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pudesse absorver, totalmente, milhares de pessoas que até ontem viviam em condições sub-
humanas, de verdadeiros párias da sociedade”
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.
Em 06 janeiro de 1957, três dias depois da mudança das primeiras 12 famílias para
os apartamentos do Bairro São Sebastião do Leblon, o arcebispo estaria no Teatro João
Caetano para o Congresso Geral de Representantes de Favelas, cuja organização se fez sob
a sua direção e do qual participariam três representantes de cada favela
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, podendo estes
ser acompanhados por suas respectivas famílias. A animação do encontro ficou a cargo da
cantora Heleninha Costa, que interpretou a marchinha “Obrigado, Reverendo”, de autoria
de Luiz Antônio, celebrando o trabalho das legionárias da Cruzada São Sebastião.
Mas os objetivos do Congresso eram eminentemente políticos, desde os temas até, e
sobretudo, a escolha dos procedimentos do debate: todas as propostas de urbanização de
favelas feitas pela Cruzada São Sebastião e os problemas e soluções levados pelos
representantes seriam discutidos conjuntamente. As dimensões deste encontro e o espaço a
ele dedicado pela mídia coroaram, mais uma vez, a reconhecida capacidade organizativa de
Dom Helder e, concomitantemente, lançaram luz sobre sua principal meta: manter o
trabalhador morando perto do patrão, “a fim de provar que a luta de classe não é uma
necessidade”. Eis o modo pelo qual se poderia afastar das favelas o perigo comunista:
O Congresso de Representantes de Favela significa uma ponta de lança
democrática em redutos que os comunistas imaginaram lhes pertencessem.
Daí a irritação com que estão reagindo ao Congresso do Dia de Reis. Para
evitar sabotagem vermelha, a Cruzada São Sebastião abrirá o Teatro João
Caetano, que lhe foi gentilmente cedido, a autoridades, à imprensa escrita e
falada, aos representantes oficiais das favelas (mediante apresentação de ??
especial e de senha) e de suas famílias (mediante apresentação do convite,
assinado pelo Comitê local da favela respectiva).
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ibid. Cf. também “Uma favela começa a morrer”, O Dia, 04 de janeiro de 1957, páginas 1 e 6.
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Os participantes vieram das seguintes favelas: ZONA SUL: Santa Marta, Pavão e Pavãozinho, Macedo
Sobrinho, Cantagalo, Catacumba, Euclides Rocha, Praia do Pinto, Ilha das Dragas, Rocinha, Tambá, Morro
Azul, Morro São João, Chapéu Mangueira, Pasmado, Tavares Bastos, Morro do Pinto, Guararapes, Cosme
Velho, Júlio Otoni. ZONA NORTE: Turano, Salgueiro, Esqueleto, Barreira do Vasco, Buraco da Lacraia,
Trapicheiros, Morro dos Macacos, Saúde, O’Reilly, Mata Machado, Borel, Boogie Woogie e Dendê.
CENTRAL DO BRASIL: Jacarezinho, Céu Azul, Morro Quieto, Morro da Matriz, Ana Néri, Coruja, Morro
de São João, Morro do Bom Jardim, Morro do Barro Vermelho, Morro do Amor, Mangueira, Telégrafo,
Joaquim Martins, Cachoeira Grande, Preto Fôrro, Cachoeirinha, Urubu, Parque do Acari, Largo do Otaviano,
Morro São José, Tamarineira, Conduru, Juramento, Morro da União, Morro do Alemão, Encantado, Favela
do Tenente, Viegas, Coréia, Vila Vintém, Mallet e Curral das Éguas. LEOPOLDINA: João Cândido,
Marelito Dias, Brás de Pina, Vila Proletária da Penha, Parada de Lucas, Seca Maré, Timbau, Perereca, Baixa
do Sapateiro, Maré, Centro, Vigário Geral, Caixa D’Água, Cruzeiro, Colônia Z4, Porto de Inhaúma,
Favelinha. CENTRO: Prazeres, Chacrinha, Coroa, Catumbi, Penitenciária, Escondidinho, Querosene, São
Carlos, Providência, Bento Teixeira.)