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“Eu era menino, vi via entre os livros do escritório do meu pai, mas já
desconfiavaenorm ementedoslivroschamados
cívicos
.Ousej a:oslivrosque,
nasentrelinhasdesuashistórias,queriammeensinaraobedecer,aserbem
comportado, a respeitar os mais velhos, a temer a autori dade, a ser bem
educado,essascoisas.Eugostavaeradashistorinhasquemeencantavame
não mecobravamnada.Achoquefoiaíquedescobriqueiaserhumorista:eu
desconfiavadetodasas
verdades
quequeriammeimpor.
Olha que a pressão era grande! Com toda esta desconfiança, era
impossível para eu deixar de me
ufanar
pelo meu país. Vivíamos sob o
governodeGetúlioVargaseonossoGrupoEscolarestavasemprecheiode
fotos muito simpáticas com o sorriso do ditador brasileiro, com todas as
criancinhasdoBrasilindoaele.Eéram osobrigadosanosorgulhardenossa
terra, ainda que,metades dosmeusamigosdeinfânci a tenham morrido de
shistose
oudeameba.Mesmoassim,nósmarchávamoscheiosdepatriotismo
no“DiadaRaça”.Pobreraçaanossa!Naúltimaparadaemqueeumarchei
maisdedezmenininhosdesmaiaramsobosolfortedesetembro.
Crescievireidesenhi sta.Ecrieimuitossímbolos,aprendendoaconviver
comeles.Detodaestavivênciainfantil,umacoisaficoumarcadaemmeupeito
(!):umapaixãoemocionadapelabandeiradoBrasil.Lembromeque,todaa
vezqueeuavianasenciclopédias,lánoaltodapágina,entreasbandeirasda
BolíviaedaBulgária,eunãotinhadúvidas:elaeraamaisbonitadetodas.Não
tinha nempraI nglaterranemproJapão!
Bem jovem ainda, fui pela primeira vez à Europa numa excursão de
universitáriosm ineiros.EfuivisitarnossocemitériodospracinhasemPistóia.
Eu ia olhando a paisagem italiana, morros e campos, árvor es e céu e
pensandoqueerabonitover,láforadoônibus,umapaisagemquenãoeraa
da minha terra. De repente, numa curva da estrada, eis que me aparece
tremulandolánoalto,contraocéuazuldapenínsula,abandeiradoBrasil.Caí
nochoro,namaioremoção,nãodeupraresistir,comoéqueeuiaresistir se
no“DiadaRaça”oportabandeiradodesfileeraeu?Imagineseeutivesseido
praguerra?Tinhamorridoabraçadonabandeira.Dechorar!
Depois,otempopassoueeufizmeuprimeirolivroinfantil,chamavase
Flicts.
Eeraahistóriadeumacorquepercorriaomundoembuscadeseulugar.Ena
hora do
Flicts
visitar o lugar mai s bonito do mundo eu queria botar lá a
bandeira do Brasil, claro. Ela é que era a mais bonita. Não deu. Naquela
época,1969,abandeiranãomepertencia.Ninguémpodia
amar
abandeirado
Brasil,naquelaépoca.Tinhamosquerespeitála.Sóqueaquelesquequeriam
quenósasrespei tássemos confundiamrespeitocommedo.Eaí,nóstínhamos
medodeumpaisevero,queobrigaaqueorespeitemosemtrocadegritose
chineladas.Fiz,então,o
Flicts
semverde,amareloouazul.Masfiqueimuito
frustrado.Foiaíquederepente,meocorr eua idéiadefazerestafábula.Para
resgatarminhabandeiradainfância,minhabandeiradaEnciclopédia,minha