dois milhões de índios e mais de quatrocentas povoações. E as histórias que corriam
sobre aqueles que se rebelavam, é que recebiam um tratamento tão terrível que alguns
chegavam mesmo a se matar.
O padre José de Anchieta aponta em 1584 que,
o que mais espanta aos índios e os faz fugir dos portuguêses, e por
consequência das igrejas, são as tiranias que com êles usam
obrigando-os a servir tôda a sua vida como escravos, apartando
mulheres e maridos, pais e filhos, ferrando-os, vendendo-os, etc., e se
algum, usando de sua liberdade, se vai para as igrejas de seus
parentes que são cristãos, não o consentem lá estar, de onde muitas
vêzes os índios, por não tornarem ao seu poder, fogem pelos matos, e
quando mais não podem, antes se vão dar a comer a seus contrários;
de maneira que estas injustiças e sem razões foram a causa da
destruição das igrejas que estavam congregadas e o são agora de
muita perdição dos que estão em seu poder (ANCHIETA, 1964: 53).
Em meados do século XVII, o padre Antonio Vieira descreve a situação dos
índios no Maranhão:
(...) sendo o Maranhão conquistado no ano de 1615, havendo achado
os portugueses desta cidade de S. Luis até o Gurupá mais de
quinhentas povoações de índios, todas muito numerosas e algumas
delas tanto, que deitavam quatro a cinco mil arcos, quando eu
cheguei ao Maranhão, que foi no ano de 1652, tudo isto estava
despovoado, consumido, e reduzido a mui poucas aldeolas, de todas
as quais não pode André Vidal ajuntar oitocentos índios de armas, e
toda aquela imensidade de gente se acabou ou nós a acabamos em
pouco mais de trinta anos, sendo constante estimação dos mesmos
conquistadores que, depois de sua entrada até aquele tempo eram
mortos dos ditos índios mais de dois milhões de almas. (VIEIRA,
1992: 86).
Com relação a intervenção sobre os Tupi-Guarani ao longo destes primeiros
séculos, Pierre Clastres (2003) relata, com base nas cartas de Jesuítas e do padre Sepp
em especial, que em 1730 na região de Assunção, as aldeias que não haviam sido
submetidas pelos jesuítas desapareceram completamente, tanto por causa da escravidão,
quanto das epidemias que as assolaram. Clastres, como os outros antropólogos, afirma