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colocando gente que tinha mais condição, em vez de dar a mão pra gente
que começou tudo desde o início.[...] Olha, eu e um monte de gente saiu
da AMA porque a Lurdinha se apossou de tudo lá, ficou tudo pra ela, a
casa, as máquina e o terreno. Tudo quem começou foi a Mazinha e a
Lurdinha pegou tudo depois que já tava pronto. Aquele terreno e o
galpão da associação foi doado pela prefeitura assim como também as
máquina, um tempo desses a prefeitura tava querendo as máquinas de
volta, mas a Lurdinha disse que não ia dar e ficou por isso mesmo. Olha,
tem muita gente revoltada com a Lurdinha por causa disso, ainda mais
porque tem é gente dela morando lá na associação, o filho dela mais a
mulhé [...] No caso da Conceição (presidente da APAM) é que ela
recebia muita coisa do governo e a gente só tinha prejuízo. Ela recebeu
uma verba grande do banco, mas nada foi dividido com a gente,
ninguém sabe o que foi que ela fez com esse dinheiro e ainda tem é
muita bordadeira pagando as prestação de umas máquina de costura que
foi feito o empréstimo no nome da gente [...]O governo ajuda as
associação, mas elas em vez de chamar a gente pra trabalhar, porque nós
participamos de tudo desde o início, elas chamam outras pessoas
novas.[...] a gente começou a associação tudo junto, mas do meio pro
fim elas foram colocando gente que tinha mais condição, em vez de dar
a mão pra gente que começou tudo desde o início.
Apesar de sua longa história de vivência com o bordado e mesmo depois de ter
acompanhado e sentido de perto todos os efeitos, fossem bons ou maus, da luta daquelas
mulheres e sua esperança em poder tirar o sustento daquilo que sabiam fazer de melhor,
Dona Terezinha parece não guardar mágoas dos aspectos negativos dessa jornada e revela
que ainda quer viver do bordado e trilhar novos caminhos com aquilo que ficou de bom
dessas experiências:
A gente aprendeu muito com os cursos e tudo o que a gente aprende é bom
né? A associação a gente perdeu, mas aquilo que a gente aprendeu, isso
ninguém tira da gente. Os técnico traziam os desenho tudo pronto e a gente
fazia aquilo em grande quantidade, mas esses desenho aqui sou eu quem
crio, eu que faço todos os riscos. A gente forma os desenhos, primeiro a
gente vai colocando as folhas e depois as rosas e vai criando. E a minha
vontade é continuar fazendo... Agora eu estou parada, mas pretendo ir em
frente. Eu já tenho mais de 60 anos, mas num quero ficar sem fazer nada
não, eu vou atrás das coisas, porque a gente tem que sobreviver né? Meu
marido se foi muito cedo e aí eu tive que cuidar de todos os filhos
sozinha, eu tinha que me virar de todo jeito e ainda é assim...[...] eu acordo
5h e arrumo umas coisinha aqui, faço o café e vou pra máquina, eu fico
inventando coisa... e de vez em quando aparece um cliente antigo
querendo que eu faça algum bordado e aí eu faço, eu sei costurar também e
tem uma mulhé que tem uma confecção dali e traz as peça cortada só pra
eu montar, ela vem deixar e vem buscar aqui, toda semana é quase certo,
principalmente no fim do ano.