
conhecimento da cerâmica que havia nos tesos da ilha e cujos padrões
decorativos, a ele, como arquiteto, muito interessava. Já naturalizado brasileiro,
justificava seu interesse com o argumento de que estava resguardando o
patrimônio nacional, uma vez que a cerâmica estaria sendo levado para fora do
país pelos americanos - “Os Evans”
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.
Encontramos registro de uma de suas primeiras viagens à Ilha para
desenterrar os objetos indígenas, em 1954, ocasião em que teria ido ao Teso
Gentil, onde encontrou apenas cerâmica doméstica, muito quebrada, e ossos.
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Não encontramos registros de todas as viagens, que teriam acontecido quase
que anualmente por um período de cerca de 20 anos. Em cada uma dessas
ocasiões chegava a demorar-se em média um mês na ilha, fazendo
explorações e coletando material que enviava por via aérea para Florianópolis.
Pela necessidade de espaço para o armazenamento de tantos objetos,
construiu um museu de 60m
y
nos fundos de sua casa, onde o material
permanecia exposto à visitação. Em carta à Napoleão Figueiredo, em 31/07/57,
comenta que toda a cerâmica trazida de Marajó estava classificada, com local
de procedência.
A classificação a que ele se referia provavelmente não resistiu aos anos
e ao abandono a que foi relegado o museu após a sua morte. Nos parece que a
cerâmica deve ter sido marcada com pequenas etiquetas adesivas, que caíram
com o tempo; as poucas que encontramos nas peças continham números hoje
sem nenhum significado. Após a morte de Tom Wildi, houve uma tentativa de
catalogar o material, levada a efeito por Elton Batista Rocha, então aluno do
Curso de Bacharelado em História da UFSC. No museu do colecionador e com
a ajuda da viúva, Maria Wildi, Elton identificou as peças através de croquis,
artigos para jornais e diário de campo
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e numerou 903 delas, das quais 69 com
o sítio de procedência.
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Em sua viagens, Tom Wildi fez amizade também com pessoas ligadas
ao Museu Goeldi, que conheceu em 1951, o que fez com que começasse a
estudar arqueologia com grande interesse. Em carta a um amigo, em 21/06/60,
fala de sua intenção de fazer escavações obedecendo aos padrões científicos,
com medições e documentação gráfica. Se chegou a fazê-lo, não tivemos
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Jornal O Estado. Florianópolis,17/06/84, s/nº página.
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Segundo carta pessoal de Tom Wildi à família. Belém, 25/09/54.
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Tivemos acesso a várias cartas que Tom Wildi trocava com amigos em Belém e no Museu Goeldi e as
que escrevia para a família durante as viagens, assim como a artigos de jornal, que constam da
bibliografia. O diário de campo mencionado por Elton deve estar em poder da família, com quem não
logramos entrar em contato, ou então deve ter-se perdido.
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R
OCHA
, Elton Batista. Relatório dos Trabalhos realizados no museu particular do colecionador Tom
Wildi no período de agosto de 1983 a março de 1984. Florianópolis, UFSC, 1984, datilografado.