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ELSON RODRIGUES OLANDA
SANCLERLÂNDIA-GO: DO POVOADO DO CRUZEIRO ÀS NOVAS
CENTRALIDADES
Tese apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade
Estadual Paulista, Câmpus de Presidente
Prudente, para a obtenção do título de Doutor em
Geografia.
Orientação: Profª. Drª. Maria Encarnação Beltrão Sposito
PRESIDENTE PRUDENTE
2010
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Olanda, Elson Rodrigues.
O37s Sanclerlândia-GO : do Povoado do Cruzeiro às novas
centralidades / Elson Rodrigues Olanda. - Presidente Prudente: [s.n],
2010
208 f. : il.
Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Tecnologia
Orientadora: Maria Encarnação Beltrão Sposito
Banca: Everaldo Santos Melazzo, Arthur Magon Whitacker,
Beatriz Ribeiro Soares, Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira
Inclui bibliografia
1. Geografia. 2. Geografia Urbana. 3. Cidade Pequena. 4.
Centralidade. 5. Sanclerlândia (GO). I. Autor. II.
Universidade
Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Tecnologia. III. Título.
CDD 910
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da
Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de
Presidente Prudente.
À minha mãe, Ana, no além, que viu surgir o Povoado do Cruzeiro, mas
não viveu o tempo suficiente para conhecer este trabalho.
Ao amigo Adão Preto, migrante mineiro, pedagogo, professor e, acima de tudo, um
mestre na superação de barreiras.
A todos os trabalhadores anônimos, migrantes ou não, que contribuíram para a
construção de Sanclerlândia tal qual é hoje.
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho envolveu direta e indiretamente cerca de
1100 pessoas, às quais expresso minha gratidão:
à Diva, companheira de vida e colaboradora em todos os momentos da
pesquisa;
aos meus sete irmãos, pelo apoio contínuo à minha formação
acadêmica;
aos meus tios Messias e João, pela hospedagem em Sanclerlândia e o
carinho de sempre;
aos meus amigos e colegas do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
Educação (Cepae/UFG), em Goiânia;
aos meus amigos em Sanclerlândia, Goiânia e muitos outros lugares;
à minha orientadora, professora Maria Encarnação Beltrão Sposito,
pela sabedoria que reúne rigor científico e ternura pessoal no processo de
orientação;
aos professores Artur Whitacker e Everaldo Melazzo, pelas sugestões
no Exame de Qualificação;
à atenção das 967 pessoas que colaboraram, ao responder o
questionário em Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia;
às 15 pessoas que, gentilmente, prestaram depoimentos;
aos professores, funcionários e colegas estudantes, com quem convivi
nos programas de Pós-Graduação em Geografia das Universidades: Federal de
Goiás, Federal de Uberlândia e Estadual Paulista Câmpus de Presidente
Prudente;
ao Cepae/UFG e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFG,
pela liberação para a realização do curso;
à CAPES, pela bolsa de estudo;
às prefeituras de Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia, pela prestação das informações solicitadas;
às seguintes entidades e instituições em Sanclerlândia: Batalhão da
Polícia Militar, Câmara de Dirigentes Lojistas, Ciretran-polo, Sindicato de
Trabalhadores Rurais, Sindicato Rural, Unidade Universitária da Universidade
Estadual de Goiás e diversos prestadores de serviços que colaboram
fornecendo preciosas informações;
enfim, sou grato a todas as pessoas e instituições que, de algum modo,
colaboraram para a realização deste estudo.
RESUMO
Este estudo foi realizado com base na linha de pesquisa Desenvolvimento
Regional e tem como foco a cidade de Sanclerlândia - GO, situada no cruzamento
das Rodovias GO 164 e GO 326. O povoamento inicial que deu origem à cidade
ocorreu nas décadas de 1930 e 1940, principalmente por migrantes mineiros. Um
estabelecimento comercial, o cemitério, a capela de São Sebastião e uma escola
pública; localizados às margens de uma estrada que interligava Mossâmedes a
Córrego do Ouro são as bases de constituição da cidade. O Povoado do
Barreirinho, primeira denominação de Sanclerlândia, foi elevado à condição de
distrito e de município com a denominação de Sanclerlândia. Para o
desenvolvimento desta investigação, levamos em conta a constituição e a
ampliação das centralidades intra e interurbana na e da cidade. Ao início da
década de 1990, ela foi uma cidade local sem influência expressiva na região. A
partir de então, passou por um conjunto articulado de mudanças, muitas delas
ainda em curso, cujos processos possibilitaram transformações no espaço
intraurbano, inclusive com a ampliação de áreas de concentração das atividades
comerciais e de serviços no centro da cidade. As transformações são expressivas
também na relação interurbana de Sanclerlândia na e com a região, mais
especificamente com a ampliação de influências nas cidades de Buriti de Goiás,
Córrego do Ouro e Mossâmedes. Assim, os processos verificados na cidade
definiram e definem, por enquanto, a centralidade da cidade no seu espaço
interno, bem como na sua relação interurbana.
Palavras - chave: cidade pequena. Centralidade urbana. Sanclerlândia. Estado
de Goiás.
ABSTRACT
This study is based on the Regional Development line of research and focus the
town called Sanclerlândia which is located approximately in the junction of the
motorways GO-164 e GO-326 state of Goiás. Its first settlement ocurred within
1930 and 1940 mainly by the “mineiros” (people originally from Minas Gerais, a
state located in the south-east region of Brazil). A small shop, a cemetery, the
Saint Sebastian Chapel and a state school, located just beside the main road that
connect Mossâmedes to Córrego do Ouro are the basis of the constitution of this
town. “O povoado do Barreirinho” the previous name for Sanclerlândia, was later
raised to a condition of district and municipality thereafter being called
Sanclerlândia. In order to develop this study we took into account the constitution
and the expansion of it as a business and services centre within the town and also
in relation to some neighbouring towns. Sanclerlândia was not a very influential
district until the early 1990s. However, from then on, it went through a number of
well-planned changes, some of them still developing, that made it possible to
transform and develop the inner urban space, including the expansion of
businesses, trading and services downtown. The transformation is also quite
evident in relation to some neighbouring towns such as Buriti de Goiás, Córrego
do Ouro and Mossâmedes, all of which have inscreasingly been influenced by all
the changes in Sanclerlândia. Therefore, the development found in this town
defined and define, for the time being, its capacity of being a businesses and
services centre within its inner space, as well as being it in relation to other cities.
Key words: Small town. Urban centralization. Sanclerlândia. Estado de Goiás.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Esquema da pesquisa .................................................................
20
Figura 2 – Goiás: situação geográfica do município de Sanclerlândia,
2008 ............................................................................................
27
Figura 3 – Goiás: Mato Grosso de Goiás, 1955 ...........................................
32
Figura 4 – Goiás: município de Mossâmedes, 1955 ....................................
38
Figura 5 – Goiás: município de Mossâmedes, 1962 ....................................
41
Figura 6 – Goiás: municípios de Mossâmedes e Sanclerlândia, 1964 ........
46
Figura 7 – Importância do cruzamento rodoviário para Sanclerlândia .........
50
Figura 8 – A pavimentação das rodovias provocou modificações e
transformações em Sanclerlândia? .............................................
51
Figura 9 – Planta Funcional de Sanclerlândia: 2008 ....................................
55
Figura 10 – Sanclerlândia: população residente, 1970 – 2007 ......................
62
Figura 11 – Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 1998 .......
66
Figura 12 – Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 2007 .......
67
Figura 13 – Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 1998 ....
70
Figura 14 – Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 2007 ....
71
Figura 15 – Sanclerlândia: utilização das terras nos estabelecimentos
agropecuários, 1970 – 2006 .......................................................
78
Figura 16 – % de estabelecimentos agropecuários com agricultura familiar,
2006 ............................................................................................
79
Figura 17 – Goiás: Comarcas, 2008 .............................................................. 93
Figura 18 – Sanclerlândia: Ciretran-polo e principais serviços de apoio,
2010 ............................................................................................
101
Figura 19 – Goiás: estrutura do Produto Interno Bruto – PIB GOIÁS, 2005 ..
111
Figura 20 – Sanclerlândia: cartões de serviços de saúde selecionados,
2009 ............................................................................................
113
Figura 21 – Sanclerlândia: cartões de serviços selecionados, 2009 .............
114
Figura 22 – Sanclerlândia: compra de bens de consumo não duráveis,
2009 ............................................................................................
119
Figura 23 – Sanclerlândia: compra de bens de consumo duráveis, 2009 ... 119
Figura 24 – Sanclerlândia : centro descontínuo, 2009 .......................... 136
LISTA DE FOTOS
Foto 1 – Sanclerlândia: igreja de São Sebastião.........................................
35
Foto 2 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, Prédio do Fórum ..................... 54
Foto 3 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, centro da cidade .....................
56
Foto 4 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da Estação
Rodoviária ......................................................................................
56
Foto 5 – Sanclerlândia: parque de exposição agropecuária, Av. 5 de
Janeiro ...........................................................................................
76
Foto 6 – Sanclerlândia: sede do STR, Praça Três Poderes, centro ........
80
Foto 7 – Sede da Universidade Estadual de Goiás/Anápolis ......................
97
Foto 8 – Sanclerlândia: vista aérea parcial do Setor Universitário, ao
centro o prédio da UnU – UEG ......................................................
97
Foto 9 – Sanclerlândia: Clínica de Psicologia. Av. 7 de Setembro, centro 102
Foto 10 – Sanclerlândia: mercado Super Sancler, Av. 5 de Janeiro, centro 116
Foto 11 – Sanclerlândia: Câmara de Dirigentes Lojistas. Av.
Independência, centro ..................................................................
117
Foto 12 – Sanclerlândia: loja de móveis e eletrodomésticos, Av. 5 de
Janeiro, centro ..............................................................................
121
Foto 13 – Sanclerlândia: interior de uma facção ........................................... 125
Foto 14 – Sanclerlândia: obras de duplicação da Av. 5 de Janeiro (GO-326)
no Setor Planalto ...........................................................................
152
Foto 15 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da rodoviária .......
154
Foto 16 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da rodoviária .......
154
Foto 17 –
Sanclerlândia: festa do jeep cross/2009, aglomeração de
pessoas na Av. Norte Sul ..............................................................
164
Foto 18 –
Sanclerlândia: vista aérea parcial da pista de jeep cross/2009 .....
164
Fotos 19 a 25 – Sanclerlândia: o econômico predomina sobre social ..............
167
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Fases da modernização do território
e da urbanização em
Goiás ......................................................................................
25
Quadro 2 – Ordens na cidade, de acordo com Lefebvre (2004, p. 46) .... 34
Quadro 3 – Microrregião de Anicuns: gênese dos municípios ..................
39
Quadro 4 – Sanclerlândia: síntese cronológica parcial .............................
44
Quadro 5 –
Sanclerlândia: síntese da toponímia .......................................
45
Quadro 6 – Sanclerlândia: rebanho bovino, 1974 – 2007 .........................
65
Quadro 7 – Sanclerlândia: vacas ordenhadas e produção de leite, 1974-
2007 ........................................................................................
72
Quadro 8 – Sanclerlândia: principais serviços
públicos e privados com
abrangência sub-regional, 2008 .............................................
90
Quadro 9 –
Sanclerlândia: efetivo de Policiais Militares no 2º Pelotão da
19ª Companhia Independente da PM-GO, 2008 ....................
94
Quadro 10 –
Goiás: número de instituições de ensino de educação
superior, 1996, 2000, 2004 – 2006 .........................................
95
Quadro 11 –
Goiás: número de matriculas em cursos de educação
superior, 1996, 2000, 2004 -2006 ..........................................
96
Quadro 12 –
Sanclerlândia, Mossâmedes, Buriti de Goiás e Córrego do
Ouro: representação do Detran e número de funcionários,
2008 ........................................................................................
103
Quadro 13 –
Sanclerlândia, Mossâmedes, Buriti de Goiás e Córrego do
Ouro: frota de veículos, 2008 ................................................
104
Quadro 14 – Brasil: municípios com atendimento bancário, 2001 – 2008 ..
107
Quadro 15 – Sanclerlândia: pre
stadores de serviços selecionados e
número de pessoal ocupado, 2009 ........................................
110
Quadro 16 – Sanclerlândia: CDL, relação de empresas, 2008 ...................
120
Quadro 17 – Sanclerlândia: confecções e facções e número d
e
funcionários por sexo, 2007....................................................
126
Quadro 18 – Sanclerlândia: facções por ano de instalação ........................
127
Quadro 19 – Número de cidades segundo hierarquia das Regic-2007 .......
140
Quadro 20 –
Sanclerlândia: estabelecimentos de ensino selecionados,
2008 ........................................................................................
149
Quadro 21 –
Rodovias do Sistema Rodoviário do Estado de Goiás, 2008 .
151
Quadro 22 –
Sanclerlândia: órgãos estaduais selecionados e área de
atuação, 2008 .........................................................................
155
Quadro 23 –
Sanclerlândia: calendário anual das festas consideradas
principais .................................................................................
161
Quadro 24 – Cronograma da aplicação de questionário .............................
186
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Goiás: rede rodoviária, 2007.......................................................
48
Tabela 2 – Sanclerlândia: decorrências positivas da pavimentação de
rodovias, 2009............................................................................
52
Tabela 3 – Sanclerlândia: decorrências negativas da pavimentação de
rodovias, 2009 ............................................................................
52
Tabela 4 – Brasil, Centro-Oeste, Goiás e Sanclerlândia: efetivo de
bovinos, 1970 – 2006 .................................................................
68
Tabela 5 – Sanclerlândia: produção de milho, 1970 e 2006 ........................
73
Tabela 6 – Sanclerlândia: produção de arroz em casca, 1970 e 2006 ........
74
Tabela 7 – Sanclerlândia: produção de feijão, 1970 e 2006 ....................... 74
Tabela 8 – Sanclerlândia: empresas e outras organizações, por ano de
fundação e classificação de atividades, 2006 ............................
82
Tabela 9 – Sanclerlândia: pessoal ocupado segundo classificação de
atividades econômicas, 1996 – 2006 .........................................
84
Tabela 10 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia: acesso ao ensino superior público, 2009 ............
98
Tabela 11 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia: movimentação bancária fora da cidade onde
reside, 2009 ................................................................................
108
Tabela 12 – Plano Nacional de Habitação: caracterização das cidades
brasileiras, 2004 .........................................................................
138
Tabela 13 – Sanclerlândia e região: compra de bens de consumo duráveis
em outra cidade, 2009 ................................................................
143
Tabela 14 – Sanclerlândia e região: tratamento odontológico com dentista
particular, 2009 ...........................................................................
144
Tabela 15 – Sanclerlândia e região: acesso aos serviços da Justiça
Estadual, 2009 ............................................................................
145
Tabela 16 – Sanclerlândia e região: acesso aos serviços do Detran, 2009 ...
145
Tabela 17 – Sanclerlândia: local de nascimento dos entrevistados, 2009 .....
147
Tabela 18 – Sanclerlândia e Estado de Goiás: demonstrativo físico-
financeiro do Banco do Povo, 23/03/2007 e 4/01/2010 ..............
157
Tabela 19 – Sanclerlândia: aspectos melhorados nos últimos dez anos,
2009............................................................................................
166
Tabela 20 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia: aplicação de questionário, 2009 .........................
187
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................
16
1 SANCLERLÂNDIA: ESPACIALIDADES PRETÉRITAS – ABRINDO
PISTAS PARA O PRESENTE ...............................................................
23
1.1 Do povoado ao distrito ........................................................................
28
1.1.1 Do povoado do Cruzeiro a Sanclerlândia, um Distrito de Mossâmedes
34
1.2 Do distrito ao município ......................................................................
42
1.3 Dos caminhos à cidade no cruzamento rodoviário pavimentado ...
47
2 SANCLERLÂNDIA, AS BASES MATERIAIS: PROCESSOS
SINGULARES? .....................................................................................
59
2.1 A Pecuária: o rebanho bovino e a produção de leite .......................
63
2.1.1 A Pecuária: o rebanho bovino ................................................................
63
2.1.2.
A produção de leite ................................................................................
69
2.2 A produção agrícola ............................................................................
73
2.3 Velhas e novas funções na produção ................................................
75
3 PAPÉIS DESEMPENHADOS POR SANCLERLÂNDIA:
CONTEÚDOS E SIGNIFICADOS ..........................................................
86
3.1 A prestação de serviços públicos e privados ...................................
89
3.1.1 A Comarca .............................................................................................
91
3.1.2 O Pelotão da Polícia Militar ....................................................................
94
3.1.3 A Unidade Universitária da Universidade Estadual de Goiás-UnU/UEG
94
3.1.4 A 36ª Circunscrição Regional de Trânsito-Ciretran ...............................
100
3.1.5 As agências bancárias e outros serviços privados ................................
104
3.2 O comércio ...........................................................................................
115
3.3 A indústria do vestuário: facções e confecções ..............................
122
4 AS ARTICULAÇÕES ENTRE O INTRA E O INTERURBANO: O
SINGULAR NO PARTICULAR .............................................................
129
4.1 Centro e centralidade ..........................................................................
130
4.2 Centralidade e cidade pequena...........................................................
137
4.3 O desenho e o redesenho dos papéis desempenhados por
Sanclerlândia: o papel do Estado na constituição de
centralidades intra e interurbanas .....................................................
146
4.3.1 A colonização ........................................................................................ 146
4.3.2 Os estabelecimentos públicos de ensino formal ................................... 148
4.3.3 As rodovias e a circulação .....................................................................
150
4.3.4 O Poder Judiciário Estadual e órgãos públicos estaduais .....................
155
O ECONÔMICO E O SOCIAL EM SANCLERLÂNDIA ........................
159
REFERÊNCIAS .....................................................................................
169
APÊNDICE A DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS ...............................................................................
179
APÊNDICE B – MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO ............. 189
APÊNDICE C QUADROS E TABELAS: SEGUNDA ETAPA DA
TABULAÇÃO DO QUESTIONÁRIO .....................................................
192
APÊNDICE D INFORMAÇÕES SOBRE A UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE GOIÁS: UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE
SANCLERLÂNDIA ................................................................................
205
ANEXO A FOLDER
DA XVI EXPO AGRO E VI FEIRA DA
INDÚSTRIA, COMÉRCIO E TURISMO DE SANCLERLÂNDIA ...........
206
APRESENTAÇÃO
Para ver uma cidade não basta estar de olhos abertos. É preciso antes de mais nada
deixar de lado todas as coisas que impedem vê-la. [...] É preciso depois saber
simplificar, reduzir ao essencial o enorme número de elementos que a cada segundo a
cidade coloca diante dos olhos de quem olha (CALVINO, 2000, p. 9).
17
No atual período técnico-científico-informacional (SANTOS, 1997), com o
advento da internet e das novas tecnologias, no final do século passado e início
do século XXI, antigos paradigmas foram colocados à prova. O mundo mudou,
transformou-se e modificações contínuas. Os alicerces da ordem vigente
podem estar abalados, todavia não foram demolidos; o Muro de Berlim veio
abaixo, entretanto, outros foram erigidos.
A internet e as novas tecnologias não ampliaram a tolerância e a
fraternidade entre os povos. Nesse sentido, o mundo que se modifica e se
transforma continuamente ainda o resolveu problemas quase primitivos como a
fome de milhões de seres humanos.
As transformações contemporâneas exigem olhares diversos e
diversificados no espaço geográfico, visto que a dimensão socioespacial das
modificações, heterogêneas e complexas, merece atenção especial da Geografia
e, consequentemente, do pesquisador dessa ciência. Dessa forma, estamos num
período cujas alterações espaciais ocorrem de modo pido e dinâmico; as
apreensões dos movimentos podem acontecer com a análise dos processos e
de suas gêneses. Em suma, as transformações são preponderantes em relação
às permanências.
Num momento histórico com essas características, lançamo-nos ao
desafio de realizar esta pesquisa que tem como foco uma cidade pequena no
Estado de Goiás. Desenvolver estudos com a temática da cidade pequena é
desafiador e instigante. A referida temática não é nova no campo da Geografia
Urbana, entretanto ocupa pequenos espaços nas pesquisas acadêmicas
realizadas no âmbito desse campo disciplinar ou fora dele. Com a concentração
populacional e a metropolização ocorrida no Brasil, sobretudo na segunda metade
do século XX, as metrópoles tornaram-se foco principal nas preocupações dos
pesquisadores, uma vez que elas concentram também maior número de pessoas,
papéis e problemas.
Com a ampliação dos programas de pós-graduação em Geografia, o
leque de pesquisas no Brasil é cada vez maior. Esse fato contribui
significativamente para o retorno aos debates de temas pouco valorizados ou
18
negligenciados e para o fortalecimento de novos temas de pesquisas e/ou novas
abordagens para velhos temas.
No Brasil, os estudos realizados pela Geografia Urbana com o foco na
relação interurbana foram muito significativos na década de 1970 (ABREU, 1994).
A partir da década de 1980, eles foram mais restritos, no entanto não foram
abandonados. Desse modo, houve uma intensificação desses estudos no início
do século XXI e não necessariamente uma retomada.
As numerosas cidades pequenas brasileiras ficaram, por muito tempo, à
margem da maioria dos estudos. No entanto, isso não significa que elas não
apresentem sérios problemas merecedores de atenção e de investigação. A partir
da década de 1970, ampliaram-se lentamente as preocupações com o estudo
dessas cidades, porém faz-se necessário esclarecer que a noção de cidade
pequena tem variedade e diversidade que devem ser consideradas e avaliadas de
acordo com a rede urbana regional. Uma cidade pequena, em determinada rede
urbana, pode não ser pequena em outros contextos e em outra rede urbana
regional. Assim sendo, as especificidades regionais devem ser consideradas para
a conformação da noção de cidade pequena.
Em nossa análise, adotamos a noção para designar o conteúdo da
expressão cidade pequena, visto entendermos que as elaborações teóricas
ainda não atingiram sequer uma definição de cidade pequena; desse modo, a
constituição de um conceito está ainda mais distante. Em suma, não há, do ponto
de vista teórico, uma definição e um conceito para designarem o que se
compreende por cidade pequena.
A importância do estudo dessas cidades tem sido ressaltada por autores
considerados clássicos da Geografia brasileira, dentre os quais destacamos:
Silva, A. (1978); Santos (1979) e Corrêa (2000, 2004, 2006). Além dos geógrafos
mais renomados e conhecidos, destacamos autores com significativas pesquisas
cujo objeto são as cidades pequenas, tais como: Soares (1999, 2005, 2007,
2009); Wanderley (2001); Endlich (2002, 2006); Bernardelli (2004); Fresca (2004);
Gonçalves,E. (2005); Castilho (2007,2009); Figueiredo (2007); Bacelar (2008);
Melo (2008); Roma (2008).
19
Para Endlich (2006, p. 31), “Poucos elegem as pequenas cidades como
objeto de pesquisa. As iniciativas existentes permanecem isoladas, o que dificulta
um avanço teórico em relação à compreensão desses espaços.” Com diferentes
concepções teórico-metodológicas, o enfoque da temática da cidade pequena tem
ampliado seu espaço na pauta de pesquisa nas diferentes regiões do Brasil. Isso
pôde ser verificado
1
nos Anais de dois Encontros Nacionais da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (2005; 2007), nos Anais do
X Simpósio Nacional de Geografia Urbana (2007), no Caderno de Programação
do XV Encontro Nacional de Nacional de Geógrafos (2008) e, finalmente, nos
Anais do Simpósio Sobre Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local
realizado em Maringá - PR (2008).
A nossa aproximação inicial com o tema da cidade pequena deu-se com
a realização do curso de mestrado, concluído em 2001. Na dissertação,
trabalhamos com a formação territorial de Mossâmedes GO. A partir da análise
dos desmembramentos ocorridos nesse município e a consequente estruturação
de três outros, verificamos a importância do município para a cidade pequena, no
caso particular do Estado de Goiás. No caso específico de Mossâmedes, uma
questão que consideramos relevante é o fato de povoados com gênese no
mesmo período histórico, ao atingirem o status de município, terem crescimento e
desenvolvimento urbano de modo muito diferenciado. Essa diferenciação nos
despertou para a importância da análise dos processos socioespaciais pelos
quais passaram cidades com origens semelhantes e tão diferenciadas
atualmente.
O nosso trabalho tem, como referencial empírico, a cidade de
Sanclerlândia – GO, emancipada em 1963 por meio do desmembramento de
Mossâmedes. Localizada a 129 km a Oeste de Goiânia, de acordo com a
regionalização oficial do IBGE, integra a Microrregião de Anicuns que, por sua
1
Diversos trabalhos de graduação e pós-graduação em Geografia com o tema das cidades
pequenas foram apresentados em todos os eventos científicos relacionados no corpo do texto.
Destacamos os trabalhos de pós-graduação presentes nos encontros nacionais da ANPEGE. No
livro de resumos do VI Encontro Nacional (2005) foram relacionadas quatro comunicações
científicas, ambas no eixo Urbanização, Crise Urbana e a Cidade no Século XXI. No caderno de
programação do VII Encontro Nacional (2007) estão relacionados sete trabalhos, assim
distribuídos: no Grupo de Trabalho (GT) Ordenamento Urbano e Gestão Territorial, dois trabalhos;
no GT Regionalização e Globalização, um trabalho; no GT Urbanização da Sociedade, um
trabalho; no eixo Espacialidades do Mundo Contemporâneo, três trabalhos em forma de pôsteres.
20
vez, faz parte da Mesorregião Centro Goiano. Para a Secretaria de Estado do
Planejamento SEPLAN-GO, a cidade faz parte da Região de Planejamento
denominada de Oeste Goiano.
A questão que orientou a realização deste trabalho refere-se aos
processos de estabelecimento e ampliação da centralidade em Sanclerlândia. A
partir desta indagação inicial, outras duas foram abertas:
1. Quais os conteúdos da centralidade em Sanclerlândia?
2. Como os processos materializados nos conteúdos da centralidade
transformaram o espaço intraurbano e a relação interurbana de Sanclerlândia
na região?
Neste parágrafo, faremos uma breve digressão para explicitar o caminho
trilhado e expressá-lo de modo que contemple elementos teóricos e empíricos.
Consideramos essa tarefa necessária à pesquisa. Nesse sentido, apresentamos
na figura 1 o esquema da pesquisa, ou seja, uma representação esquemática do
caminho trilhado
2
.
Figura 1 – Esquema da pesquisa
2
Para maiores detalhes sobre o desenvolvimento da pesquisa, o leitor, se preferir, poderá
consultar o apêndice A: Descrição dos procedimentos metodológicos, ao final deste trabalho.
21
Com o objetivo de empreender respostas às questões suscitadas,
organizamos o trabalho em quatro capítulos e o texto final que não tem a
pretensão de ser conclusivo. Posteriormente, apresentamos as referências, três
apêndices e um anexo.
No capítulo um Sanclerlândia, espacialidades pretéritas: abrindo
pistas para o presente apresentamos a gênese da cidade e do município.
Entendemos, sem desconsiderar outras possibilidades, que essa forma de
apresentar a reflexão contribui para a análise e compreensão socioespacial atual,
haja vista que os processos das espacialidades pretéritas são significativos para o
entendimento do que acontece no presente. Isto posto, analisamos o surgimento
do Povoado do Cruzeiro; sua transformação em distrito de Mossâmedes com a
denominação de Sanclerlândia; a emancipação política de Sanclerlândia em
decorrência do desmembramento do município de Mossâmedes; a importância
das estradas para o surgimento e consolidação do Povoado do Cruzeiro, além
dos significados das rodovias pavimentadas para Sanclerlândia.
No capítulo dois Sanclerlândia, as bases materiais: processos
singulares? Analisamos o significado e a importância da agropecuária e do
comércio para a cidade, o que denominamos de antigas atividades para o
município e para a cidade. A prestação de serviços públicos e privados e a
indústria do vestuário são as novas atividades significativas para a cidade e
expressas nas alterações ocorridas em sua estrutura e paisagem urbanas. Desse
forma, as bases materiais, principalmente aquelas consideradas como novas, são
relevantes para os processos de transformações verificados na cidade, bem como
na relação estabelecida na e com a região.
No capítulo três Os papéis desempenhados por Sanclerlândia:
conteúdos e significados apresentamos e aprofundamos a análise sobre o
comércio, os serviços públicos e privados e a indústria do vestuário. A ampliação
dessas atividades na cidade ocorreu, sobretudo, a partir da década de 1990.
Assim, elas contribuíram para mudanças que causaram transformações nos
espaços intra e interurbano.
Os processos analisados nos três primeiros capítulos constituíram-se nas
bases para a compreensão das centralidades intra e interurbana em
22
Sanclerlândia, aspectos trabalhados no capítulo quatro – As articulações entre o
intra e o interurbano: o singular no particular. Então, analisamos a ampliação
da centralidade interurbana de Sanclerlândia e sua influência nas cidades de
Buriti de Goiás, rrego do Ouro e Mossâmedes. Os processos verificados
transformaram as relações interurbana e a constituição da estrutura urbana em
Sanclerlândia. No que se refere a este último aspecto, analisamos o processo de
constituição do centro da cidade na Avenida 5 de Janeiro. Atualmente, esse
centro apresenta descontinuidades que foram possibilitadas pelas escolhas
locacionais do poder público e dos agentes privados no processo de estruturação
urbana.
Dando continuidade, apresentamos o texto O econômico e o social
em Sanclerlândia. Com base em resultados dos questionários aplicados e em
observações realizadas na morfologia urbana, refletimos sobre aspectos da
cidade que se assemelham a quaisquer outras cidades brasileiras. Ou seja: o
econômico predomina sobre o social e as desigualdades existentes na sociedade,
mediante um olhar mais acurado, tornam-se perceptíveis na morfologia da
cidade.
Com o objetivo de aclarar os principais aspectos realizados na trajetória
da pesquisa, acrescentamos os seguintes apêndices:
A – a descrição dos procedimentos metodológicos;
B – o modelo do questionário aplicado;
C os quadros e as tabelas das questões abertas e desdobramentos das
questões fechadas;
D Informações sobre a Universidade Estadual de Goiás: Unidade Universitária
de Sanclerlândia.
Em sequência, complementando a parte pós-textual adicionamos o anexo
como se segue:
A o folder da XVI Expo Agro e VI Feira da Indústria, Comércio e Turismo de
Sanclerlândia, realizadas em 2007.
Em suma, esperamos que a organização e a apresentação deste trabalho
possam expressar a essência de sua realização de maneira conjunta e integrada.
CAPÍTULO I
SANCLERLÂNDIA: ESPACIALIDADES PRETÉRITAS – ABRINDO PISTAS
PARA O PRESENTE
A periodização das formas espaciais é a reconstrução do tempo espacial, ou seja, a colocação
em evidência dos momentos diferenciados que caracterizam o seu processo genético-evolutivo
(CORRÊA, 1994, p.78-79).
24
Neste capítulo, temos por objetivo traçar um quadro que apresente o
surgimento e o crescimento da cidade de Sanclerlândia. Não nenhum intuito
de “fazer uma história” da cidade, mas somente oferecer elementos significativos
dos processos espaciais que se desenvolveram ao longo dessa história.
Sanclerlândia, como grande parte das cidades brasileiras, originou-se no
século XX. Ao levar em conta a década de 1930 como referência inicial para a
fundação dessa cidade, temos, então, em 2010, oito décadas. Sem dúvida, esse
tempo é considerado pequeno, visto que as primeiras cidades surgiram há, pelo
menos, cinco mil e quinhentos anos (JOHNSON, 1974; MUNFORD, 1998).
A situação geográfica (figura 2) do núcleo urbano constituído a partir do
povoado do Barreirinho passou por um conjunto de mudanças significativas na
segunda metade do século XX. Em 1962, o povodo foi elevado à condição de
distrito de Mossâmedes e, logo em seguida (1963), ocorreu a emancipação. Nas
décadas de 1980 e 1990, as estradas que passam pela cidade foram
pavimentadas influenciando, assim, o estabelecimento de uma nova situação
geográfica devido à melhoria no acesso a outros lugares. Ou seja: ocorreu a
ampliação e a melhoria dos fluxos, num momento em que grandes
transformações se fizeram sentir em Goiás, no Brasil e no mundo, com a difusão
da internet e das novas tecnologias da comunicação e informação.
A redução da população rural, o aprofundamento das relações de
produção capitalista no campo, bem como o processo de urbanização integram
um conjunto amplo e complexo de transformações ocorridas no Brasil e
observadas no Estado de Goiás, sobretudo, a partir da década de 1970,
alcançando o início do século XXI. Nesse sentido, tendo por referência os
trabalhos dos geógrafos Deus (2003), Arrais (2004), Chaveiro e Calaça (2008) e
Castilho (2009), faremos uma breve digressão que objetiva contextualizar
sumariamente aspectos das principais transformações acontecidas nesta unidade
da federação.
Goiás está localizado, predominantemente, em áreas do Bioma Cerrado
3
cujos solos, até meados do culo XX, eram considerados impróprios para o
3
De acordo com Chaves (2008 p.310-311): “O cerrado é o maior bioma brasileiro depois da
Amazônia e concentra nada menos que 1/3 da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna
mundiais. [...] Os solos do Cerrado no Centro-Oeste foram considerados, até o final da década de
25
cultivo de produtos agrícolas em grande escala comercial nos moldes capitalistas.
Segundo Deus (2003, p.136), no Estado de Goiás,
A incorporação da técnica e ciência à produção agrícola, a
concentração de terras em poder de poucos proprietários e o
estabelecimento de grandes plantações com uso intensivo de
capital tiveram como consequência o esvaziamento do campo. As
áreas de cerrado atraem pessoal tecnicamente qualificado para
trabalhar na produção de modernas lavouras proporcionando
também o consumo de serviços especializados e mercadorias
sofisticadas. Isso fortalece a formação de uma classe média
urbana e o comércio de produtos até então não usuais.
Com mais de 80% da população concentrada nas cidades, a partir da
década de 1990, houve uma mudança definitiva da economia em Goiás com a
integração da agricultura, indústria e serviços (ARRAIS, 2004). Ainda de acordo
com Arrais (2004, p.159),
Nos últimos dez anos, Goiás passou por inúmeras
transformações: internacionalizou sua economia, modernizou as
relações de produção no campo, incorporando, cada vez mais,
setores da indústria e dos serviços à dinâmica agrícola.
As transformações mencionadas por Arrais podem ser compreendidas
como parte integrante de três fases contínuas da modernização do território e da
urbanização em Goiás (quadro 1).
Fases Característica
Primeira
A modernização conservadora, no período compreendido entre a
construção de Goiânia na década de 1930 à década de 1970.
Segunda
A intervenção estatal, as mudanças nas bases e densidades técnicas e a
consolidação da modernização da agricultura.
Terceira
A partir de 1990, ou seja, nas duas últimas décadas houve a consolidação
da monocultura, sobretudo da soja e, mais recentemente, da cana de
açúcar, enquanto parte dos processos de implementação e de
consolidação do agronegócio.
Quadro 1 – Fases da modernização do território e da urbanização em Goiás
Fonte: Elaborado com base em Chaveiro e Calaça (2008, p.300)
Elaboração: OLANDA, E.R. 2010
1960, impróprios à agricultura. De fato é mínima a proporção de LATOSSOLO roxo e terra roxa
estruturada: pouco mais de 5% do total. A pesquisa científica tornou os LATOSSOLOS que no
Centro-Oeste ocupam 90 milhões de hectares – em área mais propícia para as culturas de grãos”.
26
Segundo Castilho (2009, p. 100),
A constituição de Goiás como território produtivo foi possível a
partir da incorporação dos meios de produção. Acrescentam-se
aqui os meios infra-estruturais, como ferrovias, estradas,
urbanização dos ambientes, etc. A natureza desse território, hoje,
é técnica – é a produção que vai para o mundo.
O autor supracitado, a nosso ver, aponta três condições e condicionantes
para análise das transformações verificadas em Goiás, quais sejam:
a) as mudanças ocorridas na produção;
b) a implementação de infraestrutura, sobretudo a partir da década de 1980,
com a abertura e pavimentação de rodovias, ampliação da telefonia fixa e
móvel, etc.;
c) a consequente tecnificação do território.
Todos esses aspectos podem ser compreendidos como processos
articulados de modo interescalar, vez que culminaram com integração do estado
ao país e ao mundo da economia “globalizada”.
Assim ocorrendo, faz-se pertinente destacar que, tal como sucedeu em
âmbito estadual, Sanclerlândia passou, desde seus primórdios, por um processo
contínuo de transformações singulares que foram articuladas de modo particular
ao processo universal de transformações ocorridas no mundo. Dito em outros
termos, distinguimos para a cidade uma singularidade articulada a uma
particularidade do Estado de Goiás, por sua vez articulada à universalidade, ou
seja, os processos espaciais pelos quais a cidade passou e passa são singulares,
todavia não ocorreram de modo isolado
.
O presente capítulo foi estruturado em três partes. Na primeira,
apresentamos o surgimento e desenvolvimento do povoado, bem como sua
elevação à condição de distrito do município de Mossâmedes. O processo de sua
emancipação constitui a segunda parte. Na terceira e última fizemos uma análise
acerca da importância das estradas e do papel do cruzamento rodoviário (GOs-
164 e 326) para a cidade.
27
Figura 2 – Goiás: situação geográfica do município de Sanclerlândia, 2008
28
1.1 Do povoado ao distrito
A fundação do povoado que deu origem a Sanclerlândia é reconhecida
oficialmente, pelo IBGE, com a instalação de um estabelecimento comercial e tem
como referência o ano de 1943. Entretanto, em meados da década de 1930
havia uma venda
4
, a do Zé de Brito, ou seja, um estabelecimento comercial
instalado e funcionando em local próximo à atual rodoviária e ao cemitério
5
, às
margens da estrada que interligava Mossâmedes a Córrego do Ouro. Desse
modo, verificamos que a existência e importância da estrada antecedem o
surgimento do povoado.
Inicialmente, o povoado foi denominado de Barreirinho em alusão a um
curso d´água próximo. A fundação e a consolidação desse povoado ocorreu por
iniciativa de pessoas procedentes do Estado de Minas Gerais, de acordo com o
depoimento
6
do Sr.M.J.R.:
Em 1933, a família Rodrigues em Capelinha do Chumbo - MG
recebeu a visita do Sr. Joaquim Martins de Oliveira que residia
aqui nessa região, segundo informação. A família Rodrigues
resolveu vir pra em 1934, chegando a Goiânia havia começado
a construção da capital. Descendo para a região de Mossâmedes,
comprou uma fazendinha de uns 10 a 15 alqueires
7
de terras às
margens da estrada que demandava de Goiás para Córrego Ouro,
a única cidade que tinha aqui para baixo, a oeste; então, mais
tarde um dos filhos do meu avô, o Saint-Clair Rodrigues de
Mendonça tinha problemas de coração e não podia trabalhar na
roça; o meu avô pediu para ele fazer uma casa nas margens
dessa rodovia, onde se estabeleceu como comerciante para
atender os caminhoneiros e ganhou algum dinheiro. Ele faleceu
em 1958. Essa vinda dele pra cá e a doação de um terreno para a
construção de uma escolinha, começou-se então a vinda de
alguns moradores das fazendas para cá, onde começou a cidade
de Sanclerlândia. Com a escola o pessoal veio para ficar e morar
mais perto da aula e surgiu, assim, o povoado do Barreirinho que
mais tarde foi emancipado (M.J.R., em 20/02/08).
O depoente aponta quatro fatores relevantes para o surgimento do então
povoado do Barreirinho:
4
Estabelecimento comercial com produtos variados como, por exemplo: alimentos, armarinhos,
bebidas, fumo de rolo, sal, tecidos, entre outros.
5
Observar a figura 9, p.55 – Planta funcional de Sanclerlândia - GO: 2008.
6
Sobre os depoimentos, o leitor, se preferir, poderá consultar o apêndice A: descrição dos
procedimentos metodológicos, para realizar seus registros.
7
No Estado de Goiás um alqueire equivale a 48.400 m².
29
Goiânia, cuja construção e consolidação integram um projeto
nacional de ocupação do Centro-Oeste do Brasil. A construção de
uma cidade para ser a nova capital do Estado de Goiás fez parte de
um projeto do Estado Novo, denominado de Marcha para o Oeste,
cujos objetivos principais consistiam em ocupar e integrar o território
do oeste brasileiro à expansão capitalista.
A situação geográfica do novo núcleo às margens de uma estrada
que interligava Mossâmedes a Córrego do Ouro. Este fator será
trabalhado no subcapítulo 1.3.
A função de apoio desempenhada pelo núcleo, ou seja, ponto de
apoio aos caminhoneiros e outros viajantes. O Barreirinho, na
década de 1930, nasceu com função comercial e local de passagem
e, consequentemente, paradas de viajantes
8
.
A construção de uma escola contribuiu para aglutinar parte da
população local. Uma exigência do Governo Federal para a
liberação da verba para construção da escola era a doação de, no
mínimo, dois alqueires de terras. A Igreja católica doou um alqueire
e três fazendeiros doaram mais um alqueire e meio (MORAES,
1993). A escola foi construída devido à iniciativa de lideranças
locais que se articularam, em âmbito regional e estadual, para a
concretização de tão importante estabelecimento de ensino
9
.
Devido à influência religiosa, com a construção de um cemitério e fixação
de uma cruz para a realização dos rituais católicos e posterior construção de uma
capela, houve uma alteração na toponímia para Cruzeiro ou Cruzeirinho
10
. Essas
construções possibilitaram o encontro semanal das famílias dispersas nas
fazendas. A capela não tinha função estritamente religiosa, também se tornou o
8
Esta constatação possibilita lançar uma hipótese a ser trabalhada em uma etapa posterior. O
cruzamento rodoviário em Sanclerlândia, a partir da década de 1990, mediante a pavimentação
das rodovias, contribuiu para a consolidação das funções terciárias tais como comércio e
prestação de serviços públicos e privados?
9
As articulações locais para a instalação de estabelecimentos de ensino público foram
significativas também na década de 1990, visto que, no ano 2000, foi instalada uma Unidade
Universitária (UnU) da Universidade Estadual de Goiás.
10
O uso dos termos no diminutivo é muito presente na oralidade dos migrantes mineiros, isso foi
recorrente em alguns depoimentos gravados, como por exemplo: casinha, escolinha,
fazendinha, pracinha, prediozinho.
30
lugar que propiciava a sociabilidade; festas, namoros, romances, intrigas e brigas
aconteciam nesse local de encontro. Para realização dos rituais católicos, corridas
de cavalos, partidas de futebol e negócios, a população foi se aglutinando, aos
poucos, no entorno do cruzeiro e da Capela de São Sebastião. O Barreirinho
passou a ser chamado de Cruzeiro ou Alto
11
evidenciando e mesclando a
influência religiosa e a topografia na toponímia local.
Na década de 1930, com a construção de Goiânia e a transferência da
capital, o Estado de Goiás passou a receber um número expressivo de migrantes,
sobretudo no Mato Grosso de Goiás
12
, uma parte na porção centro-sul do estado
que atualmente é a Mesorregião Centro-Goiano
13
(Figura 3). A maioria dos
migrantes era oriunda de Minas Gerais. Segundo Olanda (2001, p. 33): “Os
mineiros fincaram suas raízes e fundaram povoados, constituindo, assim, núcleos
urbanos nessa região, inclusive Adelândia, Buriti de Goiás e Sanclerlândia,
distritos de Mossâmedes que viriam a se tornar municípios.”
Caetano (2002, p. 10) fez uma síntese sobre o surgimento de
Sanclerlândia:
A referida cidade de Sanclerlândia é similar a de outros municípios
goianos, surgiu com a colonização espontânea ocorrida entre a
década de 30 e 50, assim como São Luís de Montes Belos,
Firminópolis, Morrinhos entre muitos outros. Estas cidades tem
[sic] em comum terem sido fundadas por migrantes oriundos de
diferentes estados do Brasil, especialmente de Minas Gerais.
Com relação às afirmações de Caetano (2002), discordamos que fora
uma colonização espontânea, visto que, na primeira metade do século XX, a vida
em áreas do Mato Grosso de Goiás era muito difícil para os habitantes que
enfrentavam estradas precárias ou a inexistência delas, falta de escolas, doenças
como febres diversas e as longas distâncias para abastecimento de víveres.
11
Para maiores detalhes conferir Olanda, 2001, p.75-76.
12
A denominação de Mato Grosso de Goiás para o conjunto das áreas de mata na porção centro
sul do Estado de Goiás remonta ao século XIX. Na década de 1940, o geógrafo Spiridião Faissol
trouxe a denominação para a literatura geográfica: O Mato Grosso de Goiás’ é uma extensa
região florestal situada na parte centro-sul do Estado de Goiás. […] A origem do nome está ligada
ao tipo de vegetação e mais particularmente ao contraste que êle forma em relação ao resto da
paisagem. Desde o tempo que SAINT - HILAIRE percorreu esta zona, e provávelmente mesmo
antes, se conhecia esta parte do Estado como sendo o Mato Grosso” (FAISSOL, 1952, p.7).
Conferir também França (1985).
13
Conforme regionalização oficial do IBGE.
31
Parte dos migrantes que aportava no Mato Grosso de Goiás vinha em
busca de melhores condições de vida comparativamente às que tinham nos seus
lugares de origem
14
, sobretudo no oeste do Estado de Minas Gerais. Desse
modo, defendemos a hipótese de uma migração induzida pelo Estado e
impulsionada por dificuldades econômicas no local de origem dos migrantes, cuja
atração principal, na chegada, eram as terras consideradas férteis nas áreas de
matas a serem desbravadas e derrubadas. Afinal, de modo espontâneo, sem
necessidade, as pessoas arriscariam a própria vida e a de seus familiares nas
matas insalubres?
14
De acordo com o Sr. L. J.: “A razão dessa imigração que houve aqui na nossa região é a falta
de trabalho que passou em Minas Gerais. O Lugar [MG] foi ficando desmatado, foi acabando as
culturas de mato. Nessa época não existia arado, a não ser arrastado por boi [tração animal]. As
terras foram ficando muito cansadas e pararam de produzir. Naquela época não tinha os produtos
químicos que ajudam, hoje tem o calcário e os adubos químicos. A terra parou de produzir, tanto
assim, que vieram muitas pessoas de Minas Gerais pra cá [Sanclerlândia] que comiam arroz uma
vez por mês, no lugar do arroz, comiam era canja de milho. Então, descobriram que em Goiás
tinha muita terra fértil, muito lugar bom para as pessoas trabalhar e como as pessoas mais pobres,
a única coisa que aprenderam foi trabalhar na roça, plantar e colher; então vieram pra
[Sanclerlândia] para criar a família” (Sr. L. J. natural de Araguari-MG e residente em
Sanclerlândia. 6/10/2000)
32
Figura 3 – Goiás: Mato Grosso de Goiás, 1955
33
Em referência à intensa migração interna para o Estado de Goiás, na
década de 1930, baseando-se nos dados do Censo Demográfico de 1940, Sousa
(1949, p. 39) destacou que,
Goiás é estado pioneiro. Uma nova fronteira humana vem ali se
abrindo de 20 anos a essa parte, com fôrça cada vez maior. De
todos os lados migram nacionais de outras áreas de nosso
território para ali. Êste Estado do Centro-Oeste é, pois, o que mais
brasileiros de outras regiões da Federação recebe. Efetivamente,
mostraram os dados do último recenseamento que num total de
823.619 brasileiros identificados em Goiás naquele ano, 668.139
eram naturais da própria Unidade e, enquanto que 155.480, ou
seja 18,88% eram naturais de outras unidades. Nesse particular
Goiás perdia apenas para o Distrito Federal e Acre. [...] E o fato é
tanto mais digno de menção quanto verificamos ser Goiás não
apenas o terceiro a receber acréscimo positivo de emigrantes de
outros Estados como é também um dos últimos (perde apenas
para Amazonas, Mato-Grosso e Acre) a perder, nativos por
emigração para, para outras unidades brasileiras.
Enquanto o Estado de Goiás era o terceiro que mais recebia migrantes, o
Mato Grosso de Goiás era a área do estado que recebia a maioria deles,
sobretudo os mineiros. A cidade de Goiás havia perdido parcialmente a sua
importância com a construção de Goiânia e a transferência da capital; entretanto,
o mesmo não aconteceu com determinadas áreas de seu município, dentre elas o
então distrito de Mossâmedes que recebeu, na década de 1930, muitas famílias
provindas do Estado de Minas Gerais. Costa e Costa (1993, p.7, grifos nossos)
destacaram a chegada de mineiros que viriam a fundar o povoado do Barreirinho
e outros:
Por aqui moravam os mineiros: José Martins de Oliveira,
Joaquim Martins de Oliveira, Artur e Vergílio Valeriano, todos
amigos de Antônio Rodrigues e Sancler. Também habitavam por
aqui as famílias Alves de Almeida, Gomes Pereira, Nunes dos
Reis. Em 1939, vieram de Araguari, as famílias Lopes Cardoso,
Campos, Borges e neste mesmo ano chegou por aqui Antônio
Mendonça, o senhor Licurgo de Oliveira e o senhor Dolor de Faria.
Desta forma foram povoando a região do Distrito de Mossâmedes,
por causa das notícias das boas qualidades de terras aqui
existentes, e as fazendas lotavam de gente de Minas, de São
Paulo e do nordeste (sic), aumentando a população e dando
origem a povoações diversas, como os povoados de Campo das
Perdizes, Buriti, Sanclerlândia, Fartura e Adelândia.
O trabalho mencionado vai além das estatísticas, pois cita de modo direto
famílias já residentes e outras que chegaram ao distrito de Mossâmedes na
34
década de 1930. Essa chegada massiva de mineiros também foi comprovada por
Olanda (2001) em pesquisa sobre a formação territorial de Mossâmedes.
A elevação do povoado à condição de Distrito de Mossâmedes é o que
dicutimos no tópico a seguir.
1.1.1 Do povoado do Cruzeiro a Sanclerlândia, um Distrito de Mossâmedes
Desde o início do povoado, de acordo com os depoimentos e com a
bibliografia consultada, notamos que houve uma combinação de forças locais que
articulavam ações, no sentido de dinamizar e consolidar o povoado, transformá-lo
em distrito e promover a sua emancipação.
Ao considerar Sanclerlândia como uma cidade e a cidade como uma
materialização da urbanização, entendemos que os processos de formação do
povoado, criação do Distrito e a sua posterior emancipação podem ser analisados
de acordo com as elaborações do pensador francês Henri Lefebvre (2004),
especialmente no que se refere às ordens próxima e distante na cidade, conforme
o quadro 2.
Ordem próxima Ordem distante
“Relações dos indivíduos em
grupos mais ou menos amplos,
mais ou menos organizados e
estruturados, relações desses
grupos entre eles.”
“A ordem da sociedade, regida por grandes e
poderosas instituições (Igreja, Estado)”.
“A cidade é uma mediação entre
as mediações. Contendo a ordem
próxima, ela a mantém, sustenta
relações de produção e de
propriedade; é o local de sua
reprodução.”
“Contida na ordem distante, ela se sustenta;
encarna-a; projeta-a sobre um terreno (lugar) e
sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade
inscreve essa ordem, prescreve-a, escreve-a, texto
num contexto mais amplo e inapreensível com tal e
não ser para a meditação.”
Quadro 2 - Ordens na cidade, de acordo com Lefebvre, (2004, p. 46)
Organização. OLANDA, E. R. 2007
As articulações, cujos objetivos eram consolidar o povoado, transformá-lo
em distrito e conquistar a emancipação política, comprovam ações dos grupos
35
locais organizados (ordem próxima) em função de determinadas finalidades, ou
seja, não eram e não são aleatórias. A presença do Estado e de instituições como
a Igreja católica (ordem distante) implica articulações aparentemente simples que
foram e são significativas para a cidade pequena. No caso específico da análise
aqui empreendida, os estabelecimentos comerciais, a capela católica de São
Sebastião (foto 1), uma escola pública e um cemitério constituíram os pilares
iniciais do que é, atualmente (2010), a cidade de Sanclerlândia.
Foto 1
Sanclerlândia: igreja de São Sebastião
Foto: OLANDA, V. R. 2008
O surgimento do povoado do Barreirinho deve ser entendido com um
olhar nas escalas local, estadual e nacional, visto que a “onda migratória”
direcionada ao Estado de Goiás, nas décadas de 1930 e 1940, tem suas raízes
em um projeto nacional amplo e denominado de Marcha para o Oeste. Esse
projeto, empreendido pelo Estado Novo
15
, provocou grandes transformações no
Oeste do país, de modo geral, e, particularmente, em Goiás. Com relação às
15
Período histórico compreendido entre 1930-1945, também conhecido e/ou denominado de Era
Vargas.
36
transformações, uma síntese pode ser encontrada em Barreira (1997, p. 21, grifos
nossos):
A partir da década de 1940, iniciam-se, então, grandes
transformações em Goiás, com novas vias de penetração ao Sul
do Estado e o inicio de regulamentação de terras devolutas
(criação do Escritório de Terras na década de 1940), assim como
toda uma política e incorporação de novas áreas emanadas da
Marcha para o Oeste. O deslanche ocorrido nesta década far-se-
á nas áreas de matas e solos férteis, como as do Sudoeste
goiano, as manchas de mata ao longo da Ferrovia, a região do
antigo Mato Grosso de Goiás, o vale do São Patrício e a
vertente goiana do Paranaíba. Essas regiões constituíram
verdadeiras frentes de ocupação impulsionadas pelo poder
público através de iniciativas como a fundação de Goiânia, a
implantação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás e a criação da
Fundação Brasil Central.
O surgimento do povoado do Barreirinho que deu origem a Sanclerlândia
coincide com as transformações mais amplas ocorridas no Estado de Goiás e,
desse modo, reafirmamos aqui a posição divergente das análises que consideram
o surgimento dos povoados no então município da cidade de Goiás e no Mato
Grosso de Goiás, entre eles o Barreirinho, como frutos de uma colonização
espontânea. As ações do Estado Brasileiro na Marcha para o Oeste foram
indutoras do povoamento, ou seja, o que parece ter sido espontâneo teve no
Estado Brasileiro um poderoso indutor, embora o projeto de colonização oficial de
maior visibilidade em Goiás tenha sido o da Colônia Agrícola Nacional de Goiás
(CANG) que deu a origem à cidade de Ceres.
Além dos projetos de colonização oficial, houve a construção de Goiânia
com a consequente transferência da capital e, no seu bojo, ações que atraíram
migrantes para o estado. Nesse sentido, podem ser lembradas inclusive ações no
campo da Geografia acadêmica como a Assembleia Anual da Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB) ocorrida em Goiânia, em 1948. Essa Assembleia
realizou trabalhos de campo no Mato Grosso de Goiás (ABREU, 1994).
Entendemos que tais ações articuladas pelo Estado e pela sociedade foram
indutoras da colonização e, consequentemente, do povoamento.
No início da década de 1950, enquanto, de maneira geral, o Estado de
Goiás e, particularmente, o Mato Grosso de Goiás (figura 3) continuavam com o
crescimento impulsionado pelas ações desenvolvidas nas décadas de 1930 e
37
1940, o povoado do Cruzeiro entrou em declínio. Esse declínio deu-se em
decorrência do acirramento dos conflitos, no plano político, entre grupos
instalados na sede do Distrito de Mossâmedes e aqueles instalados no povoado
do Cruzeiro.
Consideramos conflito o termo adequado para descrever a situação de
embate político entre os grupos; a adoção do termo divergência seria muito suave
para uma explicação plausível. A escola pública, em pleno funcionamento, foi
temporariamente desativada, haja vista que os professores foram transferidos
para outras escolas do Distrito de Mossâmedes. Famílias abandonaram o local; a
estrada que interligava Mossâmedes a Córrego do Ouro foi desviada do povoado
do Cruzeiro; pontes foram destruídas. Tudo isso pode ser entendido como
acirramento de conflito, muito além de divergências políticas. Moraes (1993, p.
42) descreveu assim o declínio do povoado do Cruzeiro:
Mossâmedes quase acabou com o povoado que tinha então
várias casas, algumas lojas (a primeira tinha sido de Onésimo de
Vieira), armazéns, uma pensão, a farmácia do Olívio, entre outras
comodidades. A estrada que cortava o povoado foi mudada de
lugar, a ponte da Água fria foi derrubada. As escolas foram
transferidas. Olívio foi para a fazenda Coelho e Domingos
Guimarães para a Fazenda Engenhoca, para além dos limites de
Mossâmedes. O Cruzeirinho entrou em decadência. Os
moradores foram mudando para outros povoados e cidades. Uns
foram para o Buriti, um povoado próximo, outras pessoas
buscaram a capital e houve até quem transpusesse as fronteiras
estaduais, a maioria destinando-se ao Pará.
Tomando como metáfora a ponte destruída podemos afirmar que o
povoado recebeu um banho de água fria, ou seja, sofreu um revés em seu
processo espacial e histórico. O Cruzeiro ou Cruzeirinho passava por um declínio,
inclusive com a saída de parte dos moradores em consequência dos confrontos
políticos; os então Distritos de Mossâmedes (figura 4) e Córrego do Ouro
desmembram-se da cidade de Goiás, obtêm a autonomia política e são elevados
ao status de município em 1953. O povoado do Cruzeiro foi elevado a município
uma década mais tarde, ou seja, em 1963 (quadro 3).
38
Figura 4 – Goiás: município de Mossâmedes, 1955
39
Município Área atual (em Km²) Data da criação Lei de Criação (nº) Desmembrado de:
Adelândia 115 27-01-1988 10.396 Mossâmedes
Americano do Brasil 134 10-06-1980 8.844 Anicuns
Anicuns 962 07-06-1911 388 Palmeiras de Goiás
Aurilândia 565 08-10-1948 173 Paraúna
Avelinópolis 164 14-11-1963 4.921 Anicuns
Buriti de Goiás 199 29-04-1992 11.702 Mossâmedes
Firminópolis 406 07-10-1948 17 Paraúna
Mossâmedes 684 14-11-1953 722 Goiás
Nazário 300 25-08-1948 1214 Anicuns
Sanclerlândia 497 13-11-1963 4.897 Mossâmedes
Santa Bárbara de Goiás 140 23-10-1963 4.710 Trindade
São L. de Montes Belos 826 12-10-1953 805 Goiás
Turvânia 472 14-11-1958 2.112 Anicuns
Córrego do Ouro
16
462 24-09-1953 776 Goiás
Quadro 3 - Microrregião de Anicuns: gênese dos municípios
Fonte: disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/ documentação territorial do Brasil. Acesso em
30 de jan. de 2008 Organização: OLANDA, E.R. 2008
Os processos socioespaciais não são lineares, o declínio ocorrido num
momento pode ser ampliado ou revertido em outro. Antes de findar a década de
1950, a situação mudou, a estrada voltou a ter o seu curso passando pelo
povoado, a escola foi reaberta com a volta dos professores, pessoas retornaram e
outras chegaram; um novo dinamismo atingiu o Cruzeiro e uma prova disso, no
plano econômico, foi a fundação e instalação, em 1958, do laticínio Flor Goiana,
cuja função principal era a de agregar valor ao leite produzido nas fazendas
próximas, com fabricação de queijos, manteiga e doce; esse laticínio constituiu a
base do que é, atualmente, uma brica de queijos e doce de leite controlada por
empresa multinacional com sede fora do Brasil
17
.
16
Córrego do Ouro integra oficialmente a Microrregião de Iporá.
17
Este pode ser considerado como um exemplo da ordem distante atuando na cidade. Em
14/04/2008, a empresa Leitbom, proprietária do laticínio em Sanclerlândia, foi vendida ao grupo
GP Investimentos, com sede em São Paulo. Por sua vez, este grupo é controlado pela GP
Investments, cuja sede encontra-se nos Estados Unidos. De acordo com informações obtidas no
site <
http://www.mzweb.com.br/gp2009/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&tipo=23920&conta=28&id_
arquivo=86068.>
Acessado em 1 mar. 2010: “A GP Investments é líder no mercado de private equity
na América Latina. Sua missão é gerar rendimentos excepcionais no longo prazo para seus
investidores e acionistas. Desde sua constituição, em 1993, foram captados aproximadamente
US$ 3 bilhões de investidores e adquiridas 46 companhias em 14 diferentes setores da economia”.
40
O intenso e acirrado conflito político entre os grupos do Cruzeiro e de
Mossâmedes passou para um plano de divergências apenas por um curto
período. As divergências e disputas ainda podem ser notadas nas falas dos
moradores das duas cidades, de acordo com observações feitas por nós em
trabalhos de campo.
Oficialmente, o povoado do Cruzeiro ou Alto recebeu a denominação de
Sanclerlândia com sua elevação à condição de Distrito de Mossâmedes em 1962
(figura 5), em homenagem póstuma, uma vez que o Sr. Saint-Clair faleceu, em
1958, e o povodo era, então, conhecido pelo nome de terra de Saint-Clair; mais
uma vez a toponímia local foi alterada e, desta vez, oficializada por força da Lei
Municipal de Mossâmedes, nº. 119, de dois de dezembro de 1962:
A Câmara Municipal de Mossâmedes decreta e eu sanciono a
seguinte Lei: Art. - Ficam criados os Distritos de Sanclerlândia,
Buriti e Aparecida, nêste município, a partir da presente data, por
consideração de haverem os povoados atingido os requisitos
necessários e mais os alegados na justificação do presente
Projeto de Lei, devendo os mesmos sérem sédes dos Distritos.
[...] Gabinete do Prefeito Municipal de Mossâmedes, aos dez (10)
dias do mês de dezembro de 1962.
Sanclerlândia foi distrito de Mossâmedes por menos de um ano. Havia no
povoado um grupo organizado que lutava pela autonomia política que viria a
ser conquistada num embate entre vereadores de Sanclerlândia e do distrito
sede, ou seja, Mossâmedes, tema que será melhor detalhado no subcapítulo
seguinte.
41
Figura 5 – Goiás: município de Mossâmedes, 1962
42
1.2 Do distrito ao município
No subcapítulo precedente, foi destacado o intenso embate político
transformado em conflito entre pessoas do povoado do Cruzeiro e de
Mossâmedes, ou seja, entre os que defendiam a emancipação, bem como a
consequente autonomia do povoado e posterior distrito e aqueles contrários à
autonomia.
O auge do conflito ocorreu na campanha eleitoral para as eleições
municipais em 1962. De um lado, estavam as forças políticas instaladas no
Cruzeiro, cujo objetivo principal era eleger quatro dos sete vereadores, constituir
maioria na Câmara e controlar o Poder Legislativo Municipal. Do outro lado,
aglutinavam-se os grupos políticos sediados em Mossâmedes e contrários à
emancipação. Os dois grupos tinham, ao seu modo, razões para defenderem as
suas posições.
Com a emancipação política, o Cruzeiro ganharia poder e força, a
autonomia significaria um aporte maior de verbas, bem como a criação de novos
cargos públicos com a instalação da administração municipal, entre outros.
Entretanto, Mossâmedes iria perder parte do seu território, população,
arrecadação, enfim, perderia poder. Segundo Raffestin (1993, p. 53), “o poder se
manifesta por ocasião da relação. É um processo de troca, ou de comunicação
quando, na relação que se estabelece, os dois pólos fazem face um ao outro ou
se confrontam.” No caso específico, os dois polos se confrontaram, visto que os
interesses em disputa eram relativos ao controle e uso do território. A disputa
institucional foi travada por meio do acesso e controle do poder Legislativo
Municipal, todavia essa é apenas uma face do confronto, outra face mais extrema
ainda está guardada na memória das pessoas e, desse modo, o depoimento do
Sr. A.C. F, demonstra, de modo contundente, o confronto pelo poder e pelo
território.
Sanclerlândia, de 1960 para cá, teve um grande desempenho. Eu
me lembro muito bem na época da emancipação, 05 de janeiro de
1964. Teve uma grande repercussão entre Sanclerlândia e
Mossâmedes, naquela época o Olívio dominava aqui a cidade, ele
era fundador da cidade, ficou no lugar do seu sogro, o Saint-Clair.
Teve uma rivalidade entre o Olívio e o Lincoln de Mossâmedes,
inclusive nós perdemos um companheiro o Onésimo de Jesus
43
Vieira, morto lá na cidade de Adelândia, pelo assassino Zeca
Sabino (Sr., A.C. F, em 19/02/2008
).
O depoente, ao seu modo, denomina suavemente o confronto de
repercussão entre Mossâmedes e Sanclerlândia, contudo utiliza expressões
fortes, tais como “dominava aqui a cidade”, “teve uma rivalidade”, para
demonstrar o seu entendimento do conflito cujo extremo ocorreu com o
assassinato de um candidato a vereador pelo Distrito de Sanclerlândia. Esse
assassinato impulsionou a luta pela emancipação. Em Sanclerlândia, pessoas
que afirmam que o candidato assassinado já era vereador, como o Sr. C.L. D. (em
17/02/08): “Veio a emancipação através do vereador Onésimo de Jesus Vieira e
Olívio Mendonça, foi crescendo e está no que está hoje”. De fato, a segunda
pessoa citada realmente foi eleita vereador e prefeito por dois pleitos, no entanto,
a primeira, considerada mártir da emancipação, não chegou a ser vereador; foi
assassinada durante a campanha eleitoral, portanto, não disputou a eleição, como
consta no depoimento do Sr. A.C.F. e na bibliografia consultada.
De acordo com os preceitos legais vigentes no período, o distrito de
Sanclerlândia foi desmembrado de Mossâmedes (conferir figura 6) pela Lei
Estadual nº. 4897 de 17 de novembro de 1963:
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS
DECRETA e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - É criado o município de Sanclerlândia, que se constitui da
área territorial do distrito do mesmo nome e do de Aparecida, do
município de Mossâmedes.
[...] Art. 3º - A sede do município será a do atual distrito de
Sanclerlândia, a que se atribuem fóros de cidade.
Art. - O têrmo Judiciário de Sanclerlândia se subordinará à
Comarca de Mossâmedes.
Art. - Os Poderes Executivo e Judiciário tomarão as
providências necessárias à instalação do município criado pela
presente Lei, no dia 1º de janeiro de 1964.
[...] PALÁCIO DO GOVÊRNO DO ESTADO DE GOIÁS, em
Goiânia, aos 5 de dezembro de 1963, 76º da República. (D. O. de
20/12/63)
Em cumprimento à lei de emancipação, a instalação do município ocorreu
em primeiro de janeiro de 1964. Formado pelos distritos de Sanclerlândia e
Aparecida (figuras 5 e 6), atualmente (2010), é um município monodistrital, ou
seja, Aparecida perdeu a condição de distrito. Permanece a área original de 497
44
km², uma vez que, não houve desmembramentos e nem perda de áreas para
outras unidades.
Com o objetivo de contextualizar o surgimento de Sanclerlândia, a sua
transformação em distrito e, posteriormente, em município, muitas datas foram
mencionadas neste texto, desse modo, apresentamos uma síntese cronológica
parcial (quadro 4).
Ano ou período Marco Espacial/Histórico
Década de 1930 Intensificação da ocupação por migrantes mineiros.
Primeiro estabelecimento comercial: Venda do Zé de Brito.
1943 Fundação de um estabelecimento comercial às margens da
estrada que interligava Mossâmedes a Córrego do Ouro:
Venda do Saint-Clair.
Final da década de
1940
Um cruzeiro é erigido ao lado do Campo de futebol, nas
proximidades da atual Praça Hermógenes Coelho.
1947 Abertura e funcionamento da primeira sala-de-aula.
Inicio da década de
1950
Problemas políticos com a sede do Distrito em Mossâmedes
e isolamento com a precariedade das estradas provocaram a
saída de algumas famílias do Povoado do Cruzeiro.
Inauguração da primeira escola.
1955 - 1960 Retorno de parte das famílias que haviam deixado o povoado
e chegada de outras.
Fundação do laticínio A Flor Goiana.
1962 O povoado do Cruzeiro é elevado a Distrito de Mossâmedes
com a denominação de Sanclerlândia.
1963 Desmembramento de Mossâmedes e emancipação política.
1964 Instalação do município.
Quadro 4
Sanclerlândia: síntese cronológica parcial
Fontes: diversas Organização: OLANDA, E. R. 2008
45
Nos subcapítulos 1.1, 1.2 utilizamos as denominações Barreirinho,
Cruzeiro, Cruzeirinho, Alto e Sanclerlândia. Nesse sentido, para facilitar a
compreensão, apresentamos, a seguir, um quadro síntese cujas datas são
apenas referências, não constituindo, assim, delimitações rígidas.
Denominação Fase ou período
Barreirinho, primeira
denominação
Segunda metade da década de 1930 e início da
década de 1940.
Cruzeirinho, Cruzeiro
ou Alto
Meados da década de 1940, com a intensificação
dos rituais católicos no local do cruzeiro.
Sanclerlândia Oficializada em 1962, com a elevação do povoado a
distrito de Mossâmedes. Permaneceu com a
emancipação em 1963.
Quadro 5
Sanclerlândia: síntese da toponímia
.
Organização: OLANDA, E.R. 2008
46
Figura 6 – Goiás: municípios de Mossâmedes e Sanclerlândia, 1964
47
1.3 Dos caminhos à cidade no cruzamento rodoviário pavimentado
[...] A cidade está bem localizada numa rota entre Goiânia e Mato Grosso, uma
rodovia que interliga a capital de Goiás ao Mato Grosso
18
”.
A epígrafe é fragmento de um depoimento. O depoente sintetiza a sua
visão da situação geográfica de Sanclerlândia. Ao consultar o mapa rodoviário do
Estado de Goiás, pudemos comprovar que, de fato, a cidade está no eixo
rodoviário citado. Nas observações realizados em trabalhos de campo,
constatamos na Estação Rodoviária de Sanclerlândia que paradas de ônibus
que fazem uma linha interestadual, interligando Goiânia a Cocalinho, no Mato
Grosso.
A ampliação da malha rodoviária no Estado de Goiás, bem como a
intensificação da pavimentação de rodovias ocorreu, sobretudo, a partir do último
quartel do culo passado. Antes desse período, especialmente na primeira
metade do século XX, no Estado de Goiás, de maneira geral, e no Mato Grosso
de Goiás, em particular, as estradas eram muito precárias. Faissol (1953, p.176)
assim as descreveu:
Nesta região as estradas são as piores possíveis, a distância dos
principais mercados compradores é muito grande e portanto o
frete muito aumentado; estas distâncias ao invés de serem
reduzidas ao mínimo por uma rêde de estradas bem planejadas
são aumentadas por caminhos improvisados, reduzindo os lucros
dos lavradores que são mínimos e desencorajadores. A solução é
sempre o desvio de terras de primeira qualidade para a criação de
gado.
As providências para a melhoria dos caminhos existentes e a
necessidade de abertura de novas estradas também foram apontados por Faissol
(1953, p. 177):
Os fazendeiros da região estão se cotizando a fim de construírem
uma estrada que ligará Córrego do Ouro a Anicuns, pois isto
encurtará sensivelmente à distância para Anápolis; esta estrada
trará grande incentivo à lavoura nesta região, que atualmente está
se transformando em uma região de criação de gado. Além disso
uma outra estrada está sendo construída pela Comissão de
Estradas de Rodagem de Goiás, vai ligar Goiânia a Iporá,
passando provavelmente por Firminópolis e Córrego do Ouro
.
18
Depoimento Sr. S. A. L. (em 20/02/2008).
48
A abertura da estrada não ocorreu, como também se tornou uma das
mais importantes rodovias estaduais, na cada de 1960. Gomes (1969)
relacionou as quatro rodovias estaduais mais expressivas no Estado de Goiás,
dentre elas a GO 03 Goiânia-Firminópolis. Atualmente, esta rodovia constitui
apenas um trecho da GO 060 que interliga Goiânia a Iporá.
A importância e o significado das rodovias para o nascimento de cidades
no Estado de Goiás foram muito bem sintetizados por Alegre (2003, p.76):
[...] A marcha do povoamento e ocupação de novas terras,
facilitadas pela rede de estradas que se constroem e, solicitadas
cada vez mais pelo maior consumo nos grandes centros
populacionais, força o homem para essas áreas vazias e assim, é
inegável que muitas cidadezinhas e povoados surgirão ainda na
incipiente rede urbana goiana.
Ao longo do século XX, sobretudo na segunda metade, a abertura e
a pavimentação de rodovias contribuíram de forma decisiva para reconfigurar o
território e a urbanização em Goiás. Segundo dados da Secretaria de Estado do
Planejamento, atualmente a malha rodoviária em Goiás é maior, com cerca de 25
mil km de rodovias, sendo menos da metade pavimentadas, (tabela 2), todavia
parte significativa das rodovias estaduais e federais não tem passado pelas
devidas e necessárias manutenções.
Tabela 1 Goiás: rede rodoviária, 2007
Categoria Total
(km)
Planejada
(km)
Não pavimentadas
(km)
Pavimentando
(km)
Pavimentada
(km)
Federal 4.159,0 637,7 244,9 222,4 3.054,0
Estadual coincidente
com Federal
2.025,0 0,0 259,0 98,0 1.668,0
Estadual 18.747,3 1.129,0 8.863,0 1.126,3 7.629,0
Total 24.931,3 1.766,7 9.366,9 1.446,7 12.351,0
Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/GoDados/2007/dados/07-01-Transporte.htm. Acesso
em: 20 set. 2008 Adaptação: OLANDA, E.R. 2008
O traçado das rodovias contribuiu para dinamizar ou diminuir a
importância de determinadas cidades. De acordo com Barbosa, Teixeira Neto e
Gomes (2004, p. 69), “Associado ao efeito transformador das estradas, a
atividade agropastoril no território
goiano-tocantinense é ‘mãe’ direta de mais de
dois terços das cidades e, indiretamente, de praticamente todas elas”.
49
Sanclerlândia é uma das cidades goianas influenciadas pela abertura e
pavimentação de rodovias (figura 2). Essa influência não deve ser analisada e
não pode ser compreendida com referenciais para as cidades médias ou espaços
metropolitanos, uma vez que se trata de uma cidade pequena e os referenciais
para as análises de dinâmica desse tipo de cidade são diferenciados daqueles
utilizados para as cidades maiores.
O depoimento a seguir ilustra bem o significado e a importância da
pavimentação das rodovias. Ao seu modo, o depoente destaca a interferência das
rodovias e apresenta a compreensão do “encurtamento das distâncias” e a
redução do tempo nas viagens:
Onde era estrada de chão, hoje são todas asfaltadas como foi
ligando para São Luís de Montes Belos, Mossâmedes, Córrego do
Ouro, Novo Brasil e Jussara, hoje é asfalto. A cidade não tem
como dizer daquela época [estradas de chão] para hoje, modificou
totalmente, como eu disse, se aqui era um sertão, hoje se torna
interior, mas naquele tempo era um sertão. Então modificou muito,
evoluiu muito, nem se pode comparar aquele tempo com hoje.
Dos meus conhecimentos, por exemplo, quando o meu pai
trabalhava de caminhoneiro não tinha asfalto, chegava pessoas,
dizia para onde ele [pai] foi? viajando. Para onde? Goiânia.
Hoje chega fala: cadê ele [pai]? Saiu. Onde ele foi? Ali, em
Goiânia. Tudo modificou. (Sr. L. A. O.).
Ao destacar que, com a pavimentação das rodovias, a cidade deixa de
ser um sertão e passa a ser interior, o Sr. L. A. O. aponta e alerta sobre os limites
da influência das rodovias, visto que há outros fatores significativos a serem
considerados. O cruzamento rodoviário tem a sua devida importância, todavia não
deve ser analisado de modo isolado.
Sobre o papel e o significado das rodovias e do cruzamento rodoviário
para Sanclerlândia, foram elaboradas quatro questões para a pesquisa de
campo
19
. Os dados serão demonstrados nos gráficos e tabelas a seguir (figuras 7
e 8, tabelas 2 e 3).
19
Para saber detalhes sobre a amostra da pesquisa e o questionário aplicado, o leitor poderá
recorrer ao apêndice A: descrição dos procedimentos metodológicos, ao final deste trabalho.
50
O Cruzamento rodoviário para
Sanclerlândia tem
6%
22%
72%
Pouca importância
Média importância
Grande importância
Figura 7
Importância do cruzamento rodoviário para Sanclerlândia
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E. R. 2009
Perante o questionamento sobre a importância do cruzamento rodoviário
para Sanclerlândia (figura 7), 72% das pessoas entrevistadas afirmaram ter
grande importância; 22% responderam que tem média importância e para 6% tem
pouca importância, ou seja, o cruzamento rodoviário não é significativo. Como
pode ser verificada na figura 7, a maioria das pessoas destacou a relevância do
cruzamento rodoviário para a cidade.
Em resposta a outra questão (figura 8), 265 pessoas (78% das respostas)
indicaram que a pavimentação das rodovias (GOs 164 e 326) provocou
modificações na cidade, enquanto para 73 (22%) não houve modificações na
cidade em decorrência da pavimentação das rodovias.
51
Legenda
A pavimentação das rodovias provocou
modificações e transformações na
cidade?
78%
22%
Sim
Não
Figura 8 – A pavimentação das rodovias provocou modificações e transformações
em Sanclerlândia?
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E. R. 2009
Na primeira parte deste capítulo, demonstramos que uma estrada
antecedeu o povoado do Barreirinho e o município de Sanclerlândia. A
pavimentação das rodovias (GO 164 e 326), na década de 1990, contribuiu para a
ampliação das relações interurbanas da cidade, uma vez que facilitou as relações
com outras cidades.
Solicitados a apontar aspectos melhorados na cidade com a
pavimentação das rodovias (tabela 2), o acesso e a relação com outros lugares
foram os mais lembrados por 26% dos entrevistados; o fluxo de pessoas e
veículos na cidade obtiveram 19%, seguidos do comércio com 18%. É
interessante registrar que 3% dos entrevistados afirmaram que tudo melhorou na
cidade com a pavimentação das rodovias.
52
Tabela 2 Sanclerlândia: decorrências positivas da pavimentação de rodovias,
2009
Aspectos melhorados em Sanclerlândia com a pavimentação das
rodovias
N° de respostas obtidas %
Acesso, comunicação e relação com outras cidades 68 26%
Aumento no fluxo de pessoas e veículos na cidade 50 19%
Comércio 46 18%
Organização do trânsito na cidade 30 11%
Aspectos relacionados com atividades econômicas, exceto comércio 23 9%
Tudo melhorou 8 3%
Outros 30 11%
Não soube informar 10 3%
Total 265 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009
Organização: OLANDA, E.R. 2009
A última questão sobre as rodovias abordou os aspectos negativos em
decorrência da pavimentação (tabela 3).
Tabela 3 Sanclerlândia: decorrências negativas da pavimentação de rodovias,
2009
Aspectos negativos em Sanclerlândia com a pavimentação das
rodovias
N° de respostas obtidas %
Não houve contribuição negativa 197 75%
Não soube informar 29 11%
Problemas sociais (violência, tráfico de drogas, assaltos, etc.) 14 5%
Acidentes nas estradas e na cidade 9 3%
Aumento no fluxo de pessoas e veículos na cidade 9 3%
Outros 7 3%
Total 265 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Para 75 % dos entrevistados não houve nenhuma decorrência negativa
para a cidade, 11% não soube informar sobre o assunto. Aumento no fluxo de
pessoas e veículos na cidade, acidentes nas estradas e na cidade, problemas
sociais como violência, tráfico de drogas e assaltos foram aspectos negativos
apontados por 3% dos entrevistados. Os 5% referentes aos problemas sociais,
quantitativamente são pouco significativos, todavia, qualitativamente, contribuem
para desmitificar as ideias de “paz e tranquilidade” existentes na cidade pequena.
Ela não está imune aos problemas sociais existentes na sociedade, apenas
53
apresenta especificidades que não podem ser vistas e compreendidas com o
mesmo olhar direcionado às cidades maiores.
Um último aspecto a ser abordado sobre a influência das rodovias na
cidade refere-se às influências na morfologia urbana
20
. A forma alongada do
tecido urbano, em Sanclerlândia
21
, acompanha a rodovia GO-326 e apresenta
semelhanças com a aldeia alongada ou aldea caminera. “A aldeia-rua é a que
melhor se presta ao contato direto entre a casa rural e seus campos” (GEORGE,
1982, p.135). As afirmações de George são relativas a um tipo de aldeia da
Alemanha. A extensão alongada da cidade, no sentido leste-oeste, evidencia, em
termos de forma, uma considerável semelhança com este tipo de aldeia.
Para Capel (2002, p. 101, grifos nossos),
Los estudios geográficos de los núcleos rurales y de sus formas
de crecimiento son interesantes también desde la perspectiva de
la evolución urbana. [...] La trama rural preexistente, los caminos
y el crecimiento se han reconocido como factores
importantes que afectan a la evolución de las ciudades.
Remontarse, pues, a esas formas agrícolas puede ser útil para
entender aspectos importantes de la evolución urbana.
A Avenida 5 de Janeiro, trecho da antiga estrada que interligava
Mossâmedes a Córrego do Ouro (fotos 2, 3 e 4), a mais importante da cidade, é
superposta e coincidente com a GO 326, ou seja, é uma avenida-rodovia ou
rodovia-avenida. Nesta avenida-rodovia estão os principais estabelecimentos
comerciais; os postos de combustível; as agências bancárias (foto 3); o fórum
(foto 2); a estação rodoviária; um ginásio de esportes (foto 4); uma escola
estadual; a única escola municipal; a unidade universitária da Universidade
Estadual de Goiás; o pelotão da Polícia Militar, o parque de exposição
agropecuária e uma emissora de rádio FM.
20
A morfologia urbana é aqui entendida de acordo com as elaborações de Capel (2002, p. 20) :
“La morfologia urbana, el espacio construido, refleja la organización económica, la organización
social, las estucturas políticas, los objectivos de los grupos sociales dominantes.[...] El estudio de
la morfología urbana supone sienpre una atención a los elementos básicos que econfiguran el
tejido urbano y los mecanismos de transformción de las estructuras. Exige a la vez una
aproximación estructural, es decir, que tenga en cuenta los diversos elementos componentes e
sus interrelacioenes, y diacronica, es decir, histórica, que cuenta de las transformaciones. Esta
dimensión es tan importante que algunos prefieren hablar de morfogénesis para designar a este
campo de estudio.”
21
Observar a figura 9, p.55 – Planta Funcional de Sanclerlândia -
GO: 2008.
54
No parágrafo anterior, foram relacionados alguns dos equipamentos e
instituições públicas e privadas localizadas na avenida-rodovia. Nesse sentido,
entendemos que o traçado da rodovia influenciou e influencia as escolhas
locacionais públicas e privadas no espaço intraurbano
.
Foto 2 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, Prédio do Fórum Foto: OLANDA, E.R. 2008
55
Figura 9 – Planta Funcional de Sanclerlândia: 2008
56
Foto 3 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, centro da cidade Foto: OLANDA, E.R. 2008
Foto 4 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da Estação Rodoviária
Foto: OLANDA, E.R. 2008
57
Em suma, neste capítulo enfocamos o surgimento do povoado do
Barreirinho, posteriormente Alto, Cruzeiro ou Cruzeirinho e Sanclerlândia, quando
foi elevado à condição de Distrito de Mossâmedes. Estas mudanças na toponímia
local ocorrerem em função de três principais influências distintas e integradas, ou
seja, o papel significativo desempenhado pela agropecuária (Fazenda Barreirinho
povoado do Barreirinho); a importância dos rituais e simbologias religiosas
católicas (cruz Cruzeiro ou Cruzeirinho); e o destaque das atividades
comerciais e, consequentemente, da influência dos primeiros comerciantes
estabelecidos no povoado (Saint-Clair Sanclerlândia).
A elevação do Povoado a Distrito (1962) constituiu numa etapa legal e
transitória para a sua emancipação no ano seguinte (1963). Todos estes
processos, descritos de modo sucinto, foram conduzidos pela elite local formada,
sobretudo, por fazendeiros e comerciantes, ou seja, uma união das pessoas que
controlava o poder nas dimensões econômica e política, o que não sofreu
alterações após a emancipação decorrente do desmembramento de
Mossâmedes.
Reforçando o que já foi mencionado na parte inicial deste capítulo,
Sanclerlândia surgiu às margens da estrada que interligava Mossâmedes a
Córrego do Ouro, sendo estes distritos da Cidade de Goiás na década de 1940. A
posterior abertura de outra estrada interligando Anicuns a Córrego do Ouro teve
seu traçado passando por Sanclerlândia; desse modo, a cidade encontra-se,
atualmente, num cruzamento rodoviário pavimentado (figura 2), num eixo
rodoviário secundário em Goiás
22
, mas que possibilita o acesso ao Estado do
Mato Grosso e ao Norte do País (Rondônia e Acre).
No período em que as rodovias foram pavimentadas, ou seja, nas
décadas de 1980 e 1990, o município havia se firmado e detinha, no plano
econômico, um crescimento maior que o verificado em Mossâmedes (OLANDA,
2001). Nesse sentido, os aspectos econômicos considerados mais relevantes
para a formação das bases materiais e que contribuem para a compreensão da
22
Entre os eixos rodoviários mais significativos no Estado de Goiás, estão aqueles formados pela
GO 060 e pela GO 070, cujos “nós rodoviários” mais próximos à Sanclerlândia estão nas cidades
de o L. de Montes Belos e na Cidade de Goiás, respectivamente (conferir figura 2 mapa de
situação geográfica de Sanclerlândia, p. 27).
58
cidade
23
de Sanclerlândia no início do culo XXI serão trabalhados no capítulo
dois.
23
A cidade vista e analisada em duas dimensões do espaço urbano. O que ocorre na suas
imediações tem relevância para mudanças no espaço intraurbano, e vice e versa, ou seja, para a
compreensão da cidade e do espaço urbano na cidade pequena faz-se necessário ter atenção
com articulações interescalares, isto é, a cidade estudada nas suas relações internas e externas,
articulada principalmente na rede urbana regional.
CAPÍTULO II
SANCLERLÂNDIA: AS BASES MATERIAIS – PROCESSOS SINGULARES?
O campo e a cidade são realidades históricas em transformação tanto em si próprias quanto
em suas inter-relações (WILLIAMS, 1989, p.387).
Acho que já falei aqui que muitos mudavam da roça, mas se agüentavam na cidade até
acabarem de comer os mantimentos que levavam. O mais difícil é a gente acostumar a não ter
as coisas com fartura: as tulhas cheias, as coisinhas nas latas, os capadinhos no chiqueiro
engordando, um tanto de galinhas no terreiro para quando precisasse tomar um caldo
(BERNARDES, 1986, p.206).
60
Como destacado no primeiro capítulo, Sanclerlândia foi emancipada em
1963 por desmembramento de Mossâmedes. A instalação do município ocorreu
em cinco de janeiro de 1964, portanto, antecedeu apenas três meses ao golpe
dos militares que dirigiram o país de forma autoritária por cerca de vinte anos. O
primeiro prefeito fora nomeado pelo então Governador do estado. Com a
intervenção federal em Goiás houve também a intervenção em alguns municípios,
dentre eles Sanclerlândia, ou seja, o município, desde o início, foi afetado
diretamente por decisões tomadas em âmbitos regional (Estado de Goiás) e
nacional; dito em outro modo, a ação do Estado autoritário fez-se presente de
modo imediato e mediato na cidade.
Ante tal constatação, entendemos que, para analisar a constituição das
bases materiais em Sanclerlândia, o olhar na economia deve ser articulado ao
olhar nas decisões políticas do Estado, cujo campo de ação, numa sociedade
dominada pelo modo capitalista de produção, é permeado pela luta de classes.
Tendo por base esse entendimento, passamos às duas questões centrais deste
capítulo, ou seja: quais são as bases materiais que sustentaram e sustentam o
município e a cidade de Sanclerlândia? De que viveu e de que vive a população
residente? Vale registrar que a abordagem com base na economia é uma escolha
entre as múltiplas possibilidades existentes. Todavia, ao escolher um enfoque,
isso não significa que os outros, não trabalhados, sejam ignorados ou menos
importantes; apenas não constituem o centro das preocupações deste estudo.
No primeiro capítulo, foram traçadas algumas pistas no que diz respeito à
base econômica constituída pela pecuária e agricultura e à importância das
atividades comerciais. O depoimento transcrito a seguir, cujo caráter é qualitativo,
indica o caminho a ser trilhado para a demonstração e a compreensão das
atividades econômicas desenvolvidas. Ou seja, abre as portas para direcionar a
intencionalidade do olhar aqui proposto, uma análise das bases materiais em
Sanclerlândia, haja vista que as bases imateriais de caráter subjetivo não fazem
parte das preocupações centrais do presente trabalho, embora também as
consideremos importantes. Nesse sentido, destacamos o depoimento do Sr.
N.J.C. (em 06/06/2008):
Sanclerlândia começou como todas as cidades que teve um
desenvolvimento muito grande. Começou com os trabalhadores
61
rurais. Tinha uma produção rural com plantações de arroz, milho,
algodão, café e na pecuária. Aqui havia muito pouca gente, a
maioria na área rural. Havia aqui uma vendinha do seu Raimundo,
onde o pessoal fazia as compras dos produtos que vinham de
Goiás, o sal, querosene e outros produtos que vinham de Goiás
de carro de bois, nessa época era mais de carro de bois. Os
produtos daqui que eram exportados para outras cidades iguais a
Goiás iam de carros de bois e capados
24
q
ue saiam daqui tocados
(daqui lá tem mais ou menos 70 km) iam tocados porque não tinha
outras conduções
A declaração do Sr. N. C. J. constitui um referencial importante e
significativo para a presente análise, haja vista que aponta cinco fatores
importantes para Sanclerlândia, quais sejam:
1. Na primeira metade do século XX, a infraestrutura no Estado de
Goiás, inclusive de transportes, de modo geral, e no Mato Grosso
de Goiás, em particular, era precária, o que dificultava o
escoamento da produção. A ausência das estradas ou a existência
delas em condições precárias, no período considerado foi
ressaltada por geógrafos, tais como Faissol (1952) e Gomes
(1969).
2. Havia predomínio da população rural até 1980, o que pode ser
verificado nos Censos Demográficos (figura 10).
3. A economia era baseada na produção agropecuária, cujos
principais mercados compradores eram representados pelas
cidades de Anápolis e Goiás.
4. Constatado, inicialmente, que a base econômica estava assentada
na agropecuária e a população era predominantemente rural, é
compreensível que, em Sanclerlândia, o núcleo urbano inicial, de
acordo com as elaborações de Santos (1979), tenha sido
constituído no campo e para o campo que exercia o papel de
comando, no local e no tempo aqui considerados.
5. O último aspecto suscitado pelo depoimento indica a importância
das atividades comerciais cujas funções eram de abastecer as
fazendas com insumos necessários à produção agropecuária, tais
24
Capado significa suíno gordo para o abate e obtenção de produtos como carne e banha.
62
como: sal, ferramentas, remédios, máquinas simples, etc. Era
também papel dos comerciantes, recolher a produção local e
encaminhá-la a outros centros maiores como Anápolis e,
posteriormente, Goiânia, a partir da cada de 1970, quando a
cidade se consolida na condição de principal centro urbano no
Estado de Goiás.
Para discorrer sobre a cidade pequena, há, em alguns momentos, a
necessidade de mencionar o município, vez que, no Brasil, essa unidade
federativa tem um importante papel na organização espacial e na definição das
funções, sobretudo das cidades pequenas. Nesse sentido, uma considerável
diferença entre as cidades pequenas e as metrópoles. O espaço metropolitano
pode ser mais importante e significativo que um município, sendo esse espaço
explicado pela escala da rede urbana, enquanto as cidades pequenas,para serem
compreendidas, exigem um olhar mais acurado para as escalas geográficas de
menor abrangência espacial.
Explicitada, mesmo que de modo conciso, a importância do município
para a pequena cidade, cabe, no caso de Sanclerlândia, uma comparação entre a
evolução da população municipal e a população urbana. Para estabelecer a
referida comparação, apresentamos o gráfico (figura 10) com os dados censitários
disponíveis desde a instalação do município.
2444
4235
4.938
5.765
6038
8478
8535
7553 7530
7647
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
1970 1980 1991 2000 2007
Número de habitantes
Urbana
Total
Figura 10 – Sanclerlândia: população residente, 1970 – 2007
Fonte: Censos Demográficos e Contagem da População 2007, IBGE. Org. OLANDA, E.R. 2008
63
Segundo os dados dos Censos Demográficos, a população de
Sanclerlândia começou a declinar a partir de 1970. Todavia, enquanto a
população total do município diminui, a população da cidade é ampliada, como
pudemos verificar por meio dos dados dos Censos de 1980, 1991, 2000 e na
Contagem da População em 2007.
A população urbana passa de 2444 pessoas, em 1970, para 6038 em
2007, ou seja, houve um crescimento de 147% no referido período. Em 1970 a
população total do município era de 8478 pessoas e 7647 em 2007, configurando
uma redução de 9,8%.
A década de 1980 constituiu num período de transição, visto que a
população rural declinou e a população urbana continuou crescendo.
A partir de 1991, houve uma estabilização na população do município
enquanto a população urbana prosseguiu em ritmo de crescimento. Entre 1991 e
2007, a população urbana teve um aumento de 22% com crescimento médio
anual de 1,3 %, considerando-se o interstício de 16 anos.
Atualmente, a população do município é inferior à de 1970, entretanto a
cidade cresceu significativamente, ou seja, a perda de população para outros
lugares ocorreu com a redução da população rural, enquanto a população urbana
foi paulatinamente ampliada.
A base econômica continuou sendo sustentada pela agropecuária; dessa
forma, fundamentado com dados oficiais obtidos em publicações do IBGE e da
Secretaria de Estado do Planejamento (SEPLAN-GO), destacamos no
subcapítulo subsequente, a importância do rebanho bovino e a produção de leite,
bem como a produção agrícola.
2.1 A Pecuária: o rebanho bovino e a produção de leite
“Se acabar o leite, acaba o movimento da cidade”
25
2.1.1 A Pecuária: o rebanho bovino
25
Frase proferida na agência local dos correios por um morador de Sanclerlândia e produtor de
leite, ao demonstrar sua visão sobre a importância da atividade para a cidade (em 21 de fevereiro
de 2008)
.
64
Em Sanclerlândia, a pecuária se destacava como atividade econômica
importante desde a cada de 1950
26
, quando a localidade era distrito de
Mossâmedes.
Ao realizar uma verificação do perfil socioeconômico de Sanclerlândia em
publicações da SEPLAN-GO, nos Censos Agropecuários a partir de 1970,
27
e de
acordo com depoimento de moradores, constatamos que a pecuária,
especialmente a criação de bovinos, tem uma grande importância para a cidade.
Em 1974, Sanclerlândia tinha um rebanho bovino que totalizava 50742
cabeças. Na década de 1970, houve um crescimento expressivo, visto que em
1979 alcança 71240 cabeças. Posteriormente um declínio nos dois anos
seguintes, ou seja, 1980, 1981, e retoma o crescimento atingindo 69 mil cabeças
em 1991 (quadro 6).
26
De acordo com informações do Sr. D. G. F. (em depoimento concedido ao autor em 5 de junho
de 2008) em 1958, um grupo constituído por dez pessoas— comerciantes, inclusive o depoente, e
fazendeiros—fundou o laticínio a Flor Goiana, cujo objetivo principal era industrializar o leite com a
produção de queijos e manteiga. Na década de 1960, por dificuldades financeiras, o laticínio foi
vendido a empresários de Goiânia e, atualmente, é controlado pelo grupo GP Investments, com
sede nos Estados Unidos.
27
É importante ressaltar que são muitas as informações disponíveis, entretanto, às vezes, elas
são conflitantes e/ou organizadas com diferentes critérios, dificultando as comparações. Outras
dificuldades específicas estão relacionadas com a mudança na Regionalização Oficial e a
conseqüente divulgação dos dados pelo IBGE, além da divisão do Estado de Goiás e a respectiva
criação do Estado do Tocantins em 1988.
65
Ano Número de cabeças Ano Número de cabeças
1974 50.742
1991 69.000
1975 50.514
1992 74.400
1976 52.825
1993 80.600
1977 53.043
1994 87.300
1978 61.530
1995 94.250
1979 71.240
1996 62.000
1980 55.031
1997 63.000
1981 55.000
1998 64.050
1982 62.000
1999 65.890
1983 60.900
2000 66.870
1984 60.000
2001 68.540
1985 61.000
2002 69.910
1986 60.000
2003 70.320
1987 62.500
2004 72.780
1988 63.000
2005 70.650
1989 63.600
2006 74.170
1990 64.000
2007 75.260
Quadro 6 – Sanclerlândia: rebanho bovino, 1974 - 2007
Fonte: IBGE: Pesquisa Pecuária Municipal Organização: OLANDA, E.R. 2009
Como pode ser observado no quadro 6, o rebanho bovino é expressivo
no município, contudo Sanclerlândia não figura entre os principais detentores de
rebanho no Estado de Goiás se comparado com a área e o rebanho de outros
municípios, sobretudo aqueles localizados no Noroeste e no Sudoeste Goiano
(quadro 6, figuras 11 e 12).
66
Figura 11 – Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 1998
Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/bde/ Acesso em 17 nov.2009 Org. OLANDA, E. R. 2009
67
Figura 12 – Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 2007
Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/bde/Acesso em 17 nov.2009 Org: OLANDA, E. R. 2009
68
A ampliação do rebanho bovino em Sanclerlândia coincide com a
diminuição da população total do município e dos habitantes da zona rural (figura
10). No início da década de 1970, havia uma média de, aproximadamente, cinco
cabeças de bovinos para cada pessoa; em 1991, essa média alcança quase dez
cabeças de bovinos por pessoa. A redução da população rural aconteceu no
Estado de Goiás nas décadas de 1970 e 1980, segundo Estevam (2004, p. 179):
A partir da década de 1970 o mundo do trabalho no campo entrou
em processo de rearticulação. O aprofundamento da diferenciação
de classes, os novos moldes de acesso à terra, a deterioração de
laços tradicionais de convivência e a proeminência de relações
monetárias imprimiram nova face na organização sócio-
econômica regional. O processo se deu de forma heterogênea em
função dos diversos agentes produtores: as empresas agrícolas e
agroindustriais constituíram relações avançadas e puramente
capitalistas enquanto os produtores menores tiveram que moldar-
se à nova ordem dentro de limitadas possibilidades. As décadas
de 1970 e 1980 constituíram o ápice dessa transformação em
Goiás e, ao mesmo tempo, período de transição para a nova
ordem.
O processo efetivado no município de Sanclerlândia integra um conjunto
maior de mudanças ocorridas no Brasil, de modo geral, no Estado de Goiás, em
particular, e em Sanclerlândia, de modo singular, numa articulação interescalar.
Tabela 4 – Brasil, Centro-Oeste, Goiás e Sanclerlândia: efetivo de bovinos, 1970 -
2006
Ano Brasil, Região
Geográfica ,
Unidade da
Federação e
Município
1970 1975 1980 1985 1996 2006
% de
Crescimento
1970 – 2006
Brasil 78.562.250 101.673.753 118.085.872 128.041.757 153.058.275 171.613.337 118 %
Centro-Oeste 17.252.084 24.750.040 33.261.006 36.116.293 50.766.496 57.526.794 233 %
Goiás 7.792.839 12.728.294 16.089.510 14.476.565 16.488.390 17.259.625 12 1%
Sanclerlândia 43.743 50.514 55.031 61.000 62.000 74.170 70 %
Fonte: IBGE: Censos Agropecuários; Pesquisa Pecuária Municipal
Organização: OLANDA, E.R. 2009
Para o crescimento do rebanho bovino no Brasil, Centro-Oeste e Estado
de Goiás (tabela 4), temos que levar em consideração a abertura de novas áreas
para a criação, sobretudo na Amazônia, ao passo que o Estado de Goiás foi
dividido em 1988, com a criação do Estado do Tocantins. Em Sanclerlândia, a
área do município permanece a mesma, contudo, de acordo com as informações
dos Censos Agropecuários, é possível encontrar variações no tamanho da área
69
de pastagens, mas que não permitem afirmar que houve uma expansão
significativa da área de criação de gado bovino no período considerado (1970
2006).
2.1.2 A produção de leite
Com um rebanho bovino expressivo para o município, a tradição na
produção de leite remonta à década de 1950. Mesmo muito significativa para o
município e para a cidade, a produção de leite não figura entre as maiores no
conjunto do Estado de Goiás, ou seja, Sanclerlândia está posicionado num
conjunto de municípios com índices abaixo dos principais produtores no Estado
de Goiás (figuras 13 e 14). Verificar os números de vacas ordenhadas e a
respectiva produção de leite constitui, neste trabalho, um exercício significativo.
Consideramos necessário repetir que, desde o final da década de 1950, funciona
um laticínio em Sanclerlândia.
70
Figura 13 – Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 1998
Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/bde/ Acesso em 17 nov.2009 Org.: OLANDA, E. R. 2009
71
Figura 14 – Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 2007
Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/bde/ Acesso em 17 nov.2009. Org.: OLANDA, E. R. 2009
72
De acordo com os dados oficiais obtidos (quadro 7), as 8.058 vacas
ordenhadas em 1974 produziram três milhões e 489 mil litros de leite. No
referido período (1974-2007), a partir de 1976, o número de vacas ordenhadas e
a quantidade de leite produzido passam por um crescimento contínuo e atingem,
em 1991, 11 mil vacas ordenhadas e cinco milhões e quinhentos mil litros de leite
no mesmo ano.
Ano Vacas ordenhadas Leite (mil litros) Ano Vacas ordenhadas Leite (mil litros)
1974 8.058
3.489
1991 11.000
5.500
1975 8.022
3.474
1992 11.700
5.800
1976 8.222
3.560
1993 12.500
6.100
1977 8.423
3.647
1994 13.500
6.580
1978 9.230
3.655
1995 14.100
6.880
1979 9.600
4.000
1996 4.900
4.500
1980 8.645
3.816
1997 4.980
4.576
1981 10.000
4.100
1998 5.030
4.622
1982 10.000
3.890
1999 5.180
4.766
1983 11.000
4.510
2000 5.480
5.261
1984 9.000
4.500
2001 6.170
6.016
1985 9.000
4.600
2002 6.295
6.421
1986 9.000
4.600
2003 6.430
6.559
1987 9.380
4.780
2004 6.400
6.528
1988 9.600
4.890
2005 6.720
6.854
1989 9.800
4.990
2006 6.980
7.120
1990 10.500
5.460
2007 7.045
7.186
Quadro 7
Sanclerlândia: vacas ordenhadas e produção de leite, 1974-2007
Fonte: IBGE: Pesquisa Pecuária Municipal Organização: OLANDA, E.R. 2009
O crescimento do número de vacas ordenhadas é proporcionalmente
maior que a produção de leite até 1995 quando há o registro de 14.100 vacas
ordenhadas e uma produção de seis milhões e 880 mil litros. A partir desse ano,
verificamos a redução do número de vacas ordenhadas acompanhado da redução
do leite produzido
28
.
A partir de 1998, notamos uma recuperação do número de vacas
ordenhadas e um aumento na produtividade, visto que em 2007, com 7.045 vacas
ordenhadas, houve a produção de mais de sete milhões de litros de leite,
28
Faz-se necessário ressaltar que, na década de 1990, a produção de leite passou por uma crise
no Brasil com os baixos preços pagos aos produtores.
73
comparando-se com 1974, o número de vacas ordenhadas foi de 1013 a menos,
e a produção de leite foi 3 milhões e 679 mil litros a mais, o dobro daquela
verificada em 1970, expressando um significativo ganho de produtividade
29
.
2.2 A produção agrícola
Para a elaboração deste subcapítulo, foram escolhidos três produtos
agrícolas: milho em grão, arroz e feijão. Essa não foi uma escolha aleatória, vez
que recaiu sobre os três principais produtos destacados em Sanclerlândia pelo
Censo Agropecuário de 1970, tanto em área cultivada quanto em quantidade
produzida.
A lógica de apresentação é diferenciada do subcapítulo anterior, pois não
dispomos de informações detalhadas anualmente como ocorreu para o rebanho
bovino e para a produção de leite. Dessa forma, uma entre as múltiplas
possibilidades foi a de comparar a quantidade produzida e a área ocupada nos
anos de 1970 e 2006, que evidencia uma grande redução na produção dos
respectivos produtos agrícolas.
O auge da produção foi na década de 1970; na década de 1980 pode ser
verificada uma redução nos cultivos, o que teve sequência nas décadas seguintes
(figura 14 - subcapítulo 2.3).
Principal produto em 1970, tanto em área ocupada quanto em quantidade
produzida, o milho continuou na primeira posição em 2006.
Tabela 5 – Sanclerlândia: produção de milho, 1970 e 2006
1970
2006
Redução no período
Quantidade (T.)
3.582
1.127
-2455
Área (Ha.) 2.358
572
-1786
Fonte: IBGE, Censos Agropecuários
29
De acordo com depoimento, em Sanclerlândia: “A qualidade do rebanho melhorou muito, para
se ter uma idéia, dez anos [1998] houve um torneio leiteiro no primeiro parque agropecuário de
Sanclerlândia, a melhor vaca, a vaca campeã de leite produziu dez litros, na última pecuária [2007]
a campeã produziu 39 kg de leite, daí a gente pode ter uma idéia do que melhorou nesses
aspectos” (Sr. S.B.J. em 17/02/2008).
74
Em 1970 foram colhidas 3585 toneladas de milho numa área de 2358
hectares, ao passo que, em 2006, foram colhidas 1127 toneladas em uma área de
apenas 572 hectares, o que perfaz uma redução de 2455 toneladas e área de
1786 hectares. Mesmo sendo um produto muito utilizado em rações para animais,
houve grande redução no período considerado (tabela 5). A área antes ocupada
com o cultivo pode ter sido utilizada para formação de pastagens, visto que, como
demonstramos no subcapítulo anterior, o rebanho bovino teve um crescimento
expressivo no município.
Segundo produto em 1970, o cultivo do arroz foi reduzido em mais 90%
em 2006. Para uma área de 2085 hectares, cuja produção foi de 3168 toneladas
em 1970, reduziu-se a uma área de 194 hectares com uma produção de 267
toneladas (tabela 6).
Tabela 6 – Sanclerlândia: produção de arroz em casca, 1970 e 2006
1970
2006
Redução no período
Quantidade (T.)
3.168
267
-2901
Área (Ha.) 2.085
194
-1881
Fonte: IBGE, Censos Agropecuários
O feijão desapareceu do mapa, ou melhor, sumiu dos cultivos em
Sanclerlândia no período de 36 anos (tabela 7). A quantidade produzida em 2006
foi de 0.76% da verificada para 1970, numa área equivalente apenas a 0.49% , ou
seja, atualmente o cultivo é, quantitativamente, pouco significativo
.
Tabela 7 – Sanclerlândia: produção de feijão, 1970 e 2006
1970
2006
Redução no período
Quantidade (T.)
784
6
-778
Área (Ha.) 2.029
10
-2019
Fonte: IBGE, Censos Agropecuários
Como demonstrado (tabelas 7, 8 e 9), a produção agrícola em
Sanclerlândia perdeu muito da importância que detinha em 1970. Em 2006, tanto
em área cultivada quanto em quantidade produzida, a produção de milho reduziu
75
a menos de um terço, a de arroz a menos de 10% e a de feijão a menos de um
por cento da registrada para 1970. Considerando que o arroz e o feijão
constituem a base da alimentação local, podemos deduzir que, atualmente, eles
não são encontrados estocados nas casas das pessoas como acontecia até o
final da década de 1970. Ou seja: agora são adquiridos no comércio, provindos de
outros lugares do estado e do país, visto que a produção local não é suficiente
para o consumo da população. O município passou da condição de exportador
para importador de alimentos como arroz e feijão. Contudo, a pecuária continua
sendo expressiva e teve a sua importância reforçada no município
.
2.3 Velhas e novas funções na produção
O objetivo deste subcapítulo é demonstrar as velhas e novas atividades
econômicas mais significativas em Sanclerlândia. Nesse ponto, cabe um
esclarecimento: o que estamos chamando de velho são as atividades
significativas para a cidade desde o seu surgimento. Necessariamente, o velho e
o novo tem, aqui, a conotação da presença mais ou menos tempo em
Sanclerlândia, ou seja, não está vinculado ao que é novo ou velho em termos de
história da humanidade.
Uma das funções iniciais do núcleo que deu origem a Sanclerlândia foi a
comercial, todavia, até o final da década de 1980, a pecuária reinava como
principal atividade econômica no município. Essa atividade não perdeu força, pelo
contrário, os dados demonstrados no subcapítulo anterior comprovam a
importância da criação de gado bovino e da produção de leite, cujo crescimento
foi expressivo entre os anos de 1970 e 2000. No final da década de 1990, foi
construído na cidade um parque de exposições agropecuárias (foto 5), sendo que,
desde 1998, a exposição agropecuária é realizada anualmente no mês de
agosto. Nesses eventos, um dos aspectos mais relevantes é a realização de
negócios; nesse sentido, profundas diferenças com as corridas de cavalos que
aconteciam no campo de futebol do então povoado do Cruzeiro; os negócios
continuam, todavia a prática esportiva mais popularizada desapareceu.
76
Foto 5 – Sanclerlândia: parque de exposição agropecuária, Av. 5 de Janeiro
Foto: OLANDA, E.R. 2009
Com base na constatação da importância da pecuária para a economia
local, é possível lançar e fundamentar a ideia de que uma das funções da cidade
era e ainda é dar apoio à produção realizada no campo. Assim, Sanclerlândia era
uma cidade no campo
30
. Com as transformações ocorridas e com a diversificação
na economia, ela continua sendo uma cidade no campo, todavia, com um grau
menor de dependência dele, se comparado ao período anterior à década de 1990.
O que nos possibilita apontar essas ideias é o fato de que novas atividades e
funções surgiram, a partir dos anos de 1990, sem diminuir, outrossim, a
importância da pecuária, atividade econômica predominante até então. Nesse
sentido, de acordo com Santos (2005, p.75-76, grifos nossos),
Haveria, então, um Brasil urbano e um Brasil agrícola, em que o
critério de distinção seria devido muito mais ao tipo de relações
30
Ressaltamos que Sanclerlândia foi uma cidade do campo tradicional, haja vista que o município,
até o presente momento, não passou pela típica modernização da agricultura. A modernização,
com a mecanização no cultivo intensivo de produtos, como a soja e a cana, por exemplo, ainda
não se fez presente de modo expressivo no município. A topografia predominantemente ondulada
pode ser apontada como um dentre os diversos fatores limitadores. A agricultura considerada
como intensiva e moderna tem ocupado em Goiás, preferencialmente, as áreas com grandes
extensões de topografia plana ou suavemente ondulada que facilita a mecanização,
principalmente no Sudeste e Sudoeste do estado.
77
realizadas sobre os respectivos subespaços. Não mais se trataria de um
Brasil das cidades oposto a um Brasil rural. [...] A região urbana tem sua
unidade devida, sobretudo à inter-relação das atividades de fabricação
ou terciárias, encontradas em seu respectivo território, às quais a
atividade agrícola existente preferentemente se relaciona. A região
agrícola tem sua unidade devida à inter-relação entre mundo rural e
mundo urbano representado este por cidades que abrigam
atividades diretamente ligadas às atividades agrícolas circundantes
e que dependem, segundo graus diversos, dessas atividades.
Em Sanclerlândia, desde o início do povoado, havia a necessidade,
mesmo que em pequena proporção, de o comércio servir de apoio à produção
realizada no campo. Contudo, é possível perceber, de acordo com os dados
disponíveis, que a partir de 1990 a cidade passou por algumas transformações no
setor terciário, no comércio e na prestação de serviços blicos e privados, além
de um considerável aumento da participação do setor secundário na economia
local (tabela 8).
Com a base econômica assentada no setor primário, a cidade vai sendo
paulatinamente transformada com a ampliação da importância dos setores
terciário e secundário. O gráfico sobre a utilização da terra nos estabelecimentos
agropecuários em Sanclerlândia, no período de 1970 2006 (figura 15),
possibilita, entre outras, a análise de três pontos cuja ordem de apresentação não
tem uma hierarquia de importância, visto que devem ser compreendidos de modo
integrado.
1. A produção agrícola foi mais significativa nas décadas de 1970 e 1980;
nesse período ocorre o ápice da utilização da terra para a produção
agrícola
31
no município. A partir de 1985, a área ocupada com essa
atividade começa a declinar e chega, em 2006, com menos de 50% do que
era em 1970.
31
Cultivos permanentes e temporários.
78
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
55000
1970 1975 1980 1985 1996 2006
Lavouras permanentes e temporárias
Pastagens naturais e plantadas
M atas
Terras em descanso o u não ocupadas
por lavouras, pastagens e matas
Total
Figura 15 Sanclerlândia: utilização das terras nos estabelecimentos
agropecuários, 1970 – 2006
Fonte: IBGE – Censos Agropecuários Organização: OLANDA, E.R. 2009
2. uma pequena oscilação nas áreas ocupadas pelas pastagens, todavia
ela é muito similar ao longo do período (1970-2006), o que reforça os
argumentos apresentados no subcapítulo 2.1 sobre a importância da
pecuária para a economia do município. Ou seja: essa é uma atividade que
foi ampliada e reforçada ao longo do tempo, embora a área do município
permaneça a mesma (497 km²); os ganhos com a produtividade,
principalmente na produção de leite (quadro 6), contribuíram para
manutenção e dinamização dessa atividade
3. Com relação às áreas de matas, em 1970, o município havia passado
pelo processo de desmatamento; naquele ano, as matas ocupavam
aproximadamente 20% das áreas dos estabelecimentos agropecuários.
Nas décadas de 1970 e 1980, a área coberta por matas ainda passa por
um processo de redução, havendo uma pequena recuperação na década
de 1990. Em 2006 um registro bem superior em relação a área
verificada em 1970; isto se deve à legislação ambiental com a
obrigatoriedade da reserva legal. Todavia, é possível que, de fato, a área
de matas seja bem inferior à demonstrada no Censo Agropecuário de
2006, uma vez que áreas em recuperação da vegetação, ou simplesmente
demarcadas como reserva legal, podem ter sido informadas como área de
79
matas. Dessa forma, é possível que áreas declaradas como de reserva
legal estejam, de fato, ocupadas por pastagens.
Outro fator a ser considerado neste subcapítulo é a agricultura
familiar
32
.Os estabelecimentos agropecuários em Sanclerlândia apresentam
índices bastante interessantes e, nesse sentido, fizemos uma comparação com as
médias da referida agricultura na Microrregião de Anicuns, na Mesorregião Centro
Goiano, no Estado de Goiás, na Região Centro-Oeste e no Brasil (figura 16).
71%
70%
67%
65%
69%
84%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Sanclerlândia Microrregião
de Anicuns
Mesorregião
Centro Goiano
Estado de
Goiás
Centro-Oeste Brasil
Figura 16 - % de estabelecimentos agropecuários com agricultura familiar, 2006
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006 Organização: OLANDA, E. R. 2009
O fato de os estabelecimentos concentrarem a atividade econômica
predominante na criação de gado bovino e com destaque na produção de leite
pode indicar uma pista importante quanto à presença da agricultura familiar. A
pecuária, se comparada com a agricultura, é uma atividade que pode ser
considerada com poupadora de mão de obra. No entanto, diferenças entre a
denominada pecuária de corte e a pecuária leiteira, sendo que a segunda, pelas
suas características, utiliza mais o trabalho humano, visto que a ordenha é um
trabalho feito diariamente. Dessa forma, e de acordo com as observações de
32
Não há um consenso na definição de agricultura familiar. Neste trabalho adotamos a perspectiva
apontada por Lamarche (1993, p. 15): A exploração familiar [...] corresponde a uma unidade de
produção agrícola onde a propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família.Sobre a
agricultura familiar conferir também Cândido (1977), Silva, J. (1978), Herédia (1979), Brandão
(1981), Garcia Júnior (1989).
80
campo e os depoimentos, os agricultores familiares
33
dedicam-se, sobretudo, à
produção de leite; de acordo com as informações do Censo Agropecuário de 2006
não registro de outra atividade econômica no campo tão significativa quanto a
pecuária e a produção de leite.
Em 2006, o percentual de estabelecimentos agropecuários com a prática
da agricultura familiar (71%) é inferior à média nacional (84%) e superior às
médias para a Região Centro-Oeste (69%), Estado de Goiás (65%), Mesorregião
Centro Goiano (67%) e similar à da Microrregião de Anicuns (70%) - figura 16.
Desse modo, é possível constatar que a agricultura familiar é significativa para o
município e contribui para o entendimento do que é a cidade hoje. Não é por
acaso que o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) é a entidade sindical
melhor estruturada e organizada em Sanclerlândia, com sede própria,
funcionando no centro da cidade (foto 6).
Foto
6 – Sanclerlândia: sede do STR, Praça Três Poderes, centro
Foto: OLANDA, E.R. 2008
33
De acordo com o depoimento do Sr. G.R.C. (em 21/02/208): “A produção do município, o
investimento aqui é leite e o cara que tira muito leite põe uma ordenha [mecânica] e duas pessoas
tiram 500/600 litros de leite. O produtor familiar ele mesmo tira o leite, o filho ajuda. A agricultura
familiar é forte, eu falo sempre, o que gera mais serviço aqui dentro do município de Sanclerlândia
é a agricultura familiar”.
81
Considerando atividades tais como agricultura, comércio e pecuária como
velhas, então, é possível afirmar que duas dessas atividades são especiais para a
cidade, ou seja, o comércio e a pecuária. Mas, o que há de novo?
Com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)
utilizada pelo IBGE, o que de novo em Sanclerlândia são as indústrias de
transformação (principalmente as confecções) e a prestação de serviços públicos
e privados que serão objetos de uma análise mais detalhada no capítulo três.
Em 2006, 197 (63%) das 315 empresas e outras organizações eram
constituídas pelo comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais
e domésticos; ocupando a segunda posição, bem distante, com 41 empresas
(13%), estavam as indústrias de transformação, atividade representada,
sobretudo, pela indústria do vestuário (tabela 8).
82
Tabela 8 – Sanclerlândia: empresas e outras organizações, por ano de fundação e classificação de atividades, 2006
Ano de fundação
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)
Até 1970
1971 a
1980
1981 a
1990
1991 a
1995
1996 a
2000
2001 a
2003
2004 2005 2006
Total (%)
Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 2 10 32 27 54 32 18 9 13 197 (63%)
Indústrias de transformação 2 4 7 10 5 6 2 5 41 (13%)
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais - 2 4 3 2 5 1 1 - 18
Alojamento e alimentação - 2 2 4 2 1 1 1 1 14
Transporte, armazenagem e comunicações - - 1 - 2 6 - 3 1 13
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - - 1 1 3 1 - 1 2 9
Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços
relacionados
- - - 3 1 2 - - - 6
Saúde e serviços sociais - 1 2 1 - - - 1 - 5
Educação - - - 1 - 3 - - - 4
Administração pública, defesa e seguridade social 1 - 1 1 - - - - 3
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - - - 1 1 - - 1 - 3
Indústrias extrativas - - - - 1 - 1 - - 2
Total 2 18 46 48 77 55 27 19 22 315
Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas
Organização: OLANDA, E. R. 2009
83
Vale ressaltar que 192 das 315 empresas e outras organizações
existentes em 2006 foram fundadas após 1995, sendo a maioria delas no setor
terciário, o que reforça a importância desse setor na e para a cidade, sem,
contudo, reduzir a importância da pecuária.
Um questionamento que pode ser apontado diz respeito aos motivos que
levaram as atividades comerciais a se tornarem tão significativas. Nesse sentido,
o olhar exclusivo no município e no espaço intraurbano não poderá encontrar
respostas satisfatórias. É necessário ir além, na escala da rede urbana do espaço
regional, especificamente nas cidades de Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e
Mossâmedes para encontrar explicações plausíveis e isso seaprofundado no
capitulo três, com dados primários obtidos em trabalho de campo.
Sobre a fundação de empresas a partir de 1990, o comércio destaca-se
enquanto atividade predominante; o mesmo pode ser afirmado para o pessoal
ocupado. Ao comparar os dados entre 1996 e 2006, notamos um crescimento
expressivo no comércio e nas indústrias de transformação que passa de 124 e
101 pessoas ocupadas em 1996 para 307 e 318, respectivamente, em 2006. Tais
dados demonstram, assim, que o pessoal ocupado na indústria de transformação
ultrapassou o terciário e isso se deve à ampliação das confecções na cidade
(tabela 9).
84
Tabela 9 – Sanclerlândia: pessoal ocupado segundo classificação de atividades econômicas, 1996 – 2006
Ano
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal X
X
X
X
X
X
4
X
X
10
5
Indústrias extrativas X
-
X
X
X
X
X
X
X
-
-
Indústrias de transformação 101
138
129
156
156
155
171
146
166
278
318
Produção e distribuição de eletricidade, gás e água -
-
-
X
X
X
X
-
-
X
X
Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 124
138
136
169
186
228
196
220
276
290
307
Alojamento e alimentação 9
11
13
14
16
18
12
16
23
27
21
Transporte, armazenagem e comunicações X
X
X
4
9
12
19
12
19
29
36
Intermediação financeira, seguros, previdência complementar e serviços
relacionados
14
15
14
13
17
14
19
16
19
15
11
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 4
X
10
10
6
12
10
12
16
13
10
Administração pública, defesa e seguridade social X
X
230
230
167
212
209
183
224
163
156
Educação X
X
3
X
X
8
5
5
6
4
34
Saúde e serviços sociais 11
9
X
7
8
13
14
15
14
40
16
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 24
14
21
16
8
9
12
15
8
15
16
Total 516
584
585
650
585
689
713
665
781
889
933
Os dados com menos de 3 (três) informantes estão desidentificados com o caracter X.
Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas
Organização: OLANDA, E. R. 2009
85
Mediante o exposto neste capítulo, em suma, destacamos três pontos
para a compreensão da base material e suas modificações em Sanclerlândia,
após a sua emancipação política.
1. A produção agrícola e seus três principais produtos verificados em 1970
(arroz, feijão e milho), atualmente, não é expressiva para a cidade. Desse
modo, a produção agrícola foi reduzida e perdeu espaço para as pastagens
cultivadas com a ampliação da criação de gado bovino.
2. A pecuária se manteve, ocupando praticamente as mesmas áreas desde a
1970. Contudo, é preciso destacar que a produtividade do leite aumentou
significativamente nos últimos anos. O laticínio, fundado no final da cada
de 1950, permanece em atividade, ou seja, o leite continua sendo
industrializado na própria cidade.
3. O setor terciário foi ampliado, no entanto, atualmente, em conjunto, as
confecções empregam maior número de pessoas. Houve significativa
ampliação das indústrias de transformação, uma vez que, em 2006, essa
atividade econômica superou o comércio (307) no número de pessoas
ocupadas (318) em 41 empresas.
A apresentação das principais atividades econômicas praticadas em
Sanclerlândia, no período compreendido entre 1964 e 2008, não pautou pela ótica
de um diagnóstico exaustivo de todas as atividades econômicas formais e
informais; outrossim destacamos o papel da agropecuária para o surgimento e o
crescimento da cidade até a década de 1990 . Todavia, a partir dessa década,
notamos uma progressiva ampliação das atividades relacionadas ao terciário, tais
como: o comércio e a prestação de serviços públicos e privados, além da
implantação das confecções, reforçando o setor secundário.
De acordo com os trabalhos de campo realizados, pudemos verificar que
a dinamização econômica da cidade tem alcance e influência em cidades
próximas, como Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes. Nesse sentido,
as bases materiais constituíram aspectos relevantes para o processo de
desenvolvimento de funções urbanas que extrapolam o município e têm alcance
regional. Assim, no capítulo três, analisaremos os papéis urbanos
desempenhados pela cidade.
CAPÍTULO III
PAPÉIS DESEMPENHADOS POR SANCLERLÂNDIA:
CONTEÚDOS E SIGNIFICADOS
Um breve resumo das causas e fatores do crescimento urbano permite discernir a natureza e
os volumes respectivos das necessidades de desenvolvimento, e compreender melhor os
processos. A cidade cresce ao mesmo tempo funcional e demograficamente, sendo os dois
fenômenos inseparáveis (GEORGE, 1983, p. 87).
87
Sanclerlândia, a cidade pauta desta investigação, é uma cidade pequena,
cujos referenciais importantes e cruciais para uma análise são, sem sombra de
dúvidas, bem diferentes dos referenciais utilizados para a compreensão das
cidades médias e dos espaços metropolitanos. Se o ponto de partida for a
tentativa de comparações com os espaços de outras cidades maiores, em termos
quantitativos, tudo pode parecer pouco significativo, todavia, quando priorizamos
a qualidade das informações e a importância dos serviços para as pessoas que
vivem no espaço urbano das cidades pequenas, o prisma de análise é diferente.
Assim, o que inicialmente possa parecer inexpressivo ganha concretude e
relevância, uma vez que não temos por objetivo tecer comparações entre espaços
diferenciados e desiguais, tanto na aparência imediata quanto na essência que
poderá ser desvelada.
As transformações econômicas ocorridas em Sanclerlândia, conforme o
que foi trabalhado no capítulo dois, oferecem as pistas para o entendimento da
cidade e de suas funções urbanas de acordo com a proposição de Corrêa (1994)
para essas funções, tais como: comercialização de produtos rurais; produção
industrial; prestação de serviços diversos. Sanclerlândia teve parte dessas
funções desde sua origem, entretanto elas eram restritas ao espaço local e não
influenciavam outras cidades. A implantação de novos serviços públicos e
privados, a partir da década de 1990, e a ampliação das atividades industriais por
meio da implantação das facções
34
e confecções, a partir de 2002, contribuíram
para a intensificação desse processo.
Neste início do século XXI, na cidade pequena, a atuação de diferentes
atores em múltiplas escalas e com diferentes intensidades amplia a complexidade
desses espaços. Nesse sentido, a cidade pequena está mais sujeita a receber
impactos concernentes às consequências de tomadas de decisões externas e
longínquas do que as cidades grandes.
Segundo Singer (1973, p. 39, grifos nossos): [...] “Cidades de porte
reduzido relativamente prestam serviços comerciais, administrativos, de
34
O termo facção é aqui empregado para designar uma parte da indústria de confecção de
roupas, ou seja, parte do processo da indústria do vestuário. A facção é responsável pela costura,
a última etapa da confecção. Recebe o tecido cortado (denominado de talhado), costura, passa,
dobra e devolve as peças prontas.
88
manutenção da ordem, educacionais etc., não só à sua própria população, mas
também à que vive em seu hinterland.” Todavia, elas têm importante papel quanto
ao atendimento das necessidades básicas de seus moradores, de acordo com as
formulações de Santos (1979, p. 70-71):
A cidade local é a dimensão mínima a partir da qual as
aglomerações deixam de servir às necessidades da atividade
primária para servir às necessidades inadiáveis da população com
verdadeira especialização do espaço. [...] Poderíamos então
definir a cidade local como a aglomeração capaz de responder às
necessidades vitais mínimas, reais ou criadas, de toda uma
população, função esta que implica uma vida de relações.
A perspectiva da cidade prestadora de serviços foi também apontada por
George (1983, p. 218): “Uma cidade é um centro de serviços para os perímetros
que variam conforme a natureza desses serviços.” Em Sanclerlândia, os serviços
públicos e privados foram ampliados a partir da década de 1990, com a instalação
ou ampliação de órgãos públicos, clínicas, escritórios, entre outros serviços.
No que se refere à importância e ao crescimento do setor terciário em
cidades de diferentes dimensões, inclusive nas pequenas, foram assim
destacados por Monte-Mór (2005, p.429-430):
De fato, das cidades globais e mundiais às regiões
metropolitanas, incluindo cidades grandes, centros médios e
pequenos e novas aglomerações e sistemas urbanos em
formação, o que se é uma integração crescente em torno das
economias urbanas que concentram o dinamismo do setor
terciário em expansão e comandam os espaços produtivos
industriais e agrícolas cada vez mais dispersos (e integrados) no
território.
Em função de mudanças na divisão interurbana do trabalho, as cidades
passam por processos de refuncionalização. Segundo Corrêa, R. (2006), esse
processo em cidades pequenas apresenta duas possibilidades principais: uma é a
perda da centralidade e outra é a ampliação que se a partir da criação de
novas atividades, principalmente as associadas ao setor terciário.
As novas e velhas atividades que influenciaram na centralidade em
Sanclerlândia constituem a pauta do presente capítulo que foi estruturado em três
partes. Na primeira é apresentada e analisada a importância da prestação dos
principais serviços públicos pelo Poder Judiciário Estadual, por meio da Comarca;
89
de Segurança blica, pelo Batalhão da Polícia Militar do Estado de Goiás; de
Ensino Superior Público, pela Unidade Universitária da Universidade Estadual de
Goiás e os serviços prestados pela Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran).
A apresentação e a análise de serviços privados completam e encerram a
primeira parte. Entre os serviços destacados estão os prestados pelas duas
agências bancárias; pelos escritórios de advocacia, agrimensura e contabilidade;
além dos serviços privados de saúde em fisioterapia, odontologia e psicologia.
A segunda é dedicada à análise do comércio local, de sua importância e
de seus significados para a cidade e para a sub-região. Na terceira e última parte,
trabalhamos uma atividade nova e inovadora na e para a cidade, ou seja, a
implantação e o funcionamento da indústria do vestuário por meio das facções e
confecções, com destaque para as primeiras, em função dos empregos criados e
da interferência considerada positiva na economia local. Por se tratar de um
capítulo com uma composição de maior base empírica, foi indispensável a
apresentação de informações por meio de fotos, quadros e tabelas cujo objetivo
é o de demonstrar e enriquecer a argumentação.
3.1 A prestação de serviços públicos e privados
Entre as funções que influenciaram no processo para a refuncionalização
de Sanclerlândia e na provável ampliação de sua centralidade interurbana,
algumas estão ligadas diretamente ao setor terciário e se referem à prestação de
serviços por órgão públicos estaduais sediados, tais como: Poder Judiciário
Estadual
35
(sede de Comarca), Segurança Pública (Pelotão da Polícia Militar);
Circunscrição Regional de Trânsito; Ensino superior (Unidade Universitária da
Universidade Estadual de Goiás).
Além de continuar apoiando a produção agropecuária realizada no
campo e a prestação de serviços blicos, a cidade presta também serviços
privados, principalmente por meio de clínicas de odontologia; escritórios de
35
No Brasil, o Poder Judiciário não existe em âmbito municipal. Em âmbito estadual é organizado
por meio de Comarcas. Um município pode ser sede de uma Comarca ou apenas um Distrito
Judiciário de outra Comarca. Sanclerlândia (2008) é sede de uma Comarca de Primeira Entrância
(entrância tem o mesmo significado de instância) cuja jurisdição compreende também as cidades
de Buriti de Goiás e Córrego do Ouro. No estado de Goiás havia, em 2008, um total de 119
Comarcas, compreendendo o conjunto de primeira entrância, entrância intermediária e a entrância
final, em Goiânia (figura 17).
90
advocacia, contabilidade, agrimensura e engenharia; uma agência lotérica da
Caixa Econômica Federal e duas agências bancárias. Até o ano de 2005, havia
três agências bancárias, sendo que uma delas foi fechada no referido ano, em
função de relocação das agências de um banco privado que havia adquirido o
Banco do Estado de Goiás, privatizado em 2001.
Serviços públicos Serviços privados
Ciretran-polo Agências bancárias
Casa Lotérica da Caixa Econômica
Federal
Segurança pública:
Delegacia de Polícia
Pelotão da Polícia Militar
Clínicas:
Fisioterapia
Médica
Odontologia
Psicologia
Justiça Estadual: sede de Comarca Escritórios:
Advocacia
Agrimensura e Engenharia
Contabilidade
Escritórios e representações:
Companhia Energética de Goiás-
CELG
Agrodefesa
Agência Rural
Centros de formação de condutores
Ensino Superior:
Unidade Universitária da
Universidade Estadual de Goiás
Transportadora (rodoviário)
Quadro 8 Sanclerlândia: principais serviços públicos e privados com
abrangência sub-regional, 2008
Fonte: Trabalho de Campo, 2008-2009 Organização: OLANDA, E. R.
Uma cidade pequena pode constituir-se num polo em relação a outras
cidades pequenas. No caso deste estudo, o polo compreende uma influência
regional. De acordo com as constatações empíricas nos trabalhos de campo,
91
parte dos serviços públicos e privados existentes em Sanclerlândia (quadro 8)
foram estabelecidos para atender também as demandas de outras cidades
.
3.1.1 A Comarca
Com a instalação do município em 1964, Sanclerlândia, em termos de
Poder Judiciário Estadual, permaneceu vinculada a Mossâmedes, ou seja,
continuou sob a jurisdição da Comarca do município de origem. De acordo com a
Lei Estadual 4.897, de 13 de novembro de 1963 (grifo nosso), [...] “Art. - O
têrmo judiciário de Sanclerlândia se subordinará à comarca de Mossâmedes”.
Conforme o disposto na lei, não dúvida: em termos de poder Judiciário
Estadual, Sanclerlândia estava subordinada a Mossâmedes, todavia, com a
criação e instalação da Comarca, rompem-se os laços de subordinação e
dependências de Mossâmedes, neste aspecto específico.
A comarca de Sanclerlândia foi criada pela Lei Estadual 7.250 de 21
de novembro de 1968 e instalada em 1972, ou seja, quatro anos depois (COSTA;
COSTA, 1993).
Em 1998, foram incorporados à comarca de Sanclerlândia os Distritos
Judiciários de Buriti de Goiás e Córrego do Ouro que pertenciam às comarcas de
Mossâmedes e São L. de Montes Belos, respectivamente. Trinta e quatro anos
após a emancipação, Sanclerlândia, além de não ser mais subordinada a outra
Comarca, tem dois distritos judiciários a ela subordinados. Desse modo, o fluxo
de pessoas é ampliado, uma vez que concentra serviços do Poder Judiciário
Estadual para duas outras cidades. A título de exemplo desses serviços, podemos
citar os trabalhos da Justiça Eleitoral na organização e apuração de eleições para
Sanclerlândia e os outros dois distritos judiciários.
Com a ampliação da Comarca, a demanda dos serviços também
aumentou provocando a necessidade de instalações mais amplas para o
funcionamento dos trabalhos realizados pelo Poder Judiciário. Nesse sentido,
houve a construção de um novo prédio do rum (observar a foto 2, no capítulo
um), em substituição ao que funcionava na Praça Três Poderes, no centro da
cidade, desde a instalação da Comarca em 1972. Esse novo prédio foi
inaugurado em 2008, na Avenida 5 de Janeiro (GO-326) no setor Planalto.
92
As novas instalações passaram, desse modo, a ser mais condizentes
com as necessidades de uma Comarca, cuja jurisdição abrange mais duas outras
cidades. De acordo com Motta (2008, p.1),
Por ser uma obra construída há mais de 30 anos, a juíza ressaltou
que a antiga sede já não atendia mais às necessidades da
comarca, cuja movimentação forense exige instalações
adequadas para melhor prestação jurisdicional, uma vez que
atualmente tramitam no fórum da comarca aproximadamente 2 mil
processos, distribuídos em três escrivanias (Cível, Criminal,
Fazenda Pública e Família) e um juizado especial (Cível e
Criminal). ’Antes, não tínhamos sala para advogados e estávamos
restritos a um espaço físico de 300 metros quadrados. O arquivo
ocupava uma sala da Câmara Municipal e os júris aconteciam no
mesmo local, além de os funcionários serem obrigados a fazer
suas refeições em pé, pois a copa era minúscula. A situação era
caótica’, lembra. A magistrada também elogiou a iniciativa do
presidente do TJ e seu empenho na construção do novo fórum.
’Graças aos esforços conjuntos empreendidos, inclusive por
Lenar, dispomos de toda infra-estrutura necessária ao bom
atendimento jurisdicional, com mobiliário completo, instalações
modernas e amplo aparelhamento’, enalteceu.
De fato, o prédio do Fórum, visto pela Avenida 5 de Janeiro (GO-326),
destaca-se na paisagem pelo que parece ser sua imponência na cidade, inclusive
com um amplo estacionamento, evidenciando que, nas cidades menores, sem
transporte coletivo urbano, o automóvel e o transporte individual de pessoas
também vêm tomando conta das ruas. Nos trabalhos de campo realizados
ouvimos queixas de algumas pessoas pela saída do fórum do centro
36
da cidade,
uma vez que ficou distante da prefeitura e das agências bancárias e, de fato, a
distância é significativa para os padrões de deslocamento local.
36
No subcapítulo 4.1 Centro e centralidade analisaremos o centro intraurbano de Sanclerlândia e
as suas descontinuidades a partir da área original de maior concentração de atividades comerciais
e de serviços.
93
Figura 17 – Goiás: Comarcas, 2008
94
3.1.2 O Pelotão da Polícia Militar
O 2º Pelotão da 19ª Companhia Independente da Polícia Militar de Goiás,
sediado em Sanclerlândia, é responsável pelo policiamento nesse município, bem
como em Buriti de Goiás e Córrego do Ouro, abrangendo, assim, quatro
municípios. Sua instalação na cidade ocorreu em meados da cada de 1980 e,
em 2008, contava com um efetivo de 40 policiais, sendo que a metade deles
atuava em Sanclerlândia (quadro 9), e apenas um oficial, o Comandante do
Pelotão. Como pode ser demonstrado, as demais cidades da área de abrangência
do Pelotão mantêm certa dependência de Sanclerlândia, dado ser a sede e a que
detém o Comando do efetivo de Policiais Militares nas demais cidades.
Sanclerlândia Mossâmedes Córrego do Ouro Buriti de Goiás Total
20
8
7
6
41
Quadro 9 Sanclerlândia: efetivo de Policiais Militares no 2º Pelotão da 1
Companhia Independente da PM-GO, 2008
Fonte: Trabalho de Campo, 2008 Organização: OLANDA, E. R. 2008
De acordo com as nossas observações de campo realizadas nos anos de
2008 e 2009, os Policiais Militares são lotados na sede do Pelotão em
Sanclerlândia e se deslocam para as cidades de Buriti de Goiás, Córrego do Ouro
e Mossâmedes de acordo com a escala de trabalho.
3.1.3 A Unidade Universitária da Universidade Estadual de Goiás-UnU/UEG
A universidade Estadual de Goiás (UEG) é uma universidade multi-campi
com sede em Anápolis e estruturada em Unidades Universitárias (UnUs) e Polos
Universitários
37
. De acordo com informações obtidas no site da Universidade, em
37
As Unidades Universitárias são definidas no Estatuto da Universidade como hierarquicamente
iguais, visto que têm representantes no Conselho Universitário; não importa nesse caso o
tamanho da Unidade e da cidade na qual ela está localizada. Os polos Universitários da UEG têm
caráter temporário, visto que entre os seus objetivos estão os de oferecer cursos especiais
emergenciais e temporários, sobretudo nos Programas de Formação de professores leigos das
redes públicas de ensino. Em 2007, os polos funcionavam nas seguintes cidades: Goiânia - Acad.
de Polícia Militar, Grupamento de Incêndio do Corpo de Bombeiro, Anápolis, Águas Lindas,
Aruanã, Goiandira, Goiânia - PPE, Itapaci,Piranhas,Planaltina de Goiás,Pontalina,Santo Antônio
do Descoberto. Enquanto as Unus contemplavam as cidades de Anápolis - CET -,Anápolis -
CSEH, Aparecida de Goiânia,Caldas Novas,Campos Belos,Ceres,Crixás,Edéia,Formosa,
Goianésia, Goiânia - ESEFEGO, Goiânia - Laranjeiras, Goiás,Inhumas,Ipameri,Iporá,Itaberaí,
Itapuranga,Itumbiara, Jaraguá, Jussara, Luziânia, Minaçu,Mineiros,Morrinhos,
95
2007, a UEG estava presente em 47 cidades, sendo 41 UnUs e 12 polos
universitários. Em 2010 somam-se 42 UnUs e nove polos, estando, assim,
presente em 49 cidades goianas.
Tendo em vista situar a UnU-UEG no contexto do ensino superior em
Goiás, apresentamos o número de Instituições presentes no Estado a partir de
1996 (quadro 10), bem como o número de matrículas no mesmo período (quadro
11).
Pública Privada
Ano
Total
Total
Federal
Estadual
Municipal
Total
Particular
Filantrópica
1996
36
26
1
13
12
10
10
-
2000
35
9
2
1
6
26
22
4
2004
61
14
4
1
9
47
40
7
2005
66
8
4
1
3
58
51
7
2006
69
8
4
1
3
61
54
7
Quadro 10 – Goiás: número de instituições de ensino de educação superior, 1996,
2000, 2004 – 2006
Fonte: <http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/GoDados/2007/dados/07-05-Universidades_e_Faculdades.htm> .Acesso
em 20 set. 2008 Adaptação: OLANDA, E. R.. 2008
Em 1996, havia no Estado Goiás 36 instituições de ensino superior, sendo
26 públicas
38
e dez privadas. Em 2006 eram 69 instituições, oito públicas e 61
privadas. A expansão do ensino superior em Goiás, no referido período,
acompanhou a onda avassaladora de criação de faculdades e universidades
privadas no Brasil, muitas delas de caráter acadêmico considerado duvidoso
pelas avaliações do Ministério da Educação.
Palmeiras,Pirenópolis,Pires do Rio, Porangatu,Posse,Quirinópolis,Sanclerlândia,Santa Helena de
Goiás, São L. de Montes Belos, São Miguel do Araguaia, Senador Canedo, Silvânia,
Trindade,Uruaçu. Em 2010, são nove polos em nove cidades: Águas Lindas, Aruanã, Itapaci,
Piranhas, Planaltina de Goiás, Pontalina, Santo Antônio do Descoberto, Cristalina e Orizona.
Enquanto as 42 UnUs estão em 40 cidades, sendo as mesmas 39 existentes em 2007, mais uma
UnU criada em Goiandira que, em 2007, era apenas Polo.
38
Treze das 26 instituições públicas de ensino superior existentes em 1996 eram faculdades
estaduais isoladas que foram incorporadas com a criação da UEG em 1999.
96
Pública Privada Ano
Total
Total Federal
Estadual
Municipal
Total Particular
Filantrópica
1996
43.706
21.405
10.144
6.992 4.269 22.301 22.301 -
2000
72.769
25.845
12.403
11.372 2.070 46.924 17.122 29.802
2004
144.406
52.851
15.982
33.431 3.438 91.555 42.581 48.974
2005
149.034
48.828
15.782
28.795 4.251 100.206
48.726 51.480
2006
149.384
46.606
16.614
25.478 4.514 102.778
51.194 51.584
Quadro 11 – Goiás: número de matriculas em cursos de educação superior, 1996,
2000, 2004 -2006
.
Fonte: <http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/GoDados/2007/dados/07-05- Universidades_e_Faculdades.htm>
.Acesso em 20 set. 2008 Adaptação: OLANDA, E. R. 2008
Em 1996, as matrículas no ensino superior em Goiás somavam 43.706,
sendo 21.405 (49%) no ensino público e 22.301 (51%) no ensino privado,
configurando uma pequena vantagem (2%) de alunos em instituições privadas.
Esse quadro que era ruim para a sociedade foi completamente alterado no
transcorrer de uma década, uma vez que, em 2006, apenas 46.606 (31%) dos
alunos estavam no ensino público, enquanto 102.778 (69%) de um total de
149.384 estudantes estavam matriculados no ensino privado. Desse modo, entre
1996 e 2006 tem-se uma expansão de 118% das matrículas no ensino público e
de 361% no ensino privado. Nesse sentido, a criação da UEG (foto 7), em 1999,
e sua expansão pelo interior de Goiás, inclusive com a criação da UnU em
Sanclerlândia (foto 8), em 2001, constituiu um contraponto à expansão do ensino
superior privado. Todavia, contraditoriamente, o mesmo governo estadual que
criou a UEG, instituiu um Programa de bolsas universitárias para alunos
considerados carentes que estudam em instituições privadas, assegurando o
repasse de recursos públicos aos empresários do ensino privado, semelhante ao
que faz também o governo federal com a bolsa universitária.
97
Foto 7- Sede da Universidade Estadual de Goiás/Anápolis
Fonte: <http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/GoDados/2007/dados/07-05-Universidades_e_Faculdades.htm> .Acesso
em 20 set. 2008
Foto 8 – Sanclerlândia: vista aérea parcial do Setor Universitário, ao centro o
prédio da UnU – UEG
Foto: Prefeitura Municipal de Sanclerlândia: 2009
98
A criação e o funcionamento da UnU-UEG em Sanclerlândia ampliou o
papel e a influência da cidade na região, uma vez que o ensino superior público
constitui um atrativo para estudantes de outras cidades. Outro papel
desempenhado pela UnU-UEG é o de interligar e articular Sanclerlândia (cidade
pequena) com a sede da Universidade em Anápolis (cidade dia). O papel de
atração desempenhado pelo ensino superior foi assim destacado por Beaujeu-
Garnier (1997, p. 59):
Um estabelecimento escolar de nível mais elevado ensino
superior, por exemplo atrai estudantes de uma área mais vasta
do que a simples circunscrição urbana, e essa área é tanto mais
extensa quanto mais elevado for o nível do referido
estabelecimento de ensino, sua reputação e sua especialização.
A UnU-UEG em Sanclerlândia tem uma área de atração que incide mais
diretamente nas cidades de Buriti de Goiás, Mossâmedes e Córrego do Ouro. Na
pesquisa de campo, constatamos que metade (50%) das pessoas que afirmaram
ter acesso ao ensino superior público, isso se deu em Sanclerlândia; os outros
50% estão distribuídos entre as cidades de Goiás, São L. de Montes Belos,
Jussara e outras (tabela 10).
Tabela 10 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e Sanclerlândia:
acesso ao ensino superior público, 2009
Cidades de procedência
Cidade onde foi
utilizado o serviço
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 5 1 6 16 28 50%
Goiás 2 1 8 4 15 27%
São L. M. Belos - 1 2 1 4 7%
Jussara 2 1 - - 3 5%
Outras 1 - 3 2 6 11%
Total 10
4
19
23
56
100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
A criação da UEG ampliou a interiorização do ensino superior blico em
Goiás, de acordo com Silva e Assunção (2006,p. 16):
A implantação da UEG acaba por empreender políticas públicas
para expansão e interiorização do Ensino Superior em Goiás,
ainda que na contramão da prática vigente e das exigências de
99
políticas públicas definidas pelo neoliberalismo, que defende a
privatização desse nível de ensino, bem como dos interesses dos
defensores do Ensino Superior particular.
A Unidade Universitária de Sanclerlândia
39
(UnU-Sanclerlândia) foi
implantada no ano 2000 com a expansão e interiorização dessa Universidade.
Inicialmente, a UnU funcionou provisoriamente no prédio da Escola Estadual
Onésimo de Jesus Vieira, cedido pela Secretaria de Estado da Educação-GO,
sendo a sede administrativa e salas de aulas; nas Escolas Estadual 5 de Janeiro
e Escola Estadual Sarjob Rodrigues de Mendonça apenas salas de aula no
período noturno.
A sede própria da UnU-Sanclerlândia foi implantada em 2005 (foto 8).
Sobre as instalações da sede própria, Silva e Assunção (2006, p. 94, grifos
nossos), destacaram a sua relevância para a Universidade e para a cidade
:
No aspecto da infra-estrutura física e de equipamentos, a unidade
cresceu desde que foi instalada. A Unidade Universitária de
Sanclerlândia foi inaugurada em 7 de março de 2005. Somente
em 25 de abril de 2005, a Unidade passou a acolher os
acadêmicos nas novas instalações, construída numa área doada
pelo Município de Sanclerlândia que engloba 11.385,00 metros
quadrados no perímetro urbano, situada na Avenida 5 de Janeiro,
Setor Universitário (antiga Vila Mutirão), na GO-326 saída
para a cidade de Jussara. Deste modo, foi possível concentrar em
único espaço todos os alunos.
Na descrição anterior de Silva e Assunção, três aspectos chamam a
atenção, razão pela qual foram grifados e o dignos de notas. O primeiro diz
respeito à doação da área pelo Município para a construção das instalações da
UnU-Sanclerlândia; isso reforça a afirmação anterior, no capítulo um deste
trabalho, sobre as articulações locais para a instalação de estabelecimentos de
ensino público. A referida doação pode ser entendida como uma ação prática e
efetiva do poder público local para contribuir com a manutenção e a consolidação
do ensino superior público na cidade. Desse ponto de vista, reforçar a Unidade
Universitária local é também reforçar a importância da cidade em âmbito regional,
39
Para conferir detalhes sobre o número de docentes e discentes por ano letivo e cursos, bem
como o número de pessoal técnico administrativo e de apoio, no período de 2001 a 2009,
consultar os quadros um e dois no apêndice D Informações sobre Universidade Estadual de
Goiás – Unidade Universitária de Sanclerlândia, ao final deste trabalho.
100
uma vez que a UnU-Sanclerlândia desempenha um papel significativo também
para outras cidades próximas no que diz respeito ao ensino superior público.
O outro aspecto relevante refere-se à influência da UnU no espaço
intraurbano. Uma escolha locacional acarreta modificações pontuais e em toda a
malha urbana, vez que as alterações pontuais têm rebatimentos em outros locais
da cidade, mesmo em uma cidade pequena. Neste caso específico, o Setor
Universitário antes da instalação da UnU era denominado de Vila Mutirão. Essa
mudança não é apenas uma alteração na toponímia, aliás, a toponímia foi
modificada em função da alteração ocorrida na cidade; antes detinha apenas o
Ensino Básico (Fundamental e Médio) e agora uma Unidade universitária com
dois Cursos de Graduação Regulares
40
(Licenciatura em Informática e
Administração em Agronegócios).
O terceiro e último aspecto, a UnU localizada na GO-326, também
reforça a nossa argumentação desenvolvida no capítulo um deste trabalho ao
afirmar que a GO - 326, no espaço intraurbano de Sanclerlândia, é uma rodovia
avenida ou uma avenida rodovia; a cidade surgiu às margens dela e o poder
público local tem, historicamente, priorizado as suas proximidades na suas
escolhas locacionais.
3.1.4 A 36ª Circunscrição Regional de Trânsito-Ciretran
O Posto do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) foi instalado em
Sanclerlândia no ano de 1985 e transformado em Ciretran-polo
41
em 2000.
Com a instalação da 36ª Ciretran-polo no ano 2000, abriram-se
possibilidades para a implementação de serviços privados complementares
40
Assim que a UnU-Sanclerlândia foi instalada 2001, o primeiro curso de graduação implantado foi
o de Tecnologia em Processamento de Dados.Este curso restringiu-se a uma única turma iniciada
em 2001 com 30 alunos e concluída em 2003 com 20 alunos, ou seja, apenas dois terços dos
alunos iniciantes colaram grau. Em 2002, iniciou-se o curso de Licenciatura em Informática,
“substituindo”, assim, o curso de Tecnologia em Processamento de Dados. Além dos cursos
regulares, foram ministrados cursos de graduação especiais, em caráter temporário em Letras,
Matemática, Pedagogia e Especialização em Psicopedagogia, ambos em um programa específico
para Trabalhadores da Educação.Em outros termos, cursos emergenciais para a qualificação de
professores.
41
Uma diferença fundamental entre um Posto do Departamento Estadual de Trânsito e uma
Circunscrição Regional de Trânsito é que o primeiro presta alguns serviços mas não emite
documentos, enquanto a segunda emite documentos, como, por exemplo, o licenciamento de
veículos e Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
101
36ª Ciretran-polo
Dois Centros de Formação de Condutores
Uma Clínica para exame médico
Uma Clínica para exame psicotécnico
(figura 18): centros de formação de condutores (CFCs), clínicas para exame
médico e psicotécnico (foto 9), ambos necessários para obtenção da carteira
nacional de habilitação
(C N H).
Figura 18 – Sanclerlândia: Ciretran-polo e principais serviços de apoio, 2010
Fonte: Trabalho de Campo, 2009
Organização: OLANDA, E.R. 2009
A Ciretran-polo, além facilitar o atendimento à população da cidade,
atende também as pessoas de três outras localidades sob sua jurisdição (Buriti de
Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes) aumentando, assim, o fluxo de pessoas
e veículos na cidade.
102
Foto 9 – Sanclerlândia: Clínica de Psicologia. Av. 7 de Setembro, centro
.
Foto: OLANDA, E.R. 2008
Na foto da clínica de Psicologia, um serviço privado de saúde, os termos
Psicotran e Detran destacados com letras maiúsculas e em vermelho demonstram
ser um serviço que existe na cidade em função da existência da Ciretran-polo.
Nesse sentido, um complemento de apoio ao serviço público prestado pelo órgão
de trânsito nas cidades pequenas contribui para o estabelecimento de diferenças
entre elas; as que têm uma Ciretran-polo, de certa forma, podem ter ampliado o
fluxo de pessoas e automóveis em razão da prestação desse serviço público.
O depoimento do Sr. M. J. Q. (grifos nossos) comprova, de modo
qualitativo, a importância da implantação de serviços públicos e privados,
inclusive da Ciretran-polo, para a população de Sanclerlândia e de cidades
vizinhas:
Eu cheguei a Sanclerlândia em 1975. Quem te viu quem te vê, as
coisas mudaram muito. A gente chegou por aqui, a gente via os
companheiros saindo de manhã com as enxadas para as roças,
trabalhando, o movimento era pouco. A cidade dependia das
outras cidades vizinhas porque aqui não tinha banco, não tinha
uma Ciretran, então o povo procurava as outras cidades para
resolver os seus problemas. Depois a cidade foi melhorando veio:
o Bradesco primeiro, depois o Banco do Brasil, o Itaú teve aqui
103
também e foi embora. Hoje tem a Ciretran, tem o banco do povo e
a cidade hoje conta com uma independência melhor. [...] Hoje o
povo do Córrego do Ouro, Buriti de Goiás e de Mossâmedes
participa, vem aqui resolver negócios no Banco do Brasil e na
Ciretran (Sr. M. J. Q em 16/02/2008).
Nesse depoimento, uma avaliação positiva das transformações
econômicas ocorridas na cidade e a prestação de serviços públicos e privados. A
implantação desses serviços acabou gerando alguns postos de trabalho que são
significativos para a cidade, como, por exemplo, os funcionários da Ciretran
(quadro 12).
Cidade Representação do Detran Nº de funcionários
Sanclerlândia Ciretran-Polo 7
Mossâmedes Posto 2
Buriti de Goiás Posto 1
Córrego do Ouro Posto 1
Total 11
Quadro 12 Sanclerlândia, Mossâmedes, Buriti de Goiás e Córrego do Ouro:
representação do Detran e número de funcionários, 2008
Fonte: Trabalho de Campo, 2008 Organização: OLANDA, E. R.
A Ciretran-polo em Sanclerlândia, de acordo com os dados obtidos em
2008, emprega sete pessoas, enquanto no Posto do Detran em Mossâmedes
trabalham duas, nos Postos de Buriti de Goiás uma e em Córrego do Ouro
também uma, totalizando onze pessoas empregadas nas representações do
Departamento Estadual de Trânsito (quadro 12). Como esse é o órgão estatal
responsável pelo controle de veículos, há em Sanclerlândia, um número maior de
funcionários pelo fato de atender outras três cidades. Tem ainda uma frota de
2312 veículos (em 2008) maior que a soma das frotas de Buriti de Goiás, Córrego
do Ouro e Mossâmedes que totalizavam 1983 veículos em 2008 (quadro 13).
104
Tipo Sanclerlândia Mossâmedes Buriti de Goiás Córrego do Ouro Total
Automóvel 1024
403
244
266
1937
Caminhão 66
25
14
17
122
Caminhonete 252
74
58
57
441
Micro-ônibus 4
6
8
0
18
Motocicleta 790
308
268
194
1560
Motoneta 166
9
17
10
202
Ônibus 5
2
2
1
10
Trator 5
0
0
0
5
Total 2312
827
611
545
4295
Quadro 13 - Sanclerlândia, Mossâmedes, Buriti de Goiás e Córrego do Ouro: frota
de veículos, 2008
Fonte:<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 02 nov. 2009 Organização: OLANDA, E. R.
Pudemos constatar que a frota de automóveis de Sanclerlândia (1024 )
equivale a duas vezes e meia a frota de Mossâmedes (403 automóveis). Chama a
atenção o número de motocicletas em todas as quatro cidades, mas a frota em
Sanclerlândia (790) é quase o triplo da existente em Mossâmedes. O número de
motonetas (166) também é expressivo, se comparado com as demais cidades:
Buriti de Goiás (17), Córrego do Ouro (10) e Mossâmedes (9)
quadro 13. A
motoneta é um veículo de duas rodas, semelhante à motocicleta. Em
Sanclerlândia, esse veículo é mais utilizado por mulheres, visto ser considerado
mais confortável que a motocicleta, pelo fato de o condutor ficar sentado. Por
ocasião da realização de trabalhos de campo em Sanclerlândia (anos de 2008 e
2009), observamos que, no final da manhã, horário de almoço e no final da tarde,
ao final do turno de trabalho nas confecções, o fluxo de bicicletas e motonetas
nas ruas é intensificado, uma vez que os trabalhadores da indústria do vestuário
se deslocam pela cidade nesses veículos ou a pé.
3.1.5 As agências bancárias e outros serviços privados
Para a análise da importância e significado dos serviços privados em
Sanclerlândia, tomamos por referência as elaborações de George: (1983, p.17):
105
Por definição, toda cidade é um local de empregos ‘terciários’
porque uma de suas funções é efetuar certo número de atividades
de serviços para as regiões vizinhas, ou de forma mais limitada,
para um determinado hinterland, e também porque a presença de
um grande número de habitantes gera necessidade de serviço de
interesse local
.
Quem chega a Sanclerlândia sem maiores informações e se depara com
as duas agências bancárias, com os consultórios de odontologia e clínicas de
fisioterapia, centros de formação de condutores, escritórios de advocacia, entre
outros serviços, poderá não entender de imediato essa condição; ou seja, parte
da clientela que utiliza esses serviços está localizada em outras cidades. Desse
modo, defendemos que uma análise desses serviços é significativa para o
entendimento da cidade, cuja explicação não é encontrada exclusivamente no seu
espaço intraurbano. Além do entorno imediato, os acontecimentos e decisões
tomadas por agentes externos (Estado de Goiás, Brasil e em outros lugares)
acarretam interferências na cidade.
Nos anos de 1980, o Banco Central do Brasil (Bacen) teve como uma de
suas políticas regular a ampliação das agências bancárias com o objetivo de
atingir maior número de municípios brasileiros. Corrêa, V. (2006, p. 189) assim
afirma:
A política de localização bancária do Banco Central no início da
década de 1980 atingiu seu objetivo de estender os serviços da
rede bancária a todo território brasileiro, inclusive aos municípios
com baixo peso econômico. Esse objetivo foi alcançado em parte
graças aos incentivos criados pela legislação então estabelecida.
Com a implementação de uma nova política baseada no princípio de
reduzir o papel do Estado, na década de 1990, o Bacen modifica a sua estratégia
e abandona o objetivo de atender os municípios de menor peso econômico, ou
seja, ocorre uma reversão da política posta em prática nos anos de 1980.
O processo de reestruturação do sistema bancário na década de 1990
realizado no Brasil, Estados Unidos e Inglaterra teve como uma de suas
consequências o fechamento de agências em áreas cuja economia era menos
dinâmica (CROCCO; JAIME JÚNIOR, 2006), ou seja, constituiu um processo
espacialmente desigual. Se para o Brasil houve uma redução do número de
agências com a referida reestruturação bancária, em Sanclerlândia,
106
particularmente, ocorreu o oposto; a cidade, que já detinha uma agência do
Bradesco instalada em 1977, recebeu mais duas na referida década: Banco do
Brasil, cujo Posto de Atendimento Bancário instalado em 1989 foi transformado
em agência (1991), e o Banco do Estado de Goiás (1994). Enquanto uma parcela
da população brasileira passava por restrições ao acesso a serviços bancários
básicos, como conta bancária, uso de cheques e acesso ao crédito, em
consequências da referida reestruturação, em Sanclerlândia ampliou-se a oferta
do serviço. Todavia, não é possível afirmar que, em Sanclerlândia, o acesso aos
serviços bancários tenha sido ampliado para as camadas da população com
menor poder aquisitivo, visto que, para tanto, necessitaríamos de outras
informações complementares de que não dispomos.
O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Bradesco e o Itaú
eram, na década de 1990, os bancos com atuação e abrangência
nacional.Tratando-se, todavia, de bancos com atuação e abrangência
predominantemente regional no referido período, podem ser citados o Banorte
(PE, PB e RN) e o Econômico nas regiões Nordeste e Norte (AMADO, 2006).
Posteriormente, esses bancos foram incorporados por outros maiores,
concentrando ainda mais o sistema bancário nacional com a privatização dos
bancos estaduais, entre eles o Banco do Estado de Goiás (BEG), privatizado em
2001.
A década de 1990 foi marcada pela reestruturação do sistema bancário
nacional no tocante às fusões e incorporações de bancos. Essa reestruturação foi
bancada pelo Estado, entre outros, por meio de dois programas oficiais: o
Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional
(PROER), criado para apoiar as fusões e incorporações dos bancos privados, e o
Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade
Bancária (PROES). Mais uma vez na história, os prejuízos foram socializados
enquanto os lucros sempre são privativos das camadas mais abastadas da
sociedade brasileira.
A privatização do BEG, uma decisão extralocal, teve consequências em
Sanclerlândia, uma vez que o Banco Itaú que adquiriu o Banco Estadual fechou a
agência da cidade em 2005. Segundo Videira (2006, p.16), [...] ”O arranjo
territorial das agências bancárias nos permite perceber uma valoração
107
diferenciada para o território e ainda uma arquitetura das mesmas em rede.” Para
o banco Itaú, Sanclerlândia, com mais duas agências bancárias pode não ter sido
atrativo e não se constituiu num território que proporcionasse a maximização dos
lucros na agência local. De acordo com Videira (2006, p.87),
As fusões implicam mudança na organização do trabalho: suprime
uma série de cargos administrativos e reduz o número de
funcionários. No caso dos bancos, fechamento de agências e
ajustamento de cargos administrativos é sempre uma das
primeiras decisões tomadas.
A reestruturação por meio de fusões e incorporações de bancos no Brasil
contribuiu para a concentração da atividade bancária. De maneira geral, na
primeira década do século XXI, uma parcela significativa dos municípios
brasileiros não têm nem uma agência bancária, embora a população tenha
acesso a alguns serviços bancários sicos nas agências dos Correios por meio
do Banco Postal, nas casas lotéricas da Caixa Econômica Federal e em outros
correspondentes bancários. De acordo com informações divulgadas pelo Bacen,
em 1691 municípios brasileiros não existia uma agência ou posto de atendimento
bancário (PAB) no ano de 2001, em 2004 e 2008, esse número de municípios
alcança 1743 e 2270, respectivamente. Entre 2001 e 2008, os municípios com
Posto Avançado de Atendimento Bancário (PAA) reduziram de 619 para 477
(quadro 14). Desse modo, um nítido aumento do número de municípios no
país cujo acesso aos serviços bancários é mais restrito, se comparados àqueles
que possuem uma ou mais agências bancárias, como Sanclerlândia, por exemplo.
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Município sem agência e sem PAB
42
1.681 1.665 1.600 1.743 2.122 2.115 2.271 2.270
Municípios com uma dependência 2.013 2.060 2.066 2.224 1.871 1.969 1.941 1.940
Municípios com uma agência 1.394 1.406 1.397 1.590 1.535 1.500 1.465 1.463
Municípios com um PAA
43
619 654 669 634 336 469 476 477
Total 5.654 5.658 5.578 5.578 5.580 5.580 5.580 5.580
Quadro 14 – Brasil: municípios
44
com atendimento bancário, 2001 – 2008
Fonte: Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN200801> Acesso em: 14 out. 2008.
Adaptação: OLANDA, E. R.
42
PAB – Posto de Atendimento Bancário.
43
PAA – Posto Avançado de Atendimento.
44
O Banco Central do Brasil considera as cidades satélites do Distrito Federal como municípios,
embora não o sejam. Por esse motivo o número total de 5580 municípios que aparece na tabela é
maior que o número oficial divulgado pelo IBGE.
108
Entre os municípios que não detinham agência bancária em 2008, dois
são vizinhos de Sanclerlândia: Buriti de Goiás e Córrego do Ouro. Mossâmedes
conta com uma agência do Banco Itaú, todavia, na década de 1980, nessa cidade
havia duas agências: uma da Caixa Econômica do Estado de Goiás (Caixego) e
outra do Bradesco.
Os dados da pesquisa de campo indicam que 55% das pessoas que
afirmaram fazer movimentações bancárias fora da cidade em que residem
utilizam as agências bancárias em Sanclerlândia (tabela 11).
Tabela 11 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e Sanclerlândia:
movimentação bancária fora da cidade onde reside, 2009
Cidades de residência
Cidade de realização da
movimentação bancária
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 23 19 13 55 55%*
São L. M. Belos 3 13 - 6 22 20%
Goiânia 6 2 4 2 14 13%
Goiás 4 - 6 - 10 9%
Outras 5 1 1 2 9
8%
Total 41 35 24 10 110
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
*
Para Sanclerlândia o universo considerado foi de 100, haja vista a necessidade de deduzir as
dez respostas da própria cidade que, necessariamente, seriam em outra cidade
.
Com o fechamento das agências na década de 1990, as alternativas
locais para Buriti de Goiás e Córrego do Ouro são o Banco Postal, nos Correios, e
os correspondentes bancários. Todavia, apenas os serviços mais simples são
realizados nas próprias cidades; para o atendimento mais completo, faz-se
necessário recorrer a outras cidades e Sanclerlândia foi a mais citada na pesquisa
de campo. Em Buriti de Goiás, 23 pessoas, entre as 41, afirmaram utilizar os
bancos em Sanclerlândia. Em Córrego do Ouro, foram 19 entre as 35 pessoas;
em Mossâmedes 13 de um total de 24 pessoas fazem suas movimentações
bancárias em Sanclerlândia
.
Em suma, o processo de reestruturação do sistema bancário no Brasil,
realizado na década de 1990, atingiu sobremaneira a região da pesquisa.
Sanclerlândia perdeu uma agência bancária, mas teve seu papel reforçado na
109
região, visto que em duas cidades vizinhas não mais agência bancária,
embora estejam instalados correspondentes bancários que prestam,
parcialmente, esses serviços.
Além dos serviços bancários, os serviços de saúde, principalmente de
odontologia e escritórios de agrimensura, engenharia, advocacia e contabilidade
são significativos na cidade (quadro 15, figuras 20 e 21).
110
Ano de
instalação
Estabelecimento Pessoal ocupado
Total
Odontologia 18
1991 Consultório de odontologia-D Um odontólogo clínico
Um ortodontista (a partir de 2007)
Uma secretária
3
1995 Consultório de odontologia-W Um odontólogo clínico
Uma secretária
2
2002 Consultório de odontologia-J. E. Um odontólogo clínico
Uma secretária
2
2004 Arte e Saúde odontologia Dois odontólogos clínicos
Um ortodontista
Uma secretária
4
2007 Clínica Sorriso Brilhante Um odontólogo clínico
Um endodontista duas vezes por semana
Um ortodontista de 15 em 15 dias
Uma secretária
4
2008 Consultório de odontologia-V Um clínico e implantodontista
Um ortodontista
Uma secretária
3
Psicóloga e médico credenciados pelo
DETRAN
3
2007 Clínica Sandia-Exame médico para o
DETRAN
Um médico e uma secretária 2
2007 Consultório de Psicologia Uma psicóloga 1
Agrimensura engenharia e topografia 10
2001 Escritório—CD Agrimensura e Agronomia Um agrimensor, um agrônomo e três auxiliares 5
2006 Escritório-Terras Agrimensura LTDA Um técnico em edificações com
especialização em agrimensura
Um topógrafo
2
2008 Escritório-Ambiente Engenharia Um engenheiro e dois auxiliares dminist. 3
Ensino privado 17
1992 Escola Dimensão (particular)
78 alunos em 2008
12 professores
Dois auxiliares administrativos e um auxiliar de
serviços gerais
15
2005 Escola de idiomas CCAA Dois professores 2
Escritórios de advocacia 10
1976 Advocacia Brasil Central Dois advogados e dois assistentes 4
1981 Escritório H. G. Dois advogados 2
1990 Escritório V.S. Um advogado 1
1994 Escritório A. X. Um advogado 1
1999 Advocacia Central Um advogado e um assistente 2
Escritórios de contabilidade 18
1973 CONTAVE--contabilidade geral Dois contadores e um auxiliar 3
1987 Contabilidade Arruda Um contador e seis auxiliares 7
1994 Moreira-Contabilidade Um contador e cinco auxiliares 6
Não
informado
ORCATEC Dois contadores 2
Autoescolas e transportadora 12
2002 CFC Conquista Uma secretária e três instrutores 4
2008 Raddar transportes, matriz em Goiânia Três motoristas 3
2009 CFC Horizonte Uma administradora, uma secretária e dois
instrutores
Total 88
Quadro 15 - Sanclerlândia: prestadores de serviços selecionados e número de
pessoal ocupado, 2009
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E. R. 2009
111
A ampliação dos serviços na cidade acompanha o crescimento desse
setor no Estado de Goiás. De acordo com dados da SEPLAN-GO, em 2005, mais
da metade do Produto Interno Bruto (PIB) goiano era formado pelo setor de
serviços (figura 19), sendo esse setor muito significativo para a economia em
Goiás.
Figura 19 – Goiás: estrutura do Produto Interno Bruto – PIB GOIÁS, 2005
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Contas Regionais.
Fonte: <http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/GoDados/2007/dados/02-01-produto_Interno_Bruto.htm > . Acesso em:
20 set. 2008. Adaptação: OLANDA, E. R.
No capítulo dois, afirmamos que a agricultura perdeu espaço em
Sanclerlândia, todavia a pecuária, sobretudo a produção de leite, ainda é
significativa para o município. Os 60,67% do setor de serviços e os 26% da
indústria na estrutura do PIB em Goiás (figura19) indicam que o estado passou
por transformações econômicas importantes e não é mais dependente
exclusivamente da tradicional atividade agropecuária. Nesse sentido, reafirmamos
a análise realizada no capítulo dois demonstrando que Sanclerlândia também
passou por um conjunto de transformações e uma das consequências verificadas
nesse processo foi a diversificação das atividades econômicas.
13,36%
60,67%
25,97%
Agropecuária
Indústria
Serviços
112
Os principais serviços privados em Sanclerlândia que têm concorrentes
na própria cidade investem em publicidade na emissora de rádio local (Cerrado
FM); esta é uma constatação resultante de observações empíricas realizadas nos
trabalhos de campo (2007; 2008 e 2009), ocasiões em que ouvimos parte da
programação da rádio Cerrado FM. Além da publicidade radiofônica, folhetos de
divulgação e cartões de visitas constituem meios de divulgação dos serviços.
Dessa forma, selecionamos, a título de exemplos, dois cartões de consultórios
odontológicos, dois de clínicas de fisioterapia (figura 20), dois dos centros de
formação de condutores e dois dos escritórios de agrimensura (figura 21).
Uma leitura dos cartões dos consultórios de odontologia e fisioterapia
evidencia que apenas um consultório se localiza fora do centro da cidade (Clínica
Sorriso Brilhante, na Vila Borba). Todavia, ele está estrategicamente localizado
em frente ao posto de saúde municipal Cristiano Coelho M. Damasceno. Uma das
clínicas de fisioterapia está localizada ao lado do hospital municipal São Vicente
de Paulo, o que, certamente, não é uma mera coincidência. As escolhas
locacionais para o estabelecimento desses profissionais tiveram influência dos
serviços públicos; nesses casos específicos, um posto de saúde e um hospital
municipal (figura 20).
113
Figura 20 – Sanclerlândia: cartões de serviços de saúde selecionados, 2009
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
114
Figura 21 – Sanclerlândia: cartões de serviços selecionados, 2009
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
115
Como mencionado, a existência de dois CFCs em Sanclerlândia foi
possibilitada pela implantação da Ciretran-polo, em 2000. O CFC Conquista é
uma filial de uma empresa sediada em Firminópolis-GO, estabelecida em
Sanclerlândia em 2002, dois anos após a implantação da Ciretran. A partir do
início de 2009, o CFC Conquista passou a ter a concorrência do CFC Horizonte,
empresa aberta na própria cidade e sem unidades em outros locais (figura 21).
Os escritórios de agrimensura e agronomia estão na mesma rua (Avenida
Cezoste Pinto, no centro). Embora no cartão da CD Agrimensura e Agronomia
conste o endereço na Avenida 05 de Janeiro, o escritório fora transferido para a
Avenida Cezoste Pinto, utilizada também como passagem para as pessoas que
atravessam a cidade transitando pela GO-326. Assim sendo, tem uma
movimentação de pessoas e veículos que deve interessar para a visibilidade dos
referidos escritórios, uma vez que eles são concorrentes entre si (figura 21).
3.2 O comércio
A atividade comercial antecede ao povoado e à cidade; um dos pilares
que deu origem ao povodo do Barreirinho, posteriormente Sanclerlândia, foi uma
venda – a venda do Saint-Clair. Seis décadas após a instalação da referida
venda, o maior mercado da cidade foi denominado de Super Sancler (foto 10),
fato interessante, uma vez que reforça a memória da cidade
45
.
45
Na parte interior do Super Sancler foi pintado um belo painel que retrata aspectos pretéritos da
cidade; dessa forma, o registro de parte da memória não está apenas no nome do
estabelecimento, mas também no interior da edificação.
116
Foto 10 – Sanclerlândia: mercado Super Sancler. Av. 5 de Janeiro, centro
Foto: OLANDA, E.R. 2008
Nos estudos desenvolvidos em Geografia Urbana clássica
elaborações muito interessantes sobre a importância das atividades comerciais
para as cidades pequenas, embora elas não sejam muito lembradas. George
apontou a relação entre comércio e circulação para a cidade: “O problema
fundamental da Geografia Urbana é um problema de Geografia da Circulação.
Qualquer que seja a atividade preponderante na cidade, está subordinada às
facilidades de homens e mercadorias” (GEORGE, 1983 p. 38). Essa elaboração
de George refere-se às cidades com predomínio das atividades comerciais. Para
a nossa análise, o mais importante dessa reflexão é a importância da relação
cidade e atividade comercial com a circulação, uma vez que Sanclerlândia surgiu
às margens de uma estrada e, atualmente, é atravessada por duas rodovias
pavimentadas, o que constituiu então um facilitador para o deslocamento de
pessoas e mercadorias
.
117
Uma menção direta da importância inicial do comércio para a cidade
pequena e sua posterior ampliação pode ser encontrada em outra obra clássica
da Geografia Urbana, segundo Beaujeu-Garnier (1997, p.215-216):
Na origem, na pequena cidade, o comércio encontra-se no seu
coração num espaço privilegiado pelas possibilidades de acesso,
que lhe asseguram o máximo de clientes e lhe permitem
desenvolver-se mantendo-se no centro, onde pode pagar os
preços relativamente elevados do solo. Paralelamente ao
crescimento urbano multiplicam-se os estabelecimentos
comerciais
.
De acordo com os Censos Demográficos e Contagem da População,
Sanclerlândia tinha 2444 habitantes em 1970, 4235 em 1980, 4938 em 1991,
5565 em 2000 e 6038 em 2007. A cidade cresceu e o comércio acompanhou
esse crescimento; atualmente (2010) é um segmento organizado, inclusive com
uma entidade representativa, a Câmara dos Dirigentes Lojistas – CDL (foto 11).
Foto 11 Sanclerlândia: Câmara de Dirigentes Lojistas. Av. Independência,
centro
Foto: OLANDA, E.R. 2009
A partir de 1991, quando se verifica um crescimento mais expressivo da
população, o comércio também amplia seu espaço, sua importância e seu
118
significado para a cidade; em âmbito regional, esses aspectos foram apontados
pelo depoimento do Presidente da CDL
Sanclerlândia:
O comércio, de 1991 para cá teve um desenvolvimento muito
grande. 17 anos atrás era um comércio fraco, sem motivação
de crescimento. Com o passar do tempo ele veio se
desenvolvendo, os prefeitos vieram fazendo melhorias na cidade e
com isso o comércio veio fortalecendo. Mas o crescimento do
comércio se deu mais de sete anos para [2000]. [...] Hoje nós
atendemos bem a região. Bem atendida, a pessoa não precisa
sair de Sanclerlândia para fazer compras fora, o comércio de
Sanclerlândia hoje atende a população local e da vizinhança. Os
nossos clientes mais fortes de cidades vizinhas são de Buriti e de
Mossâmedes. A estrada sendo asfaltada se torna um caminho
mais fácil para você chegar até a cidade, e também cidades que
ficam de 14 a 20 km de nossa cidade (Sr. F.E.S. em 19/02/2008).
O depoimento do dirigente da CDL tem grande importância qualitativa,
uma vez que, além de presidente, ele foi um dos fundadores da entidade. Porém,
ao registrar a posição de quem está do outro lado, ou seja, uma pessoa que é
cliente do comércio local, o posicionamento é muito semelhante ao do presidente
da CDL, inclusive com referência à inflexão ocorrida no comércio local a partir dos
anos de 1990:
O comércio local era mais pacato, mais parado sem muita
diversidade, sem muitas promoções, era um comércio mais
tradicional. Hoje o comércio em Sanclerlândia está diversificado
porque houve um crescimento, entraram novas empresas e com a
concorrência aumentando todos os comerciantes da cidade
tiveram que mudar suas práticas de trabalho. Trabalhando com
mais promoções, melhores atendimentos, diversificar a
mercadoria e investir no crescimento. Eu vejo o comércio de
Sanclerlândia bem mais dinâmico, bem mais concorrido que em
1995, acompanhou o crescimento, de certa forma acompanhou a
evolução (Sr. S.A.L. em 20/02/2008).
O depoimento anterior aponta alguns elementos bastante significativos
para a nossa análise, tais como: melhor atendimento às pessoas, concorrência e
diversificação. A diversificação se trabalhada em parágrafos posteriores. A
opinião do Sr. S. A. L. sobre o dinamismo do comércio local não é uma posição
isolada. Indagados, no questionário, acerca da realização de compras de bens de
consumo pessoal e para casa, 99% das respostas dos entrevistados indicaram
ser na própria cidade, enquanto 1% recorre a outras cidades (figura 22).
119
99%
1%
Legenda
Na própria cidade
Em outra cidade
Figura 22 – Sanclerlândia: compra de bens de consumo não-duráveis, 2009
Fonte: Trabalho de Campo, 2009. Organização: OLANDA, E.R. 2009
Com relação às compras de bens de consumo duráveis, tais como,
móveis e eletrodomésticos, 96% das pessoas afirmaram que compram na própria
cidade, enquanto 4% recorrem a outras cidades (figura 23). Dessa forma, as
respostas obtidas para as compras de bens de consumo duráveis e não-duráveis
confirmam o posicionamento do Presidente da CDL e o seu argumento no sentido
de que o comércio local supre bem as necessidades das pessoas da cidade.
Nesse sentido, houve uma convergência entre o que foi apontado pelo Presidente
da CDL e a visão das pessoas que são os potenciais compradores.
96%
4%
Legenda
Na própria cidade
Em outra cidade
Figura 23 – Sanclerlândia; compra de bens de consumo duráveis, 2009
Fonte: Trabalho de Campo, 2009. Organização: OLANDA, E.R. 2009
120
De acordo com os dados obtidos na CDL-Sanclerlândia, 31 empresas
eram associadas em 2008. Além das associadas, a CDL mantinha a relação de
29 empresas locais (quadro 16). Todavia, a entidade empresarial não possuía, em
2008, o registro de todas as empresas comerciais da cidade, haja vista que, dos
três postos de combustível existentes na cidade, na lista da CDL aparece apenas
um, o Auto Posto Sanclerlândia. O mesmo pode ser afirmado com relação aos
estabelecimentos que comercializam frutas e verduras, uma vez que na relação
constam dois dos três existentes
.
Empresa associada à CDL Empresa não associada à CDL
A Construtora Agroboi
Agrocampo Arueira Confecções
Auto Peças Central Baby Crilla
Auto Posto Sanclerlândia Baby Kides
Bazar e Papelaria Bozó Moto peças
Brother Auto Center Casa Rural
Confecções Ébenezer Comercial Faria
Delta Modas Divas Confecções
DN Móveis Drogaria Sanclerlândia
Elenice Modas Enéias Bar
Estilo Modas Farmácia N. S. do Perpétuo Socorro
Fox Auto Elétrica Farmácia Cruzeiro
Futura Geração Farmácia São Bento
Grandê Calçados Funerária Pax e Silva
Joalheria Crhonos Funerária Pax Santo Antônio
K Entre Nós Modas Gessolândia
Malú Modas Gráfica Salette
Mobilar Hotel Modelo
MR Materiais de Construção Lanchonete Opção
Nossa Ótica Loja Filadélfia
Novo Lar Madeireira Casa Bella
Prolar-Móveis Marmoraria Imperial
Provedor BR Central Sancolor Foto e Vídeo
RG Magazine Super Bom Preço
Samaco Materiais de Construção Super Sousa
Segunda Pelle Super Sudoeste
Super Sancler Verdurão Real
Supermercado Boca Livre Vidraçaria Campos
Supermercado Norte Sul Xik Xilik
Tok Final
Verdurão Central
Quadro 16 – Sanclerlândia: CDL, relação de empresas, 2008
Fonte: Câmara dos Dirigentes Lojistas de Sanclerlândia- 2008 Org.: OLANDA, E.R.
121
Pela relação da CDL é possível identificar uma segmentação e
especialização no comércio. Verificamos que no depoimento do Sr. S. A. L. foi
apontada a diversificação, e ela é verdadeira. No rol da CDL podemos, entre
outros, destacar sete segmentos ou ramos especializados (quadro 16):
1. Lojas de roupas para crianças: Baby Crilla, Baby Kides e Futura Geração.
2. Lojas especializadas em confecções: Arueira Confecções, Confecções
Ébenezer, Delta Modas, Divas Confecções, Elenice Modas, Estilo Modas, K
Entre Nós Moda, Malú Moda e Segunda Pelle.
3. Lojas de material de construção: Madeireira Casa Bella, Marmoraria Imperial,
Mr Materiais de Construção, Samaco Materiais de Construção.
4. Peças para automóveis e motocicletas: Auto Peças Central, Bozó Moto peças
e Fox Auto Elétrica (oficina e autopeças).
5. Lojas de móveis e eletrodomésticos (foto 12): DN móveis, Mobilar, Novo Lar,
Prolar-Móveis.
Foto 12 Sanclerlândia: loja de móveis e eletrodomésticos, Av. 5 de Janeiro,
centro
.
Foto: OLANDA, E.R. 2008
122
6. Supermercados: Super Bom Preço, Super Sancler, Super Sousa, Super
Sudoeste, Supermercado Boca Livre e Supermercado Norte Sul.
7. Lojas de produtos para o campo: Agroboi, Agrocampo e Casa Rural.
O comércio local apresenta uma segmentação possível para uma cidade
pequena e segue a lógica do consumo existente na maioria das cidades
brasileiras. Em Sanclerlândia, mesmo com a presença de uma unidade
universitária com dois cursos de graduação, há apenas uma papelaria e nem uma
livraria; nesse aspecto, assemelha-se à maioria das cidades brasileiras.
3.3 A indústria do vestuário: facções e confecções
As facções e confecções em Sanclerlândia são empreendimentos novos,
haja vista que, a o final da década de 1990, a única indústria significativa na
cidade era o laticínio, fundado em 1958, antes da emancipação em 1963.
Reafirmamos ser esta uma atividade nova para a cidade, contudo é integrada a
processos bem mais amplos no Estado de Goiás, no Brasil e no Mundo. Nesse
sentido, tem articulações nas escalas local (cidade), regional, nacional e mundial.
Com as facções e confecções é intensificada a articulação da cidade,
bem como maior integração com o capital, todavia de modo periférico. Uma peça
de roupa costurada em Sanclerlândia poderá ser vendida no Brasil, na América
Latina ou na Europa, uma vez que a empresa multinacional Hering
46
alcança
esses mercados.
A novidade com a implantação das facções e confecções pode ser
entendida como uma intensificação da inserção local na fase capitalista
denominada por Harvey de acumulação flexível. Segundo Harvey (1998, p. 140),
A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um
confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na
flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,
dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo
surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas
maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos
mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de
inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação
flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de
46
Sobre a Companhia Hering, conferir o trabalho de LUKLTENBERG (2004).
123
desenvolvimento desigual, tanto em setores como em regiões
geográficas.
Entendemos que os processos pelos quais Sanclerlândia vem passando,
inclusive com as novas atividades econômicas, contêm elementos da acumulação
flexível que integram os processos capitalistas. Estes, por sua vez, acarretam o
desenvolvimento desigual e combinado. De acordo com Smith (1991, p.209),
Quanto maior é a centralização do capital, mais importante se
torna o nível de diferenciação geográfica, uma vez que maiores
capitais estão operando na escala nacional e internacional, mais
do que na escala local e podem, desse modo, tirar proveito das
diferenciações nessa escala (e ajuda a produzi-las).
Considerando as afirmações de Smith, o capital movimenta-se
continuamente em busca de maiores lucros, ou seja, é um processo de constante
acumulação. Esse movimento articulado nas escalas local, nacional e mundial
contribui para o estabelecimento de diferenciações estruturadas e reestruturadas
na escala local, incluindo-se a organização da produção e das relações de
trabalho. Segundo as elaborações de Santos e Silveira (2001, p. 144, grifos
nossos),
Hoje, graças às possibilidades técnicas do período, o trabalho
pode ser repartido entre muitos lugares, de acordo com a sua
produtividade para certos produtos. Isso leva a refuncionalizar
certas áreas portadoras de densidades pretéritas e a ocupar
áreas até então rarefeitas. Em todos os casos, modifica-se o
valor de cada pedaço do território e aumenta a cooperação.
A realização do trabalho, dividido entre muitos lugares, possibilita a
instalação das facções em Sanclerlândia. O tecido cortado (talhado) provém de
Anápolis que, por sua vez, fora tecido em São Paulo ou Santa Catarina, ou seja,
uma multiplicidade de lugares, nos quais o trabalho é realizado nas várias
etapas de produção para que, por exemplo, uma peça de malha fique pronta para
ser comercializada. As facções estão no final desse processo que compõe um
setor em franco crescimento e gerando emprego no Estado de Goiás. Com os
incentivos fiscais, o estado atraiu empresas nesse setor, inclusive uma divisão de
confecções da empresa multinacional Hering, instalada na cidade de Anápolis.
De acordo com Castro e Brito (2008, p.5),
124
A confecção é um dos setores que mais cresceu na indústria de
Goiás e tornou-se uma referência nacional nos últimos anos. Além
de ser fortemente empregador esse segmento tem levado poder
de interação local e, por conseqüência, de dinamização das
economias em que ele se encontra inserido.
Em parágrafos anteriores, afirmamos que a instalação das confecções e
facções em Sanclerlândia deve ser entendida como algo articulado ao Estado de
Goiás e ao país. A intensificação das instalações de indústrias compõe um
conjunto complexo de transformações recentes em Goiás; Sanclerlândia participa
diretamente dessas transformações por meio da indústria do vestuário. A feira
Goiás Mostra Moda, realizada em Goiânia na primeira quinzena de agosto de
2009, teve a participação do polo confeccionista de Sanclerlândia, apontado pelo
encarte A força da Indústria goiana, veiculado no jornal o Popular, como um dos
principais polos de confecção do Estado (grifo nosso):
Goiás produz atualmente 6 milhões de peças por mês, volume
superior ao do Rio de Janeiro, por exemplo. Jeans, moda
feminina, lingerie, modinha e moda praia são alguns dos fortes da
confecção do Estado, que tem vários pólos de produção. Os
mais importantes estão em Goiânia, Jaraguá, Trindade, Catalão,
Pontalina, Taquaral e Sanclerlândia (O POPULAR, 30 ag. 2009,
p.10).
Com a ressalva de que um encarte de jornal é quase sempre patrocinado
pelos setores interessados, e pode conter exageros com relação à importância e
ao peso do setor das confecções no estado, é inegável sua relevância para a
economia goiana, de modo geral, e para Sanclerlândia, em particular, onde os
empregos criados contribuíram para a dinamização recente da economia local.
Dessa forma, o depoimento de um proprietário de facção demonstrou a
importância da atividade para a cidade, de modo contundente:
Uma coisa que está acontecendo ultimamente e que eu penso
que é bom para a cidade é a geração de empregos, Sanclerlândia
hoje tem mais de vinte confecções, todas elas gerando de 15 a 40
empregos, Sanclerlândia hoje é uma cidade pequena que tem
na área da confecção quase mil empregos, é um aspecto positivo,
é emprego que ganha pouco, um salário mínimo. Eu tenho uma
facção, é uma das menores, das últimas que foram implantadas e
a minha turma recebe em torno de seis a sete mil reais por
mês, quer dizer uma pequeninha de quinze funcionários coloca no
mercado em torno de seis a sete mil reais por mês, agora imagine
as maiores que a minha, se você pega quinze funcionários cada
um com um salário mínimo dá uma reação no comércio. Nós
125
[Sanclerlândia] temos uma confecção com 60 funcionários, a
maior parte delas varia de 18 a 25 funcionários, então é uma
verba que entra no comércio e com isso acaba gerando outros
empregos no comércio também (SR. A.R.V em 18/02/2008).
O Sr. A. R. V. indica os baixos salários pagos aos trabalhadores do setor,
todavia, com o desemprego estrutural existente na sociedade, uma atividade que
cria emprego, mesmo com baixa remuneração, mas que garanta o pagamento do
salário ao final do mês trabalhado, de fato contribui para a economia local. Em
conjunto, a atividade é realmente significativa para alavancar o dinamismo da
economia na cidade. Todavia, esse dinamismo é relativo e deve ser visto com
cautela, uma vez que é um setor com instalações e máquinas simples (foto 13)
que podem muito rapidamente ser transferidas para outro lugar que ofereça mais
vantagens nas batalhas da guerra pela competitividade.
Foto 13 – Sanclerlândia: interior de uma facção
. Foto: OLANDA, E.R. 2008
Os empregos criados pelas facções e confecções em Sanclerlândia são
expressivos para a cidade (quadro 17).
126
Funcionários Atividade /Nº
Homens Mulheres Total
Confecções / 08 60 85 145
Facções / 20 154 234 388
Total 28 214 319 533
Quadro 17 – Sanclerlândia: confecções e facções e número de funcionários por
sexo, 2007
Fonte: Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Sanclerlândia-GO e Banco do Povo. 2008.
Organização: OLANDA, E. R.
De acordo com dados referentes a dezembro de 2007 (quadro 17), as
oito confecções empregavam 145 pessoas, sendo 85 mulheres e 60 homens. Nas
20 facções trabalhavam 234 mulheres e 154 homens, totalizando assim 388. As
319 mulheres trabalhadoras nessa atividade representam 60% do total enquanto
os homens representam 40% das 533 pessoas empregadas.
Em números absolutos, sem uma reflexão mais aprofundada, o total de
533 pessoas que trabalham no ramo das confecções pode parecer um dado
pouco significativo, todavia, ao tecer duas comparações, esse número ganha
expressividade. As 533 pessoas representam 9% da população da cidade em
2007 (6038 habitantes). Outra comparação a ser feita, entre as muitas possíveis,
refere-se ao número de associados ao Sindicato de Trabalhadores Rurais. A
entidade, fundada em 1972, contava com 592 associados em 2008. Desse modo,
o número de trabalhadores nas facções e confecções é equivalente aos
associados a uma entidade sindical consolidada e com história na cidade. Vale
registrar que os trabalhadores nas confecções, embora sejam expressivos em
Sanclerlândia, não estão organizados e não possuem uma entidade local
representativa da categoria.
As confecções e facções estão espalhadas por diversos pontos da malha
urbana de Sanclerlândia, ou seja, não há uma concentração espacial das
unidades de produção. Elas podem ser encontradas na área central e nos bairros;
ocupam prédios de escolas públicas desativadas, imóveis residenciais e galpões
cedidos pela prefeitura. Esse padrão, ou melhor, a falta dele é semelhante às
indústrias de confecção em outras cidades pequenas como em Cianorte-PR
127
(GONÇALVES, 2005) e em Sombrio-SC, trabalhadas por (BELTRÃO, 2001,
p.142). Segundo Beltrão, em Sombrio,
A alteração mais visível quanto aos tipos de indústrias pode ser
notado pela expansão da indústria da confecção por suas
características, como apontado, ela convive com o uso
residencial (garagens, anexos), dispersando-se por toda a cidade.
Em Sanclerlândia, as facções, começaram a ser implantadas em 2002 e
continuam aumentando na cidade (quadro 18).
Quadro 18 – Sanclerlândia: facções por ano de instalação
Fonte: Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Sanclerlândia e Banco do Povo: 2008.
Organização; OLANDA, E. R.
A partir da instalação da primeira facção em 2002, o ritmo foi lento até
2006, período em que foram implantadas sete unidades, ao passo que em 2007
foram instaladas 13 totalizando, assim, 20 facções em dezembro de 2007. Como
demonstramos, em Sanclerlândia, essa é uma atividade nova, cujo processo
acarreta transformações na cidade. Por estar em curso, esse movimento pode
ser apreendido parcialmente, porém com elementos passíveis de análise para o
processo de constituição da centralidade interurbana na cidade.
Em suma, neste capítulo procuramos analisar a importância e os
significados dos serviços públicos e privados, bem como do comércio e da
indústria do vestuário para Sanclerlândia. Por meio de processos distintos e
integrados, as referidas atividades foram sendo instaladas ou ampliadas na
cidade e são expressivas para o seu crescimento e a contínua estruturação
urbana. Assim, os processos verificados são significativos para a análise da
Ano de instalação Quantidade de facções
2002
01
2003
03
2004
00
2005
01
2006
02
2007
13
Total 20
128
articulação dos espaços intra e interurbano, integrando um conjunto de
transformações no tecido urbano em Sanclerlândia e na sua relação com a
região. Esses aspectos serão trabalhados no capítulo subsequente.
CAPÍTULO IV
AS ARTICULAÇÕES ENTRE O INTRA E O INTERURBANO: O SINGULAR NO
PARTICULAR
A cidade é um conjunto complexo: é, simultaneamente, ela própria (existe, tem uma estrutura
espacial, social, econômica...) e um intermediário, uma engrenagem num conjunto, o das
relações com o exterior; os dois aspectos reagem um sobre o outro de múltiplas maneiras. As
relações multiformes, inter e extra-urbanas, são essenciais (BEAUJEU-GARNIER, 1997, p.28-
29).
130
Este capítulo encontra-se organizado em três subcapítulos. No primeiro
deles uma reflexão sobre centro e centralidade e, ao final, expomos o que
consideramos como centro intraurbano em Sanclerlândia. No subcapítulo 4.2
sistematizamos o tema centralidade e cidade pequena a partir de duas
classificações generalizantes para o conjunto da rede urbana brasileira e
apresentamos exemplos empíricos da ampliação da centralidade interurbana
dessa cidade. Finalizando o capítulo, no subcapítulo 4.3, destacamos a
importância do papel desempenhado pelo Estado para o desenho e o redesenho
das centralidades intra e interurbana em Sanclerlândia.
4.1 Centro e centralidade
O estudo de uma cidade pequena pode ser realizado sob diversos
prismas, ou seja, são muitas as possibilidades para empreender tentativas que
visem à compreensão parcial da cidade e do urbano. A partir do entendimento de
que o urbano é constituído por processos materiais e imateriais, a cidade é vista
por nós como materialização dos processos contínuos e descontínuos, portanto
incompletos e inconclusos, que constituem o movimento da sociedade.
Para início da discussão, vamos recorrer a dois autores, Villaça e
Castells, ambos não-geógrafos, para uma conceituação de centro; o primeiro é
arquiteto e o segundo sociólogo, assim o ponto de partida encontra-se no âmbito
das Ciências Humanas.
Segundo Villaça (2001, p.238), “O centro de um povoado ou cidade não é
um ponto no espaço euclidiano.” E, na mesma página, continua: [o centro é o]
“conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamento de fluxos de uma cidade
real”.
Com base nas considerações de Villaça, entendemos que o centro é
inerente à cidade, seja cidade grande, média ou pequena; nelas estão presentes
em maior ou menor proporção tanto as instituições sociais quanto os diversos
fluxos materiais e imateriais relevantes para os espaços intra e interurbano.
Para a Sociologia Urbana, o centro urbano é um local geográfico com
conteúdo social. O centro expressa mais um conteúdo que uma forma
(CASTELLS, 2006). A centralidade urbana trabalhada por Castells em A questão
131
urbana refere-se à centralidade intraurbana, que não há referências à
centralidade interurbana.
O centro visto a partir da e para a cidade grande, sobretudo as
metrópoles, vem quase sempre acompanhado ou antecedido por um adjetivo;
nesse sentido, é comum encontrar na literatura sobre a temática, na Geografia ou
fora dela, adjetivações às vezes em pares, tais como: centro/centro expandido;
centro histórico/centro novo; centro tradicional e área central. Outras expressões
usuais são aquelas com a adição do prefixo (re) para referenciar o centro, tais
como: “requalificar”, “revitalizar”, “refuncionalizar” e “recuperar”. Toda essa gama
de expressões conceituais e outras, como, “subcentros”, “cidade multinucleada”,
“cidade polinucleada” ou cidade “poli(multi)nucleada” (LEFEBVRE, 1999)
têm
muitos sentidos e significados para a compreensão das metrópoles e quiçá das
cidades dias. Para análises de cidade pequena como Sanclerlândia, por
exemplo, pouco contribuem para compreensão de centro e centralidade; uma vez
que, ainda que sejam integrante da mesma realidade do urbano pela qual passam
a sociedade e o país, a cidade pequena, mononucleada, tem especificidades que
necessitam ser compreendidas e respeitadas. Em outros termos, é necessário
afirmar que uma cidade pequena não é uma miniatura de cidade grande ou
média, a rigor ela não é melhor nem pior é diferente; e isso precisa ser
encarado de frente por quem ousa estudar as cidades menores.
A cidade e o urbano pressupõem a criação de centros e centralidades;
nesse sentido, segundo as proposições de Lefebvre (1999, p. 93),
Não existe cidade, nem realidade urbana sem um centro. Mais
que isso, o espaço urbano se define, dissemos, pelo vetor nulo,
é um espaço onde cada ponto, virtualmente, pode atrair para si
tudo o que povoa as imediações: coisas, obras, pessoas.
Assim, de acordo com o referido autor, a cidade atrai para si as bases
materiais (edificações, obras de engenharia diversas etc.) e imateriais (ideias,
valores, etc.). Essa conjunção das bases materiais e imateriais que a cidade
viabiliza e potencializa foi denominada por Lefebvre de conteúdo da centralidade
urbana (1999, p.110, grifos nossos):
Descobrimos o essencial do fenômeno urbano na
centralidade. Mas a centralidade considerada com o movimento
132
dialético que a constitui e a destrói, que cria ou estilhaça. Não
importa qual ponto possa se tornar central, esse é o sentido do
espaço-tempo urbano. A centralidade não é indiferente ao que
ela reúne, ao contrário, pois ela exige conteúdo. E, no entanto,
não importa qual seja esse conteúdo
.
Os espaços tornados como centrais e a centralidade foram estudados e
compreendidos pela Geografia Clássica, sobretudo com base na Teoria das
Localidades Centrais. Essa teoria foi desenvolvida por Cristaller na Alemanha, na
primeira metade do século XX, ao estabelecer um modelo padrão de localidades
a partir da distribuição efetivada pelo comércio varejista. Assim, quanto maior era
a cidade e sua capacidade de distribuição de bens e mercadorias, maior era sua
área de influência e de alcance espacial. Os estudos de Cristaller e Losh
tornaram-se paradigmáticos para parte da compreensão clássica de centro e
centralidade na Geografia e, consequentemente, por parte dos geógrafos.
Segundo Berry (1971, p.4):
La teoria de los lugares centrales estudia la localización, tamaño,
naturaleza y distribución espacial de esas aglomeraciones de
actividade, y es, por lo tanto, la base teórica de una gran parte de
la geografía urbana y de la geografía del comercio al por menor y
de las empresas de servicios.
Ainda de acordo com Berry (1971, p. 47),
Los principios de la teoría de los lugares centrales proporcionan
una explicación completa de la localización urbana sólo cuando
los centros urbanos se mantienen exclusivamente como centros
de mercado en virtud de las funciones comerciales y de servicios
que ofrecen a las regiones que les rodean.
No Brasil, essa compreensão tem sido revista no período
contemporâneo, principalmente por Corrêa (1997) e Santos, (2008
47
). A
complexidade das cidades pequenas, médias e grandes tornou-se muito maior,
ou seja, o mundo e as cidades são muito diferentes daqueles preconizados pela
Teoria dos Lugares Centrais. De acordo com Diniz (2006, p.71),
47
SANTOS, Milton. O espaço dividido. 2 ed.São Paulo: Edusp, 2008. A primeira edição
brasileira data de 1979. Originalmente, a obra foi editada em francês: L´espace partagé: les deux
circuits de l´économie urbaine des pays sous-développés.
133
Os trabalhos desenvolvidos por Lösch e Cristaller que deram
origem à teoria dos lugares centrais, por exemplo, consideravam
as cidades como constituindo áreas mais ou menos estanques em
que a mobilidade dos factores produtivos e dos consumidores era
praticamente inexistente.
Atualmente, as cidades formam redes urbanas que o tecidas por teias
muito mais complexas; a hierarquia urbana tradicional e as respectivas relações
entre as cidades continuam existindo, todavia foram substancialmente alteradas e
ressignificadas pelas novas tecnologias dos transportes e de comunicação. Dessa
forma, a hierarquia entre as cidades continua existindo, entretanto nem todos os
canais das redes estabelecidas na complexa teia de relações passam por todos
os degraus das relações interurbanas. Uma cidade pequena mantém relações
hierárquicas tradicionais próximas e distantes, mas, concomitantemente, mantém
relações diretas com outras cidades pequenas, cidades médias, metrópoles e
cidades mundiais, sem a necessidade de passar por cidades intermediárias.
Na perspectiva das redes urbanas, fatores econômicos contribuem para o
fortalecimento de determinadas centralidades nas cidades. Segundo Matos e
Braga (2004, p.4),
Nos estudos sobre redes urbanas, fica evidente a relação estreita
entre a aglomeração populacional e a existência de fatores
econômicos diversos, que fazem aumentar a centralidade dos
pontos mais dinâmicos tornando-os pólos de atração para
diversos fluxos que constroem a força das redes.
Para Sposito (1998, p. 33), [...] “Toda nova centralidade produzida no
interior da cidade ou fora dela, e neste caso, redefinindo-a, produz um nível de
polaridade, constitui um de fluxos e expressa uma escolha da sociedade”. Em
Sanclerlândia, aqui considerada como um polo sub-regional, de acordo com
análise da planta funcional (figura 9) e diversas observações de campo, o centro
atual é descontínuo e interligado na e pela Avenida 5 de Janeiro (figura 24).
Desse modo, podemos verificar quatro áreas que concentram mais atividades
comerciais e de serviços e, consequentemente, o maior fluxo de pessoas na
cidade, a saber:
A- O trecho compreendido entre as praças Hermógenes Coelho e Três
Poderes. Na Praça Hermógenes Coelho encontram-se o hotel mais
134
antigo, em funcionamento na cidade; o prédio onde funcionou o
hospital Santa Lúcia (privado) até dezembro de 2007; além de vários
estabelecimentos comerciais em suas adjacências. Na Praça Três
Poderes funcionam a Prefeitura Municipal, a Câmara Municipal, a
Agência dos Correios, a Biblioteca Pública Municipal, a sede do
Sindicato de Trabalhadores Rurais e a Matriz da Igreja Católica. As
Agências do Banco do Brasil e do Bradesco, a Casa Lotérica da Caixa
Econômica Federal, a Câmara dos Dirigentes Lojistas e vários
estabelecimentos comerciais, dentre eles as lojas especializadas em
produtos para o campo, completam a concentração nesse trecho da
Avenida.
B- A Estação Rodoviária e suas imediações com a Rádio Cerrado FM; o
Ginásio de Esportes, o Estádio Cerrado Alegre; estabelecimentos
comerciais como lojas de materiais de construção, lojas de móveis e
eletrodomésticos, além do maior mercado da cidade.
C- A sede da UnU - UEG no Setor Universitário juntamente com a única
Escola Municipal
48
; a sede do Pelotão da Polícia Militar e o Parque
de Exposições Agropecuárias.
D- O rum, no Setor Planalto, e alguns estabelecimentos comerciais
nas proximidades, entre eles um dos três postos de combustível
existentes na cidade.
O centro de Sanclerlândia encontra-se no eixo da Avenida 5 de Janeiro,
a avenida rodovia, e apresenta três descontinuidades que foram condicionadas
em função das escolhas locacionais do poder público e das empresas,
principalmente as comerciais. A construção da estação rodovria, do Estádio
Cerrado Alegre e de um ginásio de esportes na década de 1980, além da
implantação de estabelecimentos comerciais nas décadas de 1990 e atual, fora
da área inicial de concentração de atividades comerciais e de serviços constituem
a primeira descontinuidade. A segunda foi possibilitada pela construção do parque
de exposições agropecuárias, a escola municipal, a sede do Pelotão da PM e a
sede própria da UnU-UEG, instalada em 2005. A terceira e mais recente
48
No município, atualmente, não há mais uma rede Municipal de Ensino, visto que, funciona
apenas escola Sarajob Rodrigues de Mendonça.
135
descontinuidade é representada pela construção e funcionamento do prédio do
fórum, no Setor Planalto. Em suma, as descontinuidades no centro são
evidenciadas nas dimensões temporal e espacial.
136
Figura 24 – Sanclerlândia
:
centro descontínuo, 2009
Organização: OLANDA, E.R.
137
A partir da digressão cujo intuito foi apresentar o que se considera centro
intraurbano em Sanclerlândia, retomamos a questão da centralidade. Em
trabalho cuja reflexão destaca uma cidade média, Whitacker (2003, p.137) assim
compreende a centralidade intraurbana:
[...] Compreendemos o caráter processual da centralidade, em
complementação ao centro, expressão territorial. Ou ainda, que a
centralidade diz respeito aos ’fluxos, a fluidez’ e o centro é a
’perenidade’, ou seja, a centralidade é expressão da dinâmica de
definição/redefinição das áreas centrais e dos fluxos no interior da
cidade.
Dessa forma, concordando com Whitacker, entendemos que centro e
centralidade são associados, ou seja, um não existe sem o outro. Nesse sentido,
o centro com seus fluxos e fixos acaba sendo a materialização do(s) processo(s)
constituído(s) pela centralidade
.
De acordo com Corrêa (1994, p. 21), “A centralidade de um núcleo, por
outro lado refere-se ao grau de importância a partir de suas funções centrais:
maior o número delas, maior a sua região de influência, maior a população
externa atendida pela localidade central e maior a sua centralidade”. Essa
proposição de Corrêa ainda é bastante significativa para a compreensão do papel
das cidades pequenas, visto que elas, assim como as metrópoles, são
heterogêneas e apresentam grandes diferenças entre si.
Segundo Sposito (1998, p.35), “A centralidade urbana pode, então, ser
trabalhada cada vez mais por meio da articulação entre suas duas escalas de
expressão: a do espaço interno da cidade e da expressão de suas relações com
outros espaços”. A relação de Sanclerlândia com outras cidades e a constituição
de sua centralidade interurbana constituem a pauta do subcapítulo a seguir.
4.2 Centralidade e cidade pequena
As elaborações sobre as cidades que consideram o Brasil em sua
totalidade deixam escapar parte da realidade, sobretudo das cidades menores;
ademais, o alto nível de generalização faz com que as particularidades e
singularidades sejam omitidas. Sobre esse aspecto, Clark (1991, p.47) fez o
seguinte alerta: [...] “Quando se desce na escala da maior aglomeração urbana
para o menor lugarejo rural, é extremamente difícil identificar linhas divisórias e
138
terminologias aceitáveis universalmente”. Desse ponto de vista, não tipologias
e terminologias que apresentem de modo coerente a diversidade do universo das
cidades brasileiras, quando vistas a partir de suas regiões.
As classificações e tipologias elaboradas com o nível de generalização
para a totalidade das cidades no Brasil são importantes para a elaboração geral
de políticas públicas a serem implementadas no país; todavia o Brasil é um país
muito diverso e complexo e assim são as suas cidades. Um dos exemplos de
tipologia generalizante encontra-se no Plano Nacional de Habitação (PlanHab),
elaborado pelo Ministério das Cidades e divulgado em 2004. A elevada
generalização torna-se distanciada da realidade das cidades quando vistas a
partir de suas regiões. No PlanHab, as cidades em Goiás são identificadas e
classificadas sob a ótica da visão metropolitana do Centro Sul do país, ou seja,
pela tipologia apresentada (tabela 12), as dinâmicas do território goiano e
brasileiro o pouco consideradas no que diz respeito às suas especificidades
regionais.
Tabela 12 -
Plano Nacional de Habitação: caracterização das cidades brasileiras, 2004
Cidades em Goiás Tipologia
Exemplo(s) Total e (%) *
A - Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo
B - Principais aglomerações e capitais ricas Águas Lindas de
Goiás e Luziânia
19 (8%)
C - Aglomerados e capitais prósperas do N e NE
D - Aglomerados e centros regionais Centro Sul Anápolis e Goiânia 22 (9%)
E - Aglomerados e centros regionais do N e NE
F - Centros urbanos em espaços rurais prósperos Itumbiara e Jataí 10 (4%)
G - Centros urbanos em espaços rurais consolidados, com algum grau de
dinamismo
Catalão e São L. de
Montes Belos
17 (7%)
H - Centros urbanos em espaços rurais com elevada desigualdade e pobreza Niquelândia 1 (0,4%)
I - Pequenas cidades em espaços rurais prósperos Chapadão do Céu 38(15%)
J - Pequenas cidades em espaços rurais pobres, com baixo dinamismo Anicuns, Buriti de
Goiás, Córrego do
Ouro, Mossâmedes e
Sanclerlândia
89 (36%)
K - Pequenas cidades em espaços rurais pobres, com alto dinamismo Alto Paraíso de
Goiás e Aruanã
46 (19%)
Cidades não classificadas Campo Limpo de
Goiás, Gameleira,
Ipiranga de Goiás e
Lagoa Santa
4 (2%)
Fonte: Disponível em < http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-
habitacao/planhab/biblioteca/Tipologia%20de%20Municipios%20-%20PlanHab.pdf/view?searchterm=Tipologia+ >Acesso em 23 jun.
2009 Organização: OLANDA, E. R.
* Percentual relativo aos 246 municípios goianos
A tipologia dos municípios adotada no PlanHab de 2004 partiu da divisão
do Brasil em três macro-regiões: Norte, Nordeste e Centro-Sul. Norte e Nordeste
139
aparecem agrupados nos itens C Aglomerados e capitais prósperas do Norte e
Nordeste e E – Aglomerados e Centros Regionais do Norte e Nordeste.
No PlanHab, a maior parte das cidades goianas encontra-se classificadas
nos itens B, D, F, G, H, I, J e K (tabela 12). As cidades pequenas estão
agrupadas nos itens I Pequenas cidades em espaços rurais prósperos, 38
cidades (15%) dentre elas Chapadão do Céu; J Pequenas cidades em espaços
rurais pobres, com baixo dinamismo 89 cidades goianas (36%) dentre elas
Sanclerlândia; e K Pequenas cidades em espaços rurais pobres, com alto
dinamismo, 46 cidades (19%) como Alto Paraíso de Goiás e Aruanã, por exemplo.
Em suma, 173 cidades das 246 cidades goianas foram classificadas como
cidades pequenas em espaços rurais pouco dinâmicos, muito dinâmicos e
prósperos.
Outra classificação com o uso de tipologia generalizante, mas que se
aproxima um pouco mais das especificidades regionais foi elaborada pelo IBGE
no estudo sobre as Regiões de Influência de Cidades (REGIC-2007). A partir de
meados da década de 1960, o IBGE iniciou os estudos sobre as regiões de
influência de cidades (REGIC). O primeiro estudo data de 1966 e os seguintes em
1978, 1993 e 2007. Desse modo, a partir dos anos de 1960, exceto na década de
1980, no Brasil, há expressivos estudos sobre as regiões de influências de
cidades publicados pelo IBGE.
Na hierarquia urbana apresentada pelo REGIC-2007 (IBGE, 2008), os
Centros de Zona B são cidades que, hierarquicamente, estão no primeiro nível
acima das cidades locais. Em 2007, no Brasil, foram classificadas 364 cidades
nesse nível. Das 246 cidades localizadas no Estado de Goiás, Goiânia foi
classificada como Metrópole; três Centros Sub-regionais A (Anápolis, Itumbiara e
Rio Verde); treze Centros de Zona A (Caldas Novas, Catalão, Ceres, Goiás, Iporá,
Jataí, Mineiros, Morrinhos, Pires do Rio, Porangatu, Quirinópolis, o L. de
Montes Belos e Uruaçu); treze Centros de Zona B (Anicuns, Crixás, Goianésia,
Goiatuba, Inhumas, Itaberaí, Itapaci, Itapuranga, Jussara, Niquelândia, Rubiataba,
Sanclerlândia e São Miguel do Araguaia) e 216 Centros Locais (quadro 19).
140
Nº de cidades localizadas Nº de cidades sob influência
Tipo de centro urbano No Brasil Em Goiás De Goiânia
Grande metrópole nacional 01 00 00
Metrópole nacional 03 00 00
Metrópole 09 01 00
Capital regional A 11 00 00
Capital regional B 20 00 01
Capital regional C 39 00 01
Centro sub-regional A 85 03 04
Centro sub-regional B 79 00 02
Centro de zona A 192 13 21
Centro de zona B 364 13 24
Centro Local 4473 216 309
Total 5276 246 362
Quadro 19
Número de cidades segundo hierarquia das Regic-2007
Fonte: IBGE, Regic 2007,2008 Organização: OLANDA, E. R. 2009
Pela tipologia adotada no PanaHab, Sanclerlândia foi considerada uma
cidade em Espaços Rurais pobres com baixo dinamismo, enquanto no REGIC
2007 aparece como um dos treze Centros de Zona B. Ou seja, por ser apontada
como um Centro de Zona tem um dinamismo maior que outras cidades pequenas
classificadas como Centros Locais.
A posição adotada neste trabalho é a de afirmar a importância do foco de
análise a partir da região para entender uma cidade pequena como Sanclerlândia,
haja vista que, quando há mudanças na escala de análise, ocorrem também
mudanças no conteúdo analisado. De acordo com Castro (1995, p. 137),
Quando o tamanho muda, as coisas mudam o que não é pouco,
pois tão importante quanto saber que as coisas mudam com o
tamanho, é saber como elas mudam, quais os novos conteúdos
nas novas dimensões. Esta é, afinal, uma problemática geográfica
essencial.
O olhar e a intencionalidade, neste trabalho, são focados na
especificidade regional em Sanclerlândia. Desse modo, informações e dados
obtidos em trabalho de campo revelam que a influência é maior do que a
divulgada pelo REGIC 2007, ou seja, a influência e polarização vão além de Buriti
141
de Goiás, e a centralidade vem sendo paulatinamente ampliada, sobretudo a
partir da década de 1990.
Nesse ponto, abrimos um parêntese para explicitar diferenças entre o
nosso estudo e o Regic 2007. O trabalho do IBGE foi um estudo abrangente da
rede urbana no Brasil, realizado com base em dados secundários
49
, e considerou,
entre outros aspectos, a gestão do território através dos órgãos federais dos
Poderes Executivo e Judiciário, ou seja, os órgãos estaduais de gestão do
território não foram considerados. Em nosso trabalho, consideramos os órgãos do
Governo do Estado de Goiás (Detran, Polícia Militar, Comarca). Outro aspecto
que diferencia o nosso estudo do Regic é que, além de dados secundários,
trabalhamos com dados primários obtidos com aplicação de questionário em 38%
dos domicílios em Buriti de Goiás, 40% em Córrego do Ouro, 18% em
Mossâmedes e 17% em Sanclerlândia, totalizando uma média de 23% dos
domicílios no conjunto das quatro cidades
50
. Assim, os dados primários e
secundários nos possibilitaram estabelecer conclusões diferenciadas do estudo
realizado pelo IBGE. Ademais, ressaltamos que não se trata de contraponto, mas
de objetivos e de metodologias diferenciadas.
A discussão sobre centralidade é pouco expressiva no que diz respeito às
cidades pequenas, uma vez que essa temática tem sido mais trabalhada pelos
geógrafos para análises dos espaços intraurbanos das cidades médias e das
metrópoles. São raros os trabalhos dedicados às cidades pequenas que
destacam a importância do tema, tais como as teses de Bernardelli (2004) e
Endlich (2006).
49
Segundo indicações do Regic 2007 (IBGE, 2008, p.9, grifos nossos): [...] “Para os municípios
que não foram identificados como centros de gestão, o IBGE realizou um levantamento específico.
De um universo de 5564 municípios vigentes em 2007, foram pesquisados 4625, dos quais, cerca
de 85%, têm menos de 20000 habitantes.O questionário preenchido pela Rede de Agências do
IBGE em fins de 2007 investigou: 1) os principais destinos dos moradores dos municípios
pesquisados para obter produtos e serviços (tais como compras em geral, educação superior,
aeroportos, serviços de saúde, bem como os fluxos para aquisição de insumos e o destino dos
produtos agropecuários). Note-se que tais informações não foram quantificadas, e o
informante é o próprio agente do IBGE, que, por realizar pesquisas e percorrer o território,
tem conhecimento de sua área de jurisdição e acesso a fontes locais para confirmar as
informações solicitadas.”
50
Para maiores detalhes, conferir: tabela 21 no apêndice A: descrição dos procedimentos
metodológicos e o questionário completo, no apêndice B.
142
Ao analisar o papel do Estado na implantação de moradias populares em
cidades pequenas nas proximidades de Catanduva-SP, Bernardelli (2004, p. 35)
fez referência à perda de centralidade das cidades pequenas, sob aspectos de
importância econômica:
A perda de centralidade de um núcleo e sua refuncionalização
podem ocorrer vinculados, por exemplo, à produção exercida no
campo, relacionada tanto à ampliação da acessibilidade e
barateamento dos custos de transporte quanto a alterações na
estrutura agrária, da qual podem decorrer também diminuição da
população e, daí, perda do mercado consumidor
.
No que diz respeito à refuncionalização dos centros urbanos,
concordamos com Bernardelli, o que pode ser compreendido por meio de análises
dos processos pelos quais passam muitas cidades pequenas. Com relação à
perda ou não de centralidade, preferimos uma posição mais cautelosa assim
como a afirmada por Endlich (2006, p. 189, grifos nossos):
As pequenas cidades ganham novos significados, extrapolando o
costumeiro papel de localidade central. Por isso mesmo, com a
redução da centralidade elas não são insignificantes, por mais
que se encontrem fragilizadas. Entretanto esses novos papéis
não possuem um esquema explicativo regular, embora os
processos apresentem tendências parecidas. A multiplicidade e
diversidade de situações destas cidades indicam que o
entendimento das mesmas no âmbito da rede urbana precisa
considerar vários elementos, denotando certa complexidade, de
qualquer maneira os papéis das pequenas cidades são
reafirmados.
As duas autoras citadas apontaram, para a cidade pequena, a
perspectiva real de redução ou perda de centralidade. Todavia, Endlich alerta
para a diversidade de situações das cidades; essa posição é por nós
compartilhada, ou seja, a diversidade pode e deve ser compreendida a partir de
análises cujo foco parte da cidade pequena ou de determinadas regiões sem,
contudo, restringir a cidade ou a região, sob pena de se proceder a uma análise
míope.
No capitulo três, demonstramos os principais conteúdos da centralidade
em Sanclerlândia. Neste ponto, retomamos o tema, sobretudo com o intuito de
reforçar com aspectos da ampliação da centralidade Sanclerlândia em relação às
cidades de Buriti de Goiás, Córrego e Mossâmedes. Nessa direção, as
143
informações obtidas em trabalhos de campo e organizadas nas tabelas 13, 14, 15
e 16 contribuem para ampliação dessa discussão no que diz respeito ao comércio
varejista, especificamente sobre a compra de bens de consumo duráveis, tais
como: eletrodomésticos, móveis e outros em outras cidades; serviço particular em
odontologia e serviços públicos prestados pelo Poder Judiciário Estadual
(Comarca) e pelo Detran (Ciretran-polo).
Tabela 13 – Sanclerlândia e região: compra de bens de consumo duráveis em
outra cidade, 2009
Cidades de procedência Cidade de realização da
compra
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 48 (84 %) 9 (31 %) 50 (55 %) 107 60%*
Goiânia 7 (12 %) 3 (10 %) 16 (18 %) 8 (57 %)
34 18 %
São L. M.Belos 1 (2 %) 16 (55 %) 1 (1 %) 5 (36 %) 23 12 %
Goiás-GO - - 20 (22 %) - 20 10%
Outras 1 (2 %) 1 (4 %) 4 (4 %) 1 (7%) 7 4%
Total (%
51
)
57 (28%) 29 (13%) 91(44%) 14 (4%) 191(20%)
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
* Para Sanclerlândia, o universo considerado foi de 177, haja vista a necessidade de deduzir, do
total de 191, as 14 respostas da própria cidade que, necessariamente, seriam em outra cidade.
Assim, as 107 respostas obtidas equivalem a 60% de 177.
De acordo com o levantamento de campo, numa leitura de conjunto, 60
% das pessoas entrevistadas em Buriti de Goiás, Córrego Ouro e Mossâmedes
que afirmaram comprar bens de consumo duráveis fora da sua cidade realizaram
suas compras em Sanclerlândia; na segunda posição foi indicada Goiânia, com
18% das preferências. A leitura dos dados separados por cidade indica que a
centralidade em Sanclerlândia, nesse aspecto, é maior para Buriti de Goiás (84%)
e Mossâmedes (55%), enquanto em Córrego do Ouro atinge apenas 31%. Duas
conclusões o significativas quanto a aspecto: a primeira é o fato de as pessoas
nas três cidades fazerem compras em Sanclerlândia; no entanto, nem uma
pessoa em Sanclerlândia afirmou fazer compras nas três cidades. A segunda
refere-se à influência predominante de Sanclerlândia em Mossâmedes e Buriti de
Goiás; em rrego do Ouro é superada por São L. de Montes Belos (55%), ou
51
Percentual do total de questionários aplicados (Buriti 202, Córrego do Ouro 218, Mossâmedes
209, Sanclerlândia 338; total: 967).
144
seja, nesse aspecto uma concorrência de polarização entre as duas cidades,
com predominância para São L. de Montes Belos (tabela 13).
Sobre o acesso ao serviço odontológico com dentista particular, nem uma
pessoa entrevistada em Sanclerlândia afirmou recorrer às outras três cidades.
Entretanto, 35 (37%) pessoas em Buriti de Goiás, sete (7%) em Mossâmedes e
cinco (4%) em Córrego do Ouro obtiveram tratamento odontológico particular em
Sanclerlândia (tabela 14).
Tabela 14 – Sanclerlândia e região: tratamento odontológico com dentista
particular, 2009
Cidades de procedência
Cidade onde foi realizado
o tratamento
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 35 5 7 161 (87%) 208 43%
Córrego do Ouro 1 88 (75%) - - 89 18%
Mossâmedes 2 - 72 (77%) - 74 15%
Buriti 41 (43%) - - - 41 8%
Goiânia 9 11 6 15 41 8%
Outras 7 14 9 8 38 8%
Total 95 (100%)
18 (100%) 94 (100%) 184 (100%) 491(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Ao proceder a uma leitura da tabela 16, por cidades, verificamos que 87%
das pessoas em Sanclerlândia, 77% em Mossâmedes, 75% em Córrego do Ouro
e 43% em Buriti de Goiás tiveram acesso ao tratamento odontológico em sua
própria cidade. O índice atingido em Sanclerlândia é bem maior que o das outras
cidades. Buriti de Goiás é a cidade que pode ser considerada carente nesse
aspecto, haja vista que 57% das repostas indicam que as pessoas recorreram a
outras cidades, principalmente a Sanclerlândia, para realizar tratamentos
odontológicos.
Além do comércio varejista e do serviço de saúde odontológico privado,
Sanclerlândia tem também uma maior centralidade no serviço de Justiça Estadual
(Comarca) e no Detran (Ciretran-polo).
Com relação à Justiça Estadual, em Sanclerlândia, 95% das pessoas que
afirmaram -la utilizado o fizeram na própria cidade. Em Mossâmedes, que
145
também é sede de uma Comarca, o índice cai para 86%, ou seja, menor do que o
verificado em Sanclerlândia (tabela 15).
Tabela 15 – Sanclerlândia e região: acesso aos serviços da Justiça Estadual,
2009
Cidades de procedência
Cidades onde foi
utilizado o serviço
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 15 24 1 76 (95%) 116 74%
Mossâmedes 2 - 25 (86%) - 27 17%
Goiânia 3 2 1 3 9 6%
Outros - 2 2 1 5 3%
Total 20(100%)
28 (100%) 29 (100%) 80 (100%) 157 (100%) 100%
Fo
nte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Em Buriti de Goiás, 15 (75%) das pessoas entrevistadas recorreram aos
serviços do Poder Judiciário Estadual em Sanclerlândia, enquanto em Córrego do
Ouro foram 24 pessoas (86%). Esses resultados estão num patamar esperado
pela pesquisa, uma vez que as duas cidades são Distritos Judiciários da Comarca
de Sanclerlândia desde 1998. Desse modo, os dados obtidos no trabalho de
campo confirmam a ampliação da centralidade de Sanclerlândia no que diz
respeito à atuação do Poder Judiciário Estadual por meio da Comarca local.
O último aspecto refere-se à maior atuação do Detran em Sanclerlândia
com os serviços prestados pela Ciretran-polo, ao passo que, em cada uma das
outras cidades, funciona apenas um posto de atendimento
.
Tabela 16 – Sanclerlândia e região: acesso aos serviços do Detran, 2009
Cidades de procedência
Cidades onde foi
utilizado o serviço
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 29 34 23 100 186 67%
Goiânia 6 4 6 5 21 8%
São L. M. Belos 2 16 - 1 19 7%
Córrego do Ouro - 11 - - 11 4%
Mossâmedes 2 - 10 - 12 4%
Buriti 9 - - - 9 3%
Outras 6 2 5 5 18 7%
Total 54(100%)
67 (100%) 44 (100%) 111 (100%) 276(100%)
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
146
Das 276 pessoas que afirmaram ter utilizado os serviços do Detran, 186
(67%) foram à Ciretran em Sanclerlândia, 21 pessoas (8%) em Goiânia, 7% em
São L. de Montes Belos, 4% em Córrego do Ouro, 4% em Mossâmedes e em
Buriti de Goiás apenas 3% (tabela 16). Desse modo, as respostas confirmam a
ampliação da centralidade em Sanclerlândia com os serviços prestados pela
Ciretran-polo.
4
.3 O desenho e o redesenho dos papéis desempenhados por Sanclerlândia:
o papel do Estado na constituição de centralidades intra e interurbanas
Para compreender o papel do Estado na constituição das centralidades
intra e interurbana, reafirmamos a importância da elaboração teórica de Lefebvre
sobre a cidade e o urbano especialmente no que diz respeito à ordem distante. O
Estado é um dos principais atores dessa ordem que atuam na cidade. Em
Sanclerlândia, essa atuação antecede à cidade, visto que para a constituição do
Povoado do Barreirinho encontramos comprovações da atuação, sobretudo
com o estabelecimento das escolas, um dos pilares básicos no qual se sustentou
o surgimento da cidade.
Neste subcapítulo vamos retomar aspectos trabalhados em capítulos
anteriores com o intuito de reforçar o papel e a importância do Estado nos
processos de estabelecimentos da centralidade em Sanclerlândia, cuja ordem de
apresentação não significa maior ou menor importância e significado. Os quatro
aspectos são:
a colonização;
os estabelecimentos de ensino formal;
as rodovias e a circulação;
o Poder Judiciário Estadual e órgãos públicos estaduais.
4.3.1 A colonização
No capítulo um refutamos as ideias de que a colonização e o povoamento
efetivados no Mato Grosso de Goiás, a partir da década de 1930, tenham sido
espontâneos. O Estado foi apontado como o indutor da colonização e,
consequentemente, significativo para o surgimento do Povoado do Barreirinho,
147
posteriormente Alto ou Cruzeiro e finalmente Sanclerlândia, em 1962, quando,
oficialmente, foi criado o distrito. A intensificação do povoamento por meio da
chegada dos migrantes mineiros é um aspecto considerado importante para o
surgimento da cidade. Dados levantados por Olanda (2001) indicam que na
década de 1940 mais da metade dos migrantes que aportavam em Goiás
provinham de Minas Gerais. Os mineiros fundaram o povoado do Barreirinho e
continuam sendo expressivos na cidade; dados primários e atuais obtidos em
trabalho de campo apontam a importância dos migrantes, de um modo geral, e do
predomínio dos mineiros entre eles (tabela 17).
Tabela 17 – Sanclerlândia: local de nascimento dos entrevistados, 2009
Local de nascimento Total
%
Na própria cidade 100
30%
Cidade vizinha 70
21%
Na zona rural do município 23
7%
Outra cidade do Estado 69
20%
Outro Estado 76
22%
Minas Gerais 50
66%
Bahia 6
8%
Outros estados (CE, DF, MA, MS, MT, PA, PE, PI, PR, RJ, SP e TO) 20
26%
Total 338
100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Os dados devem ser compreendidos nas dimensões quantitativa e
qualitativa, ou seja, a quantidade, mesmo pequena, é portadora de significados e
de importância qualitativa. Das 338 pessoas entrevistadas em Sanclerlândia, 76
(22%) nasceram em outros estados da federação, o que corresponde a mais de
um quinto das pessoas. Das 76 pessoas cujo local de nascimento foi em outro
estado, 50 (66%) são de Minas Gerais
52
; em segundo lugar estão as seis pessoas
(8%) naturais da Bahia e 20 nasceram em 12 diferentes estados (tabela 17). Ante
52
Segundo França (1985, p. 74-75, grifos nossos): A posição de Minas Gerais, como área de
emigração, tornou-se histórica. Após o período minerador, no decorrer do século XIX e início do
atual, Minas representava o centro dispersor de povoadores de vastas paragens do Brasil. O
elemento mineiro revelou uma grande índole desbravadora, deslocando-se para regiões distantes
e desconhecidas.[...] Os mineiros desbravaram boa parte das terras do ‘Mato Grosso de
Goiás’ numa primeira etapa, possibilitando assim a formação da frente pioneira após 1930. A
partir de então, os fluxos de famílias mineiras adquiriram ritmo acelerado.Esses migrantes
eram oriundos principalmente de duas regiões: oeste de Minas e Triângulo Mineiro.”
148
o exposto, identificamos a importância dos migrantes residentes em
Sanclerlândia, enquanto resultantes de processos migratórios ocorridos a partir do
final da primeira metade do século XX e no transcorrer da segunda. Esses
processos podem, parcialmente, ser atribuídos à política do Estado Brasileiro de
intensificação da ocupação do Centro-Oeste do país.
Na década de 1950, sob a presidência de Juscelino Kubistsheck de
Oliveira, o Governo Federal, com o Plano de Metas, intensificou novamente a
política de migração para o oeste do país e, sobretudo, para o Estado de Goiás.
Ao analisar a influência do Plano de Metas na intensificação do processo
migratório e do povoamento em Goiás, Barreira (1997, p. 24, grifos nossos) assim
afirmou:
As políticas públicas desta fase visavam à consolidação de uma
extensa periferia para produzir excedentes de alimentos e
matérias-primas e consumir produtos industrializados, políticas
capazes de sustentar a industrialização do Sudeste do país bem
como de absorver os contingentes migratórios do Nordeste e de
Minas Gerais.
Em suma, a presença maior de migrantes mineiros e de baianos na
segunda posição em Sanclerlândia confirma empiricamente a análise realizada
por Barreira, com a qual compartilhamos.
4.3.2 Os estabelecimentos públicos de ensino formal
Cinquenta e quatro anos é o interstício temporal entre o início do
funcionamento da primeira sala de aula, cujas atividades começaram em 1947, e
a implantação do primeiro curso de graduação em 2001. Nesse meio século, não
mudou substancialmente o papel expressivo da atuação do Estado, visto que,
para a instalação da primeira escola no Povoado do Barreirinho, houve
necessidade de verba federal; o primeiro curso de graduação é público, sendo
criado pela Universidade Estadual de Goiás. Todavia, para a instalação desses e
outros estabelecimentos de ensino, além do Estado, houve participação da
sociedade local articulada por sua elite que controla as instituições e,
consequentemente, o poder político. Três estabelecimentos de ensino (quadro 20)
são mais expressivos no que diz respeito à atuação da sociedade e do Estado,
149
neste caso específico representado pela Prefeitura Municipal, governos Estadual
e Federal, Universidade Estadual de Goiás.
Estabelecimento Ano de criação
Primeira Escola Pública do Povoado do Barreirinho 1947
Escola Municipal de 1º Grau 5 de Janeiro
Transformada em Escola Estadual com a mesma denominação
1967
1978
Colégio Municipal José Alves de Assis
Transformado em Colégio Estadual com a mesma denominação
1974
1984
Unidade Universitária da Universidade Estadual de Goiás
Primeiro curso de graduação: Tecnologia em Processamento de Dados
2000
2001
Quadro 20 – Sanclerlândia: estabelecimentos de ensino selecionados, 2008
53
Fonte: Trabalho de Campo, 2008 Organização: OLANDA, E.R.
Outras escolas municipais também foram instaladas no município e na
cidade; porém selecionamos a Escola de Grau 5 de Janeiro por ter sido a
primeira na cidade a ministrar aulas de quinta a oitava ries do Primeiro
Grau
54
e o Colégio José Alves de Assis , o primeiro e único com ensino de
Segundo Grau
55
(quadro 20).
Os estabelecimentos de ensino foram fundados e mantidos, num primeiro
momento, pela Prefeitura Municipal e, posteriormente, passaram a ser mantidos e
geridos pela Secretaria de Estado da Educação. Embora esse não seja um fato
exclusivo de Sanclerlândia, demonstra a importância dada ao ensino formal desde
o início do povoado e sua continuidade com a emancipação. Para transformação
53
Os estabelecimentos de Ensino Fundamental contribuíram para a consolidação do Povoado do
Barreirinho e do município de Sanclerlândia, embora, atualmente, não sejam relevantes para a
centralidade interurbana. Com relação ao Ensino Médio, ministrado no Colégio José Alves de
Assis, na década de 1970 e início dos anos de 1980, atraiu estudantes de três povoados do
município de Mossâmedes (Buriti, Campo das Perdizes e Centrolândia). Desse modo, pode ser
considerado como um estabelecimento importante para a centralidade interurbana nas referidas
décadas.
54
Sexto ao nono anos do Ensino Fundamental, na denominação atual.
55
Ensino Médio, de acordo com a denominação atual.
150
da Escola 5 de Janeiro e do Colégio José Alves de Assis em estabelecimentos
de ensino estadual houve lutas da população e empenho da elite política local
articulada em âmbito estadual. Desse modo, expressa uma articulação da escala
local com a escala regional (estadual) , inclusive em atos e decisões legais
tomadas na esfera do governo estadual que afetaram positivamente a cidade. A
respeito de estabelecimentos de ensino formal, a última decisão mais significativa
do Estado foi a implantação da UnU-UEG, em 2000, por meio da Resolução 024,
do Conselho Universitário da UEG, de 20 de julho de 2000.
4.3.3 As rodovias e a circulação
Sanclerlândia surgiu às margens de uma estrada. Essa afirmação tem
sido recorrente ao longo deste trabalho e, mais uma vez, torna-se necessária. Ao
longo da história desta cidade, a estrada e, atualmente, as duas rodovias
pavimentadas tiveram e têm um papel importante, inclusive reconhecido pelos
seus moradores. Todavia, a situação geográfica atual no cruzamento das GOs
164 e 326 pode ser entendida como parte da ação de um elemento da ordem
distante
56
, ou seja, do Estado.
A abertura e pavimentação das rodovias estaduais em Goiás é resultado
da ação de diferentes governos, sobretudo a partir da década de 1980. No
entanto, o Sistema Rodoviário do Estado de Goiás, integrado ao Sistema
Rodoviário Nacional, não é resultante da ação isolada de nenhum governo, visto
que é um componente da política do Estado. Em Goiás, o Sistema Rodoviário
tem, ao longo do tempo, sido implementado quer seja na abertura de novas
rodovias, quer seja na pavimentação daquelas existentes. Dessa forma,
entendemos que o cruzamento rodoviário em Sanclerlândia integra uma
articulação bem maior que transcende a sua malha urbana, propiciada pelo
Estado e executada pelo Estado de Goiás. Todavia, a importância da elite política
local, articulada em âmbito estadual, não deve ser subestimada, vez que tem tido
o papel de reivindicar
57
, negociar, fazer parcerias e implementar ações que
56
De acordo com Lefebvre (1999). Conferir quadro dois no primeiro capítulo deste trabalho.
57
Parte da articulação e reivindicação realizadas com vistas à construção de um novo prédio do
Fórum com o objetivo de melhorar as instalações da sede da Comarca foi destacada por França
(2005, documento digital, grifos nossos): Representantes do Município de Sanclerlândia
receberam hoje (13) do presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, desembargador Jamil Pereira
de Macedo, a confirmação de que será incluído no orçamento do próximo ano a construção do
151
resultem ou o em modificações no município e na cidade, como a duplicação
da GO-326 no espaço intraurbano de Sanclerlândia (foto 18); entretanto não tem
poder e força para promover alterações significativas no Sistema Rodoviário
Estadual, por exemplo. Neste sistema, a GO - 164 é uma rodovia longitudinal,
enquanto a GO
326 é diagonal (quadro 21).
Rodovias - GOs
Radiais Longitudinais Transversais
Diagonais Ligações Ramais
010 108 206 301 401 423 445 467 501 524 546
020 110 210 302 402 424 446 468 502 525 547
040 112 213 305 403 425 447 469 503 526 548
050 114 215 306 404 426 448 470 504 527 549
060 116 217 307 405 427 449 471 505 528 550
070 118 219 309 406 428 450 472 506 529 551
080 132 220 319 407 429 451 473 508 530 552
132 221 320 408 430 452 474 509 531 553
139 222 324 409 431 453 475 510 532 554
142 225 326 410 432 454 476 511 533 555
147 230 330 411 433 455 477 512 534 556
151 236 333 412 434 456 478 513 535 557
154 237 334 413 435 457 479 514 536 558
156 239 336 414 436 458 480 515 537 559
162 241 338 415 437 459 481 516 538 560
164 244 341 416 438 460 482 517 539 561
173 342 417 439 461 483 518 540 562
174 346 418 440 462 484 519 541 563
178 347 419 441 463 485 520 542 573
180 353 420 442 465 486 521 543 576
184 421 443 466 498 522 544 585
188 422 444 523 545 587
194
Quadro 21 – Rodovias do Sistema Rodoviário do Estado de Goiás,
58
2008
Fonte: <http://www.agetop.go.gov.br/index.php?idEditoria=2540>. Acesso em: 3 dez. 2008
Organização: OLANDA, E. R.
novo Fórum da comarca. A iniciativa atende reivindicação da municipalidade local, que doou
ao Judiciário goiano, em outubro de 2002, uma área para a construção da nova sede, ainda
na administração do desembargador Byron Seabra Guimarães. Segundo o prefeito Itamar Leão,
que na audiência esteve acompanhado do deputado federal Carlos Alberto Leréia, a área doada
está localizada em área nobre da cidade, já tendo sido aprovada pelo setor de obras do TJ.O
município de Sanclerlândia conta hoje com 7.800 habitantes e segundo o vice-prefeito Valdivino
Mendonça, a comarca atende cerca de 15 mil habitantes, uma vez que tem jurisdição nos distritos
judiciários de Córrego do Ouro e Buriti de Goiás. Presente ainda ao encontro o vereador Lindomar
Coelho”.
58
No quadro original da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop), uma coluna
ao lado do número da rodovia contém a descrição começando pelo seu ponto inicial, pontos
intermediários e ponto final. Por tratar-se de documento extenso, limitamo-nos a apresentar a
descrição das duas rodovias cujo entroncamento está na malha urbana de Sanclerlândia, ou seja,
as GOs 164 (Longitudinal) e 326 (Diagonal).
152
As rodovias radiais partem de Goiânia, começam com prefixo zero e
estão entre os principais eixos rodoviários em Goiás, visto que dão acesso direto
à capital estadual. Além das radiais, rodovias longitudinais, transversais,
diagonais, de ligação e ramais completam o Sistema, sendo que as duas últimas
categorias são compostas por um número maior de rodovias (quadro 21).
Foto 14 – Sanclerlândia: obras de duplicação da Av. 5 de Janeiro (GO-326) no
Setor Planalto
Foto : Prefeitura Municipal de Sanclerlândia: 2002
A Duplicação e o alargamento da Avenida 5 de Janeiro (GO-326),
realizada na primeira metade da década de 2010, com objetivo de aumentar a
rapidez do trânsito no espaço urbano da cidade, promoveu modificações que
GO-
164
Entroncamento BR-483, Itaguaçu, Paranaiguara, Entroncamento BR-483/GO-
206/319,
Entroncamento BR-452, Entroncamento BR-
060, Acreúna, Paraúna, São João da Paraúna,
Sto. Antônio, Novo Planalto, Firminópolis, São Luiz de Montes Belos, Sanclerlândia,
Mossâmedes, Goiás, Faina, Araguapaz, Nova Crixás, São Miguel Araguaia, Divisa GO/TO.
GO-
326
Entroncamento GO-060, Anicuns, Choupana, Sanclerlândia,
Buriti de Goiás, Novo Brasil,
Bacilândia, Jaupaci, Lucilândia, Montes Claros de Goiás.
153
facilitaram o deslocamento de veículos; contudo comprometerem a estética de
boa parte da avenida. As palmeiras (guarirobas) plantadas no canteiro central
foram substituídas pelos postes de concreto para a nova iluminação instalada
(fotos 15 e 16); além das cidades médias e das metrópoles, também na cidade
pequena o automóvel exige passagem; o poder público atende, subjugado pelos
poderes e interesses longínquos do capital nacional e internacional, por
intermédio dos fabricantes de veículos automotores para o transporte de pessoas
e mercadorias.
Além de estar situada num cruzamento rodoviário pavimentado, em
Sanclerlândia funciona uma pista de pouso para pequenas aeronaves desde o
final da década de 1960, cuja utilização é também importante para cidades
vizinhas que não dispõem dessa infraestrutura de transportes, como Buriti de
Goiás e Mossâmedes. Ao referir-se a Mossâmedes, Cunha (2004, p. 142, grifo
nosso) afirma: ”O município o possui aeroporto, nem sequer uma simples pista
de pouso para aviões. Em caso de necessidade, poderá ser utilizada a pista de
pouso da cidade de Sanclerlândia, que fica a 15 km de Mossâmedes.”
154
Foto 15 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da rodoviária
Foto : Prefeitura Municipal de Sanclerlândia: 2002.
Foto 16 – Sanclerlândia: Av. 5 de Janeiro, proximidades da rodoviária
Foto : OLANDA, E. R. 2008
155
Em 2006, a pista de pouso foi ampliada e pavimentada, mas não possui
uma estrutura necessária para ser um aeroporto. De acordo com informação
divulgada pela revista Economia e Desenvolvimento (Seplan-GO, 2006, grifos
nossos),
Além da melhoria de todo o sistema aeroviário do Estado, o
governo também vem celebrando convênios com as prefeituras,
por meio da Secretaria do Planejamento e da própria Agetop, que
permitiu a construção de aeródromos nas cidades de Piranhas,
Padre Bernardo, Goiatuba, Pontalina, Caçu, Alexânia, San-
clerlândia, Mara Rosa e Jaraguá. Esses aeroportos podem rece-
ber aeronaves de até 20 pessoas, com pista de 1.080 metros de
extensão e 23 metros de largura. Também contam com terminal
de passageiros com 70 metros quadrados (ECONOMIA &
DESENVOLVIMENTO, Jan. – Mar. 2006, p.45).
Embora tenha sido divulgada a existência de terminal de passageiros, em
trabalhos de campo, não encontramos no aeródromo de Sanclerlândia nenhuma
estrutura além da pista de pouso pavimentada.
4.3.4 O Poder Judiciário e órgãos públicos estaduais
Além do Poder Judiciário Estadual (sede de comarca), órgãos e
empresas vinculados ao Poder Executivo Estadual, foram instalados em
Sanclerlândia escritórios da Companhia Energética de Goiás (Celg), Saneamento
de Goiás (Saneago), Agência Rural e Agrodefesa. O Pelotão da 19ª
Companhia Independente da Polícia Militar de Goiás e 36ª Circunscrição Regional
de Trânsito completam o rol dos serviços públicos. Os dois últimos e a Comarca
são os mais significativos para Sanclerlândia e região (quadro 22)
Órgão Abrangência e atuação
Comarca Sanclerlândia, Buriti de Goiás e Córrego do Ouro
Ciretran Sanclerlândia, Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes
Pelotão da Polícia Militar Sanclerlândia, Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes
Quadro 22 Sanclerlândia: órgãos estaduais selecionados e área de atuação,
2008
Fonte: Trabalho de Campo, 2008 Organização: OLANDA, E.R.
156
As instituições estaduais foram implantadas e/ou ampliadas na cidade
para atender suas necessidades, bem como as de Buriti de Goiás, rrego do
Ouro
59
e Mossâmedes. Ou seja: essas ações do Estado contribuíram para a
ampliação da centralidade interurbana em Sanclerlândia, uma vez que as
instituições implantadas são destinadas a atender seus moradores e os de
cidades vizinhas. Os resultados dessas ações atraem para a cidade fluxo
determinado de pessoas, sobretudo para utilização dos serviços do poder
Judiciário Estadual e os que são prestados pela Ciretran.
Além dos aspectos trabalhados neste subcapítulo, merece destaque a
atuação do Banco do Povo, no que diz respeito ao fomento das atividades
relacionadas com as atividades econômicas de pequeno porte, como algumas
facções e confecções, por exemplo. A atuação desse órgão de fomento aos
microempresários também pode ser considerada uma ação direta do Estado, por
meio de pequenos empréstimos que movimentam a economia local e contribuem
para a geração de empregos (tabela 18).
59
Sobre a relação de Córrego do Ouro e Sanclerlândia, vale registrar a opinião de um morador da
primeira cidade: Sanclerlândia se tornou uma cidade polo para Córrego do Ouro com o
asfaltamento da estrada [GO-324 que interliga Córrego do Ouro a GO-326] e a passagem da
Comarca de São L. de Montes Belos para Sanclerlândia” [em 1998]. (Sr. B.L.S. em 13/02/2008).
157
Tabela 18 – Sanclerlândia e Estado de Goiás: demonstrativo físico-financeiro do Banco do Povo, 23/03/2007 e 4/01/2010
Total de contratos acumulados Valor aplicado acumulado Empregos Gerados
23/3/2007 4/1/2010
Crescimento no período (%)
60
23/3/2007 4/1/2010 Crescimento no período (%)
23/3/2007 4/1/2010 Crescimento no período (%)
Sanclerlândia
366 538 47
%
563.258,41 910.267,65 62
%
417 590 41%
Estado de Goiás
63.327 81.113 28
%
91.045.112,83 127.962.940,82 41
%
97.422 120.259 23
%
Fonte: <http://www.seplan.go.gov.br/down/bancopovo/bancopovo.htm>. Acessos em: 23 abr. 2007, 17 fev. 2010. Adaptação e Organização: OLANDA. E.R.
60
Todos os cálculos relativos aos percentuais de crescimento no período são nossos.
158
Em Sanclerlândia, o crescimento da atuação do Banco do Povo no
período de 2007 ao início de 2010 supera, proporcionalmente, as médias
verificadas para o Estado de Goiás no mesmo período. O total de contratos
firmados no estado teve um crescimento de 28%, em Sanclerlândia foi de 47%; o
valor aplicado no estado cresceu 41% enquanto na cidade houve um crescimento
na ordem de 62%. Os empregos gerados, atribuídos como consequências das
ações do Banco do Povo cresceram 23% em Goiás, ao passo que, em
Sanclerlândia, foi muito superior à média verificada no estado, ou seja, 41%
(tabela 18).
O investimento de 910 mil reais do Banco do Povo em Sanclerlândia
pode ser considerado um valor baixo, se comparado aos vultosos investimentos
realizados por grandes empresas e grandes projetos governamentais, como a
Ferrovia Norte Sul, por exemplo. Todavia, o referido investimento causa impactos
significativos para a cidade e para a economia local, uma vez que os 590
empregos gerados correspondem a 9,8% dos 6038 habitantes da cidade no ano
de 2007.
A maior parte desses investimentos de quase um milhão de reais foi
direcionada ao setor de confecções e facções, visto que essa atividade
econômica foi a maior geradora de empregos na cidade a partir do início do
século XXI.
Os aspectos trabalhados neste subcapítulo possibilitaram a ampliação
da centralidade interurbana em Sanclerlândia; no entanto nenhum deles deve ser
analisado e compreendido isoladamente, visto que não explicaria por si mesmos
as velhas e novas centralidades estabelecidas. Destarte, o que é mais
importante é o caráter processual no estabelecimento das centralidades. Os
processos podem ser apreendidos parcialmente, uma vez que representam um
movimento contínuo, porém não-linear.
O ECONÔMICO E O SOCIAL EM SANCLERLÂNDIA
A contradição deve ser admitida no pensamento enquanto contradição, ou seja, como algo
consciente e refletido. A contradição irrefletida destrona o pensamento e rebaixa-o ao nível
de conteúdo informe (LEFEBVRE, 1995, p. 135
).
160
A exposição realizada nos quatro capítulos expressa o desenvolvimento
da pesquisa, cuja intenção foi a de demonstrar os processos pelos quais
Sanclerlândia passou e passa, no que diz respeito à construção e à ampliação de
suas centralidades. Compreendemos que os recuos e avanços presentes no
decorrer do estudo tiveram um papel significativo na medida em que, ao
empreender respostas às determinadas questões, outras foram surgindo, o que
permitiu elaboração e reelaboração contínua do trabalho.
A busca de respostas à problemática em pauta, ou seja, a constituição e
ampliação das centralidades, a partir do Povoado do Cruzeiro, com ênfase no
enfoque econômico, é entendida como uma possibilidade entre as muitas
existentes. No momento e nas condições da realização da pesquisa, entendemos
que, para este trabalho, esta foi a melhor alternativa.
Por se tratar de uma primeira investigação em nível de Pós-Graduação
em Geografia, cujo tema é a cidade de Sanclerlândia, acreditamos na
possibilidade de abrir caminhos que possam contribuir, mesmo que de forma
mínima, para trabalhos futuros. Todavia, consideramos que esse “abrir caminhos”
é permeado por diversas contradições em consequência da trajetória escolhida,
haja vista que a escolha de um caminho pressupõe o trilhar outros possíveis,
igualmente válidos e importantes. Outro fator a ser considerado são as nossas
próprias limitações, sobretudo aquelas não superadas na realização desta
pesquisa. Nesse sentido, a partir desse ponto, pretendemos acrescentar mais
dois aspectos à reflexão, a saber:
a) as festas e a centralidade temporária em Sanclerlândia;
b) o predomínio do econômico sobre o social.
As transformações ocorridas na cidade são evidenciadas também nos
momentos festivos. As duas maiores festas, até o início da década de 1990, eram
as festas religiosas promovidas pela igreja católica em “louvor” aos dois santos
padroeiros. Anualmente, no mês de maio, é realizada a festa de São Sebastião,
enquanto a festa de Nossa Senhora D´Abadia acontece no mês de setembro.
Esses períodos não coincidem com as datas dedicadas aos respectivos santos no
161
calendário litúrgico
61
da Igreja católica; eles foram adaptados ao calendário
agrícola local e assim permanecem em função da tradição estabelecida, uma vez
que os cultivos de produtos agrícolas tradicionais até a década de 1980, tais
como o arroz, o feijão e milho, atualmente não são expressivos; ao contrário, são
pouco significativos para a economia local.
As duas festas católicas continuam sendo realizadas e são importantes,
embora outras duas, criadas na década de 1990, tenham maior relevância nos
contextos local e regional. A exposição agropecuária iniciada em 1991 é realizada
anualmente no mês de agosto e a corrida de jeep cross (fotos 17 e 18) ocorre
anualmente no mês de abril. Em síntese, as principais festas começam em abril e
terminam em setembro (quadro 23).
Festa Mês de realização
Corrida de jeep cross
abril
São Sebastião maio
Exposição Agropecuária agosto
Nossa Senhora D´Abadia setembro
Quadro 23 – Sanclerlândia: calendário anual das festas consideradas principais
Fonte: Trabalho de Campo, 2008 Organização: OLANDA, E.R.
A partir de 2001, juntamente com a exposição agropecuária, é realizada a
Feira da Indústria, Comércio e Turismo, sendo este um indicador das
transformações ocorridas na cidade, na economia local e, consequentemente, nos
eventos festivos. Palestras, cursos, oficinas, rodeios, shows com duplas
sertanejas famosas, show pirotécnico e torneio leiteiro
62
constam da
programação, como, por exemplo, o ocorrido na XV Expo Agro e da VI Feira da
Indústria Comércio e Turismo realizadas no período de 6 a 12 de agosto de 2007.
Nesse sentido, a festa reúne um público maior que as festas religiosas católicas
pelo fato de integrar as três atividades econômicas mais importantes para a
61
Pelo calendário cada dia é dedicado a um ou mais santos. São Sebastião, 20 de janeiro; Nossa
Senhora D´Abadia, 15 de agosto. O ano litúrgico da Igreja católica não coincide com o ano civil
no Brasil.
62
Conferir a programação no anexo A, deste trabalho.
162
cidade: o comércio, a indústria e a pecuária, além das atrações artísticas que têm
apelos para reunião de número elevado de pessoas. Contudo, a festa que atrai a
multidão, para os padrões locais, ampliando substancialmente a centralidade da
cidade, é a corrida de jeep cross, cuja primeira edição data do ano de 1995.
A rotina da cidade, considerada pacata na maior parte do ano, é
quebrada nos quatro dias em que acontece a corrida de jeep. O público estimado
na edição de 2009 foi de 35 mil pessoas, o que perfaz uma média de 8750
pessoas diariamente, ou seja, bem maior que a população total do município e
equivalente a 150% da população da cidade (6038 habitantes em 2007). O
público da festa vem crescendo ao longo das várias edições. De acordo com
Caetano (2002), na corrida realizada em 2002, a cidade recebeu 20 mil pessoas,
com uma média de 5 mil pessoas por dia; no interstício de sete anos, o público foi
ampliado uma vez e meia, ou seja, alcançou 35 mil pessoas em 2009. Uma
síntese da centralidade propiciada por esse evento com alguns de seus aspectos
positivos e negativos foi elaborada por Caetano (2002, p.29-30, grifos nossos):
[...] Em Sanclerlândia são os seus habitantes e as pessoas que
são atraídas para assistirem ao evento dão uma nova imagem ao
lugar, pois durante as competições a cidade recebe em média,
por dia, cerca de 5 mil pessoas. Os visitantes não ficam no
local do evento. Trafegam pelas ruas da cidade, abastecem seus
automóveis, freqüentam o comércio, representando um aumento
significativo do barulho e do volume de pessoas nas ruas
alterando temporariamente o cotidiano e a paisagem. Durante
o evento são realizados shows musicais, concurso da ’Garota
Jeep Cross’. [...] Estes shows musicais que acontecem nas noites
que antecedem a grande final do Jeep Cross tornam-se também
um ponto onde as bebidas alcoólicas são consumidas em um
volume maior que o normal. As substâncias entorpecentes, que
foram apontadas pela população nos questionários como um dos
aspectos negativos do Jeep Cross, também são consumidas
livremente.
A corrida de jeep cross, além de movimentar a cidade nos dias de sua
realização, coloca Sanclerlândia em evidência na mídia regional, seja por
algumas notícias divulgadas em programas dedicados à temática esportiva, seja
na própria propaganda divulgada com antecedência pelos organizadores. Um
evento de tal magnitude não tem finalidades apenas esportivas e lúdicas. Fatores
econômicos e políticos (CAETANO, 2002) também estão relacionados com a
origem e continuidade da corrida, vez que a sua criação, em meados da década
163
de 1990, coincide com o período das transformações econômicas ocorridas no
município e na cidade, muitas delas ainda em curso. Dessa forma, entendemos
que essas mudanças não são mera coincidência e sim parte dos processos que
ampliaram a centralidade interurbana em Sanclerlândia.
Em suma, a centralidade temporária estabelecida pela referida corrida
não pode ser compreendida e explicada por ela mesma; deve ser entendida de
forma contextualizada nos aspectos políticos e econômicos, entretanto podemos
afirmar que as atividades esportivas fazem parte da gênese da cidade e a corrida
de jeep cross foi criada num momento de intensificação do consumo no lugar e o
consumo do lugar, de modo geral e, em Sanclerlândia, de modo particular. Tal
evento expressa um aspecto de consumo que não existia, por exemplo, nas
partidas de futebol ou nas corridas de cavalos realizadas no então povoado do
Cruzeiro, nas décadas de 1940 e 1950.
164
Foto 17 – Sanclerlândia: festa do jeep cross/2009, aglomeração de pessoas na Av. Norte
Sul
.
Fonte:< http://www.montesbelos.com.br/?go=14&galeria=328>. Acesso em 23 out. 2009.
Adaptação: OLANDA, E.R.
Foto 18 – Sanclerlândia: vista aérea parcial da pista de jeep cross/2009
Foto - Prefeitura Municipal de Sanclerlândia: 2009
165
Em Sanclerlândia, de acordo com análise da planta urbana, confirmada
com a verificação em trabalho de campo, a Rua dos Boiadeiros
63
cruza com a
Rua da Indústria. Essa toponímia expressa duas faces da mesma realidade, ou
seja, o “encontro” de duas atividades econômicas bastante expressivas na e para
a cidade. Porém, consideramos necessário ressaltar que as modificações que
redundaram em crescimento da centralidade da cidade, principalmente no
aspecto econômico, são resultante e condição de processos contraditórios. A
cidade cresceu economicamente e ampliou sua centralidade, entretanto, a maior
parte das ruas foi pavimentada sem a devida construção das redes de esgoto
pluvial e sanitário.
Mediante as indagações decorrentes deste estudo, propostas por meio
de questionário, 87% das respostas indicaram que a cidade melhorou nos últimos
dez anos e apenas 13% afirmaram que não.
As pessoas entrevistadas cujas respostas evidenciaram melhorias na
cidade foram solicitadas a apontar até três aspectos melhorados. Desse modo,
162 (27% das 607 respostas) destacaram a melhoria na infraestrutura,
equipamentos e serviços públicos; 97 respostas (16%) frisaram melhorias
relacionadas à moradia, 89 (15%) indicaram melhorias no emprego, enquanto 76
respostas (13%) enfatizaram a educação básica e superior (tabela 19).
63
É comum encontrar na toponímia das cidades goianas a existência de ruas com a denominação
de boiadeira ou dos boiadeiros. Estas vias, geralmente perimetrais à época em que receberam
tal denominação, eram utilizadas para a passagem das boiadas pelas cidades. Atualmente (2010),
elas não têm mais essa função, visto que o gado bovino é conduzido em caminhões. No caso
específico de Sanclerlândia, a Rua dos Boiadeiros, devido à expansão da malha urbana, não
continua sendo uma via perimetral. Enquanto a rua da indústria foi assim denominada por ser a via
de acesso à Flor Goiana, fábrica de manteiga e doce de leite, criada em 1958, que permanece no
mesmo local com a denominação atual (2010) de Leitbom.
166
Tabela 19 – Sanclerlândia: aspectos melhorados nos últimos dez anos, 2009
Aspectos melhorados Número de respostas
%
Infraestrutura, equipamentos e serviços públicos
162
27%
Moradia 97
16%
Emprego 89
15%
Educação básica e superior 76
13%
Atividades econômicas 36
6%
Saúde 31
5%
Outros 116
18%
Total 607
100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Solicitadas a apontar o principal problema da cidade, 129 pessoas (38%
dos 338 entrevistados) indicaram a fragilidade nos serviços de saúde; 20% das
respostas citaram a insuficiência em infraestrutura e serviços públicos, 12 % das
pessoas afirmaram que a cidade não tem problemas, enquanto 30% relacionaram
outros problemas. Essas respostas, aliadas a outras informações obtidas em
trabalhos de campo, tais como o fechamento, em 2007, de um hospital privado e
o precário atendimento no hospital municipal, além de observações realizadas na
morfologia da cidade, permite-nos concluir que o crescimento econômico e as
transformações ocorridas não foram acompanhados pela resolução de problemas
básicos. Entre outros podem citadas a falta de melhoria no atendimento à saúde
curativa e falta da implantação da infraestrutura urbana com redes de esgoto
sanitário e pluvial.
Uma vizualização rápida e parcial da morfologia da cidade por quem
passa pelas rodovias pode causar um impacto positivo com a boa aparência de
parte considerável dos imóveis residenciais e comerciais. Todavia a morfologia
urbana, observada mais detidamente, não consegue esconder e escamotear as
contradições da cidade e da sociedade. Desse modo, concluimos que, nestes
aspectos, Sanclerlândia é como qualquer outra cidade brasileira, permeada pelas
contradições e pelo predomínio do econômico sobre o social. Assim, o painel
elaborado com as fotos 19 a 25 tem o intuído de demonstrar, de acordo com o
nosso entendimento, as contradições expressas na paisagem observada em
Sanclerlândia.
167
Fotos 19 - 25 – Sanclerlândia: o econômico predomina sobre social
Fotos: OLANDA, E.R. 2008-2009
Os dois parágrafos anteriores e o painel formado pelas fotos 19 a 25
podem suscitar posições pessimistas; ainda assim somos otimistas quanto ao
futuro: mais que esperado, ele é construído no presente. Para encerrar, com a
convicção da inconclusão, expressamos esse otimismo com pequenos trechos da
canção “Para não dizer que não falei das flores”, composta por Geraldo Vandré,
na década de 1960, a mesma da emancipação política de Sanclerlândia. Vem
vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora o espera
168
acontecer. [...] Caminhando e cantando e seguindo a canção”... (GERALDO
VANDRÉ)
Sem perder de vista as considerações tecidas neste trabalho,
entendemos que a canção continua sendo muito significativa para o mundo atual,
no ritmo do movimento e nas lutas de todas as pessoas empenhadas nas
conquistas do direito à cidade e na construção paulatina do urbano, de acordo
com as proposições de Henri Lefebvre.
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APÊNDICES
A – DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS
B – MODELO DE QUESTIONÁRIO APLICADO
C – QUADROS E TABELAS: SEGUNDA ETAPA DA TABULAÇÃO DO
QUESTIONÁRIO
D – INFORMAÇÕES SOBRE A UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS:
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE SANCLERLÂNDIA
179
“Dr, esses caminhos são caminhos? Sou assim desde que nasci. (?) O senhor
compreende, dr. , compreende?” (FELÍCIO, 1985, p. 29).
Descrever os procedimentos realizados durante o percurso da pesquisa é
um exercício interessante, visto que constitui um significativo registro do que se
fez e de como foi feita a investigação. Em outros termos, podemos afirmar que
apontamos os caminhos e descrevemos como eles foram percorridos.
Com o intuito de facilitar a compreensão, organizamos a descrição em
cinco tópicos. Contudo, a ordem de apresentação não é pautada por cronologia
ou importância hierárquica, haja vista que os procedimentos são interdependentes
e articulados entre si. Desse modo, são apresentados:
1. Levantamento bibliográfico.
2. Coleta de dados e trabalhos de campo.
3. Elaboração de mapas.
4. Coleta de depoimentos.
5. Elaboração dos questionários, definição da amostra estatística, aplicação
dos questionários e tabulação dos dados.
1. Levantamento bibliográfico
Após a conclusão do projeto de pesquisa em fevereiro de 2007, fizemos
levantamento e seleção de monografias de Graduação e Especialização na
Biblioteca da Unidade Universitária Cora Coralina da Universidade Estadual de
Goiás, cujas temáticas versam sobre as cidades de Buriti de Goiás, Córrego do
Ouro, Mossâmedes e Sanclerlândia. Este procedimento foi necessário e
importante, uma vez que sobre essa área pesquisada tem-se uma grande
carência de referências bibliográficas e não podemos contar, em termos
específicos, com nem uma produção de dissertações e teses de Geografia,
exceto o nosso próprio trabalho de mestrado sobre o município de Mossâmedes.
Fizemos também um levantamento da existência de obras
não-acadêmicas, produzidas por autores locais e divulgadas, sobretudo, pelas
Prefeituras Municipais. Encontramos um livro sobre Córrego do Ouro e outro
sobre Mossâmedes; sobre Sanclerlândia, foram encontrados dois livros. Assim,
tivemos a oportunidade de estabelecer o contato e realizar a leitura de obras
180
sobre os mencionados municípios: Córrego do Ouro (SANTANA; SILVA, 2002),
Mossâmedes (CUNHA, 2004) e Sanclerlândia (MORAES, 1993; SILVA, 2008).
Dedicamos o período de setembro a novembro de 2007 para a consulta a
periódicos de Geografia na biblioteca da FCT/UNESP, período em que
selecionamos textos relacionados com a temática das cidades pequenas, de
modo geral, e com o Estado de Goiás, em particular. Selecionamos mais de
cinquenta textos e utilizamos alguns deles no processo de redação desta tese.
Outra atividade a ser destacada é a seleção e leitura de obras
específicas da Geografia Urbana, dissertações de mestrado e teses de doutorado
defendidas na FCT/UNESP, além de obras clássicas dessa disciplina. Nesse
sentido, utilizamos a biblioteca da FCT/UNESP e a Biblioteca Central da UFG,
além do apoio recebido da orientadora profa. Maria Encarnação Beltrão Sposito e
do prof. Eliseu Sposito no empréstimo de dissertações e teses.
2. Coleta de dados e trabalhos de campo
Para a coleta de dados estatísticos e outras informações específicas
sobre Sanclerlândia e as demais cidades, utilizamos os sites dos seguintes
órgãos: Departamento Estadual de Trânsito (Detran-GO), Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás
(SEPLAN-GO), Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás (TJ-GO), Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Estado
de Goiás (FETAEG).
Além dos dados obtidos via internet, fizemos trabalhos de campo nos
meses de janeiro, fevereiro e junho de 2008, com o objetivo de proceder a um
levantamento socioeconômico das cidades de Buriti de Goiás, Córrego do Ouro,
Mossâmedes e Sanclerlândia. Nesse período, visitamos todas as prefeituras
municipais, conversamos com moradores e fizemos o levantamento direto do
número de estabelecimentos comerciais e industriais nas cidades de Buriti de
Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes. Em Sanclerlândia, conseguimos as
informações na Secretaria Municipal de Desenvolvimento e na Câmara dos
Dirigentes Lojistas-CDL e visitamos alguns estabelecimentos com o intuito de
confrontar as informações oficiais.
181
Também em Sanclerlândia, além da Prefeitura Municipal, visitamos e
obtivemos importantes informações no Fórum, no Batalhão da Polícia Militar, na
Ciretran-polo, no Hospital Municipal São Vicente de Paulo, na Unidade
Universitária da Universidade Estadual de Goiás, no Escritório Local da Agência
Rural, na Estação Rodoviária, no Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais, no Sindicato Rural e na Câmara dos Dirigentes Lojistas. Nesses órgãos e
instituições registramos a área de abrangência e atuação, pessoal ocupado e o
número de filiados aos dois sindicatos.
Após a realização do Exame Geral de Qualificação
64
e a reelaboração do
plano de redação, desenvolvemos mais um trabalho de campo no período de 9 a
13 de novembro de 2009, cujo objetivo foi complementar informações sobre
Sanclerlândia. Desse modo, visitamos a Prefeitura Municipal, novamente, para
obter informações gerais sobre as transformações ocorridas na cidade, além de
fotografias em formato digital. Outra atividade realizada foi a visita aos principais
prestadores de serviços para levantamento da área de atuação e pessoal
ocupado, além da obtenção dos cartões de visitas utilizados no capítulo quatro.
Assim, visitamos escritórios de advocacia, agrimensura e engenharia; consultórios
de odontologia; clínicas de psicologia e fisioterapia; dois centros de formação de
condutores (CFCs); uma transportadora; uma escola particular de ensino
fundamental e um curso de idiomas.
3. Elaboração de mapas
Com relação a produtos cartográficos, com base na planta urbana de
Sanclerlândia, elaboramos a planta funcional da cidade e, com dados obtidos no
site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, elaboramos um mapa das
Comarcas no Estado de Goiás: 2008. Esse mapa é significativo para a nossa
pesquisa, haja vista que, das 246 cidades goianas, apenas 119 são sedes de
Comarca e Sanclerlândia é uma delas. Nesse sentido, destacamos na pesquisa o
fato de ser sede de uma Comarca que tem as cidades de Buriti de Goiás e
Córrego como Distritos Judiciários, um elemento significativo de sua centralidade
interurbana. Em suma, os mapas elaborados e/ou adaptados com o uso do
programa corel draw foram:
64
O Exame de Qualificação foi realizado em agosto de 2009.
182
Goiás: situação geográfica do município de Sanclerlândia, 2008
Goiás: Mato Grosso de Goiás, 1955
Goiás: município de Mossâmedes,1955
Goiás: município de Mossâmedes, 1962
Goiás: municípios de Mossâmedes e Sanclerlândia, 1964
Planta Funcional de Sanclerlândia: 2008
Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 1998 (adaptado)
Estado de Goiás: espacialização do rebanho bovino, 2007 (adaptado)
Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 1998 (adaptado)
Estado de Goiás: espacialização da produção de leite, 2007 (adaptado)
Goiás: Comarcas, 2008
Sanclerlândia-GO: centro descontínuo, 2009
4. Coleta de depoimentos
No primeiro semestre de 2008, especificamente nos meses de fevereiro e
junho, fizemos a coleta de depoimentos de 14 moradores de Sanclerlândia
65
e um
de Córrego do Ouro. Tendo em vista esse procedimento, elaboramos uma ficha
para registro de dados pessoais dos depoentes, além do formulário de
autorização para registro do depoimento e utilização das informações obtidas.
Para a coleta dos depoimentos, fizemos um contato prévio com cada
pessoa. Após a exposição dos nossos objetivos, agendamos, individualmente, os
depoimentos, os quais foram gravados em fitas de áudio e transcritos
posteriormente. As pessoas relataram suas visões atuais e pretéritas sobre a
cidade. Todos os depoentes autorizaram o uso das informações por meio de
assinatura no formulário previamente elaborado.
65
Em Sanclerlândia, para a seleção inicial dos depoentes, contamos com a colaboração de dois
professores da rede estadual de ensino, lotados em escolas na cidade. Em Córrego do Ouro, o
depoimento foi gravado após uma conversa informal com uma pessoa natural da cidade e
residente nela, com experiência pública local (ex-vereador).
183
Modelo de ficha utilizada
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA/ PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ALUNO/PESQUISADOR:
Elson Rodrigues Olanda
PESQUISA:
Sanclerlândia-GO: um nó na rede rodoviária. Um subcentro
microrregional?
66
FICHA DE ENTREVISTADOS/DEPOENTES
CIDADE: ______________________________________DATA: ___/ ___/ ___
NOME: ________________________________________________________
PROFISSÃO/FUNÇÃO: ___________________________________________
IDADE: ________________________________________________________
NATURALIDADE: _______________________________________________
TEMPO DE RESIDÊNCIA NA CIDADE: ______________________________
OUTROS DADOS: ________________________________________________
Modelo de formulário
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA/ PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ALUNO/PESQUISADOR
: Elson Rodrigues Olanda
PESQUISA:
Sanclerlândia-GO: um nó na rede rodoviária. Um subcentro
microrregional?
Declaração de autorização
Local e data: ____________________________________,____/____/____.
Eu, __________________________________________________ declaro que,
para fins de pesquisa, aceito ser entrevistado por Elson Rodrigues Olanda e
autorizo que utilize as informações por mim prestadas nos relatórios de seu curso
de s-graduação, em nível de Doutorado em Geografia, do Programa de Pós-
Graduação em Geografia da FCT/UNESP-Presidente Prudente.
Declarante: _______________________________________________________
66
Título da pesquisa no período da coleta de depoimentos.
184
5. Elaboração dos questionários, definição da amostra estatística,
aplicação dos questionários e tabulação dos dados
Este item será descrito, de modo mais detalhado, devido à sua
especificidade, ou seja, demandou um esforço mais concentrado do pesquisador
e a colaboração intensiva de outras pessoas.
Para a elaboração do questionário verificamos, inicialmente, as
informações obtidas nos trabalhos de campo sobre o comércio e a prestação de
serviços públicos e privados em Sanclerlândia e nas demais cidades.
A partir das informações iniciais foi possível delinear um conjunto de
questões que redundaram, ao final da elaboração, em quatro agrupamentos
principais: A Caracterização do entrevistado; B Migração, serviços
bancários e compras; C Serviços utilizados ou não e onde o obtidos;
D – Opiniões e vínculos com a cidade.
A definição da amostra estatística (tabela 21) foi realizada com base nas
proposições de Gerardi e Silva (1981), e obedeceu as seguintes etapas:
Primeira: levantamento do número de habitantes
67
por cidade, em 2007, e da
amostra sugerida por Gerardi e Silva (1981, p.20).
Segunda: Levantamento do número de domicílios
68
, por cidade, com o objetivo
de estabelecer o percentual de domicílios para aplicação do questionário.
Essa etapa exigiu a aplicação de uma regra de três; assim, para
Sanclerlândia, com 2.009 domicílios e amostra definida de 361 questionários,
tem-se o seguinte resultado:
361 = 2.009 assim 361 x 100 = 17,9%
X 2009
Terceira: Com a definição do percentual de domicílios foi necessário
estabelecer ajustes práticos para obter a amostra provável; desse modo, tem-
se o seguinte resultado:
Buriti de Goiás: (5,70 em cada grupo de 10 domicílios). Ajuste: um domicílio
sim outro não.
67
Contagem da População 2007 (IBGE).
68
Contagem da População 2007 (IBGE).
185
Córrego do Ouro: (5,70 em cada grupo de 10 domicílios). Ajuste: um
domicilio sim, outro não.
Mossâmedes: (2,96 domicílios em cada grupo de 10 domicílios). Ajuste: um
domicilio sim, três não.
Sanclerlândia: (1,79 em cada grupo de 10 domicílios). Ajuste: um domicílio
sim, quatro não.
Amostra provável total: 1290 equivalentes a 10,20 % da população total
(12.568)
Total de questionários aplicados: 967 equivalentes a 7,60 da população total
das quatro cidades e a 22,73 % dos domicílios.
Definida a amostra e concluída a elaboração, foi realizada a aplicação
piloto de 14 questionários (1,08 % da amostra provável) sendo 10 em
Sanclerlândia e quatro em Mossâmedes. A escolha da aplicação de um número
maior de questionários em Sanclerlândia deve-se à especificidade do questionário
em contemplar quatro questões a mais para esta cidade. Dois objetivos foram
bem definidos para essa etapa, quais sejam:
Cronometrar o tempo de aplicação, visto que um questionário cujo
tempo médio de aplicação ultrapassasse a 20 minutos dificultaria a
pesquisa e delongaria o tempo para a realização dessa atividade. O
tempo médio registrado foi de 15 minutos, dessa forma, esse objetivo
foi atingido.
Verificar a pertinência, a objetividade e a clareza das questões. Na
avaliação após a aplicação, foi constatado que a ordem de duas
questões deveria ser alterada; parte de uma deveria ser suprimida;
três deveriam passar por melhoria de redação, haja vista que não
apresentaram a clareza e a objetividade necessárias; outras questões
deveriam ser acrescentadas, emfim, o questionário foi aprovado;
todavia os problemas apresentados deveriam ser equacionados para
a aplicação definitiva.
Com o objetivo de solucionar os problemas detectados na aplicação
piloto, o questionário foi revisado e ampliado; dessa forma fora concluído e
considerado pronto para aplicação. Foram elaboradas, assim, 34 questões para
186
Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e Mossâmedes; para Sanclerlândia foi ampliado
com mais quatro questões, totalizando 38.
Para aplicação dos questionários foi necessário constituir e preparar uma
equipe de auxiliares de pesquisa composta de cinco pessoas
69
, haja vista o
elevado número de questionários. Sábado, domingo e um feriado foram os dias
escolhidos para aplicação, uma vez que nesses dias seria possível encontrar um
maior número de pessoas em suas casas. Todos os questionários foram
aplicados no período de 22 de março a 26 de abril de 2009 (quadro 24).
Cidade Data (2009) e dia da semana Período (s)
Mossâmedes 22/03 - domingo Manhã/tarde
Mossâmedes 28/03 - sábado Tarde
Buriti de Goiás 29/03 - domingo Manhã/tarde
Buriti de Goiás 11/04 - sábado Manhã/tarde
Córrego do Ouro 12/04 - domingo Manhã
Córrego do Ouro 18/04 - sábado Tarde
Córrego do Ouro 19/04 - domingo Manhã/tarde
Sanclerlândia 21/04 – terça-feira (feriado) Manhã/tarde
Sanclerlândia 25/04 - sábado Tarde
Sanclerlândia 26/04 - domingo Manhã
Quadro 24 – Cronograma da aplicação de questionário
Entre as várias possibilidades para aplicação, escolhemos aplicar os
questionários por setores censitários definidos pelo IBGE para a Contagem da
População 2007
70
. De posse dos croquis dos setores censitários, as quadras das
cidades foram percorridas de acordo com a alternância definida a priori, como por
exemplo, em Sanclerlândia, uma casa sim e quatro não. Quando uma casa se
encontrava fechada ou com a impossibilidade de aplicação do questionário por
outros motivos, passávamos para a próxima e assim sucessivamente. Desse
modo, a pesquisa recobriu toda área considerada urbana das quatro cidades.
69
Foram quatro alunos do quarto ano do Curso de Geografia (2009) da Unidade Universitária da
Universidade Estadual de Goiás - na Cidade de Goiás e uma professora de Geografia da rede
municipal de Goiânia.
70
Em Buriti de Goiás e Córrego do Ouro, dois setores censitários, respectivamente. Em
Mossâmedes quatro e sete em Sanclerlândia.
187
Tabela 20 – Buriti de Goiás, Córrego do Ouro, Mossâmedes e Sanclerlândia: aplicação de questionário, 2009
Cidade População/2007 Domicílios/2007 Amostra
71
% dos Domicílios
Amostra provável
72
Questionários aplicados (% dos domicílios)
Buriti de Goiás 1487 535 306 57,0 268 202 (38 %)
Córrego do Ouro 1571 542 310 57,0 271 218 (40 %)
Mossâmedes 3472 1167 346 29,6 350
209 (18 %)
Sanclerlândia 6038 2009 361 17,9 401 338 (17 %)
Total 12568 4253 1323 31,1 1290 967 (23 %)
71
Segundo Tabela (GERARDI; SILVA, 1981, p.20).
72
Amostra provável após ajustes práticos.
188
O número de questionários efetivamente aplicados é menor que o
previsto na amostra provável devido aos seguintes fatores: em todas as cidades
houve pessoas que não concordaram em participar da pesquisa; os questionários
foram aplicados aos finais de semana e no feriado de 21 de abril, todavia
encontramos casas fechadas com e sem moradores; em Mossâmedes, havia uma
quantidade maior de casas fechadas e sem moradores.
Aplicados os questionários, a fase seguinte foi a de organização dos
dados obtidos. Para efetuar a tabulação, os questionários foram numerados por
cidade. Na primeira etapa, as respostas às questões fechadas
73
foram digitadas
em planilhas do programa excel com o objetivo de geração de gráficos,
separados com os percentuais obtidos por cidade (Buriti de Goiás, Córrego do
Ouro, Mossâmedes e Sanclerlândia) e agrupados com a dia dos percentuais
das respostas encontradas para o universo da pesquisa. Assim, esse
procedimento resultou em 29 conjuntos com cinco gráficos
74
cada um, além de um
conjunto com dois gráficos exclusivos para Sanclerlândia.
Na segunda etapa, foram tabuladas as questões abertas e os
desdobramentos das questões fechadas
75
. Para cada questão foi elaborada uma
lista com as respostas obtidas e, posteriormente, as informações foram
agrupadas para a elaboração de quadros e tabelas de maneira mais sintética e
objetiva.
Em suma, ressaltamos que todos os procedimentos foram
acompanhados de leituras pertinentes, inclusive na fase de revisão final da tese.
73
Para saber detalhes sobre o enunciado das questões, conferir o questionário completo no
apêndice B.
74
Os gráficos foram elaborados em forma de pizza.
75
Questões: Parte A (1,3 e 6); Parte B (9,10,12, 15 e 16); Parte C (17 a 30); Parte D (31,32, 34,37
e 38). Para maiores detalhes, conferir o questionário no apêndice B e os quadros e tabelas no
apêndice C.
189
APÊNDICE B – Modelo de questionário aplicado
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA/ PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ALUNO/PESQUISADOR: Elson Rodrigues Olanda
ORIENTADORA: Profa. Maria E. Beltrão Sposito.
PESQUISA: Sanclerlândia-GO: do Povoado do Cruzeiro às novas centralidades.
Cidades: Buriti de Goiás, Córrego do Ouro e Sanclerlândia
Setor Censitário: _______ Data: ____/____/____
Aplicador (a):_________________________________
A - Caracterização do entrevistado.
1. Local de Nascimento.
1- Na zona rural do município 2-Na própria cidade 3-Cidade vizinha 4- Em outra cidade do
Estado 5- Em outro Estado 6- Em outro país.No caso das respostas 3, 4, 5 e 6; indicar o
nome do lugar. ____________________________________________________________
2. Idade (em anos)
1- Até 19; 2- de 20 a 29; 3- de 30 a 39; 4- de 40 a 49; 5- de 50 a 59; 6- de 60 a 69; 7- 70 ou
mais.
3.
Profissão: _________________________________________________________________
4.
Sexo: 1- Masculino 2 - Feminino
5. Grau de escolaridade.
1-Analfabeto 2- Fundamental Incompleto 3- Fundamental Completo 4- Médio Incompleto 5-
Médio Completo 6- Superior Incompleto 7- Superior Completo 8- Especialização Completa 9-
Mestrado Completo 10- Doutorado Completo
6. Local de moradia anterior:
1- Sempre morou na cidade 2- Zona rural do próprio município 3- Cidade vizinha 4- Outra
cidade do Estado 5- Outro Estado 6- Outro país. No caso das respostas 3, 4, 5 e 6, indicar
o nome do lugar : ___________________________________________________________
7. Ano em que veio morar na cidade:
1- Depois de 2000 2- Entre 1991 e 2000 3- Entre 1980 e 1991 4- Antes de 1980.
190
B-Migração, serviço bancário e compras.
8. Pretende mudar da cidade: 1- Sim 2- Não
9. No caso de resposta sim à questão anterior; por quais motivos?
__________________________________________________________________________
10. No caso de sair da cidade, pra onde você mudaria:
1- Zona rural do município 2- Cidade vizinha 3- Goiânia 4- Outro Estado
5- Outro país 6- Outra cidade do Estado. No caso das respostas 2, 4, 5 e 6 indicar o
nome do lugar:
11.
Você faz movimentação bancária? 1-Sim 2- Não
12.
No caso de resposta sim à questão anterior.A movimentação bancária é realizada
predominantemente.
1- Na sua cidade 2- Em outra cidade:
13. Tipo de movimentação bancária predominante.
1- Pagamento de contas 2-Depósito/saque em conta corrente 3- Depósito/saque em
caderneta de poupança 4-Recebimento de salários 5-Recebimento de aposentadoria/pensão
6-Aplicação financeira 7-Outras.
14. Onde são realizadas as movimentações bancárias?
1-Banco do Brasil 2-Bradesco 3- Correios 4- Correspondente Bancário da CEF 5- Itaú 6-
Loteria da Caixa 7-Outra.
15.
Onde você e/ou sua família compra produtos de consumo pessoal e para casa? 1- Na
própria cidade 2- Em outra cidade:
16. Onde você e/ou sua família compra bens de consumo duráveis como eletrodomésticos,
móveis e outros.
1- Na própria cidade 2- Em outra cidade:
C – Serviços utilizados ou não. Cidade onde são obtidos.
Serviço
S i m
o
Cidade
17.
Posto de saúde
18.
Hospital público
19.
Hospital privado
20.
Exames simples: laboratório e raios-X
21.
Exames complexos: clínicos e de imagem
22.
Dentista particular
23.
Dentista, atendimento em posto de saúde
24.
Dentista, atendimento em sindicato: STTR
25.
Serviços do INSS
26.
Fórum - Justiça Estadual
27.
Ensino Superior Público
28.
Ensino Superior Privado
29.
Detran
30.
Lan house
191
D - Opiniões e vínculos com a cidade.
31. O que você considera melhor em sua cidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
32. O que você considera o principal problema de sua cidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
33. A sua cidade melhorou nos últimos dez anos?
1- Sim 2- Não.
34.
No caso de resposta sim à questão anterior, citar três aspectos melhorados:
1__________________________________________________________________________
2__________________________________________________________________________
3__________________________________________________________________________
35. O cruzamento rodoviário (GO 164 com a GO 326) para Sanclerlândia, tem:
1- Pouca importância 2- Média importância 3- Grande importância.
36. O asfaltamento das estradas que passam por Sanclerlândia provocou modificações e
transformações na cidade? 1- Sim 2- Não. Em caso de resposta sim, aplicar as
questões 37 e 38
37.
O que melhorou em Sanclerlândia com o asfaltamento das estradas que passam pela cidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
38.
O que piorou em Sanclerlândia com o asfaltamento das estradas que passam pela cidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
192
APÊNDICE C
Parte A: Caracterização do entrevistado
Questões 1,3 e 6
Questão 1: Local de nascimento
Entrevistados em Local de nascimento
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Na própria cidade 33 84 84 100 301 31%
Cidade vizinha 62 43 30 70 205 21%
Na zona rural do
município
28 30 23 23 104 11%
Outra cidade do Estado 46 35 39 69 189 20%
Outro Estado 33 26 33 76 168 17%
Total 202 209 218 338 967 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 3: Profissão
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Entrevistados em Ocupação
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Aposentado/pensionista 36 41 40 55 172 18%
Dona de casa 39 32 39 57 167 17%
Lavrador 37 25 32 41 135 14%
Estudante 10 16 20 23 69 7%
Doméstica 8 22 13 16 59 6%
Costureiro 13 11 6 24 54 6%
Professor 7 9 9 20 45 5%
Funcionário público 4 12 20 8 44 5%
Pedreiro 7 5 2 7 21 2%
Comerciante 4 3 4 9 20 2%
Outros 37 42 24 78 181 18%
Total 202 218 209 338 967 100%
193
Questão 6: Local de moradia anterior
Entrevistados em Local de moradia
anterior
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sempre morou na cidade 39 54 62 100 255 26%
Cidade vizinha 44 49 43 65 201 21%
Na zona rural do município 47 48 59 44 198 20%
Outra cidade do Estado 56 47 31 84 218 23%
Goiânia 27 26 17 41 111 11%
Outro Estado 16 15 14 44 89 9%
Minas Gerais 3 4 8 24 39 4%
Outro País 00 5 00 1 6 1%
Total 202 218 209 338 967 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Parte B: Migração, serviço bancário e compras
Questões 9,10,12,15 e 16
Questão 8: Pretende mudar da cidade: 1- Sim 2- Não
Questão 9: No caso de resposta sim à questão anterior, por quais motivos?
Cidades Motivos da provável mudança
Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total
%
Busca de emprego e/ou melhoria
profissional
18 19 24 22 83
Aspectos negativos da cidade onde
mora
5 7 5 10 27
Relações familiares e pessoais 3 5 4 5 17
Busca por formação educacional 2 3 3 6 14 8%
Preferência pela vida no campo 2 1 - 5 8
Outros - 1 3 2 6
Não respondeu 1 1 9 3 14 8%
Total 31 37 48 53 169
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
194
Questão 10: No caso de sair da cidade, pra onde você mudaria?
Cidades Local para a provável
mudança
Buriti Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Goiânia 10 19 23 24 76 45%
Cidade vizinha 3 8 15 7 27 16%
Sanclerlândia 3 1 2 6 4%
Zona rural do município 2 2 5 7 16 9%
Outra cidade do Estado 9 5 3 6 23 14%
Outro Estado 7 3 2 7 19 11%
Outro país 0 0 0 2 2 1%
Total 31(100%) 37(100%) 48(100%) 53(100%) 169(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 11: Você faz movimentação bancária? 1-Sim 2- Não
Questão 12: No caso de resposta sim à questão anterior.A movimentação bancária é
realizada predominantemente.
1- Na sua cidade 2- Em outra cidade:
Movimentação bancária fora da cidade onde reside.
Cidades de procedência Cidade de realização da
movimentação bancária
Buriti Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total
%
Sanclerlândia 23 19 13 55 55%*
São L. M. Belos 3 13 - 6 22 20%
Goiânia 6 2 4 2 14 13%
Goiás 4 - 6 - 10 9%
Outras 5 1 1 2 9 8%
Total 41 35 24 10 110
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
* Para Sanclerlândia o universo considerado foi de 100, haja vista a necessidade de deduzir as dez
respostas da própria cidade que, necessariamente, seriam em outra cidade.
195
Questão 15: Onde você e/ou sua família compra produtos de consumo pessoal e para
casa? 1 - Na própria cidade 2 - Em outra cidade:
Compra de bens de consumo pessoal e para casa, em outra cidade
Cidade de realização da compra Cidades de procedência Total
Buriti
Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Sanclerlândia 2 1 6 9
Goiânia 2 1 2 1 6
São L. M.Belos - 3 - 1 4
Itaberai - - 1 - 1
Total 4 5 9 2 20
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 16: Onde você e/ou sua família compra bens de consumo duráveis como
eletrodomésticos, móveis e outros. 1- Na própria cidade 2- Em outra cidade:
Compra de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, móveis e outros) em
outra cidade
Cidades de procedência Cidade de realização da
compra
Buriti Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 48 9 50 107 60%*
Goiânia 7 3 16 8 34 18 %
São L. M.Belos 1 16 1 5 23 12 %
Goiás-GO - - 20 - 20 10%
Outras 1 1 4 1 7 4%
Total (%**)
57 (28%)
29 (13%) 91(44%) 14 (4%) 191(20%)
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
*
Para Sanclerlândia o universo considerado foi de 177, haja vista a necessidade de deduzir, do total de
191, as 14 respostas da própria cidade que, necessariamente, seria em outra cidade. Assim, as 107
respostas obtidas equivalem a 60% de 177.
**
Percentual do total de questionários aplicados (Buriti 202, Córrego do Ouro 218, Mossâmedes 209,
Sanclerlândia 338; total: 967).
196
Parte C:
Serviços utilizados ou não. Cidade onde são
obtidos.
Questões de 17 a 30
Questão 17: Posto de saúde
Cidade de procedência Cidade onde foi utilizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Sanclerlândia 1 - - 283
284
Córrego do Ouro - 190
- - 190
Buriti de Goiás 180
1 - - 181
Mossâmedes - - 166
- 166
Outras 5 3 3 2 13
Total 186
194
169
285
834
Fonte: Trabalho de Campo,2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 18: Hospital público
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Sanclerlândia - - - 273 273
Córrego do Ouro - 176
-
- 176
Mossâmedes - - 170 - 170
Buriti 171 -
-
- 171
Goiânia 6 6
8
3 23
Outras 2
2
1 5
Total 177
184
180
277
818
Fonte: Trabalho de Campo,2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 19: Hospital privado
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Goiânia 51 82 58 114 305 68%
São L. de M. Belos 14 32 3 40 89 20%
Sanclerlândia 2 - 2 16 20 4%
Outras 3 9 8 14 34 8%
Total 70(100%)
123 (100%) 71 (100%) 184 (100%) 448(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
197
Agrupamentos hospital: público e privado (A e B)
Agrupamento: A
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Hospital público 177
184
180
277
818
Sanclerlândia - - - 273 273
Córrego do Ouro - 176
-
- 176
Mossâmedes - - 170 - 170
Buriti 171 -
-
- 171
Goiânia 6 6
8
3 23
Outras - 2
2
1 5
Hospital privado 70 123 71 184 448
Goiânia 51 82 58 114 305 68%
São L. de M. Belos 14 32 3 40 89 20%
Sanclerlândia 2 - 2 16 20 4%
Outras 3 9 8 14 34 8%
Total 247 307 251 461 1266
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Agrupamento: B
Utilização de hospitais
Hospital Cidade do entrevistado
Público Privado
Total
Sanclerlândia 277 184 461
Córrego do Ouro 184 123 307
Mossâmedes 180 71 251
Buriti de Goiás 171 70 247
Total 818 448 1266
Fonte: Trabalho de Campo, 2009. (Org.) OLANDA, E.R. 2009
198
Questão 20: Exames simples
Cidades de procedência Cidade onde foi
realizado o serviço
Buriti de
Goiás
(%)
Córrego do
Ouro (%)
Mossâmedes
(%)
Sanclerlândia
(%)
Total %
Goiânia 45 ( 29%)
39 ( 22%)
63 (38%) 75 (28%) 222 29%
Sanclerlândia 1
- 2 (1%)
152 (57%) 155 20%
Córrego do Ouro 1
125 ( 69%)
- - 126 16%
Buriti 96 (61%)
- - - 96 12%
Mossâmedes - - 83 ( 50%)
- 83 11%
São L. de M. Belos 12( 8%)
15 (8%) - 31 (12%) 58 8%
Outros 1 2 (1%) 18 (11%) 8 ( 3%)
29 4%
Total 156(100%)
181 (100%) 166 (100%) 266 (100%) 769(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 21: Exames complexos
Cidades de procedência Cidade onde foi realizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Goiânia 97 104 106 141 448
Anápolis - - - 1 1
Campinas-SP - 1 - - 1
Total 97
105
106
142
450
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 22: Dentista particular
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 35 5 7 161 (87%) 208 43%
Córrego do Ouro 1 88 (75%) - - 89 18%
Mossâmedes 2 - 72 (77%) - 74 15%
Buriti 41 (43%) - - - 41 8%
Goiânia 9 11 6 15 41 8%
Outros 7 14 9 8 38 8%
Total 95 (100%)
118 (100%) 94 (100%) 184 (100%) 491(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
199
Questão 23: Dentista em posto de saúde
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Mossâmedes 1 - 130 - 131
Córrego do ouro - 114 - - 114
Sanclerlândia 1 - - 106 107
Buriti 85 - - - 85
Outros 2 - 1 1 4
Total 89
114
131
107
441
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 24: Dentista, atendimento em Sindicato de Trabalhadores Rurais
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Sanclerlândia 4 - - 19 23
Mossâmedes - - 6 - 6
Buriti 2 - - - 2
Novo Brasil 2 - - - 2
Anicuns 1 - - - 1
Total 9
- 6
19
34
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 25: Serviços do INSS
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Anicuns 15 2 38 54 109 45%
São L. M. Belos 14 39 - 26 79 33%
Goiânia 7 7 15 5 34 14%
Goiás 4 - 9 4 17 7%
Outros - - 2 1 3 1%
Total 40(100%)
48 (100%) 64 (100%) 90 (100%) 242(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
200
Questão 26: Fórum – justiça estadual
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 15 24 1 76 116 74%
Mossâmedes 2 - 25 - 27 17%
Goiânia 3 2 1 3 9 6%
Outros - 2 2 1 5 3%
Total 20 (100%)
28 (100%) 29 (100%) 80 (100%) 157 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 27: Ensino superior público
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 5 1 6 16 28 50%
Goiás 2 1 8 4 15 27%
São L. M. Belos - 1 2 1 4 7%
Jussara 2 1 - - 3 5%
Outras 1 - 3 2 6 11%
Total 10
4
19
23
56
100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 28: Ensino superior privado
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
São L. M. Belos 1 10 9 9 29 69%
Goiânia - 1 1 3 5 12%
Goiás - - 2 1 3 7%
Anicuns 1 - - 1 2 5%
Outras 2 - 1 - 3 7%
Total 4 (100%)
11 (100%) 13 (100%) 14 (100%) 42 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
201
Questão 29: Detran
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado
o serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Sanclerlândia 29 34 23 100 186 67%
Goiânia 6 4 6 5 21 8%
São L. M. Belos 2 16 - 1 19 7%
Córrego do Ouro - 11 - - 11 4%
Mossâmedes 2 - 10 - 12 4%
Buriti 9 - - - 9 3%
Outras 6 2 5 5 18 7%
Total 54(100%)
67 (100%) 44 (100%) 111 (100%) 276(100%)
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 30: Lan house
Cidades de procedência Cidade onde foi utilizado o
serviço
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total
Sanclerlândia - - - 52 52
Córrego do Ouro - 40 - - 40
Mossâmedes - - 39 - 39
Buriti 30 1 - - 31
Goiânia 2 2 - - 4
Total 32
43
39
52
166
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
202
Parte D:
Opiniões e vínculos com a cidade
Questões 31,32,34,37 e 38
Questão 31: O que você considera melhor em sua cidade?
O que foi considerado melhor na cidade Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia Total %
Características associadas à cidade pequena
(qualidade de vida, sossego, tranqüilidade, etc.)
42 70 65 73 250 26%
Saúde 38 35 32 26 131 14%
Nada 24 18 21 38 101 10%
Relações familiares e pessoais 15 14 27 30 86 9%
Educação Básica e Superior 16 19 10 34 79 8%
Tudo 13 14 7 34 68 7%
Infraestrutura, equipamentos e serviços públicos 12 14 10 19 55 6%
Atividades econômicas 3 2 2 23 30 3%
Moradia 3 1 7 - 11 1%
Outros 31 17 22 39 109 11%
Não soube informar 5 14 6 22 47 5%
Total 202 218 209 338 967 100%
Fonte: Trabalho de Campo,2009 Organização OLANDA, E.R. 2009
Questão 32: O que você considera o principal problema de sua cidade?
Principal problema da cidade. Buriti de
Goiás
Córrego do
Ouro
Mossâmedes Sanclerlândia Total %
Carência de infra-estrutura, equipamentos
e serviços públicos
53 35 46 67 201 21%
Desemprego 35 43 87 36 201 21%
Carência de serviços de saúde 21 22 23 129 195 20%
Não tem problemas 43 51 7 40 141 14%
Administração pública 20 7 23 16 66 7%
Problemas sociais (violência, consumo e
tráfico de drogas, alcoolismo, etc.)
2 11 6 12 31 3%
Carência de serviços de Educação 4 9 2 4 19 2%
Política e política partidária 5 4 2 7 18 2%
Outros 7 14 7 17 45 5%
Não soube informar 12 22 6 10 50 5%
Total 202 100%) 218(100%) 209(100%) 338(100%) 967(100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
203
Questão 33: A sua cidade melhorou nos últimos dez anos? 1-Sim 2- Não.
Questão 34: No caso de resposta sim à questão anterior, citar três aspectos
melhorados.
Numero de respostas Cidades Total
Buriti Córrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Uma 38 48 38 85 209
Duas 62 X 2=124
53 X 2= 106 35 X 2 = 70 99 X 2= 198 498
Três 62 X 3=186 62 X 3=186 16 X 3= 48 108 X 3= 324 744
Total 348 340 156 607 1451
Observação: esse quadro é apenas para facilitar a compreensão do quadro especifico da
questão, uma vez que, houve respostas com um, dois e três aspectos melhorados. Assim o
universo considerado foi a soma de todos os aspectos citados, cujo resultado é 1451.
Questão 34: No caso de resposta sim à questão anterior, citar três aspectos
melhorados.
Cidades Aspectos melhorados
Buriti rrego do Ouro Mossâmedes Sanclerlândia
Total %
Infraestrututura, equipamentos e serviços públicos 87 68 42 162 359 25%
Saúde 78 85 45 31 239 16%
Educação básica e superior 52 75 16 76 219 15%
Moradia 39 46 13 97 195 13%
Emprego 42 16 11 89 158 11%
Atividades econômicas 10 11 11 36 68 5%
Outros 40 39 18 116 213 15%
Total 348
340
156
607
1451
100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
204
Questão 37: O que melhorou em Sanclerlândia com o asfaltamento das estradas
que passam pela cidade?
Aspectos melhorados em Sanclerlândia com a pavimentação das rodovias N° de respostas obtidas
%
Acesso, comunicação e relação com outras cidades 68 26%
Aumento no fluxo de pessoas e veículos na cidade 50 19%
Comércio 46 18%
Organização do trânsito na cidade 30 11%
Aspectos relacionados com atividades econômicas, exceto comércio 23 9%
Tudo melhorou 8 3%
Outros 30 11%
Não soube informar 10 3%
Total 265 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
Questão 38: O que piorou em Sanclerlândia com o asfaltamento das estradas que
passam pela cidade?
Aspectos negativos em Sanclerlândia com a pavimentação das rodovias N° de respostas obtidas %
Não houve contribuição negativa 197 75%
Não soube informar 29 11%
Problemas sociais: violência, tráfico de drogas, assaltos, etc 14 5%
Acidentes nas estradas e na cidade 9 3%
Aumento no fluxo de pessoas e veículos na cidade 9 3%
Outros 7 3%
Total 265 (100%) 100%
Fonte: Trabalho de Campo, 2009 Organização: OLANDA, E.R. 2009
205
APÊNDICE D – Informações sobre a Universidade Estadual de Goiás – Unidade
Universitária de Sanclerlândia.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA/ PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ALUNO/DOUTORANDO: Elson Rodrigues Olanda
ORIENTADORA: Profa. Maria E. Beltrão Sposito.
PESQUISA: Sanclerlândia-GO: do Povoado do Cruzeiro às Novas centralidades
Universidade Estadual de Goiás Unidade Universitária de Sanclerlândia (UEG -
UnU/Sanclerlândia)
Anos Cursos regulares
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Tecnologia em Processamento de dados
31 28 21
Licenciatura em Informática
40 78 118 141 130 128 134 129
Administração em Agronegócios
40 78 111 147
Total 31 68 99 118 141 170 206 245 276
Quadro 1 – UEG - UnU/Sanclerlândia: número de alunos matriculados por curso:
2001 – 2009.
Fonte: Secretaria de Registro Acadêmico Unu/Sanclerlândia – 2010
Anos Quadro de Pessoal
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Docente 5 11 14 15 22 25 26 32 29
Técnico-administrativos/apoio 5 7 10 14 19 19 20 23 21
Total 10 17 24 29 41 44 46 55 50
Quadro 2 - UEG- UnU/Sanclerlândia: número de Docentes e Técnico-
Administrativos: 2001 - 2009
Fonte: Secretaria de Registro Acadêmico Unu/Sanclerlândia – 2010
ANEXO
A
FOLDER DA XVI EXPO AGRO E VI FEIRA DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E
TURISMO DE SANCLERLÂNDIA
207
ANEXO A
208
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo