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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA
Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
ROBERTO ALLEGRETTI
ESTUDO DOS EFEITOS DE PROGRAMA DE APOIO NA
AGRESSIVIDADE REACIONAL DE POLICIAIS ENVOLVIDOS EM
OCORRÊNCIAS GRAVES
São Bernardo do Campo
2006
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ROBERTO ALLEGRETTI
ESTUDO DOS EFEITOS DE PROGRAMA DE APOIO NA
AGRESSIVIDADE REACIONAL DE POLICIAIS ENVOLVIDOS EM
OCORRÊNCIAS GRAVES
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Psicologia da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do título de
mestre em Psicologia da Saúde
Docente Responsável: Profª. Dra. Eda Marconi Custódio
São Bernardo do Campo
2006
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FICHA CATALOGRÁFICA
Allegretti, Roberto
Estudo dos efeitos de programa de apoio na agressividade reacional
de policiais envolvidos em ocorrências graves / Roberto Allegretti. São
Bernardo do Campo, 2006.
169 p.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo,
Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia, Curso de Pós-Graduação em
Psicologia da Saúde.
Orientação : Eda Marconi Custódio
1. Agressividade 2. Violência - Psicologia 3. Polícia 4. Programa de
apoio I.tulo.
CDD 157
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é estudar os efeitos de programa de apoio na
agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves,
considerando-se como tal aquelas em que há confronto armado ou acidentes de
trânsito com viaturas em atividade operacional, qualquer que seja o resultado do
evento. Esse estudo é composto pela verificação da modificação da resposta
agressiva reacional de 77 policiais militares envolvidos em ocorrências graves,
utilizando-se, para esse fim, o Psicodiagnóstico Miocinético antes e depois da
execução do programa de apoio. Compõem, ainda, o estudo a caracterização sócio-
demográfica da amostra e a identificação dos níveis de agressividade nela
existentes no início do programa e após o seu encerramento, além da definição do
perfil de cinco categorias distintas, em função do tipo de resposta apresentada após
o programa: agressividade ampliada, reduzida, inalterada, estável e instável. É ainda
objeto da presente pesquisa o estudo clínico de um caso de cada uma das
categorias definidas, de acordo com o perfil apurado, utilizando-se, além dos dados
do Psicodiagnóstico Miocinético, outros levantados por intermédio de ficha de
cadastro, de entrevista individual, do Teste Palográfico e da Escala de
Personalidade de Comrey. Os resultados demonstram a modificação da resposta
agressiva reacional na maioria dos policiais militares envolvidos no estudo, após o
programa de apoio.
Palavras-chaves: agressividade, violência, polícia, programa de apoio.
ABSTRACT
The purpose of the present work is the study about the effects of the supporting
program in the aggressive reaction of the police officers involved is severe
occurrences considering those situations where there is an armed confrontation or
traffic accidents with police cars during operational activity whatever might be the
result of the event. This study is compound by the verification of the modification in
the aggressive answer in reaction of 77 military policemen involved in these severe
occurrences, for this purpose, it was used Myocinetic Psycodiagnosis before and
after the execution of the supporting program. It is also part of the study the socio-
demographic feature of the sample and the identification of the levels of
aggressiveness existent in the beginning of the program and after its finishing as well
the definition of the profile of the five distinguished categories regarding the kind of
answer presented after the program: aggressiveness amplified, reduced, unaltered,
stable and unstable. Is still a subject of the present research the clinical study one
case of each mentioned category according to the verified profile using besides the
obtained results of the Myocinetic Psycodiagnosis, other results obtained through the
registered files, individual interviews, Paleographic Test and Comrey’s Personality
Scale. The results denote the modification in the aggressive answer in reaction of the
majority of the military policemen involved in this study after the supporting program.
Key-words: aggressiveness, violence, police, supporting program
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Civis e policiais militares mortos e feridos no Estado de São Paulo..........38
Tabela 2: Crimes por 100.000 habitantes no Estado de São Paulo..........................39
Tabela 3: Civis mortos emmeros absolutos e crimes por 100.000 habitantes nos
Estados Unidos da América.......................................................................................39
Tabela 4: Indicadores de agressividade....................................................................73
Tabela 5: Freqüência das respostas, intensidade e sentido dos desvios.................92
Tabela 6:.Freqüência em cada desvio.......................................................................93
Tabela 7: Freqüência em cada categoria de resposta...............................................93
Tabela 8: Variáveis e categorias de resposta............................................................94
Tabela 9: Níveis de significância das variáveis contínuas.......................................100
Tabela 10: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (1)..................104
Tabela 11: Validação do protocolo (1)......................................................................105
Tabela 12: Resultados por escala (1).......................................................................105
Tabela 13: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (2)..................109
Tabela 14: Validação do protocolo (2)......................................................................110
Tabela 15: Resultados por escala (2).......................................................................111
Tabela 16: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (3)..................115
Tabela 17: Validação do protocolo (3)......................................................................116
Tabela 18: Resultados por escala (3).......................................................................116
Tabela 19: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (4)..................119
Tabela 20: Validação do protocolo (4)......................................................................121
Tabela 21: Resultados por escala (4).......................................................................121
Tabela 22: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (5)..................124
Tabela 23: Validação do protocolo (5)......................................................................126
Tabela 24: Resultados por escala (5).......................................................................126
Tabela 25: Comparação da agressividade reacional em dois estudos....................130
Tabela 26: Comparação da modificação da resposta agressiva reacional
individual...................................................................................................................131
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Tipos de prescrição e período
Quadro 2: Distribuição de turmas e períodos
Quadro 3: Programação diária do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Gráfico de barras por sexo..........................................................................84
Figura 2: Histograma da idade, com alisamento pelo método de Kernel...................85
Figura 3: Boxplot da idade..........................................................................................85
Figura 4: Gráfico de quantil-quantil da idade..............................................................85
Figura 5: Gráfico de barras do estado civil/situação conjugal....................................86
Figura 6: Gráfico de barras do nível hierárquico........................................................86
Figura 7: Gráfico de barras do nível de escolaridade.................................................87
Figura 8: Histograma do tempo de serviço, com alisamento pelo método de
Kernel.........................................................................................................................87
Figura 9: Boxplot do tempo de serviço.......................................................................88
Figura 10: Gráfico de quantil-quantil do tempo de serviço.........................................88
Figura 11: Gráfico de barras do local de residência...................................................89
Figura 12: Gráfico de barras do local de trabalho......................................................89
Figura 13: Gráfico de barras do número de ocorrências............................................90
Figura 14: Histograma da taxa de ocorrências, com alisamento pelo método de
Kernel.........................................................................................................................90
Figura 15: Boxplot da taxa de ocorrências.................................................................91
Figura 16: Gráfico de quantil-quantil da taxa de ocorrências.....................................91
Figura 17: Diagrama de dispersão do número de ocorrências pela taxa de
ocorrências.................................................................................................................92
Figura 18: Boxplot da idade por categoria de oscilação de resposta.........................95
Figura 19: Gráfico de barras das proporções de cada nível de situação conjugal de
acordo com as categorias de oscilação de resposta..................................................96
Figura 20: Gráfico de barras das proporções de cada nível hierárquico de acordo
com as categorias de oscilação de resposta..............................................................96
Figura 21: Gráfico de barras das proporções de cada nível de escolaridade de
acordo com as categorias de oscilação de resposta..................................................97
Figura 22: Boxplot do tempo de serviço por categorias de oscilação de resposta....97
Figura 23: Gráfico de barras das proporções de cada local de residência de acordo
com as categorias de oscilação de resposta..............................................................98
Figura 24: Gráfico de barras das proporções de cada local de trabalho de acordo
com as categorias de oscilação de resposta..............................................................98
Figura 25: Gráfico de barras das proporções do número de ocorrências de acordo
com as categorias de oscilação de resposta..............................................................99
Figura 26: Boxplot da taxa de ocorrências por categorias de oscilação de
resposta......................................................................................................................99
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................12
I – INTRODUÇÃO......................................................................................................16
1. AGRESSIVIDADE..................................................................................................16
1.1 Evolução e agressividade....................................................................................16
1.2 O instinto agressivo..............................................................................................18
1.3 A agressividade e o desenvolvimento emocional individual................................21
1.4 A agressividade transformada em violência.........................................................31
1.5 A agressividade pela ótica da teoria motriz da consciência.................................34
2. A AGRESSIVIDADE PRESENTE NO TRABALHO POLICIAL..............................38
2.1 A violência policial sob a ótica da sociologia.......................................................42
2.2 A violência policial sob a ótica da psicologia psicodinâmica...............................44
3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE APOIO
PARA POLICIAIS ENVOLVIDOS EM OCORRÊNCIAS GRAVES NO ESTADO DE
SÃO PAULO..............................................................................................................49
3.1 Histórico...............................................................................................................49
3.2 Primeira pesquisa sobre o programa de apoio....................................................54
3.2.1 Método utilizado na primeira pesquisa..............................................................55
3.2.2 Resultados da primeira pesquisa......................................................................57
3.3 Segunda pesquisa sobre o programa..................................................................59
3.4 Existência de programas semelhantes................................................................59
3.5 Programa de apoio e mudança psíquica.............................................................63
4. OBJETIVOS...........................................................................................................67
4.1Objetivo geral........................................................................................................67
4.2 Objetivos específicos...........................................................................................67
II – MÉTODO.............................................................................................................68
1. AMOSTRA..............................................................................................................68
2. LOCAL....................................................................................................................69
3. INSTRUMENTOS...................................................................................................70
3.1 Ficha de cadastro e entrevista.............................................................................70
3.2 Psicodiagnóstico Miocinético (PMK)....................................................................71
3.3 Teste Palográfico.................................................................................................73
3.4 Escala de personalidade de Comrey (CPS)........................................................75
4. PROCEDIMENTOS................................................................................................76
4.1 Procedimentos de análise e tratamento de dados...............................................79
III – RESULTADOS....................................................................................................84
1. RESULTADOS DO ESTUDO QUANTITATIVO.....................................................84
2. RESULTADOS DO ESTUDO CLÍNICO...............................................................101
IV – DISCUSSÃO....................................................................................................128
1. DISCUSSÃO DO ESTUDO QUANTITATIVO......................................................128
2. DISCUSSÃO DO ESTUDO CLÍNICO..................................................................138
3. DISCUSSÃO FINAL.............................................................................................144
V – CONCLUSÃO....................................................................................................146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................149
ANEXOS..................................................................................................................156
ANEXO A.................................................................................................................157
ANEXO B.................................................................................................................158
ANEXO C.................................................................................................................159
ANEXO D.................................................................................................................160
ANEXO E..................................................................................................................163
ANEXO F..................................................................................................................168
12
APRESENTAÇÃO
A população mundial convive hoje com cenas chocantes de violência,
decorrentes de guerras, atentados terroristas e massacres. Mais especificamente no
Brasil, essa violência está ligada à atividade criminosa e à forma como o Estado
reage a ela. São homicídios, chacinas, latrocínios, seqüestros, espancamentos e
tortura que expõem a violência criminal, a violência prisional e a violência policial. O
que se observa de uma forma geral, no campo da violência, é que, muito além dos
grandes efeitos dessas tragédias, tem se instalado nas pessoas um sentimento de
desesperança na possibilidade de reversão da atual situação. O resultado parece
ser devastador, na medida em que provoca a redução da capacidade de indignação
e o aumento da sensação de insegurança.
Essa sensação de insegurança, por seu turno, é influenciada pela forma
como fatos criminosos, impregnados de incompreensível violência, são levados
pelos meios de comunicação ao conhecimento da população, com comentários e
propostas que, longe de oferecer soluções factíveis, alimentam com farto material o
sentimento de medo e de impotência de cada cidadão.
Em verdade, colocada a questão em sua real dimensão, verifica-se que,
em termos de criminalidade, o que acontece hoje em grandes centros urbanos
brasileiros não está muito distante do que acontece em cidades de países
desenvolvidos. No ano de 2004, o número de homicídios por grupo de 100.000
habitantes na cidade de São Paulo foi de 31, 87, comparável aos índices de cidades
como Washington, DC e Nova Orleans, nos Estados Unidos que, no ano de 2003,
tiveram 44,04 e 57,68 homicídios por 100.000 habitantes, respectivamente, segundo
dados do Federal Bureau of Investigation – FBI (UNITED STATES OF AMERICA,
2005).
O que aumenta a sensação de insegurança do brasileiro, portanto, parece
ser a qualidade do crime, ou seja, a ousadia e a violência crescentes que vêm
caracterizando as ações criminosas e que incluem resgates de presos, seqüestros
indiscriminados, assaltos cada vez mais ousados e, infelizmente, a morte
desnecessária de muitas de suas vítimas, incluindo aí os próprios marginais, dentro
do ambiente prisional ou em disputas territoriais e os policiais.
Há poucas décadas, seria impensável a violência atual e, na imensa
maioria dos casos de atuação policial, a reação armada do marginal. Nem mesmo
13
seria crível o enfrentamento à polícia que hoje se vê com alguma constância em
conflitos entre torcidas em praças desportivas, em manifestações reivindicatórias ou
mesmo em ações de reintegração de posse decorrentes de invasões de
propriedades. E não se diga que o respeito existente nessa época era fruto do
processo histórico por que passava o país, marcado por governos militares. Em
verdade, muito antes da vigência do regime militar, a simples presença do policial
fardado em uma situação de conflito era suficiente para acalmar os ânimos
exaltados e recompor a ordem pública rompida.
Hoje, o cenário é bem diferente na sociedade brasileira. Importantes
referenciais necessários a uma equilibrada convivência social foram perdidos.
Valores básicos foram esquecidos e, como conseqüência, o freio social natural,
resultante da internalização desses valores em cada cidadão, tamm foi
enfraquecido. Por falta de limites impostos no lar, crianças começaram a não mais
respeitar os pais e, na seqüência do processo, já na condição de adolescentes ou
adultos, passaram a desrespeitar os professores e os representantes da autoridade
constituída, incluídos aí os policiais e esses que já experimentam a sensação de
insegurança como cidadãos, vêm-na potencializada no exercício de seu trabalho
pelo desrespeito à figura do policial.
Assim, é de se esperar que o policial não passe incólume após um evento
com enfrentamento armado, especialmente se houver a morte do marginal, de outro
policial ou ferimento nele próprio. Esse fato representará, sem dúvida, significativo
conflito de natureza psíquica que, agregado a outros decorrentes da própria
natureza do trabalho, pode conduzi-lo a transtornos somatoformes, alcoolismo,
desajustes conjugais e, em situação extrema, ao próprio suicídio.
Em sentido inverso, é importante também destacar que, por vezes, as
características individuais do policial, especialmente no que concerne à
agressividade, podem ter influência decisiva no desencadeamento do evento crítico.
Afinal, ele é selecionado dentre os integrantes da comunidade e pode ter
desenvolvido, em função de todas as carências sociais, características não
recomendáveis para o exercício da função policial e que não foram detectadas no
processo seletivo de ingresso.
É este segundo cenário o campo de interesse do presente trabalho, ou
seja, como a agressividade individual que, em certa medida é necessária à
execução do trabalho policial, pode se transformar em violência e como essa
14
violência pode ser controlada por meio de uma intervenção adequada, com ganhos
pessoais e institucionais.
Estudar os efeitos de um programa de apoio na agressividade reacional
de policiais envolvidos em ocorrências graves, objetivo maior deste estudo, significa
retirá-lo de sua formulação fática e conduzi-lo ao fecundo campo de seus
pressupostos teóricos, de sua dinâmica e de seus resultados.
Dentro dessa linha, o presente trabalho foi projetado como atualização,
particularização e aprofundamento de outro estudo sobre o tema desenvolvido pelo
autor, no ano de 1996.
A participação ativa do autor na implantação de programa de apoio a
policiais militares do Estado de São Paulo envolvidos em ocorrências graves e sua
experiência de mais de trinta e cinco anos no exercício de diversas funções no
quadro hierárquico da Instituição Policial Paulista serviram de motivação para buscar
novos resultados e abrir perspectivas de novas pesquisas.
Assim, buscando definir metodologia de apresentação que permita melhor
compreensão sistêmica, o trabalho foi estruturado da seguinte forma:
- Capítulo I: composto pela introdução, que engloba os aspectos teóricos
mais expressivos ligados à agressividade e sua vertente de violência, a partir das
perspectivas da etologia e da psicologia psicodinâmica. Faz parte ainda da
introdução o detalhamento do programa de apoio para policiais militares envolvidos
em ocorrências graves existente no Estado de São Paulo e as pesquisas sobre ele
realizadas, bem como a verificação da existência de programas semelhantes no
Brasil e em outros países. Compõem também esse capítulo, estudos relativos à
mudança psíquica, de forma a demonstrar que o programa pode funcionar como
facilitador de mudança psíquica, mas que essa mudança pode se manifestar em um
primeiro momento até por meio do aumento da agressividade reacional, por conta da
utilização de estratégias defensivas, sem que isso signifique ineficácia da
intervenção. Finalmente, integra o capítulo a descrição do objetivo geral e dos
objetivos específicos da pesquisa;
- Capítulo II: composto pelo método utilizado, com detalhamento da
amostra selecionada, do local em que foi realizada a pesquisa, dos instrumentos
utilizados e dos procedimentos para se alcançar os objetivos definidos, tanto na
parte quantitativa como na parte qualitativa da pesquisa;
15
- Capítulo III: composto pelos resultados da parte qualitativa do trabalho e
pelo estudo clínico de 05 casos selecionados, a partir da análise quantitativa,
conforme previsão existente no capítulo referente ao método;
- Capítulo IV: composto pela discussão dos resultados obtidos na parte
quantitativa e no estudo clínico;
- Capítulo V: composto pela conclusão, tanto da parte quantitativa como
do estudo clínico e por proposta de desenvolvimento de novas pesquisas sobre o
tema;
- Partes pós-textuais do trabalho, abrangendo as referências bibliográficas
e os anexos julgados relevantes.
16
I - INTRODUÇÃO
1. AGRESSIVIDADE
Conceituar e estabelecer os determinantes da conduta agressiva tem sido
desafio para diversos autores de diferentes linhas teóricas que procuram explicar
porque ela é fundamental para a própria sobrevivência humana e porque, muitas
vezes, transforma-se em instrumento de destruição.
O mundo dito civilizado convive, hoje, com cenas dramáticas de violência,
marcadas quase sempre pela inexistência plena de respeito à vida, à integridade
física e à dignidade das pessoas. E essa violência esintrinsecamente articulada a
um sentimento muito presente de egoísmo e pouca fraternidade, decorrente da
acentuada degradação de indicadores de desenvolvimento como a educação, a
família, a moral e o espírito de solidariedade.
Os atos agressivos com finalidade destrutiva, característicos da violência,
são praticados por indivíduos isoladamente, por grupos de indivíduos com diversas
motivações, por organizações criminosas e, até, pelo próprio aparelho do Estado.
Caracterizam, portanto, diversas formas de violência, inclusive a institucional e o que
se tem observado com freqüência é a incapacidade de reação organizada das
pessoas contra esses fatos e, mais do que isso, até a incapacidade de
demonstração da irresignação com tudo o que acontece, absorvendo essa violência
como algo que já faz parte do mundo moderno.
Como já dito, várias teorias se propõem a explicar a agressividade,
cabendo aqui trazer a visão de algumas delas.
1.1 Evolução e agressividade
Lorenz (1973), em seu livro A Agressão: uma história natural do mal,
procura explicar a agressão humana por intermédio do método etológico. Para ele,
apenas com o estudo das semelhanças e diferenças de muitas espécies de animais
se pode responder a perguntas sobre como a agressão influi nas possibilidades de
sobrevivência do organismo ou como foi a evolução dos sistemas de comportamento
das diversas espécies até alcançar a condição atual, ou uma terceira muito mais
17
complexa: Por que o homem tem uma tendência tão singular para a agressão intra-
específica, ou seja, a agressão voltada para outros homens?
O autor sugere que a resposta está no fato de que, ao contrário do que
acontece com os animais que não têm linguagem, o rápido desenvolvimento
tecnológico do homem superou a evolução mais lenta das inibições inatas contra a
expressão de sua instigação agressiva. Na espécie humana, a agressão,
inicialmente, teria a função de defesa contra qualquer tipo de ameaça, mas depois,
com o desenvolvimento cultural, passou as ter outras funções, muitas delas
prejudiciais à sua própria sobrevivência, das quais a guerra é a maior expressão.
O grande perigo que o autor aponta com relação ao instinto agressivo é a
sua espontaneidade, pois, segundo ele, o sistema nervoso não depende só de
estimulação externa, podendo agir espontaneamente, ou então tendo uma redução
sensível de seu limiar na estimulação da resposta agressiva, quando colocado sob
privação.
Por outro lado, a natureza proporcionou o desenvolvimento de
mecanismos controladores das pulsões espontâneas para tornar a agressão intra-
específica menos perigosa. Dessa forma, desenvolveram-se comportamentos que
assumiram o caráter de cerimônias simbólicas para esvaziar funções primitivas. Um
exemplo característico dessa evolução é o comportamento de ameaça substituindo
ou mesmo precedendo a agressão real, dando condições para a fuga do mais fraco.
Essas cerimônias simbólicas, segundo Lorenz (1973), variam de acordo
com a cultura e normalmente são aprendidas e suas principais funções seriam a
adaptação ao meio, a comunicação e informação dentro de uma determinada
comunidade, a criação de laços de amizade entre componentes da mesma espécie
e, principalmente, a canalização da agressão para fins inofensivos.
Os mecanismos inibitórios descritos desenvolveram, em algumas
espécies, o chamado combate de honra, preâmbulo do combate real, mas que
permitiria o afastamento do mais fraco do local do combate ou ainda o
comportamento de submissão, em que aquele que se encontra em desvantagem no
combate real oferece a sua parte mais sensível ao adversário, pondo,
imediatamente, fim à luta.
Segundo Megargee e Hokanson (1976), caso esteja correta a posição de
Lorenz, pouco se alcançará na redução da violência, por meio da educação ou
eliminação das frustrações. Para Lorenz, contudo, as saídas para que a agressão
18
inata não se transforme em violência seriam o redirecionamento das pulsões
agressivas para práticas socialmente aceitas como esportes, artes e ciências ou
ainda o estabelecimento de laços e relações pessoais incompatíveis com a
agressão.
Todos os grandes perigos que chegaram, inclusive, a ameaçar a
humanidade de extinção foram conseqüência direta do pensamento conceitual e da
linguagem verbal, já que tais padrões apareceram prematuramente, sem a
necessária adaptação dos instintos e das forças inibitórias. Dessa forma, a cultura
interrompeu o trabalho filogenético que criaria os mecanismos inibitórios da
destruição de semelhante, impossibilitando a reação às pulsões inatas da agressão.
As funções básicas do comportamento agressivo animal são reguladas
pelos instintos de hierarquia, territorialidade e defesa da prole, que irão agir ou serão
suprimidos, de acordo com a situação momentânea do animal. Assim, as pulsões
agressivas resultam da pressão da seleção intra-específica que permitiu surgir no
homem, há muito tempo, esse tipo de pulo, para a qual não há escape adequado
na sociedade atual. (LORENZ, 1973).
1.2 O instinto agressivo
A partir das colocações de Lorenz, muitos autores têm discutido a teoria
da agressão como instinto, não como princípio que tem por finalidade a destruição e
a morte, mas como força que tem por objetivo preservar e organizar a vida
(KRISTENSSEN, 2003).
Storr (1970) ensina que não se pode dizer com exatidão se o
comportamento agressivo caracteriza ou não resposta instintiva do homem, no
entanto, pode-se afirmar que o homem, assim como outros animais, quando
estimulado, responde com sentimentos subjetivos de ira e com mudanças físicas
preparatórias para a luta. Para o autor, não há dúvidas de que existe um mecanismo
fisiológico que permite a um animal, na perspectiva da auto-conservação, levar
dentro de si o potencial necessário para a resposta agressiva.
Segundo Pinheiro (1992), há uma série de alterações que ocorrem com o
organismo durante o comportamento agressivo, com estimulação do sistema
nervoso simpático e conseqüente produção de adrenalina que promove um aumento
geral no nível de excitação e vigilância. Ainda segundo o autor, o comportamento
19
agressivo é sempre mediado por processos fisiológicos que se desenvolvem na
estrutura do sistema nervoso e a agressividade pode ser alterada por modificação
da taxa metabólica dos neurotransmissores do sistema nervoso central. Caracteriza-
se como relevante o fato de que essas substâncias, que parecem mediar o
comportamento agressivo, são encontradas em grandes concentrações no sistema
límbico.
Por sistema límbico compreende-se o córtex cerebral – lobo temporal e
zonas inferiores do lobo frontal; a área septal; o complexo amigdalóide; o hipocampo
e o hipotálamo, contendo, assim, estruturas dos três cérebros descritos por
MacLean (1952 apud PINHEIRO, 1992), teoria segundo a qual a evolução do
cérebro humano se processou à semelhança de uma casa à qual novas alas e
superestruturas foram adicionadas no decorrer da filogênese. Assim, o homem, no
curso de sua evolução foi provido de três cérebros. O primeiro, mais antigo,
semelhante ao dos répteis. O segundo, herdado de mamíferos inferiores e o terceiro
como uma conquista de mamíferos superiores.
O estudo das funções cerebrais na agressão tem sido realizado por meio
da observação de lesões naturais e por lesões experimentais provocadas em
animais em laboratório, sendo que grande parte das pesquisas tem se concentrado
nas estruturas do sistema límbico. Mas, da mesma forma como têm sido
pesquisados os mediadores neurológicos da agressão, tammm sido estudados
os fatores inibidores, primeiro em animais e depois em seres humanos.
Constatou-se, por exemplo, que a incisão cirúrgica do rinencéfalo, feita em
instituições psiquiátricas, aliviou a síndrome de descontrole de pacientes
extremamente agressivos. Outros estudos puderam demonstrar a possibilidade de
controle do comportamento agressivo por meio da estimulação elétrica cerebral ou
da redução do hormônio sexual masculino, aumentando o limiar da agressão
(PINHEIRO, 1992).
Apesar de ficar demonstrado que o mecanismo fisiológico da agressão é
realmente instintivo, o que Storr (1970) questiona é a forma de acionamento desse
mecanismo, ou seja, se ele precisa de uma ameaça externa para se manifestar,
caracterizando, portanto um potencial que não precisaria ser utilizado ou se haveria
nos animais e nos próprios seres humanos um acúmulo interno de tensão agressiva
que demandaria uma descarga periódica. Se a primeira colocação for verdadeira, o
que se necessita para que a agressão não ocorra é evitar estímulos que possam
20
provocar esse tipo de resposta. Já se for verdadeira a segunda, o que se deve
buscar são escoadouros adequados para ela.
Para Storr (1970), há autores que buscam demonstrar que não existe
nenhuma necessidade essencial para a exteriorização do comportamento agressivo,
citando Scott (1958) que, em seu livro Agression, escreve:
O fato importante é que, em todos os casos, a cadeia de causação
leva ao exterior. Não existe prova fisiológica de qualquer estimulação
espontânea para lutar originária de dentro do corpo. Isso quer dizer
que não há necessidade de lutar, na agressiva ou na defensiva, à
parte do que acontece no ambiente exterior. Podemos concluir que
uma pessoa suficientemente afortunada para existir num ambiente
que não tem estimulação para a luta não sofrerá dano fisiológico ou
nervoso porque ela jamais luta. Essa situação difere bastante da
fisiologia da alimentação, onde os processos internos do metabolismo
conduzem a mudanças fisiológicas definidas que finalmente produzem
a fome e o estímulo para comer, sem qualquer mudança no ambiente
externo.
Podemos também concluir que não existe algo chamado de simples
“instinto para a luta”, no sentido de uma força impulsionadora interna
que precisa ser satisfeita. Existe, contudo, um mecanismo fisiológico
interno que basta ser estimulado para produzir luta. Essa distião
pode não ser importante em muitas situações práticas, mas leva a
uma conclusão promissora com relão ao controle da agressão. O
mecanismo interno é perigoso, mas pode ser mantido sob controle
através de meios externos. (SCOTT,1958 apud STORR, 1970, p.30).
Apesar da comparação feita por Scott entre a fisiologia da agressão e da
fome, Storr pondera que a primeira não pode ser descrita, em termos fisiológicos, da
mesma forma que a segunda, já que esta representa um estado de privação que
leva a uma ação para eliminá-lo. No entanto, essa comparação seria válida para o
instinto sexual que, para a descarga total da tensão, necessita de um parceiro, ou,
em outras palavras, como na agressão, existe um mecanismo fisiológico interno que
necessita de um estímulo externo para ser disparado.
21
O que precisa ser demonstrado é se há diferenças fisiológicas
significativas entre um animal privado de satisfação sexual e outro que está sem
lutar há muito tempo. Para o autor, não há evidências, em nível fisiológico, de que a
resposta agressiva seja menos instintiva do que a resposta sexual e, portanto,
levando em conta que o termo agressão não deve se restringir à luta real, a
expressão da agressividade pode ser uma parte tão necessária do ser humano
como a expressão sexual.
1.3 A agressividade e o desenvolvimento emocional individual
Os estudos mais consistentes de Freud sobre o instinto da agressão
parecem ter iniciado, segundo comentário de Strachey (1930), com a obra Três
Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (FREUD, 1905), em que ele aparece apenas
como um dos instintos componentes ou parciais do instinto sexual. De fato, ao se
referir ao sadismo, Freud propõe a existência de um elemento de agressividade na
sexualidade masculina, uma espécie de desejo de subjugar, com a finalidade de
conseguir vencer a resistência do objeto sexual por meio de galanteios, estando aí a
sua importância biológica. O sadismo seria, portanto, esse componente agressivo do
instinto sexual que se tornou independente e exagerado e que, por deslocamento,
passou a ser dominante.
Esse componente cruel aparece na infância de forma independente das
atividades sexuais ligadas às zonas erógenas, presumindo-se que surja de um
instinto de domínio e dominando uma fase da vida sexual denominada pré-genital. A
ausência de piedade demonstra que a conexão entre os instintos cruéis e erógenos
havida na infância pode se tornar indestrutível na vida futura.
Ainda segundo Strachey (1930), em 1909, ao escrever capítulo da história
clínica do Pequeno Hans, Freud expressa a sua irresignação quanto à existência de
um instinto agressivo autônomo em situação de igualdade com os instintos de auto-
preservação e sexual e foi somente em 1920, ao escrever Além do Princípio do
Prazer, que coloca o instinto agressivo de forma independente, mas ainda assim
como algo secundário, derivado do instinto de morte, que é auto-destrutivo e
primário. Ao falar sobre a Teoria da Libido em Dois Verbetes de Enciclopédia, Freud
(1923) reconhece a existência de duas classes de instintos na vida mental, tendo
como base a teoria dos instintos na biologia, muito embora sempre tenha se
22
preocupado em fazer com que a psicanálise desenvolvesse suas teorias
independentemente de outras ciências.
Levando em conta os processos que constroem a vida e aqueles outros
que conduzem à morte, é forçoso reconhecer a existência de duas classes de
instintos, ligadas, respectivamente, a dois processos contrários de construção e de
dissolução do organismo. Um conjunto de instintos tem por objetivo levar a criatura
viva à morte, sendo chamados, portanto, de instintos de morte. São resultados da
combinação de organismos elementares unicelulares e sempre dirigidos para fora,
manifestando-se como impulsos destrutivos ou agressivos. O outro conjunto é
composto por instintos sexuais, libidinais ou de vida, chamados, também, de Eros,
que teriam por finalidade constituir a substância viva em unidades cada vez maiores,
para que vida possa ser prolongada dentro de um processo evolutivo.
Os instintos de vida e de morte estão sempre presentes nas vidas das
pessoas em fusões regulares, podendo ocorrer, também, o processo de defusão. A
vida significa a vitória dos instintos sexuais e a morte significa a vitória dos
destrutivos (FREUD, 1923).
Em outro trabalho intitulado O ego e o id, Freud (1923) descreve de
maneira específica essas duas classes de pulsão. O primeiro conjunto se refere
àquelas que criam e mantém a unidade do indivíduo. São as pulsões sexuais e de
auto-conservação. Em oposição a estas, estão as pulsões de morte, que buscam a
redução completa das tensões. Voltadas inicialmente ao interior com o objetivo de
auto-destrutividade, voltam-se depois ao exterior, manifestando-se sob forma de
agressão ou destruição. Em razão desse redirecionamento da pulsão de morte, ela
acaba por servir à pulsão de vida, na medida em que destrói outro objeto e não o
próprio self. Decorre disso o fato de que, em havendo qualquer inibição à sua
expansão para o exterior, haverá um aumento da auto-destrutividade. As atividades
sociais, como válvula de escape para a energia armazenada, seriam a saída eficaz
para evitar a expansão da agressividade para o exterior e tamm evitar a auto-
destrutividade, tese também compartilhada pelos etologistas.
Para Fenicchel (1981), Freud propôs uma nova classificação para os
instintos, apoiando-se em uma base clínica e outra especulativa. A base
especulativa representa o caráter conservador dos instintos, que se caracterizam
pelo princípio da constância e tendem à eliminação das tensões. A base clínica
suporta a existência da agressão que constitui parte considerável dos impulsos
23
humanos como resposta às frustrações e tem como objetivo superá-las. A partir da
integração das bases especulativa e clínica, foram estabelecidas duas qualidades da
psiquê: a primeira ligada ao instinto de vida – Eros – representando o esforço
construtivo e a segunda ligada ao instinto de morte – Thanatos – representando o
esforço destrutivo, cuja função primária seria a redução da vida à condição de
matéria inanimada. Essas forças em constante interação cumprem papel essencial
nos fenômenos da vida, não havendo, portanto, ação humana que seja obra de um
padrão instintual único.
A fusão dos dois instintos é produto da maturação, em que cabe ao
instinto de vida ir neutralizando o instinto de morte. Mais tarde, surge a diferenciação
amor e ódio, aparecendo como qualidades opostas entre si. O instinto de morte
torna-se destrutivo com o objetivo de destruir a vida alheia e preservar a sua própria
vida.
Freud (1915), tratando das vicissitudes do instinto, procura estabelecer
relação entre instinto e estímulo. Para ele é possível afirmar que o instinto é um
estímulo aplicado à mente, no entanto, existem outros estímulos a ela aplicados,
além dos instintuais e que se comportam muito mais como fisiológicos.
Os estímulos instintuais não surgem de fora, mas, ao contrário, de dentro
do próprio organismo, atuando de forma diferente sobre a mente e sendo
necessárias diferentes ações para removê-los. Já os demais estímulos podem ser
removidos por uma única ação conveniente, na medida em que eles atuam como
impacto único, de caráter momentâneo. A fuga motora de uma fonte de estimulação
é um exemplo claro dessa colocação.
O instinto, portanto, atua sempre com um impacto constante e, por vir do
interior do organismo, não há como fugir dele, caracterizando, dessa forma, uma
necessidade que tem, como única possibilidade de remoção, a satisfação. Ele deve
ser visto, portanto, na fronteira entre o somático e o psíquico como representante
psíquico dos estímulos originados dentro do organismo e que alcançam à mente,
como uma medida de exigência a ela em conseqüência de sua ligação com o corpo.
Freud, no mesmo trabalho, define algumas características do instinto. São
elas: a pressão, a finalidade, o objeto e a fonte.
A pressão diz respeito ao fator motor, a quantidade de força ou a medida
de exigência de trabalho que essa força representa. É da essência do instinto
exercer pressão.
24
A finalidade diz respeito à busca da satisfação, obtida por meio da
eliminação do estado de estimulação na fonte do instinto.
O objeto é algo no qual ou através do qual o instinto atinge a sua
finalidade. Ele não precisa ser, necessariamente, algo estranho, podendo ser parte
do próprio corpo do indivíduo. Pode ser modificado inúmeras vezes e um mesmo
objeto pode servir à satisfação de diversos instintos.
A fonte é o processo somático que ocorre em um órgão ou parte do corpo,
tendo o instinto por representante mental do estímulo desencadeado por esse
processo.
Em função das características básicas dos instintos, parece não haver
como eliminar as inclinações agressivas do homem, pois se tratam de
exteriorizações de motivos instintuais presentes no psiquismo humano. No entanto,
é possível interferir na ação do instinto de morte de tal forma que não necessite
exprimir-se por meio de violência extrema. A maneira adequada de alcançar esse
objetivo é o fortalecimento do instinto antagônico, com a facilitação de vínculos
emocionais. Tudo o que facilita à criação de vínculos emocionais atua contra a
guerra e agressão, pois fortalece o instinto de vida. Nessa linha, Freud (1930)
propõe:
A existência da inclinação para a agressão, que podemos detectar em
nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros,
constitui fator que perturba os nossos relacionamentos com o nosso
próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio (de energia).
Em conseqüência dessa mútua hostilidade primária dos seres
humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameada
de desintegração. O interesse pelo trabalho em comum não a
manteria unida; as paixões instintivas são mais fortes que os
interesses razoáveis. A civilizão tem de utilizar esforços supremos a
fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e
manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas
reativas. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados a incitar as
pessoas a identificações e relacionamentos amorosos inibidos em sua
finalidade (...). A despeito de todos os esforços, esses empenhos da
civilização até hoje não conseguiram muito. Espera-se impedir os
excessos mais grosseiros da violência brutal por si mesma, supondo-
25
se o direito de usar a violência contra os criminosos; no entanto, a lei
não é capaz de deitar a mão sobre as manifestações mais cautelosas
e refinadas da agressividade humana. Chega a hora que cada um tem
de abandonar, como sendo ilusões, as esperanças que, na juventude,
depositou em seus semelhantes e aprende quanta dificuldade e
sofrimento foram acrescentados à sua vida pela má vontade deles.
Ao mesmo tempo seria injusto censurar a civilização por tentar
eliminar da atividade humana a luta e a competição. Elas o
indubitavelmente indispensáveis. Mas a oposão não é
necessariamente inimizade; simplesmente, ela é mal empregada e
tornada ocasião para a inimizade (FREUD, 1930, p.134).
O autor coloca uma questão fatídica para a humanidade que é até que
ponto o desenvolvimento cultural consegui dominar a perturbação decorrente do
instinto humano de agressão e destruição na vida em comum. Os homens
adquiriram controle sobre as forças da natureza, o que permite que se aniquilem uns
aos outros sem dificuldades. É dessa verdade que decorre a inquietação,
infelicidade e ansiedade da humanidade.
Riviere (1975) tamm caracteriza o instinto da agressividade como algo
inato no homem e na maioria dos animais, pelo menos enquanto manifestação de
defesa. Qualquer pessoa normal sabe que diversos sentimentos estão sendo
experimentados ou manifestados o tempo todo ao seu redor e são responsáveis por
grande parte da infelicidade das pessoas, já que incluem o mau humor, o egoísmo, a
mesquinhez, a voracidade, a inveja e a hostilidade.
Para o autor, há uma ligação íntima entre os impulsos agressivos e o
prazer, de forma que esses impulsos, cruéis e egoísticos, provoquem sensações de
excitação, explicáveis, na medida em que são imperativos e difíceis de controlar.
Além disso, eles estão ligados, sob certos aspectos, à luta pela sobrevivência. Há
um reconhecimento claro de que indivíduos dotados de insuficiente agressividade
encontram dificuldade para fazer valer os seus direitos. Dessa forma, é lícito afirmar
que os instintos de auto-preservação e de amor sejam mesclados com certa dose de
agressividade e, nessa condição, a agressividade constitui parte importante para o
seu funcionamento.
A dificuldade de entendimento do vigor e da profundidade dos instintos
agressivos sempre prejudicou as diversas tentativas feitas, no sentido de melhorar a
26
humanidade, tornando-a mais pacífica. Isto porque não buscaram outra coisa senão
estimular os impulsos positivos e tentando negar ou suprimir os agressivos. O
instinto agressivo não pode ser suprimido integralmente, mas o que pode ser feito é
diminuir a ansiedade que o acentua (KLEIN, 1970).
As sensações hostis estão sempre ligadas de alguma forma a
insatisfações e descontentamentos com situações específicas da vida, necessidades
ou prazer e que acabam representando uma sensação de perda. A reação agressiva
a uma situação de privação ou de agressão, como um assalto, por exemplo, é
perfeitamente compreensível. No entanto, há um outro sentimento de perda, cuja
fonte não é representada por uma agressão externa. Assim, qualquer desejo
insatisfeito, se suficientemente intenso, pode provocar sensação de perda de tal
ordem que despertará agressividade da mesma forma que um ataque externo o
faria, o que remete a questão da agressão tamm para a área econômica, pois a
carência de meios de subsistência em povos ou classes sociais pode despertar a
agressividade (RIVIERE, 1975).
Uma outra questão levantada por Riviere (1975) diz respeito à
dependência. De uma forma geral, nos sistemas políticos abertos o grau de
dependência da organização social não é sentido de forma ameaçadora. Contudo,
em casos excepcionais, como em uma guerra ou grande desastre, pode-se sentir o
grau de dependência das forças da natureza ou de outras pessoas e esse
sentimento assume um caráter ameaçador porque envolve a possibilidade de
privação. Neste caso, pode aparecer um desejo irrealizável de auto-suficiência
individual e a ilusão de liberdade pode ser sentida como um prazer.
A ansiedade de dependência é experimentada pelas pessoas desde as
situações mais primitivas que não a reconhecem nesse estágio. Em verdade, o bebê
não reconhece a existência do outro, creditando a si mesmo a satisfação de todas
as suas necessidades. Quando essas necessidades não são satisfeitas, contudo, o
bebê reconhece a sua dependência, já que não pode satisfazer a todas elas,
passando a gritar e a chorar, tornando-se, pois, agressivo e desencadeando uma
reação incontrolável que gera dor e sensações corporais explosivas e sufocantes o
que, por seu turno, ocasiona sentimentos adicionais de privação, dor e apreensão.
Para o autor, o bebê é incapaz de distinguir entre o eu e o não-eu,
caracterizando as sensações como seu mundo particular e suas privações como o
desaparecimento desse mundo particular de tudo o que precisa. E esse mundo se
27
torna abrasador, quando ele é torturado pela ira e pelo desejo. Essa situação tem
enormes conseqüências psicológicas na vida adulta, pois se trata da primeira
experiência de algo sentido como morte, como reconhecimento da não existência de
algo, como uma perda essencial. No entanto, essa experiência permite o
conhecimento do amor - sob forma de desejo - e o reconhecimento da dependência
sob forma de necessidade, convivendo com os sentimentos e sensações de muita
dor e ameaça de destruição.
Dessa situação primitiva decorre a necessidade de buscar a auto-
preservação e os prazeres sem despertar as forças destrutivas capazes de destruir
os outros.
O ódio e a agressividade, o ciúme e a voracidade, experimentados e
manifestados por adultos, são todos derivativos, em geral
extremamente complicados, tanto dessa experiência original como da
necessidade de superá-la, se pretendermos sobreviver e retirar da
vida algum prazer. Isto significa que, por mais totalmente agressivas e
odiosas que tais emoções se possam apresentar na vida adulta, elas
são de fato até certo ponto modificações e ajustamentos inconscientes
de formas ainda mais simples e rudimentares desses sentimentos.
Ademais, todas as medidas por nós tomadas a fim de obter segurança
acham-se vinculadas a uma determinada utilização dos impulsos
amorosos (as forças vitais), embora também estes se possam
apresentar por vezes sob aspectos extremamente deturpados e
irreconhecíveis. (RIVIERE, 1975, p.22 – 23).
Segundo Winnicott (2000), antes mesmo da ocorrência da integração da
personalidade, já é possível encontrar a agressividade no bebê, na agitação
decorrente da não satisfação de suas necessidades ou na própria mastigação dos
mamilos com as gengivas, muito embora não se possa encontrar, no caso, o desejo
de destruir, significando essa agressividade muito mais uma atividade na condição
de função parcial. A organização futura dessas funções parciais, decorrente da
integração da personalidade, é que vai transformá-las, verdadeiramente em
agressividade.
A integração, contudo, não é alcançada em determinada data. Ela é um
processo que, eventualmente, pode ser revertido em função de uma adversidade
28
ambiental, mas que, ainda assim, permite o surgimento do chamado comportamento
intencional, em algum momento. Pode-se afirmar, então, que, quando o
comportamento é proposital, a agressividade é intencional e sua fonte é a
experiência instintiva, fazendo parte, portanto, da expressão primitiva do amor.
O autor propõe, ainda, várias formas de expressão da agressividade, em
função dos estágios do desenvolvimento do ego. No estágio inicial ou de ausência
de concernimento, existente apenas enquanto estado teórico, a criança existe como
pessoa, com propósitos, mas ainda sem concernimento quanto aos resultados.
Nesse caso, o que é destruído nos momentos de excitação é exatamente aquilo que
ela valoriza nos momentos de tranqüilidade, ou seja, o amor excitado permite o
ataque imaginário à mãe, fazendo com que a agressividade integre o amor.
No estágio do concernimento, já há uma integração de tal ordem que é
possível o reconhecimento da existência da mãe como pessoa, o que determina o
sentimento de concernimento com relação às suas manifestações instintivas, tanto
concretas quanto ideativas. Esse sentimento provoca o aparecimento da culpa,
decorrente de dano supostamente causado à mãe nos momentos de excitação, que
por sua vez mobiliza um sentimento pessoal de reparação. É esse processo que
permite a transformação da agressividade em atividade social construtiva.
A raiva, sentimento que aparece nesse estágio, decorre, basicamente, da
frustração, em razão da impossibilidade de se evitar a frustração em todas as
experiências, o que acaba provocando situação dicotômica com relação à sua
manifestação. Por um lado, podem aparecer impulsos agressivos desprovidos de
culpa, em se tratando de respostas agressivas à experiência frustrante. De outro,
podem surgir impulsos agressivos carregados de culpa, quando são dirigidos ao
objeto amado. A frustração leva para a longe a culpa, mas acaba provocando, como
mecanismo de defesa, a separação do objeto bom do objeto mau, o que representa
uma perda valiosa para o amor, que é o seu componente agressivo e faz com que
as reações agressivas sejam mais explosivas.
No estágio da personalidade total, em que ocorrem as relações
interpessoais, a agressividade se expressa em situações triangulares, como
decorrência de conflitos conscientes ou inconscientes.
Winnicott (1987), ao escrever sobre a natureza e origens da tendência
anti-social, esclarece sobre a dificuldade em se identificar as origens da
agressividade, quando ela se manifesta, tendo em vista que, de todas as tendências
29
humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada. Em
outro texto, ao discorrer sobre a tendência anti-social, Winnicot (2000) demonstra
que a agressividade está diretamente relacionada com a resposta ambiental,
podendo seguir dois caminhos: o desenvolvimento normal da capacidade de
inquietude e o caminho patológico, consistente na não capacidade para a inquietude
e a formação do falso-self, ligado à tendência anti-social.
Para Adler (1957), o impulso agressivo se manifesta quando o objetivo de
predomínio e superioridade se torna patente ao indivíduo, como reação ao
sentimento de inferioridade, e o esforço para a conquista de consideração começa a
preponderar, produzindo um maior estado de tensão na vida psíquica que faz com
que o indivíduo procure atingir esse objetivo de predomínio com atos de grande
intensidade e violência.
Na perspectiva da denominada Psicologia Individual, o autor propõe que é
o sentimento de inferioridade que determina o alvo da existência individual. Desde
os primeiros dias de sua existência, a criança já tem a tendência de colocar-se em
evidência, de atrair a atenção dos pais, surgindo aí os primeiros indícios do desejo
de consideração e apreço que irá desenvolver-se sob o influxo do senso de
inferioridade e de uma determinação de alcançar posição individual aparentemente
superior ao seu ambiente.
Ao dar valor excessivo ao tamanho e à força de uma pessoa ou ao seu
direito de dar ordens e exigir obediência, a criança sente o desejo de crescer, ser tão
forte quanto aqueles que vê junto de si ou mesmo de dominá-los. Esse desejo a leva
a duas possibilidades de procedimento: a primeira, representada pela prática de atos
e emprego dos métodos utilizados, segundo sua compreensão, pelos adultos com
relação a ela; a segunda, representada pela ostentação de sua fraqueza, o que é
considerado pelos adultos uma inexorável exigência de seu auxílio. Assim, algumas
crianças se desenvolvem no sentido de aquisição do poder e de uma técnica de
coragem, impondo-se ao meio, enquanto outras parecem prevalecer-se das próprias
fraquezas.
Ainda segundo o autor, as principais dificuldades na contraposição ao
pendor para o predomínio são o estabelecimento com a criança de contato
esclarecedor acerca dos objetivos fundamentais de sua existência, no momento em
que o pendor se manifesta e o reconhecimento da existência desse pendor, já que o
esforço para a dominação por vezes é encoberto pela capa da afeição e da ternura.
30
Nessa situação, todo o sentimento ou manifestação natural podem estar revestidos
de íntima hipocrisia, encobrindo intenção final de subjugar o meio.
Adler (1957) chama a atenção para o fato de que a luta pelo poder e pela
dominação poderá se tornar tão exagerada a ponto de ser definida como patológica.
Nesses casos, o impulso patológico de dominação leva o indivíduo a procurar
assegurar a sua posição no meio a custa de esforços extraordinários, com
precipitação e impaciência inconcebíveis e com violência exagerada na busca de
sua meta de dominação.
Friedman e Schustack (2004) sustentam que o impulso para a agressão é
particularmente importante para a linha teórica desenvolvida por Adler, na medida
em que se caracteriza como reação à percepção de inferioridade, representando,
portanto, ataque violento contra a incapacidade de alcançar ou dominar algo.
Sustentam, também, a importância, nessa teoria, dos aspectos teleológicos da
natureza humana, ou seja, a sua orientação para metas, sempre com o objetivo de
superação do senso de inferioridade, mas que podem criar um sentimento de
superioridade como forma de manter a auto-estima.
Ainda na linha da presença de impulso agressivo para a manutenção da
auto-estima, Fenichel (1981) propõe a existência de defesas caracterológicas com
essa finalidade. Entendendo caráter como conceito que vai além das modalidades
de defesa fixadas na personalidade para alcançar a organização dinâmica e
econômica dos atos positivos do ego e as maneiras pelas quais combina as suas
diversas tarefas, a fim de encontrar solução satisfatória, o autor propõe a existência
de dois tipos de traços caracterológicos que podem servir, respectivamente, ao fim
de descarregar algum impulso original ou de reprimi-lo. Aquele que serve à primeira
finalidade é chamado de traço caracterológico do tipo sublimado e o que serve à
segunda é denominado traço caracterológico do tipo reativo. No tipo sublimado, é
possível ao ego substituir um impulso instintivo primitivo por outro menos ofensivo,
compatível com ele, organizado e inibido em sua finalidade. No tipo reativo, existe
uma restrição à flexibilidade da pessoa que não consegue satisfação plena ou
sublimação dos seus impulsos instintivos, apresentando atitudes de evitação
(fóbicas) e de oposição (formações reativas). Em um caráter em que predomine a
índole reativa, as atitudes não se dirigem apenas contra impulsos instintivos, mas
tamm se relacionam a conflitos que giram em torno da auto-estima. Lutando
contra a percepção de profundos sentimentos de inferioridade, muitas pessoas
31
desenvolvem comportamentos arrogantes e ambições pessoais elevadas e, por
vezes, desenvolvem extensa atividade para encobrir anseios passivos. O impulso
agressivo é, portanto, utilizado para alcançar esses objetivos da forma que for
possível, diante das condições ambientais impostas. Segundo o autor:
Compromisso muito freqüente entre um anseio superficial de
independência ativa e outro, mais profundo, de receptividade passiva
consiste na idéia de que uma receptividade temporária é necessária à
obtenção de independência futura, de modo que a independência
pode ser desfrutada na fantasia antecipatória, enquanto, na realidade,
se desfruta a dependência. Esta simultaneidade é uma das vantagens
emocionais da infância: o menino submete-se à masculinidade do pai
para tornar-se masculino. A tendência a manter esse afortunado
compromisso constitui uma das razões pelas quais tantos neuróticos
se empenham, inconscientemente, em permanecer no nível da
infância ou da adolescência (FENICHEL, 1981, p. 439).
1.4 A agressividade transformada em violência
Costa (1986) assinala que Freud não debitou ao instinto de agressividade
a responsabilidade por toda a violência presente no mundo, não existindo, portanto,
um instinto de violência, sendo certo que o instinto agressivo pode coexistir
perfeitamente com o desejo de paz, não sendo pertinente a afirmação de que a
causa da violência é o instinto agressivo presente no componente animal do homem.
Para o autor, fica evidente que não se pode confundir o comportamento animal, cuja
agressividade é mediada por instintos e tem por finalidade a sobrevivência, com a
violência dos homens, que traz consigo um atributo exclusivamente humano: o
querer fazer. Carrega, dessa forma, a marca de um desejo. Para o autor:
Violência é o emprego desejado da agressividade, com fins
destrutivos. Esse desejo pode ser voluntário, deliberado, racional e
consciente, ou pode ser inconsciente, involuntário e irracional. A
existência desses predicados não altera a qualidade especificamente
humana da violência, pois o animal não deseja, o animal necessita. E
32
é porque o animal não deseja que seu objeto é fixo , biologicamente
pré-determinado, assim como o é a presa para a fera.
Nada disso ocorre na violência do homem. O objeto de sua
agressividade não é só arbitrário como pode ser deslocado. Este
pressuposto é indissociável da noção de irracionalidade que
acabamos de mencionar e corrobora a presença do objeto em
qualquer atividade humana, inclusive na violenta (COSTA, 1986, p.
30).
Para caracterizar bem essa diferença, Costa (1986) sustenta que, no ser
humano, há três formas de expressão da agressividade:
1. Agressividade como pura manifestação do instinto;
2. Agressividade sem desejo de destruição;
3. Agressividade com finalidade destrutiva.
Ao falar do primeiro tipo, o autor utiliza os ensinamentos de Winnicott
(2000), para demonstrar que a agressividade como pura manifestação do instinto
não inclui nenhum julgamento de valor. Nesse caso, a agressividade só existe como
um “estado teórico”, no qual a criança não tem concernimento com relação à mãe.
Dessa forma, a agressividade da criança para com a mãe não é boa ou má, moral
ou imoral, violenta ou não violenta, na medida em que a criança ainda não está
inscrita no mundo dos valores. Costa busca demonstrar que Winnicott, quando trata
da agressividade como pura manifestação do instinto, em estado teórico, está se
referindo a uma hipótese, a um construto teórico, com o objetivo de dar coerência e
consistência a outros fenômenos, clinicamente observáveis, que dele derivam.
Com relação à segunda forma, o que existe é uma manifestação agressiva
não percebida pelo agressor, pelo agredido ou por um observador como violenta. O
agente e o sujeito vêm na dor ou na coerção um meio para o alcance de um prazer
maior, não de natureza sexual e, portanto, sem a conotação sádica ou masoquista.
Esse prazer refere-se a predicados socialmente valorizados. Bettelheim (1979 apud
COSTA, 1986) dá exemplos de como esse fato pode ocorrer em sociedades tribais,
em que rituais truculentos como a castração ritual ou a circuncisão não são vividos
como experiências agressivas, mas como práticas que conferem poder aos órgãos
genitais. Em outro exemplo, mais próximo da cultura ocidental, o autor cita a cirurgia
plástica em que o que é buscado é o ideal de beleza tão valorizado socialmente,
apesar do sofrimento causado pelo ato cirúrgico.
33
A terceira forma diz respeito à expansão da agressividade com finalidade
destrutiva, o que de fato caracteriza a violência, na forma anteriormente descrita.
Para o autor, admitir a violência como agressividade equiparada a um impulso
instintivo implica em trivializá-la, o que leva à sua reprodução e perpetuação. A
resignação com relação aos atos violentos decorre da idéia de que o “homem é
instintivamente violento” e, portanto, nada há a fazer com relação a esse fato, a não
ser aceitá-lo como algo inevitável.
A transição da agressividade natural para a violência passa, na vio de
Winnicott (2000), por uma falha ambiental, em função de um processo por ele
chamado de de-privação, em que houve a perda de algo bom, positivo, dentro da
experiência da criança até aquele momento. A retirada do objeto bom foi por tempo
superior àquele em que a memória da criança podia manter viva a experiência. Esse
fenômeno pode dar início ao ciclo da tendência anti-social. Primeiro a falha
ambiental; depois, o congelamento dessa falha como mecanismo de proteção do
verdadeiro self; após, a fase de neutralidade, em que a criança só pode ficar quieta;
e, finalmente, a fase de testar o meio e incomodar, quando ela percebe, no meio,
uma possibilidade de ser acolhida (WINNICOTT, 1994).
A falta de continuidade da provisão ambiental é, segundo o autor,
responsabilidade da família e qualquer manifestação de tendência anti-social deve
ser tratada com um ambiente firme e coeso que contenha a criança, quando de seus
ataques ao meio.
Para Vilhena (2002), a legitimidade das funções paterna e materna não
está tão presente na atualidade, criando uma situação de negligência decorrente da
inexistência de padrões de como lidar com os filhos. Como decorrência, a
agressividade normal e criativa pode se transformar em patológica e destrutiva, pois
a criança que deve ser mantida pela mãe, durante o período de dependência
absoluta e pelo pai, no período de dependência relativa, assume precocemente a
responsabilidade por seus atos, sendo isso feito de forma onipotente o que pode
levar à falta de fusão entre o impulso erótico e o agressivo. Nesse caso, pode haver
a expressão deste último por meio da tirania utilizada pela criança com relação a
seus pais, colocando-os em situação de igualdade com ela. O problema da falha é
resolvido pelo comportamento de querer sem limites.
Ainda segundo a autora, os filhos de hoje demonstram, com clareza, a
condição dos pais que têm medo de se posicionar como pais e o espaço vazio que
34
resta dessa falta de posicionamento será preenchido por outros objetos,
perpetuando a onipotência, o narcisismo infantil e não permitindo que o princípio da
realidade se instaure de forma eficiente. Ainda segundo a mesma autora, parece
indiscutível estar havendo uma falha básica da família no seu papel de contenedor
de impulsos agressivos.
Segundo Sá (1999), a questão da violência e da agressividade tem levado
vários autores a posições diversas e, por vezes, até antagônicas, dentro de um
contexto de banalização ou de sacralização do tema. Utilizando o conceito de
Michaud (1989 apud SÁ, 1999), sustenta que existem no comportamento violento
dois atributos: o caráter de intensidade irresistível e o caráter de lesividade. Assim, a
ação será mais ou menos violenta, em função da intensidade de sua força e dos
danos por ela causados.
E essa força virá direta ou indiretamente de alguém identificável ou de
alguém não identificável e sempre terá como objetivo causar danos dentro de uma
idéia central de privação e então a violência será mais ou menos grave em razão
dos danos provocados ou, em outros termos, da privação imposta a qual pode ser
em forma de bens materiais, da própria identidade do indivíduo, de seu direito de
realização enquanto pessoa e de sua própria vida.
1.5 A agressividade pela ótica da teoria motriz da consciência
Depois de analisado o comportamento agressivo a partir de linhas teóricas
distintas, cumpre agora analisar esse comportamento no contexto da teoria motriz
da consciência, que serve de base ao Psicodiagnóstico Miocinético (PMK),
instrumento utilizado na presente pesquisa e detalhado no capítulo sobre método.
A teoria em pauta postula que toda a intenção ou propósito de reação é
acompanhado de uma modificação do tônus postural, facilitando a ação dos
movimentos envolvidos na obtenção do objetivo e inibindo os movimentos contrários
(GALLAND DE MIRA, 2002).
Muitos outros modelos teóricos serviram de base para a teoria motriz da
consciência. Galland de Mira (2002) cita os seguintes:
1. Positivismo francês: Teve como maiores expoentes Condillac e Conte.
Este último demonstrou haver elementos motores, musculares e ativos na
imaginação, antes considerada como atividade essencialmente intelectual. Madinier
35
(1938), outro autor positivista, afirmou que a consciência pressupõe desnível
tensional e movimento visível e implícito;
2. Fisiognomistas: Lavater (1789), teólogo e filósofo suíço, utilizava o
princípio de que o indivíduo se reflete, através de sua estrutura corporal em contato
com o mundo;
3. Naturalistas: Estudos experimentais de Darwin (1872) procuraram
demonstrar que a expressão motriz era importante no estudo da personalidade;
4. Neo-humanistas: Goethe afirmava que qualquer movimento intelectual é
sempre precedido pela ação e que no princípio está a ação e não a palavra; está o
fato e não o verbo;
5. Fisiólogos: Carpenter (1852) se referiu ao princípio ideomotor ao afirmar
que a idéia não é outra coisa mais que a repercussão de um movimento consciente
que se inicia; Sechenov tamm demonstrou que não pode existir atividade global
sem que haja uma base tensional, tanto no homem quanto no animal;
6. Neurofisiologistas: Demonstraram a base fisiológica das ações em
projeto, a partir de descargas do córtex cerebral e da persistência de um estado de
contração postural de caráter latente.
No campo da Psicologia, a autora coloca conceitos de vários autores de
diversas linhas teóricas que, de alguma forma, sustentam a teoria motriz da
consciência:
1. William James: O autor norte-americano sustentou que a reação
muscular é o principal fator da emoção e que toda consciência é motora. Incorreu,
contudo, em falha, quando afirmou que, frente ao estímulo, surge primeiro a reação
muscular e depois a emoção;
2. Nina Bull: Corrigiu o equívoco de James, desenvolvendo a teoria
atitudinal, que sustenta a existência de um estágio preliminar, atitudinal ou postural,
em toda a ação. A teoria atitudinal considera, portanto, a existência de atitude
motora preparatória, impedida de completar-se, que dá origem a estados
sentimentais. Os sentimentos são, portanto, secundários à preparação do corpo
para a ação e são dela dependentes.
3. Freud: Estabeleceu o conceito de libido, que é considerada uma energia
instintiva, portanto, uma tensão;
4. Wallon: Declarou, em 1942, em Paris, que o indivíduo manifesta-se a
cada instante, globalmente e integralmente, por suas posturas, atitudes e mímicas;
36
5. Rubinstein: Em 1922, na Rússia, declarou não haver vida psíquica sem
uma base postural de tensão e esta se localiza, nos organismos vertebrados, nos
músculos;
5. Vernon: Em Nova York, em 1933, afirmou que existe correspondência
entre os movimentos expressivos e as atitudes, os traços e os valores e demais
disposições da personalidade interna (GALLAND DE MIRA, 2002, p. 13 – 15).
Com base na teoria motriz da consciência e nas pesquisas sobre os
traçados desenvolvidos no PMK, Mira (1939 apud GALLAND DE MIRA, 2002, p. 37),
formulou diversos conceitos sobre tendências centrais de personalidade, dentre os
quais, o conceito de agressividade que seria a força propulsora que leva o indivíduo
a uma atitude de afirmação e domínio pessoal perante qualquer situação.
Mira, Galland de Mira e Oliveira (1949) procuraram demonstrar a validade
da utilização do PMK no estudo da agressividade, quer seja normal, quer seja
delituosa. A esse propósito, afirmaram que a agressividade delituosa não é
fundamentalmente diferente da normal, divergindo desta pelo seu grau de
intensidade e por se achar inibida pelo temor, além de só se manifestar livremente
na execução de seus atos potenciais de posse ou destruição. Segundo os autores,
toda a pessoa nasce com certa carga de agressividade que deve receber a ação
corretiva da educação nas primeiras fases do desenvolvimento, para a aquisição de
pautas de conduta ajustadas às normas jurídicas e sociais e, portanto, afastadas da
zona de delinqüência. No entanto, todo ser humano que tenha aumentada a carga
de seus impulsos agressivos ou diminuída a força de suas inibições terá propensão
a aproximar-se dessa zona. Essa carga agressiva aparece, em forma de desvios
específicos, em diversos estudos apresentados, com pessoas normais e com
delinqüentes, demonstrando a sensibilidade do teste na sua identificação.
Kussrow e Larez (1950) também elaboraram estudo específico sobre a
agressividade, apurada por meio do PMK e concluíram sobre sensibilidade e
consistência interna do teste para aferição das tendências agressivas.
È importante salientar a forma como o conceito de Mira sobre
agressividade – força propulsora que leva o indivíduo a uma atitude de afirmação e
domínio pessoal – se aproxima do conceito psicanalítico. Essa força pode estar
ligada a uma classe de pulsão que objetiva a criação e a manutenção da unidade do
indivíduo. São as denominadas pulsões sexuais ou de auto-conservação. Pode,
tamm, estar vinculada a redução completa das tensões, atuando em antagonismo
37
às pulsões sexuais. São as pulsões destrutivas ou pulsão de morte (FREUD, 1923).
A agressividade expressa por meio do PMK, se contida nos limites da normalidade,
representa efetivamente força de propulsão ou forma de imposição do indivíduo ao
meio, na perspectiva de sua auto-conservação. Contudo, extrapolando esses limites,
pode adquirir intensidade de tal ordem que provoque lesividade, quando associada a
um desejo destrutivo, caracterizando, dessa forma, um ato violento (SÁ, 1999;
COSTA, 1986).
A aproximação entre o conceito psicanalítico de agressividade e o
conceito formulado por Mira ganha importância, na medida em que o modelo
explicativo para os resultados encontrados no presente estudo está fundamentado
na teoria psicanalítica.
Vários outros modelos teóricos buscam explicar a agressão humana,
desvinculando-a de aspectos ligados exclusivamente à carga instintiva e
questionando a etologia e a psicanálise que utilizam o instinto de agressão e a
pulsão de morte, respectivamente, para explicar o comportamento agressivo. Alguns
modelos são mais antigos, como o behaviorismo, a aprendizagem social e outros
modelos que fundamentam a agressão exclusivamente em estruturas sociais
perversas. Outros são mais recentes, como o cognitivismo neo-associacionista; o
processamento da informação social; o interacionismo social; e o modelo geral de
agressão (KRISTEENSEN et al, 2003). Contudo, por não estarem esses modelos
diretamente ligados ao objetivo do presente estudo, não serão discutidos.
38
2. A AGRESSIVIDADE PRESENTE NO TRABALHO POLICIAL
O trabalho policial, na realidade brasileira, é sempre muito criticado e
pouco reconhecido. Acusações de violência, omissão ou corrupção freqüentam com
alguma constância o noticiário e são responsáveis pelo preconceito existente na
população com relação à figura do profissional de segurança pública.
No caso específico de policiais militares, a crítica maior diz respeito à
conduta violenta, levando em conta, principalmente, o número de pessoas mortas e
feridas em confronto armado e o número de policiais militares mortos e feridos
nesses confrontos. Os números a seguir, divulgados pela Secretaria da Segurança
Pública do Estado de São Paulo e referentes ao período 2000 – 2004, ilustram o que
foi afirmado:
Tabela 1: Civis e policiais militares mortos e feridos no Estado de São Paulo
EVENTO/ANO 2000 2001 2002 2003 2004
CIVIS
MORTOS
524
385
541
756
545
CIVIS
FERIDOS
298
357
373
335
361
POLICIAIS
MORTOS
33
40
42
19
25
POLICIAIS
FERIDOS
712
524
449
458
442
Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo
Esses dados, contudo, precisam ser confrontados com os dados relativos
à criminalidade violenta, no mesmo período e local, que, segundo a Secretaria de
Segurança Pública do Estado de São Paulo, foram os constantes da Tabela 2:
39
Tabela 2: Crimes por 100.000 habitantes no Estado de São Paulo
EVENTO/ANO 2000 2001 2002 2003 2004
HOMICÍDIOS
DOLOSOS
34,24
33,21
30,99
28,29
21,74
ROUBO 1075,48 1170,53 1207,13 1392,67 1347,65
FURTOS 583 584,69 584,65 641,57 568,53
ROUBOS/FURTOS
DE VEÍCULOS
638,80
572,30
500,59
480,79
453,18
Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo
Os dados relativos à Cidade de São Paulo e à Região Metropolitana
(exceto a Capital), segundo a mesma fonte, ultrapassam os especificados na tabela
2, alcançando no ano de 2004, os índices de 31,87 e 28,56 homicídios dolosos por
grupo de 100.000 habitantes, respectivamente, para a Capital e Região
Metropolitana. Na Capital, a grande maioria dos bairros apresenta índices de
homicídios superiores ao do Estado, com destaque para a Zona Sul e Zona Leste
em que quase todos os bairros superam o índice estadual.
Para efeito de comparação, a seguir estão transcritos os dados referentes
a civis mortos pela polícia e os dados relativos à criminalidade violenta nos Estados
Unidos da América, no período 1999 – 2003, conforme o último relatório completo
divulgado pelo Federal Bureau of Investigation:
Tabela 3: Civis mortos emmeros absolutos e crimes por 100.000 habitantes nos
Estados Unidos da América
EVENTO/ANO 1999 2000 2001 2002 2003
CIVIS MORTOS 308 309 378 341 370
HOMICÍDIOS
DOLOSOS
5,7
5,5
5,6
5,6
5,7
ROUBOS 150,1 145 148,5 146,1 142,2
ASSALTOS 334,3 324 318,16 309,5 295
ROUBOS/FURTOS
DE VEÍCULOS
422,5
412,2
430,5
432,9
433,4
Fonte: Federal Bureau of Investigation – Estados Unidos da América
40
Apesar de o relatório americano não apresentar dados sobre o número de
civis feridos nos confrontos com a polícia e nem mesmo sobre o número de policiais
mortos ou feridos, é bastante significativa a diferença existente entre o número de
civis mortos nos dois países, até porque os dados americanos se referem a todo o
país e os brasileiros apenas ao Estado de São Paulo.
Nesse cenário, cabe, então, analisar a questão da agressividade presente
no trabalho policial e como, eventualmente, ela pode ultrapassar os limites da
legalidade e se transformar em atos violentos, ou seja, atos agressivos praticados
com intensidade, lesividade e destrutividade (COSTA, 1986; SÁ, 1999).
O trabalho policial, por sua própria natureza, não pode prescindir da
agressividade para a sua execução, entendida esta como força de propulsão
necessária, para que o agente público que comparece a um local de conflito possa
resolver o impasse instalado e recompor a ordem pública rompida no mais curto
espaço de tempo e com o menor dano possível para todas as partes envolvidas.
Nesse sentido, ele deve ter condições de se impor como representante da
autoridade do Estado, usando a força física necessária para superar eventuais
resistências encontradas.
Mira (1956) estabeleceu pela primeira vez o perfil profissional para
policiais militares, integrado pelas seguintes características:
- Agressividade positiva, porém controlada;
- Capacidade de adaptação;
- Controle emocional;
- Atenção flutuante, mas capacitada a concentrar-se em detalhes;
- Resistência à fadiga e causas de distração;
- Inteligência lógica, intuitiva, reflexiva, criadora e criativa;
- Memória de identificação para pessoas, lugares e objetos;
- Ausência de sinais fóbicos;
- Moderada rigidez.
Com o advento do policiamento comunitário, implantado na Polícia Militar
do Estado de São Paulo, a partir de 1997 e que reformulou a forma de intervenção
policial, buscando trazer a comunidade como parceira nesse trabalho e fixando os
policiais em áreas específicas para que pudessem criar vínculos com a comunidade
41
local, houve necessidade de reformulação desse perfil profissional, para adequá-lo a
essa nova filosofia. Dessa forma, o perfil profissional do policial comunitário, definido
pelo Centro de Alistamento, Seleção e Estudos de Pessoal da Polícia Militar do
Estado de São Paulo, passou a incluir as seguintes características básicas:
- Autonomia: capacidade de agir com iniciativa e decisão, conduzindo-se
sem a necessidade de constante supervisão e controles externos, decidindo com
presteza e segurança;
- Criatividade: habilidade para extrair conclusões e soluções da própria
experiência anterior e da vivência interna, destacando-se pelo ineditismo,
apresentando soluções novas para os problemas existentes, podendo assim buscar
formas cada vez mais eficazes de cumprir seu papel junto à comunidade, valendo-se
dos meios disponíveis no momento;
- Relacionamento interpessoal: capacidade para receber e emitir
conceitos, idéias, sugestões e críticas sem se deixar abalar em demasia e sem
reagir de forma brusca, podendo manter o envolvimento afetivo, sem perder a
capacidade cognitiva;
- Receptividade e assimilação: capacidade de ouvir o que os outros têm a
dizer e receber qualquer tipo de estímulo, agradável ou não, mantendo a capacidade
de reflexão, julgando o essencial desses estímulos, podendo ou não incorporá-los
ao seu próprio repertório;
- Disposição para o trabalho: capacidade de lidar de maneira produtiva
com as tarefas sob sua responsabilidade, colaborando com outras áreas por meio
de idéias e métodos seguros e confiáveis, mantendo energia disponível por período
prolongado;
- Capacidade de mediação de conflitos: habilidade para utilizar senso
crítico antes de agir ou emitir parecer, elucidando prós e contras, auxiliando no
processo decisório, com imparcialidade e isenção;
- Flexibilidade de conduta: capacidade de ser maleável na compreensão
da realidade que o cerca, demonstrando assertividade na análise, podendo
diversificar seu comportamento, atuando adequadamente de acordo com a
exigência de cada situação;
42
- Autocrítica: capacidade de análise de seus próprios comportamentos,
pensamentos ou sentimentos, com o propósito de aprimorar sua linha de
intervenção;
- Liderança: capacidade para agregar forças existentes em determinado
grupo, canalizando-as na busca de trabalho harmônico e coeso, com objetivos pré-
definidos.
Fica evidente na descrição dos perfis profissionais, tanto o antigo como o
atual, a exigência de características pessoais complexas e, por vezes, antagônicas
que dificilmente são encontradas em uma mesma pessoa, pois refletem
ambivalência e, até mesmo, contradição pessoal. É certo que, quanto maior o risco
envolvido na atividade profissional, maior a exigência em termos de perfil pessoal,
mas, no caso específico de policiais, em função não só da situação de risco, mas
tamm de sua atuação abrangente e multifacetária, decorrente de carências sociais
múltiplas, o que se exige, a partir da perspectiva do perfil profissional, vai além do
que é normalmente encontrado em quem se dispõe a realizar esse trabalho.
Por essa razão, existe uma dificuldade natural de se recrutar pessoas que
atendam a todas as características definidas, não restando alternativa à Instituição
Policial que não a seleção daqueles que mais se aproximem delas. Ainda segundo o
mesmo perfil, apesar de o termo agressividade não ser utilizado de forma explícita,
pode-se perceber-lhe a presença nos conceitos de autonomia, capacidade de
mediação de conflitos e liderança, cabendo, portanto, analisar como essa
agressividade essencial ao trabalho policial se transforma em violência e até que
ponto um programa de apoio psicológico pode ajudar a controlá-la.
2.1 A violência policial sob a ótica da sociologia
Diversos modelos explicativos foram construídos para dar resposta ao
fenômeno da transformação da agressividade indispensável ao trabalho policial em
violência. Monjardet (2003) afirma que a ação policial é sempre iniciada de três
formas: a partir de uma ordem de instância hierarquicamente superior; a partir de
uma solicitação de qualquer cidadão; ou ainda, por iniciativa do próprio policial.
Essas três dimensões podem obedecer a lógicas distintas e concorrentes, gerando
tensões que podem ser canalizadas para atos violentos.
43
Para Porto (2003), a própria sociedade se representa como violenta e as
políticas públicas voltadas para a segurança acabam involuntariamente inscrevendo
esse referencial no imaginário das pessoas, fazendo com que apareçam conteúdos
ambivalentes ligados, de um lado, ao desejo de que a violência seja enfrentada e
combatida com os rigores da lei e de outro, a contextos de retrocesso, de cunho
descivilizatório, ligados ao uso de mais violência no seu combate. Em função dessa
segunda representação, o controle social sobre a atuação do aparelho policial deve
ser intenso, na medida em que seus integrantes, percebendo a ambivalência e até
certo desejo de ver a situação resolvida com o uso da força, podem racionalizar o
uso descontrolado de sua agressividade como medida de forte aceitação social.
Costa (2004), ao falar da violência policial, cita Skolnick (1966) que articula
essa violência ao binômio perigo – autoridade. Segundo este último, é o perigo que
vai colocar em risco o exercício da autoridade e a adesão às normas legais por parte
do policial vai depender do perigo a que este é exposto ou do questionamento de
sua autoridade.
Costa (2004) sustenta, ainda, a existência de violência policial em todos
os estados brasileiros, como conseqüência da impunidade que acaba por disseminar
a idéia de que o uso ilegítimo da força é inerente à atividade policial. Para o mesmo
autor, a existência dessa violência parece estar tamm associada à ineficácia do
aparelho judicial. Essa ineficácia incentiva ações ilegais e truculentas de grupos de
policiais que se consideram acima da lei e acreditam que a solução para a violência
esteja no emprego ilegítimo da força, contando, ainda, com o apoio de parte da
população e com a perspectiva de jamais serem julgados e punidos.
Já para Neme (1999), existem, na legislação brasileira, causas
excludentes de ilicitude que legitimam o uso da força. Duas são as principais: a
legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal. Dessa forma, ações policiais
violentas que resultam em morte podem ser incldas nessas causas de exclusão de
ilicitude, sem qualquer conseqüência de ordem penal para os seus executores.
A autora considera que a dificuldade consiste em avaliar como o emprego
da força foi realizado, se dentro dos parâmetros legais ou fora deles, até porque o
critério de avaliação desses parâmetros não se estabeleceu de forma razoável no
Brasil. No exercício de sua tarefa repressiva, o aparelho policial não se amolda às
normas legais, caracterizando, dessa forma, excesso normalmente não punido. Em
grande medida, a violência policial está ligada ao processo histórico do país, que
44
obteve, a partir da redemocratização, inegáveis avanços em alguns setores, mas
manteve determinadas práticas em outros e a violência policial, que dificulta o
exercício de direitos fundamentais, é prática que ainda persiste.
Tavares, Souza, Menandro e Trindade (2004) estudaram as concepções
de policiais militares sobre categorias sociais que são alvo do trabalho policial no
Estado do Espírito Santo, visando conhecer possíveis diferenças de tratamento
adotado em relação a diferentes segmentos populacionais e partindo da premissa de
que as situações de violência, tensão e desconfiança, que fazem parte da rotina dos
policiais militares, constituem fator determinante da forma como desenvolvem suas
atividades. A partir dessas considerações, surge a relevância de se investigar as
suas concepções apriorísticas a respeito dos usuários do serviço policial, sob a
hipótese de que estereótipos e preconceitos determinam a forma de tratamento a
esses usuários.
Os resultados demonstraram a familiaridade do policial com pessoas de
baixa renda, que se encontram mais próximas de sua atividade profissional. Muito
embora os policiais pesquisados sejam também oriundos de camadas pobres da
população, o que os autores observaram foi a visão cristalizada de que existe
ligação natural entre pobreza e banditismo, até porque a maioria dos crimes que
chegam ao conhecimento desses policiais são praticados por pessoas de baixa
renda. Dentro dessa perspectiva, a forma de tratamento de pessoas pobres e
pessoas ricas também se altera, mesmo na eventualidade da prática de crime por
pessoa de maior poder aquisitivo.
Segundo os autores, a presença de estereótipos, tanto da polícia em
relação aos estratos sociais da população quanto destes em relação à polícia,
decorre do considerável grau de autonomia das instituições policiais relativamente
às transformações políticas e sociais havidas no país. Reforçando análise de
Pinheiro (1998, apud TAVARES et al, 2004), o processo de consolidação da
cidadania, objetivo maior da Constituição de 1988, não se refletiu nas práticas
policiais.
2.2 A violência policial sob a ótica da psicologia psicodinâmica
Para Zacharias (1994), a violência policial está articulada a um processo
que abrange desde a frustração frente à carreira até as características próprias da
45
personalidade autoritária descrita por Adorno (apud ZACHARIAS, 1994). Esse tipo
de personalidade, que se caracteriza pela deferência para com os superiores e rigor
para com os subordinados, parece estar muito presente nos quadros policiais.
Segundo o autor, como há certa frustração nos valores terminais dos policiais
militares, decorrente da falta de realização profissional e como há compreensão dos
valores instrumentais – disciplina, hierarquia, dedicação e eficiência – há uma
tendência de o policial dirigir a agressividade gerada para outro foco que não a
própria Instituição. Dessa forma, a agressividade será dirigida a grupos, não de
forma aleatória, mas até certo ponto de forma indicada, recaindo sobre eles o
preconceito e a opressão.
Para o autor, o perfil do policial militar parece confirmar a existência, em
parte do grupo, da Síndrome de John Wayne, descrita por Lidgard e Bates (1989
apud ZACHARIAS, 1994) que, basicamente, consiste em negar valores pessoais,
em especial, aqueles ligados a relacionamento interpessoal e os comunitários e
dirigir a agressividade a grupos pré-determinados. O ponto central da síndrome é a
dicotomia bem e mal, havendo a necessidade de destruição do mal para que o bem
prevaleça, modificando-se, dessa forma, toda a percepção do mundo. O rigor da lei
deve estar sempre acima dos homens e das circunstâncias presentes. Conforme
descreve o autor:
Sem dúvida, John Wayne incorpora a figura arquetípica do herói,
aquele que, do lado da lei, cumpre a determinação de deter o mal e
impor a ordem social, recebendo a admirão da população. Porém
age com um sentido superior à aprovação social, pois nunca
permanece no lugar onde realizou o ato heróico, nunca recebe os
louros da vitória, exceto a satisfação da missão cumprida
(ZACHARIAS, 1994, p.199).
Em outras palavras, a Síndrome de John Wayne representa a utilização
de mecanismos de defesa, especialmente o deslocamento e a racionalização para
legitimar a conduta agressiva, acima da lei e sem possibilidades de controle efetivo.
Allegretti (1996) sustenta que a agressividade empregada com finalidade
destrutiva no trabalho policial e que aparece sem estar, à primeira vista, relacionada
46
a uma eventual pressão exercida por esse trabalho, pode estar vinculada a dois
fatores:
1. Falha dos mecanismos inibitórios do superego; e
2. Existência de senso moral próprio divergente da moral dominante.
No primeiro caso, o que existe é a ineficácia dos mecanismos inibitórios do
superego, diante de uma situação real que estimule as pulsões agressivas do
policial. Nesse contexto, a expansão da agressividade violenta decorre da ansiedade
gerada pela situação que acaba por acentuá-la, na forma proposta por Klein (1970).
No segundo caso, a agressividade se manifesta com características
destrutivas por conta da desconfiguração de alguns valores fundamentais, como
vida e dignidade humana, permitindo a formação de senso moral particular,
divergente da moral dominante. Valores familiares frágeis são ainda mais
devastados com os efeitos das tragédias do dia-a-dia. A morte, assim como a vida, é
banalizada. O policial traz essa lógica do meio social de onde provém e a implanta
no trabalho policial que, em indesejável efeito perverso, pode, inclusive, ajudar a
solidificá-la e potencializar os seus efeitos.
Muito próximos desse segundo caso, aparecem os quadros de
dessensibilização, em que a violência é empregada sem que desperte sentimentos
com relação a seus resultados. O termo alexitimia tem sido empregado para indicar
o afastamento da pessoa dos próprios sentimentos, uma espécie de embotamento
afetivo, em que a esfera do pensamento, decisão e ação do indivíduo se encontra
totalmente separada da esfera dos sentimentos e emoções (SILVA, 1995).
O que se poderia perguntar é se a Instituição Policial, que tem como
valores fundamentais o respeito à vida, à integridade física e à dignidade da pessoa,
não conseguiria, através da transmissão desses valores aos novos policiais, evitar a
manifestação da agressividade violenta. Na verdade, esse movimento é muito difícil
de ser feito, porque, em razão da diferença entre valores pessoais e valores
institucionais, nasce o que Dejours (1988) denominou de ideologia defensiva. Para
ele, o choque entre uma história individual, portadora de projetos, esperanças e
desejo e uma organização do trabalho que não permite a realização desses projetos
pode determinar impacto no aparelho psíquico.
A ideologia defensiva seria, portanto, um mecanismo particular de defesa
contra as diferenças entre as aspirações profissionais e as condições de trabalho
encontradas.
47
Transportado o conceito para a realidade da Polícia Militar, a ideologia
defensiva aparece não apenas como diferença entre aspiração individual e estrutura
organizacional, mas, acima de tudo, como divergência de valores, levando muitos
policiais a se ocultar de maneira radical, para poder agir segundo seus valores
pessoais. E se esses valores pessoais forem socialmente inadequados, as
manifestações agressivas de caráter destrutivo podem se manifestar com alguma
freqüência no trabalho policial. Além disso, o próprio grupo desempenha papel
importante nesse processo, pois, segundo Dejours (1988), a ideologia defensiva
para ser operatória deve obter a participação de todos e aquele que não participa,
cedo ou tarde, acaba sendo discriminado pelo grupo.
Assim, a utilização de agressividade exagerada no trabalho policial, dentro
do aspecto coletivo da ideologia defensiva passa pela aprovação de um significativo
número de integrantes que possui valores pessoais próximos entre si. Com essa
aprovação, não resta nenhum tipo de angústia pessoal posterior a uma ação
violenta, sendo esta considerada um resultado natural do trabalho policial.
Uma outra forma de pensar a agressividade exagerada no trabalho policial
é considerar a possibilidade de existência de um falso-self entre os policiais que
participam de ações violentas. Retomando o pensamento de Winnicott (2000), deve-
se considerar o falso-self como uma das organizações defensivas mais bem
sucedidas e que tem por finalidade proteger o verdadeiro self da falha ambiental,
que resulta em processo de de-privação com conseqüente congelamento dessa
falha, na esperança de tê-la corrigida futuramente. Se o ambiente não é
suficientemente bom para permitir a construção do verdadeiro self, o indivíduo reage
a essa intromissão ambiental e os processos de construção do eu são
interrompidos. Com isso, surge o falso-self, construído a partir de uma submissão
defensiva como reação à intrusão. Esse processo pode dar início ao ciclo de
tendência anti-social que, segundo Winnicott (2000), implica em esperança de
recuperar o que lhe foi retirado precocemente na primeira infância, ainda que por
vias transgressivas. O roubo – ou furto – caracteriza bem esse processo, em que a
criança não está em busca do objeto roubado – ou furtado – mas está atrás da mãe,
sobre a qual ela pensa ter direitos, já que, na sua vivência imaginária, existe a
crença de que a mãe foi criada por ela e não o contrário.
Já a destrutividade caracteriza processo em que o principal fundamento é
a falha ambiental decorrente da atitude paterna, no estágio de dependência relativa.
48
A figura do pai, encarregada de dar a moldura em meio a qual a criança vai operar a
sua agressividade, falha nesse propósito, não estabelecendo limites definidos, o que
leva o indivíduo, em todo o seu desenvolvimento emocional, a procurar esses limites
no ambiente.
É possível pensar na existência dessa falha ambiental naqueles que
procuram a carreira policial, como forma de operar o falso-self e toda a sua
destrutividade de forma dissimulada, pelo pressuposto da legitimidade de sua ação
violenta. Para Winnicott (1987), os agentes de contenção devem estabelecer as
bases para um tratamento humano do infrator, não deixando que o crime produza
sentimentos de vingança pública em termos de sentimentalismo, o que poderia ser
perigoso por colocar em evidência o ódio. O policial que opera com um falso-self, em
que as características de destrutividade estão presentes, pode permitir a eclosão do
ódio como um pseudo-sentimento de vingança pública, mas que, em verdade, serve
apenas para permitir a expansão de tendência que lhe é inerente.
Belmont (2000), ao tratar do falso-self e violência, assegura que uma
polícia verdadeiro self é aquela em que a agressividade é usada de forma controlada
para conter a violência e o crime, enquanto um agente da lei falso-self é aquele que
está submetido à violência do ambiente, transformando-se ele mesmo em agente do
crime.
49
3. A IMPLANTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA
DE APOIO PARA POLICIAIS ENVOLVIDOS EM OCORRÊNCIAS GRAVES NO
ESTADO DE SÃO PAULO
3.1 Histórico
A Polícia Militar do Estado de São Paulo, de acordo com a Lei
Complementar nº. 960 de 09 de dezembro de 2004, possui em seu efetivo 93.056
homens e mulheres para o trabalho de polícia ostensiva e de preservação da ordem
pública. Desse total, 19.960 (21%) são oficiais e sargentos e 73.096 (79%) são
cabos e soldados (8050 do sexo feminino). Estes últimos são os profissionais de
segurança pública mais fortemente empregados em atividades operacionais e
sujeitos, portanto, ao envolvimento em ocorrências graves, fator de constante
preocupação para o Comando da Corporação.
A origem do programa de apoio para policiais envolvidos nesse tipo de
ocorrência em São Paulo remonta ao ano de 1994, época em que o Comando Geral
da Polícia Militar já manifestava sua preocupação com a participação de policias
militares em ocorrências onde houvesse o evento morte. Nesse ano, foi editada a
Nota de Instrução nº. Correg PM 001/150/94 que previa em seu item 2.c.:
2. SITUAÇÃO
.......................................................................................................
c. Por outro lado, o Comando Geral preocupa-se com os efeitos
estressantes do trabalho policial, danoso ao equilíbrio físico e mental
do policial militar e com certeza potencializados quando o profissional
se envolve em ocorrências nas quais faz uso de força ou de armas
contra pessoas.
O mesmo documento afirmava que o policial envolvido como participante
efetivo em cinco ou mais ocorrências com o evento morte, lesão corporal,
constrangimento ilegal, violação de domicílio e violência arbitrária, nos últimos
quatro anos, seria imediatamente afastado, até a manifestação da Corregedoria da
Corporação, das atividades de policiamento afetadas por maior potencial de uso de
força.
50
Caso houvesse envolvimento em até quatro ocorrências nos últimos
quatro anos, o policial poderia ser movimentado pelo seu próprio Comando para
atividades com menor potencial de confronto armado, observando-se os resultados
dessa providência quanto à sua adaptação.
Nesse mesmo ano, o Programa de Apoio começou a ganhar forma no
âmbito do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), responsável pelo
exercício da polícia ostensiva na Região Metropolitana de São Paulo, por meio de
publicação inscrita no Boletim Geral da Polícia Militar nº. 217 de 18 de novembro de
1994. Por essa publicação, ele foi conceituado como um conjunto de ações que
objetivavam prevenir o aparecimento de desequilíbrios resultantes da participação
em ocorrências graves. Procurava enfatizar o estudo diagnóstico individual e as
ações preventivas de caráter informativo, aliadas ás ações de ordem administrativa,
quando necessárias. Nessa época, o programa tinha a duração de apenas cinco
dias e era, basicamente, composto das seguintes atividades:
1) Estudo diagnóstico individual;
2) Atividade física;
3) Dinâmica de grupo:
4) Palestras e visitas;
5) Avaliação final.
O policial militar com contra-indicação no exame psicológico era afastado
das atividades operacionais por um período mínimo de três meses, após o que era
submetido a novo exame, repetindo-se o procedimento até que estivesse novamente
em condições de retorno ao trabalho operacional.
Dessa forma, os principais objetivos dessa formatação inicial do programa
de apoio eram os seguintes:
a) Diagnosticar, verificando as condições de equilíbrio interno do policial,
para prosseguimento na atividade operacional;
b) Auxiliar, fornecendo suporte ou indicando formas de consegui-lo para
todos os policiais envolvidos em ocorrências graves e, em especial, para aqueles
que apresentassem certo grau de desequilíbrio ou dessensibilização;
51
c) Controlar, verificando o número de ocorrências anteriores de cada
participante do programa, além de propor o afastamento das atividades operacionais
daqueles com problemas pessoais já detectados;
d) Pesquisar, buscando identificar perfil característico daqueles que mais
se envolvem em ocorrências graves e acompanhando os dados de cada Unidade
Policial Militar e os efeitos do programa no controle interno da própria atividade
policial.
No ano de 1995, o programa foi reestruturado, por meio da Nota de
Instrução nº. CPM – 007/3/95 de 28 de agosto de 1995, alterada pelas Ordens
Complementares nº. CPM – 007/3/95 de 29 de setembro de 1995; nº. CPM
010/3/95 de 06 de novembro de 1995; nº. CPM – 013/3/95 de 28 de novembro de
1995 e nº. CPM – 003/3/96 de 06 de março de 1996, passando a ter as seguintes
características básicas:
1) O policial militar envolvido em ocorrência grave era afastado de sua
Unidade de origem e movimentado para outra, indicada pelo Comando;
2) Nessa nova Unidade, permanecia por período de seis meses;
3) Era empregado exclusivamente em policiamento a pé, em contato com
o público, por período de oito horas, sendo sempre as duas primeiras reservadas a
treinamento;
4) Participava, no período, de, no mínimo, três sessões de
acompanhamento psicológico, sendo a última delas nos últimos trinta dias do
programa;
5) Caso fosse considerado apto, era movimentado novamente para sua
Unidade de origem, podendo ser empenhado em qualquer atividade;
6) Diante da hipótese de novamente envolver-se em ocorrência grave,
todos os procedimentos eram repetidos, ampliando-se o prazo de afastamento de
sua Unidade de origem para doze meses;
7) Havia, no programa, uma fase inicial, desenvolvida na sede do CPM, da
qual fazia parte um estágio de reciclagem profissional especial, com duração de
quatro semanas e com cem horas de atividades diversas.
8) Foram incluídos no programa todos os policiais que se envolvessem em
ocorrências graves, inclusive no período de folga.
52
Até essa época, eram consideradas ocorrências graves apenas aquelas
em que havia a morte do opositor, em decorrência de enfrentamento armado.
No ano de 1997, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 002/02/97
de 26 de janeiro de 1997, o programa de apoio foi estendido a todos os policiais
militares da Corporação, já que, até então, era aplicado exclusivamente àqueles
subordinados ao CPM.
Além disso, foram incluídos como participantes obrigatórios os policiais
militares que tivessem efetuado disparo de arma de fogo, causando ferimento em
terceiros, independentemente do resultado morte, além de outros que,
eventualmente, apresentassem sinais de desequilíbrio emocional.
No ano de 1999, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/99 de 03
de setembro de 1999, entraram em vigor novas regras para o programa de apoio,
coordenado, a partir daquele momento, pela Diretoria de Pessoal da Polícia Militar e
executado de forma descentralizada em todo o Estado.
Finalmente, no ano de 2002, o programa alcançou a sua configuração
atual, inicialmente, por intermédio da Nota de Instrução nº. PM3 – 001/03/02 de 15
de fevereiro de 2002 e, posteriormente, por meio da Nota de Instrução nº. PM3 –
003/03/02 de 15 de agosto de 2002, passando a incluir como participantes
obrigatórios não só os policiais militares que tivessem feito uso de arma de fogo e
causado ferimento, mesmo não letal, a outra pessoa, ou aqueles que
apresentassem sinais de desequilíbrio emocional, mas também aqueles outros que
tivessem se envolvido em acidentes com viaturas policiais na condição de condutor.
Os objetivos do programa, a partir desse ano, foram definidos da seguinte
forma:
a. agir preventivamente, em favor do restabelecimento da saúde
mental do policial militar;
b. readequar a atitude do policial militar que se envolveu em
ocorncias de alto risco, conduzindo-o aos padrões doutrinários da
atividade desenvolvida pela Corporação;
c. restabelecer o equilíbrio psico-emocional do policial militar,
favorecendo o desenvolvimento pessoal e o conseqüente uso
produtivo de suas potencialidades;
53
d. promover a perfeita interação do policial militar com a sociedade, de
modo a garantir uma relão cordial e profissional com todos os
segmentos, enaltecendo os valores ligados à vida, à integridade física
e à dignidade humana e não aceitando o evento “morte” como
resultado natural do trabalho policial, quando do inevitável confronto
com os marginais;
e. fortalecer os princípios da hierarquia e disciplina, através da
depuração de valores contrários aos da Instituição, fortalecendo as
normas, regulamentos e leis que regem a atividade policial militar;
f. trabalhar para que se evite o resultado morte e/ou lesões corporais
nas ocorncias de grande vulto, buscando esgotar os meios
disponíveis e necessários para a segura detenção dos infratores (não
letalidade), salvaguardando assim a integridade do(s) policial(ais)
militar(es) e do(s) infrator(es); e
g. buscar a maximização da qualidade na prestação de serviço e,
principalmente, preservar a integridade física dos policiais militares e
das pessoas envolvidas em ocorncias policiais, minimizando o grau
de exposição ao risco, além de reduzir os efeitos traumáticos,
ocasionando aos policiais militares que, eventualmente, se envolvem
em acidentes de trânsito, quando da condão de viaturas PM (Nota
de Instrução nº. 003/3/02).
O programa passou, então, a ser composto por três fases distintas:
1) 1ª Fase, com duração de dois dias, para execução de toda a parte
burocrática de apresentação ao programa e a realização de testes psicológicos para,
conforme os respectivos resultados, inclusão no Estágio de Aprimoramento
Profissional (EAP) – Desenvolvimento Psico-Emocional;
2) 2ª Fase, com duração de dezessete dias letivos, destinada ao
desenvolvimento do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional, com disciplinas
curriculares ligadas à área de psicologia, condicionamento físico, assistência social,
saúde, teosofia, atualização profissional e atividades complementares;
3) 3ª Fase, destinada à avaliação e prescrições, em que são verificadas as
condições de retorno do policial à sua atividade normal. Para aqueles que não
apresentarem condições satisfatórias, são feitas prescrições de afastamento de
54
atividades específicas por período definido, concomitantemente com proposta de
atendimento psicológico individual. Após o término do período de afastamento, o
policial é submetido a uma nova avaliação, repetindo-se os procedimentos.
As prescrições estabelecidas são as constantes do Quadro 1, a seguir
definidas:
Quadro 1: Tipos de prescrição e período
Nº. Tipo de Prescrição Modalidade Permitida Período
01 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa 1 a 6 meses
02 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa e
Operacional a pé
1 a 6 meses
03 Atividade Supervisionada Atividade Administrativa,
Operacional a pé e de rádio-
patrulhamento motorizado
1 a 6 meses
04 Atividade Supervisionada Todas as atividades 1 a 6 meses
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo (Nota de Instrução nº. PM3 – 003/3/02)
Em caso de o participante do programa ser oficial, a segunda fase se
composta de um Estágio de Especialização Profissional denominado Inteligência
Emocional na Liderança, com duração de 01 dia, que tem por objetivo a
sensibilização dos oficiais em função de comando sobre a doutrina de valorização
da vida e da dignidade humana. As demais etapas do programa são coincidentes.
A grade curricular do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional se
encontra no Anexo A do presente estudo.
3.2 Primeira pesquisa sobre o programa de apoio
Allegretti (1996) realizou a primeira pesquisa sobre o programa de apoio a
policiais envolvidos em ocorrências graves. Essa pesquisa teve, como objetivo geral,
verificar a validade do programa, tendo em vista os seus resultados e, como
objetivos específicos:
1. Do ponto de vista institucional:
55
1.1 Verificar a existência de decréscimo de produtividade, decorrente de
possível retração como efeito perverso do programa;
1.2 Verificar a redução do número de civis e policiais militares mortos e
feridos em confronto armado
2. Do ponto de vista pessoal:
2.1 Definir perfil dos policiais militares que mais se envolveram em
ocorrências graves;
2.2 Comparar o estado emocional antes e depois do programa, por meio
de utilização de instrumentos técnicos específicos;
2.3 Verificar a opinião pessoal sobre o programa de parte do grupo que
dele participou.
3.2.1 Método utilizado na primeira pesquisa
Os dados relativos às variáveis institucionais referem-se aos períodos
compreendidos entre janeiro e agosto de 1995 e 1996, portanto, antes e depois da
vigência do programa, na versão que vigorava à época. São dados relativos à
atividade policial executada na área da cidade de São Paulo por Unidades
Operacionais subordinadas ao CPM. Foram as seguintes as variáveis estudadas:
1) Policiais militares mortos em confronto;
2) Policiais militares feridos em confronto;
3) Civis mortos em confronto;
4) Civis feridos em confronto;
5) Prisões em flagrante delito por crime de homicídio;
6) Prisões em flagrante delito por crime de roubo;
7) Prisões em flagrante delito por crime de furto;
8) Suspeitos conduzidos aos Distritos Policiais;
9) Ocorrências efetivamente atendidas pelas guarnições;
10) Localização de veículos furtados ou roubados;
11) Armas apreendidas (dados comparados entre os meses de janeiro e
julho de 1995 e 1996);
12) Ocorrências resolvidas no local;
13) Tempo de resposta das guarnições no atendimento de ocorrências;
56
14) Média diária de viaturas em operação;
15) Total de ocorrências de homicídio doloso, furto e roubo na cidade de
São Paulo.
Para a realização da coleta de dados, foi utilizada a base de dados do
CPM sobre as variáveis estudadas.
No campo das variáveis pessoais, o grupo estudado foi composto por 158
policiais militares de diversas Unidades Operacionais subordinadas ao CPM,
distribuídos, por postos e graduações da seguinte forma:
1) Capitães: 01 (0,63%);
2) Tenentes: 17 (10,76%);
3) Subtenentes e Sargentos: 23 (14,56%);
4) Cabos e Soldados: 117 (74,05%)
O perfil daqueles que mais se envolveram em ocorrências graves foi
definido levando-se em conta o tempo de serviço, a idade, o estado civil e o número
de vezes no programa de apoio. Esses dados foram coletados em entrevistas
individuais realizadas na sede do CPM, logo após o início do programa.
Os dados relativos à opinião sobre o programa foram coletados por meio
de questionário específico e identificado, em que era solicitada a manifestação do
participante acerca de uma das seguintes alternativas: ótimo, bom, regular e ruim.
A comparação entre o estado emocional antes e depois do programa foi
feita com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético (PMK) de Mira Y Lopez e
levou em conta dados relativos à agressividade e emotividade nas vertentes
estrutural e reacional, de acordo com a sustentação teórica do instrumento. Levou-
se em conta, primeiramente, aqueles que alcançaram o terceiro desvio-padrão
positivo de agressividade (forte hétero-agressividade) em, pelo menos, um traçado.
Depois, aqueles que alcançaram o segundo desvio-padrão positivo de agressividade
(aumentada/acentuada hétero-agressividade), também, em, pelo menos, um
traçado. Finalmente, aqueles que permaneceram na zona de normalidade
(agressividade normal). A mesma metodologia foi utilizada com relação à
emotividade. Os testes foram aplicados em gabinete adaptado às suas exigências,
na sede do CPM.
57
Vale, neste ponto, ressaltar que o PMK é o instrumento tamm utilizado
no presente estudo e será detalhado no capítulo referente a método.
3.2.2 Resultados da primeira pesquisa
Os resultados dessa pesquisa, no campo das variáveis institucionais,
foram os seguintes:
1) Policiais militares mortos em confronto: redução de 58,14%;
2) Policiais militares feridos em confronto: redução de 48,33%;
3) Civis mortos em confronto: redução de 54,86%;
4) Civis feridos em confronto: aumento de 2,87%;
5) Prisões em flagrante delito por crime de homicídio: aumento de 7,69%;
6) Prisões em flagrante delito por crime de roubo: aumento de 7,69%;
7) Prisões em flagrante delito por crime de furto: redução de 27,77%;
8) Suspeitos conduzidos aos Distritos Policiais: aumento de 52,10%;
9) Ocorrências efetivamente atendidas pelas guarnições: aumento de
14,28%;
10) Localização de veículos furtados ou roubados: redução de 0,10%;
11) Armas apreendidas: aumento de 8,47%;
12) Ocorrências resolvidas no local: aumento de 1,20%;
13) Tempo de resposta das guarnições no atendimento de ocorrências:
aumento de 19,1% de atendimentos com tempo superior ao recomendado (dez
minutos);
14) Média diária de viaturas em operação: redução de 9,49%;
15) Total de ocorrências de homicídio doloso, furto e roubo na cidade de
São Paulo:
a) homicídio doloso: aumento de 2,70%;
b) furto: redução de 7,43%;
c) roubo: aumento de 21,79%.
Com relação ao perfil de policiais militares que mais se envolveram em
ocorrências graves, os resultados da pesquisa demonstraram que os que mais se
envolveram foram os cabos e soldados com 74,05% do efetivo total pesquisado.
58
Desses, a maioria é casada (43,67%) e com tempo de serviço de até 10 anos
(65,82%). Deve-se ressaltar que 60,12% desses cabos e soldados passaram pelo
programa uma única vez e 62,65% têm entre uma e três ocorrências com mortes.
O contingente de cabos e soldados envolvido em confronto armado foi
maior do que o dos demais postos e graduações, segundo os dados dessa
pesquisa, porque representavam o maior percentual do efetivo global da Instituição.
Sobre a pesquisa de opinião sobre o programa, 70,88% dos pesquisados
consideraram-no ótimo ou bom contra 29,12% que consideraram regular, ruim ou
não emitiram opinião.
Com relação ao estado emocional antes e depois do programa, verificado
por meio da oscilação da agressividade e da emotividade, em suas vertentes
estrutural e reacional, os resultados apresentados a seguir referem-se apenas à
agressividade reacional, por ser essa a tendência que efetivamente interessa ao
presente estudo:
1) Agressividade reacional medida antes do programa:
- 15% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;
- 61% apresentavam hétero-agressividade reacional aumentada ou
acentuada;
- 24% apresentavam agressividade reacional normal.
2) Agressividade reacional medida após o programa:
- 17% apresentavam forte hétero-agressividade reacional;
- 55% apresentavam agressividade reacional aumentada ou acentuada;
- 28% apresentavam agressividade reacional normal.
3) Modificação da resposta agressiva reacional:
- 15,03% apresentaram agressividade ampliada;
- 27,06% apresentaram agressividade reduzida;
- 57,90 apresentaram agressividade estável.
59
3.3 Segunda pesquisa sobre o programa de apoio
Xavier (2001) realizou nova pesquisa sobre o programa de apoio a
policiais militares de São Paulo envolvidos em ocorrências graves, que teve por
objetivo aferir a sua eficiência e eficácia como instrumento de mudança
comportamental. Contudo, o método utilizado incluiu apenas o uso de questionários,
como forma de aferição de expectativas dos policiais que se apresentavam para o
programa e de sua avaliação por outros que o concluíram, não havendo qualquer
referência à verificação da agressividade, razão pela qual não será detalhado no
presente estudo.
3.4 Existência de programas semelhantes
No mês de julho de 2005, o autor, por meio de correspondência eletrônica,
solicitou ao Comando das Polícias Militares de todos os Estados da Federação
informações acerca da existência de programa de apoio para policiais envolvidos em
ocorrências graves e de pesquisas sobre ele. Apenas a Polícia Militar do Estado do
Acre e a Polícia Militar do Estado do Espírito Santo responderam à correspondência,
sendo a primeira para noticiar a inexistência de programa de apoio e a segunda para
encaminhar material a respeito do programa implantado naquele Estado e que
vigorou de fevereiro de 2000 a dezembro de 2004, sendo interrompido por falta de
pessoal técnico especializado.
Criado pela Lei Estadual nº. 6.130 de 08 de fevereiro de 2000, o programa
tinha por objetivo proporcionar acompanhamento psicológico a todo o policial militar,
policial civil ou bombeiro militar do Estado do Espírito Santo que se envolvesse em
ocorrências que resultassem em morte de outro militar ou de civil.
O acompanhamento, contudo, não era feito através de um programa
estruturado, com participação simultânea de vários policiais, ficando restrito a
sessões individuais ou em grupo, cuja freqüência era definida para cada caso pela
equipe técnica.
Também não foram encontradas publicações sobre o tema em periódicos
de divulgação científica no Brasil. Há muitos artigos sobre violência policial, a partir
de diversas perspectivas, assim como há, também, diversas publicações acerca do
stress profissional decorrente do trabalho policial, inclusive com propostas
60
específicas para o seu controle, mas estudos específicos acerca da agressividade
presente nos profissionais de segurança pública e as formas de controle de sua
expansão, para que não se transforme em violência, efetivamente não existem.
Emvel internacional, sites de diversas instituições policiais foram
consultados, sem que a referência a esse tipo de programa fosse encontrada.
Pesquisa feita na rede mundial apontou a existência de diversos programas de apoio
desenvolvidos por órgãos policiais isoladamente ou em parceria com organizações
não-governamentais, destinados às vítimas da violência criminal. Os programas
destinados aos policiais, desenvolvidos por organismos policiais ou fundações a eles
ligadas referem-se basicamente à dependência química – álcool e drogas – e os
casos mais graves de desajustamento merecem atendimento psicológico ou
psiquiátrico individualizado.
A inexistência de publicações a respeito e a falta de divulgação de
programas de apoio como forma de controle da violência policial podem ser
explicadas pelo caráter estratégico e de confidencialidade desses programas, cujos
dados, se usados indevidamente, podem prejudicar a imagem institucional das
organizações policiais.
Amador, Santorum, Cunha e Braum (2002), em artigo, argumentam sobre
a importância de políticas de saúde e segurança públicas que sustentem programas
voltados à saúde do trabalhador na Brigada Militar do Rio Grande do Sul. No
entanto, destacam as dificuldades para sua implantação, decorrentes da
organização e da lógica de funcionamento daquela Instituição, que dificultam desde
a expressão livre dos problemas encontrados no trabalho até o desenvolvimento de
uma metodologia no campo da promoção e prevenção em saúde mental.
Apesar da pouca divulgação dada aos programas de apoio, a Associação
Internacional de Chefes de Polícia definiu algumas linhas mestras de atuação com
policiais que passaram por ocorrências graves, todas voltadas para o forte
componente estressante do confronto armado. São elas:
1) No local e hora do acontecimento, mostre preocupação e
compreensão. Preste primeiro socorro mental e psíquico;
2) Depois de obter a necessária informação no local, promova uma
parada psicológica, retirando o policial do local e mantendo-o a
alguma distância do cenário. O policial precisa estar com um
61
amigo ou supervisor que o apóie e só voltar ao cenário se
necessário. Esta parada deve ser de natureza não estimulante,
com discreto uso de bebidas contendo cafeína, uma vez que o
policial já esbastante tenso;
3) Para alguns policiais é importante explicar que procedimentos
administrativos ocorrerão nas próximas horas e por que. Isto
ajudará o policial a constatar que a investigação do incidente é um
procedimento operacional padrão e não uma caça às bruxas;
4) Quando a arma for apreendida, substitua-a assim que possível.
Essa linha pode ser modificada, dependendo das circunstâncias e
do nível de estresse do policial;
5) O policial deve ser aconselhado a tomar um defensor profissional
para salvaguardar seus interesses pessoais;
6) Antes de ser submetido a um interrogatório detalhado, o policial
deve ter um tempo de recuperação, num lugar seguro onde esteja
isolado da imprensa e de colegas curiosos;
7) Isolar totalmente o policial alimenta os sentimentos de
ressentimento e alienação. O policial pode ficar com um amigo
que possa apoiá-lo ou um colega que tenha passado por
experiência semelhante. Para evitar complicações legais, o
incidente não deve ser discutido antes da investigação preliminar.
É crucial, nessa ocasião, mostrar ao policial apoio e preocupação;
8) Se o policial não estiver ferido, ele ou o departamento deve
contatar a família (por telefone ou por visita pessoal) e faze-la
saber o que aconteceu, antes que ouça boatos ou receba
telefonemas de outras pessoas. Se o policial estiver ferido, um
membro conhecido do departamento deve apanhar a família e
conduzi-la ao hospital. Certifique-se de que a família está
recebendo apoio (por exemplo, chame amigos, capelães, etc);
9) Uma entrevista pessoal de apoio com algum ocupante de alto
posto administrativo é muito eficaz para aliviar o medo do policial
em relação à reação do departamento. Muitas vezes os
administradores relutam em dizer algo ao policial, com medo de
que seus comentários sejam interpretados como um endosso da
ação do policial. O administrador não precisa fazer comentários
sobre o incidente; o que é importante é que ele mostre
preocupação e simpatia em relação ao policial;
62
10) O policial deve receber algum tipo de licença administrativa – não
uma suspensão com pagamento – para que possa lidar com o
impacto emocional. De uma maneira geral, três dias são
suficientes, embora alguns dias a mais ou a menos possam ser
apropriados. Alguns policiais preferem um serviço mais leve do
que uma licença. É melhor evitar a volta do policial às ruas, a
serviço, antes de obter a resolução legal ou do departamento em
relação ao tiroteio. Os demais policiais da cena do tiroteio deverão
ser avaliados em relação às suas reações emocionais e deve ser
dado a eles o restante do turno de serviço livre ou o que for
necessário, devendo isso ser examinado caso a caso. Muitas
vezes os policiais que participaram da ação (o policial que atirou e
não acertou, o policial que não atirou, etc) podem sofrer um
trauma ainda maior do que o do policial que atirou e acertou o
suspeito. Os supervisores, após algum tempo, têm capacidade
para discernir sobre isso.
11) Para os policiais que dispararam a arma, antes de retornarem ao
serviço rotineiro, deverá haver uma sessão confidencial com um
profissional competente de saúde mental. Essa sessão deve
ocorrer tão logo seja conveniente e possível; o ideal é que seja
entre 24 e 72 horas após o tiroteio. O profissional de sde mental
determinará se o policial está apto a retomar a sua rotina de
trabalho ou se são necessárias outras sessões. Todas as pessoas
que participaram de alguma forma do tiroteio, até mesmo o policial
que enviou a rádio-patrulha, deverão ter uma seso (que pode
ser em grupo) com profissional de saúde mental. O próprio policial
que atingiu o suspeito talvezo deva participar dessa sessão
conjunta, porque as implicações legais para ele criam itens de
discussão deferentes do que para os demais. É importante para os
envolvidos poder contar com o apoio de colegas que já
atravessaram situações similares e que receberam treinamento
especial para dar esse tipo de apoio;
12) Deverá ser possibilitado o aconselhamento família (cônjuge, filhos
ou ente significativo);
13) Se o número do telefone do policial estiver na lista telefônica, é
aconselhável que um amigo ou familiar do policial ou mesmo uma
secretária eletrônica filtre os telefonemas recebidos;
63
14) Um administrador ou supervisor deverá informar ao resto do
departamento ou da equipe o ocorrido, a fim de que o policialo
seja bombardeado com perguntas e fofocas;
15) Envie ap policial os resultados da investigação administrativa e
criminal;
16) Leve em consideração os interesses do policial ao fornecer
informações aos meios de comunicão;
17) Permita que o policial retorne ao servo lentamente, isto é,
trabalhar com um colega nos primeiros dias ou trabalhar num
outro turno se assim o desejar. (SOLOMON, 1993, p.34 – 36).
É marcante, portanto, a preocupação da Associação Internacional dos
Chefes de Polícia com os efeitos adversos do confronto armado para a saúde
mental o policial. Não há, contudo, qualquer orientação objetiva sobre como lidar
com a agressividade do policial e sua vertente de violência. Obviamente, o ideal
seria a avaliação periódica e por meio de instrumentos sensíveis de todos os
policiais, em especial, daqueles que desenvolvem atividades operacionais. Como
isso não é factível, devido ao elevado efetivo das instituições policiais, a ocorrência
grave, entendida como tal aquela em que há confronto armado, acaba sendo a
ocasião oportuna para verificar se a agressividade individual pode estar
influenciando o resultado do trabalho policial.
3.5 Programa de apoio e mudança psíquica
Um dos principais pontos a considerar na aplicação de um programa de
apoio a policiais é o de que a mudança pretendida pode não ocorrer após o período
relativamente curto a ele destinado. Isso não significa, contudo, que o programa não
tenha alcançado o seu objetivo, mas deixa patente que as mudanças provocadas
por esse tipo de intervenção variam de pessoa para pessoa, com necessidade de
acompanhamento individualizado de maior ou menor intensidade, após a fase
coletiva da intervenção. Nesse sentido, torna-se importante ressaltar os
ensinamentos de Winnicott (1984) de que uma única entrevista, por vezes, já é
suficiente para se alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o
paciente para a realidade de sua vida mental.
64
Freud (1937) identificou dificuldades para que a mudança psíquica seja
consistente, ligadas basicamente às características da energia sexual, às
dificuldades de estruturação do ego, à compulsão à repetição e à impregnação de
energia em determinado conflito.
Klein (1957) propõe que a grande mudança psíquica que ocorre no curso
do desenvolvimento normal é a passagem da posição esquizo-paranóide para a
posição depressiva, segundo o seu modelo de evolução baseado na integração do
ego, a partir da reintegração das partes cindidas do self.
Joseph (1992), por seu turno, deixa claro que mesmo os psicanalistas
utilizam o conceito de mudança psíquica com alguma ambigüidade. Por vezes
consideram-na como qualquer tipo de mudança que ocorre nos processos mentais
ou no funcionamento dos pacientes submetidos à análise; outras vezes consideram
apenas as mudanças mais consistentes e profundas. Para a autora, o conceito deve
ser considerado em sua forma mais ampla, abrangendo os dois aspectos citados e a
própria relação entre eles. Dessa forma, a mudança não é um fim em si mesma, pois
está sempre ocorrendo e a função do profissional é acompanhar esse processo,
sem a preocupação de ser ela positiva ou negativa. Segundo ela:
Se ficarmos presos em preocupações quanto a se os movimentos
(shifts) revelam ou não progresso, procurando provas em apoio,
podemos ficar entusiasmados com aquilo que sentimos como
progresso ou desapontados quando há aparente regressão.
Descobriremos então que nos desligamos do percurso e ficamos
incapazes de escutar plenamente (...) (JOSEPH, 1992, p. 195).
No caso do programa de apoio, pode-se ter, ao final, portanto, resultado
diverso do esperado, com alterações emocionais mais significativas do que as
encontradas no seu início, inclusive no que diz respeito à agressividade reacional.
Esse fato deve ser até esperado em parcela significativa dos participantes, como já
demonstrou Allegretti (1996). O que se revela mais preocupante é a inexistência de
mudança psíquica após a execução do programa e tamm do acompanhamento
individual posterior, ou seja, a inocorrência de pequenos movimentos (shifts) em
qualquer direção. Nesse caso, pode-se estar diante de defesas rigidamente
estruturadas, eventualmente alcançando a forma de organizações defensivas, que, a
65
partir de base de personalidade que facilitaria a sua estruturação, seriam utilizadas
contra a experiência de culpa, mesmo que simultânea e paradoxalmente gerem essa
culpa, em função da impotência do policial em lidar com uma realidade tão
desfavorável e de todo quadro de miséria humana que, diariamente, desfila à sua
frente. Essas organizações defensivas, segundo Steiner (1986), teriam a finalidade
de neutralizar impulsos ligados à destrutividade e permitir relativo equilíbrio à vida
mental da pessoa, permitindo, no caso do policial, a continuidade de seu trabalho no
cenário descrito.
No entanto, atenção especial deve ser dada a eventuais efeitos perversos
decorrentes da atuação dessas organizações defensivas que, em grau máximo,
podem conduzir a quadros de dessensibilização, estreiteza mental e crueldade,
quadros esses que, longe de auxiliar o policial no processo de ordenação dos
conflitos sociais, podem acabar por prejudicá-lo, com ações desproporcionais e
desprovidas de amparo legal que só fazem aumentar a sensação de insegurança
das pessoas e o seu descrédito na instituição policial.
Um cuidado adicional deve ser tomado na análise diagnóstica da presença
dessas organizações defensivas. Trata-se de verificar a possibilidade de se estar
diante do mecanismo denominado ideologia defensiva, descrito por Dejours (1988)
que, sem as características patogicas das organizações defensivas, atua contra as
diferenças entre as aspirações profissionais e as condições de trabalho encontradas.
A inocorrência de mudança psíquica pode estar ligada, tamm, a
aspectos regressivos da personalidade do policial não detectados no momento do
ingresso. Características autoritárias e senso moral específico precisam ser vistos
com cautela, eis que podem ser reveladores de personalidade de cunho narcísico.
Essa estrutura, apesar de, no dizer de Rosenfeld (1989), apresentar aspectos
libidinais construtivos com idealização do self mantida por identificações projetivas e
introjetivas, pode apresentar, tamm, aspectos destrutivos que se dirigem tanto a
qualquer relação de objeto libidinal positiva quanto a qualquer parte libidinal do self
que tem necessidade de um objeto e deseja depender dele. Nessa linha, há o risco
de aparecimento de condutas funcionais indesejáveis ligadas a um sentido muito
particular de justiça que faz com que o policial se situe acima do bem e do mal, com
o dever, por conta de sua onipotência, de separar, organizar, julgar e punir, na forma
descrita por Zacharias (1994).
66
Vistos, portanto, os principais aspectos teóricos ligados à agressividade e
sua transformação em violência e vistos também os aspectos relativos ao programa
de apoio ao policial envolvido em ocorrências graves, inclusive os ligados à
mudança psíquica e os seus efeitos na agressividade reacional, cumpre, agora,
descrever os principais objetivos deste estudo.
67
4. OBJETIVOS
O presente trabalho foi projetado como atualização, particularização e
aprofundamento de outro estudo desenvolvido pelo autor, no ano de 1996 e
relatado em capítulo precedente.
A participação ativa do autor na implantação do programa de apoio a
policiais militares do Estado de São Paulo envolvidos em ocorrências graves,
tamm já descrito no presente estudo e a sua experiência de mais de trinta e cinco
anos no exercício de diversas funções no quadro hierárquico da Instituição Policial
Paulista serviram de motivação para buscar novos resultados e abrir perspectivas de
novas pesquisas.
Dessa forma, foram estabelecidos para este estudo os seguintes
objetivos:
4.1 Objetivo geral:
Estudar os efeitos de programa de apoio na agressividade reacional de
policiais envolvidos em ocorrências graves;
4.2 Objetivos específicos:
4.2.1 Caracterizar sócio-demograficamente o grupo de policiais
participantes do programa de apoio e integrantes do grupo pesquisado;
4.2.2 Identificar o nível de agressividade reacional do grupo antes e depois
do programa de apoio;
4.2.3 Verificar a modificação da resposta agressiva reacional individual
dos policiais, após intervenção por meio do programa de apoio, em relão àquela
que apresentavam antes dessa intervenção, classificando-a em 05 categorias:
agressividade ampliada, reduzida, inalterada, estável e instável;
4.2.4 Definir o perfil do grupo integrante de cada uma dessas categorias;
4.2.5 Realizar o estudo clínico de 01 caso de cada uma das 05 categorias
estabelecidas que se enquadrem no perfil definido.
68
II – MÉTODO
O presente trabalho tem por finalidade verificar os efeitos de
programa de apoio na agressividade reacional de policias militares
participantes de ocorrências graves, entendidas como tal aquelas em que há
morte ou ferimento de terceiros ou de policiais em confronto armado. São
tamm consideradas ocorrências graves, para os fins deste trabalho, os
acidentes com viaturas policiais em serviço operacional.
Tendo em vista os objetivos definidos, o estudo desenvolvido utiliza
métodos combinados. Assim, para caracterizar sócio-demograficamente o
grupo de policiais participantes do programa de apoio e definir o perfil de cada
uma das categorias estabelecidas como decorrência da alteração da resposta
agressiva reacional, após a intervenção por meio desse programa, o estudo é
descritivo e de natureza quantitativa. Para a identificação do nível de
agressividade reacional do grupo antes e depois do programa e verificação da
alteração da resposta agressiva reacional individual em relação àquela
apresentada inicialmente, classificando-a em 05 categorias, o estudo é
experimental e de natureza quantitativa. Já, para aprofundar o conhecimento
acerca das características de 01policial em cada uma das 05 categorias, o
estudo é clínico.
1. AMOSTRA
Compõem a amostra 77 policiais militares que participaram do
programa de apoio nos meses de julho, agosto, setembro e outubro de 2005.
Essa participação está dividida da seguinte forma:
Quadro 2: Distribuição de turmas e períodos
TURMA PERÍODO PERÍODO
LETIVO
TOTAL DE
INTEGRANTES
PARTICIPANTES
DA PESQUISA
50 Manhã 05/07-29/07 19 05
51 Tarde 05/07-29/07 17 07
54 Manhã 19/07-12/08 19 08
69
TURMA PERÍODO PERÍODO
LETIVO
TOTAL DE
INTEGRANTES
PARTICIPANTES
DA PESQUISA
55 Tarde 19/07-12/08 15 06
58 Manhã 02/08-26/08 20 04
59 Tarde 02/08-26/08 14 06
62 Manhã 16/08-09/09 21 08
63 Tarde 16/08-09/09 17 06
66 Manhã 30/08-23/09 20 05
67 Tarde 30/08-23/09 17 07
69 Manhã 13/09-07/10 24 08
70 Tarde 13/09-07/10 15 07
TOTAL - - 218 77
(35,32%)
São todos policiais militares, do serviço ativo, que desempenham
suas atividades na Região Metropolitana de São Paulo. Não houve restrição
quanto ao nível hierárquico, idade, sexo, estado civil ou grau de instrução. Os
critérios de inclusão estabelecidos foram os seguintes:
1) Ter participado de ocorrências graves, na forma descrita neste
capítulo;
2) Ter recebido recomendação para freqüência ao programa, após
avaliação inicial;
3) Ter concordado em participar da presente pesquisa, assinando
termo de consentimento livre e esclarecido;
4) Estar em condições físicas de participar de todos os eventos do
programa e de realizar os testes necessários.
Para a parte qualitativa do estudo, foram escolhidos 05 sujeitos pelo
critério de conveniência.
2. LOCAL
A pesquisa, em todas as suas fases, foi desenvolvida na sede do
Centro de Assistência Social e Jurídica da Polícia Militar do Estado de São
70
Paulo, (CASJ) situado à Av. Cruzeiro do Sul nº. 260, Canindé – São Paulo –
SP.
Os espaços utilizados para a aplicação dos testes foram:
1) Sala de aula, para os testes coletivos; e
2) Sala de aplicação individual para testes individuais.
Os locais apresentavam ótimas condições de ventilação e iluminação
e obedecem a todas as recomendações técnicas, já que o programa é
fiscalizado pelo Conselho Regional de Psicologia – 6ª Região.
As atividades do programa foram realizadas em sala de aula, ginásio
desportivo e salas de atendimento individual e coletivo que tamm atendem a
todas as exigências técnicas. As atividades externas (visitas) foram realizadas
nos locais previstos no planejamento do programa.
3. INSTRUMENTOS
Para alcançar os objetivos propostos, foram utilizados os seguintes
instrumentos:
1) Ficha de cadastro e entrevista individual;
2) Psicodiagnóstico Miocinético (PMK);
3) Teste Palográfico;
4) Escala de Personalidade de Comrey (CPS).
3.1 Ficha de cadastro e entrevista individual
A ficha de cadastro, cujo modelo encontra-se no Anexo B, foi
elaborada pela equipe do CASJ com o objetivo de levantar dados básicos
acerca do policial envolvido em ocorrência grave, servindo tamm como
instrumento para realização de entrevista semi-dirigida conduzida por
psicólogo. A partir dos dados preenchidos pelo próprio policial, o psicólogo
entrevistador aprofunda as informações com perguntas diretas e ainda permite
a manifestação livre do entrevistado.
Os dados constantes da ficha de cadastro serviram de base para
caracterizar sócio-demograficamente o grupo de policiais participantes do
programa de apoio e definir o perfil de cada uma das categorias estabelecidas,
71
de acordo com a resposta agressiva reacional apresentada após a sua
execução. Juntamente com a entrevista, forneceram elementos para o estudo
clínico realizado.
3.2 Psicodiagnóstico Miocinético (PMK)
O PMK é uma prova de expressão gráfica destinada a explorar a
personalidade em sua forma atitudinal, mediante análise de tensões
musculares involuntárias reveladoras de tendências fundamentais de reação.
Criada por Emílio Mira Y Lopez, em 1940, a prova é baseada na
chamada teoria motriz da consciência que, em síntese, estabelece que toda a
intenção ou propósito de reação é sempre acompanhado de modificação do
tônus postural tendente a favorecer os movimentos necessários a alcançar os
objetivos e inibir os contrários (GALLAND DE MIRA, 2002).
Como os braços realizam a maior parte das atividades motoras do
indivíduo, foi considerada pelo PMK a ação dos seguintes grupos musculares
antagônicos neles presentes:
1) Extensores e flexores;
2) Adutores e abdutores;
3) Elevadores e depressores;
Para o PMK, os planos do espaço onde se realizam os movimentos
guardam relação com características específicas da personalidade. Assim, os
movimentos realizados no plano sagital, com atuação dos grupos musculares
extensores e flexores estão ligados à agressividade, ou seja, à força propulsora
que leva o indivíduo a uma atitude de imposição ao meio ambiente em
qualquer situação; os movimentos realizados no plano horizontal, com atuação
dos grupos musculares adutores e abdutores, estão ligados à reação vivencial,
ou seja, à energia psíquica dirigida para fora ou para dentro, representando
uma maior ou menor comunicação emocional com o ambiente; e os
movimentos executados no plano vertical, com atuação dos grupos musculares
elevadores e depressores, estão ligados ao tônus vital, ou seja, ao nível de
energia disponível e circulante para ser empregado em situações de
emergência.
72
Outras tendências, tamm ligadas ao tipo de movimento, podem ser
identificadas pelo instrumento, citando-se, a título de exemplo, a excitabilidade
ou inibição; a ansiedade ou angústia; o nível ideomotor; a impulsividade e mais
um significativo número de dados decorrentes da avaliação qualitativa do
instrumento.
Galland de Mira (2002) esclarece que a técnica utilizada pelo PMK é
a expressiva, ou seja, dado determinado movimento padrão, feito sobre um
modelo, verifica-se quanto o indivíduo dele se afasta, após a interrupção do
controle visual. Esse afastamento denota a sua expressividade individual e é
medido por meio de dois tipos de desvios:
1) Desvio primário (DP): resultante do afastamento no mesmo
sentido do plano do movimento original;
2) Desvio secundário (DS): resultante do afastamento no sentido
contrário ao do plano do movimento original.
Assim, os movimentos no plano sagital terão desvios primários nesse
plano e desvios secundários no plano horizontal e vice-versa, o que significa
que o desvio primário sagital de um movimento equivale ao desvio secundário
horizontal de outro, na medida da agressividade.
Para obtenção desses desvios e respectivos significados, o teste é
composto por uma série de movimentos nos três planos que procuram
confirmar as tendências apresentadas. São eles:
1) Lineogramas, nos planos sagital, horizontal e vertical;
2) Zigue-Zague, no plano sagital, executado simultaneamente com
as duas mãos;
3) Escadas e círculos, no plano vertical;
4) Cadeias sagitais e verticais, nos planos sagital e vertical;
5) Paralelas egocífugas e egocípetas, no plano sagital;
6) Us verticais, no plano vertical;
7) Us sagitais, no plano sagital.
O PMK utiliza como unidade de medida o tetron, que equivale a 1/4
do desvio-padrão. A tabela reproduzida adiante estabelece os tetrons e
respectivos significados com relação à agressividade:
O instrumento foi aplicado por equipe de psicólogos do CASJ e teve
por finalidade, no presente trabalho, avaliar a agressividade reacional, antes e
73
depois da execução do programa de apoio. Teve, ainda, por finalidade fornecer
outros dados necessários ao estudo clínico desenvolvido.
Tabela 4: Indicadores de agressividade
Desvio-Padrão Tetron Significado
+3 +11 e +12
+9 e +10
Intensa hétero-agressividade
Forte hétero-agressividade
+2 +7 e +8
+5 e +6
Acentuada hétero-agressividade
Aumentada hétero-agressividade
+1 +1 a +4 Agressividade normal
ZM Zona Média Agressividade normal
-1 -1 a -4 Agressividade normal
Auto-agressivo
-2 -5 e -6
-7 e -8
Aumentada auto-agressividade
Acentuada auto-agressividade
-3 -9 e -10
-11 e -12
Forte auto-agressividade
Intensa auto-agressividade
Fonte: Manual do Psicodiagnóstico Miocinético (2002)
3.3 Teste Palográfico
O Teste Palográfico foi criado pelo psicólogo Salvador Escala Milá,
do Instituto Psicotécnico de Barcelona na Espanha e desenvolvido e divulgado
no Brasil por Agostinho Minicucci.
Segundo Alves e Esteves (2004), o instrumento pode ser
considerado um teste expressivo de personalidade, ou seja, destina-se a
avaliar o estilo de resposta pessoal, considerando-se como tal a forma como
cada pessoa, diante de uma mesma tarefa, analisa a situação de maneira
individual e emprega o material ou organiza a situação de forma específica.
O teste consiste na realização de traços verticais de 07 mm de altura,
com espaço de 2,5 mm entre eles e é aplicado em duas partes. A primeira,
com duração de 2 minutos e 30 segundos, não é avaliada e destina-se a
74
adaptar o examinando ao teste. A segunda, com duração de 5 minutos,
constitui a parte avaliada da prova.
Os autores sustentam que a parte de treino do Palográfico avalia
mais aspectos adaptativos e instrumentais, pois o sujeito sempre busca, no
início da tarefa, adaptar-se às instruções. Com o desenrolar da prova, a tarefa
vai se revelando mais espontânea e menos controlada e, por conta disso,
apresentando aspectos expressivos do sujeito.
Por se tratar de prova expressiva gráfica, ela leva em conta, assim
como o PMK, o simbolismo do espaço, de acordo com o impulso apresentado
na realização do movimento.
O Teste Palográfico avalia, basicamente, os seguintes aspectos:
1) Produtividade: Em função do número de traços realizados, refere-
se à quantidade de trabalho que o sujeito é capaz de realizar no campo
profissional ou em outros campos;
2) Ritmo: Verificado pelo nível de oscilação rítmica na realização do
teste, refere-se às flutuações de produtividade no desenvolvimento das tarefas.
3) Qualidade do rendimento no trabalho: Identificada pela relação
entre produtividade e ritmo, está ligada à qualidade do rendimento no trabalho
e propensão à fadiga;
4) Distância entre palos: Caracterizada pelo espaço deixado entre os
traços, refere-se à necessidade de contato com o exterior ou, ao contrário, a
necessidade de liberdade, isolamento, concentração;
5) Inclinação dos palos: Medido de acordo com o ângulo de
inclinação do traço em relação à linha horizontal, relaciona-se com a
espontaneidade afetiva e com o grau de vínculo com objetos e pessoas;
6) Tamanho dos palos: Representado pela altura dos traços,
representa simbolicamente a auto-estima e a confiança que o sujeito tem em
seus próprios valores pessoais;
7) Direção das linhas ou alinhamento: Identificada pela direção das
linhas dos traços em relação à linha horizontal, revela flutuações do ânimo, do
humor e da vontade na manutenção do esforço nas tarefas e objetivos
pessoais;
75
8) Distância entre as linhas: Verificada pelo afastamento entre as
linhas de traços, refere-se ao relacionamento interpessoal, ou seja, a maior ou
menor distância que o indivíduo quer manter em relação aos outros;
9) Margens: Caracterizada pelo espaço deixado entre a borda da
folha e os traços, indica a capacidade de organização do indivíduo e como ele
se adapta ao ambiente;
10) Pressão e qualidade do traçado: Avaliada pela pressão ou força
que o sujeito coloca no lápis sobre o papel, revela o grau de firmeza nas
atitudes que equivale ao grau de vitalidade, segurança e tensão da
personalidade e sua eficiência, nos diversos ambientes.
11) Irregularidade do traçado: Verificada pela existência de tremores,
ganchos, quebra de linha, linhas espelhadas, correções, retoques, entre outros,
refere-se a diversas características de personalidade ou mesmo a alterações
neurológicas;
12) Organização ou ordem: Caracterizada pela forma geral de
execução da prova, com palos ordenados e organizados, indica maturidade
psicológica e capacidade de organização, adaptação às normas, realização de
deveres sociais e classificação das coisas de forma hierarquizada de acordo
com os valores predominantes.
Tendências específicas como a emotividade, a depressão e a
impulsividade podem ser identificadas pela avaliação qualitativa de diversas
características do teste (ALVES E ESTEVES, 2004).
O Teste Palográfico é utilizado, de maneira rotineira pela equipe
técnica do CASJ, para avaliar a necessidade de o policial envolvido em
ocorrência grave participar do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. É
tamm utilizado ao final do programa, para verificar as prescrições
necessárias.
No âmbito do presente estudo, foi utilizado na parte clínica do
trabalho.
3.4 Escala de Personalidade de Comrey (CPS)
A Escala de Personalidade de Comrey (CPS), desenvolvida a partir
de estudos iniciados há mais de 25 anos por Andrew L. Comrey, é um
76
inventário construído com fundamento na proposta teórica estruturalista e
baseado na autodescrição para identificação dos principais fatores de
personalidade (COSTA, 2003).
Introduzida no Brasil em 1973, caracteriza-se como instrumento
multidimensional, para avaliar oito dimensões de personalidade, a saber:
1) Confiança versus Atitude Defensiva (Escala T);
2) Ordem versus Falta de Compulsão (Escala O);
3) Conformidade Social versus Rebeldia (Escala C);
4) Atividade versus Passividade (Escala A);
5) Estabilidade Emocional versus Neuroticismo (Escala S);
6) Extroversão versus Introversão (Escala E);
7) Masculinidade versus Feminilidade (Escala M);
8) Empatia versus Egocentrismo (Escala P).
Segundo Costa (2003), os mais importantes construtos fatoriais para
a descrição da personalidade estão incluídos nessas oito escalas de
personalidade.
O CPS é também utilizado, de forma rotineira pela equipe técnica do
CASJ, para avaliar a necessidade de o policial envolvido em ocorrência grave
freqüentar o EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. É utilizado, ainda, para
avaliar as prescrições necessárias, ao final do programa. No presente trabalho,
foi utilizado para o estudo clínico de forma complementar aos outros
instrumentos, em razão da técnica que utiliza.
4. PROCEDIMENTOS
Os procedimentos rotineiros existentes no programa de apoio, assim
como aqueles outros introduzidos especificamente para viabilizar a presente
pesquisa, podem ser descritos da seguinte forma:
1) Todo o policial militar envolvido em ocorrência grave, na forma
descrita no presente capítulo, é apresentado por seu Comandante ao CASJ no
primeiro dia útil subseqüente à ocorrência que deu origem à apresentação,
respeitado o período de descanso regulamentar. Simultaneamente, o mesmo
Comandante encaminha ao CASJ resenha do fato, contendo os dados
completos do policial envolvido e as informações administrativas sobre ele;
77
2) Nesse mesmo dia, o policial militar apresentado preenche a ficha
de cadastro e realiza o Teste Palográfico e o CPS;
3) Após esses passos, ainda no mesmo dia, é submetido à entrevista
individual com psilogo do CASJ, para aprofundar as informações constantes
da ficha de cadastro e complementar dados necessários à correta interpretação
do Teste Palográfico e do CPS;
4) Terminado esse procedimento, o policial é liberado para retorno às
suas atividades normais, caso não se detecte nenhuma alteração emocional
significativa ou recebe, caso essa alteração seja evidente, orientação para
retornar ao CASJ, em data estabelecida em programação anual daquele órgão,
para iniciar o EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional. No período
compreendido entre a avaliação inicial e o retorno ao CASJ para início do EAP,
o policial não pode ser empregado em atividades operacionais;
5) Ao retornar ao CASJ, inicia o EAP – Desenvolvimento Psico-
Emocional, com duração de 17 dias letivos e programação diária definida no
quadro 3.
6) Os policiais convidados a participar da presente pesquisa foram
informados a respeito de sua realização na data de apresentação para início do
programa. Os que concordaram em participar leram e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido, após o que foram submetidos à primeira
parte do PMK – Lineogramas, Zigue-Zague, Escadas e Círculos e Cadeias
Sagitais;
7) No 3º dia do programa, foram submetidos à segunda parte do
PMK – Cadeias Verticais, Paralelas Egocífugas e Us Sagitais e Paralelas
Egocípetas e Us Verticais.
8) Nos 15º e 17º dias, ainda durante o EAP – Desenvolvimento
Psico-Emocional, foram novamente submetidos ao PMK, dividido em duas
partes, tal como realizado quando da sua chegada ao programa.
Quadro 3: Programação diária do EAP – Desenvolvimento Psico-Emocional
DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS
Arteterapia – Ikebana
04 h
78
DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS
Dinâmica de grupo
Palestra sobre stress
Palestra sobre ética
01h 30 min
01h 30 min
01h 30 min
Palestra sobre nutrição
Palestra sobre direitos e vantagens
Palestra sobre inteligência emocional
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
Dinâmica de grupo
Palestra sobre direitos e vantagens
Palestra sobre dependência química
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
Visita ao MASP 05 h
Arteterapia – Ikebana 04 h
Palestra sobre nutrição
Palestra sobre teosofia
Educação Física
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
Visita à área de preservação ambiental 05 h
Palestra sobre nutrição
Dinâmica de grupo
Palestra sobre doutrina de
policiamento comunitário
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
10º
Palestra sobre stress
Técnicas de relaxamento
Educação Física
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
11º Arteterapia – Ikebana 04 h
12º
Técnicas de relaxamento
Dinâmica de grupo
Educação Física
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
13º
Palestra sobre teosofia
Dinâmica de grupo
Palestra sobre inteligência emocional
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
79
DIA ATIVIDADE NÚMERO DE HORAS
14º
Dinâmica de grupo
Palestra sobre dependência química
Técnicas de relaxamento
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
15º
Palestra sobre inteligência emocional
Dinâmica de grupo
Educação Física
01 h 30 min
01 h 30 min
01 h 30 min
16º Arteterapia - Ikebana 04 h
17º Palestra sobre stress
Dinâmica de grupo
01 h 30 min
03 h
Fonte: CASJ
4.1 Procedimentos de análise e tratamento de dados
Do ponto de vista específico da pesquisa, os objetivos propostos
foram alcançados com a utilização dos instrumentos descritos, na seguinte
conformidade:
1) Os dados necessários para a carcterização sócio-demográfica do
grupo de policiais participantes do programa e integrantes do grupo pesquisado
foram retirados da ficha de cadastro. A caracterização foi feita por meio da
análise descritiva das variáveis por nível hierárquico, sexo, faixa etária, estado
civil ou situação conjugal, nível de escolaridade, tempo de serviço, local de
residência e local de trabalho, número de ocorrências e taxa anual de
ocorrências graves, esta resultante da divisão do número de ocorrências
graves pelo tempo de serviço em anos, com a freqüência relativa de ocorrência
de cada uma das modalidades.
2) A identificação do nível de agressividade reacional do grupo antes
e depois do programa foi feita com a utilização do PMK, observando-se a
classificação descrita na tabela 5. Com base nessa tabela, foi considerada a
freqüência das respostas agressivas reacionais na zona de normalidade e fora
dela e, ainda, a intensidade e o sentido dos desvios de cada uma delas,
observando-se a seguinte equivalência:
80
- Freqüência das respostas:
a) FR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade
(agressividade normal);
b) FR/1: até dois traçados com desvios fora da zona de normalidade
(agressividade eventual/oscilante);
c) FR/2: três ou mais traçados com desvios fora da zona de
normalidade (agressividade efetiva/predominante).
- Intensidade dos desvios:
a) IR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade;
b) IR/1: traçado(s) com desvio(s) apenas no 2º. D.P. (entre 5 e 8
tetrons);
c) IR/2: traçados com desvios nos 2º. e 3º. D.P. sendo a
predominância no 2º. D.P. (entre 05 e 12 tetrons);
d) IR/3: traçados com o mesmo número de desvio(s) no 2º. e no 3º.
D.P. (entre 05 e 12 tetrons);
e) IR/4: traçados com desvios nos 2º e 3º. D.P. sendo a
predominância no 3º. D.P. (entre 5 e 12 tetrons);
f) IR/5: traçados com desvios apenas no 3º. D.P. (entre 9 e 12
tetrons);
- Sentido dos desvios:
a) SR/0: nenhum traçado com desvio fora da zona de normalidade;
b) SR/1: traçados com desvios positivos, indicando hétero-
agressividade;
c) SR/2: traçados com desvios negativos, indicando auto-
agressividade;
d) SR/3: traçados com o mesmomero de desvios positivos e
negativos;
e) SR/4: traçados com desvios positivos e negativos, sendo a
predominância dos positivos;
81
f) SR/5: traçados com desvios positivos e negativos, sendo a
predominância dos negativos.
3) A verificação da modificação da resposta agressiva reacional
individual, após o programa de apoio, em relação àquela apresentada antes
dessa intervenção, foi feita por meio da comparação dos dados obtidos na
segunda aplicação do PMK com os obtidos na primeira aplicação, levando em
conta a freqüência das respostas, a intensidade e o sentido dos desvios na
forma descrita anteriormente e classificando a segunda resposta em cinco
categorias, de acordo com os seguintes critérios:
a) Resposta agressiva reacional ampliada: quando houve, no
segundo exame, aumento da freqüência de respostas agressivas fora da zona
de normalidade, com aumento ou manutenção da intensidade dessas
respostas ou quando houve manutenção da freqüência, com aumento da
intensidade;
b) Resposta agressiva reacional reduzida: quando houve, no
segundo exame, diminuição da freqüência de respostas agressivas fora da
zona de normalidade, com diminuição ou manutenção da intensidade ou
quando houve manutenção da freqüência, com diminuição da intensidade;
c) Resposta agressiva reacional inalterada: quando houve, no
segundo exame, reprodução dos resultados do primeiro exame, quanto à
freqüência de respostas, intensidade e sentido dos desvios, desde que fora da
zona de normalidade;
d) Resposta agressiva reacional estável: quando houve, no segundo
exame, oscilações dentro da zona de normalidade;
e) Resposta agressiva reacional instável: quando houve, no segundo
exame, oscilação contrária de freqüência e intensidade ou quando houve
modificação do sentido predominante da agressividade (de auto para hétero ou
vice-versa).
4) Para a definição do perfil dos integrantes de cada uma das
categorias, foram utilizados os dados da ficha de cadastro relativos a nível
hierárquico, sexo, faixa etária, estado civil ou situação conjugal, nível de
escolaridade, tempo de serviço, local de residência, local de trabalho, número
de ocorrências e taxa anual de ocorrências graves. O perfil foi definido para
82
cada categoria, levando-se em conta a predominância em cada uma das
variáveis. Os resultados de cada categoria foram comparados com os
resultados das demais categorias geradas, sendo também efetuada a análise
estatística de cada variável em cada categoria com a finalidade de identificar e
caracterizar possíveis relações entre a variável considerada e o tipo de
oscilação de resposta.
5) Para a realização de estudo clínico de 01 caso de cada categoria,
foram utilizados os dados levantados por meio do PMK, do Teste Palográfico,
do CPS, da ficha de cadastro e da entrevista realizada ao início do programa.
Foram escolhidos para o estudo clínico os policiais com perfil mais próximo ao
definido para a categoria;
6) A análise estatística dos dados do estudo quantitativo foi
desenvolvida da seguinte forma:
a) A caracterização sócio-demográfica da amostra estudada, como
forma de revelar o perfil individual de cada variável, foi feita por meio de
gráficos e técnicas apropriadas. Para as variáveis contínuas (idade, tempo de
serviço e taxa anual de ocorrências), foram utilizados gráficos de boxplot,
histograma com alisamento pelo método de Kernel e gráfico de quantil-quantil.
O gráfico de boxplot ressaltou a medida de centralidade das variáveis e
caracterizou a sua dispersão. O histograma com alisamento pelo método de
Kernel caracterizou graficamente a distribuição de probabilidade dos dados,
enquanto o gráfico de quantil-quantil permitiu comparar a distribuição dos
dados em relação à distribuição normal. Já para as variáveis discretas (sexo,
situação conjugal, nível hierárquico, nível de escolaridade, local de residência,
local de trabalho e número de ocorrências), foram utilizados gráficos de barras.
Foi utilizado, ainda, o diagrama de dispersão para analisar conjuntamente a
taxa anual de ocorrências e o número de ocorrências;
b) Para comparar o nível de agressividade do grupo antes e depois
do programa, levando em conta a intensidade do desvio com qualquer
freqüência de resposta e sem considerar o sentido do desvio, foi utilizado teste
de proporções para duas distribuições multinomiais;
c) A análise das variáveis em cada categoria de resposta agressiva
reacional, por seu turno, foi feita de forma descritiva e de forma inferencial. Do
ponto de vista descritivo, as variáveis contínuas foram analisadas por meio de
83
gráficos boxplot e as variáveis discretas o foram por intermédio das proporções
de cada nível em cada categoria de oscilação de resposta. Do ponto de vista
inferencial, foi utilizado o teste exato de Fisher, para verificar quais variáveis
categóricas exerceram algum tipo de influência sobre a variável de interesse
oscilação de resposta. Utilizou-se, também, o teste t-Student para a mesma
verificação no que diz respeito às variáveis contínuas;
d) Finalmente, para comparar o estudo atual com outro feito pelo
autor, no ano de 1996, foi utilizado teste de proporções para duas distribuições
multinomiais.
7) Como suporte ao tratamento estatístico dos dados, foram
utilizados os textos de Morettin e Bussab (2004) e Magalhães e Lima (2002).
Para a representação gráfica, foi utilizado o programa R de R Development
Core Team (2005).
84
III – RESULTADOS
1. RESULTADOS DO ESTUDO QUANTITATIVO
Os resultados da parte quantitativa deste estudo, que abrangeram a
caracterização sócio-demográfica, a identificação da agressividade reacional do
grupo antes e depois do programa e a modificação da resposta agressiva reacional,
foram os seguintes:
1) Caracterização sócio-demográfica:
a) Sexo:
- masculino: 75 (97%)
- feminino: 02 (3%)
Figura 1: Gráfico de barras por sexo
b) Idade:
Distribuição por faixas:
- 21 a 25 anos: 08 (10%)
- 26 a 30 anos: 24 (31%)
- 31 a 35 anos: 22 (29%)
- 36 a 40 anos: 15 (19%)
- 41 a 45 anos: 05 (07%)
- 46 a 50 anos: 03 (04%)
Mediana: 32 anos
As figuras 2, 3 e 4 representam a distribuição por faixas de idade:
85
Figura 2: Histograma da idade, com alisamento pelo método de Kernel
Figura 3: Boxplot da idade
Figura 4: Gráfico de quantil-quantil da idade
86
c) Estado civil/situação conjugal:
- casado: 39 (50%)
- solteiro: 17 (22%)
- separado/divorciado: 07 (09%)
- convivente: 14 (19%)
Figura 5: Gráfico de barras do estado civil/situação conjugal
d) Nível hierárquico:
- soldado/cabo: 62 (81%)
- sargento/oficial: 15 (19%)
Figura 6: Gráfico de barras do nível hierárquico
e) Nível de escolaridade:
- ensino fundamental: 07 (09%)
- ensino médio: 57 (74%)
- ensino superior: 13 (17%)
87
Figura 7: Gráfico de barras do nível de escolaridade
f) Tempo de serviço:
Distribuição por faixas:
- 01 a 05 anos: 24 (31%)
- 06 a 10 anos: 22 (28%)
- 11 a 15 anos: 12 (16%)
- 16 a 20 anos: 13 (17%)
- 21 a 25 anos: 06 (08%)
Mediana: 09 anos
As figuras 8, 9 e 10 representam a distribuição por faixas do tempo de
serviço:
Figura 8: Histograma do tempo de serviço, com alisamento pelo método
de Kernel
88
Figura 9: Boxplot do tempo de serviço
Figura 10: Gráfico de quantil-quantil do tempo de serviço
g) Local de residência:
- Capital – zona norte: 07 (09%)
- Capital – zona sul: 06 (08%)
- Capital – zona leste: 20 (26%)
- Capital – zona oeste: 02 (03%)
- Grande São Paulo: 34 (44%)
- Outros locais: 08 (10%)
89
Figura 11: Gráfico de barras do local de residência
h) Local de trabalho:
- Capital – zona centro: 06 (08%)
- Capital – zona norte: 05 (07%)
- Capital – zona sul: 13 (17%)
- Capital – zona leste: 14 (18%)
- Capital – zona oeste: 11 (14%)
- Grande São Paulo: 28 (36%)
Figura 12: Gráfico de barras do local de trabalho
i) Número de ocorrências:
- 01ocorrência: 49 (64%)
- 02 ocorrências: 10 (13%)
- 03 ocorrências: 03 (04%)
- 04 ocorrências: 08 (10%)
90
- 05 ocorrências: 03 (04%)
- 06 ou mais ocorrências: 04 (05%)
Figura 13: Gráfico de barras do número de ocorrências
j) Taxa anual de ocorrências:
Distribuição por faixas:
- 0,01 a 0,20: 42 (54%)
- 0,21 a 0,40: 16 (21%)
- 0,41 a 0,60: 14 (18%)
- 0,61 a 0,80: 02 (03%)
- 0,81 a 1,00: 02 (03%)
- 1,01 a 1,20: 00 (00%)
- 1,21 a 1,40: 01 (01%)
Mediana: 0,20
As figuras 14, 15 e 16 representam a distribuição acima:
Figura 14: Histograma da taxa de ocorrências, com alisamento pelo
método de Kernel
91
Figura 15: Boxplot da taxa de ocorrências
Figura 16: Gráfico de quantil-quantil da taxa de ocorrências
A figura 17 representa o diagrama de dispersão do número de ocorrências
pela taxa anual de ocorrências, que objetiva definir o padrão de associação entre as
duas variáveis:
92
Figura 17: Diagrama de dispersão do número de ocorrências pela taxa de
ocorrências
2) Agressividade reacional do grupo antes do início do programa e
depois de sua execução, quanto à freqüência das respostas (FR), intensidade
dos desvios (IR) e sentido dos desvios (SR):
Tabela 5: Freqüência das respostas e intensidade e sentido dos desvios
Nº. FR/IR/SR ANTES % DEPOIS %
01 0/0/0 25 32 30 39
02 1/1/1 17 22 21 27
03 1/1/2 18 24 12 16
04 1/1/3 02 03 04 05
05 1/3/1 03 04 02 03
06 1/3/3 00 00 01 01
07 1/5/1 02 03 02 03
08 1/5/2 03 04 00 00
09 2/1/1 01 01 01 01
10 2/1/2 03 04 02 03
11 2/1/5 01 01 00 00
12 2/2/1 01 01 00 00
93
Nº. FR/IR/SR ANTES % DEPOIS %
13 2/2/2 00 00 01 01
14 2/2/5 01 01 00 00
15 2/4/1 00 00 01 01
TOTAL 77 100 77 100
A tabela 6 apresenta a freqüência encontrada em cada desvio,
independentemente da freqüência de respostas e dos sentidos dos desvios:
Tabela 6: Freqüência em cada desvio
DESVIOS ANTES % DEPOIS %
Z.N. 25 32 30 39
2º. D.P. 42 55 40 52
3º. D.P. 10 13 07 09
TOTAL 77 100 77 100
A análise estatística dessa tabela, efetuada pelo teste multinomial,
retornou um nível descritivo de 0,42. Esse resultado demonstra não haver
significância estatística nas diferenças encontradas em cada desvio antes e depois
da aplicação do programa.
3) Modificação da agressividade reacional individual:
A tabela 7 demonstra a freqüência apurada em cada categoria de
resposta:
Tabela 7: Freqüência em cada categoria de resposta
CATEGORIA FREQÜENCIA %
AMPLIADA 14 18
REDUZIDA 24 31
INALTERADA 12 16
ESTÁVEL 15 19
94
CATEGORIA FREQÜÊNCIA %
INSTÁVEL 12 16
TOTAL 77 100
4) Perfil por categoria de resposta agressiva reacional:
A tabela 8 apresenta o perfil predominante em cada categoria de resposta.
Tabela 8: Variáveis e categorias de respostas
VAR/CATEG AMPLIADA REDUZIDA INALTERADA ESTÁVEL INSTÁVEL
Sexo Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino
Faixa etária
(Q1 – Q3)
Mediana
29 – 40
33
29 – 33
30
34 – 38
37
28 – 36
32
25 – 33
28
Estado civil
ou
Situação
conjugal
Casado
Casado
Casado
Casado
Casado
Nível
hierárquico
Soldado
Cabo
Soldado
Cabo
Soldado
Cabo
Soldado
Cabo
Soldado
Cabo
Nível de
escolaridade
Ensino
Médio
Ensino
Médio
Ensino
Médio
Ensino
Médio
Ensino
Médio
Tempo de
serviço
(Q1 –Q3)
Mediana
6,5 – 19
9,5
05 – 11
09
11 – 17
15,5
6,5 – 16
09
03 – 5,5
3,5
Local de
residência
Capital
Zona Leste
Grande
São Paulo
Grande São
Paulo
Grande
São Paulo
Grande
São Paulo
Local de
trabalho
Capital
Zona Sul
Grande
São Paulo
Grande
São Paulo
Capital
Zona Leste
Grande
São Paulo
Capital
Zona Oeste
Grande
São Paulo
95
VAR/CATEG AMPLIADA REDUZIDA INALTERADA ESTÁVEL INSTÁVEL
Número de
ocorrências
(faixa)
01 – 03
01 – 03
01 – 03
01 – 03
01 - 03
Taxa anual
de
ocorrências
(Q1- Q3)
Mediana
0,0825
a
0,3100
0,1450
0,1100
a
0,3700
0,1600
0,0575
a
0,3025
0,1000
0,0850
a
0,4700
0,2500
0,2150
a
0,5000
0,3300
Os resultados da análise descritiva das variáveis para cada categoria,
estão representados nas figuras 18 a 26. Esses resultados procuraram identificar
possíveis associações entre cada variável de interesse estudada e a oscilação de
resposta apresentada. Nos gráficos de barras, que representam as variáveis
discretas, as barras têm tamanhos diferentes entre si, para indicar o tamanho
amostral de cada nível. Desconsiderou-se, na análise, a variável sexo, em razão do
pequeno número de mulheres que compõe a amostra.
Figura 18: Boxplot da idade por categoria de oscilação de resposta
96
Figura 19: Gráfico de barras das proporções de cada nível de situação
conjugal de acordo com as categorias de oscilação de resposta
Figura 20: Gráfico de barras das proporções de cada nível hierárquico de
acordo com as categorias de oscilação de resposta
97
Figura 21: Gráfico de barras das proporções de cada nível de escolaridade
de acordo com as categorias de oscilação de resposta
Figura 22: Boxplot do tempo de serviço por categorias de oscilação de
resposta.
98
Figura 23: Gráfico de barras das proporções de cada local de residência
de acordo com as categorias de oscilação de resposta
Figura 24: Gráfico de barras das proporções de cada local de trabalho de
acordo com as categorias de oscilação de resposta
99
Figura 25: Gráfico de barras das proporções do número de ocorrências de
acordo com as categorias de oscilação de resposta
Figura 26: Boxplot da taxa de ocorrências por categorias de oscilação de
resposta.
Os resultados da análise inferencial serviram para identificar e caracterizar
relações entre as variáveis estudadas e as categorias de oscilação de resposta.
Esses resultados procuraram avaliar se as evidências apresentadas na análise
descritiva foram estatisticamente significativas. O teste exato de Fisher foi utilizado
100
para verificar quais variáveis categóricas exerceram alguma influência na oscilação
de resposta apresentada. Tendo em vista a limitação do número de níveis desse
teste, houve necessidade de agrupar as zonas leste e oeste da variável local de
residência e as zonas leste e oeste além de centro e norte da variável local de
trabalho. Para as variáveis contínuas, foi utilizado o modelo t-Student, por ser mais
robusto, no sentido de não modificar inferências ao se retirar da amostra os pontos
discrepantes (extremos), permitindo, assim, resultados menos sensíveis a
observações extremas. Vale ressaltar que, neste trabalho, foram retirados os pontos
discrepantes das variáveis contínuas. Os níveis de significância (p) encontrados
foram os seguintes:
a) Variáveis discretas:
- nível hierárquico: 0,0836 (p<0,10)
- estado civil/situação conjugal: 0,5665;
- nível de escolaridade: 0,1810;
- local de residência: 0,1964;
- local de trabalho: 0,825.
b) Variáveis contínuas:
Tabela 9: Níveis de significância (p) das variáveis contínuas
CATEGORIAS IDADE TEMPO DE
SERVIÇO
TAXA ANUAL DE
OCORRÊNCIAS
AMPLIADA - REDUZIDA 0,06* 0,24 0,53
AMPLIADA - INALTERADA 0,28 0,13 0,38
AMPLIADA – ESTÁVEL 0,51 0,78 0,18
AMPLIADA – INSTÁVEL 0,03** <0,01** 0,01**
REDUZIDA – INALTERADA <0,01** <0,01** 0,12
REDUZIDA – ESTÁVEL 0,25 0,37 0,38
REDUZIDA - INSTÁVEL 0,49 <0,01** 0,03**
INALTERADA – ESTÁVEL 0,08* 0,07* 0,03**
INALTERADA – INSTÁVEL <0,01** <0,01** <0,01**
ESTÁVEL - INSTÁVEL 0,11 <0,01** 0,22
* p<0,10 e ** p<0,05
101
2. RESULTADOS DO ESTUDO CLÍNICO
Caso nº. 1 – Categoria: Agressividade Ampliada
1) Dados gerais e histórico pessoal:
Trata-se de Cabo PM, do sexo masculino, com 34 anos de idade e ensino
médio completo. É casado há 05 anos e a esposa tem 30 anos de idade e atividade
profissional regular. Freqüenta curso superior e está grávida do primeiro filho. O
casal reside em imóvel alugado na região sul da Cidade de São Paulo. O pai do
policial é falecido e ele tem 07 irmãos. Está há 08 anos na corporação policial,
exercendo, atualmente, atividades operacionais em unidade sediada na região sul
da Cidade de São Paulo. Nas horas vagas, exerce trabalho paralelo como forma de
complementação salarial. Tem, em seu histórico profissional, 03 ocorrências de
enfrentamento armado, sendo 01 sem nenhum tipo de lesão, outra com lesões
corporais do oponente e a terceira, mais recente, com morte do oponente. Do ponto
de vista disciplinar, seu comportamento é classificado como excelente. Como
atividade de lazer, gosta de ir à praia e, como atividade esportiva, pratica
musculação. Não possui qualquer espécie de vício e o seu projeto inclui formação
acadêmica em nível superior.
Ao psicólogo entrevistador, relatou que o relacionamento conjugal é ótimo,
mas o contato com a mãe e irmãos é apenas regular. Argumentou que, no momento,
está procurando reaproximação com os irmãos para melhorar o vínculo entre eles.
Sobre o evento que determinou sua ida ao programa de apoio, afirmou tratar-se de
enfrentamento armado com morte do oponente. Não percebeu alterações
emocionais em razão desse fato.
O parecer do entrevistador indicou, em síntese, ser o policial
aparentemente tranqüilo, mas um pouco manipulador.
102
2) Resultados do PMK:
a) Primeiro exame:
No conjunto, os traçados apresentaram boa configuração geral, pressão
normal e ausência de tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos
de patologia, com boa orientação e capacidade adequada de elaboração de
comportamentos. Não apareceram no teste sinais evidentes de ansiedade ou
angústia. O nível de coerência intra-psíquica estava satisfatório.
Sobre as principais tendências do policial, apuradas pela avaliação
quantitativa do instrumento, verificou-se o seguinte:
- agressividade: apresentou, tanto em termos estruturais como em termos
reacionais, nível normal de agressividade, indicando adequada capacidade de se
impor ao ambiente;
- reação vivencial: no plano estrutural, apresentou tendência à intratensão,
com potencial para apresentação de respostas que variam da intratensão acentuada
até a intensa intratensão, significando dificuldade evidente de comunicação
emocional com o ambiente. No plano reacional, compensou, em parte, essa
tendência, já que continuou apresentando potencial para respostas eventuais com
acentuada intratensão;
- tônus psicomtor: no plano profundo, apresentou tônus psicomotor
normal, com possibilidade de oscilação eventual para tônus psicomotor diminuído.
Já no plano atual, esse tônus se apresentou normal e estável, com nível normal de
energia vital para emprego nas tarefas normais e no enfrentamento de situações
novas;
- emotividade: apresentou emotividade predominantemente normal em
nível estrutural, com oscilação eventual para emotividade diminuída. Em nível
reacional, apresentou emotividade normal;
- excitação-inibição: no plano estrutural, apresentou tendência à inibição
com potencial para exibição de comportamentos que podem variar da leve à forte
inibição, indicando baixa capacidade de resposta à estimulação exterior. No plano
reacional, revelou nível tensional normal;
- impulsividade-rigidez: revelou, no plano profundo, disposição para
posturas mais rígidas. Já no plano atual, essa característica não estava presente.
103
b) Segundo exame:
De forma geral, reproduziu as características dos traçados do primeiro
exame, com boa configuração práxica, pressão normal e ausência de tremores,
saltos, torções de eixo ou outros sinais indicativos de eventual quadro patológico.
Confirmou-se, ainda, no segundo exame, a boa orientação, a capacidade adequada
de elaboração de comportamentos e o grau de coerência intra-psíquica. Tamm
não apareceram sinais evidentes de ansiedade ou angústia.
Com relação às principais tendências do policial, verificadas pela
avaliação quantitativa do teste, apurou-se o seguinte:
- agressividade: de forma diversa da ocorrida no exame anterior,
apresentou tendência à hétero-agressividade nos dois planos, com potencial para
respostas hétero-agressivas aumentadas, no plano estrutural e respostas hétero-
agressivas acentuadas, no plano reacional;
- reação vivencial: confirmou a tendência à intratensão estrutural
apresentada no primeiro exame, com potencial para respostas indicativas de
intratensão aumentada, mas, no plano reacional, apresentou tendência à
normotensão;
- tônus psicomotor: modificando em parte o resultado encontrado no
exame anterior, apresentou, no plano profundo, tônus psicomotor oscilando de
normal a bom e, no plano atual, tônus psicomotor normal;
- emotividade: tamm modificando em parte o resultado do primeiro
exame, apresentou, no nível estrutural, emotividade intensamente reduzida,
conservando emotividade normal no nível atual;
- excitação-inibição: confirmou o resultado anterior, com tendência à
inibição aumentada, de caráter eventual, no plano estrutural e equilíbrio tensional, no
plano reacional;
- impulsividade-rigidez: diferentemente do primeiro exame, não apresentou
sinais de impulsividade ou rigidez.
104
3) ResultadosTeste Palográfico:
a) Produtividade:
Tabela 10: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (1)
TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL
PARTE 27 27 26 29 29 138
PARTE 68 68 68 64 67 335
A produtividade apurada por intermédio do número de traçados
executados na segunda parte do teste, levando em conta o grau de escolaridade do
policial, foi classificada como sendo de nível médio inferior, indicando rendimento
abaixo da média em qualquer tarefa executada.
b) Nível de oscilação rítmica:
- NOR da 1ª Parte: 1,0
- NOR da 2ª Parte: 1,7
O nível de oscilação rítmica das duas partes do teste, classificado como
muito baixo, apontou para um equilíbrio entre os ritmos consciente e inconsciente e
foi indicativo de alta regularidade na execução de tarefas, com tendência à rigidez.
O distanciamento entre os palos (média de 2,8 mm) foi considerado
normal, indicando equilíbrio, ponderação e boa capacidade de organização e a
inclinação vertical dos traçados indicou atitude firme e estável. O tamanho dos palos
(média de 5,7 mm) foi considerado normal, indicando tamm equilíbrio e
ponderação e a direção retilínea normal dos traçados também revelou conduta
equilibrada, eventualmente associada à reação pouco emotiva.
A distância entre as linhas (média de 1,8 mm), considerada diminuída,
apontou para a falta de percepção de limites em relação aos outros. Já, a margem
esquerda (média de 10,2 mm), foi considerada normal, indicando equilíbrio e
autocontrole; a margem direita (média de 4 mm), tamm normal, indicou boa
adaptação ao meio e, finalmente, a margem superior (média de 3,5 mm)
considerada média, revelou tendência ao comportamento de respeito para com os
105
outros e para com figuras de autoridade. A pressão estava normal, indicando
vitalidade e segurança e a organização foi considerada boa, indicando adequada
capacidade de organização. Não foram identificados outros dados merecedores de
destaque.
4) Resultados do CPS:
Tabela 11: Validação do protocolo (1)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE
ESCALA V 9 40 VÁLIDO
ESCALA R 46 60 VÁLIDO
Tabela 12: Resultados por escala (1)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA
ESCALA T 57 97 Confiança Extrema
ESCALA O 67 96 Ordem Extrema
ESCALA C 28 1 Inconformidade
social
Extrema
ESCALA A 62 75 Atividade Elevada
ESCALA S 52 20 Instabilidade
emocional
Elevada
ESCALA E 66 96 Extroversão Extrema
ESCALA M 56 97 Masculinidade Extrema
ESCALA P 33 1 Egocentrismo Extremo
O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas
respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.
Os valores obtidos na escala T demonstraram extrema confiança nos
outros, com crença na fidedignidade, honestidade e boa intenção alheia. O resultado
obtido na escala O indicou extrema inclinação à ordem, à cautela, à meticulosidade
e ao seguimento de rotinas. Já com relação à escala C, o valor alcançado
demonstrou tendência extremada à contestação de normas e instituições.
106
Na escala A, o valor alcançado demonstrou ser o policial possuidor de
energia e perseverança, empregando o máximo esforço para atingir o máximo de
sua capacidade. O resultado obtido na escala S demonstrou instabilidade emocional
elevada, com constantes oscilações de humor e o obtido na escala E demonstrou
extrema facilidade de contato com desconhecidos, expansividade e sociabilidade. O
escore encontrado na escala M revelou tendência à pouca sensibilidade e à teimosia
e, finalmente, o valor alcançado na escala P indicou extrema inclinação ao
egocentrismo e à preocupação com os próprios objetivos.
Caso nº. 2 – Categoria: Agressividade Reduzida
1) Dados gerais e histórico pessoal:
Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 30 anos de idade e
ensino médio completo. É casado há 08 anos e a esposa tem 29 anos de idade e
atividade profissional regular. O casal tem uma filha de 04 anos e reside em imóvel
cedido em município da Grande São Paulo. Os pais do policial são vivos e ele tem
04 irmãos. Está há 07 anos na corporação policial e exerce atividades operacionais
tamm em município da Grande São Paulo. Nas horas vagas, exerce trabalho
paralelo como forma de complementação salarial. Tem, em seu histórico
profissional, 04 ocorrências de enfrentamento armado, sendo 03 com morte e 01
com lesões corporais. Do ponto de vista disciplinar, o seu comportamento é
classificado como ótimo. Como atividade de lazer, gosta de viajar e como atividade
esportiva, gosta de correr. Não possui vícios de qualquer natureza.
Ao entrevistador, referiu que o seu relacionamento conjugal encontra-se
desgastado e bastante instável com constantes discussões e agressões verbais.
Relatou que a esposa reclama de que é muito inafetivo em locais públicos; não é
romântico e esquece datas importantes. Negou a existência de qualquer problema
de saúde, mas referiu dificuldades para dormir, com sono oscilante. Argumentou que
pretende realizar concurso interno para promoção à graduação imediatamente
superior, para o qual se prepara freqüentando curso preparatório. Argumentou,
ainda, que pretende concluir a construção de imóvel próprio, pois reside em moradia
cedida. Sobre o evento que determinou sua ida ao programa de apoio, alegou que
foi um enfrentamento armado que resultou na morte do oponente e no qual teve
107
participação direta. Não percebeu alterações emocionais em razão desse fato, no
entanto, no momento, não está bem, pois absorve em demasia problemas dos
outros e se irrita com facilidade.
O parecer do psicólogo entrevistador apontou para a existência, no
presente, de dificuldades afetivas, com exagerada auto-exigência nos campos
profissional e pessoal, mas com manifestação de vontade de reverter a atual
situação.
2) Resultados do PMK:
a) Primeiro exame:
De forma geral, os traçados apresentaram boa configuração práxica,
pressão normal, sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos de
qualquer tipo de patologia, demonstrando assim uma boa conformação geral da
personalidade, com orientação satisfatória e adequada capacidade de elaboração de
comportamentos. Não ficaram evidenciados sinais de ansiedade ou angústia e o
teste demonstrou existir nível satisfatório de coerência intra-psíquica.
Com relação às principais tendências do policial, aferidas de forma
quantitativa pelo instrumento, verificou-se o seguinte:
- agressividade: do ponto de vista estrutural, apresentou tendência à auto-
agressividade, com potencial para respostas eventuais indicativas de auto-
agressividade aumentada. Reacionalmente, confirmou a tendência para auto-
agressividade, eventualmente, aumentada;
- reação vivencial: em termos estruturais, apresentou bom potencial para
contato emocional satisfatório com o ambiente. Reacionalmente, confirmou as
condições estruturais, apresentando, no entanto, necessidade de contato social mais
intenso a partir de iniciativa própria;
- tônus psicomotor: tanto estrutural como reacionalmente, apresentou
tônus psicomotor normal, com eventual elevação no plano profundo, indicando nível
satisfatório de energia vital para ser empregada nas atividades diárias e na solução
de problemas;
108
- emotividade: revelou nível de emotividade dentro dos parâmetros da
normalidade, tanto em suas disposições mais latentes como em suas manifestações
mais atuais, podendo, eventualmente, apresentar hipo-emotividade;
- excitação–inibição: do ponto de vista estrutural, a tendência observada
foi de adequação das respostas aos estímulos externos. Já, reacionalmente,
apresentou-se mais excitado, com potencial para resposta à pequena estimulação
exterior;
- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais de impulsividade ou rigidez
nos dois planos.
b) Segundo exame:
No conjunto, os traçados apresentaram boa configuração práxica,
superando, inclusive, a configuração apresentada no primeiro. Tal como no exame
anterior, a pressão dos traçados estava normal e não havia tremores, saltos ou
torções de eixo ou qualquer outro dado sugestivo de patologia. Tamm não foram
detectados sinais de ansiedade ou angústia. A orientação estava adequada e a
capacidade de elaboração de comportamentos preservada. Este segundo exame
confirmou a boa estruturação de personalidade, com grau adequado de coerência
intra-psíquica.
A análise quantitativa dos dados apontou os seguintes resultados:
- agressividade: em termos mais profundos, apresentou tendência à auto-
agressividade e potencial para respostas agressivas eventuais com aumentada
auto-agressividade. Em termos reacionais, apresentou agressividade normal;
- reação vivencial: do ponto de vista estrutural, apresentou condições
satisfatórias para contato emocional, com leve tendência à intratensão, exceto em
situações de contato social por iniciativa própria em que essa intratensão foi intensa.
Reacionalmente, compensou essa tendência, apresentando até potencial para
resposta eventual com extratensão acentuada;
- tônus psicomotor: tanto do ponto de vista estrutural quanto do reacional,
apresentou bom tônus psicomotor, com tendência a se elevar eventualmente, em
especial, no plano reacional, o que garante suficiente nível de energia para as
atividades comuns e para enfrentamento de situações novas;
109
- emotividade: apresentou emotividade reduzida no plano profundo, com
potencial para hipo-emotividade eventual. Essa emotividade escassa, contudo, é
compensada no plano consciente, já que nesse plano ela se apresentou dentro dos
parâmetros da normalidade;
- Excitação–inibição: do ponto de vista estrutural, apresentou tendência
geral à inibição, com potencial para atitudes levemente inibidas ou mesmo inibidas,
o que significa uma diminuição da responsividade à estimulação exterior. Mais uma
vez, no plano reacional, compensou essa baixa responsividade estrutural com
equilíbrio tensional.
3) Resultados do Teste Palográfico:
a) Produtividade:
Tabela 13: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (2)
TEMPOS 1.º 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL
PARTE 53 42 51 58 42 246
PARTE 91 90 95 90 88 454
A produtividade apurada por meio do número total de traçados executados
na segunda parte do teste, levando em conta o nível de escolaridade do policial, foi
classificada como média, significando capacidade normal de trabalho em qualquer
atividade executada.
b) Nível de oscilação rítmica (NOR):
- NOR da 1ª. Parte: 17,4
- NOR da 2ª. Parte: 2,8
O nível de oscilação rítmica da 1ª parte do teste pode ser classificado
como muito alto, significando grandes variações no rendimento do trabalho.
Contudo, o nível de oscilação rítmica da 2ª parte pode ser considerado como baixo,
revelando estabilidade em seu ritmo de produção, permitindo a execução de tarefas
com certa uniformidade. A diferença entre o NOR da 1ª fase, que revela disposições
110
mais conscientes e o NOR da 2ª fase, que revela disposições mais involuntárias,
demonstra o esforço consciente de adaptação do policial a novas tarefas. Depois de
adaptado, o trabalho torna-se mais natural com ritmo mais equilibrado e
produtividade maior.
Com relação ao distanciamento entre os traçados, o que se observou foi
certa tendência à diminuição (média de 2,0 mm), indicando tendência à introversão e
à limitação de sentimentos.
A inclinação vertical dos traçados indicou atitude vigilante, com firmeza,
estabilidade e constância. O tamanho dos palos (média de 9 mm) foi considerado
médio, indicando equilíbrio, ponderação e adequada adaptação ao meio. A direção
retilínea normal dos traçados observada no teste indicou também conduta
equilibrada. A distância entre as linhas (média de 5,2 mm), considerada normal,
revelou, basicamente, respeito aos limites no convívio com outras pessoas.
As margens esquerda (média de 9,8 mm), direita (média de 4,6 mm) e
superior (média de 4,0 mm), classificadas como médias, revelaram no policial
equilíbrio e autocontrole, boa adaptação social e comportamento de respeito para
com os outros e para com representantes de autoridade. A pressão foi considerada
normal, indicando vitalidade e segurança e a organização foi considerada boa,
indicando adequada capacidade de organização. Não apareceram tremores, ou
outros sinais de emotividade desequilibrada, depressão ou impulsividade. A
ausência de ganchos revelou que a agressividade estava controlada.
4) Resultados do CPS:
Tabela 14: Validação do protocolo (2)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE
ESCALA V 12 65 VÁLIDO
ESCALA R 44 50 VÁLIDO
111
Tabela 15: Resultados por escala (2)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA
ESCALA T 53 90 Confiança Acentuada
ESCALA O 48 5 Falta de
Compulsão
Extrema
ESCALA C 41 30 Inconformidade
Social
Elevada
ESCALA A 64 85 Atividade Elevada
ESCALA S 64 85 Estabilidade
Emocional
Elevada
ESCALA E 62 90 Extroversão Acentuada
ESCALA M 46 60 Masculinidade Média
ESCALA P 49 45 Egocentrismo Médio
O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas
respostas, em função dos resultados alcançados nas escalas V e R,
respectivamente.
Na escala T, o resultado alcançado revelou, basicamente, elevada
confiança nos outros, vendo-os como pessoas honestas, fidedignas e com boas
intenções.
O escore obtido na escala O demonstrou inclinação ao descuido, à
imprudência e à não sistematização em seu estilo de vida. Já na escala C, os
valores revelaram certa tendência à inconformidade social e não aceitação de
sistemas de controle.
Na escala A, o valor alcançado demonstrou ser o policial possuidor de
energia e perseverança, empregando o máximo esforço para atingir o máximo de
sua capacidade.
Com o escore alcançado na escala S, revelou estabilidade emocional,
calma e confiança em si mesmo. O escore também elevado na escala E revelou
facilidade de contato, expansividade e sociabilidade.
Finalmente, o resultado alcançado na escala M revelou expressão normal
de sensibilidade e o obtido na escala P revelou nível regular de altruísmo e
generosidade.
112
Caso nº. 3 – Categoria: Agressividade Inalterada
1) Dados gerais e histórico pessoal:
Trata-se de 2º. Sargento PM, do sexo masculino, com 35 anos de idade,
ensino médio completo, tendo iniciado e depois interrompido o curso superior de
Educação Física. É casado há 13 anos e a esposa tem tamm 35 anos de idade e
emprego regular. O casal tem uma filha de 12 anos e um filho de 08 anos e reside
em imóvel próprio, adquirido por meio de financiamento, em município da Grande
São Paulo. O pai do policial é falecido e ele tem 02 irmãos. Está há 16 anos na
corporação policial, exercendo, atualmente, atividades operacionais em unidade
sediada na região central da Cidade de São Paulo. Nas horas vagas, exerce
trabalho paralelo como forma de complementação salarial. Tem, em seu histórico
profissional, 02 ocorrências de enfrentamento, ambas com morte do oponente. Do
ponto de vista disciplinar, o seu comportamento é classificado como ótimo. Como
atividade de lazer, prefere passear com a família e como atividade esportiva, gosta
de correr e jogar futebol. Não possui vícios de qualquer natureza.
Durante a entrevista, relatou ao psicólogo que o seu relacionamento
conjugal e familiar é bastante satisfatório e que tem contato esporádico com a mãe
que reside no interior do Estado de São Paulo. Negou a existência de qualquer
problema pessoal e alegou gostar muito do trabalho que executa, em que pese a
distância entre sua residência e o local de trabalho. Apontou, como aspiração futura,
a compra de alguma propriedade no interior do estado e, como dificuldade pessoal,
o desejo de querer resolver os problemas dos outros. Sobre o evento que
determinou sua ida ao programa de apoio, alegou ter sido um enfrentamento armado
que resultou na morte do oponente e no qual teve participação direta. Não percebeu
alterações emocionais em razão desse fato.
O parecer do psicólogo entrevistador apontou para a existência de falta de
motivação profissional atual, em razão das mudanças no trabalho decorrentes da
necessidade de freqüentar o programa de apoio, apesar da boa verbalização e do
bom contato verificados durante a entrevista.
113
2) Resultados do PMK:
a) Primeiro exame:
De forma geral, o teste apresentou boa configuração práxica, com
traçados bem configurados e pressão firme, sem tremores, saltos ou outros sinais
sugestivos de comprometimento neurológico. Apresentou torção de eixo nas cadeias
egocífugas de mão não dominante, que apareceu como dado isolado no conjunto do
teste. A orientação e a capacidade geral de elaboração de comportamentos estavam
satisfatórias. Não apresentou sinais de ansiedade ou angústia e exibiu bom nível de
coerência intra-psíquica.
Com relação às principais tendências do policial, aferidas de forma
quantitativa pelo instrumento, verificou-se o seguinte:
- agressividade: em termos estruturais, apresentou agressividade
oscilante, com potencial para, eventualmente, apresentar hétero-agressividade
aumentada. No plano reacional, confirmou essa tendência, podendo apresentar,
inclusive, intensa hétero-agressividade eventual;
- reação vivencial: no plano profundo, apresentou tendência geral à
intratensão, com dificuldades para o estabelecimento de contato emocional com o
ambiente. Apresentou ainda potencial para, de maneira eventual, assumir postura
fortemente intratensa. No plano consciente, compensou essa tendência, revelando
características de normotensão com capacidade normal de manifestação emocional
mais espontânea;
- tônus psicomotor: tanto no plano estrutural quanto no plano reacional,
apresentou tônus psicomotor normal, com nível adequado de energia vital para
enfrentar situações novas ou realizar atividades rotineiras;
- emotividade: tanto no plano estrutural quanto no reacional, apresentou
escassa emotividade, podendo chegar, inclusive, a exibir hipo-emotividade;
- excitação-inibição: nos dois planos, revelou capacidade de responder de
forma satisfatória aos estímulos exteriores, com equilíbrio tensional adequado.
- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais sugestivos de impulsividade
ou rigidez nos dois planos.
114
b) Segundo exame:
Da mesma forma que no primeiro, os traçados estavam bem configurados,
sem tremores, saltos ou outros sinais sugestivos de patologia. A torção de eixo,
verificada no primeiro exame, não apareceu no segundo, contudo, a pressão que era
firme no início do teste, passou a ser forte na parte final, indicando postura agressiva
decorrente de impaciência diante de situação de avaliação. Tal como no primeiro
exame, constatou-se bom nível de orientação e boa capacidade de elaboração de
comportamentos. Não foram evidenciados sinais de ansiedade ou angústia. A
coerência intra-psíquica estava adequada.
Com relação às tendências do policial apuradas por meio dos dados
quantitativos, verificou-se o seguinte:
- agressividade: reproduziu, de forma geral, os resultados do exame
anterior, com agressividade estrutural oscilante e potencial para apresentar hétero-
agressividade aumentada. No plano reacional, confirmou essa tendência, podendo,
inclusive, apresentar, de forma eventual, intensa hétero-agressividade;
- reação vivencial: em termos estruturais, reproduziu os resultados do
exame anterior, com tendência à intratensão e potencial para assumir,
eventualmente, postura fortemente intratensa. Em termos reacionais, da mesma
forma que no exame anterior, compensou essa tendência, apresentando respostas
predominantemente normotensas, expressando capacidade normal de comunicação
emocional;
- tônus psicomotor: confirmou os resultados do primeiro exame, com nível
satisfatório de energia vital, tanto no nível estrutural quanto no reacional;
- emotividade: também confirmando os resultados obtidos no primeiro
exame, apresentou, nos dois planos, escassa emotividade, com tendência para
hipo-emotividade estrutural;
- excitação-inibição: no plano profundo, apresentou, diferentemente do
que ocorreu no primeiro exame, tendência à inibição que procura compensar em
termos conscientes, com adequado equilíbrio tensional;
- impulsividade-rigidez: não apresentou sinais sugestivos de impulsividade
ou rigidez nos dois planos.
115
3) Resultados do Teste Palográfico:
a) Produtividade:
Tabela 16: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (3)
TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL
PARTE 26 31 34 35 34 160
PARTE 91 91 85 97 97 461
A produtividade apurada na segunda parte do exame, levando-se em
conta o nível de escolaridade do policial, pode ser classificada como média,
significando capacidade normal de trabalho para execução de qualquer tipo de
atividade.
b) Nível de oscilação rítmica (NOR
):
- NOR da 1ª Parte: 6,2
- NOR da 2ª Parte: 3,9
O nível de oscilação rítmica da primeira parte do teste, classificado como
médio, revelou a busca de adaptação às tarefas propostas, apesar da instabilidade
do ritmo de produção. Já o NOR da 2ª parte indicou regularidade, bom controle e
estabilidade nas tarefas.
A distância média entre os traçados (3,1 mm) indicou equilíbrio e boa
capacidade de organização. Já a leve inclinação à esquerda dos traçados e a
direção ascendente das linhas indicaram falta de necessidade de contato social e
afetivo e tendência à combatividade e ao idealismo e até certo grau de ambição e
arrogância.
A distância entre as linhas (média de 3,6 mm), considerada normal,
indicou a existência de respeito a limites e as margens esquerda (média de 12,6
mm), direita (média de 4,6 mm) e superior (média de 2 mm) revelaram equilíbrio e
boa adaptação, mas com alguma dificuldade no relacionamento com autoridades. A
pressão estava normal, indicando vitalidade e segurança e a organização estava
116
boa, indicando adequada capacidade de organização. Não apareceram no teste
outros dados merecedores de destaque.
4) Resultados do CPS:
Tabela 17: Validação do protocolo (3)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE
ESCALA V 11 55 VÁLIDO
ESCALA R 40 35 VÁLIDO
Tabela 18: Resultados por escala (3)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA
ESCALA T 49 80 Confiança Elevada
ESCALA O 54 25 Falta de
compulsão
Elevada
ESCALA C 38 15 Inconformidade
Social
Elevada
ESCALA A 60 65 Atividade Média
ESCALA S 53 25 Instabilidade
Emocional
Elevada
ESCALA E 54 60 Extroversão Média
ESCALA M 42 35 Feminilidade Média
ESCALA P 42 15 Egocentrismo Elevado
O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas
respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.
Os valores obtidos na escala T demonstraram elevada confiança nos
outros, com crença na fidedignidade, honestidade e boa intenção alheia.
O resultado obtido na escala O revelou inclinação ao descuido e à
imprudência. Já o resultado alcançado na escala C revelou inclinação à contestação
a normas e instituições e à não aceitação de controles.
O escore obtido na escala A indicou a existência de grau médio de energia
e perseverança. Na escala S, os valores obtidos apontaram elevada instabilidade
117
emocional com freqüentes oscilações de humor. Os resultados das escalas E e M
demonstraram capacidade normal de contato com outras pessoas e sensibilidade
normal em todas as situações.
Finalmente, o resultado obtido na escala P indicou a existência de forte
egocentrismo, com preocupação voltada aos próprios objetivos.
Caso nº. 4 – Categoria: Agressividade Estável
1) Dados gerais e histórico pessoal:
Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 32 anos de idade,
ensino médio completo, tendo iniciado e depois interrompido curso superior de
Turismo. É casado há 10 anos, tendo a esposa 29 anos de idade e atividade
profissional regular. O casal tem uma filha de 08 anos e um filho de 08 meses e
reside em imóvel próprio na zona norte da Cidade de São Paulo. Os pais do policial
são vivos e ele tem 02 irmãos. Está há 04 anos na corporação policial, exercendo,
atualmente, atividades operacionais em unidade sediada na região norte da Cidade
de São Paulo. Exerce, nos períodos de folga do trabalho policial, atividade paralela
remunerada. Tem em seu histórico profissional uma ocorrência de enfrentamento
armado, que resultou em morte do oponente. Do ponto de vista disciplinar, o seu
comportamento é classificado como bom. Como atividade de lazer, gosta de praticar
esporte, sendo a ginástica o seu favorito. Não possui vícios de qualquer natureza.
Em entrevista, relatou ao psicólogo entrevistador que o seu
relacionamento com esposa e filhos é bom, assim como tamm o é o
relacionamento com os pais, a quem vê com freqüência. Negou a existência de
qualquer problema de ordem pessoal. Sobre o evento que determinou sua ida ao
programa de apoio, alegou ter sido um enfrentamento armado com morte do
oponente que era policial civil. Em razão da condição profissional do oponente, o
policial percebeu alterações emocionais imediatas, apresentando insônia desde o
dia do fato.
O parecer do psicólogo indicou a existência de quadro de ansiedade,
preocupação excessiva com o evento e cansaço físico aparente.
118
2) Dados do PMK:
a) Primeiro exame:
O conjunto do teste apresentou configuração práxica muito boa, pressão
normal e sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais sugestivos de
qualquer patologia. Apresentou bom nível de orientação e de elaboração geral de
comportamentos, sem sinais de ansiedade ou angústia. Revelou, ainda, bom grau
de coerência intra-psíquica.
Com relação às tendências do policial aferidas pela avaliação quantitativa
do instrumento, verificou-se o seguinte:
- agressividade: estruturalmente, apresentou potencial para respostas
eventuais indicativas de hétero-agressividade aumentada. Já reacionalmente,
apresentou nível adequado de agressividade, indicando forma equilibrada de
imposição ao ambiente;
- reação vivencial: no plano profundo, apresentou características de
extratensão, evidenciando necessidade de contato emocional mais intenso com o
ambiente. Essas características, no entanto, não apareceram no plano consciente,
situação em que a normotensão ou necessidade normal de contato emocional se fez
presente;
- tônus psicomotor: apresentou, nos dois planos, tônus psicomotor normal,
com nível satisfatório de energia vital para ser empregado nas atividades cotidianas
e no enfrentamento de situações novas;
- emotividade: tanto nas disposições mais latentes como em suas
manifestações mais atuais, revelou emotividade normal;
- excitação-inibição: apresentou, nos dois planos, tendência à inibição,
com leve diminuição da responsividade à estimulação exterior;
- impulsividade-rigidez: não apresentou, nos dois planos, qualquer sinal
sugestivo de impulsividade ou rigidez.
b) Segundo exame:
Reproduziu, basicamente, as características gerais dos traçados
encontradas no primeiro exame, quanto à configuração práxica, capacidade de
119
orientação e elaboração, coerência intra-psíquica e ausência de sinais sugestivos de
patologia, ansiedade ou angústia.
Sobre as tendências do policial, apuradas por meio dos dados
quantitativos, verificou-se o seguinte:
- agressividade: reproduziu os resultados do primeiro exame, exibindo
potencial para respostas eventuais indicativas de hétero-agressividade aumentada
no plano profundo e agressividade normal, no plano atual;
- reação vivencial: no plano estrutural, apresentou características de
extratensão, mas com intensidade menor do que no primeiro exame. Já no plano
reacional, apresentou características de normotensão, com possibilidade de
apresentar, eventualmente, intratensão, especialmente quando recebe o contato do
ambiente;
- tônus psicomotor: reproduziu, basicamente, os resultados do exame
anterior, com bom tônus psicomotor no plano estrutural e tônus psicomotor normal
no nível reacional;
- emotividade: revelou emotividade normal nos dois planos, tamm
reproduzindo os resultados do primeiro exame;
- excitação-inibição: diferentemente do exame anterior, revelou equilíbrio
tensional em suas disposições mais profundas e leve inibição em suas disposições
mais atuais.
- impulsividade-rigidez: reproduziu, nos dois planos, o resultado do exame
anterior, sem sinais indicativos de impulsividade ou rigidez.
3) Resultados do Teste Palográfico:
a) Produtividade:
Tabela 19: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (4)
TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL
PARTE 39 51 47 46 47 230
PARTE 134 134 138 139 164 709
A produtividade apurada por intermédio do número total de traçados
executados na segunda parte do teste, considerando-se o nível de escolaridade do
120
policial, pode ser classificada com sendo de nível médio superior, o que significa
rendimento aumentado em qualquer atividade executada.
b) Nível de oscilação rítmica (NOR):
- NOR da 1ª Parte: 7,8
- NOR da 2ª Parte: 4,2
O nível de oscilação rítmica nas duas partes do teste foi considerado
médio, o que significa adaptação adequada às atividades rotineiras, em que pese
certa instabilidade no ritmo de produção, havendo equilíbrio entre o ritmo
inconsciente e o consciente.
A distância entre os traçados (média de 2,1 cm), considerada média,
indicou equilíbrio, ponderação e capacidade de organização. A inclinação vertical
indicou firmeza e estabilidade nas atitudes, com controle sobre as emoções. O
tamanho dos palos (média de 7,3 mm) foi considerado médio, também indicando
equilíbrio e ponderação. A direção retilínea normal dos traçados reafirmou a
tendência à conduta equilibrada. A distância aumentada entre as linhas (média de
8,9 mm) indicou tendência à precaução e cautela no campo relacional, com aumento
da formalidade nas relações interpessoais e atitudes respeitosas.
A margem esquerda (média de 3,3 mm), considerada muito diminuída,
revelou sinais acentuados de timidez, recato e prudência, além de agressividade
bastante reduzida nos contatos iniciais. A margem direita (média de 4,5 mm),
considerada média, revelou boa adaptação social, sem atitudes agressivas. A
margem superior (média de 4,5 mm), considerada normal, indicou comportamento
de respeito e deferência para com os outros e para com figuras de autoridade. A
pressão normal indicou vitalidade e segurança e a ordem, considerada boa, revelou
boa capacidade de organização. Não apareceram outros sinais indicativos de
características merecedoras de destaque.
121
4) Resultados do CPS:
Tabela 20: Validação do protocolo (4)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE
ESCALA V 8 30 VÁLIDO
ESCALA R 42 45 VÁLIDO
Tabela 21: Resultados por escala (4)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA
ESCALA T 40 30 Atitude
defensiva
Elevada
ESCALA O 52 15 Falta de
compulsão
Elevada
ESCALA C 43 45 Inconformidade
social
Média
ESCALA A 46 5 Falta de
energia
Extrema
ESCALA S 46 4 Instabilidade
emocional
Extrema
ESCALA E 39 8 Introversão Acentuada
ESCALA M 45 55 Masculinidade Média
ESCALA P 46 30 Egocentrismo Elevado
O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas
respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.
O resultado alcançado na escala T demonstrou atitude defensiva
acentuada, com desconfiança e retraimento. O valor obtido na escala O indicou a
inclinação ao descuido, à imprudência e à não sistematização em seu estilo de vida.
Já na escala C, o escore encontrado denotou equilíbrio quanto à aceitação de
normas e instituições sociais. Na escala A, o resultado indicou extrema falta de
energia, com tendência à inatividade física e na escala S, o valor obtido apontou
para extrema instabilidade emocional, com freqüentes oscilações de humor. O
escore obtido na escala E indicou acentuada timidez e dificuldade para
122
estabelecimento de contato, enquanto o alcançado na escala M demonstrou nível
normal de sensibilidade. Finalmente, o valor atingido na escala P revelou elevada
inclinação ao egocentrismo, com preocupação voltada aos próprios objetivos.
Caso nº. 5 – Categoria: Agressividade Instável
1) Dados gerais e histórico pessoal:
Trata-se de Soldado PM, do sexo masculino, com 28 anos de idade e
ensino médio completo. É casado há 04 anos e a esposa tem 31 anos de idade e
atividade profissional regular. O casal tem uma filha de 04 meses e reside em imóvel
cedido em município da Grande São Paulo. Os pais do policial são vivos e ele tem
02 irmãos. O pai reside sozinho em outro estado, na região nordeste do país. Está
há 02 anos na corporação policial e exerce atividades operacionais também em
município da Grande São Paulo. Não executa nenhum tipo de atividade profissional
paralela. Tem em seu histórico profissional apenas 01 ocorrência de enfrentamento
armado que provocou lesões corporais no oponente. Do ponto de vista disciplinar, o
seu comportamento é classificado como bom. Com atividade de lazer, gosta de
praticar esportes, ouvir músicas e visitar sites na rede mundial. Pratica esportes com
freqüência e não possui vícios de nenhuma espécie.
Ao entrevistador, relatou que o seu relacionamento com a esposa e filha é
bom, o mesmo acontecendo com relação à mãe. Já com relação ao pai, referiu
contato difícil, pois este nunca o apoiou. Negou a existência de qualquer problema
de saúde ou dificuldade financeira e alegou gostar do trabalho que executa. Indicou
como aspiração futura evoluir na carreira policial e trabalhar como professor de
Educação Física. Sobre o evento que determinou sua apresentação ao programa de
apoio, disse ter sido enfrentamento armado que resultou em lesões corporais do
oponente. Não percebeu alterações emocionais decorrentes desse fato.
O parecer do psicólogo entrevistador indicou a existência de situação
conflituosa evidente em relação à figura paterna e atitude de reserva e sinais de
impulsividade.
123
2) Resultados do PMK:
a) Primeiro exame:
Os traçados se apresentaram, de forma geral, com boa configuração
práxica, pressão normal, sem tremores, saltos, torções de eixo ou outros sinais que
pudessem indicar a presença de qualquer tipo de patologia. A orientação estava
satisfatória e a capacidade de elaboração de comportamentos adequada. Não havia
sinais evidentes de ansiedade ou angústia e o nível de coerência intra-psíquica
estava satisfatório.
Sobre as principais tendências do policial, apuradas de forma quantitativa
pelo instrumento, verificou-se o seguinte:
- agressividade: No plano estrutural apresentou agressividade normal. Já,
no plano reacional, revelou tendência para respostas eventuais indicativas de auto-
agressividade aumentada;
- reação vivencial: tanto no plano estrutural como no reacional, apresentou
tendência à oscilação e à instabilidade, no que diz respeito ao contato emocional
com o ambiente, alternando, nos dois planos, atitudes de intratensão e de
extratensão;
- tônus psicomotor: apresentou tônus psicomotor aumentado no plano
profundo e normal no plano reacional, indicando bom nível de energia para o
enfrentamento de problemas e desenvolvimento das atividades rotineiras;
- emotividade: revelou emotividade normal, tanto em suas disposições
mais latentes como em suas manifestações mais atuais;
- excitação-inibição: do ponto de vista estrutural, apresentou nível normal
de equilíbrio tensional. Já do ponto de vista reacional, apresentou tendência à
inibição, com responsividade à estimulação externa eventualmente diminuída;
- impulsividade-rigidez: não apresentou, nos dois planos, traços de
impulsividade ou rigidez.
b) Segundo exame:
As características gerais dos traçados assemelharam-se às características
encontradas no primeiro exame, com boa configuração práxica, pressão normal,
124
sem tremores, saltos, torções de eixos ou outros sinais sugestivos de patologia. A
orientação continuou adequada, assim como a capacidade de elaboração de
comportamentos. Novamente, não havia sinais de ansiedade ou angústia e o nível
de coerência intra-psíquica continuava satisfatório.
Sobre as principais tendências do policial, apuradas pela análise
quantitativa do teste, verificou-se o seguinte:
- agressividade: diferentemente do verificado no primeiro exame, no plano
estrutural, apresentou potencial para respostas agressivas eventuais indicativas de
hétero-agressividade aumentada. No plano reacional, houve confirmação dessa
tendência, invertendo tendência apresentada no exame anterior;
- reação vivencial: no plano profundo, de forma diferente do que foi
verificado no primeiro exame, apresentou disposição para respostas eventuais
indicativas de intratensão aumentada ou mesmo forte intratensão. Já no plano atual,
reproduziu a instabilidade encontrada naquele exame;
- tônus psicomotor: reproduziu de maneira semelhante o resultado
encontrado no exame anterior, com tônus psicomotor aumentado no nível estrutural
e normal no reacional;
- emotividade: seguindo tendência já revelada no primeiro exame,
apresentou nível normal de emotividade nos dois planos;
- excitação-inibição: reproduziu o resultado anterior, com equilíbrio
tensional normal no plano profundo e tendência à inibição eventual no plano atual;
- impulsividade-rigidez: não evidenciou sinais de impulsividade ou rigidez
em termos estruturais, contudo, em termos reacionais, apresentou tendência a
respostas indicativas de rigidez aumentada.
3) Resultados do Teste Palográfico:
a) Produtividade:
Tabela 22: Produtividade em cada tempo das duas partes do teste (5)
TEMPOS 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. TOTAL
PARTE 67 72 75 73 73 360
PARTE 69 64 62 64 64 323
125
A produtividade apurada, considerando-se o grau de escolaridade do
policial, foi classificada como sendo de nível médio inferior, indicando tendência para
rendimento abaixo da média em qualquer atividade realizada.
b) Nível de oscilação rítmica (NOR):
- NOR da 1ª Parte: 2,7
- NOR da 2ª Parte: 2,7
O NOR da 1ª parte foi idêntico ao da 2ª parte, ambos considerados muito
baixos, indicando equilíbrio entre o ritmo consciente e o inconsciente e, ainda, alta
regularidade na execução de tarefas, com tendência à rigidez.
O distanciamento dos traçados (média de 2,8 mm), considerado normal,
indicou equilíbrio, ponderação e capacidade de organização e a inclinação vertical
revelou firmeza e estabilidade nas atitudes, com controle sobre as emoções. O
tamanho dos palos (média de 8 mm) foi considerado médio, tamm indicando
equilíbrio e ponderação. A direção retilínea normal dos traçados confirmou tendência
à conduta equilibrada.
Com relação à distância entre as linhas, o resultado encontrado (média de
4,3 mm) tamm foi considerado normal, indicando respeito aos limites no convívio
com outras pessoas. A margem esquerda (média de 12 mm) foi considerada
aumentada, indicando extroversão e facilidade de comunicação. A margem direita
(média de 5 mm) foi considerada normal, revelando boa adaptação social e a
margem superior (média de 6 mm) tamm foi considerada normal, indicando
respeito para com os outros e para com as figuras de autoridade.
A pressão dos traçados foi considerada normal, apontando para vitalidade
e segurança e a organização foi considerada boa, revelando adequada capacidade
de organização. Não apareceram outros sinais sugestivos de características
merecedoras de realce.
126
4) Resultados do CPS:
Tabela 23: Validação do protocolo (5)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL CONTROLE
ESCALA V 23 98 VÁLIDO
ESCALA R 40 35 VÁLIDO
Tabela 24: Resultados por escala (5)
ESCALAS/RESULTADOS VALOR PERCENTIL FATOR FAIXA
ESCALA T 37 15 Atitude
defensiva
Elevada
ESCALA O 47 3 Falta de
compulsão
Extrema
ESCALA C 34 4 Inconformidade
social
Extrema
ESCALA A 43 2 Falta de
energia
Extrema
ESCALA S 44 3 Instabilidade
emocional
Extrema
ESCALA E 40 10 Introversão Acentuada
ESCALA M 41 30 Feminilidade Elevada
ESCALA P 43 20 Egocentrismo Elevado
O teste do policial foi considerado válido e sem tendenciosidade nas
respostas, em função dos valores obtidos nas escalas V e R, respectivamente.
O resultado encontrado na escala T revelou tendência elevada à
desconfiança e ao retraimento. Na escala O, o resultado obtido indicou inclinação
extrema ao descuido e à falta de sistematização em seu estilo de vida. Já com
relação à escala C, o valor alcançado demonstrou tendência extremada à
contestação de normas e instituições.
O escore alcançado na escala A evidenciou inclinação à inatividade física,
com falta de vigor e energia. O resultado alcançado na escala S demonstrou
instabilidade emocional extrema, com constantes oscilações de humor. Já na escala
127
E, o valor obtido indicou tendência acentuada à timidez e dificuldade de contato
social, enquanto o obtido na escala M apontou para uma elevada sensibilidade.
Finalmente, o resultado da escala P evidenciou tendência elevada ao egocentrismo
e preocupação com os próprios objetivos.
Descritos os resultados da parte quantitativa e da parte qualitativa do
estudo, cabe agora discuti-los, o que será feito no capítulo seguinte.
128
IV – DISCUSSÃO
1. Discussão do estudo quantitativo
1) Caracterização sócio-demográfica:
Os resultados da caracterização sócio-demográfica do presente estudo
demonstraram que houve predominância, na amostra pesquisada, de policiais
militares comvel hierárquico de cabo ou soldado (81%), do sexo masculino (97%),
casados (50%), e com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio (74%).
Esses resultados são compatíveis com a formação geral do efetivo policial em que
há 79% de cabos e soldados em relação ao efetivo total e, desses, 89% são do sexo
masculino. O nível de escolaridade predominante é aquele exigido no processo
seletivo de ingresso, reproduzindo, basicamente, os resultados de estudo anterior
com a mesma população (ALLEGRETTI, 1996).
Com relação à idade, a mediana apurada foi de 32 anos, estando a
grande concentração (79%) na faixa compreendida entre 26 e 40 anos. A
distribuição da idade parece não fugir muito da distribuição normal, como
comprovam as figuras 2, 3 e 4. A concentração na faixa etária citada pode ser
explicada pelo fato de o policial com idade mais avançada ser empregado em
atividades administrativas, em razão de sua experiência profissional e de sua
condição física, que já não responde com a mesma efetividade às exigências do
trabalho operacional, diminuindo, assim, a probabilidade de seu envolvimento em
confronto armado.
Já no que diz respeito ao tempo de serviço, a mediana foi de 09 anos,
estando a grande concentração na faixa compreendida entre 01 e 15 anos de
serviço (75%), também reproduzindo, de maneira semelhante, resultados
encontrados por Allegretti (1996), em que 65,82% da amostra tinham entre 01 e 10
anos de serviço. Deve-se ressaltar o fato de que a distribuição da amostra com
relação ao tempo de serviço é levemente assimétrica, conforme demonstram as
figuras 8, 9 e 10. O tempo de serviço apresenta correlação direta com a idade e o
modelo explicativo do evento segue, de forma geral, aquele utilizado para a idade.
Os locais de trabalho predominantes para esse grupo foram a Grande São
Paulo (36%) e a Zona Leste da Capital (18%), que tamm correspondem aos locais
129
predominantes de residência. O fato pode ser explicado em razão de essas regiões
apresentarem elevados índices de violência: 28,56 homicídios dolosos por grupo de
100.000 habitantes na Grande São Paulo (exceto a Capital) e 31,87 na Capital como
um todo, índices que superam, inclusive, a média estadual de 21,74 homicídios
dolosos para o mesmo grupo populacional, conforme dados da Secretaria da
Segurança Pública, o que faz aumentar, significativamente a probabilidade de
confrontos armados.
Com relação ao número de ocorrências graves, a maioria do grupo (81%)
oscilou entre 01 e 03 ocorrências. Se, ao invés do número absoluto, for utilizada a
taxa anual de ocorrências (número/anos de serviço), tem-se a maior freqüência
(75%) na faixa compreendida entre 0,01 e 0,04 com mediana de 0,20 ocorrências
por ano de serviço por policial. A distribuição dessa taxa é bem assimétrica, como
evidenciam as figuras 14, 15 e 16. Esses números, mais uma vez, confirmam os
resultados encontrados por Allegretti (1996), em que 62,65% do contingente
pesquisado possuíam entre 01 e 03 ocorrências.
2) Identificação do nível de agressividade reacional do grupo antes e
depois do programa:
No tocante à agressividade reacional do grupo pesquisado, antes e depois
do programa de apoio, chamou a atenção o baixo percentual encontrado na zona de
normalidade: 32% antes e 39% depois, índices muito distantes dos 68,26%
esperados para essa faixa em uma distribuição normal, mesmo sendo a amostra
retirada de uma população especial. Em sentido inverso, foi também significativo o
elevado percentual encontrado no 2º. D.P. em todas as freqüências de respostas:
49% em até 02 traçados e 6% em 03 ou mais traçados, no primeiro exame e 48%
em até dois traçados e 4% em 03 ou mais traçados, no segundo exame, ante os
27,18% esperados em uma distribuição normal, apontando assim para um leve
decréscimo após o programa. O percentual que alcançou o 3º. D.P. tamm merece
destaque, pois chegou a 11% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no
primeiro exame e 7% em até 02 traçados e 2% em 03 ou mais traçados, no segundo
exame, representando, tamm, pequeno decréscimo, mas sem ainda se aproximar
dos 4,29% esperados para essa faixa. A tabela 25 compara os resultados obtidos no
130
presente estudo com os obtidos por Allegretti (1996), levando em conta a freqüência
relativa acumulada de todas as freqüências de respostas:
Tabela 25: Comparação da agressividade reacional em dois estudos
ESTUDO ALLEGRETTI – 1996 ALLEGRETTI - 2005
DESV. ANTES DEPOIS ANTES DEPOIS
Z.N. 38 (24%) 44 (28%) 25 (32%) 30 (39%)
2º. D.P. 96 (61%) 87 (55%) 42 (55%) 40 (52%)
3º. D.P. 24 (15%) 27 (17%) 10 (13%) 07 (09%)
TOTAL 158 158 77 77
(100%) (100%) (100%) (100%)
Os dados comparados demonstram ter havido similitude entre os
movimentos havidos na zona de normalidade e no segundo desvio-padrão. Já com
relação ao terceiro desvio-padrão, houve inversão de tendência nas duas pesquisas,
com aumento da freqüência no estudo de 1996 e redução no estudo atual.
Comparando-se as freqüências encontradas antes do programa nos dois
estudos, o teste multinomial para duas distribuições multinomiais retornou um nível
de significância de 0,38. Na comparação das freqüências encontradas depois do
programa, o mesmo teste retornou um nível de significância de 0,11. Dessa forma,
restou demonstrado que não há diferenças estatisticamente significativas, ou seja, a
variação da agressividade se comportou de maneira semelhante nos dois estudos.
Em síntese, levando-se em conta o resultado geral da amostra atual,
verificou-se ter havido, após o programa, um aumento discreto da freqüência na
zona de normalidade e uma redução tamm discreta das freqüências do segundo e
do terceiro desvio-padrão. Finalmente, chama a atenção o baixo percentual de
freqüência de resposta de 03 ou mais traçados (FR/2), indicativa de agressividade
efetiva ou predominante. Foram apenas 09% antes do programa e 05% depois dele,
apontando, portanto, para uma prevalência no grupo pesquisado de respostas
agressivas oscilantes ou eventuais.
131
3) Modificação da resposta agressiva reacional:
Com relação à modificação da resposta agressiva reacional individual,
ficou demonstrado que a agressividade reduzida foi a categoria de resposta com
maior freqüência, englobando 31% da amostra. Seguiu-se a estável, com 19% e a
ampliada, com 18%. As categorias inalterada e instável tiveram, cada uma,
freqüência correspondente a 16% do grupo pesquisado. A tabela 26 apresenta
dados comparativos entre o estudo atual e o realizado por Allegretti (1996):
Tabela 26: Comparação da modificação da resposta agressiva reacional individual
CATEGORIAS/ESTUDO ALLEGRETTI
1996
ALLEGRETTI
2005
AMPLIADA 24 (15)% 14 (18%)
REDUZIDA 43 (27%) 24 (31%)
INALTERADA/ESTÁVEL 91(58%) 27(35%)
INSTÁVEL AUSENTE 12 (19%)
TOTAL 158 (100%) 77 (100%)
Para efeito de comparação, as categorias estável e inalterada do estudo
atual foram agrupadas, tendo em vista o estudo anterior tê-las considerado como
única. Esse mesmo estudo tamm não considerou a categoria instável.
Do ponto de vista descritivo, os dados demonstraram ter havido
semelhança entre os percentuais encontrados na categoria ampliada, considerados
relativamente baixos nos dois estudos. No que concerne à agressividade reduzida,
tamm houve semelhança, sendo que, em ambas, os percentuais foram mais
expressivos. Já no que diz respeito à agressividade inalterada/estável, os
percentuais encontrados foram expressivos, mas diferentes nos dois trabalhos.
Finalmente, o percentual encontrado na categoria instável, sem correspondente no
estudo anterior, foi considerado relativamente baixo.
Para verificar estatisticamente a possível semelhança entre os resultados
das duas pesquisas, utilizou-se o teste de proporções de duas multinomiais, que
retornou um nível de significância de 0,31, confirmando, assim, que a modificação
132
da resposta agressiva reacional apresenta tendência semelhante em ambos os
trabalhos.
É importante destacar que 71% dos que apresentaram resposta ampliada
estavam na zona de normalidade e oscilaram para cima em freqüência de resposta
e intensidade do desvio. Apenas 29% se encontravam fora da zona de normalidade
e oscilaram em freqüência de resposta ou intensidade do desvio.
Esse dado é bastante relevante, eis que pode sugerir eventual efeito
perverso do programa de apoio, com relação àqueles que se encontravam com a
agressividade normal. A base teórica que sustenta essa possibilidade é bastante
densa e pode ser sintetizada da seguinte forma:
- nem o trabalho policial, nem a ocorrência grave teriam gerado pressão
suficiente para despertar a instigação agressiva, na forma proposta por Dejours
(1988) e Riviere (1975), já que a agressividade reacional se encontrava normal;
- o programa de apoio, contudo, teria funcionado como uma espécie de
adversidade ambiental, revivendo experiências anteriores e gerando sentimento de
perda e impulsos agressivos (WINNICOTT, 2000);
- o sentido de perda em razão da adversidade ambiental seria decorrente
da frustração frente à carreira, especialmente frente às diferenças entre as
aspirações individuais e a realidade do trabalho policial (DEJOURS, 1988).
Alternativamente, poderia tamm ser decorrente do objetivo de dominação a ser
alcançado por meio do trabalho (ADLER, 1957), do qual o policial é
momentaneamente afastado ou, ainda, das características próprias da
personalidade autoritária (ADORNO apud ZACHARIAS, 1994), que,
obrigatoriamente, permaneceriam inativas até o final da execução do programa de
apoio ou por período ainda superior, caso fossem aplicadas restrições ao trabalho
operacional;
- a sensação de perda decorrente dessa adversidade despertaria a
agressividade, da mesma forma que um ataque externo ao self o faria (RIVIERE,
1975);
- a ansiedade gerada pela perda imposta pelo programa acentuaria o
instinto agressivo (KLEIN, 1970);
- eventual índole reativa do caráter levantaria defesas de oposição
(formação reativa), na linha da preservação da auto-estima, ampliando a carga
agressiva (FENICHEL, 1981);
133
- a agressividade seria dirigida para o exterior, como forma de proteção do
próprio self (FREUD, 1923).
Dos que reduziram a agressividade, 62,5% ingressaram na zona de
normalidade e 37,5%, mesmo sem ingressar nessa zona, apresentaram redução na
freqüência de resposta ou intensidade do desvio.
Esses resultados, vistos como altamente positivos em função dos
benefícios pessoal e institucional imediatos, tamm estão articulados a diversos
modelos teóricos explicativos:
- a agressividade reacional estaria elevada por conta das características
próprias do indivíduo aliadas às pressões exercidas pelo trabalho policial e pelo
envolvimento em ocorrência grave (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975);
- o programa de apoio, nesse caso, não teria sido percebido como
intromissão ambiental a gerar reação agressiva (WINNICOTT, 2000);
- não sendo visto como fator de frustração em relação ao trabalho
(DEJOURS, 1988), o instinto agressivo não teria sido despertado (RIVIERE, 1975) e
nem mesmo teria sido estimulada a ansiedade que o acentuaria (KLEIN, 1970);
- a existência de defesas caracterológicas do tipo sublimado (FENICHEL,
1981) teria permitido que as atividades sociais existentes no programa funcionassem
como válvula de escape para a agressividade (FREUD, 1923) e que os vínculos
emocionais que nele se formaram ou que, por seu intermédio, foram ampliados ou
resgatados, pudessem fortalecer o instinto de vida, enfraquecendo o instinto
agressivo (FREUD, 1930).
Dos que permaneceram com a agressividade inalterada, 83% estavam
inicialmente e depois se mantiveram no segundo desvio-padrão e 17% alcançaram e
permaneceram no terceiro desvio-padrão, sendo que, em 100% dos casos, a
freqüência de resposta foi de até 02 traçados, indicando agressividade oscilante ou
eventual. Esse fato é especialmente importante porque, de alguma forma, remete à
impossibilidade de o programa promover a mudança psíquica necessária à redução
da agressividade. Alguns modelos teóricos explicativos tamm podem ser
utilizados:
- a agressividade já estaria presente ao início do programa, em função das
características de personalidade, bem como da reação à pressão exercida pelo
trabalho (DEJOURS, 1988) ou pela ocorrência grave (RIVIERE, 1975).
134
- o programa teria sido percebido como uma tentativa mal-sucedida de
intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000), rechaçada por defesas mais
cristalizadas;
- essas defesas estariam organizadas como defesas caracterológicas de
índole reativa com atitudes de evitação, como forma de preservar a auto-estima e
impedir a expansão do instinto agressivo, na linha proposta por Fenichel (1981), ou
até mesmo, estruturadas em forma de organizações defensivas, cuja finalidade seria
neutralizar impulsos destrutivos e permitir relativo equilíbrio psíquico (STEINER,
1986). A qualquer dessas possibilidades, estariam associadas as estratégias
defensivas, utilizadas coletivamente como forma de proteção contra as pressões
exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988);
- inexistindo frustração ou ansiedade, em razão das defesas existentes
que promovem resistência passiva ao programa, não haveria motivo para que o
instinto agressivo fosse acentuado (KLEIN, 1970);
- pela atuação das defesas, o sentido de domínio sobre a situação estaria
assegurado, sem necessidade de qualquer contestação (ADLER, 1957), operando o
indivíduo com o objetivo de conseguir a superação da intromissão ambiental
representada pelo programa (FRIEDMAN e SCHUSTACK, 2004).
Já os que permaneceram com a agressividade estável oscilaram apenas
dentro da zona de normalidade, podendo esse fato ser explicado a partir da seguinte
base teórica:
- o programa não teria despertado resposta agressiva por não ter
funcionado como intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000; RIVIERE, 1975);
- bem ao contrário, teria facilitado novos vínculos emocionais, fortalecendo
o instinto de vida (FREUD, 1930);
- não haveria, portanto, defesas rigidamente estruturadas no plano
individual (FENICHEL, 1981) ou estratégias defensivas coletivamente organizadas
(DEJOURS, 1988).
Finalmente, dentre os que apresentaram agressividade instável, é
imperioso destacar que 100% deles, no segundo exame, ou inverteram totalmente
ou modificaram parcialmente o sentido da agressividade. Assim, 59% passaram de
auto para hétero, 17% fizeram o movimento inverso e 24% modificaram
parcialmente o sentido. O modelo teórico para explicar esse fenômeno pode ser
expresso da seguinte maneira:
135
- a agressividade já estaria presente ao início do programa, por força das
características individuais, das pressões exercidas pelo trabalho (DEJOURS, 1988)
e pelo envolvimento em ocorrência grave (RIVIERE, 1975);
- o programa de apoio teria sido percebido como intromissão ambiental
com forte teor de pressão, gerando respostas agressivas, na forma proposta por
Winnicott (2000) e Riviere (1975), que foram acentuadas pela ansiedade gerada por
essa intromissão (KLEIN, 1970);
- para aqueles que inverteram o sentido da agressividade de auto para
hétero, haveria prevalência das defesas caracterológicas de índole reativa,
objetivando a preservação da auto-estima (FENICHEL, 1981), e a agressividade
seria dirigida para o exterior como forma de defesa do próprio self (FREUD, 1923);
- para aqueles que fizeram o movimento contrário, a intromissão ambiental
representada pelo programa teria gerado culpa por dano supostamente causado a
outro (WINNICOTT, 2000) e provocado o redirecionamento da agressividade contra
o próprio eu.
Além dos modelos explicativos para cada categoria de resposta agressiva
reacional, merece destaque, também, a linha teórica proposta por Joseph (1992)
sobre mudança psíquica. Ao analisar-se a modificação das respostas individuais,
verifica-se que o programa conseguiu promover mudança psíquica na grande
maioria dos policiais que o freqüentaram, mesmo que essas mudanças tenham
provocado, em um primeiro momento, a ampliação ou a instabilização da
agressividade, pois, segundo a autora, a mudança psíquica está sempre ligada a
pequenos movimentos (shifts) do indivíduo na direção de uma maior
responsabilidade pelos próprios impulsos; na direção da emergência de sentimentos
de consideração e de culpa ou na direção da percepção do que está ocorrendo,
enfrentando a ansiedade decorrente. Contudo, os movimentos podem tamm
ocorrer na direção inversa a isso tudo.
Pelos fundamentos teóricos defendidos pela autora, mesmo um programa
de apoio de curta duração é capaz de promover alguma mudança, reafirmando o
pensamento de Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é
suficiente para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o
indivíduo para a realidade de sua vida mental.
No entanto, em função da natureza do trabalho exercido pelo grupo
estudado, que envolve o direito à vida, à integridade física e à dignidade das
136
pessoas, é fundamental a redução imediata dos níveis de agressividade e sua
estabilização, até porque se trata de agressividade reacional. Fosse só considerado
o aspecto pessoal ligado à saúde mental do policial, o programa, funcionando como
local de acolhimento (holding) e terapia poderia facilitar o processo de busca e
integração do verdadeiro self.
4) Perfil por categoria de resposta agressiva reacional:
De uma forma geral, o perfil definido descritivamente para as cinco
categorias de resposta não diferiu significativamente. Em todas elas, a
predominância foi de policiais do sexo masculino, casados, com nível hierárquico de
cabo ou soldado e nível de escolaridade correspondente ao ensino médio. Algumas
diferenças foram notadas nos locais de trabalho e residência, no entanto, as mais
expressivas foram as ligadas à idade, ao tempo de serviço e à taxa anual de
ocorrências.
Observe-se que, nas categorias ampliada, estável ou reduzida, as
medianas com relação à idade – 33; 32 e 30 anos, respectivamente – ficaram muito
próximas da mediana de toda a amostra, que foi de 32 anos. Já nas categorias
inalterada e instável, as medianas – 37 e 28 anos, respectivamente – afastaram-se
consideravelmente daquela encontrada para todo o grupo.
O mesmo fenômeno pôde ser observado com relação ao tempo de
serviço, em que as categorias ampliada, estável e reduzida apresentaram medianas
próximas entre si – 9,5 anos; 09 anos e 09 anos, respectivamente – e também muito
próximas da verificada para toda a amostra. A categoria inalterada apresentou
mediana bem mais alta – 15,5 anos – e a instável apresentou-a bem mais baixa –
3,5 anos.
Já com relação à taxa anual de ocorrências, merece destaque a relação
inversa dessa taxa com o tempo de serviço, para as categorias inalterada e instável.
A primeira, com 15,5 anos para o tempo de serviço, apresentou mediana de 0,1000
para taxa de ocorrências. A segunda, com 3,5 anos para o tempo de serviço,
apresentou mediana de 0,3300 para a taxa de ocorrências. Comportamento
semelhante apresentaram as categorias ampliada e reduzida. A exceção foi a
categoria estável, em que a taxa de ocorrências não obedeceu a essa lógica, com
medianas de 09 anos para o tempo de serviço e 0,2500 para a taxa de ocorrências.
137
Do ponto de vista inferencial, as variáveis contínuas idade, tempo de
serviço e taxa anual de ocorrências foram importantes para dar significado
estatístico às diferenças encontradas descritivamente entre as diversas categorias
de resposta. Assim, para a variável idade, observado o nível de significância de
10%, são consideradas diferentes no presente estudo as seguintes categorias:
- ampliada e reduzida: 0,06;
- ampliada e instável: 0,03;
- reduzida e inalterada: <0,01;
- inalterada e estável: 0,08;
- inalterada e instável: <0,01.
Para a variável tempo de serviço, observado o mesmo nível de
significância, são consideradas diferentes as seguintes categorias:
- ampliada e instável: <0,01;
- reduzida e inalterada: <0,01;
- reduzida e instável: <0,01;
- inalterada e estável: 0,07;
- inalterada e instável: <0,01;
- estável e instável: <0,01.
Já para a variável taxa anual de ocorrências, ainda observado o nível de
significância anterior, são consideradas diferentes as seguintes categorias:
- ampliada e instável: 0,01;
- reduzida e instável: 0,03;
- inalterada e estável: 0,03;
- inalterada e instável: 0,01
Observe-se que a categoria agressividade inalterada, no que diz respeito à
idade, só não apresenta diferença estatística da categoria agressividade ampliada.
Esse quadro permite afirmar que, em função da idade, é possível estimar quem
poderá apresentar, após o programa, resposta agressiva reacional inalterada, ou,
138
eventualmente, ampliada. Essas mesmas diferenças são observadas nessa
categoria com relação à variável tempo de serviço.
Por seu turno, a categoria agressividade instável, no que se refere ao
tempo de serviço, apresenta diferença estatisticamente significativa de todas as
outras categorias, permitindo estimar quem, em função do tempo de serviço, poderá
apresentar após o programa resposta agressiva reacional instável.
O gráfico de boxplot do tempo de serviço para cada categoria de oscilação
de resposta (Figura 22) realça bem as diferenças relatadas. Nesse gráfico, o
primeiro quartil da categoria ampliada aparece bem acima das medianas das demais
categorias, enquanto o terceiro quartil da categoria instável aparece bem abaixo das
medianas de todas as outras categorias.
No campo das variáveis categóricas, ainda mantendo a significância em
10%, verifica-se que o nível hierárquico, com nível de significância de 0,0836, é a
única variável a influenciar a oscilação de resposta.
Observando a Figura 20, pode-se notar que, embora do ponto de vista
absoluto o nível hierárquico de soldado ou cabo tenha predominado em todas as
categorias de resposta, proporcionalmente, esse nível é o que mais reduz a resposta
agressiva e o único que a instabiliza. Já o nível hierárquico de sargento ou oficial é o
que mais a amplia e o que mais a mantém estável ou inalterada.
Associando as diferenças encontradas entre as variáveis idade, tempo de
serviço e nível hierárquico, é possível compor o perfil daqueles cujo prognóstico de
modificação da resposta agressiva reacional, após a intervenção por meio do
programa de apoio, não seja o desejado, do ponto de vista da saúde mental
individual e enquanto objetivo institucional, fato que será analisado na parte final
desta discussão.
2. Discussão do estudo clínico
1) Síntese dos resultados:
Os dados apurados permitiram a elaboração de síntese de cada caso, em
que se procurou comparar os resultados dos diversos testes, buscando a definição
de um perfil específico para cada categoria de resposta agressiva reacional,
ressalvado o fato de que, diferentemente do PMK e do Teste Palográfico, que
139
utilizam a técnica expressiva, o CPS utiliza técnica inventariante, baseada no
método da auto-descrição para identificação dos principais fatores de constituição do
indivíduo. Assim, para reduzir inconsistências, o teste foi utilizado de forma
complementar e comparado apenas com as características mais conscientes
(reacionais) apresentadas pelo PMK.
a) Caso nº. 1 – Agressividade Ampliada:
Trata-se de participante do programa de apoio, com 34 anos de idade e 08
anos de serviço policial, que relata bom vínculo familiar atual, adequada adaptação
ao trabalho, inexistência de problemas de saúde ou financeiros e alguma dificuldade
no relacionamento com o grupo familiar de origem, em especial, com os irmãos.
Possui, em seu histórico, 03 ocorrências de enfrentamento armado.
A segunda aplicação do PMK, além da ampliação da hétero-agressividade
estrutural e reacional, revelou redução na intratensão reacional e manutenção da
intratensão estrutural. Revelou, ainda, emotividade intensamente reduzida no plano
estrutural.
O Teste Palográfico não apresentou dados significativos que pudessem
confirmar as tendências apresentadas no PMK, inclusive quanto à agressividade.
Deve-se salientar, contudo, o rendimento abaixo da média no trabalho e a tendência
à rigidez em qualquer atividade, apontados pelo teste.
O CPS apresentou todos os fatores de personalidade em faixas altas
(elevada/extrema) que parecem acompanhar apenas em parte as tendências
reacionais apuradas pelo PMK. Assim, a instabilidade emocional elevada e a
inconformidade social extrema acompanharam a tendência à hétero-agressividade
acentuada, mas a atividade elevada e a extroversão extrema não acompanharam o
tônus psicomotor normal e a normotensão, respectivamente.
Em síntese, a característica de reagir ao programa de apoio com
ampliação da agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade
aparentemente bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade
de contato emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da
média no trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e
inconformidade social no plano mais consciente. Nessa situação, o programa foi
percebido como intromissão ambiental que reavivou experiências anteriores
140
(WINNICOTT, 2000) e reacendeu algum sentimento de perda decorrente de
frustração em razão das pressões do trabalho (DEJOURS, 1998), contra a qual o
sujeito reagiu com expansão de sua agressividade em direção ao ambiente
(RIVIERE, 1975; FENICHEL, 1981; FREUD, 1923).
b) Caso nº. 2 – Agressividade Reduzida:
Trata-se de participante do programa de apoio, com 30 anos de idade e 07
anos de serviço policial, que relata dificuldades afetivas em função de
relacionamento conjugal desgastado e instável. Descreve, tamm, problemas em
relação ao sono, irritabilidade e exagerada auto-exigência nos campos pessoal e
profissional. Considera-se bem adaptado ao trabalho e com disposição para superar
as dificuldades que vem encontrando. Possui, em seu histórico profissional, 04
ocorrências de enfrentamento armado.
O segundo PMK apresentou, além da redução da auto-agressividade
reacional, redução da intratensão estrutural e aumento da extratensão reacional.
Apresentou, ainda, emotividade escassa e inibição no plano estrutural.
O Teste Palográfico indicou rendimento normal no trabalho com ritmo
adequado. A introversão apontada pelo instrumento acompanhou a intratensão
estrutural, não havendo, contudo, sinais de agressividade.
O CPS revelou a presença de extroversão acentuada, acompanhando a
tendência à extratensão reacional do PMK. Revelou, ainda, estabilidade emocional e
inconformidade social elevadas, além de extrema falta de compulsão, fatores que,
no entanto, não foram identificados nos outros instrumentos ou na própria história
pessoal recente.
Em suma, a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a
agressividade reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de
relacionamento, principalmente no campo familiar, e a caractesticas de
personalidade que incluem dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo-
emotividade no plano profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato
em termos mais conscientes. Nesse caso, o programa não foi percebido como
intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) a gerar frustração por pressão do
trabalho e conseqüente resposta agressiva (DEJOURS, 1988; RIVIERE, 1975), mas
como ambiente de acolhimento cujas atividades funcionaram como válvula de
141
escape para a agressividade (FREUD, 1923) que permitiu o estabelecimento de
novos vínculos de que tanto o sujeito necessitava (FREUD, 1930).
c) Caso nº. 3 – Agressividade Inalterada:
Trata-se de participante do programa de apoio, com 35 anos de idade e 16
anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar,
sem problemas pessoais de ordem médica ou financeira e bem adaptado ao
trabalho, com desmotivação circunstancial em razão da freqüência ao programa.
Possui, em seu histórico profissional, 02 ocorrências de enfrentamento armado.
Os resultados do segundo PMK apresentaram, além da manutenção da
hétero-agressividade estrutural e reacional, aumento da inibição estrutural.
Revelaram, ainda, intratensão estrutural e escassa emotividade nos dois planos.
O Teste Palográfico indicou capacidade normal para o trabalho que tende
a ser sempre executado com regularidade. Não apareceram sinais indicadores de
agressividade, mas o teste revelou falta de necessidade de contato social e afetivo,
corroborando a intratensão estrutural encontrada no PMK, e ainda tendência à
combatividade e ao idealismo, até com certo grau de ambição e arrogância, além de
dificuldade no relacionamento com autoridades.
O CPS revelou falta de compulsão, inconformidade social e instabilidade
emocional em grau elevado, podendo, as duas últimas, estar relacionadas à
agressividade reacional encontrada no PMK.
Em resumo, a resistência ao programa de apoio, representada pela
manutenção da agressividade reacional elevada, não encontra sustentação na
história pessoal apresentada, mas está relacionada a uma personalidade com
dificuldades evidentes de contato emocional com o ambiente e escassa emotividade.
Também podem estar tendo influência nesse processo as características de
combatividade, idealismo e dificuldades no relacionamento com autoridades e
aspectos mais conscientes ligados à instabilidade emocional e inconformidade
social, assim como a idade e o tempo de serviço. Dessa forma, o programa foi
percebido como tentativa de intromissão ambiental (WINNICOTT, 2000) que não
obteve êxito em função das defesas mais consolidadas presentes, de cunho
caracterológico (FENICHEL, 1981) ou até mesmo estruturadas em organizações
defensivas (STEINER, 1986). A qualquer dos casos, podem estar associadas
142
estratégias defensivas coletivamente organizadas (DEJOURS, 1988) tamm
relacionadas à idade e tempo de serviço.
d) Caso nº. 4 – Agressividade Estável:
Trata-se de participante do programa de apoio, com 32 anos de idade e 04
anos de serviço policial, que relata estar bem ajustado do ponto de vista familiar,
bem adaptado ao trabalho que executa e sem problemas de ordem médica ou
financeira, apresentando, no entanto, quadro de ansiedade decorrente do
enfrentamento de que participou. Possui, em seu histórico profissional, uma única
ocorrência de enfrentamento armado.
Os resultados do segundo PMK, além da manutenção da agressividade
reacional dentro da zona de normalidade e redução da inibição estrutural, revelaram
hétero-agressividade e extratensão estrutural, além de intratensão e inibição
reacional.
O Teste Palográfico revelou capacidade para o trabalho acima da média e
adaptação adequada a qualquer atividade. Revelou, tamm, precaução, cautela e
formalidade nas relações interpessoais com atitudes respeitosas. Não ficaram
evidentes sinais de agressividade.
O CPS indicou atitude defensiva elevada e introversão acentuada, que
podem corroborar a intratensão reacional apresentada no PMK. Revelou, ainda,
extrema instabilidade emocional e falta de energia e elevada falta de compulsão,
não confirmadas na história pessoal ou nos outros instrumentos.
Sintetizando, a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a
agressividade reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a
um bom ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece,
tamm, estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura,
necessidade de contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao
formalismo e ao respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em
termos conscientes retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até
inibição. Assim, o programa de apoio não foi percebido como intromissão ambiental
(WINNICOTT, 2000), mas sim como ambiente que lhe deu acolhimento em razão da
ansiedade provocada pelo evento e permitiu a construção de novos vínculos
143
emocionais (FREUD, 1930), apesar de suas características reacionais de
intratensão e inibição.
e) Caso nº. 5 – Agressividade Instável:
Trata-se de participante do programa de apoio, com 28 anos de idade e 02
anos de serviço policial, que relata ter bom vínculo com o grupo familiar atual, mas
que apresenta dificuldades no relacionamento com o grupo familiar de origem,
especialmente com o pai. Nega problemas de saúde ou financeiros e considera-se
bem adaptado ao trabalho que executa, apresentando, contudo, situação conflituosa
evidente com relação à figura paterna. Tem, em seu histórico profissional, uma única
ocorrência de enfrentamento armado.
Os resultados do segundo PMK, além da inversão no sentido da
agressividade, revelaram instabilidade da reação vivencial no plano reacional,
acompanhada de intratensão estrutural, além de tônus aumentado nos dois planos e
rigidez estrutural.
O Teste Palográfico indicou capacidade para o trabalho abaixo da média,
com tendência à rigidez na sua execução. Revelou, tamm, tendência à
extroversão. Não apareceram no teste sinais de agressividade.
O CPS revelou atitude defensiva elevada, além de falta de compulsão,
inconformidade social, falta de energia e instabilidade emocional extremas. Revelou,
ainda, elevada sensibilidade.
Em síntese, a inversão do sentido da agressividade reacional, após o
programa de apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade
instável, que apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser
equilibrada com reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas.
Além da idade e do tempo de serviço, esse quadro pode, também, estar associado
ao conflito identificado com a figura paterna, funcionando o programa como
representação simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até
porque ela já faz parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de
superego, representada pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez
estrutural encontrada no PMK. Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo
(FENICHEL, 1981), o sujeito transformou a auto-agressividade em hétero-
agressividade como forma de proteger o próprio self (FREUD, 1923).
144
3. Discussão final
Analisando-se os resultados da modificação da resposta agressiva
reacional após o programa, verifica-se que as categorias agressividade reduzida,
com 31%, e agressividade estável, com 19%, representaram, em conjunto, 50% da
amostra, estando os outros 50% divididos entre as categorias agressividade
ampliada, com 18%, agressividade inalterada, com 16%, e agressividade instável,
tamm com 16%.
Esses dados, que caracterizam de forma ampla os efeitos do programa de
apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves,
permitem concluir que, do ponto de vista exclusivo da saúde mental do policial, o
programa está apresentando resultados satisfatórios, pois mesmo aqueles que
ampliaram ou instabilizaram a agressividade sinalizaram algum grau de mudança
psíquica, dentro da linha teórica sustentada por Joseph (1992) de que a mudança
psíquica ocorre por meio de pequenos movimentos (shifts) e de que, portanto, a
ampliação ou instabilização da agressividade representam resposta inicial à
intervenção feita, mas que abrem caminho a mudanças mais consistentes, na forma
proposta por Winnicott (1984) de que, por vezes, uma única entrevista é suficiente
para alcançar certo grau de mudança psíquica, pois pode despertar o indivíduo para
a realidade de sua vida mental. A preocupação, dentro desse modelo, seria apenas
com aqueles que mantiveram a agressividade inalterada, por ser sugestiva da
existência de defesas mais cristalizadas.
Contudo, em razão do risco envolvido na atividade policial; da exigência
de atuação abrangente e multifacetária do profissional de segurança pública,
decorrente de carências sociais múltiplas; da conseqüente necessidade de utilização
de sua agressividade como força propulsora necessária para que se imponha como
representante da autoridade do Estado; e, ainda, em razão dos pressupostos
básicos de atuação da instituição policial, que são o respeito à vida, à integridade
física e à dignidade das pessoas, é fundamental que o programa tamm realize o
controle da agressividade individual, como forma de reduzir a possibilidade de a
agressividade presente no trabalho policial ultrapassar os limites da legalidade e se
transformar em violência, ou seja, em atos agressivos praticados com intensidade,
lesividade e destrutividade (COSTA, 1986; SÁ, 1999).
145
Nessa linha, os resultados dos estudos quantitativo e qualitativo
demonstraram que é possível, através da associação das variáveis idade, tempo de
serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de quais policiais permanecerão com
a agressividade inalterada ou instável após a execução do programa de apoio. As
demais variáveis, por não apresentarem diferenças estatisticamente significativas
entre as categorias de resposta, têm relativo valor preditivo.
Assim, para aqueles com idade entre 34 e 38 anos, tempo de serviço
superior a 11 anos e nível hierárquico de sargento ou oficial, perfil típico dos que
mantêm a agressividade inalterada, há necessidade de se estudar alguma forma de
intervenção alternativa, que promova a mudança psíquica necessária ao bem-estar
individual e ao controle da violência policial. O mesmo cuidado deve ser adotado
para aqueles com idade entre 25 e 30 anos, tempo de serviço de até 05 anos e nível
hierárquico de soldado ou cabo, por ser esse o perfil daqueles que apresentaram
resposta agressiva reacional instável.
Em todos os casos, é, ainda, aconselhável o aprofundamento da avalião
inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas projetivas.
Essa avaliação aprofundada, associada às variáveis de interesse identificadas,
permitirá definir, em cada situação e com maior precisão, o modelo mais adequado
de intervenção.
146
V – CONCLUSÃO
O presente trabalho teve por finalidade estudar os efeitos de programa de
apoio na agressividade reacional de policiais envolvidos em ocorrências graves, por
meio de pesquisa quantitativa e qualitativa.
Do ponto de vista quantitativo, foram estudados 77 policiais que passaram
pelo programa de apoio entre os meses julho e outubro de 2005. A caracterização
sócio-demográfica da amostra indicou que o grupo foi composto,
predominantemente, por policiais do sexo masculino, com nível de escolaridade
correspondente ao ensino médio e com nível hierárquico de soldado ou cabo.
A faixa etária foi a compreendida entre 26 e 40 anos e o tempo de serviço
variou entre 01 e 15 anos. Os locais predominantes de trabalho e residência foram a
Grande São Paulo e a Zona Leste da Capital. O número de ocorrências de
enfrentamento armado variou entre 01 e 03 para a maioria absoluta do grupo.
No tocante à agressividade reacional do grupo, aferida pelo
Psicodiagnóstico Miocinético, constatou-se que, após o programa, houve um
aumento de freqüência dentro da zona de normalidade e conseqüente diminuição no
segundo e no terceiro desvio-padrão.
Com relação à modificação da resposta agressiva reacional, os resultados
demonstraram que a resposta reduzida foi a de maior freqüência (31%), seguindo-se
a estável (19%), ampliada (18%), inalterada (16%) e instável (16%). O estudo
procurou especificar os diferentes modelos teóricos explicativos de cada uma
dessas categorias.
O perfil definido descritivamente para as cinco categorias de resposta não
diferiu significativamente e, basicamente, reproduziu aquele definido para toda a
amostra. As exceções foram as variáveis idade, tempo de serviço e taxa anual de
ocorrências que apresentaram diferenças mais expressivas. Nas categorias de
resposta inalterada e instável, as diferenças de idade e tempo de serviço foram mais
vigorosas, com idade na faixa compreendida entre 34 e 38 anos e tempo de serviço
entre 11 e 17 anos para a primeira, e idade entre 25 e 33 anos e tempo de serviço
entre 03 e 5,5 anos para a segunda.
A parte qualitativa do trabalho envolveu o estudo clínico de um sujeito por
categoria de resposta, utilizando, além do Psicodiagnóstico Miocinético, o Teste
147
Palográfico, a Escala de Personalidade de Comrey e os dados levantados por meio
da ficha de cadastro e de entrevista.
Para a categoria de resposta ampliada, os resultados demonstraram, em
síntese, que a característica de reagir ao programa de apoio com ampliação da
agressividade reacional pode estar associada a uma personalidade aparentemente
bem ajustada, mas que revela, em sua estrutura, intensa dificuldade de contato
emocional com o ambiente, emotividade escassa, rendimento abaixo da média no
trabalho, com tendência à rigidez, além de instabilidade emocional e inconformidade
social no plano mais consciente.
Os resultados apurados na categoria reduzida demonstraram, em síntese,
que a característica de reagir ao programa de apoio, reduzindo a agressividade
reacional, pode estar relacionada a problemas objetivos de relacionamento,
principalmente no campo familiar, e a características de personalidade que incluem
dificuldades de contato emocional, com inibição e hipo-emotividade no plano
profundo, mas com intensa necessidade desse tipo de contato em termos mais
conscientes.
Na categoria inalterada, os resultados, em resumo, indicaram que a
resistência ao programa de apoio, representada pela manutenção da agressividade
reacional elevada, não encontra sustentação na história pessoal apresentada, mas
está relacionada a uma personalidade com dificuldades evidentes de contato
emocional com o ambiente e escassa emotividade. Tamm podem estar tendo
influência nesse processo as características de combatividade, idealismo e
dificuldades no relacionamento com autoridades e aspectos mais conscientes
ligados à instabilidade emocional e inconformidade social, assim como a idade e o
tempo de serviço.
Já para a resposta estável os resultados mostraram, de forma sintética,
que a característica de reagir ao programa de apoio, mantendo a agressividade
reacional dentro da zona de normalidade, parece estar associada a um bom
ajustamento familiar e a uma adequada adaptação ao trabalho. Parece, tamm,
estar relacionada a uma personalidade que tem, em sua estrutura, necessidade de
contato emocional mais ativo e, ao mesmo tempo, tendência ao formalismo e ao
respeito nos relacionamentos. Por conta disso, apresenta em termos conscientes
retração desse contato, falta de expansividade afetiva e até inibição.
148
Finalmente, para a resposta instável, os resultados evidenciaram, em
síntese, que a inversão do sentido da agressividade reacional, após o programa de
apoio, pode estar relacionada a uma estrutura de personalidade instável, que
apresenta labilidade na expansão da afetividade e que precisa ser equilibrada com
reações de fechamento ao contato emocional e atitudes defensivas. Além da idade e
do tempo de serviço, esse quadro pode, tamm, estar associado ao conflito
identificado com a figura paterna, funcionando o programa como representação
simbólica de uma autoridade que o sujeito deseja contestar, até porque ela já faz
parte de seu mundo interno e é responsável pela rigidez de superego, representada
pela auto-agressividade inicial e pela própria rigidez estrutural encontrada no PMK.
Utilizando defesa caracterológica do tipo reativo, o sujeito transformou a auto-
agressividade em hétero-agressividade como forma de proteger o próprio self.
Levando em conta os resultados das duas partes do estudo e as
características do programa que objetiva não só a busca de equilíbrio emocional
individual, mas tamm o controle da agressividade para que ela não se transforme
em violência policial, a pesquisa demonstrou que é possível, por meio da associação
das variáveis idade, tempo de serviço e nível hierárquico, fazer o prognóstico de
quais policiais permanecerão com a agressividade inalterada ou instável após a
execução do programa de apoio.
Os dados indicaram, também, que é aconselhável o aprofundamento da
avaliação inicial, com a utilização do Psicodiagnóstico Miocinético e de técnicas
projetivas, a fim de definir com maior precisão o modelo mais adequado de
intervenção.
Para pesquisa futura, ficam registradas as seguintes sugestões de
estudo:
1. Avaliação da agressividade reacional de policiais com idade baixa e
pouco tempo de serviço e de policiais com idade mais avançada e maior tempo de
serviço, em dois tempos, com intervalo mínimo de dois meses, independentemente
de participação em confronto armado ou em programa de apoio;
2. Estudo longitudinal da agressividade reacional de policiais envolvidos
em ocorrências graves e que participaram de programa de apoio;
3. Estudo da correlação entre a agressividade medida por meio do
Psicodiagnóstico Miocinético e a agressividade apurada por intermédio do Teste
Palográfico em grupo de policiais.
149
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O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
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O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
Militar. Nota de instrução nº. CPM - 007/3/95: 1995. São Paulo, 1995.
O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
Militar. Ordem complementar nº. CPM - 007/3/95: 1995. São Paulo, 1995.
O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
Militar. Ordem complementar nº. CPM - 010/3/95: 1995. São Paulo, 1995.
O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
Militar. Ordem complementar nº. CPM - 013/3/95: 1995. São Paulo, 1995.
O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
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O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
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O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
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O PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Segurança Pública. Polícia
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156
ANEXOS
S I SC NH NE TS LR LT OC TAO DPSLL-1
1 1 46 1 1 1 25 4 4 1 0.04 -2
2 1 40 3 2 1 12 4 4 1 0,08 0
3127211666610
4 1 35 1 3 2 17 4 4 1 0,05 -4
5 1 40 4 2 2 18 6 6 8 0,44 -4
612121126310,50
713121127310,51
813011186640,50
912841136510,33 3
1013611254410,2-1
1112911196610,11 0
12 1 44 1 2 1 24 2 1 2 0,08 8
13 1 37 1 1 1 17 7 6 1 0,06 3
1422921174410,14 2
15 1 40 1 1 1 18 6 6 4 0,22 -5
16 1 44 1 1 1 23 6 6 1 0,04 4
17 1 35 1 1 1 15 6 6 1 0,06 0
1812811152310,2-10
1912741196660,66 0
20 1 38 1 1 1 15 4 4 7 0,46 2
2112341126510,50
2212621236310,33 -1
2313331134410,33 0
2412721245510,25 3
2512421147351,25 -6
26 1 36 3 2 1 16 7 5 1 0,06 0
2712611157620,42
2812911284110,12 0
2913011192410,11 1
3023021294410,11 -1
31 1 35 1 1 3 12 4 4 1 0,08 -4
3213211242210,25 1
33 1 37 1 2 1 18 6 5 2 0,11 4
3412811126610,52
35 1 39 4 1 3 15 6 6 2 0,13 -6
3612321126510,5-4
3712321137210,33 0
3812721137510,33 -2
39 1 33 2 2 1 13 7 5 1 0,07 -4
40 1 43 4 2 1 17 4 3 1 0,05 0
4112921183610,12 -3
42 1 40 1 1 3 21 4 6 2 0,09 -1
4313411183330,37 -4
44 1 42 1 1 3 20 4 3 1 0,05 -3
4513311346120,5-4
46 1 30 1 2 1 11 4 6 2 0,18 4
4712841284640,5-4
4812721156610,26
4912411116311-5
5013411164410,16 8
51 1 38 4 1 1 10 6 6 1 0,1 4
52 1 31 3 1 1 12 6 5 5 0,41 -6
5313241376640,57 0
54 1 33 1 1 1 12 6 6 2 0,16 0
55 1 46 2 2 1 24 5 5 1 0,04 2
5613121244210,25 3
57 1 31 1 2 1 11 6 6 4 0,36 1
58 1 32 4 1 3 13 3 1 1 0,07 0
5913141172110,14 2
6013011192210,11 -5
61 1 35 1 2 1 16 6 1 2 0,12 5
62 1 37 1 1 1 14 6 4 1 0,07 3
6313411184340,54
6412411154410,22
65 1 46 3 2 1 25 4 6 1 0,04 -2
6612721136410,33 -1
6712941183320,25 0
6813241153310,2-3
69 1 41 1 1 1 20 6 6 3 0,15 -4
7013111196210,11 -6
7112931196640,44 -3
7213011186650,62 1
73 1 36 1 2 2 16 2 5 4 0,25 -3
74 1 38 3 1 1 18 6 6 3 0,16 3
7513411266610,16 -2
7612441136610,33 -2
77 1 38 1 2 2 17 3 3 1 0,05 -3
32,5974 10,16883 1,974026 0,273684
6,035552 6,493727 1,638147 0,23631
DSHLL-1 DPSZZ-1 DPSCC-1 DPSPP-1 DPSUU-1 DPSLL-2 DSHLL-2 DPSZZ-2 DPSCC-2 DPSPP-2 DPSUU-2
1-39-4-413051-3-2
2181-10-40634-3
33121-302020-1
4 -4 1 0 -6-2-1-6 2 0 -8 1
50-6-6-51000-8-5-1
6104-1200-24-25
7-413-49420419
8 -1-5-4 2 1 -4-1-1-4-1-3
9 10 7 2 -2 -2 0 4 4 -3 -7 3
10 0 -4 -10 99 2 -1 0 2 -6 99 3
1107-74-2002-220
12 11 0 -3 -1 3 9 12 0 1 -1 0
1360399064-52991
14051612554486
151-6304820101
16 0 0 4 -4 0 4 -4 -1 4 0 3
17 1 -4 -3 99 -3 0 -1 -2 0 99 -3
18 -4 -4 -4 -3 -2 -6 -2 -1 -5 -3 0
190-310400-3-300
2003731627034
210-5321620441
22 -1 -5 3 -3 -3 0 0 -3 7 -3 1
23003049409956
240 -4-2-5-1 2 0 -5 0 -5-2
25 -5 -2 -5 -1 -2 -3 0 2 -4 -6 0
26 0 -2 2 -3 0 -2 2 -2 -1 -2 3
2747-245-2-13121
280 1 0 -1-3 1 -4-5-6-5-1
292810-3-300030
30 -1 -9 0 99 0 -1 -3 -6 -6 99 0
31-24-799-20020-3-1
3200-3313000-21
33 1 -2 1 99 1 0 0 -1 0 3 4
34-1-5330472013
35 -5 -2 99 -3 1 -5 -8 -6 0 -6 -4
36 0 0 -3 7 -7 -6 0 4 -1 3 -2
370-7-115-30 0-3-55 0
38 1 6 -1 3 -2 -7 0 -1 4 5 -2
39-1701040-20-22
40 2 0 -1 -2 -2 -3 0 99 0 -4 -4
41 1 -2 -6 3 3 0 -2 -2 2 -3 2
42 0 1 0 -1 0 12 3 -2 -4 -6 2
4330040730331
44 -2 -4 -2 -7 -6 -4 -6 -5 -4 -6 -7
450-3-59941320997
46 4 -3 4 -3 2 0 4 -3 3 2 5
470022-20-20-10-2
48555-112270-32
49 -4 -4 -4 -2 -1 -2 -2 -2 -1 -2 -1
500542212354-30
5102551442422
52 -4 -6 -8 -5 -3 0 0 -3 -5 -3 0
53 -1 3 -2 2 6 0 -2 -5 2 2 3
5422247300103
55130996400-3-26
56-3-10-200011-20
5723-4-2-71020-2-3
580-34 2-21 0-45 6 1
59220993101031
60 -1 -4 0 -1 0 -1 4 -2 -4 3 0
6100-2-2111132226
624267332-2162
632231140-10-23
64 -4 4 -3 2 5 -1 -1 7 -5 -1 0
65 -1 -3 -1 -1 2 -6 0 -3 3 -4 1
6600-4-32-604220
6722330-31644-2
680502-20002-2-4
69 1 -5 0 -4 0 0 4 -2 8 1 1
70 -2 6 -5 2 -2 -4 -4 2 2 -2 -2
711-1-21440-10-11
7235-14-610502-5
730-32993300-4-2-3
7405310207321
75 -5 1 4 -1 -3 4 0 0 -4 4 -1
76 -1 -3 1 99 4 -2 0 -3 1 99 -2
778801-3-36601-3
FR-1 IR-1 SR-1 FR-2 IR-2 SR-2 OSC
11511112
21111113
30000004
41121123
52121122
60001111
71511513
81120002
91311125
101521115
111110002
121311511
131111113
142212112
151121115
160000004
170000004
181521122
190000004
201111113
211121115
221121115
230002411
241121123
252121122
260000004
271110002
280002121
291110002
301521122
311120002
320000004
330000004
341121115
351122221
361131125
372251132
381111135
391110002
400000004
411120002
420001331
430001111
441122121
451121115
460001111
470000004
482111112
491120002
501111311
511110002
522121122
531111125
541120002
551111113
560000004
571120002
580001111
590000004
601120002
611311313
621111113
630000004
641111135
650001121
660001121
670001111
681110002
691121115
702150002
710000004
721131133
730000004
741111113
751120002
760000004
771111113
CASO 1: AGRESSIVIDADE AMPLIADA
DADOS DO 1º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D -430040
M.N.D 1 0 -1 3 0 -1
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D -6 2 -5 1 1 1 -2 0 0
M.N.D -5 -8 2 -2 0 -2 -5 -11 -4
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 3 2 -2 0 3
M.N.D 0 -5 0 0 2
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D -2 -2 -3 0 -2
M.N.D 0 0 -2 0 -9
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D -2 -2 -2 -3 -1 -2 -3 -2 -3
M.N.D -2 -5 -7 -6 -6 -5 -9 -7 -7
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D 0 0 -1 0
M.N.D 0 -6 -2 -5
DADOS DO 2º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D 730331
M.N.D 0 -2 0551
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 3 -4 1 -3 0 -3-3-3-1
M.N.D -3 -6 -1 -2 -1 -1 -1 -7 -3
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 2 0 3 -2 1
M.N.D 5 -1 -2 3 2
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D 0 0 0 -1 -2
M.N.D 0 -2 -6 0 -12
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D -30552-1-10-3
M.N.D -5 -2 -3 0 -3 -1 -2 -4 -5
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D -3 1 -2 1
M.N.D -3 -4 0 1
CASO 2: AGRESSIVIDADE REDUZIDA
DADOS DO 1º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D. 0 -1 -5 -4 2 1
M.N.D. -1 0 -6 -4 1 0
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 4 4 -5 -4 6 -1 9 2 6
M.N.D. 4 0 3 -1 3 3 -4 -4 -3
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 2 0 -2 0 1
M.N.D 51343
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D 3 2 -4 -1 -4
M.N.D 3102-4
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D 00-5-1-41310
M.N.D 5 -4 -7 -4 -4 3 -1 2 0
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D. -1 -3 2 5
M.N.D 0 -5 -3 -1
DADOS DO 2º PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D -4 -1 -1 -4 -1 -3
M.N.D -1 -1 -1 -6 -3 -2
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 0 0 0 -2 3 -3 3 -2 5
M.N.D -2 -1 -3 -3 2 -1 -10 0 -2
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 3 -1 5 2 0
M.N.D 24341
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D 0 -1 0 -2 0
M.N.D -4 -2 -2 -8 -2
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D 0 0 -2 0 0 -1 -4 -1 -3
M.N.D 0 -8 -6 -2 -4 1 -1 1 -2
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D 0 -2-1-4
M.N.D -8 -6 -1 2
CASO 3: AGRESSIVIDADE INALTERADA
DADOS DO 1º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D. 5 0 0 -2 -2 11
M.N.D 6 -2 -1 -2 -3 2
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D -10341-11-4-4
M.N.D 4 -2 4 0 -11 -6 -4 -7 -3
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 3 1 99 -3 4
M.N.D 3 -1 -3 0 -2
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D -4 -2 -2 0 -3
M.N.D -11 -4 -2 -4 -2
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D 0 -1 1 1 1 -1 -1 -1 -2
M.N.D 0301-1-2000
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D -1 -3 0 0
M.N.D -3 0 -4 -2
DADOS DO 2º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D 11 3 -2 2 2 6
M.N.D 2 5 -2 -2 -3 3
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 2033-2-1-1-23
M.N.D -1 -4 -2 -2 -7 -4 -1 0 0
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 1 3 99 4 -1
M.N.D 0 4 -5 0 0
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D -2 -3 -1 2 -3
M.N.D -5 -1 0 -2 -6
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D 0 -2 0 0 0 -1 0 0 -1
M.N.D 3 -6 0 -5 0 -1 -2 1 0
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D -3 0 -1 0
M.N.D -4 -1 -3 -3
CASO 4: AGRESSIVIDADE ESTÁVEL
DADOS DO 1º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D 1 0 0 -3 3 1
M.N.D 0 6 -1 -1 -3 3
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 0 0 4 -4 0 0 -2 0 -2
M.N.D 3 8 3 -2 6 2 -2 -1 -4
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D -1 2 -2 -3 4
M.N.D 2 0 -1 -2 2
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D. -2 0 0 -2 0
M.N.D -4 -3 -1 -3 -4
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D. -2 -3 -5 -3 -4 0 -6 -4 -6
M.N.D -4 -4 -2 -4 -6 -4 -3 -3 -5
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D -1 -4 3 -3
M.N.D -2 -6 -2 -1
DADOS DO 2º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D 3000-21
M.N.D 0 2 -1 2 2 5
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 0 0 -2 -2 2 -3 -2 -5 -2
M.N.D 35024-100-1
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 3 0 -3 -2 4
M.N.D 23106
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D 0 0 -2 -1 -1
M.N.D 0 -2 -3 -1 -3
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D -2 -3 -4 -4 -2 -1 -2 1 -5
M.N.D 0 -3 -4 -2 -3 -1 -3 1 -3
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D 0 -3-3-2
M.N.D -3 -4 -3 0
CASO 5: AGRESSIVIDADE INSTÁVEL
DADOS DO 1º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D -1 2 -5 3 3 0
M.N.D 4 2 -3 2 2 3
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 2-11500-6-40
M.N.D -2 -3 -5 1 3 5 -3 4 -3
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 32000
M.N.D 67027
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D -4 -3 -2 -3 0
M.N.D -4 -3 -2 -2 0
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D -2 -3 0 -1 1 -1 -1 -2 -6
M.N.D -2 02000-2-2-3
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D -2 1 0 4
M.N.D -2 4 1 0
DADOS DO 2º. PMK
AGRESS. LLS LLH ZZ CC PP US
M.D. 472013
M.N.D 3 2 -2 4 5 6
R. VIV. LLS LLH ZZEF ZZEP CCEF CCEP PPEF PPEP US
M.D 7232-400-50
M.N.D 510232-108
TÔNUS LLV CI EE CC UV
M.D 11333
M.N.D 55065
EMOT. LLV CI CCAS CCDS UV
M.D -2 -1 -2 -1 0
M.N.D -4 -4 0 -3 -4
EXC.-INIB. MCLLL CL>ZZEF CL>ZZEP CL<ZZEF CL<ZZEP CL>PPEF CL>PPEP CL<PPEF CL<PPEP
M.D -5-12-13004-3
M.N.D 02010-1-20-1
IMP.-RIG. DCLZZEF DCLZZEP DCLPPEF DCLPPEP
M.D 0 1 -5 3
M.N.D 1 0 -2 -4
168
ANEXO F – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO, aceito participar, de forma voluntária, de pesquisa a ser realizada
sobre “A Eficácia de Programa de Apoio na Redução da Agressividade Reacional de
Policiais Envolvidos em Ocorrências Graves”, nas condições abaixo estabelecidas:
1. O pesquisador responsável é ROBERTO ALLEGRETTI, RG
4.524.645 – SSP - SP, da UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP.
2. A presente pesquisa tem por objetivos: a) estudar a eficácia de
programa de apoio na redução da agressividade reacional de policiais envolvidos em
ocorncias graves; b) estudar, qualitativamente, casos em que agressividade
reacional o foi reduzida, após o programa de apoio, ou mesmo tenha aumentado; c)
definir o perfil do profissional que apresenta a agressividade reacional aumentada,
após um evento crítico; d) descrever o funcionamento do programa de apoio.
3. O tema escolhido justifica-se pela relencia social de questões
ligadas à violência, criminalidade e trabalho policial e pela importância do bem estar
físico e mental do profissional de segurança pública.
4. O procedimento a ser observado na pesquisa será o seguinte: o
policial indicado a freqüentar o programa de apoio, após a participação em algum
evento crítico, será submetido a um instrumento denominado “Psicodiagnóstico
Miocinético” (PMK) de Emílio Mira Y Lopez, para aferição de sua agressividade
reacional. Após a participação no programa, o policial será novamente avaliado, por
interdio do mesmo instrumento, comparando-se os resultados. Os resultados das
duas avaliões serão comunicados aos interessados com as devidas explicações e
orientações. Após, os policiais participantes serão divididos em três grupos – os que
tiveram a agressividade reacional reduzida; os que permaneceram no mesmo nível; e
os que tiveram a agressividade reacional aumentada. Serão convidados dois policiais
de cada grupo para aprofundamento da pesquisa, por meio de entrevistas individuais.
As conclusões dessas entrevistas também serão comunicadas aos interessados.
169
5. Não há riscos de qualquer espécie e o desconforto será mínimo –
submissão ao PMK e, para alguns, à algumas entrevistas. Já os benefícios serão
claros, pois permitirá avaliar os resultados do programa e, eventualmente, propor o
seu aprimoramento como forma de preservar a saúde física e mental dos policiais.
6. Durante a execução da pesquisa, os participantes receberão os
esclarecimentos sobre a metodologia e a assistência necessária, em função de
qualquer intercorrência. Há métodos alternativos para alcançar os mesmos resultados
da presente pesquisa (acompanhamento do trabalho, após o programa de apoio, por
exemplo), mas todos mais onerosos do que o proposto.
7. Fica assegurada a liberdade de o convidado se recusar a participar
ou, estando participando, retirar o seu consentimento em qualquer fase da pesquisa,
sem qualquer tipo de penalização ou prejzo.
8. O participante autoriza o pesquisador a publicar os resultados da
pesquisa com a garantia do sigilo que assegure a sua privacidade quanto aos dados
confidenciais levantados.
9. Não existirá ressarcimento de qualquer espécie, por não haver
despesas decorrentes da participação na pesquisa.
10. Caso haja dano de qualquer espécie, especialmente moral, fica
assegurada ao participante a possibilidade de acionamento judicial, para a devida
indenizão.
E, por concordar com o conteúdo, assino o presente termo, em duas
vias de igual teor para um mesmo efeito.
São Paulo,
Nome e Assinatura do Participante
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