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Capítulo 1: Estratégias de Promoção da Criatividade
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a inteligência, a memória, a afetividade, as emoções,
dentre outros. O sujeito criativo desenvolve suas
funções psicológicas em um cenário social que é,
também, histórico e cultural. O modo como este
sujeito vai construir as rotas de desenvolvimento de
sua criatividade se relaciona com este cenário, ou seja,
como ele é significado, percebido e internalizado.
Além disso, Vygotsky considera o sujeito como ser
ativo nesta construção do desenvolvimento, um
sujeito que vai atuar no sentido de produzir o novo
e reconhecer o novo. Desta forma, parece que a
relação criatividade & indivíduo & cultura faz parte
de um mesmo sistema, em que o indivíduo se torna
sujeito por meio da cultura, desenvolve suas habili-
dades criativas em um cenário sócio-histórico e
devolve a este cenário o produto de sua criatividade,
que pode ser traduzido em arte, ciência e/ou conhe-
cimentos cotidianos. Csikszentmihalyi (1999), um
dos autores citados nas definições de criatividade,
aproxima seu modo de ver o fenômeno criativo das
concepções de Vygotsky.
Uma vez compreendida desta forma, como
fenômeno psicológico humano, como função típica
do homem, o conceito de criatividade se amplia e,
segundo Vygotsky (1987), se liberta da concepção
corriqueira que julga a criatividade como atributo
de alguns poucos iluminados, desconsiderando a
capacidade criativa presente no homem comum.
É reconfortante saber que todos somos criativos,
em alguma competência, alguma instância, algum
cantinho do nosso saber-fazer e sentir. Mas, o que é
criatividade para Vygotsky?
Ao falar sobre criatividade, Vygotsky (Smolucha,
1992a) não dissociou este fenômeno de outras funções
psicológicas, especialmente da imaginação. Em seus
trabalhos, encontraremos os conceitos criatividade e
imaginação compondo um pequeno sistema que ele
denominou “imaginação criativa”.
A imaginação é, também, uma função psico-
lógica humana. Costumamos pensar sobre a imagi-
nação como o exercício de um “pensamento aberto
a todas as possibilidades”. Por meio da imaginação
podemos tudo: visitar planetas desconhecidos,
imaginar pessoas que não existem, pensar em idéias
malucas ou simplesmente divertidas. A imaginação,
porém, é uma atividade mental totalmente conectada
com a realidade, pois seus conteúdos são retirados
da realidade e, posteriormente, transformados e/ou
recombinados pela função imaginativa, construindo
novas realidades. Se a imaginação permite combinar
idéias, ela não só pode como deve ter muito a ver
com a produção da criatividade. Boden (1999),
quando definiu criatividade, destacou a “combi-
nação de idéias” como aspecto constituinte do
ato de criar. Vygotsky também apostou na imagi-
nação como elemento essencial para que houvesse
expressão criativa.
A atividade criativa, para Vygotsky, é originária
da função da imaginação, é uma ação relacionada
com a interpretação da realidade feita pelos sujeitos
e depende, diretamente, das experiências do homem
em contato com sua realidade cultural objetiva e
subjetiva. A imaginação está ligada à emoção. Ela
retira fragmentos da realidade e, por meio de novas
significações destes fragmentos, devolve à cultura,
em forma de um produto criativo, leituras renovadas
desta mesma realidade. Esta é a essência do processo
criativo na concepção de Vygotsky.
Concluindo a conceituação de criatividade
na perspectiva de Vygotsky (1987) vamos destacar
a distinção que este autor fez entre
imaginação
reprodutiva e imaginação combinatória.
A
imaginação reprodutiva está diretamente vinculada
aos processos de memória e consiste na cópia, por
parte do indivíduo, de situações passadas, objetos
ou elementos apreendidos, dados de experiências
afetivas, entre outros fatores. Já a imaginação combi-
natória, corresponde à criação de novos elementos,
não vivenciados pelo sujeito, por meio da união e/ou
fusão de idéias, experiências concretas ou subjetivas
anteriores, dando origem a novas formas, compor-
tamentos, produtos. É uma ação eminentemente
de origem social, pois corresponde aos anseios
humanos de projeção no futuro, buscando soluções
para situações do presente ou atendendo a desejos
de produtividade pessoal. Dessa forma, todo ato
criativo nasce da imaginação que, por sua vez, se
origina no contexto histórico-cultural.
Uma vez apresentados e discutidos distintos
conceitos sobre criatividade, compreendendo que
este fenômeno tem uma natureza extremamente
complexa e que seu desenvolvimento é sistêmico, isto
é, envolve várias dimensões da existência humana,
podemos nos aventurar em outro tema relevante: “o
sujeito criativo”!
Quem é o sujeito criativo? O que diferencia
esta pessoa das outras? Por que algumas pessoas
conseguem produzir arte, ciência e tecnologia
com superioridade, quando comparadas a outros
sujeitos?
Examinemos o quadro a seguir:
Júlio, Luzia, André, Paula e Kika são pessoas
comuns, cada um com suas características próprias,
que as definem como personalidades distintas.
Certamente conhecemos várias outras pessoas que