
forma que tais questões não constituiriam o final da análise, mas algo que dificulta chegar
ao final. A imagem inicialmente evocada pela palavra “rochedo” foi associada a uma praia
com rochas no final, atrás das quais existiria uma outra praia que está mais além. Assim,
achamos interessante recorrer ao termo em alemão utilizado por Freud, o qual poderia nos
dar uma idéia mais clara do que ele quis dizer. O exame do texto original de Freud mostrou
que o termo utilizado por ele - Felsen - não se refere propriamente a esse final de praia, e
sim à camada mais profunda do fundo do mar, rio ou lago, ou seja, ao solo propriamente
dito, àquilo que há de mais sólido e intransponível, segundo nos mostra a análise
etimológica realizada por Elia.
157
As idéias de Lacan acerca do final de análise constituem um avanço na elaboração
freudiana, uma vez que, além de abordar as questões ligadas à sexualidade através do que
ele chamou de fórmulas da sexuação
158
, Lacan propõe uma perspectiva essencialmente
associada à formação do analista. Nesse sentido, de acordo com Quinet
159
, o rochedo da
castração corresponderia, na elaboração de Lacan, ao sujeito se experimentar como falta.
No entanto, tal afirmação requer muito cuidado, pois pode suscitar a idéia de que este é o
fim - no sentido de finalidade - da análise, constituindo assim um ideal a ser atingido, um
“nível” esperado a partir do qual o sujeito passa a ser experimentar como falta. Na verdade,
trata-se de um momento, algo pontual e extremamente angustiante. É possível dizer que aí
reside o ponto incurável da castração, pois como disse o próprio Freud, “o sujeito não se
cura de sua divisão”
160
, ou seja, esta é estrutural e ele sempre a experimentará como uma
falta.
Muito ao contrário, no final de análise o sujeito não se cura de sua divisão, mas
opera a partir dela enquanto dividido, enquanto castrado. Mais uma vez é importante
157
REF. ELIA???
158
As fórmulas da sexuação são desenvolvidas por Lacan em O Seminário livro XX, Mais ainda, Rio de
Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1985. Tais fórmulas são sustentadas pelo axioma segundo o qual não há relação
sexual. Isso significa dizer que não há, de saída, uma regra que ligue, que possibilite a relação entre homens e
mulheres. Nas fórmulas Lacan apresenta as duas maneiras de fazer suplência à relação sexual que não há: a
sexuação masculina e a sexuação feminina, o que implica que a modalidade de laço sexual é diferente para
homens e mulheres. Assim, as fórmulas da sexuação indicam que todo homem está inscrito na função fálica -
ou seja, é castrado – mas existe um homem que (supõe-se) faz exceção à função fálica, – o que Lacan chama
“função do pai”. No que diz respeito à parte mulher dos seres falantes, Lacan indica que não toda mulher está
inscrita na função fálica e que não existe mulher não inscrita na função fálica.
159
QUINET, A.- op.cit.
160
FREUD, S.- A divisão do eu no processo de defesa [1940(1938)], in: Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago, , v. XXIII, p.( 1995).