre as pessoas e cuidados de preservação da relação
também parecem ser preocupações mais femininas. “As mulheres tendem a pedir mais
desculpas e mais ajuda que os homens.” (EVATT, 1993, p. 78).
Segundo a autora, um pedido de desculpas é expressão de arrependimento por ter
agido de forma errada com alguém. Como para as mulheres é mais fácil se culparem, elas
tendem por conseqüência a pedir mais desculpas que os homens. Para os homens, o que conta
é o status, quem está por cima e quem está por baixo, pedir perdão, é reconhecer que falhou,
portanto, é se situar por baixo, e, portanto, uma posição que deve ser evitada a qualquer custo.
Para os homens é mais fácil acusar os outros, antes mesmo que descobrir quem falhou,
as mulheres como se preocupam com os sentimentos alheios, tendem a ser mais cuidadosas,
assim como mais duras e críticas em relação a si mesmas, antes de procurarem ver a culpa dos
outros sobre os problemas. (GRAY, 1990).
Nós mulheres estamos sempre ansiosas por agradar as outras pessoas, por isso
hesitamos em levantar a voz para defender o que pensamos ou sentimos.
Suavizamos nossas afirmações com frases do tipo:” “De certa forma, acho que...” ou
“Parece que...” (americanas do movimento “Organização Nacional para as
Mulheres”, em Seatle-King, autoras do livro Women, assert yourself “).
86
Transcendência e Amor ao Próximo
Transcendência
Fazendo-se um estudo em tempos remotos se verificará que sempre os segredos da
humanidade foram incorporados em entidades femininas.
Eu sou a flor do campo e o lírio dos vales. Eu sou a mãe do amor justo e do medo e
do conhecimento e da esperança sagrada... Eu sou a mediadora dos elementos... Eu
sou a lei do sacerdote e a palavra do profeta e o conselho do sábio. Eu matarei e
darei vida e não há nada que possa ser entregue que não seja pela minha mão.
(Maria- Sofia, deusa da Sabedoria, dito por alquimistas egípcios) (WALKER, 1983
apud LOBOS, 2002, p. 89).
Isto pode explicar em boa parte o “por que”, que em ambiente materialistas como o de
empresas, a mulher esteja sempre em busca do “sentido das coisas”.
Outra divergência entre os gêneros, relativa à questão da transcendência, está no
significado do trabalho: para o homem o trabalho é um fim, para a mulher o trabalho é um
meio. Pergunte a ambos quem são eles: “o homem se define por aquilo que faz na
organização, a mulher pelo que é na vida.” (LOBOS, 2002, p. 89).
Bastante interessante também é a forma com que os genêros tomam os significados
das palavras. Os homens tendem a tomar as palavras pelo seu significado literal, para eles as
coisas são preto ou branco, portanto, tendem a ser mais realistas que as mulheres
(GARFINKEL, 1985) já as mulheres gostam de analisar o significado das atitudes humanas e
buscam as interpretaçoes do que foi dito ou escrito nas entrelinhas.
Assim se os homens tendem a investigar a mecânica do motor, a estratégia do jogo
de futebol, já as mulheres gostam de falar da mecânica e das estratégias do
comportamento humano. “Por que Sue está sempre escolhendo homens que a
maltratam?”, “Qual terá sido a verdadeira razão para Fred ter abandonado Alison?”
(EVATT, 1993, p. 64).
Amor ao Próximo
“O cuidar e proteger é feminino”. (BERENSTEIN, 2001 apud LOBOS, 2002, p. 90) e
isso teria origem no período pré-histórico, quando enquanto o macho saía para a caça, a fêmea
ficava na caverna cuidando da cria.
87
Até hoje, segundo Lobos (2002), em contraste com o homem, a mulher possui uma
habilidade extraordinária de dar amor e proteção ao próximo. Isto é tão acentuado que a sua
maior dificuldade é manter a noção do self (de si mesma) em qualquer relacionamento. Ela
tende a sacrificar seus interesses, assumir tarefas alheias e culpas por falhas em situações em
que nem participou. “Daí que o talento para “acolher” clientes e funcionários seja uma das
principais vantagens competitivas da profissional mulher.” (LOBOS, 2002, p.90).
Muitas mulheres chegam ao extremo de colocar a felicidade dos outros dentro de seu
próprio conceito de sucesso. “Fico mais feliz quando tenho sucesso em alguma coisa que
também vai fazer outras pessoas felizes”, teve a concordância de 15% dos homens, e de 50%
das mulheres, em uma pesquisa. (MOIR e JESSEL, 1991, p. 157).
Já, segundo Gray (1990), para o homem a sua maior dificuldade parece ser superar a
sua tendência a estar sempre absorto em si mesmo, por ser mais individualista, não está
preocupado em se afastar ou afastar os outros de si mesmo. A mulher, por sua vez, tem uma
habilidade para dar amor e atenção ao próximo que é extraordinária. (LOBOS, 2002).
Intuição, Versatilidade e Criatividade
Intuição
O homem tende a só acreditar vendo, apalpando, enquanto as mulheres trabalham com
a intuição. Os psicanalistas a chamavam de “tesouro da psique feminina”, assim “... a intuição
é como um cristal através do qual pode-se ver com inequívoca certeza algo que não existe-
uma espécie de instrumento divino.” (PINKOLA,1998 apud LOBOS, 2002, p. 87).
Este fenômeno teria uma explicação biológica associada ao hormônio da maternidade,
a progesterona, que responde pela intuição, e pela diferença entre o hemisfério esquerdo e
direito dos cérebros masculino e feminino: “as mulheres usam ambos os hemisférios (o da
razão e o da emoção), enquanto os homens usam apenas o hemisfério da razão, que é o que
lhes parece mais adequado à resolução do problema.” (Cappon, 1993, p. 40-45). O fato dos
homens serem mais focados, também os impediria de ver além das coisas, por trás das coisas.
Para Barletta (2003), as mulheres percebem mais, captam coisas que os homens não
percebem. Para ela, as mulheres possuem além dos cinco sentidos uma habilidade sensorial
mais oculta, percebem variações sutis em tom de voz, expressão facial, gestos e linguagem
88
corporal, é como se conseguissem fazer um “raio-x emocional”. Como buscam integrar,
qualquer detalhe é para elas fundamental para o entendimento da situação como um todo.
Assim se poderia, de uma forma geral, fazer uma categorização entre os gêneros,
colocando-se os homens na categoria sensorial, e as mulheres, na categoria intuitiva, o que
significa dizer, que os homens dentro de um processo de trabalho, se realizarão mediante o
processo concluído, a meta atingida, já as mulheres se realizam mediante as lições aprendidas,
a satisfação das pessoas envolvidas. (LOBOS, 2002).
Versatilidade
A explicação para a versatilidade da mulher, segundo Witelson (1976), é dada sob o
ponto de vista neurológico: diferenças na estrutura cerebral e no portfólio de hormônios
determinam formas de pensar distintas: o homem pensa linearmente, portanto, pensa e
executa uma coisa de cada vez; a mulher tem um raciocínio multidimensional, que lhe permite
pensar e fazer várias coisas simultaneamente.
Para Lobos (2002) essa versatilidade só veio a contribuir para sua performance no
meio empresarial, uma vez que hoje as empresas são muito mais flexíveis e buscam recursos
humanos multifuncionais.
Para Barletta (2003), a mulher padrão, pode ser considerada como uma “CPO” – Chief
Purchasing Officer (Executiva de Compras) da casa, uma vez que é ela quem faz a maior
parte das compras. Ao mesmo tempo pode-se dizer que ocupa cargos simultâneos na empresa
“lar”. Ela é a secretária da Saúde, da Educação e do Bem-Estar Social, pois no geral assume a
responsabilidade pela assistência à saúde e as questões relativas à escola, à administração
financeira e ao orçamento da família. Ela é a secretária do Interior, pois procura garantir a
estabilidade emocional e a convivência dentro da família; é a secretária do meio-ambiente,
pois lida com a ordem e organização e a limpeza dos aposentos, das roupas e dos objetos de
todos da casa, Chefia o departamento de idosos se seus pais ou os pais de seu marido
necessitam de assistência na velhice; e, por fim, ainda arruma tempo para atuar na área de
Lazer e Entretenimento da família, organizando viagens e passeios e festas comemorativas.
As mulheres conseguem realizar tantas tarefas simultâneas devido sua capacidade de serem
mais abrangentes e integradas. Para elas esta forma de atuar é mais eficiente e produtiva.
Assim assumem várias personalidades: de executiva, de dona de casa, de mãe e de esposa,
conseguindo assim realizar muitas tarefas simultâneas. Por outro lado, por esta mesma razão,
89
as mulheres não têm um prazo estipulado para cada uma de suas tarefas, podendo gastar
inclusive mais tempo para realizá-las. Já os homens por serem mais focados em suas tarefas,
tendem a estruturar suas vidas linearmente: as primeiras coisas primeiro, terminar uma tarefa
antes de passar para a segunda, fazer primeiro as coisas mais importantes, e depois as menos
importantes.
Um estudo realizado pelas Nacões Unidas com homens e mulheres de 130 sociedades
concluiu que, em todas as culturas, as mulheres executam várias tarefas simultaneamente e
demonstram facilidade para administrar muitas atividades ao mesmo tempo. (FISCHER,
1999, p. 7).
Criatividade
Segundo Abraham Maslow, “feminino” e “criativo”, este último no sentido da
imaginação, fantasia, poesia, música, ternura, têm o mesmo significado. (MASLOW, apud
LOBOS, 2002, p. 96).
A questão da criatividade feminina parece ter seus alicerces nas brincadeiras de
infância. As meninas de uma forma geral, utilizavam mais a imaginação nas brincadeiras de
casinha, construíam histórias e mudavam seu final caso não fosse de seu agrado o andamento
da brincadeira, isto se tornava possível uma vez que suas brincadeiras, ao contrário dos jogos
dos meninos, não tinham regras.
Assim aprenderam desde cedo a criar finais diferentes para as mesmas histórias, bem
como mudarem de papéis nas brincadeiras com facilidade (hoje ser mãe, depois filha, depois
babá, médica e assim por diante).
As brincadeiras dos meninos, de uma forma geral, são mais relacionadas com jogos,
onde os papéis (posições) são pré-definidos, e uma vez se dando bem nesse papel,
dificilmente assumem outro (goleiro, atacante, centro-avante). As estratégias são pré-
determinadas, e as regras são fixas e claras, não podendo ser mudadas no transcorrer do jogo.
E assim cresceram os meninos, acostumados às regras, a posições fixas e a realizar cada vez
melhor seu papel.
Essa educação, de certa forma, levou os meninos quando adultos a se utilizarem menos
de sua imaginação e mais da técnica para realizar seu trabalho, enquanto as mulheres foram
treinadas a usar mais sua imaginação e, de uma forma geral, aprenderam a ‘driblar as regras’.
90
Isto não quer dizer que os homens não sejam criativos e as mulheres sejam
‘desregradas’, mas sim que há um fator educacional inegável para a construção destas
características no gênero que acabam por definir suas personalidades executivas de um modo
geral.
Para Finke (1992 apud LOBOS, 2002, p. 96) existem dois tipos de criatividade dentro
do gênero: uma cognitiva e regrada, que estaria mais presente nos homens, por exemplo, nos
ganhadores do Prêmio Nobel; outra, natural e espontânea, presente nas mulheres.” Quando as
empresas pedem criatividade aos seus executivos, ela está se referindo à criatividade
feminina.
Emotividade e Formas de Comunicação
Para a mulher, ser sensível e empática perante as emoções dos outros não é só uma
maneira de se comunicar com eles, mas também um primeiro passo para exercer o
poder que lhe interessa, o da persuasão, o da influência velada.” (PINKOLA, 1998
apud LOBOS, 2002, p. 88).
Cientistas que afirmam que as mulheres são mais emocionais que os homens,
sustentam sua afirmação com base em três resultados: (1) Eles acreditam que na média as
mulheres realmente vivenciam toda a gama de emoções com maior intensidade e volatilidade
que os homens; (2) na cultura feminina do gênero é aceito e também esperado, que as
mulheres expressem suas emoções com maior freqüência que os homens, enquanto estes se
orgulham de seu autocontrole; (3) nas mulheres as conexões entre os centros emocional e
verbal do cérebro são mais fortes, o que lhes permite articular melhor suas emoções.
(DIENER, apud GOLEMAN, 1997).
Para os homens, as emoções são consideradas desvios, distrações, por isso lidam
muito mal com elas. Isto também explica porque o cérebro masculino é menos eficiente que o
feminino, em relação à fala, uma vez que fala e emoção estão estritamente conectadas a nível
cerebral.
As mulheres apresentam uma inclinação para o verbal, mais forte que os homens
sendo que é aceito nos dias de hoje, o fato de que a mulher tem maior fluência verbal que os
homens. “Basta dizer que as meninas aprendem a falar, ler e escrever mais cedo que os
meninos, e que têm mais habilidade com a gramática, ortografia e geração de palavras.”
(KIMURA, 1999, cap. 8).
91
Segundo o biossociólogo Leonard Benson (apud EVATT,1993, p. 59) “as meninas se
concentram nas pessoas, e os meninos nas coisas”, e este comportamento parece se prolongar
ao longo de suas vidas. Benson (ibdem),afirma que os homens falam mais a respeito dos
negócios, esportes e políticas; também gostam de falar de carros, aparelhos eletrônicos e de
som, ferramentas e de como as coisas são feitas, como funcionam, como consertá-las, como
melhorar o mundo. Trocam informações sobre fatos e opiniões com facilidade. As mulheres
falam mais sobre pessoas, seus problemas, suas ações e reações. Ainda quando as mulheres
falam de coisas, o assunto é orientado para o ser humano, como por exemplo: dietas, saúde,
viagens, culinária, hobbies. Até mesmo quando falam sobre trabalho e carreira, parte dessas
conversas de trabalho acaba recaindo sobre as pessoas: como os indivíduos podem trabalhar
juntos, quem passou quem para trás, ou ainda, qual a melhor maneira de se criar um ambiente
de trabalho agradável.
Para suportar esta tendência de diferença do conteúdo e tema das conversas entre os
gêneros, a pesquisadora Deborah Blum (1997) observou moças e rapazes conversando em
uma lanchonete: as moças conversavam mais sobre as pessoas em suas vidas, já os rapazes
conversavam sobre esportes, política, provas e trabalhos de classe. A mesma pesquisadora,
analisando o que as mulheres escrevem, observou que elas utilizam menos números,
preposições, pontos de interrogação e pronomes que os homens, especialmente o “eu”. Elas
fazem mais referências a pessoas, a casa, além do uso de palavras ligadas a sensações,
emoções e idéias. Os homens utilizam mais palavras relacionadas ao corpo, e escrevem mais
sobre esportes, televisão e dinheiro.
Dentro dos estudos da linguística, LAKOFF (1990), observou diferenças na “forma”
de falar entre homens e mulheres, chegando às seguintes evidências:
as mulheres geralmente fazem uma pergunta para dar continuidade à conversacão,
enquanto os homens tomam as perguntas de forma mais literal, considerando-as
uma mera forma de tomar informações;
as mulheres costumam utilizar mais adjetivos para expressar melhor suas
colocações, como: “maravilhoso”, “incrível”, mais diminutivos para dar mais
sentimento à situação: “fofinho”, “pinguinho”, além de mais eufemismos, para
evitarem de serem muitos diretas ou ‘agressivas’ verbalmente: “não estou nem um
pouco satisfeita com...”, ao invés de “estou furiosa porque...”.
as mulheres usam menos coloquialismos do que os homens.
92
as mulheres usam um estilo de conversa mais colaborativo, enquanto o masculino
tende a ser mais competitivo. Um exemplo típico que cabe aqui é a forma de se
passar uma instrução. Lakoff (1990) dá um exemplo: o homem fala de forma
direta: “A meta é esta, e temos de atingí-la dentro do prazo”, a mulher já tenderia
a dizer: “ Temos uma meta a atingir até o final do mês, conto com a ajuda de
todos vocês para conseguirmos chegar lá”. (LAKOFF apud EVATT, 1993, p.
60).
Um tema bastante discutido na área da Administração, é a questão da assertividade.
Encontra-se uma infinita lista de títulos sobre este tema, na seção de best-seller das livrarias,
dando dicas de como se tornar assertivo na comunicação como fórmula para sobrevivência
dentro do mercado de trabalho. Para os homens esta questão de assertividade, parece ser mais
favorável. Segundo Lakoff (1990) a linguagem masculina é a linguagem do poder, é
intencionalmente direta, clara, sucinta, como seria esperado de alguém que não precisa ter
medo de ofender ninguém. Evatt (1993) sugere algumas explicações para essa questão, para
ela, os homens sempre foram dominantes, em nossa sociedade, detendo a maior parte do
poder e do dinheiro, com isso, ao longo da história as mulheres tiveram que utilizar uma
linguagem mais circunspecta para obter o que queriam. Ainda, segundo a autora, a diplomacia
linguística feminina pode se tornar bastante útil, em algumas circunstâncias, embora em
outras, coloque a mulher em uma posição desfavorável. A questão é que a linguagem
feminina é, em geral, mais cautelosa, menos ofensiva e mais conciliadora que a dos homens.
Para um cenário empresarial, onde as relações humanas devem ser exploradas e cuidadas,
parece que o estilo indireto feminino estaria mais apropriado. O estilo da conversacão
feminino, para Evatt (1993) perde a conotação de voz de mando, mas ganha no estilo
participativo e de colaboração. Assim as mulheres, de forma geral, preferem dizer frases
como: “você tem certeza que não se importa se...”, ao invés de colocar seus desejos de forma
aberta e direta. Suas críticas em relação às pessoas são mais dissimuladas, sendo assim são
menos “agressivas”, ao invés de comentarem diretamente sobre os atos de outra pessoa, elas
falam: “sabe... acho que seria ótimo se você conseguisse visitar mais cinco clientes por
dia...”. Elas também costumam fazer mais perguntas, para saber a opinião dos outros, assim
como precedem suas idéias com perguntas, ao invés de declarar e expor suas opiniões de
forma direta, tirando a conotação de imposição, por exemplo, elas dizem: “O que você
acharia se nós...?”. (EVATT,1993, p. 67).
93
Uma pesquisa realizada na Faculdade de Holy Cross, em Worchester, Massachutsetts,
por Linda Carli, professora-assistente de Psicologia, ( apud EVATT, 1993, p. 67), estudou o
estilo de comunicação de 238 homens e mulheres, e chegou a conclusão de que a fala
feminina é mais hesitante, mais respeitosa e menos confiante que a fala masculina, uma vez
que é permeada de coisas do tipo:
- Negação – Costumam fazer um comentário ou frase inicial que enfraquece a
afirmação seguinte: Exemplo: “Não tenho certeza, mas...”
- Incerteza – Costumam empobrecer uma idéia, incluindo em suas frases palavras
como “talvez”, “meio”. Por exemplo: “Os funcionários estão meio
desmotivados.”
- Pergunta retórica – Costumam por uma frase debilitante ao final de uma
afirmação.Por exemplo: “Devemos investir mais em treinamento, você não
acha?”
Carli concluiu que as mulheres utilizavam esse tipo de comunicação para não se
mostrarem “agressivas” diante dos homens. Os homens, por sua vez, não gostam que as
mulheres sejam muito firmes ou pressionadoras, porque a linguagem e o comportamento
convicto violam os padrões, estabelecidos pelos póprios homens, do comportamento
feminino.
Antes de compartilhar suas idéias com indivíduos mais importantes (neste caso, as
mulheres) devem, em primeiro lugar, demonstrar que não têm interesse em competir
por status... Nesse sentido, portanto, a fala hesitante é menos ameaçadora para os
homens. (CARLI e EAGLY apud EVATT, 1993, p. 67).
O estilo de comunicação feminino pode ser visto sob diferentes aspectos, se por um
lado ele coloca a mulher em uma situação desfavorável, por outro facilita sua aproximação
com as pessoas, e até pode se dizer que é um estilo diplomático e que, portanto, acaba por
favorecer as negociações, seja com colaboradores, parceiros ou clientes.
94
O significado do trabalho e do poder para as mulheres
“A atitude das mulheres no mercado é problemática. Elas não lutam o suficiente pelo
poder. Amiúde até superam os homens, mas optam por não lutar (...). Algumas mulheres não
gostam de competição em campo aberto.”
2
(CEBRIÁN, 2002 chefe do grupo PRISA).
Lobos (2002) aponta duas formas de poder: o bruto e o persuasivo. No caso, Cebrián
estaria se referindo ao primeiro tipo. As mulheres aplicam o poder persuasivo. A aculturação
feminina valoriza a cooperação e o poder persuasivo é mais “civilizado” e mais adequado à
formação das equipes, de relações com os clientes e fornecedores, de parceria com os
concorrentes. Segundo Lobos (2002), as mulheres como são defensoras do poder persuasivo
se tornam vitais na democratização da comunicação interna e na montagem de uma estrutura
decisória distribuída através da hierarquia e não apenas concentrada no topo da pirâmide.
Uma pesquisa que cruzou culturas de seis sociedades modernas pediu a homens e
mulheres para descreverem o seu eu ideal, isto é, “o tipo de pessoa que eu gostaria de ser”. A
maioria dos homens se auto descreveu como “ousado, competitivo, capaz, dominante,
assertivo, admirado, crítico e controlado.” Já a maioria das mulheres escolheu o seguinte
conjunto de adjetivos: “calorosa, amorosa, impulsiva, generosa, simpática e afetiva.” (MOIR
e JESSEL, 1992, p. 133).
As mulheres, conforme coloca Barletta (2003) não têm a intenção de ser admiradas,
assim como não desejam ser desprezadas. Para elas, no mundo feminino a posição ideal é
lado-a-lado. Essa posição é para elas tão importante e confortável, quanto o poder da pirâmide
é para os homens.
Partindo do pressuposto, de que se você é uma boa pessoa, sempre terá alguém com
quem conversar, trocar idéias ou partilhar experiências, seu grupo se beneficiará do
conjunto dos talentos e recursos de todo mundo; e como você receberá insumos de
todo mundo ao decidir a direção, todo mundo terá interesse em ver o sucesso do
grupo. (BARLETA, 2003, p. 95).
A relação com o poder se dá de forma distinta entre homens e mulheres. O homem
busca o poder, para ele o poder é sinônimo de status, já uma mulher pode não ambicionar o
lugar mais alto numa empresa, o que não significa que ela pretenda evitar a autoridade e o
poder. Segundo Baker (1991), para a mulher o poder é a capacidade de implementar.
2
Grupo PRISA (uma espécie de Organizações Globo espanhola), apud Hite, Shere. 2000. Sex & Business. Grã
Bretanha. Pearson Education. In Lobos 2002, p. 91.
95
Para Lobos (2002), a idéia de liderar colocando-se à frente das tropas é estranha às
mulheres, afinal elas trazem consigo uma história de submissão cujas seqüelas permanecem
até os dias atuais. Para o autor, as mulheres não lidam bem com o poder, pois temem ter o
estilo feminino questionado por colegas, superiores e subordinados, ou se bandeiam para o
estilo “machão”, contrariando sua própria natureza.
Outra versão para esta questão, apresentada por ele é a de que a conquista do poder,
para a mulher, vem associada à idéia de solidão, ou seja, “Se eu for glorificada, não precisarei
mais de ninguém, e ninguém também precisará mais de mim.” Dessa forma, a mulher redefine
a fórmula de sucesso, ao invés de “alcançar a meta”, sucesso passa a ser “fazer um trabalho
bem feito”, e com isso as atenções recaem sobre o processo em si, e não apenas sobre o seu
desfecho, o que parece fazer bastante sentido. (LOBOS, 2002, p.93).
Os homens já tendem a considerar os negócios como um assunto de ganhar ou perder.
(FISHER,1999). “Eles atribuem maior valor aos títulos, ao espaço de seu escritório, a um
salário elevado e às horas extras: os distintivos e emblemas de seu nível hierárquico.”
(KELLY, 1991, p. 100).
O trabalho em si também tem um significado bastante diferente para homens e
mulheres. Os homens costumam se definir através do trabalho. Os negócios e a política foram
criados à imagem do homem. Desde a infância e por toda a vida, os homens se vêem
envolvidos em jogos de poder. Até mesmo seu jeito de ser – a postura, a maneira de falar,
gesticular e sentar-se – é mais agressivo que o das mulheres. E o mundo dos negócios reflete
esses valores. (EVATT, 1993).
Os homens podem se sentir arruinados e inúteis, quando atingidos pela falta de
sucesso profissional, ou por um golpe financeiro. A satisfação pessoal das mulheres já está
ligada ao fato de possuírem relacionamentos compensadores com outras pessoas.
(SHAEVITZ, 1991).
As mulheres, segundo a psicóloga De Angelis (2000), tendem a encobrir sua primazia
e competência, temendo parecer arrogantes e presunçosas. Por essa razão, muitas mulheres
preferem ficar na posição de espectadoras e aplaudir as conquistas dos outros, afinal para elas
“aplaudi-los é uma forma de cuidar deles”.
Já Schaef (1981), põe em questão o significado do poder para os gêneros:
... no Sistema Feminino, o poder é visto de forma bastante parecida com o amor: não
tem limites,e, quando compartilhado, regenera e se expande. Não é necessário
armazená-lo, pois só aumenta quando é dado. Inversamente, os homens geralmente
acham que o poder é limitado; a questão é: poder sobre quem? Ou você o tem sobre
os outros, ou alguém o tem sobre você.. (SHAEF, apud EVATT, 1993, p. 49))
96
Perfeccionismo: Atenção aos detalhes
As mulheres se preocupam mais com os detalhes: o cabo solto, a gravata torta, analisa
Lobos (2002).
As mulheres possuem uma tendência a captar melhor os detalhes e as nuances. Um
estudo, conduzido pelos pesquisadores Gálea e Kimura, conclui que “conversando com casais
após uma viagem conjunta, as mulheres se lembravam de mais detalhes dos lugares e das
paisagens do que os homens.” (KIMURA, 1999, p. 89).
Pode-se dizer que a busca pelo perfeccionismo, presente na maioria das mulheres, está
diretamente ligada à atenção aos detalhes, e esta por sua vez à forma com que a mulher “olha”
para seu entorno. Segundo MacGuiness (1979) a visão da mulher é periférica, enquanto o
homem vê as coisas em profundidade, a mulher as vê em amplitude, ou seja, segundo ele, as
mulheres têm um campo de visão muito maior. É provável que as mulheres tenham
desenvolvido essa aptidão em um passado remoto, quando tinham de vigiar seus filhos
enquanto trabalhavam. Hoje em dia as mulheres utilizam essa aptidão no trabalho, são
“experts” em ler posturas corporais, bem como são capazes de rapidamente reconhecer
pessoas pelo nome no meio corporativo, como clientes da empresa, isto por apresentarem uma
melhor memória visual.
As mulheres também apresentam uma forte capacidade para ler expressões faciais
Kolata (1995) observa que as mulheres, no geral, são melhores para decifrar emoções olhando
na cara de outra pessoa.
Estudos realizados por norte-americanos, indicam que independentemente da cultura,
as mulheres se apresentam mais capazes que os homens para fazer interpretações faciais,
assim atesta um estudo realizado em doze países de culturas distintas, incluindo as aldeias de
Nova Guiné. (EKMAN e FRIESEN, 1971, pp.124-129).
A aptidão, ou a tendência a interpretar expressões e emoções facias, mais desenvolvida
na mulher e menos desenvolvida no homem, de um modo geral, pode ser explicada em parte
pelo papel da mulher em cuidados com seus filhos: em tempos ancestrais a mulher
desenvolveu a habilidade de interpretar expressões faciais como forma de cuidar de seus
filhos antes que pudessem falar o que sentiam e também para conhecer e julgar seu parceiro.
Atualmente esta aptidão é levada para o mercado de trabalho, lhe conferindo várias
vantagens. Cada vez mais se tem de lidar no mundo dos negócios com comportamentos
diferentes de colaboradores e clientes, inclusive, devido à globalização, com pessoas de
97
culturas diferentes e, para lidar com eficácia com essa rede de personalidades e culturas tão
complexa, é necessário ter domínio sobre todos os detalhes sociais possíveis.
Em complementaridade às expressões, a leitura da linguagem corporal, também é uma
aptidão mais forte nas mulheres, exatamente pela mesma razão: atenção aos detalhes. As
pessoas transmitem 90% de sua mensagem através de seu corpo, ou seja, “90% das
mensagens emocionais das pessoas são não-verbais.” (GOLEMAN, 1995, p.9).
Testes realizados com homens e mulheres de dezenove países atestaram que a mulher
é superior ao homem na hora de interpretar as emoções dos demais, através de tom de voz,
postura, gestos e outros impulsos não-verbais. (HALL, 1984; GOLEMAN, 1995). As meninas
e as mulheres prestam mais atenção à linguagem corporal, enquanto a tendência é de que os
homens se concentrem mais nas palavras. (MCGUINESS e PRIBRAM, 1979).
Com isso é fácil de se entender porque as mulheres têm uma tendência em acertar
mais que os homens, ao fazer juízo de uma pessoa, o que vem a lhe dar uma vantagem para
desenvolver relacionamentos mais abertos e “francos” com colaboradores e clientes.
Outro elemento ligado à atenção aos detalhes é, segundo Silverman e Eals (1992) a
“memória locativa” da mulher, a que definiram como a habilidade feminina para recordar
lugares fixos. As mulheres se orientam por meio de objetos estacionários distribuídos em um
espaço determinado. Ao darem direções, as mulheres costumam dizer “Vira à esquerda depois
da floricultura, e logo à direita quando avistar uma parede alta de pedra.” (FISHER, 2000, p.
136). Quando as mulheres dão direções elas, de uma forma geral, especificam o dobro de
pontos concretos do que os homens. Os homens, por sua vez, tendem a orientar-se pela
distância e pelos pontos cardinais. Eles costumam dar orientações da seguinte forma: “Ande
um quarto de milha até o norte pela auto-pista 9, depois umas quinhentas jardas a leste pela
estrada 21” (MILLER e SANTONI, 1986, pp. 225-235). “Quando os homens dão direções
eles incluem o dobro de referências quantitativas e cardinais que as mulheres.” (MILLER e
SANTONI, ibdem).
A explicação encontrada para a atenção aos detalhes espaciais, também dada por
Silverman e Eals (1992) parece fazer bastante sentido: eles se baseiam na hipótese de que a
forma feminina de orientação provém de tempos remotos, quando as mulheres tinham a
necessidade de recordar a localização de poços d’água e espessuras de frutos silvestres, e a
localização das árvores de frutas onde faziam suas colheitas. As mulheres tinham de usar
essas referências estáticas para encontrar seus caminhos de volta para a casa. Já, o que tudo
indica, é que os homens tenham desenvolvido sua forma de percepção espacial por sua
atividade mais remota: a caça. Os caçadores teriam de tomar conta dos animais apreendidos,
98
enquanto acompanhavam o deslocamento dos antílopes e o vôo dos pássaros. Assim, ter
conhecimento da posição do sol e calcular a distância percorrida em uma dada direção era
uma forma prática de orientar-se quando seguiam uma presa em movimento.
Se é fato que no passado essas duas formas de orientar-se eram vitais, a forma de
orientar-se desenvolvida pelas mulheres lhes confere, hoje, no ambiente de trabalho, uma
grande vantagem: elas são capazes de tomar todos os detalhes da sala de trabalho ou espaço
de trabalho de um colaborador ou superior, como fotografias, quadros, pertences pessoais
expostos, conhecerem mais sobre essa pessoa através desses elementos e, ainda, utilizar essa
gama de detalhes para aprimorar seus relacionamentos pessoais dentro do ambiente de
trabalho.
Os sentidos nas mulheres são, de uma forma geral, bastante aguçados. Por possuir um
delicado sentido de tato, elas são capazes de reconhecer até o tipo de um aperto de mãos.
Possuem ouvidos sensíveis capazes de captar a oscilação no tom de voz de seu interlocutor.
Percebem cheiros à distância, notam o cheiro na roupa de outra pessoa, bem como no seu
ambiente (quarto, escritório). Assim, segundo Fisher (2000) acabam por se dar bem em todo
tipo de tarefa que exija atuar com inteligência, intuição e tato, como as profissões de
intérprete, advogadas, mediadoras, agentes sociais e, acima de todas, “profissões de gentes”.
O dom natural ao tato, inerente à mulher, faz com que aporte ao mundo do trabalho
um talento social, sendo que, segundo a Psicologia, elas são tidas como mais “destras”, de
uma forma geral, no quesito que os psicólogos denominam de “sensibilidade interpessoal”.
(FISHER, 2000, p. 138).
Segundo Lobos (2002, p. 95) “as mulheres costuravam roupas e as executivas de hoje
costuram” relações humanas, ambas tarefas fazem com perfeição”.
Comparando-se as características da personalidade executiva desejável para atuação
em hospitalidade comercial apresentada nesse capítulo com as respostas levantadas através
das entrevistas junto às executivas do segmento de hospedagem, constatou-se que muitas
delas foram identificadas nessas executivas. A questão aberta formulada foi: “Você acredita
que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação com a área da
hospitalidade?”.
“Sim. As mulheres têm facilidade em desempenhar várias atividades ao mesmo tempo.
Acredito que esta facilidade se dá não apenas por uma característica do sexo feminino,
mas também pelo fato da criação. A mulher desde criança recebe mais atividades que os
homens, assumindo assim mais responsabilidades e exercendo uma multifuncionalidade
que na maioria das vezes não é encontrada nos homens. A área de hospitalidade por sua
vez requer profissionais que apresentem equilíbrio entre o racional e o emocional.
99
Necessita de pessoas capazes de atuar energicamente (em determinadas situações) mas
sem perder a doçura. As diversas facetas e a capacidade de multifuncionalidade da mulher
contribuem e facilitam seu desempenho nessa área.” (Maisa Duque, gerente de serviços)
Sim, acredito. Acho que a mulher tem muito mais jeito para trabalhar o “servir”, o
“recepcionar”, o “atender bem”. Ao mesmo tempo que a mulher tem a sensibilidade de
perceber com facilidade o que outra pessoa está sentindo, desejando, ela tem uma
personalidade forte, capaz de resolver problemas difíceis exatamente pela sensibilidade,
mesmo que precise ser mais ríspida ou enérgica. Além disso, a mulher é detalhista,
exigente em relação à limpeza, à qualidade de um atendimento, à postura dos profissionais
que lidera; a mulher se preocupa com o próximo (funcionário) – com seu bem-estar, sua
satisfação, seu crescimento profissional. Estas características, muito presentes nas
mulheres, facilitam-me no desempenho e identificação com a área da hospitalidade.”
(Regina Carrijo, gerente geral)
“Acredito 100%. Claro que também há vários homens de sucesso na área, porém, acredito
que a mulher tem características que são determinantes em muitos casos. As mulheres são
mais detalhistas, são intuitivas, são mais sensíveis, são mais pacientes, são mais
acolhedoras,... A área de hospitalidade transmite muito a idéia de gostar de receber, saber
acolher, cuidar do hóspede,... E se tratando de equipe, acredito que a mulher consiga
“quebrar barreiras”, entre o chefe e o funcionário com mais facilidade.” (Tatiana Teixeira
Vaz, gerente de serviços)
“Sem querer desmerecer aos homens, pois meu chefe, Sr. Christer Holtze é muito admirado
por todos, acho que a mulher, sem dúvida tem muito mais carisma. Nós conseguimos
entender melhor certas situações “femininas”, como também damos mais atenção aos
detalhes o que as vezes pode passar um pouco despercebidos por eles! É claro que se pode
contratar ótimas governantas que venham a suprir essa “deficiência”, mas como eu
sempre digo; ”Se você não souber fazer, não saberá cobrar”!!” (Rachel Golfetto, gerente
geral)
“Acredito que sim. As situações que vivemos ao longo da vida, as experiências que
vivenciamos, a educação que recebemos nos transformam e somam muito à personalidade de
cada um. No entanto, acredito também que a mulher faz algumas coisas de maneira especial
ao colocar seu coração nelas. A maneira de demonstrar preocupação natural com as pessoas
as sensibiliza e traz resultados, principalmente na área de serviços, onde a percepção é
fundamental. É algo involuntário e natural, quando se faz o que se gosta.” (Leandra Gallo
Antão, gerente geral)
“Muitas características femininas como por exemplo, emotiva, intuitiva, formadora, auxiliam
situações presentes na área de hospitalidade. O desenvolvimento dessas habilidades femininas
auxilia no desempenho e faz com que as pessoas também se identifiquem comigo para o
desempenho da tarefa “servir”. Servir, entenda por atuar em hospitalidade em qualquer
cargo. (Fernanda Muniz, gerente de serviços)
“Acredito que sim, mulheres são mais sensíveis, captam com facilidade as necessidades das
pessoas, acolhem muito bem. Além de serem determinadas e não desistirem no primeiro
obstáculo.” (Mariana Fiori, gerente geral)
“Sim, apesar de soar “feminista” demais, percebo que em alguns momentos, o fato de ser
mulher, da bagagem e educação que temos desde pequenas, conseguimos nos familiarizar
melhor com atividades especificas da hospitalidade que estão diretamente ligadas ao objetivo
de fazer com que nosso cliente se sinta em “casa”. (Cristina Reis Marques, supervisora
operacional)
Resultados das características da Personalidade Feminina levantados através das
entrevistas junto às gestoras do segmento de hospitalidade.
100
Após a tomada dos depoimentos foi apresentado às executivas entrevistadas um
quadro com 33 características, construído com base nos referenciais teóricos e acrescidos de
outros de forma aleatória, buscando verificar se as características por elas escolhidas
correspondiam aos pressupostos assumidos pela pesquisa. As entrevistadas deviam fazer a
seguinte atribuição de pontos para classificação:
(4) se a característica tinha a ver com sua personalidade executiva e fosse assim na sua
vida pessoal;
(3) se a característica tivesse a ver com sua personalidade executiva, mas não fosse
assim em sua vida pessoal;
(2) se a característica não tivesse nada a ver com sua personalidade executiva, porém
considerasse essa uma característica importante para um gestor em sua área.
(1) se a característica não tivesse nada a ver com sua personalidade executiva e
também não concordasse que essa fosse uma característica importante para um gestor
em sua área.
O resultado apurado com relação às características analisadas nesse estudo, dentro de
um total de 9 executivas entrevistadas foi o seguinte:
Quadro II-a - Resultados Pesquisa Características da Personalidade Executiva Feminina
Grupo I -Características do gênero feminino
Incidência das respostas:
Característica (4) (3) (2) (1) TT
Paciente 4 3 2 0 9
Boa ouvinte 6 3 0 0 9
Cultivadora de Relacionamentos Interpessoais
7
2 0 0 9
Detalhista / Perfeccionista
8
1 0 0 9
Foco no Processo 3 5 1 0 9
Intuitiva 4 5 0 0 9
Versátil / Multifuncional
8
1 0 0 9
Criativa 3 6 0 0 9
Amor ao Próximo
9
0 0 0 9
Transcendente 2 0 0 3 5
Emotiva 5 0 2 0 7
Comunicativa
8
1 0 0 9
101
As respostas 4 e 3 indicam a características fazendo parte da personalidade da
executiva entrevistada, sendo que se não for uma característica também pessoal (4), foi uma
característica desenvolvida no cenário do trabalho, provavelmente por forças das
circunstâncias, mas ambas alternativas (4) e (3) indicam que a característica (pessoal ou
adquirida) é presente na executiva.
Assim, pode-se construir o seguinte quadro sobre as características presentes na
personalidade executiva das nove gestoras entrevistadas:
Quadro II-b - Resultado da Pesquisa: Características da Personalidade Executiva
Feminina e Qualidades Pessoais.
Grupo I -Características do gênero feminino
Característica Incidência Característica Incidência
Paciente 7 / 9 Boa ouvinte 9 / 9
Cultivadora relacionamentos
interpessoais
9 / 9 Detalhista Perfeccionista 9 / 9
Foco no Processo 8 / 9 Intuitiva 9 / 9
Versátil / Multifuncional 9 / 9 Criativa 9 / 9
Amor ao Próximo 9 / 9 Transcendente 2 / 5
Emotiva 5 / 7 Comunicativa 9 / 9
Através do quadro acima pode-se constatar que as qualidades citadas foram indicadas
pelas entrevistadas como fazendo parte da personalidade executiva de uma forma geral. Com
o objetivo de analisar se tais características fazem parte de suas personalidades como pessoa,
ou seja, se fora do ambiente de trabalho elas apresentam tais qualidades, mediu-se a
incidência do índice de respostas da classificação (4). Tomando-se o quadro resumo de
incidência de respostas, tem-se que:
9 das 9 entrevistadas indicaram Amor ao Próximo como uma qualificação de
sua personalidade executiva e pessoal.
8 das 9 entrevistas indicaram Comunicativa, Versátil/Multifuncional,
Detalhista/ Perfeccionista, como qualificações de sua personalidade executiva
e pessoal.
7 de 9 entrevistadas indicaram Cultivadora de Relacionamentos
Interpessoais, como qualificação de sua personalidade executiva e pessoal.
102
Interessante notar que, de uma forma geral, as entrevistadas afirmam que aplicam suas
qualificações pessoais no ambiente de trabalho, sendo que não houve qualquer indicação, em
nenhum dos quesitos (qualificações indicadas) de mudança de comportamento pessoal para se
adequar à forma masculina de administração, o que talvez já seja um indicativo da formação
de uma forma de administrar feminina, baseada em características próprias das mulheres em
decorrência do condicionamento sócio-cultural que determinam o que é próprio do universo
feminino.
Grupo II : Características (identificadas na forma de gestão masculina)
Característica (4) (3) (2) (1) TT
Assertiva
6 2 1 0 9
Enérgica
4 1 2 2 9
Competitiva
1 4 3 1 9
Focada em resultados
3 6 0 0 9
Racional
6 1 1 0 8
Objetiva
8 1 0 0 9
Direta
8 1 0 0 9
Empreendedora
2 7 0 0 9
Franca
9 0 0 0 9
Os resultados mostram que as entrevistadas também apontam características, tidas
como do gênero masculinos, de acordo a este estudo, sendo detentoras de tais características
em sua vida pessoal e as importando ao seu meio de trabalho, assim:
9 entre 9 das entrevistadas indicaram serem francas na vida pessoal e dentro do
ambiente de trabalho. Aqui vale a ressalva do significado de ser franca, que ao
que parece tem mais a ver com o sentido de ser honesta, transparente e
verdadeira, do que ser direta em sua comunicação, ou seja, falar aquilo que
pensa;
8 entre 9 entrevistadas indicaram serem diretas e objetivas na vida pessoal e
dentro do ambiente de trabalho;
6 entre 9 das entrevistadas indicaram serem assertivas e racionais tanto em sai
vida pessoal, como em seu ambiente de trabalho.
103
Este resultado deve ser acrescido ao do quadro II, para se entender a forma de gestão
da mulher em pleno século XXI, ao que parece uma mistura bem dosada de doçura,
sentimento, sem deixar de lado sua racionalidade, a busca por resultados e sua assertividade.
Assim, entende-se que a mulher embora inserida num universo de trabalho moldado
de acordo aos valores masculinos de gestão, tem aprendido a respeitar as regras desse
ambiente, sem contudo deixar de lado seus papéis essencialmente femininos.
104
CAPÍTULO 6: LIDERANÇA FEMININA
Os homens cresceram em um meio social em que liderar era um atributo masculino,
aprenderam desde cedo que tinham de lutar pelo poder e fazer uso desse poder, ao mesmo
tempo em que deviam “saber abafar suas emoções, parecerem implacáveis, disciplinar os
insurgentes, e acima de tudo, aparentarem absoluta onipotência (LOBOS, 2002, p. 114). Para
as meninas a liderança não é atribuída à mais bronca ou decidida, e sim a mais popular, à
bem-quista. No universo feminino as chances de liderar são passageiras e rotativas, “o poder
bruto é substituído pela influência, a vida pode ser vivida de uma perspectiva que não seja a
vertical.” (LOBOS, ibidem).
Durante muito tempo as mulheres optaram pelo estilo de liderança masculino no
mundo empresarial para poder sobreviver em um ambiente criado e dominado pelos homens.
Isto se refletia tanto em sua forma de gerir, como também em sua apresentação pessoal: seus
trajes eram escuros, estilo “terninho” e por um período até chegaram a utilizar ombreiras no
estilo do uniforme militar. Freqüentavam cursos de assertividade no trabalho na tentativa de,
mediante treinamento, condicionar sua linguagem e expressão corporal, a fim de ser mais
objetivas e diretas, estilo esse característico do gestor masculino.
Esse comportamento ‘masculinizado’ no ambiente empresarial em muito se explica
pelo fato da administração ter sido categorizada como uma profissão masculina. (KANITZ,
2000). Muito da teoria e modo de pensar em administração vem de uma forma masculina de
ver o mundo: modelo de hierarquia piramidal, administração focada em resultados e metas,
raciocínio calculista, comunicação assertiva e objetiva. E muitos dos termos usados nesse
meio têm origem claramente militar: ‘companhia’, ‘divisão’, ‘campanha’ publicitária, ’guerra’
de preços, ‘aniquilar’ a concorrência, ‘conquistar’ mercados, e assim por diante.
Por outro lado, características femininas como intuição e emotividade eram mal vistas
pelas empresas, uma barreira para a ascensão das mulheres na escala hierárquica, escala essa
piramidal e preferida pelo estilo de gestão masculino. O estilo racional predominou por muito
tempo como modelo ideal de gestão, especialmente no que dizia respeito a planejamento
estratégico. Segundo entrevista de Blecher (1997) à revista Exame “até mesmo as mulheres,
reconhecidas por terem maior senso intuitivo, negavam que faziam uso dessa capacidade na
sua vida profissional”, e provavelmente agiam desse modo com medo de ser consideradas
incapazes para gerir uma empresa, com base em sua intuição.
105
Porém, se manter a liderança feminina é difícil, mudar seu estilo, para se adequar às
normas masculinas poderia criar muito mais dificuldades para as mulheres e para as
organizações. Hoje, é indiscutível a necessidade que as empresas têm de criar perspectivas
interpessoais, com uma orientação voltada para as pessoas, que é exatamente o tipo de
abordagem que a gestão feminina parece oferecer. As organizações sabem que desenvolver
relacionamentos autênticos e íntimos entre funcionários em todos os níveis, é o primeiro
passo para gerar maior cooperação, intimidade e confiança e essa iniciativa deve ser tomada a
partir dos níveis executivos e senior. (LODEN, 1988).
Muitas dessas característica que vêem sendo apontadas como críticas para o sucesso
das organizações, como preocupação com as pessoas, habilidades interpessoais,
administração intuitiva, e soluções criativas para os problemas, são qualidades que
as mulheres, como um grupo, são encorajadas a desenvolver e a confiar por toda
suas vidas. (LODEN, 1988, p. 61).
É bastante provável que é pelo fato das empresas estarem buscando um “foco
humanista” que mais e mais mulheres se vêem ocupando cargos gerenciais. Mudanças de
paradigmas institucionais das empresas, nas três últimas décadas, substituíram estruturas
rígidas e centralizadas por formas mais flexíveis de gestão, facilitando a ascensão das
mulheres a postos gerenciais e diretivos na hierarquia empresarial. (ROSA, 2003).
O processo de incorporação da força laboral feminina que até então tinha sido
marcado pela ocupação dos espaços subalternos nas hierarquias empresariais agora
assume novas configurações. O mundo empresarial em mudança trouxe também
implicações para o discurso gerencial e de autopercepção das executivas. (ROSA,
2003 In: Revista Habitus, mar/2003, p. 5-14).
Aliando competência e características virtuosas atribuídas pela experiência do gênero,
as mulheres passaram a justificar sua ocupação nos cargos superiores enfatizando qualidades
que supostamente adquiriram em função de sua história social. Tais atributos passaram a
constituir seu ‘capital’ para desenvolvimento de sua carreira profissional. O discurso
“igualitário” defendido pelas feministas’ passa a dar lugar ao discurso da “diferença”,
caracterizado pela valorização de atributos conferidos pela experiência do gênero. (ROSA,
2003).
Para Loden (1988), as habilidades que as mulheres foram encorajadas a abandonar ao
entrar no mundo administrativo passaram a ser reconhecidas como críticas para o sucesso dos
negócios e sobrevivência das organizações em longo prazo. Assim, apesar do aprendizado que
propagava a rigidez e o modelo de tomada de decisão gerencial racional, ensinado nos
106
melhores cursos de administração, passou-se a reconhecer nas empresas a necessidade de
habilidades de gestores mais orientados às pessoas, habilidades essas que a maioria das
mulheres aprendia a valorizar e aplicar desde a sua infância. Essas habilidades passaram a
constituir uma abordagem administrativa, a qual Loden denominou de “liderança feminina”.
A liderança feminina é um estilo administrativo que utiliza a capacidade total dos
talentos e habilidades femininas como nunca. É uma abordagem de liderança que está
ligada às diferenças entre os sexos, à socialização desde a infância, e ao conjunto
único de experiências de vida desde o início da infância, que moldam os valores,
interesses e comportamento das mulheres como adultas. (LODEN, 1988, p. 61).
Segundo Wajcman (1998), para as mulheres conseguirem igualdade de tratamento
dentro de uma estrutura machista – paternalista, elas passaram a valorizar atributos entendidos
como exclusivamente femininos, criando uma nova imagem de mulher de negócios atrelada
às suas características femininas.
Larroudé (1992), autora do livro “Mulheres- muito além do teto de vidro”, pesquisou o
estilo de trabalho de 51 empresárias e executivas brasileiras, e concluiu que 98% de suas
entrevistadas rechaçam a idéia de que devem se masculinizar para ganhar o poder. Para a
autora a masculinização é um termo criado para definir mulheres que se comportam, se
vestem e pensam como os homens no ambiente de trabalho.
O estilo de liderança feminino está atrelado ao papel social da mulher em um meio
que, por séculos e, ainda hoje, é um espaço exclusivo feminino: o doméstico. Para se entender
a forma de liderar e gerir feminina deve-se levar em conta séculos de cultura que
condicionaram o papel da mulher. As mulheres durante séculos tiveram filhos, negociaram,
chegaram a consensos, educaram, criaram valores e referências. Durante séculos tomar conta
da família e do bem-estar dos outros foi uma preocupação intrínseca à personalidade
feminina. Dessa forma, é natural que essas características sejam por ela importadas quando da
sua transferência do espaço doméstico para o social e empresarial. A mulher, como gestora, se
preocupa na empresa pelo desenvolvimento e bem-estar de seus colaboradores, assim, educar,
treinar, ensinar, formar, (coaching), transmitir experiências e valores (mentoring), identificar
o que cada um tem de especial e extraordinário em si próprio, potencializar o
desenvolvimento de cada um e do grupo, pode-se dizer que são funções que fazem parte do
papel da mulher desde sempre.
107
A personalidade da gestora feminina e sua identificação com a área da hospitalidade
Com a entrada da era da informação, a proliferação da indústria de serviço, e o ser
humano como elemento central na cadeia de produção, a racionalidade excessiva parece ter
caído em desuso e a intuição parece ter sido reconhecida e bemquista no mundo empresarial:
hoje é patente o fato de muitas empresas estarem abertamente em busca de gestores intuitivos.
A abordagem intuitiva permite que executivos lidem com situações complexas
quando têm em mãos menos dados quantitativos. Não que esses dados deixem de ser
considerados. Sucede que eles passam a ser apenas parte da solução do problema. O segundo
ponto que valoriza a intuição é que ela liberta a mente para a criação. Em vez de basear-se
exclusivamente em fatos e dados conhecidos, a pessoa que desenvolve habilidades intuitivas é
capaz de formular caminhos originais e, daí, serem mais criativas.
A intuição vem ganhando força no meio empresarial dada a preocupação das
empresas com a eficiência na administração de seu pessoal. A sensibilidade e a intuição
trabalham juntas para fornecer aos executivos dados úteis sobre a percepção e as atitudes dos
funcionários e clientes. Elas tornam possível ao executivo estar sintonizado com sua equipe,
amplificar o que é apenas mencionado e, com freqüência, enxergar o invisível.
A maioria dos executivos tradicionais sabem pouco sobre intuição, como funciona e
de onde vem", eles sabem menos ainda sobre como desenvolver suas próprias
habilidades para usar a intuição de forma eficiente,as mulheres, ao contrário,
parecem ser capazes de correr até de salto alto nesse terreno. (LODEN, 1988, s/n).
O psicólogo norte-americano Agor (1986), professor da Universidade do Texas e autor
do livro Intuitive Management, realizou um teste com mais de 2.000 executivos norte
americanos para detectar o grau de confiança deles em relação aos atributos de intuição e
razão. Agor descobriu que as mulheres confiam, mais do que os homens, no estilo intuitivo de
gestão e revela haver uma semelhança curiosa no estilo de executivos em posições elevadas.
A prática do pensamento intuitivo (presente em mulheres de todos os níveis) aumenta na
proporção em que o homem sobe na hierarquia. O que isso demonstra? Homens que disseram
confiar na intuição eram os que ocupavam os cargos mais importantes das empresas.
Outro estudo realizado pelo IMD – International Institute for Management
Development, na Suíça, publicado no livro de Parikh, Neubauer e Lank (1994) constatou que
80% dos 1312 executivos entrevistados em nove países consideram que a intuição se tornou
importante para formular a estratégia e o planejamento da empresa. 53% dos entrevistados
declararam que recorriam à intuição e à lógica, na mesma proporção, quando tinham de tomar
108
uma decisão. A pesquisa em referência também apurou que as mulheres entrevistadas
apresentavam um nível de intuição sensivelmente superior aos homens entrevistados.
Sensibilidade, intuição, habilidade de relacionar-se com clientes e comunidades,
organização, disposição, são dotes femininos que neste século farão a diferença. O
homem foi o importante ator das transformações na Era Industrial. A vez agora é da
mulher participar ativamente nos grandes movimentos da era em que os serviços e
entretenimento estão na tona. (BARROS, 2004).
Com relação à emotividade, de uma forma geral, as mulheres apresentam um
coeficiente mais elevado desse fator. Segundo Goleman (1996) nós acreditamos que a
inteligência é a razão e acreditamos que agimos sempre com a lógica, mas isto é um erro. E
esclarece: aquilo que nos move é o afeto, a decisão que vem do sentimento, mesmo quando
estamos convencidos do contrário.
Um aspecto do início da socialização que tem efeito direto no comportamento das
líderes femininas é a permissão social que receberam para expressar seus sentimentos. As
mulheres cresceram em um ambiente que lhes permitia e freqüentemente as encorajava a
expressar emoções livre e abertamente. Assim, é perfeitamente aceitável que as meninas
chorem. Já os meninos cresceram ouvindo que os homens não choram, que só os maricas
demonstram emoções que não são agressivas e, conseqüentemente, masculinas. A maioria dos
homens aprende cedo na vida a construir barreiras contra a demonstração de sentimentos e
emoções que aprenderam a ver como femininas. (LODEN, 1988).
Como desde jovens não havia nada de impróprio em demonstrar emoções, as líderes
femininas vêem as emoções como uma parte natural das interações humanas. Para as líderes
femininas, lidar com os sentimentos não significa ter de reprimi-los, mas ao contrário,
significa encorajar os demais para que deixem aflorar suas emoções. “Do ponto de vista das
líderes femininas, a interação humana produtiva envolve o intercâmbio e a expressão tanto do
pensamento quanto dos sentimentos”. (LODEN, 1988, p. 125).
As mulheres não só expressam suas emoções com maior freqüência, senão também
com maior precisão. Seja alegria, repugnância, horror ou surpresa, as mulheres são mais aptas
para expressar exatamente o que sentem por meios não-verbais, especificamente em relação à
expressões faciais. Na verdade, a cara da mulher é, de forma geral, sensivelmente mais
expressiva. (HALL, 1984).
Para Loden (1988), as líderes femininas aplicam de forma natural as técnicas que os
líderes tradicionais se esforçam para adquirir: a gestão de “coração e mente”, isso porque
segundo ela “as líderes femininas trazem em si uma franqueza e profundidade de sentimentos
109
às pessoas com quem trabalham que só pode ser descrito em termos de “coração”. (LODEN,
1988, p. 129).
O psicólogo social e antropólogo Michael Maccoby realizou uma pesquisa em
organizações, analisando o tipo de gestão que essas valorizavam, e concluiu que, de uma
forma geral, as organizações premiam os executivos que usam a mente, a fim de manter uma
relação racional com seu trabalho, resolver problemas, e desenvolver idéias. Para Maccoby
(1983), faltam as qualidades de coração nas organizações, e isso se deve ao fato de haver uma
dicotomia entre coração e mente nos ambientes organizacionais. “As pessoas pensam nas
qualidades do coração como sendo opostas àquelas da mente. Elas acreditam que coração
significa flexibilidade, sentimentos e generosidade, ao passo que mente significa
inflexibilidade, pensamento com base em fatos reais”. (MACCOBY apud LODEN,1988,p.
129). Porém, Maccoby faz uma correção a esse tipo de pensamento, alegando que alguns tipos
de conhecimento requerem ambos coração e mente.
A mente sozinha pode decifrar códigos, solucionar problemas técnicos, e fazer
contas, mas nenhuma quantidade de conhecimento técnico pode solucionar dúvidas
emocionais sobre o que é verdadeiro e o que é bonito. Nenhuma quantidade de
técnica pode produzir coragem. A mente sozinha não pode dar peso emocional e
espiritual ao conhecimento em termos de valores humanos. A mente pode ser
inteligente, mas não pode ser sábia. (MACCOBY, ibdem).
Segundo os consultores americanos Hammer e Champy (2004), ao estudarem
empresas que passaram por programas de reengenharia, declaram ter descoberto um novo
mundo do trabalho. Em tais locais, segundo os autores, já não basta mais utilizar apenas a
cognição, a atividade exercida pelo lado esquerdo do cérebro. É necessário mobilizar o lado
direito, de onde fluem atitudes e emoções, e portanto, ninguém melhor que as mulheres.
Outro fator ligado à liderança e formação de um bom líder é a sua capacidade de
trabalhar em equipe. E neste quesito há uma poderosa razão que contribui para valorizar o
estilo feminino de administrar. Um dos principais impactos da reengenharia nas empresas foi
a implosão de uma hierarquia rígida e verticalizada. Tal estrutura passou a ser vista como um
empecilho à necessidade de responder às novas exigências dos clientes e às rápidas mutações
do mercado. Em vez disso, passou-se a pontificar o trabalho em equipe, um sistema mais
flexível. E é exatamente aí que se encaixa a valorização do jeito feminino de administrar.
Uma equipe é uma das coisas mais difíceis de dirigir. É realmente preciso um ótimo
gerente para formar um tipo de equipe na qual as pessoas de fato trabalhem em
conjunto, se ajustem, aceitem sugestões e vão em frente como uma unidade.
(DRUCKER, 1996, p. 54).
110
Drucker (1996) não falou que esse "ótimo gerente" deveria usar saia. Mas há uma
notável coincidência entre as características que ele prescreve para esse gerente e os atributos
típicos de uma mulher executiva.
Swiss (2000) faz a seguinte comparação sobre o conceito de team work para homens e
mulheres:
Apoiar outros colegas, cumprir com as diretrizes superiores e fazer o que precisa ser
feito – não importando se você gostar ou não, seria a definição masculina. Apoiar os
outros, compartilhando informações e ouvindo idéias diferentes das suas, as
femininas. (SWISS, 2000, p. 121).
Outro fator que contribui para um melhor desempenho das mulheres em trabalhos em
equipe é a sua forma de comunicar. Segundo a lingüista Tannen (1991), quando estão em
grupo, as mulheres tendem a falar 'nós' em situações nas quais os homens geralmente dizem
'eu'. Ainda segundo Tannen (ibdem), as mulheres procuram distribuir mais elogios que os
homens, preferem atenuar as críticas, sempre pensando em não magoar o outro. Segundo a
autora existem estilos claros entre a forma de gerir de homens e mulheres: as mulheres
acabam valorizando o trabalho coletivo, em vez de cultuar os próprios méritos.
Para Lobos (2002) quando um determinado conceito de gestão é ativado, seja por uma
diretriz superior, seja por meio de um treinamento, executivos e executivas tendem a entender
tal conceito de forma distinta, e, portanto, reagem também de forma distinta. É o que se dá no
processo da comunicação: as mulheres têm uma tendência a formar círculos em salas de
reunião ou de treinamento, para realizar sua comunicação, como uma forma de criar um
processo de relações interpessoais. Já os líderes masculinos, de uma forma geral, preferem o
estilo clássico eles à frente da sala ou presidindo uma mesa de reuniões, eles adotam um
conceito administrativo de comunicação: chegam, dizem o que querem e se retiram. As
executivas superam os executivos, quando se trata de motivar, cuidar do aconchego do lugar,
amenizar o papo e dar feedback, todos esses elementos, fundamentos femininos. (TANNEN,
1990).
As mulheres também apresentam uma alta sensibilidade às “dicas” não verbais, o que
vem a contribuir para seu desempenho junto às pessoas com as quais trabalha. Sobre essa
questão, Loden (1988) menciona um estudo realizado através de pesquisa publicada no ano de
1979 sob o título de Sensitivity to Nonverbal Communication: The Pons Test (Sensibilidade à
Comunicação Não-Verbal: O Teste de Pons). Este estudo foi desenvolvido por uma equipe de
111
cinco pesquisadores da Harvard, John Hopkins e pela Universidade da Califórnia. O teste de
Pons mede a habilidade de decifrar as “dicas” não verbais transmitidas pelas expressões
faciais, movimentos do corpo e tom de voz. A pesquisa contou com uma amostragem de
4.500 homens e mulheres de diferentes faixas etárias. O resultado mostrou que as mulheres
excedem e os homens caem (examinados coletivamente) em todos os grupos etários em todas
as áreas de comunicação não-verbal.
À parte da alta capacidade de compreender as dicas não-verbais, as mulheres também
possuem um conjunto de habilidades de processo mais desenvolvidas que os homens. (Loden,
1988). Isto se explica por serem elas observadoras habilidosas. Quando em situações de
grupos, as mulheres buscam e descobrem padrões de comunicação. Elas notam quem fala com
quem, quem muda o assunto da conversa, onde estão as alianças não-verbais dentro do grupo,
onde estão os conflitos potenciais, e o nível geral de receptividade do grupo às idéias e às
propostas. Esta habilidade de observação do processo permite às mulheres preencher uma
lacuna bastante importante, que está entre o que as pessoas dizem e o que realmente sentem. É
esta habilidade de processo que dá às lideres femininas uma visão tridimensional das
interações humanas.
Elas são capazes de ver e compreender os pensamentos, sentimentos e
comportamentos das outras pessoas, e usar esses dados para tomar decisões
estratégicas de maneira mais correta e adequada. Ao passo que os administradores
tradicionais do sexo masculino julgam a maioria das interações unicamente com
base nos fatos racionais que vêem diante de si (sejam estes idéias ou ações), a
maioria das mulheres também vêem as tendências emocionais que estão sob a
superfície de todos os intercâmbios humanos. (LODEN, 1988, p. 127).
As mulheres também apresentam uma excelente habilidade para o desempenho de
uma importante atividade atribuída aos líderes: a negociação (LOBOS, 2002). “O contrário do
poder bruto, da autonomia plena, da aparência de invulnerabilidade, do domínio total do
campo de jogo – típicas aspirações masculinas – é a negociação.” (LOBOS, 2002, p. 115).
Para os homens, negociar é um mero processo competitivo, no qual ele leva o que tira de
alguém, portanto, uma “soma-zero”. Já as mulheres tendem a tratar a negociação sob o
enfoque de relações interpessoais, portanto, dentro de um contexto de relações contínuas que
exigem contato, interação e acordo (GREENHALGH, 1985). Para a líder feminina negociar
não significa arrasar o adversário, e sim, “construir relacionamentos”.
As diferenças no significado da negociação entre os gêneros também podem ser
entendidas, segundo Lobos (2002, p. 116), sob o prisma do conflito.
112
Homens estão habituados a ele, e até o desejam, pois é pelo seu intermédio que
negociam posições de poder. Nessa dinâmica o confronto é construtivo. Se você não
difere dos outros, como quer que suas opiniões sejam notadas, e suas idéias
avaliadas? Em contraste, a necessidade feminina de afiliação e conexão sobrepuja de
longe a de conflitar. Formas de competição podem danificar relacionamentos, ou
ativar reações estressantes, particularmente em quem costuma, como a mulher, levar
os ataques para o lado pessoal.
Ainda segundo Loden (1988), em termos de feedback as mulheres são mais
preocupadas em estar dando constantemente um posicionamento ao seu grupo de trabalho, de
como estão se saindo, no intuito de motivá-los e se sentirem seguros em relação às suas
tarefas e desempenho. Não apenas dão feed back com maior freqüência, como também sabem
como fazê-lo.
Acho que as mulheres usam mais diplomacia, mais tato, mais de seus próprios
sentimentos ao administrar, do que os homens. Muitos homens pensam que podem ir
direto ao assunto e que não importa a quem possam machucar. Acho que isso
importa muito. A sociedade humana é muito delicada. A crítica direta pode ofender
as pessoas mesmo que finjam que não foram ofendidas. Ninguém gosta disso... Um
dos meus citados prediletos é o de que nesta companhia colocamos cada pequena
crítica entre duas grandes camadas de elogio. Acho que esta é uma abordagem mais
diplomática e que encerra um maior interesse pelas pessoas. (MARY KAY ASH,
CEO Mary Kay Cosmetics, apud LODEN, 1988, p. 135).
Para Loden (ibidem) uma das explicações para que as mulheres façam esta tarefa de
feedback de forma mais natural, com maior facilidade e com maior “tato”, que os homens,
está no seu próprio papel de mãe e educadora, no qual deve ser firme, ao mesmo tempo em
que cuida dos sentimentos de seus filhos, a famosa “bronca dada com amor”. Trata-se em
ambos os casos, como mãe e educadora ou como gestora de uma simples questão de
eficiência interpessoal: de sentir, de ouvir, de administrar sentimentos, de saber quando
confrontar e quando apoiar, de transmitir sinceridade, preocupação, e respeito pelas outras
pessoas. É um assunto simples, mas que não é fácil, uma tarefa digna da natureza da mulher.
Para O’Brien (1999), à medida que a feminilidade é mais facilmente assumida, os
estilos de liderança chamados «femininos» florescem num mercado que enfatiza as relações e
o trabalho em equipe. Hoje é comum dizer que os líderes têm características femininas: sabem
fazer perguntas, ouvir com empatia, treinar os outros e motivar através da compreensão.
Segundo Capra (2004), a liderança feminina vai contribuir para uma completa
redefinição da natureza humana. A palavra “facilitadora” é bastante apropriada para definir o
papel da mulher neste milênio. A mulher está presente em todos os segmentos do mercado, na
família, na escola, na sociedade, nas empresas, realizando um papel de ponte entre esses
113
espaços e exercendo um estilo de liderança que valoriza o diálogo, a parceria, a cooperação e
a competência.
As companhias buscam cada vez mais, em vez do tradicional gerente, treinadores
capazes de guiar e orientar subordinados. São profissionais com habilidades para realmente
ouvir e dar atenção aos funcionários. “As mulheres são vistas como pessoas capazes de
administrar eficientemente as diversidades, de compreender as necessidades individuais de
cada membro de sua equipe", (LODEN, 1988, p. 123), sendo esse é um perfil emergente
dentro das empresas.
Num momento em que treinamento é a preocupação de dez entre dez empresas, mais
uma vez as mulheres passam a ser valiosas. Segundo Tannen (1991) não se sabe ao certo a
razão, mas muitos especialistas em comportamento feminino afirmam que as mulheres
tendem a ser mais pacientes para ensinar pessoas. Talvez porque as lições aprendidas na
infância são carregadas para o local de trabalho. O fato é que as mulheres buscam mais
intensamente o desenvolvimento da equipe e procuram compartilhar mais seus
conhecimentos, o que vem a contribuir para o crescimento de seus colaboradores.
Loden (1988) cita uma colocação feita por Ruth Downing Karp, na época vice-
presidente sênior e diretora de criação da agência de publicidade americana J. Walker
Thompson:
Os homens tendem a estabelecer diretrizes e esperam que os outros as sigam. No
entanto, as pessoas têm dinâmica emocional própria, e podem agir negativamente
em relação a esta abordagem. Uma mulher, por outro lado, é freqüentemente capaz
de intuir de forma instintiva o tipo de pessoa com a qual está lidando. O resultado é
que ela é mais capaz de motivar esta pessoa. Muitas pessoas bem criativas em seus
negócios, que podem ter algum problema ou dificuldade em se relacionar com as
outras pessoas, freqüentemente desabrocham quando trabalham para uma mulher.
(KARP, apud LODEN, 1988, p. 166).
A era da informação privilegia o cérebro e não mais os músculos, como foi na era
industrial, assim a mulher que adota um estilo de liderança guiado pela intuição, acaba por
conquistar o perfil de liderança nesse milênio. (MOREIRA, AJAMIL e CARREIRA, 2001).
Na sua forma de liderar, a mulher rejeita o gerenciamento autoritário em prol de uma postura
que concede autoridade às pessoas, aumentando assim, a produtividade e os lucros da
empresa. A liderança feminina incentiva a participação, divide o poder e a informação.
Segundo Lobos (2002), diante de uma situação de crise os homens, de uma forma
geral, transformam a saída da crise em um teste de coragem, já as mulheres optam por um
114
exercicio de auto-estima. Assim, segundo o autor, diante de uma suposta crise as frases que
executivos e executivas, diriam a seus colaboradores, seriam:
O discurso ouvido nas “salas de aula”...: “temos de sair dessa”; “olha o desemprego
aí”; e só deixavam uma única saída : a vitória: “Depende só de nós, se falharmos...”.
Já nos “círculos” liderados pelas executivas, primariam os apelos pessoais: “Eu
preciso do super-empenho de vocês”; recompensas íntimas: “Imagine, que alegria se
dermos a volta por cima!”; e agradecimentos antecipados:, por qualquer que fosse o
resultado do esforço: “Se não der gente, paciência. O importante é saber que fizemos
o impossível. (LOBOS, 2002, p. 122).
Segundo Hite (2000), esse tipo de diálogo se dá, uma vez que os líderes, homens e
mulheres, tendem a seguir no trabalho seus próprios valores pessoais. Os executivos, por
gostarem de dinheiro e de benefícios, utilizam como estímulo na “sala de aula”, a ameaça, o
medo de perder essas “coisas”. Já as executivas, por priorizarem o “desafio de fazer bem o
que sabem”, motivam seus colaboradores a acharem forças dentro de si mesmos.
O modelo da liderança feminina tem um comportamento que ‘aglutina’ as pessoas. As
líderes femininas têm disposição para serem interrompidas, e não vêem esse fato como um
entrave, mas sim como uma oportunidade de ensinar e interagir com as pessoas. (MOREIRA,
JAMIL e CARREIRA, 2001).
O estilo feminino de gestão se baseia de uma forma geral, em compartilhar o poder,
em incluir, consultar, criar consenso e colaborar. (HELGESEN, 1990; TANNEN, 1991; MC
CORDUCK e RANSEY,1996).
As diretoras de empresas tendem a dar mais atenção a seus funcionários, escutam
mais, os apóiam mais e os motivam mais. As mulheres fazem mais elogios, também
felicitam, agradecem e desculpam-se com maior freqüência; pedem mais conselhos
com a finalidade de incluir o outro em seu processo de tomada de decisão e tendem
a sugerir alternativas ao invés de ditarem ordem e instruções. (FISCHER, 1999, p.
58).
As mulheres em posição de liderança tendem a liderar sem dar mostras desnecessárias
de seu poder, o que significa do ponto de vista das empresas, que essa pode ser uma virtude
considerável nestes tempos de celebração do trabalho em equipe. (LODEN, 1988).
A escritora norte-americana Rubin (2004) dedica boa parte de seu livro “Princesa -
Maquiavel para Mulheres” à análise da relação das mulheres com o poder. "As mulheres
hábeis em manejar o poder preferem fortalecer seus opositores, mantê-los como aliados, em
vez de abrir uma guerra" (RUBIN, 2004, p. 41). A abordagem convencional de poder tende a
concentrar a responsabilidade e os resultados nos ombros do gerente. As mulheres, ao
contrário, contribuiriam para instaurar um clima mais cooperativo, já que elas não apreciam
115
muito o estilo "eu tenho poder, eu mando, você obedece". Isso, na era da administração
participativa, é muito valorizado como fonte de motivação.
Em muitas empresas ainda as pessoas continuam achando que o líder de
verdade é intocável, emocionalmente distante, agressivo, aquele que toma as decisões. Essas
empresas são as que ainda adotam o modelo tradicional de liderança, muito similar ao serviço
militar. No Exército, a meta principal é vencer ou triunfar sobre os seus adversários. E quem
está abaixo do comandante jamais ousaria questionar suas ordens. "Enquanto os homens
conduziam seus exércitos, consolidando ou perdendo poder, as mulheres entraram para a
História por meio da sabedoria, da coragem, da habilidade política e, muitas vezes, da
sedução" (LARROUDÉ, 1992, p. 75).
Companhias de todo o mundo vêm tentando livrar-se do modelo de gestão parecido
com o dos quartéis. O que elas buscam hoje é flexibilidade, chefes menos autoritários,
capazes de ouvir sugestões e críticas de cada funcionário. "Nunca ficarei convencido de que
um líder, não importa a sua capacidade ou poder, possa gerenciar uma organização sozinho
melhor do que se contasse com o conhecimento conjunto de todos os funcionários"
(MATSUSHITA, 1997apud KOTTER, 1997, s/n). As empresas estão colocando seus
funcionários em equipes auto-gerenciadas e com múltiplas funções. Eles programam seu
próprio trabalho, elaboram orçamentos e tratam diretamente com clientes e fornecedores. É
um terreno fértil para a ascensão das mulheres. (KOTTER, 1997).
As mulheres também têm se destacado em ações empreendedoras no campo de
trabalhos voluntários e de responsabilidade social. Segundo Barros (2004), isso se deve ao
fato das mulheres já carregarem naturalmente o DNA das atribuições de “cuidar e proteger o
outro”, enquanto exercitam o papel de mãe.
As razões que levam as mulheres a se identificar com esse segmento parecem estar
também no estilo de gestão e estrutura que essas empresas propõem. De forma geral, as
associações civis estão formadas por pessoas que têm idéias afins e que se unem por uma
causa comum. Essas organizações começam “pequenas” a princípio, seus membros oferecem
gratuitamente seus serviços e o trabalho é realizado por grupos igualitários, sem chefes ou
líderes. (FISCHER, 1999). De uma forma geral, essas associações civis tendem a ser menos
hierarquizadas e a ter um processo de tomada de decisão mais participativo, o que vai de
encontro ao tipo de gestão que as mulheres se identificam: ambientes pouco formais e não
hierarquizados.
O jornalista e economista Kanitz (2000) analisou 400 entidades beneficentes no Brasil,
e notou dentre essas empresas um novo estilo de administração. Segundo o autor, mais
116
competente e mais dinâmico do que a forma de administrar nas empresas ‘masculinas’, e
justifica para esse sucesso, que a forma de administrar dessas empresas trazem em si: clareza
de propósito, ética, motivação dos funcionários e satisfação pessoal com resultados, mas
acima de tudo, uma razão para ele bastante clara: a grande maioria, se não a totalidade das
400 maiores entidades, é administrada por mulheres. Kanitz faz uma comparação entre uma
empresa tradicional e uma identidade beneficente que deixa claro qual o papel da mulher
nessa segunda:
O estoque de uma fábrica fica parado por meses sem precisar de supervisão. Tente
fazer o mesmo com 359 crianças de uma creche, por um minuto. Administrar
creches, hospitais ou meninos de rua seria um treinamento excelente para os futuros
administradores do país. (KANITZ In: Revista Veja, 26/07/ 2002).
Entre os muitos autores que acreditam que as mulheres têm uma vantagem decisiva
em termos de estilo de liderança está o doutor em Ciências Sociais Aplicadas –
Administração, e ‘guru’ da gestão empresarial, Tom Peters. No seu livro Em Busca do Uau,
ele afirmou: “Talvez o estilo de gestão perfeito seja meio masculino meio feminino.” Em sua
mais recente obra, The Circle of Innovation, declara: “As mulheres são melhores gestores do
que os homens… Assim o dizem os homens como as mulheres. Definição de “melhor”?
Melhor em relações. E melhor no planejamento, estabelecimento de objetivos e
acompanhamento”.
Sally Helsegen, na área das Ciências Sociais Aplicadas, e autora do livro The Female
Advantage, propôs o modelo de administração Web Inclusion, com base em uma teia de
aranha, onde o líder constrói as relações de poder de dentro para fora, pondo abaixo o modelo
hierárquico piramidal. O modelo proposto por Helgesen (1990) compartilha o estilo de gestão
feminino que é de inclusão: a mulher, de uma forma geral, está mais interessada na
cooperação, na harmonia e na conexão: em uma rede de apoio, ela se coloca no centro de uma
rede e constrói “laços”, estabelece contatos laterais com seus colaboradores. “Conexões
laterais frente à ordem hierárquica; cooperação frente à competição; interação e desejo de
compartilhar frente à posição de poder e independência: esta diferente forma de agrupamento
dentro dos gêneros se dá desde a infância.” (FISHER, 1999, p. 57). Como já visto, a forma de
organizar as brincadeiras de meninas e meninos se dá de forma bastante clara e distinta em
termos de socialização: as meninas se organizam em equipes planas, em grupos não
hierárquicos, sem líderes. Elas estabelecem mútuas concessões em suas brincadeiras, se
117
alternam nas posições, fazem propostas. Se surge um conflito interrompem a brincadeira,
deixam de lado as regras, as mudam ou fazem concessões, para elas o que importa nesses
momentos de socialização são os sentimentos das pessoas envolvidas. “Os meninos já jogam
ao estilo da “guerra”, se organizam em equipes hierárquicas e disputam pela liderança”.
(SEGER, 1996, p. 83).
Se o importante para as meninas é estar bem com os demais, para os meninos o
importante é que sejam respeitados: eles interrompem, dão ordens, burlam as regras
e trapaceiam uns aos outros para conseguir e manter a posição de mando. Seus jogos
são mais estruturados e são mais complexos que o das meninas. Os meninos se
concentram na meta e, de forma diferente às meninas que deixam de jogar quando se
contrariam, os meninos só deixam o jogo quando ganham ou perdem. Os jogos dos
meninos têm claros ganhadores ou perdedores. (SEGER, 1996, p. 137).
Liderança masculina e feminina: um comparativo
No quadro abaixo se propõe um comparativo entre o estilo de liderança masculino
estudado por Mintzberg (1993) e o estilo de liderança feminino apresentado por Helgesen
(1990).
Quadro III – Comparativo liderança entre gêneros
Líderes masculinos – Mintzberg Líderes femininas – Helgesen
Trabalham a um ritmo acelerado, sem
intervalos durante o dia.
Os seus dias são caracterizados pela
interrupção, descontinuidade e fragmentações.
Reservam pouco tempo para atividades que
não estão relacionadas com o seu trabalho.
Preferem o contacto pessoal, telefonemas e
reuniões cara a cara.
Mantêm uma vasta e complexa rede de
relações à margem da sua organização.
Imersos na rotina, não dedicam tempo à
reflexão.
Identificam-se com o seu trabalho.
Têm dificuldade na partilha de informação.
Trabalham a um ritmo constante, mas com
pequenos intervalos programados durante o
dia.
Não encaram as tarefas imprevistas como
interrupções.
Encontram tempo para atividades que não
estão relacionadas com o trabalho.
Preferem encontros pessoais, mas guardam
algum tempo para responder ao correio.
Mantêm uma rede complexa de relações à
margem das suas organizações.
Centram-se numa perspectiva mais vasta.
Guardam tempo para partilharem
informação.
Fonte: Dossier Sally Helgesen. As vantagens da teia feminina. Disponível em:
<http://centroatl.pt/edigest/edsuplem/edicoesup. /sup3sum.html>. Acesso
em: 10 Dez. 2006.
No livro Mega Tendências para as mulheres, as autoras Aburdene e Naisbitt (1994),
esquematizam algumas das características que definem o novo estilo de gerir que tende a se
118
impor nas empresas, a partir do aproveitamento do enorme potencial da natureza feminina, em
contra-posição ao estilo tradicional, e que está apresentado no diagrama abaixo:
Quadro IV - Características da Liderança Feminina
Gerenciamento tradicional Liderança / Liderança feminina
Objetivo: Controle Objetivo: mudança
Confia na ordem dada Facilita / ensina
Escalões Conexões
Sabe todas as respostas Formula as perguntas certas
Limita e define Capacita
Dá ordens Age como modelo
Impõe disciplina Valoriza a criatividade
Hierarquia Rede / teia
Exige respeito Quer que as pessoas ‘falem’, ‘ajam’
Crítica da atuação Contrato mútuo visando resultados
específicos
Aumentos de salários anuais /
automáticos
Recompensa pela atuação
Arquétipo do militar Arquétipo do educador
Mantém as pessoas “pisando em ovos” Ambiente estimulante para o crescimento
Punição Recompensa
Patamar máximo/ mínimo Abrangência de atuação
Eis o que vamos fazer! Como posso ajudá-lo/ extrair o melhor de
você?
Linha básica Visão
Fechado: informação= poder Aberto
Sargento de treinamento Mestre motivador
Comando e controle Capacitação
Pouco tempo para as pessoas Um tempo infinito para as pessoas
Rígido Flexível
No alto No centro
Mecanista Holístico
Impessoal/ objetivo Pessoal
Fonte: Aburdene e Naisbitt, 2004, p. 119-120.
Dentro da pesquisa, as executivas entrevistadas foram questionadas a respeito de sua
gestão, através da seguinte pergunta aberta: “Quais seus princípios de gestão ou sua “receita”
para ter sucesso como gestora na área da hospitalidade? Em suas respostas, de forma quase
que geral, encontrou-se muito mais elementos sociais e de relações do que elementos de
administração e de tomada de decisão.
119
“Acredito que seja a liderança com doçura. Pois a mulher apresenta grande capacidade de
dominar, encantar, apoiar, motivar, dirigir, exercer várias facetas sendo verdadeira e
cativando o respeito e admiração de todos.” (Maisa Duque Rocha, gerente de serviços, 21/
Jan/ 2007).
“É difícil de expressar quais são os meus princípios de gestão ou mencionar a “receita
para o sucesso” como gestora, na área de hospitalidade, pois embora esteja há 8 anos na
área sempre temos muito o que aprender ou aperfeiçoar durante a nossa vida. Alguns
princípios que utilizo e obtenho sucesso como gestora na área de hospitalidade são: ética,
objetividade, respeito, empatia, prazer em servir, ajudar, satisfazer o próximo,
comprometimento, bom relacionamento inter pessoal, proporcionar e colaborar com o
crescimento e desenvolver pessoas.” (Regina Carrijo, gerente geral, 22/ Jan/ 2007).
“Procuro estabelecer uma relação de confiança e respeito com a minha equipe. Cada
funcionário tem que se sentir parte integrante de um processo longo. Ele tem que saber que
o sucesso da empresa também depende dele. Gosto de estar sempre motivando a equipe, a
pensar assim a cada instante.” (Tatiana Teixeira Vaz, gerente de serviços, 19/ Jan/ 2007).
“Uma receita que muitas pessoas ignoram é o “perfil”! Muitos podem ter diplomas e
experiências, mas não tem o perfil de liderança, gerenciamento e o mais importante, perfil
para lidar com as pessoas. Sou uma boa ouvinte, gosto de compartilhar meus
conhecimentos com meus colaboradores, sou exigente e gosto do trabalho bem feito. Tenho
conseguido muito êxito, e acredito estar indo pelo caminho certo!” (Rachel Golfetto,
gerente geral, 24/ Jan/ 2007)
“Receber com prazer e dedicar-se ao máximo na pró-atividade.” (Maria Luiza Lupatin,
gerente geral, 11/ Fev/ 2007).
“Acredito que três coisas são fundamentais: paciência, empatia e fazer o que se gosta, as
pessoas percebem isso e a qualidade sobe.” (Leandra Gallo Antão, gerente geral, 22/ Jan/
2007).
“Assim como em todas as áreas há dois princípios importantes: foco e comprometimento.
Na área de hospitalidade esses dois itens devem ser completados com atenção à detalhes,
empatia e gosto de servir.” (Fernanda Muniz, gerente de serviços, 18/ Jan/ 2007).
“Na verdade não existe um modelo ideal e cada pessoa tem suas facilidades na parte de
gestão. Eu sou uma pessoa muito ligada a área de recursos humanos, e isso me ajuda a
entender e trabalhar melhor com cada colaborador. Mas tenho certeza que meu sucesso
vem primeiro de Deus, e segundo por fazer o que amo.” (Mariana Fiori, gerente geral, 28/
Jan/ 2007).
“Meus princípios que utilizo em todos os campos de minha vida: Comprometimento com a
atividade independente para quem se destina. Fazer o bem, sem se importar para quem;
tratar as pessoas como você gostaria de ser tratada; paciência; respeito ao próximo e suas
limitações; aprender a “tirar” das pessoas aquilo que elas têm de melhor. Uma equipe é
feita pela soma de diferentes talentos; coragem e assertividade para enfrentar desafios e
ponderar as questões de forma correta; alinhar os anseios da empresa com os meus,
sempre trabalho por algo em que realmente acredito. A missão da empresa é o meu foco e
procuro sempre acreditar nela.” (Cristina Reis Marques, supervisora operacional, 26/
Fev/ 2007).
Alejandro Llano (1988), já na década de 1980 havia sintetizado os valores dominantes
e ascendentes na cultura da empresa daquele período. Seu esquema serviu de marco para se
120
definir o papel preponderante que a mulher desempenha dentro dessa nova proposta de
empresa, a qual ele denominou de proposta da “nova sensibilidade”.
Quadro V - Parâmetros da Empresa dentro do modelo da Nova Sensibilidade.
Parâmetros Valores da empresa tradicional Valores da “nova
sensibilidade”
1
Finalidade da empresa Beneficio econômico Serviço à sociedade
2
Tendências humanas Desejo de ter Afã de criar e compartilhar
3
Estratégia Obter resultados Descobrir e implantar
princípios
4
Conseqüência da atividade
pessoal
Objetivos primários (econômicos) Efeitos secundários.
Influência na família e na
comunidade.
5
Desenvolvimento das
pessoas
Posição hierárquica Inclusão, pertencimento
6
Atitude Pessoal Satisfação Autodomínio
Fonte: LLANO, A. (1988) apud EDAC 1997, p. 223.
Llano (1988) aponta a importância de se entender o significado do quadro acima e sua
relação com o papel da mulher como humanizadora da empresa. Segundo ele, se a mulher for
capaz de viver uma unidade de vida, poderá integrar trabalho e família em o que ele chama de
um “mundo vital”. Os valores “dominantes” que se apresentam no quadro seguem sendo
primordiais dentro da empresa como fins diretos: beneficio econômico e material, obtenção de
resultados e satisfação pessoal. Os valores “ascendentes” representam a nova sensibilidade, a
mudança de rumo que as empresas já vinham tomando na década de 80, quando Llano fez
esta proposta.
Segundo Barros (2004), embora seja bastante discutível, tanto quanto difícil, concluir
se o estilo de liderança feminino é o que traz melhores resultados, em termos de excelência de
produto, processos e resultados financeiros, ela alerta que se deve ponderar que:
Muitas vezes a excelência no gerenciamento da força humana não está em planos ou
sistemas sofisticados, mas em detalhes que mostram a atenção que a direção da
empresa dispensa a seus colaboradores, estimulando práticas que visam, acima de
tudo, a motivação de seu pessoal... e focando neste tipo de gestão, a força feminina
se destaca, investindo em rituais e celebrações, concedendo prêmios, memorizando
os nomes de todos os colaboradores, circulando e sendo vista constantemente nos
departamentos da empresa. (BARROS In: Jornal de Brasília, 09/03/2004).
Não se pode afirmar que o estilo da mulher liderar e gerenciar seja o ideal, e que o dos
homens deva ser descartado. O ideal parece ser uma combinação dos dois estilos, entre
121
atributos típicos das mulheres e atributos típicos dos homens. Isso já seria um avanço para as
mulheres. Para Drucker (1996), talvez o estilo gerencial perfeito seja meio masculino, meio
feminino.
O que Drucker diz coincide com as opiniões de Loden (1988) "O estilo feminino não é
substituto do modelo tradicional de liderança", O ideal para as empresas é combinar o modelo
tradicional, há décadas desenvolvido pelos homens, ao feminino. Ambos podem contribuir,
com suas habilidades naturais, para o sucesso de uma organização."
Isso também explica por que de repente temos mulheres nos mesmos cargos antes
ocupados só por homens. No decorrer da História, homens e mulheres sempre
tiveram participação igual na força de trabalho. A idéia da dona de casa ociosa é um
mito do século 19, pois homens e mulheres tinham trabalhos diferentes. Não houve
civilização alguma em que os dois gêneros fizessem os mesmos trabalhos. E o
trabalho que requer conhecimento não tem gênero. Esta é uma das grandes
mudanças: no campo do conhecimento, homens e mulheres desenvolvem o mesmo
trabalho. Esse fato também não tem precedentes e representa uma grande evolução
na condição humana. (DRUCKER, 2000, Revista Você S/A).
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de pesquisa procurou definir o papel social da mulher, a partir do estudo do
gênero, adotando uma perspectiva multidisciplinar, decorrente do entendimento de que o
gênero e suas relações exigem referenciais de disciplinas distintas como a Antropologia,
Sociologia, Psicologia e Ciências Sociais Aplicadas - Administração. Essa abordagem
multidisciplinar ampliou o olhar e permitiu que se entendesse os papéis assumidos pelas
mulheres dentro de seu universo de trabalho (empresarial) a partir de papéis sociais e
domésticos que vêem desempenhando através dos séculos.
A beleza dessa pesquisa foi ter levantado que os papéis desempenhados pela mulher
desde tempos remotos, e sua posição de submissão em relação ao seu parceiro – o homem,
foram os principais responsáveis pela construção de sua personalidade executiva, tão rica e
essencial às necessidades das empresas deste milênio.
Não menos importante foi descobrir que características e aptidões que, por séculos,
foram desprezadas e até mesmo indesejados pelas empresas, como a emotividade, a intuição,
por exemplo, são hoje os ingredientes que podem fazer a diferença na gestão de uma empresa,
em especial se se tratar de uma empresa de serviços.
Embora não seja um estudo conclusivo, porque muito ainda há que se pesquisar sobre
esse tema, por ser ele próprio inesgotável e rico em conteúdo, algumas assertivas e indicações
de caminhos puderam ser encontrados ao longo dessa pesquisa.
Talvez a constatação mais importante foi a de que não se pode construir o papel social
da mulher sem tomar como ponto de partida sua educação, formação e papel no cenário
doméstico. É tão forte a relação da mulher com este espaço, que parece que tudo que a mulher
é, e tudo que a mulher venha a fazer em qualquer outro espaço, social ou empresarial, está
vinculado ao doméstico, tanto sob a forma do tipo de atividades que venha desempenhar,
quanto na forma das relações sociais que vier a manter.
Todo e qualquer estudo em torno de papéis sociais da mulher remete ao doméstico,
tanto em termos de cenário (espaço), tarefas e funções (dinâmica do trabalho, habilidades e
técnicas), como também, e principalmente, ao que se refere à reprodução das relações sociais
(dedicação e amor ao próximo, emotividade, acolhimento, preocupação com o próximo).
Se, por séculos, o cenário doméstico foi o único espaço destinado à mulher, sem
dúvida esta reclusão foi a melhor escola que ela poderia ter tido para que recebesse uma
formação adequada e necessária para vir a atuar na área da hospitalidade e empresas de outras
123
áreas, mas que valorizem este tipo de dinâmica, ainda que isso viesse a ocorrer após séculos
de confinamento. A importância desse aprendizado, sem dúvida, parece ter sido a formação
da mulher, que se deu, basicamente através de uma educação familiar recebida e passada de
uma geração a outra.
A riqueza do trabalho da mulher na área da hospitalidade é o fato de seu trabalho ter,
em sua essência, um motivo maior que uma recompensa financeira. As mulheres que
trabalham na área da hospitalidade, conforme foi indicado pela pesquisa junto às executivas
do segmento de hospedagem, sentem que apresentam uma vocação para aquilo que fazem,
além de uma forte motivação para fazê-lo, uma vez que demonstram fazer seu trabalho com
amor. Elas parecem encontrar em seu trabalho um espaço para a realização pessoal por se
identificarem com esse tipo de atividade.
A pesquisa de campo também sinalizou em direção à questão da vocação conforme
proposto por Telfer (2004), que afirma que hospitalidade é acima de tudo a vocação, que está
na vontade de servir ao próximo e de cuidar das relações sociais, não apenas com clientes
(relações comerciais), mas com os colaboradores (relações de trabalho), e que as relações
mantidas com esses últimos envolvem elementos encontrados no espaço doméstico,
cultivados pela figura materna nesse espaço, como cuidar, acolher e educar.
Trabalhar por amor, buscar dar um sentido maior ao trabalho pareceu ser um
denominador comum entre as entrevistadas, o que foi ao encontro a muitos dos conceitos
levantados no referencial teórico, como: sentido de serviço, de responsabilidade pelo outro,
amor ao próximo e emotividade através das relações de trabalho.
O próprio fato de buscarem reproduzir o conceito de lar em suas empresas, levando a
“casa para o trabalho” é talvez o principal indício de que o trabalho ocupa um lugar maior na
vida das mulheres e uma tentativa de se construir uma empresa não tão somente voltada para
resultados financeiros, mas principalmente voltada para a construção de um mundo
empresarial mais humano, onde as relações sociais passam a ser o meio de se chegar ao fim,
fim este também financeiro, é claro, porque as empresas precisam ser saudáveis
financeiramente para se perpetuarem no mercado, mas também um fim social, em que os
colaboradores possam se sentir parte do processo, e assim se sentirem motivados a dar o
melhor de si.
A líder feminina, conforme constatado através dos estudos efetuados, parece conseguir
de seus colaboradores um compromisso a partir do momento que seu estilo gerencial se dá
através da web (teia/rede), que é o estilo em que ela está ao centro e seus colaboradores à sua
volta, ao contrário do tradicional estilo hierárquico piramidal, criado pelos homens. Este estilo
124
de gestão parece fazer uma grande diferença, principalmente em se tratando de uma empresa
de hospitalidade, na qual a motivação dos colaboradores parece ser a chave do sucesso para a
criação de laços com os clientes e entre os funcionários que passam a fazer parte de uma
grande família, afinal costumam passar boa parte de seu tempo em seu trabalho, incluindo
finais de semana, feriados e festas, assim nada melhor que se sentirem parte de uma família
em seu ambiente de trabalho.
Como já foi dito no decorrer da dissertação, este estudo não teve, em nenhum
momento, o intuito de propor que o estilo de liderança feminino é melhor que o masculino e
muito menos que a líder feminina é a gestora ideal para a área da hospitalidade, mas a idéia
foi sim de se investigar os ‘ingredientes’ que compõem a ‘receita de gestão’ feminina e
verificar de que forma essa receita contribui para uma identificação maior da mulher com este
segmento, no caso o de hospedagem, e como ela pode contribuir para o sucesso de uma
empresa nessa área. Importante dizer que o estilo gerencial masculino, caracterizado por
decisões mais diretas e racionais, com foco em resultados, dentro de uma estrutura de poder
mais rígida (estilo piramidal), é de extrema importância em situações em que a tomada de
decisão deva prevalecer sobre o processo, onde a necessidade de se correr riscos, é uma
questão de sobrevivência para a empresa. Poder-se-ia, assim, indicar que o estilo ideal de
gestão deva conter ‘ingredientes’ femininos e masculinos, sendo que, por meio das entrevistas
realizadas, foi possível constatar que, muitas vezes, as gestoras se utilizam de ingredientes
considerados masculinos em sua gestão, como: assertividade e tomada de decisão, por
exemplo. Ao que parece é que, ao se tratar da gestão do negócio, o estilo masculino assume
posição preferencial, mesmo quando está se falando da líder feminina, mas ao se tratar da
gestão de pessoas, o estilo feminino fala mais alto, e elas põem em prática toda uma gama de
conhecimentos, aptidões e habilidades que, certamente, não aprenderam em nenhum
treinamento ou universidade, mas que trouxeram consigo de sua educação familiar e social, de
sua formação, e fazem essa parte do seu trabalho com muita facilidade, identificando-se com
todos os tipos de tarefa que requeiram relacionamento, cuidados com o próximo, e formação
de pessoas.
Assim, a partir do que foi levantado nesse estudo, talvez seja possível sugerir que o
desejável é não a mulher sozinha, mas também não o homem sozinho, ou com aquela velha
imagem da mulher por detrás dele, como sua sombra, mas ambos lado a lado, mesclando suas
características e qualidades decorrentes dos papéis sociais de que resultam suas formações e
suas habilidades para que formem juntos, provavelmente, a melhor receita de gestão
empresarial em qualquer setor.
125
O respeito às características próprias de cada gênero é fundamental para que cada um
possa contribuir com aquilo que possui de melhor. A mulher deverá deixar de lado a falsa
idéia de que para sobreviver ou se dar bem no ambiente de trabalho, é preciso se
‘masculinizar’, ler todos os livros que forem lançados sobre assertividade e usar roupas de
cores sóbrias e falar duro com seus colaboradores. Os resultados indicam que é a essência,
própria do feminino, um dos principais atributos para o sucesso no mundo do trabalho em sua
configuração atual. Aparentemente, isso tornaria as coisas mais fáceis para as mulheres pois
para ter sucesso bastaria ser ela mesma.
Assim, se os dados estiverem corretos, pode-se supor que o nosso século é o momento
propício para receber a mulher no mercado de trabalho, pois o perfil e a essência feminina
estão sendo necessários às empresas. O mundo empresarial estaria passando por um processo
de humanização, onde as relações devem ser cultivadas, o que aponta na direção do universo
feminino, favorecendo a mulher para ser protagonista neste novo cenário. É a mulher quem
tem a seu cargo a epimeleia, o cuidado. Daí derivam componentes necessários no mundo
empresarial nos dias de hoje: não apenas o cuidado, se não também o sentido da aproximação,
do tom e do detalhe, da ternura, do equilíbrio e da harmonia, o sentido da dependência e da
colaboração, a atenção ao concreto. A ausência desses valores femininos constitui um
profundo vazio nas organizações e nas empresas, que hoje é patente.
Fica aqui também um questionamento de ordem pessoal: será que a partir do momento
que a mulher passe a entender que, atuando dentro de sua essência, sendo ela mesma, poderá
se realizar de forma mais plena em sua vida profissional, encontrando um sentido real, muito
acima do financeiro, para a sua vida? Será que suas atividades fora do lar poderão ser
entendidas como uma continuidade de seu papel doméstico, como mãe e educadora e, assim
definitivamente, poderá encontrar, através de seu trabalho, sua verdadeira vocação,
entendendo que seu sucesso não está necessariamente dentro do modelo masculino de
administração, mas sim em um modelo feminino tão desejado e necessário para as empresas
deste novo milênio?
É possível que uma das contribuições desse trabalho seja mostrar às executivas seu
potencial como gestoras e que a área da hospitalidade, em particular a de hospedagem, é um
cenário que demanda suas qualificações, sua vocação e formação tal como elas são, não
havendo necessidade de mudar seu estilo pessoal, mas, ao contrário, buscando ser elas
mesmas, assim como são em suas casas como filhas, esposas e mães. Mesmo não sendo mães
em sua vida pessoal, atributos próprios da maternidade podem ser desenvolvidos para a
hospitalidade, como uma forma de exercer essa vocação junto a seus colaboradores e clientes,
126
uma vez que o setor demanda de seu gestor, atitudes de acolhimento, proteção e cuidados com
o próximo.
Essa pesquisa buscou também abrir uma porta para novos estudos e abordagens que
considerem a questão do feminino enquanto gênero, levando a formas de administração mais
“suaves”, que possam contribuir para a construção de uma empresa mais humana. Sugere-se
que tais estudos se voltem para uma maior atenção às potencialidades da mulher, uma vez
que, até hoje, a maioria deles se preocupou em estudar limitações de acesso da mulher a
postos de direção e problemas de discriminação da mulher em relação ao homem no mundo
do trabalho quando, na verdade, ao que tudo parece indicar, a mulher só vai passar a ser
respeitada nesse universo quando desempenhar papéis que estejam em acordo com suas
potencialidades e não disputando papéis que cabem aos homens. No dia que esta questão
puder ser entendida e esclarecida, pode ser que, finalmente, a mulher receba seu merecido
destaque e respeito e possa surgir a história da mulher no universo do trabalho.
127
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138
APÊNDICE – ENTREVISTAS
Foram formuladas 4 questões abertas, e solicitado que preenchessem o quadro de
características de personalidade executiva, da seguinte forma:
Classifique de 1 a 4 as características abaixo, seguindo o seguinte critério:
1- Nada a ver com minha personalidade executiva, e não concordo que seja uma
qualidade importante para o meu trabalho.
2- Nada a ver com minha personalidade executiva, mas acredito que seja uma qualidade
importante para um gestor da minha área.
3- Tem a ver com a minha personalidade executiva, mas não sou assim na minha vida
pessoal.
4- Tem a ver com minha personalidade executiva, e sou assim na minha vida pessoal.
Detalhista/perfeccionista Criativa Paciente
Ética Empática Amor ao próximo
Cultivadora de
relacionamentos interpessoais
Intuitiva Emotiva
Boa ouvinte Focada em resultados Focada em processos
Assertiva Versátil/multifuncional Empreendedora
Enérgica Racional Motivadora
Competitiva Sensível Comunicativa
Formadora de gentes Gosto por servir Colaboradora
“Querida” Objetiva Franca
Prestativa Direta Acolhedora
Transcendente Inapetência pelo poder Serena
Ainda com referência às características (as que indicaram possuir) foi formulada a seguinte
questão:
- Você acredita que essas características (as que você possui) passaram a fazer parte de sua
personalidade, por que:
( ) Você foi educada para se comportar dessa forma (educação recebida na família, escola).
( ) Tem a ver com o fato de ser mulher.
( ) Você aprendeu a ser assim por forças das circunstâncias, por ter de atuar na área de
serviços.
139
Entrevista1:
Maisa Duque Rocha– Gerente de Serviços Park Suítes ITC
Idade: 24 – 30 anos
Formação: cursando pós graduação
Área de formação: Turismo
Cargo: Gerente de Serviços Tempo de cargo: 2 anos e 6 meses
Tempo na hospitalidade: 6 anos
N.o colaboradores diretos: 11 -20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Determinação, comprometimento, iniciativa, agilidade, flexibilidade e persuasão.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
No mercado no qual atuo, a principal matéria-prima é a capacidade de relacionar-se, já que a
infra-estrutura é similar. Um empreendimento se diferencia pelo atendimento de uma equipe
focada no hóspede e sua satisfação.
Desta forma, acredito que meu crescimento se deu por questão de vocação. Minha
preocupação com a satisfação do cliente e colaboradores da empresa, não se dá apenas pelo
cargo e função, mas também por minha personalidade.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Sim. As mulheres têm facilidade em desempenhar várias atividades ao mesmo tempo.
Acredito que esta facilidade se dá não apenas por uma característica do sexo feminino, mas
também pelo fato da criação. A mulher desde criança recebe mais atividades que os homens,
assumindo assim mais responsabilidades e exercendo uma multifuncionalidade que na
maioria das vezes não é encontrada nos homens.
A área de hospitalidade por sua vez requer profissionais que apresentem equilíbrio entre o
racional e o emocional. Necessita de pessoas capazes de atuar energicamente (em
determinadas situações) sem perder a doçura.
As diversas facetas e a capacidade de multifuncionalidade da mulher contribuem e facilitam
seu desempenho nessa área.
140
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Sim. A mulher se preocupa mais com os detalhes. O lençol passado sem marcas, as maçãs
brilhantes no lobby, a apresentação do buffet no café da manhã, o uniforme e a apresentação
pessoal dos colaboradores, muitas vezes passam desapercebidos pelos homens, mas não pelas
mulheres.
O fato do cliente (seja ele hóspede em um hotel ou enfermo em um hospital) se sentir
acolhido, desperta nele uma sensação prazerosa de cuidado materno, fidelizando-o no caso de
um hóspede ou diminuindo sua angústia ao se tratar de um enfermo no hospital.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Acredito que seja a liderança com doçura. Pois a mulher apresenta grande capacidade de
dominar, encantar, apoiar, motivar, dirigir, exercer várias facetas sendo verdadeira e
cativando o respeito e admiração de todos.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/perfeccionista 4 Criativa 2 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos
interpessoais
4 Intuitiva 4 Emotiva
4 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 2 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 4 Empreendedora
4 Enérgica 4 Racional 4 Motivadora
1 Competitiva 2 Sensível 4 Comunicativa
3 Formadora de gentes 3 Gosto por servir 3 Colaboradora
4 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
3 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
n/r Transcendente 2 Inapetência pelo poder 2 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: Por forças das circunstâncias, por ter de atuar na área de serviços.
141
Entrevista 2:
Regina Carrijo - Gerente Geral Confort Hotel Guarulhos
Idade: 24 – 30 anos
Formação: Superior completo
Área de formação: Hotelaria
Cargo: Gerente Geral Tempo de cargo: 1 ano
Tempo na hospitalidade: 8 anos e 6 meses
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Paciente, habilidade de ensinar (educar e desenvolver pessoas), comunicativa, detalhista,
liderança, habilidade de consertar o que está errado, exigente, enérgica, objetiva, observadora,
comprometida, dinâmica, flexível, realista, corajosa, preocupação com o próximo
(funcionário), ambiciosa (no bom sentido da palavra), humilde.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Minha carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de vocação. Na época de
prestar vestibular (por volta do 2.o colegial) comecei a ler a respeito das profissões e me
identifiquei muito com a hotelaria por diversos motivos: por ser algo dinâmico, sem rotina,
por lidar com pessoas diferentes, de culturas e costumes diferentes, por ter oportunidade de
servir as pessoas ( no sentido de ajudar, satisfazer) e ao mesmo tempo (lógico que depois que
adquiri muita experiência na linha de frente) por trabalhar o lado administrativo (seja de
processos, seja de pessoas).
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Sim, acredito. Acho que a mulher tem muito mais jeito para trabalhar o “servir”, o
“recepcionar”, o “atender bem”.
Ao mesmo tempo que a mulher tem a sensibilidade de perceber com facilidade o que outra
pessoa está sentindo, desejando, ela tem uma personalidade forte, capaz de resolver problemas
difíceis exatamente pela sensibilidade, mesmo que precise ser mais ríspida ou enérgica.
142
Além disso, a mulher é detalhista, exigente em relação à limpeza, à qualidade de um
atendimento, à postura dos profissionais que lidera; a mulher se preocupa com o próximo
(funcionário) – com seu bem-estar, sua satisfação, seu crescimento profissional.
Estas características, muito presentes nas mulheres, facilitam-me no desempenho e
identificação com a área da hospitalidade.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Concordo. Podemos comparar o ato de receber visitas em casa e receber um hóspede no hotel.
No meu caso, existem fatores da hospitalidade doméstica que acabo reproduzindo na
hospitalidade comercial, tais como: detalhismo na limpeza; detalhismo na organização física;
prazer em receber pessoas/ servir; preocupação em deixar a visita à vontade; preocupação em
deixar a visita satisfeita para que retorne outras vezes; apresentação do ambiente, do que é
servido; preocupação em “entreter” a visita, seja com assuntos ou com uma programação que
a deixe satisfeita; treinar, educar e desenvolver pessoas.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
É difícil de expressar quais são os meus princípios de gestão ou mencionar a “receita para o
sucesso” como gestora, na área de hospitalidade, pois embora esteja há 8 anos na área sempre
temos muito o que aprender ou aperfeiçoar durante a nossa vida.
Alguns princípios que utilizo e obtenho sucesso como gestora na área de hospitalidade são:
ética, objetividade, respeito, empatia, prazer em servir, ajudar e satisfazer o próximo,
comprometimento, bom relacionamento inter pessoal, proporcionar e colaborar com o
crescimento e desenvolver pessoas.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/perfeccionista 3 Criativa 4 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos
interpessoais
4 Intuitiva 1 Emotiva
4 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 3 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
143
4 Enérgica 4 Racional 4 Motivadora
2 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
3 Formadora de gentes 4 Gosto por servir 4 Colaboradora
1 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
4 Transcendente 1 Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: Aprendeu a ser assim por forças das circunstâncias, por ter de atuar na área de
serviços.
Entrevista 3:
Tatiana Teixeira Vaz – Gerente de Serviços Quality Vila Olímpia
Idade: 24 – 30 anos
Formação: Pós graduação incompleto
Área de formação: Hotelaria
Cargo: Gerente de Serviços Tempo de cargo: 2 anos
Tempo na hospitalidade: 11 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
As três características da minha personalidade que julgo possuir e que facilita o meu dia-a-dia
na prestação de serviço são: detalhista, comunicativa e versátil. Na minha opinião essas são as
mais marcantes e quem trabalha comigo sabe disso.
Os detalhes são essenciais na área da hotelaria. O cuidado com as pessoas, a sensação de que
tudo está impecável, que tudo está do jeito que você gostaria que estivesse, torna evidente
essa característica em mim.
A comunicação tanto com a equipe quanto com os hóspedes, na minha opinião deve ser clara
e objetiva. A transparência com a equipe ajuda no processo todo. Se você transmitir
credibilidade o hóspede volta. Ele se sente acolhido e fazendo um bom negócio, uma ótima
escolha.
Sou muito comunicativa.
A versatilidade, considero caráter determinante para a área.
144
Os imprevistos são constantes e o jogo de cintura é essencial. O processo do serviço não pode
deixar rastros de que algo deu errado. Tem que transmitir a sensação de que tudo deu certo do
início ao fim. Isso seria possível sem a versatilidade?
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
No meu caso afirmo que foi por vocação.
Quando prestei vestibular em 1995, a única faculdade que possuía o curso de Administração
Hoteleira era a Ibero Americana. Eu estava ciente de que se não passasse no vestibular, teria
de estudar um ano para fazer a prova novamente (não queria fazer os cursos técnicos
existentes na época).
Nunca tinha trabalhado na área (tinha 18 anos) e tinha certeza de que tinha feito a opção certa.
Passei no vestibular e após seis meses de aula, comecei a trabalhar em um hotel.
Desde então.... Há onze anos na área.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Acredito 100%. Claro que também há vários homens de sucesso na área, porém, acredito que
a mulher tem características que são determinantes em muitos casos.
As mulheres são mais detalhistas, são intuitivas, são mais sensíveis, são mais pacientes, são
mais acolhedoras,...
A área de hospitalidade transmite muito a idéia de gostar de receber, saber acolher, cuidar do
hóspede,...
E se tratando de equipe, acredito que a mulher consiga “quebrar barreiras”, entre o chefe e o
funcionário com mais facilidade.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Concordo plenamente que a hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade
doméstica e que a mulher sabe muito bem como “receber” em casa.
A hospitalidade doméstica envolve questões como, vou receber calorosamente, vou fazer com
que a pessoa sinta-se acolhida, vou cuidar da minha “visita”, enfim: “Na minha casa ele vai
sentir-se em casa”.
145
O dia a dia dentro de um hotel tem de ser exatamente assim. Essa idéia, esse pensamento,
deve estar na cabeça de cada funcionário que faz parte da equipe.
Nada mais é que gostar de servir, ter prazer nisso!
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Procuro estabelecer uma relação de confiança e respeito com a minha equipe. Cada
funcionário tem que se sentir parte integrante de um processo longo. Ele tem que saber que o
sucesso da empresa também depende dele.
Gosto de estar sempre motivando a equipe, a pensar assim a cada instante.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/perfeccionista 3 Criativa 3 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos
interpessoais
4 Intuitiva 4 Emotiva
3 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 3 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
3 Enérgica 4 Racional 3 Motivadora
2 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
3 Formadora de gentes 3 Gosto por servir 4 Colaboradora
4 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
2 Transcendente 2 Inapetência pelo poder 3 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: Foi educada para se comportar dessa forma.
Entrevista 4:
Rachel Golfetto– Gerente Geral – Quality Faria Lima
Idade: 46 – 50 anos
Formação: superior completo
Área de formação: Hotelaria
146
Cargo: Gerente de Serviços Tempo de cargo: 2 anos
Tempo na hospitalidade: 10 anos
N.o colaboradores diretos: acima de 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Determinação, organização, detalhista, pró ativa, adoro desafios, liderança, preocupação com
a satisfação do hóspede / cliente, senso de emergência.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Foi por acaso e por oportunidade. Sempre trabalhei como Secretária Executiva Bilíngüe, até
começar a trabalhar para o Gerente Geral Sr. Christer Holtze do Renaissance como Assistente
Executiva, isso em 1997, hoje o Vice Presidente Sênior de Operações da Atlântica Hotels. Em
1998, quando ele saiu para ir para a AHI, eu em seguida fui convidada, e desde então
desempenhei várias funções, inclusive a elaboração dos manuais da empresa, como passei a
ser a Gerente de Operações e Serviços, implantando em todos os hotéis o que temos hoje, que
é o nosso certificado de Qualidade, o Selo Azul / Selo Ouro.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Sem querer desmerecer aos homens, pois meu chefe, Sr. Christer Holtze é muito admirado por
todos, acho que a mulher, sem dúvida tem muito mais carisma. Nós conseguimos entender
melhor certas situações “femininas”, como também damos mais atenção aos detalhes o que as
vezes pode passar um pouco despercebido por eles! É claro que se pode contratar ótimas
governantas que venham a suprir essa “deficiência”, mas como eu sempre digo; ”Se você não
souber fazer, não saberá cobrar”!!
147
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Atenção aos detalhes, e carinho na hora de arrumar um quarto! Recebi uma ocasião um
comentário de um hóspede e ele disse que a camareira cuidava melhor da roupa dele e dos
sapatos que deixava jogado no apartamento, do que a própria esposa... Isso prova que se
fizermos tudo com um toque especial, essa hospitalidade doméstica será sentida pelo hóspede!
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Uma receita que muitas pessoas ignoram é o “perfil”! Muitos podem ter diplomas e
experiência, mas não tem o perfil de liderança, gerenciamento e o mais importante, perfil para
lidar com as pessoas. Sou uma boa ouvinte, gosto de compartilhar meus conhecimentos com
meus colaboradores, sou exigente e gosto do trabalho bem feito. Tenho conseguido muito
êxito, e acredito estar indo pelo caminho certo!
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/Perfeccionista 3 Criativa 4 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
4 Intuitiva 2 Emotiva
4 Boa ouvinte 4 Focada em resultados 4 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 4 Empreendedora
4 Enérgica 4 Racional 4 Motivadora
4 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
4 Formadora de gentes 4 Gosto por servir 4 Colaboradora
2 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
Transcendente Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: foi educada dessa forma e tem a ver com o fato de ser mulher.
Acredito que seja um pouco de cada das duas primeiras perguntas. Nascemos com algumas
características de nossa personalidade que até certa idade em nossa vida, podem ser alteradas.
148
Por isso, acredito que sou como sou pela educação de meus pais e parte por ser mulher.
Algumas áreas são mais evidentes e mais fortes devido as experiências que passei.
Entrevista 5:
Maria Luiza Lupatin – Gerente Geral Clarion Berrini
Idade: acima 51 anos
Formação: Superior incompleto
Área de formação:
Cargo: Gerente Geral Tempo de cargo: 3 anos e 6 meses
Tempo na hospitalidade: 10 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Paciência, calma e disponibilidade para ouvir.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Por vocação, mas não consciente. Na verdade eu queria esta área mas só depois de entrar é
que me dei conta da grande afinidade.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Não. Acho que tanto a mulher quanto o homem podem ter um bom desempenho nesta área.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Acho que não, talvez só algumas características, a de provedora, a de “mãe”, não vejo outras
relações.
149
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Receber com prazer e dedicar-se ao máximo na pró-atividade.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/Perfeccionista 4 Criativa 4 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
3 Intuitiva 4 Emotiva
4 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 4 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
1 Enérgica N/R Racional 4 Motivadora
3 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
4 Formadora de gentes 4 Gosto por servir 4 Colaboradora
N/R “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
N/R Transcendente N/R Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: foi educada para se comportar dessa forma, bem como aprendeu a ser assim por
forças das circunstâncias, por ter de atuar na área de serviços.
Entrevista 6:
Leandra Gallo Antão – Gerente Geral – Clarion Jardim Europa
Idade: 24 – 30 anos
Formação: Pós-graduação cursando
Área de formação: Administração Hoteleira
Cargo: Gerente Geral Tempo de cargo: 1 ano e 6 meses
Tempo na hospitalidade: 6 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
150
Acredito que algumas de minhas características que facilitam minha atuação são: paciência,
empatia, atenção à detalhes, bom humor, colaboração e calma.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Acredito ter ocorrido por uma questão de vocação. Já trabalhei com outras atividades
anteriormente. Todas sempre foram ligadas a pessoas, ao servir e isso me satisfaz muito.
Às vezes me surpreendo em alguma situação fora do trabalho em que estou tentando ajudar
alguém. Me dá prazer fazer alguém conseguir algo que deseja ou necessita e eu saber que fiz
parte disso.
Gosto de ser lembrada com carinho.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Acredito que sim.
As situações que vivemos ao longo da vida, as experiências que vivenciamos, a educação que
recebemos nos transformam e somam muito à personalidade de cada um.
No entanto, acredito também que a mulher faz algumas coisas de maneira especial ao colocar
seu coração nelas. A maneira de demonstrar preocupação natural com as pessoas as
sensibiliza e traz resultados, principalmente na área de serviços, onde a percepção é
fundamental.
É algo involuntário e natural, quando se faz o que se gosta.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Há alguns comportamentos que reproduzo no trabalho. Estão ligados aos sentimentos pelo
próximo e preocupação com o bem-estar.
Certa vez, em um treinamento, ouvi que não devemos interferir no comportamento de um
colaborador se este não interfere ou prejudica o trabalho.
Já me peguei muitas vezes dando orientações de comportamentos e atitudes ou perguntando
diariamente se todos almoçaram para me certificar de que todos estão bem e tudo está em
harmonia.
Acho que tudo isso tem relação com o desejo de educar, algo ligado à maternidade, talvez, e
desejo de ver todos bem.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Acredito que três coisas são fundamentais: paciência, empatia e fazer o que se gosta, as
pessoas percebem isso e a qualidade sobe.
151
Quadro de característica de personalidade executiva.
3 Detalhista/Perfeccionista 4 Criativa 4 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
3 Intuitiva 4 Emotiva
4 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 3 Focada em processos
2 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
1 Enérgica 2 Racional 4 Motivadora
2 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
4 Formadora de gentes 4 Gosto por servir 4 Colaboradora
4 “Querida” 3 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 3 Direta 4 Acolhedora
2 Transcendente 1 Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque: aprendeu a ser assim por forças das circunstancias, por ter de atuar na área de
serviços.
Entrevista 7:
Fernanda Muniz – Gerente de Serviços Quality Imperial Hall
Idade: 24 – 30 anos
Formação: cursando pós graduação
Área de formação: Administração Empresas
Cargo: Gerente de Serviços Tempo de cargo: 1 ano e 5 meses
Tempo na hospitalidade: 3 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Atuando diretamente com pessoas, considerando hóspedes e equipe, elenco algumas
características importantes para a atuação assertiva.
Características como paciente, criativa, formadora e objetiva são auxiliadoras na execução de
minhas tarefas.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Considero que a construção de minha carreira se dá pela união de oportunidades e vocação.
Há muita preparação para estar apto a diversas oportunidades presentes no mercado de
trabalho, porém há muita carga de prazer no que faço, motivação por novidades e desafios que
me permitem dar continuidade.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
152
Muitas características femininas como por exemplo, emotiva, intuitiva, formadora, auxiliam
situações presentes na área de hospitalidade.
O desenvolvimento dessas habilidades femininas auxilia no desempenho e faz com que as
pessoas também se identifiquem comigo para o desempenho da tarefa “servir”.
Servir, entenda por atuar em hospitalidade em qualquer cargo.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Concordo pois há diversas ações praticadas durante a hospitalidade comercial que remetem ao
doméstico. Por exemplo, atenção ou melhor participação, pois só conseguimos interagir com
os hóspedes pois participamos dos detalhes que eles nos mostram e com os familiares
fazemos o mesmo.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Assim como em todas as áreas há dois princípios importantes: foco e comprometimento.
Na área de hospitalidade esses dois itens devem ser completados com atenção à detalhes,
empatia e gosto de servir.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/Perfeccionista 3 Criativa 3 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
3 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
3 Intuitiva 4 Emotiva
3 Boa ouvinte 3 Focada em resultados 3 Focada em processos
3 Assertiva 3 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
2 Enérgica 3 Racional 4 Motivadora
3 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
3 Formadora de gentes 3 Gosto por servir 3 Colaboradora
1 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 3 Acolhedora
N/R Transcendente 1 Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque foi educada para se comportar dessa fora.
Entrevista 8:
Mariana Fiori – Gerente Geral Quality Jardins
Idade: 24 – 30 anos
Formação: Pós graduação cursando
Área de formação: Hotelaria
Cargo: Gerente Geral Tempo de cargo: 9 meses
153
Tempo na hospitalidade: 9 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
A área de hospitalidade requer uma serie de características e eu acredito possuir algumas que
facilitam meu desenvolvimento nessa área: simpatia e prazer em servir, organização,
segurança e objetividade, dinamismo e jogo de cintura, facilidade de interpretar papeis, a
hospitalidade é um “teatro”.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Acredito que tenha sido oportunidade no início, mas só deu certo por questão de vocação.
Iniciei meu trabalho nessa área com 14 anos como recepcionista em hotéis, acampamentos,
festas,... e assim optei por fazer hotelaria, área que atuo há 9 anos.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Acredito que sim, mulheres são mais sensíveis, captam com facilidade as necessidades das
pessoas, acolhem muito bem. Além de serem determinadas e não desistirem no primeiro
obstáculo.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Concordo que a hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica, o fato de
você receber, acolher, entreter, alimentar, dar abrigo e segurança é a base da hospitalidade
doméstica e é tudo que fazemos na vida profissional.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
Na verdade não existe um modelo ideal e cada pessoa tem suas facilidades na parte de gestão.
Eu sou uma pessoa muito ligada a área de recursos humanos, e isso me ajuda a entender e
trabalhar melhor com cada colaborador.
154
Mas tenho certeza que meu sucesso vem primeiro de Deus, e segundo por fazer o que amo.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/Perfeccionista 3 Criativa 2 Paciente
4 Ética 4 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
3 Intuitiva 2 Emotiva
4 Boa ouvinte 4 Focada em resultados 3 Focada em processos
4 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
4 Enérgica 4 Racional 4 Motivadora
3 Competitiva 4 Sensível 4 Comunicativa
4 Formadora de gentes 4 Gosto por servir 4 Colaboradora
4 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 4 Acolhedora
4 Transcendente 4 Inapetência pelo poder 4 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque foi educada para se comportar dessa fora.
Entrevista 9:
Cristina Reis Marques – Supervisora Operacional Confort Suítes Oscar Freire
Idade: 24 – 30 anos
Formação: Superior completo
Área de formação: Turismo
Cargo: Supervisora Operacional Tempo de cargo: 1 ano
Tempo na hospitalidade: 5 anos
N.o colaboradores diretos: acima 20
Que características de personalidade você julga possuir e que facilitam sua atuação na área da
hospitalidade?
Detalhista, característica imprescindível para a hotelaria pelo fato de vendermos o serviço
“um momento especial”, precisamos ficar atentos em todo e qualquer detalhe que fará a
diferença na satisfação de nosso hóspede.
Formadora / treinadora, em se tratando de atendimento ao cliente, precisamos manter a equipe
informada e valorizada e acredito que o treinamento é a melhor opção de informação e
motivação.
155
Versátil e multifuncional: nos dias de hoje é extremamente necessário atuarmos em diversas
áreas com o mesmo desempenho e qualidade.
Focada: procuro direcionar o foco de minha equipe e dos meus afazeres estabelecendo prazos
e objetivando processos e resultados satisfatórios.
Sinceridade é um traço de personalidade importante, e na hotelaria não deixa de ser diferente.
Utilizo sempre com meus colaboradores e clientes em todos os momentos.
Fácil relacionamento: procuro manter um bom relacionamento com todos os colaboradores do
hotel, independente do departamento e da função. Acredito que a equipe bem sintonizada gera
resultados memoráveis.
Você considera que sua carreira na área da hospitalidade se deu por uma questão de
oportunidade, acaso ou por uma questão de vocação? Explique a resposta.
Acredito que aconteceu uma série de circunstâncias. Começou pela oportunidade de estagiar
na área, a partir de então fui gostando e interagindo com o ambiente e finalmente dentro da
área que eu estudei (Turismo) a hotelaria tornou-se a primeira opção para eu construir minha
carreira. Considero a oportunidade em estagiar e a minha identificação com a área dois fatores
importantes para minha atuação na área.
Você acredita que o fato de ser mulher faz com que facilite seu desempenho e identificação
com a área da hospitalidade? Explique por que.
Sim, apesar de soar “feminista” demais, percebo que em alguns momentos o fato de ser
mulher, da bagagem e educação que temos desde pequenas, conseguimos nos familiarizar
melhor com atividades específicas da hospitalidade que estão diretamente ligadas ao objetivo
de fazer com que nosso cliente se sinta em “casa”.
A hospitalidade comercial é uma extensão da hospitalidade doméstica (tarefas, espaços,
relações). Você concorda com isso? Que relações da hospitalidade doméstica você reproduz
em sua vida profissional?
Plenamente, porém em proporções diferentes. A relação reproduzida é a de limpeza,
preocupação com o bem estar, cuidado com os pertences, proporcionar, ter sensação de
cuidado, atenção e segurança.
Quais seus princípios de gestão ou sua “receita” para ter sucesso na área da hospitalidade?
156
Meus princípios que utilizo em todos os campos de minha vida: comprometimento com a
atividade independente para quem se destina. Fazer o bem, sem se importar para quem; tratar
as pessoas como você gostaria de ser tratada; paciência; respeito ao próximo e suas
limitações; aprender a “tirar” das pessoas aquilo que elas têm de melhor. Uma equipe é feita
pela soma de diferentes talentos; coragem e assertividade para enfrentar desafios e ponderar
as questões de forma correta; alinhar os anseios da empresa com os meus, sempre trabalho por
algo em que realmente acredito. A missão da empresa é o meu foco e procuro sempre
acreditar nela.
Quadro de característica de personalidade executiva.
4 Detalhista/Perfeccionista 3 Criativa 3 Paciente
4 Ética 3 Empática 4 Amor ao próximo
4 Cultivadora de
relacionamentos inter
pessoais
3 Intuitiva 1 Emotiva
3 Boa ouvinte 4 Focada em resultados 4 Focada em processos
3 Assertiva 4 Versátil/multifuncional 3 Empreendedora
2 Enérgica 4 Racional 3 Motivadora
3 Competitiva 4 Sensível 3 Comunicativa
4 Formadora de gentes 3 Gosto por servir 4 Colaboradora
4 “Querida” 4 Objetiva 4 Franca
4 Prestativa 4 Direta 3 Acolhedora
2 Transcendente 4 Inapetência pelo poder 2 Serena
Acredita que essas características, as que possui, passaram a fazer parte de sua personalidade
porque foi educada para se comportar dessa forma.
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