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Esperar quinhentas bicicletas naquele momento na cidade era algo realmente grandioso
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.
Foram convidadas para o evento muitas das principais associações esportivas e culturais da elite
carioca, como por exemplo, o Club de Natação e Regatas, os velódromos Guanabara e Nacional,
o Bicyclette Club, os clubes Democráticos, Fenianos e Tenentes do Diabo, além dos prados
Jockey Club, Derby Club e Hippodromo Nacional
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. Da mesma forma o itinerário, que percorria
as principais ruas da capital
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, saindo do centro da cidade e se dirigindo ao bairro de Botafogo,
zona sul, para onde se mudavam membros da alta sociedade, orientando o novo ciclo de
crescimento do Rio de Janeiro, que culminaria nas reformas de Pereira Passos em 1903.
Tínhamos como certa a victoria do Velo-Club logo que se lançou aos ventos da publicidade o
projecto de uma passeiata velocipedica nas ruas desta capital, organisada por essa occasião.
Sendo como é a velocipedia um gênero de Sport chic e atraente, útil e agradável,
aguardávamos anciosos o dia 4 de julho para colhermos a prova affirmativa do que
imaginávamos. E assim aconteceu. Ás 2 horas da tarde, partia da Rua da Relação o elegante
préstito velocipedico, na seguinte ordem: á frente uma banda de clarins e sócios do Velo-
Club á cavallo; a comissão organisadora da passeiata, montando bicyclettes ornamentados
com fitas e flores, todos uniformisados o que produzio bellissimo effeito; a directoria e sócios
do Velo-Club, representantes dos Clubs de Regatas de Botafogo e Veteranos do Remo em
Tandens e bicycletas; muitos convidados amadores do cyclismo, notando-se entre estes um
cavalheiro em Tanden com exma. Senhora; diversos carros com representantes do
Bellodromo Guanabara, puchado por uma parelha de poneys; Velódromo Nacional;
Estudantina Arcas, Club de Natação, em um landau trazendo sobre o toldo arriado uma
soberba e originalíssima allegoria do sport náutico, muitos convidados e sócios do Velo-
Club. O itinerário annunciado foi percorrido á risca. De passagem na rua do Coronel Moreira
César, o prestito fez alto, ensarilhando os bicyclettes em filas. Apresentava a posição dos
bicycletistas junto as machinas ensarilhadas, o aspecto de soldados em descanso no campo de
batalha. Ahi foi comprimentada a imprensa por uma commissão. Ao passar o préstito em
frente a esta redacção foi saudado com enthusiasmo o Jornal do Brasil. Em todo o seu
percurso a passeiata causava ao publico admiração e enthusiasmo. Na enseada de Botafogo o
Club de Regatas de Botafogo cotejava em uma das suas mais elegantes embarcações, e
arvoraram os remos, em rápida manobra, saudando os valentes bicycletistas que retribuíram
essa prova sympathica. Ás 6 horas da tarde o préstito estava de regresso na sede do Velo-
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No mesmo ano de 1897, a França tinha uma frota estimada em 300 mil bicicletas. WEBER, 1988, op. cit., p. 244.
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JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 02 de julho de 1897, p. 2.
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O itinerário do passeio foi o seguinte: sede social do Velo-Club à rua do Lavradio, Riachuelo, Inválidos, praça da
República, lado do corpo de bombeiros, Casa da Moeda, quartel-general e Intendência Municipal, ruas da
Constituição, Sete de Setembro, Primeiro de Março, Moreira César, Gonçalves Dias, Treze de Maio, Ajuda, Joaquim
Nabuco, Lapa, Glória, Cattete, Marquez de Abrantes, praia de Botafogo, ruas Senador Vergueiro, Cattete, Gloria,
Lapa, Joaquim Nabuco, Senador Dantas, Treze de Maio, Carioca, Visconde do Rio Branco e sede social.
JORNAL DO
BRASIL, Rio de Janeiro,
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0 de ju
n
ho de 1897, p.
3
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