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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE ATRAVÉS DA
INTERAÇÃO DIALÓGICA PELA COMUNICAÇÃO
SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA.
PAULA MELLO PEREIRA PASSOS
PIRACICABA, SP
2007
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2
A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE ATRAVÉS DA
INTERAÇÃO DIALÓGICA PELA COMUNICAÇÃO
SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA.
PAULA MELLO PEREIRA PASSOS
ORIENTADORA PROFA. DRA. MARIA INÊS BACELLAR MONTEIRO
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora do Programa de Pós
- Graduação em Educação da
UNIMEP como exigência parcial
para obtenção do
título de Mestre
em Educação.
PIRACICABA, SP
2007
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3
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro-orientadora
Profa. Dra. Evani Andreatta Amaral Camargo
Profa. Dra. Lúcia Helena Reily
4
DEDICATÓRIA
Ao meu filho Arthur,
Luz da minha vida.
Ao meu marido Carlos Henrique,
Meu refúgio de todas as horas.
Aos meus pais Francisco e Icléa,
Meu porto seguro.
Porque amo-os muito e sempre.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus sogros, Suzana e Zebeco, pelo acolhimento de todas as horas.
À grande família, André, Isa, Diogo e Felipe, Binho e Tati, Laurinha, Lúcia e
Antônio, Ana Cláudia e Daniel, por estarmos sempre juntos, apesar da
distância.
À Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro, por sua disponibilidade, por seu
conhecimento, por me encorajar, mas principalmente, por ser muito mais que
minha orientadora. Sua simplicidade e amizade a tornam muito especial.
Às professoras Dra. Lúcia Reily e Dra. Evani Andreatta pelo privilégio de
conhecê-las e por aceitarem partilhar deste momento tão especial.
À professora Dra. Maria Cecília R. de Góes e à fga. Maria Fernanda
Bagarollo pelas contribuições valiosas durante a realização desta pesquisa.
Às professoras Dra. Cristina Lacerda e Dra. Ivone Panhoca por suas aulas e
discussões tão instigantes, que despertaram um outro olhar para a
linguagem.
A todos os professores e funcionários do mestrado de Fonoaudiologia pelo
empenho, dedicação e contribuições no decorrer deste caminho.
Às colegas de mestrado, Lara, Lílian, Cybelle e Aline, porque apesar das
dúvidas e incertezas pudemos desfrutar da amizade e da conquista de
chegarmos até aqui.
À Ana e sua mãe, por confiarem e permitirem que eu realizasse este
trabalho.
6
RESUMO
A Comunicação Suplementar e Alternativa é uma área da prática clínica,
educacional e de pesquisa que vem apresentando considerável expansão
nos últimos anos, inclusive em âmbito nacional. Assim, o presente estudo
tem como objetivo refletir sobre a importância da linguagem nas intervenções
clínicas que a utilizam em sujeitos com paralisia cerebral, a partir de um
referencial teórico que permita redimensionar este campo de atuação.
A matriz histórico-cultural e a perspectiva enunciativo-discursiva
fundamentam a discussão acerca do processo de aquisição de linguagem (e
como este ocorre através da Comunicação Alternativa e Suplementar) na
constituição dos sujeitos ouvintes, mas impossibilitados de produzir fala
articulada. O pressuposto de que a linguagem é por natureza dialógica e
constitutiva do sujeito indica a condição em que o papel do outro passa a ser
central para a compreensão deste processo.
A abordagem metodológica adotada é baseada nas diretrizes da análise
microgenética, que permite o exame das minúcias ao longo de um processo
interativo-discursivo, buscando suas relações com as condições
macrossociais, do ponto de vista histórico e cultural.
São analisados recortes de episódios interativos entre uma criança com
paralisia cerebral e a pesquisadora, extraídos de situações de terapia
fonoaudiológica realizadas semanalmente. Além das videogravações das
sessões terapêuticas, posteriormente transcritas, também são utilizados
relatos da mãe obtidos em entrevista ou em conversas posteriores aos
atendimentos e registros manuais da pesquisadora referentes aos encontros
realizados.
Os dados apontam para a atividade interpretativa do outro no contexto
discursivo como aspecto fundamental para a inserção do sujeito na
linguagem através da Comunicação Suplementar e Alternativa, e evidenciam,
assim, a sua função mediadora.
Como conclusão, este estudo revela que as práticas envolvendo a
Comunicação Suplementar e Alternativa podem ser ressignificadas através
da concepção teórico-metodológica adotada e com isso gerar uma proposta
de atuação diferenciada nas esferas clínica e pedagógica, promovendo o
desenvolvimento da linguagem e a constituição do sujeito.
Palavras chave: Comunicação Suplementar e Alternativa; Linguagem;
Paralisia Cerebral.
7
ABSTRACT
Considering Augmentative and Alternative Communication as an area of
clinical practice, education and research which has had considerable
expansion over the last years, nationwide inclusively, the objective of this
study is to reflect the importance of language in clinical interventions which
use it with cerebral palsy subjects from a theoretical reference which would
allow us to redesign this field.
The historical-cultural matrix and the enunciative-discursive perspective serve
as basis for the discussion on the language acquisition process (and how it
takes place through Augmentative and Alternative Communication) in the
constitution of subjects who can hear, but are unable to produce articulated
speech. The presupposition that language is naturally dialogical and
constitutive of subjects shows the condition in which the role of the other
becomes essential for understanding this process.
The methodological approach adopted is based on the guidelines of
microgenetic analysis, allowing for the examination of details along a
interactive discursive process, trying to determine its relations with
macrosocial conditions from the historical and cultural point of view.
Scenes from interactive episodes between a cerebral palsy child and the
researcher extracted from weekly language and speech training sessions are
analyzed. Besides, video recordings from the therapeutic sessions, which
were later on transcribed, reports from mothers obtained during interviews or
conversations after the sessions and the researcher’s written records
concerning these meetings were used.
Data point to the interpretative activity of the other in discursive context as a
fundamental aspect for the inclusion of the subject in language through
Augmentative and Alternative Communication and show its mediating
function.
In its conclusion, this study shows that practices involving Augmentative and
Alternative Communication can be redesigned through the theoretical-
methodological approach we employed and, thus, a differential proposal can
be adopted in the clinical and educational spheres, promoting language
development and the constitution of the subject.
Key-words: Augmentative and Alternative Communication; Language;
Cerebral Palsy.
8
SUMÁRIO
Introdução.....................................................................................................11
Capítulo 1
A Comunicação Suplementar e Alternativa...............................................17
1.1 Histórico.........................................................................................17
1.2 Terminologia e implicações...........................................................19
1.3 Definição e conceitos.....................................................................20
1.4 Tipos de sistemas..........................................................................21
1.5 Tecnologia e Acessibilidade..........................................................23
Capítulo 2
Práticas Clínicas em Paralisia Cerebral.....................................................27
2.1 Da normalidade à patologia: as implicações acerca das
concepções de clínica..........................................................................27
2.2 Linguagem, avaliação e intervenção na paralisia cerebral............31
2.3 Comunicação Suplementar e Alternativa na paralisia cerebral.....34
Capítulo 3
Comunicação Suplementar e Alternativa, Linguagem e Subjetividade..44
3.1 As concepções de linguagem e sua relação com a CSA..............45
3.2 CSA e o conceito de mediação......................................................51
3.3 CSA e o conceito de compensação...............................................54
Capítulo 4
Análise e Discussão dos Dados.................................................................59
4.1 Caracterização do sujeito..............................................................60
4.2 Caracterização do estudo..............................................................62
4.3 Apresentação dos episódios..........................................................63
Buscando dizeres......................................................................64
9
A polissemia (e a polifonia) dos dizeres....................................71
Fazendo escolhas.....................................................................79
O aprisionamento ao contexto imediato....................................84
A motivação gerando participação............................................86
Introduzindo tópicos..................................................................89
Buscando novos lugares discursivos........................................92
Capítulo 5
Considerações Finais..................................................................................98
Referências Bibliográficas........................................................................104
Anexo...........................................................................................................116
10
______________________________________________________________
INTRODUÇÃO
11
INTRODUÇÃO
A escolha da Comunicação Suplementar e Alternativa e suas
implicações no desenvolvimento da linguagem de sujeitos com paralisia
cerebral como foco desta pesquisa é fruto de reflexões e inquietações
pessoais relacionadas à minha atuação profissional com sujeitos portadores
de acometimentos orgânicos resultantes, dentre outros fatores, no
impedimento da expressão através da oralidade, seja em caráter congênito
ou adquirido.
Sem dúvida que escrever sobre a Comunicação Suplementar e
Alternativa doravante CSA não é uma tarefa fácil, especialmente porque
se trata de um tema complexo que envolve várias disciplinas e, portanto,
percepções diferentes sobre um mesmo objeto.
Além disso, por ser um campo que gradualmente vem ganhando maior
espaço no âmbito clínico-educacional e acadêmico-científico, convoca os
profissionais comprometidos neste “fazer” a um envolvimento crítico, ao
constante aprimoramento de suas bases conceituais e à releitura das
práticas empregadas. É neste cenário que constatamos um aumento
substancial de publicações nacionais e estrangeiras orientadas para as
ações e concepções difundidas na área.
Portanto, quando me propus a realizar este estudo, em função do
apelo investigativo aliado à prática clínica cotidiana, muitas questões
instigaram minha curiosidade acerca das técnicas comumente empregadas
em CSA – inclusive por mim – e suas implicações com a linguagem.
Não foram poucos os momentos em que me deparei e isso ainda
ocorre com situações de desconhecimento e resistência à utilização da
CSA por parte dos familiares e de outros profissionais ligados à área clínica e
educacional.
Acredito que, para os familiares e possíveis usuários da CSA, o
confronto inicial algumas vezes observado diante da proposta de utilização
de um recurso diferente da oralidade para expressar-se é decorrente do
12
enfrentamento das próprias limitações e frustrações advindas da constatação
do impedimento orgânico e suas conseqüências.
Porém, com relação aos profissionais, me pergunto se esta resistência
estaria relacionada à crítica clássica direcionada para a CSA, baseada em
concepções oralistas, de que recursos alternativos ou de apoio à fala
articulada viriam a comprometer o desenvolvimento da oralidade ou, então,
às estratégias e técnicas comumente empregadas e que, por vezes,
remetem às crenças equivocadas vinculadas aos modelos behavioristas
(troca de fichas) ou estruturalistas (competência gramatical) da linguagem,
resultando numa visão restrita da CSA e dos benefícios que pode trazer aos
sujeitos impossibilitados de desenvolver fala e linguagem pelos meios
convencionais.
Ao realizar uma revisão da literatura especializada, percebo que,
embora sejam muitos os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos, são
escassos aqueles dedicados à linguagem, os quais quase sempre focam
apenas a sua dimensão comunicativa. A grande maioria da produção
científica, especialmente nacional, ainda é direcionada aos recursos
tecnológicos disponibilizados para aprimoramento do desempenho
comunicativo do usuário sem fala funcional
1
.
Apesar da relevância deste aspecto, pensar em aplicativos e
periféricos não é suficiente para garantir ao indivíduo autonomia e
independência ao comunicar-se. Além disto, corremos o risco de minimizar o
papel da linguagem, reduzindo-a ainda ao mero acionamento de
equipamentos de última geração ou treinamento de símbolos,
desconsiderando o seu uso dentro de um contexto social, histórico e cultural.
Muito temos visto e ouvido sobre a prática dos profissionais de saúde
e educação envolvidos com o uso de Sistemas Suplementares e Alternativos
de Comunicação para o desenvolvimento da comunicação de pessoas sem
possibilidades de fala funcional. No entanto, acredito que estudos sobre a
construção da linguagem com o uso da CSA merecem maior atenção/ênfase.
1
Moreira e Chun (1997) utilizam o termo fala funcional. Em meu entender, significa a
capacidade de expressar-se oralmente de forma eficiente, do ponto de vista articulatório,
lingüístico e discursivo.
13
A partir daí, o primeiro de meus questionamentos ganha contornos
mais consistentes: qual o papel da linguagem na CSA?
Autores como Vasconcellos (1999) e Chun (2003) sinalizam a
importância do enfrentamento necessário perante as dificuldades da ordem
da linguagem vivenciadas no cotidiano profissional em relação à CSA e
pontuam as discussões abordadas em seus estudos com concepções que
remetem às noções de linguagem em funcionamento, de sujeito e do papel
do outro nesta relação.
Entendo que, ao incorporar a questão da interlocução e da atividade
interpretativa nas práticas atravessadas pela linguagem, fica evidente a
urgência em repensar as ações clínico-educacionais, ultrapassando o
conceito do apontar, acionar...
Almejo mostrar que a CSA não está circunscrita ao uso de pranchas
de comunicação ou aos sistemas de símbolos gráficos, assim como não é
fácil desenvolver as condições necessárias para apontar símbolos ou acionar
periféricos. Discuto, neste estudo, a existência de um caminho pelo qual o
sujeito vai construindo a linguagem. Este processo não se inicia com o uso
dos sistemas gráficos, mas constitui a CSA propriamente dita. Refiro-me
às possibilidades e oportunidades que permitem ao sujeito realizar
escolhas, expressar “sim” ou “não”, manifestar desejos... Um querer dizer
que deve ser reconhecido na e pela atividade interpretativa do interlocutor.
Indago ainda: é a concepção teórico-metodológica orientadora das
práticas clínicas e educacionais em linguagem que determina o sucesso (ou
insucesso) no que se refere à implementação da CSA junto ao sujeito
impossibilitado de expressar-se oralmente?
Diante desta problemática, pretendo investigar o lugar da linguagem
na CSA junto a sujeitos com paralisia cerebral partindo do pressuposto de
que a linguagem é por natureza dialógica e constitutiva do sujeito, condição
em que o papel do outro passa a ser fundamental para a compreensão deste
processo.
Não é meu intuito discutir a paralisia cerebral tampouco a CSA em si –
já que existem diversas publicações neste sentidomas a relação entre elas
atravessada pela linguagem dentro do contexto clínico, mais especificamente
no Brasil.
14
Este interesse particular deve-se, em parte, à importância de entender
como ocorre a aplicação da CSA, vinculada a uma determinada cultura e
sociedade que, de certa forma, “importa” os usos e conhecimentos (até certo
ponto e de certo modo), mas que também tem se dedicado à configuração de
um pensar e um fazer próprios, conforme denotam as produções científicas
recentes.
Sendo assim, irei me ater intencionalmente às pesquisas nacionais,
buscando nas referências estrangeiras aquilo que entendo ser necessário
para esclarecer algum ponto divergente ou lacuna perante o que tenho
encontrado nas publicações brasileiras.
Permaneço concentrada, sobretudo, nos trabalhos cujo foco recai
sobre a linguagem, considerando esta uma premissa para o desenvolvimento
do trabalho com CSA.
Ao abordar a relação entre CSA e linguagem, refletindo sobre sua
fundamental implicação dialética, ouso inferir que não existe CSA sem a
linguagem e que esta, por sua vez, é a mola propulsora daquela, embora
seja a própria CSA que propicie à linguagem tornar-se visível. Panhan (2001)
reflete sobre a condição de materialidade que a CSA proporciona através dos
sistemas e símbolos de comunicação. Para a autora, a atividade
interpretativa inerente ao espaço discursivo confere forma e significado ao
que está sendo dito, marcando, inclusive, o caráter efêmero e a opacidade
relacionada a este dizer.
Reafirmo, portanto, que a proposta é refletir sobre o uso da CSA como
propiciadora (ou não) da aquisição e do desenvolvimento de linguagem em
sujeitos com graves comprometimentos da oralidade, com o objetivo de
analisar criticamente o uso da CSA para além da visão centrada na técnica e
na questão estrutural da língua.
Acredito na relevância deste estudo pelo compromisso que assume,
no campo da educação e saúde humana, de contribuir para a melhoria da
qualidade de vida e das condições de inserção social de sujeitos com
paralisia cerebral.
O estudo está organizado em cinco capítulos nos quais apresento
reflexões teóricas e os dados oriundos dos processos de investigação de
uma criança com paralisia cerebral em fase de aquisição de linguagem, ou
15
seja, num momento em que a linguagem ainda não está consolidada,
buscando averiguar a repercussão ao utilizar a CSA como mediação para o
favorecimento dessa aquisição.
No primeiro capítulo, apresento uma breve introdução teórica sobre a
CSA com o intuito de situar o leitor em relação a alguns pressupostos e
aspectos essenciais para compreensão do tema. Portanto, cito dados
relativos à história, terminologia, conceitos e tipos de sistemas, tecnologia e
acessibilidade envolvidos nesta proposta.
No capítulo seguinte, em continuidade à introdução teórica, comento
16
CAPÍTULO 1
______________________________________________________________
A COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA
17
A COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA
Embora o campo teórico-prático relacionado à CSA seja relativamente
recente, observamos que este vem apresentando considerável expansão nos
últimos anos. Atualmente, diversos estudos brasileiros retratam o percurso
pelo qual têm sido desenvolvidas estratégias e aplicadas técnicas vinculadas
à indicação e implementação de um sistema junto ao usuário de CSA.
Ao optar, na área clínica ou educacional, pelo emprego da CSA e da
tecnologia assistiva a ela relacionada, procuramos viabilizar ao indivíduo com
grave comprometimento da oralidade o desenvolvimento da função
comunicativa da linguagem. Esta opção permite um grande avanço no
campo de estudos e práticas envolvendo a paralisia cerebral, contribuindo
para que a autonomia e cidadania do sujeito possam ser conquistadas de
fato, através da linguagem, apesar das dificuldades e dos impasses gerados
pela patologia.
Neste capítulo, traçamos uma breve revisão da literatura relacionada à
CSA a fim de elucidar o leitor no que tange a este domínio e dessa forma
oferecer alguns subsídios para compreensão dos aspectos que serão
discutidos no decorrer desta pesquisa.
1.1. Histórico
É difícil realizar uma revisão histórica exata acerca dos primórdios da
CSA pelo fato de não existirem registros formalizados das práticas iniciais
exercidas neste campo, além do fato deste histórico envolver diversos países
e profissionais, cujas disciplinas, apesar de serem de áreas afins, incorrem
em bases teóricas e modelos conceituais distintos (BELLACASA, 2003;
NUNES, 2002; MOREIRA e CHUN, 1997). Os documentos a que temos
acesso datam da década de 70 e, embora ocorram divergências quanto a
datas e locais precisos, a concordância geral é de que as primeiras iniciativas
partiram do Canadá.
18
De acordo com dados fornecidos por Kates & McNaughton (1975) e
Gava (1999b), em 1971 este trabalho começou a ser desenvolvido no
Ontario Crippled Children Center
2
(em Toronto, Canadá) através da
aplicação do Blissymbolics ou sistema Bliss de comunicação para o
tratamento de pessoas com graves prejuízos na oralidade em decorrência de
comprometimentos neuromotores.
Posteriormente, foram elaborados outros tipos de sistemas gráficos de
comunicação
3
desenvolvidos especificamente para o tratamento de pessoas
com deficiência. Existem, inclusive, versões computadorizadas para
confecção de pranchas ou aplicação clínica (CAPOVILLA, CAPOVILLA &
MACEDO, 2001; MICHARALOS, 2001; CAPOVILLA & THIERS, 1998).
Em maio de 1983, de acordo com Bellacasa (2003), foi constituída, na
Michigan State University, a International Society for Augmentative and
Alternative Communication (ISAAC). Em seus primeiros anos, divulgava
trabalhos que já eram realizados nos Estados Unidos, Canadá, Suécia e Grã-
Bretanha.
No Brasil, segundo Chun (1991), a CSA foi formalmente introduzida
em 1978, através da Associação Educacional Quero-Quero de Reabilitação
Motora e Educação Especial, situada em São Paulo, capital. Inicialmente, foi
utilizado o sistema Bliss de comunicação trazido do Canadá pelos
fundadores da instituição.
Nunes (2002) afirma que, em 1986, o sistema Bliss foi divulgado
também no Rio de Janeiro, junto à Associação de Pais e Amigos do
Excepcional de Niterói e à Sociedade Pestalozzi do Rio de Janeiro passando
a ser utilizado igualmente em consultórios particulares de terapeutas
ocupacionais e fonoaudiólogos, enquanto que o sistema Pictogram Ideogram
Communication PIC foi introduzido na Fundação Catarinense de Educação
Especial, em Florianópolis (SC).
Moreira e Chun (1997) descrevem que, ainda na década de 80, além
do Rio de Janeiro e Santa Catarina, a CSA começou a ser empregada nas
cidades de Jundiaí (SP), Rio Claro (SP) e Belo Horizonte (MG). Na década
2
Atual Bloorview MacMillan Centre.
3
Picture Communication Symbols – PCS e Pictogram Ideogram Communication – PIC,
sistemas gráficos que serão comentados oportunamente no decorrer do texto.
19
de 90, houve grande disseminação desta abordagem na cidade de São
Paulo, porém em unidades de atendimento clínico especializado e
instituições de educação especial.
Pelosi (2000) informa que, em 1994, foi introduzido o uso da CSA nas
escolas municipais do Rio de Janeiro através de um convênio firmado entre o
Programa de Terapia Ocupacional da Secretaria Municipal de Saúde e a
Direção do Instituto Helena Antipoff IHA, enquanto que, em 1995, eram
iniciadas diversas pesquisas sobre o tema no Programa de Pós Graduação
em Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Em 2004, foi realizada, em Natal (RN), a 11
th
Biennial International
Conference of the ISAAC communication for all, em parceria com a
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas e o governo do Rio Grande
do Norte. Nesta ocasião, estiveram presentes profissionais de diversas
regiões brasileiras.
A partir deste evento, foi realizado, em 2005, o I Congresso Brasileiro
de Comunicação Alternativa ISAAC Brasil e I Congresso Internacional de
Linguagem e Comunicação da Pessoa com Deficiência, promovido pela
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Durante este evento foram
lançadas as bases para a fundação da ISAAC Brasil
4
, extensão do órgão
internacional que orienta as questões políticas, sociais, educacionais e
instrumentais relacionadas à CSA.
1.2. Terminologia e implicações
A sigla AAC para Augmentative and Alternative Communication foi
cunhada em 1983, na ocasião de fundação da ISAAC. A terminologia
brasileira utilizada nesta área não é consensual, uma vez que sua tradução
da versão estrangeira e mundialmente aceita gera controvérsias,
especialmente quanto ao significado de Augmentative (BEUKELMAN &
MIRENDA, 1998; VON TETZCHNER & JENSEN, 1997).
4
Atualmente, os trâmites para sua oficialização estão em andamento.
20
Diferentes nomenclaturas, portanto, vêm sendo adotadas, tais como
Comunicação Aumentativa e Alternativa (JOHNSON, 1998; GILL, 1997),
Comunicação Alternativa e Ampliada (NUNES, 2002; PELOSI, 2000),
Comunicação Alternativa e Aumentativa (ALMIRALL, SORO-CAMATS &
BULTÓ, 2003), Sistemas Alternativos e Facilitadores de Comunicação
(CAPOVILLA, CAPOVILLA & MACEDO, 1998), Comunicação Alternativa
(FORCHETTI, 2000; TUPY e PRAVETTONI, 1999; NUNES et. al., 1998),
Comunicação Suplementar e Alternativa (PANHAN, 2001b; SADER, 2001;
WOLFF, 2001) Comunicação Alternativa e Suplementar (GONÇALVES,
2003; MOREIRA, 2001; FERNANDES, 2001).
Chun (1991, 2002) e Moreira e Chun (1997) consideram que
augmentative corresponde a suplementar, pois atribui a conotação de
complemento à fala e desta forma utilizam o termo Sistemas de
Comunicação Suplementar e/ou Alternativa.
É necessário deixar claro que um sistema, segundo Gill (1997), é a
variedade de recursos e estratégias empregados no processo de
comunicação, das quais fazem parte os símbolos, sejam eles gráficos,
gestuais etc.
Numa discussão mais aprofundada, Vasconcellos (1999:70) afirma
que “(...) os chamados ‘sistemas’ gráfico-visuais são, de fato, um amontoado
de ‘símbolos’ (não se articulam como um sistema), mas que, submetidos ao
jogo da língua é que eles podem vir a significar”.
Ou seja, os símbolos por si não têm vida própria no contexto da
linguagem. Precisam ser postos em funcionamento na língua através do
sujeito em suas relações histórico-sociais, para que, no jogo dialético da
interpretação, possam ser atribuídas significações.
Refletindo sobre estas colocações, consideramos apropriado utilizar o
termo Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) ou simplesmente
Comunicação Alternativa, uma designação que também vem se tornando
usual.
1.3. Definição e conceitos
21
A Comunicação Suplementar e Alternativa é uma “área da prática
clínica, educacional e de pesquisa que visa compensar e facilitar, temporária
ou permanentemente, os prejuízos e incapacidades dos indivíduos com
severos distúrbios da comunicação expressiva e/ou distúrbios da
compreensão. CSA pode ser necessária para indivíduos que demonstrem
prejuízos nos modos de comunicação gestual, oral e/ou escrita” (ASHA,
1991).
É alternativa na medida em que substitui a fala e suplementar, como já
discutido anteriormente, quando complementa a fala. Sendo assim, é
indicada para aqueles cujo comprometimento da linguagem oral, gestual ou
escrita é tão severo que impossibilita a comunicação apenas através de
formas convencionais.
Pode, portanto, ser aplicada para crianças ou adultos com autismo,
paralisia cerebral, apraxia de fala, atraso no desenvolvimento da fala e da
linguagem (SCHLOSSER & ROTHSCHILD, 2001), deficiência mental,
deficiência visual ou duas deficiências associadas
5
(GILL, 1997), esclerose
lateral amiotrófica, acidentes vasculares cerebrais, traumatismo
cranioencefálico e em alguns casos específicos de hospitalização
(GONÇALVES, 2003).
Seu caráter temporário ou permanente está vinculado à continuidade
do uso. Conforme o sujeito adquira ou recupere a fala funcional,
naturalmente suspende-se a utilização da CSA. aqueles, porém, que se
beneficiarão deste recurso ao longo da vida, dado o fato de a oralidade
permanecer bastante prejudicada.
1.4. Tipos de sistemas
Fernandes et al. (1999), Moreira e Chun (1997) e Almirall (1988)
descrevem que os sistemas de CSA podem ser divididos em dois grandes
grupos: os sistemas sem ajuda, ou seja, aqueles que não requerem auxílio
5
Forchetti (2000) discute sobre a aplicação da CSA nos casos de surdocegueira em sua
dissertação de mestrado “A história de Iago: o menino guerreiro no mundo da comunicação
alternativa”.
22
externo ao próprio corpo físico para que ocorra a comunicação (gestos de
uso comum e gestos indicativos, vocalizações, mímicas faciais, língua de
sinais
6
) e os sistemas com ajuda, ou seja, aqueles que requerem algum tipo
de auxílio externo (objetos, fotografias, símbolos gráficos, escrita).
Podem ser considerados sistemas de comunicação dependente,
quando o usuário necessita de outra pessoa para agrupar ou interpretar o
que é transmitido, ou sistemas de comunicação independente, quando o
usuário transmite sua mensagem com auxílio de dispositivos eletrônicos.
Inúmeros são os tipos de CSA, desde os gestos de uso comum até os
sistemas representados por símbolos gráficos. Destes últimos, os mais
conhecidos e empregados em nossa cultura são o Blissymbolics (Bliss), o
Picture Communication Symbols (PCS) e o Pictogram Ideogram
Communication (PIC) (TREVIZOR, 2003; WOLFF, 2001; FERNANDES,
1999).
O sistema Bliss, assim denominado em função de seu idealizador
Charles K. Bliss (ROSELL & BASIL, 2003; GAVA, 1999b e CHUN, 1991), é
composto por símbolos gráfico-visuais que podem ter caráter pictográfico (os
desenhos se parecem com o que representam); ideográfico (sugerem
através de associação gráfica o conceito representado); arbitrário (não
estabelecem relação pictorial ou ideográfica com o que representam) e
compostos (agrupamento dos símbolos descritos).
São dispostos em seis categorias organizadas sintaticamente,
representadas por cores diferentes e pré-determinadas, obedecendo à
estrutura da língua
7
. As pranchas são organizadas em colunas coloridas na
seguinte ordem: ROSA para expressões sociais; AMARELO para pessoas e
pronomes pessoais; VERDE para verbos; LARANJA para substantivos;
AZUL para adjetivos e advérbios e BRANCO para o que é denominado
6
Embora existam divergências da literatura neste sentido, acreditamos que a LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais) não pode ser chamada de CSA quando aplicada à comunidade
surda. Seu uso com ouvintes, não falantes, constitui-se como alternativo ou suplementar à
fala, inclusive por “emprestar” sinais que acabam sendo utilizados fora da gramática própria
da LIBRAS.
7
Conforme esclarece Reily (2006), foi a terapeuta Shirley McNaughton, uma das pioneiras
no uso do Bliss com finalidade de CSA, quem estabeleceu o uso das cores para organizar as
pranchas de comunicação.
23
miscelânea
8
(artigos, preposições, conjunções, alfabeto, números, datas
comemorativas, cores, noções de tempo...). Segundo Chun (1991), embora a
escolha destas cores tenha sido arbitrária, seu uso favorece a aprendizagem,
além de proporcionar maior estética na elaboração da prancha e facilitar a
localização dos símbolos.
O PCS foi desenvolvido em 1980, por Roxanna Mayer Johnson, e
contava com 700 símbolos (JOHNSON, 1998), a maioria, pictográficos.
Atualmente, é composto por mais de 3000 símbolos que são organizados por
categorias sintáticas, em fundo colorido (no mesmo padrão ap resentado
para os símbolos Bliss) ou preto/branco (se fundo preto, traçado branco e
vice-versa).
O PIC foi criado também em 1980, por Maharaj, e conta com 400
símbolos agrupados por categorias semânticas. É composto por símbolos
pictográficos de traçado branco em fundo preto, com a palavra escrita
também em branco, visando minimizar as dificuldades na discriminação
figura-fundo (GILL, 1997). Tem sido aplicado em casos de comprometimento
mental severo e surdocegueira. Seu uso, do ponto de vista sintático, não é
funcional.
1.5. Tecnologia e Acessibilidade
O emprego das Tecnologias de Informática e Comunicação (TIC)
direcionado para a CSA vem sendo crescente dada a evidente evolução
nesta área e a possibilidade de melhoria na qualidade e eficiência de acesso
à comunicação das pessoas com deficiência, afetando diretamente os modos
de intervenção clínica e pedagógica.
O objetivo deste tipo de auxílio consiste em tornar ágil e aperfeiçoar o
aproveitamento das capacidades funcionais, eliminando ou minimizando as
barreiras de acessibilidade, sejam elas físicas, mentais ou sensoriais
(SUÁREZ et al., 2003; BROWNING, 2003; NUNES, 2002; PANHAN, 2001a;
GAVA, 1999a; GONÇALVES, CAPOVILLA & MACEDO, 1998).
8
A categoria miscelânea pode ser disposta pela prancha de acordo com a preferência do
usuário.
24
Os recursos de baixa e alta tecnologia vão desde as pranchas de
comunicação (os símbolos impressos ou desenhados são dispostos em
tampos de mesa de cadeiras de posicionamento ou adaptados a cadeiras de
rodas ou em pastas portáteis tipo catálogo) até dispositivos de última
geração como controladores de ambiente ou sofisticados sistemas
computadorizados com fala sintetizada ou digitalizada
9
.
Para selecionar a forma de acessibilidade mais indicada para cada
usuário, é necessário levar em consideração suas habilidades motoras,
cognitivas e sensoriais, assim como o tipo de sistema de CSA que lhe trará
maiores benefícios, além do contexto de uso e as condições de vida do
usuário.
O ideal é que esta escolha ocorra em conjunto com o usuário e sua
família (REILY, 2004; SCHLOSSER & ROTHSCHILD, 2001) durante a
avaliação e os atendimentos terapêuticos, podendo haver maior ou menor
participação dos familiares, em função do grau de interesse e disponibilidade.
Capovilla, Capovilla & Macedo (2001), Micharalos (2001), Borges &
Watanabe (2001) e Pelosi (2000) descrevem sistemas computadorizados de
comunicação e de acessibilidade que visam promover a independência do
usuário em relação à comunicação e auxiliar nos processos de interação
social, acadêmica e profissional.
Chun e Moreira (1998) afirmam que o uso de recursos tecnológicos
mais sofisticados pode proporcionar maior autonomia e independência ao
sujeito e, assim, maior desenvolvimento de suas possibilidades lingüísticas e
abrangência das diferentes necessidades comunicativas.
Contudo, se a tecnologia é um instrumento importante para assistir as
pessoas com deficiência, não é ela ou o Sistema Suplementar e/ou
Alternativo de Comunicação por si que possibilitam as vantagens
apontadas, mas, sim, a atuação com o sujeito e sua linguagem.
Panhan (2001a) considera que um programa de comunicação
computadorizado dentro do espaço clínico e terapêutico deve ter como
princípio básico atravessar o impedimento orgânico e possibilitar a
9
O leitor interessado em conhecer mais sobre este assunto pode consultar em HOGETOP,
L. e SANTAROSA, L.M.C. Tecnologias Adaptiva/Assistiva Informáticas na Educação
Especial: viabilizando a acessibilidade ao potencial individual.
Revista de Informática na
Educação
: Teoria e Prática – PGIE/UFRGS, v. 5, n.2, nov, 2002. p.103-118.
25
materialidade (via som acústico digitalizado ou sintetizado, via apresentação
impressa do sinal gráfico ou ortográfico) do “dizer” a ser lido e interpretado. A
tecnologia é tomada como “ferramenta auxiliar” e pode o fonoaudiólogo
apropriar-se deste conhecimento tecnológico sem perder a especificidade de
seu fazer.
26
CAPÍTULO 2
______________________________________________________________
PRÁTICAS CLÍNICAS EM PARALISIA CEREBRAL
27
PRÁTICAS CLÍNICAS EM PARALISIA CEREBRAL
Considerando que este estudo apresenta dados da observação de
uma criança durante seu atendimento fonoaudiológico, trataremos do tema
relacionado às práticas clínicas utilizadas em paralisia cerebral, no intuito de
compreender como tais ações vêm se desenvolvendo e deixando suas
marcas ao longo do percurso e, especialmente, de que forma se fazem
visíveis nos caminhos trilhados pela CSA no campo da Fonoaudiologia.
Partindo do pressuposto de que a Fonoaudiologia constitui-se uma
Ciência em movimento, cujos procedimentos teórico-metodológicos sofrem
processos de constantes discussões e reavaliações, parece apropriado
estender estas reflexões a uma análise crítica acerca da atuação do
fonoaudiólogo destinada aos sujeitos com graves comprometimentos da
oralidade decorrentes de distúrbios neuromotores.
Kokanj (2003) afirma que:
(...) toda área de conhecimento se constitui como tal porque
apresenta questões (mais do que propriamente respostas) no que
diz respeito ao seu objeto de conhecimento. Assim, da
interrogação sobre o que lhe é próprio, uma disciplina ganha um
rigor teórico (p. 02).
Enfatizamos neste capítulo o percurso das práticas que envolvem a
linguagem, que o escopo deste trabalho é refletir sobre sua implicação na
paralisia cerebral e CSA dentro do contexto clínico, mais especificamente no
Brasil.
2.1. Da normalidade à patologia, as implicações acerca das concepções
de clínica.
A atuação clínico-terapêutica em paralisia cerebral tem, em seu
percurso, marcas da influência positivista, também própria da medicina, na
qual inicialmente se baseou. Tais marcas se fazem visíveis a partir do
28
momento em que a paralisia cerebral é retratada como doença demarcando
os limites do sujeito em função da deficiência e gerando um entrave frente às
possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem.
A percepção da deficiência, instaurada nas relações sociais e
históricas, carrega em si o estigma que resulta na exclusão, fruto das
relações de poder e dominação. Vemos formado um circuito fechado em que
operam num conjunto mórbido a doença, a deficiência, o estigma e a
exclusão, dimensão esta que pretendemos confrontar.
Nosso posicionamento coincide com a visão de superação da
deficiência proposta por Vigotski (1997) através do conceito de compensação
e das implicações sociais decorrentes do
defeito
10
. Pretendemos direcionar
nosso olhar para ações inovadoras que enfatizam os aspectos qualitativos do
desenvolvimento humano a partir das relações sociais e culturais.
É certo que, desde a antiguidade, a medicina preocupa-se em
entender a doença, estado mórbido, e sua relação com a normalidade, tida
como estado são.
No século XIX, os estudiosos partiram do princípio de que o patológico
decorria apenas de uma variação quantitativa, para mais ou para menos, do
estado normal, sendo que “a alteração qualitativa que separa o normal do
patológico era dificilmente sustentável” (CANGUILHEM, 2000:21), dado o
caráter normativo e positivista do pensamento científico da época.
Desta visão filosófica resulta a concepção clássica de atuação
baseada na homogeneidade, na qual as práticas são fundamentadas nos
quadros nosológicos propostos pela medicina.
Segundo Dunker (2000), o projeto clínico datado do final do século
XVIII que na verdade constitui a estrutura da clínica clássica procura
estabelecer critérios semiológicos, diagnósticos, etiológicos e terapêuticos
para conduzir os procedimentos clínicos.
É importante lembrar que as noções do “olhar” (FOUCAULT, 2003) e
do toque permeiam tais conceitos, de maneira que somente o que pode ser
olhado e tocado, no sentido estrito da palavra, assume valor no contexto
clínico-terapêutico.
10
Mantivemos o termo adotado por Vigotski, sendo que discutiremos o conceito de
compensação e suas implicações detalhadamente no decorrer do próximo capítulo.
29
A semiologia, por sua vez, consiste numa classificação e organização
dos signos que, neste modelo teórico, remetem a uma exclusão do sujeito,
restringindo-o às questões exclusivamente inerentes às demandas do corpo.
É também Foucault (1991), citado por Padilha (2000:204), quem afirma que
“no mesmo instante em que ela [a sociedade] diagnostica a doença, exclui o
doente”.
A questão diagnóstica implica na valoração que é dada pelo clínico ao
conjunto de signos e sua ocorrência simultânea ou sucessiva, isto é, na
“transposição do particular ao geral e na reunião de particularidades para a
constituição de uma nova generalidade” (DUNKER, 2000:42), o que acaba
em supor uma nosologia estável, mas não invariante, dos quadros
patológicos.
A etiologia ou teoria da causalidade remete à organização de uma
patologia baseada em princípios causais comuns, em uma descrição
orgânica e numa intervenção clínica linear centrada em causa-efeito,
afetando, dessa forma, tanto a semiologia quanto a nosologia e,
conseqüentemente, a diagnóstica.
A atuação, neste contexto, está vinculada a uma concepção de cura
como o restabelecimento da saúde do ponto de vista fisiológico e normativo.
Este modo de pensar que atravessa tais práticas e determina o
arcabouço teórico-metodológico clássico desconsidera a existência do sujeito
que acaba submetido à figura do terapeuta, em sua condição de onipotência.
Aqui, pesa o paradigma da Objetividade, ou seja, o “Outro” enquanto corpo
articulado a signos.
É justamente esta noção de homogeneidade e normatividade, estática
em sua natureza, que passa a ser criticada na chamada clínica da
Subjetividade (FREIRE, 2000). O conceito de normalidade é redimensionado
em função de uma heterogeneidade constituinte do ser humano.
O que é dito “normal” passa a ser refletido numa relação dinâmica
entre o sujeito e o meio físico, histórico e cultural ao qual se insere. A norma
é vista agora como produto daquele que a institui. Fato semelhante ocorre
com a patologia, que tem suas próprias normas estabelecidas, sendo estas
diferentes das atribuídas à normalidade.
30
O sujeito passa a ser relevante em seu próprio contexto, em sua
própria história. De certa forma, é o “doente” (neste caso, o sujeito) quem
determina sua condição entre o normal e o patológico. Ainda citando
Canguilhem (op. cit.: 145), “A fronteira entre o normal e o patológico é
imprecisa para diversos indivíduos considerados simultaneamente, mas é
perfeitamente precisa para um único e mesmo indivíduo considerado
sucessivamente”.
Assim, o enfoque é direcionado às singularidades do sujeito, em sua
relação consigo e com o ambiente físico e social, pois os estados de
normalidade e patologia podem ser considerados numa perspectiva
pensada dialeticamente. Nesta ruptura com a clínica clássica, termos como
semiologia, diagnóstico, etiologia e terapêutica são associados a novos
sentidos.
A semiologia passa a ser descrita com elementos próprios e
constituída pela fala do sujeito, sendo ressaltado o caráter singular e instável
da ligação entre significante e significado, isto é, o signo em relação ao seu
31
2.2. Linguagem, avaliação e intervenção na Paralisia Cerebral.
Como pudemos constatar, experiências históricas e sociais apontam o
papel das práticas clínicas – e das relações de poder nelas presentes e os
processos de discriminação e preconceitos que geram. As novas tendências
que refutam o emprego de estratégias baseadas em dispositivos de
normalização, sancionadas pelo discurso positivista, pressupõem uma
possibilidade de a criança manifestar sua subjetividade em oposição ao
modelo dominante que acaba por negá-la.
A dicotomia entre o normal e o patológico conduz à percepção
desenvolvimentista do sujeito, na qual a noção de maturação biológica está
fortemente vinculada à existência de pré-requisitos como condição para o
aprendizado. Assim, os fracassos são atribuídos às causas supostamente
orgânicas internas e individuais.
A essa perspectiva centrada no próprio sujeito estão agregadas as
idéias de competência e desempenho veiculadas pelo estruturalismo, cuja
compreensão resulta numa visão universalizante (homogeneizante) do
sujeito e normativa da língua.
Neste panorama, as investigações clínico-terapêuticas diagnósticas
tradicionais centram na criança e em seus déficits suas ações
normalizadoras e, como pontua Pan (2006:89), “analisam de forma
dissimulada as relações entre subjetividade, discurso e poder, tornando
invisíveis outros elementos constitutivos das dificuldades (...) decorrentes das
práticas discursivas que aí circulam”.
O discurso e o fazer médicos se fazem visíveis na atenção ao corpo
biológico, ou seja, aquele que “fala” em sua dimensão articulatória. Daí, uma
concepção de sujeito e da linguagem em que as técnicas tradicionalmente
empregadas na paralisia cerebral são dedicadas ao cuidado, quase
exclusivo, do aspecto sensório-motor-oral para a reabilitação das funções de
alimentação e fala (entendida como ato motor).
Entendemos que a maneira organicista de compreender o
desenvolvimento incorre na interpretação de que o domínio motor resulta em
fala, ou seja, confunde-se a fala, do ponto de vista articulatório, com
linguagem. Como pontua Vasconcellos (1999), a ausência de fala não
32
significa inexistência de linguagem nem que o sujeito se encontre fora da
ordem da língua e do discurso.
Alicerçados na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento
humano, desejamos salientar a importância de entender o biológico junto
com o cultural em interação com sua inserção no grupo social humano,
sendo que nada disso existiria sem a linguagem.
Estas considerações introduzem e elucidam as proposições que
faremos adiante sobre os procedimentos de investigação avaliação e de
intervenção, comumente adotados nas práticas clínicas em paralisia cerebral.
A avaliação é historicamente concebida como instrumento diagnóstico
inaugural do processo terapêutico, consideradas as especificidades de cada
contexto. Busca-se, tradicionalmente, por seu intermédio, a quantificação por
níveis e classificação por áreas do desenvolvimento.
Já na anamnese ou entrevista, o foco da atenção é o corpo biológico e
sua sintomatologia, sendo que os aspectos psicológicos, sociais e culturais
são abordados secundariamente, pois interessam somente na medida em
que irão ajudar a compreender o desenvolvimento orgânico (PALLADINO,
1999).
A observação do sujeito investigado é baseada nestes dados colhidos
previamente e na busca da correlação entre a(s) causa(s) e o(s) sintoma(s).
Tradicionalmente, são utilizados testes/provas e/ou situações
lingüisticamente controladas para avaliação da linguagem.
Conforme aponta Palladino (1999:115), “linguagem, aqui, está posta
no interior de um conceito de língua enquanto código, em que sua função
comunicativa está maximizada”. São avaliados os níveis da linguagem
expressiva e receptiva, do ponto de vista fonético-fonológico, morfossintático,
semântico e pragmático, e posteriormente comparados à norma lingüística
ideal, tida como condição para a boa comunicação. Os erros ou resultados
desviantes são inventariados e servem como base para o plano terapêutico,
aos quais se encaixam perfeitamente os manuais de procedimentos de
intervenção, já que o sentido do sintoma é único, fixo e estável.
Padilha (2000) ressalta que a avaliação clínica conduz à constatação
do que “falta” ao sujeito, em termos sensoriais, motores, verbais e cognitivos.
A partir deste levantamento é traçado um plano de intervenção que se
33
acomoda à deficiência e circunscreve-se ao nível de desenvolvimento, de
maneira que este determina o aprendizado.
Este é o retrato da concepção clínica clássica em que a patologia é
interpretada como desvio da norma padrão e os “erros” apagados em favor
de uma noção homogeneizante, ligada à transparência do dizer.
De acordo com Palladino (1999):
Como a linguagem é identificada com o falar, é testado somente o
nível receptivo, que o emissivo não é passível de ser
investigado, uma vez que a criança “não fala”: um modo muito
curioso e pouco apropriado de resolver a questão. Até porque, no
fundo, não a resolve (p. 116).
Esta visão, entretanto, vem sendo refutada por um grupo crescente de
profissionais envolvidos no tratamento das patologias da linguagem, cujo
referencial de linguagem ultrapassa a função comunicativa e assume o
estatuto de constitutiva do sujeito.
Vorcaro (1992) pontua que:
(...) ao conceituar linguagem e sujeito como interconstitutivos,
desloca-se o problema de uma função do organismo
(comunicação) para o problema da constituição humana
(linguagem). Tornar a linguagem um objeto privilegiado de
conhecimento nas disciplinas que lidam com os distúrbios da
comunicação implica investir na constituição de um domínio
conceitual capaz de reconfigurar o modelo proposto pela medicina,
onde a linguagem ocupa lugar de uma das funções orgânicas do
ser humano: a comunicação (p.73).
Devido às especificidades do sujeito e da própria linguagem, o termo
diagnóstico não tem – e nem pode ter – o mesmo sentido que lhe é atribuído
na medicina, especialmente porque, sob este novo olhar, como aponta
Fonseca (1995), a relação entre o orgânico e o lingüístico é de implicação e
não de submissão.
Quando dirigimos o olhar para as singularidades do sujeito e a
opacidade do dizer, os procedimentos de avaliação e intervenção clínicos
assumem outra configuração. Damos lugar para os processos de
subjetivação e para a heterogeneidade a eles inerente, abrindo espaço para
a polissemia e os múltiplos sentidos no trabalho a ser produzido com e para
o sujeito específico.
34
Diferentemente da abordagem tradicional, a entrevista, realizada no
contexto da avaliação, é concebida como lugar de significação, de atribuição
de sentidos ao dizer do Outro, via atividade interpretativa. No discurso, os
dizeres se entrelaçam e ganham um sentido quando entram em relação.
Recorremos novamente a Palladino (1999) ao definir que:
(...) a linguagem é tida como incompleta, porque encontra sua
unidade quando em relação com a linguagem do outro. Ela precisa
de outra coisa, além dela mesma, para produzir sentido. E a
incompletude da linguagem aponta ainda para a incompletude do
sujeito, já que este está constituído nela e por ela (p.118).
Não valoração inicial do dado nem verdade absoluta na queixa
relatada pelos pais e, a priori, tudo o que for dito será considerado relevante,
porque implica na leitura que é feita do sujeito e na posição discursiva por ele
ocupada.
A unidade mínima de análise para os processos investigativos é o
enunciado
11
e a fala em sua totalidade é objeto de atenção. Não divisão
entre avaliação e intervenção: são procedimentos que acontecem
concomitantemente, ou seja, avaliamos intervindo e intervimos avaliando. O
sujeito e o investigador se encontram nas relações concretas das práticas
discursivas e nelas ocupam papéis dialéticos de mútua constituição.
Não lugar para testes ou provas descontextualizados na coleta de
dados, tampouco para intervenção baseada em técnicas e condutas
previamente estipuladas. O que se contempla é uma observação mais
detalhada da criança durante a interação com o Outro e com a própria
linguagem, pautada no olhar mais reflexivo e cuidadoso do clínico. A
atividade interpretativa e a atribuição de sentidos são o que diferencia as
práticas que se deixam atravessar pela linguagem, na acepção dialógica,
cultural e social do termo.
2.3. Comunicação Suplementar e Alternativa na Paralisia Cerebral
11
Nos termos de Bakhtin (2003).
35
A prerrogativa marcadamente motora do desenvolvimento e o
silenciamento no tocante à linguagem constatada nas atuações clínicas
tradicionais parecem também permear os trabalhos desenvolvidos com CSA,
na medida em que suas propostas nem sempre estão centradas na
linguagem enquanto constitutiva do sujeito. Muitos são descrições dos
diversos tipos de sistemas de CSA existentes e de técnicas e estratégias
específicas para sua aplicação enquanto meio de comunicação e
acessibilidade.
Pretendemos ampliar esta visão, alçando espaços para reflexões
sobre as possibilidades de inserção do sujeito e do Outro e da ação
interpretativa nas práticas envolvendo interação dialógica, mediadas pela
CSA.
Ao considerar as modalidades de avaliação e intervenção,
esclarecemos que estas estão inseridas num contexto amplo de ações
educativas, inscritas nos campos de atividades clínicas e pedagógicas de
ressignificação do mundo e do próprio sujeito, via linguagem.
Porém, na contramão destes argumentos, constatamos que, na
avaliação em CSA, geralmente são utilizados procedimentos protocolados e
pré-concebidos, mesmo que em situações ditas “naturais”. Nestes, os
aspectos a serem explorados já estão previamente determinados, no sentido,
inclusive, da resposta esperada/almejada.
Tradicionalmente, o foco da avaliação incide, conforme aponta
Fernandes (1999), em estabelecer qual o tipo de sistema de comunicação é
mais adequado a cada caso, em função basicamente das habilidades
visuais, motoras, cognitivas e lingüísticas do sujeito.
Panhan (2001b:18), por sua vez, denuncia que a linguagem, ao ser
compreendida como um conjunto de capacidades/habilidades, “induz à
prática que estabelece pré-requisitos perceptuais, sensoriais e cognitivos
como etapas a serem percorridas no aprendizado do sistema de
comunicação”. A autora critica também o critério no qual o vocabulário a ser
introduzido junto ao sujeito é previamente selecionado pelo clínico ou
educador.
A noção de pré-requisitos veiculada na avaliação está intimamente
relacionada à idéia de maturação do organismo e, por isso mesmo, revela
36
uma percepção desenvolvimentista do sujeito, uma vez que pressupõe um
trabalho direcionado ao aprimoramento de habilidades específicas anterior à
introdução dos símbolos.
Soro-Camats (2003) tece críticas acerca da espera em introduzir a
CSA; tanto a espera atrelada ao fracasso na intervenção dirigida à linguagem
oral, bem como aquela decorrente dos procedimentos dirigidos ao ensino de
determinados pré-requisitos ou de condutas prévias de preparação para a
aprendizagem, que acabam por insistir nas dificuldades e retardar o uso
funcional da CSA.
Na verdade, não se trata de desenvolver os pré-requisitos necessários
para a introdução de um sistema de CSA, mas de absorver todos os recursos
já utilizados pelo sujeito em suas interações e ao mesmo tempo propor novas
opções que venham a substituir ou complementar a ausência da oralidade,
ampliando suas possibilidades lingüísticas e comunicativas.
Como um sujeito em “formação”, isto é, que está em constituição
na/pela linguagem, podemos afirmar que suas habilidades e suas
potencialidades fazem parte do trabalho que está sendo desenvolvido sem
que para isso tenham que ser tomadas como preparatórias para a introdução
da CSA, ou seja, essas funções emergem implicadas neste modelo de
intervenção.
Ainda citando Soro-Camats (2003), a autora, quando se refere ao
papel da introdução da CSA nos procedimentos de intervenção, analisa que
estes devem favorecer o desenvolvimento do sujeito e o máximo de
compensações possíveis, de modo a propiciar “toda a ajuda necessária para
que a comunicação seja possível, e [...] saber retirá-la a tempo quando isso
for factível” (op.cit., p.87).
Ao compartilhar semelhante pensamento, Bellacasa (2003:XI) afirma
que o desenvolvimento de uma forma de comunicação que seja eficaz inclui
“a flexibilidade e a capacidade de combinação escolhida de crescer com o
usuário, de acompanhá-lo e adaptar-se à evolução de suas necessidades ou
de retirar-se e dar lugar a outras modalidades”.
Entendemos a CSA como recurso especial, nos termos de Vigotski
(1997), que permite o acesso à linguagem, funcionando como mediadora
37
neste processo
12
. Consiste, portanto, em instrumento e não um meio ou
finalidade em si, podendo ou não ser descartada em função das habilidades
do sujeito que a utiliza.
Não podemos confundir a CSA com a própria linguagem. Ela é uma
possibilidade para alcançar um “caminho alternativo”. Segundo Vigotski
(1997), através da compensação é possível promover as potencialidades e
viabilizar a inclusão social do sujeito com deficiência.
As teorias que acreditam na previsibilidade do sujeito e seu
comportamento e, portanto, antecipam comportamentos e situações, acabam
por ressaltar o controle do ambiente e da atividade como maneiras de
garantir a obtenção dos resultados previstos.
Observamos que tal crença despoja a CSA de qualquer possibilidade
de ir além do fenômeno (visível) com o sujeito que se constitui na e pela
linguagem, ficando o mesmo aprisionado à sua condição patológica.
Não se trata aqui de tornar relativa ou ignorar ingenuamente a
instância motora e sua importância para o desenvolvimento do sujeito, mas
sinalizamos que a preocupação pontual com elaboração de manuais e
protocolos de aplicação incorre no risco de olvidar o papel da linguagem na
CSA, ao priorizar a técnica, os requisitos ou as habilidades comunicativas,
motoras e sensoriais, isto é, focalizando o olhar somente na dimensão
fisiológica do sujeito.
Também não pretendemos desconsiderar a relevância das pesquisas
dirigidas a estes aspectos, especialmente no campo das inovações
tecnológicas, mas constatamos e questionamos o fato de as orientações
para intervenção muitas vezes permanecerem limitadas a um
encaminhamento técnico que visa a “compensação” do déficit motor em
detrimento – leia-se, esquecimento – da linguagem.
Segundo Nunes (2002:40), a maior parte da literatura sobre
intervenção em CSA tem como foco “o ensino da utilização de sinais gráficos
e manuais em enunciados curtos e simples para atender a funções
instrumentais, como solicitar objetos, ajuda e repetição de eventos”.
12
Retomaremos esta questão no próximo capítulo.
38
Defendemos que assim como não se “instrui”, também não se
“ensinam” símbolos ao sujeito que vai utilizar a CSA, porque a linguagem tem
características dinâmicas e se constitui a partir do seu funcionamento. Por
outro lado, não invalidamos as iniciativas que se valem da “didática” como
forma de complementar as ações educativas, desde que não se tome ensino
por linguagem
13
. É importante considerar as especificidades de cada
contexto onde ocorre a aplicação da CSA, bem como a experiência do sujeito
na própria linguagem.
É sabido que, mesmo sujeitos ditos “normais”, embora utilizem
preferencialmente a fala em suas interações dialógicas, também fazem uso
de outros recursos em determinados contextos situacionais. Assim, pessoas
com graves comprometimentos, como na paralisia cerebral, também podem
usar um ou mais recursos de CSA simultaneamente. Esta variedade está
estreitamente relacionada às características e necessidades muito
diversificadas dos sujeitos usuários de CSA.
De acordo com Rosell & Basil (2003), os sistemas de símbolos são
classificados em duas grandes categorias:
Sistemas sem auxílio:
Gestos de uso comum (sociais)
gestos idiossincrásicos (combinados a dois) / códigos gesturais (dos
aviadores, p. ex)
sinais de palavras chaves (Makaton
14
, comunicação total, comunicação
bimodal)
língua de sinais (LIBRAS) ou linguagem sinalizada (português sinalizado)
comunicação com estrutura lingüística complexa
13
Agradecemos a contribuição da Profa. Dra. Lúcia Reily durante o exame de qualificação.
14
Criado por Margareth Walter, fonoaudióloga da Grã-Bretanha.
39
Sistemas com auxílio:
Sinais tangíveis (objetos, miniaturas, recortes em relevo pregados em papel)
imagens (desenhos, fotografias)
sistemas pictográficos (PCS, PIC)
sistemas logográficos (Bliss, Rebus)
escrita ortográfica
Comunicação com estrutura lingüística complexa
Ao abordar este continuum de sistemas de símbolos com e sem
auxílio, alertamos sobre a ordem ou função da cadeia hierárquica e sua
linearidade em contrapartida à mobilidade que defendemos no presente
trabalho de que o sujeito transite entre estas modalidades de acordo com
suas necessidades, de maneira que um tipo de sistema não desempenhe
uma correlação de pré-requisito com o subseqüente.
Acreditamos que os sinais ou sistemas podem ser usados
concomitantemente (mais de um ao mesmo tempo) tanto em sua relação
vertical como horizontal, isto é, entre eles e dentro deles. Por exemplo: o uso
dos sinais manuais implica numa habilidade motora que permita a sua
execução (não é pré-requisito, é condição), por isso, crianças com melhores
condições motoras beneficiam-se deste tipo de sistema (o que não significa
que não possam preferir os sistemas com auxílio e se adaptar melhor a eles,
dentre outros aspectos, porque está relacionado à capacidade de
memorização, que é menos exigida nestes últimos
15
).
No caso de uma criança que utilize um tipo de sistema de sinais
manuais, apesar de apresentar alguma deficiência motora, à medida que vai
ampliando seu repertório (vocabulário/exigências lingüísticas) e os elementos
15
Capovilla et al. (1997) e Nunes (2002) tratam deste assunto com maiores detalhes.
40
de representação manual se tornam motoramente mais complexos, devido
às mudanças sutis de posicionamento da mão para execução de palavras
diferentes, o usuário da CSA pode passar a usá-lo combinado a um tipo de
sistema gráfico de comunicação.
Não é interessante insistir no desenvolvimento de um sistema de
comunicação determinado, mas sim no desenvolvimento de uma forma de
comunicação através do investimento dialógico e nas trocas discursivas por
mais de um recurso semiótico, caso seja proveitoso.
Existe, ainda, uma dicotomia a ser superada, uma vez que não
essa relação direta sinais manuais sujeitos sem lesão motora e sinais
gráficos sujeitos com lesão neuromotora grave, baseada exclusivamente
em critérios corporais.
Modelos de atuação que desconsideram as singularidades do sujeito
comumente são pautados em relações de poder, nas quais o
professor/terapeuta ocupa a posição de dominação e o aluno/paciente, de
submissão. Como define Pan (2006), o terapeuta submete o paciente a
padrões pré-estabelecidos, desconsiderando suas particularidades
cognitivas, sociais, lingüísticas e afetivas.
Percebemos esta tendência implícita nos estudos sobre CSA que
alegam “considerar” as particularidades do sujeito ao indicar um sistema
mais transparente para sujeitos com deficiência mental ou autismo, por
exemplo, e sistemas mais complexos para sujeitos com cognição
preservada. Ou naqueles que preconizam a introdução do PCS em crianças,
para posteriormente ceder lugar à ortografia tradicional, na medida em que
vão sendo alfabetizadas, já que alguns autores apontam para o fato de que o
Bliss não deva ser indicado para crianças pequenas, dada a sua
complexidade.
Portanto, outra idéia que também perpassa o trabalho é de que este é
centrado no indivíduo (aqui, ele aparece destituído do social para depois
ser retomado no sentido de comunicação/sociabilização), que detém os
sentidos do que é dito, bem como a intencionalidade de todo querer dizer,
abstendo o Outro de suas possibilidades interpretativas e efeitos de sentido.
Como veremos adiante, o papel do Outrorelacional – funciona como
estruturante e não co-adjuvante do processo, a fim de não reduzir a
41
proposta da CSA a uma técnica simplesmente. Para tanto, é essencial
compreender e tomar como base a não-transparência do dizer, que é um dos
pontos que queremos marcar neste estudo.
também o fato de que muitas das propostas estão calcadas numa
forma artificial de lidar com a lingua(gem), baseadas geralmente em
metodologias de ensino que pressupõem etapas de desenvolvimento dos
sistemas, introdução de palavras e conceitos previamente estipulados, além
da seleção de vocabulário a ser apresentado em seqüências pré-
estabelecidas.
Como mencionado, na maioria das vezes, os sistemas são
propostos com a finalidade de comunicação, ou então, ensinados como
associação de símbolos/significados, o que reduz sua aplicação e gera
frustrações tanto para o sujeito com deficiência quanto para o clínico ou
educador.
O paradigma acerca da língua / linguagem visão estruturalista que
se revela com a transposição para as práticas desenvolvidas em CSA e
impõe a supremacia do código sobre a linguagem, como se fosse uma
relação determinada, a saber, “o domínio do código (gramática,
normatização) resulta em falar bem” acaba por fundar a equação CSA =
código.
Alguns autores classificam a CSA e o braile
16
, por exemplo, num
mesmo grupo de sistemas de acesso artificial à linguagem. A suposta
equivalência entre estes dois objetos de natureza diferente acaba por imputar
à CSA a condição de código, e sob esta ótica, uma visão distorcida e
estigmatizada sobre o seu uso potencial, especialmente com crianças em
fase de aquisição de linguagem.
Finalmente, temos as práticas explicitamente comportamentalistas,
baseadas no treino de comportamentos, ou “trocas de fichas/figuras”, a partir
dos quais, acredita-se, podem ser obtidos padrões de comunicação eficazes.
Estes exemplos ilustram e talvez respaldem a resistência dos
profissionais, especialmente fonoaudiólogos, em relação ao uso da CSA,
acrescidos à ilusão/crença de que venha a inibir a fala, embora diversos
16
O braile pode ser entendido como recurso que permite chegar à linguagem verdadeira, ou
seja, a linguagem escrita, ou como transcrição do alfabeto.
42
autores concluam que este risco não existe (ROSELL & BASIL, 2003; CHUN,
2003; PIRES e LIMONGI, 2002; FERNANDES, 1999; MOREIRA e CHUN,
1997).
Asseguramos, com o presente estudo, que o objetivo da indicação e
uso da CSA vai para além da questão estrutural da língua ou de
comportamentos aprendidos. A prioridade é proporcionar aquisição e
desenvolvimento da linguagem, numa perspectiva interacional e constitutiva.
De acordo com nossa concepção, a CSA pode representar um fator de
mediação e a própria intervenção, pautada nas perspectivas interacionistas,
favorecedora deste processo.
Recorremos a Pan (2006) para definir as práticas clínicas, espaços
institucionalizados, como lugares de mediação nos processos de
subjetivação. Vistas dessa maneira, não são meras mediadoras, apenas
recursos para o desenvolvimento das pessoas, mas operação constitutiva,
isto é, partícipe na produção da pessoa.
Entendemos a especificidade de cada área quando nos reportamos ao
trabalho desenvolvido no campo da paralisia cerebral, bem como a
multidisciplinaridade dos profissionais envolvidos nos processos
educacionais e de (re)habilitação que incluem o uso da CSA. Porém, pensar
o trabalho com CSA significa compreender que as práticas nesta área são
marcadas historicamente pela visão dicotômica do quantitativo sobre o
qualitativo, do corpo sobre a mente, da patologia sobre a normalidade, do
individual sobre o coletivo. Significa, também, “romper” com estes conceitos
tradicionalmente empregados buscando novos caminhos que enfatizem e
discutam o papel da linguagem.
Acreditamos que esta questão está diretamente ligada a todo
profissional que se dedique não à atuação clínica, como também
educacional, porque envolve o sujeito em suas relações dialógicas e
interconstitutivas, mesmo que sejam diferentes seus objetos de estudo e
intervenção.
43
CAPÍTULO 3
______________________________________________________________
COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA,
LINGUAGEM E SUBJETIVIDADE
44
CSA, LINGUAGEM E SUBJETIVIDADE
Neste estudo, estaremos nos contrapondo às visões de sujeito que
remetem à noção de linguagem enquanto produto da fala entendida aqui
como resultado do ato motor e à necessidade do aprimoramento de
habilidades como pré-requisitos para o desenvolvimento de um sistema de
CSA.
Orientamo-nos pelos estudos que consideram a linguagem um
processo dinâmico e inacabado, construído nas relações dialógicas e,
portanto, sociais. Entendemos a linguagem como atividade constitutiva do
sujeito através da qual o homem é capaz de significar o mundo e a si
mesmo. Buscamos em Vigotski (1997; 1998; 2000) e Bakhtin (1992; 2003) os
alicerces que fundamentam nossa concepção de sujeito da/na linguagem.
Pretendemos, neste capítulo, despertar reflexões e indagações acerca
das práticas clínico-terapêuticas que enfatizam a visão de sujeito a partir do
espectro orgânico e maturacional desconsiderando a importância
fundamental dos aspectos históricos e sócio-culturais na constituição deste
sujeito para além do fenótipo e que enxergam a linguagem exclusivamente
a partir da fala, insistindo na visão de CSA enquanto código.
Estabelecendo um paralelo com os estudos de Pan (2006) ligados à
alfabetização, deixamos de enxergar a CSA como uma técnica de aquisição
da função comunicativa centrada no aprimoramento de habilidades e de
competências cognitivas, mentais e individuais por parte da criança, dadas
a
priori
e desenvolvidas na interação. Passamos a uma concepção que remete
à aquisição de linguagem e à constituição do sujeito como práticas sociais e
culturalmente determinadas.
Ainda segundo a autora, “essa outra direção leva a romper com a
visão de linguagem que elege a língua como objeto em si para concebê-la na
dimensão da atividade humana, aproximando a linguagem da realidade
vivida” (op. cit.:81).
Logo, pensar sobre as práticas clínico-terapêuticas que circulam nas
esferas de atividades da linguagem e da CSA e sobre sua inter-relação
45
mostra significativa importância, uma vez que, por meio de reflexões teóricas,
baseadas em formulações consistentes, depreende-se uma atuação
consciente por parte do profissional.
Uma questão, portanto, bastante implicada no trabalho com a CSA, diz
respeito ao estatuto que é dado à linguagem nos procedimentos que
envolvem a (re)habilitação.
3.1. As concepções de linguagem e sua relação com a CSA.
Vários discursos emergem nas práticas em linguagem e CSA, mas
nem sempre estes dizeres são harmônicos ou circulam pelas mesmas
esferas conceituais. Diante da pluralidade de posicionamentos teóricos e
metodológicos, perguntamos: como tem sido analisado o discurso produzido
no âmbito terapêutico sobre o processo de construção da linguagem e da
subjetividade na criança que utiliza a CSA?
De acordo com a vertente teórica que adotamos neste estudo,
pautada em Vigotski (1998; 2000) e Bakhtin (1992; 2003), concebemos o
sujeito como um ser histórico e social, cuja linguagem assume um papel
crucial perante o desenvolvimento humano, enquanto mediadora e
constitutiva do sujeito.
Ambos os autores postulam que o ser humano é constituído histórica e
socialmente na/pela linguagem, atribuindo ao outro papel imprescindível no
processo de significação e ressignificação das ações da criança que resultam
na construção de sentidos e da subjetividade.
Bakhtin propõe que a enunciação está indissoluvelmente ligada às
condições de comunicação, que por sua vez estão sempre ligadas às
estruturas sociais. Assim, nas relações que se estabelecem entre o eu e o
outro, instauram-se os processos discursivos pelos sujeitos e por seus
próprios discursos, histórica e dialeticamente.
Bakhtin parte do princípio de que o objeto das ciências humanas é o
texto, ou melhor, o homem enquanto produtor de textos, que “se constrói
enquanto objeto de estudos nos ou por meio dos textos”. Sua concepção de
46
linguagem é marcada pelo princípio do dialogismo, no qual há o diálogo entre
interlocutores e o diálogo com outros textos (entre enunciados).
Para ele, a linguagem do sujeito existe no diálogo, na interação com o
outro, sendo que um texto não existe fora das relações sociais. Cabe ainda
ao texto o papel de significar, ou seja, a atribuição do sentido do texto e da
significação das palavras é construída na produção e na interpretação dos
textos. O sentido é construído no texto, coletivamente.
Dessa noção de dialogismo, na qual diálogo é mais do que interação
face-a-face, mas todo tipo e situação de “vozes” que estejam em contato
(SMOLKA, GOES e PINO, 1998), irrompe o conceito de polifonia, ou seja, de
que um texto é sempre composto de “diversas vozes” que se entrecruzam,
complementam e polemizam em seu interior.
Aqui está também implicado o conceito de alteridade que, segundo
Barros (1997:30), “define o ser humano, pois o outro é imprescindível para
sua concepção: é impossível pensar no homem fora das relações que o
ligam com o outro” (grifo nosso). Assim, tal processo decorre das interações
verbais e culmina na apropriação da linguagem por parte do sujeito. É
quando ele se percebe distinto do outro.
Desse modo, a intersubjetividade precede a subjetividade à medida
que o sujeito se constitui nas inúmeras interações verbais ao longo de sua
vida. E, considerando-se que são dinâmicas e inacabadas, passam por um
processo de negociação permanente, em que a intencionalidade do locutor
ocupa espaço relevante, já que é preciso considerar o “querer dizer” do
outro.
Quanto ao “querer dizer”, este é socialmente construído e está na
dependência do interlocutor e sua ação interpretativa. Existe um “eu”
intencional, aquele que quer dizer algo, mas cujo dizer esbarra na atribuição
de sentidos pelo outro. Daí a relativa autonomia do dizer, uma vez que
sempre passa pela ação interpretativa do outro relacional.
No que se refere aos processos de subjetivação da criança “não
falante”
17
, entendemos que, se não possibilitamos a ela ocupar a posição de
alguém que tem algo a dizer se não construirmos com ela esta imagem
17
Nos termos de Vasconcellos (1999) ao referir-se a sujeitos impossibilitados de articular a
fala, do ponto de vista motor-oral.
47
ela não irá constituir-se como tal e possivelmente assumirá um papel passivo
nas interações dialógicas.
Bakhtin critica ainda a visão de língua restrita à noção de código. Para
ele, a língua é um idioma, ou seja, a língua é composta por códigos que
configuram idiomas diferentes e que são postos em funcionamento pela
linguagem. Portanto, a língua não pode ser apartada do sujeito e muito
menos analisada fora do contexto em que se a enunciação, isto é,
desvinculada das condições sociais e históricas de produção.
O código existe como sistema de referência e, ao mesmo tempo em
que o modifico, tenho que tê-lo como já existente. A língua é vista em
movimento e não como um código fixo e acabado. Logo, para o autor, a
linguagem (ou discurso) é a própria língua em funcionamento. Um bom
exemplo são as subversões ao código encontradas nos usos que se faz da
própria língua e relacionadas às metáforas, ironias e subentendidos.
Se, para Bakhtin, a interação verbal constitui a realidade fundamental
da língua, seja no diálogo consigo, com o outro, com o texto, em silêncio, na
escrita..., entendemos que, no tocante à CSA, é imperativo ultrapassar a
noção de código oriunda das concepções estruturalistas em linguagem para
chegar à língua. É essencial considerar o processo enunciativo que carrega
em si todo o contexto e formas de produção, tanto oral, gestual, mímica facial
ou corporal. Concluímos, portanto, que o problema não está no instrumento
a CSA – mas no uso que se faz dele.
Bakhtin não concorda também com a descrição de signo como relação
significado x significante proposta por Saussure (1972), mas sim como
resultado da interação. “Falar” envolve um texto carregado de ideologias e
cultura, cujo sentido é buscado tanto por quem fala como por aquele(s) que
escuta(m), dialética e dinamicamente.
Portanto, a unidade de análise passa a ser o enunciado portador de
sentidos. Para ele, não existe um significado, e sim um espaço de
significação polissêmico por natureza cujo sentido é dado pelo contexto
da enunciação, via atividade interpretativa.
Em relação à natureza semiótica da linguagem, o símbolo pode ser
tomado como signo, uma vez que está dentro da interação discursiva. O
signo contém o significado e o sinal, por ser mais estável, não permite a
48
pluralidade de sentidos, sendo absorvido pelo signo. Ou seja, ao passar pela
interpretação do sujeito, ganha um significado e deixa de ser sinal.
Depreendemos daí que o sinal não contém o significado em si.
Trouxemos esta discussão à tona por aplicar-se perfeitamente aos
pressupostos envolvidos na CSA e porque remete a concepções de
transparência e opacidade que permeiam a indicação e uso dos sistemas de
CSA nas práticas clínicas, educacionais e de pesquisa.
Alguns autores, como Rosell e Basil (2003) e Von Tetzchner e Jensen
(1997), preferem o uso de sinais de comunicação, sejam eles gráficos ou
manuais, justificando a abrangência e neutralidade do termo ao referir-se a
qualquer forma de expressão. Alertamos, porém, que o sinal por si não
conduz a lugar algum, é necessária a busca de atribuição de sentidos, senão
teríamos como resultado mera reprodução ou repetição.
Por outro lado, a maioria dos pesquisadores, bem como clínicos e
educadores, optam por símbolos de comunicação. Para Vasconcellos (1999),
os símbolos não possuem um sentido único e fixo e a CSA não consiste em
sistemas
18
, uma vez que estes só funcionam movimentados pela estrutura da
língua. A autora conclui que sistemas de CSA não se caracterizam como
língua.
Panhan (2001b) pontua que sinal gráfico, manual e tátil reporta ao
aspecto físico e não simbólico da representação.
Wolff (2001) argumenta que os símbolos não são ensinados e sim
significados nas situações vivenciadas. Não literalidade entre as
interpretações e seus efeitos, dadas pela opacidade da língua. Os símbolos
ganham significados dentro de um domínio discursivo.
Levando em conta tais considerações, optamos por manter o uso do
termo símbolo, uma vez que este já é consagrado na área, porém assumindo
sua proximidade com o conceito de signo, conforme apresentamos acima.
Constatamos que a transparência e a opacidade do dizer não estão
centradas nos símbolos, porém na linguagem. Muitas práticas comumente
18
Um sistema deve conter o uso integrado de símbolos, recursos, estratégias e técnicas em
CSA.
49
difundidas em CSA, que se norteiam pelo grau de iconicidade
19
representados nos símbolos, deixam-se levar pela falsa idéia de que estão
contidos no reconhecimento ou adivinhação/dedução destas representações
os elementos necessários para o domínio da comunicação através da CSA.
Tal percepção retrata, na verdade, uma forma de trabalho que se fixa
na função comunicativa e nos modelos estruturalistas da língua, descartando
a primazia da linguagem no que tange aos processos de desenvolvimento
humano. Lembramos que os símbolos não são portadores de significados,
que estes se constroem na interação discursiva.
Ao retomar a linguagem sob o prisma da transparência, incorremos
também no (re)deslocamento para as práticas clínicas tradicionais que
insistem na adequação das funções oromiofuncionais e vêm na fala,
enquanto produção motora-articulatória, como bem coloca Panhan (2001b), a
única possibilidade de interlocução do sujeito.
Novamente, Pan (2006) sintetiza os argumentos consoantes ao nosso
pensar:
A própria natureza da linguagem também passa por uma
redefinição. Não é mais veículo neutro e transparente de
representação da realidade, mas parte central de sua própria
definição, portanto, constituição. Não possui natureza fixa, estável
e centrada num significado externo, ao qual corresponde de forma
unívoca e, sim, movimento, fluxo cambiante e indefinido em
relação aos significados que precedem, e aos quais está atrelada
de forma inequívoca (p. 84).
Para compreender a fala de outrem, não basta entender as suas
palavras, temos que compreender o seu pensamento. Mas nem mesmo isto
é suficiente também é preciso que conheçamos a sua motivação
(BAKHTIN, 1992).
Vigotski, por sua vez, privilegia o desenvolvimento humano a partir da
mediação semiótica que acontece nas relações sociais. Para ele, a
aprendizagem leva ao desenvolvimento, que ocorre a partir da motivação
que promove maior interação.
19
Medida que visa avaliar a facilidade na percepção da relação do símbolo com seu
significado (NUNES, 2002).
50
Oliveira (1992), ao estudar os processos da afetividade implicados
nesta teoria, coloca que tanto a constituição da subjetividade como a
construção do significado, intermediados pela linguagem, passam por
aspectos afetivos que envolvem a motivação pessoal, as relações
interpessoais e a construção de sujeitos absolutamente únicos, em trajetórias
e experiências pessoais singulares em relação ao mundo e às outras
pessoas. A linguagem, polissêmica, agrega o sentido da palavra ao seu
significado no contexto de uso da língua e aos motivos afetivos e pessoais
dos interlocutores.
Os signos constituem os mediadores das relações entre os homens e
a palavra é o signo por excelência. No entanto, a relação entre
sentido/significado não é unívoca e transparente. De acordo com Padilha
(2000)
(...) para ele [Bakhtin], uma palavra sem significado é um som
vazio. No entanto, o significado não é considerado algo pronto,
acabado, imutável, mas, pelo contrário [...] transforma-se, altera-
se, também nas relações concretas de vida social (p.203).
É possível perceber a proximidade que Vigotski estabelece com
Bakhtin, embora partam de lugares diferentes para desenvolver suas idéias.
Na matriz histórico-cultural, a linguagem assume papel de destaque
como organizadora do pensamento. Vigotski acredita que as funções
cognitivas superiores emergem da relação entre fala (instrumento) e
inteligência prática (signo).
Através de instrumentos (ferramentas) psicológicos, o homem atua
sobre si e sobre os outros, transformando operações elementares em
funções psicológicas superiores, por um mecanismo de internalização.
No início do desenvolvimento, a criança está mais submetida ao
próprio comportamento e, conforme fala enquanto age, vai ganhando maior
auto-suficiência lingüística. Nesta fase, quanto maior a complexidade da
ação exigida pela situação, maior é a importância da fala, que assume um
papel de auto-regulação da atividade – é a chamada fala egocêntrica.
Nesta perspectiva, a dinâmica entre fala e ação altera-se no decorrer
do desenvolvimento. Primeiramente, a fala acompanha a ação, é a fala
51
social. Num segundo momento, ela começa a se deslocar para o início da
ação, terminando por precedê-la é quando podemos observar a fala
egocêntrica. Finalmente, a fala determina e domina a ação, adquirindo
função planejadora, além da existente de refletir o mundo exterior, é a fala
internalizada (PALANGANA, 2001). A fala egocêntrica consiste, portanto,
num estágio transitório da fala social para a fala interior.
Adotando o materialismo dialético como pressuposto, a linguagem
aparece como produto da atividade prática conjunta do homem. Pensando na
experiência sócio-cultural do homem, a construção do real parte do social e,
gradativamente, vai sendo internalizada, tornando-se individual.
A subjetividade é, então, um fenômeno de origem sócio-histórica;
assim como para Bakhtin, ela advém de um processo externo
(interpsicológico) para transformar-se numa aquisição interior
(intrapsicológico).
3.2. CSA e o conceito de mediação
Ao propor a discussão acerca do conceito de mediação na CSA, é
necessário que nos reportemos, ainda que sumariamente, a alguns
elementos essenciais que configuram a chave para a compreensão do
desenvolvimento dos processos humanos a partir da ótica histórico-cultural.
Neste sentido, Vigotski apresenta como pontos centrais de sua teoria o
conceito de mediação semiótica e a noção de Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP).
A mediação semiótica, segundo Pino (2000:38), permite explicar
questões fundamentais como “os processos de internalização e objetivação,
as relações entre pensamento e linguagem e a interação entre sujeito e
objeto do conhecimento” (grifos do autor).
O autor (op.cit, p.38) define mediação, em sentido abrangente, como
“toda a intervenção de um terceiro ‘elemento’ que possibilite a interação entre
os ‘termos’ de uma relação” e assume como referência a premissa de que as
funções psíquicas humanas têm sua origem nos processos sociais ao
52
salientar que a mediação do outro é condição para o desenvolvimento
humano.
Assim, o ser humano, para e por viver em sociedade, cria mecanismos
mediadores instrumentos e sistemas de signos – cujo uso lhe permite
operar sobre o mundo e as pessoas, transformando o meio físico-social
circundante, ao mesmo tempo em que, dialeticamente, modifica a si mesmo.
Freitas (2001) esclarece que a principal diferença entre signo e
instrumento consiste na maneira como cada um orienta o comportamento
humano:
A função do instrumento é servir como condutor da influência
humana sobre o objeto da atividade, orientado externamente, ele
permite levar a mudanças nos objetos. o signo não modifica em
nada o objeto da operação psicológica. Constitui um meio de
atividade interna dirigido para o controle do próprio indivíduo.
Neste caso, o signo é orientado internamente ou, considerando-se
seu papel mais amplamente, está orientado para sujeitos e não
para objetos (p.35).
A mediação semiótica tem como instância de ação a linguagem, ou
seja, sistema sígnico criado pelo homem para organizar sua vida na
sociedade. Vigotski (2000) coloca que a linguagem humana surgiu da
necessidade de comunicação no processo de trabalho, constituindo-se um
meio de comunicação social, de enunciação e de compreensão.
A comunicação não está direcionada simplesmente para a satisfação
das necessidades básicas e imediatas ou para a transmissão de idéias,
sentimentos... Ela tem um caráter social e é orientada para esta finalidade,
ou seja, aproximar as pessoas e acionar a vida em sociedade, suscitando a
interatividade humana.
Assim, signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e
acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas, de maneira
que o caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de
outra pessoa (VIGOTSKI, 1998).
O papel da linguagem, portanto, vai além de sua função comunicativa.
Ela é estruturante do sujeito e, conforme anuncia Pino (2000:42), é através
dela que “a criança se incorpora progressivamente à comunidade humana,
53
internalizando sua cultura e tornando-se um indivíduo cultural, ou seja,
humanizado” (grifos do autor).
Podemos considerar a importância da mediação para o
desenvolvimento humano ao relacioná-la ao conceito de
Zona de
Desenvolvimento Proximal, proposto por Vigotski (1998; 2000).
Ao abordar este tema, reconhecemos, ainda, a inegável contribuição
de Vigotski para a compreensão da relação entre desenvolvimento e
aprendizado, ao propor que este precede aquele, embora coexistam numa
relação recíproca mútua.
Para entender o que vem a ser a ZDP
20
, Vigotski (1998) determina a
existência de dois níveis de desenvolvimento. O nível de desenvolvimento
real diz respeito às funções mentais da criança que se estabeleceram como
resultado de certos ciclos de desenvolvimento completados, ou seja,
corresponde às tarefas que a criança é capaz de realizar de maneira
independente.
Importante mencionar, aqui, o questionamento de Vigotski sobre o uso
de baterias de testes e à forma como são aplicados, desconsiderando a
mediação do outro. Tradicionalmente, este tipo de intervenção circunscreve-
se a um indicativo do desenvolvimento da criança em termos de capacidades
já consolidadas.
Em contrapartida, o nível de desenvolvimento potencial é determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes, em outras palavras, está
relacionado às tarefas que a criança é capaz de realizar com a ajuda do
outro mais experiente. A esfera clínica pode, por exemplo, ser considerada
uma instância privilegiada, cabendo ao terapeuta o papel de mediador na
construção do conhecimento.
A Zona de Desenvolvimento Proximal consiste na distância entre os
níveis de desenvolvimento real e potencial, de maneira que ela define
aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo
de maturação, oferecendo uma visão prospectiva do desenvolvimento, a
partir da solução de problemas em atividades partilhadas.
20
Sigla usada para designar Zona de Desenvolvimento Proximal.
54
Chun (2003) analisa as possibilidades oferecidas pelo uso da CSA
como ação mediada ao processo de aquisição e desenvolvimento de
linguagem de uma criança em acompanhamento clínico, colocando que o
sujeito em questão não utiliza o sistema de CSA que lhe é proposto como
meio de comunicação e sim como instrumento de mediação, o que lhe
permite desenvolver linguagem.
A autora (op. cit., p.57) afirma que “a CSA mostra-se, assim, como
importante ferramenta assentada nos conceitos de zona proximal e de ação
mediada”.
Percebemos que os conceitos de mediação e ZDP não justificam e
valorizam os espaços de intervenção clínica e pedagógica, como eles estão
diretamente implicados com os processos de aprendizagem. Sabemos que o
aprendizado não decorre de uma relação direta com o meio ambiente, mas
desse contato mediado pelo outro, através da linguagem, e pela motivação,
presente nas instâncias significativas culturalmente, que culminam nos
avanços e na superação das dificuldades.
3.3. CSA e o conceito de compensação
Vigotski também traz grandes contribuições para a pesquisa e a
atuação no campo das deficiências, cujos textos estão compilados em sua
obra intitulada Fundamentos de Defectologia (VIGOTSKI, 1997).
A visão qualitativa que perpassa seus escritos, sem dúvida alguma,
imprimiu modificações na maneira como eram vistos os sujeitos com algum
tipo de comprometimento físico, sensorial ou mental. Vigotski alerta para a
necessidade de pensar o sujeito com deficiência a partir de um ângulo
producente, ou seja, ao enfatizar suas habilidades, valoriza os aspectos
positivos do desenvolvimento, desviando o olhar predominantemente
negativista, centrado nas incapacidades (negação das capacidades)
derivadas da deficiência.
Para ele, não é a deficiência que determina o desenvolvimento, mas
as exigências sociais a que está submetido o sujeito em relação ao seu meio
circundante. Assim, o que determina o sujeito não depende de sua
55
constituição biológica, mas das implicações sócio-históricas e culturais e da
inter-relação entre estas esferas. Como aponta Góes (2000a), o psicológico
pode ser compreendido na intersecção das dimensões do social e do
individual.
Logo, o foco até então centrado no sujeito e no que ele precisa
modificar em si para integrar-se à sociedade, cede espaço para outro olhar.
Este é dirigido à coletividade e ao que ela precisa realizar, em termos de
transformações acima de tudo culturais, para adaptar-se ao sujeito com
deficiência.
Vigotski afirma que a criança com algum tipo de comprometimento não
é necessariamente uma criança menos desenvolvida que seus pares ditos
normais, ela apenas se desenvolve de outro modo. Neste sentido, são as
mesmas leis gerais que regem o desenvolvimento de todas as crianças, com
deficiência ou não.
Segundo Góes (2002:99), Vigotski “ressalta, entretanto, que
especificidades na organização sóciopsicológica da criança com deficiência e
que seu desenvolvimento requer caminhos alternativos e recursos especiais
(grifos nossos).
Dito de outra forma, Vigotski considera que os caminhos para o
desenvolvimento da criança com deficiência são peculiares e, por isso,
distintos (com meios e processos diferentes) daqueles das pessoas normais,
mas aponta que as leis gerais do desenvolvimento prevalecem, tornando
evidente, então, a influência do social neste processo.
Assim, todo sujeito é singular e guarda diversidades que precisam ser
respeitadas e analisadas em relação às variações individuais de ritmo e
estilos de desenvolvimento ao propor algum tipo de intervenção clínica ou
pedagógica, cujo intuito é direcionado a uma finalidade social.
Neste contexto, acrescentamos o conceito de compensação,
defendido por Vigotski, através do qual é possível ao sujeito com algum tipo
de comprometimento ou inabilidade adaptar-se a uma situação utilizando
outros recursos que lhe são eficientes em lugar dos que estão prejudicados
do ponto de vista do desenvolvimento global.
A compensação é orientada socialmente assim como a constituição do
sujeito é histórica e culturalmente determinada. Ele frisa este fato ao pontuar
56
que o sujeito não percebe diretamente sua deficiência e sim as dificuldades
que dela derivam. Assim, como mencionamos anteriormente, o que
determina a condição do sujeito não é a limitação orgânica em si, mas suas
conseqüências sociais e de realização psicossocial e; conseqüentemente, os
mecanismos compensatórios também não fluem livremente, mas são
instigados pela causa social.
Além da relação social, a compensação é impulsionada também pelo
aspecto semiótico. Como aponta Góes (2000a:104), “as possibilidades
compensatórias envolvem a linguagem, a palavra e outros signos, que
permitem à criança interagir, aprender, orientar-se, significar o mundo,
constituindo, assim, o funcionamento superior”. É, portanto, no/pelo
investimento no sujeito que ocorre a superação das dificuldades orgânicas.
Vigotski (1997:14) afirma que “todo defeito cria os estímulos para
elaborar uma compensação”, todavia, as ações compensatórias são
direcionadas a superar as dificuldades que o defeito cria e não a deficiência
diretamente (o que na maioria das vezes é impossível). Por isso, todo estudo
dinâmico – procedimento que inclui os aspectos de avaliação e intervenção
tem que incluir os processos compensatórios, quer dizer, substitutivos e
niveladores no desenvolvimento e na conduta da criança.
Conforme conclui Nunes (2002:30),
(...) na compreensão do desenvolvimento da criança com distúrbios
de fala e ou comunicação e nas propostas de intervenção, o
conhecimento das tendências universais deve ser integrado ao
conhecimento dos estilos individuais, das variações culturais e das
formas alternativas que assume a linguagem humana (p. 30).
Entendemos com isso que, ao lidar com a criança, não como focar
a deficiência em si ou relacionar as inabilidades em uma lista, procedendo a
um inventário de incapacidades, como preconizam alguns testes
tradicionalmente utilizados na área de linguagem. É fundamental observar
como a criança desempenha suas funções apesar da deficiência e a partir
desta ótica propor situações concretas que venham ao encontro de suas
possibilidades e aspirações.
É justamente neste ponto que distinguimos a subjetividade permeando
algumas propostas clínicas atuais que consideram as peculiaridades do
57
sujeito – advindas da tensão entre o desejo e a condição orgânica que levam
à compensação – as bases para suas práticas.
58
CAPÍTULO 4
______________________________________________________________
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
59
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Conforme afirmamos anteriormente, este estudo toma como base para
reflexão e compreensão dos processos envolvidos na linguagem a matriz
histórico-cultural e a perspectiva enunciativo-discursiva buscando
proporcionar o redimensionamento do “pensar” e do “fazer” implicado na
prática profissional envolvendo CSA.
Freitas (2002) assinala que a pesquisa qualitativa de orientação sócio-
histórica enfatiza a compreensão dos fenômenos a partir de seu contexto
histórico no qual o particular é considerado uma instância do social.
As premissas vigotskianas norteadoras deste estudo permitem
entender o homem, em sua totalidade, do ponto de vista biológico junto
com o cultural em interação com sua inserção no grupo social humano,
mediada pelos processos simbólicos, isto é, a linguagem.
Envolvido na própria pesquisa, o investigador é integrante do
processo, do qual participa como mediador, “provocando alterações de
comportamento que possibilitam a compreensão de seu desenvolvimento”
(FREITAS, 2002, p.25). Sua ação, despojada de neutralidade, bem como
seus efeitos constituem elementos de análise que, por seu caráter dialético e
dinâmico, possibilitam as novas aprendizagens e ressignificações.
Assumimos, portanto, um caráter dialógico em pesquisa, permeado
pelo conceito de alteridade presente em todo seu decorrer. Conforme aponta
Amorim (2001), as relações com o outro alteridade constituem um dos
eixos da produção do saber, que é em torno delas que se organiza em
grande parte a produção de conhecimentos.
Tomando como referência o fato de que o conhecimento do outro
pode ser construído e desconstruído no diálogo, concebemos que os sujeitos
da pesquisa criança e o pesquisador colocam-se tanto em condição de
intersubjetividade como de estranhamento inerente aos processos
investigativos.
60
Ao situar o sujeito no lugar de objeto de estudo
21
, a mesma autora
pontua que uma relação de alteridade fundamental emerge entre o
pesquisador e o sujeito a ser conhecido, sendo pautada na diferença de lugar
na construção do saber.
Adotando o conceito bakhtiniano de lugar exotópico, o pesquisador
confere ao sujeito um outro sentido pelo desdobramento de olhares a partir
de um lugar exterior, permitindo que se veja do sujeito algo que ele próprio
dificilmente pode ver.
Importante acrescentar que a compreensão que se tem do sujeito não
é única e tampouco acabada. Não aqui lugar para a transparência tanto
do discurso do outro quanto do próprio discurso da pesquisa. O texto a ser
redigido é composto de múltiplas vozes, quer dizer, de uma “verdadeira
polifonia que o pesquisador deve transmitir ao mesmo tempo em que dela
participa” (AMORIM, 2001, p.19).
Logo, adotamos as diretrizes da análise microgenética como
abordagem metodológica, uma vez que permite a construção dos dados a
partir de detalhes e do recorte de episódios interativos extraídos de um
corpus maior”. Tal procedimento favorece, conforme apontado por Góes
(2000b), o exame das minúcias ao longo de um processo interativo-
discursivo cujos dados não são dados a priori buscando suas relações
com as condições macrossociais, do ponto de vista histórico-cultural.
Diante desta perspectiva, trazemos para discussão neste estudo
dados de segmentos interativo-discursivos entre uma criança com paralisia
cerebral e a pesquisadora, durante atividade clínica, com o objetivo de
investigar o papel da linguagem nas práticas clínicas que utilizam a CSA
junto a sujeitos com paralisia cerebral.
4.1. Caracterização do sujeito
21
Assim como Amorim (2002), entendemos aqui o sujeito objeto de estudo das ciências
humanas – enquanto produtor de discurso, pois é com seu discurso que lida o pesquisador.
61
Ana
22
, a menina aqui retratada, tinha dois anos e seis meses na época
do estudo. O laudo médico aponta para hipótese diagnóstica de
encefalopatia infantil não progressiva causando tetraparesia espástica, com
atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e crises epiléticas sintomáticas,
para cujo controle faz uso de medicação.
A literatura especializada descreve que na tetraparesia espástica
ocorre um aumento do tônus muscular, em que os quatro membros do corpo
estão comprometidos, ocasionando uma alteração da postura e do
movimento. Segundo Zoppa (1998), o aumento do tônus presente na
espasticidade dificulta a execução dos movimentos voluntários, seletivos e
variados, prejudicando o desempenho da criança em diversas situações
cotidianas.
As crianças com paralisia cerebral podem, ainda, apresentar vários
problemas associados, como epilepsia, déficit da visão e audição,
transtornos de atenção e hiperatividade, sensibilidade da pele alterada, baba
e outros.
Tanto os problemas motores quanto os problemas cognitivos e
perceptuais podem interferir no desenvolvimento da fala e da linguagem, em
maior ou menor grau de severidade, podendo existir isolados ou combinados.
Ana apresentava algumas destas características descritas acima
como baba, alteração da sensibilidade, déficits perceptuais e atraso na
aquisição e desenvolvimento da fala. Diante das dificuldades observadas no
desenvolvimento de Ana, a família buscou por atendimento especializado e,
em março de 2004, ela iniciou terapia fonoaudiológica, em uma clínica-escola
de Fonoaudiologia.
Ana mora com os pais e é a filha caçula, fruto de uma gestação
gemelar em que a irmã não sobreviveu. Tem uma irmã três anos mais velha.
A mãe é dona de casa e dedica-se quase que exclusivamente às filhas. O pai
é caminhoneiro e passa a maior parte do tempo viajando, de maneira que
permanece pouco tempo com a família. A renda familiar é baixa e a condição
sócio-econômica precária. Ana não freqüenta a escola e quando a mãe
precisa ausentar-se fica na casa dos avós maternos. Não tem muitas
22
Nome fictício.
62
oportunidades de lazer, ficando este praticamente restrito às visitas aos avós
e às brincadeiras com a mãe e a irmã. Segundo a mãe, Ana costuma ouvir
música e olhar a irmã brincando com bonecas.
Na ocasião da avaliação de linguagem, Ana apresentava vocalizações
ininteligíveis, caracterizando ausência de fala funcional; comportamento
baseado em reações de choro (desconforto, irritabilidade, recusa) e sorriso
(prazer); flexão de cabeça, interpretada pela mãe como “NÃO”; passividade
durante a interação e certa apatia.
Do ponto de vista neuromotor, apresentava controle cervical precário,
permanecendo a maior parte do tempo com a cabeça fletida. Eram comuns
reações motoras acompanhadas de espasticidade (aumento do tônus) nas
extremidades corporais e extensão de tronco e quadril, especialmente
quando desejava comunicar-se ou interagir com o objeto. Apresentava pouca
movimentação voluntária e coordenada. Fazia uso assistemático de um
colete de polipropileno, mas sempre em casa. Estava sendo providenciado
mobiliário adaptado, como cadeira e mesa e cadeira de rodas.
Por ocasião das observações, aguardava consulta com oftalmologista,
pois apresentava estrabismo convergente e havia suspeita de déficit visual.
Era acompanhada também nos serviços de fisioterapia, ortopedia e
neuropediatria.
Os episódios descritos a seguir foram registrados no período de 23 de
junho a 07 de julho de 2004, quando foi cogitada a indicação de um sistema
de Comunicação Suplementar e Alternativa.
4.2. Caracterização do estudo
Foram videogravadas situações de terapia fonoaudiológica realizadas
semanalmente e as fitas foram posteriormente transcritas. Participaram
destas situações Ana, a pesquisadora e, em algumas ocasiões, a mãe ou a
estagiária de Fonoaudiologia, que também atendia a criança.
Além das videogravações, usamos para a análise relatos da mãe
obtidos em entrevista ou em conversas posteriores aos atendimentos e
registros manuais da pesquisadora referentes aos encontros realizados.
63
Os episódios apresentados a seguir não estão dispostos na seqüência
cronológica dos acontecimentos, que privilegiamos a compreensão dos
temas a serem abordados de acordo com a aproximação conceitual de
alguns aspectos observados durante a seleção dos trechos para análise.
Optamos, assim, pelo agrupamento de episódios, formando unidades
temáticas. Conforme aponta Panhan (2001b:10), “os procedimentos se
entrelaçam, se repetem e se remetem uns aos outros”.
Estabelecemos assim as seguintes unidades para análise:
Buscando dizeres
A polissemia (e a polifonia) dos dizeres
Fazendo escolhas
O aprisionamento ao contexto imediato
A motivação gerando participação
Introduzindo tópicos
Buscando novos lugares discursivos
4.3. Apresentação dos episódios
Com o intuito de facilitar a leitura dos episódios, usamos, nas
transcrições, determinadas marcações específicas. As vocalizações da
criança estão transcritas entre colchetes [ ] e suas ações ou dos demais
participantes em itálico. Além disso, algumas explicações para o
entendimento da situação são apresentadas entre parênteses ( ).
64
BUSCANDO DIZERES
EPISÓDIO 01 (23/06/04)
Situação: participaram da sessão terapêutica Ana (A), sua mãe (M), a
pesquisadora (P) e a estagiária (J) que acompanha os atendimentos de Ana. É
início da sessão terapêutica e estão todas sentadas no colchonete, no centro da
sala de atendimento, com exceção de J., neste momento responsável pela
filmagem. Ana encontra-se posicionada no colo da pesquisadora
23
. Os turnos
descritos neste episódio ocorrem entre Ana e a pesquisadora.
T01 P. – (dirigindo-se à Ana). Vamos tirar a blusa pra gente poder brincar.
T02 A. – (Vocaliza) [ããã], com aumento global de tônus.
T03 P. – É pra você ficar mais à vontade (enquanto desabotoa a jaqueta).
T04 A. – (Vocaliza) [ããã], com a fisionomia contraída fazendo “cara feia.
24
T05 P. – Pára de desabotoar a jaqueta.
T06 A. – Silencia.
T07 P. – Não quer ficar (só) de camiseta?
T08 A. – (Volta a vocalizar) [ããã], abaixa a cabeça e chora.
T09 P. – Então tá. Pronto! Permanece com as mãos paradas sobre a jaqueta
parcialmente desabotoada
T10 A. – Chora.
T11 P. – A gente não tira.
T12 A. – Chorando, movimenta MMII e faz extensão de tronco.
T13 P. – Vamos abotoar de novo.
T14 A. – Pára de chorar, olhando para o botão da jaqueta.
T15 P. – Pronto! Termina de abotoar a jaqueta.
EPISÓDIO 02 (23/06/04)
23
Esclarecemos que esta foi uma solução encontrada para favorecer o posicionamento de
Ana diante das atividades propostas e dos recursos disponíveis no período em que foi
realizado o estudo. Como mencionado, Ana aguardava a confecção do mobiliário
apropriado.
24
A mãe relatara em entrevista anterior com a pesquisadora (26/05/04) que “cara feia” era
utilizada por Ana para expressar o “não”.
65
Situação: no decorrer do atendimento, após realizarem uma atividade com
música, a pesquisadora propõe uma pausa na mesma.
T16 P. Então eu vou desligar, agora, um pouquinho. Desliga o gravador e
coloca à sua esquerda.
T17 A. – Acompanha com o olhar.
T18 P. – A gente já escutou quatro... não! Três músicas, hein!
T19 A. – Eleva a cabeça e o tronco. Extensão de cabeça para olhar a
pesquisadora, fazendo movimentos mastigatórios.
T20 P. – É. Eu já vou ligar de novo. Daqui a pouco a gente liga.
T 21 A. – Suspira e flete o tronco e a cabeça.
Percebemos nestes episódios que a pesquisadora significa a ação do
outro e interpreta aquilo que Ana faz, orientada pelas reações da criança.
Ana, por sua vez, responde aparentemente aprovando a interpretação dada.
Para comentar os episódios descritos acima, destacamos Vigotski
(1998), lembrando sua colocação sobre a existência de uma lei geral do
desenvolvimento cultural, em que cada função no desenvolvimento da
criança aparece duas vezes, em dois planos, no social primeiro e depois no
psicológico; primeiro entre pessoas com uma característica interpsicológica,
depois no interior da criança, como característica intrapsicológica.
Ao exemplificar esta passagem através da emergência do apontar em
bebês (op.cit: 74), o autor reafirma o papel fundamental dos signos e da
mediação na construção da atividade psicológica, isto é, nos processos de
internalização.
Góes (2000a) analisa que os movimentos de alcançar dirigido ao
objeto inacessível, são interpretados pelo adulto e por meio das ações deste
o objeto é “alcançado” pela criança. Ou seja, os movimentos da criança
afetam a ação do outro e não o objeto diretamente e, ao serem significados
pelo outro, passam de movimento de agarrar a gesto de apontar. Assim, a
ação inicial transforma-se num sinal para o outro agir em relação ao objeto.
“E o gesto, em seu caráter comunicativo, é criado na interação. Desse modo,
66
a criança passa a ter controle de uma forma de sinal (ainda que rudimentar)
a partir das relações sociais”. (op. cit: 22).
Portanto, quando a criança passa a associar seu movimento à
situação objetiva como um todo é que ela, de fato, compreende este
movimento como gesto de apontar; pela percepção do efeito que sua ação
desencadeia na figura do outro.
Para Pino (2005), somente quando os primeiros atos naturais
adquirem significação para o Outro começa o nascimento cultural, isto é, a
passagem do biológico para o cultural. É depois, portanto, que estes atos
se tornam significativos para a criança.
Destes exemplos depreendemos que é na interação, na situação
objetiva partilhada entre duas ou mais pessoas, que o significado vai sendo
construído. Isso fica evidente quando a pesquisadora vai atribuindo sentido
às ações de Ana, numa relação dialética em que o sujeito e o outro vão
construindo significados.
Percebemos que Ana recorre ao choro e a vocalizações ininteligíveis
para expressar-se, além de movimentos corporais, recursos que ela tem
disponíveis em seu repertório de ações e de comunicação.
Pela atividade interpretativa possibilitamos que as formas
rudimentares de comunicação apresentada por Ana sejam significadas
dentro de um contexto e acreditamos que as mesmas assumam o status de
formas alternativas na medida em que o outro reconhece nelas e através
delas as possibilidades de inserção de Ana na linguagem.
Por tratar-se de uma interpretação que foge aos padrões
convencionais, isto é, usualmente (re)conhecida pelas pessoas, entendemos
que a princípio possa parecer difícil ou causar estranhamentos ao
interlocutor, mas é importante propiciar a Ana e seus parceiros de
comunicação um recurso outro cuja exigência não recaia exclusivamente
sobre a fala.
EPISÓDIO 03 (23/06/04)
67
Situação: a pesquisadora propõe uma atividade para Ana. Estão sentadas no
colchonete na companhia da mãe e da estagiária responsável pela filmagem. Os
turnos ocorrem entre Ana (A) e a pesquisadora (P).
T22 P. – Eu trouxe uma fita para escutar música. Quer ver?
T23 A. – Chora.
T24 P. – Vamos abrir aqui, ó! Traz o gravador para perto de Ana. Deixa eu te
mostrar.
T25 A. – Continua a chorar.
T26 P. – Você não quer ouvir música?
T27 A. – Chora e faz extensão de tronco e cabeça.
T28 P. Vem cá, Ana. Coloca o gravador no colchonete (e dirige-se a Ana).
Vamos tentar entender o que está ruim.
T29 A. – Cessa o choro.
T30 P. – Se você não quiser, não precisa chorar. Você fala “não” para mim. A
gente tem um combinado
25
.
T31 A. Faz vocalizações (enunciados ininteligíveis caracterizado por sons
vocálicos), permanecendo voltada para a pesquisadora.
T32 P. você falar “não” que eu entendo, viu? (posiciona Ana em pé, à
sua frente).
T33 A. – Chora e sorri ao mesmo tempo. (Vocaliza) [ã ã ã].
T34 P. – É... Você quer brincar?
T35 A. – Pára de chorar e continua sorrindo.
T36 P. – Tem um sorriso aí... Isso é um “sim”.
T37 A. – Sorri e chora.
T38 P. – Mas por que chora? Vamos descobrir do que você quer brincar?
Neste episódio observamos o movimento da pesquisadora para
conseguir entender Ana, bem como a necessidade de criar signos / sinais
que possam ser interpretados e significados pelos outros do grupo social.
Isto mostra a importância de decifrar os sinais significativos dos estados
25
O “não” seria representado por uma “cara-feia”.
68
internos do sujeito para que as funções biológicas ou elementares se
transformem em funções superiores ou culturais.
Na discussão dos episódios anteriores, ressaltamos a questão da
gestualidade permeando o desenvolvimento do ser humano. No entanto,
Vigotski (1998:33) afirma que “elas (as crianças) não só
agem na tentativa de
atingir seu objetivo, como também falam”. Assim, fala e ação fazem parte de
uma mesma função psicológica complexa, sendo que o uso de signos
possibilita que a inteligência prática e abstrata sejam desenvolvidas apesar
da limitação física. Porém, a que fala nos referimos? Somente a articulada?
“A fala é tão importante quanto a ação
69
segundo Vigotski (1998:35) “as operações práticas de quem pode falar
tornam-se menos impulsivas e espontâneas”, pois além de agir sobre o
ambiente, em nível interpessoal, a criança também passa a controlar o
próprio comportamento, em nível intrapessoal.
Acreditamos que a possibilidade de substituir a manipulação direta,
ainda que restrita, por um processo psicológico complexo ajudaria também
nas reações posturais apresentadas por Ana, minimizando a desorganização
motora e compensando por meio de funções superiores as dificuldades
motoras que apresenta a partir do momento que conduz a novas maneiras
de relacionar-se com as pessoas.
Nos turnos 30, 32 e 36 aparecem referências aos conceitos de “sim” e
“não” e, especificamente a um “combinado” entre Ana e a pesquisadora.
Esclarecemos que o “combinado” foi realizado durante a terapia, com a
participação da mãe e a partir de relato da mãe durante uma entrevista
anterior em que foram coletados dados sobre o cotidiano da criança e suas
formas de comunicação no ambiente familiar. O “não” seria representado
pela “cara-feia” e o “sim” pelo sorriso, com o assentimento de Ana e baseado
nas informações da mãe. Ressaltamos, portanto, que estas interpretações
vinham ocorrendo no ambiente doméstico e embora estas formas de
expressão tenham se mostrado assistemáticas, são aquelas valoradas pela
família.
Interrogamos, no entanto, a generalização deste “combinado”. Ana
parece recorrer ao choro com mais “eficácia”, agindo sobre o outro e
provocando efeitos de sentido também através dele. Em contrapartida, isto é
perfeitamente aceitável quando, em assunção com a teoria histórico-cultural,
compreendemos o desenvolvimento como uma espiral ascendente, marcada
por evoluções e involuções, nunca linear. Logo, é natural que Ana recorra ora
ao choro e ora a outras formas mais elaboradas de expressão.
Sobre a “generalização”, Vigotski (2000) coloca que todo conceito é
antes de tudo uma generalização, do qual a criança toma conhecimento,
inclusive do antes e do agora, quando é capaz de generalizar. A
generalização representa um nível mais avançado de abstração, pois a
palavra não se refere a um grupo isoladamente, mas a um grupo ou classe
de objetos.
70
A generalização está estreitamente relacionada à função comunicativa
da linguagem ao considerarmos que comunicação pressupõe
invariavelmente generalização e o desenvolvimento do significado da
palavra. Dito de outra forma, a generalização se torna possível se
desenvolvimento da comunicação. Consiste num movimento dialético.
Queremos elucidar este princípio através da exemplificação de
Vigotski (2000:13) que analisa a situação de alguém que deseja comunicar
que está com frio. É possível dar a entender através de variados
movimentos expressivos, mas a verdadeira compreensão e comunicação
irão ocorrer quando for possível ao sujeito generalizar e nomear o que está
vivenciando, ou seja, quando conseguir situar a sensação de frio
experimentada em uma determinada classe de estados conhecidos pelo seu
interlocutor.
Constatamos, assim, a importância de proporcionar a Ana, pela
mediação da CSA, formas de generalizar conceitos que possam ser
interpretáveis por seus interlocutores, que a comunicação sem signos é
tão impossível quanto sem significados. O próprio sorriso e choro
manifestados nos turnos 33 e 37 podem representar a falta de recursos
outros para viabilizar a expressão de Ana e seus estados internos, tornando
muitas vezes difícil sua compreensão num contexto amplo. Queremos frisar,
ainda, que a CSA não carrega em si os signos; estes são construídos na
interação via atividade interpretativa.
Finalmente desejamos mencionar as vocalizações registradas no turno
33 (e também presentes em outros momentos dialógicos), uma vez que
ganham sentido na medida em que surgem no cenário interativo-discursivo.
Percebemos que Ana utiliza entonações diversificadas com diferentes
conotações evidenciando que em algumas circunstâncias associa o
movimento à situação como um todo. Neste episódio, a entonação e a
intermitência da vocalização de Ana são claramente diversas de quando está
brava ou contrariada.
71
A POLISSEMIA (E A POLIFONIA) DOS DIZERES
EPISÓDIO 04 (23/06/04)
Situação: Participam deste episódio Ana (A), a pesquisadora (P) e a mãe
(M). Todas estão sentadas no colchonete. Ana está sentada no colo da
pesquisadora, de frente para a mãe. A estagiária filma o atendimento. Este episódio
ocorre na seqüência do episódio 03.
T01 P. – Eu vou te mostrar os brinquedos. Tem a fita de música e a boneca
pra brincar de casinha.
T02 A. Acompanha com o olhar os brinquedos (que são dispostos à sua
frente, a boneca à esquerda e a fita à direita).
T03 P. – O que você quer fazer? Conta pra mim.
T04 A. – Cabeça fletida.
T05 P. – Brincar de boneca ou escutar música? Aponta para os brinquedos.
T06 A. – Começa a chorar.
T07 P. – Não quer nenhum?
T08 A. – (Vocaliza) [ãn]. Mantém a cabeça fletida.
T09 P. – Ãhn...
T10 M. – Outro jeito dela dizer não, também, é abaixando a cabeça assim.
T11 A. Eleva a cabeça (girando a cabeça para a direita) e olha para a
pesquisadora (que está atrás de si).
T12 P. Então você não quer brincar nem com a boneca e nem escutar
música. Será que tem alguma coisa lá dentro da cesta que você quer?
T13 A. – (Vocaliza) [ããun] (resmungando). Flete a cabeça.
EPISÓDIO 05 (23/06/04)
Situação: ainda na mesma sessão de atendimento, porém um pouco mais
adiante, a pesquisadora conversa com Ana sobre uma atividade de música,
utilizando miniaturas, que tinham acabado de realizar em conjunto com a mãe e a
estagiária. Participam dos turnos dialógicos Ana (A) e a pesquisadora (P).
72
T14 P. Conta uma coisa para mim agora. Quem foi que escolheu o cavalo
para cantar?
Pega a miniatura.
T15 A. – Vocaliza, cabeça fletida.
T16 P. – Hein? Você lembra? (procura ajustar a postura de Ana).
T17 A. – Cabeça fletida, (vocaliza) [aãun], movimentando MMSS
26
.
T18 P. – Ah... Mas a gente já cantou bastante. Cinco vezes.
T19 A. – Vocaliza e movimenta MMSS.
T20 P. – Vamos conversar sobre o que a gente cantou.
T21 A. – Movimenta MMSS e (vocaliza) [aa].
T22 P. – Quem foi que escolheu o cavalo.
T23 A. – Olha para a mesinha e flete a cabeça.
T24 P. – Hum?
T25 A. Vocaliza (resmunga, demonstrando irritação) e repete o
comportamento motor de MMSS e extensão global. Faz a “cara feia”.
T26 P. – Tá. Então tá. Você não quer conversar disso, a gente não conversa.
T27 A. – Pára de vocalizar, diminui o tônus e flete a cabeça.
T28 P. – Que você quer fazer?
T29 A. – Tronco e cabeça bastante fletidos, (vocaliza) e movimenta MSE.
T30 P. – Eu não tô entendendo. Não estou enxergando. (está atrás de Ana).
T31 A. – Eleva a cabeça e o tronco.
T32 P. – Ãh?
T33 A. Gira a cabeça para a pesquisadora, mantendo os olhos fechados.
(Vocaliza) [um un].
T34 P. – Você quer ouvir mais uma música?
T35 A. – Abre os olhos e focaliza a pesquisadora.
T36 P. – É isso?
T37 A. – Flete a cabeça lentamente.
EPISÓDIO 06 (30/06/04)
Situação: A pesquisadora realiza manuseios orais, precedendo a
alimentação. Ana está posicionada no colo da pesquisadora que oferece apoio para
26
A sigla MMSS refere-se a membros superiores, MMII a membros inferiores, MSD a
membro superior direito e MSE a membro superior esquerdo.
73
a cabeça da criança, na região mentoniana e occipital, favorecendo o alinhamento
biomecânico. Participam dos turnos Ana (A) e a pesquisadora (P), enquanto a
estagiária filma o atendimento.
T38 P. Não acredito que essa braveza é porque a gente está mexendo no
rosto. A gente vai comer, não é?
T39 A. Esquiva-se ao manuseio, fazendo extensão global e aumento de
tônus. (Vocaliza) [u] [u].
T40 P. – Ei, que ruim! Que é isso tudo?
T41 A. – Abaixa a cabeça.
T42 P. – É porque a gente está mexendo no rosto? (tenta elevar a cabeça de
Ana).
T43 A. – Permanece com a cabeça abaixada.
T44 P. – Não acredito nisso! Levanta a cabeça Ana!
T45 A. – (Vocaliza) [au].
T46 P. – Ãh? Eleva a cabeça de Ana e prepara-se para o manuseio.
T47 A. Realiza extensão de tronco. (Vocaliza) [ã], olhando para a
pesquisadora.
T48 P. – Não quer que mexa?
T49 A. – Flete a cabeça lentamente.
EPISÓDIO 07 (30/06/04)
Situação: em seqüência ao episódio anterior, a pesquisadora (P) propõe à
Ana (A) comerem algo que a mãe havia mandado para atividade de alimentação a
ser realizada durante a terapia.
T50 A. – Cabeça fletida.
T51 P. – Tá um cheirinho tão bom. Eu senti logo que abri o bolo.
T52 A. – Permanece alinhada e eleva MSE.
T53 P. Você me um pedaço? Posso comer? Dirige a mão para o lado
esquerdo, ao chão (para alcançar o leite dentro da mochila).
T54 A. – Acompanha o movimento com o olhar.
74
T55 P. Olha o que a sua mãe mandou. Pega o leite e coloca sobre a
mesinha.
T56 A. – Olha para o leite.
T57 P. – O bolo e o leite. Enquanto aponta para cada um, respectivamente.
T58 A. Olha para a pesquisadora e flete a cabeça abruptamente. Repete o
movimento
.
T59 P. – Você quer comer, ah?
T60 A. – Permanece com a cabeça fletida.
T61 P. – E aí? Você vai querer comer?
T62 A. – (Vocaliza) [ãu].
T63 P. – iii... Agora eu não entendi sua resposta. Como é que a gente faz? A
gente tem que usar aquela combinação.
T64 A. – Olha para a pesquisadora.
T65 P. – Lembra?
T66 A. – Flete novamente a cabeça.
Nesta unidade temática, destacamos a busca dos dizeres,
marcadamente para o sim e o não, e as diversas maneiras utilizadas por
Ana, bem como as diferentes interpretações atribuídas a estes gestos pela
mãe e pela pesquisadora, apontando para a polissemia da língua (e polifonia
do discurso) na construção dos conceitos/signos.
Amorim (2002:13) caracteriza a diferença entre os conceitos de
polissemia e polifonia, assinalando que a primeira é da ordem da língua e
remete a um universo de possibilidade de significações. A polifonia, por outro
lado, é da ordem do discurso e revela-se, portanto, no acontecimento através
das vozes que se fazem ouvir num dado momento e num dado lugar,
gerando uma multiplicidade de sentidos.
Vigotski (2000) e Bakhtin (2003) argumentavam a favor do sentido em
75
Dessa maneira, o sorriso nem sempre será sim e a cara-feia nem
sempre será não, do mesmo modo que o próprio não nem sempre terá o
sentido de negação.
Neste contexto, a pesquisadora enquanto interlocutor diferenciado é
capaz de criar interpretações diferentes daquelas cristalizadas no ambiente
familiar, como ressalva Wolff (2001). Os gestos, olhares, vocalizações,
expressões faciais e corporais, a própria alteração de tônus muscular,
ganham sentido dentro de um contexto interativo singular.
Na busca de significação, observamos a importância, conforme aponta
Panhan (2001b), de ver dizeres no
sim e não além do sim e não. Para tanto,
presumimos a possibilidade de criar novos sentidos com o que se tem,
assumindo que algo para ser interpretado, embora tenhamos clareza de
que como ocorre nas interações mãe/crianças normais, nem todos os olhares
ou gestos são recortados e interpretados (FRAZÃO, 2004).
O sentido produz-se no acontecimento dialógico, isto é, entre posições
singulares que se confrontam e negociam a construção do texto num
determinado domínio discursivo particular. Por isso, a atribuição de sentido
não está aprisionada ao movimento em si, assim como os gestos, olhares,
vocalizações, expressões e símbolos da CSA, não são ensinados. Conforme
situa Wolff (2001), eles são partilhados mostrados e significados, em
diferentes situações discursivas, e passam pela interpretação do outro em
relação aos possíveis usos.
Portanto lidamos com as duas variáveis, da língua e do discurso, o
que significa que os dizeres aqui analisados são permeados por ambas as
instâncias. Nos episódios descritos, percebemos a multiplicidade de
movimentos ao representar o não, ao mesmo tempo em que presenciamos a
multiplicidade de sentidos para o movimento de flexionar a cabeça.
Apesar de ser mencionado pela mãe o fato da flexão de cabeça,
realizada por Ana, ser interpretada como não, observamos que a criança
também utiliza o mesmo gesto com outros significados discursivos. Nos
turnos 37 e 49, notamos que Ana realiza um movimento lento e preciso de
flexão de cabeça, interpretado pela pesquisadora como sim no contexto em
que se produz, marcando e provocando novos efeitos de sentido.
76
outras situações em que a cabeça também aparece fletida e
entendemos que o movimento pode estar tanto relacionado à recusa ou falta
de interesse, como também representar o controle cervical precário, em
termos neuromotores, como constatado no turno 29.
Apesar da incoordenação motora, pretendemos destacar que não é
este aspecto que determina a possibilidade (ou impossibilidade) da
interlocução, mas sim o envolvimento, o querer dizer.
Bakhtin (2003) define o querer dizer como vontade discursiva do
falante ou intenção discursiva, que se realiza na situação concreta (singular)
da comunicação. Para o autor, imaginamos o que o falante quer dizer. É
essa vontade verbalizada (como a entendemos) que determina a própria
escolha do objeto (em certas condições de comunicação discursiva, na
relação necessária com os enunciados antecedentes) e confere acabamento
ao enunciado, condição imprescindível para uma atitude responsiva do
interlocutor.
Nos turnos 11, 31, 37, 49 percebemos que a falta de controle motor
não consiste em impedimento para realização de determinados movimentos
volitivos, porém Ana permanece fixa nas formas expressivas mais
elementares, como a extensão corporal, o choro e o aumento de tônus.
Não objetivamos, no entanto, atrelar o desenvolvimento lingüístico a
um comportamento verbal. Quando a enunciação é reduzida a um
comportamento associativo, por exemplo, sim e não, perde-se a
especificidade do que é humano. Benveniste (1996) citado por Amorim
(2001) traz contribuições preciosas no que diz respeito ao desenvolvimento
da linguagem humana, marcando as distinções entre o que é próprio do
humano e o que pertence à esfera dos comportamentos aprendidos pelos
animais. Não há como moldar a fala, pois a linguagem é imprevisível.
Pretendemos unicamente exemplificar que a execução de gestos
convencionais e socialmente aceitos, como flexão de cabeça para o “sim”,
tornaria suas expressões motoras mais facilmente reconhecíveis, do ponto
de vista interpretativo, para seus pares.
De maneira semelhante, as vocalizações expressas nos turnos 08, 13,
17 e 45 parecem adquirir uma proximidade sonora com a produção
articulatória – e socialmente convencionada – para o “não”.
77
Ressaltamos também que, embora seja freqüente encontrarmos na
literatura especializada sobre CSA a alusão ao estabelecimento de um
código estável para os conceitos do sim e não como prerrogativa para o
trabalho a ser desenvolvido, lembramos que a língua é dinâmica e deve ser
compreendida nesta circunstância.
Entendemos que é necessário, conforme apontado por Góes (2000b),
estudar a relação dinâmico causal entre os fatores implicados no discurso,
uma vez que os enunciados não consistem entidades fixas e transparentes, o
que as diferencia dos processos baseados em relações de causa e efeito e
que, por isso, pressupõem posições inalteráveis.
Panhan (2001b) salienta que na maior parte das publicações em CSA,
a assunção de que no sistema estaria a propriedade de conter ou não a
arbitrariedade do dizer e o conceito da realidade tangível – é o que os
autores costumam denominar grau de iconicidade.
Lembremos que os símbolos não carregam consigo o significado nem
o poder de significar. Vasconcellos (1999) revela que os símbolos são
passíveis de interpretação.
Portanto, se na CSA, o conceito de transparência ou opacidade estiver
ligado ao código usado, serão desconsideradas as imprevisíveis articulações
do discurso e esquecido o funcionamento da linguagem, assim como o
sujeito que fala e é falado, além das infinitas possibilidades de atribuição de
sentidos.
Percebemos no turno 10 que a mãe de Ana também percebe estas
possibilidades ao colocar que a criança também expressa o não através do
movimento de flexionar a cabeça.
Pela polissemia que permeia a CSA cai a idéia de código, de
correspondência unívoca entre os caracteres, de relação estável e imutável.
Sobressai a noção de construção coletiva, própria de uma esfera social, e
por isso mesmo inacabável por definição.
Na cadeia de enunciação verbal, um dizer é sempre marcado por
outros dizeres anteriores. Bakhtin (2003:272) anuncia que “cada enunciado é
um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados”, em
que os dizeres são postos em movimento e significados. Por isso mesmo não
78
como prever o que vai ser dito. O efeito da intervenção do adulto na
construção dos enunciados da criança não é sempre uniforme e direto.
É o que nos revelam os turnos 33 a 37, nos quais Ana já tendo
marcado sua recusa em conversar sobre a atividade realizada, reafirma sua
posição no turno 33 através dos olhos deliberadamente fechados em direção
à interlocutora, o que provoca efeitos de sentido no discurso da
pesquisadora, que acede ao desejo de Ana (turno 34). Ela, por sua vez,
imediatamente abre os olhos (turno 35) e focaliza a interlocutora mostrando
que a rede de significações estava formada, para depois confirmar, no turno
37, o desejo de continuar a atividade com música.
Assim como as palavras articuladas os instrumentos e os signos
não-verbais fornecem ao aprendiz maneiras de tornar mais eficazes seus
esforços de adaptação e solução de problemas. A dimensão semiótica e a
plasticidade de funcionamento do sujeito, explicitadas por Vigotski (1997)
quando refere os mecanismos de compensação, permitem destacar, de
acordo com Góes (2002) as noções de caminhos alternativos e recursos
especiais para o desenvolvimento e a educação de crianças com deficiência.
Finalmente queremos acenar o fato de Ana perceber, mesmo que em
circunstâncias ainda isoladas, que o uso de símbolos – leia-se, “combinados”
convencionados pode ser um aliado dentro do processo interativo-
discursivo, o que não significa que seu uso seja estático.
É o que observamos no turno 25, quando Ana recorre à “cara feia”
(depois de resmungar, vocalizar e realizar extensões corporais), como forma
de manifestar sem margem a equívocos, a sua recusa ao que está sendo
proposto. Com isso, acaba provocando as restrições de sentido que deseja e
determina o curso do diálogo.
O mesmo ocorre no turno 58 quando Ana flete a cabeça abruptamente
e repete o movimento, sinalizando que deseja comer. O movimento é
interpretado pela pesquisadora como uma atitude de aquiescência à
situação, que pode ser confirmada no turno 60, como um possível sim.
79
FAZENDO ESCOLHAS
EPISÓDIO 08 (23/06/04)
Situação: Ana está posicionada no colo da pesquisadora. A mãe está
sentada em frente e ao centro uma “mesinha baixa” (caixa plástica funcionando
como mesa). Em cima da mesa estão alinhadas três miniaturas de animais,
afastadas umas das outras. Participam dos turnos discursivos Ana (A), a mãe (M), a
pesquisadora (P) e a estagiária (J).
T01 P. – E agora? A mamãe vai escolher um bicho.
T02 A. – Mantém o olhar direcionado para a mãe, postura alinhada.
T03 P. – Pode escolher qual você quiser (direcionando-se à mãe).
T04 A. – Olha para a mãe e para a mesinha ao centro.
T05 M. – Pega o cavalo e aproxima de Ana.
T06 A. – Acompanha com o olhar.
T07 P. – Então vamos lá!
T08 TODOS. – Seu Lobato tinha um sítio...
T09 A. – Permanece com a cabeça fletida. (Ao final da música) eleva o olhar,
estendendo a cabeça e mantém o tronco fletido.
T10 P. – Agora a J. vai escolher um bichinho.
T11 A. – Cabeça em flexão.
T12 P. Vamos perguntar pra ela! Qual você quer, J.? Eleva a cabeça de
Ana oferecendo apoio na fronte.
T13 J. – O pato.
T14 P. – Então vamos lá! Segura as mãos de Ana, batendo palmas.
T15 TODOS. – Seu Lobato tinha um sítio...
T16 A. – Cabeça fletida (ao final da música mantém o padrão flexor global).
T17 P. – E agora, quer escolher um bichinho, Ana?
T18 A. – Olha para as miniaturas na mesinha.
T19 P. – Quer escolher um? (a mãe aproxima as miniaturas).
T20 A. – Começa a chorar e movimenta-se em extensão.
T21 M. – Vai, Ana! Escolhe um.
80
T22 A. – Cessa o choro e olha para os brinquedos (procurando aproximar-se
das miniaturas), usa flexão de tronco e extensão de cabeça.
T23 P. – Vamos ver juntas qual você quer?
T24 A. (Vocaliza) [uuu] (semelhante a um choro). Eleva o MSE
desordenadamente em direção às miniaturas, olhando para o cavalo.
T25 P. – É o cavalo? Aponta para o brinquedo
T26 A. Movimenta o MSE, deslizando a mão pelo antebraço direito da
pesquisadora
(que aponta o brinquedo) e pelo dedo indicador até tocar o
cavalo. (Sempre vocalizando) [uuu].
T27 P. – É o cavalo?
T28 A. – Flete a cabeça (e vocaliza). Diminuição do tônus, flexão global.
T29 P. – Igual ao que a sua mãe escolheu! Então vamos lá! 1, 2, 3...
T30 TODOS. – Seu Lobato tinha um sítio...
EPISÓDIO 09 (23/06/04)
Situação: em continuidade ao episódio anterior.
T31 P. – iiii… Quer escolher outro. Tá de olho lá. (referindo-se às miniaturas).
T32 M. – Aproxima as miniaturas.
T33 P. – Então vai. Escolhe outro.
T34 A. – Olha para a caixa plástica.
T35 P. – Mostra qual você quer.
T36 A. – Olha para as miniaturas do interior da caixa de tampa transparente.
T37 P. Daqui de cima, Ana. Aponta em cima da mesinha (para as
miniaturas do cavalo, pato e cachorro).
T38 M. – (Risadas). Ela está olhando embaixo.
T39 P. – Você quer lá de dentro, né?
T40 A. – Eleva a cabeça, girando para a direita e olha para a pesquisadora.
EPISÓDIO 10 (30/06/04)
Situação: a pesquisadora (P) propõe a Ana (A) escolher de que deseja
alimentar-se, no intuito de oferecer uma opção para que ela decidisse por
onde começar. Esta situação ocorre na seqüência do episódio 07.
81
T41 P. – Qual que você vai comer? Ah?
T42 A. – Pára de vocalizar, cabeça fletida.
T43 P. – Olha! Aponta aqui. Puxa a mesinha mais próxima de Ana.
T44 A. Eleva a cabeça, acompanhando o movimento da pesquisadora com
o olhar.
T45 P. Você quer o bolo ou você quer o leite? Aponta para cada um,
respectivamente.
T46 A. – Acompanha o movimento da pesquisadora e flete a cabeça.
T47 P. – Mostra pra mim.
T48 A. – Faz extensão de quadril.
T49 P. – Ó!
T50 A. Acentua a extensão de quadril e eleva a cabeça, olhando para a
pesquisadora
.
T51 P. – É o bolo?
T52 A. – Flete a cabeça.
T53 P. – Ana! Conduz o MSD de Ana até a mão tocar o bolo.
T54 A. – Flete a cabeça enquanto olha para o bolo.
T55 P. – É o bolo mesmo? Então vamos pegar um pedacinho.
Nestes episódios observamos que a pesquisadora busca propiciar a
Ana oportunidades de escolha, como forma da mover a criança de seu lugar
discursivo, proporcionando um novo horizonte social e papel enquanto
falante.
Parece difícil para Ana assumir a posição de escolhas, uma vez que
não tem a oportunidade de vivenciar este papel no seu cotidiano do ambiente
doméstico, conforme a mãe relata em entrevista realizada anteriormente.
Para melhor compreensão, transcrevemos abaixo o fragmento da
entrevista entre a pesquisadora (P), a estagiária (J) de Fonoaudiologia
responsável pelos atendimentos semanais de Ana e a mãe (M).
T56 P. Você tem hábito de oferecer escolha para ela? Então, por
exemplo: você chega com mais de uma coisa e pergunta para ela: “é isso ou
é isso?”
T57 M. – não.
82
T58 P. – Você já fez isso?
T59 M. – Não. Nunca fiz uma situação assim.
T60 P. É esse ou é esse? Você vai sair de casa, quer por essa ou
essa blusa?
T61 M. – Não, isso aí não.
T62 J. – Isso aí, você que coloca. A comida mesmo, você nunca
chegou a perguntar para ela: “Você quer comer banana ou maçã?” ou...
T63 M. Eu também não, por que eu já... Que nem: banana, assim,
ela come amassadinha. Agora, mamão, maçã, assim, é batido no leite.
Que eu já vi que ela não gosta.
Através deste dado, percebemos que a criança não ocupa lugar de
locutor/interpréte, tampouco de ser interpretada, no discurso da mãe, ficando
as oportunidades interativas restritas à satisfação das necessidades básicas
rotineiras e imediatas da criança, conforme ela mesma aponta em seu relato.
Consideramos importante refletir sobre o que revela o discurso familiar
acerca da concepção que se tem do sujeito impossibilitado de expressar-se
oralmente e de como esta imagem pode vir a repercutir no processo de
construção da identidade do sujeito não-falante (entendido, aqui, do ponto de
vista do ato motor).
Enfatizamos que o sujeito, aqui, não ocupa uma posição discursiva
privilegiada na interação que é estabelecida cotidianamente com a mãe,
resultando em prejuízo da dinâmica dialógica, uma vez que esta não se
estabelece, e numa constituição de sujeito destituído de “um poder dizer” (de
um “falar”).
Ana aparece cristalizada dentro do discurso familiar, aprisionada ao
comprometimento orgânico do corpo, circunscrevendo ainda mais suas
possibilidades de inserção junto ao grupo social a que pertence.
Destacamos, porém, a intervenção da pesquisadora que busca
transformar a posição de sujeito passivo, na qual a criança foi colocada, para
agente do discurso. Percebemos este movimento nos turnos 17, 33, 41 e 45,
quando Ana é diretamente questionada sobre suas preferências.
Ao propor escolhas, a pesquisadora pressupõe que a criança tem um
querer dizer e reconhece nas suas atitudes a manifestação desta vontade
83
discursiva. Este movimento propicia ao sujeito ocupar uma posição
responsiva e, segundo Bakhtin (2003), uma vez que ele compreende o
enunciado que lhe é dirigido (considerando os elos existentes na cadeia
verbal da comunicação) conseqüentemente uma resposta é gerada, seja ela
imediata ou não.
Observamos no turno 21, uma mudança na atitude da mãe que, assim
como a pesquisadora, também interpela Ana, levando-a a uma mudança de
atitude (turno 22).
Questionamos, no entanto, se o choro apresentado pela criança nos
turnos 20 e 24 não poderia significar não sei como dizer ao invés de não
quero dizer. Como mencionado anteriormente, a falta de recursos para
comunicar-se contribui para que fique presa às formas elementares de
expressão que dispõe. Da mesma forma, acreditamos que a extensão
84
O APRISIONAMENTO AO CONTEXTO IMEDIATO
EPISÓDIO 11 (23/06/04)
Situação: neste episódio a mãe de Ana participa da atividade sugerindo a
miniatura que irá representar o animal a ser cantado na música “S. Lobato tinha um
Sítio”. Participam dos turnos dialógicos Ana (A), a mãe (M) e a pesquisadora (P). A
estagiária filma o atendimento.
T01 M. – Olha a Bolinha
27
aqui, Ana. Apontando a miniatura do cachorro.
T02 A. – Eleva a cabeça, alinhando o corpo. Em seguida apresenta aumento
de tônus com padrão extensor global
.
T03 M. – Ó a Bolinha aqui, ó, Ana. Toca o braço de Ana.
T04 A. – Olhando para a caixa.
T05 P. – Que Bolinha é?
T06 M. – A da minha mãe, lá da chácara.
T07 P. – Ah... A Bolinha.
T09 A. – Olha para a pesquisadora.
T10 M. – A Bolinha, ó!
T11 P. – Cadê a Bolinha?
T12 A. Volta-se para frente e chora. Gira a cabeça para direita, olha em
frente
.
T13 M. – Aí, Ana, a Bolinha aqui.
T14 A. – Extensão de cabeça, olhar procura pelo teto.
T15 M. – Aqui, ó!
T16 A. – (Vocaliza)
T17 P. – Ah?
T18 M. – A Bolinha. Apontando para a miniatura.
T19 A. – Olha para a miniatura na caixa. (Vocaliza).
T20 P. – Quer cantar, então?
T21 A. – (Vocaliza) [u] e faz extensão de MMSS.
T22 P. – É do cachorro. Vamos lá!
T23 A. – Sorri.
27
Bolinha é o nome da cadela de estimação da avó de Ana.
85
T24 TODOS. – Seu Lobato tinha um sítio...
Este episódio (assim como alguns descritos em outras unidades
temáticas) marca o aprisionamento de Ana ao contexto real e imediato, bem
como a escassez de recursos simbólicos mais complexos que propiciem a
abstração temporal e espacial.
Desejamos ressaltar a intervenção da mãe, buscando mediar a
atividade, bem como a importância de propiciar um novo caminho para que a
mãe possa atribuir sentidos aos dizeres de Ana, de maneira que a criança
passe a ocupar uma outra posição discursiva que a mova do lugar em que se
encontra.
Acreditamos que a atividade interpretativa aliada a um recurso
alternativo à oralidade, possibilite a Ana constituir-se enquanto sujeito da/na
linguagem. Neste contexto, a CSA pode ser perfeitamente entendida como
instrumento de mediação, que a mediação atua sobre o instrumento
sígnico e vice-versa, num processo dialético e dinâmico.
Reily (2004:19) aponta a dimensão sócio-cultural da mediação,
afirmando que “o homem transforma a natureza, cria a cultura e, como
conseqüência desse processo dinâmico, também se recria. Suas relações
com o mundo são necessariamente mediadas pelo signo. E o signo, a
mediação transforma”.
Porque não enxergar nas incursões dialógicas do sujeito, nas suas
possibilidades e tentativas, as habilidades necessárias para a introdução da
CSA? É claro que a CSA não se restringe ao uso de recursos elementares,
pois as possibilidades de simbolização, mediadas pela linguagem, marcam a
própria abstração, ou seja, a possibilidade de distanciamento do contexto
real e imediato.
Vigotski (1997) mostra que a chave para a compreensão dos
caminhos de desenvolvimento do sujeito com deficiência constitui um
processo de criação e recriação da personalidade da criança, marcado pela
abertura de novos rumos.
Nisto consiste a compensação: um processo cultural e socialmente
mediado, composto de peculiaridades.
86
A MOTIVAÇÃO GERANDO PARTICIPAÇÃO
EPISÓDIO 12 (23/06/04)
Situação: a pesquisadora (P) procura envolver Ana (A) na atividade proposta
anteriormente (episódio 04), através da concretização do que havia sugerido
verbalmente. A mãe (M) também participa dos turnos discursivos e a estagiária filma
o atendimento.
T01 P. Puxa vida, ó! Vou colocar a música pra você escutar e ver se não
quer mesmo.
T02 A. – Cabeça fletida.
T03 P. – Vê se você vai achar ruim...
T04 A. – Faz extensão de tronco e cabeça, olhando para o teto.
T05 P. – Ó lá! (a música começa a tocar).
T06 A. Imediatamente centra-se, apresenta diminuição do tônus e
alinhamento corporal, acomodando-se no colo da pesquisadora.
T07 P. Ah… Então tá! Agora que você viu que música tem aqui, eu vou
te perguntar de novo, hein?!
T08 A. Cabeça fletida, acompanha com o olhar a disposição que a
pesquisadora faz dos objetos
.
T09 P. Você quer brincar de casinha com a boneca ou escutar música?
Enquanto coloca o gravador à direita e a boneca à esquerda.
T10 A. – Olha prontamente para o gravador à direita.
T11 P. – Ah... Escutar música...
T12 M. – É. A música.
EPISÓDIO 13 (23/06/04)
Situação: participam deste episódio Ana (A), a mãe (M) e a pesquisadora
(P). Estão sentadas no colchonete e a pesquisadora introduz a conversa, em função
da atividade que estava sendo desenvolvida. A estagiária filma o atendimento.
87
T13 P. – Ela já foi ‘na’ fazenda alguma vez? (dirigindo-se à mãe)
T14 A. – (Vocaliza) [un].
T15 M. – Não. Em chácara.
T16 P. Em chácara! E tem bichinho na chácara que você foi? (dirigindo-
se a Ana)
T17 M. – Tem.
T18 A. (Produz um som vocálico ininteligível) e eleva a cabeça, olhando
para pesquisadora
.
T19 P. – Tem? Que bichinho será que tem lá na chácara que você foi?
T20 A. – Cabeça fletida.
T21 M. – Cavalo, vaca, galinha, passarinho, cachorro...
EPISÓDIO 14 (07/07/04)
Situação: Participam deste episódio Ana (A), a mãe (M) e a pesquisadora
(P). É início da sessão de atendimento e após explicar a ausência da estagiária, a
pesquisadora conta que irá colocar a filmadora sobre um tripé no canto da sala,
enquanto ajeita o foco da filmagem e assim mostra a filmadora para Ana.
T22 P. Dá uma olhada aqui, na televisão da filmadora para você ver.
T23 A. Cabeça fletida.
T24 P. Você tá aparecendo na TV.
T25 A. Olha para a pesquisadora.
T26 P. É! Olha lá!
T27 A. Flexiona a cabeça e gira para o lado oposto, à sua esquerda.
T28 P. Aqui, ó! (chama a atenção para a filmadora). Vou colocar você
pertinho.
T29 A. Cabeça fletida.
T30 P. Levanta a cabeça, senão você não enxerga.
T31 A. Cabeça fletida.
T32 M. Olha lá, Ana.
T33 A. Olha para a mãe e eleva a cabeça.
T34 P. Achou você aqui, na televisão?
88
T35 A. Eleva bem a cabeça, alinhando o tronco e foca em sua imagem com
interesse.
T36 P. Que lindona!
T37 A. Permanece assim (alerta) por mais algum tempo.
Na análise destes episódios, direcionamos a atenção para o aspecto
motivacional e suas implicações no âmbito interativo-discursivo. As tentativas
da pesquisadora para envolver Ana no contexto dialógico parecem surtir
efeitos.
Para Vigotski (1998) a motivação é fator decisivo nos processos de
aprendizagem e desenvolvimento. É ela que promove a interação entre os
pares.
Verificamos que Ana, quando motivada, demonstra sua participação
adesão à situação – de diversas maneiras.
No episódio 12 destacamos o movimento da pesquisadora no sentido
de oferecer elementos concretos para a situação proposta verbalmente,
insistindo na atividade ao colocar a música para que Ana ouvisse e depois,
diante da realidade inicialmente tangível, pudesse realizar sua escolha. A
criança, por sua vez, ao se envolver na atividade, participa ativamente,
respondendo ao que lhe foi solicitado anteriormente.
Adiante, no episódio seguinte ressaltamos o engajamento de Ana
durante a conversa em torno da experiência vivenciada na chácara de seus
avós. Destacamos a intervenção mediadora da mãe, possibilitando que os
enunciados fossem sendo construídos com a assunção da criança, que se
mostrou parceira destes dizeres.
No episódio 14 evidenciamos o interesse de Ana pela filmadora e
como este motivou reações envolvendo olhares, movimentos cervicais,
alinhamento corporal e atenção focal.
Concluímos, então, que tanto a construção de sentidos como a
constituição do sujeito são aspectos atravessados pelas questões afetivas e
motivacionais, conforme pontua Vigotski (1998).
89
INTRODUZINDO TÓPICOS
EPISÓDIO 15 (30/06/04)
Situação: A pesquisadora realiza manuseios na musculatura cervical de Ana,
que está deitada em decúbito lateral sobre o colchonete. A pesquisadora canta a
música do “Pintinho Amarelinho” enquanto executa a atividade.
T01 A. – Extensão corporal com abertura de mandíbula.
T02 P. – O que você quer?
T03 A. – Diminui a extensão e olha para a pesquisadora.
T04 P. – Virar de lado é?
T05 A. – Permanece alerta.
T06 P. – Continua os manuseios, acompanhados da canção.
T07 A. – Permanece alerta, olhando para a pesquisadora.
T08 P. (Ao terminar a música). Vamos mudar de lado? E vamos mudar de
música?
T09 A. – Observa a pesquisadora.
T10 P. – Mudança de lado...
T11 A. – (Vocaliza).
T12 P. – Mudança de música.
T13 A. – Eleva a cabeça, olhando para o pé (durante a mudança de postura).
T14 P. – Ai, que pé gelado! Daqui a pouco vou colocar a meia de novo.
T15 A. – Pousa a cabeça no colchonete novamente.
T16 P. – É só fazer o outro lado.
T17 A. – Olha para a pesquisadora.
EPISÓDIO 16 (30/06/04)
Situação: Ao finalizar uma atividade que estava sendo realizada
anteriormente, a pesquisadora calça os sapatos em Ana. Participam dos turnos
dialógicos Ana (A) e a pesquisadora (P). A estagiária está presente e filma o
atendimento.
90
T18 P. Ó lá! Conta pra mim. Você viu a flor do seu tênis? Apontando
para o tênis.
T19 A. – Gira a cabeça para a direita e desliza a mão direita sobre a blusa da
pesquisadora.
T20 P. – É!! A minha blusa listrada. Você viu? Amarela, preta e branca.
T21 A. – Olha para a pesquisadora e para a blusa.
Nesta unidade temática verificamos que Ana mostra-se capaz para
manter turnos de conversação, ainda que restritamente, ao oferecer novos
elementos discursivos e ao introduzir tópicos pertinentes ao contexto.
Percebemos a participação da pesquisadora a fim de favorecer esta
condição, proporcionando a escuta neste sentido e promovendo a situação.
O diálogo é a forma clássica de discurso e os parceiros de diálogo
alternam suas enunciações, ou réplicas, numa posição ativa denominada por
Bakhtin (2003) como compreensão responsiva. Para ele, as réplicas são
interligadas e pressupõem
outros, para compor a cadeia de enunciação
verbal.
Conforme pontua o autor (op.cit., 275), “os limites de cada enunciado
concreto como unidade da comunicação discursiva, são definidos pela
alternância dos sujeitos do discurso, ou seja, pela alternância dos falantes”.
Em cada enunciado interpretamos a intenção discursiva do sujeito que
fala, atribuindo significado a suas ações. Por isso, pressupomos que o
falante tem um “querer dizer”, interpretado em função das experiências
individuais e coletivas de seu interlocutor.
Constatamos este fato nos turnos 13 e 14, quando Ana olha em
direção ao e a pesquisadora interpreta este movimento como um querer
dizer relacionado ao contexto situacional e, nos turnos 19 e 20, no momento
em que a pesquisadora atribui ao dizer de Ana, o sentido de um comentário
também relacionado ao contexto discursivo.
Assumindo que todo discurso consiste numa prática social, cujas
marcas históricas e culturais se fazem visíveis em seu acontecimento,
percebemos que Ana passou a ocupar novos lugares discursivos ao passar
91
do papel de interpretada para também intérprete, pela ação mediada da
pesquisadora e de seus interlocutores que propiciaram a ela
oportunidades de realizar escolhas, propor situações, atribuindo aos seus
movimentos interpretações diferenciadas daquelas que a cristalizavam nas
repetidas manifestações corporais (extensões globais e aumento de tônus) e
de choro.
Uma vez que signos e palavras constituem, primordialmente, um meio
de contato social entre as pessoas, a CSA desponta como instrumento
fundamental para Ana e para outras crianças com prejuízos na oralidade.
92
BUSCANDO NOVOS LUGARES DISCURSIVOS
EPISÓDIO 17 (23/06/04)
Situação: a pesquisadora (P) tenta propor uma atividade envolvendo
escolhas, aproveitando o ensejo da música que haviam cantado anteriormente e
procura favorecer o alinhamento biomecânico de Ana (A). A mãe (M) e a estagiária
(J) estão presentes no atendimento.
T01 P. Nós vamos fazer o seguinte. Eu vou cantar um pedaço da música,
só que eu vou escolher o bicho primeiro.
T02 A. (Posicionada, sentada, no colo da pesquisadora). Mantém a cabeça
direcionada para a mesinha ao centro e acompanha os movimentos da
pesquisadora. Eleva MMSS e flete a cabeça
.
T03 P. Quando eu fui visitar o Sr. Lobato, eu vi que tinha uma vaquinha
na fazenda.
Faz apoio na fronte de Ana (para retificação da postura da
cabeça) e aponta para a miniatura da vaca na mesinha ao centro. Vamos
cantar comigo?
T04 A. – Aumento global de tônus, com extensão de tronco e membros.
T05 P. – Não? Solta o apoio na fronte de Ana.
T06 A. (Vocaliza) [ããã], (reclamando) e desorganizando sua postura
(escorregando no colo da pesquisadora).
T07 P. – Ó! Seu Lobato tinha um sítio...
T08 A. – Cabeça e tronco em flexão.
T09 P. Reposiciona Ana e faz apoio na fronte novamente, enquanto
continua cantando.
T10 A. Apresenta aumento global do tônus, com extensão de tronco e
membros. (Vocaliza) [ãã] (como um choro), escorregando do colo da
pesquisadora.
T11 P. Pára de cantar, soltando o apoio da testa. Vamos pedir pra mamãe
cantar junto? Vamos cantar todo mundo.
T12 A. Apresenta diminuição do tônus e entra em padrão flexor. Pára de
chorar.
93
T13 P. Ó! Vamos cantar! Posiciona Ana novamente e segura suas mãos
(deixando tronco e cabeça livres, que permanecem fletidos).
T14 TODOS. – Seu Lobato tinha um sítio...
T15 A. – Eleva o tronco e a cabeça, sorrindo e olhando para cima.
Este episódio revela uma atitude recorrente de recusa manifestada por
Ana, que aparece durante diversos segmentos interativos e quase sempre
acompanhada de choro e de desorganização motora global.
Notamos que a recusa manifestada por Ana pode estar relacionada ao
manuseio global, principalmente o apoio na fronte, para sustentação da
cabeça, e não tanto ao que está sendo posto na fala. Invariavelmente as
manifestações de choro e desorganização motora global que acompanham a
recusa a este tipo de toque da pesquisadora são suprimidas assim que o
estímulo é retirado.
Acreditamos que esta atitude pode significar a dificuldade de Ana em
aceitar o novo padrão motor, diferente do habitual, que naturalmente gera
desgaste e desconforto, além da questão subjacente de uma mudança na
visão de si mesma na constituição de sua subjetividade frente à nova
exigência, isto é, quero mais de você.
EPISÓDIO 18 (30/06/04)
Situação: participam deste episódio Ana (A) e a pesquisadora (P). Ambas
estão no colchonete, sendo que Ana encontra-se deitada em decúbito lateral,
enquanto a pesquisadora realiza manuseios na musculatura cervical da criança. A
estagiária está presente e é responsável pela filmagem do atendimento.
T01 P. – Agora eu vou cantar outra música.
T02 A. – Olha para a pesquisadora.
T03 P. – Você conhece a música da aranha?
T04 A. – Permanece focada na pesquisadora.
T05 P. – Conhece a música da aranha? Canta um trecho, enquanto desliza a
mão pela parede (em analogia à música).
94
T06 A. – Acompanha o movimento com o olhar e sorri.
T07 P. – Você conhecia essa?
T08 A. – Silêncio.
T09 P. – Ana!
T10 A. – Olha para a pesquisadora.
T11 P. Você lembra que a gente combinou quarta feira passada como a
gente ia dizer o “sim”?
T12 A. – (Vocaliza) [aú].
T13 P. – Você lembra?
T14 A. – Olha para a pesquisadora, abrindo a boca e sorri.
T15 P. – Como é o “sim”?
T16 A. – Flete lentamente a cabeça (num movimento cuidadoso e volitivo).
T17 P. – Ah... Muito bem! Então você mexe a cabeça para baixo, é isso?
T18 A. Repete o movimento (sem a precisão anterior) com movimento
associado de cintura escapular.
T19 P. – Tá! É isso mesmo.
EPISÓDIO 19 (07/07/04)
95
T27 A. Apaga a vela com auxílio da pesquisadora (demonstrando interesse
na atividade).
T28 P. – Apagou! Muito bem!
Nestes dois episódios acima descritos, percebemos a posição mais
centrada de Ana durante a interação dialógica. Verificamos um
encadeamento de turnos discursivos promovendo elos na cadeia de
comunicação verbal.
Para Bakhtin (1998) cada pessoa tem certo horizonte social, definido e
estabelecido, que orienta a sua compreensão e que o coloca diante de seu
interlocutor com uma forma própria de relacionamento. A partir dessa
situação social, do lugar em que se situa, é que constrói suas deduções,
motivações e apreciações, pois como afirma Freitas (2002), a leitura que faz
do outro e dos acontecimentos que o cercam está impregnada do lugar de
onde ela fala.
Observamos claramente na passagem do episódio 17 para os
episódios seguintes o deslocamento da posição ocupada por Ana, através da
mudança de atitude discursiva, mesmo que esta ainda não ocorra em todos
os contextos dialógicos.
A presença de transformações no comportamento lingüístico-
discursivo confirma os avanços que fazem parte da história do sujeito.
Constatamos isso no olhar que vai se tornando mais atento, mais
participativo. Nas expressões corporais que transformam a espasticidade
apresentada por Ana em possibilidades simbólica e socialmente construídas
por exemplo, o sim ou nas vocalizações que se configuram tentativas de
aproximação sonora diante dos signos convencionalmente estabelecidos
por exemplo, o não.
O homem se constitui, portanto, imerso na cultura, enquanto
experiências coletivas e práticas sociais, e como produtor-intérprete de
sistemas simbólicos (GÓES, 2000b), o que lhe confere subjetividade.
A atividade interpretativa implicada na CSA permite ao sujeito passar
da condição de interpretado para a de intérprete, ao fazer circular, como bem
assinala Frazão (2004) os sentidos frente às manifestações gestuais e
96
sonoras da criança, dando ao sujeito uma nova configuração no processo
clínico-terapêutico.
97
CAPÍTULO 5
______________________________________________________________
CONSIDERAÇÕES FINAIS
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quisemos chamar a atenção, neste estudo, para uma criança em fase
de aquisição de linguagem, em que a aplicação da CSA remete aos
antecedentes relacionados ao uso do sistema gráfico de comunicação
propriamente dito.
Desejamos justamente pontuar os aspectos relevantes para sua
indicação e seu desenvolvimento e desmistificar importantes conceitos,
diferentes dos pré-requisitos tratados na literatura tradicional, que irão incidir
precisamente sobre a CSA e seu percurso, bem como sobre as práticas
implicadas em linguagem.
Ao considerar a idade cronológica de Ana, não podemos afirmar sobre
a precocidade do atendimento (na acepção do termo), mas podemos
presumir que este ocorre num momento propício para a aquisição de
linguagem, no qual as bases lingüísticas, emocionais e cognitivas estão em
ascensão, ou seja, representam uma fonte potencial de aprendizado e
desenvolvimento.
Salientamos que os mecanismos de aquisição de linguagem são
semelhantes aos de qualquer outra criança sem os comprometimentos de
ordem neuromotora e sensoriais encontrados em Ana. Entendemos que o
movimento de interpretar as possibilidades da criança com deficiência não é
diferente da criança pequena dita “normal”. O que difere aqui são os modos,
os caminhos usados para essa interpretação.
Procuramos destacar o fato de que a CSA não remete exclusivamente
a tipos de sistemas gráficos, mas abre portas para a materialização da
linguagem e para a construção de sentidos pela atividade interpretativa,
levando ao rompimento com as posturas cristalizadas e tradicionalmente
instituídas nas práticas clínico-terapêuticas.
A respeito dos procedimentos clínicos implicados no campo da
linguagem (e da CSA), defendemos que os processos tanto avaliativo como
de entrevista consistem na própria intervenção, sendo difícil – e mesmo
desnecessário determinar onde começa um e acaba o outro. Todos
99
convergem neste modelo de atuação, de modo que avaliamos intervindo e
intervimos avaliando.
Por outro lado, constatamos que a introdução da CSA como
instrumento clínico favorece o desenvolvimento da linguagem, beneficiando o
sujeito com graves comprometimentos na oralidade. No decorrer dos
atendimentos de Ana, observamos que os recursos da CSA podem – e
devem ser utilizados e implementados paulatinamente em sua rotina diária
(clínica, educacional
28
e familiar), pelo uso de meios simbólicos como gestos,
vocalizações e miniaturas de objetos.
Não concordamos com a valoração hierárquica entre os tipos e
sistemas de CSA e tampouco com a pré-seleção de um vocabulário básico a
ser introduzido ou com etapas a serem cumpridas para tal finalidade.
Percebemos, através dos dados de Ana, que o trabalho é proposto a partir
das possibilidades e não das limitações que possam ser inventariadas
durante um processo investigativo, assim como o sujeito não é tratado
comparativamente a uma norma ideal. Dessa forma, o foco não recai sobre a
deficiência.
De acordo com Vasconcellos (1999), os procedimentos para escolha
de um símbolo gráfico envolvem escuta terapêutica e não cabe ao clínico ou
educador valorar ou determinar a escolha dos símbolos. Neste sentido, os
dados de Ana apontam que o conteúdo em terapia é abordado a partir do
que acontece durante a interação dialógica, de maneira flexível e
contextualizada.
Assinalamos as tentativas na busca de sentidos mediada pela
pesquisadora diante dos movimentos e manifestações expressos por Ana.
Ao interpretar os gestos, as mudanças de postura, as vocalizações, a
pesquisadora atribui sentidos a estas formas elementares de comunicação e
favorece a inserção de Ana na/pela linguagem. É a linguagem
interpretando o corpo
29
.
Compartilhamos o pensamento de Wolff (2001) e Panhan (2001b)
quando propõem que vocalizações, gestos e olhares, bem como os usos dos
28
Quando Ana estiver regularmente matriculada.
29
Agradecemos essa sugestão de denominação pela Profa. Dra. Lúcia Reily durante o
exame de qualificação.
100
símbolos gráficos, ganham significado dentro de um particular domínio
discursivo. Entendemos que os símbolos devam ser apresentados nas
situações cotidianas e interpretados dentro dos contextos dialógicos em que
se inscrevem e, assim colocados em movimento da/na própria linguagem.
A título de exemplificação, trazemos a situação de entrevista da mãe
de Ana como espaço de significação, em que valorizamos a possibilidade
interpretativa da mãe diante de sua filha e dos recursos de expressão
diferentes dos convencionais.
Buscamos apontar para a questão da alteridade implícita no processo
de aquisição de linguagem e dos sujeitos envolvidos no diálogo, ou seja,
daquele que atribui (e produz) sentidos ao querer dizer do outro. Procuramos
despertar a percepção da mãe para a existência desta intenção discursiva e
verificamos sua mudança de atitude com Ana, ao colocar a si e à filha em um
novo posicionamento discursivo.
Compreendemos que é importante ir adiante e futuramente apresentar
formas novas ou outros tipos de CSA para Ana, acreditando que ela virá a
beneficiar-se, e muito, dos recursos gráficos de comunicação, como fotos e o
próprio PCS, além da própria escrita.
Reconhecemos que a introdução dos símbolos gráficos de
comunicação ou da própria escrita ortográfica, à medida que Ana for
crescendo, é um aspecto fundamental e inquestionável para seu
desenvolvimento, uma vez que poderá propiciar maior autonomia e inclusão
social. Oportuno acrescentar que estas conclusões não são válidas apenas
para Ana, mas para outras crianças em condições semelhantes.
Não descartamos, inclusive, o uso de recursos tecnológicos, mas
estes não constituem as bases para implementação da CSA. Atribuímos a
elas – tecnologia e CSA – uma relação de implicação e não de submissão.
Enfatizamos, assim como Soro-Camats (2003), Von-Tetzchner &
Martinsen (1993) e Vasconcellos (1999), que a CSA deve ser introduzida tão
logo seja percebido que o sujeito possa vir a beneficiar-se desta proposta,
antes mesmo da espera pelo surgimento da oralidade, especialmente em se
tratando de sujeitos com graves comprometimentos motores.
Esta conduta permite propiciar o desenvolvimento da linguagem
independentemente da modalidade de expressão que virá a se desenvolver
101
primeiro, pois, como comprovado por diversos pesquisadores, a CSA não
interfere no desenvolvimento da fala (Chun, 2003; Soro-Camats, 2003; Pires,
2002; Nunes, 2002; Panhan, 2001b; Fernandes, 1999 e outros).
Salientamos que a CSA não é um meio nem um fim em si, mas um
instrumento e, como tal, pode propiciar elementos que favoreçam a condição
de subjetividade. O sucesso ou insucesso não está nela em si, mas na
maneira como é aplicada. É a interpretação do outro no contexto discursivo
que garante a inserção do sujeito na linguagem através da CSA.
É a atividade interpretativa presente na interação dialógica que
propicia a realização de escolhas, a manifestação de desejos, a expressão
de negação etc. Enfim, é ela que coloca em movimento os elementos que
antecedem à introdução de um sistema gráfico de comunicação na criança e
permite, dentre outros aspectos, o seu acesso à educação.
Por diversos fatores que compõem a realidade político-educacional de
nosso país, Ana enfrenta dificuldades para ingressar na escola. Temos
convicção de que este cenário de exclusão precisa ser vencido dentro do
próprio sistema educacional e um dos fatores que pode contribuir para
alguma mudança é a possibilidade do sujeito se fazer ouvir. Acreditamos que
a cidadania possa ser exercida também através da CSA.
Diante dos dados retratados neste estudo, notamos que os mesmos
princípios norteadores da prática em CSA aqui descrita podem ser
empregados no contexto educacional, considerando as especificidades de
cada área profissional.
Por se tratar de um estudo que envolve a área clínica, julgamos
prudente ressaltar, conforma coloca Amorim (2001: 30), que “uma
intervenção pedagógica não dispõe os lugares e as relações de alteridade do
mesmo modo que o faz a clínica. [...] Mas em todos os casos, uma ou mais
relações de alteridade estão em jogo”.
A alteridade numa diferença de lugar enunciativo, no caso da situação
clínica em relação à pedagógica, não exclui o fato de que ambas, nesta
circunstância, lidam com as práticas em CSA atravessadas pela linguagem.
É precisamente aí que o encontro se dá.
Embora a realidade demonstrada seja diferente daquela vivenciada
em sala de aula, o professor pode usar a interpretação no ambiente escolar
102
sem que para isso tenha que exercer o papel de clínico
30
. O clínico, por sua
vez e de acordo com o seu papel, pode oferecer o suporte necessário,
auxiliando na aplicação da CSA junto à escola, bem como na adaptação de
material para uso do aluno.
Com isso, afirmamos que o espaço clínico ou educacional é marcado
pela concepção de sujeito e de linguagem que atravessa as práticas em CSA
e circunscreve as possibilidades e formas de atuação. Como pontua Panhan
(2001b), não é a CSA que determina o uso, mas a concepção teórico-
metodológica que orienta as práticas educativas em linguagem.
Concluímos que a prática em CSA pode ressignificar-se através da
concepção teórico-metodológica de orientação sócio-histórica e com isso
gerar uma proposta de atuação diferenciada em âmbito clínico e pedagógico,
promovendo o desenvolvimento da linguagem e a constituição do sujeito.
Nesta vertente, a CSA se faz via interpretação, isto é, a atividade
interpretativa permeia todo o trabalho e toda emergência de significação, seja
na busca dos dizeres, nas escolhas, na introdução de tópicos, nas posições
discursivas ocupadas pelo sujeito da/na linguagem. Tal abordagem permite
ainda um novo olhar que se abre para a escuta do momento e para a
imprevisibilidade da linguagem.
É certo que muito ainda a ser feito e acreditamos ser imensa a
responsabilidade do clínico ou educador que se dedique a lidar com o sujeito
e seu discurso, pois cabe a nós refletir e levar ao conhecimento dos demais
(colegas, familiares e usuário) a dimensão da linguagem e a proporção que
esta assume ao indicar a CSA no sentido de viabilizar o emergir da função
comunicativa da linguagem.
30
Agradecemos a contribuição da Profa. Dra Evani Andreatta durante o exame de
qualificação.
103
______________________________________________________________
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CAMATS, Emili & BULTÓ, Carme R. Sistemas de sinais e ajudas técnicas
para a comunicação alternativa e a escrita: princípios teóricos e
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ALMIRALL, Carme B.; SORO-CAMATS, Emili & BULTÓ, Carme R. Sistemas
113
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1997.
VORCARO, Ângela M. R. Negociando Relações: da interlocução entre
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PUC-SP, 1992 (dissertação de mestrado).
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. São Paulo, PUC-SP, 2001.
(dissertação de mestrado).
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cerebral: aspectos práticos
. São paulo: Memnon, 1998. p. 231-242.
115
______________________________________________________________
ANEXO
116
ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _______________________________________________________________,
RG __________________________, responsável pelo(a) menor________________
___________________________________________________________________,
declaro ter sido informado(a) sobre a pesquisa “Comunicação Suplementar e
Alternativa e o desenvolvimento da linguagem de sujeitos com Paralisia Cerebral” a
ser realizada pela fonoaudióloga Paula Mello Pereira Passos, sob orientação da
Profa. Dra. Maria Inês Bacellar Monteiro, desenvolvida no curso de Mestrado do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de
Piracicaba – UNIMEP.
Declaro ter ciência de que o objetivo do presente estudo é investigar o uso da
Comunicação Suplementar e Alternativa como um instrumento que pode
proporcionar o desenvolvimento da linguagem em sujeitos que apresentam grave
comprometimento da oralidade devido à Paralisia Cerebral.
Para tanto, concordo em que a pesquisadora utilize para fins públicos e de natureza
científica e acadêmica, os dados dos registros escritos e do material produzido nas
sessões fonoaudiológicas, realizadas na Clínica-Escola de Fonoaudiologia da
UNIMEP, bem como a videogravação do procedimento da pesquisa realizada pela
pesquisadora na referida instituição.
Estou ciente de que esse estudo justifica-se pela necessidade de aprofundar os
conhecimentos existentes nesta área, em especial repensar o papel da clínica
fonoaudiológica com indivíduos portadores de Paralisia Cerebral, a fim de promover
o desenvolvimento da linguagem e sua função comunicativa.
Tenho ciência de que os procedimentos envolvem a avaliação e análise da
produção lingüística dos episódios discursivos, apoiadas nos recursos de
Comunicação Suplementar e Alternativa, realizadas em situações terapêuticas, com
uma hora de duração, em oito encontros, na freqüência de uma vez por semana.
117
Declaro estar informada de que a Comunicação Suplementar e Alternativa consiste
numa área da prática clínica e educacional que se propõe a compensar,
complementando ou substituindo, temporária ou permanentemente, a
impossibilidade do indivíduo com severa desordem da comunicação em expressar-
se através da fala ou da escrita.
Tenho clareza de que a presente proposta não apresenta riscos que venham a
comprometer a saúde física e mental dos sujeitos pesquisados, creditando, por
outro lado,
benefícios para sua qualidade de vida e inserção social.
Também estou ciente de que tenho liberdade para interromper minha participação
neste estudo ou de retirar meu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem
nenhuma penalização. A qualquer momento posso buscar junto da pesquisadora, os
esclarecimentos que julgar necessários, inclusive os relativos à metodologia de
trabalho.
A pesquisadora garante o sigilo que assegure a privacidade dos dados confidenciais
envolvidos nesse estudo, bem como o fato de que a minha participação não envolve
desconfortos físicos nem morais, danos, nem ônus financeiros de minha parte e, por
isso, não estão previstos ressarcimentos nem indenizações.
Finalmente, concordo em que as atividades que envolvam a minha participação
possam ser utilizadas para fins científicos, como publicações e apresentações em
eventos científicos, respeitando os limites da ética e do proceder científico, íntegro e
idôneo.
Piracicaba, _____ de __________________ de ________.
______________________________
(assinatura)
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