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WAGNER ALONGE DA SILVA
Blogs entre o continuum e o degradé:
um estudo de gêneros ciberjornalísticos e
critérios de noticiabilidade
Bauru SP
2008
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II
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
―JÚLIO DE MESQUITA FILHO‖
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Blogs entre o continuum e o degradé: um estudo de
gêneros ciberjornalísticos e critérios de noticiabilidade
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Comunicação Área de
Concentração: Comunicação Midiática, da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da
Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita
Filho‖ - Campus de Bauru, como requisito para
obtenção do Título de Mestre em Comunicação,
orientada pelo Prof. Dr. Ricardo Alexino Ferreira.
Bauru SP
2008
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III
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO
UNESP Campus de Bauru
Alonge da Silva, Wagner.
Blogs entre o continuum e o degradé: um estudo
de gêneros ciberjornalísticos e critérios de
noticiabilidade / Wagner Alonge da Silva. - Bauru,
2008
232 f. : il.
Orientador: Ricardo Alexino Ferreira
Dissertação (Mestrado)Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Bauru, 2008
1. Weblogs. 2. Novas tecnologias da comunicação.
3. Gêneros ciberjornalísticos. 4. Critérios de
noticiabilidade. I. Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II.
Título.
Ficha catalográfica elaborada por Maria Thereza Pillon Ribeiro CRB 3.869
IV
V
VI
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA
Dissertação de Mestrado apresentada por Wagner Alonge da Silva ao
Programa de Pós-graduação em Comunicação, área de concentração em Comunicação
Midiática, linha de pesquisa Processos Midiáticos e Práticas socioculturais, da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual
Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP), campus de Bauru, para obtenção do título
de Mestre em Comunicação, sob orientação do Professor Doutor Ricardo Alexino
Ferreria.
BANCA EXAMINADORA
Membros:
____________________________________________
Profª. Drª Nancy Nuyen Ali Ramadan (USP/ São Paulo)
_________________________________________
Profº. Drº. Mauro de Souza Ventura (UNESP/Bauru)
Presidente e orientador:
________________________________________
Profº. Drº. Ricardo Alexino Ferreira (UNESP/Bauru)
Bauru, 13 de Outubro de 2008.
VII
Dedico este trabalho especialmente
à minha mãe que com seu amor e
dedicação incondicional sempre me
apoiou a ir além e também a
Emerson e Renata pela parceria e
amor cúmplice.
VIII
AGRADECIMENTOS
―Na verdade só sabemos quão pouco sabemos- com o saber cresce a dúvida‖. Goethe
empre gostei de ler os agradecimentos em livros, dissertações e teses, mas
expressar gratidão é realmente um grande desafio. As lembranças dos
momentos em que fomos agraciados com a presença de pessoas especiais
despertam emoções nostálgicas, de difícil tradução. O segredo parece estar em ser simples,
em face da complexidade de tantas memórias afetivas.
Agradeço primeiramente a meus pais Alfredo e Fátima pelo apoio afetivo e material,
sem eles mais esta conquista pessoal não seria completa e possível. Com ênfase ao
empenho e batalha diária de minha mãe em sempre acreditar e fazer dos meus sonhos
também os dela.
A Emerson por sua parceria dedicada, pelo apoio e paciência nestas muitas horas de
tensão, dúvidas e concentração em que vivi refletindo ou dissertando. Obrigado por tudo,
por ser companhia em Bauru, alento e razão de dedicação e sorrisos.
A minha irmã Renata por sua cumplicidade construída em cima de sinceridade e
amizade materializada nas lindas lembranças de momentos de confidências fraternos. E a
Leandro e Diego que são presença e beleza, cada um a seu modo na convivência do lar
familiar em Marília.
Aos amigos, em especial, os que cultivei nesta curta jornada chamada pós-
graduação em Bauru: Lídia, Lauren, Yuji, Vevila, Simone, Marta, Vanessa, Débora, Fabrício
e todos os outros que compartilharam as reflexões e companhia no processo de
aprofundamento desta busca reflexiva.
Às amigas da saudosa época de graduação que permanecem sendo queridas,
carinhosas e cúmplices, Ana Elisa, Ana Rosa, Fernanda, Simone, Camilinha e Tati.
Obrigado pelas conversas e pelos conselhos afetivos e acadêmicos.
Agradeço ao Professor Alexino por sua compreensão e estímulo e, sobretudo por
sua crença de que no final tudo daria certo. Aos professores da pós-graduação, em especial
Professora Maria Teresa Kerbauy, Professor Maximiliano, Professor Mauro Ventura e
Cláudio Bertolli pela predisposição em dialogar e pensar junto o pensar.
A professora Nancy Nuyen Ali Ramadan por ter prontamente aceito nosso convite
para participar da banca e colaborar com sua perspectiva na conjuntura de avaliação.
Agradeço em especial a CAPES que me ofereceu os subsídios para que pudesse me
dedicar exclusivamente a esta pesquisa.
Aos secretários da seção de pós-graduação da FAAC, pelo apoio técnico acadêmico.
E a todos os professores da graduação em Ciências Sociais da Unesp de Marília que me
apresentaram o cenário da pesquisa. A todos os mencionados obrigado por tudo.
S
IX
‘Um feixe de eus’. Na realidade não há nenhum eu, nem
mesmo no mais simples, não uma unidade, mas um
mundo plural, um pequeno firmamento, um caos de
formas, de matizes, de situações, de heranças e
possibilidades. Cada indivíduo isolado vive sujeito a
considerar esse caos como uma unidade e fala de seu
eu como se fora um ente simples, bem formado
claramente definido; e a todos os homens, mesmo aos
mais eminentes, esse rude engano parece uma
necessidade, uma exigência da vida, como respirar e
comer. (Herman Hesse)
X
ALONGE, W. Blogs entre o continuum e o degradé: um estudo de gêneros
ciberjornalísticos e critérios de noticiabilidade, 2008, 229 f. Dissertação (Mestrado
em Comunicação). Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP, Bauru,
2008.
RESUMO
A Internet tem atraído cada vez mais a atenção de pesquisadores como um novo espaço
social no qual são gestadas novas formas de comunicação e convivência. Os weblogs
seriam então um dos mais recentes canais midiáticos no âmbito do ciberespaço. Diante
disso, objetivou-se neste trabalho investigar os critérios de noticiabilidade e valores-notícia
que orientam a instauração de um possível novo formato noticioso nos blogs verificando os
gêneros ciberjornalísticos das notícias no âmbito de sua emergência enquanto uma mídia no
webjornalismo. Propôs-se, portanto, por meio de um estudo exploratório relacionar os dados
obtidos junto ao levantamento processual empírico nos três blogs estudados aos
questionamentos que perpassam tal reflexão; se o jornalismo praticado nos blogs repete o
mesmo padrão da grande mídia, ou se o potencial multimidático destes canais altera os
valores-notícias ou provocam um novo agendamento de fato para além do ocorrido na
chamada mídia de massa. Seria o novo em curso ou o velho maquiado pela presença de
recursos de personalização multimidiática? Nesse sentido, esta pesquisa busca fornecer
subsídios teórico-empíricos mais abrangentes sobre os blogs inseridos na discussão ampla
da cultura midiática e esfera pública virtual, contribuindo para suprir a lacuna do
conhecimento referente a esse novo fenômeno comunicacional.
Palavras-chave: Weblogs; Esfera Pública; Novas Tecnologias da Comunicação; Gêneros
Ciberjornalísticos; Critérios de noticiabilidade.
XI
ALONGE, W. Blogs between the continuum and the degradé: a study of ciber
journalistic genres and noticiability criteria, 2008, 229 f. Dissertation (Post-graduation in
Communication). Program of Post-Graduation in Communication. College of
Architecture, Arts and Communication of UNESP, Bauru SP, 2008.
ABSTRACT
Internet has been drawing the interest of researchers as a new social space where new
manners of communication and sociability are being sustained. Therefore, weblogs are one
of the newest media channels at the scope of cyberspace. Moreover then the objective of
this paper is to search the noticiability criteria e “news-value” that guide the establishment of
a possible new journalistic configuration on blogs, to verify the ciber journalistic genres of
piece of news whereas they rise as a journalistic media in webjournalism. So the proposal is
to relate, by means of an exploratory study, the information achieved in the empiric
processual survey within the analyzed blogs about the contestations that pass by this
consideration; if the journalism that is executed on blogs repeats the same standards of the
world media or the multimedia potential of this channels changes the “news-value” or
promotes a new agenda, in fact, beyond what happens at the so-called mass media. Would it
be that the new one is in motion or the old one is disguised by multimedia personalization
resources? For that, this research intents to present ample theoretic and empiric subventions
about the blogs introduced at the wide media culture and the virtual public sphere, that
contribute to compensate for the lack of studies about this new communication phenomenon.
Keywords: Weblogs, public sphere, new technologies of communication, ciber journalistic
genres, noticiability criteria.
XII
LISTA DE IMAGENS
Página
Imagem 1- Modelo Habermasiano de uma esfera pública burguesa..............................................
43
Imagem 2 - Blog de Fernando Rodrigues...........................................................................................
106
Imagem 3 Blog de Josias de Souza.................................................................................................
107
Imagem 4 Blog de Luís Nassif..........................................................................................................
108
Imagem 5 - Enquete no blog de Fernando Rodrigues......................................................................
112
Imagem 6- Notícia na Coluna de Fernando Rodrigues na Folha de S. Paulo no dia
01/08/2007..............................................................................................................................................
124
Imagem 7- Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia 01/08/2007.....................................
125
Imagem 8- Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia 01/08/2007.....................................
126
Imagem 9- Fragmento de Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia
01/08/2007..............................................................................................................................................
127
Imagem 10- Postagem no blog de Josias de Souza no dia
20/07/2007..............................................................................................................................................
127
Imagem 11- Postagem do Blog de Josias de Souza 16/07/2007 : Exemplo de uso de
Charge...................................................................................................................................................
128
Imagem 12- Postagem do blog de Luís Nassif: Exemplo de uso de link
interno....................................................................................................................................................
129
Imagem 13- Postagem no blog de Josias de Souza no dia 21/07/2007...........................................
129
Imagem 14- Postagem do blog de Luís Nassif em 28/07/2007.........................................................
130
Imagem 15 Exemplo de Charge publicada......................................................................................
134
Imagem 16 - Exemplo de Charge publicada......................................................................................
134
Imagem 17- Post com presença de hipertexto do blog de Josias de Souza.................................
135
Imagem 18 Postagem do blog Fernando Rodrigues dia 17 de Julho 2007..................................
136
Imagem 19 Postagem do blog Fernando Rodrigues dia 19 de Julho 2007..................................
137
Imagem 20- Aba para emissão de comentário nos blogs do portal UOL (Josias de Souza e
Fernando Rodrigues)...........................................................................................................................
138
Imagem 21- Aba para emissão de comentário no blog de Luís Nassif...........................................
138
Imagem 22- Regras de uso dos blogs da redação do portal UOL...................................................
141
XIII
Imagem 23- Regras de uso dos blogs da redação do portal UOL...................................................
142
Imagem 24- Parte de post do blog de Fernando Rodrigues dia 20/07/2007...................................
143
Imagem 25- Comentário no blog de Fernando Rodrigues no dia 23/07/2007................................
144
Imagem 26- Postagem retificada pela interferência do comentário do leitor.................................
145
Imagem 27 - Postagem do blog de Luís Nassif dia 21/07/2007........................................................
146
Imagem 28- Parte dos comentários referentes a tal post..............................................................
147
Imagem 29- Postagem do blog de Luís Nassif do dia 21/07/2007....................................................
148
Imagem 30- Postagem do blog de Luís Nassif do dia 21/07/2007....................................................
148
Imagem 31- Postagem do blog de Luís Nassif, dia 21/07/2007........................................................
152
Imagem 32- Jornalismo on-line: prospectivas de 1995....................................................................
157
XIV
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1- Percentual de domicílios com posse e uso de computadores e acesso à
Internet..................................................................................................................................................
52
Tabela 2- Quadro comparativo TICs 2005, 2006 e 2007....................................................................
53
Tabela 3- Proporção de Domicílios com computador percentual sobre o total de
domicílios..............................................................................................................................................
53
Tabela 4- Quadro comparativo entre jornalismo impresso e jornalismo on-line quanto ao
acesso, espaço, texto, captação de notícia, fechamento da edição, usuário e memória.............
66
Tabela 5- Classificação proposta por Marques de Melo (1994).......................................................
85
Tabela 6- Grade classificatória proposta por Chaparro (2008)........................................................
90
Tabela 7- Quadro categórico cronologia de tipologia dos blogs,
2005.......................................................................................................................................................
97
Tabela 8-Caracterização do tamanho das postagens na semana do dia 15 a 21/07/2007............
135
XV
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................
17
a) Objetivo.........................................................................................................................
24
b) Metodologia de pesquisa............................................................................................
26
c) Estrutura da dissertação.............................................................................................
26
CAPÍTULO 1 - As implicações dos weblogs na cultura pública midiática e no
fazer jornalístico..........................................................................................................
29
1.1 A revitalização da esfera pública pela comunicação ciberespacial...........................................
29
1.2 A opinião: do advento da imprensa a ágora digital.....................................................................
36
1.3 Jornalismo on-line, jornalismo digital, webjornalismo................................................................
56
1.4 Weblogs: Definições, aspectos históricos e convergências.......................................................
70
CAPÍTULO 2- Blogs: interseção híbrida expressa entre o continuum e/ou
degradé.......................................................................................................................
76
2.1 Blogs: os meios, as linguagens e a cultura..................................................................................
76
2.1.1 A cena brasileira....................................................................................................................
78
2.1.2 Blogs e receptor sujeito.........................................................................................................
80
2.1.3 Blogs: a informação no centro do palco.............................................................................
81
2.2 A teoria dos gêneros jornalísticos.................................................................................................
84
2.3. Os gêneros ciberjornalísticos.......................................................................................................
92
2.4 Em busca de uma tipologia para os blogs jornalísticos.............................................................
96
2.4.1 Classificação dos blogs de política.....................................................................................
100
2.5 Classificando os blogs pesquisados...........................................................................................
103
2.5.1 Descrição dos blogs analisados.........................................................................................
105
2.5.2 Análise estrutural...................................................................................................................
109
CAPÍTULO 3 - Análise dos gêneros ciberjornalísticos e valores-notícia nos
blogs...........................................................................................................................
118
XVI
3.1 Valores-notícia: as determinantes da noticiabilidade dos fatos.................................................
118
3.2 O processo de seleção de notícias................................................................................................
122
3.3 Critérios para a análise dos gêneros e Valores-notícia nos blogs............................................
133
3.4 Analisando os valores-notícias......................................................................................................
149
3.4.1 Os valores- notícias de seleção............................................................................................
154
3.5 Transformações: os blogs entre o continuum e o degradé.........................................................
159
3.6 Críticas e suspeições sobre o espaço público midiatizado.........................................................
164
Considerações finais..................................................................................................
170
Referências..................................................................................................................
177
Anexos..........................................................................................................................
190
17
INTRODUÇÃO
Os blogs são um meio originário da rede,
possivelmente o primeiro meio nativo da web. José
Luis Orihuela, 2007.
m abril de 2007 foi comemorada a primeira década da existência da
chamada blogosfera, muito se repercutiu sobre o assunto na mídia
impressa e claro na mídia digital
1
. Esta ‗comemoração‘ é fundada no
consenso de que no dia de abril de 1997 Dave Winer publicou a primeira entrada
do Script News
2
, o weblog mais antigo, que continua sendo atualizado até hoje. Em
17 de dezembro daquele mesmo ano Jorn Barger cunhou o termo weblog para
designar seu próprio site.
Hoje existem mais de 70 milhões destes sites pessoais, autogestados por
seus autores - editores, também existem dados como pesquisa publicada em 2007
por Technorati
3
, site que pesquisa dados em blogs, afirmando que a cada dia
foram criados entre 8 mil e 17 mil novos blogs e 275 mil comentários são colocados
nos blogs, constituindo uma média de três blogs atualizados a cada segundo,
evidenciando o alto grau de participação ativa nestas páginas. Nunca um canal de
comunicação havia crescido a esta velocidade. A blogosfera, o espaço dos weblogs
na rede, desde 2003 quando passou a ser medida vem se desenvolvendo a um
ritmo que chegou a se duplicar a cada seis meses, hoje dados demonstram que
este ritmo tende a ter uma desaceleração.
Os weblogs têm sido muitas coisas ao longo destes dez anos, estão mudando
assim como a própria rede que foi ao longo dos últimos anos se reconfigurando e
tendo sua percepção social e seu impacto cultural, econômico, político e midiático
transformados gradualmente.
1
Ver discussão publicada no site do The Wall Street Journal „Happy Blogiversary por Tunku
Varadarajan In:
http://online.wsj.com/article/SB118436667045766268.html?mod=home_we_banner_left acessado dia
14 de julho de 2007 e também Los weblogs cumplen diez años de agitación‘ por José Luiz Orihuela
publicado no site do jornal espanhol El País ; In:
http://www.elpais.com/articulo/ocio/weblogs/cumplen/anos/agitacion/elpeputeccib/20070118elpciboci_
1/Tes acessado no dia 18 de janeiro de 2007.
2
http://www.scripting.com
3
http://technorati.com
E
18
É possível estabelecer três momentos distintos da história dos weblogs a
partir de alguns marcos que contribuíram para a maturação de tal canal e sua
paulatina implantação não somente na história da rede, senão também na cultura
contemporânea.
O próprio Winer reconhece que ‗o primeiro weblog foi o primeiro site web‘, que
corresponde ao site What´s New em 1992, no qual Tim Berners- Lee foi contando a
marcha de desenvolvimento do projeto World Wide Web (W.W.W.) posto em
funcionamento naquele ano em Genebra. Desde junho de 1993 o site What's New
do navegador Mosaic que possuía uma estrutura particular de cronologia inversa
das notícias, na qual as mais recentes apareciam sempre na parte superior da
página, sucedida pelas anteriores; este site se converte na principal referência até
junho de 1996.
Em Janeiro de 1998 Matt Drudge revela em sua página pessoal, Drudge
Report, a pista que desencadeou o escândalo Clinton-Lewinsky. Em novembro do
mesmo ano, Jesse James Garrett, compilou a primeira lista de weblogs que até este
momento, não eram mais que duas dezenas de blogs, como ele disse ―era uma
época na qual se podiam ler diariamente nuns quinze minutos todos os weblogs que
existiam na rede‖.
Neste momento eram poucos os pioneiros, os quais se limitavam fazer de
suas páginas pessoais, ambientes de discussão do próprio tema Internet, software
livres e pequenos ‗furos‘ noticiosos. Esta primeira época dos pioneiros chegou ao
seu fim com a aparição das primeiras ferramentas gratuitas da rede, para edição e
hospedagem de weblogs: Live Journal
4
em março de 1999, Pitas
5
em julho de 1999
e fundamentalmente Blogger
6
no mês seguinte. Desde então o meio se tornou
crescentemente popular e se estendeu para além do âmbito dos programadores e
jornalistas, nascendo assim a blogosfera como comunidade.
O êxito de Blogger, que alcançou a cifra de 40.000 usuários em seus
primeiros nove meses de funcionamento e que acabaria formando parte do vasto
repertório de aquisições do Google em fevereiro de 2003, numa transação
4
www.livejournal.com
5
www.pitas.com
6
http://www.blogger.com
19
milionária, demonstra a intensificação e solidificação da grande comunidade até
então embrionária
7
.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 e de 11 de março de 2004
constituem o batismo de fogo do novo meio nos Estados Unidos e Europa nas quais
se revelaram dramáticas as circunstâncias do poder da cobertura dos fatos
baseadas na publicação de testemunhos pessoais. O início da Guerra do Iraque em
2003 foi o cenário fértil para a ação dos chamados warblogs (diários de guerra) nos
quais muitos se manifestaram contrários a tal conflito e mesmo os envolvidos
diretamente na zona de combate puderam narrar suas vivências, como foi o caso
das crônicas de Salam Pax
8
um arquiteto iraquiano.
Em 2004 o dicionário Merrian-Webster reconheceu o termo weblog como a
palavra do ano, assegurando sua inclusão na edição impressa em 2005. Tal como
havia ocorrido em dezembro de 2004 com o tsunami asiático, em agosto de 2005 o
furacão Katrina voltou a colocar os bloggers (editores dos blogs) na agenda global e
contribuíram para que os meios tradicionais reconhecessem o potencial das novas
formas de comunicação pública destes canais.
Quando em outubro de 2005 a America on-line comprou a rede de weblogs
comerciais Weblogs Inc por 25 milhões de dólares, indubitavelmente se abriu uma
nova etapa na blogosfera, caracterizada pela paulatina profissionalização e
comercialização do meio.
Num curto espaço de tempo, os blogs passaram de uma simples aplicação
informática, a um importante dispositivo de comunicação. Conforme enfatizou
Canavilhas (2005) tanto no ensino, na literatura, na ciência ou na política, o recurso
aos blogs cresceu rapidamente devido à simultaneidade de duas características:
baixo custo e facilidade de manuseamento.
A partir de 2003 e 2004 ocorre a incorporação dos blogs nos grandes portais
dos jornais americanos e europeus e um pouco depois também no Brasil. Neste
7
―Google compra fabricante de software para blogs Pyra Labs‖;
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u12288.shtml , acessado no dia 03 de abril de
2003.
8
Durante a campanha militar no Iraque houve mesmo um registro de guerra feito a partir de Bagdá.
Um diário de quem via as bombas cair e tinha histórias de um dia-a-dia numa cidade que estava no
centro das atenções do mundo. Durante o auge da guerra contra o Iraque e a escassez de
informações a chegar ao Ocidente, os informes mais eloqüentes nos chegaram graças a esse novo
canal. Causou sensação o blog de um indivíduo em Bagdá narrando, em inglês, o cotidiano de sua
cidade debaixo da guerra. Assinava-se Salam Pax, e, devido à alta qualidade de seu texto o jornal
britânico The Guardian começou a publicar os blogs de Salam Pax em sua versão impressa.
20
momento tais jornalistas/bloggers criavam e mantinham os seus blogs seguindo
mais a lógica da cultura do jornal impresso, ou seja, mantinham, de fato, colunas
textuais diariamente em âmbito on-line.
Neste sentido, os blogs seriam apenas uma maquilagem nova para uma velha
idéia: a idéia de se fazer uma coluna de opinião. Logo, não eram espaços de
conversação; não fugiam a princípio a lógica de comunicação unidirecional. No
portal on-line da Folha de S. Paulo, por exemplo, os blogs seriam extensões dos
cadernos semanais (Ilustrada, esportes) seguindo apenas uma lógica da atualização
constante e diária daquilo que antes era publicado no impresso semanalmente.
Nos EUA
9
os primeiros blogs criados, tiveram como finalidade fazer um
contraponto à grande mídia. Aqui no Brasil aconteceu diferente, os blogs surgiram,
em um primeiro momento, como uma forma de diversão, terapia, hobby, de
autopromoção na medida que a maioria dos primeiros blogs eram diários pessoais
virtuais de sujeitos que contavam sua vida íntima ou os utilizavam com outras
finalidades particulares de socialização.
em 2005 no Brasil a maior parte das edições on-line de todo tipo de meios
de comunicação tanto impresso como eletrônicos incorporam, com maior ou menor
intensidade, blogs entre suas ofertas de conteúdos.
É possível dizer que houve sim um alargamento do espaço informativo e
opinativo com os blogs nestes onze anos. Tornaram-se um fenômeno porque muitas
e diferentes pessoas espalhadas pelo planeta aderiram a idéia. Os blogs
participaram da história do 11 de Setembro, 11 de Março(Madrid), ataques de
Londres, Guerra do Iraque, Tsunami; de eleições, criando assim uma rede de
narrativas e opiniões individuais e coletivas dentro da esfera virtual hoje também
chamada de Web 2.0.
A chamada Web 2.0 é um termo cunhado em 2003 em conferências
organizadas pela empresa estadunidense O´Reilly Media para designar uma
segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma Web, como
wikis, aplicações baseadas em folksonia e redes sociais. Embora o termo tenha uma
conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas
9
No que representa os Estados Unidos, segundo um informe do Instituto norte-americano Pew
Internet Report, dos 147 milhões de adultos com acesso a Internet, 57 milhões lêem blogs
diariamente e 12 milhões mantêm seu próprio blog. (Nota do autor)
21
suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada
por usuários e desenvolvedores.
Conforme define Tim O´Reilly (2004):
Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um
entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre
outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os
efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas
pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. (O'REILLY, 2004, on-line)
Os impactos da internet nas empresas e práticas jornalísticas foram
potencializados com a popularização da Web 2.0. O envolvimento de cidadãos
comuns, antes considerados meros leitores, na publicação e edição de conteúdos
jornalísticos tem se tornado uma prática cada vez mais comum. A esta tendência
atribui-se o conceito de Jornalismo participativo, Jornalismo cidadão ou mesmo
Jornalismo Open-Source
10
.
Dentro deste novo contexto vemos surgir nomenclaturas que tentam
denominar este novo cenário emergente, e assim ocorre a profusão de neologismos
e reconfigurações do conceito jornalismo praticado no suporte digital, como por
exemplo as denominações : ciberjornalismo, jornalismo-on line, jornalismo digital,
jornalismo multimídia, webjornalismo entre outros.
Neste estudo, entendemos ciberjornalismo como uma nova modalidade do
jornalismo. Assim o referenciamos porque partimos da idéia de que o ciberjornalismo
manifesta-se como a especialidade do jornalismo que emprega o ciberespaço para
investigar, produzir e, o mais importante, necessariamente difundir conteúdos
jornalísticos (SALAVERRÍA, 2005, p. 21). O ciberespaço engloba tanto a Internet
como outras redes telemáticas; e, além de estar relacionado com a investigação,
produção e difusão de conteúdos, diz respeito ainda ao armazenamento das
mensagens jornalísticas (CALVO, 2006, p. 55).
Mas ao longo deste trabalho, privilegiaremos o uso dos termos jornalismo on-
line e webjornalismo por serem designações categóricas que conseguem englobar
as fases e características específicas das potencialidades apresentadas nos blogs
focos deste estudo.
10
Um dos sites mais representativos esta tendência é o Digg, que permite que usuários cadastrem
artigos publicados em outros sites. Estes textos recebem votos (diggs) da comunidade e os mais
populares ganham destaque na página principal do site. Ao permitir a influência direta do público na
hierarquização da informação, este mecanismo traz inovações às técnicas tradicionais de edição
jornalística, caracterizada pela centralização na figura do editor. (Nota do autor)
22
Mas o tal conceito de ciberjornalismo, uma espécie de sinônimo de
webjornalismo, se aproxima de duas expressões também comumente utilizadas em
estudos sobre comunicação digital: o jornalismo digital e webjornalismo. Assim, para
Bastos (2000a), o jornalismo digital é sinônimo de ‗produção na rede e para a rede‘.
Mas Bastos também usa o termo ciberjornalismo para tratar da produção noticiosa
exclusiva e específica para edições no ciberespaço, em particular a voltada à web.
Canavilhas (2001 e 2005), por sua vez, situa o webjornalismo como o jornalismo
que, com base na convergência de textos, imagens e sons, explora as
potencialidades da web. Em Machado e Palácios (1997) temos que o jornalismo
digital:
[...] envolve toda a produção discursiva que recorte a realidade pelo viés da
singularidade dos eventos e que tenha como suporte de circulação a
Internet, as demais redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia
que transmita sinais numéricos.
Por outro lado, o termo webjornalismo, na acepção aqui adotada, distancia-se
da idéia de jornalismo on-line, jornalismo eletrônico e jornalismo multimídia. Porque
tais expressões ora dizem respeito ao mero uso instrumental da Internet para a
recolha de informações por parte dos jornalistas- este é o caso da expressão
jornalismo on-line em Bastos (2000a), como um jornalismo que situa-se aquém de
todas as possibilidades que o ciberespaço oferece- ora são expressões genéricas
demais para especificar as particularidades do jornalismo feito em redes digitais-
este é o caso da expressão jornalismo eletrônico em Bastos (2000b) e ora
designam um jornalismo feito em múltiplas plataformas como é o caso da
expressão jornalismo multimídia em Salaverría (2005).
É tangível o fato que assistimos hoje a crescente apropriação deste cenário
digital pela imprensa tradicional e pelo jornalismo que busca se modificar na
tentativa de se adequar a esta nova realidade tecnológica. E os blogs são ‗meios
originários da rede‘ congruentes aos preceitos da prática jornalística, generalizando-
se a esperança em torno do chamado novo jornalismo, designadamente no formato
dito como webjornalismo.
Os blogs como meio se diversificaram em uma ampla variedade de gêneros e
de aplicações, ao tempo que projetam seu alcance em âmbitos tão diversos como a
educação, a política e o jornalismo. Hoje a blogosfera está muito longe do perfil que
tinha na época de seus pioneiros a onze anos, se converteu no espaço da rede em
23
que múltiplas comunidades de todas as línguas e culturas estão contruindo
diariamente novas formas de expressão, conversação e conhecimento.
Um ponto de convergência com o jornalismo está na possibilidade dos blogs
como os jornais serem formadores de empatia, o que possibilitam o agrupamento de
leitores pela identificação com o veículo e temáticas tratadas. Outro ponto seria a
liberdade de expressão tanto a imprensa quanto os blogs reivindicam a
característica de não serem dependentes de interesses alheios à sua própria
constituição e à relação comunidade-autor fundamentam boa parte de sua existência
na possibilidade de exprimirem notícias e/ou pontos de vista sem censuras diretas e
prévias de instituições superiores.
A avaliação é de que o poder político está mudando de polaridade com a
influência das novas tecnologias de comunicação, com o advento e a aceitação dos
blogs como fonte de referência e participação política, os espaços públicos reais
estão cada vez mais se transformando em lugares virtualizados pela conjuntura e
pela dinâmica das informações. É grande o potencial democrático contido na nova
tecnologia de comunicação e informação. Rompendo com a rígida estrutura
comunicacional de um para muitos, característica das mídias de massa como jornal,
rádio e televisão, a Internet permite também o contato de um para um e de muitos
para muitos. (CASTELLS, 2003). A Internet supre uma das necessidades
fundamentais para o pleno exercício da cidadania em regimes democráticos, o
acesso a fontes alternativas e vastas de informação. No mundo contemporâneo, a
Internet representa um recurso importante à disposição da opinião pública,
permitindo uma maior difusão de informações relevantes para a tomada de decisão
consciente dos indivíduos e, por conseguinte, diminuindo a influência exclusiva do
Estado sobre a determinação da agenda política.
As influências políticas das novas tecnologias de comunicação não são
somente influências paralelas. Com o advento das atuais redes de informação,
tornam-se também um fator de influência direta na economia, na sociedade, na
cultura e nas identidades nacionais.
Os casos recentes que envolvem diretamente o conteúdo dos blogs em
contextos políticos de grande repercussão mostram que apesar das novas
tecnologias trazerem novos problemas e criarem novos exércitos de excluídos (além
de diversos paradigmas a serem pensados e desenvolvidos), elas representam um
aspecto positivo na evolução da democracia e da participação política dos indivíduos
24
e suas comunidades. Ao possibilitarem uma maior pluralidade no processo de
difusão da informação e de acesso irrestrito, a produção e divulgação de
informações inicia um ciclo dialético de participação e expansão constante.
A importância de se propor tal investigação sobre a emergência dos blogs no
cenário da Internet reside na possibilidade de trazer para o debate acadêmico a
análise empírica de um objeto até o momento não muito explorado, devido a sua
atualidade. É claro que como qualquer análise do contemporâneo corre-se um certo
risco, ainda mais em se tratando especificamente da Internet, a velocidade de
transformações e inovações são gigantescas. Contudo, Castells ressalta, por
exemplo, que apesar da sua difusão, a lógica, a linguagem e os limites da Internet
não são bem compreendidos além da esfera de disciplinas estritamente
tecnológicas, pois:
A velocidade da transformação tornou difícil para a pesquisa acadêmica
acompanhar o ritmo da mudança com um suprimento adequado de estudos
empíricos sobre os motivos e objetivos da economia e da sociedade
baseadas na Internet. Tirando proveito desse vácuo relativo de investigação
confiável, a ideologia e a boataria permearam a compreensão dessa
dimensão fundamental das nossas vidas, como freqüentemente ocorre em
períodos de rápida mudança social. [...] (CASTELLS, 2003, p. 8-9).
Não é possível afirmar que os blogs enquanto tais serão eternos, pois
sabemos que, como no capitalismo, a rede também funciona por mecanismos de
obsolescência e renovação constante. Destarte, é evidente a proliferação e
consolidação dos blogs enquanto uma prática usual na rede e, sobretudo, como uma
prática criativa de discursos prolixos. Cabe salientar e afirmar que estes mecanismos
e fontes de pesquisa social existem e estão visíveis e acessíveis, disponibilizando a
manifestação de discursos polifônicos refletores de muitas questões sociais no que
tange a reestruturação de uma sociabilidade através da instauração de comunidades
de debates publicizadas em fóruns permanentes.
a) OBJETIVO
Os blogs seriam então, nesse turbilhão de novidades no mundo virtual, um
dos mais recentes canais midiáticos no âmbito da rede mundial dos computadores.
Diante disso, objetivou-se neste trabalho investigar os critérios de noticiabilidade e
valores-notícia que orientam a instauração de um possível novo formato noticioso
jornalístico nos blogs verificando os gêneros ciberjornalísticos das notícias no âmbito
25
de sua emergência enquanto uma mídia jornalística no webjornalismo. Propôs-se,
portanto, por meio de um estudo exploratório relacionar os dados obtidos junto ao
levantamento processual empírico nos três blogs estudados aos questionamentos
que perpassam tal reflexão; se o jornalismo praticado nos blogs repete o mesmo
padrão da grande mídia, ou se o potencial multimidático destes canais altera os
valores-notícias ou provocam um novo agendamento de fato para além do ocorrido
na chamada mídia de massa. Seria o novo em curso ou o velho maquiado pela
presença de recursos de personalização multimidiática? Nesse sentido, esta
pesquisa busca fornecer subsídios teórico-empíricos sobre os blogs jornalísticos
inseridos na discussão ampla da cultura midiática, contribuindo para suprir a lacuna
do conhecimento referente a esse novo fenômeno comunicacional e jornalístico.
Para isso será investigado o âmbito dos gêneros e dos temas apresentados
nos discursos das postagens dos blogs selecionados; visualizando e caracterizando,
sobretudo seu formato, valores notícias e critérios de noticiabilidade.
Procurando operacionalizar a investigação, serão analisados três blogs
específicos, dois deles vinculados ao portal do Universo On-line (UOL)
11
e Folha On-
Line e um ao portal IG
12
. Respectivamente são eles:
Blog de análise política de Fernando Rodrigues
http://uolpolitica.blog.uol.com.br/
Blog da Folha On-line de política Nos Bastidores do poder de
Josias de Souza: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Blog projeto.Br de Luis Nassif
http://www.projetobr.com.br/web/blog/5
Trata-se de três blogs noticiosos e de opinião de temática política. Foram
realizadas consultas periódicas aos blogs selecionados a fim de criar familiaridade
com o processo e a dinâmica de tal canal.
O período cronológico escolhido aleatoriamente como amostragem de análise
foi a semana iniciada no dia 15 de julho de 2007 (domingo) e terminada no dia 21 de
julho de 2007 (sábado).
11
http://www.uol.com.br
12
http://www.ig.com.br
26
b) METODOLOGIA
Buscando alcançar os objetivos delineados anteriormente, os procedimentos
metodológicos compreendem a estruturação de um sólido quadro teórico de
referências sobre a temática relacionada e sua contextualização histórica. Será
utilizado um suporte teórico que alie as teorias da comunicação em suas diversas
dimensões com outras possíveis contribuições de análise de cunho sociológico,
paralelamente as concepções e contribuições de autores que teorizam sobre a
Cibercultura (Pierre Lévy, 1999) e a Sociedade em Rede (Manuel Castells, 2000). A
intenção é elaborar uma reflexão que leve em consideração os processos histórico-
sociais que possibilitaram a instauração da ‗sociedade informática‘ e, por
decorrência desta, possibilitando a emergência de novos meios sociais
comunicacionais como os blogs. Para tanto, também nos basearemos na discussão
sobre as convergências entre Internet e Jornalismo (Webjornalismo), realizadas por
distintos teóricos.
Os critérios metodológicos de análise propriamente dos dados coletados nos
blogs, perpassam pelas categorias dos gêneros jornalísticos teorizadas por Manuel
Carlos Chaparro (2008), também Nelson Traquina nos servirá como alicerce no que
tange a análise dos critérios de noticiabilidade e valores-notícias; outros teóricos
contemporâneos sobre a blogosfera (Recuero, Penteado, Orduña, Orihuela) nos
ajudam a delimitar as caracterizações deste objeto em possíveis definições de
categorias conceituais de análise e tipologias.
c) ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
No primeiro capítulo As implicações dos weblogs na cultura pública midiática
e no fazer jornalístico. O contexto da cibercultura é apresentado através dos
nuances cenográficos e claro dos atores envolvidos, sintetizando uma discussão na
qual é enfatizado que a Internet ampliou de forma inédita a comunicação humana,
permitindo um avanço planetário na maneira de produzir, distribuir e consumir
conhecimento, seja ele escrito, imagético ou sonoro. Construída colaborativamente,
a rede é uma das maiores expressões da diversidade cultural e da criatividade social
do século XX. Descentralizada, a Internet baseia-se na interatividade e na
possibilidade de todos tornarem-se produtores e não apenas consumidores de
27
informação, como impera ainda na era das mídias de massa. Na Internet, a
liberdade de criação de conteúdos alimenta, e é alimentada, pela liberdade de
criação de novos formatos midiáticos, de novos programas, de novas tecnologias, de
novas redes sociais e assim os blogs são apresentados e vinculados à discussão da
convergência Web+ Jornalismo.
O jornalismo on-line, apesar de despontar no cenário nacional recentemente,
começou nos Estados Unidos na década de 1970 e, a partir daí - com a evolução
dos sistemas tecnológicos -, pôde agregar ferramentas e permanece ainda em
constante evolução. Na revisão bibliográfica foram encontradas referências a seis
ferramentas digitais exploradas atualmente pelos sites jornalísticos, que são:
hipertextualidade, multimídia, considerando também a hipermídia como ligada à
ferramenta, instantaneidade (atualização/velocidade), interatividade, personalização
e memória.
Esta amplitude intrínseca da Internet nos remete a pensar se de fato ocorreria
a revitalização da esfera pública pela comunicação ciberespacial, já que hoje a
sociedade civil conta, não apenas com os Meios de Comunicação de Massa (MCM),
mas, também, com Plataformas Comunicativas Multimidiáticas Ciberespaciais
(PCMC). As habilidades inerentes ao meio digital, sobretudo a hipertextualidade e
interatividade propiciam o surgimento de competências comunicativas que
favorecem um processo de construção de opinião, minimizando as interferências
coercitivas. Assim veríamos ser potencializadas as reais possibilidades de debates
públicos, podendo estas evoluírem para a formação de esferas públicas no
ciberespaço.
Diante de tantas reflexões sobre meios e processos de produção da
informação o espaço e o papel do jornalismo devem passar também por uma
avaliação. Esta é a proposta do segundo capítulo: Blogs: interseção híbrida
expressa entre o continuum e/ou degradé. Linguagens associadas à tecnologia e a
cultura estão relacionadas ao jornalismo neste momento de ruptura, reacomodação
e reinvenção de processos. Neste continuum ou degradé, onde estão situados os
blogs dentro de um ambiente jornalístico no atual contexto? Esta é uma das
questões que se pretende investigar aqui, descrevendo a situação brasileira
relacionada ao jornalismo, localizando os blogs na história das mídias e das
linguagens de comunicação, que sofrem fortes influências da cibercultura.
28
Também neste capítulo procurando aliar todas estas questões de
embasamento contextual e metodológicas, apresenta-se uma análise classificatória
dos blogs foco desta pesquisa dentro de tipologias na busca de definições e
caracterizações como assim também uma análise estrutural dos mesmos.
No terceiro capítulo: Análise dos gêneros ciberjornalísticos e valores-notícia
nos blogs é proposta uma discussão sobre o processo de “newsmaking buscando
alicerçar comparações de análise entre a produção noticiosa na mídia tradicional e
nos weblogs. Na medida em que alguns estudos sobre os conteúdos dos media
noticiosos demonstram que as notícias apresentam um padrão geral bastante
estável e previsível e esta previsibilidade do esquema geral das notícias deve-se à
existência de critérios de noticiabilidade, isto é, à existência de valores-notícia que
os membros da tribo jornalística partilham tanto no plano impresso como também no
suporte on-line.
Enfim dessa maneira algumas suposições se confirmam outras o, mas
cabe salientar que dentro do corpus da pesquisa, vários nuances convergentes são
verificados, o que nos abre perspectivas para múltiplas reflexões acerca do cenário
da evolução dos suportes midiáticos, sendo possível, portanto, considerar que o
desenvolvimento da Internet é caracterizado por catalisar uma modificação
substancial no que se refere à estrutura e ação do campo midiático, principalmente
no que diz respeito às práticas jornalísticas, mas ela também é o palco de uma nova
cultura humanista que coloca, pela primeira vez, a humanidade perante ela mesma
ao oferecer oportunidades reais de comunicação entre os povos. E não falamos do
futuro. Estamos falando do presente. Uma realidade com desigualdades regionais,
mas planetária em seu crescimento.
29
CAPÍTULO 1
AS IMPLICAÇÕES DOS WEBLOGS NA CULTURA PÚBLICA
MIDIÁTICA E NO FAZER JORNALÍSTICO.
―Se você viesse de outro planeta e entrasse na Internet,
pensaria que somos uma espécie cheia de contradições e
difícil de caracterizar. Provavelmente, você observaria duas
coisas em particular: o quanto estamos desesperados por nos
conectar uns com os outros, o quanto curtimos a companhia
alheia; e o tanto que estamos entusiasmados com a
possibilidade de criar coisas.‖ (David Weinberger, 2008)
1.1 A revitalização da esfera pública pela comunicação ciberespacial
chamada era da cibercultura nasce no contexto de globalizações
diversas em que as características do que tem sido designado por
pós-modernidade
13
se tornaram mais claras e suas conseqüências se
radicalizaram e se difundiram amplamente, num cenário evidente
direcionado pela crise das ideologias e das utopias e do processo em marcha de
unificação do planeta em torno de um único modelo político (neoliberalismo), de uma
única ordem econômica capital (globalização) e de uma única rede de trocas
eletrônicas (WEB/ Internet).(Rüdiger, 2000).
Traçando um panorama mais amplo, Rodrigues (1993) percebendo esta
realidade sob o contexto dos últimos anos do século passado afirma que,
O nosso século tornou-se assim o século da informação, tal como o século
XIX foi o século da produção industrial, os dispositivos eletrônicos da
informação permitem ultrapassar cada vez mais as limitações do espaço e
do tempo que, até há pouco tempo, nos mantinham relativamente
confinados à comunidade que nos tinha visto nascer, viver e crescer, mas
devido a abundância, à rapidez e à instantaneidade da informação, a
13
Existe hoje um grande dilema teórico na busca em definir o que é a pós-modernidade, pois esta se encontra
em ambigüidades conceituais, mas de acordo com algumas tentativas poderíamos afirmar que as características
mais claras vinculadas a tal questão da emergência do pós-moderno seriam: os novos tipos de consumo,
obsolescência planejada, novos tipos de mudanças na moda e no estilo, a penetração da propaganda, da
televisão e dos meios de comunicação em geral num grau até então sem precedentes em toda a sociedade, a
substituição da velha tensão entre cidade e campo, centro e província, pelos subúrbios e pela padronização
universal, o crescimento das grandes redes de auto-estradas e o aparecimento da cultura do automóvel, esses
são alguns trações que parecem marcar uma ruptura radical com a velha sociedade do pré-guerra, na qual o
modernismo canônico ainda era uma força clandestina. O pós-moderno está então estreitamente relacionada
com a emergência desse novo momento do capitalismo tardio, multinacional ou de consumo. (Cf. SANTOS, Jair
Ferreria dos. O que é o pós-moderno? São Paulo. Ed. Brasiliense, 2004).
A
30
percepção da actualidade tornou-se uma realidade cada vez mais defasada
em relação aos ritmos concretos da experiência humana que alimentam os
processos comunicacionais.(RODRIGUES, 1993, p.24).
A penetrabilidade da revolução da tecnologia da informação e comunicação
(TIC) em todas as esferas da atividade humana nas últimas décadas possibilitou a
recriação constante de mecanismos e instrumentos comunicacionais. Além desta
renovação desenfreada, estes mecanismos foram rapidamente capturados e
consolidados no cotidiano urbano de nossa sociedade industrial. Foi assim com a
televisão, e mais atualmente têm sido com os aparelhos celulares e com os
computadores pessoais (PC).
Hoje é visível que a Web é a maior expressão desta complexidade
comunicacional, pois ela permite recriar todo um sistema de significados e
interatividade baseado na liberdade de produção e de busca de informação. Os
sujeitos podem facilmente através dela se expressar, se comunicar e criar redes de
sociabilidade, e nesse sentido Rüdiger chama a atenção para o fato de que,
[...] mais do que o rádio, a TV e o cinema, o meio eletrônico cria um mundo
paralelo auto-suficiente, onde as pessoas podem entrar e sair à vontade,
imergir e freqüentar, e sua única busca agora é a de lugares para fugir do
tédio cotidiano. [...](RÜDIGER, 2002, p 2).
Dessa maneira o rápido desenvolvimento técnico e científico que
presenciamos nas últimas décadas do século XX tem atraído cada vez mais a
atenção de pesquisadores sociais. Por exemplo, as novas conquistas no campo da
microeletrônica, que levaram a popularização dos computadores individuais, m
sido vistas por alguns autores, como constitutivas de uma nova sociedade, a assim
chamada ‗sociedade informática‘ (Schaff, 1990). No entanto, essas análises
resvalam com freqüência em velhas concepções deterministas, que pressupõem
que as transformações no campo da técnica condicionam imediatamente
transformações mais amplas no conjunto da sociedade.
Mas faz jus ressaltar que a tecnologia é uma criação do homem, produzida
num determinado contexto social, cultural e que carrega em si, segundo vy (1999,
p.25), projetos, valores, esquemas imaginários e implicações variadas. Sendo
portadora de cultura e valores, a tecnologia não determina uma práxis social, até
porque não é entidade que age sobre o homem de forma autônoma. Uma vez
inserida na processualidade da vida condiciona e potencializa mudanças.
31
Sua presença e uso em lugar e épocas determinados cristalizam relações
de força sempre diferentes entre os seres humanos. [...] Uma técnica é
produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se
condicionada por suas técnicas. E digo condicionada, não determinada.
(LÉVY, 1999, p.13 e p. 25).
De fato, a tecnologia não tem caráter mágico ou sobrenatural, nem a
sociedade é uma extensão da tecnologia. uma relação dialética entre tecnologia
e civilização (Castells,1999). O sentido da tecnologia reside nas intenções dos
usuários que as trocam e formulam. Uma inovação tecnológica programa, sem
dúvida, certos usos, mas estes por sua vez desviam, modificam ou adaptam a
ferramenta aos mundos próprios dos utilizadores.
Nesse sentido em contrapartida a uma análise tecnicista - determinista é que
analistas mais criteriosos têm se voltado, sobretudo, para a análise das novas
práticas sociais que estão emergindo em setores específicos no mundo da cultura
midiática virtual. que o processo de mutação é, antes de tudo, histórico-social e
pertence a um contexto. Essa perspectiva sugere observar a revolução tecnológica
contemporânea no contexto histórico-social de evolução do capitalismo como uma
força motriz importante na construção de valores culturais e na dinâmica das
relações sociais que dão forma ao novo paradigma tecnológico e comunicacional. É
vista, portanto, nas suas articulações sistêmicas, como técnicas sociais de
organização, funcionamento, mudança, controle e administração de novas formas de
produção de bens simbólicos, como os produtos da comunicação, a exemplo do
jornalismo.
A revolução tecnológica de hoje muda a experiência de mundo, assim como
aconteceu na Revolução Industrial, quando surgiram novas relações técnicas de
produção, relações sociais e de poder baseadas na propriedade privada dos meios
de produção e no tipo de superestruturas características do capitalismo. ―A mudança
é tão cultural e imaginativa quanto tecnológica e econômica‖, segundo Johnson
(2001, p. 35).
A essência das mutações tem relação com a natureza diferenciada das
tecnologias contemporâneas. Em comparação a outras do passado, as tecnologias
digitais distinguem-se por ampliar a capacidade intelectual do homem. Não apenas
elas possibilitam centralizar conhecimentos e informação numa rede técnica
informatizada, como permitem aplicar esses conhecimentos na geração de novos
conhecimentos e mecanismos de processamento da informação. O que mudou,
32
segundo Castells (1999, p.78), não foi o tipo de atividade em que a humanidade está
envolvida desde a era industrial, mas sua capacidade tecnológica de utilizar, como
força produtiva direta, aquilo que caracteriza a singularidade do homem: a
capacidade superior de processar símbolos.
A revolução tecnológica possibilitou o surgimento de um ambiente cultural
singular e universal constituído por técnicas, práticas, modos de pensamento e
valores que inclui o conhecimento, as crenças, a ética, os costumes, os saberes
cotidianos e os hábitos construídos nas relações entre pessoas, grupos, instituições
ou organizações sociais informais com o aparato técnico da infra-estrutura material
da comunicação digital. Progressivamente essa revolução implementa novas
modalidades organizacionais, sociais e cognitivas, como as comunidades virtuais e a
construção de uma inteligência coletiva (Lévy,1999).
Nesse contexto, a Internet adquiriu importância estratégica no modelo social
forjado pela revolução tecnológica. Mais do que um protocolo informativo, a Internet
transformou-se num espaço social e cultural que permite estabelecer a comunicação
entre distintos tipos de rede. Constituí a base material da vida e das formas de
relação com a produção, o trabalho, a educação, a política, a ciência, a informação e
a comunicação. É o coração do novo paradigma sócio-técnico, como define Castells:
Se a tecnologia da informação é o equivalente histórico do que foi a
eletricidade na era industrial, em nossa era poderíamos comparar a Internet
com a rede elétrica e o motor elétrico, dado sua capacidade para distribuir o
poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana.
(CASTELLS, 2001, p. 15).
Como epicentro do sistema sócio-técnico emergente, a Internet é um
ambiente e um sistema de informação e comunicação (Palácios, 2000 e Lemos,
2002). Por natureza é multifacetada, podendo ser um ambiente onde convivem e
combinam entre si várias formas. Pode funcionar num ambiente compartilhado
simultaneamente como suporte, meio de comunicação que se presta à expressão;
muitas vezes como sistema tecnológico ou ambiente de informação e de
comunicação.
A definição de função depende em muito do uso que dela se faz em
determinado contexto, circunstâncias, objetivos, finalidade e aplicação social seja
por interesse, atividade específica ou mesmo por fruição. Sendo uma criação do
homem, entidade real e material da existência, essa tecnologia integra-se a
conjuntos culturais existentes.
33
Por tal condição, Castells (2001, p. 51) acredita que a Internet carrega em si
os valores e a cultura de seus criadores. Criada sob condições específicas de uma
história diferenciada, a Internet surgiu num dado contexto histórico, no qual um
grupo de participantes partilhou uma experiência comum que acabou por delimitar a
criação de valores e práticas culturais, posteriormente socializados e vivenciados por
todos os usuários da rede.
Castells (1999) relata detalhadamente o surgimento da Internet, descreve que
ela originou-se de um esquema ousado, imaginado na década de 60, no contexto da
guerra-fria, ‗pelos guerreiros tecnológicos‘ da Agência de Projetos de Pesquisa
Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, para impedir a tomada
ou destruição do sistema norte-americano de comunicação pelos soviéticos, em
caso de guerra nuclear.
O resultado foi uma arquitetura de rede que, como queriam seus inventores,
não pode ser controlada a partir de nenhum centro e é composta por
milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de
conexão. [...] a explosão da Web não foi nem prevista nem previamente
desejada pelas grandes multinacionais da informática, das
telecomunicações ou da multimídia, mas se expandiu como um rastro de
pólvora entre os cibernautas.(CASTELLS, 1999, p. 21).
A cultura da Internet, segundo Castells (2001, p. 51), é caracterizada por uma
estrutura formada por quatro estratos superpostos: a cultura tecnomeritocrática, a
cultura hacker, a cultura comunitária virtual e a cultura empreendedora. Juntos
esses estratos contribuíram para que a construção e sustentação da Internet se
desse com base em valores tais como o de liberdade individual, de pensamento
independente, da idéia de cooperação entre usuários, de comunicação horizontal,
conexão interativa, informal e aberta entre os usuários.
Dentro de tal cenário otimista, multifacetado em diferentes conceitos e
categorias possíveis temos a dualidade possível de pensar a rede como canal de
coletivização (caráter comunitário retribalizante) ou cenário do acirramento do
individualismo em rede, assim temos uma paradoxal imagem descrita numa cena
sociológica apresentada por Sherry Turkle (1995), na qual chama a atenção para o
fato de que atualmente,
Muitas das instituições que acostumavam aproximar as pessoas - uma
avenida principal, um sindicato, plebiscitos - não funcionam mais como
antigamente. Muitas pessoas passam hoje a maior parte de seus dias
sozinhas na frente de uma tela de TV ou computador. Enquanto isso, seres
34
sociais que somos, tentamos retribalizarmo-nos. E nessa ação, o
computador tem um papel central [...] O que a comunicação mediada por
computadores fará com nossas brigações perante outras pessoas? Ela
satisfará nossas necessidades de conexão e participação social ou minará
ainda mais os frágeis relacionamentos? (TURKLE, 1995 apud ANTUNES,
2001, p. 23).
Essas duas últimas questões apresentadas por Turkle
14
representam uma
problemática fundamental, uma vez que é necessário buscar compreender os
impasses e a ordem paradoxal instaurada em uma sociedade cada vez mais
fragmentada, com dificuldades de aglutinação e mobilização política devido a total
individualização dos comportamentos e o crescente desinteresse com as coisas
públicas, paralelamente à saturação de informação e à proliferação cada vez maior
de possíveis mecanismos tecnológicos a serviço da comunicação, conscientização e
socialização política.
É preciso salientar que a existência dos homens como ―seres vivos políticos‖
pressupõe, antes de mais, a visibilidade de uns perante os outros no quadro de um
espaço comum e hoje dentro do paradigma da Sociedade em Rede a Internet
inspiraria ser a definição de tal espaço comum.
Nas sociedades modernas, com as suas cidades, os seus Estados Nacionais
e as suas organizações supranacionais, esse espaço tornou-se, cada vez mais, um
espaço virtual, assegurado nos e pelos media. Neste espaço virtual - como, aliás, no
espaço ―real‖ que o antecedeu e com ele coexiste - a regra tem sido a
particularidade e a desigualdade em termos daquela visibilidade; uma situação que,
ainda que a propósito da ―ordem do discurso‖, foi oportunamente tematizada por
Foucault. A Internet, e em particular a world wide web, é concebida, portanto como
um ―espaço‖ que, dada a sua infinidade virtual, derivada da sua virtualidade infinita,
permitiria, finalmente, assegurar a universalidade e a igualdade em termos de
visibilidade.
Referente a essa realidade, Castells afirma que o surgimento da sociedade
em rede traz à tona novas formas comunicacionais e, sobretudo, novos processos
discursivos de construção de identidades, induzindo assim novas formas de
transformação social, principalmente quanto à socialização e os reflexos destas
transformações na cultura midiática como um todo. Para Castells (1999, p. 27) ―isso
14
TURKLE, Sherry. Life on the screen: identity in the age of the Internet. Simon&Shuster, New York, United
States, 1995.
35
ocorre porque a sociedade em rede está fundamentada na disjunção sistêmica entre
o local e o global para a maioria dos indivíduos e grupos sociais‖.
Um dos pressupostos que buscam entender a crescente apatia ou
desinteresse da população para com a ação política, senão pela própria vida
democrática, é correlata à destruição da cultura como processo de formação
libertador e de liberação de potenciais cognitivos que tem lugar na era de sua
conversão em mercadoria, isto é bastante discutido pelos teóricos da indústria
cultural, os frankfurtianos, ressaltando aqui nesta discussão Habermas.
Nesse aspecto a Internet é pensada como um meio pelo qual a humanidade
tem buscado se reconectar consigo mesma, através da gestão de novas formas de
comunicação, sociabilidade e reorganização de uma embrionária esfera pública
virtual. Deste princípio, é necessário propor uma primeira análise que parte do
pressuposto de que essas ações de comunicação que usam a Internet como
suporte, possuem um princípio ativo catalisador que a torna atrativa e faz desta rede
de redes de computadores, através do mundo, uma forma de comunicação que
passou pela mais rápida ampliação e uso já registrado na história.
Nesse sentido, indo de encontro ao que defende Paveloski (2003), é preciso
retomar a Teoria da Ação Comunicativa desenvolvida por Jürgen Habermas, que
neste caminho começa pela idéia de que os conceitos de Esfera Pública e Mundo da
Vida
15
compõem os parâmetros básicos para que a Internet possa ser analisada por
um prisma mais humanitário e menos tecnocrata.
Isso quer dizer que a idéia de agir comunicativamene e promover ações
comunicativas não é simplesmente proporcionar e incentivar a criação de espaços
para manifestações individuais das mais variadas, como a Internet o faz. É preciso
levar em consideração, usando o estímulo que Habermas nos dá, que precisamos
analisar a existência das verdadeiras ações comunicativas no âmbito da rede de
15
Quando apresenta sua idéia de Mundo da Vida, na obra Mudança Estrutural da Esfera Pública‖ (1962) e a
desenvolve em outros livros, em especial no trabalho, ―Teoria do Agir Comunicativo‖ (1987), Habermas busca
mostrar a racionalidade dos indivíduos mediado pela linguagem e comunicatividade. Esses elementos se
constituem em instrumentos de construção racional dos sujeitos calcado na estruturação de três universos: o
objetivo, subjetivo e o social. Esses três mundos, que compõe simultaneamente o mundo da vida, referem-se a
totalizações diferentes que englobam desde o processo de relação formal entre sujeito e instituições formais
constituídas até as experiências cognitivas adquiridas pelo sujeito no processo cotidiano de suas relações
sociais. sobre a esfera pública, podemos classificar tal conceito como a reunião de sistemas e sub-sistemas,
mais a reunião de um público, formado por pessoas privadas, que constroem uma opinião pública. Essa esfera
pública seria então a esfera de representação de uma teia para a comunicação de conteúdos e tomadas de
posições, de opiniões. Esta teia compõe uma série de filtros que contribuem para a formação da opinião pública
institucionalizada, o que influencia diretamente o entendimento genérico que se tem da própria esfera pública, da
participação do indivíduo nesta esfera e na formação da opinião pública, influenciando por fim a linguagem da
práxis cotidiana. (Cf. PAVELOSKI, Alessandro. Comunicação e Internet: Visões e Interpretações. Bauru: 2003).
36
redes, aberta, fluída, mesmo que muitos países a olhem com certa desconfiança. É
válido frisar também que tais ações acontecem através daquilo que Habermas
classificou como uma das qualidades do verdadeiro agir comunicativo: ―consensos
alcançados por possibilidades reais de discussão de temas públicos‖. (HABERMAS,
1987, p. 39).
E como salienta Rüdiger,
[...] uma parcela importante das conquistas e liberdades que desfrutamos
hoje se deveu à formação de uma esfera pública, em que sujeitos, em
princípio livres, se reúnem para discutir e deliberar sobre seus interesses
comuns. Transferindo para a atualidade, a economia de mercado criou em
seus primórdios um espaço público sustentado pela circulação de mídia
impressa que permitiu à burguesia desenvolver uma consciência crítica em
relação às autoridades tradicionais, encarnadas no estado e na Igreja.
Entretanto, a expansão do aparelho de estado e do poder econômico,
ocorrida no último século, rompeu com o frágil equilíbrio em que se
sustentava essa forma de sociabilidade, transformando o papel da mídia ao
mesmo tempo em que sua base tecnológica (RÜDIGER, 2001, p. 140).
1.2 A opinião: do advento da imprensa a ágora digital.
Num breve resgate histórico poderíamos lembrar que ao longo dos séculos a
expressão da opinião pública está ligada a uma atividade política.
[...] Eram as deliberações dos cidadãos da Polis grega, realizadas no local
do mercado, o ágora, que orientavam a tomada das decisões pelo governo
ateniense. Em fins do século V a.C., aparece uma classe de homens
políticos, que cortejam a opinião, para conduzir o povo no sentido que
desejam. A mesma coisa acontece com a Vox Populi dos romanos. O
fórum substituiu-se o ágora, mas apenas os cidadãos de Roma têm direito a
expressar sua opinião. Na Idade Média européia, com a notável
homogeneidade dos sistemas de valores e de crenças, encontramos o
conceito de Consensus Omminium (acordo de todos), que expressa a voz
de uma opinião coesa em torno da cristã. Já o Renascimento marca o
advento do indivíduo e, com ele, o direito à diversidade das opiniões.
(AUGRAS, 1974, p.14-15).
O surgimento dos jornais diários no século XVII consagrou a possibilidade do
desenvolvimento da opinião crítica através do acesso a novas informações. Sendo
uma imprensa de opinião de informação, mas é, sobretudo no século seguinte que a
imprensa se desenvolve, desempenhando um papel não desprezível na formação da
opinião esclarecida, que contribuiria até com a Revolução Francesa.
Após a invenção da noção de indivíduo racionalmente proclamado e
endossado pelas promessas emancipatórias do capitalismo e da modernidade,
37
vemos o século XIX iniciar-se enraizado em duas revoluções: a industrial e a
burguesa e sob este contexto a imprensa desenvolve-se e toma vigor.
Através de revoluções sucessivas, a expansão das idéias republicanas leva
o mundo ocidental a generalização do sufrágio, em fins do século XIX. O
século XX vê o advento das democracias modernas, a proliferação das
técnicas e o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. A
opinião torna-se um tribunal que avalia os atos do governo. Na era das
comunicações de massa, a massa teria condições de informar o governo
sobe as repercussões de seus atos, num processo contínuo de feedback.
(AUGRAS, 1974, p.14-15).
Em todas as sociedades os seres humanos se ocupam da produção e do
intercâmbio de informações e de conteúdo simbólico. Desde as mais antigas formas
de comunicação gestual e de uso da linguagem até os mais recentes
desenvolvimentos na tecnologia computacional, a produção, o armazenamento e a
circulação de informação e conteúdo simbólico m sido aspectos centrais na vida
social. Mas com o desenvolvimento de uma variedade de instituições de
comunicação a partir do século XV até os nossos dias, os processos de produção,
armazenamento e circulação têm passado por significativas transformações. Estes
processos foram alcançados por uma série de desenvolvimentos institucionais que
são característicos da era moderna. Em virtude destes desenvolvimentos, as formas
simbólicas foram produzidas e reproduzidas em escala sempre em expansão;
tornaram-se mercadorias que podem ser compradas e vendidas no mercado;
ficaram acessíveis aos indivíduos largamente dispersos no tempo e espaço. De uma
forma profunda e irreversível, o desenvolvimento da mídia transformou a natureza
da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo moderno.
É importante sublinhar que os meios de comunicação têm uma dimensão
simbólica irredutível: eles se relacionam com a produção, o armazenamento e a
circulação de materiais que são significativos para os indivíduos que os produzem e
os recebem.
É fácil perder de vista esta dimensão simbólica e preocupar-se tão somente
com os aspectos técnicos dos meios de comunicação. Estes aspectos
técnicos são certamente importantes, não deveriam, porém, obscurecer o
fato de que o desenvolvimento dos meios de comunicação é, em sentido
fundamental, uma reelaboração do caráter simbólico da vida social, uma
reorganização dos meios pelos quais a informação e o conteúdo simbólico
são produzidos e intercambiados no mundo social e uma reestruturação dos
meios pelos quais os indivíduos se relacionam entre si. Se o homem é um
animal suspenso em teias de significado que ele mesmo teceu, então os
meios de comunicação são rodas de fiar no mundo moderno e, ao usar
estes meios, os seres humanos fabricam teias de significados para si
mesmos. (THOMPSON, 1998, p. 19 e p. 20)
38
A mudança da escrita para a impressão e o conseqüente desenvolvimento
das indústrias da mídia marcam intensamente o processo em marcha de
desenvolvimentos e transformações societais. O surgimento das indústrias da mídia
como novas bases de poder simbólico é um processo que remonta à segunda
metade do século XV. Foi durante esse tempo que as técnicas de impressão,
originalmente desenvolvidos por Gutenberg, se espalharam pelos centros urbanos
da Europa. Estas técnicas foram exploradas pelas oficinas de impressão montadas,
em sua maioria, como empresas comerciais. Seu sucesso e sua sobrevivência
dependeram da capacidade de mercantilizar formas simbólicas efetivamente.
O desenvolvimento das primeiras máquinas impressoras foi assim parte e
parcela do crescimento da economia capitalista do fim da Idade Média e início da
Europa Moderna. Ao mesmo tempo, contudo, estas impressoras se tornaram novas
bases do poder simbólico que permaneceram em relações ambivalentes com as
instituições políticas dos estados emergentes, por um lado, e com aquelas
instituições religiosas que reivindicavam certa autoridade sobre o exercício do poder
simbólico, por outro lado.
O advento da indústria gráfica representou o surgimento de novos centros e
redes de poder simbólico que geralmente escapavam ao controle da Igreja e do
estado, mas que a Igreja e o estado procuraram usar em benefício próprio e, de
tempos em tempos, suprimir.
As inovações cnicas que possibilitaram o desenvolvimento da impressão
são bem conhecidas e é suficiente descrevê-las muito brevemente.
As primeiras formas de papel e de impressão foram desenvolvidas na
China, bem antes de se popularizarem no Ocidente. Plantas têxteis eram
transformadas em fibras, encharcadas em água, prensadas em forma de
papel e postas para secar. [...] Com o papel, as técnicas de impressão
também foram originalmente desenvolvidas na China. Os Blocos de
impressão emergiram gradualmente de processo de polimento e
estampagem que remontam provavelmente ao ano 700 d.C. A invenção do
tipo móvel é normalmente atribuída a Pi Sheng que durante o período 1041-
1408, usou argila para fazer caracteres que depois eram endurecidos no
fogo. Os métodos de impressão por meio de tipo móvel foram
desenvolvidos mais tarde na Coréia. Blocos de impressão começaram a
aparecer na Europa no último quartel do século XIV, e livros impressos
nessas chapas apareceram em 1409. Contudo, os desenvolvimentos
comumente associados a Gutenberg, se diferenciam dos métodos originais
chineses em dois aspectos: o uso de tipos alfabéticos e não ideográficos; e
a invenção da máquina impressora. (THOMPSON, 1998, p. 54 e p. 55).
Por volta de 1450 Gutenberg tinha desenvolvido suas técnicas o suficiente
para as explorar comercialmente, e poucos anos depois muitas oficinas tipográficas
39
já haviam se espalhado por toda a Europa. Isto provocou a popularização relativa ao
acesso a livros publicados, influenciando até mesmo na Reforma Protestante.
Outra maneira em que o desenvolvimento da imprensa transformou os
padrões de comunicação no início da Europa moderna foi o aparecimento de uma
variedade de publicações periódicas que relatavam eventos e transmitiam
informações de caráter político e comercial.
O desenvolvimento que profundamente afetou o estabelecimento de redes
de comunicações nos inícios da era moderna foi o uso da imprensa na
produção e disseminação de notícias. Logo depois do advento da imprensa
em meados do século XV, uma variedade de folhetos informativos, pôsteres
e cartazes começaram a aparecer. Estes eram uma miscelânea de
sentenças oficiais ou oficiosas, decretos do governo, folhetos polêmicos,
descrições de eventos particulares, tais como encontros militares ou
desastres naturais, relações sensacionalistas de fenômenos extraordinários
ou sobrenaturais, como gigantes cometas e aparições. Estes folhetos ou
folhas eram publicações avulsas e irregulares. (THOMPSON, 1998, p. 64).
Publicações periódicas de notícias e informações começaram a aparecer na
segunda metade do século XVI, mas as origens dos jornais modernos são
geralmente situadas nas primeiras duas décadas do século XVII, quando periódicos
regulares de notícias começaram a aparecer semanalmente com um certo grau de
confiabilidade
16
. A circulação dos primeiros jornais era muito baixa (estima-se a
tiragem mínima de 400 cópias), embora os jornais fossem lidos por mais de um
indivíduo, e freqüentemente fossem lidos em voz alta. Mas a importância deste novo
modo de difusão da informação, através do qual relatórios de eventos distantes se
tornavam disponíveis de forma regular para um limitado número de receptores, não
deve ser subestimado.
É fato que o homem sempre teve vontade, interesse e aptidão para saber o
que se passa. Informar e informar-se constitui o requisito básico da sociabilidade.
Mas a complexidade adquirida pela organização social e a redução dos obstáculos
geográficos, aguçaram a curiosidade humana. A intensificação e o refinamento das
relações de troca, que ocorrem no bojo das transformações capitalistas, as
possibilidades de atuar e de influir na vida da sociedade, que se afiguram na eclosão
das revoluções burguesas, tornam a informação um bem social, um indicador
econômico, um instrumento político.
16
A identificação do que poderia ter sido ―o primeiro jornal‖ é um assunto muito discutido, embora
muitos historiadores concordem que algo semelhante aos modernos jornais tenha aparecido em torno
de 1610. Cf. Eric W. Allen, “International Origins of the Newspapers: The establishment of periodicity
in print”, Journalism Quarteley, 7 (1930), p. 307-19; Joseph Frank, The Beginnings of the English
Newspaper, 1620- 1660 (Cambridge, mass.: Harvard University Press, 1961), Cap. 1.
40
Não é acidental que o jornalismo tenha emergido historicamente na esteira
dos acontecimentos que preparam e tornam realidade a transformação das
sociedades européias. Como bem demonstra Melo (1985) as primeiras
manifestações do jornalismo, as relações, os avisos, as gazetas que circulam
escassamente no século XV e ampliam-se no século XVI atendem a necessidade
social de informação dos habitantes das cidades, súditos e governantes, mesmo sob
um contexto de censura prévia estas folhas impressas
17
que circulavam de mão em
mão foram o embrião do autêntico jornalismo
18
, que emergiu somente com a
ascensão da burguesia ao poder e a abolição da censura prévia
19
, este jornalismo
teria como característica plena ‗os processos regulares, contínuos e livres de
informação sobre a atualidade e de opinião sobre a conjuntura‘.
Na Inglaterra, por exemplo, também ocorre a expansão da liberdade de
expansão dos jornais, mas estes jornais foram obstados na sua atividade com a
aprovação do imposto do timbre que obrigava o recolhimento de uma taxa relativa a
cada exemplar publicado. Medidas como essas não tardaram a surgir em todos os
países onde a burguesia havia completado o controle do aparelho estatal. Se, por
um lado, a nova classe dominante garantira a abolição da censura prévia, que tantos
inconvenientes lhe causaram durante o período de luta antiabsolutista, por outro
lado, ela procurava instituir mecanismos que lhe garantissem o controle do debate
público e neutralizassem a combatividade dos seus inimigos de classe ou das
frações não hegemônicas que integravam também as fileiras burguesas. Na
Inglaterra é o imposto do timbre que cria dificuldades econômicas aos editores de
jornais garantindo o ‗monopólio do poder‘ às classes elevadas e mantendo as
massas afastadas da vida política. Na França é a regulamentação da liberdade de
imprensa que garante aos ocupantes das funções governamentais coibir o
17
A ausência de periodicidade nas publicações impressas que circularam na Europa antes do século
XVII não é uma contingência meramente tecnológica, mas um fenômeno tipicamente político. É que a
vigência da censura prévia em toda a Europa nos séculos XV e XVI, exercida pelos Estados
Nacionais ou compartilhada pela Igreja, nas nações católicas, intimidava as iniciativas porventura
existentes ou então impunha-lhes uma existência atribulada, dependendo da autoridade dos
censores, naturalmente lenta e desconfiada, ou ousando a clandestinidade, o que ocasionava a
efemeridade da aparição. (Cf. Marques de Melo, 1985, p. 13)
18
Caráter de livre publicação regular e contínua de informações atuais.
19
Na França, por exemplo, o decreto de 5 de julho de 1788, que estabelece a ―liberdade de
imprensa‖, ainda que não plenamente produz o imediato aparecimento de ―considerável número de
obras e panfletos sem nenhuma autorização prévia‖, perfazendo 70 periódicos na véspera da
Revolução e ultrapassando o milhar depois que os Estados Gerais convertidos em Assembléia
Constituinte proclamaram a Declaração dos direitos do homem e do cidadão, cujo artigo número 11
institui a liberdade de expressão e pensamento.
41
jornalismo de oposição, utilizando sutilezas jurídicas que permitiam enquadrar os
jornalistas como conspiradores.
De qualquer maneira, o fim da censura prévia constitui um fator
preponderante para que o jornalismo assumisse fisionomia peculiar- a de uma
atividade comprometida com o exercício do poder político, difundindo idéias,
combatendo princípios e defendendo pontos de vista. Nesses primeiros momentos
sua afirmação, o jornalismo caracterizava-se pela expressão de opiniões. Na medida
em que a liberdade e imprensa beneficiava a todos, as diferentes correntes de
pensamento ou os distintivos grupos sociais se confrontavam através das páginas
dos jornais que editavam
20
.
Se era assim, nada mais natural que os donos do poder, incomodados pela
virulência com que se praticava o jornalismo, atacando, denunciando, combatendo o
governo, procurassem reduzir o ímpeto da expressão opinativa. E os caminhos são
eficazes. A instituição de taxas, impostos, controles fiscais atacava o flanco da
sobrevivência econômica. A decretação de limites à liberdade de imprensa dava
conta do cerceamento político, estabelecendo o mecanismo da censura a posteriori,
ou seja,a punição dos excessos cometidos, nos termos da legislação vigente.
Tais restrições fazem medrar o jornalismo de opinião e estimulam o
jornalismo de informação. Os jornais impressos passam a ter como defesa a
‗preocupação real com os fatos‘ optando por imprimir notícias como notícias, sem
comentários, para se manter longe da polêmica
21
.
A distinção entre news e comments que se esboça no jornalismo britânico
acabaria por se impor como uma bipolarização do espaço ocupado pela informação
de atualidade nos veículos de difusão coletiva. O equilíbrio entre ambas categorias
ou a predominância de uma sobre a outra permanece como uma peculiaridade de
cada processo jornalístico, embora alguns teóricos como Chaparro (2008) alerte
para o fato que tal distinção é apenas uma ferramenta instrumental, na medida em
que tal distinção qualitativamente é infrutífera e inviável de ser feita, na medida em
20
O exercício da atividade jornalística se intensifica porque a publicação de jornais não requeria
grandes capitais. Bastava adquirir uma imprensa manual, tipos móveis, tinta e papel. Vender mil
exemplares era o suficiente para financiar a edição. (Cf. GODECHOT, Jacques. Contribuición a la
historia del periodismo, p. 2).
21
De acordo com o que afirma Marques de Melo (1985, p. 15) vemos que o jornalismo francês e o
jornalismo inglês suscitam diferentes padrões de expressão simbólica. Enquanto o jornalismo francês
apresenta-se com todo vigor opinativo, promovendo debates, levantando problemas, participando
ativamente do cenário político, o jornalismo inglês assume uma tendência informativa, retraindo-se do
combate, preferindo distanciar-se do confronto direto com o centro do poder.
42
que não existe informação sem opinião e vice-versa, mas retomaremos tal discussão
em linhas posteriores.
Mas sem vida aquilo que vigora chamar de jornalismo informativo afigura-
se como categoria hegemônica, no culo XIX, quando a imprensa norte americana
acelera seu ritmo produtivo, assumindo feição industrial e convertendo a informação
de atualidade em mercadoria. A edição de jornais e revistas que, nos seus
primórdios, possui o caráter de participação política, de influência na vida política,
transforma-se em negócio, em empreendimento rentável. O rádio e a televisão
nascem nesse contexto mercantil.
Evidentemente o jornalismo opinativo não desaparece. Na prática, ele tem o
seu espaço reduzido, sua presença na superfície impressa circunscrita às páginas
chamadas editoriais. No rádio e na televisão sua posição também se apresenta
residual.
A evolução da imprensa periódica em bases comerciais e independentes do
poder do Estado foi ainda capaz de fornecer informações e comentários críticos
sobre questões de interesse geral, introduzindo uma mudança estrutural da esfera
pública.
Os primeiros jornais que surgiram com uma vertente mais literária e cultural,
depressa assumiram uma difusão mais social e política, ao jeito daquela que
conhecemos contemporaneamente. Pela primeira vez, os jornais passaram a ser
objeto de informação ao qual o público passou a recorrer para se manter informado.
Um público constituinte das camadas mais ―cultas‖ e não o mero homem comum,
que depois passou a tecer opinião, a criticar, a argumentar sobre a informação que
lhe chegava através deste meio. É aqui que a esfera pública, caracterizada como a
detentora do poder, ou melhor, o próprio poder, assume a sua passagem para o lado
do fórum das pessoas privadas que, reunidas em público, ―obrigavam o poder a
justificar-se perante a opinião pública‖.
força considerável no argumento de que a luta por uma imprensa
independente, capaz de reportar e comentar eventos com um mínimo de
interferência e controle estatais, desempenhou um papel importante na
evolução do estado constitucional moderno. Alguns dos primeiros
pensadores liberais e líberos-democratas foram fervorosos advogados da
liberdade da imprensa. Eles viam na liberdade de expressão de opinião
através de uma imprensa independente uma salvaguarda vital contra o uso
despótico do poder pelo Estado.[...] (THOMPSON, 1998, p. 67).
43
A esfera pública burguesa torna-se o princípio organizador dos Estados de
Direito burgueses. Parafraseando Habermas (1984), a esfera pública burguesa
pode ser entendida como o conjunto de pessoas privadas que reivindicam diante da
autoridade estatal as leis do intercâmbio de mercadorias e do trabalho social.
Segundo ele tal esfera pública do século XVIII situar-se-ia entre o setor
privado (Sociedade Civil) e o poder público (Estado). Essa esfera pública política
defende os anseios da sociedade privada diante dos interesses do Estado: é que
surge a esfera do social - elaborada sob a proposta de uma legislação baseada na
―razão‖ - em que o poder público está em constante disputa com a opinião pública;
uma opinião oriunda dos debates entre intelectuais burgueses e herdeiros da
aristocracia humanista na esfera pública literária que se instalava nos ―cafés‖
europeus.
Imagem 1 - Modelo de esfera pública em Habermas
44
Esse modelo se baseava na idéia de que todos poderiam alcançar as
qualificações de formação educacional e cultural de um público crítico e, assim,
participar da organização de uma opinião pública, interferindo diretamente na
administração estatal: o que não passou de uma ―idéia‖. O interesse de classe
exposto ao debate público poderia tomar a forma de um interesse ―universal‖ para,
então, assumir o status de opinião pública.
eles [proprietários] tinham, toda vez, interesses privados que
automaticamente convergissem nos interesses comuns da defesa de uma
sociedade civil como esfera privada. Com isso, deles é que se podia
esperar uma representação efetiva do interesse geral. [...] O interesse de
classe é a base da opinião pública. (HABERMAS, 1984, p.108)
Desse modo, a idéia burguesa de uma esfera pública acessível a todos não
se concretiza: há uma generalização na definição de público que ultrapassa as
desigualdades históricas. Portanto assim tal proposta de um equilíbrio entre todos os
homens não supera as barreiras da segregação classista
Mas é preciso relembrar que este debate é denso e que há várias
conceitualizações de esfera pública que conheceram uma consagração importante
nos estudos sobre as relações entre comunicação e política. Uma primeira, de
Hannah Arendt é relacionada com a idéia de virtude cívica configurando-se como
uma espécie de recuperação do ideal contido no espaço público grego (ARENDT,
1996, p.198). Para uma segunda concepção, mais centrada na modernidade, e
estudada em perspectivas diversas por Tarde, Dewey, Blumer, Gouldner e pelo
mencionado Habermas, a nova esfera pública surge como uma forma emergente de
sociabilidade que, no limite, aspira a modelar o agir político. O princípio da
publicidade, sob o fundamento de um público de pessoas privadas, educadas e
racionais, que desfrutam a arte e utilizam a imprensa como medium, configura-se
como exercendo uma função absolutamente crítica contra a praxis secreta do
Estado (HABERMAS, 1984). Assim, por esfera pública pretende-se significar, antes
de mais, um domínio da vida social onde a opinião pública pode formar-se. Uma
porção da esfera pública surge sempre que é constituída uma situação
conversacional na qual pessoas privadas se juntam para formar um público. No
conceito moderno de espaço público estamos a falar de uma entidade espaço-
temporal onde os cidadãos se juntam livremente e têm conversas de modo aberto
acerca de assuntos de interesse público. Numa linha que retoma algumas
semelhanças, Gouldner sustenta a necessidade de um espaço claramente definido
45
e seguro onde se podem desenvolver conversas face-a-face acerca das novidades e
do sentido que elas possam ter (GOULDNER, 1976, p. 98 apud CORREIA, 1998,
on-line).
Daqui resulta, através de uma idealização crescente em relação ao modelo
histórico do século XVIII, a generalização de um modelo abstrato chamado ―situação
ideal de discurso‖, onde todas as vozes relevantes podem ser escutadas, onde a
conversação é mantida graças ao respeito por uma norma de organização do
discurso que remete para o uso do melhor argumento de que dispomos no nosso
presente estado de conhecimento e onde todos os participantes intervêm numa
situação de reciprocidade igualitária Nesta concepção de espaço público, é
francamente referida, com abundância de argumentação, a importância da imprensa
na criação da esfera pública burguesa nos séculos XVII e XVIII. Para Gabriel Tarde
o público não podia existir sem um texto partilhado, regularmente publicado e
geralmente acessível.
Simultaneamente, Habermas sempre sustentou que o público burguês,
descrito na sua obra clássica, crescera graças à publicação regular de informação
mercantil e financeira (1982, p. 16). Tal como Tarde explicaria ―a imprensa unifica e
revigora a conversação, elevando-a a um nível que transcende a mera tagarelice‖
(1898, p. 19- 20). De certo modo, tornar-se-ia numa representação do povo, sendo
os olhos e ouvidos do povo quando este não podia ver nem ouvir por si próprio, ou
mesmo falar por si próprio. Aos olhos de Dewey, a vigilância exercida sobre o poder
significava um uso da imprensa que ajudava a produzir um blico organizado e
articulado necessário para a democracia.
Como afirma Correia, um dos pontos convergentes destas análises é a
interação dialógica.
A interação surge sempre implícita ou explicitamente referida como ão
comum desenvolvida e partilhada pelos membros de um grupo e entre o
medium e os membros desse grupo, tendente a realizar e a concretizar os
seus projetos ou apresentar as suas opiniões; a reagir perante os projetos e
opiniões alheias; a comunicar e expor entre si os seus argumentos,
procurando legitimar as suas ações e enunciados ou a questionar a
legitimidade das ações e enunciados alheios em função da sua maior ou
menor racionalidade intrínseca. (CORREIA, 1998, p. 8, on-line).
Na forma de sociabilidade definida por público, verifica-se, para a maioria dos
pensadores sociais, um modo de interação centrado no confronto das
46
interpretações, verificando-se que as argumentações são complexas, criticadas e
enfrentadas por contra-argumentações.
A despeito da importância concedida à imprensa, a alegada dissolução do
espaço público seria também, de modo não menos explícito, atribuída à
industrialização midiática. É conhecida a narrativa da perda que acompanha esta
idealização do espaço público, a qual vem associada ao triunfo de uma certa
indústria midiática: o público leitor que prefigurava o público político confronta-se, ao
longo da obra de Habermas, com a narrativa do seu declínio, pois ―o raciocínio tende
a converter-se em consumo e o contexto da comunicação pública dissolve-se em
atos estereotipados de recepção isolada‖ (Habermas, 1982,p. 191). A massificação
da cultura e a substituição da esfera pública iluminada por consumidores passivos, a
transformação da imprensa de genuína expressão da opinião pública em
instrumento de interesses particulares relacionados com os lobbies são alguns
traços do diagnóstico.
Neste sentido,
A análise que se fez do devir do espaço público pode sintetizar-se numa
idealização que resulta da tentativa, admitida por Habermas, da constituição
de um modelo heurístico, acompanhada quase sempre por um desaguar na
decepção, que se sucede à idealização inicial. Assim, primeiro, foi a
emergência de uma esfera pública que colocou, ainda que em termos
ideais, a hipótese de comunicar o pensamento, de forma racional e
igualitariamente repartida, no cerne da própria atividade política. Depois, foi
o devir espectacularizante das mensagens e o aparecimento, no lugar do
público, dessa forma de sociabilidade heterogênea e indiferenciada que
designamos por massa. (CORREIA, 1998, p. 06, on-line)
Finalmente, são as redes que dimensionam a comunicação em termos
universais. Ao mesmo tempo que esta tecnologização se acelera surgem, no seio da
indústria midiática, fórmulas empresariais e comunicativas que possibilitam uma
relação estreita com os blicos. É o que acontece com os media interativos,
nomeadamente a Comunicação Mediada por Computador (CMC) que muitas das
vezes emergem acompanhados por uma espécie de saudosismo em relação ora à
ágora grega, ora ao espaço público burguês.
Nesse sentido, Catarina Rodrigues (2004) compara os blogs a uma ágora na
internet:
[...] os blogs constituem um espaço onde qualquer pessoa (que tenha
acesso à Internet) pode dizer o que pensa sobre um determinado assunto,
um espaço que proporciona a troca de conhecimento e muitas vezes
impulsiona o debate. Transpomos assim a ágora, que ocupava na sua
gênese um espaço físico, uma praça pública delimitada, para um espaço
virtual proporcionado pela Internet. (RODRIGUES, 2004, p. 29).
47
Dentro de uma cronologia possível então, a Internet hoje inspiraria imagens
de um grande sistema público mundial de interconexões de máquinas e redes que
promovem o agir comunicativo e formação de consensos opinativos. A constituição
da esfera pública não é representada aqui pelas tentativas que os Estados,
instituídos legalmente ou por força, colocam em prática para regulamentar o poder
comunicativo da rede das redes, tentando formatá-la como buscam às vezes fazer
com os meios de comunicação de massa tradicionais (jornais, redes de televisão,
rádios). É possível ainda avaliar que esta esfera pública representa também o
âmbito ético, moral e sócio-técnico que promove as interações entre diversas
esferas públicas através do planeta, visando encontrar um consenso. Tal consenso
não seria apenas tecnológico, mas se daria pela força sem violência do discurso
argumentativo. (PAVELOSKI, 2003). No âmbito do ciberespaço, este consenso
configura-se como discurso multilateral, globalizante e, como previa Marshall
Mcluhan, baseado numa oralidade quase que tribal, promovendo uma nova
lingüagem entre o formal e o informal.
É fato que após o surgimento e a difusão da Internet, alguns aspectos
referentes à democratização da informação sofreram grandes mudanças.
Antes dos aparatos tecnológicos para produção e difusão de conteúdo,
disponibilizados hoje pelas ferramentas acessíveis via Internet, a produção
de informações limitava-se a condições técnicas e de difusão restritas. Hoje,
com conhecimentos básicos em informática, um computador com acesso a
rede e a um baixo custo, qualquer usuário pode produzir e divulgar
conteúdos para um incontável número de pessoas por todo o mundo (LÉVY,
1999, p. 241).
Qualquer grupo ou indivíduo pode ter, a partir de agora, os meios técnicos
para dirigir-se, a baixo custo, a um imenso púbico global. Qualquer um (grupo ou
indivíduo) pode colocar em circulação obras ficcionais, produzir reportagens, propor
suas sínteses e sua seleção de notícias sobre determinado assunto. (LÉVY,1999, p.
239-240)
Nesse sentido a Internet é concebida como esse novo espaço social no qual
são gestadas novas formas de comunicação, de pensamento, convivência e
participação política.
A revolução contemporânea das comunicações, da qual a emergência do
ciberespaço
22
é a manifestação mais marcante, é apenas uma das
dimensões de uma mutação antropológica de grande amplitude em
22
Segundo Lévy em sua obra Cibercultura (1999), ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da
interconexão mundial dos computadores, especificando não só os próprios seres humanos, mas o universo de
informações e os próprios seres humanos que o movimentam. (Cf. LÉVY, 1999, p.17)
48
andamento. [...] A humanidade reconecta-se consigo mesma. (LÉVY, 2000,
p. 195).
Então, faz se necessário pensar através da história, como uma máquina de
calcular gradativamente foi se transformando numa máquina social, num gigantesco
cérebro planetário, e, conseqüentemente, como algumas formas de sociabilidade,
tanto em nível de trabalho quanto nas relações pessoais, foram alteradas, visto as
relações sociais estabelecidas no ciberespaço estarem gerando códigos e estruturas
próprias que, se não necessariamente inéditas, estão sendo readaptadas, em
conformidade com cada comunidade. Inúmeras comunidades criadas no
ciberespaço foram estabelecidas, as mais conhecidas são as dos gamers, dos
micronacionalistas, dos ciberpunks, dos ciberartistas, das ciberfeministas e dos
blogueiros.
No que respeita às comunidades virtuais, procura-se, hoje, destacar o seu
papel salvador da interação que a cultura de massas dissolvera. Com efeito,
neste momento, os news groups da Internet, chats, MUDs (Multi-User
Dungeon) e, ainda, os MOOs (Multiuse Object Oriented ou, para alguns,
Multiuse Object Oriented systems), MUVE (Multi-user virtual environment) e
MUSH (Multi-user shared hallucination) - estas últimas, realidades virtuais
hospedadas em computadores, normalmente operando por Telnet,
completamente baseados em texto e, por vezes, dotadas de um humor e
capacidade de fantasia dignas de relevo na descrição sempre escrita dos
componentes físicos do ambiente, na auto-representação dos personagens
e até dos objetos imaginários com que se confrontam - são promovidos ao
estatuto de uma esfera pública emergente que renovarão a democracia do
nosso século. Podemos falar de um novo tipo de sociabilidade, que se
traduz na proliferação de pequenos médios e grandes grupos onde se
realiza a simbiose da fragmentação pós-moderna do espaço público com os
avanços da microeletrônica. (CORREIA, 1998, p. 4, on-line)
Não é de admirar que a Web tenha sido glorificada como o veículo, por
excelência para o discurso livre e para o debate público. Hoje a comunidade não
tem o mesmo significado que tinha quando Tönies procedeu à sua definição clássica
e é encarada como sendo composta por indivíduos que partilham interesses
comuns, normalmente assentados em laços estabelecidos à distância. A
proximidade geográfica deixa de ser necessária para as relações comunitárias à
medida que a tecnologia permite que certos laços primários se desenvolvam através
de distâncias cada vez mais vastas. Os critérios utilizados por diversos autores para
testar a força e a durabilidade dos laços estabelecidas na rede demonstraram que o
conceito se podia aplicar a muitas das realidades disponibilizadas pela Internet.
Reihngold (1998) usa o termo ―tribos em tempo real‖ para fazer a descrição
da Internet Relay Chat. BarryWellman (apud Correia) indica que as tecnologias da
49
informação facilitaram o desenvolvimento de redes sociais suportadas por
computadores que se tornaram bases importantes para o desenvolvimento de
comunidades virtuais. Jones (1999) sustenta a existência de comunidades virtuais
como espaços sociais nos quais as pessoas se encontram face a face, mas nos
quais os termos encontrar e face a face ganham um significado novo. Sherry Turkle
(1995, p. 88) recorre à existência de regras e de regulamentos codificados e
partilhados para definir os MUDs como comunidades virtuais. Em todos estes casos,
o que se sublinha é que a comunidade de interesses, gostos e preferências
prevalece sobre a partilha de um espaço geográfico.
Com efeito, a comunidade virtual parece enfatizar uma comunidade de
interesses relacionada com o assunto em discussão que pode conduzir ao
fortalecimento do espírito comunitário. Num certo sentido, a comunidade está, para
alguns autores (Wolton, 1999, p. 169) em condições de perder a sua dimensão
regressiva e tradicionalista para adquirir uma abertura e uma porosidade essenciais
que permitem articular a dimensão cosmopolita da argumentação e da racionalidade
com a dimensão hermenêutica da existência concreta num mundo da vida
partilhado.
Conseguir-se-ia, assim, ―a abertura à comunidade sem esquecer a insistência
no espírito crítico e na idéia de cidadania‖ (Correia, 1998, p. 162). Conciliar-se-ia a
pulsão da unidade que anima a idéia de comunidade com a idéia de tensão para a
pluralidade que anima o espaço público. Deste modo, a relação com o espaço
público torna-se evidente com a idéia de conversação, a qual é entendida como
fundamento do governo democrático (Dewey, 1927), e primeira obrigação da
cidadania.
Dessa maneira fica claro que a sociedade civil conta, agora, não apenas com
os Meios de Comunicação de Massa (MCM), mas, também, com Plataformas
Comunicativas Multimidiáticas Ciberespaciais (PCMC). As habilidades inerentes ao
meio digital (como sincronia, hipertextualidade, entre outras) propiciam o surgimento
de competências comunicativas que favorecem um processo de construção de
opinião, minimizando interferências.
Segundo Lévy, o ciberespaçoé hoje o sistema com o desenvolvimento mais
rápido de toda a história das técnicas de comunicação. Pois,
[...] ao destronar a televisão, ele será, provavelmente, desde o início do
próximo século, o centro de gravidade da nova ecologia das comunicações.
50
Mas as razões de um interesse mais próximo não são apenas quantitativas.
O ciberespaço encarna um dispositivo de comunicação qualitativamente
original, que se deve bem distinguir de outras formas de comunicação de
suporte técnico. (LÉVY, 2000, p. 206).
A imprensa, o rádio e a televisão funcionam segundo um esquema em
estrela, ou ‗um para todos‘. Um centro emissor envia mensagens na direção de
receptores ‗passivos‘
23
e, sobretudo isolados uns dos outros. Certo, o dispositivo de
mídia cria comunidade, pois um grande número de pessoas recebe as mesmas
mensagens e partilha, em conseqüência, certo contexto. Mas não reciprocidade
nem interação, e o contexto é imposto pelos centros emissores.
o correio e o telefone desenham um esquema em rede, ponto a ponto, ‗um
para um‘, no qual, ao contrário da irradiação de mídia, as mensagens podem ser
endereçadas com precisão e, sobretudo trocadas com reciprocidades. Mas, em
oposição ao dispositivo estelar anterior, o esquema em rede não cria comunidade,
ou ‗público‘, pois a partilha de um contexto em grande escala é, no caso, muito
difícil.
De acordo com Lévy (1999), o ciberespaço combina as vantagens dos dois
sistemas anteriores. Porque,
[...] o ciberespaço de fato, permite, ao mesmo tempo, a reciprocidade na
comunidade e a partilha de um contexto. Trata-se de comunicação
conforme um dispositivo ‗todos para todos‘[...] ora, o ciberespaço abriga
milhares de grupos de discussão. O conjunto desses fóruns eletrônicos
constitui a paisagem movediça das competências e das paixões, permitindo
assim atingir outras pessoas, o com base no nome, no endereço
geográfico ou na filiação institucional, mas segundo um mapa semântico ou
subjetivo dos centros de interesse.(LÉVY, 2000, p. 207).
Lévy ressalta outro aspecto do ciberespaço no que se refere à intermediação
da informação, pois diz que a agora, o espaço público de comunicação era
controlado através de intermediários institucionais que preenchiam uma fuão de
filtragem e de difusão entre os autores e os consumidores de informação. o
surgimento do ciberespaço cria uma situação de desintermediação, pois quase todo
mundo pode publicar um texto sem passar por uma editora nem pela redação de um
jornal, o que não garante necessariamente, a criticidade e a confiabilidade, mas a
possibilidade de publicação é fato.
23
Passivos aqui se refere a impossibilidade de interação direta ou simultânea ocorrida e possibilitada
em grande escala no ciberespaço.
51
O ciberespaço então tem também a comunicação interativa e colaborativa
como atrativo, inserindo-se aqui os weblogs. A idéia de diário
24
eletrônico ganha
então com todo esse aparato tecnológico, uma ambigüidade fundamental: a também
reafirmação do privado e subjetivo numa esfera potencialmente pública, como
indaga a pesquisadora portuguesa Catarina Rodrigues (2002),
Será importante perceber que parte dos blogs constitui então também novas
aparições do eu no espaço público. A Internet vem permitir uma nova forma
de mediação entre o público e o privado. Será que estamos perante o
regresso da subjectividade, da afirmação do eu em forma de
diário?(RODRIGUES, 2002, p.2)
Conquanto a observação analítica de alguns desses espaços de interlocução
proporcionados pelas convergências tecnológicas anunciaria a possibilidade do
surgimento de potenciais esferas públicas ciberespaciais.
Elas constituiriam espaços de formação de opinião que se processariam pela
troca de argumentos mediados pela comunicação em rede, ou comunicação
mediada por computador, como tende-se a denominar o fenômeno. Este papel,
outrora desempenhado pela imprensa em seus gêneros literário e opinativo,
passando, em uma perspectiva histórica, pelo aparato da indústria cultural, seguido
pela mídia, tem agora mais uma plataforma de materialização: a Internet. Nela tanto
os jornais e seus novos produtos dialógicos aparecem como formas modificadas de
estímulo à esfera pública, quanto fóruns totalmente novos cumprem este papel,
permitindo que usuários do mundo todo possam expressar suas opiniões.
Aparecem, na rede, como plataformas multimidiáticas, nas quais surgem
possibilidades de debates públicos, podendo evoluir para a formação de esferas
públicas no ciberespaço.
Mas cabe frisar que a tal perspectiva otimista no que se refere a formação de
novas esferas públicas virtuais esbarra num empecilho real, a exclusão digital, o que
nos faz constatar que apesar de uma evolução constante no acesso a digitalização,
hoje ainda, a chamada ágora digital, como no passado da ágora grega, também não
é para todos.
Nessa discussão temos um grande número de teóricos enfeitiçados pela
volúpia tecnológica, ao mesmo passo que temos os críticos, não ao estilo neo-
24
Me refiro aqui precisamente a avalanche dos blogs pessoais, não necessariamente escritos por
jornalistas, que permearam o início da chamada blogosfera, antes da absorção deste mecanismos
também pelos grandes portais jornalísticos.
52
ludista
25
, mas estes trazem a tona críticas pertinentes na medida em que todo o
otimismo acerca das potencialidades da cibercultura, não passam de falácias
ultrajantes e precisam aterrissar na realidade, pois o sistema em si não romperia
com a lógica da desigualdade não sendo vastamente disseminado a possibilidade
de se inserir na ágora digital.
No Brasil o Comitê Gestor da Internet (CGI.br), enquanto coordenador das
iniciativas de serviços Internet no país, tem como uma de suas principais atribuições
coletar e disseminar informações periódicas sobre os serviços Internet. Para
monitorar e avaliar o impacto sócio-econômico das tecnologias da comunicação e da
informação (TIC) no país, o CGI.br se uniu ao IBGE Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, na construção de indicadores sobre a penetração e uso da
Internet no país
26
.
Desde 2006 foi criado dentro do CGI.br o Cetic (Centro de estudos sobre as
tecnologias da informação e comunicação), o qual é responsável pela produção de
indicadores e estatísticas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil.
Ficando responsável pela continuação da realização da TIC Domicílios, pesquisa
anual que traça um panorama sobre disponibilidade e uso da Internet.
2005
2006
2007
%
PROJEÇÃO
DOMICÍLIOS
%
PROJEÇÃO
DOMICÍLIOS
%
PROJEÇÃO
DOMICÍLIOS
Possui computador
17
7.436.000
20
8.820.000
24
11.040.000
Possui acesso à internet
13
5.720.000
15
6.525.000
17
7.774.000
Tabela 1- Percentual de domicílios com posse e uso de computadores e acesso à Internet
25
Referência ao movimento ludista ocorrida no contexto da primeira revolução industrial, no qual
desempregados de uma fábrica se rebelaram com a substituição de seus postos de trabalhos por
máquinas, nos quais se organizaram e destruíram tais máquinas.
26
Para formar um banco de dados abrangente sobre a realidade da Internet no país, o CGI.br acertou
com o Ibope a publicação de alguns indicadores de uso da rede que o instituto de pesquisa divulga
periodicamente. Tal projeto pretende disponibilizar as séries históricas de internautas ativos e horas
navegadas desde 2000, e onze indicadores mensais de acesso à Internet no mundo e no Brasil, a
partir de Agosto de 2005. A parceria com o IBGE prevê também desde o ano 2000 a inclusão de um
módulo com 23 questões básicas sobre penetração e uso da Internet na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio PNAD incluindo indicadores sobre local de acesso à Internet, freqüência de
uso, tipo de serviços e atividades realizadas, entre outras. (Cf. site do Comitê gestor da Internet no
Brasil http://www.cgi.br ).
53
2005
2006
2007
%
PROJEÇÃO
PESSOAS
%
PROJEÇÃO
PESSOAS
%
PROJEÇÃO
PESSOAS
Já utilizou computador
45
56.500.000
46
58.039.000
53
69.037.000
Utilizou computador
últimos 3 meses
30
37.125.000
33
42.037.000
40
52.924.000
Nunca utilizou
computador
55
68.500.000
54
68.961.000
47
61.963.000
Já utilizou internet
32
40.250.000
33
42.291.000
41
53.317.000
Utilizou internet últimos 3
meses
24
30.500.000
28
35.306.000
34
44.933.000
Nunca utilizou internet
68
84.750.000
67
84.709.000
59
77.683.000
Tabela 2- Quadro comparativo TICs 2005, 2006 e 2007
Fonte: Relatório Pesquisa TIC domicílios 2007, divulgado 14 de março de 2008, disponível http://www.cetic.br
Os dados da pesquisa de TIC Domicílios 2007
27
reforçam que o acesso e uso
do computador e da Internet no país depende unicamente do nível socioeconômico
do indivíduo, sua renda familiar, e a região onde vive. A penetração da posse e uso
do computador e da Internet nos diversos segmentos sociais se concentra nos
indivíduos de famílias mais ricas e, em paralelo, nos indivíduos que moram em
regiões mais ricas. Além disto, pessoas mais jovens usam mais o computador e a
Internet que pessoas mais velhas.
2005 2006 2007
total total 17 20 24
até 1 SM 2 2 3
1Sm- 2 SM 3 3 9
2SM - 3 SM 6 10 24
3 Sm - 5 SM 15 23 40
mais de 5 SM 46 54 67
(%)
Renda
Tabela 3- Proporção de Domicílios com computador percentual sobre o total de domicílios
* Base: 17.000 domicílios entrevistados em área urbana.
A TIC 2007 também aponta o aumento no ritmo das aquisições de
computadores nos domicílios (20% em 2006 para 24% em 2007), especialmente em
domicílios cuja renda está entre 3 e 5 salários mínimos (de 23% para 40%), os quais
são alvos dos programas de incentivo fiscal do governo federal.
27
A Pesquisa TIC Domicílios mediu a penetração e uso da Internet em domicílios, incluindo uso de
governo eletrônico, comércio eletrônico, segurança, educação e barreiras de acesso. As entrevistas
foram realizadas presencialmente, em 17.000 domicílios e com indivíduos a partir dos 10 anos. Os
resultados permitem a apresentação dos indicadores por 15 regiões e áreas metropolitanas, classe
social, instrução, idade e sexo.
54
Com relação ao uso do computador, a pesquisa mostra que:
53%, um pouco mais da metade da população informou ter usado
um computador; sendo que 40% são considerados usuários freqüentes
do equipamento;
47% da população brasileira nunca utilizou um computador;
24% da população brasileira possui um computador em casa;
40% da população brasileira utilizou um computador nos últimos 3
meses;
Quanto ao uso da Internet, a pesquisa aponta que:
59% da população brasileira nunca utilizou a Internet;
34% da população brasileira é usuária da Internet, quase 10 milhões a
mais do que em 2006 ;
17% da população brasileira possui acesso a Internet em seu domicílio;
89% da população brasileira utiliza a Internet para comunicação;
88% da população brasileira utiliza a Internet para lazer e fins
pessoais;
87% da população brasileira utiliza a Internet para busca de
informações e serviços on-line;
73% da população brasileira utiliza a Internet para atividades
educacionais;
18% da população brasileira utiliza a Internet para serviços bancários.
De acordo com a pesquisa IBOPE/ NetRatings
28
em janeiro de 2008 os
internautas residenciais somaram 21,1 milhões, sendo que no mesmo período de
2005, o número de pessoas que entraram na web ao menos uma vez no mês com
conexão domiciliar era de 10,7 milhões, ou seja, o volume de internautas ―.br‖
praticamente dobrou em três anos. Tal pesquisa divulgada em fevereiro de 2008
mostra que o Brasil tem 39 milhões de pessoas que acessam a Internet de qualquer
ambiente (residência, trabalho, escola, LAN houses, bibliotecas etc), número relativo
ao terceiro trimestre de 2007. Também trimestral, o total de pessoas com acesso
28
Pesquisa IBOPE/NetRatings divulgada no dia 22 de fevereiro de 2008 no jornal Folha de S. Paulo,
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u374927.shtml , acessado dia 22/02/2008.
55
residencial à Internet (mas que não necessariamente usufruem do meio) em
dezembro de 2007 continuou em 32,1 milhões de indivíduos.
Tal pesquisa
29
também demonstra um dado interessantíssimo no que se
refere a ampliação real do acesso aos produtos e conteúdos da WEB 2.0, na medida
em que apenas o acesso a conexões em banda larga é que garantem a ampliação
deste acesso a conteúdos que numa conexão discada se tornam praticamente
inviáveis devido a baixa velocidade de transmissão de bytes. A pesquisa em questão
demonstra que conexões em banda larga já estão presentes em 50% dos domicílios
brasileiros que possuem acesso à Internet, mas 42% ainda acessam a rede
principalmente por modem tradicional via acesso discado. Em 2006 o acesso
discado era predominante, com 49%, enquanto as conexões em banda larga
representavam 40% dos tipos de acesso domiciliar. O crescimento da banda larga
no período foi, portanto, de 10 pontos percentuais.
Dados comparativos mundiais com base em relatórios da Organização das
Nações Unidas apontam que o Brasil com sua marca de 32 milhões de usuários de
Internet via computador doméstico ficaria em sétimo lugar na lista dos países com
maior população de internautas domésticos. O primeiro lugar é dos Estados Unidos,
com 215,9 milhões de cidadãos conectados, seguido pelo Japão, com 86,5
milhões
30
. A ONU mostra também que, embora a Internet tenha avançado e
conquistado mais de um bilhão de usuários em todo o mundo, a propalada
"sociedade da informação" enfrenta a barreira digital: 57% das pessoas com
conexão à rede mundial de computadores estão nos países ricos. O número de
computadores no mundo também deixa clara a divisão entre ricos e pobres. Em toda
a África, segundo a ONU, existem apenas 11,5 milhões de máquinas.
Assim, com estes dados fica nítida a constatação do retrato da também
exclusão digital, isso é um fato relevante, mas não é nosso enfoque, pois mesmo
sendo isso um problema a ser pensado e solucionado, o processo tecnológico em
curso ocorre em ritmo acelerado, na medida em que assistimos hoje a ênfase nos
dispositivos personalizados, na interatividade, na formação de redes e na busca
incansável de novas descobertas tecnológicas o que vem moldando os parâmetros
de troca de informações e hoje a Internet já é uma esfera social enraizada em nossa
29
Na metodologia de pesquisa do Ibobe, o Brasil possui internautas que mais navegam, com 23
horas e 12 minutos por pessoa por mês. Ficamos à frente da França que marcou 21 horas e 38
minutos e dos EUA que têm 20 horas e 39 minutos.
30
Cf. http://www.cetic.br/usuarios/ibope/tab02-06.htm, acessado no dia 27/03/2008.
56
sociabilidade urbana global, necessitando, portanto que pesquisadores se debrucem
e analisem este processo em curso criteriosamente, enfrentando assim os chavões
de que apenas o processo de inclusão/ exclusão digital seriam temas mais
prioritários.
1.3 Jornalismo on-line, jornalismo digital, webjornalismo.
Paralelamente as Plataformas Comunicativas Multimidiáticas Ciberespaciais
(PCMC) de uso mais privativo assistimos a crescente apropriação deste cenário pela
imprensa tradicional e pelo jornalismo que busca se modificar na tentativa de se
adequar a esta nova realidade tecnológica. Simultaneamente, generalizou-se a
esperança em torno do chamado novo jornalismo, designadamente no formato dito
como webjornalismo (Canavilhas,2001).
Canavilhas afirma, portanto que o aparecimento de novos meios de
comunicação social introduziu novas rotinas e novas linguagens jornalísticas. Dessa
maneira ele exemplifica que o jornalismo escrito, o jornalismo radiofônico e o
jornalismo televisivo utilizam linguagens adaptadas às características do respectivo
meio. Contudo com o aparecimento da Internet verificou-se uma rápida migração
dos mass media existentes para o novo meio sem que, no entanto, se tenha
verificado logo a princípio qualquer alteração na linguagem.
O chamado ‗jornalismo online‘ não é mais do que uma simples transposição
dos velhos jornalismos escrito, radiofônico e televisivo para um novo meio.
Mas o jornalismo na web pode ser muito mais do que o atual jornalismo on-
line. Com base na convergência entre texto, som e imagem em movimento,
o webjornalismo pode explorar todas as potencialidades que a Internet
oferece, oferecendo um produto completamente novo: a webnotícia.
(CANAVILHAS, 2005, p.01, on-line)
Se, para o webjornalista, a introdução de diferentes elementos multimídia
altera todo o processo de produção noticiosa, para o leitor é a forma de ler que
muda radicalmente. Perante um obstáculo evidente, o hábito de uma prática de
leitura linear, o jornalista tem de encontrar a melhor forma de levar o leitor a quebrar
as regras de recepção que lhe foram impostas pelos meios existentes. O grande
desafio feito ao webjornalismo é a procura de uma "linguagem amiga" que imponha
a webnotícia, uma notícia mais adaptada às exigências de um público que exige
maior rigor e objetividade.
Com efeito, os novos media representam uma ruptura com a configuração
hierárquica e dirigista da centralização emissora, permitindo a emergência
57
de um modelo de muitos para muitos, no qual os auditores se transformam
em produtores para consumidores. (CORREIA, 1998, p.5, on-line)
Referindo-se ao teletexto e ao videotexto, Dennis McQuail afirmava em
1987 que:
Os novos media parecem oferecer o potencial de uma mudança no
equilíbrio do poder dos emissores em relação aos receptores, tornando todo
o gênero de conteúdos acessíveis aos utilizadores e seleccionadores sem
dependência dos sistemas de mediação e do controle da comunicação de
massas. (apud BASTOS, 2000, p.21).
Ora, precisamente, neste domínio, em vez de fazer apenas uma aclamação
eufórica das possibilidades emergentes no webjornalismo no que respeita a uma
eventual possibilidade de ressuscitação de uma espécie de nova ágora, interessa-
nos, sobretudo interrogar os limites e esperanças que despertam para o jornalismo à
sombra das possibilidades tecnológicas. alguns traços que podem ser invocados
a propósito desta forma de jornalismo que merecem ser pensados com cautela pelas
possibilidades que abrem. Mas cabe, portanto neste momento realizar uma distinção
conceitual através de um breve resgate do processo ainda em marcha de
convergência do jornalismo on-line para o webjornalismo.
Com o advento da Internet, um dos pontos afirmados como sendo de
mudança radical, tem sido o alargamento do horizonte de possibilidades de
produção e circulação de conteúdos. Antes de explorar, no entanto, esse fenômeno,
as particularidades da Internet, percebemos que, esse alargamento se fez presente
em determinados momentos na escala de implementação de outras modalidades
midiáticas.
O impresso, por exemplo, experimentou a partir de meados do século XIX, um
número cada vez maior de publicações e conseqüente aumento do blico leitor. O
rádio, por sua vez, experimentou o seu boom depois da primeira guerra mundial,
com a proliferação de emissoras, programas e audiência.
No caso do impresso, a ampliação ocorre tanto pelo aperfeiçoamento das
técnicas de produção (surgimento das primeiras rotativas), como pela melhora do
suporte
31
e, claro, pela existência de um mercado consumidor de letrados. no
31
Nesse caso, o exemplo se refere ao próprio papel, que passa a ser produzido a partir da celulose vegetal, e
não da reciclagem de tecidos, geralmente de algodão. Esse fator, no caso, multiplicou, à época, sensivelmente o
volume de impressos. Cf: The History of paper and papermaking.
http://inventors.about.com/library/inventors/blpapermaking.htm
58
caso do rádio, essa difusão ocorre, sobretudo, a portabilidade, barateamento e
simplicidade de uso.
O que esses exemplos têm em comum? Poderíamos apresentar exaustivos
casos dos suportes midiáticos em relação a uma ampliação do público
correspondente. Todavia, esses dois casos mostram que, a progressiva aceitação
de uma mídia depende dos dispositivos tecnológicos que permitam, de um lado, a
geração em escala mais ampla de conteúdos; e do outro, condições tecnológicas e
sociais para a assimilação desse conteúdo.
Ora, isso resolveria, pelo acúmulo de tecnologias disponíveis e aparição de
públicos específicos, a questão da diversidade de informação. Mas, não resolve a
contrapartida do problema, ou seja: em que proporção uma tecnologia pode permitir,
dentro do mesmo dispositivo tecnológico de criação e circulação, não apenas o
acesso ao conteúdo, mas o acesso às estruturas de produção desse conteúdo?
Com a Internet, e as alternativas de dispositivos com base operativa na rede
mundial de computadores (que temos tratados genericamente aqui como rede, ou
web), temos a proliferação em escala mundial das mais diferentes naturezas de
conteúdo. Esse é o ponto de distinção em relação ao rádio e ao impresso. Estes são
modelos tecnológicos, que, a grosso modo, não superam a unilateralidade das suas
aplicações, mantendo o fluxo da informação na seqüência: emissor-receptor.
E no caso do jornalismo que se baseia na rede, como essa permissão de
geração de conteúdos opera? Em que medida ele se combina com o jornalismo,
digamos, ligado a estruturas profissionais, que também se transpôs para a rede?
Podemos dizer que, pertinente ao jornalismo, essa questão condiciona não
apenas a uma diversificação de novos veículos (exemplo: Blogs independentes), ou
transposição de veículos existentes (exemplo dos blogs vinculados a grandes
portais ou redes de jornais em sua versão on-line), mas também, sobretudo: a) A
pluralização das informações que compõem o recorte de produção da notícia e, b)
Surgimento de práticas jornalísticas desvinculadas do aparato institucional ou
empresarial do jornal.
Desse modo com a popularização da comunicação mediada por computador,
houve uma preocupação latente quanto ao conteúdo disponibilizado na rede. Os
jornais, de maneira geral, intimidaram-se com a possibilidade de serem engolidos
pela nova tecnologia e migraram para o meio digital. O divisor de águas entre as
mídias tradicionais e a on-line foram as características advindas da tecnologia para
59
divulgação de informações e convergência das mídias, permitindo aos jornais on-line
adicionar texto, som e imagem em velocidade instantânea de acesso.
A Internet como meio de comunicação ressalta aos olhos características
conhecidas das mídias tradicionais, a diferença está na potencialidade de tais
elementos. A interatividade, por exemplo, é conhecida através do rádio, veículo que
estimula a participação dos ouvintes, a TV por fornecer recursos interativos aos
telespectadores, porém muito limitados, assim como os jornais impressos, o meio
on-line, comparado às outras mídias, é o único inteiramente dialógico e interativo
(SANTAELLA, 2004, p. 52).
Bernardo Kucinski (2005, p. 88) chama a atenção para um outro fator, o
fetiche da velocidade (instantaneidade) como não sendo exclusividade no jornalismo
on-line, segundo o autor, no jornalismo em tempo real ―tenta-se dar conotação de
absoluta novidade a um processo muito antigo de transmissão ao vivo, que sempre
foi a característica do rádio, do telégrafo e de seus derivados, como o telex e agora
o fax‖. Porém, a instantaneidade é latente nos meios on-line por ser um veículo livre
de deadline.
Assim como a interatividade e a velocidade, outros recursos já citados podem
dar a impressão de novidade no jornalismo on-line, porém já eram usados em menor
intensidade pelo rádio, TV e impresso. O jornalismo on-line é fruto da convergência
das mídias, seu sucesso está no potencial de usabilidade
dos recursos disponíveis
como meio de atrair os leitores e transformar a forma produtiva da notícia.
Pode-se dizer que, com o avanço das novas tecnologias, o jornalismo
32
foi um
dos setores que mais sofreram rupturas e mudanças no paradigma comunicacional;
está havendo substituição do paradigma do pensamento linear pelo paradigma do
pensamento hipertextual, o surgimento de um novo espaço: o ciberespaço, onde
reconfiguram os espaços, as relações entre os seres humanos e a estrutura de
poder. E é diante de tamanhas mudanças que o jornalismo está inserido; voltado
agora para o ambiente virtual, é preciso adquirir novos aspectos para sobreviver no
mundo globalizado.
32
O jornalismo é, segundo Sousa (2001), uma forma de comunicação em sociedade, que, além de manter um
sistema de vigilância e de controle dos poderes através da divulgação de informações, pode significar noticiar,
informar sobre todos os acontecimentos, questões úteis e problemáticas socialmente relevantes relacionadas, ou
não, com os agentes do poder. ―Os acidentes, os casos de polícia, o desporto, a moda, o patrimônio natural e
histórico, as notícias do estrangeiro, o comportamento da bolsa, a informação de serviços, os testes
comparativos para ajudar o consumidor a fazer as melhores escolhas são alguns dos muitos exemplos de
temáticas abordadas pela imprensa jornalística‖ (2001, p. 13).
60
Nota-se que a imprensa transforma-se a cada inovação tecnológica, muda a
maneira de produção de conteúdo, altera a forma de recepção, como exemplo, o
meio impresso caracteriza-se por exigir do público o conhecimento da escrita, o
rádio atinge um número maior de pessoas por usar apenas o som (audição), a
televisão atrai um número também elevado de pessoas pelo apelo visual e auditivo,
o meio on-line agrega todas as características dos outros meios nele mesmo e
gera uma mudança de paradigma da tecnologia da informação. O jornalismo on-line
apresenta-se como meio de informação pautado nas inovações tecnológicas,
encontra-se diante de mudanças que passaram a representar desafios de produção
e emissão de informações noticiosas.
Seguimos agora com a trajetória desta nova modalidade de veiculação de
notícias.Na década de 1970, o jornalismo on-line trilha seus primeiros passos nos
Estados Unidos, quando o New York Times, através do New York Times Information
Bank, oferece aos assinantes dotados de computador, artigos e textos de suas
edições diárias. Segundo Dizard (2000, p. 234), em 1980, em Ohio, o jornal
Columbus Dispartels disponibilizou todo seu conteúdo aos assinantes que possuíam
computador, porém exigia o pagamento de uma taxa pelo serviço. Após 15 anos, em
1995, apenas uma centena de jornais diários estavam na web. Na virada do culo,
todos os diários de grande circulação estavam representados na Internet, ao lado de
centenas de publicações menores. Cada vez mais eles estão explorando sua maior
vantagem, que é a informação local (DIZARD, p. 234).
Começa-se a falar em jornalismo on-line, no Brasil, em 1995, quando surge o
primeiro site do Jornal do Brasil
33
; na mesma época também é disponibilizada a
versão on-line do jornal O Globo. A expansão dos sites no país se deve ao
surgimento de portais gratuitos, como, por exemplo, o iG
34
, que tinha como missão
desenvolver um site de abrangência nacional, de larga escala e que pudesse atrair o
maior número de usuários no menor tempo possível. ―Muitos usuários deixaram de
pagar seus provedores e optaram pela Internet sem custo. Ao final do primeiro mês,
o iG tinha quase oitocentos mil usuários cadastrados e uma média próxima a 1,1
milhão de page views por dia‖ (FERRARI, 2003, p. 25-29).
O crescimento do jornalismo on-line é atribuído, além de outros fatores,
também à audiência; Pavlik (2001, p. 21) afirma que as pessoas querem e buscam
33
www.jb.com.br
34
www.ig.com.br
61
suas notícias em tempo real, querendo saber o mais rápido possível e pela Internet
elas encontram o que procuram.
O jornalismo disponível na web recebe uma enormidade de denominações
que tentam identificar sua atual função na rede, ouve-se falar em jornalismo
eletrônico, jornalismo digital, jornalismo on-line, webjornalismo, cada qual assumindo
diferentes papéis, cabe aqui fazer uma breve explanação sobre cada um deles.
O jornalismo eletrônico é considerado aquele baseado apenas na
transposição de conteúdos de um meio para outro, por exemplo, um jornal impresso
que transporta as notícias publicadas no jornal do dia para a versão on-line.
O segundo assume características similares às do jornalismo on-line, porém,
Ana Lúcia Santos (2003, on-line) explica que o termo ―remete mais às tecnologias de
produção e armazenamento de informações do que especificamente ao ambiente no
qual é consumido. Ou seja, a produção feita a princípio para átomos é transformada
em bits‖. Para exemplificar, a autora cita edições impressas no período de um ano
do jornal Folha de S. Paulo gravadas em CD-ROM. O que se tem é um banco de
dados que não pode ser alterado, estando limitado à interatividade, atualização e
personalização de conteúdo.
O jornalismo on-line é um termo bastante popular e vem sendo usado para se
referir à produção e disseminação de notícias na Internet. Sua produção é
caracterizada pelo uso das ferramentas digitais (atualização, hipertexto,
interatividade, personalização, memória e multimídia) e convergência de mídias
permitindo a publicação de notícias em tempo real. João Canavilhas (2001) chama
de webjornalismo a descrição feita acima e denomina de jornalismo on-line aquelas
publicações que migraram de um meio específico (televisivo, impresso, radiofônico)
para o ambiente virtual, ou seja, a transposição de conteúdos para um novo suporte.
Dessa maneira o jornalismo on-line é caracterizado como esta fase de
transposição de conteúdos do impresso para a rede e, sobretudo pela o criação
de linguagem própria ou uso de todas as potencialidades multimidiáticas do novo
suporte digital. Mas a constatação disso em termos históricos nos remete ao que
afirmou Marshall McLuhan que o conteúdo de qualquer médium é sempre
determinado pelo antigo médium que foi substituído. Assim é óbvio que com a
Internet não ocorre uma exceção a esta regra. Devido a questões técnicas, (baixa
velocidade na rede e interfaces textuais), a Internet começou por distribuir os
conteúdos do meio substituído - o jornal. Só mais tarde a rádio e a televisão
62
aderiram ao novo meio, mas também nestes casos se limitaram a transpor para a
Internet os conteúdos já disponibilizados no seu suporte natural.
Canavilhas afirma que a Internet neste primeiro período se limitou a
disponibilizar apenas as emissões das rádios e dos telejornais em suporte on-line. E
apesar do inquestionável interesse da difusão destes conteúdos à escala global, é
um completo desperdício tentar reduzir o novo meio a um simples canal de
distribuição dos conteúdos existentes. Para ele olhar para o jornalismo on-line
seria algo semelhante a imaginar a transmissão de um telejornal onde alguém
simplesmente um jornal frente a uma câmara. Afirmar-se que "a rádio diz, a televisão
mostra e o jornal explica" não é mais do que constatar que cada meio tem as suas
próprias narrativas e linguagem. E a ser assim, a Internet, por força de poder utilizar
texto, som e imagem em movimento, terá também uma linguagem própria, baseada
nas potencialidades do hipertexto e construída em torno de alguns dos conteúdos
produzidos pelos meios existentes.
De certa forma, o conceito de jornalismo encontra-se relacionado com o
suporte técnico e com o meio que permite a difusão das notícias. Daí
derivam conceitos como jornalismo impresso, telejornalismo e
radiojornalismo.(MURAD, 1999)
É, pois, com naturalidade que ele introduz o conceito de ‘webjornalismo‘ na
contraposição e substituição do conceito de jornalismo on-line (CANAVILHAS,
2005), na medida em que o webjornalismo seria o conceito que daria conta de
englobar uma realidade ainda em curso, a de criação de uma nova linguagem e uso
de recursos diferenciados. Portanto, neste trabalho, laçaremos mão do uso de
ambos os conceitos quando estivermos falando respectivamente de suas
conotações e características diferenciadoras, cada qual a seu modo.
No caso dos jornais, as versões on-line acrescentam a atualização constante,
o hipertexto para ligações a notícias relacionadas e a possibilidade de comentar as
notícias. A velocidade é uma característica do jornalismo em todos os meios de
produção, a falta de tempo no jornalismo entra em conflito com a qualidade e a
excelência da notícia, no jornalismo on-line, talvez, esse conflito esteja latente.
Bernardo Kucinski (2005, p. 97-98), ao questionar a novidade no jornalismo on-line,
aponta três características do modelo: a primeira, quanto ao seu público. A
velocidade seria a segunda característica, porém o autor critica o fascínio pela
instantaneidade por sacrificar outros atributos da informação jornalística como
63
―precisão, contextualização e interpretação‖. E a terceira característica seria o uso
das notícias on-line, por outros meios de comunicação, ―como pauta para a
cobertura feita pelos próprios jornalistas desses veículos‖.
Mielniczuk (2003, p. 43) reporta à palavra on-line a idéia de ―conexão em
tempo real, ou seja, fluxo de informação contínuo e quase instantâneo‖,
características típicas para produção de notícias em sites especializados nessa nova
prática jornalística. Mielniczuk (2003, p. 48) classifica o primeiro momento da
trajetória do jornalismo on-line como pouco inovador: os conteúdos jornalísticos
oferecidos eram reproduções de grandes jornais impressos e a atualização do
material era feita ―a cada vinte e quatro horas‖. Nessa fase, tanto a cópia de
conteúdo quanto a reprodução das rotinas produtivas de um jornal eram comuns. Há
pouco mais de dez anos, pesquisadores do meio digital tentaram desenvolver
produtos e modelos adequados para o jornalismo on-line.
Pavlik (2001, p. 43), por exemplo, sistematiza as fases ou gerações do
jornalismo on-line em três. ―No primeiro estágio, em que dominam os sites de
notícias, os jornalistas do meio on-line, na grande maioria, apenas republicam ou
‗reproduzem‘ o conteúdo produzido para outros meios‖. Nessa fase, os critérios de
apuração, enquadramento e periodicidade continuam iguais aos de um jornal
impresso. Na segunda fase, uma preocupação dos sites quanto à produção de
conteúdo original e inovação nos aspectos gráficos. São características dessa fase a
utilização do hipertexto, as ferramentas de busca e as enquetes criadas por cada
site. Por último, a terceira fase, que está em plena atividade, caracteriza-se pela
criação de projetos gráficos originais desenvolvidos especificamente para a web. A
mudança no paradigma da periodicidade é fundamental: os sites passam a se
preocupar com a atualização contínua em intervalos de tempo reduzidos e a
oferecer serviços de interatividade em conteúdos, seria aquilo que Maria Angeles
Gonzáles (2001) diagnostica adicionando às fases da evolução do jornalismo na
Internet o modelo multimídia que, segundo a autora, superará a terceira fase do
jornalismo on-line proposto por John Pavlik. Tal modelo fado jornal on-line um
meio totalmente diferente do jornal impresso tanto em relação à visualização das
páginas quanto no conteúdo.
Sua principal característica é o máximo aproveitamento das possibilidades de
interatividade e multimidialidade do novo meio, mediante as quais, se pode oferecer
a informação em diferentes formatos (som, imagem fixa ou em movimento e texto).
64
Espera-se que este modelo sirva para aumentar as possibilidades de escolha dos
conteúdos por parte do usuário, o receptor da informação, assim como a oferta de
um grande número de serviços em sentido vertical (mais bem especializados),
inserindo-se aqui a oferta de serviços de conteúdos como os blogs, muitas vezes
tematizados.
Os blogs parecem pertencer à terceira fase do jornalismo on-line segundo a
classificação de John Pavlik, pois são propostas diferenciadas de produção
jornalística na web ao tentarem fazer o uso do modelo multimídia
Para Squirra (1998, p. 69-70) o jornalismo on-line está em fase experimental,
muitas empresas jornalísticas migraram para o cenário cibernético apenas
reproduzindo notícias impressas e televisivas, sem preocupar-se com as
características do jornalismo on-line. Segundo o autor, ―o mundo on-line tem sua
própria forma de ser‖. Uma forma, sem dúvida, ainda em desenvolvimento.
Elias Machado (2003, p. 129) comprova o estágio de experimentação do
jornalismo on-line em sua análise dos portais regionais ―iBahiae ―A Tarde On-line‖.
Utilizando a classificação de Pavlik sobre as três gerações do jornalismo on-line, ele
concluiu que nesses sites predominam a transposição de assuntos publicados no
jornal impresso e também a publicação de ―produtos originais, mas dependentes de
modelos de produção atrelados às organizações jornalísticas convencionais‖.
Moherdaui (1999) também concluiu, em um estudo de 1998, ao comparar critérios
de produção e edição no primeiro caderno das versões impressa e on-line dos
jornais Folha de S. Paulo (Brasil) e O Estado de S. Paulo, que os jornais faziam a
transposição integral de conteúdo do impresso para a rede, seguindo as normas de
produção e edição sob o ponto de vista do material impresso. As mudanças se
referiam apenas a forma de distribuição de notícias devido ao layout da página
desenvolvido para a Internet. Porém, hoje, a Folha de S. Paulo, além da versão
impressa, possui uma opção exclusiva on-line de acesso aos assinantes com
notícias publicadas apenas no impresso
e ainda um jornal on-line Folha Online
produzido especificamente para a rede.
Com o aperfeiçoamento e outras tentativas de se trabalhar on-line, os
profissionais começam a utilizar os recursos oferecidos pela Internet e, a partir daí,
há mudança no cenário, dando espaço para novos modelos e modos de fazer
jornalismo. Mielniczuk (2003, p. 50) explica que sites que buscam especializar-se em
publicações on-line ―extrapolam a idéia de uma versão para a web de um jornal
65
impresso existente [...]. Nos produtos jornalísticos desta geração, é possível
observar tentativas de efetivamente explorar e aplicar as potencialidades oferecidas
pela web para fins jornalísticos‖.
No jornal impresso existe uma limitação física no tamanho do texto a ser
publicado no papel, já no jornal on-line o espaço é ilimitado, não havendo regra para
o tamanho de uma notícia. As notícias escritas para o impresso seguem uma
estrutura linear conhecida como Pirâmide Invertida
35
, tendo seu primeiro registro em
1861 na escrita jornalística.
O jornal on-line, por ser um meio de comunicação novo, ainda não estilo
de escrita definido, seguindo um padrão não-linear. O modo como os elementos da
informação se relacionam no jornalismo on-line (usa a escrita, os bancos de dados,
hipertextos, imagens) se estabelece de maneira não-linear, pois as mensagens
circulam em rede. E é essa forma não-linear que leva o leitor a ler e acessar a
informação em qualquer ordem que escolher, ativando o que Lévy chama de
informação em fluxo (BARBOSA, 2002, on-line).
O leitor do jornal impresso passa a ser chamado no jornal on-line de
internauta devido ao seu acesso ilimitado a informações de todos os tipos na
Internet. O leitor do jornal não participa nas publicações do jornal, o internauta
pode participar de enquetes disponíveis no site do jornal, publicar opiniões em
fóruns de discussão e ainda enviar e-mails à redação do jornal.
Todas as edições dos jornais impressos ficam arquivadas no próprio jornal,
para se ter acesso a uma informação específica é difícil, mas não impossível, é
preciso ir à sede do jornal. Procurar uma notícia ou um assunto específico em um
jornal on-line tornou-se um processo simples e de fácil acesso devido ao
armazenamento infinito de informações em bancos de dados. A ferramenta de busca
permite a visualização de notícias por data, assunto e editorias em alguns jornais on-
line.
Conforme o quadro a seguir percebe-se que as diferenças entre o jornal
impresso e o on-line estão relacionadas, em grande parte, ao meio de comunicação
digital, o que antes era produzido e permanecia estático por 24 horas, no caso dos
35
A Pirâmide Invertida é um estilo de narração jornalística típica do jornal impresso que virou padrão no século
XX. Segundo Genro Filho (1997, p. 190), a Pirâmide Invertida significa relatar um fato do ―mais importante para o
menos importante‖, respondendo as seis perguntas clássicas: o quê?, quem?, quando?, onde?, como? e
porquê? Genro Filho explica que o lead (o primeiro parágrafo da notícia) surgiu em virtude de interrupções nas
linhas telegráficas, portanto os editores instruíam os repórteres a relatar primeiro os fatos principais, pois se
houvesse corte no sinal a informação não seria prejudicada.
66
jornais impressos, agora com a digitalização tornou-se dinâmico devido ao uso das
novas tecnologias.
Jornal Impresso
Jornal on-line
Apresentação gráfica
Papel e tinta
Tela do computador
Acesso
Banca de jornal
(jornais específicos da
região ou nacionais)
Pela Internet em
qualquer lugar do mundo
(jornais de todas as
localidades)
Espaço
Limitado
Ilimitado
Texto noticioso
Pirâmide invertida.
Linear
Em construção.
Utiliza-se além da
pirâmide invertida, textos
mais curtos, links
hipertextuais e
multimídia
Captação da notícia
pelo jornalista
Rua, e-mail, telefone
Rua, e-mail, telefone
Fechamento da edição
Um deadline por dia
Deadline a todo segundo
(atualização/instantaneid
ade)
Usuário
Leitor não participa
Internauta participa de
enquetes, fóruns de
discussão e e-mail
(interatividade)
Memória
Arquivo físico
Informações
armazenadas em banco
de dados
Tabela 4: Comparação entre jornalismo impresso e jornalismo on-line quanto ao acesso, espaço,
texto, captação de notícia, fechamento da edição, usuário e memória.
Fonte: Telarolli, Taís Marina 2007.
Com pouco mais de dez anos, os jornais on-line continuam inexperientes
quanto ao uso das ferramentas digitais. São consideradas ferramentas digitais,
segundo Mark Deuze (2005), a interatividade, a hipertextualidade, a multimidialidade
e a personalização do conteúdo.
Essas potencialidades são discutidas também por Marcos Palácios (2003, p.
17), que estabelece a existência de seis elementos do jornalismo desenvolvido na
web: a multimidialidade/convergência, interatividade, hipertextualidade,
customização de conteúdo/personalização e memória e, ainda, a
67
instantaneidade/atualização contínua. Essas características estão sendo
descobertas aos poucos pelos jornais on-line, mas Palácios ressalva que as
ferramentas disponíveis pelas novas tecnologias não são efetivamente exploradas
pelos sítios jornalísticos, ―quer por razões técnicas, de conveniência, adequação à
natureza do produto oferecido ou, ainda, por questões de aceitação do mercado
consumidor‖. São potenciais utilizados de formas variadas, com maior ou menor
intensidade por cada site, acredita o autor.
A Internet possibilitou a potencialização de inúmeras funções que, ao serem
aplicadas ao jornalismo on-line, fazem dele um meio diferenciado. Apesar das
inovações, nem sempre estas são incorporadas pelos produtores de notícia que,
mesmo tendo conhecimento do potencial da web, subaproveitam tais recursos e
equipamentos contribuindo ―para a manutenção de sistemas de produção obsoletos‖
(MACHADO, 2003, p. 93). Tais considerações vêm a indicar a persistência do uso
de velhos modelos neste suporte emergente configurado no jornalismo on-line.
Conforme exposto, tais especificidades do jornalismo on-line abrem caminho
para a produção de uma nova modalidade de jornalismo na Internet, aquilo que Juan
Varela (2007) chama de Jornalismo participativo.
Segundo Varela (2007) o jornalismo participativo ou também denominado de
jornalismo 3.0 é a terceira versão do jornalismo digital. Para ele as três
versões/fases são definidas da seguinte forma:
Jornalismo 1.0 é aquele que transmite conteúdo tradicional de meios
analógicos ao ciberespaço.
Jornalismo 2.0 é a criação de conteúdos de e para a rede.
Jornalismo 3.0 socializa esse conteúdo e os próprios meios.
Ou seja, para Varela (2007) o público se lançou na conquista dos meios de
comunicação. Quase não ninguém que queira se manter informado e ficar
calado. Muitos querem falar difundir a própria informação, e alguns o fazem com
especial habilidade.
O novo espaço da comunicação caracteriza-se pelo aumento da
concentração de meios, a irrupção das fontes por meio da comunicação e
das relações públicas e do afastamento dos jornalistas do trabalho de rua,
do corpo a corpo, que sempre foi o sentido vital do bom jornalismo. A partir
das margens do sistema e do público surge o Jornalismo 3.0 para devolver
o imediatismo, o sentido de comunidade e a conexão com a realidade na
informação, cujas ferramentas são oferecidas pela tecnologia e pela
Internet. (VARELA, 2007, p. 53).
68
Seria a idéia de um jornalismo que valoriza também o hiperlocal, voltados
para nanoaudiências que esperam estabelecer um ‗sistema de informação
conversacional‘ (VARELA, 2007) e em rede, que não seja controlado
hierarquicamente. Seus promotores contam com o aumento da participação dos
cidadãos e esperam que os jornalistas e os meios de comunicação repensem seu
papel nessas fórmulas de informação participativa na rede.
Este Jornalismo Cidadão, Jornalismo Colaborativo, Jornalismo Open Source
ou ainda Jornalismo Participativo é uma idéia de jornalismo na qual o conteúdo é
produzido por cidadãos sem formação jornalística, em colaboração com jornalistas
profissionais. Esta prática se caracteriza pela maior liberdade na produção e
veiculação de notícias, que não exige formação específica em jornalismo para os
indivíduos que a executam.
Para os adeptos e ativistas desta prática, o Jornalismo Cidadão é uma chance
de democratizar a informação, a partir do momento em que qualquer pessoa teria
acesso à mídia, não apenas como leitor ou espectador, mas colaborando na
produção do material veiculado. Também seria para os defensores do new
journalism, uma oportunidade para valorizar a reportagem, incluindo a observação
de testemunhas oculares dos fatos.
O relatório We Media: How Audiences are Shaping the Future of News and
Information (Nós-Mídia: como o público está moldando o futuro do jornalismo e da
informação), escrito pelos pesquisadores Shayne Bowman e Chris Willis (apud
Varela, 2007), do The Media Center do Instituto Americano de Imprensa, define o
jornalismo participativo como um ato de cidadãos "fazendo um papel ativo no
processo de coleta, reportagem, análise e distribuição de notícias e informações". O
documento acrescenta que "a intenção desta participação é fornecer informação
independente, confiável, precisa, abrangente e relevante que a democracia requer.
Os meios tradicionais vêem no jornalismo de código aberto (denominação
emprestada do open source tecnológico) uma oportunidade para evitar a
cobertura de assuntos nos quais nunca poderão atingir uma multiplicidade
de cidadãos interessados. Além disso, surge outra idéia: a necessidade de
voltar às origens do jornalismo por meio dessa nova orientação das notícias,
afastadas da institucionalidade dos grandes centros políticos, econômicos,
técnicos etc. Encontrar de novo a realidade e a paixão pelas pequenas
coisas transformadas agora em nanoaudiências e publicações verticais.
(VARELA, 2007, p. 49).
69
O objetivo consistiria em fortalecer a democracia desde a base e utilizar o
jornalismo participativo (Jornalismo 3.0) para democratizar a agenda informativa e
afastá-la do controle dos poderes (políticos, econômicos e institucionais) e dos
grandes meios de comunicação.
Com o aumento na participação ativa na internet, cresce cada vez mais a
confiança de um número maior de cidadãos nos blogs que buscam manter-se
informados sobre assuntos de seu especial interesse ou conhecer as opiniões dos
usuários e dos deres das conversas das comunidades virtuais, seus praticantes
não querem ser um público passivo.
Nos meios tradicionais a interatividade é muito limitada. A imprensa resolveu
o problema de como difundir a informação de forma econômica para muitos, no
entanto se perdeu o contato com os leitores. Por meio do jornalismo participativo,
potencializado pelo webjornalismo, a centralização dos meios e de sua agenda, sua
concentração, seu mercado e seu monopólio informativo se transforma em um
universo descentralizado governado por pessoas que se tornam guias umas para as
outras.
Dessa maneira fechando esta discussão, faço uso de uma afirmação sintética
que rememora que:
Os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais
atuais, não passam de meros canais para a transmissão de informação, os
tipos de signos que por eles circulam os tipos de mensagens que
engendram e os tipos de comunicação que possibilitam são capazes não
de moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas
também de propiciar o surgimento de novos ambientes
socioculturais.(SANTAELLA, 2003, p.13).
Estes novos ambientes socioculturais podem ser simbolizados pelo
surgimento dos blogs. Os blogs seriam exemplos de um novo jornalismo ou, pelo
menos, de um novo meio de comunicação que surge no meio da revolução
tecnológica da Internet, inspirada no movimento de código aberto. André Lemos e
Marcos Palácios (2001) os definem como práticas contemporâneas de escrita on-
line, onde usuários comuns escrevem sobre suas vidas privadas, sobre suas áreas
de interesse pessoais ou sobre outros aspectos da cultura contemporânea. O
dicionário Marketing Terms define blog com um site onde seus usuários atualizam o
conteúdo de forma cronológica, onde os e-journals podem atualizar suas
informações com mais velocidade.
70
Os blogs constituem um novo tipo de escrita, tão novo como os romances
foram séculos atrás. O conteúdo e tema destas ferramentas do webjornalismo
abrangem uma infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias,
poesia, idéias, fotografias. Os indivíduos que acessam um blog buscam informações
novas, ângulos diferentes de um mesmo fato, em relação aos meios de
comunicação tradicionais.
Assim como a Internet à época de seu surgimento, os blogs são uma febre‘
entre a população mundial na atualidade. Pode-se dizer que os eles têm a
possibilidade de arquivo, datação, feedback, extremamente simples, e feitos por
pessoas com pouco ou nenhum conhecimento de informática. Hoje existem sites
que disponibilizam, templates prontos aos internautas, sem que estes tenham a
necessidade de conhecer a linguagem HTML. Para montar o blog basta seguir
passo a passo os comandos; é como mandar uma mensagem instantânea para toda
a Internet. Eles também são uma excelente forma de comunicação entre família,
amigos, grupo de trabalho, ou até mesmo empresas, permitindo que grupos se
comuniquem de forma mais simples e organizada do que através do e-mail ou
grupos de discussão, por exemplo. Isto pode ser exemplificado pela definição de
―interação mediada‖ feita por Thompson, que se caracteriza pelo fato dos
participantes não compartilharem o mesmo contexto de espaço e tempo.
1.4 WEBLOGS: DEFINIÇÕES, ASPECTOS HISTÓRICOS E CONVERGÊNCIAS
No weblog trabalha-se essencialmente com textos, embora também recorra
com freqüência a imagens ou a outros dados como sicas, por exemplo. o
photolog trabalha essencialmente com imagens, fotografias que o postadas
regularmente e que, no máximo, trazem uma rápida descrição. Portanto, para a
reflexão a que nos propomos neste texto, interessa-nos abordar o fenômeno dos
weblogs
36
.
36
O número de blogs presentes na Internet mundial chegou a 70 milhões, segundo o serviço de buscas
especializado nos diários digitais Technorati. Além do alto número, o Technorati contabiliza também cerca de 2,1
bilhões de links cadastrados em seu banco de dados para que o usuário faça buscas.Na última edição da
pesquisa Estado da Blogosfera, conduzida pelo serviço e divulgada na segunda semana de fevereiro, a web
continha cerca de 27,9 milhões de diários digitais. Foi necessário pouco menos de um mês para que fossem
criados os 2,1 milhões de blogs que faltam para que a cifra atingisse os 30 milhões.Na ocasião, o levantamento
do Technorati apontava que o universo de blogs era 60 vezes maior que três anos atrás e que tal febre se
71
Segundo o Dicionário de Tecnologia (2003, p. 951), um weblog é:
uma página Web que tem origem pessoal ou não-comercial que usa um
sistema de datas, para que seja atualizado diariamente ou quando algo
acontece sobre algum assunto [...]. Em geral, weblogs são feitos para um ou
mais assuntos ou temas [...] e expressam o pensamento ou temas do
interesse do desenvolvedor, que pode ser uma ou mais pessoas.
Os weblogs são, portanto, basicamente páginas dinâmicas pessoais que
funcionam como uma espécie de diário, que pode ter como fio condutor a vida do(s)
dono(s) da página ou um ou mais assuntos sobre o qual esse(s) mesmo(s) dono(s)
possa(m) discorrer livremente.
De qualquer forma, é exatamente o aspecto pessoal e independente que
chama a atenção em um weblog. Salvo raras exceções, não existe nenhum tipo de
censura ou edição prévia de seu conteúdo e o(s) dono(s) têm total liberdade para
exprimir-se.
Do lado do observador, o interesse pessoal também conta pontos. O visitante
que se identifica com o tema ou o autor da página costuma voltar porque sabe que
algo muda com uma freqüência esperada, geralmente diária ou próxima disso.
Ademais, a maior parte dos weblogs é dotada de um sistema de comentários, o que
permite ao visitante uma interação direta com outros participantes e com o
proprietário da página, algo difícil de conseguir em outros tipos de sites.
A estrutura básica típica de um weblog, portanto, comporta um espaço no qual
se redigem textos os posts , que podem ser ilustrados com imagens, sons ou
vídeos, e que é geralmente organizado em sua maioria cronologicamente; e um
espaço para que os leitores postem suas opiniões sobre o post, sobre o próprio
weblog ou mesmo sobre seu dono o comment ou comentário.
Para que funcione adequadamente, o weblog deve ser, portanto, uma página
dinâmica, o que, à primeira vista, exigiria de seu dono conhecimentos em bancos de
refletia tanto na adoção dos diários por grandes jornais, como The New York Times, CNN e The Washington
Post, como pela taxa de crescimento de um novo diário por segundo em todo o mundo. Em média, um blog é
criado a cada segundo, todos os dias, e 13,7 milhões de bloggers continuam a atualizar seus blogs três meses
após a sua criação. São registrados 1,2 milhões de novos posts a cada dia, uma média de 50 milhões por
hora.Apontados como novo sistema de publicação e exploração de mídia, os blogs formaram até
conglomerados de comunicação, como o norte-americano Gawker Media, que controla diários como o Gizmodo,
Kotaku e Wonkette. No Brasil, a experiência comercial com blogs ainda é restrita, com exemplos como o do
jornalista Ricardo Noblat. (Cf. http://technorati.com/weblog/2006/02/83.html , Por Redação do IDG Now!
Publicada em 08 de março de 2006, acessado em 4 de abril de 2006)
72
dados (como os softwares MySQL, Oracle ou Microsoft SQL Server) e linguagens
como ASP, PHP ou Java.
Entretanto, isso não é verdadeiro para a maior parte dessas páginas ou sites.
Normalmente, os weblogs são hospedados em serviços acessados on-line e não
exigem, para a sua manutenção, conhecimentos cnicos avançados dos usuários,
que muitas vezes, sequer têm conhecimento da linguagem e dos bancos de dados
utilizados.
Mesmo no caso de weblogs mais avançados, que o hospedados por conta
do dono da página fora dos serviços a que nos referimos, é comum existir um
software de manutenção técnica e de conteúdo de fácil utilização.
A origem do weblog (web+log) está relacionada a uma ferramenta lógica
bastante utilizada em sistemas informáticos: o log. Basicamente, trata-se de um
arquivo cuja função é gravar um registro das atualizações de um determinado tipo
de dados (as atualizações de um site, os acessos empreendidos a um determinado
servidor, as mudanças feitas em um software, etc.), constituindo um histórico que
auxilia na manutenção desses mesmos dados.
Essa noção de arquivos de log está ligada mais remotamente aos diários de
bordo dos antigos navios à vela. Os capitães desses navios faziam ao menos uma
entrada por dia nesses livros, registrando data, hora, condições do mar, eventos
notáveis, etc.
Mais próximo de s, o rádio amador (em inglês, ham radio) foi determinante
na formação do conceito de weblog. Os ham radios possibilitaram o surgimento de
comunidades de usuários de equipamentos digitais sem fio (equipamentos wireless).
Posteriormente, graças à miniaturização e evolução dos mecanismos usados no
rádio, surgiram as comunidades ciborguianas, constituídas por usuários que
utilizavam equipamentos ―vestíveis‖ (wearables) ou portáteis, além dos usuários de
aparatos móveis e fixos tradicionais.
Existe uma afirmativa de atribuir como sendo o primeiro weblog da história a
página What's New do site http://info.cern.ch/, do CERN (Conseil Européen pour la
Recherche Nucléaire). A página foi criada em 1992 pelo consultor de software Tim
73
Berners-Lee, inventor do protocolo HTTP
37
e da linguagem HTML
38
e considerado o
criador da Web tal qual a conhecemos. Atualmente, Berners-Lee dirige o W3C
World Wide Web Consortium, associação internacional que estabelece os padrões
técnicos para a Internet.
O termo weblogfoi cunhado em dezembro de 1997 por Jorn Barger, editor do
Robot Wisdom, considerado um dos primeiros weblogs da Web. Em 1999, outro
editor de weblog, Peter Merholz, cunhou o termo contraído blog‖, popularizado pelo
famoso serviço Blogger, da Pyra Labs, ao longo do mesmo ano. Do termo blog
surgiu, em inglês, o verbo ―to blog‖, traduzido ao português como ―blogar‖. Por
extensão, o dono do blog passou a ser chamado de ―blogueiro‖.
Da história dos weblogs podemos listar alguns pontos de contato com o
jornalismo. Se nos ativermos ao pensamento de Alexis de Tocqueville (1977) em
sua análise sobre a sociedade americana, veremos que ele aponta os jornais como
formadores de empatias, que possibilitam o agrupamento dos leitores pela
identificação com o veículo e as temáticas tratadas. Em outras palavras, os jornais
teriam a faculdade de agregar ou formar comunidades de interesse. Nesse ponto,
teríamos a definição de um mecanismo bem próximo ao descrito anteriormente para
os blogs.
Outro ponto de convergência diz respeito à independência e à liberdade de
expressão. Tanto a imprensa quanto os blogs reivindicam a característica de não
serem dependentes de interesses alheios à sua própria constituição e à relação
comunidade-autor e fundamentam boa parte de sua existência na possibilidade de
exprimirem notícias e/ou pontos de vista sem censuras prévias de instituições
superiores. Não é de estranhar, portanto, que muitos jornalistas sejam também
―blogueiros‖.
Essas duas identificações primárias com a imprensa e o jornalismo, entretanto,
podem resultar superficiais. Com efeito, até mesmo pelo seu caráter inerentemente
pessoal, o blog pode apoiar-se única e exclusivamente em pressupostos subjetivos,
que não necessariamente farão eco a uma busca da suposta verdade.
37
Hipertext Transfer Protocol.
38
Hipertext Marked Language
74
Dentro deste panorama todo traçado até aqui fica explícito que muito se discute
sobre a reconfiguração da produção do jornalismo condicionada pela adoção de
tecnologias digitais da informação e comunicação. Sem dúvida, as novas
ferramentas digitais colaboram para reestruturar o exercício da profissão, a
produção industrial da notícia, as relações entre as empresas de comunicação com
as fontes, a audiência, os concorrentes, o governo e a sociedade. Trazem, portanto,
implicações de ordem técnica, ética, jurídica e profissional para o jornalismo e até
mesmo implicações de ordem política na medida em que ampliam a arena de
participação pública através das plataformas de conteúdos abertos ou dos fóruns de
debates. Embora as mudanças sejam abrangentes uma tendência corrente em
estudá-las como se fossem de caráter meramente operacional. Ressaltam-se como
um dos seus efeitos, a readaptação legitimadora das rotinas produtivas e de
linguagens às exigências da instantaneidade e da visualidade do webjornalismo.
Entre pesquisadores como Michael Kunczik (2001), Bill Kovack e Tom
Rosentiel (2003), Ignácio Ramonet (1999) e Dominique Wolton (1999) um certo
consenso quanto à influência das tecnologias da informação na reestruturação da
organização jornalística e de suas rotinas de trabalho. A informática, especialmente,
trouxe agilidade e qualidade no processamento da informação, ao facilitar o trabalho
de rever, corrigir, alterar e atualizar textos. No entanto, os pesquisadores
mencionados duvidam que as tecnologias digitais tenham provocado mudanças
profundas na concepção de jornalismo a ponto de alterar valores consagrados.
Na avaliação de Wolton (1999), por exemplo, a imprensa continua a mesma,
ou seja, a mudança foi apenas de forma, de linguagem, que em nada abalou os
princípios basilares do jornalismo. Por mais forte que seja, uma inovação tecnológica
não leva consigo mecanicamente uma transformação profunda do conteúdo das
atividades.
Esse argumento pode ser considerado parcialmente válido. No entanto, é
necessário considerar para melhor compreensão que a essência da natureza das
tecnologias da informação de hoje, especialmente a Internet, difere radicalmente de
outras do passado, e sua influência pode carregar transformações de valores e
conceitos. Para o jornalismo, a adoção dessas tecnologias da informação sinaliza
mudanças que não ficam apenas no nível da troca de roupagem, sendo bem mais
profundas do que muitos costumam analisar, podendo até mesmo solapar valores
75
fundadores dessa práxis social. Cabe pensar se, por exemplo, o jornalismo praticado
nos blogs repete o mesmo padrão da grande mídia, ou se o potencial multimidático
destes canais alteram os valores notícias ou provocam um novo agendamento de
fato para além do ocorrido na chamada mídia de massa, na qual supostamente os
indivíduos se encontrariam numa posição vulnerável acerca da ação dos mass
media e da formação da opinião pública . Seria o novo em curso ou o velho
maquiado pela presença de recursos de personalização multimidiática?É o que
tentaremos verificar no estudo e na discussão que segue nos próximos capítulos.
76
CAPÍTULO 2
BLOGS: INTERSEÇÃO HÍBRIDA EXPRESSA ENTRE O CONTINUUM
E/OU DEGRADÉ
O webjornalismo oferece um conteúdo que pode ser
actualizado continuamente. Nesse sentido, é a primeira vez
na história da comunicação que o texto impresso informativo
alcança uma velocidade para o relato de informações e de
factos só antes possível via TV ou Rádio. (João Carlos
Correia)
2.1 Blogs: os meios, as linguagens e a cultura.
iante de reflexões sobre meios, linguagens, narrativas e processos
de produção da informação o espaço e o papel do jornalismo
também passa por uma avaliação. Muitos arriscam informações
catastróficas sobre o futuro do jornalismo e dos próprios meios. Outros entendem
que o papel do jornalismo será fortalecido, com a diversidade de possibilidades de
produção de informações, distribuída não somente entre profissionais, mas por toda
a sociedade. Linguagens associadas à tecnologia e a cultura estão relacionadas ao
jornalismo neste momento de ruptura, reacomodação e reinvenção de processos.
Alasuutari (2005) afirma que o conceito sico dos meios começa a torna-se
obsoleto, por estar rodeado por um conjunto de imagens, baseado na idéia de esfera
pública como arena onde as pessoas que nela falam podem ser ouvidas por muitas
outras. A outra imagem é a do canal por onde se tem informação sobre a sociedade,
―a lente pela qual se tem a imagem da realidade fornecida pelos media, que pode
ser distorcida ou não.‖ (ALASUUTARI,2005, p.13).
De acordo com o autor, os dois conceitos tornam-se obsoletos em um
contexto com diversidade de canais, incluindo a telefonia celular ou a Internet, onde
existem diferentes argumentos e informação variada, não fazendo sentido debater
se a imagem dada por determinado canal estaria ou não distorcida. Na essência
desta ―imagem dada‖ pelo canal está a narração dos fatos praticada pelo jornalismo.
Traquina (2002) escreve que alguns autores arriscam tomar posições
categóricas sobre o futuro do jornalismo quando o jornalismo mal começa a sofrer o
impacto do cibermedia. Ele cita o pensamento de John Pavlik, diretor do Centro de
D
77
Novos Media da Universidade de Columbia, por exemplo, para quem os jornalistas
são uma espécie ameaçada ou David Bartlett cuja previsão é de que os jornalistas
tornar-se-ão desnecessários. Com o assunto em pauta, surgem os opositores a este
pensamento, como é o caso de Howard Rheingold, também citado por Traquina
(2002), que defende uma valorização do papel dos jornalistas nas sociedades
contemporâneas com a chegada do cibermedia.
Neste mundo, como afirma Chartier (1998), um produtor de texto pode ser
imediatamente o editor, no sentido daquele que forma ao texto e daquele que o
difunde diante de um público de leitores. Na rede eletrônica esta difusão é imediata.
O autor cita ainda o sonho de Kant de que cada um fosse ao mesmo tempo leitor e
autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer que elas
fossem e que pudesse, ao mesmo tempo, refletir sobre o juízo emitido pelos outros.
Chartier (1998, p. 9) faz uma avaliação sobre a chamada revolução eletrônica,
passando por aspectos voltados ao autor, ao texto, ao leitor e a leitura. Relata a
transição ocorrida da reprodução de um texto copiado à mão, para a nova cnica
baseada nos tipos móveis. A transformação não é tão absoluta como se diz e um
livro manuscrito, sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV, e um livro pós-
Gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais, as do códex. ―Há,
portanto, uma continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a cultura do
impresso, embora durante muito tempo se tenha acreditado numa ruptura total entre
uma e outra‖. O relato de Chartier (1998) confirma o continuum descrito por autores
como Santaella (2003) ou o degradé defendido por Souza (2001). A cultura humana
existe num continuum, ela é cumulativa, não no sentido linear, mas de interação
incessante de tradição e mudança, persistência e transformação. O entendimento de
que uma novidade não termina com a outra, mas gera transformações, o que nos
leva a entender as linguagens como fator de permanência, influenciando e sendo
influenciadas pela cultura, mas transformando-se a partir dos suportes tecnológicos
moldados pela própria cultura. A tecnologia que suporte à produção
cinematográfica, exemplifica Santaella, pode mudar, mas não muda a linguagem
que foi inventada pelo cinema. Souza compara este caráter de continuum a um
degradé de condições de acesso às linguagens, segundo as tecnologias, de forma
extremamente diferenciada.
na época do surgimento do impresso, as mudanças não eram tão radicais.
Precisavam sem dúvida passar por uma transição por intermédio da cultura para se
78
integrarem à vida cotidiana. Como aponta Chartier (1998), persistia uma forte
suspeita diante do impresso, que supostamente romperia a familiaridade entre o
autor e seus leitores e corromperia a correção dos textos, colocando-os em mãos
―mecânicas‖ e nas práticas do comércio. As desconfianças fazem parte dos
diferentes períodos históricos em que as mudanças parecem trazer rupturas. Estes
rompimentos são resultados da própria cultura, são influenciados por ela, mas
precisam do tempo desta mesma cultura para se acomodarem à rotina. Se o homem
é propulsor do surgimento de mudanças, como do manuscrito para o impresso, e
assim por diante, a cultura da qual ele é parte tem o seu tempo de adaptação. Por
isso o continuum descrito pelos autores, esta convivência e sobreposição de eras,
culturas e linguagens. Uma diferença clara existe, porém, entre os diferentes
períodos: a velocidade com que as mudanças ocorrem e se integram à sociedade.
Todavia, como afirma Chartier (1998, p. 77), ao citar Michel de Certeau, ―a
leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados de parte do leitor‖.
É ele quem determina os tempos de leitura, mesmo influenciado pela cultura. Toda
história da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e
subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mudam os gestos segundo os tempos
e lugares; os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras
se extinguem. ―Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto
eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler.‖
(CHARTIER, 1998, p. 77).
Neste continuum ou degradé, onde estão situados os blogs dentro de um
ambiente jornalístico no atual contexto? Esta é uma das questões que se pretende
investigar aqui, descrevendo a situação brasileira relacionada ao jornalismo,
localizando os blogs na história das mídias e das linguagens de comunicação, que
sofrem fortes influências da cibercultura. Poderão ser os blogs uma grande forma de
narração das informações, tornando obsoletos modelos convencionais?
2.1.1 A cena brasileira
O Brasil, no que diz respeito a blogs jornalísticos, vive algumas situações que
não poderiam ser consideradas peculiares de um país ou de uma determinada
cultura. São marcas de uma interseção, que pode ser expressa pelo continuum ou
degradé descrito pelos autores anteriormente. No atual contexto, os blogs vivem três
fases. A primeira diz respeito a sua constituição inicial, uma iniciativa que começou
79
associada aos diários íntimos ou como um treinamento, por intermédio de páginas
pessoais, para dominar a técnica de como colocar texto e fotos na internet. De certa
forma, como afirma Schittine (2004), ―o blog surgiu como um sistema de
disponibilização de textos e fotos na web, menos complexo e mais rápido, o que
facilitou a fabricação de páginas por indivíduos com pouco conhecimento técnico‖.
O relacionamento com o jornalismo começou quando ele foi descoberto
realmente por profissionais da área. Sozinhos, eles começaram a produzir suas
informações independentes das grandes empresas de comunicação, atuando ou
não nestas organizações.
Porém, é importante ressaltar que estes profissionais construíram sua
credibilidade na mídia convencional e hoje migram esta mesma credibilidade para
blogs particulares ou mesmo organizados pelas empresas. Neste caso, podem ser
citados profissionais brasileiros como Ricardo Noblat, Juca Kfouri, , Paulo Markun
entre outros. Tratados jornalisticamente com preconceito numa fase inicial, esses
blogs hoje tem respeitabilidade e são largamente citados pela mídia.
Uma terceira fase que se desenha neste momento diz respeito às empresas
jornalísticas que lançam blogs de seus profissionais mais conhecidos que, ao
acompanharem um determinado acontecimento para o veículo, narram
simultaneamente para o seu blog, é o caso dos três blogs analisados nesta pesquisa
Josias de Souza, Fernando Rodrigues e Luís Nassif se dividem entre o bog e jornal
impresso a que se vinculam. O espaço, todavia, não fica distinto da página web da
empresa. Os internautas que buscam o blog devem acessar a página da própria
organização. Esta pode ser apontada como uma das mais significativas evidências
de um degradé na apropriação das mídias pela cultura, neste momento. Trata-se de
uma influência dos novos modelos mídiaticos sobre os convencionais. A diversidade
de iniciativas também evidencia o fato. Se até agora, todos faziam jornais, rádio e
televisão de uma maneira muito parecida, as tentativas de acompanhar as
modificações, usando as iniciativas proporcionadas pela internet são díspares.
Interessa salientar que entre os blogueiros não há uma expressa
preocupação com índices de audiência ou eventuais julgamentos de valor. Querem
garantir aquilo que os agrada. As mudanças pelas quais vai passar o Jornalismo,
mesmo permanecendo nas mãos das empresas de comunicação, serão certamente
influenciadas por este cenário. O horizonte aponta para a reinvenção de técnicas
narrativas, posturas e interesses. Nada mais termina para sempre. Tudo pode ser
80
reinventado, atualizado, tendo como base a narração, mas o jornalismo enquanto
forma e gênero sofre mudanças em trânsito ainda que perpassam quase sempre a
convergência continuum/ degradé.
2.1.2 Blogs e receptor-sujeito
Antes da análise propriamente dita cabe aqui a questão: é jornalismo o que
vem sendo apresentado na blogosfera? Essa questão, bastante debatida em
blogs, sites ou outros veículos, m o único interesse em mostrar opiniões diversas.
O jornalista Pedro Dória (2005) acredita que muitos blogs jornalísticos em outros
países, mas no Brasil o ainda em número muito pequeno. ―A maioria talvez não
resulte em bom resultado, mas na quantidade sempre despontam bons nomes.‖ Os
blogs informativos, no entanto, não precisam ser produzidos exclusivamente por
jornalistas, também ―podem ser de cidadãos conscientes dispostos a revelar
informações que apenas eles têm acesso e a mídia deixa de divulgar por questões
políticas, econômicas ou conformismo‖ (DE QUADROS, 2005). Nesse sentido, o
cidadão também ganha o papel de emissor na Internet, podendo interagir com os
meios ou, na impossibilidade desta alternativa, construir o seu próprio veículo na
rede das redes.
Dessa maneira se tem metamorfoseado um paradigma limitador, a tão
aparentemente cristalizada relação hierárquica entre emissor e receptor que durante
muito tempo embasou a reflexão sobre os meios. Na qual,
[...] a relação de predomínio do emissor sobre o receptor é a idéia que
primeiro desponta, sugerindo uma relação básica de poder, em que a
associação entre passividade e receptor é evidente. Como se houvesse
uma relação sempre direta, linear, unívoca e necessária de umlo, o
emissor, sobre outro, o receptor; uma relação que subentende um emissor
genérico, macro, sistema, rede de veículos de comunicação, e um receptor
específico, indivíduo, despojado, fraco, micro, decodificador, consumidor de
supérfluos; como se existissem dois pólos que necessariamente se opõem,
e não eixos de um processo mais amplo e complexo, por isso mesmo,
também permeado por contradições. (SOUZA, 1995, p. 14)
Mauro Wilton de Souza (1998) ressalta que qualquer nova compreensão
sobre o lugar do receptor em comunicação esbarra, desde logo, nos limites
semânticos do próprio termo, como também nos pressupostos teóricos que os
sustentam, na medida em que a teoria crítica do modelo frankfurtiano entre 1960 e
81
1980 acentuava a relação de dominação entre indústria cultural (sistema) e indivíduo
concebido como reificado, passivo e impingido como peça de um sistema.
O receptor assim é visto como uma expressão de dualismo teórico
sujeito/objeto, dado que se constituiria como expressão de
receptor/objeto/mercadoria.
A racionalidade do capitalismo industrial do início do século passado
deslocara para o mercado o eixo explicativo de manutenção do sistema; e era nesse
eixo que comunicação, cultura e poder interagiam. Nele o receptor era visto como se
encontrando reificado por completo.
Assim, conforme Souza (1995)
[...] se no funcionalismo o sujeito era a ordem do sistema o modelo
frankfurtiano se centralizava na crítica do econômico sobre a sociedade,
sobretudo na razão técnica alimentadora desse processo, objeto que de fato
se interrogava como sendo o quem do processo social da comunicação.
no nível empírico receptor era tido sempre como indivíduo/
objeto/mercadoria/ instrumento, um sujeito reificado. (SOUZA, 1995, p. 20).
Neste contexto explicativo da Escola de Frankfurt, a ruptura de Habermas
ante aspectos dessa reflexão vai ecoar numa preocupação de redirecionar a relação
entre razão e técnica. Se a razão técnica não havia dado resposta ao processo de
dominação, dever-se-ia buscar outra forma de uso da razão. Sua concepção da
teoria da ação comunicativa reforça o lugar do homem como ator racional pela
comunicação, lugar estratégico para uma ação que possibilitaria a manutenção da
busca da racionalidade na vida social, retomando a importância e lugar do processo
comunicativo pela reconfiguração de uma matriz receptor-sujeito, assim aparecem
novos modos de vê-lo e compreendê-lo.
É dentro desta nova perspectiva de uma nova matriz que concebe o receptor
como sujeito é que os blogs podem ser concebidos como canais sociais de
reinvenção desta relação emissor - receptor, na medida em que no jornalismo feito
nos blogs essa interação parece ser ampliada, pois permite ao leitor participar de
forma efetiva do meio.
2.1.3 Blogs: a informação no centro do palco
O jornalismo está passando por um momento de transformação, onde
conceitos e formas de produção da notícia são reavaliados em virtude da própria
mutação por qual passa a sociedade. Mediante as tecnologias avançadas da
comunicação que surgem e se difundem o que pode ser entendido como jornalismo?
82
Para Eduardo Meditsch (1992) o jornalismo se sustenta num tripé formado pelas
linguagens, pelas tecnologias e pelos modos de conhecimento. Meditsch defende
que o jornalismo tem uma ampla importância social no sentido de produzir
conhecimento e de torná-lo acessível a todas as pessoas. Dentro desta ótica a
Internet encaixa-se perfeitamente. O jornalismo digital, que vem a cada dia
ganhando mais adeptos, trabalha com uma linguagem, ainda não bem formatada,
que valoriza a rmula da informação - pílula, fácil de ler e para ser consumida
rapidamente, onde o que realmente importa o os fatos e a velocidade com que
eles o disponibilizados. Na era do jornalismo digital a mídia sincroniza os tempos
e permite que se tenha a ilusão de um tempo real que não pode ser apreendido.
Dessa forma, o jornalista precisa, antes de todos, estar preparado para a
Internet. "Se conseguir tornar-se o grande mediador que sempre foi, o jornalista
retomará, em outro suporte, o papel de iluminador, que visibilidade ao outro, ao
escolhido, e recolhe os benefícios do esclarecimento".(SILVA, 1999, p. 34). É
comum blogueiros jornalistas citarem e comentarem diariamente informações de
vários veículos de comunicação, podendo encontrar, por exemplo, numa lista de
postagens diária do blog de Fernando Rodrigues ou de Josias de Souza, referências
a manchetes de distintos jornais tradicionais. Os blogs, neste sentido, são um novo
tipo de jornalismo, onde o mais importante não é como a matéria foi produzida, se foi
um repórter que apurou os dados diretamente com a fonte, se é uma cópia do que
os demais veículos publicaram. O que importa é a informação, esta escrita de forma
sintética, quase como uma crônica, onde os seus responsáveis assumem posições e
lançam mão da ironia, do texto poético e de todos os recursos técnicos para
transmitir da forma mais eficaz possível esta informação.
A notícia baseada na fórmula da pirâmide invertida, ou seja, o mais
importante em primeiro lugar, não é abandonada completamente, mas os dados
essenciais da informação são transmitidos sem que seja necessária uma ordem,
uma hierarquia de valores. A palavra-chave nos blogs de jornalismo é a
instantaneidade, propiciar ao leitor-autor-internauta (leitor de jornal, autor da notícia
e internauta por usar o suporte da internet) uma espécie de liberdade para
interpretar e, acima de tudo, se posicionar sobre os fatos apresentados e atualizados
de forma tão rápida quanto os frames
39
das próprias páginas.
39
Frames são extensões de HTML que permitem a janela do Browser ser dividida em várias regiões.
83
Nesse sentido, muitos guardiões da notícia, acostumados com a rotina da
imprensa, são obrigados a reavaliar a importância dos blogs jornalísticos que
conseguem dar voz aos cidadãos que mesmo em sociedades que vivem sobre os
preceitos democráticos ampliam diretamente o número de canais e pontos de vistas
diferenciados. Na Web, não é preciso aguardar mais a vontade dos meios de
comunicação, pode se exercer a cidadania nos blogs ou em outros espaços que
estão surgindo. Nos blogs jornalísticos, percebemos que jornalistas e cidadãos estão
construindo uma história juntos.
E mesmo em sociedades fechadas, nas quais o direito a livre expressão não
é uma realidade, a web com seu legado de caráter de contra-cultura, é um canal
potencializador de tentativas de ruptura com monopólios da informação. Um
exemplo disso é uma recente notícia publicada no Financial Times
40
; vinda do Irã
palco de eleições próximas, a organização Repórteres Sem Fronteiras afirma que o
Irã tem o maior mero de "cyberdissidentes" do Oriente Médio. A blogosfera
também oferece um fórum para as vozes que não podem ser ouvidas em nenhum
outro lugar da mídia controlada pelo Estado. O último relatório internacional de
liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras classificou o Irã em 166°
lugar, entre 169 países.
Mohammad-Ali Abtahi criador de um blog muito repercutido, afirma que blogar
se tornou uma saída para a frustração de estar na oposição. Todos os dias, dezenas
de milhares de iranianos pró-reformistas entram em seu site, um dos poucos lugares
em que podem acompanhar as notícias da mudança política.
Quase totalmente ignorados pela mídia tradicional, os dilemas da oposição -
concorrer ou não concorrer, votar ou não votar - são discutidos à exaustão na
Internet. "Os reformistas estão sofrendo por não terem uma cobertura suficiente por
parte da mídia, então, para essas questões políticas, os blogs se tornaram ainda
mais importantes", disse Abtahi. Cenários como estes demonstram o caráter de
resistência possibilitado pelos blogs. A mídia tradicional já observou vários exemplos
como o citado.
Grande também foi a repercussão do uso dos blogs jornalísticos para
repercutirem informações sobre recentes escândalos políticos no Brasil. Nos
Estados Unidos, nas eleições presidenciais de 2004 a imprensa norte-americana
40 http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/fintimes/2008/02/20/ult579u2382.jhtm ; acessado dia
20/02/2008.
84
repercutiu informações políticas relevantes dos blogs. No Brasil, a versão digital do
jornal O Globo demonstra que não precisa nadar contra a corrente como faz o The
New York Times quando o assunto é blog. Os editores do O Globo On-line decidiram
criar blogs para todos os seus colunistas, acreditando no poder individual e no
interesse do público que busca notícias na Internet pelos blogs. Será que interesses
empresarias não vão interferir na isenção desses blogs? Essa é uma questão que
merece ser refletida, mas em uma outra oportunidade. No entanto, registramos que
essa é uma nova forma de fazer jornalismo que sempre terá observadores críticos
dispostos a protestar em casos de omissão, manipulação ou com a falta da verdade.
Os blogs, de certa forma, revitalizaram a Internet em vários campos,
sobretudo no jornalístico. Da simples transposição do conteúdo produzido nos
jornais impressos como ocorreu num primeiro momento na rede mundial de
computadores, o jornalismo digital vive hoje o período de evolução, onde é
possível observar características próprias de um meio ainda em construção, o que
sinaliza por parte dos webjornalistas o resgate do uso categorias e gêneros já
comuns como também a utilização do hibridismo possível, aliando constantemente o
ato de informar (objetivo) e a pessoalidades de opinar (subjetivo).
2.2 A teoria dos gêneros jornalísticos
A preocupação com os gêneros jornalísticos integra-se, portanto no esforço
de compreensão das propriedades discursivas. O que serve como um ponto de
partida seguro para descrever as peculiaridades da mensagem (forma/ conteúdo/
temática) e permitir avanços na análise das relações socioculturais
(emissor/receptor) e político-econômicas (instituição jornalística/ Estado/
corporações mercantis/ movimentos sociais) que permeiam a totalidade do
jornalismo.
Desde o início das atividades permanentes de informação sobre a atualidade
(processo livre, contínuo, regular), colocou-se a distinção entre as modalidades de
relato dos acontecimentos. E os que fazem a narrativa cotidiana das novidades
(jornalistas) estabelecem padrões para discernir a natureza da sua prática
profissional. Desde então, a mensagem jornalística vem experimentando mutações
significativas, em decorrência das transformações tecnológicas que determinam as
duas formas de expressão, mas, sobretudo em função das alterações culturais com
85
que se defronta e a que se adapta a instituição jornalística em cada universo
cultural.
Melo em sua obra clássica sobre ‗A opinião no jornalismo brasileiro‘ (1994),
propõe uma classificação que reafirma o paradigma anglo-saxônico dividindo os
textos jornalísticos nas categorias de Informação e Opinião.
JORNALISMO INFORMATIVO
JORNALISMO OPINATIVO
Editorial
Comentário
Nota
Artigo
Notícia
Resenha
Reportagem
Coluna
Entrevista
Crônica
Caricatura
Carta
Tabela 5- Classificação proposta por Marques de Melo (1994).
Fonte: Melo (1994)
Historicamente Melo (1994) mostra que a diferenciação entre as categorias
jornalismo informativo e jornalismo opinativo emerge da necessidade sociopolítica
de distinguir os fatos (news/stories) das suas versões (comments), ou seja, delimitar
os textos que continham opiniões explícitas.
É possível que na gênese do jornalismo essa confluência entre gênero e
categoria pudesse ser admitida, pela natureza incipiente de uma atividade social que
começava a se robustecer, mas ao mesmo tempo era compelida a se transformar.
Segundo Melo (1985) contemporaneamente essa superposição entre gênero e
categoria não pode ser aceita. O que existe sim é uma correspondência entre
categorias e gêneros. Mas o que seriam os gêneros jornalísticos?
Gargurevich
41
(apud MELO, 1994, p. 33) afirma que ―os gêneros jornalísticos
são formas que busca o jornalista para se expressar‖. Seu traço definidor está,
portanto no ‗estilo‘, no manejo da língua: são ‗formas jornalístico-literárias‘ porque
seu objetivo é o ―relato da informação e não necessariamente o prazer estético‖.
41
GARGUREVICH, Juan. Gêneros periodísticos. Quito, CIESPAL, 1982, p. 11.
86
É a mesma orientação adotada por Dovifat (1959), para quem as formas de
expressão jornalísticas se define pelo ―estilo‖ e assumem ―expressão própria‖ pela
―obrigação de tornar a leitura interessante e motivadora‖ Nesse sentido o deve se
confundir com estilo literário, que na sua maneira de ver constitui uma expressão
descomprometida, sem qualquer vínculo finalístico.
É preciso, pois constatar, que a construção teórica dos gêneros literários
realizada desde Platão
42
e Aristóteles até Goethe, entre muitos outros, -se, de
forma bem simplificada, com a seguinte seqüência de atos: 1. em princípio existem
os textos; 2. pelas mãos dos estudiosos dos fenômenos literários, esses textos são
agrupados segundo suas afinidades lingüísticas e literárias (em gêneros); 3. a cada
gênero, os críticos aplicam um segundo nível de classificação, levando em conta
determinadas afinidades ideológicas (estilos literários).
Desta forma, entende-se que os gêneros são abstrações teóricas e que
Teoria dos Gêneros Literários é um princípio de ordem que não classifica a
literatura segundo critérios de tempo e lugar, mas consoante os modelos estruturais
literários existentes (Albertos, 1991; Chaparro, 2008, p.99).
O processo descrito é aplicável ao campo de atuação do Jornalismo. A Teoria
dos Gêneros Jornalísticos nasce como uma extrapolação da Teoria dos Gêneros
Literários (Albertos, 1991. Por esta lógica, os gêneros do jornalismo o entendidos
como modalidades históricas específicas e particulares da criação literária
concebidas para lograr fins sociais determinados. Em outras palavras, como
modelos textuais caracterizados por certas convenções estilísticas e retóricas (Díaz
Noci & Salaverría, 2003, p. 39). São as diferentes modalidades da criação lingüística
destinadas a serem canalizadas por qualquer meio de difusão coletiva e com o
ânimo de atender a dois dos grandes objetivos da informação de atualidade: o relato
de acontecimentos e o juízo valorativo que provocam tais acontecimentos (Albertos,
1992). Os gêneros têm uma dimensão estrutural prototípica e outra temática, por
isso conseguiríamos classificar uma espécie como ―comentário esportivo‖ ou ―crítica
de música‖ (Casasús, 1991). Há ainda uma dimensão ligada ao suporte: ―debate em
mesa-redonda‖ (TV), ―nota em SMS‖ (digital). E, apesar do caráter convencional,
permitem marcas pessoais (HERRERA DAMAS & MARTÍNEZ COSTA, 2004, p.127).
42
Platão foi o primeiro a trabalhar a noção de gêneros literários ao criar a tripartida: 1. gênero
mimético ou dramático (tragédia e comédia), 2. gênero expositivo ou narrativo (ditirambo, nomo,
poesia lírica) e 3. gênero misto, uma soma dos anteriores (epopéia).
87
A Teoria dos Gêneros Jornalísticos começa a ser formulada somente no final
da década de 50 do século XX, graças aos estudos de Jacques Kayser. Nasce,
naquele momento, com forte caráter sociológico. Posteriormente, ganha uma
dimensão filológica própria da sociolingüística e, por fim, passa a ser adotada
sistematicamente nas universidades como o método mais seguro para a
organização pedagógica dos estudos universitários sobre o jornalismo (ALBERTOS,
1991, p.393).
Bertocchi
43
(2006) chama a atenção para o fato de que
[...]por razões óbvias, é praticamente impensável encontrar algum autor da
Teoria do Jornalismo que não faça referência à questão dos formatos de
relato jornalísticos desenvolvidos ao longo de séculos. Pensar os gêneros é,
em última análise, pensar o jornalismo. (BERTOCCHI, 2006, p. 02, on-line)
Boa parte dos autores que trabalham nesta área deixa-nos saber que as
formas predominantes no discurso jornalístico atual e aquelas que se destacam para
o futuro são resultado de uma lenta elaboração histórica que se encontra
intimamente ligada à evolução do próprio jornalismo. Trata-se de um processo
complexo que envolve fatores objetivos (técnicas de impressão, alfabetização,
legislação jornalística, surgimento de novos meios etc.) e fatores subjetivos
(liberdade de imprensa e outros aspectos de caráter profissional, moral, social,
político). E trata-se de um processo de mão dupla:
esses fenômenos sociais, por sua vez, ao longo do tempo, também são
afetados pela atividade jornalística. As influências são mútuas, recíprocas e
interdependentes entre o texto e o seu entorno, entre o relato e a recepção,
entre o jornalismo e a sociedade (ALBERTOS, 1991).
A literatura existente nos explica que as espécies de gêneros nascem,
transformam-se, mesclam-se com outras, originam subgêneros e, eventualmente,
morrem. O fato de os gêneros possuírem essa maleabilidade e capacidade de
regeneração e degeneração não significa que sua classificação seja indispensável.
As classificações de espécies, ainda que sofram alterações com o tempo, são
importantes porque as espécies de textos que englobam e os critérios em que se
43
Bertochi também nos apresenta um quadro sintético dos principais teóricos desta corrente, nomes que se
destacam por contribuir especialmente para o campo, como o de Carl Warren, um dos primeiros estudiosos da
reportagem como gênero jornalístico. Na escola hispânica, encontramos os nomes de maior tradição na área:
José Luis Martínez Albertos, Lorenço Gomis, Josep Maria Casasús, Luisa Santamaria, Gonzalo Martín Vivaldi,
Miguel Pérez Calderón, Juan Gutiérrez Palacio,Hector Borrat entre outros, como Begoña Echeverría. No espaço
lusobrasileiro, os autores mais expressivos são Carlos Manuel Chaparro, José Marques de Melo, Juarez Bahia e
Luiz Beltrão. Para o campo específico do ciberjornalismo e que trabalham especialmente por uma Teoria dos
Gêneros Ciberjornalísticos temos, sobretudo Ramón Salaverría e Javier Dias Nóci. (Cf. Bertocchi, 2005)
88
apóia são reflexos de todo o sistema de valores do jornalismo e de seus
pressupostos etimológicos (Casasús, 1991, p. 92; Lopes & Reis, 2002, p.187).
A elaboração de classificações de gêneros foi acompanhando o aparecimento
e o desenvolvimento de suas espécies ao longo das eras do jornalismo moderno.
Grosso modo, teríamos:
1. Jornalismo ideológico- Consolida-se entre 1850 e o fim da I Guerra
Mundial. De cariz doutrinante e moralizador, com ânimo proselitista à serviço de
idéias políticas e religiosas, com muitas opiniões e poucas informações. Nesse
período, firmam-se os textos do gênero jornalístico ―comentário‖ ou ―opinião‖
(comment para a escola anglo-saxônica);
2. Jornalismo informativo- Aparece desde 1870 concomitantemente com o
jornalismo ideológico. Entre 1870 e 1914 perfila-se primeiro na Inglaterra e depois
nos EUA como um jornalismo que prima pela narração de fatos. A partir de 1920,
consolida-se em todo o mundo ocidental. As espécies de texto predominantes dessa
era são as do ―relato‖ ou ―informação‖ (story para os anglo-saxões), como, por
exemplo, a notícia ou a crônica (Albertos, 1991) ;
3. Jornalismo de explicação (ou de profundidade) Firma-se a partir de 1945.
As espécies do gêneros ―relato‖ e ―comentário‖ continuam a ser utilizadas, mas de
uma forma mais clara, permitindo aos leitores encontrarem as opiniões ao lado dos
fatos narrados. É nesse período que o tipo reportagem entra em destaque e a
crônica revela-se como uma espécie marcadamente híbrida entre literatura e
jornalismo (Albertos, 1991).
4. Jornalismo social (ou de serviços): acredita que, a partir dos anos 70 do
século XX, se iniciou uma nova etapa na história do jornalismo moderno,
caracterizada pela consolidação de idéias profissionais universalistas e pela busca
por assuntos de interesse humano e da vida cotidiana. Nessa fase, surgem novas
espécies de gêneros jornalísticos como a análise, o informe, a notícia de situação e
o infográfico. As classificações variaram ao longo do tempo segundo as tradições
científicas,culturais e sociais de seus autores. Embora com particularidades
específicas, podemos selecionar os estudos mais significativos e simplificar desta
forma:
a) neros informativos (para Albertos, Ladevéze, Gomis, van Dijk;
chamados de ―espécies narrativas‖ em Chaparro): notícias, reportagem,
entrevista;
89
b) Gêneros interpretativos (denominados assim ou como ―gêneros para a
interpretação‖: análise, perfil, enquete, cronologia;
c) Gêneros argumentativos (chamados desta maneira em Ladevéze; de
―espécies argumentativas‖ em Chaparro; de ―gêneros para o comentário e opinião‖:
editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, caricatura, crônica, cartas;
d) neros instrumentais (chamados de ―espécies práticas‖ em Chaparro; e
de ―utilitário‖ para Marques de Melo): indicadores, cotações, roteiros, obituários,
previsão do tempo, agendamentos, carta-consulta.
Chaparro também engloba em sua classificação a ―caricatura‖ e a ―charge‖
como espécies ―gráfico-artísticas‖, dentro do gênero ―comentário‖. E ressalva que a
―coluna‖ é uma espécie híbrida que pode tanto entrar no gênero argumentativo como
narrativo. Marques de Melo prevê o gênero ―diversional‖ para espécies que trazem
histórias de interesse humano. Vale reiterar que a ―reportagem‖, a ―crônica‖ e a
―entrevista‖, dependendo do autor, ora figuram entre os gêneros informativos, ora
entre os argumentativos (Albertos, 1992; Casasús, 1991; Chaparro, 2008; Melo,
1994).
O clássico binômio ―gêneros informativos/opinativos‖, de inspiração anglo-
saxônica -se, cada dia mais, em crise. Para Chaparro, trata-se, na verdade, de um
falso paradigma, já que o jornalismo não se divide, mas se constrói com informações
e opiniões. E, ―além disso‖, diz o professor, ―está enrugado pela velhice de três
séculos‖ (Chaparro, 2008).
Para ele em face da dinâmica e do grau de complicação das interações que o
jornalismo viabiliza no mundo atual, não é possível explicar e entender a ação
discursiva do jornalismo pela dicotomia Opinião X Informação. Qualquer leitura de
jornal ou revista de grande circulação deixa evidente que as fronteiras entre Opinião
e Informação são destruídas pela inevitabilidade da valoração jornalística, por sua
vez influenciada pela interferência interessada e legítima dos vários sujeitos do
processo tanto no Relato quanto no Comentário da atualidade.
Informação e Opinião estão inevitavelmente associados em qualquer texto
jornalístico, até porque não existe texto dissociado da ação de pensar. E
assim como nas artes do narrar, são os critérios subjetivos (ou seja, as
idéias) que determinam escolhas e hierarquias dos fatos, nos textos da
argumentação o que dá clareza às idéias é a contundência dos
fatos.(CHAPARRO, 2008, p.162).
Dessa maneira o paradigma Opinião X Informação tem condicionado e
balizado, décadas, a discussão sobre gêneros jornalísticos, impondo-se como
90
critério classificatório e modelo de análise para a maioria dos autores que tratam do
assunto. E segundo Chaparro (2008, p. 145), a conservação dessa matriz
reguladora esparrama efeitos que superficializam o ensino e a discussão do
jornalismo.
A cultura jornalística produziu, pois um equívoco. Até a notícia dita objetiva,
construída com informação ―pura‖, resulta de seleções e exclusões deliberadas,
controladas pela competência opinativa do jornalista. E segundo Chaparro (2008) no
extremo oposto seria claramente usar o conceito de Artigo como equivalente ao de
opinião.
Opinião é ajuizamento, atribuição de valor a alguma coisa, ponto de vista,
pressuposto, modo de ver, de pensar, de deliberar. o termo Artigo, no
plano d alinguagem, identifica um tipo de texto organizado em esquemas
argumentativos, adequados para a estruturação de comentários.Ou seja:
Artigo es´na dimensão da forma; Opinião, na dimensão do conteúdo. E o
mesmo raciocínio se pode aplicar ao paralelismo entre a Informação
(conteúdo) e os diversos tipos de texto do relato jornalístico, organizados
em esquemas narrativos (forma). (CHAPARRO, 2008, p. 163).
Em decorrência, Chaparro propõe dois gêneros jornalísticos: o gênero do
comentário e o gênero do relato. E circunscreve que cada um deles se organiza
em dois agrupamentos de espécies: nas formas do gênero comentário teríamos as
Espécies Argumentativas e as Espécies Gráficos- Artísticas, e nas formas do
gênero Relato teríamos as Espécies Narrativas e as Espécies Práticas. Como
segue no quadro seguinte.
Gênero comentário
Gênero relato
Espécies
Argumentativas
Espécies
Gráfico-Artísticos
Espécies
Narrativas
Espécies Práticas
Artigo
Caricatura
Notícia
Roteiros
Carta
Charge
Reportagem
Indicadores
econômicos
Entrevista
Agendamentos
Coluna
Previsão do tempo
Consultas
Orientações úteis
CRÔNICA: classe de texto livre de classificações
Tabela 6- Grade classificatória proposta por Chaparro (2008).
Fonte: Chaparro (2008, p.178)
91
Percebe-se que os autores contemporâneos têm uma tendência a classificar
os gêneros não pela quantidade e proporção de ―informação‖ ou ―opinião‖ que
carregam, mas segundo a função que exercem: ―relatar‖ e ―comentar‖. Para a
informação, recorre-se a um gênero informativo (como a notícia). Precisando
entender um acontecimento, procura-se um gênero interpretativo (como a
reportagem). De forma sucinta, diz-se que as espécies do gênero informativo
contam o que ocorreu, as do interpretativo explicam os porquês e as do opinativo
valoram o sucedido (Yanes Mesa, 2004). Vista por esse ângulo mais cognitivo e
pragmático, vemos na literatura sobre o tema uma tendência pela classificação
teórica de gêneros por função e não por conteúdo. (Chaparro, 2008).
Isso nos leva a um outro ponto essencial:
[...] os neros são um pacto firmado entre seus interlocutores para facilitar
o processo comunicativo. Tal tendência contratualista garante que os
autores e os leitores, telespectadores, ouvintes identifiquem as diversas
espécies de gêneros de modo consciente, no primeiro caso; e de forma
intuitiva, no segundo e saibam o que esperar de cada uma delas: opinião,
informação, entretenimento. Para os autores de seu conteúdo, é um formato
a ser (per)seguido segundo o objetivo que se pretende alcançar. Para o
público, um horizonte de expectativas. A bússola para navegar pela
informação é a mesma para ambos. É por isso que os gêneros jornalísticos
pressupõem uma competência narrativa de seus interlocutores. Para
decodificar um tipo de texto, os interlocutores precisam -lo interiorizado.
(ALBERTOS, 1992, p.267)
O fato de haver esse contrato entre interlocutores é um dos motivos que leva
muitos autores a afirmarem que os gêneros são de fundamental importância para o
ensino do jornalismo. (Albertos, 1992; Chaparro,2008).
Quanto mais forem respeitadas as convenções do gênero, mais homogêneo
resultará o trabalho jornalístico e mais confiança adquirirá o receptor da mensagem.
São formatos que devem ser dominados pelos profissionais do jornalismo, pois
representam, além de tudo, uma solução para o trabalho em equipe. Nas palavras
de Gomis:
Os gêneros jornalísticos nascem como herdeiros dos literários, mas a
necessidade de gêneros no jornalismo é mais imediata e urgente que na
literatura. Na literatura, a assinatura de um autor, enquanto que num
jornal ou telejornal é combinado o trabalho de muitas pessoas [...] Um texto
é elaborado por várias mãos que permanecem anônimas [...] A informação
que um preparou, o outro tem que editá-la e ajustá-la ao espaço e ao tempo
[...] É preciso saber, portanto, não somente o que está se dizendo, mas o
que se está fazendo: se trata-se de uma notícia, uma reportagem, uma
crônica, um editorial. (GOMIS,1991, p. 44 apud BERTOCCHI, 2006).
92
2.3 Os gêneros ciberjornalísticos
Refletir sobre os gêneros ciberjornalísticos é pensar sobre o próprio
ciberjornalismo (webjornalismo), uma modalidade jornalística surgida no final do
século XX que se apropria do ciberespaço para a construção
44
de conteúdos
jornalísticos. Falamos aqui do jornalismo feito especialmente na rede e para a rede
(Bastos, 2000) (não de conteúdos do jornalismo impresso, do telejornalismo ou
radiojornalismo transpostos para a rede ou elaborados a partir de investigações
jornalísticas na rede) e que possui, à semelhança das outras modalidades, uma
linguagem jornalística própria. Esse novo campo está a sofrer o impacto de diversas
forças, tais como: a de mercado (empresas jornalísticas com negócios em meios
digitais que buscam processos comunicativos eficazes e lucrativos), a da audiência
(pressão por participação dos ―usuários/produtores‖), a acadêmica (para a formação
de ciberjornalistas críticos). Os gêneros de texto ciberjornalístico fazem parte deste
sistema e absorvem os reflexos deste conjunto da mesma forma que sofrem o
impacto da resistência psicológica dos profissionais diante de um novo meio e
também dos entraves tecnológicos e de ordem econômica (vide crise das empresas
de comunicação).
O ciberjornalismo, além disso, pulsa nas veias da chamada eComunicação,
e não exatamente da comunicação de massa. Os novos paradigmas da
comunicação digital são:
1. o usuário é central no processo comunicação (e não uma audiência
passiva), 2. os meios de comunicação digitais vendem conteúdos (e não suportes),
3. a linguagem deste meio é multimidiática (e não mono-midiática), 4. os conteúdos
são atualizáveis em tempo real (e não diariamente, ou semanalmente), 5. espaço
para uma abundância de dados (não há o constrangimento das limitações físicas), 6.
o meio não é mediado (desaparece a figura do gatekeeping e some a agenda
setting, 7. a comunicação dá-se de muitos para um e de muitos para muitos (e não
de um para muitos), 8. o meio digital ao usuário a capacidade de mudar o
aspecto do conteúdo, produzir conteúdos e se comunicar com outros usuários
(interatividade), 9. a gramática da eComunicação é o hipertexto (e não o texto
44
Optamos por ―construção‖ de conteúdos, e não ―difusão‖, porque nosso objetivo é ressaltar o
caráter de coletividade desta construção (entre autores e usuários) muitos mais do que o caráter
difusionista, próprio do paradigma de mão única (―emissor-mensagem-receptor‖) Da comunicação
massiva.
93
linear) e, por último, 10. a missão dos meios digitais é dar informação sobre a
informação, dado o caos de informação que se apresenta em redes digitais
(Orihuela, 2003).
Para, além disto, parece-nos que os gêneros digitais o se encontram no
tempo do jornalismo explicativo de Casasús. Mas talvez na era do ―jornalismo de
código aberto‖ de Gillmor (2005). Um tempo que começou no passado 11 de
Setembro, deflagrado precisamente no momento em que pessoas comuns
apropriaram-se de diversas ferramentas comunicacionais disponíveis no
ciberespaço e, por meio delas, começaram a produzir as suas próprias notícias. Em
outras palavras: a transformação do jornalismo de hoje para o jornalismo do amanhã
se deu quando, em um momento único e crítico da História, a tecnologia estava
para qualquer um vestir o figurino do jornalista e relatar o acontecimento. Entramos,
naquele momento, na era em que nós somos os media (We Media), num tempo em
que a linha divisória entre produtores e consumidores se esbate. E a rede de
comunicações se torna um meio para dar voz a qualquer pessoa.
Lançamos assim o nosso contributo para o debate teórico acerca do tema, no
qual é evidente o que afirma Bertocchi (2006):
[...] se por um lado, observamos que os gêneros jornalísticos em espaços
digitais continuam a responder à mesma lógica das espécies do jornalismo
tradicional são modelos re(de)generados de outros, fundamentais para o
ensino do jornalismo, historicamente situados, carentes de uma atualização
classificatória e de forte cariz contratualista entre seus interlocutores , por
outro, observamos que vivem num tempo de dialogismos e respiram os ares
de um sub-campo jornalístico em formação sub-campo esse, o
ciberjornalismo, com paradigmas peculiares e com suas próprias
contradições. Refletir sobre os gêneros digitais, pois, significa refletir sobre
todo o Jornalismo e sobre os avanços e retrocessos que o mesmo vem
sofrendo neste início de século XXI.
Para alargar o debate, Bertocchi (2006) faz três apontamentos interessantes
no que se refere as mudanças em curso:
Sui generis Acreditamos que os formatos do ciberjornalismo tendem a ser
formar a partir dos modelos do jornalismo impresso, num primeiro momento. Isso
acontece porque o jornalismo nasce vinculado ao meio papel e é no jornalismo
impresso que existem as referências teóricas e práticas mais consolidadas
45
. Sem
contar que os leitores vão aprendendo a consumir os produtos noticiosos digitais
45
Importante notar que as tradicionais espécies do jornalismo impresso, radiofônico e televisivo, por
sua vez, sofrem influência das novas espécies ciberjornalísticas. Trata-se de um processo circular
complexo, com determinadas particularidades e especificidades dentro de cada sociedade.
94
graças em grande parte à sua experiência prévia de consumir o jornal impresso (Jim
Hall, 2001, apud Palácios, 2005). Entretanto, as espécies tendem a se convergir
(fusão) e a originar novos subgêneros, ao mesmo tempo em que se redefinem,
ganhando autonomia e, sobretudo, o reconhecimento de todos os seus
interlocutores para que haja a competência narrativa esperada. O meio digital
provoca o surgimento de espécies sui generis, como, por exemplo, os infográficos
interativos.
Isso não quer dizer que a totalidade das espécies se hibridizam ou devam-se
transmutar em algo novo. Observamos que certas espécies mais duras, como o
editorial e o artigo de opinião, a o momento estão sendo transladadas para o
media digital sem sofrer grandes arranhões.
Geometrização dos gêneros Lançamos para reflexão a idéia de que os
gêneros de texto ciberjornalístico, à diferença dos tipos clássicos, apresentam-se
como modelos tridimensionais (hipertextuais) dentro de uma linguagem (multimídia).
Como afirmou Heras (1990) há mais de quinze anos no meio digital o sistema de
escritura é ―geometrizado‖: escrevemos e lemos não sobre o plano de uma página,
mas sobre as faces de um cubo. Para os gêneros do ciberjornalismo (cubos abertos
à atualização e interação, maleáveis, de faces móveis e navegação multilinear) é
suposto cada vez mais um trabalho jornalístico prévio de geometrização de palavras,
imagens e sons (com ordem, rigor, simplicidade, rigidez, linearidade, imobilidade). A
construção e navegação de e por cubos não será, entretanto, regra geral para todos
os gêneros. A despeito de termos ouvido muita súplica por mais hipertextualidade
(como por interatividade e multimidialidade), o fato é que o ―modo hipertextual de ler
e escrever‖ deverá ser ―uma entre muitas formas‖ de modalidade de produção
simbólica, tanto dentro como fora do ciberespaço (Palácios, 2005).
Gêneros coletivos Os gêneros do ciberjornalismo tendem a funcionar
como um pacto implícito entre um novo tipo de autor e um novo tipo de leitor: não
mais o leitor contemplativo da idade pré-industrial, nem o leitor de jornais, filho da
Revolução Industrial, mas, na denominação de Santaella (2005, p. 19), o leitor
imersivo, aquele que entra nos espaços incorpóreos da virtualidade e que, segundo
Gillmor (2005), longe de ser o indivíduo que apenas sugere pautas ao repórter,
telefona para a emissora rádio ou envia cartas ao editor do jornal, será cada vez
mais aquele cidadão ativo que como os utentes (usuários) que abastecem o
Wikinews e os muitos blogueiros que fazem do seu ―jornalismo pessoal‖ um ato de
95
participação vica organiza grupos, ultrapassa as fontes tradicionais de informação
e interfere no processo jornalístico contemporâneo.
Novamente, Bertocchi chama a atenção que nem toda espécie digital,
entretanto, é coletiva. Mas há que se ter em conta que pode ser para muitos casos e
que, nessas situações, exigirá do ciberjornalista uma abertura à conversa e uma
predisposição à co-autoria.
Nesse sentido cabe pensar na amplitude que o formato blog oferece como
suporte a tais gêneros, na medida em que a tal liberdade de edição aliada a
potencialidades de recursos multimidiáticos suscita uma infinidade de possibilidades
no tecer o comentário e o relato da informação. Esta potencialidade multimidiática
possível pelo suporte on-line, baseia-se na essência do conceito contextual no qual
a Internet é visualizada como uma hipermídia.
Ao se referir a recursos específicos da hipermídia, (ZILLER, 2007) se refere
propriamente tanto ao caráter hipertextual quanto ao multimidiático. Mas segundo
ela:
a hipermídia vai muito além da junção em hipertexto de recursos de som,
texto plano e imagens estáticas em movimento. Sua característica central
são a multiplicidade, a não linearidade e a predominância do usuário na
determinação de que trilhas de significado seguir.(ZILLER, 2007, p.2).
A segunda característica da hipermídia é
transmutar-se em incontáveis versões virtuais que o brotando na medida
mesma em que o receptor se coloca em posição de co-autor. Isso só é
possível devido à estrutura de caráter hiper, não-sequencial,
multidimensional. (SANTAELLA, 2004, p. 49 apud ZILLER, 2007).
Ao encontrar vários caminhos disponíveis, o usuário poderia optar por
qualquer um deles. A multiplicidade recorrente a cada nova página acessada abre a
possibilidade de fazer do percurso de cada usuário um percurso único, composto por
ele.
Portanto dentre estes inúmeros percursos possíveis por distintos cenários
congruentes e hiperlinkadas sobram opções entre ‗gênero do comentário‘ e o
‗gênero do relato‘ (CHAPARRO, 2008) o que no fundo tangencia o fato de que nos
blogs a liberdade tanto no processo de produção de conteúdos quanto no processo
consumo de conteúdos, esta barreira divisória antagônica informação x opinião
tende a ser colocada abaixo, ou se não totalmente, deixam ao menos de ser
visualizadas como formas estanques e instransponíveis no processo do fazer
jornalismo e do fazer notícia. não imperando a lógica ideológica cartesiana, da
96
neutralidade e da objetividade mecânica do jornalista como fiscal da sociedade, nos
blogs ele tem a liberdade para mesclar e escrever com pessoalidade quando deseja.
Mas diante da tamanha multiplicação de usos deste canal tão personalizado e
útil para distintos propósitos e estilos fica constatada a evidência de que impera a
lógica de múltiplos usos para um único conceito -blog, mas passa a ser importante
buscar uma tipologia para os blogs e categorias que dêem suporte de análise ao
blogs jornalísticos em foco.
2.4 Em busca de uma tipologia para os blogs jornalísticos
Recuero (2003) acredita que muitas possibilidades para classificar os
milhares de blogs na rede mundial de computadores, mas optou em dividi-las em
três categorias: diários eletrônicos (―fatos e ocorrências da vida pessoal de cada
indivíduo‖), publicações eletrônicas (―se destinam principalmente à informação) e
publicações mistas (―misturam posts pessoais sobre a vida do autor e posts
informativos‖). Essa tipologia, no entanto, serve apenas como um caminho para a
análise dos blogs jornalísticos, pois não consegue atender as variações desse
formato. Nesse sentido, Dória (2005) recorda que o blog informativo, ―instrumento
fantástico para quem quiser fazer imprensa com as próprias mãos‖, pode ser de
vários tipos: ―de análise, de links em série, comentados ou não, apontando o que há
de melhor publicado nas páginas. Ou até mesmo da boa e velha apuração: ―_pega
um telefone, conversa, descobre como funciona, publica.‖Com o propósito de
encontrar uma categorização mais adequada aos blogs jornalísticos, as informações
acima foram associadas a tipologia apresentada pelo escritor D. Travers Scott.
Segundo Scott (2004), com enfoque na tecnologia digital, os blogs podem ser
divididos em dois períodos: protótipos de blogs e blogs contemporâneos. A primeira
fase, a dos protótipos de blogs, era necessário conhecer a linguagem HTML e não
havia uma preocupação com a temática.
As pessoas, normalmente, dividiam com o usuário a sua lista de links
favoritos de assuntos gerais ou temáticos. Todos, no entanto, com um propósito,
revelar os interesses pessoais do autor do blog. Aqui, na fase dos protótipos dos
blogs, acrescentamos os diários instrutivos, com seus links de assuntos gerais ou
temáticos. A sua diferença com os diários pessoais está na intenção de compartilhar
um conhecimento em nome do avanço científico, sociocultural ou político.
97
Na atual fase, a dos blogs contemporâneos, a preocupação está no enredo e
existem inúmeros programas gratuitos na rede para facilitar a sua disponibilização
na web. Mais adiante, apresentaremos a sua categorização. Nesse estudo, são
analisados três blogs jornalísticos que se enquadram na esfera dos blogs
contemporâneos. Para tanto, um quadro foi criado para ilustrar a tipologia
desenhada a partir dos estudos da área e da observação sistemática dos blogs. No
topo desse quadro, estão os protótipos de blogs, já categorizados, e os blogs
contemporâneos de Scott. Ainda que os blogs informativos possam pertencer a um
jornalista, cresce o número de pessoas com outra formação que utilizam essa
ferramenta como meio de comunicação.
Conforme os quadros abaixo, os blogs são categorizados desde sua origem
(protótipos de blogs) até suas caracterizações de uso atual.
1)PROTÓTIPOS DE BLOGS
DIÁRIOS PESSOAIS
Links para Assuntos Gerais
Links temáticos
DIÁRIOS INSTRUTIVOS
Links para Assuntos Gerais
2) BLOGS CONTEMPORÂNEOS
DIÁRIOS PESSOAIS
DIÁRIOS COLETIVOS
DIÁRIOS INSTRUTIVOS
Individuais ou Grupos
INFORMATIVOS
Individuais ou Grupos
De assuntos gerais ou temáticos
Analítico
Opinativo
Noticioso
DIÁRIOS MISTOS
Pessoais ou Coletivos, Instrutivos e
Informativos
Tabela 7- Quadro categórico cronologia de tipologia dos blogs, 2005.
Tipologia criada com base em Scott (2004) e Recuero (2003).
98
Os diários pessoais, na fase dos blogs contemporâneos, ganham mais
recursos multimidiáticos e não se limitam ao uso de lista de links favoritos.
Descrevem fatos da vida pessoal, com a intenção de tornar a sua figura pública ou
para a autopromoção. Por exemplos: o diário com as histórias de uma adolescente
na rede e o do jovem ator que descreve as suas potencialidades em cena. Nesses
blogs, os visitantes têm condições de publicar comentários, mas o controle é
individual. Cabe ao autor do blog manter ou não o post enviado. Nos blogs coletivos
mais de uma pessoa pode postar e editar. Os usuários/autores fazem parte de uma
comunidade virtual que tem interesses em comum, com o objetivo de atender,
normalmente, as próprias necessidades. Um administrador, contudo, é quem
convida outros usuários/autores para fazer parte do blog, podendo retirar a qualquer
momento o poder de edição oferecido. Nesse sentido, o blog coletivo concentra-se
no poder de um indivíduo, pois a participação dos demais usuários/atores depende
do desejo do administrador. Os posts dos demais usuários, que não têm o poder de
edição, podem funcionar como nos diários pessoais, cabendo ao grupo mantê-los ou
não.
O blog instrutivo, que pode ser construído por uma única pessoa ou por um
grupo, surgiu com o objetivo de compartilhar informação e, assim, ampliar
conhecimento. Na fase dos protótipos de blogs, esse tipo continha apenas links de
assuntos gerais ou temáticos de um blogueiro, normalmente, pesquisador, como Tim
Berners Lee. Na fase dos blogs contemporâneos, eles ganham recursos
multimidiáticos e a facilidade no uso da tecnologia empregada também ampliou o
número de blogueiros com outras profissões.
Na Internet, é possível aprender e trocar idéias sobre as mais diversas áreas,
como literatura, dança, matemática, astrofísica etc. O diário informativo, feito de
forma individual ou em grupo, também pode oferecer possibilidades de participação
do usuário por meio de posts.
Fazem parte dessa categoria os blogs jornalísticos, objetos de estudo desse
trabalho. Os diários informativos são de assuntos gerais ou sobre um tema
específico, como cultura, economia, política e outros. Independente do tema, eles
ainda podem ser analíticos, opinativos, noticiosos ou um mix de um ou mais estilos.
Os diários mistos, que na categorização de Recuero (2003) são denominados
de publicações mistas por que os posts são pessoais e informativos, recebem esse
nome pelo fato de possuir características de outros diários apresentados acima e
99
categorizados no quadro demonstrativo, os três blogs que serão analisados mais a
frente se enquadrariam na definição de ―diários mistos‖ na medida em que trazem
um mix de recursos de estilos e gêneros noticiosos, mas possuem um foco
específico na temática, que em sua maioria se refere a assuntos políticos.
Os blogs representam uma nova tendência de escrita na Internet e, segundo
Recuero (2003), identificam uma ‗violenta quebra de paradigmas no jornalismo e o
mais importante: têm influenciado a maneira através da qual o jornalismo é
praticado‘.
Araújo, Penteado e Santos (2006), tratando exclusivamente sobre blogs
políticos, consideram os blogs como um novo espaço midiático, uma alternativa real
aos meios tradicionais existentes e é capaz de lançar novos olhares sobre a política:
Os blogs se constituem em um novo espaço para a realização da política,
fora das instituições sociais estabelecidas, como também à margem dos
meios de comunicação tradicionais [...]Os blogs trazem para os visitantes
novos olhares para os acontecimentos, novas interpretações, novas
informações, muitas vezes publicizadas no calor dos acontecimentos.
(ARAÚJO, PENTEADO E SANTOS, 2006, p. 1).
A criação de uma tipologia ou classificação dos blogs de política permite que
o pesquisador diferencie a atuação dos diferentes blogs que atuam dentro da
blogosfera. Cada blog de política possui uma especificidade, a qual depende de sua
constituição. Um blog dentro de um portal de informação da Internet, por exemplo,
tem uma identidade que está atrelada, mesmo que indiretamente, a política editorial
do portal, atuando de forma menos independente. Por outro lado,um blog pessoal de
um desconhecido tem maior liberdade de expressão e atuação, no entanto menos
credibilidade. O perfil do blogueiro também é uma importante característica, uma vez
que o blog nasce dentro do formato de diário on-line, a pessoa responsável por
administrar o espaço é quem ―dá a cara‖ para o blog, suas características pessoais
vão formatar a atuação e o estilo do blog.
A análise da estrutura do blog permite examinar os serviços oferecidos e suas
possibilidades enquanto ferramental da prática política contemporânea. Os blogs,
em sua maioria, estão estruturados em uma página principal, na qual são postadas
as informações e análises do blogueiro, mas também disponibilizam outros serviços
para as pessoas que navegam no site: enquetes de opinião, imagens, banco de
dados, charges, etc.
Também é importante no estudo dos blogs de política a análise dos
conteúdos ‗expressos nos posts. O exame dos conteúdos permite verificar o
100
posicionamento do blogueiro diante de determinados assuntos, permitindo avaliar a
forma de atuação dos diferentes blogs existentes. Para a análise do conteúdo é
importante criar categorias para classificar o formato, permitindo um agrupamento
dos dados e a indicação de tendências.
Em sua metodologia de análise de blogs de política, Araújo, Penteado e
Santos (2006) traçam uma classificação que obedece a duas variáveis: localização
do blog e perfil do blogueiro.
2.4.1 Classificação dos blogs de política
A classificação dos blogs de política proposta está dividida em duas partes:
quanto à localização do blog e quanto ao perfil do blogueiro.
Quanto à localização do blog:
A localização do blog de política dentro do universo virtual da internet é um
elemento importante para o estudo dos blogs. O endereçamento do blog tem
ingerência sobre o seu formato, seu conteúdo, sua credibilidade, sua visibilidade e
número de acessos ao seu conteúdo. Os blogs podem ser classificados em:
institucionais (vinculados aos Portais de Internet, empresas de mídia, partidos
políticos e demais instituições); independentes (sem vínculo com instituições); e
blogs de entidades da sociedade civil (vínculo com organizações da sociedade civil).
a) Blog localizado em Portal de Internet o os blogs relacionados aos
grandes portais de internet. Os portais oferecem em sua página principal links para
os blogs de política. Os blogs de política localizados nos portais de internet seguem,
em sua maioria, o formato de blog de jornalismo político, valorizando a exposição de
notícias e informações, a partir dos princípios da imparcialidade jornalística. Os
responsáveis pelo sites (blogueiros) são na maioria jornalistas com um
reconhecimento construído fora da web. Os blogs relacionados a um portal têm
menos liberdade para expressar suas idéias, uma vez que eles estão ligados a uma
instituição com interesses sociais, políticos e econômicos, com uma linha editorial,
muitas vezes não expressa formalmente, mas que conduzem (indiretamente) o
funcionamento dos blogs e seus conteúdos. A presença do blog em um portal
aumenta a sua credibilidade, o internauta confere um maior status ao blog por ele
estar vinculado a um grande portal de internet. A presença nos portais também
101
confere maior visibilidade ao blog, tornando o mais conhecido, e consequentemente
ampliando o número de acessos.
b) Blog localizado em site da mídia tradicional são os blogs relacionados à
grandes corporações da mídia tradicional que circulam por meio impresso (jornais e
revistas). As características desses blogs são semelhantes aos blogs de portais, os
sites das empresas de mídia oferecem aos seus visitantes links para os blogs,
seguindo o formato de blog jornanísitco, no entanto a influência da linha editorial da
empresa de mídia é mais clara, assim como o apelo jornalístico do próprio blog em
sua dinâmica de funcionamento. Os blogueiros responsáveis pelos sites são, em sua
maioria, formados por jornalistas da própria redação da empresa com maior
destaque dentro do cenário da imprensa. A sua localização confere maior
credibilidade, uma vez que ele se aproveita da credibilidade da empresa e do próprio
jornalista. Eles também têm maior visibilidade, pois estão expostos em sites de
grande visitação, com isso têm um grande número de acessos.
c) Blog localizado em um site de partido são os blogs relacionados aos
partidos políticos. Esses blogs são caracterizados por serem espaços de divulgação
política e fóruns de debate. Eles servem para os partidos exporem suas idéias,
defenderem seus interesses e entrarem em contato com a militância e
simpatizantes. Os textos e comentários são parciais e voltados para a defesa das
bandeiras políticas do partido, atrair novos militantes e divulgar suas propostas. A
credibilidade dos blogs locados em sites de partidos é praticamente restrita aos
simpatizantes do partido. Por possuir um caráter publicitário (panfletário) as
informações expressas são favoráveis à imagem do partido. A visibilidade e número
de acessos do blog ficam limitados pela popularidade do partido e dos autores.
d) Blogs Independentes são os blogs criados e gerenciados por pessoas
desconhecidas do grande público. Esses blogs assumem o formato de diários on-
line, valorizando os aspectos informais. Seus autores têm maior liberdade para
expressar suas opiniões e definirem os assuntos a serem abordados. Os conteúdos
exibidos não possuem uma padronização, no entanto, percebe-se uma tendência de
valorização da crítica à política e aos políticos, o uso do humor e a ironia. Por outro
lado, a autonomia de criação confere aos blogs pouca credibilidade, baixa
visibilidade e seus acessos são mais restritos. A audiência dos blogs independentes
é construída a partir de redes de auto-referências criadas entre os próprios
blogueiros e seus conhecidos.
102
e) Blogs de entidades da Sociedade Civil o os blogs criados e mantidos
por organizações da sociedade civil. Esses blogs assumem o formato de fórum de
debates em torno de temas específicos (ex: meio ambiente, combate a fome, etc). É
um espaço de mobilização virtual, que reúne pessoas interessadas em defesa dos
interesses sociais variados. Os conteúdos dos textos são voltados a uma temática,
possuem caráter crítico, informativo e panfletário. Os comentários expostos são
parciais, fragmentários e específicos. A credibilidade e visibilidade do blog estão
relacionados a própria imagem da entidade e do responsável pelo blog. Seus
acessos são mais restritos, atingindo um público segmentado.
Quanto ao perfil do escritor (blogueiro):
Os blogs de política também podem ser classificados de acordo com o perfil e
formação profissional do blogueiro. O perfil do blogueiro confere um estilo e formato
ao blog. Segue abaixo as classificações propostas:
a) Blogs escritos por jornalistas seguem, em sua maioria, o formato de blog
jornalístico, trazendo informações, comentários e opiniões sobre os temas políticos.
Os jornalistas em seus blogs seguem o estilo próprio do segmento jornalístico,
valorizando a informação e análise imparcial dos dados, mesmo quando da
exposição de comentários críticos. Os jornalistas mais conhecidos possuem maior
credibilidade e visibilidade, fazendo com que seus blogs tenham um grande número
de visitas e comentários. Os usuários acreditam que os jornalistas podem trazer
informações dos bastidores do poder, trazer à tona dados exclusivos e notícias
reservadas.
b) Blogs escritos por políticos são caracterizados pela expressão da opinião
individual e seu posicionamento político. O formato pode variar de blog jornalístico,
comentando as informações da política, ou então, adotar o formato de diário on-line,
relatando suas experiências e suas idéias. Esses blogs se configuram por se tornar
um meio de interface entre o político e a população, funcionando como um novo
espaço de comunicação do político. O estilo do blog varia de acordo com o perfil do
político, no entanto, os blogs com maior destaque são de políticos que valorizam os
textos polêmicos (exemplo: César Maia e José Dirceu). Os comentários postados
expressam a opinião publicizada do político, é um espaço para o posicionamento
político, crítica aos adversários e divulgação de suas idéias. O blog escrito por
político é mais um espaço para a divulgação da imagem pública do político. As
103
informações e opiniões expostas têm pouca credibilidade. A visibilidade e os
acessos estão relacionados com a própria imagem do político. Os políticos com
maior visibilidade atraem maior número de visitas.
c) Blogs escritos por pessoas desconhecidas seguem, na maioria dos casos,
o formato de diário on-line. Por serem escritos por pessoas diferentes eles não
possuem um estilo próprio. Os desconhecidos têm total liberdade para se
expressarem, podendo utilizar comentários preconceituosos, avaliações
personalistas e parciais. O estilo da escrita desses autores é a falta de estilo, que
valoriza a crítica direta e o humor. Blogs com pouca credibilidade e visibilidade,
ficam restritos a um universo particular de conhecidos ou redes criadas a partir da
própria internet, as quais regulam o número de acessos.
e) Blogs escritos por candidato aos cargos políticos seguem o modelo
publicitário, se caracterizam por serem mais um espaço para a divulgação da
campanha do candidato. São espaços de mídia de baixo custo no qual o candidato
pode aumentar sua exposição, criar uma interface com os eleitores e divulgar suas
idéias e propagandas eleitorais. O estilo é marcado pelo formato publicitário do
discurso político, isto é, a utilização de argumentos para conquistar votos (fala
persuasiva), atacar seus adversários e apresentar suas propostas. Seu conteúdo é
caracterizado pela posição partidária em próprio proveito. Os blogs funcionam
apenas no período eleitoral, com pouca credibilidade. A visibilidade e o número de
acessos estão condicionados a exposição e popularidade do candidato. Os
candidatos mais polêmicos e populares atraem um número maior de visitantes.
2.5 Classificando os blogs pesquisados
Dessa forma, pode-se reconhecer (1) blogs de referência, aqueles em que há
uma maior ocorrência de postagens prioritariamente informativas indiretas, ou seja,
coladas e referenciadas de uma fonte externa, que geralmente maior
credibilidade à informação; (2) blogs produtores, onde predomina a informação
coletada, reinterpretada ou metodicamente organizada, principalmente sob técnicas
jornalísticas de produção, pelos próprios blogueiros, em que a maioria das
postagens é classificada como informativa direta; (3) blogs opinativos, em que a
produção do blogueiro é em grande parte de comentários e análises opinativas em
detrimento a publicação de informações novas. São blogs em que via de regra, o
104
autor possui posicionamento pré-determinados e os defende claramente, (4) blogs
de combate, em que o autor busca proteger ideais e princípios. Para alcançar esse
fim, o blogueiro tanto defende as idéias quanto ataca os que se posicionam de forma
contrária. Da mesma forma como ocorre nos blogs opinativos, a posição do autor é
geralmente explícita para os leitores. Entretanto, utilizam em grande parte,
postagens irônicas, ideológicas, avaliativas e propositivas, confrontando valores
contrários aos pregados no blog.
Aqui o foco de análise são três blogs - Blog do Josias de Souza, Blog do
Fernando Rodrigues e Blog do Luis Nassif- escritos por jornalistas reconhecidos por
uma certa tradição e vínculo com a mídia impressa, seus blogs funcionam quase
que como plataformas complementares de trabalho de cobertura jornalística. Os
referidos blogs foram escolhidos por se enquadrarem dentro de parâmetros
específicos como: 1) ter a política nacional como temática principal; 2) os bloggers
são jornalistas profissionais reconhecidos nacionalmente; 3) os blogs estão
hospedados junto a grandes empresas de comunicação e Internet o que lhes
visibilidade; necessidade de atualização contínua e intensa e sobretudo alto grau de
leitores.
Ao pensar no processo histórico da hegemonia da informação dos fatos em
detrimento das opiniões, os blogs analisados trazem um panorama contracorrente,
na medida em que estes canais buscam aliar de forma complementar ‗fatos/
informações‘ e ‗opiniões‘, que é possível verificar um certo grau de pessoalidade
na narrativa e feitura das notícias.
Apesar das diferenças existentes em relação às variáveis estruturais, gráficas,
textuais e até mesmo ideológicas, conforme será explicitado nos próximos capítulos,
os três blogs analisados na pesquisa podem ser enquadrados nas mesmas
classificações, segundo proposições das tipologias citadas anteriormente.
Em relação às classificações de Araújo, Penteado e Santos (2006), os três
blogs Blog do Josias de Souza, Blog do Fernando Rodrigues e Blog do Luis
Nassif- são escritos por jornalistas profissionais. Os dois primeiros blogs se vinculam
ao UOL, um portal que está ligado diretamente a um meio de comunicação
tradicional jornalístico- a Folha de S. Paulo; o Blog de Luís Nassif, que também
foi vinculado ao portal UOL, hoje está armazenado em um grande portal de Internet,
cujo qual não possui vínculos com a mídia tradicional, ao menos em sua origem.
105
Os três blogs podem ser considerados individuais, apesar de em alguns
casos os blogueiros postarem conteúdos de colaboradores como no caso do blog de
Luís Nassif, que visibilidade para posts assinados por colaboradores que
pertencem a comunidade de leitores da rede social do seu blog; os blogs são
temáticos, por tratarem, salvo raras exceções, de um assunto em particular, a
política. Pela classificação de Recuero (2003), os blogs aqui analisados são tidos
como publicações, que se dedicam á publicação de conteúdos informativos e
opinativos.
De acordo com a categorização segundo a incidência dos distintos tipos de
postagens, os três blogs são majoritariamente blogs produtores,sendo em menor
escala blogs de referência.
O fato dos três blogs em análise estarem vinculados a conglomerados
midiáticos tradicionais no âmbito dos portais virtuais
46
brasileiros, suscita pensar
sobre os constrangimentos organizacionais exercidos pelas supostas linhas editorias
de tais empresas sobre a suposta liberdade de narrativa dos blogueiros. Tais blogs
exemplificam que de fato tal conjectura pode ter sua influência na medida em que as
notícias também registram os constrangimentos e limites organizacionais sobre os
quais os jornalistas labutam, pois as decisões tomadas pelo jornalista no processo
de escolha e de produção de notícias (newsmaking) perpassam diretamente ou
indiretamente por seu contexto imediato organizacional para o qual trabalha. Mas
pressupor rótulos e características antes mesmo de uma análise mais dissecada
seria imprudente, por isso entramos agora numa análise destes blogs em questão.
2.5.1 Descrição dos blogs analisados
I- Blog do Fernando Rodrigues
O Blog do Fernando Rodrigues (http://uolpolitica.blog.uol.com.br), escrito
desde 04 de setembro de 2005 se dedica quase que exclusivamente a discussão de
assuntos políticos. Nos primeiros dias após a estréia do blog, os números
mostravam que o blico estava, realmente, interessado na crise política por que
46
Estabelecidos no Brasil em 1996 (BARBOSA, 2003, p. 163), os portais são classificados como a
versão massiva da comunicação on-line (FERRARI, 2004, p.30). Nos maiores portais nacionais, o
conteúdo jornalístico é elemento central e boa parte das páginas iniciais de sites como Uol, Terra, IG
e Globo.com é dedicada às notícias.
106
passava o país. Foram, em média, por dia, cerca de 200 mil páginas vistas e 100 mil
visitantes.
Imagem 2 - Blog de Fernando Rodrigues
Na Folha desde 1987, foi repórter, editor de Economia, correspondente em
Nova York (1988), Tóquio (1990) e Washington (1990-91). Na Sucursal de Brasília
da Folha desde 1996 até 2007, assina a coluna "Brasília", na página 2 do jornal, às
segundas, quartas e sábados. Mantém uma página de política no UOL desde o ano
2000 - com informações estatísticas e analíticas sobre eleições , pesquisas de
opinião e partidos políticos. Em agosto de 2007 recebeu uma bolsa de estudos da
Fundação Nieman, na universidade de Harvard (Cambridge, MA, nos Estados
Unidos) e por isso o blog foi interrompido no dia 01º de agosto de 2007, mas foi
retomado no dia 15/08/2008 com o acréscimo de um objetivo claro expresso em
vosso título ―Blog de Fernando Rodrigues- Cobertura política, eleitoral, pesquisas e
notícias do poder‖, o qual tem priorizado no momento a cobertura das eleições
municipais de outubro que ocorrerão por todo o Brasil e também a eleição para a
presidência da república nos Estados Unidos que ocorrerá em novembro próximo,
de onde ele no momento atualiza o blog diariamente.
107
Colunista do portal UOL desde 2000, Fernando Rodrigues decidiu aderir ao
formato de blog para conseguir dar mais informações e se aproximar do leitor. "Com
o blog, posso dar notícias importantes antes dos concorrentes e abrir espaço para o
internauta dar a sua opinião", afirma.
Além das notícias exclusivas e quentíssimas, o blog traz análises sobre o
desenrolar de crise e seus bastidores. Não fica nisso. Tem também espaço para
humor numa seção, chamada "Separados no Nascimento", na qual existem
fotografias de políticos sendo comparados a personagens midiáticos, a estréia desta
coluna se deu com a comparação entre Severino Cavalcanti e o personagem Mestre
Yoda, da série "Guerra nas Estrelas".
II - Blog do Josias de Souza
Imagem 3 Blog de Josias de Souza
―Nos bastidores do poder‖ http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br) é o blog
escrito pelo jornalista Josias de Souza, desde o dia 15 de outubro de 2005, está
vinculado aos serviços de conteúdo da Folha online e hospedado no portal UOL.
108
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Trabalha na Folha de S.Paulo 20
anos. Nesse período, ocupou diferentes funções --de repórter a secretário de
Redação do jornal. Hoje, é colunista da Folha. Publicou em 1994 o livro "A História
Real", em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho revela os bastidores da
primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República.
Com apenas três semanas de funcionamento o blog bateu a casa dos
113.000 acessos, tornando-se na época, o segundo blog político mais lido do país.
III- Blog do Luís Nassif.
Imagem 4 Blog de Luís Nassif
O Blog de Luís Nassif, (http://www.projetobr.com.br/web/blog/5) está
hospedado no portal IG desde outubro de 2006, mas antes disso ele era hospedado
no portal UOL, onde começou a ser escrito em maio de 2006.
109
Este blog está vinculado, como consta no próprio nome em seu endereço, a
um projeto chamado projeto BR, que é uma Plataforma Comunicativa Multimidiáticas
Ciberespacial (PCMC) pública de debate sobre assuntos relacionados à política e
economia nacional. Para ser colaborador ou debatedor nos fóruns abertos é
necessário efetuar um cadastro, dessa maneira o usuário pode ter acesso a todos
os fóruns e conteúdos em forma de artigos e documentos e relatórios oficiais do
governo federal. Esta plataforma sugere links ao blog e o inverso também ocorre.
Luís Nassif é jornalista e foi o introdutor do jornalismo de serviços e do
jornalismo eletrônico no país. Hoje é comentarista econômico da TV Cultura. Mas
foi colunista e membro do conselho editorial da Folha de S. Paulo. Nas composições
que faz dos possíveis cenários econômicos ele não deixa de analisar áreas
correlatas que também são relevantes na economia, como o sistema de Ciência &
Tecnologia escrevendo por muitos anos sobre economia no jornal. Iniciou em 2007
uma série sobre os bastidores da Veja, em que critica, sob sua óptica, o jornalismo
da revista nos últimos anos.
Vencedor do prêmio Ibest de melhor blog de política em 2008 no voto popular,
é estruturado com cinco sessões na qual divide as publicações de acordo com o
conteúdo (Blog, Jornalismo, Economia, Crônicas). Ele prioriza a discussão de
assuntos políticos, mas dentre os três blogs é o que apresenta uma gama mais
heterogênea em amplitude de assuntos.
Uma característica interessante é que neste blog foi formado uma
comunidade paralela de leitores assíduos, chamada Verso e Prosa, no estilo rede
social virtual, na qual é preciso efetuar um cadastro, assim o leitor passa a ser um
potencial colaborador do blog Luís Nassif on-line, não apenas no que se refere a
comentários, mas o autor busca dar visibilidade a alguns comentários que julga
interessante e pertinentes, transformando os mesmos em postagens na seção
principal do seu blog, o que demonstra uma valorização do processo de
interatividade e feedback.
2.5.2 Análise estrutural
A análise das estruturas dos blogs procurou por meio de dois formulários
iniciais, um voltado à parte gráfica e outro a estrutural, conhecer todas as
possibilidades que podem auxiliar ou prejudicar a interatividade e navegabilidade
110
dos usuários além da organização espacial das páginas. Formulários estes
baseados na metodologia proposta por Araújo, Penteado e Santos.
O formulário estrutural constava de 16 itens que verificavam a existência dos
dispositivos e opções: (1)Janelas pop up- pequenas janelas que se abrem na tela
sem a intervenção do usuário; (2) Link externos- indicação de caminhos que
remetem a outras páginas da Internet; (3) Links internos- indicação de caminhos
para outras postagens dentro da própria página ou blog; (4) Feeds RSS- mecanismo
que permite o envio de conteúdo de uma página da Internet a um dispositvo móvel
como um telefone celular; (5) Blogroll- lista de páginas e blogs indicados pelo
blogueiro; (6) Publicidade interna do portal de hospedagem; (7) Publicidade
externa ao portal de hospedagem; (8) Arquivo; (9) Mecanismo de busca interna;
(10) Sub-páginas; (11) Perfil dos blogueiros; (12) Podcast; (13) Enquetes; (14)
Multimídia; (15) Seções especiais; (16) Outros.
I- Blog do Fernando Rodrigues
O blog do Fernando Rodrigues é um blog dominado pelo textual, ou seja, não
existe a utilização de imagens, vídeos e outros recursos multimidiáticos. Suas
postagens priorizam o texto, e ultrapassam cinco postagens por dia. Ele costuma
fazer um panorama política semanal todas as segundas-feiras, chamando estes
posts de ‗Drive político da semana‘, no qual elenca todos os fatos importantes
esperados na semana, o que se relaciona basicamente a agenda do presidente,
votações no senado e câmara e outros assuntos de notabilidade e atualidade.
Os posts ficam distribuídos de forma que se agrupam semana a semana, ou
seja, no fim da semana você pode encontrar visualizado na mesma página todas
postagens daquela semana em forma decrescente de dia.
Hiperlinks. A navegação por links é realizada por meio de links internos
colocados, ora no corpo do texto das postagens, ora abaixo dos textos. Estes links
são internos quando numa freqüência razoável Fernando Rodrigues se dispõe de
links para ligar suas postagens no blog a textos de temática semelhante de sua
autoria publicados em sua coluna e em artigos no jornal Folha de S. Paulo
disponibilizados somente para assinantes do jornal ou do provedor UOL, ou seja,
são complementações de acesso restrito. os links externos são alocados em
distintas ocasiões, ou se tratam de links a vídeos (Youtube, Bandnews), ou remetem
às páginas de veículos de comunicação cujas notícias originais foram comentadas
111
no blog ou são links a sites que se relacionam ao tema da publicação, como por
exemplo uma postagem relacionada ao acidente aéreo com o avião da TAM, num
dos posts existe um link para um site que fornece uma explicação didática de como
o sistema de freios aerodinâmicos e os reversores de um avião funcionam. Um outro
tipo de link se relaciona a documentos ou notas oficiais do governo por ventura
também citados.
RSS. Permite suporte ao sistema de RSS e remete a uma página no site do
portal no qual é possível realizar a inscrição para o recebimento das atualizações do
blog, como também para um sistema de recebimento de notícias do blog em
aparelhos de telefone móvel.
Blogroll. Uma das características marcantes dos blogs é a existência de uma
seção onde os blogueiros indicam sites, por meio de links, principalmente, e através
dos quais se forma geralmente uma rede de blogueiros conhecida como Webring
(Recuero).
O blog de Fernando Rodrigues foge a esta regra, na medida em que não
oferece links para blogs; os únicos links listados oferecidos são para sites: do
orçamento da União; Política brasileira em inglês e o próprio portal UOL.
Publicidade. No blog consta tanto publicidade interna do próprio portal quanto
publicidade externa. A publicidade externa se localiza na parte superior da gina,
num banner dinâmico e num outro banner fixo localizado ao lado direito, nomeado
de ―UOL links patrocinados‖. a publicidade interna se localiza numa barra fixa
padronizada com serviços do portal UOL abaixo do banner dinâmico de publicidade
externa.
Arquivo e Mecanismo de busca interna. O blog fornece uma opção de
busca interna no blog, o que facilita a navegabilidade, como também um mecanismo
de buscas especiais no portal UOL, como também a seção Folha Integral, onde
assinantes podem buscar e ler matérias específicas deste jornal em sua versão on-
line. O sistema de arquivos possibilita o acesso a todo conteúdo publicado no blog
desde sua criação, através da seção histórico.
Perfil do blogueiro- Localizado na parte superior direita de forma vertical em
formato de coluna, escrito em terceira pessoa Fernando Rodrigues apresenta
resumidamente sua biografia acadêmica e profissional.
112
Enquetes- Apesar do blog ter sido paralisado temporariamente, a prática das
enquetes é bem comum, semanalmente os leitores são convidados a votar em
enquetes dirigidas com alternativas sobre temas relevantes e atuais.
O usuário pode ainda conferir o resultado parcial da enquête e o resultado
final da pesquisa anterior lançada no blog por meio de um gráfico de barras
horizontais e das percentagens dos votos. Na semana de amostragem de nossa
análise, a enquête em destaque era sobre a possível cassação do mandato de
Renan Calheiros, como é possível visualizar na imagem a seguir.
Imagem 5 - Enquete no blog de Fernando Rodrigues
Fonte: http://uolpolitica.blog.uol.com.br
II- Blog do Josias de Souza
O blog ―Nos bastidores do poder‖ possui uma interface simples como a
maioria dos blogs de política, não se utiliza de recursos de pop up, e explora de
maneira intensa o uso de imagens, ilustrações, cartuns e vídeos em suas postagens
e possui um ritmo de atualização constante, mesmo durante a madrugada é possível
verificar atualização, já que as postagens são assinadas e ao lado encontra o
horário, o que nos leva crer que ele faça uso de uma equipe e colaboradores, mas
mesmo assim quem assina cada postagem é ele mesmo.
113
Hiperlinks. A política de links do blog ―Nos bastidores do Poder‖ faz com que
tanto as ligações internas e externas se localizem dentro do corpo das postagens.
Os links externos mais comuns apontam para sites de notícias e informação,
principalmente Globo.com, Folha de S. Paulo, G1 e outros sites de mídias
tradicionais.
RSS. O blog utiliza tecnologia XML (Extensibile Markup Language) para a
publicação de conteúdos em outros sites. Diferentemente de outros blogs e sites que
disponibilizam esse serviço, no blog
Blogroll. Da mesma forma como as outras partes, o blogroll do Nos
bastidores do poder também não é dos maiores. Conta com 12 endereços de blogs
todos eles ligados à Folha de S. Paulo e hospedados no portal UOL.
Demonstra um certo corporativismo e a ausência da participação do autor na
criação do blogroll. Em seu blogroll Josias de Souza fica preso dentro da estrutura
corporativa da Folha de S. Paulo e do UOL. É um dos aspectos considerados na
classificação do blog do Josias como um blog de portal.
Nesse sentido, o blogroll perde suas duas principais funções: a primeira, de
mostrar as indicações feitas pelo autor da página, seus gostos e preferências,
revelando assim, parte da identidade do autor; a segunda é a de demosntrar as
redes sociais estabelecidas a partir do blog. É fato que Josias de Souza pode co-
relacionar-se com seus colegas da Folha de S. Paulo e trocar informações entre os
blogs, contudo, é praticamente impossível acreditar que o jornalista não mantenha
contato com outros blogs, sites.
Existe em uma área separada, logo acima do blogroll, quatro links que
direcionam o usuário para as páginas da Folha de S. Paulo, do portal UOL, do portal
BOL e da organização não-governamental Transparência Brasil. Mais um indício da
formação de uma rede interna concernente à Folha e à sua parceria com o UOL.
Publicidade. Esse é um fato circunscrito a uma barra fixa do portal UOL
localizada na parte superior do blog e logo abaixo um chapéu que se acessado
encaminha para a página da versão on-line da Folha de S. Paulo. Existe também
um banner na vertical do lado direito com a publicidade de livros da chamada livraria
da Folha, com livros relacionados a temática do blog, ou seja, livros em sua
totalidade sobre política e jornalismo.
Logo abaixo do blogroll, existe ainda um pequeno link do UOL Blog, site de
produção, gerenciamento e hospedagem de blogs do portal UOL.
114
Arquivo. O arquivo de ―Nos bastidores da política‖, localizado na parte inferior
da coluna direita da página, é organizado na maneira encontrada mais
freqüentemente na blogosfera. Existe uma lista de links que compreendem o período
das postagens de uma semana, independente do número de postagens envolvidas,
partindo do dia inicial do blog- dia 15 de outubro de 2005.
Mecanismo de busca. O mecanismo interno de busca está localizado na
parte superior da coluna direita e é alimentado pelo mecanismo de busca do portal
UOL, o UOL Busca, o que possibilita a busca externa de um determinado conteúdo.
Perfil. O perfil do jornalista Josias de Souza é acessado no topo da coluna
esquerda do blog e redireciona para uma página que descreve sucintamente a
carreira do Professional na Folha de S. Paulo, a publicação de seu livro e o
laureamento com o Prêmio Esso de jornalismo em 2001.Acompanha foto e endereço
eletrônico de contato do blogueiro.
Enquete. Diferente do Blog do Fernando Rodrigues, Josias de Souza não
veicula enquetes em sua página. A interação com os usuários/leitores é feita
somente por meio da publicação dos comentários enviados.
Recursos Multimidiáticos. O blog do Josias traz imagens de três tipos,
fotografias, ilustrações e gráficos. Diariamente uma charge ou ilustração
assinadas pelo desenhista Arnaldo Angeli Filho. Sem uma periodicidade definida são
utilizados também GIFS animados (arquivos de imagem .gif).
Também utilização de vídeos do site Youtube ou vídeos da própria central
de vídeos do portal UOL.
Seções especiais. Na seção ―Colunas‖, de periodicidade semanal, Josias de
Souza publica seus textos mais longos e densos.
Existe também uma área destinada às ―Entrevistas‖, iniciada em 15 de
outubro de 2005 com uma conversa com o deputado federal Delcídio Amaral (PT-
MS), então relator da CPI dos Correios.
Na seção ―Reportagens‖, sem uma periodicidade fica, Josias de Souza
publica textos com uma linguagem voltada mais para o meio impresso. Segue os
padrões de escrita para jornais como a utilização de técnicas como a ―pirâmide
invertida‖, iniciada com lead, e um texto de caráter informativo, deixando a opinião
restrita às postagens da página principal do blog.
Em ―Secos e Molhados‖, o jornalista escreve sobre temas variados,
principalmente cultura. É a área com maior utilização de recursos multimídia,
115
sobretudo cultura. É a área com maior utilização de recursos multimídia, sobretudo
com a apresentação de vídeos (na realidade links de vídeos armazenados no site
Youtube) que, em certos casos, chegam a ser o único conteúdo das postagens.
―Folha on-line em cima da hora‖ é um canal das notícias mais recentes
veiculadas na página da Folha de S. Paulo disponibilizada no blog. As cinco últimas
notícias são apresentadas como links na página inicial do blog, na parte inferior da
coluna direita. Há ainda um link que remete ao plantão de notícias da Folha on-line.
III- Blog do Luís Nassif
O blog de Luís Nassif possui uma simples interface também, o blog foi
iniciado no portal UOL, mas migrou para o portal IG levando consigo inclusive a
mesma interface e aparência gráfica e visual.
Seções especiais e sub-páginas. Um dado diferenciado dos outros dois
blogs anteriores analisados é que em seu blog Luis Nassif apresenta quatro abas de
acesso aos posts, ou seja, na página principal do blog existem quatro possibilidades
de abas transitórias que funcionam como sub-ginas de acordo com a temática,
além da aba principal do blog, existe uma outra denominada ―Jornalismo‖ na qual
são publicadas matérias e textos longos, com lead e pirâmide invertida, um detalhe
diferenciador destas seções é que nestes textos não existem a possibilidade de
comentários por parte dos leitores, uma outra seção denominada ―Crônicas‖ de
atualização menos contínua, apresenta a possibilidade de comentários por parte dos
leitores e os textos são escritos em tom de narrativa pessoal e quase sempre na
primeira pessoa; na última das seções ―Economia‖ .Nassif prioriza o caráter
informativo sobre a política econômica, no qual se utiliza do estilo híbrido, informa
opinando sobre tópicos da agenda política econômica do país.
Estas outras abas acessórias são atualizadas de acordo com as temáticas
específicas e com menos intensidade que a aba Blog, na qual a atualização é diária,
inclusive aos fins de semana, e por mais de uma vez ao dia, sendo esta aba também
a que recebe o maior número de comentários e feedback por parte dos leitores.
Hiperlinks. O blog de Luís Nassif não apresenta em sua totalidade na
amostra em questão o uso de nenhum recurso de links e hipertexto, o que nos
remete a pensar que ele traz consigo o hábito de não possibilidade de elencar
elementos diferenciados de pensar a estrutura do texto no âmbito on-line, realizando
no blog a mesma forma de escrever no impresso. Apenas mais recentemente é
116
possível encontrar a presença de links externos de busca de complementação de
temáticas tratadas.
Blogroll. Seguindo novamente contrário a corrente de uso das
potencialidades do canal em questão e do webjornalismo, Nassif o interliga seu
blog a outros blogs, na medida em que não lista outros blogs. As únicas referências
de links externos são os sites do Projeto Brasil, Dinheiro Vivo, Verso e prosa e
Comunidade do Blog. Todos links que estão diretamente relacionados ao blog em si.
A Comunidade do Blog é uma comunidade formada por 625 leitores (até o dia
da análise), na qual cada um possui seu perfil, com fotos e descrições pessoais, ali
se fecundam debates e colaborações que resultam às vezes até em postagens nas
distintas seções do blog. Esta comunidade é acessada pelo blog através de um
ícone, no qual após ser clicado leva o leitor para uma outra página, repleta de
mecanismo de interação entre os leitores de tal blog, mas para usufruir dos serviços
de tal comunidade virtual é preciso efetuar um cadastro prévio.
RSS. O blog se utiliza da mesma tecnologia XML (Extensibile Markup
Language) adotada pelo blog de Josias de Souza.
Publicidade. O blog de Luis Nassif não utiliza os recursos de pop up e as
únicas publicidades existentes se referem propriamente ao portal ao qual o blog se
vincula. Logo acima existe uma barra fixa com ícones dos serviços oferecidos pelo
portal IG, como por exemplo e-mail e mecanismo de busca externo. Logo abaixo do
lado esquerdo, também existe um ícone do BLIG o serviço do IG de hospedagem
gratuita de blogs, para o qual ser usufruído basta apenas o usuário apenas efetuar
cadastro no portal IG, criando sua conta de e-mail ―@ig.com.br‖.
Arquivo e Mecanismo de busca. O blog disponibiliza todo o histórico de
postagens mesmo os da época em que o blog era hospedado no portal UOL. Além
disso permite a busca de postagens através de 21 categorias temáticas além de um
buscador interno localizado na parte superior esquerda do blog.
Perfil. Do lado esquerdo e de forma vertical, Luís Nassif sucintamente se
apresenta como o introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no
país. Junto ao perfil encontra-se uma foto sua juntamente com listagem de prêmios
já recebidos.
Enquete. Não a existência de enquetes no blog da mesma forma que o
blog Josias de Souza, este recurso não é utilizado como meio de interação.
117
Recursos Multimidiáticos. O blog se utiliza raramente de ilustrações e
tampouco de vídeos. Em raros momentos existe o uso de vídeos, mas quase
sempre são deos que ilustram alguma postagem, ou links de vídeos enviados pela
comunidade de leitores, vídeos estes de origem no site Youtube
47
.
Nesta primeira etapa da análise, é possível verificar numa primeira
constatação o modo similar ocorrido nos três blogs na maneira de usar tal canal e,
sobretudo na resistência em fazer uso de outros recursos que possibilitariam uma
ampliação e reconfiguração da caracterização do fazer notícia (newsmaking) no
âmbito do webjornalismo. Caberia refletir e questionar. Se isto poderia residir em
traços marcantes da plêiade de jornalistas formados pelo contexto editorial impresso
e eletrônico?Da qual lhes esperam a tal suposta objetividade clássica de informar?
O que de fato fica claro é que valores - notícias comuns são comungados pelos três
blogueiros em questão e que seus critérios de noticiabilidade tornam análogas a
forma de construir as postagens nos blogs. Pensemos agora alicerçados pela
análise do material empírico estes critérios de noticiabilidade, os valores - notícias e
também exemplos de como os gênero comentário e gênero de relato se configuram
no âmbito destes blogs.
47 O YouTube é um site na internet que permite que seus usuários carreguem, assistam e compartilhem vídeos em formato
digital. Foi fundado em fevereiro de 2005.O YouTube utiliza o formato Macromedia Flash para disponibilizar o conteúdo. É o
mais popular site do tipo (com mais de 50% do mercado em 2006) devido à possibilidade de hospedar quaisquer vídeos
(exceto materiais protegidos por copyright, apesar deste material ser encontrado em abundância no sistema). Hospeda uma
grande variedade de filmes, videoclipes e materiais caseiros. O material encontrado no YouTube pode ser disponibilizado em
blogs e sites pessoais através de mecanismos (APIs) desenvolvidos pelo site. Endereço: http://www.youtube.com
118
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE, VALORES-
NOTÍCIA E GÊNEROS NOS BLOGS
―A notícia deve ser encarada como o princípio de algo e
não um fim em si própria.‖ (Canavilhas, 2000)
3.1 Valores-notícia: as determinantes da noticiabilidade dos fatos
oda profissão é sobrecarregada de imagens mas talvez nenhuma
outra seja tão rodeada de mitos como a do jornalismo. De fato, o
poder do mito tem envolvido a profissão de tal maneira que os
jornalistas parecem ser sempre os agentes do contra-poder e o seu produto quase
sempre é apresentado como sendo uma transmissão não expurgada de um
acontecimento. A noção-chave desta mitologia é a noção do ―comunicador
desinteressado‖ aonde o papel do jornalista é definido como o de observador neutro,
desligado dos acontecimentos e cauteloso em não emitir opiniões pessoais. O
desenvolvimento desta concepção dominante no campo jornalístico ocidental tem
dois momentos históricos cruciais.
Primeiro, surge em meados do culo XIX um contexto de um jornalismo
novo, mais voltado para o viés informativo- cuja idéia-chave é a separação entre
―fatos‖ e ―opiniões‖. Em 1856, o correspondente em Washington da agência
noticiosa Associated Press pronunciou o que ia ser a Bíblia desta nova tradição
jornalística: “O meu trabalho é comunicar factos: as minhas instruções não permitem
qualquer tipo de comentários sobre os factos, sejam eles quais forem”. (READ,
1976, p. 108 apud TRAQUINA, 1999, p. 167). Aliás, as agências noticiosas foram as
defensoras mais ardentes desse ‗Novo jornalismo‘ e o hoje, ainda, o protótipo
desse jornalismo no qual a mensagem dita informativa, que o nosso culo tem
tendência a valorizar sem a denominação de objetividade, é suposta dar a palavra e
deixar exprimir a realidade.
O segundo momento histórico tem lugar no século XX com o surgimento do
conceito de objetividade nos anos 20 e 30 nos Estados Unidos. Embora a ideologia
T
119
da objetividade seja agora vista como um reforço da nos fatos foi historicamente
necessário perceber que o ideal da objetividade não foi a expressão final de uma
convicção nos fatos, mas a afirmação de um método concebido em função de um
mundo no qual mesmo os fatos não eram merecedores de confiança devido ao
surgimento das relações públicas e do marketing de Estado pós Guerra Mundial,
por isso mesmo os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma
fidelidade às regras e procedimentos noticiosos criados para um mundo no qual até
os fatos eram postos em dúvida.
Por mais que a tal objetividade jornalística seja um suposto paradigma
reinante no campo jornalístico, e este ‗empirismo ingênuo‘ alicerça a crença de que
as notícias emergem naturalmente dos acontecimentos do mundo real, bastando ao
jornalista ser o espectador do que se passa transmitindo-o fielmente, como se fosse
um espelho refletor da realidade. Reiteraria aqui o viés e a premissa de que os
jornalistas não podem ser categorizados como observadores passivos mas sim
como participantes ativos no processo de construção da realidade e dessa maneiras
as notícias não podem ser vistas como emergindo naturalmente dos acontecimentos
do mundo real, ‗as notícias acontecem na conjunção de acontecimentos e de textos,
enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia também cria o acontecimento‘.
(TRAQUINA, 1999, p. 168).
Embora sendo ‗índice do real‗, as notícias registram as formas literárias e as
narrativas utilizadas pelos jornalistas para organizar o acontecimento. A pirâmide
invertida, a ênfase dada à resposta às perguntas aparentemente simples, a
necessidade de selecionar, excluir, acentuar diferentes aspectos do acontecimento
processo, aliás, orientado pela narrativa escolhida - são alguns exemplos, de acordo
com Traquina (1999), de como ‗a notícia, criando o acontecimento, constrói a
realidade‘.
Não obstante o processo noticioso ocorrido nos blogs suscita
questionamentos na medida em que neste âmbito também como nas outras mídias
noticiosas se configura uma rede de estruturação de critérios de noticiabilidade
embasados em valores-notícia e rotinas particulares embrionárias deste novo canal
midiático jornalístico, mas rotinas ainda muito embasadas naquela característica
citada no capítulo anterior em que Bertocchi (2006), chama a atenção para a
mudança em curso, no que é classificada de mudança sui generis, nos quais os
formatos do webjornalismo tendem a ser formar a partir dos modelos do jornalismo
120
impresso, num primeiro momento, que no jornalismo impresso é onde existem as
referências teóricas e práticas mais consolidadas.
Os estudos sobre newsmaking
48
procuram abordar o processo de construção
da notícia como um fenômeno de interesse social. A investigação científica sobre o
jornalismo e as notícias é feita por uma corrente designada comunication research
ou media research. Dentro dessa corrente, os estudos sobre newsmaking tratam os
meios de comunicação como emissores de mensagens socialmente produzidas. Na
produção dessa mensagem, se refletem as rotinas produtivas dos profissionais
jornalistas.
O cotidiano é marcado por acontecimentos regionais, nacionais e
internacionais. Muitos atingem diretamente à sociedade, desde um
acréscimo no preço do tomate a uma grande catástrofe. Fatias
extremamente consideráveis da população tomam conhecimento das
notícias da sua cidade, da sua região, do seu país, bem como do resto do
mundo, assistindo diariamente a um dos programas de jornalismo
veiculados pelas emissoras de televisão existentes (SQUIRRA, 1989, p 11).
A difusão destes acontecimentos se por meio do que se denominou
notícia. Mauro Wolf diz que notícia é tudo o que, tornado pertinente pela cultura
profissional dos jornalistas, é suscetível de ser trabalhado como tal pelo aparato de
produção, num processo que envolve por um lado uma cultura profissional forte e,
por outro, restrições ligadas à própria organização do trabalho.
Desta forma, a notícia nasceu como principal produto dos meios de
comunicação de massa. Mas de tempos em tempos a notícia foi tomando formas
diferentes para se adequar ao meio em que é difundida. Cada mídia desenvolveu
característica própria e assim essa particularidade se estendeu também às notícias.
Num plano geral poderíamos afirmar que a televisão é caracterizada pela agilidade,
o rádio pela instantaneidade, o jornal impresso pela análise e pelo detalhamento, e a
Internet pela interatividade e capacidade de armazenamento de dados.
É notável que entre o tratamento que a notícia recebe em cada meio, como o
espaço e o tempo, elegem-se também valores-notícia para definir a hierarquia dos
fatos em sua apresentação final. Wolf chama de noticiabilidade o conjunto de
elementos com os quais o órgão informativo controla e gere a quantidade e o tipo de
acontecimentos para selecionar as notícias. Segundo Wolf, os valores dados às
48 Termo em inglês Termo em inglês: news = notícia + making = fazendo. A teoria pode ser traduzida
como teoria da produção da notícia ou feitura da notícia.
121
notícias denominados valores-notícia (news value) o componentes dessa
noticiabilidade, que tem o objetivo de permitir a definição de que fatos serão
noticiados pelo veículo (WOLF, 1995, p. 175).
Neste propósito, os meios de comunicação atribuem valores-notícia aos fatos
como critérios de seleção de notícias. Muitos autores explicam que atribuir valores
às notícias é uma forma de rotinizar a produção como em uma fábrica, assim, a
notícia pode ser estudada como uma produção industrial. A teoria que aponta a
produção de notícia como indústria cultural explica que o jornalismo foi consolidado
pelo capitalismo. Considerando esse aspecto, as notícias são produzidas para
serem vendidas, tendo que atender às exigências do consumidor, que procura
adquirir informações que lhe ofereça algum benefício. Entre os mais comuns estão a
novidade e a atualidade.
Mauro Wolf cita quatro critérios que designam os valores-notícia,
considerados pelos meios de comunicação: ―As características substantivas das
notícias: ao seu conteúdo; a disponibilidade do material e aos critérios relativos ao
produto informativo; ao público; a concorrência;‖ (idem, p. 179).
Ao avaliar a noticiabilidade de uma informação, os jornalistas submetem o
fato aos critérios substantivos derivados dos quatros critérios que Wolf cita:
I - O grau e o nível hierárquico dos envolvidos no acontecimento
noticiável (WOLF, 1995, p. 180, grifo do autor), quanto mais envolvimento com
pessoas, instituições e países de elite o fato tiver, mais noticiável parece aos olhos
do jornalista.
II - O impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional (idem, p. 181,
grifo do autor), as técnicas jornalísticas consideram significativo um fato que diz
respeito ao interesse do país. Mais comumente chamado de valor de proximidade,
na linguagem jornalística, as informações que se referem ―ao mundo do receptor da
notícia‖ ganham importância porque remetem o receptor à uma noção da realidade
que o cerca.
III - Quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou
potencialmente) envolve (idem, p. 182-183), a visibilidade é destacada como o
principal valor ao noticiar um acidente que envolva muitas pessoas. Deve-se, no
entanto, perceber a diferenciação de valores, muito bem exemplificada por Wolf de
uma notícia em detrimento de outra como um acidente que ocorre nas proximidades
envolvendo um limitado número de vítimas, que se torna mais noticiável que outro
122
acidente que envolve um número maior de vítimas, mas que ocorreu em um lugar
mais longe, por exemplo.
IV - Relevância e significatividade do acontecimento quanto à evolução
futura de uma determinada situação (idem, p.183, grifo do autor), são as notícias
que têm continuidade, como é o caso das coberturas de campanhas políticas,
votações de projetos importantes, as CPI‘s, muito comuns no Brasil.
Os valores-notícia servem para tornar possível a rotinização do trabalho
jornalístico. Os valores-notícia asseguram a escolha entre um e outro assunto de
forma que o profissional jornalista tenha como certa a decisão feita. No processo de
produção da notícia, os valores-notícia ganham significados diferentes diante das
mudanças que acontecem na esfera informativa.
A valoração é também o processo que irá definir se a informação recebida vai
servir para a construção de uma matéria, se será uma nota simples, nota coberta ou
se poderá se transformar numa série de reportagens.
3.2 O processo de seleção de notícias
A seleção de notícias por valoração acaba sendo representada pelo que os
teóricos chamam de gatekeeper
49
, elaborado inicialmente nos estudos de Kurt
Lewin,
publicado em 1947, sobre as dinâmicas que agem no interior dos grupos sociais
(WOLF, 1995, p.161) e ampliado no campo da teoria do jornalismo por David
Manning White, que publicou na revista “Journalism Quartely‖, em 1950, o conceito
que definia o jornalista como um selecionador de notícias (idem, p.162). A
abordagem do estudo apresenta o termo originário do inglês, gate ‗portão‘ e keeper
‗porteiro‘, que Wolf traduz como ‗selecionador‘ das notícias apresentadas ao público.
Segundo os estudos de Lewin, ―os gates são regidos por regras imparciais ou por
um grupo (no poder) de tomar a decisão de ‗deixar entrar‘ ou ‗rejeitar‘ uma notícia‖
(WHITE apud TRAQUINA, 1999, p.142). Assim, o gatekeeper valores às notícias
para facilitar a escolha do que vai entrar. ―A comunicação de notícias é
extremamente subjectiva e dependente de juízos de valor baseados na experiência,
49
Teoria aplicada ao Jornalismo por David Manning White. Essa teoria define o jornalista como um
aplicador de filtros para selecionar notícias, ele é o ―porteiro‖, que permite que entre algumas
notícias.
123
atitudes e expectativas do gatekeeper (idem, p.145). A utilização dos gates nas
redações, se transforma em instrumento de controle social da informação:
O gatekeeping no mass media inclui todas as formas de controle da
informação, que podem estabelecer-se nas decisões acerca da codificação
das mensagens, da seleção, da formação da mensagem ou das
componentes (DONOHUE TICHENOR OLIEN, 1972, apud WOLF, 1995,
p.163.)
O conceito é utilizado para estudar o sistema de filtragem de notícias
instalado nos veículos de comunicação de massa. Para montar um noticiário, todo
veículo organiza as rotinas de trabalho da redação em pelo menos três fases:
captação de notícias, seleção e apresentação do produto jornalístico. Através do
sistema de captação de notícias, as redações são abastecidas de um número
considerável de informações que, posteriormente serão, ou não, dispostas ao
público.
As notícias, em geral, chegam por meio das agências de notícias, das fontes
dos produtores, das assessorias de imprensa. Para definir que notícias deverão
compor o noticiário, os veículos fazem diversos níveis de filtragens, dependendo de
aspectos como o número de informações, número de pessoas para quem a notícia
será mostrada, aspectos políticos, religiosos e outras particularidades.
A importância da notícia é geralmente julgada de acordo com a sua
abrangência, isto é, segundo o universo de pessoas às quais pode interessar. Ao
chegar à redação, as informações passam por uma avaliação, podendo ser
submetidas ao julgamento de vários profissionais, desde o produtor ao editor do
telejornal. A seleção de notícias é necessária porque é comum nos modelos
adotados em jornalismo impresso a falta de espaço para se noticiar todas as
informações disponíveis.
Nesse sentido o tal continuum/ degradé representado pela emergência dos
blogs no plano jornalístico se diferencia, na medida em que nos blogs até se usam
como critério a tal verificação de abrangência do tema, quando vemos, por exemplo,
que o mesmo tema é publicado tanto no impresso quanto no blog, mas o tratamento
dado é diferente no que se refere ao aprofundamento possibilitado pelo não limite de
espaço que os blogs têm a seu favor. Pelo menos isso é colocado como um
potencial a ser utilizado no plano do webjornalismo praticado nos blogs, o
aprofundamento possibilitado pela não interferência de limites de espaço. Mas não é
o que de fato se verifica nos blogs analisados no que se refere ao tratamento da
124
extensão das notícias, nem sempre o aprofundamento se no plano de aumento
de caracteres, mas sim pela forma de hiperlinks ou às vezes este aprofundamento
proclamado nem ocorre de fato, no blog encontra-se apenas a repetição de
informações publicadas no jornal, variando apenas a forma da escrita que é mais
pessoal e com itens reflexivos escritos na primeira.
Para melhor ilustrar isso, apresento um exemplo. No dia de Agosto de
2007, Fernando Rodrigues trata do mesmo tema tanto em sua coluna no Jornal
Folha de S. Paulo, quanto em seu blog no Portal UOL. O tema tratado é o acidente
com o avião da TAM ocorrido no dia 17 de julho de 2007 em São Paulo, no qual 199
pessoas morreram na explosão do avião no aeroporto de Congonhas.
Imagem 6- Parte da Coluna de Fernando Rodrigues na Folha de S. Paulo no dia 01/08/2007
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0108200701.htm
Em sua coluna na Folha de S. Paulo, ele trata do assunto no estilo clássico se
utilizando de lead e pirâmide invertida na estruturação do texto, como é possível
visualizar na imagem anterior. Em sua coluna ele elabora um relato com 5.718
caracteres, 956 palavras e 86 linhas e o texto é construído de forma direta e objetiva
sem questionamentos reflexivos, seguindo uma lógica pretendida de objetividade
narrativa.
125
em seu blog ele traz uma postagem de mesmo tema, contendo 3.078
caracteres, 505 palavras e 60 linhas.
Imagem 7- Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia 01/08/2007 (Parte inicial)
Fonte: http://uolpolitica.blog.uol.com.br
Em termos de extensão ele é mais sintético do que no jornal, mas em termos
de aprofundamento, no blog ele traz duas referências através de links
complementares, um deles ao texto de sua própria coluna através de link
direcionando o leitor para a versão on-line do texto publicado no jornal impresso; e
outro link a uma reportagem complementar, de outra autoria, sobre o assunto do
acidente em questão, (como é possível ver destacado na imagem a seguir). Mas
vale salientar que tal possibilidade de complementação não é para todo o público
leitor do blog, este recurso restrito é disponível apenas para os assinantes do portal
UOL ou Folha de S. Paulo.
126
Imagem 8- Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia 01/08/2007 (parte final)
Fonte: http://uolpolitica.blog.uol.com.br/arch2007-07-29_2007-08-04.html
Outro dado a destacar, é que no mesmo dia, em seu blog, Fernando
Rodrigues postou outras duas vezes. Num dos post ele faz um apanhado daquilo
que denomina de ‗O drive político do dia de agosto‖, no qual ele sintetiza os
principais assuntos do dia numa espécie de resumo das manchetes que durante o
dia devem virar notícia nos telejornais. Esta prática em se blog é comum, no início
de toda semana ele faz esta enumeração de fatos e decisões importantes que serão
pauta de debate político, nomeando tais posts de O drive político da semana‟ e
em dias especiais, ele enumera tal lista de forma mais correspondente ao dia em
questão.
E no outro post do dia, ele traz um aprofundamentos no processo noticioso da
temática em questão. Traz uma notícia sobre os desdobramentos e repercussão das
investigações sobre tal acidente e os bastidores das medidas políticas adotadas em
detrimento a pressão da opinião pública. Nesta postagem em questão, ele traz um
relato de uma reunião da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), com a cúpula do
Ministério da Defesa e do Palácio do Planalto, e ao final de seu relato, separa aquilo
que seria a informação de sua opinião, criando na postagem um parágrafo a parte
intitulado “Comentário do blog”. Neste parágrafo ele emite sua opinião
127
abertamente, fazendo questionamentos e críticas incisivas ao ‗planalto central‘.
Como é possível visualizar no fragmento em destaque a seguir.
Imagem 9- Fragmento de Postagem no Blog de Fernando Rodrigues no dia 01/08/2007
Fonte: http://uolpolitica.blog.uol.com.br
Josias de Souza também se aproveita do vínculo de seu blog ao portal UOL e
Folha On-line para trazer em seus posts links complementares, mas da mesma
forma que Fernando Rodrigues, tais links são restritos a assinantes pagos destes
serviços.
Imagem 10- Postagem no blog de Josias de Souza no dia 20/07/2007
Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Estes exemplos são extraídos em dias aleatórios, e no caso do post de
Fernando Rodrigues citado este se vincula a uma data fora da amostra coletada
para a análise dos valores-notícias, mas ambos demonstram de forma evidente os
128
apontamentos em discussão. Por todo o arquivo e histórico das postagens dos blogs
analisados, é possível verificar o uso de tentativas de aprofundamentos noticiosos
ou reflexões, as vezes pelo uso de vídeos, imagens e charges como é o caso do
blog de Josias de Souza.
Imagem 11- Postagem do Blog de Josias de Souza 16/07/2007 : Exemplo de uso de Charge
Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Como também pelo uso de links internos no blog para seções especiais que
geralmente remetem a postagens explicativas, isso é muito comum no blog Luís
Nassif, ou de retro-alimentação e hiperlinks entre o impresso e o digital, como bem
faz Fernando Rodrigues. É curioso verificar que as postagens de Luís Nassif fazem
o caminho inverso muitas vezes, estas são publicadas em jornais impressos em
formato de coluna de resumo da política nacional, um dos jornais que publicam
estes posts curiosamente é o ‗Jornal da Cidade‘, da cidade de Bauru. Em tal espaço
é possível ver expresso a fonte de tais informações, constando o endereço do blog
em questão.
129
Imagem 12- Postagem do blog de Luís Nassif: Exemplo de uso de link interno
Josias de Souza em seu blog tem o costume de uma prática seletiva de
notícias, na qual muitas vezes na semana em algumas postagens ele lista as
manchetes dos principais jornais da mídia impressa brasileira, uma espécie de
gatekeeper da mídia nacional.
Imagem 13- Postagem no blog de Josias de Souza no dia 21/07/2007
Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Após tal visualização é possível apurar que ao contribuir para o corte e
focalização dos acontecimentos que serão transformados em notícia, o suporte da
Internet coloca nas mãos dos jornalistas a possibilidade de obter rapidamente a
informação necessária para complementar suas matérias, contribuindo para
contextualização e aprofundamento dos temas abordados. Mas por outro lado, esse
130
procedimento traz implícito também a padronização do conteúdo porque é comum o
uso freqüente das mesmas fontes. Todos bebem da mesma fonte na hora de
compor seu noticiário, reproduzindo o mesmo discurso.
Muito da tendência à homogeneização deve-se ao comportamento dos
jornalistas de atribuírem maior grau de credibilidade às agências de noticias
oriundas da mídia tradicional. A concentração da informação nas mãos de poucos
persiste até mesmo num campo de informação e comunicação por natureza livre e
plural. É claro que o fato de tais blogs estarem hospedados em portais vinculados a
uma tradição midiática jornalística no impresso (Blog de Fernando Rodrigues e
Josias de Souza), ou quando não, como no caso do portal IG, o blogueiro em
questão possui um trânsito biográfico que o vincula a tradicionalidade. E isso é
refletido nas fontes utilizadas ou no material de apoio complementar, muitas vezes
sendo do próprio portal ou de agências e veículos tradicionais. Na postagem a
seguir, extraída do blog de Luís Nassif, é possível verificar esta referência de
embasamento.
Imagem 14- Postagem do blog de Luís Nassif em 28/07/2007
Fonte: http://www.projetobr.com.br
A Internet contribui para moldar crescentemente as formas como se vive e
experimenta a produção da notícia. O que mudou foram os horizontes desse mundo
e os paradigmas da sua experiência perceptiva. É na relação diária com a Internet
que os jornalistas aprendem sobre dessa natureza tecnológica, a manusear seus
131
recursos para obter informação. Os jornalistas o aprendem, mas são afetados
por ela. Esse conhecimento transcende ao nível operacional de entrar e extrair da
rede. Envolve a forma de construção do conhecimento a partir dessa experiência
diária. Nesse aprendizado acaba por constituir novas formas de percepção do
mundo e do processo comunicativo.
Na sociedade da informação não se imagina mais o aprendizado em cima de
saberes estáveis, herdados pela tradição. A forma é do saber-fluxo, por natureza
caótico e sujeito a flutuações. São mutações cognitivas igualmente velozes, às
vezes pouco perceptíveis, que ocorrem no ambiente da redação jornalística, cujos
sinais podem ser evidenciados no modo como os jornalistas começam a interagir
com a rede.
A questão a saber é até que ponto as transformações em curso contribuem
para minar os fundamentos do jornalismo defendidos na cultura profissional. O
fundamento histórico do jornalismo está no conhecimento da realidade, na apuração
dos fatos e na apresentação de narrativa correta, crível, isenta de opinião e de
parcialidades. Cabe aos jornalistas a verificação dos fatos por meio de levantamento
de dados junto às fontes. As notícias não aparecem de forma natural, mas se fazem
como conseqüência da vontade humana, da história, das circunstâncias sociais das
instituições e das convenções da profissão, e agora também sob influência dessa
tecnologia da informação e de seus recursos. A Internet, com seus valores e lógica
comunicativa, notabiliza-se por se transformar numa das formas de conhecimento da
realidade para o jornalismo. (BIANCO, 2002, on-line)
Ao conviver com outras formas de conhecimento da realidade, os jornalistas
percebem os valores que guiam a seleção dos acontecimentos a partir de uma nova
referencialidade. Van Dijik (1990) aponta correspondência entre os valores
jornalísticos e a cognição social. Quer dizer os valores que guiam os jornalistas são
reconhecidos pelo público como legítimos, porque fazem parte do conjunto dos
processos mentais, de pensamento e da percepção social sobre o que é notícia.
Quer dizer, os valores jornalísticos refletem os valores econômicos, sociais e
ideológicos na reprodução do discurso sobre a sociedade através dos meios de
comunicação.
Diante das mutações em curso é legítimo afirmar que os aspectos centrais do
paradigma jornalístico estão conquistando nova referencialidade, baseada em
valores culturais da sociedade informação, para a qual a matéria prima e força
132
motriz do sistema produtivo é a informação; onde as redes informatizadas são
instrumentos de comunicação e ferramentas organizativas fundamentais, cujos
efeitos atravessam e moldam todas as esferas da atividade humana; onde
predomina a lógica da flexibilidade nos sistemas técnicos e organizacionais de modo
a contribuir para sua integração e convergência mundial numa estrutura de
comunicação em rede digital, interativa capaz de disponibilizar informação em
grande escala e alta velocidade. É bem verdade que as mutações de valores
baseados nessa referencialidade em construção ainda são pouco perceptíveis no
presente, pois vivemos exatamente no período de apropriação e transição ou como
designamos anteriormente vivemos na interseção híbrida expressa entre o
continuum e/ou degradé. E é um contexto ainda tão transitório que amesmo o
contexto pedagógico de formação do profissional de jornalismo ainda não se
adequou as interferências em curso das novas tecnologias da informação e
comunicação, o que traz a tona a reflexão de que é preciso construir uma filossofia
de ensino para pensar o jornalismo na era digital. (RAMADAN, 2000).
Essa perspectiva, portanto nos leva romper com concepções lineares, de
imaginar que da cultura oral à cultura digital vivemos eras de rupturas bruscas e
totais, quando na verdade as transições se dão no contexto de formações culturais e
períodos cumulativos de complexização, aquilo que Santaella (2003, p. 12) ressalva
explicando que ―uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando na
anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações‖.
Entretanto, na tão proclamada mutação em curso, tem-se a impressão que a
mínima flutuação de nossa percepção visual, provoca rupturas na simetria do que se
vê. Mas ao lançar o olhar sob esses fenômenos, como aqui os blogs, têm-se a
impressão que faltam elementos de fato totalmente novos ou de ruputras, até porque
se fechar nesta busca seria uma armadilha infértil, o que percebemos de fato são os
tais reajustamentos e refuncionalizações ocorrendo no processo contínuo e
acelerado de hibridização entre os meios. Por isso nos valemos agora de alguns
critérios de análise provenientes de estudos do suporte analógico e impresso
(TRAQUINA, 2005 e CHAPARRO, 2008) na tentativa de estruturar uma análise
particular sobre os reais valores-notícias e gêneros que predominam nos blogs aqui
estudados. Seguimos agora com esta análise.
133
3.3 Análise dos gêneros ciberjornalísticos e valores-notícia nos blogs.
Os blogs aqui analisados podem ser classificados como sendo canais nos
quais prevalece o discurso abertamente opinativo, mas isso dentro de uma
perspectiva híbrida que também são informativos, na medida em que é
praticamente impossível opinar sem informar, como bem enfatizamos em
discussões nas páginas anteriores. Reitero que são mais opinativos, pois prevalece
nas postagens uma estrutura formal argumentativa que ultrapassa apenas uma
suposta estrutura formal narrativa, muito característicos de formas noticiosas auto-
proclamadas objetivas. Mas dentro da classificação proposta por Chaparro (2008),
na qual ele reestrutura a bipolaridade Informação X Opinião em duas divisões o
Gênero Comentário- formado pelas espécies argumentativas‘‘ e ‗espécies gráfico-
artísticas‘ e o Gênero Relato- formado pelas ‗espécies narrativas‘ e ‗espécies
práticas‘.
Diante da verificação das postagens na semana escolhida - do dia 15 a 21 de
julho de 2007, pode-se afirmar que é impossível quantificar com precisão o gênero e
espécies dos posts na medida em que todos os posts mesclam características
argumentativas e narrativas, sendo assim um mesmo post que poderia ser
classificada de notícia também apresenta características do formato coluna ou
artigo, dessa maneira tentar fazer tal quantificação seria infrutífero. Até mesmo posts
que se utilizam como recurso o formato ‗charge‘ e que por ventura poderiam ser
classificados de espécies gráfico-artísticos, estão inseridos em posts
contextualizados e vinculados a outras postagens noticiosas anteriores, e quase
sempre estas charges trazem consigo comentários sintéticos expressos pelo título
dado a elas, que expressam um direcionamento de opinião do blogger. Como por
exemplo, podemos verificar em duas charges extraídas do blog de Josias de Souza.
134
Imagem 15 Exemplo de Charge publicada
Imagem 16 - Exemplo de Charge publicada
Charges publicadas respectivamente nos dia 18 e 20/07/2007
Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Mas por mais inviável que seja tal quantificação e enquadramento de todos os
posts em tais categorias de espécies, é possível afirmar que os três blogs em
questão fazem prevalecer o uso em suas postagens, sobretudo de textos que se
vinculam ao ‗Gênero Comentário‘, (Artigo, Coluna e Charge), confirmando, aliás, a
vocação do blog como espaço personalizado de autoria, no qual a emissão de juízos
de valores e comentários é explícita.
No entanto, o blog ainda oferece essa mescla entre um subgênero do
jornalismo opinativo e a notícia claramente vinculada ao seu caráter cotidiano,
aliando-se, sobretudo a novidade da estruturação multilinear possibilitada pela
135
geometrização dos gêneros (BERTOCCHI, 2006) característica do texto hipertextual
do webjornalismo que se diferencia dos tipos clássicos, apresentando modelos de
leitura tridimensionais (hipertextuais) dentro de uma linguagem (multimídia).
Na imagem a seguir, extraída do blog de Josias de Souza, vemos a presença
de 4 links (palavras sublinhadas) que remetem o leitor a possibilidade de interfaces
complementares, localizadas no portal da Folha on-line e em sites técnicos.
Imagem 17- Post com presença de hipertexto do blog de Josias de Souza
Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Em tal cenário, constatamos na amostragem selecionada, a seguinte
quantificação de postagens:
36 posts no blog de Josias de Souza;
14 posts no blog de Fernando Rodrigues;
63 posts no blog de Luís Nassif.
Estes posts variam desde breves notas de uma linha a extensas colunas com
vinte e cinco parágrafos. O tamanho dos itens postados está explicitado na tabela a
seguir:
Postagens
Blog Josias de
Souza
Blog Fernando
Rodrigues
Blog Luís
Nassif
Breve (1 parágrafo)
6 postagens
/
15 postagens
2 a 5 parágrafos
10 postagens
5 postagens
21 postagens
6 a 10 parágrafos
14 postagens
3 postagens
24 postagens
11 a 15 parágrafos
/
6 postagens
6 postagens
15 a 25 parágrafos
/
/
2 postagens
Não aplicável (CHARGE)
6 postagens
/
/
TOTAL
36
14
63
Tabela 8-Caracterização do tamanho das postagens na semana do dia 15 a 21/07/2007
136
Tais blogs mantidos pelos colunistas políticos de grandes jornais, portanto,
podem ser compreendidos como um gênero híbrido entre o jornalismo-de-opinião e
a sua contraparte noticiosa. Na verdade, tais blogs se caracterizam como
construções on-line mais subjetivas, voltadas para a criação artística ou para a
crônica pessoal. Mesmo os blogs de opinião, nosso objeto neste trabalho,
caracterizam-se pela espontaneidade e personalismo; enquanto diários públicos
(CARVALHO, 2000), apresentam um dualismo provocativo entre a opinião particular
e os artigos ou notas jornalísticas diárias, de acordo com a própria etimologia do
termo, que remete à periodicidade diurna dos jornais.
Embora dois exemplos que seguem, demonstram como ainda é latente a
idéia de que o informar e o opinar devem ser clarificados e separados, numa
tentativa talvez de não cair na radicalidade do personalismo no qual tal fronteira
entre informação e opinião, imaginada como necessária é solapada por uma busca
de tentar não fundir informação e opinião. Fernando Rodrigues em seu blog
apresenta em suas postagens uma divisão entre o que considera ser a notícia
(informação) e o que considera ser sua (opinião- juízo de valor).
Imagem 18 Postagem do blog Fernando Rodrigues dia 17 de Julho 2007
137
Imagem 19 Postagem do blog Fernando Rodrigues dia 19 de Julho 2007.
Contudo, de uma forma ou de outra, mesmo tais blogs vinculados a veículos
da grande imprensa, representam uma mudança substantiva nas possibilidades
interativas entre jornalista e leitor, uma vez que criam um ambiente opinativo, no
qual o leitor é expressamente convidado a participar. Um blog que não suscite
reações por parte dos leitores não é visto como bem sucedido. Aí, portanto, rompe-
se, de certa maneira, a expectativa do jornalista como um intermediário autorizado
que processa para o leitor as informações cotidianas e as torna inteligíveis para eles,
situados que estariam em um degrau menos privilegiado na escala do
conhecimento. No blog, a posição do jornalista, ao contrário, é humilde e subjetiva,
pois depende do retorno dos leitores. Um blog que não provoque reações e
comentários perde sua razão de ser. Assim, vemos os jornalistas iniciando
comentários sobre fatos políticos com frases que convidam ao diálogo, como ―eu
não sei se vocês concordam, mas acho que...‖ ou encerrando as postagens com ― E
aí?o Que acham?Tal recurso convidativo ao comentário se pelo oferecimento de
links nos fins das postagens.
138
Imagem 20 - Aba para emissão de comentário nos blogs do portal UOL (Josias de
Souza e Fernando Rodrigues).
Imagem 21- Aba para emissão de comentário no blog de Luís Nassif
139
Os blogs vinculados ao Grupo Folha-UOL oferecem tais links para o
comentário em uma nova janela que á aberta após o clique na opção ‗comentar‘,
nesta nova aba abre-se todos os comentários já escritos sobre o determinado post e
logo na seqüência um formulário que oferece ao potencial comentador um limite de
1000 caracteres. o blog de Luís Nassif, traz a opção do comentário na própria
página da postagem, ao se acessar a opção ‗comentar‘ o formulário com limite de
1500 caracteres aparece na seqüência do post a ser comentado.
Os três blogs que analisamos, possuem uma quantidade diária de
comentários significativos. Na semana escolhida como amostragem, o blog de
Fernando Rodrigues registra uma média de comentários por posts que variam de 27
a 457 comentários num único post. Este post muito comentado é do dia 17 de julho
de 2007, o dia em que ocorreu o acidente aéreo com o avião da TAM em São Paulo
e o blog de Fernando depois de um pouco mais de três horas do fato ocorrido, foi
um dos primeiros a veicular informações apuradas sobre as possíveis causas do
acidente. O Blog de Josias de Souza registra uma média de comentários por post
que variam de 12 a 918 comentários num único post, este último também referente a
repercussões do acidente mencionado. O blog de Luís Nassif é o que registra na
média o menor número de comentários por posts variando de 8 a 248 comentários,
mas isso tem uma relação direta ao fato de ser este o blog que apresenta o maior
número de posts por dia, um exemplo, no dia 21/07/2007, um sábado, ele publicou
11 posts enquanto o blog de Josias de Souza publicou 3 posts e Fernando
Rodrigues não publicou nada (algo que ocorre as vezes nos fins de semana, neste
blog).
Até mesmo posts pequenos de uma linha ou as charges suscitam o caloroso
debate interativo. Isso se vincula diretamente a algo citado no capítulo anterior na
discussão das mudanças em curso ocorridas com a emergência dos recursos da
hipermídia (SANTAELLA, 2004) e aquilo que Bertocchi (2006) denominou de
construção de gêneros coletivos.
Os blogs seriam por excelência implícita este suporte ao gênero coletivo. No
contexto da emergência em curso de um novo tipo de ‗leitor imersivo‘ (Santaella,
2005). Assim o blogger se diante de uma novidade, diferente da emissão
individual da imprensa analógica que possibilita sim a interação, mas não a
simultaneidade e rapidez de resposta e contra-reposta. Nesse sentido este caráter
conversacional possibilitado gera uma predisposição a co-autoria.
140
Os blogs de opinião são um formato jornalístico que ilustra esta
possibilidade de interação: um espaço mais livre, pessoal e
descompromissado que, no entanto, muitas vezes tem como titulares
colunistas respeitados provenientes das páginas mais opinativas dos
jornais. Os colunistas e seus leitores podem ser considerados parte de uma
elite cognitiva, cujas explicações e atitudes diante do mundo público têm
importante influência na circulação das expectativas e avaliações dos
cidadãos sobre o governo e a política (ALDÉ, 2004).
Assim entendemos que uma mudança fundamental propiciada pela estrutura
de informação em rede é a constituição de uma esfera pública renovada, ao menos
potencialmente, pela pluralidade das possibilidades de emissão. Trata-se de um
ambiente informativo denso, uma arena conversacional que reduz os custos da
participação coletiva. Assim, os jornalistas, embora desempenhem papel importante
na legitimação e difusão de temas e prioridades políticas, passam a participar de um
espaço opinativo mais permeável à interação entre emissores receptores. Em
termos de debate público, tal transformação tende a horizontalizar e pluralizar as
relações de conhecimento e autoridade presentes na construção das opiniões e
atitudes políticas dos cidadãos. Para Wilson Gomes, um dos elementos na definição
contemporânea de opinião pública é a opinião publicada, isto é, a que circula
publicamente. Os blogs desses jornalistas alçam os leitores a contribuintes nesse
(ciber) espaço privilegiado de construção da opinião política. Também podem ser
elementos do que ele chama de política de opinião, ou seja, os esforços
intencionais, mais ou menos conscientes, dos diferentes atores políticos para entrar
no debate público.
Mas é importante ressaltar que qualquer comentário escrito pelo leitor nestes
blogs em estudo, antes de serem disponibilizado para visualização na aba dos
comentários, passa por uma triagem dos gestores dos blogs, que se baseia em
critérios pré-informados de restrições aos tipos de conteúdo nos comentários que
devem seguir os preceitos e normas da legislação civil e, sobretudo o do senso de
responsabilidade das informações comentadas. Como está visível nos quadros
seqüentes.
141
Imagem 22- Regras de uso dos blogs da redação do portal UOL
E ainda, é importante frisar que tal comentário para ser realizado, ele
deve atender algumas regras, como por exemplo, não poder ser feito de
forma anônima. O Portal UOL faz o alerta de que registra o IP de todo
internauta que se conecta ao sistema de comentários, alegando que tal
registro é feito para auxiliar nos casos em que se faz necessária a
identificação do autor de um comentário‘. Como é visível no banner a seguir:
142
Imagem 23- Regras de uso dos blogs da redação do portal UOL
Fonte: http://blog.uol.com.br/stc/regras_idx.html
No entanto deveria haver um ceticismo preventivo, na medida em que poderia
se correr o risco de ter publicado como comentários, apenas as opiniões que fazem
eco daquilo que o jornalista pretende enfatizar, na tentativa de ganhar legitimidade
pública ou repercussão de pontos de vista. Mas isso depende da conduta da autoria
de cada blog, até mesmo porque esta triagem aparentemente não é feita apenas
pelo próprio blogger e sim pelos gestores dos portais aos quais eles se vinculam. E
nos blogs em questão, verificamos comentários que contradiriam esta idéia de
manipulação da opinião publicizada na medida quem que são encontradas
comentários divergentes e críticos muitas vezes ao ponto de vista expresso nos
posts.
143
Numa análise da relação de co-autoria e feedback nos três blogs aqui
tratados, percebemos que de fato esta interatividade existe e interfere em graus
distintos nas postagens, principalmente quando norteiam uma relação de retro-
alimentação entre posts e comentários que geram novas postagens como repostas
ou até mesmo ‗post scriptum corretivos ou complementares acrescentados em posts
criticados e polemizados pelos leitores.
No post a seguir do Blog de Fernando Rodrigues é possível, entender como
se esta interferência conversacional. Um comentário de um leitor gerou um pos
scriptum‟ complementar inserido no dia seguinte a data de escrita original do post,
inclusive o leitor indica o link de um vídeo que é incorporado ao final da postagem.
Imagem 24- Parte de post do blog de Fernando Rodrigues dia 20/07/2007
144
Este caráter conversacional é latente, e Fernando Rodrigues se utiliza desta
relação com o leitor de forma interessante, na medida em que aceita até mesmo
correções técnicas de suas postagens. Numa sugestão através de um comentário,
um leitor mencionou a utilização de termos técnicos incorretos na postagem do dia
20/07/2007, referente as discussões sobre o acidente com o avião da TAM, e o
logo, Fernando Rodrigues incorporou tais correções ao seu post, deixando a
possibilidade de visualização do erro e da correção realizada posteriormente.
Imagem 25- Comentário no blog de Fernando Rodrigues no dia 23/07/2007
Nesse sentido os comentários são valorizados, e interferem diretamente na
construção das postagens, quebrando em certos aspectos com a hierarquia imposta
entre um modelo unidirecional entre emissor e receptor. Exemplo dessa interferência
possibilitada é visualizada no postagem apresentada a seguir.
145
Imagem 26- Postagem retificada pela interferência do comentário do leitor.
O blog de Josias de Souza, dentre os três blogs analisados, parece ser o que
menos concebe o blog como espaço conversacional, na semana em análise não
foram encontradas referências a retro-alimentação interativa, são muitos os
comentários, mas tais comentários soam ainda como audiência de um emissor
tradicional unidirecional e não dialógico, sem tal polemização autor-leitor incorporada
ao texto dos posts de seu blog.
o blog de Luís Nassif traz em si uma experimentação intrigante sobre
aspectos da efetiva realização do gênero coletivo de valorização da co-autoria e do
caráter conversacional do blog. Das 36 postagens realizadas na semana do dia 15 a
146
21 de julho de 2007, 22 são postagens vinculadas a autorias distintas, ou seja,
apenas 14 postagens são de autoria inicial de Nassif.
Diferente dos blogs de Josias de Souza e Fernando Rodrigues nos quais
todas as postagens tem como autoria os próprios donos do blog, no blog de Luís
Nassif, o leitor além do espaço dos comentários ganha destaque em postagens,
assim Nassif transforma em postagens comentários que ele próprio seleciona como
merecedores de visualização maior na seção principal de seu blog, ou também
destaque a textos escritos e publicados na comunidade ‗Verso e Prosa‘ uma rede
social virtual vinculada a seu blog, que é formada por leitores e comentadores
assíduos em seu blog, portanto o leitor passa a ser um potencial colaborador na co-
autoria deste espaço.
Nesse sentido a maioria das postagens em seu blog, são postagens de
comentários de leitores que servem de base para ele lançar mão de sua opinião
sobre algum assunto, polemizar ou apenas dialogar ou compartilhar ressonâncias
entre sua opinião e a de leitores. Seguem exemplos que demonstram como isso se
desenvolve.
Imagem 27 - Postagem do blog de Luís Nassif dia 21/07/2007
Fonte: http://www.projetobr.com.br
Vemos que tal post é enviado por um leitor, no qual ele tece comentários
sobre o cenário político s morte do Senador Antônio Carlos Magalhães, logo na
seqüência localiza-se a postagem conversacional em resposta escrita por Luís
147
Nassif. Mais abaixo, também é possível acessar os outros comentários que
complementam este caráter conversacional.
Imagem 28- Parte dos 9 comentários referentes a tal post.
Os comentários dos leitores funcionam como feedback que proporciona
respaldo sobre os temas virão a ser publicados e discutidos no blog por Nassif,
nesse sentido é possível dizer que a emergência deste gênero coletivo de co-
autoria, proporciona em certa medida uma nova ênfase na construção de uma
agenda informativa pública mais horizontalizada e plural, ou seja, mais democrática;
ou nas palavras de José Luís Orihuela:
O blog é um meio a princípio pessoal que funciona sem editores e sem
prazos [...] Diante da realidade jornalística, o blog possui uma resposta
mais rápida, mais impressionista e mais pessoal do que os meios de
comunicação tradicionais e, por sua vez, contribui para ampliar as fronteiras
da realidade midiática. Um dos efeitos da apropriação paulatina da rede por
parte de novos atores que produzem o conteúdo é que a agenda pública
não é exclusivamente marcada pelos grandes meios de comunicação.
Atores antigos e novos compartilham o papel de protagonistas em um
ecossistema comunicacional renovado. (ORIHUELA, 2007, p. 6)
148
Imagem 29- Postagem do blog de Luís Nassif do dia 21/07/2007
Fonte: http://www.projetobr.com.br
Imagem 30- Postagem do blog de Luís Nassif do dia 21/07/2007
Fonte: http://www.projetobr.com.br
Nestas postagens é visível a tentativa de interferência na agenda temática do
blog, e isso é comum por todas as postagens, o que nos leva crer que os leitores
habituados a essa prática encontram consonância na estruturação do diálogo e
indicam a estruturação plena de uma sociabilidade na instauração de uma
comunidade de debates publicizados numa espécie de fórum permanente. Aquilo
que Juan Varela enaltece dizendo que:
149
A maioria dos blogs possui nanoaudiências, públicos bastante restritos que,
apesar de seu tamanho, criam e potencializam redes sociais. São
audiências mínimas, mas que estão bem interconectadas. Comunidades
com uma forte coesão estabelecida por alguns interesses em comum e a
participação de uma conversa sobre os conteúdos e a informação
disponível nos blogs e nas fontes que são utilizadas como referências. Os
blogs são formados por superusuários: intensivos consumidores de meios
que podem agir como guias e prescritores. Desempenham esse papel
graças à confiança que passam para o restante dos membros da
comunidade. A maioria tem seu próprio blog ou se relaciona como os meios,
os movimentos sociais e a política. (VARELA, 2007, p. 64).
Os blogs entendidos como meios sociais de comunicação o diferentes dos
meios de massa, porque a informação on-line está presente em um espaço midiático
compartilhado. Assim o suporte Internet permite não a comunicação de muitos a
muitos, mas também a de poucos a poucos, ou seja, conversações entre públicos
amplos e também entre grupos pequenos que trocam conhecimentos e
experiências. Mas os blogs se diferenciariam também em outros aspectos, como por
exemplo, no que tange o assunto critérios de noticiabilidade?
3.4 Analisando os valores-notícias
Existe um consenso teórico de que numa conclusão geral dos estudos sobre
os conteúdos dos media noticiosos é que as notícias apresentam um padrão geral
bastante estável e previsível. Como mencionamos anteriormente a previsibilidade
do esquema geral das notícias deve-se à existência de critérios de noticiabilidade,
isto é, à existência de valores-notícia que os membros da tribo jornalística partilham.
Assim podemos definir, o conceito de noticiabilidade como o conjunto de valores-
notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar
notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria
noticiável e, por isso, possuindo ―valor-notícia‖.
Uma compreensão histórica do jornalismo ajuda-nos a entender a importância
das qualidades duradouras das notícias. Nelson Traquina propõe a visualização do
que foi notícia em três momentos históricos distintos- os anos 70 do século XX, os
anos 30 e 40 do século XIX, e as primeiras décadas do século XVII- para verificar
que os valores- notícia básicos têm variado pouco. As qualidades duradouras das
notícias são o extraordinário, o insólito, o atual, a figura proeminente, o ilegal, as
guerras, a calamidade e a morte.
Rememorando, em 1616, ainda não havia jornais diários reinava as ―folhas
volantes‖, as quais eram diferentes dos jornais em primeiro lugar porque são
150
dedicadas habitualmente a um único tema, e não a uma variedade de assuntos
como os jornais, e, em segundo lugar, não são publicações regulares. Também não
eram folhas de simples informação: as notícias eram, sobretudo avisos moralistas ou
interpretações religiosas.
Foi publicado um total de 25 ―folhas volantes‖ em 1616. Um terço delas foi
dedicado a um tipo de acontecimento: assassinatos. Um outro terço era dedicado às
notícias sobre celebridades, incluindo uma sobre um discurso do rei.
Na era das ―folhas volantes‖, milagres, abominações, catástrofes,
acontecimentos bizarros foram as primeiras ocorrências tratadas nos dias que
antecedem os jornais.
Um valor-notícia importante na época é o insólito, isto é, os acontecimentos
que produziam o maior espanto, a mais profunda maravilha, a maior
surpresa. [...] Outro valor- notícia importante nesta época é a noticiabilidade
do ator principal do acontecimento. Os atos e as palavras das pessoas
importantes, as crônicas e as proezas de personalidades da ―elite‖, como
por exemplo, o Rei e/ ou a Rainha, eram ‗notícia‘. Outros acontecimentos
que eram vistos como noticiáveis eram os milagres. O aparecimento de
cometas era noticiado como sendo um sinal divino de presságio.
(TRAQUINA, 2005, p. 65-66).
Ao longo do século XVIII, as publicações periódicas, como os jornais, eram
dominadas pelo pólo político e os meios de comunicação social eram
essencialmente vistos como uma arma política até o aparecimento da chamada
“penny press” na década de 30 do século XIX, que introduziu um novo jornalismo
50
,
no qual os jornais são encarados como um negócio que pode render lucros,
apontando com o objetivo fundamental o aumento das tiragens. Com o objetivo de
fornecer informação e o propaganda, os jornais oferecem um novo produto- as
notícias, baseadas nos fatos.
Assim, no século XIX, verificamos a emergência de um novo paradigma-
informação, não propaganda- que é partilhado entre os membros da
sociedade e os jornalistas; a constituição de um novo grupo social- os
jornalistas- que reivindica um monopólio do saber- o que é notícia; e a
comercialização da imprensa- a informação como mercadoria, visível com o
surgimento de uma imprensa mais sensacionalista nos fins do século.
(TRAQUINA, 2005, p. 34).
50
Nos Estados Unidos, onde Benjamin H. Day lança o New York Sun, e na França, onde Emile de
Giradin lança La Presse, começa um novo jornalismo. O New York Sun dava ênfase às notícias
locais, às histórias de interesse humano,e apresentava reportagens sensacionalistas de fatos
surpreendentes.O New York Sun não só dava essas informações de forma acessível, como enchia as
suas páginas com outros assuntos: histórias de crime, escândalos, tragédias, notícias que o homem
comum achava interessantes ou divertidas. O êxito foi espetacular, em menos de 4 anos o New York
Sun vendia 30.000 exemplares diários, quinze vezes a tiragem nos meses de lançamento. (Cf.
Traquina, 2005, p. 67).
151
A “penny press” conseguiu redefinir a notícia de maneira a satisfazer os
gostos, os interesses e a capacidade de compreensão das camadas menos
instruídas da sociedade. Até a época da “penny press”, as notícias versavam apenas
assuntos políticos e econômicos, e o respectivo comentário. O discurso parlamentar,
as cotações da Bolsa, o câmbio, os conflitos militares, as informações comerciais
preenchiam o conteúdo da imprensa.
Traquina também apresenta que num terceiro momento histórico, os anos 70
do século XX, podemos ver a importância das ―qualidades duradouras‖ das notícias
com base num estudo de Herbert Gans (1979) sobre os telejornais de três principais
cadeias norte-americanas (CBS, ABC e NBC) no ano de 1967 e as revistas de
informação Newsweek e Time em três diferentes anos da década de 70. Em primeiro
lugar, o estudo demonstra a importância do valor-notícia ‖notoriedade‖ do ator
principal do acontecimento, isto é a proeminência do ator. Segundo este estudo,
entre 70% e 85% das notícias sobre assuntos nacionais são acerca de pessoas
conhecidas. Para além das atividades do governo a principal categoria de
acontecimentos é a categoria crimes, escândalos e investigações. Três outras
categorias de acontecimentos conquistam uma presença em todos os meios e em
todos os anos: os protestos violentos e não-violentos, os desastres, e o
insólito.
As semelhanças entre as notícias nestes três momentos diferentes que
abrangem quase quatro séculos de história não devem surpreender.
É surpreendente que a essência das notícias pareça ter mudado tão pouco?
A que outros assuntos se poderiam as notícias ter dedicado? Podemos
imaginar um sistema de notícias que desdenhasse o insólito em favor do
típico, que ignorasse o proeminente, que dedicasse tanta atenção ao datado
como ao atual, ao legal como ilegal, à paz como à guerra, ao bem- estar
como à calamidade e à morte? (STEPHENS, 1988, p. 34 apud TRAQUINA,
2005, p. 69).
Interessa-nos nesta etapa final da análise entender: 1) se os critérios usados
na grande imprensa para escolher o que noticiar se aplicam também aos blogs aqui
tomados como objeto de estudo.
Os blogs analisados neste trabalho são feitos por jornalistas que passaram a
maior parte de suas carreiras trabalhando para a grande imprensa e continuam com
esta atividade paralelamente ao blog e, portanto, compartilham com os profissionais
desses veículos o mesmo código profissional e os mesmos valores-notícia. Nessa
medida, seria possível supor que adotariam, em seus blogs, os mesmos critérios de
152
noticiabilidade que os jornais para os quais seus autores trabalharam. Por outro
lado, ao incorporarem a visão pessoal de seus autores como característica-chave,
os blogs ganham uma dinâmica própria, distinta da que existe nos jornais. Nesse
espaço, cabe ao jornalista usar sua subjetividade para escolher como se colocar,
que linguagem usar e também sobre o que falar. Nota-se, o exemplo a seguir, Nassif
em seu blog escolhe se colocar de forma pessoal, sobre uma temática que foge um
pouco do padrão temático do blog, mas que veio ocorrer em forma de conversação
com uma dica musical postada por um leitor.
Imagem 31 - Post do blog de Luís Nassif, dia 21/07/2007
Posto que o blogueiro é o publisher dele mesmo e tem a chance de escrever
sobre um assunto ainda que acredite que seu patrão e seus colegas de profissão
não considerem que ele tenha os elementos de uma notícia clássica. Em tese, está
livre para levar ao leitor informação sobre o que quer que julgue interessante. Ou
ainda o que quer que acredite que seu público irá achar interessante. Mas será que
o jornalista-blogueiro consegue ou tem interesse em se desvencilhar dos critérios de
seleção que interiorizou ao longo de sua carreira para colocar tal liberdade em
prática?
Entre os autores (Wolf, 2005; Galtung e Ruge apud Traquina, 1993) que se
dedicaram a mapear as notícias de jornais, traçando critérios de noticiabilidade,
escolhemos o autor português Nelson Traquina para tomar como referência. Com
153
base no estudo mencionado por Traquina, realizado por Stephens, e em duas
abrangentes pesquisas sociológicas que procuraram destrinchar os critérios que
fazem com que um assunto seja noticiável, bem como na seleção proposta por
Mauro Wolf (2005), Traquina definiu, ele próprio, um conjunto de valores-notícia.
Esse detalhamento é útil para que possamos compará-los aos observados
nos blogs de Fernando Rodrigues, Josias de Souza e Luís Nassif.
Como Wolf, Traquina considera que os valores-notícia estão presentes nas
diferentes etapas da produção jornalística não na seleção dos acontecimentos,
como também na própria elaboração de uma notícia e por isso, julga necessário
distinguir os valores-notícia presentes nesses dois momentos.
Os valores-notícia de seleção são aqueles que, como o nome indica, referem-
se a critérios que os jornalistas utilizam no momento de selecionar, entre tudo que
aconteceu num dia, o que merece ser publicado. Estão divididos em dois subgrupos
de critérios: os substantivos, que dizem respeito à avaliação direta do
acontecimento conforme sua importância, e os contextuais, que se referem ao
contexto de produção da notícia. Por exemplo, a concorrência com outros jornais, a
facilidade de se fazer determinada cobertura e a comparação com as outras notícias
do dia. Existem ainda os valores-notícia de construção aqueles utilizados na
fase de elaboração de notícias já previamente consideradas dignas de fazer parte de
uma edição.
No manual teórico que elabora para falar da prática jornalística, Traquina
(2002) diz que não uma hierarquia clara de certos critérios de noticiabilidade
sobre outros e lembra que uma mesma notícia pode atender a vários critérios ao
mesmo tempo. Outro ponto relevante destacado pelo autor é a influência, tanto na
seleção das notícias quanto na sua forma de construção, da política editorial das
empresas jornalísticas.
Procuraremos associar os critérios gerais de noticiabilidade traçados por
Traquina à realidade específica das editorias de política. Dessa forma, nos parece
possível estabelecer uma relação mais próxima desses critérios com os vigentes nos
blogs aqui pesquisados que, afinal, tratam de política. Estes são os critérios que
serão verificados nas postagens que fazem parte da semana
154
3.4.1 Os valores-notícia de seleção
Critérios substantivos (relacionados à avaliação direta do acontecimento)
Morte. Assassinatos, atentados, acidentes e tragédias são sempre assunto de
interesse da imprensa. Quanto mais mortos, mais destaque costuma ganhar a
notícia.
Nos blogs: O assunto morte é tão marcante no imaginário do jornalismo/dos
jornalistas que apesar de os três veículos analisados nesta dissertação serem blogs
de política, todos falaram do acidente aéreo com o Air-bus da TAM que, no dia 17 de
julho de 2007 matou 199 pessoas a companhia aérea Gol. Fernando Rodrigues é
inclusive o primeiro jornalista a ter acesso aos conteúdos da Caixa-Preta do avião e
se utiliza do blog para adiantar aquilo que estaria publicado na Folha de S. Paulo no
dia seguinte a este furo.
Também a morte do senador Antônio Carlos Magalhães foi bastante
repercutida nos três blogs.
Notoriedade. Quanto mais importante ou famosa é uma pessoa, mais o que
acontece a ela interessa. Muito freqüentemente, até mesmo acontecimentos
cotidianos na vida de determinadas personalidades são tidos como notícia na
grande imprensa, por exemplo a bursite do presidente Lula (jan. 2003).
Nos blogs: Ali, como nos grandes jornais, as notícias sobre personagens
conhecidas da política ocupam parte importante do noticiário: o presidente Lula,
seus adversários na disputa presidencial, ministros de estado, os deputados e
senadores mais influentes, os governadores dos estados de maior importância
econômica. Em geral, não se o ponto de partida de uma notícia ser o problema
de um cidadão comum. Mesmo nos textos mais analíticos, não se parte do micro (o
cotidiano) para o macro (as decisões políticas tomadas pelas personalidades do
Executivo, Legislativo e Judiciário). Notas a respeito de pessoas que não sejam
notórias aparecem uma vez ou outra, quase sempre no contexto de algum outro
critério de noticiabilidade.
Este critério na semana analisada apareceu distintas vezes, sobretudo na
demonstração da postura de algumas autoridades, no que se referia ao acidente
aéreo com o avião da TAM, neste sentido autoridades ligadas a órgãos da aviação,
empresas aéreas e até mesmo o pronunciamento do presidente Lula na televisão a
155
respeito da postura do governo em dar um respaldo a investigação da maior tragédia
aérea ocorrida em solo nacional.
Outra tema muito noticiado nesta semana foi a possível votação por abertura
de um CPI para investigar ligações do presidente do Senado, senador Renan
Calheiros com corrupção, assim se repercutiu o debate da oposição e da opinião
pública, que fez os blogs até mesmo repercutir temas da vida pessoal do senador,
como o caso do envolvimento extra-conjugal do senador com uma jornalista.
*Proximidade. Diz Traquina (2002) que, sobretudo em termos geográficos, mas
também em termos culturais, o que acontece mais próximo tem mais chances de ser
noticiado. Em política, contudo, o princípio não se aplica de todo. Pelo menos no
eixo RioSão Paulo, a política das instâncias municipal e estadual de governo
possuem tanta relevância quanto a política Nacional. Os três blogs em questão
focam o Brasil em sua dimensão total no que se refere as principais esferas políticas
representativas. Com ênfase maior a notícias políticas federais
Relevância. Este critério diz respeito ao impacto de um acontecimento na vida das
pessoas: quanto maior a possível repercussão, mais chances um fato tem de ser
noticiado. Por exemplo, a aprovação de uma lei relacionada à aposentadoria de
milhares de brasileiros tem mais chances de sair no jornal do que a aprovação de
uma lei que trate de um tema mais específico, de repercussão restrita a um número
reduzido de pessoas.
Nos blogs tivemos o acidente aéreo com o avião da Tam elevado a categoria
extrema de relevância, na medida em que este tema preponderou de forma
significativa durante as postagens desta semana de coleta exploratória.
Novidade. Interessa o que nunca aconteceu antes.Nos blogs, a novidade também
funciona como critério relevante de seleção.Interessa tanto o novo quanto o olhar
sobre o novo. É muito comum os jornalistas escreverem suas próprias opiniões
sobre acontecimentos novos, mas que foram abordados pelos jornais ou
noticiários online. Como nos jornais, o critério de novidade também aparece sob a
forma de furo jornalístico.
O blog de Fernando Rodrigues trouxe o furo jornalísticos que revelou o
conteúdo das caixas-pretas do avião da TAM, antecipando-se antes mesmo dos
jornais impressos.
156
Notabilidade. Esse critério diz respeito à qualidade de um fato ser visível e
tangível. Por isso uma greve é noticiada, mas dificilmente as condições de trabalho
de um determinado grupo profissional estarão estampadas nas páginas de um
jornal, segundo Traquina (2002). A notabilidade de um acontecimento pode se dar
pela quantidade (quanto maior o número de pessoas que um acontecimento
envolve, maior também é a chance de ele ser noticiado), a inversão (o que é
contrário ao ―normal‖ aqui se enquadra o famoso exemplo do dono que morde o
cão), o insólito, a falha (acidente de avião, foguetes que explodem no espaço) ou o
excesso/escassez (temperatura baixa no verão ou alta no inverno etc). Nos blogs: À
medida que se configuram como espaços de discussão e análise, os blogs se
arriscam muitas vezes a tratar de temas que nem sempre são claramente tangíveis.
Nesse ponto, suas narrativas se assemelham mais a artigos assinados nos quais
implicações mais abrangentes dos acontecimentos são discutidas. Ali, o mesmo post
pode noticiar uma greve e discutir condições de trabalho.
Nas postagens temos, portanto as discussões apresentadas sobre os
temas que repercutiram na mídia nacional desta semana, elevadas a notabilidade
nacional, sendo o acidente da TAM, morte do senador Antônio Carlos Magalhães, o
contexto de averiguação de denúncias contra o senador Renan Calheiros e
superfaturamento das obras dos jogos Pan-americanos realizados no Rio de Janeiro
em 2007, os temas mais repercutidos nas postagens.
Fica claro, portanto que os blogs seguem os mesmos critérios de
noticiabilidade tradicionalmente introjetados como valores-notícias na tribo
jornalística. Por exemplo, Josias de Souza disse em uma entrevista, que usa em seu
blog, os mesmos critérios de noticiabilidade de um jornal ou qualquer outro veículo
jornalístico. Disse Souza: ―O que caracteriza uma notícia é a sua relevância, o seu
ineditismo e o interesse público de que está revestida. Isso vale para qualquer meio
de comunicação jornais, revistas, rádios, TVs... Vale também para o blog‖. (Portal
Imprensa, 29 nov. 2006).
Mas mesmo tal cenário não sendo totalmente de rupturas percebemos
modificações em andamento. O que nos remete poder usar como exemplo as
prospecções que foram feitas em 1995 sobre este cenário emergente do jornalismo
on-line.
Em abril de 1995, em um seminário promovido pelo The Poynter Institute for
Media Studies, nos Estados Unidos, dezessete especialistas em mídia digital
157
reuniram-se para discutir o futuro do jornalismo on-line
51
. Juntos, teceram algumas
previsões acerca de como o meio digital alteraria o modo jornalístico de se noticiar e
listaram aquilo que acreditavam que os jornais tradicionais não seriam capazes de
dar conta que os digitais conseguiriam
52
.
As promessas elencadas pelo grupo norte-americano foram estruturadas de
uma forma a enaltecer cinco grandes tópicos enfatizando as suas ligações com a
questão da narrativa ciberjornalística, como se observa no quadro a seguir:
Imagem 32- Jornalismo on-line: prospectivas de 1995.
Uma das esperanças do grupo norte-americano era a de que os jornais
digitais divulgariam todas aquelas informações que não couberam no jornal de
papel. Sem o constrangimento do limite físico da edição impressa, os textos
51
O resumo do seminário ―News News Products Session‖, realizado entre 27 e 29 de abril de 1995,
está disponível em http://legacy.poynter.org/dj/projects/nnp95/nnpabout.htm. Em meados da
década de 30 do século XX a expressão ―jornalismo online‖ (como sinônimo de ―webjornalismo‖, ou
seja, jornalismo realizado na world wide web) era mais utilizado, tanto em trabalhos acadêmicos como
entre profissionais do ramo.
52 A prospecção de 1995 ficou de fato um tanto centrada na comparação entre jornais impresso
diários e os jornais on-line, deixando de fora revistas, semanários e os produtos do telejornalismo e
radiojornalismo.
158
excedentes seriam publicados on-line para que os leitores tivessem acesso a mais
informação.
Todavia, o que não se imaginava há onze anos era o aparecimento dos
weblogs. Se pegarmos o caso dos jornalistas que ‗blogam‘, além de manterem as
suas colunas de opinião nos jornais impressos, podemos dizer que alguma forma tal
promessa tem sido cumprida. Se estes jornalistas blogueiros não podem, pelo
constrangimento do espaço e do tempo do jornal impresso fornecer aos seus leitores
todas as informações que gostariam e com a rapidez que gostariam, tem agora a
possibilidade de fazê-lo neste espaço ‗alternativo‘.
Isso porque tais jornalistas criam e mantêm os seus blogs seguindo mais a
lógica ‗não limitadora‘ da cultura digital do que dos parâmetros clássicos da rotina
jornalística do impresso, acostumada a deixar fora os resíduos de sua produção
após a distribuição do jornal diário.
No Brasil, o pioneiro dos weblogs políticos, o jornalista Ricardo Noblat, em
artigo assinado pelo próprio no Observatório da Imprensa, conforma: ―(...) escrevi
uma página dominical sobre política no jornal ‘O dia‘, do Rio de Janeiro. E como
notícias cavadas no início da semana acabavam envelhecendo antes que a semana
terminasse, um amigo sugeriu que eu criasse um blog para ter onde despejá-las a
tempo e a hora‖.
Portanto, vale destacar, como constatamos anteriormente que tais blogs
jornalísticos estudados aqui possuem duas características marcantes, que vão de
encontro com o que ressalta (GRANADO, 2004):
1) Os blogs são, sobretudo, opinativos e analíticos (prevalecendo o gênero
comentário);
2) Tais blogs funcionam em ―circuito fechado‖, ou seja, os links para textos se
dão dentro de um circuito redundante alicerçados na mídia tradicional;
Percebe-se com os weblogs um certo alargamento do espaço informativo Se
pensarmos no caso destes tipos de páginas web mantidas por empresas de mídia
com presença na Internet, podemos afirmar, então, que material excedente a
figurar nos jornais on-line. A publicação de ‗informações/ opiniões‘ que ficaram de
fora do papel parece, desta forma, se dar muito mais nos blogs que tais jornais on-
line mantêm do que propriamente no seu noticiário comum, ainda muito marcado
pela reprodução dos materiais das agências noticiosas.
159
Outra esperança de 1995 era de que o jornalismo on-line seria capaz de
fornecer não apenas a informação pura e dura acerca de um acontecimento, mas
também materiais de contextualização. Esperava-se que um pacote completo
estivesse na web à disposição do leitor, desde notícias curtas, artigos de opinião e
análise às reportagens de profundidade e toda a sorte de conteúdos que o ajudasse
a compreender o que se passa do mundo, os blogs, entendidos como um novo
formato narrativo, viriam a contribuir para este acontecimento na medida em
conseguem ir além de noticiar os fatos, eles tendem a contextualizar tais fatos
encontrando consonâncias hiperlinkadas ao cenário amplo da cultura política. Assim
promovem aquilo que foi previsto ‗mais contextualização‘, ‗mais aprofundamento‘
dentro de uma lógica que altera a relação do jornalista com o leitor, na medida em
que instaura o paradigma conversacional em tempo real.
3.5 Transformações: os blogs entre o continnum e o degradé
Os blogs, portanto no que se refere a uma consolidação de espaço de
informação jornalística, cumpre com o que Otto Groth, chamou de características
intrínsecas da informação que devem atender a quatro aspectos: ―periodicidade,
universalidade, atualidade e difusão.‖ (GROTH, 1989, p.22). Além disso possuem
convergência com as ferramentas do ciberespaço o que potencializa seu caráter
comunitário e comunicativo.
Assim, os blogs estão inseridos na via das transformações operadas pelo e
no webjornalismo que tem um traço marcadamente identificável, inclusive
mencionado, que é a emergência de vastas quantidades de informação,
designadamente através da disponibilização dos links e tópicos relacionados e toda
a vasta panóplia de possibilidades remissivas que o hipertexto abre. Assim o
webjornalismo oferece um conteúdo que pode ser atualizado continuamente e os
blogs são canais vinculados intrinsecamente a esta característica latente.
Nesta matéria, a questão do hipertexto é, naturalmente, uma das mais
interessantes pelos desenvolvimentos que abre. Tecnicamente, o hipertexto é um
conjunto de s ligados entre si, podendo estes nós ser palavras, páginas, imagens,
seqüências sonoras ou documentos (Bastos, 2000). A utilização do hipertexto abre
as portas a formas de jornalismo onde as noções clássicas de leitura são
desmontadas e onde a possibilidade generalizada de remissão desencadeia a
160
utilização do texto por um leitor mais ativo e mais participante que pode fazer
explodir as relevâncias previamente traçadas por um jornalista que siga o modelo
clássico da pirâmide invertida. O hipertexto comporta alterações culturais no formato
não-linear e no caráter associativo.
Hoje a leitura de um texto nos blogs contém em si, um modo evidente, a sua
remissão para, virtualmente, múltiplos outros textos. Com o hipertexto um apelo
implícito à remissão, sendo que esta não é uma simples referência, mas pode ser
um outro texto integral (como exemplificamos) ou, segundo a noção de
hipermídia, uma imagem ou um registro sonoro.
Nesse sentido, muitos autores que defendem o abandono dos sistemas
conceptuais baseados em noções como centro, margem, hierarquia e linearidade,
substituindo-os por nós, redes e conexões (LANDOW, 1992, p. 14). E em tal análise
dos blogs em questão, percebemos que tais conceitos se aplicam de maneira mais
precisa ao cenário noticioso marcado pela presença das espécies narrativas
vinculadas em congruência às espécies argumentativas, no que tange a
estruturação dos gêneros ciberjornalísticos.
Qualquer texto concebido hipertextualmente pode inclui informação visual,
sonora e outras formas de informação, abrindo todo um universo de possibilidades e
a tendência verificada em tais blogs, é a contínua abertura para utilização destes
recursos. A ruptura da linearidade é susceptível de ser pensada dum modo em que
o rodapé pode ser uma variável da história principal, o acréscimo de elementos
acessórios ao que se entende ser principal. Assim as possibilidades metalingüísticas
podem multiplicar-se, de tal modo que o texto pode virar-se sobre si próprio,
assinalando os laços, as estruturas recorrentes e as auto-referências. Do mesmo
modo, vemos que os blogs dentro do webjornalismo podem ter uma combinatória de
elementos multimídia, e de participação de leitores em tempo real, em que noções
de relevância tidas como relativamente estabelecidas a propósito da pirâmide
invertida ou dos critérios de noticiabilidade ou da função de agendamento parecem
ganhar uma dificuldade acrescida.
[...]a notícia na Internet pode apresentar uma estrutura comum à de outros
media, mas introduz a complexidade e, sobretudo, a aleatoridade com o
hipertexto aplicado à narrativa, que coloca nas mãos do leitor parte da
construção do sentido de uma forma individualizada (BASTOS, 2000, p. 57).
161
Isso sinaliza que se o hipertexto é composto de textos relacionados entre si,
sem que exista um eixo orientador da organização, cada utilizador do hipertexto faz
dos seus interesses primordiais, o eixo orientador das suas escolhas.
Basta para tanto, que as informações normalmente remetidas para o fim
possam ser percorridas como as mais importantes. Cada ato de recepção de uma
notícia podia determinar para cada leitor, uma estrutura de relevâncias diferente,
pelo que, graças ao percurso que este sistema de relevância desencadeia, um
lead muito sumário iria sobreviver. Neste plano as tarefas do próprio profissional
terão de sofrer alterações: o jornalista terá que escrever de forma não linear quando
escreve um texto para ser publicado na Internet, principalmente quando se trata de
um texto extenso. A leitura no computador é cansativa e os utilizadores não gostam
de ler grandes conjuntos de texto, e vimos que tal lição ainda está sendo aprendida,
pois nos blogs analisados ainda é comum encontrar textos grandes com vinte e três
parágrafos, por exemplo.
Por isso, as notícias mais extensas devem utilizar links ou hiperligações. Se
o leitor a decidir as partes do texto que quer ler sem ter que seguir a ordem linear, e
isso não é em sua totalidade feito pelos blogueiros em questão, tais links não são
dados como opção de ruptura com seu texto aparentemente ainda escrito em
estrutura linear, os links são utilizados em grande medida como complementaridade
na busca de não redundância, ou até mesmo como indicação de promoção de
outros textos do blogger divulgados em outros canais para além do seu blog, como é
o caso de Fernando Rodrigues e Josias de Souza que remetem os leitores
comumente a textos da Folha On-line.
Esta prática que ainda está sendo aprendida pressupõe uma nova forma de
escrever e deve incentivar os jornalistas a investigarem a melhor forma de
estruturação de textos on-line para permitirem ao utilizador uma boa e profícua
leitura.
Neste sentido, uma questão que desde logo vale a pena discutir: se o
hipertexto e a interatividade se cruzam qual seo papel deixado à autoria no texto
jornalístico?
Poderemos falar de autoria coletiva? Como mencionamos anteriormente
ser um traço explícito do surgimento dos gêneros ciberjornalísticos que tendem a ser
gêneros coletivos. Um elemento que merece uma análise cuidadosa é a tão em
voga idéia de interatividade. Um dos mais importantes elementos da comunicação
162
mediada por computador é a sua habilidade para permitir o diálogo de muitos com
muitos e a sua capacidade para facilitar a comunicação entre grupos e indivíduos
geograficamente dispersos. Os webdesigners têm ao seu dispor uma quantidade de
tecnologias interativas que incluem além de ligações com outras histórias, o contacto
com jornalistas através de correio eletrônicos, chats, fóruns, informações biográficas
sobre os colunistas, bases de dados e arquivos de áudio e vídeo. A acrescentar a
estas possibilidades oferecem-se como oportunidades de ultrapassar a relação
rígida e piramidal que alegadamente tem sido a relação dos media de massa com os
seus leitores.
Assim nos blogs, logo que a notícia é publicada, o leitor pode apresentar os
seus comentários seja sobre o assunto alvo de notícia, ou o próprio trabalho dos
jornalistas. A égide do que afirma Canavilhas (2000) ―A notícia deve ser encarada
como o princípio de algo e não um fim em si própria.‖
A conjugação destes mecanismos pode traduzir-se numa vasta quantidade de
conseqüências com implicações na apreciação clássica do jornalismo. As
abordagens teóricas da mass communication research ainda são, na sua maioria,
pensadas em função de formas do jornalismo tradicional.
No que toca ao efeito de agenda, não é irrealista supor-se que a sua fixação
seja objeto de uma luta no qual intervêm outros agentes para além daqueles a
quem, tradicionalmente, compete a redação e edição final. No limite, o direito de
resposta pode ganhar os contornos de uma ação coletiva. Quanto à análise da
produção noticiosa alguns dos numerosos constrangimentos que nela intervém
poderão conhecer alterações substanciais.
Desde uma até uma maior intervenção dos públicos, através do
prolongamento da discussão nos fóruns disponíveis até à possibilidade dos leitores
dinamizarem o direito de resposta de modo a exercer pressão em torno de um
determinado interesse ou pretensão, abrem-se um conjunto de possibilidades que,
eventualmente, poderão paulatinamente alterar rotinas e modos de tipificar próprios
de cada medium. A idéia de que a rede não tem centro tendo, antes,
permanentemente, vários centros fere, restando ainda saber com que profundidade,
a idéia de uma mensagem construída em função de uma percepção hierárquica da
importância decrescente da informação. Ou seja, implica a relativização do formato
tradicional da pirâmide invertida, a qual, como é sabidamente conhecida, é a
metáfora que traduz a representação clássica da notícia, construída precisamente
163
segundo um método que traduz a ordem decrescente de importância dos fatos
relatados.
As características do hipertexto referidas (a organização em fragmentos, a
possibilidade de o utilizador possuir uma relativa liberdade de escolha na relação
entre esses fragmentos, a fluidez e riqueza das sua ligações) remetem para uma
certa ausência de linearidade. Finalmente, a possibilidade de introdução de imagem
e de som reforça uma componente narrativa que pode fazer realçar os elementos
mais diretamente relacionados com os topos próprios dos gêneros ligados ao
espetáculo do que com as características clássicas atribuídas à notícia. Porém, nada
impede que o hipertexto e a utilização de tecnologias multimídias o possam ser
indutoras de processos onde se verifiquem um acréscimo de rigor e de
aprofundamento.
A possibilidade de ligação a bases de dados, a arquivos informatizados e a
utilização de motores de busca podem também ser uma poderosa ferramenta no
sentido de aumentar a contextualização, a quantidade de informação em
background, a mobilização de dados adicionais e a possibilidade de procedimento
por associações no sentido de escapar a uma rede de facticidade centrada no
acontecimento em si. Elementos como ―arquivo‖, ―recursos‖ ou ―material de
referência‖ são vantagens óbvias de uma publicação digital como os blogs, que pode
alimentar-se do imenso e crescente capital informativo armazenado nas extensas
bases de dados que se estendem em rede por todo o mundo. Em termos de
conteúdo, essa vantagem traduz-se desde logo pela possibilidade de solidificar a
informação publicada disponibilizando links que permitam ao leitor uma percepção
muito mais aprofundada do assunto. Deste modo, o texto passa a ter vários níveis
de leitura (―layers‖, segundo M. Deuze), algo que o jornal tradicional não pode
oferecer (MOURA, 2002).
Num certo sentido, o jornalista blogger ganha uma dimensão diferente na
medida em que, na melhor das hipóteses, manterá características de gatekeeper
num universo de maior complexidade. Se assumir como sua a missão de imprimir
uma certa racionalidade na produção e circulação de mensagens, então terá de se
adaptar à gestão dos fluxos comunicacionais em dimensões de espaço e tempo
completamente novas, como no caso dos blogs em questão. O jornalista
desempenhará então as funções de mediador público, tendo, todavia que admitir-se
164
que algumas das conclusões que os autores pós-modernos adiantam em relação ao
autor e às suas relações com o público e os leitores lhe possam ser aplicadas.
3.6 Críticas e suspeições sobre o espaço público midiatizado
Depois de recenseadas as novidades trazidas pela CMC, importa introduzir
um elemento de desconfiança. Todos estes conceitos o de espaço público e o da
sua relação com certos media que dinamizarão as suas possibilidades de
intervenção cívica merecem uma relativização e uma cautela que, no limite, não
deixa espaço para respostas fixas e definitivas.
A conversação que flui na Web e a relação entre espaço público, blogs e
jornalismo figura-se mais problemática do que parece. No que respeita à ideologia
neo-iluminista que perpassa pela Internet ela é hoje objeto de uma reflexão crítica
que relativiza algumas das suas possibilidades e identifica a incubação desta
ideologia num espaço capitalista centralizador que aparentemente acolhe a
diversidade. Para Herbert Schiller, um dos mais importantes autores que navega
nestas águas, citado por Tânia Soares (1999), ―o reconhecimento da existência de
um novo tipo de sociedade assente no valor da comunicação e da informação não é
necessariamente benéfico‖. Schiller os imperativos da economia de mercado a
reforçarem o seu determinismo nas transformações ocorridas nas esferas
tecnológica e informacional. Na verdade, ―o tipo de sociedade que fomenta as
transformações nas áreas da informação e da comunicação é a sociedade do
capitalismo corporativo, ou seja, o capitalismo contemporâneo é dominado pelas
grandes oligopólios concentrados nas instituições corporativas que comandam a
economia e a sociedade a nível nacional e internacional‖. Esta realidade é oculta por
conceitos fetiches que visam fazer esquecer os mecanismos inerentes ao modelo de
desenvolvimento em que se funda a sociedade da informação:
A batalha pelo acesso às tecnologias de informação e comunicação surge
assim no discurso político enquanto nova bandeira do progresso, fazendo-
nos por vezes lembrar - não sem uma certa comicidade anacrônica, os
famosos slogans da revolução russa em que progresso era associado à
fórmula Sovietes+Electricidade=Progresso, substituídos agora pela idéia de
Democracia+ Internet=Progresso‘. (CARDOSO, 1999, on-line)
Desse modo Cardoso no relembra que o discurso tecnocultural é um tipo de
discurso situado numa perspectiva da história das tecnologias, que o mundo
165
enquanto fruto da sucessão de tecnologias desligadas do contexto social onde as
mesmas nascem e atuam, assim se foca os potenciais existentes nestas tecnologias
mas não se faz referência às suas limitações.
O papel hoje desempenhado pelas comunidades virtuais, inseridas aqui as
comunidades dos bloggers e leitores, no eventual desenvolvimento de um espaço
público é, sobretudo, um papel de catarse, de substituto do verdadeiro sentido de
comunidade e de participação. Finalmente os traços encontrados nos elementos
respeitantes ao jornalismo - velocidade e abundância de informação,
personalização, interatividade - operam de acordo com um princípio solidamente
entrincheirado na retórica das utopias interativas: quanto mais informação melhor. O
objetivo dos blogs anteriormente mencionados é tornar o último bit de informação
relevante para a comunicação e deliberação política na perspectiva de que ele
produza uma cidadania mais bem informado. A verdade é que, desde logo não
existe evidência de que a disponibilização de uma maior quantidade de informação
produza melhores cidadãos. Alguns estudos e possibilidades teóricas apontam
mesmo para o contrário. Com efeito, parece ser possível relançar a hipótese
levantada por Robert King Merton e Paul Lazersfeld, em 1948 em ―Comunicação,
Gosto Pessoal e Acção social organizada‖ a propósito da rádio e estendê-la ao
jornalismo on-line. A hipótese de Merton e Lazersfeld consistia na existência de uma
disfunção narcotizante da comunicação a qual se traduz no fato de as audiências se
enganarem acerca da sua participação cívica, pensando que, pelo fato de estarem
informadas, estarem politicamente intervenientes (MER|TON e LAZERSFELD,
1987). No limite, graças a esta disfunção, podia haver uma relação inversa entre o
aumento da informação e o aumento da participação cívica. A superabundância de
volume noticioso que circula na Web origem a uma corrente teórica segundo a
qual quanto mais quantidade de informação existe, menos sentido e compreensão
obtêm-se acerca dos fatos relatados.
Ora, é evidente que o jornalismo on-line, reforça esta aceleração na
distribuição momentânea de notícias. Assim tal lógica baseada na idéia de que o
público tem o ―direito de saber‖ para poder tomar suas decisões, sugere-se que o
público ―precisa saber‖ cada vez mais rápido, porque esse é o ritmo do mundo. A
qualidade é aí identificada com a rapidez na transmissão da informação.
No webjornalismo, a velocidade passa a ser o principal ―valor notícia‖: antes
de tudo, importa chegar na frente do concorrente, e alimentar o sistema com dados
166
novos, num continuum vertiginoso a pautar o trabalho nas grandes redações, que,
além dos tradicionais produtos impressos diários, oferecem simultaneamente
serviços de informação em tempo real‘ no suporte on-line.
O homo cibernauticus conta muitas imagens, muitas opiniões, muitos factos,
muitos fragmentos de cultura, muitos fragmentos de saber. Só que este é
um contacto muitas vezes caótico. O excesso de informação anestesia,
produz efeitos de habituação. Anula. Tal como a aceleração excessiva
tende a produzir cegueira e esquecimento. O que sobra em aceleração e
abundância falta em distanciamento crítico, pausa reflexiva, em exercício
analítico e em memória. (SANTOS, 2002, p. 22).
Do mesmo modo, não é claro que a personalização e a interatividade se
traduzam necessariamente numa vantajosa dinamização da cidadania. Para muitos,
enquanto os jornais de ontem serviram para integrar as comunidades nacionais, os
jornais futuros, tão servirão para integrar especialmente comunidades de
consumidores, que tais meios servirão essencialmente para os anunciantes e os
fornecedores de conteúdos desenvolverem informação direcionada e segmentada
em função dos seus interesses comerciais. Os indivíduos isolar-se-ão do mundo que
os rodeia. De certo modo, cada um construirá a sua prisão informativa. Deste modo,
diversos autores têm vindo a preocupar-se com o que classificam de casulagem de
massa e autismo em linha (Rheingold, 1993 apud Correia, 1998), referindo-se deste
modo a uma percepção contextualizada do mundo onde a capacidade de seleção e
a comunidade interpretativa se reduzem à presença de uma única pessoa
individualizada.
A resposta a estas dúvidas pode ser encontrada, pensando num modo
diverso de espaço público e das suas relações com a CMC (Comunicação Mediada
por Computador). Hoje, a esfera pública é mais complexa e multifacetada, tornando-
se a arena privilegiada de uma luta simbólica pela definição das realidades sociais.
Por outro lado, o funcionamento das novas formas de cidadania e,
consequentemente, os resultados desta luta simbólica está cada vez mais
relacionado com os media, sendo que a opinião pública não tem necessariamente
de se fazer apesar da presença dos media, mas com recurso a eles . A dinamização
de uma instância independente das lógicas do poder e da economia exige a
presença de uma sociedade civil que é cada vez mais uma sociedade de
comunicação. Esta noção implica assumir que muitos dos conflitos que se
desenvolvem na sociedade ocidental não são apenas dependentes apenas das
esferas de reprodução material, mobilizando-se também em torno das questões
167
relacionadas com a reprodução cultural, pela socialização e pelos direitos
individuais. O jornalismo feito na Web e em particular nos blogs corresponde decerto
às necessidades levantadas por muitas destas transformações. A sua lógica
participada pode corresponder ao caráter mais fragmentado e pluralista do espaço
público contemporâneo. Porém, também pode corresponder à indução de uma
entropia que desafia a idéia de deliberação racional. Como assinala Luís Nogueira
(2002) o jornalismo é uma das formas de tratar, organizar e difundir informação, pelo
que ―tem as suas regras, constrangimentos e objetivos específicos. Tem uma
morfologia, uma linguagem, uma ética e se quisermos uma epistemologia própria.
Tem os seus esquemas de funcionamento. O que o OSJ (Open Source Journalism)
vem fazer é instabilizar esse edifício que desde há dois ou três séculos tem vindo a
ser construído.
Desde logo, o jornalismo poderá retomar pelo menos alguns dos seus
aspectos enquanto jornalismo de causas. Não é por caso que os entusiastas dos
weblogs consideram o self publishing o futuro da Internet: ou seja, , de certo
modo, um regresso ao publicismo e ao jornalismo de opinião. O século XIX
terminou, graças à publicidade, com o jornalismo de opinião. Surgiram um conjunto
de gêneros (a notícia, a reportagem), que implicaram a formação de normas
organizacionais, convenções narrativas, modelos de gestão industrial e o
aparecimento de profissionais especializados. O advento deste modo de jornalismo,
à qual não pode deixar de estar associada a idéia nova de objetividade, matou o
jornalismo de opinião, o publicismo. A industrialização do jornalismo criou as
condições para que a notícia se tornasse uma mercadoria e Simmel melhor do que
ninguém compreendera no século XIX como o dinheiro criava desenraizamento e
descontextualização. O jornalismo on-line pode, pelas condições técnicas de que
falamos anteriormente, dar origem a uma nova forma de jornalismo, ligado aos
movimentos sociais, à democratização e à afirmação cívica das comunidades, que
alguns chamam de jornalismo cívico. (CORREIA, 1998).
Uma análise da história da imprensa radical, começando com os panfletários
dos sucessivos períodos revolucionários, demonstra que, apesar do seu formato
reduzido e da sua ausência quase generalizada das histórias do jornalismo, os
media alternativos desempenharam papéis significativos na história das respectivas
comunidades políticas, designadamente dando voz a perspectivas centradas na
defesa dos direitos humanos e das minorias: abolicionistas, feministas, defensores
168
dos direitos civis, etc. Hoje,muitas destas possibilidades são exploradas ao nível dos
novos media. Com efeito, devemos admitir que as novas configurações do
capitalismo têm uma relação profunda com a dimensão simbólica e comunicacional
mas os utilizadores da Internet não são meros consumidores e produtores de
informação mas seres eminentemente sociais que como tal procuram também,
através do uso dos serviços telemáticos, pertencer a um grupo, afirmar as suas
convicções políticas, culturais, religiosas, etc., bem como, apoio para as suas
dificuldades pessoais ou grupais. Nessa medida parece-nos altamente significativo
afirmar a propósito do open source journalism que este permite que várias pessoas
(que não apenas os jornalistas) escrevam e, sem a castração da imparcialidade,
dêem a sua opinião, impedindo assim a proliferação de um pensamento único, como
o pode ser aquele difundido pela maioria dos jornais, cuja objetividade e
imparcialidade são muitas vezes máscaras de um qualquer ponto de vista que serve
interesses mais particulares que apenas o de informar com honestidade e isenção o
público que os lê.
Provavelmente, este registro em que a abertura à causa e à opinião dos
públicos é balanceada pela existência de uma tematização, de uma ética e de
formas de mediação mínimas, poderá dar origem a um eventual novo formato
jornalístico: em vez do jornal, a comunidade noticiosa, hipermidiática, centrada em
causas ou temas que constituem a razão de ser da sua existência, extremamente
aberta à participação dos públicos que podem mesmo participar na elaboração do
material editado, mas com critérios que têm a ver com a própria razão de ser da
comunidade noticiosa. Como afirmou Tocqueville, sem jornais o há atividade
comum: o jornal, consequentemente, representa uma associação, mais ou menos
restrita que é composta pelos seus leitores habituais. Nesse sentido, a comunidade
noticiosa é uma associação da sociedade civil que explora algumas potencialidades
do jornalismo que foram esquecidas e inibidas pelo modelo clássico da
―comunicação de massa‖.
Assim concluímos que os blogs podem ser este espaço que transforma tal
lógica, mas podemos perceber que tudo isso ainda é sinalizado de forma incipiente,
num contexto no qual não uma suposta ruptura e sim repetições de modelos,
valores em readequações que vão dando espaço a uso de algumas ferramentas que
paulatinamente reconfiguram tais interfaces, dentro de uma interseção híbrida
expressa entre a lógica do continuum e o degradé ou em outras palavras, o
169
crescimento dos blogs remete à multiplicidade específica da hipermídia;
multiplicidade de emissores, de trajetos, de opiniões. Sob o formato, cabe tanto ao
‗proprietário‘ do blog publicar informações e opiniões quanto ao visitante/ leitor
concordar, discordar, reclamar, rebater o que foi publicado, mas é possível afirmar
que na prática jornalística nestes blogs predominam gêneros jornalísticos que
aproximam as formas discursivas do jornalismo das subjetividades sociais, que
servem como recursos narrativos a fim de ultrapassar os limites de compreensão
das formas sociais impostos pela linguagem pretendida referencial e instrumental do
jornalismo estritamente formal narrativo.
Nos três blogs analisados, vimos que o discurso é mais explícito, mais do que
um produtor de informação, o jornalista é um gestor: recorre a outros veículos,
incorpora, algumas vezes beirando o plágio, outros discursos ao seu discurso. A
interdiscursividade é inerente a tais blogs ela é a sua força, a sua diferença e isso se
através do recurso da personalização narrativa aliada ao potencial
conversacional presente na relação agora horizontalizada entre o blogger e o ‗leitor
imersivo‘. Noutras palavras concluindo:
Uma das características dos blogs é a personalização da informação. Aqui,
falamos em personalização no sentido de que a informação encontra-se
imbuída da persona de seu autor, daquele que a divulga. Esta
personalização é presente não apenas no conteúdo e na assinatura do
autor, mas também no formato gráfico (cores, formato do site, fontes etc.)
do blog, nos links colocados ali, na foto do autor, ou mesmo nos‘clicks.
Aquilo que é veiculado num blog não tem a pretensão de ser uma
informação neutra. Ao contrário, existe o pressuposto claro de que alguém
escreve e que a informação corresponde ao relato, à visão ou à opinião
deste alguém sobre o evento. São discursos pessoais. (RECUERO, 2003).
170
CONSIDERAÇÕES FINAIS
―Toda gente vive apressada, e sai-se no momento em
que se devia chegar‖ Marcel Proust
A análise do modelo de comunicação possibilitado pela rede mundial de
computadores nos permite defender a revitalização do projeto habermasiano de uma
esfera pública autônoma, edificada por meio da troca pública de opiniões,
alimentada por uma racionalidade comunicativa. Essa afirmação seria comprovada
pela análise empírica dos formatos midiáticos encontrados na Internet, cuja
categorização nos leva a verificar que a sociedade civil conta, agora, não apenas
com os Meios de Comunicação de Massa (MCM), mas, também, com Plataformas
Comunicativas Multimidiáticas Ciberespaciais (PCMC). As habilidades inerentes ao
meio digital (como sincronia, hipertextualidade, entre outras) propiciam o surgimento
de competências comunicativas que favorecem um processo de construção de
opinião, minimizando interferências.
Conquanto a observação analítica de alguns espaços de interlocução como
os blogs que são proporcionados pelas convergências tecnológicas anunciam a
possibilidade do surgimento de embrionárias esferas públicas ciberespaciais.
Elas constituem espaços de formação de opinião que se processam pela
troca de argumentos mediados pela comunicação em rede, ou comunicação
mediada por computador, como tende-se a denominar o fenômeno. Este papel,
outrora desempenhado pela imprensa em seus gêneros literário e opinativo,
passando, em uma perspectiva histórica, pelo aparato da indústria cultural, na
linguagem frankfurtiana, seguido pela mídia, tem agora mais uma plataforma de
materialização: a Internet e todos os canais midiáticos que tem nela seu suporte.
Nela tanto os jornais aparecem como formas modificadas de estímulo à esfera
pública, quanto fóruns totalmente novos cumprem este papel, permitindo que
usuários do mundo todo possam expressar suas opiniões. Aparecem, na rede, como
plataformas multimidiáticas, nas quais surgem possibilidades de debates públicos,
podendo evoluir para a formação de esferas públicas no ciberespaço.
Sintetizando, seria a idéia de que os novos meios de comunicação, não de
massa como a televisão, a rádio e os jornais, mas sim as Plataformas Comunicativas
Mulltimidiáticas Ciberespaciais (PCMC) proporcionam o aparecimento da esfera
171
pública porque retomam ―a troca pública de opiniões, alimentada por uma
racionalidade comunicativa‖ (BRITTES, 2003, p.2)
Com a internet, o cidadão passa a ser produtor e consumidor da informação e
podem mesmo chegar a recolher essa informação da própria fonte e entrar em
discussão de idéias com esta, como é feito nos blogs. Estas esferas públicas
espaciais são agora espaços que levam à troca de argumentos mediados pela
comunicação em rede. Estes novos fóruns cumprem o papel de esfera pública, pois
possibilitam na rede o debate público que favorece a formação da mesma.
Alguns teóricos em estudos acerca da possibilidade desta esfera surgir no
ciberespaço apresentam um conjunto de plataformas onde a argumentação e a
discussão podem surgir, que ―propiciam formas de interlocução favorecedoras da
argumentação pública‖. Concluindo que de fato o cidadão comum tem ao seu dispor
um meio que lhe permite tecer uma opinião pública com maior liberdade. Contudo,
vale reiterar que ainda um longo caminho a percorrer para que o ciberespaço
possa ser dado como um revitalizador da ‗utopia de Habermas quanto à existência
de uma esfera pública autônoma.
Assim vemos surgir com a possibilidade da rede, dois novos fenômenos: as
PCMC e as mutações no próprio jornalismo ou no modo de se fazer jornalismo. Este
meio proporciona ao jornalismo, caso este queira, uma vertente mais de diálogo, e a
prova disso é o surgimento do jornalismo colaborativo. Ora, é este novo jornalismo
associado a estas novas plataformas que vai favorecer ―a construção de opiniões
públicas sem constrangimento‖ e os blogs têm este potencial intrínseco a sua
própria gênese. É aqui que esta esfera pública autônoma de Jurgen Habermas pode
aparecer.
Importa dizer que ao longo dos tempos houve, pelo menos, dois grandes
momentos, de conceitos diferentes de esfera pública: o primeiro ligado à antiguidade
grega, estudado a fundo por Arendt, onde esta esfera aparece relacionada com a
virtude cívica e, precisamente com a recuperação do ideal que está contido no
espaço público grego; o segundo, está mais ligado com a modernidade e com as
perspectivas de Dewey e Habermas, onde a esfera pública aparece como uma
forma emergente de sociabilidade, que aspira ao agir político. Encontramos neste
ponto um domínio da vida social onde se pode formar a opinião pública. Uma
porção de esfera pública surge sempre que é constituída uma situação
conversacional, na qual se juntam pessoas privadas para formar um público‘.
172
À imagem do culo XVIII, este é o espaço onde os cidadãos se juntam
livremente e têm conversas de modo aberto sobre as questões de interesse público,
tal como faziam os capitalistas e burgueses conforme vimos anteriormente. Notamos
também que a dissolução da idéia de espaço público está relacionada com o
aparecimento da indústria midiática e com o surgimento da comunicação de massas,
onde ―o público leitor que prefigurava o público político confronta-se ao longo da
obra de Habermas (...) pois o raciocínio tende a converter-se em consumo e o
contexto da comunicação pública dissolve-se em atos estereotipados da recepção
isolada‖ (HABERMAS, 1982).
A massificação das idéias e da cultura trouxe supostamente consigo os
consumidores passivos e o abandono da opinião pública por parte da imprensa, que
foi transformada em instrumento de interesses particulares, essencialmente pelos
regimes totalitários que marcaram as cinco décadas iniciais do século XX em toda a
Europa. Na qual a imprensa era usada pelos regimes para propagar e difundir os
seus ideais, ao jeito de propaganda política, onde o público era encarado como uma
massa, sem qualquer possibilidade de resposta ou de argumentação.
Mas, nos finais do século XX, em toda a Europa, começam a surgir dentro
desta indústria midiático, novas formas de interação com o público, essencialmente
através das CMC, Comunicações Mediadas por Computador, que aparecem numa
―espécie de saudosismo daquilo que era a ágora grega ou o espaço público
burguês‖.
Os novos meios de comunicação, acima de tudo a Internet, alimentam a
chegada das comunidades virtuais (são o veículo por excelência para o discurso
livre e para o debate público, onde a noção de limitação geográfica foi ultrapassada,
pois a comunidade virtual é composta por indivíduos de interesses comuns,
normalmente assentes em laços estabelecidos à distância, sem qualquer
proximidade geográfica, que caracterizava os laços estabelecidos nas comunidades
ditas clássicas. As virtuais podem assumir agora um papel salvador da interação que
a cultura de massa dissolvera) e do webjornalismo.
No cerne do webjornalismo ou do chamado Jornalismo cidadão (3.0) está
depositada a esperança, pois o jornalismo que surge na Internet representa uma
cisão com a hierarquia que configura os meios de comunicação tradicionais e
permite a emergência de um modelo de muitos para muitos, deixando a
173
centralização do emissor de informação, e os blogs seriam ‗o meio mais nativo
originário neste contexto‘.
Mas vale salientar que democratizar a informação não é torná-la acessível,
mas também atraente, interessante, polissêmica. É tornar a informação não um
ponto de chegada, mas um ponto de partida para a abertura do debate e a
reconstituição da esfera pública. Quando o espaço dessa democratização é o
jornalismo político, o mérito é ainda maior: a política é um processo para a
efetivação das transformações sociais, mas algumas vezes é compreendida como
desinteressante, desprezível, entediante, banal. Resgatar a importância da política é
contribuir, em última instância, para reafirmar a importância da democracia.
Os blogs conseguem democratizar a informação política por meio da sua
linguagem, de sua técnica, de sua interatividade, por meio do trabalho desse
jornalista que gesta a informação com responsabilidade e conhecimento. Mas para
que essa democratização seja ainda mais eficaz, é necessário democratizar o
acesso à informação digital.
A possibilidade de reconstituir a esfera pública sempre esbarrará na questão
dos interesses. Ao lado de seu imenso potencial informativo, os blogs de notícias
ainda possuem um caráter diletante. Mas, como é característico da Indústria
Cultural, tudo que faz sucesso tende a ser convertido em mercadoria.
Nos blogs de notícias, o jornalista não tem medo de opinar como vimos. Aliás,
sua opinião é essencial ao leitor, não precisa de disfarces, de filtros. Ela não
representa um empecilho, um deslize ou uma falta, embora em alguns momentos
nas postagens vimos que ela ainda precise constituir um gênero estanque ao
informativo, mas notícia, interpretação e opinião se completam, mas relembrando as
raízes disso remontam historicamente ao fato de que o jornalismo utilizou a
separação dos gêneros para aparentar credibilidade, pois mesmo usual, tal
hibridismo dos gêneros era visto como uma falha técnica e ética muitas vezes grave.
Esse hibridismo talvez constitua o elemento mais forte para a constituição de
uma comunidade de leitores ou comunidade virtual, para a atuação dos blogs como
potencializadores de uma esfera pública. O fato e o comentário do fato, juntos, são
instigantes e se tornam mais atraentes porque não são apresentados a um receptor
que irá assisti-los, mas compartilhados com sujeitos que querem polemizar.
174
Desse modo, a blogosfera se auto-proclama ser um ambiente desvinculado
dos interesses ideológicos de uma empresa jornalística, dando a um jornalista a
possibilidade de elaborar suas próprias pautas e escrever sem preocupações com
leads e pirâmides invertidas, mas é claro que isso pode ser questionável na medida
em que tais blogs analisados nesta pesquisa estão vinculados a grandes
conglomerados midiáticos.
Isso tem ligação direta ao fato consumado de que recentemente todos os
portais e sites de jornais recorreram ao uso de blogs, essa ferramenta tão em voga
ultimamente. Mas um dado interessante é que percebemos que a tal suposta falta
de vínculo ideológico barra no fato de que os blogs hospedados em portais não
conversam efetivamente com outros blogs, uma vez que quase sempre apenas
linkam notícias publicadas no próprio portal que lhes oferece suporte, numa
tentativa de talvez não dispersar o leitor para longe do âmbito do portal que ainda
mede sua eficiência em termos de audiência, sendo isso que gera suas receitas, e
os blogs ai são apenas mais um produto oferecido dentro dos conteúdos destes
portais.
Não interagem efetivamente com a blogosfera, assemelhando-se mais a
colunas tradicionais meramente travestidas de blogs. Além disso, são tolhidos no
tema dos posts, muito vinculados aos valores - notícias da mídia tradicional. Ainda
ladeando sobre as diferenças entre blogueiros e colunistas de jornais, eis uma
diferença fundamental: nos blogs, a repercussão de um texto surge pouquíssimo
tempo após sua publicação, e vêm na forma de comentários e e-mails recebidos.
Blogueiros interagem com seus leitores, escrevem posts a partir dos feedbacks
recebidos, deixam comentários nos blogs daqueles que visitaram sua página. O
tempo de resposta de um colunista de jornal obviamente é muito mais pausado e
limitado pelas restrições impostas pelo veículo em que escreve. Sendo assim, os
blogs são frutos de uma sociedade proclamada pós-moderna na qual predomina a
idéia do ‗aqui e agora‘, que movimenta uma imensa máquina produtiva de
informação.
Por ser parte integrante da cibercultura, o blog, enquanto ferramenta
jornalística, com uma proposta de revolução pacífica busca transformar
paulatinamente a padronização da informação pelos veículos de comunicação de
massa tradicionais e se afirmar como uma alternativa de expansão das informações
175
diante destes impérios midiáticos na medida em que potencializam o caráter
conversacional e participativo do público ‗leitor‘.
Enfim, podemos concluir, portanto que as teorias da comunicação evidenciam
que as mudanças sócio-comunicacionais estão intimamente ligadas à evolução dos
suportes midiáticos, do contexto histórico e da relação intrínseca entre produção e
acesso à informação. É possível considerar que o desenvolvimento da Internet é
caracterizado por catalisar uma modificação substancial no que se refere à estrutura
e ação do campo midiático, principalmente no que diz respeito às práticas
jornalísticas. As possibilidades de interação, gerenciamento de recursos de outras
mídias e constituição de práticas narrativas adequadas a este espaço- informação
demonstram que não estamos vivenciando uma simples adaptação conjuntural, mas
sim transformações orientadas à compreensão da natureza e modus operandi do
ciberespaço e as mudanças no papel dos jornalistas.
Assim, a investigação das práticas jornalísticas que se convergem ao
ciberespaço leva, portanto, à discussão da materialidade das tecnologias da
comunicação, cujo uso habitual e dependência profissional transformam
constantemente o jornalismo. Cada nova alternativa de comunicação
computadores e telefones cada vez mais portáteis, redes mundiais de informação
com acesso fácil e direto, transmissões em tempo real de falas e imagens constitui
elemento vital no funcionamento e rotina jornalística, e sua incorporação como
instrumento do ofício tem conseqüências substantivas sobre o modo de produzir as
notícias, inclusive políticas. Para além da acessibilidade a uma gama nova e
diversificada de fontes de informação, por sua própria especificidade técnica, ou
seja, sua materialidade tecnológica, a Internet reconfigura as possibilidades e
expectativas da produção jornalística.
A estrutura da comunicação em rede que a caracteriza traz diferenças
fundamentais para cada elemento do processo comunicativo. Trata-se de emissão
dispersa e capilarizada, fundamentalmente não-hierárquica, em que emissores
alternativos e atores políticos marginais podem tentar produzir eventos noticiáveis,
procurando atrair a atenção do público, seja do especializado, como os jornalistas,
seja do curioso ou interessado. Seu uso como fonte torna a rede um novo campo de
disputa política; na internet, os recursos necessários para publicar são
significativamente menores que em qualquer outro meio de comunicação anterior,
com possibilidades inéditas de interação e participação.
176
Na busca em tentar responder aquela questão inicial, poderíamos dizer que
seria o novo em curso, mas maquiado pelo vínculo ainda transitório, uma
―maquiagem‖ continuum dégrade que gera interfaces de acréscimos sucessivos de
recursos e conseqüentes ressonâncias no formato de jornalismo consolidado, afinal
a Internet tem apenas treze anos de lançamento comercial.
Contudo, não se faz aqui uma panacéia desvairada em defesa dos blogs, pois
não se trata de uma escolha entre ser otimista utópico ou ludista realista no que
tange as novas tecnologias da comunicação, mas o importante é enaltecer que
transformações estão em curso, e alguns estudos de caso, contribuem para tirar a
discussão da projeção aparente de previsões analíticas que não estão baseadas na
análise exploratória do real. Tentamos aqui aliar tais discussões a análise
representativa num cenário micro de três blogs dentro de um universo múltiplo e
plural que é a blogosfera.
177
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190
ANEXOS
CORPUS DA PESQUISA
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BLOG JOSIAS DE SOUZA
21/07/2007
Os verdadeiros culpados são os passageiros da TAM
Joel Silva/Folha
Parentes e amigos das vítimas da tragédia choram
num protesto em Congonhas
Os passageiros do vôo 3054 cometeram vários crimes que
justificam sua responsabilização sumária. O primeiro foi o
de existir. Não satisfeitos, existiram em número
expressivo: 187. Num flagrante desafio à ordem,
compraram bilhetes sem perguntar se os reversos do
avião estavam em ordem. Pior: aterrissaram em
Congonhas, sob chuva, numa pista sem ranhuras.
Finalmente, abandonando qualquer tipo de escrúpulo,
tornaram-se vítimas. Um acinte.
Tenta-se agora, veja você, acomodar nos ombros do
governo e da TAM a culpa pelos crimes dos passageiros.
Coisa inaceitável. O Estado e a empresa têm do seu lado
a lei. Estão protegidos pela ―Lei de Murphy‖. Todo mundo
já ouviu falar da ―Lei de Murphy‖. Mas pouca gente
conhece sua origem. Foi descrita nas páginas de ''A
Vingança da Tecnologia'', livro do norte-americano Edward
Tenner (Editora Campus). Informa o seguinte:
O capitão Edward Murphy, da Força Aérea dos EUA,
acompanhava, com vivo interesse, os experimentos de
seu chefe, o major John Paul Stapp. Cobaia de testes de
resistência a grandes acelerações, Stapp desafiava a
velocidade num trenó-foguete. Em 1949, bateu o recorde
de aceleração. Mas não pôde comemorar o feito. Os
acelerômetros do veículo não funcionaram.
Engenheiro, Murphy foi investigar o que dera errado.
Descobriu que um técnico ligara os circuitos dos aparelhos
ao contrário. E concluiu: ''Se há mais de uma forma de
fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em
desastre, então alguém fará o trabalho desta forma''.
Depois, em entrevista, o major Stapp referiu-se à frase do
ajudante como ''Lei de Murphy''. Resumiu-a assim: ''Se
alguma coisa pode dar errado, dará''. A ''Lei de Murphy''
foi injetada no folclore da tecnologia. Hoje, aplica-se a
todas as situações. Inclusive ao infortúnio aéreo do Brasil.
Apresentado ao aerocaos dez meses atrás, o governo
tinha duas formas de gerir a encrenca. A mais banal seria
assumir a tarefa de governar, adotando providências.
Preferiu a tortuosa alternativa de empurrar os problemas
com a barriga. Em Congonhas, entregou tardiamente uma
pista inacabada, sem ranhuras. Diz-se agora que o
grooving, nome técnico das fendas que facilitam a
drenagem da pista, não é essencial. Simultaneamente,
informa-se que serão apressadas as obras de abertura
das frinchas no asfalto. É Murphy levado às últimas
conseqüências.
Três dias antes da tragédia, a TAM detectara um defeito
no reverso da turbina direita de seu Airbus. De novo, havia
dois caminhos. O banal: recolher o avião ao hangar e
reparar a avaria. O tortuoso: barrigar o conserto,
mantendo o avião nos ares. Optou-se pela barriga.
Informa-se agora que o reverso não é lá tão relevante na
operação de frenagem. Fica-se sem entender porque o
fabricante perde tempo incorporando nos aviões uma
geringonça de tamanha inutilidade. Só Murphy explica.
Como se vê, tudo está perfeitamente claro. Mas os
parentes das vítimas cobram explicações adicionais. E
exigem pressa. Uma evidência de que a índole criminosa
é fenômeno genético. A pressão é adensada pelo ânimo
acalorado de toda sociedade. Buscam-se nas caixas
pretas do avião novas revelações. Novidades capazes de
pôr em xeque as boas intenções públicas e privadas,
as melhores frases (Marta ―Relaxa e Goza‖ Suplicy) e os
gestos mais espontâneos (Marco Aurélio ―Top-top
Garcia). Esse ímpeto subversivo é um inaceitável desafio
à lógica da Lei de Murphy.
Escrito por Josias de Souza às 19h24
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Manuais da TAM aconselham pilotos a usar reverso
Em seus documentos internos, a TAM recomenda a
pilotos e co-pilotos o uso do reverso ou reversor- das
turbinas nos pousos de aviões a jato, inclusive o Airbus
A320, modelo da tragédia de Congonhas. A
192
recomendação consta do manual de treinamento de
pilotos e co-pilotos da companhia.
A informação foi confirmada ao blog por um pilto da TAM,
sob a condição do anonimato. Segundo contou, o
documento aconselha, no caso do Airbus, o uso do
reverso em todos os pousos.
O Airbus do acidente que vitimou pelo menos 197 pessoas
encontrava-se com o reverso da turbina direita defeituoso.
A TAM soube do defeito três dias antes do acidente. A
despeito disso, manteve a aeronave em operação. A
companhia argumentou que o fabricante autoriza o uso do
avião sem reverso por até dez dias, antes do reparo.
O piloto que conversou com o blog afirmou que os
reversos são equipamentos auxiliares na operação de
frenagem do avião. Antes do pouso, as turbinas jogam o
ar para a trás. Uma vez acionados os reversos, o ar da
turbina passa a ser liberado para a frente, auxiliando na
redução da velocidade.
Segundo o piloto, pode-se, de fato, pousar um avião sem
o uso do reverso. Disse que não tem condições de afirmar
que o defeito no Airbus foi o causador do acidente.
Esclareceu que acidentes costumam ser provocados por
uma confluência de fatores. Mas declarou não ter dúvidas
de que, se estivesse em perfeitas condições, o
reverso teria sido essencial para ajudar a frear o avião,
sobretudo na condição em que se encontravam o avião
(lotado) e a pista de Congonhas (molhada).
A velocidade atípica que o Airbus do acidente desenvolvia
no instante em percorreu a pista de Congonhas é um dos
mistérios que a Aeronáutica tenta decifrar na investigação
que realiza desde o início da semana. Espera-se que os
dados que serão extraídos das duas caixas pretas do
avião ajudem a explicar o problema. Neste sábado,
descobriu-se que um dos equipamentos enviados para os
EUA não era a caixa preta. O equívoco foi sanado com a
localização da caixa autêntica.
A utilização do do reverso é mencionada também em
textos do sítio TAM vitual. Organizado a pretexto
de "homenagear" a empresa na internet, divulga
informações acerca de simuladores de vôo. Num dos
textos expostos no sítio, -Pousando Aeronaves a Jato-
, anotou-se: Imediatamente após o toque das rodas
principais, o reverso dos motores deve ser armado e a
roda do nariz levada ao solo, num movimento suave mas
contínuo, quando, então, é aplicada a tração reversa. O
máximo efeito de desaceleração do reverso é obtido
enquanto o avião se encontra com velocidade alta‖.
Escrito por Josias de Souza às 18h44
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As manchetes deste sábado
- Folha: Governo limita uso de Congonhas
- Estadão: S. Paulo terá 3º aeroporto e Congonhas,
menos vôos
- Globo: Após dez meses, sai pacote para a segurança
aérea
- Correio: Lula, enfim, promete desafogar congonhas
- Valor: Presidente anuncia hoje pacote para o setor aéreo
- Jornal do Commercio: Morre ACM
Leia os destaques de capa dos principais jornais.
Escrito por Josias de Souza às 09h28
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Sem grooving!
193
Jean
Escrito por Josias de Souza às 09h23
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20/07/2007
Pronunciamento de Lula na TV é admissão da inércia
Ricardo Stuckert/PR
Com 72 horas de atraso, Lula falou sobre a tragédia de
Congonhas. Deu-se, como anunciado na véspera, em
rede nacional de TV e rádio. Fez o discurso possível.
Solidarizou-se com os familiares das cerca de 200 vítimas
e prometeu rigor na apuração das causas do acidente. No
campo técnico, a fala do presidente soou como um
reconhecimento da inércia de seu governo.
Lula reconheceu o óbvio: ―Nosso sistema aéreo, apesar
dos investimentos que fizemos na expansão e na
modernização de quase todos os aeroportos brasileiros,
passa por dificuldades. E seu maior problema hoje é a
excessiva concentração de vôos em Congonhas". Em
seguida, referiu-se às providências adotas por um governo
acuado pelas circunstâncias.
Mencionou cinco medidas, detalhadas a toque de caixa.
Disse que se destinam a "diminuir os riscos de novas
tragédias". Deixou no ar uma pergunta incômoda: por que
só agora, depois da ocorrência da maior tragédia aérea do
país? Todas as providências mencionadas por Lula eram
reclamadas por especialistas do setor. Nenhuma
autoridade do governo as ignorava. No entanto, a gestão
Lula demorava-se em adotá-las. Até o momento em que
teve de fazer por pressão o que não fizera por obrigação.
O presidente age com o pragmatismo que lhe é peculiar.
Mercê das informações que recebeu da Aeronáutica,
aposta que as caixas pretas do avião da TAM não contêm
informações capazes de deixar mal o governo. Ainda
assim, sabe que, enquanto não for capaz de responder
convenientemente ao caos aéreo, será visto como
cúmplice de qualquer encrenca que venha a impor
prejuízos aos usuários de avião.
O novo desastre parece ter arrancado o governo de sua
inexplicável inércia. As providências adotadas nesta sexta-
feira (20), embora necessárias, são insuficientes para
pacificar o setor. Não foi sem razão que Lula prometeu
―outras providências‖ para os ―próximos dias‖. Ele disse:
―Tenho certeza de que o nosso sistema aéreo voltará a se
adequar às necessidades do país‖. Quando? Deus sabe.
Escrito por Josias de Souza às 20h41
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Aeronáutica condecora dirigentes da ineficaz ANAC
Nunca na história desse país a administração pública foi
tão democrática e igualitária. Os (muitos) servidores
medíocres têm o mesmo reconhecimento dos
(pouquíssimos) funcionários talentosos. Vem daí que,
nesta sexta-feira (20), a Aeronáutica condecorou com a
medalha ―Mérito Santos Dumont‖ quatro dirigentes da
inservível ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Mercê dos ―destacados serviços‖ prestados à aviação,
foram agraciados, por exemplo, Milton Zuanazzi e Denise
Abreu, respectivamente presidente e vice-presidente da
ANAC. Coube ao vice-presidente José Alencar espetar a
medalha no torso da dupla.
Ouviu-se durante a cerimônia um barulhinho incômodo.
Era Santos Dumont revirando no túmulo. São
desconhecidos da sociedade os serviços prestados à
aviação por Zuanazzi e Denise. Aliás, desconhece-se a
utilidade da própria ANAC. Vão abaixo, por oportunas,
duas notas veiculadas na coluna de Mônica Bergamo
(assinantes da Folha):
- EXPERTISE: Dos quatro diretores da Anac, apenas um,
Jorge Velozo, é do setor. Aviador, ele é especialista em
segurança de vôo.
194
- EXPERTISE 2 : O presidente da Anac, Milton Zuanazzi,
diz em seu currículo que é "pós-graduado em sociologia,
com ênfase em análise política", tendo sido "vereador de
Porto Alegre" e assessor de Walfrido dos Mares Guia no
Ministério do Turismo. A advogada Denise Abreu
trabalhou com José Dirceu na Casa Civil, foi "chefe de
gabinete da Secretaria de Saúde" de SP e "da Febem".
Leur Lomanto "foi deputado federal por sete mandatos
consecutivos", além de assessor parlamentar da Infraero.
Josef Barat é economista.
Escrito por Josias de Souza às 17h01
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Junto com ACM, morreu nesta sexta o „carlismo‟
Lula Marques/Folha
Morreu nesta sexta-feira (20), 79, Antonio Carlos
Magalhães. ACM, uma logomarca política erigida sob o
regime militar, leva para a sepultura uma frustração: não
logrou, como desejava, passar o bastão do ―carlismo‖ a
um herdeiro. Maduro para assumir o legado, o filho Luís
Eduardo Magalhães morreu antes dele, em 1998. Tinha
43 anos. Esboçava um primeiro vôo presidencial.
―O Luís Eduardo tinha todas as minhas virtudes e nenhum
dos meus defeitos‖, gostava de dizer ACM. Tinha razão.
Dono de um temperamento mercurial, ACM era o curto-
circuito. Luiz Eduardo, o fusível. A morte do filho
mergulhou o senador numa atmosfera de choque da qual
não conseguiria mais se livrar.
Na Bahia, o ex-PFL, hoje rebatizado de DEM, será
comandado pelo ex-governador Paulo Souto. Ele
ascendeu ao Palácio de Ondina, por duas vezes, sob o
guarda-chuva do carlismo. Mas manteve com o chefe do
clã um relacionamento altivo. Evitou a vassalagem
cultivada pelos demais integrantes do feudo.
Desde que foi desbancado pelo petista Jaques Wagner,
nas eleições de 2006, Souto travava com ACM uma
queda-de-braço pelo controle do partido no Estado.
Levava a melhor. Desgostoso, ACM revelara a Jarbas
Vasconcelos (PMDB-PE), há coisa de dois meses, o
desejo de fundar um novo partido.
Dono de um histórico cardíaco complicado, a saúde de
ACM começou a claudicar de maneira mais acentuada em
março deste ano. Depois de um vai-e-vem de internações
e altas hospitalares, foi novamente à maca em 13 de
junho. Nas últimas semanas, submetia-se a sessões
diárias de hemodiálise. Derrubou-o um quadro infeccioso
que produziu uma falência múltipla de órgãos.
Entre uma e outra internação, ACM esboçou um
movimento de reaproximação com Lula, a quem chamava
de ―ladrão‖ dia sim e outro também. O presidente o visitara
no hospital. E ACM foi tomado de gratidão. Em 2003, José
Dirceu tentara aproximar o recém-empossado governo
Lula de ACM. Mas o senador já não dispunha de poderes
suficientes para mudar a rota oposicionista do seu PFL.
ACM perdera a condição de referência da tribo pefelê no
ocaso do governo FHC. Passara a referir-se ao presidente
tucano como ―um frouxo‖. Algo que desgostou o seu
próprio partido. Abespinhara-se com o tucanato quando o
governo decretou a intervenção no Banco Econômico, do
amigo Ângelo Calmon de Sá.
Posteriormente, quando o governo FHC enfrentava uma
quadra complicada no Congresso, protagonizou um
episódio sem volta. Senadores sapateavam sobre o
escândalo Marka-FonteCindam. Uma CPI ameaçava
convocar o ministro da Pedro Malan (Fazenda). FHC
pediu socorro ao PFL. Seguiu-se um diálogo enviesado
com ACM, congelado em anotações feitas na agenda de
uma testemunha:
"Preciso que vocês me ajudem nisso", iniciou FHC. "Tudo
bem, mas você também precisa se ajudar", devolveu
ACM. "Como assim?" "O seu estilo já não funciona, está
superado. É preciso mais ação." "Com esse meu estilo
ganhei duas eleições." "O Getúlio ganhou três e terminou
dando um tiro no peito." "Não tenho o seu jeito. Não sou
brigão. Nem por isso fujo da responsabilidade. Combati a
Oban em São Paulo, colocaram um capuz na minha
cabeça..." "Isso não me impressiona. Nessa época eu
estava dando tapa em general", encerrou ACM, desde
então, em permanente curto-circuito.
Escrito por Josias de Souza às 16h01
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195
As manchetes desta sexta
- Folha: Avião da TAM tinha falha na frenagem
- Estadão: Falha no freio vira principal hipótese para
queda do avião
- Globo: Governo discute aliviar Congonhas e reduzir
burocracia do setor aéreo
- Correio: Avião da TAM voava com defeito grave
- Valor: Presidente anuncia hoje pacote para o setor aéreo
- Jornal do Commercio: Avião voava com defeito
mecânico
Leia os destaques de capa dos principais jornais.
Escrito por Josias de Souza às 03h01
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(Ul)traje a rigor!
Angeli
Escrito por Josias de Souza às 02h43
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Renan se nega a convocar reunião sobre tragédia
Roosewelt Pinheiro/ABr
Menos de 24 horas depois de sinalizar concordância com
a idéia de convocar a comissão representativa do
Congresso para discutir o desastre com o Airbus da Tam,
Renan Calheiros (PMDB-AL), deu meia volta. Mandou à
gaveta o pedido formulado pelo PPS, com o apoio do
PSDB.
―Ele [Renan] optou por mergulhar o Congresso na inércia‖,
disse Raul Jungmann (PPS-PE), signatário do
requerimento. Desejava-se convocar autoridades como o
ministro Waldir Pires (Defesa) e o brigadeiro Juniti Saito,
comandante da Aeronáutica, para dar explicações, em 48
horas, sobre a tragédia de Congonhas.
Prevista na Constituição, a comissão representativa, como
o nome indica, tem a atribuição de representar o
Congresso durante os períodos de recesso parlamentar.
Integram-na oito senadores e 17 deputados. A lista inclui
Renan, presidente do Senado, e Arlindo Chinaglia (PT-
SP), presidente da Câmara.
Antes de apresentar o requerimento pedindo que os
plantonistas do Congresso fossem chamados a Brasília,
Jungmann telefonara para Renan, que prometera discutir
a iniciativa com sua assessoria. Na quarta-feira (18), uma
assessora do senador informara ao deputado que Renan
concordara com a idéia. Veio a quinta-feira (19). E Renan
não convocou a comissão.
Na noite de quarta e durante toda a quinta, Jungmann
telefonou incontáveis vezes para Renan. Não foi atendido.
Pediu a líderes partidários que ligassem para Renan. Aos
líderes que o procuraram, o presidente do Congresso
atendeu prontamente.
Sinalizou, porem, que não estava convencido de que
deveria convocar a tal comissão representativa. A
Jungmann restou espernear. O deputado protestou por
meio de uma nota, levada ao sítio do PPS. Num instante
em que busca o apoio de Lula para livrar-se do
Renangate, o senador parece ter preferido afagar o
Planalto a envolver formalmente o Congresso no debate
sobre o maior desastre aéreo do país.
Escrito por Josias de Souza às 01h53
196
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Assessor festeja falha no avião com gesto obsceno
Montagem das cenas captadas por Rafael Sobrinho na
noite de quinta-feira (10)
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais,
Marco Aurélio Garcia, assistiu no televisor de seu gabinete
à reportagem sobre o defeito no reverso da turbina direita
do Airbus da TAM. Ficou eufórico. Traduziu a
excitação em gestos: mão direita espalmada, desferiu
tapinhas sobre o topo da mão esquerda, fechada de modo
a compor um círculo com o indicador e o polegar.
Ao lado de Garcia, o assessor de imprensa do Planalto,
Bruno Gaspar, também não se conteve. Executou
movimentos que, embora distintos, conduzem ao mesmo
significado obsceno: levou os dois braços à frente e, com
as mãos cerradas, puxou os contovelos contra a cintura,
adiantando levemente a pelve.
Para azar da dupla, a janela do gabinete de Garcia
encontrava-se com as cortinas abertas. E o cinegrafista
Rafael Sobrinho, postado do lado de fora do prédio do
Planalto, filmou a cena (assista). Ouvido na seqüência,
Garcia disse que as imagens, ―tomadas de forma
clandestina‖, não refletem uma comemoração, mas a
―indignação frente a uma determinada versão que se quis
passar à opinião pública atribuindo ao governo a
responsabilidade por um acontecimento dramático‖.
Então, tá!
Na véspera, por ordem expressa do Palácio do Planalto, a
Infraero havia liberado o vídeo com as imagens que
mostraram ao país a velocidade excessiva com que o
Airbus da TAM cruzou a curta pista de pouso de
Congonhas. Depois de lidar com o caos aéreo com uma
inércia de dez meses, o governo age com rapidez inaudita
para afastar das cercanias do Planalto os cerca de 200
corpos produzidos pela maior tragédia da aviação
brasileira.
Escrito por Josias de Souza às 00h59
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19/07/2007
Avião da tragédia tinha um „rerverso‟ danificado
Antônio Gaudério/Folha
O reverso da turbina direita do Airbus da TAM,
equipamento que auxilia na frenagem do avião durante o
pouso, encontrava-se desativado no instante do acidente
que produziu cerca de 200 cadáveres. A empresa aérea
detectou o defeito quatro dias antes da tragédia. Ainda
assim, manteve a aeronave em operação.
A novidade hedionda, veiculada no Jornal Nacional desta
noite, foi confirmada pela própria companhia. Ruy Amparo,
vice-presidente Técnico da TAM, admitiu em entrevista
que o defeito no reverso fora detectado na última sexta-
feira (13). Antes, portanto, do desastre que consternou o
país na terça (17).
De acordo com o executivo da versão da TAM, o manual
do Airbus permite que o avião voe sem o reverso por dez
dias, ―em qualquer condição de pista‖. E não há riscos?
Não, ―exceto em pistas muito contaminadas‖, corrigiu-se
Rui Amparo. O que seria uma ―pista contaminada‖?,
perguntou-se ao vice-presidente da TAM. E ele: ―Debaixo
de chuvas muito fortes.‖
No instante do pouso fatídico, chovia em São Paulo.
Chuva amena, mas chuva. Para a TAM, nada que
pudesse afetar a operação de seu avião defeituoso. Será?
De concreto, tem-se que as imagens captadas pelo
circuito de câmeras de Congonhas exibem um Airbus em
velocidade acima do razoável.
Para complicar, a pista de Congonhas, recém-reformada,
encontra-se sem o grooving, as ranhuras que facilitam a
drenagem. As autoridades aeronáuticas asseguram que a
ausência das fendas no asfalto não interfere nos pousos.
E se o avião estiver sem um dos reversos, como no caso
em questão? Pelo sim, pelo não, Lula anuncia nesta
sexta-feira (20) um pacote de providências para tornar
Congonhas um aeroporto mais seguro.
Descobriu-se também que, na véspera do acidente, o
mesmo Airbus que se espatifou num prédio assentado na
vizinhança do aeroporto tivera dificuldades para pousar
em Congonhas. Em contato com a torre de controle, o
piloto queixara-se da pista escorradia.
Era só o que faltava: à incompetência do governo, que,
em meio a um caos aéreo que se arrasta por dez
meses, libera uma pista inacabada para o uso, veio
somar-se a irresponsabilidade de uma companhia aérea
que não se incomoda de acomodar 186 passageiros no
197
interior de um avião desprovido de reverso. Quem poderia
assegurar que São Pedro não despejaria sobre
Congonhas as ―chuvas muitos fortes‖ que, segundo
reconhece o vice-presidente da TAM, sujeitariam o pouso
a riscos?
Sob o impacto das novidades, a TAM levou à sua página
na internet uma ―nota de esclarecimento‖. No texto, reitera
que a desativação de um dos reversos ―não configura
qualquer obstáculo ao pouso da aeronave‖. Anota, de
resto, que a ―informação‖ fora ―confirmada‖ na véspera,
em entrevista coletiva do presidente da empresa, Marco
Antonio Bologna, e do próprio vice-presidente Ruy
Amparo. Não é bem assim.
Durante a entrevista, um repórter rememorou o acidente
com um Fokker-100 da TAM, em 1996 (99 mortos). Foi
provocado por um defeito no reverso de uma das turbinas.
E quanto aos reversos do Airbus, estavam em ordem?,
perguntou-se. Os gestores da companhia limitaram-se a
dizer que a nova tragédia não fora provocada pelo
reverso. Nada foi dito acerca do defeito detectado quatro
dias antes.
Você tem algo a dizer à TAM. Pressione aqui para falar
com o presidente da companhia.
Escrito por Josias de Souza às 22h42
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Lula decide falar sobre tragédia em rede nacional
Presidente anunciará pacote de medidas
para Congonhas
Sérgio Lima/Folha
Lula decidiu quebrar o silêncio. Encomendou à sua
assessoria a convocação de uma rede nacional de rádio e
TV. Falará ao país na noite desta sexta-feira (20). Será a
sua primeira manifestação pública sobre a tragédia com o
Airbus da TAM, o maior acidente aéreo da história da
aviação brasileira.
Afora as inevitáveis condolências às famílias dos mortos,
que podem ultrapassar a casa das duas centenas, o
presidente anunciará um conjunto de providências para
reforçar a segurança de Congonhas, palco da tragédia e
aeroporto mais movimentado do país. A principal medida
será a redução do número de vôos, providência reclamada
pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB-SP).
O presidente fora aconselhado a falar no dia do desastre.
Optou pelo silêncio porque considerou necessário obter
informações mínimas sobre as causas da tragédia. Sentiu-
se mais confortável para fazer o pronunciamento depois
que a Aeronáutica lhe informou que são mínimas as
chances de que o infortúnio tenha relação cm as más
condições da pista de pouso de Congonhas.
Na manhã desta quinta-feira (19), com os ministros que
compõem a coordenação de governo, Lula disse que, para
pôr a cara na TV, precisava anunciar medidas práticas.
Foi informado, então, de que havia uma reunião prevista
do Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil), órgão que
assessora o Ministério da Defesa.
Lula ordenou que o Conac se reunisse nesta sexta. E a
cúpula do governo pôs-se a detalhar as providências que
o presidente anunciará ao país em seu pronunciamento.
Neste momento, o próprio presidente encontra-se reunido,
no Planalto, com alguns dos ministros que têm assento no
Conac.
O conselho é presidido pelo indefeso ministro da Defesa,
Waldir Pires, cuja cabeça voltou a ficar a prêmio. É
integrado também pelos ministros Celso Amorim
(Relações Exteriores), Guido 'Prosperidade' Mantega
(Fazenda), Marta ‗Relaxa e Goza‘ Suplicy (Turismo),
Miguel Jorge (Indústria e Comércio) e Dilma Rousseff
(Casa Civil), além do comandante da Aeronáutica,
brigadeiro Juniti Saito.
Um auxiliar de Lula explicou ao blog que todas as medidas
que serão anunciadas amanhã têm o objetivo de imprimir
ao aeroporto de Congonhas uma gestão ―mais
conservadora‖. Em todos os casos em que houver dúvidas
que possam comprometer a segurança, o governo optará
pela alternativa que ofereça mais segurança aos
passageiros.
Trata-se de uma linha oposta à que vinha sendo adotada
até aqui. Pressionado pelas companhias aéreas, o
governo autorizara o aumento do fluxo de aviões em
Congonhas. Na reforma do aeroporto, priorizara o
mármore e as lojinhas do terminal em detrimento da pista
de pouso.
198
De resto, ao lado de aviões apinhados de passageiros
atemorizados, há no ar uma dúvida incômoda: por que o
governo esperou por mais uma tragédia para agir?
Escrito por Josias de Souza às 18h37
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CPI aérea da Câmara adota o estilo „barata tonta‟
Leonardo Wen/Folha
Perito inspeciona o local do acidente à procura de
explicações para a tragédia
Nascida de um parto realizado pelo STF, a golpes de
fórceps, a CPI do aerocaos da Câmara tornou-se um
teatro de marionetes a serviço dos interesses do Planalto.
Súbito, a comissão decidiu mover-se por conta própria. E,
ao fazê-lo, passou a comportar-se como barata tonta.
Nesta sexta-feira (2), a CPI realiza, no ermo de um
Congresso em recesso, uma reunião de emergência.
Deve aprovar o envio de uma comitiva de deputados pra
acompanhar, nos EUA, a transcrição das duas caixas
pretas do Airbus da TAM. A providência, por inócua,
produzirá um único e nefasto resultado: o desperdício de
dinheiro público.
Em reunião com Lula, o comandante da Aeronáutica,
Juniti Saito, informou ao presidente que os diálogos
travados no cabine do avião e os dados sobre as
condições dos instrumentos de vôo estarão no Brasil na
próxima semana. Devem começar a ser analisados na
próxima quarta-feira (25). Essas informações são
essenciais para a investigação das causas do acidente.
Embora nada tenha sido informado acerca do conteúdo da
conversa de Saito com Lula, sabe-se que o governo
considera improvável que a desgraça tenha sido causada
por defeitos na pista de pouso de Congonhas. Uma linha
que foi reforçada pelas imagens que mostraram que o
avião, ao pousar, desenvolvia uma velocidade acima do
normal.
Em entrevista, o presidente da Infraero, brigadeiro Jo
Carlos Pereira, disse que o avião ―tocou a pista na
velocidade correta e no ponto certo‖. Depois,
curiosamente, não desacelerou. "É evidente que houve
alguma coisa que fez com que ele não desacelerasse. É
um acidente complexo, daquele tipo que só pode ser
esclarecido com a caixa-preta", disse ele.
"Após o pouso‖, completou o presidente da Infraero,
―alguma coisa aconteceu e isso é que é preciso
esclarecer, porque o avião acelerou novamente... o avião
não acelera por milagre... acelera porque o piloto
empurrou a potência do motor do avião. Por quê? Porque
ele precisava arremeter? Só a caixa-preta vai dizer". Vem
daí que, a despeito da aposta, os investigadores ainda
não descartaram a hipótese de que as condições da pista
tenham influído no comportamento atípico do piloto.
Seja como for, a tragédia arrancou o governo de sua
apatia. Dicidiu-se, por exemplo, adotar medidas para
desafogar o tráfego aéreo de Congonhas. As providências
serão discutidas em reunião do Conac (Conselho de
Aviação Civil), convocada para esta sexta-feira (20). Trata-
se de um órgão auxiliar ao Ministério da Defesa. Sob Lula,
reuniu-se escassas duas vezes.
Simultaneamente, a Justiça Federal de São Paulo
começou a analisar a ação do Ministério Público que pede
o fechamento de Congonhas até o término das
investigações. O juiz Clécio Braschi decidiu intimar a
Infraero e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a
prestar esclarecimentos. Só depois decidirá se concede
ou não a liminar pedida pela Procuradoria da República.
Escrito por Josias de Souza às 17h06
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Sob chantagem, governo abre o cofre das emendas
Enquanto o Brasil chora os corpos da última tragédia
aérea, congressistas associados ao consórcio governista
ensaiam um sorriso maroto. Num instante em que o
governo raspa o cofre e não encontra dinheiro para
investimentos essenciais, o Planalto se prepara para
liberar R$ 2,5 bilhões para cobrir despesas injetadas no
Orçamento da União por meio de emendas de
parlamentares.
Onze em cada dez escândalos que freqüentam o noticiário
têm atrás de si as famigeradas emendas. São
apresentadas sob o pretexto de financiar obras de
interesse social nos fundões do país. Lorota. Destinam-se,
em sua grossa maioria, a alimentar a engrenagem
corrupta que injeta verbas públicas em bolsos privados
199
de empresários desonestos e dos próprios autores das
emendas.
Deve-se ao repórter Fábio Zanini a revelação de que o
Planalto volta a ceder à pré$$ao dos ―aliados‖ sob
chantagem. Partidos como o PMDB e os mensaleiros PP,
PR e PTB ameaçam negar a Lula a aprovação de dois
projetos considerados essenciais: a renovação da CPMF e
da DRU (Desvinculação das Receitas da União).
Na avaliação do governo, informa Zanini (assinantes da
Folha), se a CPMF e a DRU fossem a voto hoje, seriam
derrotadas. Por isso, o Planalto prepara já para a próxima
semana, em pleno recesso legislativo, a liberação de R$
540 milhões em emendas de congressistas. O resto deve
sair entre agosto e outubro. O Brasil, como se vê, não
retira de seus erros nenhum tipo de ensinamento.
Escrito por Josias de Souza às 15h39
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As manchetes desta quinta
- Folha: Mortes de tragédia chegam a 192; Infraero cogita
falha mecânica
- Estadão: 181 corpos retirados; MP pede fechamento de
Congonhas
- Globo: Infraero, Anac, Decea, Cindacta, FAB... e não se
sabe o que houve
- Correio: Em busca dos culpados
- Valor: Tragédia de Congonhas tira fôlego do setor aéreo
- Jornal do Commercio: Vídeo mostra avião acelerado
demais
Leia os destaques de capa dos principais jornais.
Escrito por Josias de Souza às 03h22
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Jogo$!
Glauco
Escrito por Josias de Souza às 02h55
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Apagão fraseológico!
Visite o sítio Charges.com.
Escrito por Josias de Souza às 01h31
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Governo estuda atrair verba privada para setor aéreo
Glauco
No rastro da tragédia de Congonhas, o governo decidiu
elaborar um plano de atração de investimentos privados
para o setor aéreo. A pedido de Lula, os estudos serão
feitos pelo Ministério do Planejamento. Parte-se de uma
conclusão óbvia: o Estado não dispõe de dinheiro
suficiente para dotar o país de uma infra-estrutura
aeroportuária compatível com o crescimento da aviação
civil.
Há no Brasil 67 aeroportos, dos quais pelo menos 20,
considerados de médio ou de grande porte, padecem de
falta de investimento. Um assessor de Lula informou ao
blog que, pelas contas iniciais, o governo se deu conta de
que precisa gastar algo como R$ 12 bilhões até 2010.
Desse total, só há à disposição cerca de R$ 5,5 bilhões
R$ 2,5 bilhões em recursos próprios da Infraero e R$ 3
200
bilhões previstos no orçamento do PAC (Plano de
Aceleração do Crescimento). Daí a decisão de realizar
estudos sobre a conveniência de buscar na iniciativa
privada o dinheiro que escasseia nos cofres do Estado.
São duas as principais alternativas sob análise: a
transferência da administração de aeroportos, mediante
concessão pública, a empresas privadas que se
disponham a investir no setor; e a abertura do capital da
Infraero. Ações da estatal seriam postas à venda na Bolsa
de Valores de São Paulo. Discute-se também a hipótese
de abrir linhas de crédito do BNDES às empresas
interessadas em investir no setor aéreo.
Embora tenha autorizado a elaboração do plano, Lula não
se deixou claro, por ora, se vai ou não adotá-lo. Em
privado, o presidente diz apenas que, em condições
ideais, preferiria manter o setor aéreo como está, sob
responsabilidade integral do Estado. Acha, porém, que,
em meio à crise, seria uma irresponsabilidade deixar de
considerar todas as alternativas.
No Planalto, informa-se que o estudo deve ficar pronto
em, no máximo, dois meses. Quando as análises
aterrissarem sobre sua mesa, Lula deseja realizar um
amplo debate interno, envolvendo todos os setores do
governo que têm relação com o setor aéreo, sobretudo a
Aeronáutica.
Se o plano vier a ser implementado, significará uma
reviravolta no discurso que Lula vem ostentando até aqui.
Na campanha eleitoral de 2006, o petista esgrimiu nos
palanques reeleitorais um discurso de timbre antiprivatista.
Foi a forma que encontrou para se contrapor ao
adversário tucano Geraldo Alckmin.
Escrito por Josias de Souza às 00h49
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18/07/2007
Investigação da nova tragédia vai demorar dez meses
Rogério Cassimiro/Folha
O governo estima que a investigação que apura as causas
da tragédia com o Airbus da TAM deve durar cerca de dez
meses. Ou seja, não será concluída antes de maio de
2008. As duas caixas pretas do avião, já encontradas,
encontram-se avariadas. Na próxima segunda-feira (23),
serão abertas em Washington (EUA), na agência de
segurança de vôo norte-americana
Uma das caixas pretas contém o áudio da cabine. A outra
registra os dados dos aparelhos de bordo no instante do
acidente. De acordo com o cronograma estipulado pela
Aeronáutica, as informações disponíveis chegarão ao
Brasil na quarta-feira (25) da semana que vem. Só nesse
dia os dados resgatados começarão a ser analisados.
A perspectiva de uma investigação longeva não impede o
governo de tomar providências para corrigir eventuais
falhas no sistema de segurança de vôo. As correções
podem ser adotadas a partir de recomendações técnicas
emitidas pela equipe escalada para apurar as causas de
mais este acidente.
Embora não excluam a hipótese de que as condições da
pista de Congonhas tenham contribuído para o acidente, a
Aeronáutica e a Infraero apostam em outras linhas de
apuração. ―Posso afirmar que não existe possibilidade de
derrapagem nessa pista nas condições atuais‖, disse, em
timbre enfático, nesta quarta-feira (18), Armando
Schneider, superintendente de Engenharia da Infraero.
A julgar pelo que dizem os pilotos em contatos
gravados pela torre de comando de Congonhas, a pista
está mais sujeita a derrapagens do que deixa antever a
convicção de Schneider. Há, de resto, imagens gravadas
pelo circuito de câmeras do aeroporto. Mostram o
momento do pouso do vôo 3054 da TAM.
Divulgou-se nesta quarta-feira (18) um vídeo que compara
a aterrissagem do avião da tragédia com o pouso de
outras aeronaves. Uma pista que costuma ser vencida em
11 segundos foi percorrida pelo Airbus em três segundos.
Em seu trecho final, o vídeo exibe o clarão produzido pela
explosão (leia e assista).
Escrito por Josias de Souza às 19h25
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Marta sobre a neo-tragédia: „Não tenho nada a dizer‟
A ministra Marta Suplicy (Turismo) desembarcou nesta
quarta-feira (18) no aeroporto Tom Jobim, no Rio. Vinha
de Lisboa. Instada a comentar a nova tragédia aérea
brasileira, ela preferiu deslizar na pista: "Não tenho nada a
dizer."
201
Em seguida, a bordo de um carro oficial, a ministra foi
conduzida à Base Aérea do Galeão. Ali, embarcaria num
jatinho da FAB, com destino a Brasília. A julgar pelas
declarações anteriores de Marta Suplicy, o melhor que ela
tem a fazer é mesmo guardar obsequioso silêncio. A
sociedade não tem tido a oportunidade de relaxar. Muito
menos de gozar.
Escrito por Josias de Souza às 18h52
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Ministério Público pede fechamento de Congonhas
João Wainer/Folha
O Ministério Público Federal pretende protocolar na
Justiça Federal de São Paulo, ainda nesta quarta-feira
(18), uma ação civil pedindo o fechamento do aeroporto
de Congonhas. O texto está sendo concluído. Pede a
transferência dos vôos para outros aeroportos de São
Paulo Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas) -,
até que uma investigação esclareça as condições de uso
da pista de pouso de Congonhas.
A ação será assinada pelos procuradores da República
Fernanda Taubemblatt e Márcio Schusterschitz. São os
mesmos que ajuizaram, em janeiro de 2007, uma
ação que pediu a interdição da pista de Congonhas. Essa
primeira ação foi extinta no último mês de abril, depois da
assinatura de um acordo entre Ministério Público, a
Infraero e a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Pelo acordo, chamado tecnicamente de TAC (Termo de
Ajustamento de Conduta), os órgãos públicos assumiram
o compromisso de reformar a pista principal de
Congonhas. Fixaram-se horários de funcionamento do
aeroporto até a conclusão das obras. A nova pista foi
liberada para pousos e decolagens no final de junho. Não
estava, porém, completa. Faltaram, por exemplo, as
ranhuras (grooving, no jargão técnico) que facilitam a
drenagem das águas da pista.
Na nova ação, os procuradores pedirão à Justiça que
determine a interdição de Congonhas por meio de decisão
liminar (provisória), antes do julgamento do mérito do
processo.
PS.: Como noticiado acima, a ação do Ministério Público
Federal já foi efetivamente protocolada.
Escrito por Josias de Souza às 16h13
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Brasil produz uma nova causa mortis: incompetência
A maior causa de mortalidade no setor aéreo brasileiro é
um mal implacável chamado incompetência. A julgar pelo
desnorteio do governo, trata-se de moléstia endêmica
e incurável. Em menos de dez meses, já levou à cova pelo
menos 342 cadáveres 154 do Boeing da Gol e 188 do
Airbus da TAM, 12 em solo. A menos que um milagre
conduza à vacina, ninguém pode assegurar que o monturo
de corpos não aumente.
Noves fora a mortandade, o caos aéreo já produziu
sindicâncias, auditorias, inquéritos, processos, duas CPIs,
uma infinidade de discursos e um par de tragédias a
segunda mais funesta do que a primeira. Só não deu à luz
uma solução. E o país vai se habituando a um fenômeno
hediondo: a lamentação depois do fato.
Tome-se, porque é mais recente, o exemplo do
descalabro de Congonhas. A pista onde se realizam os
pousos e as decolagens mede exíguos 1.900 metros.
Desde a década de 80, pilotos e especialistas se queixam
das deficiências desse naco de concreto. O que fez o
governo? Na última década, torrou algo como R$ 530
milhões no embelezamento interno do terminal de
passageiros. Por que?
Ora, para atender aos interesses de empreiteiras ávidas
por obras, de gestores vorazes por comissões e de
presidentes sequiosos por inaugurações. Privilegiaram-se
o mármore e as lojinhas em detrimento da segurança.
Premido pelas circunstâncias, o governo, sob Lula,
reformou, a toque de caixa, a pista. Liberou-a para o uso,
no final de junho, sem as ranhuras que permitem a
drenagem das águas enviadas por São Pedro.
Confrontada com 188 vítimas novinhas em folha, Brasília
difunde uma ―informação‖ que antecede a realização das
perícias técnicas. Diz-se que a nova mortandade de
passageiros (176) e de funcionários do prédio em que o
avião da TAM fez a sua aterrissagem improvável (12)
nada tem a ver com as condições da pista do aeroporto.
Pode ser. Mas a hipótese não passa, por ora, de uma
202
aposta de gestores públicos submetidos a novos e
constrangedores apuros.
Afora a descoberta de controladores de vôo em absoluto
descontrole, o caos aéreo é temperado com generosas
pitadas de corrupção. São mutretas conhecidas do
governo. Foram esquadrinhadas pelo TCU, pela
Controladoria da União e pelo Ministério Público.
Nas diferentes esferas de investigação, encontram-se
encalacrados algo como seis dezenas de funcionários
públicos. Entre eles um petista que Lula acomodou na
presidência da Infraero e uma penca de funcionários
graduados da estatal que ―administra‖ os aeroportos
brasileiros. A lista inclui uma senhora que coleciona
decisões temerárias desde a gestão FHC. Trabalhava em
São Paulo. Sob Lula, foi promovida. E passou a praticar
malfeitorias desde Brasília.
Some-se a tudo isso um estrondoso crescimento do
mercado de aviação civil. Numa previsão conservadora,
estima-se que o mercado cresce no Brasil à proporção de
12% ao ano. Não há coisa parecida no mundo. Numa
China de PIBs vitaminados, o setor aéreo experimenta
crescimento anual de algo como 10%. Com uma
diferença: nesta terra de palmeiras e sabiás, a falta de
investimentos, a descoordenação e a ausência de
planejamento tonificam as dores do crescimento.
Tudo considerado, a aviação brasileira vai ganhando as
feições de uma usina de potenciais constrangimentos e de
cadáveres. No acidente da Gol, os corpos foram
mergulhados na selva de Mato Grosso. No desastre da
TAM, foram carbonizados no interior de uma aeronave
convertida em algo semelhante a uma lata de sardinha em
chamas. Até quando?
Escrito por Josias de Souza às 04h24
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As manchetes desta quarta
- Folha: Airbus da TAM com 176 atravessa via, bate e
explode em Congonhas
- Estadão: Avião explode e mata 176 em Congonhas
- Globo: Nova tragédia põe em xeque a segurança área
no Brasil
- Correio: Avião com 176 a bordo explode em Congonhas
- Valor: Montadoras terão apoio para produzir 5 milhões
de carros
- Jornal do Commercio: Tragédia em vôo da TAM
Leia os destaques de capa dos principais jornais.
Escrito por Josias de Souza às 04h23
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Em obras!
Angeli
Escrito por Josias de Souza às 04h19
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Uuuuuuuuuuuuuuu!
Visite o sítio Charges.com.
Escrito por Josias de Souza às 04h17
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CPI do Senado cogita investigar a nova tragédia
Fábio Pozzebom/ABr
O relator da CPI aérea do Senado, Demóstenes Torres
(DEM-GO), discute nesta quarta-feira com o presidente da
comissão, Tião Viana (PT-AC), a hipótese de investigar a
203
nova tragédia aérea brasileira. Cogita-se inclusive a
hipótese de trabalhar durante o recesso parlamentar, que
começa hoje e vai até 31 de julho.
―Nós tínhamos decidido que, durante o recesso, faríamos
apenas a análise de documentos. Mas, diante da
gravidade do novo acidente, isso pode ser objeto de
reavaliação‖, disse Demóstenes ao blog na noite desta
terça-feira (17). ―Vou conversar com o presidente Tião
Viana sobre isso. Independentemente do recesso,
podemos tocar essa questão‖.
Para Demóstenes, se ficar comprovado que o novo
acidente foi provocado pelas más condições da pista de
pouso do aeroporto de Congonhas, ―trata-se de mais uma
irresponsabilidade do governo. É algo que terá de ser
averiguado.‖ A pista acaba de ser reformada. Foi liberada
no final de junho.
Ficaram pendentes, porém, obras complementares,
previstas para agosto. Entre elas a abertura de ranhuras
na pista. No jargão técnico, são chamadas de
"grooving". São fendas destinadas a melhorar o
escoamento das águas da chuva. Na segunda-feira (16),
véspera da nova tragédia, um avião da empresa Pantanal
havia deslizado ao pousar em Congonhas.
Embora considere improvável que a causa do novo
acidente sejam as más condições da pista, o governo não
exclui a probabilidade de que a ausência das ranhuras
tenha contribuído para que a aeronave da TAM se
desgovernasse. No instante do pouso, garoava na capital
paulista
No final da noite, o comandante da Aeronáutica, Juniti
Saito, informou a Lula, pelo telefone, que, nesta quarta-
feira (18), técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) farão uma
inspeção da pista de Congonhas. A liberação da pista está
condicionada a esta inspeção.
Na avaliação de Demóstenes Torres, todos os problemas
detectados no relatório parcial aprovado pela CPI do
aerocaos no último dia 7 de julho continuam pendentes de
solução. ―Vivemos um apagão de investimento e de
absoluta falta de planejamento governamental‖, afirmou.
Ele repetiu ao blog um comentário que fizera dias atrás
sobre o ministro Waldir Pires (Defesa): ―Ele é um banana.‖
―Falta coordenação ao governo‖, disse Demóstenes.
―Agora, diante da nova tragédia, vamos lamentar de novo.
E continua a desconexão entre a Aeronáutica, a Infraero e
a Anac. Enquanto o governo se perde em conjecturas,
ficamos à espera de novas tragédias.‖
―Nosso relatório, que foi encaminhado ao governo, deixa
claro que a estrutura atual não dá mais‖, completou o
senador. ―Congonhas tem capacidade para 12 milhões de
passageiros e está operando com 189 milhões.
Precisamos de investimentos. O governo não tem
dinheiro? Então é preciso recorrer à iniciativa privada. É
urgente a construção de outro aeroporto em São Paulo. É
preciso ampliar Guarulhos, ampliar Congonhas. Tem que
reservar o aeroporto de Campinas exclusivamente para
cargas.‖
Escrito por Josias de Souza às 01h26
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17/07/2007
Deputado tucano embarcou no vôo JJ 3054 da TAM
Folha
O deputado federal Júlio Redecker (PSDB-RS), líder da
minoria na Câmara, embarcou no o JJ 3054 da TAM,
que derrapou na pista do aeroporto de Congonhas e se
chocou contra um prédio da empresa. Procedente de
Porto Alegre, Redecker deveria encontrar-se com o
presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), em São
Paulo. Ele integraria uma comitiva que, sob a liderança de
Chinaglia, faria uma viagem oficial do Legislativo para os
EUA.
O presidente da Câmara cancelou a viagem. Antes,
Chinaglia obteve a confirmação de que, de fato, o nome
de Redecker consta da lista de passageiros do vôo da
TAM. Em Brasília, Lula convocou uma reunião de
emergência com quatro ministros. A atmosfera é de
desnorteamento.
A assessoria de Redecker telefonou para o líder do PSDB
na Câmara, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP). De
novo, confirmou-se que Redecker se encontrava no avião.
Não há, por ora, informações acerca das vítimas dos
acidentes. Sabe-se apenas que o avião transportava 175
pessoas, entre passageiros e tripulantes. Houve vítimas
também fora do avião.
204
Pannunzio encontra-se em Maceió (AL). Informado de que
a mulher de Redecker aguardava o marido num hotel de
São Paulo, o líder tucano telefonou para o governador
paulista José Serra. Pediu-lhe que oferecesse auxílio à
mulher do colega.
Há pouco, também o líder do PSDB no Senado, Arthur
Virgílio (AM), telefonou para José Serra. Informou-se
acerca dos detalhes do acidente e obteve a confirmação
de que Redecker estava mesmo no vôo. Virgílio disse que
espera do governo ―uma rigorosa apuração das causas‖
de mais este acidente. ―Há meses que o PSDB denuncia
os problemas sobejamente conhecidos que afetam o
tráfego aéreo e os principais aeroportos do país,
reclamando providências‖, acrescentou.
Escrito por Josias de Souza às 20h29
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MP move ação para anular concessão de TV de Jader
Tenta-se desfazer uma manobra „ilegal‟ do
governo Lula
Sérgio Lima/Folha
O procurador da República Rômulo Moreira Conrado foi
ao Judiciário para tentar anular uma manobra do governo
Lula que livrou o ―aliado‖ Jader Barbalho (PMDB-PA) de
uma dívida estimada em R$ 82,4 milhões com a Receita
Federal e outros órgãos públicos. A ação do Ministério
Público foi protocolada na segunda-feira (16) na Justiça
Federal do DF. Mas a providência só foi divulgada nesta
terça-feira (17).
Rômulo Conrado se insurgiu contra um negócio que
começou a ser costurado em junho de 2006 e que foi
efetivado seis meses depois, em dezembro. Deu-se o
seguinte: com a providencial autorização de um Ministério
das Comunicações chefiado pelo senador licenciado Hélio
Costa (PMDB-MG), Barbalho logrou transferir a concessão
da TV Bandeirantes no Pará, a terceira maior audiência do
Estado, da empresa Rede Brasil Amazônia de TV para a
firma Sistema Clube do Pará de Comunicação, da qual
tornou-se sócio.
A Rede Brasil, dona da concessão pública de TV,
encontra-se imersa em dívidas com o fisco, a Previdência
e o FGTS. O Sistema Clube Pará, ao contrário, opera no
azul. Ao transferir para a segunda toda a rendosa
atividade da primeira, o deputado Barbalho deixou o
governo na incômoda posição de ter de cobrar a dívida de
R$ 82,4 milhões de uma organização sem faturamento.
Para o procurador Rômulo Conrado, a transferência da
concessão de TV da endividada Rede Brasil para o
saudável Sistema Clube do Pará não poderia ter sido feita
senão por meio de uma licitação, aberta à participação de
outras empresas. Daí a ação judicial. O Ministério Público
pede que o negócio seja anulado já em decisão liminar
(provisória), antes mesmo do julgamento definitivo do
processo.
O grosso do contencioso de Jader Barbalho com o Estado
resulta de uma série de autuações lavradas pela Receita
Federal. Os auditores fiscais varejaram os livros da Rede
Brasil depois que Barbalho, sob FHC, tornou-se
protagonista do chamado ―escândalo da Sudam‖. Um caso
que compôs o rosário de suspeições que levou Jader a
renunciar ao posto de presidente do Senado e ao próprio
mandato. Com os direitos políticos intactos, o ex-senador
pôde candidatar-se à Câmara. E o eleitor do Pará o
transformou em deputado.
Hoje, Jader é um dos principais conselheiros do
companheiro de partido Renan Calheiros, às voltas com
um escândalo que ameaça despejá-lo da mesma cadeira
de presidente do Senado. Jader converteu-se também em
fervoroso aliado de Lula. No último dia 11 de abril, durante
um jantar com congressistas do PMDB, o presidente da
República fez questão de afagar os adversários do
passado, entre eles Jader:
"Qual cidadão de pensamento progressista em 1974 não
votou no Quércia para senador? Quem é o progressista
que, em 1978, não votava em Jader Barbalho, no Pará,
para deputado federal?" Sob a fluidez retórica de Lula
escondia-se o acerto que o Ministério Público se empenha
agora em anular.
Escrito por Josias de Souza às 18h04
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Governo reajusta os benefícios do Bolsa Família
O Diário Oficial desta terá-feira publica um decreto
reajustando os benefícios do programa Bolsa Família,
motor da popularidade de Lula. O aumento foi, em média,
de 18,25%. A partir de agosto, o maior benefício, pago às
famílias ―extremamente pobres‖ –renda per capita de R$
60passa de R$ 95 para R$ 112.
205
O reajuste custará ao erário, neste ano de 2007, cerca de
R$ 400 milhões. O decreto foi divulgado um dia depois de
dois dias depois da publicação de uma notícia
constrangedora. Revelou-se que há irregularidades na
aplicação dos recursos do Bolsa Família em 90% dos 120
municípios fiscalizados pela Controladoria Geral da União
(aqui e aqui).
É a primeira vez que os benefícios do Bolsa Família são
reajustados desde 2003, ano em que Lula chegou ao
Planalto. Chegou-se ao percentual de 18,25% calculando-
se a variação do INPC no período de outubro de 2003 a
maio de 2007.
A partir de agosto, o menor benefício pago pelo Bolsa
Família passa de R$ 15 para R$ 18. O valor médio dos
benefícios sobe dos atuais R$ 62 para R$ 72. Pelas
contas do governo, o Bolsa Família reforça o orçamento
de 11 milhões de famílias em todo país. Vem daí a legião
que mantém nas alturas a popularidade de Lula. Coisa
que não há vaia que consiga abalar. Sobretudo porque o
socorro aos brasileiros pobres vem, efetivamente,
melhorando as estatísticas.
Escrito por Josias de Souza às 16h12
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Senado pede, finalmente, ajuda à PF no Renangate
Depois de atropelar o bom-senso, Renan Calheiros tenta
matar o tempo. Porém, a Mesa diretora do Senado
transformou os ponteiros do relógio de Renan em
espadas. Aprovou-se nesta terça-feira o envio do
papelório que compõe a defesa de Renan à Polícia
Federal. A decisão foi unânime.
Assim, durante o recesso do Legislativo de 18 a 31 de
julho, a PF irá perscrutar os negócios bovinos de
Renan. Numa primeira inspeção, realizada em escassos
três dias, identificaram-se incongruências incômodas. A
nova perícia deve consumir 20 dias de trabalho.
Sintomaticamente, a tropa de Renan, cada vez mais
exígua, já trata de desqualificar o envolvimento da PF no
caso. Argumenta-se que só o STF poderia ter autorizado a
polícia a vasculhar os negócios do presidente do Senado,
protegido pelo biombo do foro privilegiado.
O pedido de perícia no papelório de Renan já foi enviado
ao ministro Tarso Genro (Justiça), superior hierárquico da
PF. Ele informou que remeterá a requisição à polícia já
nesta quarta-feira (18). Diante dos desdobramentos
adversos, o presidente do Senado criticou a
"esquizofrenia" da crise em que se vê enredado.
Escrito por Josias de Souza às 14h55
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Transviados só queriam, veja você, „zoar as putas
El roto/El Pais
Os agressores da empregada doméstica Sirlei Dias de
Carvalho foram ouvidos pela Justiça. Eles acomodaram
nas páginas do processo um rosário de pérolas. Uma
delas é especialmente cintilante. Os jovens bem-nascidos
argumentaram o seguinte: na noite em que desceram a
mão na trabalhadora, haviam saído de casa para ―zoar as
putas‖.
É enriquecedor observar a ―defesa‖ dos filhos transviados
da elite. Será que vale a pena tanto descaso social, tanta
falta de oportunidade, tanta mais-valia, tanta má
distribuição de renda, para enfurnar a grana no oco de
mentes dementes? Desperdício!
Depois da inquirição dos réus, o juiz Marcel Laguna
Duque Estrada, achou melhor manter a rapaziada atrás
das grades. Negou o pedido de liberdade provisória
formulado pelos advogados de dois dos cinco
encrencados. Chegou a hora de a Justiça zoar com os p...
Escrito por Josias de Souza às 12h04
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As manchetes desta terça
- Folha: Lula se diz "triste" com vaias no Pan
- Estadão: Lobby europeu articula veto à carne brasileira
- Globo: Vaias a Lula abrem guerra entre governo e
oposição
- Correio: PT assume a conta do mensalão
206
- Valor: Produtores rurais preparam empresas para abrir
capital
- Estado de Minas: PT paga conta do mensalão
- Jornal do Commercio: Professor não cede
Leia os destaques de capa dos principais jornais.
Escrito por Josias de Souza às 03h24
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Pan (e circo) de Brasília!
Glauco
Escrito por Josias de Souza às 03h21
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Renan não conta nem com apoio da cúpula do PMDB
Partido do senador se nega a soltar nota de
desagravo
Legenda dissocia união com Lula do
desfecho da crise
Fábio Pozzebom/ABr
A direção do PMDB, legenda de Renan Calheiros, tenta
evitar que a crise que rói o prestígio do presidente do
Senado contamine toda a legenda. Fez chegar a Lula a
informação de que o apoio da legenda ao governo
independe do desfecho do Renangate.
Nos subterrâneos, Renan vinha ameaçando envenenar as
relações do governo com o PMDB, maior partido do
consórcio governista, caso o Planalto lhe negasse apoio.
A mensagem do partido a Lula sinalizou o contrário. O
presidente foi deixado à vontade para adotar a posição
política que lhe pareça mais conveniente.
Em avaliações internas, a cúpula peemedebista concluiu
que não faria sentido exigir de Lula algo que o próprio
partido negou a Renan. Há cerca de dez dias, o senador
procurou o deputado Michel Temer, presidente do PMDB.
Sentindo-se isolado, Renan rogou a Temer que o
apoiasse publicamente. Sugeriu a divulgação de uma nota
oficial do PMDB. O deputado recusou-se a atender o
pedido, sob a alegação de que já não há mais condições
políticas para uma manifestação do gênero.
O malogro da embaixada de Renan junto a Temer é mais
uma evidência da solidão do presidente do Senado. Antes
da crise, o senador era um político de mostruário. Embora
governista, mantinha relações amistosas com a oposição.
O assédio da suspeição restringiu-lhe os movimentos.
Em nota, o ―DEMO‖ exigiu que Renan se licenciasse da
presidência do Senado. Inicialmente comedido, o PSDB
viu-se compelido a seguir as pegadas do parceiro de
oposição. Há uma semana, Arthur Virgílio, líder dos
tucanos, pediu, do alto da tribuna, o afastamento de
Renan.
Emparedado, o presidente do Senado, que ―presidia‖ a
sessão, reagiu com aspereza: ―Se quiserem a minha
cadeira, vão ter que sujar as mãos‖, deblaterou, socando a
mesa. No dia seguinte, informado de que arrostaria um
protesto urdido por deputados, Renan esquivou-se de
presidir uma sessão conjunta do Congresso.
A fuga foi ao noticiário como a primeira evidência concreta
de que Renan a suspeição e o comando do Congresso
são coisas incompatíveis. A segunda evidência viria no dia
seguinte. Munido das prerrogativas de ―comandante‖ do
Senado, o presidente Renan adiou a reunião em que a
Mesa diretora da Casa decidiria sobre o envio à Polícia
Federal de um pedido de aprofundamento da perícia dos
documentos que compõem a defesa do réu Renan.
O encontro dos senadores que dirigem o Senado, que
deveria ter ocorrido na semana passada, está agendado
para as 11h desta terça-feira (17). Espera-se que a Mesa
do Senado autorize a PF a completar a sindicância
preliminar que apontou incongruências nas transações
agropecuárias com que Renan diz, bovinamente, ter
bancado os repasses financeiros à jornalista Mônica
Veloso, com quem teve uma filha.
Escrito por Josias de Souza às 03h03
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Entupa a caixa de e-mails dos dirigentes do Senado
A Mesa do Senado reúne-se logo mais às 11h. Os
senadores vão decidir algo vital para a elucidação do
Renangate: a continuidade da perícia da Polícia Federal
sobre os negócios bovinos de Renan Calheiros (PMDB-
207
AL). Nos bastidores, articulam-se novas manobras
protelatórias. Você pode interferir nos rumos da reunião.
O Congresso entra em recesso nesta quarta-feira (18). A
folga dos congressistas termina em 31 de julho. Serão 14
dias de inatividade. A PF informa que precisa de 20 dias
para esquadrinhar o papelório de Renan. Ou seja, se for
autorizada a trabalhar, a polícia concluirá o seu trabalho
uma semana depois do término da fase de sombra e água
fresca dos senadores.
A reunião da Mesa será presidida pelo primeiro vice-
presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC). Nesta terça-
feira (16), Renan fez o que pôde para inviabilizar a
decisão do colegiado. Aparentemente, as manobras não
surtiram efeito. Mas, a despeito das negativas, continuam
boiando na atmosfera conspurcada do Senado as dúvidas
quanto à disposição dos senadores.
Assim, talvez convenha a você, caro eleitor, lembrar aos
dirigentes do Senado acerca de suas obrigações. O
mínimo que se pode exigir, no momento, é a elucidação
cabal de todas as dúvidas. Seguem abaixo os endereços
eletrônicos dos integrantes da Mesa do Senado.
O repórter inclui na lista o e-mail do próprio Renan.
Embora o senador, por razões óbvias, tenha se declarado
suspeito para presidir a reunião, você talvez tenha algo a
dizer a um político que, embora sitiado pelas dúvidas,
julga-se em condições de continuar sentado na cadeira de
presidente do Senado. Aí vão os endereços:
1) Presidente - Renan Calheiros (PMDB-AL);
2) Primeiro vice-presidente - Tião Viana (PT-AC);
3) Segundo vice-presidente - Álvaro Dias (PSDB-PR);
4) Primeiro-secretário - Efraim Morais (DEM-PB);
5) Segundo-secretário - Gerson Camata (PMDB-ES);
6) Terceiro-secretário - César Borges (DEM-BA); Escrito
por Josias de Souza às 02h57
208
BLOG FERNANDO RODRIGUES
20/07/2007
Parecer técnico do IPT não encontra
problemas na pista principal de Congonhas
Clique aqui para ler o fac-símile do documento
Parecer técnico parcial nº12792-301-ii realizado pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
Paulo (IPT) na pista principal do aeroporto de Congonhas
não identificou restrições ao uso da mesma. O documento
é datado de ontem (19/07/2007). O resultado desse
parecer é baseado, entretanto, em dados coletados até o
dia 18 de julho de 2007 e também antes do acidente de
terça-feira. As duas principais conclusões foram as
seguintes:
1) Características mecânicas do revestimento
asfáltico: segundo o relatório, o concreto utilizado na pista
segue especificação da Infraero e é do mesmo tipo usado
nos outros aeroportos. "A camada de rolamento das pistas
principal e auxiliar segue o projeto na Faixa 2 das
especificações da Infraero (SAO/GRL/900.ET-247/R2,
página 60). Trata-se de concreto asfáltico usualmente
adotado para obras desta natureza, largamente utilizado
no Brasil em praticamente todas suas pistas de
aeroportos", diz o texto. A avaliação do IPT é que "a
mistura asfáltica após compactação e resfriamento pode
ser considerada tecnicamente como apta para o tráfego
de aeronaves, veículos e equipamento de obras". E
segue: "Portanto, no que tange à concepção do
revestimento asfáltico quanto às suas propriedades
mecânicas, esta camada de rolamento atende às
especificações de projeto e todas as implementações
adotadas adicionaram características positivas", conclui o
parecer.
2) Características de superfície do revestimento
asfáltico a partir de resultados de atrito obtidos com
Mu-Meter: nesse ponto, a análise aborda a questão do
atrito em pista molhada. Uma das possíveis causas do
acidente com o avião Airbus-A320 da TAM, em
Congonhas (SP), seria a falta do "grooving" (ranhuras que
ajudam no escoamento da água). Sem as ranhuras, dizem
alguns, a pista ficaria mais escorregadia. O parecer diz
que mesmo sem o "grooving" a pista está em boas
condições. "Os valores encontrados nos dois
monitoramentos recentemente realizados, mostram-se
acima dos valores recomendados do ponto de vista de
atrito em pista molhada, tendo em vista os limites
recomendados internacionalmente (ICAO-Anexo 14) e
nacionalmente (DAC). Ressalta-se ainda que estes
patamares de valores de atrito foram alcançados sem a
execução de grooving", descreve o relatório. Na
conclusão, o instituto afirma que o nível de atrito es
acima dos limites mínimos e que, portanto, a pista
encontra-se em condições para pousos e decolagens.
"Pela análise realizada, no que tange às condições de
superfície do revestimento asfáltico, os valores medidos
de atrito pela Infraero na pista principal por meio do
equipamento mu-meter, na situação atual, revelam-se
acima dos limites mínimos especificados", termina o texto.
Logo depois do acidente de terça-feira, o governador de
São Paulo, José Serra (PSDB), contestou a informação
vazada por autoridades do governo federal a respeito da
existência de laudo técnico do IPT liberando a pista de
Congonhas. O IPT é um órgão do governo do Estado de
São Paulo --comandado, portanto, pelo tucano. O
documento divulgado hoje demonstra que José Serra tem
razão apenas parcial em sua reclamação. O laudo não é
definitivo, só parcial. Mas o parecer não aponta nenhum
óbice para o funcionamento da pista reformada do
aeroporto paulistano.
post scriptum (23.jul.2007): o post acima tem 518
palavras. Faz um relato óbvio: o parecer do IPT não
aponta óbices na pista de Congonhas. Não fala em
liberação de pista. Relatou-se, portanto, um fato: a
existência de um parecer. Pois o IPT produziu uma
resposta de 1.184 palavras para dizer a mesma coisa... de
outro jeito. É uma enrolação fantástica ("há várias
afirmações do jornalista que merecem ressalvas";
waaal...). Essa gente é maluca?
Escrito por Fernando Rodrigues às 19h15
[(108) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
[link]
ACM morreu
Um dos mais longêvos políticos brasileiros. Passou mais
de 50 anos na política (começou em 1954 como deputado
estadual).
A morte de ACM representa, em certa medida, o
crespúsculo de toda uma geração. Não por causa da
morte dele propriamente, mas porque parece ter
realmente chegado a hora de um certo grupo
geracional passar o bastão para os que estão chegando.
Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, ACM. É uma lista e
tanto.
Para 2010 há vários candidatos na corrida presidencial
que eram crianças ou muito jovens no auge da ditadura
militar (1964-1985). José Serra é, talvez, a única exceção.
Com a morte de ACM, sinal dos tempos, certas memórias
vão ficando mesmo longe na história. Falar hoje para
jovens de 20 sobre a ditadura militar era como nos anos
80 ouvir dos mais velhos a respeito de Getúlio Vargas e
Juscelino Kubtischek.
Escrito por Fernando Rodrigues às 12h59
[(94) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
[link]
César Maia (DEM) comenta fala de Lula
O prefeito do Rio, César Maia (DEM), deu uns pitacos no
seu boletim diário de análise política (o ex-blog).
Maia é uma espécie de grilo falante da oposição. Goste-se
ou não dele, trata-se do político mais presente em todos
os embates contra o Planalto.
Eis o que ele comentou sobre o pronunciamento de Lula,
previsto para hoje (20.jul.2007) à noite, em cadeia de rádio
e TV:
“CAMA DE GATO:”
“LULA FALA HOJE NA TV SOBRE A
TRAGÉDIA DE CONGONHAS!”
“Lula e seus assessores, devem estar passando horas de
alta ansiedade para decidir o que Lula falará hoje em rede
de rádio e TV. Os votos de pêsames já foram dados com
os três dias de luto e nota oficial. E agora? O que dirá?
Hipóteses:
“1. Se demitir dirigentes e adotar medidas contundentes
estará reconhecendo a culpa do governo na tragédia de
Congonhas e portanto a sua.
209
“2. Se quiser por a culpa na TAM reforçará a imagem
negativa que tem de sempre encontrar culpados para que
possa lavar as mãos.
“3. Se enrolar, sua desmoralização será terminal”.
E César Maia vai além com seu sarcasmo:
“FORMAS DE RELACIONAMENTO DOS MINISTROS
DE LULA COM A POPULAÇÃO SOFRIDA!”
“1. Ministra do turismo: -Relaxa e Goza. [no youtube, aqui]
“2. Ministro ad hoc de relações exteriores: -F...m-se. [no
―Jornal da Globo‖ de ontem, 19.jul.2007, aqui]
“3. Assessor do ministro: -Ó nós em vocês...
[idem, no ―Jornal da Globo‖ de ontem]
post scriptum: sobre Marco Aurélio Garcia, como bem
apontou um internauta, num episódio semelhante Rubens
Ricupero perdeu a cadeira de ministro da Fazenda ao
debochar da população. Em 1º de setembro de 1994,
Ricupero esperava para ser entrevistado pela TV Globo,
mas o satélite já transmitia sua conversa no estúdio.
Antenas parabólicas (alguém ainda usa essas coisas?)
capataram sua famosa frase sobre indicadores
econômicos: "Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é
isso mesmo. O que é bom a gente fatura; o que é ruim,
esconde". Para matar as saudades, assista o vídeo aqui.
Escrito por Fernando Rodrigues às 08h45
[(112) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
[link]
Afinal, qual é a importância do reversor?
O Brasil conheceu palavras novas nos últimos dias.
Primeiro, ―grooving‖ (as ranhuras que serão feitas na
pista principal de Congonhas). Agora, o reversor (ou
reverso) das turbinas do avião.
Já se sabe que o Airbus-A320 do vôo 3054 da TAM
estava com um problema mecânico detectado quatro dias
antes. O reversor da turbina do lado direito (há uma
turbina de cada lado) apresentou defeito. A companhia
aérea optou por lacrar o equipamento e voar sem esse
dispositivo procedimento recomendado no manual do
fabricante.
O dispositivo poderia permanecer lacrado, diz o manual da
Airbus, por até dez dias antes de o avião ser submetido a
uma manutenção.
Em condições muito adversas de clima (chuva muito
intensa, por exemplo) não é recomendado o uso do avião
com um dos reversos desativados.
O que é o reverso? É um mecanismo na turbina do avião.
Acionado, o motor joga o ar para frente. É um freio
aerodinâmico. "O reverso desvia parte do ar comprimido
pelo motor para ajudar na frenagem", diz um especialista.
Há outro freio semelhante: os flaps spoilers (nas asas).
Correção excelente enviada por um leitor: "Os flaps não
são exatamente usados como freios aerodinâmicos. São
"extensões" das asas que aumentam a sustentabilidade
do avião em velocidades baixas (tanto que são usados
também nas decolagens). Os freios aos quais que você se
refere são aquelas "pás" localizadas em cima da asa que
se levantam após o pouso, são chamadas de "spoilers".
Elas sim, são responsáveis por ajudar a frear o avião.
Informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/Spoiler_(aeronautics)".
Mas qual é a importância do reverso?
Segundo vários sites sobre aviação, no Airbus-A320 a
relevância do freio aerodinâmico é de aproximadamente
20%. O principal responsável pela paralisação completa
do avião é o sistema de frenagem nos pneus (que tem um
moderno sistema ABS). Um desses sites/blogs tem uma
explicação didática a respeito. Acesse aqui (graças à
indicação de um internauta).
Eis um trecho (tradução livre para o português): ―Os freios
nas rodas são a forma de parar o avião. Muitas pessoas
pensam que os reversos têm um grande papel na
aterrissagem: mas eles têm função marginal, não afetando
a distância percorrida em mais de 10% a 20%. A maioria
dos aviões tem um sistema automático de freios, que são
acionados depois que o equipamento toca o solo‖).
A distância necessária para frear um Airbus-A320 fica em
torno de 1.300 jardas (cerca de 1.190 metros). A pista
principal de Congonhas tem 1.940 metros. É desejável
que a distância mínima seja equivalente a, no máximo,
60% da pista total. Nesse caso, Congonhas está no limite
exato do que seria aconselhável. Não há nenhum espaço
a mais disponível.
Ninguém sabe ainda ao certo a razão pela qual o Airbus-
A320 da TAM não parou na terça-feira à noite. Sobretudo
porque outra aeronave idêntica teve pouso perfeito cerca
de 5 minutos antes nas mesmas condições climáticas e
na mesma pista. Pode ter acontecido algum problema
extra com o reverso, o freio dos pneus pode ter falhado, a
pista pode ter ficado muito pior em poucos minutos, o
piloto pode ter se apavorado.
O que ninguém tem dúvida é a respeito da necessidade
de Congonhas ter um movimento menor de aviões. E de
se pensar numa possibilidade de restringir os pousos e as
decolagens de aeronaves muito grandes. Esse é o ponto.
Não adiante o governo comemorar (com o ―top, top, top
de Marco Aurélio Garcia) o fato de o reverso direito do
avião da TAM ter ficado defeituoso. Medidas de segurança
para Congonhas poderiam ter sido tomadas muito antes.
Mas é a tal história. Porteira arrombada, cadeado nela.
Escrito por Fernando Rodrigues às 08h25
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O drive político do dia (20.jul.2007 - 6ª feira)
Lula e o pacote aéreo O petista faz um pronunciamento
em rádio e TV hoje à noite para anunciar medidas de mais
segurança em Congonhas.
Comentário do blog: porteira arrombada, cadeado nela.
Conac o Conselho de Aviação Civil reúne-se às 15h no
Ministério da Defesa para discutir as medidas que serão
posteriormente anunciadas por Lula.
Falha no reversor a possibilidade de uma falha no
reversor da turbina direita do Airbus-A320 da TAM ter
causado a tragédia enfraquece as suspeitas de que a
pista de Congonhas fosse uma das causas do acidente
(embora isso não possa ser completamente descartado).
O ―Jornal Nacional‖ de ontem deu grande destaque ao
assunto. A TAM diz nada ter escondido. Mencionou o
defeito na entrevista concedida na quarta-feira. Sustenta
que ―o reversor direito do Airbus A320 que realizou o vôo
210
JJ 3051 foi desativado em condições previstas pelos
manuais de manutenção da fabricante Airbus e aprovado
pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)‖. O ―JN‖
deu a versão da empresa. Mas o governo comemorou o
―JN‖ como se fosse final de Copa do Mundo. As imagens
de Marco Aurélio Garcia no ―Jornal da Globo‖ de ontem
não deixam dúvidas (fazendo o notório "top, top, top" com
as mãos).
Comentário do blog: essa história ainda vai longe.
CPI do Apagão a comissão tem reunião nesta sexta-
feira, às 11h, para aprovar requerimentos que pedem a
convocação de autoridades federais que estão envolvidas
no acidente com o avião da TAM. A CPI deve trabalhar
durante o recesso parlamentar para discutir e investigar o
agravamento da crise aérea após a tragédia.
Despedida o deputado federal Júlio Redecker (PSDB-
RS), um dos mortos no acidente em Congonhas, será
enterrado hoje em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
O corpo será velado em Porto Alegre, na sede do governo
estadual. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e o
governador de Minas Gerais, Aécio Neves, confirmaram
presença no velório.
Escrito por Fernando Rodrigues às 06h45
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19/07/2007
Palácio do Planalto nega que presidente
da Infraero tenha devolvido o cargo
Ao chegar hoje ao Palácio do Planalto para uma reunião,
o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira,
disse que seu cargo está sempre à disposição do governo.
Dentro do Planalto, entretanto, Pereira não entregou
o cargo, segundo informa a Presidência da República.
O presidente da Infraero e o ministro da Defesa, Waldir
Pires, estão numa lista de possíveis autoridades a serem
demitidas nos próximos dias. Mas nada ainda foi
confirmado --até porque Lula recalcitrou várias vezes.
Pereira e Waldir Pires foram "demitidos" na mídia umas
dez vezes nos últimos meses, mas continuam nos seus
cargos.
Agora, a situação parece bem mais deteriorada. Mas Lula,
sabe-se, tem uma dificuldade enorme para demitir seus
assessores. Demissão, com o petista, só vale depois de
publicada no "Diário Oficial".
Escrito por Fernando Rodrigues às 18h57
[(29) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
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Lula vai à TV amanhã anunciar medidas
de segurança reforçada para Congonhas
● vôos de jatinhos devem ser restringidos ou extintos
● peso total dos aviões deverá ser reduzido
● cargas serão desviadas para outros aeroportos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve falar amanhã
à noite em rede nacional de rádio e TV. Vai novamente
expressar pesar por causa do acidente de terça-feira
(17.jul.2007) com o avião da TAM, mas sobretudo
anunciará medidas que visam a reforçar a segurança
aérea do aeroporto de Congonhas, o mais movimentado
do país.
Logo depois do acidente, Lula emitiu uma nota oficial.
Depois disso, fechou-se no Palácio do Planalto em
intermináveis reuniões com assessores. Demandou
soluções. Disse que gostaria de aparecer em público com
medidas concretas para oferecer. Hoje no final da tarde o
desenho das soluções ficou quase pronto.
As medidas só poderão ser anunciadas oficialmente
amanhã à noite por Lula, pois serão discutidas durante o
dia pelo Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil), que
terá uma reunião a respeito do tema. São membros do
Conac os ministros da Defesa (Presidente), Relações
Exteriores, Fazenda, Turismo, Indústria e Comércio
Exterior, além do chefe da Casa Civil e do comandante da
Aeronáutica. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo,
que ajudou a formular parte das medidas, não participa
desse órgão.
O pacote deve incluir, entre outros itens, os seguintes
(ainda pendentes de finalização até amanhã):
1) número de vôos em Congonhas: hoje, o
máximo por hora é de 44. Muitas vezes,
entretanto, chegam a ocorrer até 48 pousos e
decolagens por hora. O ritmo é frenético. Deve
haver uma redução para um máximo de 35 (mas
esse número pode ficar ainda menor em
condições climáticas menos favoráveis). Os
vôos desviados terão de se virar para encontrar
espaço em Guarulhos e Viracopos. A ser
mesmo levada a cabo essa decisão, Lula estará
comprando briga com as companhias aéreas
(que terão prejuízo) e com parte da classe
média (que faz uso das facilidades de
Congonhas);
2) jatinhos: Lula sempre insiste nesse ponto
quando participa de reuniões a respeito. Acha
que os vôos executivos devem ser todos
retirados de Congonhas. ―Quem tem dinheiro
para alugar avião pode parar mais longe e arcar
com os custos de alugar também um helicóptero
para chegar ao centro da cidade‖, foi a frase
ouvida hoje dentro do Planalto. Não será uma
decisão fácil. No mínimo deve ser imposta uma
redução drástica desse tipo de operação;
3) peso total dos aviões: a idéia é dar um
desconto no que indica a norma internacional.
Se, como afirmou a TAM, o limite de peso para
um avião como o Airbus é de 64 toneladas
numa pista como Congonhas, esse limite será
reduzido ainda mais como forma de conferir
mais segurança nas operações de pouso e
decolagem;
4) cargas: embora os aviões cargueiros não
parem em Congonhas, os vôos de passageiros
acabam sempre ocupando espaço vago para
transportar algum tipo de carga. Essa operação
deve ser restringida ao máximo em Congonhas.
Há outras medidas, mas este blog não teve acesso ao
pacote completo.
Lula também planeja demitir parte da cúpula do setor
aéreo, mas essas alterações não foram finalizadas. Estão
na lista de possíveis demitidos o ministro da Defesa,
Waldir Pires, e o presidente da Infraero, brigadeiro José
Carlos Pereira.
Ontem, o Palácio do Planalto negou que Pereira já tivesse
entregado o cargo, como chegou a ser divulgado. Mas a
negativa veio até com certo pesar. Até porque o pedido de
demissão seria bem-vindo.
211
Escrito por Fernando Rodrigues às 18h00
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O drive político do dia (19.jul.2007 - 5ª feira)
Vôo 3054 Lula se esfalfa para evitar a versão de
"tragédia anunciada". Planalto vende sem parar a versão
de que ainda é "cedo" para apontar culpados. Nenhuma
autoridade relevante do governo veio a público depois da
tragédia. Só saem notas e comunicados. Lula deixou a
tarefa de enfrentar as câmeras para o seu porta-voz.
Palpite do blog: só é cedo ainda para dizer o tamanho do
rombo na imagem presidencial. Que haverá desgaste não
mais dúvida.
Lula sem agenda o petista cancelou todos os
compromissos do restante da semana (lançaria o PAC da
habitação nos estados do Sul e ir ao Rio de Janeiro para o
evento comemorativo de 100 anos da Academia Brasileira
de Letras). O presidente terá poucos encontros durante o
dia, mas está sendo informado dos desdobramentos da
crise diretamente pelo comandante da Aeronáutica Juniti
Saito.
Comentário do blog: a única ação possível para Lula é
arbitrar imediatamente uma redução drástica do número
de vôos em Congonhas. Aí falta coragem de peitar as
companhias aéreas e a classe média que seria
prejudicada com a realocação dos vôos.
Congresso acompanha acidente a pedido do
deputado Raul Jungmann (PPS-PE), o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), autorizou a
convocação da Comissão de Representação do
Congresso. Essa comissão tem os mesmos poderes do
Congresso e pode aprovar projetos e convocar
autoridades, por exemplo. Jungmann quer convocar os
comandantes das principais entidades ligadas à aviação
(Anac, Infraero, Aeronáutica e Ministério da Defesa) para
darem explicações.
Ações o Ministério Público Federal entrou com um
pedido de liminar na Justiça Federal para que as
operações de pousos e decolagens nas pistas principal e
auxiliar do aeroporto de Congonhas (zona sul de São
Paulo) sejam interrompidas até que a segurança no local
seja confirmada. E o ministro Augusto Nardes do Tribunal
de Contas da União afirmou que irá propor que o tribunal
faça uma "auditoria preventiva" nos principais aeroportos
do país.
Juros menores seguindo a linha da última reunião o
Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa de
juros de 12% para 11,5% ao ano, um corte de 0,5 ponto
percentual.
Azar ontem, a TAP Portugal inaugurou seu vôo direto no
trecho Brasília-Lisboa. Haveria festa. Tudo foi cancelado.
Comentário do dia é o de Fábio Konder Comparato
(presidente da Comissão de Defesa da República e da
Democracia do Conselho Federal da OAB-SP), em curta
correspondência para a seção de cartas da Folha de hoje
(para assinantes): "Nas democracias autênticas, quanto
maior o poder, maior a responsabilidade. No nosso serviço
público é exatamente o contrário: quanto maior o cargo,
maior a irresponsabilidade. Espera-se que o Ministério
Público examine seriamente a responsabilidade dos
dirigentes da Infraero por homicídio culposo, com a
liberação indevida para o tráfego aéreo das mal acabadas
pistas do aeroporto de Congonhas."
Escrito por Fernando Rodrigues às 04h58
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18/07/2007
Uma dúvida para a Infraero esclarecer:
a obra da pista já foi integralmente paga?
Relato enviado ao blog por um funcionário público,
consultor em licitações públicas e finanças públicas. A
fonte não quer ter seu nome revelado. Pode ser
prejudicada profissionalmente –―tenho relacionamento
com empreiteiras em cursos que realizo‖.
Basicamente, o ponto a ser esclarecido imediatamente
pelo governo é o seguinte: a Infraero tinha obrigação de
receber a obra da pista de Congonhas verificando se
todos os elementos do contrato estavam devidamente
cumpridos. No caso, como se sabe, decidiu-se que a
instalação das ranhuras (ou, como se diz em inglês, o
―grooving‖) ficaria para uma segunda etapa. Quem tomou
essa decisão? Com base em qual estudo técnico? A obra
de R$ 20 milhões já foi paga? Quanto ficou para ser pago
depois da instalação das ranhuras?
Eis, a seguir, o relato do técnico:
―A Lei 8.666/1993 estabelece que todas as obras públicas
- como a reforma da pista de congonhas - devem passar,
obrigatoriamente, por três tipos de etapas para sua
entrega - parcial ou total‖.
1ª Etapa - Medição a empresa contratada recebe os
pagamentos em conformidade com as medições aferidas
pela contratante (parcela do serviço realizado). Por meio
desse procedimento o Estado (Infraero) é obrigado a
comparar o contratado (projeto básico/executivo) com o
realizado. Assim, se havia previsão de construção de pista
com os ‗sulcos‘ [ranhuras] para drenagem, antes mesmo
do pagamento das medições finais da pista, seria
detectada a não-conformidade entre a obra contratada e a
realizada‖.
―O pagamento da empreiteira ficaria retido ou seria
descontada a parcela não-executada, pendente sua plena
execução e fiscalização, para aprovação final‖.
―Se na parcela final da obra o ‗sulco‘ não foi feito, o
contrato não termina, porque a empresa contratada não o
executou a contento‖.
―A obra, portanto, não se encerra e, no caso concreto, a
infra-estrutura não é disponibilizada para recebimento
provisório‖.
―É aqui que está o problema da obra da Infraero‖
2ª Etapa - Recebimento Provisório obras de grande
vulto na verdade, dentro do interesse público, todas as
obras públicas devem passar pelo procedimento de
recebimento provisório. Em outras palavras: feitas as
medições todas, executadas as etapas do projeto e do
cronograma físico-financeiro, CONFIRMADA A PLENA
EXECUÇÂO CONTRATUAL, a contratante têm a
OBRIGAÇÃO (não trata-se de direito, mas de obrigação
do Estado) de verificar se todos os elementos foram
efetivamente cumpridos, dentro dos critérios de qualidade
e técnica estipulados em contrato. Havendo falhas, a
CONTRATANTE solicita sua correção, ficando pendente o
recebimento final da obra‖.
“3ª Etapa - Recebimento Definitivo - o recebimento
definitivo como o próprio nome indica somente se
realiza quando TODOS os elementos contratuais foram
212
checados, aprovados, pagos e atestados pelo
recebimento provisório‖.
―Em suma: a lei já prevê –e o conhecimento técnico de
engenheiros, tanto da Infraero, como das empreiteiras
envolvidas no processo, todos os elementos de garantia
para que uma obra pública seja entregue dentro das
especificações estabelecidas em contrato‖.
―Se a construtora não entregou a obra, não pode ter
recebido pela parcela integral da mesma‖.
―Pergunto: recebeu tudo ou não? Se não recebeu, quanto
não recebeu? Se a obra foi entregue, como uma parcela
relevante da mesma a drenagem foi deixada para
segundo plano?‖
Escrito por Fernando Rodrigues às 08h00
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O drive político do dia (18.jul.2007 - 4ª feira)
A tragédia do vôo 3054 em menos de 10 meses, os
dois maiores acidentes da história da aviação brasileira.
Lula cancelou os compromissos externos e mandou
emissários para acompanhar os desdobramentos do
acidente ocorrido em São Paulo com aeronave da TAM. O
PSDB confirmou a presença do deputado Júlio Redecker
(RS) no avião.
Comentário do blog: tudo fica secundário diante do
acidente em Congonhas. É cedo para saber os efeitos
políticos.
Renangate a Mesa Diretora do Senado decidiu
encaminhar à PF pedido para nova perícia nos
documentos de defesa apresentados por Renan
Calheiros. O ministro da Justiça Tarso Genro prometeu
encaminhar ainda hoje o pedido à polícia e afirmou que
investigações mais detalhadas sobre Renan só poderão
ser realizadas com autorização do Supremo Tribunal
Federal.
Palpite do blog: o caso agora entra em marcha lenta. O
desfecho será no final de setembro. Ou depois.
Congresso entra em recesso a partir de hoje e retoma
os trabalhos no dia 1º de agosto.
Gim Argello o suplente do ex-senador Joaquim Roriz
tomou posse, aproveitando a brecha do recesso do
Congresso. Mas o PSOL ingressou com representação
por quebra de decoro contra o senador pouco depois de
sua posse. Sobre as acusações que tem contra si, Argello
pediu ―tempo‖ aos senadores presentes na sessão para
poder se explicar.
Escrito por Fernando Rodrigues às 00h23
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17/07/2007
Avião tocou no ponto correto da pista e
continuou em linha reta e alta velocidade
O comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), Juniti
Saito, recebeu informações dos funcionários da torre de
controle do aeroporto de Congonhas atestando que o
Airbus A-320 da TAM tocou a pista no local correto ao
tentar aterrissar. Por alguma razão, disseram os
funcionários, o avião continuou em alta velocidade. Esse
dado terá de ser confirmado pela caixa-preta da aeronave.
Tocar o solo no local correto numa aterrissagem é o
primeiro requisito para que a operação seja bem sucedida.
Em seguida, o piloto deve empreender as ações
necessárias para frear o equipamento. Ainda não se sabe
a razão pela qual a velocidade não foi reduzida o tanto
necessário.
Essa é a primeira informação técnica disponível, por
enquanto, a respeito do acidente com o vôo 3054 da TAM
no início da noite desta terça-feira (17.jul.2007) em
Congonhas.
O fato de o avião ter continuado em alta velocidade depois
de ter atingido o solo informação pendente de ser
oficialmente confirmada com dados da caixa-preta reduz
muito a hipótese de os supostos defeitos na pista de
Congonhas serem os únicos possíveis causadores da
tragédia. Quando o avião derrapa por deficiência da pista
quase sempre ocorre uma mudança imediata na trajetória
em solo. As informações preliminares (atenção:
preliminares!) dão conta de que o Airbus da TAM seguiu
em linha reta até praticamente o final da pista, sem frear
nem perder a direção.
Como choveu nos últimos dias em São Paulo, haveria
também a hipótese de aquaplanagem o avião deslizando
sobre uma fina lâmina de água. Mas essa hipótese parece
não fazer sentido porque o avião ficou em linha reta quase
até o final da pista.
Quando se dá o fenômeno da aquaplanagem é comum a
aeronave jogar para um dos lados. A pista principal de
Congonhas tem 1,9 km (esse, evidentemente, é um
defeito sério da pista: é muito curta). Mas seria improvável
em aquaplanagem o deslizamento em linha reta durante
todo o percurso de 1,9 km. Além disso, ao aterrissar o
piloto estaria, em tese, acionando o freio. Com
aquaplanagem o avião poderia dar um "cavalo-de-pau" ou
começaria a deslizar para um dos lados. Mas as
informações disponíveis dão conta de não ter ocorrido o
desvio de rota.
Em algum momento da aterrissagem, o piloto ou alguém
na cabine de comando falou algo que teria sido
identificado pela torre de Congonhas como uma menção a
"virar" a rota do avião. Mas ainda não está claro em que
momento esse tipo de informação foi captada --se logo
quando o avião tocou o solo, se na metade da pista ou no
seu final, quando o Airbus acabou fazendo a curva à
esquerda e atingindo um edifício da TAM Express.
Por que isso teria acontecido? Não se sabe. Pode ter
ocorrido algum defeito no aparelho que o impediu de frear
(as turbinas não reverteram, os freios não funcionaram,
enfim, várias possibilidades a serem estudadas e
investigadas).
Espera-se que os dados da caixa-preta possam dirimir
essas dúvidas.
Há grandes esperanças de a caixa-preta do avião ser
encontrada intacta, pois nesse tipo de aparelho o
equipamento fica conservado na cauda a única parte que
213
não foi totalmente consumida pelas chamas nas horas que
se seguiram ao acidente.
O fogo demorou várias horas para ser debelado por causa
de duas possíveis razões. Primeiro, o tanque do Airbus
estava relativamente cheio (o avião seguiria viagem sem
abastecer em São Paulo). A segunda possibilidade é a
proximidade com o posto de gasolina, atingido na queda.
Quem esteve no local do acidente acredita que o número
de vítimas em terra possa subir para casa de várias
dezenas. No avião, são poucas ou quase nulas as
possibilidades de alguém ter sobrevivido.
Escrito por Fernando Rodrigues às 22h55
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O drive político do dia (17.jul.2007 - 3ª feira)
Dia D para o renangate Renan nega ter preparado
manobras protelatórias. A Mesa Diretora do Senado se
reúne hoje para deliberar, às 11h, se envia ou não pedido
feito pelo Conselho de Ética para que a PF aprofunde a
perícia nos documentos de defesa apresentados pelo
presidente do Senado. Renan deixou a cargo de Tião
Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente, presidir a reunião
da Mesa. O risco de algum senador pedir vista do
requerimento não pode ser descartado. O DEM e o PSDB
prometem radicalizar caso isto aconteça.
Palpite do blog: Renan está desenganado por todos os
aliados. Só Sarney e ACM (do seu leito no Incor) ainda
estão ao seu lado.
Câmara o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-
SP), marcou sessão no plenário da Casa com a intenção
de colocar em votação uma medida provisória que tranca
a pauta da Casa. Prometeu cortar o ponto dos faltosos.
Comentário do blog: a ameaça não resistirá a um pedido
de verificação de quórum.
Gim Argello, o sub-Roriz o suplente do ex-senador
Joaquim Roriz estuda tomar posse no Senado hoje,
véspera do recesso do Congresso. A estratégia é tirar os
holofotes das várias denúncias que envolvem seu nome.
Apagão aéreo a CPI do Apagão Aéreo (alguém se
lembra) toma hoje os depoimentos de quatro analistas de
Finanças e Controle Externo do Tribunal de Contas da
União (TCU): Jorge Pereira de Macedo, Cláudio Sarian
Altourian, Carlos Sebastião Costa e Elizeu Grosskops
Schlottseldt Júnior. Eles devem falar sobre contratos da
Infraero de obras em aeroportos do país.
Comentário do blog: as CPIs sobre o apagão aéreo (na
Câmara e no Senado) são uma demonstração viva da
falência desse tipo de instrumento de investigação dentro
do Congresso.
E na Argentina... ...a ministra da Economia, Felisa
Miceli, renunciou após ser chamada a explicar sacola de
dinheiro achada em banheiro do gabinete.
Escrito por Fernando Rodrigues às 05h48
[(23) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
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16/07/2007
Magno Malta se nega a pedir vista e
processo contra Renan deve prosseguir
O senador Magno Malta (PR-ES) disse hoje a aliados
seus que não pretende pedir vista do processo contra
Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa.
Malta é um dos 7 integrantes da Mesa Diretora do
Senado. Amanhã, a Mesa se reúne para despachar um
pedido do Conselho de Ética: encaminhar para a Polícia
Federal uma solicitação formal de perícia nos documentos
de rendimentos pecuários de Renan Calheiros cujo
faturamento foi de R$ 1,9 milhão em 4 anos.
A idéia dos renanzistas é tentar alguma saída para que a
Mesa Diretora nada decida amanhã. Dessa forma, tudo
fica adiado para agosto. O Congresso entra em recesso a
partir de quarta-feira.
Uma saída fácil era um dos integrantes da Mesa fazer o
pedido de vista. Trata-se de um procedimento comum,
quando a pessoa não se sente segura para tomar uma
decisão durante algum processo de julgamento.
Magno Malta era tido como o mais suscetível a esse tipo
de manobra. Agora, seu nome parece descartado.
Outra possibilidade é não haver quorum para que seja
realizada a reunião de amanhã. São necessários pelo
menos 4 integrantes da Mesa Diretora (titulares ou
suplentes). Eis os nomes (e seus respectivos e-mails):
presidente Renan Calheiros (PMDB-
AL) renan.calheiro[email protected].br
1º vice Tião Viana (PT-AC) tiao.vi[email protected]
2º vice Álvaro Dias (PSDB-
PR) alvarodias@senador.gov.br
1º secretário Efraim Morais (DEM-
PB) efraim.morais@senador.gov.br
2º secretário Gerson Camata (PMDB-
ES) ger[email protected]v.br
3º secretário César Borges (DEM-
4º secretário Magno Malta (PR-
Suplente Papaléo Paes (PSDB-
AP) papaleo@senador.gov.br
Suplente A. C. Valadares (PSB-SE)
Suplente João Vicente (PTB-PI)
j.v.claudino@senador.gov.br
Suplente Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
Escrito por Fernando Rodrigues às 11h03
[(27) Comentários] [Regras] [envie esta mensagem]
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O drive político da semana (16 a 20 de julho)
segunda-feira (16.jul)
Semana política curta o recesso congressual começa
4ª feira. Em tese, essa turma só trabalha até amanhã.
Depois, férias agora, oficiais.
Renangate o presidente do Senado, Renan Calheiros,
finaliza sua estatrégia. Vai ou não vai recorrer ao STF
para embananar de uma vez o processo? Haverá quórum
de pelo menos 4 dos 7 integrantes da Mesa Diretora do
Senado nesta 3ª feira? Algum senador pedira vista do
processo para jogar tudo para agosto?
214
Palpite do blog: ninguém sabe. Amigos de Renan dão
opiniões diversas. Pode dar qualquer coisa.
Encontro petista os líderes das bancadas do PT nas
assembléias legislativas do país estarão em Brasília, na
sede do partido, para uma reunião que debaterá temas
como o PAC nos estados e municípios.
Lula de volta a Brasília, quer esquecer as vaias do Pan.
Recebe, entre outros, o presidente mundial do grupo
Deutsche Bank, Josef Ackermann, o comandante da
Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito, e o ministro
da Fazenda, Guido Mantega.
CPI da CDHU em SP reportagem de Rubens Valente,
na Folha de hoje (só para assinantes), informa que "um
terço dos deputados estaduais da Assembléia Legislativa
de São Paulo recebeu doações financeiras, durante a
última campanha eleitoral, de empresas contratadas para
realizar o programa de construção de casas populares da
CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano) do governo paulista". Essa turma apoiou manobra
do PSDB na semana passada para enterrar uma CPI que
apuraria suspeitas de irregularidades nesses contratos.
Dado relevante: dos 32 que receberam doação de
empreiteiras, 13 são filiados ao PSDB, partido que detém
a maioria na Assembléia 8 são do PT; 4 do DEM, 2 do
PMDB, 2 do PSB, 1 do PDT, 1 do PPS e 1 do PTB.
Comentário do blog: em Brasília, o PT. Em São Paulo, o
PSDB. Eles duelam na política, mas não sabem como se
parecem.
ACM continua com a saúde em estado delicado, no
Incor, em SP.
terça-feira (17.jul)
Dia D para o Renangate a Mesa Diretora do Senado
deve se reunir para decidir se aceita ou não pedido feito
pelo Conselho de Ética para que a PF aprofunde a perícia
nos documentos de defesa apresentados por Renan
Calheiros. A oposição promete fazer vigília para evitar
novos adiamentos.
Câmara está marcada sessão no Plenário da Casa, com
a pauta trancada por quatro MPs. Alguém vai aparecer?
Palpite do blog: nem pensar... Os deputados já estão
todos em ritmo de aventura.
quarta-feira (18.jul)
Juros último dia de reunião do Copom, quando será
divulgado a nova taxa básica de juro da economia
brasileira.
Folga O Congresso Nacional entra em recesso. Só volta
a funcionar no dia 1º de agosto.
quinta e sexta-feira (19.jul e 20.jul)
Brasília vazia sem novos escândalos e sem Congresso,
a capital tende a ficar às moscas.
Comentário do blog: quando Brasília dorme o Brasil
cresce.
Escrito por Fernando Rodrigues às 05h58
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BLOG LUIS NASSIF
Blog Luis Nassif
21/07/07 22:21
Trivial de domingo
Sob o som de Anat Cohen, vou avançando no sábado e
entrando no domingo. De férias, as menininhas esticam a
noite. Ficam arrulhando em torno da mãe, da televisão.
No DVD, vejo a entrevista do Zé Grandão ao Jô, em 1993,
falando sobre seu livro "Sorte e Arte". Na semana passada
teve um dia dedicado ao amigo. Pelo menos é o que
diziam vários emails que recebi.
Esses dias em São Paulo, em plenas férias escolares,
mas longe de Poços de Caldas, trazem um certo ar
nostálgico. Minha idéia era passar uns dias por lá, mas
marquei uma reunião de economistas por aqui, na
segunda.
Acho que essa profissão de jornalista, e essa vida de
Blogueiro, estão atrapalhando um tanto meu lazer. Está na
hora de uma paradinha. Mas de que jeito?
Só o Trivial para falar sobre o tempo, as lembranças e a
vida.
Enviado por: Neves
Aqui Rosinha de Valença solando.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 20:22
O choro israelense
O leitor Luiz Fernando M. passou a dica: ouçam que baita
clarinetista, á israelense Anat Cohen e o Choro Ensemble,
executando Migalhas de Jacob do Bandolim.
Enviado por: LUIZ EDUARDO
Que maravilha de clarinetista! E bárbaro o arranjo,
misturando o choro com os ritmos cubanos. Corri no
Google para encontrar alguma coisa a seu respeito, e
descobri uma que pede uma retificação no seu post: não é
O israelense, mas A israelense: Anet Cohen é mulher, e
bonita! A foto está no seu site:
http://www.anatcohen.com/live/
Clique aqui para ver e ouvir o balanço cubano da Anat
Aliás, na home de Anat tem um choro-baião brasileiro
embaladíssimo. Não consegui me lembrar do nome.
Ou ela aprendeu com o Proveta, do Banda Mantiqueira,
ou o Proveta com ela. Recomendo o último CD do
Proveta, uma obra prima.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 18:56
O Brasil sem a Bahia de ACM
enviado por: Luiz Horacio
Não se deve esquecer do Brasil de ACM, tão importante
quanto seu papel na Bahia.
Já imaginaram o peso que não se tira, mas se transforma,
na balança política brasileira? Digo, peso da atuação
política, influência política e representante de um conjunto
de valores e doutrinas. Não podemos nos esquecer que
ACM tinha uma importância enorme também no debate
doutrinário-ideológico brasileiro.
Se Luiz Eduardo estivesse vivo, a resultante seria ele, e
isto implica num deslocamento para o centro e para a
moderação, e talvez para um debate mais bem instruído.
Mas agora restou um vazio, e o governo de Jacques
Wagner. A Bahia tornou-se uma incógnita, e com ela boa
parte do Nordeste.
Não tanto pela falta de valores, que a região os tem,
alguns de destaque, mas pela falta de atuação mesmo, de
presença no debate e de ocupação dos espaços. Mas não
deixa de ser uma mudança gigantesca e fundamental na
política brasileira, que apenas se inicia.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 17:36
A Bahia de ACM
Enviado por Humberto Miranda Nascimento
Caro Nassif, acho que vale uma nota sobre a morte do
Sen. ACM nessa semana de tantas mortes.
Primeiro a ironia da história _ com ironia não estou
querendo ironizar ninguém, bem entendido _, qual seja, o
PT acabou enterrando o líder político mais longevo da
Bahia. Pelas asas do avião presidencial e pelo velório no
palácio de Ondina, sob o cerimonial de Jaques Wagner.
Talvez seja um caso raro de última homenagem. Não há
honra maior que o de receber o reconhecimento de seus
maiores adversários. Uns vão dizer que nem tanto, mas
eu estou falando do ponto de vista histórico e em função
da derrota na eleição para o governo estadual.
A história pessoal de ACM acaba depois de uma sucessão
de convalescenças: a perda do Filho, Luís Eduardo, da
qual nunca se recuperou, a renúncia pela violação do
painel do senado, desonrando o regime republicano, mas
depois reeleito "pelo povo", como dizia, a derrota de seu
candidato ao governo da Bahia em 2006, as inúmeras
internações e recuperações, as inúmeras tentativas de
aproximação com o governo Lula, críticas duras e o
reconhecimento da liderança de Lula em seu Estado,
afinal o povo baiano é lulista desde 1989.
De alma inquieta, hábil, maquiavélica e sagaz, esse velho
líder conservador não se contentava com pouco. Quis
tudo, conquistou quase tudo, perdeu pouco, um pouco-
que-foi-muito, mas dificilmente se deixava saber vencido.
Havia sempre uma forma de estender seus domínios. De
todas as perdas acumuladas, a última de suas posses foi
o próprio corpo. Sua alma teve de abandoná-lo, mesmo
contrariada. Aqui em Salvador, a sensação é de que
faltava-lhe apenas deixar a vida vivida, porque a vida
política já o havia sepultado com a última pá de cal.
Nunca senti orgulho do velho líder, com seu ar imperial e
cercado por vassalos. Todavia, ele foi capaz de dar
sentido à luta de nós todos que fomos durante muitos
anos anticarlistas. Seria uma heresia não reconhecer sua
importância. A esquerda baiana e os adversários de ACM
216
enterram-no como se enterrassem uma bandeira de luta,
como se finalmente o último soldado fosse avisado que
poderia deixar o front. O culto à sua memória
permanecerá, mas perdeu o sentido lutar contra o que ele.
Fica o que ACM representou, para seus aliados e para
seus adversários políticos e pessoais. A Bahia que tanto
vai rende-lhe homenagens continua com alarmantes
índices de desigualdades sociais, alguns até bem acima
da média nacional. Esse é o front.
Que na Bahia nasçam lideranças de outra estirpe, mais
serenos e eficazes que ACM.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 17:31
O espólio de ACM
Não tivesse sido derrotado por Jacques Wagner nas
últimas eleições, o espólio de ACM certamente iria para
Paulo Souto. De todos os seguidores de ACM, Souto era o
único com luz própria, incapaz de vergar a coluna para o
comandante máximo. ACM teve que aceitar sua
candidatura. E Souto não escondia que sua ambição era
ampliar o espaço, mesmo que tivesse que colidir mais à
frente com ACM.
Com a derrota de Souto, confesso não ter informações
suficientes para saber para onde irá o carlismo.
Certamente é espólio grande demais para ficar nas mãos
do ACMNetinho.
enviado por: J Augusto
Paradoxo dos paradoxos, muito irá para quem já estava
indo: seus opositores, sobretudo Geddel V. Lima. Parece
quem melhor capturou seus métodos e lições.
Seus seguidores ficarão apenas com uma parte. Talvez a
menor.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 17:13
A saga de Álvaro Alberto
Nesses tempos em que se tenta, e não se consegue
avançar na construção de novas instituições, nada melhor
do que recordar a saga do Almirante Álvaro Alberto, em
CRÔNICAS.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 16:17
ACM e a busca do status político
ACM era um coronel modernizador, mas era coronel.
Tentava se cercar, sempre, dos melhores quadros
técnicos. Quando começou seu reinado, na Bahia,
expulsou de lá Rômulo de Almeida e outros grandes
planejadores baianos. A Bahia era um exemplo de bons
escritórios de planejamentos.
Os quadros técnicos do estado se dispersaram. Parte foi
absorvida pelo próprio ACM. Aceitaram o jogo político
porque era a única maneira de conseguirem trabalhar. E
ajudaram ACM a produzir uma revolução modernizadora,
porém parcial, na Bahia.
Salvador virou um brinco, mas tinha zero de tratamento de
esgoto. O Pelourinho foi reformado, mas o interior
totalmente abandonado. O turismo e a música se tornaram
atividades econômicas relevantes. Mas a especulação
imobiliária se tornou uma constante em Salvador,
sufocando os projetos de Rômulo de Almeida, de
urbanização com a apropriação pelo poder público da
valorização dos terrenos recuperados.
Quando se aproximou de FHC, ACM se deslumbrou com
esse pacto com os políticos tidos como os mais modernos
do país. O fato de seu filho Luiz Eduardo desempenhar
papel relevante em um governo tido inicialmente como
modernizante era motivo de orgulho, mas também de
certa ciumeira.
Na verdade, Luiz Eduardo tinha dois ídolos na vida
pública: FHC e o maior adversário de ACM, José Serra.
Quando FHC decidiu trazer Serra de volta para o governo,
oferecendo-lhe o Ministério da Saúde, ACM se opôs
fortemente. De viagem para o Rio, estava na sala com um
dos porta-vozes de ACM, quando Luiz Eduardo ligou. A
pessoa me permitiu acompanhar a conversa. Nela, Luiz
Eduardo se insurgia contra o pai, e dizia que FHC tinha
que se cercar dos melhores mesmo. E Serra era dos
melhores quadros da República.
No fundo, o grande sonho de ACM era o mesmo da
primeira geração de empresários que vende a alma para
conseguir riqueza, e aspira nobreza para a segunda
geração. Luiz Eduardo seria o passaporte da família
Magalhães do coronelato para a elite político-intelectual
brasileira.
Sua morte abortou completamente o projeto político de
ACM. De lá para cá, entrou na contagem regressiva.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 16:05
Itamar e ACM
ACM era tão influente e poderoso, que permitiu o maior
momento político do presidente Itamar Franco.
Com sua ascendência sobre a mídia, vivia acenando com
dossiês a torto e a direito. Uma das ameaças foi contra um
dos Ministros de Itamar. O Presidente convidou-o a
apresentar o dossiê no Palácio.
ACM foi como o todo-poderoso da República. Ao entrar na
sala da Presidência, em vez de fechar a porta Itamar abriu
e convidou os jornalistas a acompanharem a reunião.
ACM perdeu o rumo de uma forma nunca antes vista, nem
antes nem depois.
Foi o maior momento de Itamar.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 16:02
ACM e o maior momento de FHC
Tive dois conflitos com ACM, assim como inúmeros
jornalistas também tiveram.
O primeiro, no episódio Jáder Barbalho. Defendi a tese de
que, até ser abatido pelas denúncias, Jáder havia sido
vitorioso no confronto. Dois jagunços valentes que se
217
atracaram, afundaram na água. Mas Jáder não largou
ACM até vencer a parada.
ACM tentara articular a CPI da Corrupção, como maneira
de impedir a eleição de Jáder. Com a balbúrdia feita pela
mídia, na ocasião, Jáder foi cercado por parlamentares
pressionando-o a assinar o pedido de CPI. Ele disse que
assinaria, com uma condição: que fosse incluída a pasta
cor-de-rosa e o caso Banco Econômico. A CPI morreu ali.
ACM ficou indignado com minha coluna e mandou um fax
me desafiando para um duelo (verbal). Seu assessor,
Fernando César de Mesquita, me ligou dizendo que ACM
estava louco da vida com FHC, porque o presidente falava
uma coisa para ele, outra para Jáder, jogando com os
dois.
Propus três saídas para o impasse criado pelo envio do
fax de ACM. A primeira, publicar a carta dele com minha
resposta. A segunda, ele conversar comigo e contar sobre
esse ambiente criado entre ele, Jáder e FHC. A terceira,
deixar por isso mesmo. Ficou por isso mesmo.
A segunda vez foi logo depois da mudança cambial,
quando o governo FHC estava caindo pelas tabelas. ACM
apossou-se do poder como se fosse dele. Chegou a
anunciar uma medida qualquer em relação ao preço da
gasolina. Escrevi uma coluna dizendo que ele deveria ter
aprendido com o filho Luiz Eduardo (já falecido) normas
de civilidade política.
Outro fax, me desafiando para um novo duelo (verbal) em
local onde eu escolhesse. Respondi deixando a escolha
por sua conta, sabendo de seu bom gosto por
restaurantes, e agradecendo o convite porque me daria
uma bela oportunidade de conhecer parte da história do
Brasil. Entendeu a ironia, e ficou por isso mesmo.
O terceiro contato, ainda que indireto, foi nos episódios
que se seguiram à eleição de Jáder, quando ACM acionou
todos seus contatos na imprensa para um tiroteio terrível
contra o governo FHC.
No sábado, quando saíram as primeiras capas de
semanais com as denúncias de ACM, o clima era
pesadíssimo. A "Época" chegou a escrever que a
entrevista com ACM era mais relevante do que a da "Veja"
com Pedro Collor, sugerindo que deveria ser razão para
um "impeachment" de FHC.
Por coincidência, naquele sábado almocei com um
Ministro do governo FHC. No almoço, ponderei que não
havia lugar para empate na disputa FHC x ACM. Ou FHC
vencia ou seria derrotado.
Na segunda, fui a Brasília para uma palestra de manhã.
Quando estava a caminho do aeroporto, recebi um
telefonema do Ministro, perguntando se poderia ir com ele
ao Alvorada. Fomos.
Lá, pediu que repetisse para FHC o que havia dito no
almoço. Repeti. A reação de FHC foi surpreendente, e
revelou um ângulo do presidente que eu não conhecia.
Conhecia o vaidoso, em momentos de brilho, o "fala-o-
que-você-quer-ouvir", em momentos de crise. Mas ali, na
minha frente, estava um presidente forte, com pleno
conhecimento do seu poder e da autoridade do cargo.
- É claro que não vai haver empate. O Antonio Carlos es
esperneando porque vai perder o cargo, nesse episódio
de vazamento da votação no Senado.
O episódio ainda estava no começo. Meses depois, ACM
tinha que renunciar para não ser cassado.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 11:51
Modelo de atuação
Enviado por: virgilio tamberlini
Nassif:
Li todas as matérias postadas sobre o acidente da Tam, e
estou escrevendo este post para tentar corrigir uma
grande omissão: A atuação explendida do Corpo de
Bombeiros do Estado de São Paulo.
Eles chegaram ao local em cerca de três minutos e de
imediato já começaram refrigerar o posto de gasolina,
onde havia mais de 105 mil litros de combustível. Sem
esta ação o que poderia ocorrer?
Em menos de cinco minutos, toda a rede elétrica da região
já estava cortada.
Vários bombeiros, que nem sequer estavam em serviço,
foram de forma voluntária para o local, muitos não
abandonaram o serviço mesmo depois de vencido o seu
turno de trabalho. Trabalho este realizado sob forte risco.
Se compararmos esta ação do Corpo de Bombeiros com o
filme 9/11 do Michael Moore, veremos que o CBESP em
matéria de gerenciamento de crise deu de 100 a 0 nos de
Nova Iorque.
Parabéns pessoal do CB, a população paulistana, mais
uma vez deve esta.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 11:48
O problema não é Marco Aurélio
Nos últimos meses, a ANAC (Agência Nacional de
Aviação Civil) só fez aprovar novas linhas para a aviação
comercial brasileira.
O pacote anunciado ontem por esse Conselho de Aviação
Civil (CONAC) traz um conjunto de medidas óbvias, que
jamais precisariam ser adotadas por um Conselho que se
reuniu apenas duas vezes em sua existência. Tinha que
ter sido tomadas pela própria ANAC.
Homenageado ontem pela Aeronáutica, o presidente da
ANAC, Milton Zuanazzi, não tem condições de continuar à
frente do órgão. Ao se limitar a aprovar o aumento do
número de vôos, ao se eximir de decisões óbvias (como
proibir vôos charts em Congonhas, ou impedir que se
transformasse em hub da aviação nacional), Zuanazzi
demonstrou não ter envergadura para o cargo.
Foi necessário o Sr. Crise tomar as medidas que ele
deveria ter tomado.
Uma agência depende dos seus regulamentos, da sua
governança. Mas depende fundamentalmente de seus
primeiros dirigentes. Estes são as pessoas que montam o
caráter da agência, os princípios que dali por diante irão
nortear sua atividade.
O CNPQ não teria se transformado no que foi se não
fosse o almirante Álvaro Alberto na sua criação. A
Unicamp não teria se transformado em centro de
218
excelência sem Zeferino Vaz. O IPT, a Fapesp não teriam
se transformado em instituições modelares sem seus
pioneiros.Se se mantém um presidente que, nesse
período todo, limitou-se a acatar as burocraticamente as
demandas das empresas aéreas e convalidar essa busca
incessante da rentabilidade, em detrimento da segurança,
é evidente que não serve para o cargo.
Além disso, as decisões de ontem, óbvias, passam
totalmente ao largo da reformulação do sistema de gestão
da aviação civil. De estrutural, apenas a decisão de
entregar à ANAC (a ela!) a incumbência de traçar um
diagnóstico do setor.
Quando se fala em coordenação do setor, supõe-se um
órgão que paire acima dessa multiplicidade de agências
atuando de forma descoordenada. Esse órgão
inevitavelmente tirará poderes dessas agências. E
entrega-se a uma dessas agências a incumbência de
pensar a saída estrutural!
Todo o trabalho de ampliação de Congonhas, os
investimentos vultosos na parte comercial, no grande
shopping construído, tinham em mente um crescimento do
movimento de passageiros abortado pela decisão do
Conac.
Não há nada que exponha de forma mais clara a
descoordenação do sistema aéreo brasileiro. A Infraero
construindo seus shoppings aéreos, a ANAC procurando
rentabilizá-los, sem nenhum plano de vôo adequado.
Ontem prosseguiu o festival de exploração política do
gesto do Marco Aurélio Garcia. Fosse um país mais
racional, em vez de explorar os sentimentos de parentes
de vítimas em um episódio irrelevante, essa energia toda
deveria estar concentrada na pressão pela definição de
um novo modelo aéreo, pelo afastamento do Ministro da
Defesa Waldir Pires e do presidente da ANAC Milton
Zuanazzi e pela criação de um grupo de trabalho
independente, que possa estudar experiências
internacionais e apresentar um novo modelo, consistente,
de gestão da logística nacional.
enviada por Luis Nassif
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21/07/07 00:10
Trivial de um sábado musical
A semana chegou ao fim. E porque hoje é sábado, darei
um jeito de me juntar a alguma roda de choro para uma
sessão de descarrego.
Vou tocar "Sofre porque queres", "Lágrimas",
"Murmurando", "Naquele Tempo". O grupo é harmonioso,
tranqüilo, cada qual sabe o seu papel e tem espaço para o
seu talento.
Não há abelhas assassinas, a perversão dos que se
comprazem com a desgraça, a agressividade gratuita dos
desequilibrados. Há uma celebração da amizade tendo
como fundo o choro, o samba.
Bom Trivial para vocês e espero que neste sábado
também celebremos, por aqui, a confraternização e a
música.
enviada por Luis Nassif
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20/07/07 18:11
Radicalização irresponsável
A radicalização política está assumindo proporções
assustadoras. Está se tornando um fenômeno amplo e
que, a qualquer momento, pode fugir ao controle do bom
senso.
Os gestos do Marco Aurélio Garcia e do seu assessor,
comemorando a "barriga" da cobertura do "Jornal
Nacional" são condenáveis. Mas filmá-los dentro de sua
sala, na intimidade, equivale a um grampo ilegal. É crime.
Qual teria sido o comentário dos editores da Globo
quando receberam o material que permitiu desviar o foco
da discussão da cobertura para o gesto do assessor?
Lembro-me quando a "Veja", em um de seus momentos
típicos, crucificou o jornalista Ricardo Boechat, em cima
de frases tiradas de um grampo, em uma conversa
informal. Um ex-diretor da revista, Mário Sérgio Conti,
comentou com o então diretor da revista que se tivessem
sido grampeadas as conversas deles com Pedro Collor,
ninguém sairia ileso. E isso porque termos e frases (até
gestos) em uma conversa privada em tudo diferem de
uma manifestação pública. Muitas vezes o problema não é
da frase ou do gesto: é do grampo e da publicidade dada
ao ato criminoso de grampear sem autorização judicial.
Mesmo assim, tanto o gesto de Marco Aurélio como a
repercussão da mídia mostram que conveniências
políticas se colocaram acima da solidariedade com as
vítimas ou da busca de saídas para o impasse aéreo.
Tem-se um jogo, hoje em dia, em que se condena Lula
por seus erros e por erros de terceiros, na outra ponta, se
ataca José Serra meramente por ter divulgado o número
de mortos. Acenam-se com cadáveres do Metrô contra os
cadáveres da TAM. E toda essa luta para quê? Não estão
em jogo projetos de país, modelos alternativos de
desenvolvimento, princípios políticos e ideológicos. É um
pega-pra-capar que tem a mesma falta de lógica dos
efeitos-manada.
A imprensa se machucou seriamente no período eleitoral.
Não aprendeu a lição. Tem que cobrar Lula pela falta de
regulação do setor aéreo, pela incompetência da ANAC
(Agência Nacional de Aviação Civil), pela politização
anterior da Infraero. Tem que se cobrar um novo modelo
para o setor aéreo.
Agora, quem ganha com esse tiroteio destrambelhado,
com esse festival de acusações apressadas, com essa
tentativa de criar um fato político em cima de grampos
televisivos? Quem ganha com essa montagem de colocar
uma frase solta do Ministro da Defesa reclamando de
salário, como se fosse uma resposta à crise aérea?
É um preço muito alto que o país paga para se desviar o
foco da discussão principal: a incompetência do governo
para resolver a questão aérea, a incompetência da mídia
para fazer uma cobertura técnica e isenta.
enviada por Luis Nassif
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20/07/07 13:13
Das responsabilidade e do crime
Há duas situações claras e distintas nesse acidente.
Uma, as condições do espaço aéreo nacional, com toda
sua precariedade, incluindo as condições de pouso em
Congonhas.
Outra, tendo como dado objetivo esse cenário, a decisão
219
de manter em vôo uma aeronave com o reverso avariado,
e de ter permitido uma decolagem com as condições de
tempo registradas e o peso carregado pela aeronave.
O primeiro caso é uma discussão política relevante, com
desdobramento nas áreas cível e, eventualmente, na área
criminal.
O segundo caso é crime. Resta saber se a
responsabilidade é apenas da TAM ou se compartilhada
com a agência fiscalizadora.
enviada por Luis Nassif
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20/07/07 11:38
Vídeos sobre o Airbus
Aí vai uma relação de vídeos sobre o Airbus no Youtube.
Para os especialistas do Blog assistirem e opinarem.
Vídeo 1
Vîdeo 2
Vídeo 3
Vídeo 4
Vídeo 5
Vídeo 6
Vídeo 7, mostrando o momento exato em que o spoiler é
acionado.
enviada por Luis Nassif
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20/07/07 10:48
As responsabilidades da TAM
A mídia está tratando com cautela a responsabilidade da
TAM no acidente com o Airbus. No acidente com a
Fokker, o "Jornal Nacional" chegou a colocar uma
entrevista de vários minutos com um piloto anônimo,
despedido da empresa, desancando a companhia.
Os cuidados atuais se devem a outras razões. Como
sempre acontece nesses episódios, sai-se atirando no que
se vê. Esse viés estava mais presente nas manchetes e
nos colunistas. A cobertura, em si, foi mais objetiva.
Depois, há enorme dificuldade para o ajuste de rota,
quando os fatos colidem com a versão inicial.
Não se condene a mídia por essa cautela com a TAM.
Essa deveria ser a regra. Mas é flagrante a diferença em
relação ao tratamento anterior.
Ontem, por exemplo, "O Globo" deu em manchete uma
relação de órgãos governamentais que atuam no setor
aeronáutico, e não apresentavam nenhuma explicação
para o acidente. Agora, que o "Jornal Nacional" traz a
hipótese mais concreta para o acidente, o jornal foi
obrigado a dar o furo em uma tímida manchetinha de uma
coluna.
Todos os jornais deram, com destaque, a explicação da
TAM de que é possível aterrissar sem o reverso. Na
"Folha", um especialista anônimo (porque o anonimato
para uma avaliação técnica?) diz que "o problema no
reverso direito do Airbus-A320 da TAM não seria
suficiente, sozinho, para provocar o acidente de terça-
feira, conforme especialistas ouvidos pela reportagem".
Claro que não. "Técnicos apontam ainda que a pista do
aeroporto, além de escorregadia sob chuva, é curta e sem
área de escape, algo que potencializa as dificuldades", diz
ele. "A aeronave não depende dos reversores para frear
nas situações normais. Isso porque, embora usado
praticamente em todos os pousos do tipo, ele é só um
instrumento extra para ajudar a frenagem do avião, que é
projetado para parar com freios das rodas e
aerodinâmico".
Tudo o que ele colocou é agravante para a TAM, mas o
tom é de atenuante. Estava-se em situação normal? Claro
que não. Chovia, o avião voava dentro do limite máximo
de peso, do limite máximo de passageiros.
Não sei se me escapou, mas não me lembro de ter lido
nos jornais os problemas com as cinco aeronaves da TAM
que, em dezembro, foram tiradas de operação para
manutenção extraordinária, agravando os problemas dos
passageiros. Só se faz manutenção extraordinária em
tamanha quantidade de aeronaves quando se deixa de
fazer a manutenção ordinária.
É evidente que há tempos a TAM vinha perseguindo
obsessivamente índices de rentabilidade da Gol, e se
descuidando de aspectos básicos da operação. Aqui
mesmo, no Blog, escrevi várias matérias sobre esse
desmonte da empresa, a primeira, se não me engano, em
meados do ano passado.
Esse desmonte foi mais amplo do que o que se observava
no atendimento aos passageiros. A notícia da manutenção
extraordinária dos cinco Airbus, em dezembro passado,
indicava que havia mais coisas no ar do que aviões de
carreira e a perda de qualidade no atendimento.
enviada por Luis Nassif
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20/07/07 07:00
O risco de um novo “apagão”
Na aba de ECONOMIA (clique aqui) a Coluna Econômica
discute os riscos de um "apagão" elétrico.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 23:59
Trivial de sexta com James Brown
Divirtam-se no Trivial com esse Youtube com James
Brown, selecionado pelo Gustavo Conde
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 23:24
A solidariedade do Presidente
Enviado por: Anônimo
Prezados
Como vários de vcs disseram, não se sabe a causa
EXATA do acidente, se o reverso é o único responsável e
é leviano culpar quem quer que seja.
Mas pela lógica de quem nada entende, necessário deve
ser, senão não existiria, e como bem diz Nassif, seria ao
menos um fator de risco a mais...
Quanto ao Lula, não é culpa dele e pouco me importa o
220
que outros ou a mídia achariam...
Mas, como quem perdeu um amigo de há 20 anos, pai de
família, marido da minha melhor amiga, pai de dois filhos
de 9 e 6 anos, tenham certeza, faltou a palavra do
Presidente à nós.
Que temos que ir ao IML munidos de ficha dentárias e
afins, como colocaram acima, para identificar corpos
carbonizados.
Que vivemos o horror de ver famílias destruídas.
Que choramos a cada vez que não, aquele corpo não é
daquela "nossa" pessoa amada....
Que temos apenas o desejo de encontrar um corpo
sabemos, sem vida.
Que temos que responder aos filhos porque papai não
está.
Que temos que consolar mulher, pais, sogros, amigos,
sempre de forma firme e sem chorar.
Que choramos escondido, porque há muito o que fazer
pelas pessoas amadas para confortá-las...
Faltou o estadista (em que pese eu SEMPRE tenha
votado nele), que se colocasse nos nossos lugares e se
manifestasse.
Faltou solidariedade de quem comanda a nação....
Pouco importa o que diriam. Nós familiares, amigos,
mesmo sabendo que isso não trará ninguém de volta, nos
emocionamos e nos sentimos acolhidos com a tarja negra
dos atletas do PAN.
Não queremos crucificar possíveis culpados antes da
hora, queremos e merecemos um mínimo de
solidariedade do governante da nação.
É só, nada mais consigo escrever sem que a tela
magicamente se embace...
Abços
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 23:16
A questão do reverso
Estou procurando escrever com cuidado, para não haver
precipitação nas conclusões. Mas é evidente que o
reverso é fundamental para a freagem em Congonhas.
Nos últimos meses, pousei com vários aviões acionando o
reverso ao máximo para conseguir chegar ao final da
pista, ou aop ponto em que taxiam. Os passageiros tinham
que se firmar no assento para não caírem. Objetos
deixados em cima das poltronas eram arrastados para o
chão. E tudo isso com céu aberto, sol. Como, agora, se
vem com essa história de que o reverso é dispensável.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 23:07
O uso do reverso
Enviado por: Antonio Carlos de So
Caro Nassif, o reverso é primordial no pouso de uma
aeronave a jato. Por ser um jato e pousar com velocidades
maiores que um avião a hélice, o uso do reverso é
essencial em pistas de pouca extensão como Congonhas.
Os procedimentos para um pouso em pista molhada
preconizam o uso do reverso no início da frenagem
evitando o uso dos freios. Também deve-se evitar o uso
de freios e reversos ao mesmo tempo para evitar a
hidroplanagem. Além disso, é recomendado o uso dos
freios com suavidade em uma pista molhada para evitar a
hidroplanagem.
Na minha humilde opinião, errou a TAM em não parar a
aeronave. Errou o piloto em confiar demais em sua larga
experiência e pousar uma aeronave com havia
apresentado problemas no reverso e sabendo que a pista
de Congonhas não apresenta condições ideais de pouso
em dias chuvosos. Deveria ter solicitado o pouso na pista
interna. Mas, o piloto pode ter realizado o procedimento
por medo de perder o emprego.
Além do problema do reverso, pergunto: está previsto
passageiros viajando sem estar acomodado com cintos de
segurança. A aeronave tinha excesso de passageiros, não
está previsto a viagem fora dos assentos. Estas
conclusões a que chego são apenas especulativas
balizadas na minha pouca experiência de vôo.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 21:35
Tratado sobre as manchetes
Enviado por: lu dias
Nassif
A manchete de um jornal é o ponto central da informação,
o x da incógnita,
o abre-alas do informativo.
Quando criativa e sensível atrai os olhos do leitor, num
primeiro momento,
depois lhe aguça a curiosidade de ler o lide,
a seguir provoca-lhe o desejo incontrolável de comprar o
periódico,
ainda na rua, suscita-lhe a vontade de abri-lo,
e, finalmente, conquista-lhe o coração e o bolso, se
satisfeito com o produto adquirido.
É assim que jornais inteligentes angariam leitores e
fidelidade.
A manchete é a toalha mais trabalhada que se coloca à
mesa, para atrair a atenção do visitante, mostrando o
carinho do preparativo para o receber.
É a peça mais bonita da vitrine que chama a atenção dos
passantes e os faz embrenharem-se pela loja, à cata de
outras peças tanto ou mais atrativas.
É a foto mais charmosa da família que figura sobre o
móvel mais visível da sala de visitas.
Assim deve ser uma manchete (mesmo quando o assunto
é triste). Bem elaborada.
A manchete é a obra-prima do jornalista.
A manchete é a síntese do fato.
A manchete é o primeiro elo entre o jornal e o leitor.
A manchete é o primeiro vislumbre de qualidade de uma
edição.
Uma boa manchete vale mil palavras.
Contudo, ela precisa seguir certas regras:
221
CONCISÃO, PRECISÃO, ELEGÂNCIA E INTELIGÊNCIA
CRIATIVA.
Nada mais humilhante que ser enganado por uma
manchete.
O leitor tem a impressão de ter sido aviltado na sua
capacidade de compreender, julgar e opinar. Sente,
claramente, o objetivo escancarado da manipulação
grosseira e ardilosa.
E assim sendo,
perde o leitor, por ter jogado seus cruzados fora,
perde o jornalista pela falta de confiabilidade,
perde o editor crítico por sua incapacidade de enxergar o
grotesco do "apelo",
perde a empresa jornalística por não acreditar que lida
com seres pensantes.
Os jornais de manchetes manipuladoras, irresponsáveis,
que jogam com o "quanto pior, melhor", não deveriam
entrar em nossas casas, nem mesmo para enrolar o
"cocô" de nossos bichinhos de estimação, pois estão
impregnados de tanta maldade, que farão mal até a quinta
geração dos animaizinhos.
O meu comentário é extensivo aos semanários, que
andam abusando, na sua maioria, da capacidade reflexiva
do leitor brasileiro.
Nós não usamos os textos como alimento para o corpo,
mas como aperfeiçoamento do nosso intelecto.
Somos agentes da história e não espectadores passivos
dos fatos que tentam nos enfiar garganta abaixo.
Respeito é bom e todos merecemos!
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 21:28
A propósito do furo do JN
Deixa ver o se entendi o furo do "Jornal Nacional", a
respeito dos problemas enfrentados pelo Airbus da TAM.
Segundo o JN apurou, na sexta-feira o Airbus apresentou
um problema no reverso. Segundo a Wikipedia,
"modificação temporária da turbina de uma aeronave que
permite que seu empuxo produzido seja direcionado para
a frente (as turbinas geralmente geram empuxo para
trás)". Segundo o diretor da TAM entrevistado pelo JN, o
manual do avião diz que o reverso pode ser travado (isto
é, anulado mecanicamente), e que o avião poderia voar
dez dias sem precisar consertar a peça, desde que o
tempo esteja bom e que a pista não esteja "contaminada"
- termo para designar pista encharcada.
O avião não parou de voar desde então, embora o tempo
tenha piorado significativamente nos últimos dias. Ou seja,
tinha-se dois fatores de risco: o reverso não funcionando,
e o tempo chuvoso. Na sexta-feira o avião já teria
apresentado problemas na aterrissagem, mas que não
foram reportados pelo piloto.
Segundo o diretor da TAM, o problema ocorreu em
apenas um reverso o que, para um leigo como eu, não
significa nada. Um reverso apenas funcionando faria o
avião rodar (os leitores especialistas me corrijam, se
estiver errado). Segundo ele, a torre não confirmou que a
pista estaria "contaminada".
Mas chovia, mas se sabia que o reverso não estava
funcionando, se sabia não se estava se trabalhando com a
segurança máxima.
Solicito que os leitores especialistas expliquem melhor
essa questão, para que se possa avaliar as seguintes
questões:
1. Qual o grau de gravidade desse reverso não
funcionando em dia de chuva?
2. Além da própria TAM, os reportes dos pilotos deveriam
ser analisados por algum órgão regulador, ou a
responsabilidade é exclusiva da empresa?
3. A partir dessas informações, dá para se atribuir a essa
pane do reverso o fato do piloto não ter conseguido parar
o avião? Qual a responsabilidade adicional da falta de
ranhuras na pista?
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 19:49
FAA aprova sistema aéreo brasileiro
Enviado por Luzete
Adriana Stock, da BBC
De Nova York
Apesar da crise aérea no Brasil e do acidente com o vôo
3054 no aeroporto de Congonhas, a autoridade americana
para aviação civil acredita que o sistema de aviação
brasileiro está de acordo com os padrões internacionais
de segurança.
"O Brasil está OK com os padrões internacionais da
Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, na sigla
em inglês)", diz Les Dorr, porta-voz da Agência Federal de
Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês).
Desde o início da década de 1990, a FAA tem um
programa que avalia as autoridades de aviação em cada
país, isto é, se o governo está seguindo as regras
internacionais de segurança determinadas pela Icao.
Os países são classificados nas categorias um e dois. Na
categoria um, o país segue as regras. Na dois, não segue.
O Brasil está na categoria um. (...)
Segundo o Conselho Internacional de Aeroportos (AIC, em
inglês), associação com sede em Bruxelas que agrupa
aeroportos comerciais de 178 países, a maior
preocupação internacional em relação à segurança aérea
no Brasil diz respeito ao sistema de tráfego aéreo.
"A situação no Brasil vem sendo observada desde o
acidente com a Gol, no ano passado. Mais que o estado
dos aeroportos, o que mais nos preocupa é o sistema de
tráfego adotado no Brasil", afirmou Eduardo Flores,
secretário da entidade para a América Latina.
(...) Para o especialista, o Brasil, assim como a América
Latina de forma geral, enfrenta dois tipos de problema no
tráfego aéreo: um de infra-estrutura e outro humano.
"No caso do Brasil, exige muita atenção o fato de o
controle ser realizado por militares. Os requerimentos e
procedimentos da aviação civil são distintos dos da
aviação militar, e é muito importante que sejam
compatibilizados adequadamente", disse.
Quanto à infra-estrutura, segundo Flores, toda a América
Latina deixa a desejar em manutenção permanente das
estruturas aéreas e em modernização de equipamentos.
(...)
Segundo Flores, "o Brasil precisa implementar uma
222
política conjunta do mais alto nível, envolvendo linhas
aéreas, aeroportos, controladores e Estado. O que se vê é
que falta coordenação e unidade entre os diversos
organismos".
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 18:00
A saga corintiana
Depois da longa discussão sobre a criação de um
aeroporto no Parque São Jorge, que tal uma avaliação
dos mitos da história corintiana?
Na minha infância, quase fui corintiano. Meu tio João, meu
grande ídolo da infância. era corintiano fanático. Mas a
influência paterna falou mais alto e me tornei saopaulino.
Agora tenho minha filha mais velha corintiana fanática,
minha mulher que deixou de assistir aos jogos do
Corinthians por não conseguir conter a palpitação, e uma
de nove anos que tem no seu MSN a mensagem "hei hei
Cotinthians, na vitória e na derrota".
Em homenagem a essas mulheres que me dão tanto
trabalho, abro um post para o Corinthians.
Os jogadores que me impressionaram na infância foram
Gilmar (esqueceram que começou no Corinthians, heim?),
o reserva Cabeção, obviamente Luizinho "Pequeno
Polegar" e Baltazar "Cabecinha de Ouro", o Cláudio e um
centroavante que, depois que se mudou para o México,
sumiu da lembrança dos corintianos: Zague.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 17:20
Os desastres aéreos
Recebo via email esse endereço do site Desastres
Aéreos, com relação de problemas ocorridos com aviões
da TAM e links para matérias publicadas.
Não sei a quantidade de problemas mecânicos ou fora de
controle (tipo colisão com urubus). Nem sei se o quanto
essa quantidade de problemas está acima da média
mundial e nacional.
Não se trata de minimizar responsabilidade de ninguém.
Se a incidência de acidentes for elevada, é problema da
TAM e é das autoridades reguladoras e fiscalizadoras.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 15:33
O fetiche do mercado
Meu colega Carlos Alberto Sardenberg tem um respeito
reverencial pela palavra mercado. Arrepia a qualquer
menção sobre regulação, mesmo que seja no padrão das
grandes nações liberais do mundo.
É o que explica sua análise sobre a concentração de vôos
em Congonhas, que saiu em "O Globo" de hoje:
"O problema, argumenta-se, é que a ganância das
companhias aéreas e a cumplicidade das autoridades
impedem essa redução das operações (de Congonhas).
Bobagem.
Há demanda por Congonhas. Não voluntária, mas há. É
evidente que os passageiros (e as companhias)
prefeririam utilizar um aeroporto mais confortável, mais
seguro e com bom acesso. Não são idiotas, muito menos
suicidadas. Ocorre que essa alternativa simplesmente não
existe no momento e não existirá por muito tempo.
Logo, ou é Congonhas ou ter oferta de vôo bem menor o
que, aliás, aumentará o poder de mercado das
companhias".
Onde estão os problemas no raciocínio do Sardenberg? É
evidente que se a ANAC permitisse, e a capacidade de
Congonhas fosse ilimitada, todos os passageiros iriam
preferir Congonhas. Entre um vôo colocado em
Congonhas e outro em Guarulhos, para um mesmo
destino, Congonhas leva vantagem.
É porque toda a demanda está em Congonhas que as
empresas de aviação e os órgãos reguladores acharam
muito mais rentável manter a superlotação de Congonhas.
Não é por causa da banca de engraxates, nem do
cafezinho do aeroporto. A essa cumplicidade, em busca
do aumento da rentabilidade, os leigos poderão chamar de
"ganância", os especializados de "priorização da
rentabilidade em detrimento da segurança". O sentido é o
mesmo.
Dizer que haverá redução na oferta de vôos, se reduzir o
número de vôos de Congonhas, é desconsiderar os níveis
de ocupação das aeronaves. Essa redução já houve, para
concentração dos aviões em linhas mais rentáveis. E se a
ANAC não sucumbir à ganância das empresas aéreas
(perdão: à priorização da rentabilidade sobre a segurança
e o atendimento aos passageiros), ela tem plenos poderes
para definir a frequência de vôos, porque essa é sua
missão.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 14:57
Das manchetes perigosas
Não existe profissão mais ingrata no jornalismo que o
"mancheteiro", especialmente o da primeira página. A
manchete vai ajudar o jornal a brigar na banca, vai permitir
diferenciá-lo dos concorrentes, é a parte mais visível do
jornal.
Ainda nos anos 80, o velho e ainda insuperável "Jornal do
Brasil" tinha uma receita mágica de manchete. Supunha
que qualquer notícia de forte impacto seria explorada no
mesmo dia pela televisão e pelas rádios. Por isso, sua
manchete sempre focava o pós-evento. Se morresse
alguém relevante, por exemplo, a manchete mencionaria o
local do enterro, para ficar em um exemplo bem simples.
Hoje em dia, em plena era do excesso de notícias, com
TV aberta e cabo, rádios e Internet, os jornais ainda não
aprenderam a lição. Se for conferir, as manchetes de
quase todos sobre o acidente da TAM baseavam-se na
falsa percepção de que seria o primeiro contato do seu
leitor com a notícia.
Um jornal que vem tentando avançar os limites da
manchete é "O Globo", mas ainda sem conseguir chegar
perto do ainda insuperável "Jornal da Tarde" do Murilinho
e do Fernando Mitre.
223
Mas a veia artística do mancheteiro muitas vezes
extrapola. É o caso de hoje: "Infraero, Anac, Decea,
Cindacta, FAB... e não se sabe o que houve", é uma
manchete forçada que não reflete as matérias internas.
O "mancheteiro" mesclou duas questões que nada têm a
ver entre si. Uma, o da sobreposição de órgãos
reguladores na aviação - tema relevante, mas de pouco
apelo popular. Outro, a apuração das causas do acidente -
tema de muito apelo popular, mas impossível de ser
apurado em prazo tão curto. Deu um ornitorrico.
Aliás, a manchete poderia ampliar a lista de órgãos para
Casa Civil, Estado Maior da Aeronáutica, Presidência da
República, Santa Casa da Misericórdia, que o resultado
seria o mesmo da submanchete da página 3:
"Investigadores afirmam que é cedo para determinar as
causas". Ao contrário do que supõe a manchete, dez
órgãos investigando não tornarão a apuração dez vezes
mais rápida.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 13:16
A radioweb da Guitarra
Estou ouvindo agora a rádio Classical Guitar ,on Sky.fm. O
endereço é www.sky.fm
Está tocando, neste momento, a Sonata em E Major, com
o duo Assad. Divino para aplacar o cansaço do dia.
E o pessoal ainda discutindo concessão radiofônica.
A propósito de rádios, para completar aquelas pinturas de
autores iraquianos, que tal conhecer um pouco da música
de lá?
O endereço é Rádio Iraniana. Não é das músicas mais
emocionantes que já ouvi, mas é bastante relaxante.
As duas rádios podem ser ouvidas no iTunes.
enviada por Luis Nassif
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19/07/07 07:00
A aviação e o problema regulatório
Na aba de ECONOMIA (clique aqui) a Coluna Econômica
discute a questão da regulação no setor aéreo.
No Fórum Online está sendo aberta uma discussão sobre
o modelo aérea de regulação clique aqui), baseado em
dois trabalhos.
O primeiro, do especialista Alketa Pecci sobre o modelo
americano. Nele, mostra que existe autonomia executiva
das diversas agências envolvidas com transportes, mas
jamais autonomia operacional. Todas elas são submetidas
à coordenação do Departamento de Transportes.
O segundo, do Major-Brigadeiro Washington Carlos de
Campos, mostrando a disfuncionalidade e a justaposição
das agências brasileiras, e propondo sua unificação sob o
comando do Ministério da Defesa.
Há a dúvida: unificam-se todas as atividades ligadas ao
transporte aéreo. Mas a logística, hoje em dia, pressupõe
a coordenação integrada também com ferrovias, rodovias
e hidrovias.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 23:35
Trivial de quinta com Ferrari
Já que vocês estão apreciando tanto a pintura, comecem
quinta-feira com mais um quadro do Sérgio Alexandre.
ERRATA - segundo comentário do Sérgio, logo abaixo,
essa "perfeição cósmica" não é dele. Foi apenas uma
dica.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 21:23
A pintura de Sérgio Alexandre
Enviado por Sérgio Alexandre
Vi suas pinturas do pintor iraniano, uma amiga me
mandou e falou assim: ISSO QUE É PINTURA! bom esse
cara mas eu quando tinha 31 era melhor ainda, DEPOIS
ATINGI A PERFEIÇÃO COSMICA E É ISSO.
em óleo sobre tela 70x100cm pintada no fim de março de
2007
Aqui, a perfeição cósmica do Sergião
O site dele
A coleção Ferrari.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 16:02
Petralhas e tucanalhas
Cada vez que leio comentários com as expressões
"petralha", "tucanalha", "Lulla", "FHC boca de caçapa",
confesso que o estômago revira.
A blogosfera tem blogs de todos os tipos, próprios para
catarse, alguns para baixaria ampla e irrestrita, muitos
parecendo comunidades de torcida organizada do Orkut.
Aqui a proporção de ofensas é consideravelmente menor.
Mas sempre que ocorrem tragédias, volta a guerra. É
sumamente antipático vetar comentários. Mas que tal
mantermos o nosso Blog no campo das idéias? É a
melhor maneira de espantar as abelhas de todas as
matizes.
enviada por Luis Nassif
224
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18/07/07 15:58
Os objetivos do Milênio
Enviado por: Roberto Schwartz
Nassif,
Há cerca de um ano escrevi minha monografia de
graduação em economia, sobre pobreza no Brasil na
década de 1990. Tomei por base a experiência, as fontes
de dados, e os traquejos conseguidos após alguns anos
como bolsista na Rede de laboratórios do Milênio mantida
pelo PNUD no Brasil para monitorar o desempenho do
país em relação às metas estabelecidas na Cúpula das
Nações.
Após as pesquisas (para o projeto e para a monografia)
ficou muito clara a participação na rede de assistência
social montada no Brasil após a Constituição de 1988 e
ampliada progressivamente nos governos Itamar, FHC e
Lula.
Vale lembrar que esses números não revelam que os
gastos sociais têm impactos positivos não apenas na
diminuição da "pobreza monetária" como em todas as
camadas da "pobreza humana".
Para mais informações (inclusive como modelos
estatísticos, muito bem feitos, relacionando crescimento e
pobreza) estão disponíveis no Relatório do Objetivos do
Milênio, que fechou o ciclo de avaliação nacional realizado
pela UFRS (Instituição que foi responsável por
acompanhar as metas de pobreza fome).
PS: Os relatório regionais atualizados estarão sendo
lançado em Brasília ainda no começo do segundo
semestre. Seria interessante acompanhar.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 14:20
Relatório preliminar do acidente
Aqui um relato da rádio CBN sobre um relatório preliminar
da Aeronáutica sobre o acidente.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 14:01
A captura das agências reguladoras
Coloquei na Biblioteca do Projeto Brasil o trabalho abaixo,
enviado pelo Filósofo. É um tema importante, para
aprofundar as discussões sobre o problema aéreo.
O FENÔMENO DA CAPTURA DAS AGÊNCIAS
REGULADORAS
Paulo Calmon Nogueira da Gama
RESUMO
Trata do problema da captura de algumas das agências
reguladoras, as quais têm-se comportado como sindicato
das empresas submetidas a sua atuação. Cita como
reflexo desse fenômeno a ausência de independência do
órgão regulador e de sua política administrativa.
Explica que o fenômeno da captura também repercute na
esfera judicial, materializado na intervenção das agências
capturadas nas causas afetas aos setores regulados, fator
que induz a tramitação dos autos perante a jurisdição
federal. Alega que o resultado da federalização indevida
das ações manejadas pelos consumidores pode causar a
estes dificuldades óbvias, além de consolidar uma
subversão das regras processuais e das condições legais
de intervenção litisconsorcial ou de terceiros nos
processos.
Afirma que devem ser prementes os esforços para a
contenção de todos os influxos de captura, a fim de evitar
os graves problemas dela advindos, os quais ocasionam o
descrédito dos órgãos reguladores por parte dos usuários
dos setores
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 10:47
Congonhas e as normas de segurança
Enviado por: Afonso
Congonhas está fora das normas internacionais de
segurança por não possuir área de escape adequada.
Sabe-se (e a imprensa deveria ir atrás) que a distância
entre a pista e os fingers está fora das normas de
segurança. A obra (dos fingers) só pode ser realizada,
pois a Infraero possui um "parecer independente"
alegando que, apesar de fora da norma, o risco é bem
pequeno de acidente. A obra não tem nem 1 ano, e
temos uma tragédia.
Sempre defendi o fechamento desse aeroporto maluco, a
construção do trem bala ligando RJ/SP e um trem
expresso para Cumbica. É mais seguro e econômico.
Bem, optou-se pelo piso de mármore.
Enviado por: Ricardo Freire
Nassif,
Congonhas funcionava bem enquanto era um aeroporto
regional voltado para executivos, com vôos mais caros.
Com a exceção das ligações ao Rio, BH e Curitiba,
qualquer vôo que partisse para alguma capital precisava,
necessariamente, fazer escala numa cidade do interior. Os
vôos para Salvador passavam em Ilhéus ou Porto Seguro,
os para Porto Alegre, como o de ontem, faziam escala em
Joinville ou Caxias do Sul, para ir a Brasília era preciso
parar em Ribeirão Preto, Floripa, só parando em
Navegantes antes (ou Curitiba).
(...) Foi quando se deu a uniformização da aviação
brasileira: TAM/Varig reivindicaram, e conseguiram, os
privilégios que a Gol tinha para voar para qualquer lugar a
partir de Congonhas. As tarifas da Gol subiram quase ao
nível de Varig/TAM, e o serviço de bordo de Varig e TAM
desceram quase ao nível da Gol.
Num quarto momento, pós-Varig, Congonhas se torna não
só o aeroporto preferencial do paulistano para viajar a
qualquer lugar do Brasil, como se vê alçado à condição de
"hub" de conexões. Passageiros de todo o Brasil vêm a
Congonhas para trocar de avião!
Aí tem ganância das companhias aéreas, burrice do
paulistano (já faz tempo que usar Congonhas é
masoquismo) e má gestão da Infraero -- que está
claramente mais interessada em obras de ampliação (do
Santos Dumont? Para quê???), aeroshoppings, fingers,
edifícios-garagem, viadutos de acesso (Porto Alegre,
225
Recife), túneis de acesso (Congonhas), contratos de
licitação de publicidade, e menos focada na operação
técnica -- pistas e equipamentos.
Não importa se foi ou não foi a falta de ranhuras na pista
que causou essa tragédia. Mesmo com todo o caminhão
de dinheiro gasto inutilmente, é preciso repensar já o
modelo de uso de Congonhas.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 10:32
A falta do modelo aéreo
Enviado por: Ricardo Lima
Nassif,
O grooving é de suma importância e ajuda sobremaneira a
frenagem da aeronave.
Esta pista de Congonhas sempre foi crítica (não é a
primeira reforma que recebe). Há diversos relatos
pertinentes de pilotos sobre a questão. Infelizmente
(nenhuma novidade nisto), a pressão econômica dita as
regras da aviação, como você muito bem expôs, desde a
abertura dos céus, a desregulamentação do setor,
momento em que a seriedade no setor deu espaço aos
aventureiros. A verdade é que hoje em dia a segurança de
vôo tem peso secundário nas decisões administrativas, e
só tem impacto nos speeches bonitos que fazemos para
justificar algum atraso ou decisões mais contundentes. As
autoridades contam sempre com o fator estatística para
suas decisões, e você sabe que a probabilidade de um
acidente na aviação é sempre remota. Bem, demorou
muito tempo, mais de década, mas aconteceu!
Enfim, nosso sistema de aviação é uma vergonha! A infra-
estrutura é feita para o comércio. Shoppings sofisticados
nos aeroportos, mas nossas pistas, nossos auxílios à
navegação e ao pouso são obsoletos, inoperantes ou
inexistentes. Ou será que a comunicação na rota Brasília-
Manaus não apresenta mais problemas?! E a operação
com chuva no Santos Dumont?! E o ILS da pista 29 de
Brasília que nunca funciona?! E o ILS da pista 35L de
Congonhas que tem a rampa de planeio tão deficiente?!
Será que ele foi um fator contribuinte neste evento?!
Minha aposta é que chegarão a conclusão que os pilotos
erraram e, mais uma vez, nada de significativo
acontecerá. O Presidente da República não será instado a
explicar por que contigencia (sic) dinheiro de tudo quanto
é orçamento, o presidente da Infraero dirá que foi uma
fatalidade, o governador do estado dirá que no próximo
mês se concluem as obras do aeroporto etc. etc.
P.s. algo significativo seria impedir a operação de
Congonhas em chuva, ou com aviões acima de 100
assentos etc. etc. O que acha?!
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 10:30
A hidroplanagem na aviação
Enviado por: Silvana
Do site Air Safety Group
Todo piloto sabe o que é pousar numa pista molhada e o
perigo que isso representa. É quando se torna grande o
risco de uma derrapagem, ou melhor, uma aquaplanagem.
O fenômeno é mais comum do que se supõe, e não é tão
simples como parece. Um estudo realizado pela
McDonnell Douglas em 1997 aponta as pistas
contaminadas por água ou gelo como a quarta maior
causa de acidentes em pousos e táxis nos Estados Unidos
entre 1992 e 1996. A Flight Safety Foundation define que
a aquaplanagem (também chamada de hidroplanagem)
inicia-se no ponto a partir do qual a elevação
hidrodinâmica sob os pneus equivale ao peso do veículo
conduzido sobre as rodas. A partir desse ponto, qualquer
aumento da velocidade acima desse valor crítico eleva
completamente o pneu do pavimento - é aí que a
aquaplanagem se inicia. São vários os tipos de
aquaplanagem e vários fatores podem desencadear o
evento.
Mas, felizmente, nem tudo está perdido: há também várias
técnicas para recuperar o controle da aeronave. Esse
perigoso "escorregão" pode ser dos seguintes tipos:
Hidroplanagem viscosa: Com a pista já definida como
molhada, uma pequena camada de água pode atuar como
um lubrificante, permitindo que os pneus deslizem. Este
tipo tem a agravante de poder ocorrer em velocidades
menores que as dos outros tipos de hidroplanagem e
numa camada de água extremamente delgada (cerca de
um milionésimo de polegada). O pior é que a chuva não é
a única vilã: a umidade de garoa e sereno também pode
causar o fenômeno.
Hidroplanagem dinâmica: Ao contrário da viscosa, a
hidroplanagem dinâmica ocorre normalmente em
velocidades maiores, em água parada com a espessura
de um décimo de polegada ou mais. Durante este tipo de
hidroplanagem a água não consegue escapar pelos sulcos
dos pneus e a roda gira sem a menor tração, literalmente
sobre a camada de água.
Hidroplanagem de borracha retornada: Resulta do
travamento dos freios em uma pista molhada ou úmida, o
que cria uma super aquecida camada de vapor devido à
fricção dos pneus contra a superfície da pista. Quando
isso ocorre, a borracha do pneu funde-se enquanto roda
sobre o vapor, deixando marcas de derrapagem
acinzentadas ou brancas na pista. Vítimas desse tipo de
aquaplanagem surpreendem-se com a sensação física
muito semelhante a dos outros tipos de aquaplanagem,
apesar das marcas deixadas na pista. Mas esse tipo
normalmente não causa problemas em aeronaves
equipadas com sistema de frenagem com modulating anti-
skid, que impede o travamento das rodas.
Consultores e profissionais da indústria aeronáutica são
unânimes em uma conclusão: o problema da
aquaplanagem seria minimizado se todas as pistas
fossem construídas de maneira igual, isto é, todas
utilizando as técnicas de construção que minimizam os
efeitos da aquaplanagem.
As técnicas são duas: a utilização de grooving (sulcos
transversais) e a aplicação de cobertura PFC (Porous
Friction Course).
Em 1968 a NASA já testava coberturas anti-
aquaplanagem para pistas para determinar qual seria a
melhor em condições de pavimento seco ou molhado.
Tom Yager, engenheiro de pesquisas do NASA"s Aircraft
Landing Dynamics Facility em Hampton, Virgínia, nos
Estados Unidos, opina que a solução ideal é uma pista de
concreto com 1,5 % de cobertura com fendas transversais
(grooving) de ¼ de polegada (cerca de 6 mm) de
profundidade e ¼ de polegada de largura com uma
polegada (aproximadamente dois centímetro e meio) de
separação entre elas.
226
Foi verificado que enquanto a média das pistas sem
grooving fornecia uma razão de frenagem molhado para
seco de dois para um, uma pista com fendas dentro das
medidas acima fornecia uma razão de um para um.
No ponto de vista de custos, quanto maior o espaço entre
as fendas, melhor. "Mas percebemos que a fricção (atrito)
em uma pista com um espaçamento de duas polegadas
entre as fendas ficava comprometida em 20%" informa
Tom. Os padrões da FAA americana pedem fendas de ¼
por ¼ polegadas com uma distância entre elas de 1,5
polegadas (pouco mais de 3 cm), especificações que
freqüentemente não são consideradas em aeroportos para
aviação geral naquele país - é o que a FAA pretende
corrigir em breve.
A causa dessa falta de uniformidade é o de sempre: a
NASA alega que os testes de atrito realizados pela FAA
são inadequados, do que a FAA, claro, discorda.
Entre o certo para uma e o certo para a outra, as pistas
são construídas de diversas maneiras. O grooving na pista
principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo,
ocupa uma extensão de 1.746 m. No caso da pista
auxiliar, a extensão é de 1.437 m e, em ambos os casos, a
largura da área sulcada é de 30 metros (15 metros de
cada lado do eixo das pistas). A profundidade e a largura
dos sulcos obedecem ao padrão de 6 mm por 6 mm,
sendo que o espaçamento utilizado em Congonhas é de 3
cm entre cada sulco.
Já no caso de aeroportos que utilizam a cobertura PFC de
¾ de polegada (quase dois centímetros) a água escoa
rapidamente através da cobertura e sai para as laterais
através do substrato não-poroso. Mas, tão importante
quanto o material usado, é a manutenção adequada.
Principalmente durante os meses quentes de verão, o
grooving na área de toque pode ficar cheio de borracha de
pneu, reduzindo o coeficiente de atrito.
A superfície PFC pode igualmente acumular borracha,
reduzindo ou anulando o atrito nestas áreas, tornando-as
lisas. A manutenção da camada de grooving em
Congonhas é realizada com uma periodicidade semestral
ou anual, dependendo da utilização. A borracha e outros
resíduos são retirados com jatos de água sob alta pressão
e um equipamento avalia as condições de atrito e
aderência da camada de concreto asfaltico. Quando
necessidade, os sulcos são refeitos utilizando-se um
equipamento que risca o piso com discos de diamante.
Um cuidado todo especial refere-se às áreas pintadas com
faixas e números.
O engenheiro da NASA recomenda a adição de areia,
saibro ou elementos equivalentes à tinta utilizada para as
faixas ou números para tornar a área áspera. "Pilotos que
tocam sobre eles perceberão que, quando molhados e
sem aditivos antiderrapantes, são tão lisos quanto gelo e
lá não há aumento da velocidade de rotação da rodas.
Inclusive, alguns pilotos afirmam que mesmo secas essas
áreas são tão escorregadias quanto pouso em asfalto
molhado. Óleo, então, em uma pista molhada... nem se
fala! O risco de hidroplanagem é evidente e imediato. O
sistema anti-skid pode se tornar inoperante, pois as rodas
não atingem o ponto de rotação em que ele começa a
funcionar".
Foi o que aconteceu com um Learjet 35 em fevereiro de
1998 em Greenville, Carolina do Sul, EUA. O piloto aplicou
os freios, houve hidroplanagem, as rodas atingiram a
grama e só então a rotação das rodas atingiu o ponto de
ativação do anti-skid, iniciando a frenagem da aeronave.
Naturalmente, as condições da aeronave também são
muito importantes na hora do pouso. Pneus inflados
abaixo dos parâmetros requeridos estarão mais propensos
a aquaplanar. E os pneus do trem de nariz, que
normalmente são inflados abaixo da pressão dos pneus
do trem principal, irão aquaplanar antes das rodas
principais. As aeronaves com dois pneus no trem do nariz,
como é o caso das de grande porte, devem ter ambos
inflados com mesma pressão. Caso contrário, a aeronave
tenderá a puxar para a direção do pneu menos inflado,
aumentando a possibilidade de aquaplanagem em pistas
molhadas. Essa tendência de puxão para a direita ou
esquerda será ainda mais evidente se houver pneus com
pressões diferentes nos trens direito ou esquerdo.
A velocidade na qual a hidroplanagem ocorrerá em uma
pista sem grooving e sem cobertura porosa (PFC)
dependerá sempre da pressão dos pneus, de acordo com
a NASA. A fórmula que a agência aeroespacial norte-
americana utiliza para determiná-la é 7,7 vezes a raiz
quadrada da pressão do pneu. É aconselhável utilizar,
nesta equação, a pressão menor, do trem de nariz, para a
determinação da velocidade.
Por exemplo: em uma aeronave cujos pneus do trem de
nariz tenham sido inflados com 70 psi (pounds per square
inch), a hidroplanagem em uma pista com significante
acúmulo de água ocorrerá inicialmente a partir desse
conjunto de trem e a 64,4 nós. Um pneu usado estará
mais propenso a aquaplanar do que um pneu mais novo
devido à diminuição da profundidade das fendas. Uso
desigual (pneus novos e usados, juntos) também pode
causar um efeito similar ao de pneus com pressões
desiguais. Pista e pneus em condições adequadas, o fator
restante a considerar é á técnica do pouso em si.
Embora o NTSB (National Transportation Safety Board)
tenha concluído que em muitos acidentes onde a
hidroplanagem foi a causa determinante, o piloto deveria
ter iniciado uma arremetida a partir do ponto em que
determinou falta de ação dos freios, John Lowery, piloto
de aviação executiva e professor da Embry-Ridle
Aeronautical University analisa que, após o toque e
acionamento de freios aerodinâmicos e reversores, a partir
da descoberta da falta de tração dos freios restará um
tempo mínimo para uma arremetida bem-sucedida. Em
uma pista molhada, por garantia, evite tocar sobre os
números ou faixas pintadas.
Mesmo nos EUA, apesar das recomendações resultantes
de testes da NASA, ainda são poucas as pistas que
possuem areia ou outro material que garanta o atrito das
áreas pintadas. - O importante, como afirma John Lowery,
piloto de aviação executiva e professor da Embry-Ridle
Aeronautical University, é tocar firmemente e concentrar o
máximo possível de peso nas rodas o quanto antes
(método muito usual nos EUA). Além disso, desça
rapidamente o trem de nariz, mantendo o manche para a
frente para garantir um contato firme e atrito máximo das
rodas com a pista e acione de imediato todos os freios
aerodinâmicos. Eles devem ser aberto o mais cedo
possível, ainda na fase de maior velocidade da rolagem na
pista durante o pouso.
- Uma vez iniciada a aquaplanagem, para recobrar o
controle o ideal é soltar os freios por completo, para a
rotação das rodas atingir o ponto de ativação do anti-skid,
e simultaneamente, leve o comando do reverso para idle.
Isso vale para o tipo modulating anti-skid. Se não for este
o caso, a pressão nos freios deve ser mantida entre firme
para pesada para evitar que eles travem. Se a aeronave
começar a guinar aplique mais empuxo para ajudar a
recuperar controle direcional. Na derrapagem do trem de
nariz, a aplicação de empuxo poderá ser o único meio de
recuperar a direção.
- Se a hidroplanagem ocorre em um pouso com vento
cruzado, a aeronave quase com certeza tenderá a aproar
a direção do vento, à medida que as forças do vento ajam
227
sobre o estabilizador vertical. As forças do vento de través
são proporcionais ao quadrado da velocidade do mesmo
vento. Dez nós de vento de través, por exemplo,
quadruplicará as forças laterais produzidas por um vento
de través de cinco nós.
- Fique sempre alerta quanto à possibilidade de falha do
sistema de frenagem já a partir do momento em que
receber a informação de que a pista está molhada.
- Colaboração: Solange Galante (jornalista especializada
em aviação)
Fonte: ATR News
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 10:06
O inventário do desastre
O noticiário de hoje dos jornais permite manter as análises
preliminares sobre o acidente da TAM que escrevi ontem.
Para sistematizar de forma mais clara as notícias até
agora divulgadas:
Causas indiretas
1. A sobrecarga do aeroporto de Congonhas, em função
da falta de um modelo de planejamento da malha aérea,
depois da desregulamentação do setor e da apropriação
das agências reguladoras pelas grandes companhias
aéreas.
2. A crise aérea continuada, desde o acidente da Gol, que
provavelmente influiu na pressa da Infraero de liberar as
pistas sem as tais ranhuras necessárias para aumentar a
segurança.
Possíveis causas diretas
1. Pouso mal feito. Nos diversos jornais há a informação
de que o piloto desceu fora do ponto a uma velocidade
excessiva. Depois, a frenagem falhou. Há três hipóteses
para isso:
a. Falhou devido à chamada hidroplanagem, excesso de
água na pista.
b. Falhou devido a problemas no reverso do avião.
c. Falhou devido a uma falha pessoal do piloto.
2. A pista de Congonhas. Há indícios suficientes, nos
últimos dias, de que estava escorregadia e arriscada para
pousos. O argumento de que todos os demais aviões, com
exceção do acidentado, conseguiram pousar não é
atenuante. O grau de segurança de uma pista não se
mede apenas pela ausência de acidentes em pousos bem
feitos, mas pela maneira com que consegue prevenir
pousos mal feitos.
Parte importante a ser levantada é o relatório do Ministério
Público, quando pediu a suspensão dos vôos de
Congonhas por falta de segurança.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 00:23
Trivial de uma quarta com luto
O Trivial está aí, com menos disposição para brincar e
versejar.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 00:21
A apropriação da ANAC
Seja qual forem os resultados das investigações do
acidente da TAM, a superlotação do aeroporto de
Congonhas é a prova cabal de como as agências
reguladoras - Departamento de Aviação Civil (DAC),
antes, ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), depois -
foram apropriadas pelas companhias aéreas.
Até os anos 90 havia uma aviação extremamente
regulada, com quase nenhuma autorização para novas
linhas, preços administrados e nenhuma competição.
Ocorreu uma desregulamentação em nível internacional,
que foi implantada no Brasil à moda brasileira: sem a
definição prévia das regras do jogo e dos órgãos
reguladores.
Graças a esse modelo, a TAM conseguiu alçar vôo,
VASP, Varig e Transbrasil rodaram, surgiu a Gol.
A aviação é um setor estratégico para o país. Caberia às
autoridades definir a malha aérea, de maneira a distribuir
melhor os vôos, ampliar os vôos regionais, redefinir os
hubs (aeroportos onde cruzam vôos para várias regiões)
nacionais.
Nada disso aconteceu. Não houve estudos técnicos, não
houve reformulação. Provocou-se o esvaziamento da
aviação regional e a definição de vôos e de aeroportos
passou a depender dos interesses comerciais das
companhias aéreas.
Nem assim se chegou ao livre mercado. A autorização
para novos vôos continuou burocrática e os critérios de
aprovação nunca foram suficientemente claros.
Consolidou-se um oligopólio nefasto, concentrado nos
principais aeroportos, deixando abandonados diversos
aeroportos regionais.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 00:14
Prospectando as causas do acidente
Participei agora do "Jornal da Cultura". Foi entrevistado
um especialista em segurança de vôo, pelo telefone, um
coronel da Aeronáutica. Pelo que conversei fora do ar,
pelo que ouvi no ar, pelo que ouvi nas rádios e li no
noticiário online, há uma jogo complexo pela frente. Não
dá para se chegar a conclusões precipitadas sobre as
causas do acidente com o Airbus da TAM.
Aventou-se a possibilidade do avião da TAM ter pousado
a uma velocidade superior ao normal. Não está
confirmado, mas será fácil conferir através dos
equipamentos de controle de vôo.
Se isso ocorreu, há duas hipóteses a serem analisadas.
Ou foi um problema do piloto ou um problema mecânico.
Como o Airbus é um avião que praticamente pousa
sozinho, segundo os especialistas, seria mais um
problema mecânico. Repito: caso se comprove que
desceu, mesmo, em velocidade superior ao normal.
Mas essa é apenas uma hipótese. A segunda hipótese é a
questão da pista de Congonhas, que teria sido liberada
228
sem estar plenamente segura. Também não será difícil
comprovar essa possibilidade. Nesse caso tem-se um
problema sério aí, independentemente do pouso do avião
ter sido normal ou em velocidade excessiva.
Batendo na pista, teria ocorrido a hidroplanagem, o
excesso de água fazendo as rodas do avião rodarem em
falso. E aí, o piloto teria tentado inutilmente arremeter
novamente, mas sem forças no motor. A questão
fundamental é: mesmo que o avião tenha descido em
velocidade superior ao normal, o estado da pista foi
decisivo ou não para o acidente ter ocorrido?
***
Se a primeira hipótese se confirmar, minimiza um pouco a
responsabilidade da Infraero com a pista de pouso. Se
não se confirmar, tem-se uma encrenca administrativa e
política das maiores.
A Infraero foi colocada na cota das alianças partidárias.
No governo FHC, foi entregue ao grupo do governador
mineiro Itamar Franco. No governo Lula, ao neopetista
Carlos Wilson, deputado de Pernambuco. Nos últimos
anos houve um festival fantástico de investimentos em
modernização de aeroportos, e construção de novos
aeroportos, ao mesmo tempo em que em várias cidades
aeroportos regionais eram abandonados.
Não haverá como se fugir de uma investigação séria e
profunda das causas desse acidente.
enviada por Luis Nassif
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18/07/07 00:02
Lula e o câmbio
É absurda a afirmação do Presidente da República Luiz
Ignácio Lula da Silva, de que não tomará medidas
"intempestivas" para conter a valorização do real. O
Tesouro passou a isentar de tributação aplicações
externas em títulos da dívida pública. Colocar de volta a
tributação não configuraria nenhuma "medida
intempestiva". Assim como não seria intempestiva a
fixação de prazos de permanência para o dólar
especulativo.
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 23:54
A pintura de Pollock
Enviado por: Leão Machado Neto
Apenas para provocar: que tal sairmos um pouco das
obras hiper-realistas ou do classicismo?
Que tal darmos uma olhada no abstracionismo?
Cito um pintor, absolutamente polêmico, amado ou
odiado: Jackson Pollock. Também americano, amante de
Peggy Guggenheim e autor da obra mais cara já vendida
até hoje.
Confesso que não sou fã de Pollack, mas vale a discussão
nesse blog tão versátil e plural.
www.artcyclopedia.com/artist/pollack _jackson.htm
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 23:50
Sobre a pista de Congonhas
Enviado por: Roberto
Ola Nassif,
após este acidente com a aeronave TAM, um ponto que
apareceu nas reportagens e que parece ser importante é o
fato da pista recem-inaugurada ainda não contar com os
sulcos (grooving) para sua melhorar aderencia.
Pelo que andei lendo, este processo soh poderia ser
realizado algum tempo apos a conclusão da pista, devido
ao processo de cura da massa asfaltica. Fica a pergunta.
Abrir a pista sem o grooving é um procedimento
corriqueiro ou foi uma decisão de arriscada. Analisando os
fatos agora, provavelmente vai haver uma disputa que
impeça o raciocínio.
Não seria o caso de abrir aqui no blog uma consulta para
que alguns especialistas indicassem qual é o padrão
internacional para esse procedimento?
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 18:02
Hipocrisia política
A legislação eleitoral permite doações de entidades e
empresas a partidos políticos ou a candidatos individuais.
Esse tipo de doação legal está sendo utilizada como
material de denúncia por parcelas da mídia. É o caso de
empresas ligadas à saúde sendo "acusadas" de
contribuições eleitorais a candidatos da bancada da
saúde. Queriam o quê? Que doassem a representantes de
bingos? As doações ilegítimas não aparecem nas
declarações dos candidatos.
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 18:02
Previdência e pobreza
Segundo dados do Centro Internacional de Pobreza,
instituição de pesquisa do Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento), 27% dos pobres das
áreas urbanas do Brasil conseguiram sair da situação de
pobreza em dez anos. Embora não mencione as causas,
provavelmente a rede de proteção da Previdência Social
seja o elemento principal desse resgate.
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 10:21
A arte de Molina Campos
229
O site oficial de Molina Campos
Enviado por: felicio rodrigues
Outro artista singular. O argentino Molina Campos, que
pintou e desenhou o homem dos pampas argentinos,
uruguaios e rio-grandenses. Nasceu em Buenos Aires em
21 de agosto de 1891. Autodidata - dominava as técnicas
da aquarela, pastel e têmpera - desenhava desde os 9
anos nas estâncias do seu pai, retratando a paisagem e a
vida cotidiana dos paisanos.
Em 1930 foi contratado pela Alpargatas - fabricante do
famoso calçado usado pela gente pobre da campanha,
visto que as botas só estavam ao alcance dos ricos
estanceiros - para ilustrar o almanaque do ano seguinte.
Em cada uma delas representou a atividade campesina. O
êxito foi tão grande que continuou realizando-os até 1945.
Nesses doze anos 18 milhões de litografias foram
distribuídas na República dos Psmpas (Argentina, Uruguai
e Brasil). Seus almanaques formaram a pinacoteca
popular dos pobres. Não havia boliche ou barbearia de
cidades da fronteira gaúcha sem uma reprodução de
Molina.
Na década de 1940 viveu nos Estados Unidos, contratado
por Walter Disney. Entre 44 e 58 ilustrou almanaques para
a fabricante de máquinas agrícolas Minneapolis Moline e
expôs seus quadros em instituições do Texas. Califórnia e
Nova York. Expunha e vendia com sucesso seus quadros
em galerias particulares, mas só entraram no Museo de
Belas Artes de Buenos Aires no ano de 1989, trinta anos
após a sua morte. Hoje acham-se distribuídas por museus
e coleções particulares e na Fundação que leva seu nome
na cidade de Moreno.
A primeira vista seus quadros parecem caricaturas. Humor
sim, mas não caricatura. E esta é a sua originalidade ao
retratar o gaúcho não mais como um triste e misógino
paisano, tantas vezes repetido na pintura e na literatura -
desde o Martin Fierro de Hernandes até Érico Veríssimo.
Um dos signos da sua pintura é a picardia no retrato
humano, na exatidão e no detalhe dos costumes, dos
"aperos" e vestimentas dos personagens, com seus
cavalos cabeções, com olhos salteados, grandes cascos e
costelas marcadas. E no fidedigno tratamento do céu e do
horizonte - sempre tão baixo - pampeano.
"Un paisano domando no puede causar risa, un potro
estaqueado, que tironea rompiéndose la boca en el
esfuerzo de liberarse, tampoco. Una paisana que sorbe un
mate, el gaucho que la mira con cariño un poco más lejos,
y la otra mujer de larga trenza que saca algo del horno de
barro ante el cielo impasible de la pampa, ¿por qué harían
reír a nadie? Son gestos humanos consagrados por el
paso de los días y no de bromas de circo. Instantes de
unas vidas a las que sólo algún perro o unas gallinas,
aparte del caballo atado a un poste, hacen compañía en
medio de un campo vacío."
Comentário
No filme-desenho de Walt Disney "Alô, Amigos", a parte
argentina é quase totalmente dedicada a Molina Campos.
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 09:52
Trivial de terça
Ontem à noite deu pau na Internet aqui de casa. Por isso,
sai agora o Trivial de terça-feira.
enviada por Luis Nassif
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17/07/07 07:00
A transposição e a desertificação
Na aba de ECONOMIA (clique aqui) a Coluna Econômica
discute os riscos de salinização e desertificação na
transposição das águas do São Francisco.
enviada por Luis Nassif
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16/07/07 20:53
A convergência digital
Um dos grandes nós regulatórios, a convergência digital
dos meios de comunicação poderá começar a ser
desenrolado proximamente. O presidente da Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), Ronaldo
Sardenberg, disse ontem que é intenção da agência
apresentar uma proposta simplificada das regras. Irá
também trabalhar junto ao Legislativo e Executivo para
agilizar a aprovação. Hoje em dia existem mais de trinta
tipos diferentes de licença.
enviada por Luis Nassif
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16/07/07 14:00
A pintura de Edward Hopper
Enviado por: André Oliveira
Já que a pintura tem tido muita atenção por aqui mando
uns links com pinturas do Edward Hopper pintor
americano singular
enviada por Luis Nassif
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16/07/07 10:17
Novo trem da alegria?
Enviado por Eduardo Ramos
Prezado Luis Nassif,
recorro ao seu Blog para fazer uma denúncia sobre um
assunto grave que vai afetar milhares de concursado no
Brasil, gente séria que se matou de estudar em concursos
acirrados, com até cem mil candidatos para poucas vagas,
e estão esperando ser chamados após dois ou três anos.
Trata-se da PEC 02/2003, projeto de Lei que vai ser
votado em regime de urgência, um trem da alegria
inconstitucional e absurdo, que fará com que funcionários
públicos requisitados por um órgão, possam ser efetivados
neste órgão.
A maracutaia está no fato de uma pessoa que passou
num concurso na Prefeitura de "Tribobó" e foi requisitado
por um deputado, por exemplo, para trabalhar na
Assembléia ou pelo Tribunal Eleitoral do seu estado,
230
concursos muito mais difíceis e disputados e com salários
dez vezes melhores do que o pago pela Prefeitura de
Tribobó.
Desde que comprove ter sido requisitado por três anos,
por esta terrível PEC 02/2003 O funcionário em questão,
poderá ser efetivado no atual órgão, como se fosse
concursado.
Resultado? Milhares e milhares de brasileiros que
estudaram anos a fio, sacrificaram suas famílias, gastaram
dinheiro em cursos e apostilas, sonharam, acreditaram na
Lei que lhes garantia a vaga por concurso, terão que
assistir uma autêntica invasão de funcionários que,
MUITAS VEZES, POR APADRINHAMENTO E NÃO POR
MÉRITO, foram requisitados para prestar serviços a esses
órgão públicos.
Comentário
Agradeço quem puder enviar mais informações sobre
essa PEC 02/2003.
Enviado por: Marcelo Martins
Olá Nassif.
Segue abaixo a íntegra da PEC. Aproveito para salientar
que essa Proposta de Emenda à Constituição têm sido
amplamente debatida no Congresso Nacional, fato que
pode ser confirmado no site da câmara, onde diversos
requerimentos e alterações, dos mais diversos grupos
políticos têm aparecido.
Essa PEC é, enfim, "culpa e responsabilidade" de muitos.
PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO
Nº___________,DE 2003.
(Do Sr. Gonzaga Patriota e outros)
Acrescenta artigos 90 e 91 ao Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, possibilitando que servidores
públicos requisitados optem pela alteração de sua lotação
funcional do órgão cedente para o órgão cessionário.
(...) Art. 1º - O Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias passa a vigorar acrescido dos seguintes
artigos 90 e 91:
Art. 90 - Os servidores da União, Estados, Municípios e do
Distrito Federal ocupantes de cargos efetivos que
atualmente se encontrem em exercício há mais de três
anos consecutivos, em órgão diverso do seu órgão de
origem, através de requisição, poderão optar, no prazo de
90 (noventa) dias a contar da data de publicação desta
emenda, pela efetivação de sua lotação no órgão
cessionário.
Art. 91 - O disposto no artigo precedente aplica-se aos
servidores cuja investidura haja observado as
correspondentes normas constitucionais e ordinárias
anteriores a 5 de outubro de 1988, e, se posterior a esta
data, tenha derivado de aprovação em concurso público
de provas ou de provas e de títulos na forma do inciso II,
art. 37 da Constituição Federal.
JUSTIFICATIVA
A criação de órgãos públicos implementada por ocasião
da promulgação da Constituição Federal de 1988 e
enfatizada nos anos posteriores através de Emendas
Constitucionais e leis ordinarias esparsas, nem sempre
tem sido acompanhada pela pertinente criação de cargos
capazes de suprir as necessidades de material humano -
servidores públicos - para que exerçam atividades nos
mais diversos órgãos situados nas três esferas de
Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Ocorre que a crescente demanda por funcionários nestes
órgãos tem ocasionado um contínuo deslocamento de
servidores de seu órgão de origem para órgão diverso, por
meio de requisição, que lá permanecem exercendo
atividades por anos a fio.
A incongruência que se verifica na vida funcional do
servidor, após tantos anos exercendo atividade diversa da
que ordinariamente exerceria no órgão cedente, é
relevante ao ponto de se observar que em alguns casos,
como se dá, por exemplo, na Justiça Eleitoral e na Justiça
do Trabalho, onde muitos servidores já atuam há mais de
uma década, e, por isso, já não têm quaisquer afinidades
com as suas atividades de origem desempenhadas nos
Poderes Executivo e Legislativo.
Daí a necessidade de uma regra constitucional transitória,
que sem afastar a prevalência do "princípio do livre
acesso aos cargos públicos via concurso", inserto no art.
37, inciso II da Constituição Federal, ampare os servidores
que se encontrem na situação de requisitados, em face da
distorção imposta pelo desvio de função a que estão
submetidos.(...)
Deputado Gonzaga Patriota
PSB/PE
enviada por Luis Nassif
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16/07/07 07:00
Os custos da transposição
Na aba de ECONOMIA (clique aqui) a Coluna Econômica
discute os custos da transposição das águas do São
Francisco.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 23:59
Trivial de uma segunda ladina
O Mário, que eu não conheço,
Mas se pretende ladino,
Quando quer matar alguém
Contrata o assassino.
Empunha a arma, arma o cão,
Escreve o texto no mínimo
Detalhe como alguém
Que apruma a mão do menino
Um quarentão juvenil
Sem escrúpulos ou tino.
Que finge que é o autor
De libelos pouco finos.
Para o bem ou para o mal,
Escrevam pro Trivial.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 22:14
A mulher no Irã
De Paula Fontenelle, recém-chegada de lá
231
Hoje vou pra farra, o que no Iran quer dizer: vou tomar chá
com algumas amigas. Dei a maior sorte. Minha guia em
Shiraz é uma mulher, portanto, fiz todas as perguntas que
já havia feito ao guia homem para checar a veracidade e
ouvir o lado feminino. Conclusões? Sim, varias. Vamos às
principais:
1. As mulheres se sentem livres? Sim. A exceção fica com
as jovens (que foram, diga-se de passagem, repreendidas
varias vezes pela Sepideh), hoje com 31 anos. Ela criticou
as adolescentes que usam uma maquiagem que "nem as
estrelas do cinema usam", por isso, o presidente teve que
endurecer e mudar o código de vestimenta. Sepideh citou
o próprio caso, uma mulher independente, trabalha ha
vários anos, a sua mãe se aposentou agora, era
funcionaria de um banco.
2. E sexo? É uma vergonha para a família a mulher não
ser virgem. Sapideh me contou (bem baixinho para o
motorista não ouvir) que a mulher, antes de casar, vai ao
medico receber um atestado de virgindade. Caso ela
tenha transado com o noivo, não tem volta, ele é obrigado
a casar com ela. Se descobrir que a noiva não era virgem,
então tem todo o direito de rejeitá-la. Mas, os jovens tem
quebrado a regra. Muitos namoram bastante tempo,
transam, e depois casam.
3. Mahmud Ahmadinejad, o presidente do Iran. Como ele
é visto? Nesse ponto, encontrei unanimidade. O povo não
acredita mais nele. Houve muitas promessas durante a
campanha presidencial (soa familiar?), principalmente no
que diz respeito ao combate à pobreza. Puro vazio. E pior,
eles tem consciência de que Ahmadinejad esta destruindo
de vez a imagem do Iran perante a comunidade
internacional, isso é difícil de perdoar porque as sanções
dificultam a vida de todos. O turismo, por exemplo, é
quase inexistente, menos de 200 mil pessoas por ano.
Para um país rico como esse historicamente, é nada.
Perguntei a um vendedor de tapetes o que ele achava do
presidente. A resposta disse tudo: "eu trabalho o dia todo,
volto para casa só à noite para ficar com minha família. No
Iran, não temos tempo para pensar nele". Curto, direto e
espontâneo. Medo de uma possível guerra contra o Iran?
Também não gastam tempo com isso, mas como o
conflito Iran-Iraque foi tão recente, temem que o país
venha a ser destruído novamente.
4. Aiatolah Khomanei, o líder religioso, verdadeiro chefe
da nação. Não senti, em momento algum, uma relação de
respeito incondicional por ele. Manoochehr, meu guia em
Esfahan, confidenciou que os iranianos ainda não se
sentem completamente à vontade de chamá-lo de Imam
(líder maior) porque a imagem de Khomeini ainda é muito
forte. "Ele sim, era nosso Imam", disse.
5. Comunicações:
INTERNET
Existem `café net` em todos os lugares, como em
qualquer lugar do mundo. É baratissimo (cerca de US$ 2 a
hora) e está sempre cheios de jovens. Tentei encontrar
sites proibidos e tive uma grande surpresa. O UOL não
entra de jeito nenhum, aparece uma tela branca dizendo
que o site é bloqueado. Fui para a CNN e pasme!! entrou
normalmente. O G1 também. Não sei como eles
selecionam, mas me parece que as regras são pouco
justificáveis.
TV A CABO
É proibido, assim como os bingos no Brasil. Todo mundo
tem, mas não existe a variedade de canais que temos no
nosso país. Fiquei em hotéis 5 estrelas e nenhum deles
tinha CNN. Segundo a guia, uma mudança recente.
Aljazeera e BBC Internacional, sim. Alias, ontem à noite,
Lula deu uma entrevista (e se saiu muito bem) na
Aljazeera. Falou da sua relação com o Chaves, do anti-
americanismo na America Latina, do recente plano de
planejamento familiar do Brasil. Estava seguro. Alias,
assistir à Aljazeera acrescenta uma nova perspectiva a
temas globais. O G-8, por exemplo, eles cobriram muito
bem, mas sempre questionando a credibilidade das
promessas, particularmente no que diz respeito à ajuda
financeira à África.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 22:05
A nova arte iraniana
Além de Iman Maleki (que tem 31 anos), outro da mesma
idade é Shahrad Malek Fazeli. Confira seus quadros.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 19:48
A UH, Wainer e Danuza
Estou mergulhado nos relatórios da CPI da Última Hora,
no depoimento do acusador Carlos Lacerda e do acusado
Samuel Wainer, para a biografia que estou escrevendo.
Como o Jorginho Cunha Lima não coloca o que sabe no
seu Blog, colocarei no meu.
Quando montou sua rede de jornais, no Rio, São Paulo e
Porto Alegre, Wainer procurou Jorginho e convidou-o para
ser diretor de redação. A razão eram as ligações de
Jorginho com os quatrocentões paulistas e com a
Arquidiocese.
Quando Jango foi derrubado, em 1964, Wainer teve que
fugir. Não se sabia qual seria o futuro da UH.
Na ocasião, Jorginho foi procurado por dois grupos, um
ligado a Carvalho Pinto (José Bonifácio Coutinho
Nogueira, cujo grupo tem várias concessões da Globo no
interior de São Paulo e Minas) e outro ligado a JK. A idéia
seria cada qual ter 47,5% e Jorginho ficaria
provisoriamente com 5%, que seriam devolvidos para
Wainer quando ele voltasse do exílio.
Wainer acabou não topando. Não me lembro qual foi a
solução encontrada. Mas Jorginho contou que, na volta do
exílio, Wainer procurou de todas as maneiras tentar
recuperar os jornais. Sua mulher, Danuza Leão, não
vacilou em vender todas suas jóias e bens para ajudar o
marido na empreitada, que acabou não sendo bem
sucedida.
Mas foi uma grande companheira.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 18:05
Para não olvidar as verdadeiras causas
Na aba de ECONOMIA, comentários sobre artigo recente
232
de Edward Amadeo, analisando o governo FHC, que
quase olvidei na correria da semana passada.
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 12:49
Das vaias ingratas
Não houve na história vaia mais ingrata, mais cruel, que a
que levou o goleiro baiano que, em pleno estádio em
Salvador, evitou milagrosamente o milésimo gol do Pelé.
Qual era o nome daquele injustiçado mesmo?
enviada por Luis Nassif
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15/07/07 00:10
Trivial de domingo
Nem sei se a semana termina
Sem sei se já começou
Nem sei se domingo é o fim
Ou a semana que iniciou
Só sei que durmo altaneiro
Depois dou uma volta na praça
E faço meia pirraça
Pro trabalho rotineiro
Depois, convido vocês
Sob esse sol invernal
Para o papo de boteco
Chamado de Trivial
enviada por Luis Nassif
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