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espaços onde as coisas se justapõem: herbários, coleções,
jardins; o lugar desta história é um retângulo temporal onde,
despojados de qualquer comentário, de toda linguagem
envolvente, os seres se apresentam ao lado uns dos outros,
com as superfícies visíveis, aproximados segundo seus traços
comuns, e por eles já virtualmente analisados, e portadores de
um único nome (...) a história natural não é mais a nomeação
do visível (FOUCAULT, 1999, p. 143-144).
A classificação passa a ser o traço mais relevante da história natural. A
atribuição de um nome aos seres permite simultaneamente identificá-los e
situá-los neste processo (Id. ,p. 151). A descoberta, descrição, classificação e
nomeação de espécies desconhecidas foi o cerne das atividades dos
naturalistas, que obtiveram um papel social crescentemente reconhecido e
respeitado (POMIAN, 1987, p. 249). As viagens de exploração, os trabalhos de
campo, as classificações de coleções, sua ampliação e divulgação através da
publicação de catálogos constituíram a essência da história natural nos seus
loci específicos que foram os museus (LOPES, 2001).
A relevância adquirida pela história natural no século XVIII foi
fundamental para o delineamento de seus espaços museológicos. Vista a partir
da Revolução Francesa como atividade capaz de contribuir para o
aperfeiçoamento intelectual dos cidadãos, os museus que a divulgavam
adquiriram importância. A construção e preservação de coleções nesses
museus serviram para criação de uma taxonomia universal e suas exposições
públicas como instrumento do projeto educacional do iluminismo (LOUREIRO,
2007, p. 162).
A diferença entre os gabinetes de curiosidades e os museus está na
(...) natureza das suas coleções e o acesso público a elas.
Enquanto os gabinetes de curiosidades continham uma
miríade de objectos, naturais e artificiais, escolhidos por serem
únicos, excepcionais ou exóticos, reunidos e dispostos com o
objectivo de representar uma imagem enciclopédica, total ou
parcial, os museus modernos caracterizam-se geralmente pela
especialização (diferenciação segundo o tipo de coleções que
albergam) e pela classificação (apresentação ordenada e
racional dos objectos). Por outro lado, os gabinetes de
curiosidades (de reis, príncipes, aristocratas e mais tarde
burgueses de elevado estatuto) eram apenas acessíveis a
visitantes ilustres (...) sendo exibidos como “acessórios
culturais de poder”, enquanto os museus modernos se
destinam a um público progressivamente mais alargado (...),
com a finalidade de educar (...). (DELICADO, 2009, p. 33)