1.3 - O INCENTIVO CULTURAL: A SUBSTITUIÇÃO DA TEORIAS RACISTAS
CIENTÍFICAS .
O estudo da Frente Negra Brasileira transcende a análise do movimento negro nos
anos 30. A sua pesquisa e análise exige um retorno ao final do século XIX, às teorias
racistas travestidas de científicas e às péssimas condições de sobrevivência sofridas pelos
ex-escravos e seus descendentes diretos.
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A segunda metade do século XIX, mais especificamente a década de 1870,
representou um momento crucial, no que diz respeito ao problema das relações raciais no
Brasil. Durante esse período, além da desestruturação do regime escravocrata brasileiro,
instaurado no Brasil desde o início do século XVI, iniciam-se as discussões sobre a
adoção de um novo regime político. Paralelo à isso, temos o amadurecimento e
fortalecimento de centros de estudos nacionais, que buscam diante de todas essas
transformações, pensar e analisar projetos para uma nova nação que estava por começar.
A guerra do Paraguai, o fim da escravidão e o republicanismo fizeram da segunda metade
do século XIX um momento de inovação. A elite intelectual tentava criar um esboço de
uma nova nação que, ao mesmo tempo em que buscava se libertar de certas amarras do
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Alguns autores utilizam o termo racialista para definir o campo ideológico e/ou teórico em que
o conceito de “raça” é reconhecido e tem vigência. Não há, todavia, um consenso em torno de
uma única definição conceitual do racialismo. Antônio S. A . Guimarães, por exemplo, baseia-se
em Kwame Anthony Appiah, que define racialismo como uma doutrina segundo a qual “há
características hereditárias, partilhadas por membros de nossa espécie, que nos permitem dividi-
la num pequeno número de raças, de tal modo que todos os membros de uma raça partilhem
entre si certos traços e tendências que não são partilhados com membros de nenhuma outra
raça. Esses traços e tendências característicos de uma raça constituem, na perspectiva
racialista, uma espécie de essência racial; (essa essência) ultrapassa as características
morfológicas visíveis – cor da pelo, tipo de cabelo, feições faciais – com base nas quais fazemos
nossas classificações formais”. Guimarães, no entanto, chama atenção para dois aspectos e
propõe algumas considerações sobre a definição elaborada por Appiah. Primeiramente, segundo
o autor, é preciso ficar claro que essa “essência racial” não possui características absolutas, ao
contrário, representa valores morais, intelectuais e culturais. Paralelo a isso, é preciso
reconhecer também que a forma de transmissão dessa “essência” é muito variada, muito mais
dependente do contexto histórico e social do que do sangue propriamente dito. Teorias
racialistas não são sinônimos, necessariamente, de teorias racistas. No entanto, toda teoria
racista possui como condição básica, ser racialista. Cf. Guimarães, A . S. A . Racismo e Anti
Racismo no Brasil. São Paulo: Ed 34, 1999. P. 27-8.