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apenas em fugir. Ele dá o exemplo da resistência de Davi contra o rei Saul, como também
dos macabeus contra o governante tirano que os perseguia. Segundo Grócio, tanto Davi
como os macabeus só resistiram após terem sido primeiramente atacados e que essa
resistência limitava
-se a defender-se, escond
endo
-
se e, portanto, fugindo do perigo.
1489
Grócio observa que os cristãos devem observar esses princípios de não resistência
diante dos poderes superiores de uma maneira ainda mais perfeita que Davi e os macabeus.
Segundo Grócio, é preciso seguir o exemplo de Cristo que, sendo maltratado e injustiçado,
não resistiu, pelo contrário, entregou a sua causa nas mãos de Deus.
1490
Quando os antigos
cristãos eram ameaçados de morte pelos imperadores por sua religião, mesmo sendo em
número superiores e possuindo armas, não resistiam. Eles entendiam que não se devia
resistir pela salvação terrena, pois o que importava era a salvação eterna.
1491
grande a equidade que estende à exceção contra as armas da lei. Entretanto, eu ousaria apenas condenar
indistintamente seja os particulares, seja uma parte do povo que recorriam ao último recurso que lhe deixa a
necessidade, sem, contudo, perder de vista o bem público”. ibid., p. 142.
1489
“Davi que, com exceção de um pequeno número de fatos, é representado como tendo vivido na
observação das leis, se fez escoltar a principio de quatrocentos homens, e de um maior número em seguida.
Qual era seu objetivo, se não era de repelir as violências das quais ele poderia ser o objeto? Mas observamos,
ao mesmo tempo, que Davi não toma esta precaução antes de ter sido pre
venido por Jônatas, antes de ter sido
advertido por vários outros indícios que sua vida era ameaçada por Saul. Do mais, ele não invade cidades, ele
não busca ocasião de combater; sai em busca de retirada, logo se escondendo nos lugares afastados, logo
vive
ndo em meio de povos estrangeiros, e sempre com o piedoso escrúpulo de não prejudicar os seus
concidadãos. A conduta dos macabeus pode ser comparada a de Davi. (...) Nada então põe à sombra os
macabeus, se não é a eminência de um perigo extremo e evidente, tanto que eles permaneciam, bem
entendido, nos limites da defesa que, a exemplo de Davi, eles se retiraram nos lugares afastados, para neles
buscar um asilo, e que eles só se serviam de armas quando eles eram atacados”. ibid., pp. 142
-
143.
1490
“A questão é mais grave de saber se o que foi permitido a Davi e aos macabeus é também aos cristãos,
dos quais o mestre que tantas vezes ordenou de carregar sua cruz, parece exigir um degrau mais eminente de
paciência. É de fato que nos casos em que os poderes superiores ameaçam de morte os cristãos por causa de
sua religião o Cristo lhe concede o direito de fugir (...). Além da fuga, ele não concede nada. Pedro nos diz
que o Cristo, sofrendo por nós, nos deixou um exemplo a seguir; ele que não havia cometido nenhum pec
ado,
e da boca do qual nenhuma palavra enganadora jamais saiu, quando se o acometeu de injúrias, ele não
respondeu por injúrias; quando se o maltratou, ele não fez ameaças; mas ele entregou sua causa entre as mãos
daquele que julga segundo a justiça (...).
O mesmo apóstolo acrescenta que os cristãos devem render ações de
graça a Deus, e se alegrar se eles sofrerem torturas em qualidade de cristãos (...). E nós lemos que é esta
constância a sofrer que mais contribui ao desenvolvimento da religião cristã”. ibid.,
p. 145.
1491
“Os antigos cristãos, que saíram vigorosamente da escola dos apóstolos e de homens apostólicos,
entendiam e observavam seus preceitos de uma maneira mais completa e mais perfeita, eles foram, segundo
eu, muito injuriosamente acusados por aqueles que atribuíam sua abstenção de se defender em presença de
um perigo certo de morte, a uma falta de força, e não a uma ausência de intenção”. Tertuliano dizia diante
dos imperadores: “que guerra não seríamos capazes de empreender, e com que vigor não nos conduziríamos,
mesmo com inferioridade de tropas, nós que nos deixamos matar tão voluntariamente, se, segundo nossa
doutrina, não fosse mais lícito de se deixar matar que matar os outros’. Cipriano segue também sobre esse
ponto o ensinamento de seu mestre, e se declara abertamente nesses termos: ‘eis porque nenhum de nós não
resiste quando se assenhora-se dele, e não se vinga de nossas violências injustas, ainda que nosso povo seja
extremamente numeroso e provido de tudo o que lhe é necessário. É que a confiança que nós temos em uma
vingança futura nos torna paciente. Por ela os inocentes curvam-se sob os culpados’. ‘Nós confiamos, diz
Lactance, à majestade daquele que pode tirar vingança não somente do desprezo que se faz dele, mas dos
sofrimentos e injúrias das quais se oprime seus servidores. Por isto, ao meio mesmo desses tratamentos tão
abomináveis que nós sofremos, nós não resistimos mesmo de boca, mas nós remetemos a Deus de cuidar da