Esta valorização do sexo feminino pelo imaginário de Érico Veríssimo, analisada
pela ótica da mímese aristotélica , desloca a história tida como ‘romance’ para a História
entendida como instrumento de controle social, coincidindo com a posição de BACZKO,
quando coloca o imaginário a serviço da razão manipuladora nos conflitos sociais e
políticos da época em uma historiografia romântica.
Outra abordagem que se pode atribuir à valorização do sexo feminino é o caráter
épico na narrativa de Ana Terra, resultante de um conjunto de circunstâncias particulares: a
adaptação do homem ao meio, a interação cultural, a acomodação acidentada das diferentes
camadas sociais, a instintividade da conduta, a rudez de certas figuras femininas, tudo isso
configura um estilo de vida, surpeendido justamente pelo lado de fora, através das formas
grupais de comportamento e condicionamento. Chama-se a atenção para o que aqui se
afirma: não que o romance seja épico, mas possui um fundo épico. Nesse sentido, clareia-
se a apropriação que o autor faz da mímese aristotélica para contar o que o historiador
VELLINHO (1974), no texto Conquista e povoamento do Rio Grande do Sul afirmou:
As tensões de uma fronteira duramente controvertidas, em constante estado
de guerra, mais a rudeza primitiva da campeiragem, explicam as transformações
responsáveis pela cunhagem do padrão social que vingou no Rio Grande sob o
designativo regional de gaúcho. ... O Rio Grande do Sul é, desde as raízes até a
construção de sua legenda heróica, fruto de uma laboriosa empresa
exclusivamente luso-brasileira. ... Eis, em rápido balanço, os nosso legítimos
pioneiros, indistintamente portadores da mesma herança cultural, quer por
extração histórica, que por absorção ou contágio, o que quer dizer que aí se acham
compreendidos, além dos descendentes diretos daqueles que durante séculos
tinham vivido e sofrido rijas experiências nas campanhas da Península e nos
mares, mais os elementos que aqui, na surda promiscuidade do mato e da senzala,
foram botando seus flancos (VELLINHO: 1974, pp. 15 / 16).
Outro historiador, que, de igual modo considera as personagens da História
verdadeiros heróis, é Guilhermino CÉSAR (1974) ao apontar “a colonização européia, no
extremo meridional do Brasil, te ve uma idade heróica, sobre a qual muitos já escreveram,
nem sempre com a necessária clareza” (CÉSAR: 1974, p. 25) admite equívocos por parte
de historiadores, que, na ânsia de tornar a História ‘verdadeira’ narram-na, transformando
seus personagens em heróis.
Com base em tudo o que já se refletiu neste estudo, ao cruzar-se o modo de
escrever História de um escritor, apenas ‘contador de histórias’, com a escrita da
historiografia tradicional por um historiador ‘oficial’ enfatiza-se uma preocupação comum,