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fatos”, os jornais, que veiculariam informações deformadas, distorcidas de acordo com
interesses momentâneos.
E assim era. Quase todas as tardes havia bombardeio, do
mar para as fortalezas, e das fortalezas para o mar; e, tanto os
navios como os fortes, saíam incólumes de tão terríveis provas.
Lá vinha uma ocasião, porém, que acertavam, então os
jornais noticiavam: “Ontem, o forte Acadêmico fez um
maravilhoso disparo. Com o canhão tal, meteu uma bala no
‘Guanabara’”. No dia seguinte, o mesmo jornal rectificava, a
pedido da bateria do cais Pharoux que era a que tinha feito o
disparo certeiro. Passavam-se dias e a cousa já estava
esquecida, quando aparecia uma carta de Niterói, reclamando as
honras do tiro para a fortaleza de Santa Cruz. (“Você,
Quaresma, é um visionário”, p. 192)
A parcialidade do ponto de vista dos jornais, evidentemente governistas, aparece
sugestivamente na escolha dos vocábulos usados para veicular a notícia, como
“maravilhoso disparo”; o adjetivo subjetivo, carregado de conotação valorativa,
demonstra o posicionamento dos veículos de informação. O caráter informativo e
imparcial que, teoricamente, a imprensa deveria ter cai por terra quando ela se mostra
uma entusiasta dos atos de guerra, quando, é claro, partem das forças governamentais.
Do ponto de vista da construção narrativa, tanto a constituição do perfil
inadaptado de Policarpo, com suas vestimentas fora de forma (“[....]o major apertando o
talim, sem encontrar jeito, tropeçando na espada venerável que teimava em se lhe meter
entre as pernas curtas.”, p. 194), como o próprio andamento da guerra são construídos
de forma irônica e risível.
E assim sempre. Às vezes eles [curiosos, garotos] chegavam
bem perto à tropa, às trincheiras, atrapalhando o serviço; em
outras, um cidadão qualquer, chegava ao oficial e muito
delicadamente pedia: O senhor dá licença que dê um tiro? O
oficial accedia, os serventes carregavam a peça e o homem fazia
a pontaria e um tiro partia. (“Você, Quaresma, é um visionário”,