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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT
Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS
Mestrado em Museologia e Patrimônio
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As formações discursivas acerca do
meteorito de Bendegó do Museu
Nacional
SABRINA DAMASCENO SILVA
UNIRIO / MAST - RJ, Fevereiro de 2010
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ii
Sabrina D.
Silva
“O Pedaço
de outro
mundo que
caiu na
Terra”:
As
formações
discursivas
acerca do
meteorito de
Bendegó do
Museu
Nacional
UNIRIO-MAST
2010
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iii
“O PEDAÇO DE OUTRO
MUNDO QUE CAIU NA
TERRA”:
AS FORMAÇÕES DISCURSIVAS
ACERCA DO METORITO DE
BENDEGÓ DO MUSEU
NACIONAL
por
Sabrina Damasceno Silva,
Aluna do Curso de Mestrado em Museologia e Patrimônio
Linha 02 – Museologia, Patrimônio Integral e Desenvolvimento
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Museologia
e Patrimônio.
Orientador: Professor Doutor José Mauro
Matheus Loureiro
Co–Orientador: Thereza de Barcellos
Baumann
UNIRIO/MAST - RJ, Fevereiro de 2010
iv
FOLHA DE APROVAÇÃO
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As formações discursivas acerca do meteorito de Bendegó
do Museu Nacional
Dissertação de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de Pós-
graduação em Museologia e Patrimônio, do Centro de Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e
Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Museologia e
Patrimônio.
Aprovada por
Prof. Dr. Vitor Manuel Fonseca - Arquivo Nacional / UFF
Prof. Dr. Marcus Granato - MAST
Prof. Dr. José Mauro Matheus Loureiro – (Orientador) UNIRIO
Prof. Dr. Thereza de Barcellos Baumann – (Co-Orientadora) Museu
Nacional
Rio de Janeiro, 2010.
v
Silva, Sabrina Damasceno.
“O Pedaço de outro mundo que caiu na Terra”: as
formações discursivas acerca do meteorito de Bendegó do
Museu Nacional / Sabrina Damasceno Silva. 2010.
147 f. : il. ; 30 cm.
Orientadores: Prof. Dr. José Mauro Matheus Loureiro.
Dr. Thereza de Barcellos Baumann.
Dissertação (Mestrado em Museologia e Patrimônio)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Museu
de Astronomia e Ciências Afins/Programa de Pós-Graduação
em Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro, 2009.
Bibliografia: f. 120
.
1. Formações Discursivas. 2. Meteorito de Bendegó.3.
Museu Nacional. I. Loureiro, José Mauro Matheus. II.
Baumann, Thereza. III. Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Museologia
e Patrimônio. III. Museu de Astronomia e Ciências Afins
(Brasil). IV. Título.
CDU –
vi
Para minha mãe Maria Regina,
Por seu amor incondicional, suporte
e por acreditar em mim muitas vezes
mais do que eu mesma.
vii
Sem algumas pessoas essa dissertação jamais se concretizaria. Gostaria de agradecer
profundamente ...
...ao Professor José Mauro Matheus Loureiro, orientador incansável e amigo, pelo apoio
incondicional, dedicação extrema, exemplo profissional e por acreditar sempre em mim;
... à Professora Thereza Baumann, pela orientação e amizade, pelo incentivo constante e
exemplo profissional;
...à Professora Suely Ceravolo, pela aplicação e sugestões valiosas;
... ao Professor Marcus Granato por sua dedicação, gentileza e solidariedade;
...à Professora Moema Vergara, pela atenção e sugestões desde a primeira disciplina;
... ao Professor Vitor Fonseca por sua colaboração
;
...ao Professor Márcio Rangel por sua gentileza;
...à todos os professores e funcionários do PPG-PMUS;
...à Maria Lúcia Loureiro, pela amizade, compreensão, apoio incondicional, incentivo e carinho;
...à Edina Martins, Marilene Alves, Raquel Lima e todos que integram o Setor de Museologia do
Museu Nacional e que estiveram sempre ao meu lado, me apoiando e auxiliando durante essa
caminhada;
...à Silvia Moura, Maria José Veloso e todos os colegas da Seção de Memória e Arquivo do
Museu Nacional pelo inestimável e incondicional apoio durante as pesquisas;
...à professora Elizabeth Zuccolotto do Departamento de Geologia do Museu Nacional por seu
auxílio;
... aos colegas da Coordenação de Museologia do Museu de Astronomia e Ciências Afins por
seu incentivo e solidariedade;
... aos amigos Carlos Eduardo Holetz, Daniel Vianna de Souza e Gustavo Fernandes por
também serem minha família, por seu suporte e carinho em todos os momentos;
... à Glauco, Fátima, Enzo, Dagmar,Paulo, Zely, Carlos Roberto, minha família, pelo apoio e
por compartilharem comigo essa jornada...
A todos, muito obrigada!
.
viii
“Ao invés de tomar a palavra, gostaria de ser envolvido
por ela e levado bem além de todo o começo possível.
Gostaria de perceber que no momento de falar uma voz
sem nome me precedia há muito tempo: bastaria, então,
que eu encadeasse, prosseguisse a frase, me alojasse,
sem ser percebido, em seus interstícios, como se ela me
houvesse dado um sinal, mantendo-se, por um instante,
suspensa. Não haveria, portanto, começo; e em vez de
ser aquele de quem parte o discurso, eu seria, antes, ao
acaso de seu desenrolar, uma estreita lacuna, o ponto de
seu desaparecimento possível”. (Michel Foucault)
ix
RESUMO
SILVA, Sabrina Damasceno. “O pedaço de outro mundo que caiu na Terra”: as formações
discursivas acerca do meteorito de Bendegó.
Orientador: José Mauro Matheus Loureiro. Co-Orientador: Thereza de Barcellos Baumann.
UNIRIO/MAST. 2010. Dissertação.
Esta dissertação adota o conceito de discurso desenvolvido por Michel Foucault para
analisar as formações discursivas elaboradas a partir do Meteorito de Bendegó, encontrado em
1784 no interior do sertão da Bahia e transportado para o Museu Nacional em 1888. Analisa as
singularidades dos Museus de História Natural Nacionais estruturadas a partir da dicotomia
entre as categorias “Natureza” e “Cultura”, em especial as que se referem ao Museu Nacional.
Busca entender sua contribuição na institucionalização das Ciências Naturais no país e na
elaboração de formações discursivas cientificizadas e cientificizantes – voltadas para
estruturação de um Discurso onde a ciência é construída como verdade – acionadas na
consolidação da idéia de “nação brasileira”, analisadas a partir das conceituações de Benedict
Anderson como uma “comunidade política imaginada”, onde as instituições teriam um papel na
imaginação de um passado comum. As heterogêneas formações discursivas acerca do
meteorito de Bendegó são apresentadas como elementos representativos dos acionamentos
discursivos estruturados pelo Museu Nacional no processo de construção da idéia de “nação”.
Palavras-chave:
Formação Discursiva; Meteorito de Bendegó; Museu Nacional; Nação.
x
ABSTRACT
SILVA, Sabrina Damasceno. “The piece stone from other word that fell on Earth”: discursive
formation elaborated about Bendegó meteorite of National Museum.
Advisor: José Mauro Matheus Loureiro. Co-Advisor: Thereza de Barcellos Baumann.
UNIRIO/MAST. 2008. Dissertation.
This dissertation adopts the concept of discourse how it was developed by Michel Foucault to
analyze the discursive formation elaborated about Bendegó meteorite, founded in 1784 at the
province of Bahia interior and removed to National Museum in 1888. Analyzes the singularities
of national natural history museums structured by means of dichotomy between the categories
“Nature” and “Culture”, specially the relatives to the National Museum. Search to understand the
contribution of this museum in the institutionalization of Natural Science in the country and in
the elaboration of scientificized and scientificizing discourse formation – emphasized in the
Discourse structuration where science is constructured as truth – actuated in the idea of
“brazilian nation” consolidation, analyzed by means of Benedict Anderson concepts of
“imagined political community” where the institutions have a paper in the imagination of a
common past. The heterogeneous discursive formation about Bendegó meteorite are presented
as representative elements of discursive actuation structured by National Museum in the
process of construction of “nation idea”.
Keywords: Discursive Formation; Bendegó Metorite; Nacional Museum; Nation.
.
xi
SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS:
IHGB - Instituto Histórico Geográfico Brasileiro
SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SGRJ – Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
xii
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO 12
Cap. 1 O CONCEITO DE “DISCURSO” EM MICHEL FOUCAULT 18
Cap. 2
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL: MUSEALIZAÇÃO DA NATUREZA E
CULTURA NA CONSTRUÇÃO DISCURSIVA ACERCA DA NAÇÃO
32
2.1 – UMA NOVA FORMA DE ENTENDER O MUNDO 33
2.2 - REPRESENTAÇÕES DAS CATEGORIAS “NATUREZA” E “CULTURA”:
OS PROCESSOS DE MUSEALIZAÇÃO
44
2.3 - MUSEUS DE HISTÓRIA NATURAL COMO ESPAÇOS DE
REPRESENTAÇÃO DA NAÇÃO 50
Cap. 3
O PEDAÇO DE OUTRO MUNDO QUE CAIU NA TERRA: O METEORITO DE
BENDEGÓ 59
3.1 - NOÇÕES ACERCA DE METEORITOS 60
3.2 - O TRANSPORTE: TENTATIVAS E A CHEGADA AO RIO DE JANEIRO 62
Cap. 4
A INCORPORAÇÃO DO METEORITO DE BENDEGÓ AO ACERVO DO
MUSEU NACIONAL 84
4.1 – O METEORITO DE BENDEGÓ DO MUSEU NACIONAL 85
4.2 – O RETORNO PARA O HALL: INSERÇÕES EXPOSITIVAS ATUAIS 104
CONSIDERAÇÕES GERAIS 112
REFERÊNCIAS 120
ANEXOS 130
INTRODUÇÃO
13
As coleções do Museu Nacional podem ser utilizadas como fontes para
reflexões acerca das “formações discursivas” - tal como desenvolvidas
teoricamente por Foucault - estruturadas nesse museu. A opção pelo Meteorito
de Bendegó, um desses possíveis exemplos, foi influenciada por meu exercício
profissional no museu, período em que tive a oportunidade de integrar a equipe
do “Setor de Museologia” em um momento em que a instituição passava por
uma série de reformas expositivas.
As diferentes possibilidades temáticas a serem desenvolvidas, bem
como os processos de escolhas e elaborações narrativas relativos à
implantação de exposições de longa duração fizeram parte do cotidiano
vivenciado. No caso do meteorito de Bendegó, meu interesse foi suscitado a
partir da estruturação de uma exposição temporária intitulada “Memórias de
Visitantes”, onde a imagem do cientista Albert Einstein ao lado do ‘Bendegó’ foi
utilizada
1
.
Nesta exposição foram apresentadas narrativas de diversos visitantes e
suas percepções acerca da instituição desde sua fundação até o final do século
XX. Na vitrine que correspondia à visita do renomado cientista, uma foto ao
lado do meteorito registrava sua passagem pelo museu, mas em suas
anotações, outras peças do acervo lhe geraram mais interesse, como por
exemplo, um esqueleto de cobra. A partir dessas informações surgiram
perguntas tais como: por que sua passagem foi registrada ao lado dessa peça?
Que formações discursivas estão relacionadas com este fato? A que conceito
de discurso podem ser relacionadas? Por que diversos outros visitantes foram
registrados no mesmo local?
Dois anos depois, integrei a equipe que coordenou o transporte do
meteorito de volta para o hall de entrada do museu. Outras questões surgiram,
como por exemplo: por que em determinado momento o meteorito foi retirado
desse espaço e inserido em uma narrativa expositiva somente acerca de
meteoritos? Por que a decisão de deslocá-lo novamente para o hall do museu?
Essas questões deram início às reflexões que propiciaram, por meio de
pesquisas e aprofundamentos, a elaboração deste estudo.
1
A primeira parte do título desta dissertação, “O pedaço de outro mundo que caiu na Terra”, foi
retirada da manchete de uma reportagem do Jornal Correio da Manhã de 6/11/1888 acerca do
meteorito de Bendegó e encontrada pela equipe do Arquivo do Museu Nacional durante as
pesquisas para a exposição “Memória de Visitantes”.
14
O meteorito de Bendegó foi encontrado em 1784, no interior da Bahia, e
somente após duas tentativas de locomoção foi transportado para o Rio de
Janeiro e incorporado às coleções do Museu Nacional em 1888.
Na década de 1890, foi transportado para a nova sede do museu no
Paço de São Cristóvão - antiga residência Imperial – e passou a ocupar o hall
de entrada das exposições. Um recibo da contratação do serviço de confecção
de duas bases de concreto para meteoritos datado de junho de 1950 nos
permite pensar que o Bendegó foi transportado para uma sala dedicada à
Meteorítica nas reformas expositivas no decorrer da década de 1950, porém
até o presente momento não foram encontrados documentos acerca da data
precisa desta transferência. No ano de 2005, foi novamente conduzido ao
mesmo hall sobre suas bases originais.
Museus são espaços essencialmente interdisciplinares e integrantes da
construção de narrativas acerca da memória, identidade, patrimônio e nação.
Suas coleções e exposições podem ser compreendidas como instrumentos de
representação de diferentes contextos históricos, sócio-culturais e ideológicos.
Ao serem integrados às coleções museológicas, os objetos são submetidos a
diferentes processos de re-significação, “pedaços do mundo físico” que são
caracterizados por meio da agregação de valores culturais (PEARCE, 1994
p.9). Uma das funções essenciais das instituições museológicas é, portanto, a
de construir narrativas expositivas de modo que esses vestígios e fragmentos
formem conjuntos significativos e contribuam para a elaboração de uma rede
de sentidos.
Os objetos musealizados são elementos que, ao serem incorporados às
coleções e inseridos em uma exposição, buscam representar espaços, tempos,
contextos e fenômenos naturais dos diversos grupos sociais. Aqui neste estudo
enfatizamos o acionamento das formações discursivas acerca do meteorito de
Bendegó do Museu Nacional nos discursos utilizados na construção da idéia de
uma “nação brasileira”.
Os museus são instituições que possuem suas origens
associadas ao fenômeno do colecionismo e possuem nos gabinetes de
curiosidades suas origens. Alguns dos aspectos básicos de seu perfil,
consolidados ao longo dos séculos XVIII e XIX, ainda se mantêm até os dias
atuais. Espaços museológicos de história natural, como o Museu Nacional,
15
contribuíram para a institucionalização das ciências naturais no Brasil. Por
serem instituições de produção, preservação e disseminação de
conhecimentos científicos gerados localmente a partir de pressupostos
universais, contribuíram para uma ordenação do mundo natural, característica
estruturante da história natural.
Associado com as iniciativas européias de constituição da história
natural enquanto ciência moderna (LOPES, 1993), o Museu Nacional foi
fundado em 1818 e desde então recebeu como missão auxiliar no
conhecimento e estudo das ciências naturais no Brasil. Aprofundamentos
acerca desse museu nos permitem compreender sua contribuição, por meio da
elaboração de formações discursivas a partir de suas coleções, para a
legitimação de discursos sobre a nação brasileira.
Refletir acerca da estruturação de discursos nos permite perceber
aquilo que numa dada época recorta um campo de saber possível e em que
podem se sustentar como verdadeiro (FOUCAULT, 1999). Este estudo se
baseia na proposta de entendimento de uma “ordem do discurso” composta de
uma parte crítica - ligada aos sistemas de recobrimento dos discursos e
buscando detectar seus princípios de ordenamento e exclusão – e de uma
parte genealógica focada nas séries de formação efetiva dos discursos
(FOUCAULT, 2009).
Ao entendermos que instituições, aqui incluídos os museus, exercem
sobre as formações discursivas um poder de coerção onde a única verdade
que conhecemos seria aquela oferecida por estes estabelecimentos, sua
participação na construção da idéia de nação se faz relevante. O papel dos
museus no processo de consolidação das nações, aqui entendidas segundo
Benedict Anderson (1989) como uma “comunidade política imaginada”, é visto
como uma estratégia na construção de um patrimônio que garanta os vínculos
com um passado imaginado.
A dissertação é norteada por características interdisciplinares que
buscaram instrumentalizar as concepções de Michel Foucault acerca do
discurso refletindo sobre as formações discursivas estruturadas a partir do
meteorito de Bendegó, em especial a partir de sua incorporação às coleções do
Museu Nacional.
16
Para tal fim, utilizou-se uma abordagem de cunho qualitativo, que
apresenta, dentre outras, as seguintes características: o foco do estudo
centrado na compreensão e descrição do fenômeno das mudanças; o
pesquisador como instrumento chave na coleta e análise dos dados e o
ambiente natural como fonte direta dos dados (Merrian, 1998).
Minayo (1992) acrescenta que nessa metodologia o problema
fundamental está no fato de que, sendo o ser humano e a sociedade o objeto
do conhecimento, este se recusa a se revelar apenas nos números ou a se
igualar com sua própria aparência. O estudioso se encontrará no dilema de
contentar-se com a problematização do produto humano objetivado ou ir em
busca dos significados da ação humana que constrói a história. Quanto aos
procedimentos metodológicos, foram realizadas uma revisão de literatura e
uma pesquisa documental sobre o meteorito de Bendegó a partir de sua
incorporação às coleções do Museu Nacional nas fontes disponíveis no Arquivo
do Museu Nacional, Arquivo Nacional, Arquivo do Museu de Astronomia e
Ciências Afins, na página virtual do Center for Research Libraries e na
Biblioteca Nacional.
Em função das singularidades e da abrangência do Museu Nacional
como objeto empírico, acreditamos que a delimitação temática referente ao
Meteorito de Bendegó permitiu a reflexão acerca dos acionamentos discursivos
operados nas instituições museológicas. Por ser uma instituição criada em
1818 e possivelmente um dos elementos integrantes da criação da
nacionalidade brasileira, acreditamos que os estudos acerca de suas coleções
e exposições suscitarão elaborações produtivas para as formulações sobre os
patrimônios brasileiros.
A dissertação encontra-se dividida em introdução, quatro capítulos e
consideraçõe gerais. No primeiro capítulo são apresentados o conceito de
discurso contido na obra de Michel Foucault, em especial os processos de
construção de ‘‘formações discursivas’’ e suas condições de emergência. O
segundo capítulo versou acerca das singularidades dos processos de
musealização das categorias ‘‘Natureza’’ e ‘‘Cultura’’ nos museus de história
natural, bem como, sobre a constituição desses espaços como locais de
representação da nação.
17
O terceiro capítulo apresentou os heterogêneos discursos acerca do
meteorito de Bendegó a partir de sua trajetória no tempo e no espaço. O quarto
capítulo refletiu sobre a incorporação do aerólito ao acervo do Museu Nacional,
enfatizando sua inserção nos discursos e contextos institucionais e, em um
segundo momento, analisou seu recente realocamento no hall de entrada das
exposições deste museu. As considerações gerais buscaram perceber os
diferentes acionamentos das formações discursivas elaboradas a partir do
meteorito de Bendegó no processo de construção da idéia de nação brasileira.
18
CAPÍTULO 1
O CONCEITO DE “DISCURSO” EM
MICHEL FOUCAULT
19
(...) estamos todos aí para lhe mostrar que o
discurso está na ordem das leis; que há muito
tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi
preparado um lugar que o honra mas o desarma; e
que se lhe ocorre ter algum poder, é de nós, só de
nós, que lhe advém
(Michel Foucault, 1970).
Para os fins desse estudo o conceito de “discurso” tal como
desenvolvido por Michel Foucalt é adotado como um instrumental para a
análise dos processos de construção discursiva acerca do meteorito de
Bendegó. Dentre as possibilidades conceituais de aprofundamento, optamos
por um olhar fundamentado nas definições contidas em sua obra, que não se
ateve a um campo específico do saber, estabelecendo diálogos e inter-relações
com os diversos campos das ciências humanas.
Neste capítulo são apresentados os processos de formação discursiva,
suas diferentes condições de emergência, bem como, sua oposição à
unicidade das narrativas históricas focando nas dispersões e diversidades.
Serão apresentados ainda os princípios destacados em “A ordem do Discurso”,
obra que nos propõe uma “ontologia histórica em nossas relações com a
verdade” (REVEL, 2005 p. 52), bem como o entendimento das funções
normativas e reguladoras do discurso.
No desenvolvimento do conceito de “discurso”, Foucault utiliza dois
métodos de análise: o “arqueológico” e o “genealógico”. O primeiro é resultado
de um processo, também histórico, que se estrutura a partir das questões do
homem. Seu ponto de partida foram as reflexões acerca da Epistemologia,
área voltada para a reflexão sobre a produção de conhecimentos científicos e
que tem por objetivo avaliar a ciência do ponto de vista da sua cientificidade.
Na perspectiva epistemológica, a ciência é um discurso normativo e
normatizado, lugar da verdade e, como tal, instauradora de racionalidade
(MACHADO, 1981 p. 9). A “genealogia”, por sua vez, seria a análise dos
saberes, pretendendo explicar sua existência e suas transformações situando-
os como peças de relação de poder, ou incluído em dispositivos políticos.(Id p.
187).
O entendimento dos princípios “arqueológicos” na obra foucaultiana
requer apresentar os princípios da epistemologia, em especial os investigados
20
por Georges Canguilhem
2
, que se baseavam em uma filosofia que tematizava
a questão da racionalidade através da ciência. A arqueologia produziu um
deslocamento em relação à epistemologia, já que esta se pretende uma crítica
da própria idéia de racionalidade, estabelecendo sua especificidade enquanto
“história dos discursos”.
A ciência moderna seria, segundo Canguilhem, essencialmente um
discurso, um conjunto de proposições articuladas sistematicamente, uma
produção cultural, uma construção voltada para um tipo específico de discurso
que tem como pretensão a verdade. O autor sublinha a necessidade de não
esquecermos que a ciência tem uma história, é um processo, um devir, mas
seu progresso se estrutura a partir de descontinuidades e rupturas sucessivas.
Se a ciência é uma teia de elementos e conceitos em tempos
heterogêneos, a história das ciências então deve ser a história da formação,
deformação e retificação dos conceitos científicos, só devendo ser julgada a
partir de seus próprios discursos, os quais definem sua atualidade e finalidade
a partir do presente, sendo sua verdade sempre provisória.
Enquanto a história epistemológica situou-se no nível dos conceitos
científicos, investigando a produção da verdade na ciência, a história
estruturada a partir dos princípios “arqueológicos” abandonou a questão da
cientificidade buscada pelo projeto epistemológico para realizar uma reflexão
sobre as ciências do homem enquanto saberes, abandonando a ciência como
objeto privilegiado para realizar uma análise conceitual e não factual dos
discursos (Ibidem. p. 12)
Se a história epistemológica investiga a produção da verdade na ciência,
a história arqueológica estabelece inter-relações conceituais de saberes,
tentando estruturar uma ordem temporal de recorrências a partir da
racionalidade científica atual, realizando assim uma história dos saberes. A
riqueza do método arqueológico consiste justamente em ser um instrumento
capaz de refletir sobre as ciências do homem enquanto saberes, investigando
2
Seu objeto de estudo pode ser denominado como “ciências da vida”: biologia, anatomia,
fisiologia e patologia, visando uma problematização filosófica do tipo de racionalidade das
ciências. A epistemologia pode ser definida como uma investigação sobre os procedimentos de
produção do conhecimento científico. Suas principais definições estão contidas em sua obra de
1968 “Estudes d’histoire et de philosophie des sciencies”. (MACHADO, 1981, p. 17).
21
suas condições de existência por meio do que foi dito, como e por quem foi dito
(Ibidem, p. 10).
Como não se pode encontrar uma unidade metodológica nas obras de
Foucault, cada uma é diferente da anterior, a “arqueologia” pode ser
caracterizada pela variação constante de seus princípios. Em um primeiro
momento, na obra “A História da Loucura”
3
, a investigação arqueológica não
privilegiará o discurso científico. Em “As Palavras e as Coisas”
4
, entretanto, o
objetivo será realizar uma arqueologia das ciências humanas permanecendo
no âmbito do discurso, estabelecendo suas propriedades intrínsecas,
entendendo que os saberes devem ser analisados a partir de seu próprio
presente ou futuro atual (Ibidem, p. 125)
Se as palavras instituem as coisas, e as linguagens se colocam em
movimento pelos discursos, são esses discursos – nesse livro formadores dos
saberes da época clássica até a moderna – que instituem os objetos de que
falam (GRANGEIRO, 2009). Em “As palavras e as Coisas” são estabelecidos
os códigos fundamentais de uma cultura como regentes de sua linguagem,
seus esquemas perceptivos, trocas, técnicas e valores, enquanto as teorias
científicas explicam por que há uma ordem geral e não outra (FOUCAULT,
1999, p. 10).
No século XVI a linguagem será uma escrita para novos discursos que
integram a mesma rede arqueológica a que pertencem os conhecimentos das
coisas da natureza. No século XVIII, por sua vez, haverá uma nova
configuração com a inserção da natureza em uma ordem científica, buscando
um discurso universal, onde o saber é colocado em uma ordem única (Ibidem,
p. 96). Foucault apresenta a ligação do discurso com a estruturação da
linguagem, onde o discurso então será visto não só como a representação das
palavras (o que elas designam/ o que dizem), mas sua capacidade de
derivação, desvio, retórica (Ibidem, p. 113).
3
Obra publicada em 1961 iniciando a série das análises históricas denominadas
“arqueológicas” para que fossem distinguidas da história das ciências e das idéias. A
argumentação do livro é organizada a fim de dar conta da situação da “loucura” na
Modernidade, o que nesse período dirá respeito fundamentalmente à psiquiatria. Seu objetivo é
estabelecer as condições históricas de possibilidade dos discursos e das práticas que dizem
respeito ao louco considerado como doente mental (ibidem. p. 57-58)
4
Obra publicada em 1966 e que traz a formulação da idéia de saber como um nível específico
de análise, constituindo uma positividade com critérios independentes e anteriores à ciência
(ibidem. p. 84)
22
Na parte correspondente aos estudos do discurso na história natural,
ainda em “As palavras e as coisas”, Foucault apresenta o conceito de “a priori
histórico”, aquilo que numa dada época recorta um campo de saber possível e
em que se pode sustentar um discurso reconhecido como verdadeiro. A
arqueologia seria então, a análise dos saberes a partir dos diferentes “a priori
histórico”.
Em sua obra intitulada “Arqueologia do Saber”
5
, surgem as questões
acerca da organização do discurso – trata-se de um grupo de enunciações
heterogêneas em coexistência no interior de uma disciplina – e da unidade do
discurso que não é definida pelo objeto a que se refere, mas pelas construções
do que se afirma a seu respeito. Deve-se partir de uma descrição dos
acontecimentos discursivos para chegar até as unidades que os estruturam,
sendo então possível refletir sobre sua formação, seus direitos de reivindicar o
domínio que as especifique no espaço e uma continuidade que as individualize
no tempo, sob que leis elas se formam, sobre o pano de fundo de que
acontecimentos discursivos elas se recortam e se não são efeito de unidades
mais consistentes (FOUCAULT, 2007, p. 29).
Os discursos, como esclarece Foucault, são uma dispersão em virtude
de sua formação a partir de elementos que não se encontram ligados, sendo a
análise arqueológica constituída pela busca de uma regularidade entre os
elementos do discurso. Nesse processo, o autor propõe o estabelecimento de
regras capazes de reger a formação dos discursos que são a condição de sua
existência. Estas são denominadas como “regras de formação”, sendo sua
função explicar como os discursos aparecem e se distribuem no interior de um
conjunto. Essas regras disciplinam os objetos, tipos enunciativos, conceitos e
temas, caracterizando o discurso como regularidade e delimitando o que o
autor estabelece como “formação discursiva” (MACHADO, 1981, p. 172).
As formações discursivas são constituídas pela definição de
regularidades, tais como ordem, correlações, posições, funcionamentos e
transformações entre objetos, tipos de enunciação, conceitos e escolhas
temáticas advindas de um sistema de dispersão. Devem ser vistas sob a
5
Publicado em 1969, se diferencia dos anteriores por não ser mais uma pesquisa histórica,
mas uma reflexão acerca das categorias de análise encontradas em sua pesquisa (ibidem, p.
159-160)
23
perspectiva da descontinuidade, apontando para a possibilidade de se
encontrar regularidades nessa dispersão, levando diretamente à questão da
posição do sujeito dessas e nessas formações (GRANGEIRO, 2009).
Estabelecendo uma comparação entre as análises do pensamento e do
campo discursivo, a primeira será vista sempre como alegórica em relação ao
discurso que utiliza – o que se dizia no que estava dito – enquanto a segunda é
orientada para compreender o enunciado na singularidade de sua situação. “O
enunciado é sempre um acontecimento que nem a língua nem o sentido podem
esgotar inteiramente” (FOUCAULT, 2007 p. 31).
Para que os discursos, como dispersão, possam ser descritos como
regularidade, é necessário que as regras de formação de um discurso sejam
determinadas em quatro níveis ou feixes:
O primeiro seria referente aos objetos, relacionando-os ao conjunto de
regras que permitem formá-los como objeto de um discurso e constituindo
assim suas condições de aparecimento.
O segundo nível seria o dos tipos enunciativos, onde a descrição da
coexistência de diversas formas nos levaria à articulação de diversos e
heterogêneos enunciados. Analisar um discurso seria também determinar as
regras que tornam possível a existência de enunciações diversas.
O terceiro nível relacionado às regras que formam um discurso diz
respeito aos conceitos, considerando as regras que propiciam seu
aparecimento e transformação, definindo como elas podem ser relacionadas
em um sistema comum.
No quarto nível, que diz respeito aos temas e às estratégias, focam-se
as escolhas realizadas em que os discursos estão inseridos. Esses quatro
níveis, ou feixes, estão relacionados entre si e formam um único sistema, que
caracteriza os discursos. Dependentes verticalmente nos dois sentidos, não há
privilégio entre eles (MACHADO, 1981).
Ao definir as regras de formação discursiva nesses feixes, o que a
arqueologia procura descrever é um saber. A ciência não é propriamente o
objeto de estudo da análise arqueológica e sim o saber que “não está investido
apenas em demonstrações, ele também pode ser encontrado em ficções,
reflexões, narrativas, regulamentos institucionais, decisões políticas (...)”
(FOUCAULT, 2007 p. 239).
24
Os “discursos”, como definidos pela análise arqueológica, podem ser
considerados um conjunto de enunciados, descritos pelas “formações
discursivas”, sendo estes o elemento último da decomposição de um discurso.
Em “Arqueologia do Saber” o autor exemplifica os enunciados que
precisam ter uma substância, um suporte, um lugar e uma data, como
descrições, narrações biográficas, demarcações, interpretação de signos,
verificações experimentais apresentando questões que podemos fazer acerca
dos discursos: Quem fala? Quem é seu titular? Qual status dos que têm o
direito de proferir discurso? Quais são os lugares institucionais de onde se
obtém o discurso? (FOUCAULT, 2007, p. 59) Essas questões possibilitam
observar a dispersão, os diversos status, lugares, posições que se pode ocupar
ou receber quando se exerce um “discurso”.
Sistemas de “formação do discurso” residem nele próprio,
compreendendo um feixe complexo de relações que funcionam como regra,
bem como um esquema de correspondência entre diversas séries temporais,
não se constituindo como sua etapa final. O que se analisa não são as etapas
terminais do discurso, mas os sistemas que tornaram possíveis as formas
sistemáticas últimas (Ibidem p. 85).
Nesse sentido, é possível denominar como “discurso” um conjunto de
enunciados na medida em que se apóiem na mesma “formação discursiva”,
devendo ser considerados como práticas voltadas para os aspectos discursivos
definidos como um
(..) conjunto de regras anônimas, históricas, sempre
determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma
dada época e para uma determinada área social, econômica,
geográfica ou lingüística, as condições de exercício da função
enunciativa (FOUCAULT, 2007, p. 133).
Discursos podem ser vistos como práticas discursivas na medida em que
relacionam a língua com “outra coisa”, na relação que se dá no uso da
linguagem (CORDEIRO, 1995).
O método arqueológico interroga então o já dito no nível de sua
existência, da função enunciativa que nele se exerce e da formação discursiva
a que pertence. Os discursos são então descritos como práticas especificadas
no elemento que Foucault denominará como arquivo, baseadas nos sistemas
25
que se formam na densidade das práticas discursivas e instauram os
enunciados como acontecimentos e coisas (FOUCAULT, 2007, p. 147-148).
Não possuindo apenas um sentido, ou uma verdade, mas uma história
específica, “discursos” podem ser definidos enquanto práticas que obedecem a
regras. Para Foucault, a questão é estabelecer sua definição em sua
especificidade, mostrar como essas regras são irredutíveis a qualquer outra.
A análise arqueológica deve estar atenta para as contradições que
integram a própria formação discursiva, focando para as oposições que devem
ter seus diferentes níveis e papéis descritos. A análise comparativa nesse
método se destina a repartir a diversidade dos discursos em figuras diferentes,
gerando um efeito multiplicador, permitindo seu aparecimento entre as
formações discursivas e os domínios não discursivos, tais como: instituições,
acontecimentos políticos, práticas, processos econômicos, dentre outros.
Esta mesma análise comparativa permitiria ainda revelar que a história
pode dar lugar a tipos definidos de discurso que possuem sua própria
historicidade e se encontram relacionados com um conjunto de historicidades
diversas. A ordem dos enunciados dentro da perspectiva arqueológica não
reproduz necessariamente uma ordem de sucessões.
A arqueologia tenta mostrar como se entrecruzam as relações sucessivas
e as não sucessivas, suspendendo o entendimento das sucessões como um
absoluto em que o discurso estaria submetido. Tal como este método o
entende, o discurso é uma prática que possui suas próprias formas de
encadeamento e de sucessão.
Este método analítico entende que os discursos não sejam formados por
uma série de acontecimentos homogêneos, mas por diversos planos de
acontecimentos possíveis no que tange aos enunciados, suas formas de
emergência, bem como, o aparecimento de objetos de estudo e derivação de
novas regras de formação.
Foucault alerta para a inutilidade de se formular, acerca de determinadas
formações discursivas, questões como: Quem é o autor? Quem falou?
Esperando que uma nova positividade se apresente como uma frase nova. O
que se faz necessário é definir em que consistem essas modificações inseridas
nos discursos, já que o surgimento de novas positividades pressupõe
transformações.
26
Analisar positividades é mostrar segundo que regras uma prática
discursiva é indispensável à constituição de uma ciência e também um espaço
onde o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa em
seu discurso. A arqueologia percorre uma relação entre prática discursiva,
saber (conjunto de elementos formados de maneira regular por uma prática
discursiva e indispensável à constituição de uma ciência) e ciência
(FOUCAULT, 2007, p. 157).
Um dos questionamentos trazidos na obra “Arqueologia do Saber”(1969)
refere-se ao estatuto do documento para a história, já que ele não deve ser
tratado como signo a ser interpretado para revelar algo através dele, nem como
matéria inerte por meio da qual a história busca reconstituir o que os homens
disseram ou fizeram. O que se procura é tratar os documentos como
monumentos, em sua espessura própria, na materialidade que os caracteriza,
buscando pelo método arqueológico, analisar a história dos discursos
considerados como monumentos (MACHADO, 1981, p. 171).
“Discursos” sob esse prisma são vistos como essencialmente históricos e
não se pode analisá-los fora do tempo em que se desenvolvem, buscando
como resposta mostrar “como era possível para homens, no interior de uma
mesma prática discursiva, falarem de objetos diferentes” (FOUCAULT, 2007, p.
234).
Podemos destacar que a “arqueologia” caracterizou a pesquisa de
Foucault até a década de 1970, operando com diferentes dimensões (filosófica,
econômica e científica) para obter as condições de emergência dos discursos
de saber. Os discursos se concentram, por meio de recortes históricos
precisos, em como determinados objetos que emergem em certos momentos
se relacionam, buscando por meio de um corte horizontal identificar como os
acontecimentos discursivos se ligam aos saberes locais e ao poder em uma
articulação histórica (REVEL, 2005, p. 16-17).
O trabalho concernente aos princípios arqueológicos visava trazer à tona
a descontinuidade na história dos discursos, compreender o surgimento e as
transformações dos saberes e, para realizar essa tarefa, apresentava como
meta a realização de uma análise dos discursos, já que os saberes só podem
ser compreendidos pelos discursos que o expressam (VANDRENSEN, 2009, p.
78).
27
Dentro de seus métodos de estudo, Foucault trabalhou com o par discurso
/linguagem. Este par foi mais tarde, de certa forma, substituído pelo par
discurso/fala em “A Ordem Discurso”
6
, aula ministrada no “Colége de France”
em 1970. Esta obra é considerada, para fins de estudo, como uma transição
entre os métodos “arqueológicos” e o “genealógico”. Neste livro é demonstrado
como o “discurso” passa por certo número de ordenações, como em todas as
sociedades a sua produção não é espontânea e como aos sujeitos do discurso
é imposto um conjunto de regras que definem o que pode ou não ser dito
levando em consideração que
em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo
controlada, selecionada, organizada, redistribuída por certo
número de procedimentos que têm por função conjurar seus
poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório,
esquivar sua pesada e temível materialidade (FOUCAULT,
2009 p. 8-9).
A instância do discurso é apresentada como resultado de questões
acerca das diversas práticas restritivas da palavra como: o que pode ser dito?
O que pode ser dito de verdadeiro? O discurso passa a ser mais do que algo
que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo por que e pelo que
se luta, o poder que queremos nos apoderar.
Os três grandes sistemas de exclusão que atingem os discursos são “a
palavra proibida”, a “segregação da loucura” e a “vontade de verdade”. Esta
última, apesar de ter atravessado tantos séculos de nossa história, é cada vez
menos discutida “como se para nós a vontade de verdade e suas peripécias
fossem mascaradas pela própria verdade” (FOUCAULT, 2009, p. 19). Porém a
razão reside no fato de que
se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os
gregos, aquele que responde ao desejo ou aquele que exerce
o poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer esse
discurso verdadeiro, o que está em jogo senão o desejo de
poder? O discurso verdadeiro, que a necessidade de sua
forma liberta do desejo e liberta do poder, não pode
reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a
vontade de verdade, essa que se impõe a nós há bastante
6
Publicada em 1971, esta obra é considerada como uma ligação entre obras como “ História
da loucura”, “As palavras e as coisas”, “A Arqueologia do Saber” e “Vigiar e Punir”. Apresenta
as relações entre as práticas discursivas e os poderes que a permeiam (FAÉ, 2004 , p. 410).
28
tempo, é tal que a verdade que ele quer não pode deixar de
mascará-la. (FOUCAULT, 2009. p. 20)
Essa “vontade de verdade” é vista como um sistema de exclusão do
discurso e se caracteriza por ser um tipo de separação historicamente
construída. Exerce sobre os discursos um poder de coerção, pois delimita
através de um conjunto composto por livros, bibliotecas e textos o que pode ou
deve ser dito (MESQUITA, 2008).
A única verdade então que conheceríamos seriam aquelas oferecidas
pelas instituições e aceitas como inquestionáveis, excluindo aqueles que com
elas não concordam, em função de que nem todas as partes do discurso são
abertas para todos os sujeitos que falam.
Os “discursos” constituem práticas descontínuas, não possuem uma
significação prévia e acabada e são configurados por procedimentos de
controle e delimitação dos sistemas que se baseiam em procedimentos
externos – relatados e definidos por sistemas de exclusão que cumprem
funções estratégicas de identificação e análise das condições de possibilidade
para a valorização do discurso como verdade - e internos que regulam o
discurso de dentro, através da classificação, seleção, ordenação e distribuição.
Os procedimentos internos são o “comentário”, o “autor” e a “disciplina”. Acerca
do primeiro, Foucault reflete:
Não há sociedades onde não existam narrativas maiores que
se contam, se repetem e se fazem variar; fórmulas, textos,
conjuntos ritualizados de discursos que se narram, conforme
circunstâncias bem determinadas; coisas ditas uma vez e que
se conservam, porque nelas se imagina haver algo como um
segredo ou uma riqueza . (...) pode-se supor que exista muito
regularmente nas sociedades, uma espécie de
desnivelamento entre os discursos: os discursos que “se
dizem” no correr dos dias e das trocas (...); e os discursos que
estão na origem de atos novos de fala que os retomam, os
transformam ou falam deles, ou seja (...) discursos que são
ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer. (...) Não há,
de um lado, a categoria dada uma vez por todas, dos
discursos fundamentais ou criadores; e de outro, a massa
daqueles que repetem, glosam e comentam. Muitos textos
maiores se confundem e desaparecem, e por vezes
comentários vêm tomar o primeiro lugar. (FOUCAULT, 2009,
p. 22-23)
29
O segundo procedimento consiste no “autor", visto como princípio de
agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como
foco de sua coerência. O terceiro é reconhecido não nas ciências, mas na
“disciplina”. Sua organização se opõe aos princípios anteriores, não é a “soma
de tudo que pode ser dito de verdadeiro sobre alguma coisa; não é nem
mesmo o conjunto de tudo que pode ser aceito” (Ibidem. p. 31). A disciplina é
um princípio de controle do discurso, “fixa os limites pelo jogo de uma
identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras” (id.
p. 36)
Assim, no que tange a esses procedimentos de controle - internos e
externos - do discurso, Faé (2004, p. 416) considera que o
(...) ‘de-dentro’ enquanto constituinte sujeito é apenas uma
dobra do ‘de-fora’. Se é o homem que ocupa o papel do sujeito
de enunciação, por outro lado, são as práticas discursivas
existentes nesses contextos que definem as condições de
possibilidade para que o enunciado possa surgir e ser
validado.
Se na arqueologia a crítica ao sujeito é apresentada através da dispersão
dos saberes, no método denominado genealogia o sujeito é produzido através
das relações entre saber e poder presentes na prática discursiva. No método
genealógico a prática do discurso não é dissociável do poder, sua constituição
leva a uma construção de verdade como algo ligado ao poder, estando sua
eficácia alocada no modo como ele se encontra vinculado em uma
manifestação discursiva.
Neste método a investigação se dá pela via de procedimentos técnicos
que realizam um controle detalhado e minucioso de elementos como o corpo,
os gestos, atitudes, comportamentos, hábitos e discursos. Os poderes não
estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social, eles
funcionam como uma rede de dispositivos da qual ninguém escapa, ou seja, o
que existem são práticas ou relações de poder, sendo estes algo a ser
exercido. Assim, o cenário que se estabelece é o de que não há saber neutro,
todo saber é político, porque todo saber tem sua gênese em relações de poder
(Ibidem, p. 191)
30
Esta concepção, apresentada em “Vigiar e Punir”
7
, afirma que “saber e
poder estão diretamente implicados, não há relação de poder sem constituição
correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua
ao mesmo tempo as relações de poder” (FOUCAULT, 2005, p. 27).
O rompimento com a idéia de sujeito como fundador do conhecimento
presente na arqueologia permanece na genealogia, só que com um
entendimento do sujeito não mais como constituinte, mas como constituído e
produzido pelo poder.
Não há como fazer a história de um discurso sem levar em conta as
relações de poder na sociedade na qual ele funciona, pois em sua existência
estão presentes as forças, as lutas e desejos que movem os grupos sociais
(VANDRENSEN, 2009, p. 80). Se na arqueologia o discurso funcionava como
mecanismo de ordenação dos saberes, na genealogia ele será o dispositivo no
qual estão alojadas as relações entre saber e poder.
Se analisarmos por uma perspectiva de articulação entre os dois métodos,
pelo viés arqueológico, será possível descrever as regras que dominam uma
prática discursiva em uma época; já por meio da genealogia, será apontado
como essas regras de organização funcionam como legitimadoras das
estratégias do poder presentes nas práticas sociais. Os métodos arqueológico
e genealógico são projetos de uma crítica permanente da atualidade – a
primeira com seu método e a segunda com sua finalidade. Ambas as análises
problematizam o pensamento presente fazendo uma análise do passado
histórico dos saberes.
A genealogia proposta por Foucault consiste em uma pesquisa histórica
que se opõe à unicidade da narrativa histórica e à busca da origem, estrutura-
se a partir da diversidade e da dispersão, ativando os saberes locais -
desqualificados e não legitimados - contra a instância teórica unitária que visa
uma ordenação hierárquica em nome de um conhecimento verdadeiro (REVEL,
2005, p. 53).
A análise proposta em “a Ordem do Discurso” seria então composta de
uma parte crítica - ligada aos sistemas de recobrimento dos discursos e
7
Publicado originalmente em 1975, introduz e desenvolve o sentido da palavra genealogia.
Esta obra introduz as análises históricas da questão do poder como elemento de explicação
para a produção dos saberes (MACHADO, 1981, p. 188)
31
procurando detectar seus princípios de ordenamento e exclusão – e de uma
parte genealógica que se detém nas séries de formação efetiva do discurso,
não desvendando a universalidade de um sentido, mas trazendo à tona suas
estruturas de “rarefação” (FOUCAULT, 2009, p. 70).
Para os fins pretendidos adotamos a perspectiva do conceito de “discurso”
contida na obra de Michel Foucault para apresentar as heterogêneas
“formações discursivas” acerca do meteorito de Bendegó, em particular as
estruturadas no Museu Nacional.
32
CAPÍTULO 2
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL:
MUSEALIZAÇÃO DA NATUREZA
E CULTURA NA CONSTRUÇÃO
DISCURSIVA ACERCA DA
NAÇÃO
33
cada geração (...) escreve a sua própria descrição
da ordem natural, que geralmente revela tanto
sobre a sociedade humana e as suas
preocupações mutáveis como sobre a natureza
(Donald Worster, 1998).
O presente capítulo tem por objetivo apresentar as singularidades dos
processos de musealização das categorias “Natureza” e “Cultura” – dicotomia
estruturante do Ocidente moderno - nos museus de história natural, como o
Museu Nacional.
Na primeira parte encontram-se contidos os princípios relativos à
conformação da História Natural, a estruturação de novas formas
classificatórias do mundo natural e a consolidação dos museus oriundos dos
gabinetes de curiosidades
8
que se destinaram a representar as Ciências
Naturais.
A seguir são apresentadas diferentes noções acerca do processo de
musealização, os aspectos teóricos e técnicos que caracterizam a incorporação
de elementos da cultura material aos acervos de museus, neste caso
especificamente os de ciência.
O último item refere-se à constituição desses espaços museológicos como
locais de representação da nação. Diversas possibilidades de reflexão acerca
da nação são apresentadas para possibilitar o entendimento dessas
instituições de história natural como autoras de formações discursivas acerca
da nação.
2.1 Uma nova forma de entender o mundo
O surgimento da história natural vincula-se às transformações nos modos
de interpretação e instrumentalização da natureza
9
estruturadas na
8
Os museus de ciência têm sua origem em duas linhagens que evoluíram paralela, mas
distintamente nos séculos XVIII e XIX e se encontraram no século XX. De um lado
encontramos um modelo associado ao progresso técnico e científico de uma denominada
nação, cujo exemplar é o Conservatoire National des Arts et Métiers, fundado em Paris no ano
de 1794. Esse modelo se expandiu no contexto de emergência dos estados-nação. Uma
segunda linhagem mais antiga, da qual fazem parte os museus de história natural, originou-se
a partir dos gabinetes de física, química, desenhos e dos observatórios astronômicos
existentes na Europa no Século XXVII (LOURENÇO, 2009, p. 4)
9
A idéia de natureza possui múltiplos significados e ao longo de sua estruturação como
categoria do pensamento ocidental foi sendo re-significada. O presente trabalho baseia-se no
entendimento de que as concepções acerca da natureza são socialmente construídas e variam
de acordo com determinações culturais e históricas (DELICADO, 2009).
34
Modernidade européia. Idealizada inicialmente em uma perspectiva
mecanicista a partir da racionalidade científica, a natureza é tida como um
sistema.
A racionalidade instrumental combinada à concepção
imanente da natureza e a gênese da ciência moderna constitui
o horizonte em que se desenvolve o estudo do universo
material (natura) diferenciado do humano – a “história natural”.
Por outro lado, a consolidação do entendimento de natureza
como “inventário das coisas” e a superação da síntese
aristotélica, contribuem, ainda, para o delineamento desse
projeto prático e utilitário do conhecimento (LOUREIRO, 2007,
p. 160)
Anteriormente, “Bestiários”, “Florários” e “Lapidários” representaram, da
Idade Média até o século XVI, a natureza ligada ao homem por meio de
simbolismos. No decorrer dos séculos XVI e XVII a maneira como no Ocidente
o mundo natural ao redor era percebido e classificado foi modificada.
Anteriormente, dogmas sobre o lugar do homem na natureza foram
descartados e novas sensibilidades em relação aos animais, plantas e
paisagens apareceram. O predomínio do humano sobre esse mundo foi e
ainda é uma pré-condição básica de sua história, já que é impossível
desemaranhar o que as pessoas pensavam no passado acerca da natureza do
que pensavam de si próprias (KEITH, 1988, p. 18-19).
Uma forma de ascendência sobre a natureza foi a estruturação da história
natural, estudo científico dos animais e da vegetação e um dos processos que
culminaram na desarticulação da idéia – que vigorava até o início da
modernidade - de que mundo foi feito para o homem e todas as outras
espécies estavam subordinadas ao seu desejo (Id, p. 61).
A história natural também pode ser entendida como a nomeação do
visível organizada em relação ao próprio ser humano, com base na
comparação de quatro diferentes variáveis: forma, quantidade, distribuição no
espaço de uns em relação aos outros e a grandeza de cada um (FOUCAULT,
1999). Outra possibilidade está em percebê-la como uma narrativa humana de
transcendência da natureza, onde a domesticação de plantas e animais figurou
como uma contrapartida da própria domesticação da humanidade no processo
civilizatório (INGOLD, 2000, p. 77).
Este sistema de classificação do mundo natural que passou a ser
dominante moldou percepções e por conseqüência comportamentos. Os
35
primeiros naturalistas modernos desenvolveram essa nova forma de olhar para
as coisas, mais objetiva e menos antropocêntrica. Esse processo gradual foi
permeado por uma perspectiva humana. Os novos e objetivos princípios de
classificação que dominaram a Botânica e a Zoologia no começo do período
moderno foram construídos em oposição às antigas formas de enxergar os
animais e plantas como meros símbolos do homem.
Esses esquemas classificatórios representaram uma tentativa de
imposição de uma organização intelectual ao mundo da natureza, onde todos
esses elementos foram reduzidos a um método (Id. p. 78).
No lugar de um mundo natural que conservava a fragrância da
analogia humana e do significado simbólico, e era sensível ao
comportamento do homem, eles construíram um cenário
natural separado, para ser visto e estudado por um observador
externo, a enxergá-lo através de uma janela, seguro no
conhecimento de que os objetos de contemplação habitavam
um reino diverso, sem presságios ou sinais, sem importância
ou significado humanos (KEITH, 1988 p. 106).
A partir do século XVIII, naturalistas começaram a estudar a natureza em
si mesma, porém não indiferentes ao uso humano e tão pouco o considerando
o centro das atenções. A criação de sistemas de classificação como o Lineano
– estruturado em 1735 – culminou com uma ruptura fundamental, passando a
natureza a ser estudada em si própria, independente de seu significado para o
homem (KEITH, 1983, p. 97).
Nos dias de hoje, a História Natural compreende diferentes disciplinas
científicas, sobretudo no âmbito da Biologia e Geologia. Assim sendo, os
museus de história natural abrangem em seus acervos e ações os elementos
referentes à Vida (Bio), ao Cosmos e à Cultura. Tal perspectiva os singulariza
frente aos demais espaços museológicos em virtude de sua vinculação aos
projetos de coleta, pesquisa e classificação oriundos das perspectivas
científicas.
A gênese dos museus de história natural encontra-se nos “gabinetes de
curiosidades” que retrataram o ideário moderno de ruptura com uma percepção
mítica do mundo (WEBER, 1991), passando o sujeito a mediar sua relação
com a natureza a partir de um tipo específico de racionalidade que
36
desembocará na construção da ciência tal como hoje a conhecemos – a
ciência moderna.
De acordo com Grasskamp (1994), considerando o impulso de reunir
coleções nas quais conviviam o bizarro, o curioso e o miraculoso, os gabinetes
seriam “tentativas” de uma racionalidade científica e técnica. Nos séculos XVI e
XVII, inúmeras coleções de História Natural podiam ser encontradas por toda a
Europa Ocidental contendo minerais, fósseis, conchas, espécimes anatômicos
e botânicos, animais taxidermizados, entre outros. Presentes em diversas
cortes dessa parte do mundo, esses espaços eram freqüentados por
monarcas, intelectuais, homens interessados em ciência e mesmo leigos, com
propósito de estudo ou de simples contemplação. Esses locais se
caracterizavam por manter e apresentar uma variedade de “fenômenos da
realidade sensível” (BITTENCOURT,1997, p.5) podendo ser vistos como uma
tentativa de construir um microcosmo representativo do mundo (LEOPOLD,
1995).
Alguns desses gabinetes eram famosos em toda a Europa, como o dos
príncipes Rodolfo II em Praga e o de Luís XIV em Paris. Além desses, outros
espaços particulares se destacaram, como o do Clérigo Manfredo Settala em
Milão, o do professor Aldrovandi em Bolonha, o de propriedade do boticário
Basílio Besler em Nuremberg e o do médico Ole Worm em Copenhague. No
século XVII mais de 723 coleções eram conhecidas em Paris (BURKE, 2003, p.
100). Na visão de seus proprietários, esses gabinetes apresentavam um painel
do mundo por meio de um microcosmo do estranho, do peculiar e raro
representados pelos exemplares oriundos das artes mecânicas, químicas, dos
diversos espécimes botânicos, armas, monumentos e antiguidades. Esses
espaços e suas coleções que apontavam para um mundo maior do que o
conhecido seriam, gradualmente, substituídos pelos museus científicos,
mudaa que se reflete nas coleções que materializavam uma nova abordagem
científica.
Os museus tiveram papel na distinção da história natural que emergiu
nesse período, dos estudos anteriores acerca dos animais e das plantas. Esta
nova forma de nomear as coisas face ao olhar e ao discurso era documentada
por
37
espaços onde as coisas se justapõem: herbários, coleções,
jardins; o lugar desta história é um retângulo temporal onde,
despojados de qualquer comentário, de toda linguagem
envolvente, os seres se apresentam ao lado uns dos outros,
com as superfícies visíveis, aproximados segundo seus traços
comuns, e por eles já virtualmente analisados, e portadores de
um único nome (...) a história natural não é mais a nomeação
do visível (FOUCAULT, 1999, p. 143-144).
A classificação passa a ser o traço mais relevante da história natural. A
atribuição de um nome aos seres permite simultaneamente identificá-los e
situá-los neste processo (Id. ,p. 151). A descoberta, descrição, classificação e
nomeação de espécies desconhecidas foi o cerne das atividades dos
naturalistas, que obtiveram um papel social crescentemente reconhecido e
respeitado (POMIAN, 1987, p. 249). As viagens de exploração, os trabalhos de
campo, as classificações de coleções, sua ampliação e divulgação através da
publicação de catálogos constituíram a essência da história natural nos seus
loci específicos que foram os museus (LOPES, 2001).
A relevância adquirida pela história natural no século XVIII foi
fundamental para o delineamento de seus espaços museológicos. Vista a partir
da Revolução Francesa como atividade capaz de contribuir para o
aperfeiçoamento intelectual dos cidadãos, os museus que a divulgavam
adquiriram importância. A construção e preservação de coleções nesses
museus serviram para criação de uma taxonomia universal e suas exposições
públicas como instrumento do projeto educacional do iluminismo (LOUREIRO,
2007, p. 162).
A diferença entre os gabinetes de curiosidades e os museus está na
(...) natureza das suas coleções e o acesso público a elas.
Enquanto os gabinetes de curiosidades continham uma
miríade de objectos, naturais e artificiais, escolhidos por serem
únicos, excepcionais ou exóticos, reunidos e dispostos com o
objectivo de representar uma imagem enciclopédica, total ou
parcial, os museus modernos caracterizam-se geralmente pela
especialização (diferenciação segundo o tipo de coleções que
albergam) e pela classificação (apresentação ordenada e
racional dos objectos). Por outro lado, os gabinetes de
curiosidades (de reis, príncipes, aristocratas e mais tarde
burgueses de elevado estatuto) eram apenas acessíveis a
visitantes ilustres (...) sendo exibidos como “acessórios
culturais de poder”, enquanto os museus modernos se
destinam a um público progressivamente mais alargado (...),
com a finalidade de educar (...). (DELICADO, 2009, p. 33)
38
O século XIX ficou conhecido de diversas formas: “século da história”,
“dos dicionários”, “da ciência” e também “século dos Museus”. O movimento
dos museus se espalha por todos os continentes e os intercâmbios científicos
se intensificam (SHEETS-PYESON, 1988). As exposições nacionais e
internacionais, assim como os museus, tiveram papel de mostruários do poder
das sociedades,: expondo objetos valiosos e representativos da memória das
“nações”, materializavam seu grau de “civilização e progresso” (Cf.
LOUREIRO; FURTADO; SILVA, 2007)
Simultaneamente neste mesmo século, a história natural generalista deu
lugar à especialização disciplinar - botânica, zoologia, geologia, mineralogia e
subdisciplinarmente, por exemplo, a mamalogia, herpetologia, ornitologia,
malacologia. Os museus de história natural ajudaram a suprir a primeira
condição institucional para a emergência de novos saberes como a biologia, a
geologia, a botânica, dentre outros. Ao serem inseridos nesses museus, esses
objetos são ordenados como partes de uma seqüência evolutiva que
constituiria a totalidade das coisas e dos povos (BENNET, 1995, p.96). Neste
período os museus foram locais privilegiados para a investigação científica no
domínio das ciências da natureza.
(...) é notório que o museu pode reclamar um lugar significativo
no mapa das localizações onde a ciência foi feita. (...) a
disposição dos seus conteúdos pode assinalar várias
concepções da ordem que se crê existir no mundo exterior e
das relações humanas com ele. Os museus codificam e
moldam concepções particulares de conhecimento, exibem
objetos mas não são simplesmente janelas para o mundo
exterior (GOLINSKI, 1998, p. 98).
A totalidade e a universalidade dos elementos relativos ao homem
10
, à
sociedade e à natureza são marcas estruturantes de suas coleções, formadas
a partir de uma ordenação e classificação de fragmentos que, reunidos em um
sistema coerente, dão significado e sentido a realidades maiores e mais
complexas (LOUREIRO; FURTADO; SILVA, 2007). É a partir desses museus
que emergem os primeiros cientistas profissionais nas ciências taxonômicas.
Os museus de história natural são e foram mais intensamente no século XIX
10
Inicialmente o homem era entendido no âmbito animal. Somente mais tarde ele integrou o
eixo correspondente ao social.
39
construtores privilegiados do mundo natural. “O pessoal do museu tinha a
autoridade para falar da natureza – nomeá-la, classificá-la, construí-la – que
produzia como um discurso valorizado” (GOODMAN, 2002, p. 259).
Podemos citar entre os primeiros museus de história natural o “Ashmolean
Museum” aberto em 1683, o “Jardin Royal des Plantes Medicinales” criado em
1635 e que serviu de base para o Muséum National d’ Histoire Naturelle, bem
como o Natural History Museum de Londres, que teve sua origem nas coleções
do British Museum. Mais de um século depois surgem também os museus
especializados, como os geológicos, que foram centrais na prática científica de
determinadas disciplinas neste período, caso do “Museum of practical Geology”
de Londres, inaugurado em 1851.
Em uma primeira fase, nesses espaços, a disposição dos objetos era
pautada pela reprodução de uma centralidade da taxonomia, e por uma
reconstituição do inventário geral dos seres marcada pela necessidade de
comparação e classificação. Posteriormente, as teorias evolucionistas
darwinianas geraram transformações na organização de suas exposições, que
passaram a ser ordenadas pelas séries cronológicas e esquemas evolutivos
das espécies (DELICADO, 2009, p. 102).
Nesta nova concepção expositiva esses museus passaram a ter a
capacidade de reunir, no mesmo espaço, várias temporalidades dispondo-as
na forma de um caminho cujo roteiro pode ser percorrido numa tarde. Percorrer
uma exposição configurava uma forma de caminhar organizadamente através
do tempo evolucionário (BENNET, 1995). No que tange ainda à questão do
tempo, cabe destacar que no decorrer da modernidade passou a prevalecer
uma concepção de um tempo dividido, possibilitado pelo desenvolvimento da
ciência moderna e da tecnologia. A temporalidade caracteriza-se pela adoção
do tempo histórico e linear (LOUREIRO, 2007, p. 166).
O perfil e muitas das funções dessas instituições foram sobremodo
delineados pelo Museu de História Natural de Berlim que em 1891, baseado na
obra de Moebius
11
, estabeleceu uma divisão entre as coleções científicas
11
O geógrafo Karl August Moebius foi diretor do Museu de História Natural de Berlim. Em
1891, em sua obra, “O conveniente apetrechamento dos grandes museus”, desenvolveu sua
teoria museológica que estabelecia o princípio de separação entre as coleções científicas e as
expostas ao público. (Universidade de Kiel, disponível em: www. Uni-kiel.de/os/cgi-bin/fo-
bio.php?nid=moebius&land=e. Acesso em: 31/05/2009).
40
destinadas aos especialistas e os conjuntos preparados para a exposição
pública.
Além de servirem para demonstrar os processos de dominação do homem
sobre a natureza, os museus de história natural ainda representaram um papel
discursivo na construção política dos Estados-Nação ao abrigarem os
espécimes naturais sistematicamente coletados e referentes ao espaço
geográfico do país, tendo sido sua exposição estruturada para reforçar o
sentimento de pertença a uma “comunidade imaginada” (DELICADO, 2009, p.
103). Esses museus também foram instrumentos de dominação colonial, na
medida em que eram dirigidos para o aproveitamento econômico das riquezas
naturais dos territórios colonizados e para a promoção ideológica da noção de
império (SMITH, 1989, p. 9).
Os diferentes aspectos desses espaços científicos museológicos variaram
de acordo com as circunstâncias locais, regulamentos institucionais e
devotamentos nacionalistas (SHEETS-PYENSON, 2000). Ao final do século
XIX, podem ser destacadas as intenções do movimento científico de “tomar a
dianteira na recuperação da memória das nações, enquanto os monumentos
de lembrança se aceleram” (SCHWARCZ, 2008, p. 68).
No Brasil, os museus de história natural contribuíram, principalmente
durante o século XIX, para a consolidação de uma idéia de nação. Diversos
autores (Cf. MENESES, 2007; LOPES, 1993) destacam que não teria sentido à
época a criação de museus históricos, pois não havia, ainda, “história nacional”
palatável, não convindo incorporar a história do colonizador demonstrando o
porquê de, em nosso caso, as primeiras instituições museológicas estarem
inseridas nesta tipologia de museu.
Com a transposição da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, fundou-se
um novo Império na América, sendo necessário transformar a cidade para
adequá-la à condição de sede da monarquia. Instituições régias como as
Mesas do Desembargo do Paço e Intendência Geral da Polícia foram
recriadas. Acompanharam a constituição desses pilares institucionais do
governo, a revogação da proibição das manufaturas no Brasil e criação da
Imprensa Régia (VAINFAS, 2000, p. 558). Com a aclamação de D. João VI em
1818, indicando uma possível opção da Coroa pela via americana da
monarquia portuguesa, outras instituições foram criadas, dentre elas estava o
41
Museu Real. Tais instituições transformaram a colônia não apenas na sede
provisória da monarquia portuguesa, como em um centro produtor e reprodutor
de memória (SCHWARCZ, 2008, p. 24). Até meados do século XIX, toda a
ciência era feita por viajantes estrangeiros que vinham exclusivamente para
coletar exemplares da fauna e flora. A figura 1, a seguir , apresenta uma
litogravura com a fachada do Museu Real.
Figura 1-Litogravura representando a fachada do Museu Real, hoje Museu Nacional,
em sua primeira sede no Campo de Santanna. Arquivo do Museu Nacional.
Ao longo de seus primeiros anos o Museu manteve vínculos de diferentes
ordens com o Jardim Botânico, Biblioteca Nacional, Sociedade Auxiliadora da
Indústria Nacional, IHGB, Escolas de Engenharia e de Medicina da Corte,
todas instituições integrantes no projeto de consolidação da recente nação
brasileira. Em 1842 um novo Regulamento deu ao Museu Nacional uma nova
organização e, durante as décadas que se seguiram, a instituição passou por
um processo de consolidação no que tange à sua administração e aos
processos de coleta e constituição de coleções. Neste mesmo período, D.
Pedro II herda a coroa de um império escravocrata ancorado em um regime
monárquico constitucional, sendo necessário modernizar as instituições, a
economia e a política, sem abrir mão da “chave de toda a organização política”
(VAIFAS, 2000, p. 358). As transformações dessas instituições como o museu,
que possuía o Nacional em seu nome, não podem ser desvinculadas desses
contextos.
Podem ser destacadas dentre as atividades do Museu Nacional de 1842 a
1970 a classificação, a catalogação dos novos produtos, a revisão de
42
classificação, a conservação de espécimes e a organização de coleção para
intercâmbios, bem como o envio de naturalistas para integrar comissões
temporárias.
A partir da década de 1870, configura-se um novo panorama a partir da
chegada de novos modelos científicos que irão impulsionar centros de
pesquisa e ensino, bem como os museus nacionais (id, p. 70). O período entre
1874 e 1915 foi considerado como fundamental para o crescimento institucional
e seu estabelecimento segundo os moldes dos grandes centros europeus (id,
p. 71). Não podem ser desvinculadas desse contexto o papel desempenhado
por essas instituições, de identificar e moldar a personalidade do país/nação
oficial (VAINFAS, 2000) no decorrer do segundo Reinado, assim como as
transformações necessárias para caracterizar a transição do país em uma
república a partir de 1889.
O peso relativo desses museus na investigação das
(...) ciências da vida e da terra reduziu-se ao longo do século
XIX devido à evolução das disciplinas científicas e do
desenvolvimento do ensino superior, mas eles permanecem
até a atualidade centros de investigação onde se cria e se
conserva uma boa parte dos conhecimentos sobre a natureza
(VAN PRAET; FROMONT, 1995, p. 55).
A ruptura entre a prática científica e expositiva nos museus de história
natural, devido à transformação dos objetos de investigação, ao crescimento
das universidades e um acréscimo de abstração das ciências relacionado com
um distanciamento daquilo que é diretamente observável, pode estar
relacionado com certo declínio experimentado por esses museus ao longo do
século XX. Esses locais foram, de certa forma, substituídos por laboratórios
que definiram novos meios de controle e manipulação e não possuíam mais
espaço para o conhecimento baseado na classificação como aqueles
estruturados a partir dos estudos das coleções dos museus. Tais instituições
tornaram-se monumentos dos sucessos científicos passados (DELICADO,
2009, p. 118).
Mudanças nos estudos da natureza implicaram em alterações de
funcionamento no cotidiano da prática científica. Nos dias de hoje apenas
algumas disciplinas necessitam de coleções de exemplares para seus estudos.
43
Por esta razão, à medida que o teor taxonômico perde essencialidade no
ensino científico, cada vez menos o contato com as coleções de museus se faz
fundamental para o estudo. (id, p. 119). O período onde a visibilidade dessas
instituições diminuiu se configurou a partir de meados do século XX e se deu
também em função de um maior dinamismo de outros tipos de museus, como
os parques naturais, ecomuseus e centros de ciência.
Diferentemente de outras instituições museológicas, os objetos
provenientes do domínio natural que integram suas coleções não são feitos,
produzidos antropicamente, são coletados (HARAWAY, 1989). Tendo-se
tornado questionável matar animais para taxidermizar e expor, o surgimento de
novas formas visuais de contemplação desses animais e plantas – filmes e
documentários de televisão, por exemplo – de certa forma configuraram-se
como concorrência (VAN PRAET; FROMONT, 1995).
A partir da década de 1980, essas instituições, em especial as européias,
passam por uma renovação derivada da adoção de um novo papel científico
que seria o de reconstituir uma dinâmica diacrônica dos processos naturais,
tendo os museus a missão de documentar sua diversidade e distribuição,
sendo cada espécime visto como único e fornecedor de uma documentação
multidimensional sobre os espaços geográficos, da biodiversidade e sua
posição no tempo (DELICADO, 2009, p. 121).
Somente nas coleções dos museus de história natural podem ser
encontrados exemplares científicos de espécies já extintas, destacando-se
então
(...) o emprego da ‘natureza objetiva’ como instrumento
conceitual e concreto de representação da categoria vida (bio).
É por meio da morte, ou perda de suas especificidades
essenciais, e posterior conservação in vitro, que o espécime
torna-se apto a integrar os dispositivos destinados à narrativa
museológica (LOUREIRO, 2007, p. 169).
As especificidades dos museus de história natural repousam
fundamentalmente no papel essencial de ensejar a compreensão das
formações discursivas advindas de interpretações da ciência moderna acerca
da natureza e dos artefatos oriundos dos diversos grupos sociais humanos
através do tempo. O que se encontra em jogo nesse tipo de museu é o
emprego da natureza como representação da categoria ‘vida’ e que, somente
44
após a perda das especificidades essenciais de seus espécimes, ou morte,
eles se destinam à narrativa museológica (LOUREIRO, 2007, p. 171).
Nos horizontes específicos dos museus de história natural (como o Museu
Nacional/UFRJ) coube, ao longo de toda a sua existência, a pesquisa científica,
preservação e exposição dos objetos oriundos da vida (Bio) e da cultura
humana sob diferentes prismas da ciência moderna. Essas instituições, desse
modo, são pontos de interseção entre as ciências ditas ‘naturais’ e as ciências
‘antropológicas’, o que as diferencia no universo dos museus científicos.
2.2 Representações das categorias ‘Natureza’ e ‘Cultura’ : os processos
de musealização
(...) Os museus são bem mais do que a soma de
etiquetas ou a ordenação de exposições; assim
como os objetos ali apresentados, eles não têm
significação mas acolhem e refletem as
significações de que são investidos
(Sheldon Annis,
1986)
As referências aos museus na atualidade nos levam à instituições que
colecionam objetos e os expõem ao público, remetendo-nos aos grandes
museus nacionais europeus que a partir do século XVIII passaram a publicizar
suas coleções em grande parte oriundas das coleções da nobreza e realeza
(SANTOS, 1998, p. 9), funcionando como paradigmas visuais que recriavam
simbolicamente a ordem do mundo e o espaço de exercício de seu poder
(MENESES, 1993).
Os objetos que encontramos atualmente nas coleções museológicas
foram selecionados de acordo com critérios institucionais e estão associados a
narrativas construídas que determinam seus sentidos. Estes fazem parte do
discurso elaborado pelos museus sobre o que foi o passado a partir de
determinações do presente visando determinados fins, sendo então
(...) responsáveis tanto por uma determinada política de
memória, em que objetos deslocados de tempo e do espaço
em que foram produzidos são realinhados de forma a dar nova
ilusão de um contínuo temporal, como são também objetos de
diversas políticas de memória, em que diversos setores da
sociedade disputam os significados simbólicos por eles
veiculados (Id, p. 8).
45
Os espaços museológicos são por natureza locais que mantêm evidências
materiais e espécimes do âmbito humano e natural. Museus, objetos e
coleções integram as faces de um triângulo cultural, cada uma delas mostrando
diferentes características do mundo, porém ao estarem juntas acabam por
mostrar o todo (PEARCE, 1993).
De maneira geral essas instituições se caracterizaram por preservarem o
autêntico, ação legitimada por meio dos objetos originais que constituem suas
coleções que podem ser definidas como
qualquer conjunto de objetos naturais e ou artificiais, mantidos
temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades
econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local
fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do
público”(POMIAN, 1984, p. 53).
Os diferentes significados a que um objeto pode aludir determinarão sua
incorporação a um museu. Entender de que forma esses processos ocorrem
esclarece como se dá essa apropriação de elementos da natureza física. A
fragmentação desses espaços por especialidade, de certa forma se choca com
as complexidades das sociedades e, por conseqüência, com a idéia que
acabou por se cristalizar, onde o objeto e sua natureza é que determinariam à
natureza do museu. Esta taxonomia estaria mais baseada em categorias de
objetos isolados ou agrupados, do que em campos do conhecimento ou
problemas humanos (MENESES, 1993).
Os museus de ciência e tecnologia são produtos de fenômenos,
acontecimentos, relações e trocas que se passam não só no campo científico,
mas também em outros campos sociais, entrecruzando diferentes dimensões:
uma discursiva relacionada com as intenções e objetivos de seus agentes
criadores, a dimensão prática, referente ao seu funcionamento, uma dimensão
diacrônica que não desconsidera sua evolução ao longo do tempo e as
transformações por que passou e uma dimensão sincrônica relativa a seu
estado no momento presente, que atividades desenvolve. Sua dimensão
representacional também não é descartada, pois ela se constitui da forma
como se estabelece a construção e difusão de determinada imagem da ciência,
dos cientistas e de seus conhecimentos e práticas científicas (DELICADO,
2009, p. 16)
46
Dentro desta perspectiva, os objetos das instituições de história natural
permitem uma reflexão enquanto elementos que visam representar a dicotomia
natureza/cultura. Em princípio se considerava que esses museus
apresentavam objetos que não haviam sido produzidos por agentes humanos,
porém os elementos oriundos da natureza que compõem suas coleções podem
ser interpretados como artefatos produzidos (HARAWAY, 1992), ou seja,
admitindo que esses elementos advindos são em sua maioria modelos
produzidos, concebidos a partir de uma atividade humana.
A denominada “cultura material” seria inicialmente um produto de um
modo de pensar sob a dicotomia natureza e cultura (ALBERTI, 2009) sendo
seu conceito fruto da modernidade ocidental. Nos museus de história natural a
apresentação e produção da natureza constituem construções significativas.
Cientistas naturais, arqueólogos e historiadores da arte dividem um mesmo
compromisso com os objetos, eles constróem seus assuntos e temas a partir
de coisas materiais, cabendo aos profissionais dos museus recuperar ou
reestruturar os trabalhos de fabricação de significados (KNELL, 2007, p. 7).
Natureza e cultura são co-constitutivas e inseparáveis. A partir dessa
concepção, os objetos desses museus seriam o que Haraway (2003) conceitua
por meio de um neologismo em língua inglesa como “naturecultures”, naturais e
culturais simultaneamente, ao invés de serem dicotômicos. “(...) À semelhança
de um ‘espécime’ dissecado e, portanto, ‘morto’, a ‘cultura material’ é
preparada para representar a ‘vida’ das sociedades humanas” (LOUREIRO,
2007, p. 164).
Independente de sua tipologia, museus são fenômenos culturais com
múltiplas significações construídas a partir de um processo de negociação, do
qual participam diversos atores com contribuições diferenciadas na construção
de significados derivados das diversas interpretações do social. Sendo
instituições discursivas produtoras de contextos que traduzem e produzem
interpretações, refletir acerca dos diferentes entendimentos sobre um de seus
processos constituintes, o de musealização de suas coleções, se faz
importante.
Todas as coleções de museus possuem três coisas em comum. São
constituídas por objetos, esses objetos advêm do passado e foram reunidos
47
com alguma intenção por um proprietário ou curador que acreditava que o todo
é maior do que a soma das partes (PEARCE, 1993, p. 7), vistas então como
um imenso corpo complexo de evidência material, um arquivo
que abrange não só às evidências materiais de nosso passado
natural e humano, mas também como este passado tem sido
ele mesmo interpretado (Id, p. 134)
A musealização pode ser entendida como um processo constituído por um
conjunto de fatores e procedimentos diversos que possibilitam que o patrimônio
cultural se transforme em herança, na medida em que é alvo de preservação e
comunicação (BRUNO, 2006). Este conceito que é freqüentemente usado na
teoria e prática da Museologia é também entendido como um neologismo que
significa aplicar técnicas a um patrimônio cultural ou natural, para o tornar
acessível a um público (DELICADO, 2009, p. 15).
A Museologia por meio de sua dinâmica interdisciplinar tem colaborado
para que os museus apresentem as suas formas de representação e
argumentação, estabelecendo-se assim como lugares de apreciação e
negociação cultural, mas também, como espaço que possui na re-significação
dos bens patrimoniais a sua principal característica (BRUNO, 2006, p. 14).
Musealizar deve pressupor a intermediação dos caminhos entre a
comunicação e a preservação patrimoniais, recuperando as idéias e
mentalidades daqueles que construíram o passado representado por meio dos
diversos acervos (BRUNO, 1999).
Uma outra interpretação acerca do processo de musealização, o
estabelece como a elaboração de um sistema estético para criar significados.
Esta elaboração representa a convivência com as questões ligadas aos sinais,
imagens e símbolos, bem como a implantação de procedimentos adequados
ao reconhecimento, introversão dos sentidos e significados dos indicadores da
memória (SHANKS; TILLEY, 1987).
Vista como uma noção recente por Judith Primo (2008, p.185), já que sua
utilização em artigos científicos da área museológica seria da década de 1980,
o sentido mais comum do termo musealização estaria relacionado com a
valorização dos objetos patrimoniais em um contexto museológico. Além de
atribuir novos significados, estariam implicados aqui a divulgação e
48
comunicação dessas instâncias significativas, tornando o objeto uma referência
de identidade e memória social.
A pré-existência de objetos patrimonializados, as intencionalidades de
seleção, preservação e comunicação, seriam os três elementos pressupostos
pela musealização (Id, p. 185). Este processo começaria com uma valorização
seletiva de alguns objetos previamente e segue gradualmente buscando
transformar o objeto em documento e testemunho dos processos e memórias
sociais (GUARNIERI, 1990).
Partindo do entendimento, como neste estudo, de que a musealização
seria constituída de um conjunto de ações caracterizadas pela separação de
alguns objetos de seus contextos originais e de suas funções de uso, estes
passariam a desempenhar a função de documentos (LOUREIRO, 2007). A
transformação destes itens em documentos, que introduziria referências de
outro espaços, tempos e significados em uma contemporaneidade elaborada
pelo museu por meio da relação entre suas exposições e seus usuários
constitui o eixo deste processo (MENESES, 1992).
O ingresso em um museu implica em uma mudança semântica radical do
objeto (BELLAIGUE e MENU, 1994). O denominado “objeto musealizado”
aponta para práticas de coleta, seleção, classificação, documentação e demais
procedimentos teóricos e instrumentais “a que são submetidos os vestígios e
fragmentos incorporados às práticas museológicas” (Cf. LOUREIRO;
LOUREIRO, SILVA, 2009).
Os objetos são inseridos por meio dos enfoques da área de conhecimento
responsável pelo seu estudo, sendo as ações dos profissionais sobre tais
elementos, geradoras da articulação de significados e sentidos. Visando inseri-
los em suas narrativas, há uma interação entre as práticas interpretativas e os
diversos níveis de saberes especializados, agregando novas referências e
significados (Id).
quando musealizamos objetos e artefatos (aqui incluídos os
caminhos, as casas e as cidades, entre outros, e a paisagem
com a qual o homem se relaciona) com as preocupações de
documentalidade e de fidelidade, procuramos passar
informações à comunidade, (...) a informação pressupõe,
conhecimento (emoção/razão), registro (sensação, imagem,
idéia) e memória (sistematização de idéias e imagens e
estabelecimento de ligações). A partir dessa memória
musealizada e recuperada que se encontra o registro e , daí, o
49
conhecimento suscetível de informar a ação (GUARNIERI,
1990, p. 8).
No caso específico da musealização da ciência, esta pode ser entendida
como um conjunto de ações que incluem desde a constituição de museus que
têm por tema as disciplinas científicas ou se sustentam nos conhecimentos
produzidos pela atividade científica e a transposição de conhecimentos
formulados em um registro textual para o formato tridimensional de uma
exposição de museu (DELICADO, 2009, p. 553).
Quando nos referimos às exposições museológicas, cabe esclarecer que
neste estudo elas são entendidas como a principal forma de mediação e a
principal característica de um museu. Sem elas, o processo de mediação entre
público e conhecimento estaria comprometido devendo ser vistas como a
demonstração explícita, espacial e visual de uma rede de relações definidas e
de uma racionalidade (PEARCE, 1995).
Os processos de musealização da ciência ainda incluem os laços que se
estabelecem entre os agentes que produzem ciência, as instituições onde
trabalham e os museus. Estas relações são estabelecidas entre as imagens da
ciência que os museus constroem e que veiculam ao público que os visita, as
finalidades e funções que desempenham ao transmitirem ciência, além dos
recursos mobilizados e os constrangimentos enfrentados nessa tarefa de
transmissão, as estratégias e atividades, as colaborações e os conflitos
(DELICADO, 2009, p. 553).
No caso dos museus de história natural a musealização é permeada pela
busca de uma ordem.
(...) a natureza ‘musealizada’ e transformada em bem cultural,
é reinventada a partir de pressupostos cumulativos, lineares e
de exemplaridade. Nessa operação de representação, o
museu de história natural, impondo um tempo e um espaço
social à natureza, constitui-se de uma realidade autônoma. As
interpretações advindas do projeto científico da modernidade
acerca daquilo que denominamos mundo natural constituem a
‘memória da natureza’, preservada e divulgada por tais
espaços museológicos (LOUREIRO, 2007, p. 168).
Ao longo de seu desenvolvimento, coube a essa tipologia de museus por
meio da publicização de suas coleções – que neste caso podem ser
consideradas enunciados de onde se originam formações discursivas - a
50
representação da nação em diversos planos. Tal processo se estrutura a partir
da integração de categorias como “natureza” e “nação”. Esses museus ainda
possuem por essência o compromisso com a construção, preservação e
exposição da memória e do patrimônio científico-cultural a partir da
contextualização histórica e sócio-cultural de seus acervos.
2.3 Os Museus de história natural como espaços de representação da
nação
Como separar, então, discursos distintos sobre a
nação, enunciados a partir de locais da diferença
dentro da nação? (Mônica Pechincha,
2006).
Os museus de história natural possuem uma função mediadora entre a
produção da ciência moderna e a sociedade, compreendendo processos de
configuração material e simbólica. No Brasil as principais instituições
museológicas deste tipo além de criarem contextos relacionais entre
fenômenos naturais e sociais, possuem ainda a função indissociável de
representação da nação.
todas as correlações entre natureza e cultura devem ser
entrelaçadas sob o viés do percurso do conhecimento
científico moderno a fim de construir uma narrativa
prioritariamente plástica da “nação (LOUREIRO, SOUZA,
SAMPAIO, 2007, p. 1).
A conceituação acerca da categoria “nação” é considerada por diversos
autores como difícil, já que isso pressuporia a busca por sua essência.
Referindo-se à idéia de laços comuns de sangue, a palavra nação vem do
Latim e deriva do passado do verbo nasci, significando nascido.
Os mitos, costumes, as línguas são dados que podem ser considerados
iniciais, porém só adquirem poder por meio da repetição, difusão e “é por uma
construção imaginária que a consciência cria a nação e, logo, é por uma
construção prática que uma entidade política reforça a nação e a sustém”
(DELANNOI, 1993, p.11). A idéia de nação não se configura a partir somente
de critérios como língua, território e uma cultura homogênea, esses critérios
são considerados por Hobsbawn (1984, p. 19) como ambíguos e mutáveis,
51
sendo a nação “uma entidade social apenas quando relacionada a uma certa
forma de Estado territorial moderno”.
O Estado pode ser definido como uma instituição ou um conjunto de
instituições especificamente concebidas para o controle da ordem, onde
agências designadas para esta contenção são entendidas como separadas da
vida social (GELLNER, 1984, p. 3). Podendo ser visto também como um
artefato cultural, seria construído para legitimar o que poderia ser visto como
ilegítimo, o domínio de uns sobre os outros. Seus principais instrumentos são
culturais – a criação de uma visão de mundo, de atitudes e noções através do
qual seu domínio vem a ser tido como certo – além de contar com o uso da
força (CORRIGAN; SAYER, 1985). O Estado seria uma máquina que foi
acionada para a criação de um sentimento de nacionalidade (HOBSBAWN,
1990).
Se considerada um objeto ideológico, a nação facilitaria uma base para o
nacionalismo, que por sua vez cria uma ideologia nacional reforçando
novamente a nação (DELLANOI, 1993, p. 14). Prestando-se a múltiplos usos
foi utilizada para consolidação e legitimação estatal, estabelecendo uma
relação em que estaria a serviço do Estado que a controla, e, este por sua vez,
a serviço da nação porque a organiza. (Id, p. 15).
Desde a Revolução Francesa, o termo nação designa uma espécie
particular de comunidade política onde indivíduos têm, em grande número, uma
consciência de cidadania na qual o Estado parece a expressão de uma
nacionalidade pré-existente (RENAUT, 1993, p. 38).
Podem ser distinguidas duas idéias modernas de nação. Uma estaria
relacionada com a Ilustração e o discurso da Revolução Francesa e teria se
inscrito sob a idéia de liberdade. A outra seria uma noção que teria se
consolidado entre os românticos e se inscrito sob a idéia de natureza e
determinismo. Nesta segunda, a idéia de associação é substituída pela
totalidade inclusiva, onde a concepção de uma construção aberta a um futuro
foi suprimida pela de tradição enraizada em um passado
a nação dos românticos, pensada sobre a idéia de diferença e
não de identidade, ao submeter o horizonte de cosmopolitismo
ao de nacionalismo, abre-se a perspectiva de uma irredutível
heterogeneidade das comunidades nacionais (Id. p. 46).
52
Os primeiros Estados-nação foram europeus, porém o nacionalismo é um
movimento global e um sistema cultural. Os movimentos nacionalistas
emergiram quase que ao mesmo tempo no Velho e no Novo mundo
(ANDERSON, 1989).
Ao refletir acerca do nacionalismo, Taguieff (1993, p. 91) apresenta as
suas principais características do nacionalismo enquanto ideologia política
moderna estruturadas por Isaiah Berlin: a crença na necessidade primordial de
pertencer a uma nação, a crença na natureza orgânica das relações existentes
entre os diferentes elementos constitutivos da nação, esta pensada como uma
comunidade orgânica, a crença no valor do nosso, utilizando um critério
sociocêntrico e a crença em uma supremacia dos direitos da nação. A axiologia
nacionalista recusaria assim toda hierarquia universalista dos valores e de
preferências (Id, p. 95).
As nações podem ser consideradas como tradições inventadas pelas
elites políticas de modo a legitimar seu poder e entendidas como uma
“comunidade política imaginada”, sendo necessário pensar sobre sua
fabricação e entender sua distintividade nacional em termos de seus estilos de
imaginação e instituições que a fizeram (Cf. HOBSBAWN, 1984; ANDERSON,
1989, p. 14).
Nesta proposta de Anderson, concebida dentro de um “espírito
antropológico” (Id), a nação é considerada como imaginada e implicitamente
limitada e soberana. O conceito referente ao seu aspecto imaginário explicita
que nem mesmo os membros das menores nações jamais terão a possibilidade
de conhecerem a maioria de seus compatriotas. A nação também é limitada
porque até mesmo a maior delas possui fronteiras. No que tange à soberania,
este conceito advém de uma época em que o Iluminismo e as revoluções
desestruturavam a legitimidade dos reinos dinásticos hierárquicos divinamente
instituídos, tornando então os Estados modernos símbolos desta liberdade.
As nações podem ser imaginadas como comunidades porque, apesar das
desigualdades e explorações que prevalecem, são sempre concebidas como
um companheirismo profundo e horizontal entre todos que a integram
53
se é amplamente reconhecido que os Estados-nação são
‘novos’ e ‘históricos’, as nações a que eles dão expressão
política assomam de um passado imemorial, e, ainda mais
importante, deslizam para um futuro ilimitado. (..) o que
proponho é que o nacionalismo deve ser compreendido
pondo-o lado a lado, não com ideologias políticas abraçadas
conscientemente, mas com os sistemas culturais amplos que o
precederam , a partir dos quais – bem como contra os quais
passaram a existir. (Id, p. 20).
Para fins instrumentais, neste estudo, utilizaremos esta concepção de
Benedict Anderson entendendo que os museus se incluem, como referido
anteriormente, entre as instituições que integraram o processo de imaginação
da nação, enquanto espaços de representação simbólica. As perguntas
fundamentais do autor dirigem-se à maneira como a consciência nacional se
produz e reproduz, e como ela cria um tipo de solidariedade estável no
contexto da modernidade.
Sua argumentação se desenvolve buscando refletir se existe algum
atributo cultural em que a nação se funda. Para atingir tal fim, Anderson
compara a solidariedade social na nação com o resultante das relações de
parentesco. Todavia a nação é mais aberta que o parentesco, pois permite a
naturalização de estrangeiros. Derivado desta percepção estabelece então
uma possível correspondência com as religiões universais. Essas religiões
seriam capazes de sustentar soluções para os dilemas existenciais de uma
forma que a nação não poderia fazer; por sua vez, com o desaparecimento da
promessa de imortalidade que as religiões insinuam, a consciência nacional
ganha destaque por gerar uma certeza de pertencimento a uma comunidade
ela mesma imortal. Há ainda o que Anderson estabelece como sagrado cívico,
a partir de uma correlação entre uma imaginação nacional e uma imaginação
religiosa que suscita a emergência de uma disponibilidade das pessoas de
morrerem pela nação (PECHINCHA, 2006, p. 89).
Fundando grande parte de seu trabalho nos processos de comunicação,
Anderson questiona se seria a língua o atributo cultural que define a
nacionalidade, apesar da constatação da existência de nações com diversas
línguas. Ele associa o tema da língua com o argumento principal que explicaria
o advento da imaginação nacional, denominado por ele de “capitalismo de
imprensa”. Para o autor, foi fundamental o papel da imprensa e da literatura na
54
geração e fixação de uma língua impressa que teria lançado as bases para
uma consciência nacional e a consolidação de novas afinidades culturais. Sob
este prisma Anderson fala da nação como um espaço interlocucional cujos
limites estão dados pelos contornos de um campo de comunicação unificado
pelo compartilhamento dos mesmos referentes. “o caráter aberto da nação se
explicaria, sobretudo, porque ela teria sido ‘concebida na linguagem’, e não em
outros elementos sociológicos como raça ou religião” (ANDERSON, 1989, p.
162).
A imaginação da nação representaria fundamentalmente uma mudança
na concepção de temporalidade, basear-se-ia numa mudança fundamental nos
modos de apreender o mundo (Id, p. 191). Uma mudança histórica permitiu o
achatamento ou horizontalização do tempo.
(...) o que veio tomar o lugar da concepção medieval de
simultaneidade longitudinal do tempo é, valendo-nos
novamente de Benjamin, uma idéia de ‘tempo homogêneo e
vazio’, no qual a simultaneidade é como se fosse transversal
ao tempo, marcada não pela prefiguração e cumprimento, mas
por coincidência temporal, e medida pelo relógio e pelo
calendário (Id, p. 33)
A idéia de um organismo sociológico que se move pelo calendário
através do tempo – homogêneo e vazio – é, segundo o autor, análoga a da
nação, que em seu processo de criação estabelece novas formas de vínculo
entre as pessoas. A horizontalidade temporal e discursiva permite uma nova
forma de comunhão entre desconhecidos apesar das desigualdades,
permitindo que a nação seja concebida por meio dessas formas de
companheirismo.
No que se refere às formas de imaginação da nação, censos, mapas e
museus foram considerados elementos de formação de um modo imaginativo
onde a quantificação/serialização abstrata das pessoas, a racionalização do
espaço político e a “genealogização profana” fizeram contribuições interligadas
na elaboração, pelo estado colonial oitocentista, daqueles que eram vistos
como seus adversários (ANDERSON, 2008, p. 23).
Estas três formas de imaginação estabeleceram uma rede classificatória
aplicada a tudo que se encontrava sob o domínio real ou suposto do Estado:
55
povos, regiões, linguagem, produtos, monumentos e outros. Ao atribuir valor e
legitimidade às coisas, permitiram à imaginação colonial construir tradições que
serviram para legitimar o controle político através do controle étnico, estético e
histórico, processos essenciais na construção nacional nos estados
independentes (ANDERSON, 2008).
Os museus foram instituições fundamentais na formulação de uma
determinada representação nacional, constituindo-se em espaços de memória
que auxiliaram em um projeto de controle social e político articulado na
construção de um imaginário nacionalista representado em objetos,
significando que suas coleções derivam de escolhas. (DIAS, 2005).
No que tange à construção da idéia de nação brasileira, o discurso de
nacionalidade ou de brasilidade pode ser considerado como hegemônico –
entendido como uma tentativa de conter as diferenças e fixar as identidades
numa ordem de subordinação – buscando pensar no alcance nacional desse
discurso e nos meios de sua difusão e repetição (PECHINCHA, 2006, p. 23).
Podendo ser vistas como filhas legítimas da Europa, as elites da América,
defrontaram-se com a contingência de organizar novos países autônomos nos
moldes das nações (VAINFAS, 2000, p. 544). No Brasil, apesar de toda
moldura institucional e de uma superficial unidade lingüística e religiosa,
conservou-se um amálgama de regiões distintas, separadas por suas
tradições, estilos de vida e composição de população, consolidando-se apenas
pela força das armas e por uma Constituição outorgada (Id). Parte da elite
intelectual que era equipada para pensar a nação formara-se em Coimbra,
enquanto uma outra parte formou-se nas precárias instituições de ensino
disponíveis. Tal conjuntura levou a um cenário onde, embora majoritariamente
ligada às tradições lusas, essa elite não dispunha de uma consciência original
para dotar o país da personalidade necessária para um modelo de nação
europeu (Id). A não inserção de parte da população – caixeiros, artífices,
comerciantes, trabalhadores urbanos – numa cultura escrita asseguraria a
constituição de uma esfera pública de poder, gerando a necessidade de
manutenção da monarquia, onde o Imperador exercia o papel de mediador em
relação aos conflitos da elite e de fiador supremo da ordem em relação aos
excluídos.
56
Um grande número de levantes e rebeliões acarretados pela abdicação de
D. Pedro I impôs às Regências a necessidade de tentativa de criação de uma
identidade nacional “que não decorria da lógica das nacionalidades e sim do
temor que fosse abalada certa ordem do país, estabelecendo a manutenção da
escravidão, da exclusão do povo miúdo e da unificação do território” (VAINFAS,
2000, p. 545). A guerra com o Paraguai foi uma coletiva relevante desde a
Independência, pois despertou um entusiasmo cívico, trazendo um sentido
positivo de pátria. Ao final do Segundo Reinado o Brasil tinha adquirido uma
personalidade, porém faltava ainda a alma de uma nação (Id.).
No final do século XIX os museus de história natural cresciam e se
diversificavam na América Latina, em um contexto onde “construir ciência
significava também inventar nações” (LOPES; MURRIELLO, 2005). As
instituições museológicas colaboraram com os processos de expansão e
reconhecimento das riquezas locais.
(...) a coleta de objetos, sua identificação, e posterior
exposição nos lugares consagrados à ciência foram uma
forma de reconstrução do passado, até então desconhecido,
dando conta da variedades de espécies e de culturas que
habitaram essas terras favorecendo o processo de construção
de identidades nacionais (Id, p. 204).
As coleções científicas possuíam grande importância no início do século
XIX para os estudos de história natural, o que posicionou o Museu Nacional
num lugar de destaque. Os modelos da instituição, bem como dos seus
métodos científicos, eram pressupostos pelos museus europeus. Ressaltava-se
a importância de constituir e sistematizar coleções. Um saber nacional, uma
produção científica nacional pode ser observada no Museu Nacional, que teria
assumido a posição de possuidor de um capital científico através, também, de
seu acervo, ponto fundamental do modelo de um museu desta tipologia
(SOUZA LIMA, 1989).
Os grandes museus de história natural metropolitanos não se restringiram
a apresentar suas “naturezas nacionais” (DUARTE, 2003), possuíram no
século XIX a capacidade de elaboração discursiva acerca da universalidade
científica e, ao mesmo tempo, dos valores da particularidade nacional,
constituindo uma espécie de “legitimação universalista do particularismo” (Id.).
57
O meteorito de Bendegó é utilizado por Duarte (Id.) para exemplificação
dessas noções, entendendo que ao estar situado no hall de entrada das
exposições do Museu Nacional, este objeto, evidentemente natural,
representaria os valores científicos universais, mas sua apresentação pública
sobre bases de mármore com inscrições acerca de seu transporte
demonstraria também um investimento simbólico que servia aos fins de uma
moral pública nacional em formação (Id, p. 10).
A chegada do Bendegó ao Museu Nacional, ainda no Campo de
Sant´anna e sua colocação no hall do Paço de São Cristóvão – após a
transferência - coincidem com as administrações de Ladislau Netto (1874-
1893) e de Batista de Lacerda (1895-1915), períodos em que o museu foi
estruturado segundo os moldes dos grandes centros europeus (SCHWARCZ,
2008, p. 71).
Podemos então dentro desse período destacar a “Exposição
Antropológica Brasileira” de 1882 do Museu Nacional, um dos importantes
eventos científicos do Brasil oitocentista. A origem do evento foi ocasionada
pelo apoio do ministro da Agricultura, Pedro Souza, aos projetos de Netto para
divulgar as pesquisas do período. Este último enviou solicitações para todas as
províncias, esperando receber materiais: os moldes de Botocudo chegaram de
Goiás e do Espírito Santo; objetos etnológicos vieram do Amazonas e Mato
Grosso; peças líticas e cerâmicas foram remetidas pelo Museu Paranaense e
coleções particulares, além de muitas escavações organizadas especialmente
para essa finalidade; os livros expostos foram emprestados da Biblioteca
Nacional (LOPES, 1997, p. 176).
Segundo o Guia da Exposição, as coleções foram organizadas em oito
salas: Vaz de Caminha, Lery, Rodrigues Ferreira, Hartt, Lund, Martius, Gabriel
Soares e Anchieta. Apesar de cada uma dessas seções ter uma proposta
histórica e conceitual diferente, os variados objetos arqueológicos estavam
presentes em praticamente todas elas, em maior ou menor número. A sala
Lund foi a que mais recebeu restos humanos fossilizados, enquanto que a Hartt
continha a maior parte dos fragmentos cerâmicos e a Lery os restos de
sambaquis. A exposição durou três meses e teve um público com mais de mil
visitantes, um verdadeiro êxito no país e com repercussão internacional. A
58
figura 2, a seguir, mostra uma imagem de uma das salas da Exposição
Antropológica de 1882.
Figura 2 – Imagem da Exposição Antropológica de 1882.
Fundo José Feio – Arquivo do Museu Nacional
Apesar de todas as transformações nas formas de representação da idéia
de nação, já que a partir das primeiras décadas do século XX a instituição
passou a adotar a rubrica de museu etnológico (Id. p. 74), o museu perdeu sua
pretensão enciclopédica original. Apesar do destaque nas discussões raciais
que permearam a década de 1930, do desmembramento e perda de
autonomia, das diversas reformas expositivas, o meteorito de Bendegó
permaneceu até a segunda metade do século XX de frente para a porta
principal da instituição, compondo o núcleo central de um conjunto de objetos
que antecedem às exposições do Museu Nacional. Após ser incluído em uma
exposição sobre meteorítica, retornou sobre as mesmas bases para o mesmo
local que ocupava no hall em 2005.
Os museus de história natural, como o Museu Nacional,foram e ainda são
espaços de representação da nação em diversos planos. Processos e ações
foram utilizados visando agregar, organizar e expor coleções que
incorporassem conjunturas do nacional (LOUREIRO, 2007), cabendo seu
entendimento como local onde as categorias “natureza”, “cultura” e “nação” são
institucionalmente integradas na elaboração de seus discursos.
59
CAPÍTULO 3
O PEDAÇO DE OUTRO MUNDO QUE
CAIU NA TERRA: O METEORITO
DE BENDEGÓ
60
(...) a natureza está no homem e o homem está na
natureza, porque o homem é o produto da história
natural e a natureza é condição concreta então, da
existencialidade humana (...)
(Marilena Chauí, 2009).
O presente capítulo tem por objetivo apresentar as heterogêneas
formações discursivas acerca do meteorito de Bendegó, desde seu achado em
1784 até seu desembarque no porto do Rio de Janeiro em 1888.
Ao estudar o desenvolvimento dos museus ao longo do tempo por meio
dos objetos de suas coleções, nos aprofundamos nas relações que os cercam.
Ao olharmos para os espaços museológicos do ponto de vista dos objetos,
estamos focando na verdade no elemento humano, suas práticas e instituições.
(ALBERTI, 2005 p. 560).
Visando a compreensão do meteorito em seu sentido especificamente
científico, foi necessária uma apresentação acerca de como a Ciência entende
esse objeto, o que foi realizado no item Noções acerca de meteoritos. Buscou-
se recuperar as diferentes hipóteses científicas – no momento de sua
classificação e atualmente – acerca dos meteoritos.
No item seguinte, O Transporte: tentativas e a chegada ao Rio de
Janeiro, foram apresentados os processos de significação que levaram às
primeiras tentativas de remoção, bem como o discurso relacionado com a
decisão da SGRJ de sugerir e organizar o transporte do Bendegó para o
Museu Nacional em 1888.
3.1 Noções acerca de meteoritos
A palavra meteorito vem do grego, ‘meteoros’ e quer dizer ‘do céu’. Esses
corpos minerais quando ainda estão no espaço são chamados de meteoróides.
Ao entrarem na atmosfera terrestre, com o atrito e o calor gerado incendeiam-
se, ficando conhecidos popularmente como “estrelas cadentes”. A partir desse
momento já são cientificamente considerados meteoros. Quando as massas
resistem ao processo de queima e caem em terra ou no mar, são chamadas de
meteoritos.
A ciência entende os meteoritos na atualidade da seguinte forma: em sua
trajetória em torno do sol, a terra viaja a cento e dez mil quilômetros por hora e
freqüentemente colide com fragmentos de matérias sólidas como restos de
61
cometas e asteróides. Os meteoros ou estrelas cadentes são fragmentos que
resistiram, durante sua entrada na atmosfera terrestre, aos processos de
aquecimento e radiação produzidos no momento em que atravessaram as
camadas de ar. Quando corpos celestes possuem uma massa suficientemente
grande para vencer a pressão do ar e o atrito sem serem consumidos e
atingem a superfície, massas de ferro e/ou rocha, recebem o nome de
meteorito (CARVALHO, 1995).
Um dos desafios científicos iniciais nas reflexões sobre meteoritos
relaciona-se com a questão do ‘tempo’. Cientistas atualmente baseiam-se na
hipótese de que o meteorito em pauta vagou pelo espaço aproximadamente
por um bilhão de anos até ser ejetado do corpo original e atraído pela força
gravitacional da Terra (CARVALHO, 1995). Ainda sobre a questão temporal,
um outro elemento instigante encontra-se na ausência de uma data precisa da
sua queda; todas as informações são condicionadas ao achado do corpo
celeste em 1784.
Em 1888, em função da chegada do Bendegó ao Rio de Janeiro, a pedido
de José Carlos Carvalho, o professor Luiz Cruls
12
do “Imperial Observatório do
Rio de Janeiro” e também membro da SGRJ, redige um texto datado de 8 de
agosto, para complementar o relatório sobre o transporte entregue em 17 de
julho do mesmo ano. Sob o título de “Notícia sobre meteoritos”, seu trabalho foi
escrito a fim de “satisfazer a legitima curiosidade que a imponente massa
provocou, indicando a origem provável dos meteoritos, os phenomenos mais
interessantes que precedem e acompanham a sua queda
13
” (apud
CARVALHO, 1928, p. 105). Este estudo nos dá uma noção da forma como a
ciência entendia esses objetos no período.
Ao longo de seu texto,.Cruls apresentou três hipóteses sobre as possíveis
origens dos meteoritos. A primeira versou a propósito de uma possível origem
12
Luiz Cruls (1848-1908) foi diretor do Observatório Imperial situado no Rio de Janeiro e
contribuiu não só para seu reconhecimento como instituição científica na América Latina, como
na participação de projetos de âmbito internacional como a observação da passagem de Vênus
pelo disco do Sol. Chefiou missões técnico-científicas de exploração e demarcação de
território. Museu de Astronomia e Ciências Afins. Luiz Cruls, um cientista a serviço do
Brasil. Rio de Janeiro MAST, 2004 (catálogo de exposição)
13
O texto “Notícia sobre meteoritos” foi escrito por Luiz Cruls. Posteriormente a publicação foi
apresentada a SGRJ em 1888. Este texto de Cruls encontra-se reproduzido na íntegra no livro
de José Carlos Carvalho publicado no ano de 1928 por ocasião dos quarenta anos do
transporte.
62
terrestre, frutos de erupções vulcânicas que fossem capazes de lançar
fragmentos para fora da Terra. Uma segunda hipótese girou em torno da
origem extra-terrestre desses aerólitos, que poderiam ser frutos de erupções
vulcânicas em outros planetas ou provenientes de uma fragmentação ou
ruptura de algum astro do nosso sistema solar. A terceira hipótese – destacada
como a mais provável pelo autor – foi denominada de “sideral”. Esta
considerava que essas massas meteóricas seriam provenientes da ruptura ou
explosão de algum outro planeta entre Marte e Júpiter.
O meteorito denominado Bendegó é um tipo de aerólito classificado como
“siderito”. Composto em sua maioria de ferro e níquel, pesa 5,36 toneladas e
mede (0,66 x 1,50 x 2,15) metros, respectivamente em altura, largura e
comprimento. Possui coloração escurecida devido ao processo de aquecimento
anterior à queda. A confirmação de que uma rocha pode ser um exemplar de
estudo da meteorítica – área da Geologia que estuda os meteoritos – vem de
uma análise laboratorial.
Foram encontrados até o momento cerca de cinqüenta e sete aerólitos no
Brasil. Cientistas consideram que o número de aerólitos encontrados no Brasil
até hoje é pequeno em vista do extenso território nacional, em especial se
comparado aos trinta mil já encontrados em todo o mundo (NUNES, 2009). O
Bendegó não só integra esta listagem, como é também um dos quinze maiores
meteoritos do mundo. Em geral, as quedas de meteoritos causam uma
depressão no solo – como no caso do Bendegó - ou crateras decorrentes do
impacto. Em 2003, a partir de uma iniciativa do Observatório Nacional/MCT e
do Observatório de Antares, foi realizada uma expedição ao local da queda. O
resultado foi a determinação precisa do ponto de impacto e a confecção do
mapa local com uso de GPS
14
. Foram feitas leituras do campo magnético,
buscando-se a confecção de um mapa com supostas anomalias deste campo,
já que o ferro e o níquel que compõem o Bendegó diferenciam-se na região da
caatinga e facilitam a busca de novos fragmentos.
15
3.2 O transporte: tentativas e a chegada ao Rio de Janeiro
14
Global Position System, sistema de posicionamento por meio do uso de satélites.
15
Detalhes da expedição realizada em parceria pelo Observatório Nacional/MCT e
Observatório de Antares foram publicados na edição de 26 de junho de 2002 do “Jornal da
Ciência” da “Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência”.
63
Para apresentar os contextos sócio-históricos que cercaram as diversas
tentativas e efetivação do transporte do ‘Bendegó’ até o Museu Nacional,
baseamo-nos principalmente no Relatório Oficial
16
de José Carlos de Carvalho
– responsável pela coordenação da expedição que conduziu o meteorito para o
Rio de Janeiro entre 1887 e 1888 – bem como no estudo de Orville A. Derby de
1895, publicado no volume nove (09) dos “Archivos do Museu Nacional” do
referido ano.
Existem quatro diferentes referências acerca do nome do responsável
pelo achado do meteorito em 1784. Quando encaminhou uma amostra do
aerólito para Londres, F. Mornay informou como responsável pelo achado o Sr.
Bernardino Motta Botelho. Na obra “Reise in Brasilien” de 1823, contudo, os
naturalistas Johann Baptist Ritter von Spix e Karl Friedrich von Martius
17
mencionam a visita ao local em companhia de Domingos Motta Botelho. José
Carlos Carvalho cita em seu relatório que consultou documentação de 1815,
assinada por membros da sociedade local que registrava o nome de Joaquim
Motta Botelho como tendo sido o descobridor do ‘Bendegó’. Em trechos
diferentes de seu estudo publicado em 1895, Orville Derby refere-se, em dois
momentos diferentes, a Bernardino e Domingos Motta Botelho como os
descobridores do meteorito. Em nota de pé de página, explica que as
divergências relacionadas ao nome do responsável por encontrar o Bendegó
podem ter ocorrido em função do uso eventual do nome paterno.
Após o achado nas proximidades do riacho Bendegó, localidade
pertencente “a freguezia e termo de Monte Santo” (CARVALHO, 1928, p. 39) o
Governador Geral da Bahia, D. Rodrigo José de Menezes e Castro, foi
comunicado da existência de uma pedra “extraordinária, que se supunha conter
ouro e prata” (Id, p 19).
16
O Relatório Oficial foi apresentado em francês e português no ano de 1888 ao Governo
Imperial e a SGRJ pelo chefe da comissão José Carlos de Carvalho que após o transporte foi
promovido a Vice-Almirante da Marinha. Os principais trechos desse relatório foram editados
pelo próprio autor em 1928 e publicados em razão dos quarenta anos da chegada do Bendegó
ao Rio de Janeiro.
17
Johann Baptist von Spix era zoólogo e juntamente com o botânico Karl Friedrich von Martius
integrou o primeiro grupo de naturalistas de língua alemã autorizados a viajar e coletar
espécimes no Brasil. Sua obra “Reise in Brasilien” foi publicada em três partes: o primeiro
volume foi lançado em 1823, com quatrocentas e doze páginas. O segundo volume data de
1828, estendendo-se até a página oitocentos e oitenta e quatro. Completando a obra, o terceiro
volume de 1831 totalizou mil trezentos e oitenta e oito páginas. Sua primeira tradução para o
português foi impressa pelo Instituto Histórico Geográfico (IHGB) somente em 1938.
64
Em 1785
18
, o Governador determinou que Bernardo Carvalho da Cunha,
Capitão-mor de localidade de Itapicurú, pertencente à Província da Bahia,
fizesse o possível para conduzir a massa – que só foi classificada como
meteorito em 1811 - ao porto de mar mais próximo. Escavou-se para que
fossem introduzidas alavancas e com o auxílio de trinta homens, conseguiu-se
um movimento que permitisse sua colocação de lado.
Uma carreta com doze parelhas de bois não foi suficiente para o
transporte e o meteorito tombou, após cento e oitenta metros percorridos, no
leiro do riacho Bendegó. O trabalho foi abandonado em função de o percurso
estar bloqueado e o carro só conseguir mover-se em linha reta. Além disso, a
água do riacho era salobra e inviabilizava a permanência da equipe no local. O
insucesso da remoção foi participado pelo Governador Geral ao Ministro de
Estado português Martinho de Mello e Castro juntamente com uma amostra da
referida “pedra” para ser examinada em Lisboa.
Em 1810, o químico inglês A. F. Mornay foi comissionado pelo Governo
Geral da Bahia para estudar fontes minerais de água no interior da província.
Ao ouvir falar da existência de uma pedra de grandes dimensões que poderia
ser de ouro e prata, foi ao local suspeitando que pudesse se tratar de um
meteorito. Em 17 de janeiro de 1811 chegou ao local acompanhado do
descobridor Joaquim da Motta Botelho e encontrou o aerólito ainda em cima
dos restos do primeiro carretão. Elaborou um esboço com medidas e
descreveu a superfície como “se tivesse sido batida com grandes martellos de
cabeça arredondada e, composta por cavidades cujo diâmetro iria desde uma
bala de canhão de calibre 12 até o de uma bala de carabina” (DERBY, 1895, p.
91).
Tendo reconhecido ser um meteorito de ferro metálico, retirou com grande
dificuldade
19
um fragmento que foi enviado para a Sociedade Real de Londres
e analisado pelo Dr. William Hyde Wollaston. A notícia referente a esse achado
foi comunicada pela mesma entidade em 16 de maio de 1816 e publicada no
18
Orville Derby destaca em seu estudo o fato de nessa mesma época outros importantes
meteoritos terem sido identificados, em especial o encontrado em Campo del Cielo, no México
em 1783.
19
Os referidos “Relatório Oficial” “e “Estudo sobre o meteorito” de José Carlos Carvalho e
Derby respectivamente destacam a grande dificuldade que o químico enfrentou para retirar um
fragmento de alguns quilogramas.
65
mesmo ano no “Philosophical Transactions”. A pesquisa apresentava um
meteorito de “28 pés cúbicos e peso em 14.000 libras (...) com 95,1% de ferro”
(CARVALHO, 1928, p. 21). A partir deste momento, a massa até então
denominada tão somente como “pedra”, encontrada no interior da Bahia, foi
classificada como meteorito.
Ainda em 1811 o brigadeiro Felisberto Caldeira Brant fez uma nova
tentativa, mal sucedida, visando levar o ‘Bendegó’ para a capital da província.
Posteriormente em 1820, os naturalistas Spix e Von Martius também foram
acompanhados do descobridor e encontraram o meteorito “jazendo sobre
madeiras” (Id.). Em sua obra “Viagem ao Brasil 1817-1820” (p. 234), relatam
acerca da localidade:
Conta-se aqui, particularmente a história de um sertanejo que,
há mais de cem anos, havia prometido ao então Governador
Geral da Bahia entregar-lhe semanalmente duas arrobas de
prata, se lhe obtivesse o título de Marquês das Minas e (...)
que o sertanejo depois havia morrido na prisão sem revelar o
segredo. Estas supostas minas de prata, segundo alguns,
estão situadas no próprio Monte Santo, segundo outros na
Serra Grande ou Serra da Pedra Vermelha; talvez o
descobrimento do bloco de ferro do Bendegó tenha renovado
e dado vulto a tais boatos.
Os naturalistas descreveram dificuldades para coletar uma amostra, pois
todas as extremidades ou possíveis saliências já haviam sido retiradas pela
população local. Com um grupo de trabalho, empilharam madeira sobre o
‘Bendegó’ e mantiveram fogo por vinte e quatro horas, no dia seguinte então
conseguiram destacar vários fragmentos, o maior deles foi depositado no
Museu de Munique na Alemanha, onde também foi analisado e chegou-se ao
resultado de sua composição como sendo noventa e um por cento de ferro.
Outras instituições possuem fragmentos do ‘Bendegó’, destacando-se os
museus de Londres, Vienna, Gottingue, São Petersburgo, Berlim, Erlanger e
Copenhague. Carvalho, em sua publicação de 1928, ressalta ainda que
algumas amostras de poucas gramas pertenciam a colecionadores
particulares.
Fruto de um interesse crescente pelas Ciências Naturais e da
consolidação desse campo de conhecimentos a partir da segunda metade do
66
século XIX, o Museu Nacional convivia e colaborava com outras coleções,
visando impulsionar a criação de espaços – como Gabinete de História Natural
da Bahia e do Maranhão. A partir da década de 1870, com o apoio
governamental, Ladislau Netto
20
preocupou-se com a organização de uma rede
de museus de Províncias, enviando amostras de diversos exemplares de
fauna, flora e minerais para os “Gabinetes do Instituto Archeológico de
Alagoas”, do “Instituto Histórico de Goiânia” e do “Instituto Histórico de
Pernambuco”.
Reformas no Museu Nacional foram consolidadas no decorrer do século
XIX, em especial em suas últimas décadas, visando integrá-lo ao “movimento
dos museus”, expressão cunhada por Laurence Coleman – diretor da
Americam Association of Museums no final do século XIX – para dar conta da
expansão de museus de diversos tipos por todo o continente. Tal “movimento”
caracterizou-se pelo estabelecimento de uma ampla rede de intercâmbios, que
pôs em contato de diferentes modos e em diferentes circunstâncias os museus
que foram se criando por todos os continentes (LOPES, 1993, p. 244).
Um contexto de expansão das diferentes áreas disciplinares e instituições
científicas, bem como a especialização e profissionalização dos técnicos e
cientistas marcaram o século XIX. Considerados por Derby como fruto de um
crescente despertar do estado das ciências no Brasil entre 1870 e 1883, o
Museu Nacional, o Observatório Astronômico e a Escola de Minas de Ouro
Preto eram os principais centros de pesquisa científica no país (LOPES, 1993,
p. 169).
O período em que o ‘Bendegó’ é trazido para o Rio e Janeiro, foi
considerado por João Batista de Lacerda, posteriormente diretor da instituição,
como:
(...) o início do período mais fecundo, de maior atividade e de
mais intenso brilho na história do Museu Nacional. Ele cresceu
muito no valor do cabedal que possuía e na reputação
científica que já havia adquirido, até nivelar-se com as
melhores instituições congêneres existentes em outros países
da Europa e da América Latina (1905, p. 37).
20
Ladislau Netto estudou Histologia e Anatomia dos Vegetais e seus textos foram publicados
na Academia de Ciências de Paris. Em 1867, passou a chefiar a Seção de Botânica do Museu
Nacional. Foi nomeado diretor da instituição em 1874 e permaneceu no cargo até 1893.
67
Desde sua fundação o Museu Nacional tinha como principais objetivos
“propagar os conhecimentos e estudo das Ciências Naturais no Reino do Brasil
que encerra em si milhares de objetos dignos de observação e exame (...)
21
”. O
interesse posterior na incorporação do Bendegó às coleções desse museu
encontra respaldo no destaque que a Mineralogia sempre desfrutou na
instituição. Como exemplo podemos destacar o conjunto de minerais conhecido
como “Coleção Werner” e que se tornou a primeira coleção do museu.
Composta de três mil trezentos e trinta e seis exemplares foi comprada em
1805 por Antônio de Araújo de Azevedo - Conde da Barca - para o Museu de
História Natural de Lisboa e classificada por Abraham Gottlob Werner. Os
exemplares foram trazidos para o Brasil e doados em 1818 para o Museu Real.
A figura 3, a seguir a apresenta alguns dos exemplares da coleção
mineralógica conhecida como coleção “ Werner”.
Figura 3 - Minerais da “Coleção Werner”.
Seção de Museologia do Museu Nacional
Na época em que o meteorito passa a integrar as coleções do Museu
Nacional, a instituição era definida, pelo Regulamento
22
de 1876, como
destinada “ao estudo da História Natural, particularmente do Brasil e ao ensino
21
Trecho do Decreto de fundação do Museu Real assinado por D. João VI em 1818.
22
O Regulamento de 1875 foi autorizado pelo artigo 20 da lei n° 2640 de 22 de setembro de
1875 e viabilizado no decreto n° 6.116 de 9 de fevereiro de 1876. O que o substituiu em 1890
foi viabilizado no decreto n° 379-A de 8 de maio de 1890 (Colleções de Leis do Brasil 1876 e
1890 APUD LOPES, 1993).
68
das ciências físicas e naturais”. Essa mudança difere do Regulamento anterior
que buscava organizar as seções, estruturar a instituição, por refletir um reforço
das instituições ligadas ao estado no que tange à questão da construção de
uma identidade relacionada com a idéia de nação.
Um novo Regulamento foi criado em 1890 estabelecendo que o Museu
Nacional tinha por fim “estudar a História Natural do globo e em particular do
Brasil, cujas produções naturais deverá coligir, classificar (...) e conservando-as
acompanhadas de indicações quanto possível explicativas ao alcance dos
entendidos e do público”.
As mudanças nos Regimentos da instituição podem ser relacionadas à
transição para a República no país e aos discursos que se estruturam a partir
dessa mudança. A preocupação com a inserção dos estudos acerca da
“história natural do globo” como um dos fins institucionais ressalta uma
formação discursiva que traduz uma preocupação em oficializar
regimentalmente a estruturação de suas atividades sobre os princípios
universais da ciência, visando sua inserção no “concerto das nações”.
Sob esses regulamentos, o museu foi reorganizado em quatro seções: a
primeira compreendia Zoologia, Anatomia e Embriologia Comparada; a
segunda a Botânica; a terceira Mineralogia, Geologia e Paleontologia e a
quarta era de Antropologia, Etnologia e Arqueologia. Essas modificações foram
um ajuste às novas especialidades que se constituíam e ganhavam espaço no
museu (LOPES, 1993, p. 175).
Após a chefia do geólogo norte-americano Charles Fredric Hartt, em 1879,
assume a direção da terceira seção, outro geólogo norte-americano, Orville
Adalbert Derby. Em 1880, no início de sua gestão chefiou, a Comissão
Hidrográfica do rio São Francisco.
Com a preocupação de que o meteorito pudesse ser encoberto por
sedimentos e sua referência fosse perdida, em 1883, Derby envia
correspondência a Theodoro Sampaio – engenheiro chefe da Comissão de
Melhoramentos do Rio São Francisco – pedindo informações sobre sua
localização e estado geral. A resposta relatava que um enviado até o local
informou ter visto o objeto e que este era bem conhecido nos sertões de Monte
69
Santo
23
. A localidade onde o meteorito se encontrava era conhecida como
Bendegó. O rio onde o aerólito permaneceu possuía o mesmo nome e
atravessava uma fazenda destinada à criação de gado. Na mesma
correspondência fez-se referência às tentativas anteriores de retirada do
“aerólito” do leito do riacho, apontando seu tamanho, peso, bem como a falta
de meios adequados como causadoras do insucesso. Em outro trecho,
Sampaio confirma que a Estrada de Ferro da Bahia estava seguindo em
direção ao Distrito de Monte Santo e chegaria, em seu ponto mais próximo, a
cerca de cem quilômetros do local onde se encontrava o meteorito. A figura 4,
a seguir mostra o meteorito no riacho Bendegó após sua primeira tentativa de
transporte.
Figura 4 - Meteorito no riacho Bendegó após primeiras tentativas de transporte.
Arquivo do Museu Nacional
Em 1886, o professor Derby encaminha essas informações para o diretor
Ladislau Netto. Luiz da Rocha Dias, engenheiro diretor encarregado do
prolongamento da estrada de ferro Bahia ao São Francisco, atendendo a um
pedido de Netto, determina que Vicente José de Carvalho Filho fosse enviado
23
O nome original Pico-Arassú foi alterado para Monte Santo em 1786, após o missionário
apostólico capuchinho frei Apollonio de Todi realizar em uma capela inacabada no local uma
missa e colocar uma via-sacra que chamou de Santos Passos. O pico ou morro fica a 781
metros acima do nível do mar. (CARVALHO, 1928). Apesar de não termos nos aprofundado
nas pesquisas sobre a mudança do nome do monte, poderíamos nos questionar se tal
modificação também teria relação com o meteorito, já que tal alteração se deu após o achado
do aerólito.
70
para realizar um reconhecimento da área onde se encontrava o meteorito e
posteriormente elaborarasse uma forma possível de removê-lo para o Museu
Nacional.
Após retornar do local, o engenheiro destaca em seu relatório a
necessidade de se planejar o transporte de um objeto de aproximadamente
nove toneladas - peso estimado sem precisão – por mais de cem quilômetros
sem estradas e remete uma amostra da peça. Ao relatar as conjunturas desse
período em seu estudo posterior, Derby relata que as despesas para executar
uma tarefa nessas condições, excederiam os recursos do museu e que “as
probabilidades de bom êxito em um appello para auxílio governamental ou
particular pareciam tão duvidosas, que se deixou de pensar no assumpto nos
circulos officiais” (1895, p. 96).
Em ofício do Palácio da Presidência da Província do Governo da Bahia,
datado de doze de dezembro de 1886, o diretor do Museu Nacional é
comunicado que o Delegado do Termo de Monte Santo declarou em ofício de
vinte e cinco de novembro
(...) ter tomado as providências necessárias para conservação
do metoerolitho existente no logar denominado “Bendegó”
daquele Termo, até que pelo Governo seja resolvido a
aquisição do mesmo meteorolitho para o Museu Nacional
24
.
A intenção de transportar o ‘Bendegó’ para o Museu Nacional está presente em
toda a documentação consultada neste estudo
25
, não tendo sido aventada em
nenhuma das fontes a possibilidade de entregar a responsabilidade de
conservação, pesquisa e exposição desse item para outra instituição,
denotando o potencial enunciativo do objeto como elemento a ser inserido nas
coleções do museu que possuía já em seu nome a função de representação da
nação.
Em 1887, foram retomadas discussões que levaram ao efetivo transporte
do aerólito para o Rio de Janeiro. Na sessão da SGRJ de 27 de maio desse
24
Ofício 791 de 17/12/1886 emitido pelo Palácio da Presidência da Província da Bahia para o
Diretor Geral do Museu Nacional. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL, BR MN MN. DR.CO, AO.
3922. VIDE ANEXO
25
A possibilidade de encaminhar o meteorito para outra instituição poderia ter sido manifestada
nos Boletins da SGRJ ou Ofícios ministeriais relacionados ao transporte. Em toda a
documentação consultada para a estruturação desse estudo o propósito de trazer o meteorito
para o Museu Nacional é mencionado.
71
mesmo ano, José Carlos Carvalho apresentou uma “Memória”
26
sobre o
meteorito acompanhada das novas informações fornecidas por seu primo, o
engenheiro encarregado de estudar os obstáculos referentes ao transporte
Vicente José de Carvalho Filho. Após sua fala, apresentou também uma
amostra que segundo seu relatório foi doada a S. M. o Imperador D. Pedro II.
Uma apresentação das singularidades da SGRJ se faz instrumental e visa
uma melhor compreensão do discurso gerado por esta entidade em sua
decisão de liderar o empreendimento de transportar o meteorito para a capital
do Império.
Durante o século XIX na Europa, ganharam corpo iniciativas de
reconhecimento de territórios localizados fora do continente europeu na forma
de expedições militares ou viagens de estudo organizadas por associações
privadas de cunho científico ou comercial. As Sociedades Geográficas se
destacaram nesse cenário principalmente entre 1870-1890. A entidade deste
gênero mais antiga é a de Paris. Fundada em 1821, serviu de modelo para a
fundação das demais que se seguiram, como a de Berlim em 1828, Londres
em 1830, Bombaim em 1831 e Frankfurt em 1836.
No continente americano, algumas associações congêneres fundadas
neste primeiro momento foram: a Sociedade Mexicana de Geografia e
Estatística em 1833, o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro – IHGB -
fundado em 1838 e a Sociedade Geográfica Americana estabelecida em Nova
York em 1852. Tais entidades possuíam como parte de suas atribuições,
divulgar o conhecimento científico por meio de intercâmbio de publicações,
congressos, troca de correspondências com entidades similares, em especial
as européias. Suas atuações como centros de intercâmbio científico visavam
suprir os vazios informacionais acerca do aspecto geográfico do mundo
conhecido e fornecer elementos para a sua reconfiguração no plano
representacional (cf. DRIVER, 2001).
A SGRJ foi fundada em 1883 também inspirada nos modelos europeus.
Até aquele momento duas instituições dominavam o saber geográfico sobre o
Brasil, o IHGB e a filial da Sociedade de Geografia de Lisboa, que funcionou
26
Publicada no segundo Boletim do Tomo três de 1887 da Revista da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro e na Gazetilha do Jornal do Commercio em 5 de julho do mesmo ano
(CARVALHO, 1928, p. 24).
72
entre os anos de 1878 e 1888. A justificativa para a criação da associação
geográfica do Rio de Janeiro pautava-se no entendimento de que o IHGB
possuía uma complexidade de fins e uma maior concentração de suas
atividades nos estudos históricos, enquanto que a Sociedade de Geografia de
Lisboa até certo ponto atendia às demandas de especificidade de estudos na
geografia, mas era uma filial da matriz portuguesa, o que se tornou um
empecilho na possibilidade de contribuição para a consolidação da nação.
(CARDOSO, 2007 p. 3).
O IHGB ligava-se às demandas do aparelho estatal, comprometido com o
projeto de uma “memória nacional” e a geografia tinha o papel de auxiliá-la na
tarefa de escrever uma história, fundar tradições, produzir datas a comemorar e
símbolos a enaltecer, buscando a construção de uma imagem do Brasil e
tornando-a homogênea no interior dos diferentes segmentos sociais. A
Sociedade de Geografia de Lisboa estava inserida no projeto expansionista
português, o que gerou dissonâncias entre seus membros desde 1881, que se
dividiram entre a necessidade de criação de uma associação nacional ou
manter-se na mesma estrutura, o que levou à fundação da SGRJ em 1883 (cf.
CARDOSO, 2007; GUIMARÃES, 1988; SCHWARCZ, 1989).
A origem das sociedades geográficas em nosso país vincula-se
estreitamente ao processo de formação do Estado nacional, requerendo um
rompimento simbólico com o passado e a mobilização de espaços para
delinear a gênese da nacionalidade brasileira, constituindo o conhecimento
geográfico do país um dos suportes para esta história nacional, exemplificando
o valor simbólico conferido ao território e ao quadro natural nas representações
sobre a nação (cf GUIMARÃES, 1988; DOMINGUES, 1996).
O texto do convite
27
enviado para a reunião de fundação da referida
Sociedade estabelecia que seu objetivo era “fundar nesta cidade uma
Sociedade de Geografia à semelhança das que existem em quase todas as
cidades importantes”. Seus quadros sociais foram freqüentados por
advogados, médicos, engenheiros civis e militares e cientistas que
27
Trecho do convite enviado pelo senador Manuel Francisco Correia em 1883. Disponível na
página eletrônica da atualmente denominada Sociedade Brasileira de Geografia.
http://www.socbrasileiradegeografia.com.br/historia
73
compartilhavam a idéia de utilitarismo da ciência e da crença no progresso da
nação (CARDOSO, 2005, p. 82).
Apesar de seu discurso ter visado uma diferenciação de espaços como o
IHGB, podemos perceber que seus empreendimentos de certa forma estavam
também voltados para a prestação de serviços ao Estado, já que as
informações pesquisadas auxiliavam tanto no reconhecimento do território
quanto da natureza de cada região. Destaca-se, ainda, a presença de D. Pedro
II durante os anos de 1883 a 1889 em suas sessões
28
. No editorial de seu
primeiro boletim
29
publicado em 1885 são ressaltados os fatores que justificam
a sua criação:
“(...) a fim de preencher a lacuna, há muito sentida de uma
Sociedade nacional, que tome a seu cargo o estudo, a
discussão, investigações e explorações científicas da
geografia nos seus diferentes ramos (...) e aplicações; e com
especialidade o estudo e conhecimento dos fatos e
documentos concernentes à geografia do Brasil”
30
Nesta mesma publicação foram relatadas as singularidades da geografia
como objeto de estudo naquele momento:
“(...) o domínio da geografia, por muitos anos, não passou de
alguns adeptos: somente quando a corrente das pesquisas
científicas arrastou o gênero humano aos estudos mais
transcendentes, quando a realização dos melhoramentos
materiais da viação, do telégrafo e das máquinas, destruiu os
embaraços que dificultavam em grande parte o progresso,
então surgiu com verdadeira eficácia o justo entusiasmo pelo
conhecimento profundo da Terra”
31
.
A SGRJ atuou como um fórum de legitimação do conhecimento
geográfico, acolhendo diferentes modelos de estudo, tradições disciplinares e
concepções acerca do trabalho científico (PEREIRA, 2004, p. 16), possuindo
estatutariamente os objetivos de estudar, discutir, investigar explorar
cientificamente a partir dos diferentes ramos da geografia, os princípios,
28
Em caso de impedimento o Imperador era representado pela Princesa Isabel e pelo Conde d’
Eu, que estavam presentes na sessão de apresentação do relatório do transporte do meteorito.
29
Boletim da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, tomo I, n° 1, 1885.
30
Id. p. 4
31
Id. p. 6
74
relações, descobertas, progressos e aplicações concernentes à geografia, em
especial do Brasil.
A partir da eleição de sua primeira direção, formaram-se comissões
internas de geografia física, política, matemática e acerca do homem
americano. Dentre os sócios que constituíram essas comissões encontravam-
se Orville Derby e Ladislau de Netto Souza do Museu Nacional, bem como Luiz
Cruls e Henrique Morize do Observatório Nacional.
O responsável pelo transporte do Bendegó, José Carlos Carvalho, era
sócio da SGRJ e oficial reformado da Marinha brasileira
32
. Havia adquirido
experiência com transportes de grandes pesos no Serviço Naval da “Guerra do
Paraguay” e utilizou seus conhecimentos para planejar uma forma de remover
o aerólito para o Museu Nacional. Durante sessões da SGRJ, este se ofereceu
para chefiar a operação de transporte, bem como para encontrar financiamento
para o empreendimento (DERBY, 1895, p. 97).
Na sessão da SGRJ de 3 de junho de 1887, foi resolvido por votação
unânime e por indicação de seu presidente o Marquez de Paranaguá, que
seriam tomadas providências para viabilizar o transporte do meteorito do sertão
da Bahia até a Corte com a finalidade de oferecê-lo ao Museu Nacional. Em 13
de junho, em ofício da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura,
Commércio e Obras Públicas, o diretor do Museu Nacional é solicitado a enviar
com brevidade o orçamento da despesa do transporte do “meteorolitho de
Bendegó até esta Corte”
33
. Na sessão de 17 de junho subseqüente, foi
anunciado que o Barão, posteriormente Visconde de Guahy, tinha oferecido
toda a quantia necessária para a tarefa.
Em sua publicação, Derby não menciona a participação direta do
Imperador D. Pedro II na remoção do meteorito. Em 1928, na introdução de
sua publicação referente à celebração dos quarenta anos do transporte para o
Museu Nacional, Carvalho menciona que Sua Majestade encontrava-se em
Paris em 1886, quando foi procurado por membros da Academia de Ciência da
França, solicitando que removesse para o Museu Nacional a “colossal massa
32
Após a Guerra do Paraguai José Carlos Carvalho abandonou a carreira militar. Em
reconhecimento pelo transporte do meteorito de Bendegó para o Rio de Janeiro, sua patente
foi restituída e posteriormente foi alçado a Vice-Almirante. (CARVALHO,1995)
33
Oficio 57 de 13/06/1887 da Secretaria d’Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio e
Obras Públicas para o Diretor Geral do Museu Nacional. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL
BR MN MN. DR.CO, AO. 3964. VIDE ANEXO
75
de ferro extra-terrestre” (1928, p. 6). Sócio estrangeiro daquela Academia, D.
Pedro II teria prometido atender tal pedido logo que estivesse de volta ao
Brasil.
No trecho seguinte, José Carlos Carvalho relata seu encontro com o
Imperador em 1887 explicitando que
Sua Majestade mandou-me chamar a S. Christovão e,
referindo-me a promessa que havia feito aos seus illustres
companheiros (...) deu-me ordem para que me preparasse
para ir buscar a Bahia o meteorito (Id. p. 6).
Em 31 de junho do mesmo ano, em correspondência para o Visconde de
Paranaguá, o Gabinete do Ministério da Agricultura acusa o recebimento de
ofício e elogia a resolução da SGRJ de transportar, mediante auxílio do Barão
de Guahy, o Bendegó, bem como sua posterior doação ao Museu Nacional.
O Diretor do Museu recebe então, em 12 de junho seguinte, da Secretaria
d’Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas o seguinte
comunicado:
(...) foram expedidas as ordens necessárias a fim de que o
Comendador José Carlos Carvalho e os Engenheiros Vicente
José de Carvalho Filho e Humberto Saraiva Antunes sigam em
Comissão para a província da Bahia no vapor do 20 corrente,
no intento de fazer transportar para esta corte o Meteorolitho
de Bendegó, destinado ao Museu Nacional
34
.
Foram dadas pelo Ministro da Agricultura instruções para expedição,
dentre elas a de que fossem organizadas plantas da localidade e estudos dos
caracteres geológicos do terreno, ressaltando uma formação discursiva acerca
da nação presente na preocupação com o conhecimento do território e das
características geográficas do interior do país. O local onde se achava o
meteorito e os demais pontos que merecessem destaque deveriam ser
assinalados com marcos que pudessem ser reconhecidos em qualquer
época
35
.
34
Ofício 81 de 12/08/1887 da Secretaria d’Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas para o Diretor geral do Museu Nacional. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL BR
MN MN. DR.CO, AO. 3980 VIDE ANEXO
35
Instruções enviadas pelo Ministro da Agricultura Rodrigo Augusto da Silva a José Carlos
Carvalho em 18/8/1887 (APUD CARVALHO, 1928, p. 31).
76
A Comissão embarcou no paquete “Espírito-Santo” em vinte de agosto de
1887, chegando à Bahia em vinte e três do mesmo mês. No dia cinco de
setembro, passaram pela Villa de Santo Antônio e, no dia seguinte
encontraram o “Bendegó”. O início dos trabalhos de remoção foi marcado com
uma solenidade cívica coordenada por José Carlos Carvalho propositalmente
no dia sete de setembro, em função do aniversário da Independência do Brasil
(VIDAL, 1945, p. 6), relacionando o objeto à idéia de nação e agregando-lhe
um significado, anterior à sua incorporação às coleções do Museu Nacional. A
figura 5, a seguir, apresenta um dos registros da solenidade de início dos
trabalhos de remoção do meteorito.
Figura 5 - Imagem registrando o início dos trabalhos de remoção do
meteorito.
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928
p. 61
Um termo foi lavrado e colocado em uma caixa de ferro juntamente com
um exemplar do “Boletim da Sociedade de Geografia” – onde estava publicada
uma “Memória” sobre o meteorito - e uma fotografia. A caixa foi assentada nas
fundações do obelisco erguido para marcar o local da queda, recebendo o
nome de D. Pedro II.
Erguido em formato de pirâmide, cada face da construção recebeu
diferentes inscrições. Na face voltada para o norte foi gravado “Pedro II,
Bendegó -1887”. Na face leste lia-se “D. Izabel, Regente – Sociedade de
77
Geografia de Rio de Janeiro, Presidente Visconde de Paranaguá”. O lado
voltado para o oeste tinha inscrito “Rodrigo Silva, Ministro da Agricultura” e na
face virada para a direção sul foram destacados os integrantes da Comissão:
“José Carlos de Carvalho, Vicente José de Carvalho e Humberto Saraiva
Antunes”. De certa forma, tal obelisco pode denotar uma intenção de registro,
com a memória deste empreendimento, bem como, simbolicamente representa
ou materializa a ausência do meteorito daquele local. A figura 6, a seguir,
apresenta o obelisco D. Pedro II, erguido como marco do local de onde o
meteorito foi retirado.
Figura 6 - Imagem do obelisco que marcava o início dos trabalhos de remoção do meteorito.
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928 p. 36
Para facilitar o planejamento do transporte e atender às demandas
solicitadas pela SGRJ, José Carlos Carvalho determinou que fosse realizado,
por parte da equipe, um reconhecimento geológico do local. O solo da região
foi considerado fraco e arenoso e a irrigação era feita somente por chuvas.
Alguns tipos de vegetação foram listados e ossos fósseis enterrados, sobre a
superfície do terreno foram encontrados a vinte quilômetros do local onde
estava baseada a equipe para a remoção do meteorito. Esses
reconhecimentos não foram aprofundados por falta de tempo e de especialistas
nas referidas áreas na Comissão.
78
A falta de chuva que dava ao local um aspecto desolador e a grande
miséria na região também foi destacada. Porém, para o chefe da Comissão
não se podia apenas marcar o sertão pelo aspecto da seca, já que em outras
épocas, em especial depois das chuvas, formavam um cenário completamente
diferente.
Para atender às demandas do caminho escolhido, foi projetado um carro,
ou carretão como foi chamado, de modo a trabalhar com ou sem trilhos. Cada
eixo tinha um par de rodas de madeiras largas para correr sobre o terreno e
também um par interno de rodas de estradas de ferro, de diâmetro um tanto
menor, de modo que, quando colocadas sobre trilhos, as rodas externas
ficavam suspensas.
O carro foi puxado por dez a doze pares de bois. Em seu projeto foi
levado em consideração que as peças deveriam ser simples de forma a facilitar
o reparo. Sua construção se deu nas oficinas do “Aramarys”, no prolongamento
da estrada de ferro da Bahia ao São Francisco e dirigidas pelo engenheiro
Caetano Furquim de Almeida, seguindo as instruções do projeto. De acordo
com um teste de resistência de carga feito ainda na oficina, o carro teria
agüentado até nove mil quilos. A figura 7, a seguir, apresenta, um dos registros
do trajeto enfrentado pela comissão para transportar o meteorito.
Figura 7- Imagem do carretão durante o transporte .
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928 p. 75
79
Derby ressaltou que em muitos momentos somente a experiência de
Carvalho com aparelhos navais permitiu que se transpusessem determinadas
encostas e passagens por cursos de água. A “marcha” – como ficou conhecida
no relatório final do transporte - iniciou-se em 25 de novembro de 1887.
Alavancas e ferramentas, denominadas popularmente por “macacos”, foram
usadas para desalojar o meteorito do leito do riacho e colocá-lo sobre uma
pilha de dormentes de um metro e meio de altura. Sobre esse apoio foi
possível conhecer as medidas exatas – dimensões, forma e peso aproximados.
As figuras 8 e 9, a seguir, regidstram as dificuldades encontradas no trajeto e a
adaptabilidade do carretão que funcionava tanto com dormentes como puxado
por parelhas de bois.
Figura 8 - Imagem da adaptação do carretão para utilização de dormentes no
transporte até Jacuricy /BA .
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928. p. 71
80
Figura 9 - Imagem do carretão sendo puxado por homens para ser adaptado para ser puxado
por parelhas de bois no transporte na Serra do Acarú .
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928. p. 71
O terreno foi transposto com dificuldade, porém sem nenhum acidente
registrado. Depois que conseguiram transpor a Serra do Acarú, nas
proximidades da localidade de Monte Santo no sertão baiano, fortes chuvas
tornaram a marcha bastante lenta, sendo necessário interrompê-la quatro
vezes para a substituição dos eixos do carretão que se partiram. No relatório
final, a comissão encarregada se diz orgulhosa de ter conseguido “registrar um
dos serviços mais notáveis na história dos transportes effectuados no Brasil”
(CARVALHO, 1928, p. 73).
No dia quatorze de maio de 1888 a marcha chegou à estação de Jacuricy,
último ponto de parada antes de Salvador. No dia 16 foi assentada a pedra
fundamental do segundo marco construído. Para registrar que as despesas
foram pagas pelo Barão de Guahy
36
, o obelisco recebeu o seu nome. Uma
nova caixa de ferro foi colocada em suas fundações, contendo também um
exemplar da “Revista da Sociedade de Geografia” e alguns números de jornais
da Bahia que publicavam o decreto que extinguia a escravidão no Brasil. Uma
nova solenidade foi realizada com a celebração de uma missa, assim como no
início da marcha. A colocação deste decreto, assim como a missa, a
realização de um ritual, também agregam significados a este objeto, são
marcos simbólicos que já associam o Bendegó às formações discursivas
36
Elysio Pereira Marinho obteve o título de Barão de Guahy em 1879. Foi Ministro da Marinha,
Deputado da Província da Bahia e Benemérito da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
.
81
acerca da nação. A travessia até a estação de trem foi de cento e treze
quilômetros e seiscentos e dez metros (113, 610 km), percorridos em cento e
vinte e seis dias, com uma média de novecentos metros diários. As figuras 10 e
11, a seguir, são do obelisco Barão de Guahy em Jacuricy e do embarque do
meteorito na estação de trem para Salvador.
Figura 10 - Imagem do obelisco erguido em Jacuricy que permanece ato hoje na cidade.
Setor de Meteorítica do Museu Nacional
Figura 11 - Imagem do embarque na estação de trem de Jacuricy .
Imagem reproduzida no livro publicado por José Carlos Carvalho em 1928. p. 78
Em 26 de maio de 1888, antes de ser embarcado para o porto da Bahia,
o meteorito foi pesado na estação de Calçada. A pesagem foi coordenada por
82
Richard Triplady – Superintendente da Companhia Ingleza da Estrada de Ferro
– aferindo cinco mil trezentos e sessenta quilos. Do porto de Salvador foi
embarcado para o Rio de Janeiro no vapor “Arlindo”.
A chegada ao Rio de Janeiro se deu no dia 15 de junho de 1888. O
desembarque foi feito por efetivo do Arsenal de Marinha, para onde o meteorito
foi conduzido. Lá chegando, o chefe da comissão relata ter sido recebido por
Sua Alteza a Princeza D. Izabel, por Sua Alteza o Sr. Conde d’Eu,
pelo Almirante Barão de Corumbá, Camarista de Sua Majestade o
Imperador, pelo Dr. Ladislao Netto, Diretor do Museu Nacional e o
Barão de Ivinhema, Inspetor do Arsenal de Marinha, acompanhado
de todos os engenheiros chefes de officinas.
37
O ‘Bendegó’ permaneceu alguns dias depositado nesse espaço onde,
com máquinas de plainar, foi realizado um corte “indispensável ao estudo da
sua estructura e natureza”(Id.) de uma parte de sessenta quilos, posteriormente
fragmentada e doada para estudo em diversos museus. Durante esse tempo,
foi registrada a presença de “Sua Alteza a Princeza Regente, seu augusto
esposo e filhos, acompanhados dos Srs. Barões de Loreto e de Muritiba”, bem
como do professor Orville Derby e do diretor do Museu Nacional.
Ao confrontarmos os registros de Derby e Carvalho, destaca-se a
ausência de referências na obra do primeiro sobre a presença da família
Imperial, em especial da participação efetiva de D. Pedro II na decisão de
transportar o meteorito para o Museu Nacional, já que os dados técnicos
apresentam pouquíssimas diferenças. Talvez o fato de o estudo do professor
do Museu Nacional ter sido escrito em 1895, logo após a Proclamação da
República (1889) explicite um possível desconforto em efetuar tal registro no
interior daquele contexto sócio-político.
Anteriormente, no dia 17 de julho de 1888, em sessão extraordinária da
SGRJ, em que se encontrava presente a Princesa Izabel, os trabalhos da
Comissão foram oficialmente dados como concluídos com a leitura do Relatório
oficial, publicado pela Imprensa Nacional em francês e português. Algumas
cópias foram enviadas para a Academia de Ciências de Paris e outros institutos
científicos e bibliotecas estrangeiras.
37
José Carlos Carvalho (1928, p. 88) inclui em seu livro uma referência acerca da presença da
Princesa Izabel durante os trabalhos no Arsenal de Marinha
.
83
A referida publicação continha um histórico do objeto, quadros de
coordenadas geográficas, altitudes e distâncias, uma descrição do transporte,
plantas da zona explorada e da Vila de Monte Santo e fotografias de plantas e
do transporte.
No que tange à atuação da SGRJ podemos destacar esse trecho de sua
Revista publicada em 1888:
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, que acaba de
ver coroada a sua obra de ter transportado para o Museu
Nacional o meteorolitho de Bendegó, iniciou nova campanha,
aproveitando a espontaneidade e a intrepidez de três de seus
membros, distintos officiaes do exército brasileiro, que se
propõem explorar a parte, ainda desconhecida do território de
Mato Grosso
38
No decorrer do século XIX, diversas instituições desempenharam um
papel na construção da idéia de nação por meio da elaboração de formações
discursivas. A SGRJ o fez por meio de empreendimentos como o transporte do
Bendegó, que permitiram o deslocamento do objeto e a coleta de informações
acerca do clima, vegetação e topografia do sertão baiano que foram utilizadas
como formações discursivas sobre a nação, assim como, os marcos simbólicos
como a solenidade cívica realizada no dia sete de setembro e missa realizada
no encerramento dos trabalhos. O Museu Nacional estruturou esse mesmo
papel discursivo por meio dos estudos e exposição de seus acervos.
38
Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, tomo IV, 2° boletim, 1888, p. 121.
84
CAPÍTULO 4
A INCORPORAÇÃO DE METEORITO DE
BENDEGÓ AO ACERVO DO MUSEU
NACIONAL
85
(...) os limites entre natureza e cultura são
construídos nos museus, entalhados na topografia
do conhecimento com objetos e galerias (...)
(Samuel Alberti, 2008)
A partir da incorporação do meteorito de Bendegó às coleções do Museu
Nacional, novos significados foram agregados ao objeto. O item 4.1 O
meteorito de Bendegó no Museu Nacional aborda sua inserção nos discursos e
contextos institucionais – em especial os expositivos – enfatizando seu papel
na representação da idéia de “nação brasileira”.
O item 4.2 O retorno para o ‘Hall’: inserções expositivas na atualidade
pretende analisar o recente transporte do meteorito novamente para a entrada
principal da instituição, como integrante do processo discursivo atual de
revitalização do Museu Nacional.
4.1 o meteorito de Bendegó no Museu Nacional
No dia 27 de novembro de 1888, o meteorito foi levado para a sede do
Museu Nacional situada no Campo de Santanna,-- no centro do Rio de Janeiro.
Ao ser integrado às coleções do Museu Nacional, o meteorito passou a
pertencer ao acervo de uma instituição que já possuía setenta anos de
existência, possuindo singularidades configuradas desde sua fundação em
1818.
Amostras de produtos e objetos coletados em território brasileiro eram
enviadas para a metrópole portuguesa desde o século XVI. Exemplares de
recursos naturais e objetos etnográficos foram embarcados para compor as
coleções do Museu Real de Lisboa. O crescimento das coletas científicas e das
atividades colecionistas culminaram na criação de uma Casa de História
Natural que posteriormente foi fechada. Em 1784, o vice-rei do Brasil funda a
Casa dos Pássaros – como era popularmente conhecida – que abrigou uma
coleção de exemplares da fauna e flora locais. As atividades foram encerradas
em 1811, três anos após a chegada da família real e corte no Rio de Janeiro.
Os governadores de Província receberam instruções para organizar duas
coleções completas de todos os produtos de sua região, sendo uma remetida
para o Rio de Janeiro e outra depositada em um Gabinete de História Natural
local, visando à constituição de uma rede de museus provinciais para o
abastecimento de um museu central.
86
Esse ideal de funcionamento de museu metropolitano baseado no modelo
e concepções da História Natural de Buffon
39
e Saint Hilaire
40
, resultou em
uma espécie de manual denominado “Instrução”
41
. Diferentes diretores ao
longo do século XIX buscaram sua implementação, constituindo o Museu Real
como um espaço receptor de produtos das províncias brasileiras e de coleções
de caráter universal (LOPES, 1993, p. 42-44). Esses espaços criados na
América Latina no século XIX podem ser entendidos como manifestações da
promoção do desenvolvimento das ciências em seus respectivos países, que
por sua vez encontravam-se submetidos às influências dos modelos europeus.
Em 24 de outubro de 1821, o museu, sediado em um prédio no entorno do
Campo de Sant’anna, abriu suas portas à visitação. A constituição de seus
acervos nesse período foi organizada por seu primeiro diretor, Frei José da
Costa Azevedo e marcada pela incorporação da coleção mineralógica
adquirida pela coroa portuguesa no final do século XVIII. Conhecida como
“Coleção Werner”, o conjunto de minerais recebeu esse nome em homenagem
a Abraham Gottlob Werner, considerado um dos principais nomes da
mineralogia. Também foram incorporadas naquele período as coleções da
antiga Casa de História Natural, compostas de objetos de arte, artefatos
indígenas e produtos da flora e da fauna brasileira.
Durante as décadas que se seguiram, diversos naturalistas e viajantes
estrangeiros vieram ao Brasil e visitaram o museu que já era considerado por
seus diretores como acanhado, em termos de espaço, para suas necessidades
e o volume de suas coleções. Além das questões espaciais, outro pleito dos
diretores registrado em seu Livro de Ofícios
42
era o de que o governo cobrasse
de modo mais efetivo dos naturalistas estrangeiros o envio de pelo menos uma
das amostras coletadas para o Museu Imperial. Marcou esse período a
39
Georges-Lois Leclec era naturalista francês e publicou um dos primeiros volumes sobre
História Natural em 1749. Recebeu o título de Conde de Buffon em 1771 por sua contribuição
científica e seu trabalho como diretor do Jardin des Plantes em Paris.
40
August Saint-Hilaire era francês. Destacou-se como um dos nomes da denominada Botânica
romântica no século XVIII. Foi um dos primeiros naturalistas a percorrer o território do reino
brasileiro entre 1816 e 1822.
41
Referindo-se ao Museu e ao Jardim Botânico, a “Instrução” divulgava as concepções de
História Natural de Vandelli, Buffon, Geoffroy e Sant Hilaire. propunha a organização ideal de
um Museu que se apoiaria em uma rede de Gabinetes de História Natural locais, em
intercâmbio com outras nações, em trabalhos de naturalistas e em um laboratório químico para
completo conhecimento das produções naturais (LOPES, 1993 p. 41).
42
Livro de Ofícios do Museu Nacional e Imperial do Rio de Janeiro – 1819 a 4 de fevereiro
1842 p. 26. Arquivo do Museu Nacional.
87
estruturação dos trabalhos para além das exposições, como a implantação do
laboratório químico, por exemplo.
Naturalistas estrangeiros
43
, juntamente com os naturalistas locais Frei
Veloso e Padre Arruda Câmara, dentre outros, coletaram e classificaram
elementos da natureza do Rio de Janeiro. Como outros espaços criados a
partir da chegada da corte portuguesa, o Museu Real, atual Museu Nacional,
representava uma transposição de modelos europeus para os trópicos,
demonstrando um alinhamento com as iniciativas européias. Não obstante, tais
iniciativas também podem ser analisadas como uma incorporação de modelos
clássicos de organização institucional, levando em conta os processos de
ajustes que marcaram a institucionalização de espaços de Ciências Naturais no
Brasil neste período (cf. SCHWARCZ, 1998; LOPES, 1997).
Em suas primeiras décadas, o Museu Nacional manteve vínculos com
diversas instituições brasileiras como o Jardim Botânico, que durante alguns
anos esteve junto com o museu sob alçada do mesmo ministério, a Biblioteca
Nacional, a Academia de Belas Artes, a Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional
44
, a Sociedade de Instrução Elementar, a Sociedade de Medicina da
Corte, a Academia Real de Ciências de Lisboa, o IHGB e as Escolas de
Engenharia e Medicina da Corte (LOPES, 1993, p. 75).
Nesse momento podem ser identificadas na história do Museu Nacional
diversas representações de museus que se misturaram (...) A
“instrução” nos lembra a ajuda de Vandelli; as doações de D.
João VI, os gabinetes museus dos príncipes europeus do
século anterior; as máquinas a Arts et Métiers; os produtos
naturais das províncias distantes, o projeto de museu
metropolitano; as antiguidades de todo o mundo, o mesmo
ideal enciclopédico do British Museum (Id. p. 83)
43
Dentre esses naturalistas estrangeiros destacam-se Johann Natterer, Thomas Ender, Johann
Emmanuel Pohl, Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich von Martius.
44
A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional foi fundada no Rio de Janeiro em 10 de
outubro de 1827. Foi a primeira associação civil registrada no Império. Apesar de se constituir
como um organismo privado, logo se vinculou à estrutura da Secretaria de Negócios do
Império. Durante o reinado de D. Pedro I recebeu incentivo por ser entendida como
“associação patriótica”, recebendo determinação do Imperador para comprarar máquinas para
que fossem expostas na sala que a Sociedade ocupava no prédio do Museu Nacional. Além de
seus vínculos com esse museu, patrocinou a criação do IHGB e coordenou as exposições
nacionais realizadas durante o Segundo Reinado (VAINFAS, 2000, p. 680).
88
Até a metade do século XIX, coleções como a de antiguidades egípcias
45
,
juntamente com diversas outras, foram adquiridas para enriquecer o acervo do
Museu, nesse momento já denominado Imperial. Em 1842, um novo
Regulamento
46
dividiu a instituição em quatro seções: 1ª. Anatomia
Comparada e Zoologia; 2ª. Botânica, Agricultura e Artes Mecânicas; 3ª.
Mineralogia, Geologia e Ciências Físicas; 4ª. Numismática e Artes Liberais,
Arqueologia, Usos e Costumes das Nações Modernas.
Com essa estruturação, buscou-se a ampliação e organização de suas
coleções. Nesse momento, o museu era um espaço de ensino e pesquisa
científica e também voltado para a institucionalização de ciências e suas
especializações (DIAS, 2005, p.33-34). Tais atividades não eram abertas a
toda a população, mas permitidas apenas para um grupo específico de
interessados e pares científicos.
A ausência de coleções representativamente nacionais é mencionada
neste período por visitantes estrangeiros como o Conde de Castelnau (1844), o
botânico inglês Gardner (1846), o viajante Thomas Ewbank (1847), o
naturalista Hermann Burmeister (1850), considerando que o museu não
espelhava a grande quantidade de produtos naturais existentes no país
(LOPES, 1993, p. 103-104).
A instituição organizou também as primeiras exibições nacionais, como a
Exposição de Indústrias em 1861 e a primeira Exposição Nacional, realizada no
mesmo ano no prédio da Escola Politécnica no Rio de Janeiro. Produtos
apresentados foram selecionados e enviados para Exposições Universais. A
maior parte desses objetos estava desprovida de informações, o que pode ser
visto como elemento diminuidor de sua relevância científica, porém os mesmos
podem ser considerados testemunhas de práticas institucionais associadas às
diretrizes do poder central (FARIA, 1998). Com relação ao papel do Museu
Nacional nesse contexto, podemos concordarmos que
se intercâmbios internacionais e exposições universais
integraram as preocupações dos diretores, isto pressupôs
ainda que ‘com os pés na América’ eles não se descuidassem
de suas tarefas, como construtores do Império, de integrar ou
45
A coleção egípcia do Museu Nacional foi arrematada em leilão por D. Pedro I em 1826 e
doada ao Museu Real no mesmo ano, sendo prontamente colocada em exposição.
46
Regulamento n°123 de 3 de fevereiro de 1842. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL.
89
trazer ao Rio de Janeiro – o mundo civilizado do país
(...)(LOPES, 1997, p. 128)
O destaque junto aos espaços científicos europeus colaborou na decisão
de se confeccionar uma réplica em tamanho natural do referido meteorito –
executada no Arsenal de Marinha – e enviá-la para integrar a Exposição
Universal de Paris em 1890 que comemorou o centenário da Revolução
Francesa e a inauguração da Torre Eiffel.
As denominadas Exposições Universais estiveram inseridas nas
conjunturas de aceleramento e ampliação do processo de industrialização
contido na expansão capitalista européia da segunda metade do século XIX. A
partir de 1851, tais eventos reuniram em um mesmo espaço representações
das regiões em expansão (Europa e Estados Unidos), regiões sobre regime
colonial e regiões distantes tidas como fontes de matéria-prima (BARBUY,
1996, p. 211).
Permeadas pela idéia de progresso, somente em 1876 essas
exposições passaram a ser estruturadas em pavilhões nacionais, constituindo
“modelos de mundo materialmente construídos e visualmente apreensíveis.
Trata-se de um veículo para instruir as massas sobre os novos padrões da
sociedade industrial” (BARBUY, 1995, p. 1-2).
Com a finalidade de celebrar o centenário da Revolução Francesa e, por
conseguinte de um modelo republicano, a exposição de 1889 contou com
sessenta e um mil e setecentos e vinte dois (61.722) expositores, sendo
oitocentos e trinta e oito brasileiros (838). Cabe destacar que o Brasil foi um
dos poucos países de regime monárquico e a última monarquia americana a se
fazer representar, porém não oficialmente. Sua participação foi realizada por
meio de uma delegação composta por empresários e jornalistas que formaram
um Comitê Franco-Brasileiro
47
.
De certa forma, o evento como um todo tratou do domínio da tecnologia
sobre a natureza. A América tropical era vista como o local da natureza virgem
a ser moldada pela tecnologia européia ou dos Estados Unidos (BARBUY,
1996, p. 220). O deslocamento do Bendegó, o desenvolvimento do carro para
seu transporte, podem ser entendidos como enunciados para formações
47
Neste Comitê havia uma comissão de estudos brasileiros integrada pelo Barão do Rio
Branco e por Ladislau Netto do Museu Nacional. ,
90
discursivas acerca do desenvolvimento tecnológico na nação brasileira e se
encaixavam nessa proposta da Exposição.
Uma das razões para a exibição da réplica do Bendegó nesse evento, foi
por este ser naquele momento o maior meteorito do mundo exposto à visitação.
Essa formação discursiva acerca da nação, possuidora do maior aerólito
transportado para uma instituição científica no mundo, pode ser entendida
como relevante no processo de consolidação da idéia de nação. A exposição
da réplica, de certa forma representou discursivamente a contribuição de
instituições científicas como o Museu Nacional na inserção do Brasil no
“concerto das nações” e não pode ser dissociada da relevância da
representação do Brasil nessa exposição em um contexto político em que o
Império já se encontrava em fase final no país.
Somente dez anos depois chegaria ao Museu de História Natural de Nova
York o aerólito denominado Cape York de 36 toneladas. Atualmente o maior do
mundo está na Namíbia, África, e não pode ser removido.
Estruturado no Champ de Mars, à direita da Torre Eiffel, o espaço
brasileiro era composto por três andares, galerias e um átrium. A
representação do Bendegó ficou localizada em um espaço no térreo que
continha vitrines com amostras de minerais provenientes de Minas Gerais,
peles de animais do território nacional, madeiras e borracha. A réplica do
aerólito foi descrita por um cronista como “uma espécie de minério de ferro e
níquel, parecendo uma enorme tartaruga sem cabeça e com um peso de
setenta quilos” (LENÔTRE,
48
1889 apud BARBUY, 1996, p. 221).
Além das riquezas naturais destacadas, buscou-se a exibição de um país
com uma indústria nascente e em progresso, por meio da apresentação nos
demais andares de produtos manufaturados, litogravuras, livros e coleções de
medalhas. Em um esforço para alinhar-se às instituições científicas européias,
o Museu Nacional divulgou suas pesquisas realizadas até aquele momento e
integrou um espaço no prédio denominado Casa Inca – destinado a uma
retrospectiva da habitação humana – com uma exposição sobre os grupos
indígenas da Amazônia (BARBUY, 1996, p. 229).
48
LENOTRE, G. Le Pavillion du Brésil. L´Exposition du Paris, 1889, Paris, v 112, n 23, p. 178.
3/10/1889.
91
O Brasil buscou se posicionar dentro de um sistema sócio-político
internacional e se contrapôs à visão européia de que era um fornecedor de
matéria-prima de diversas formas: por meio da arquitetura, ornamentação e
jardins de seu pavilhão, bem como por meio da exposição de seus produtos e
dos elementos da cultura amazônica. A face científica do país foi representada
com a participação de instituições como o Museu Nacional. Apesar desses
esforços, algumas impressões registradas por cronistas destacaram o “estilo
tropical, a monarquia selvagem, as riquezas naturais e a população com seus
produtos bárbaros e mestiços” (cf. BARBUY, 1996; SCHWARCZ, 1998).
O professor de Geologia e responsável pela coleção de meteoritos do
Museu de História Natural de Paris nesta época, Stanislau Meunier, publicou
um artigo
49
sobre essa coleção em 1893, destacando a representatividade da
réplica confeccionada pela Marinha para figurar no espaço brasileiro da
Exposição Universal e que esta reprodução naquele momento integrava a
galeria sob sua responsabilidade. Em um outro texto de sua autoria publicado
no mesmo ano, o professor ressalta que o meteorito de Bendegó tornara-se
célebre pelos prodígios tecnológicos realizados em seu transporte em meio “de
vastas mattas virgens da Província da Bahia – até o Museu do Rio de Janeiro,
do qual constitui hoje um dos principais ornamentos” (MEUNIER, 1893, APUD
CARVALHO, 1928, p. 92). Em 1937 com a inauguração do Palais de la
Découvert em Paris a cópia do Bendegó foi transferida para essa instituição e
novamente colocada em exposição na seção de Astronomia.
Atualmente no Brasil existem três réplicas em tamanho natural, expostas
no Museu Geológico da Bahia, no Museu de Ciência e Tecnologia do
Observatório de Antares em Feira de Santana e no Museu do Sertão em
Bendegó no mesmo Estado.
No que se refere ao Museu Nacional, a partir de 1870 reflexões acerca da
“cultura nacional” permearam o universo científico da época, partindo de uma
elaboração de teorias européias e pensando sua aplicação local (SCHWARCZ,
1989). Nesse período, os principais espaços museológicos científicos – Museu
Nacional, Museu Paulista e Museu Paraense, atualmente denominado Museu
Paraense Emílio Goeldi, integraram esse processo científico local (Id.).
49
MEUNIER, Satnislau. Notice Historique sur la collection de météorite du Museum
d’Histoire naturelle.1893. APUD DERBY, 1895 p. 97.
92
No que tange ao Museu Nacional, a gestão de Ladislau Netto de 1874 a
1893 foi um período de implementação de diversas reformas e considerado
fecundo e de grandes atividades (LACERDA, 1905). Enquanto foi diretor, três
Regulamentos foram implantados – 1876, 1880 e 1890 – destinando a
instituição ao estudo da História Natural do globo e em particular a do Brasil.
É no interior desse contexto que o meteorito de Bendegó é incorporado
nesse museu. Quando foi levado do Arsenal de Marinha para o Museu
Nacional, um Auto de Recebimento
50
foi redigido por Orville Derby e assinado
por João Batista de Lacerda, diretor interino nessa ocasião, onde se lia
Aos vinte e sete dias do mez de novembro do ano de mil
oitocentos e oitenta e oito, sexagésimo sexto da
Independência e do Império no reino de S. M. o Imperador o
Senhor D. Pedro II, nesta cidade do Rio de Janeiro, foi
recolhido ao Museu Nacional pelas doze horas do dia o
meteorito de Bendegó (...)
Nesse documento registrou-se a data da chegada do objeto ao museu, as
condições de transporte, os nomes dos encarregados e dos financiadores da
comissão, bem como a informação de que o transporte do Arsenal para o
prédio da instituição foi realizado pela Companhia de Carris Urbanos. Tal
documento pode ser relacionado à relevância do objeto para a instituição e
entendido como elemento das formações discursivas acerca do Bendegó.
Juntamente com o meteorito, foram entregues o carretão, uma série de
fragmentos coletados ao longo do percurso, pregos de ferro e fragmentos de
madeira carbonizada do carro utilizado na primeira tentativa de remoção. Uma
lista foi elaborada e todos os itens relacionados pelo chefe da comissão foram
entregues à instituição. Até o término desse estudo não foram encontrados
registros na instituição sobre o destino do carretão. De certa forma, a coleta
desses fragmentos denota uma preocupação por parte da Comissão
responsável pelo transporte com a necessidade de guarda desses elementos
que representam as diferentes tentativas de transporte do objeto.
50
Auto de Recebimento do Meteorito de Bendegó no Museu Nacional do Rio de Janeiro,
assinado por João Batista de Lacerda / Diretor Interino; Orville Derby / Diretor da 3ª. Seção e
Francisco José de Freitas / Sub-diretor da 3ª. Seção em 6/11/1888. ARQUIVO DO MUSEU
NACIONAL BR MN MN. DR.CO, AO. 4147 VIDE ANEXO
93
Os Jornais do Commercio e Correio da Manhã publicaram na mesma data
da chegada do objeto ao museu reportagens intituladas respectivamente
“Holosidero de Bendegó” e “O Bendegó, o pedaço de outro mundo que caiu na
terra: verdadeira novela histórica o transporte do meteorito do sertão da Bahia
para o Museu Nacional”. Ambas exaltam o fato de o meteorito ser o maior de
seu tipo em um museu no mundo e o êxito de um transporte de tal
complexidade. A figura 12, a seguir, apresenta uma reportagem do jornal
Correio da Manhã de 1888 com uma notícia sobre o transporte do meteorito .
Figura 12 -Imagem da página com a notícia publicada no Jornal do Comércio em
27/11/1888
Arquivo do Museu Nacional
94
Sobre o destaque científico da condução do meteorito para o Museu
Nacional, é possível tomar como exemplo a Reunião Anual da American
Association for Advancement of Science, em Indianápolis nos Estados Unidos,
ocorrida em 1890. Orville Derby compareceu levando fotografias do transporte
e do meteorito. No encontro ocorrido entre os dias vinte e vinte e seis de
agosto votou-se uma resolução de reconhecimento pela associação dos
serviços prestados à ciência “pelos eminentes cavalheiros Srs. Barão de Guahy
e José Carlos Carvalho” (APUD DERBY, 1895, p. 97). Neste texto foi
ressaltado o
transporte da maior massa sideral jamais collocada em
qualquer museu e attendendo a um trabalho executado com
tamanho sacrifício pessoal, com dedicação tão prolongada e
com tamanha despeza, e quase sem precedente e, portanto
especialmente louvável (...) (Id.).
Paralelamente ao destaque alcançado junto à comunidade científica
internacional, faz-se necessário destacar que no local de onde partiu a
Comissão em 1888, o obelisco D. Pedro II que marcou o início dos trabalhos no
sertão foi demolido pela população local que, durante um período de intensa
seca, associou esse “castigo do céu” à retirada do meteorito. (CARVALHO,
1995, p. 25).
Com a Proclamação da República em 1889, o Museu Nacional passa a
ser sediado no Paço de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista, após a
realização de reformas para abrigar as coleções retiradas do prédio no Campo
de Santana. Para efetivar a transferência das coleções, os trilhos da
Companhia de Bondes de São Cristóvão foram estendidos até o museu. A
mudança transcorreu em dois meses e as coleções eram depositadas nos
salões do térreo do Paço.
As primeiras providências tomadas objetivaram a adaptação e
organização das coleções, dos laboratórios e das exposições na nova sede.
Foram construídas novas salas e galerias, derrubaram-se paredes e parte do
mobiliário expositivo foi renovado, tendo cada sala recebido o nome de um
naturalista nacional ou estrangeiro. Nesse processo de transferência do museu
para o antigo Palácio, podemos entender que a antiga residência da Família
Imperial foi ressignificada ao se tornar a nova sede dessa instituição. Após a
Proclamação da República e sob um novo regulamento, a ocupação do Paço
95
pelo Museu Nacional, pode ser entendida como uma formação discursiva
acerca da nação brasileira nesse contexto de transformações políticas no país.
A remoção do Bendegó para a nova sede foi solicitada em ofício enviado
pelo Diretor Interino do Museu Nacional Domingos Freire ao Ministro de
Secretário de Estado da Justiça e Negócios Interiores Fernando Lobo Leite:
Não tendo sido removido por occasião da mudança das
colleções do Museu, do antigo para o actual edifício, o
meteorolitho de Bendegó, que alli ainda permanece, e
convindo a sua remoção para este estabelecimento antes da
reabertura do museu a visita do público, rogo-vos nos digneis
a providenciar a fim de que sejam fornecidos por conta desse
Ministério, os meios necessários para a sua dispendiosa
remoção, visto não ter sido votada para esse fim consignação
alguma no orçamento desta Repartição para o corrente
exercício, acrescendo que as diversas consignações da verba-
material já são insufficientes para fazer face às palpitantes e
urgentíssimas necessidades deste instituto na phase de
reorganização porque vai elle passando
51
Em ofício
52
de dezoito de agosto de 1893, o Diretor solicita ao Ministério
que sejam tomadas providências para que por sua conta seja realizada a
construção do pedestal para o Bendegó utilizando-se blocos de syenito róseo
53
da Ilha das Cobras que haviam sido trazidos da Bahia. O modelo foi fornecido
pela instituição. Somente em setembro do mesmo ano recebeu em ofício da
Seção Geral de Contabilidade da Secretaria da Justiça e Negócios Interiores a
conta em duplicata de Silva & Campanhã, na importância de 160#000
54
pelo
transporte do “Meteorolitho de Bendegó, a fim de que vos digneis de rubricá-la
depois de convenientemente processada, devolvendo-a a esta secção
55
”.
51
Ofício 82 remetido pelo Diretor Interino do Museu Nacional ao Ministro e Secretário de
Estado da Justiça e Negócios Interiores em 15/06/1893. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL.
BR MN MN. DR.CO, RA.11/8, f.2v. VIDE ANEXO
52
Ofício 114 remetido pelo Diretor Interino do Museu Nacional ao Ministro e Secretário de
Estado da Justiça e Negócios Interiores em 18/08/1893. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL.
BR MN MN. DR.CO, RA.11/41, f.7 v-8. VIDE ANEXO
53
Nesse Ofício de 1893 faz-se referência à utilização de syenito róseo para a confecção das
bases, porém fontes posteriores citarão a utilização de mármore.
54
A moeda corrente no Brasil entre 1834 e 1942 era denomina “Mil Réis” com o símbolo #.
55
Ofício 358 da Diretoria da Seção Geral de Contabilidade da Secretaria da Justiça e Negócios
Interiores para o Diretor geral Interino do Museu Nacional em 22/09/1893. ARQUIVO DO
MUSEU NACIONAL. BR MN MN. DR.CO, AO. 5019 VIDE ANEXO
96
As despesas do transporte no prédio de São Cristóvão também foram
registradas na Relação de Contas
56
apresentadas ao fiscal do Conselho
Administrativo do Museu Nacional em cinco de outubro subseqüente. Além das
despesas com o carreto, foram justificadas despesas miúdas executadas pelo
Tesoureiro, conta do Jornal do Commercio e com uma companhia de
marcenaria e construções.
O Relatório
57
do Ministério da Justiça e Negócios Interiores do ano de
1893, no anexo referente ao Museu Nacional, ressaltou que o meteorito
encontrava-se inteiramente desabrigado na parte externa do edifício e solicitou
providências no sentido de removê-lo para um local mais apropriado, onde
pudesse ser construído seu pedestal. Neste mesmo documento o diretor
interino da terceira seção do museu destacou como exemplo a doação da
Companhia Estrada de Ferro Minas S. Jeronymo de um bloco de carvão de
(1,45 x 1,35 x 1,5) m respectivamente em altura, largura e diâmetro que
naquela data encontrava-se exposto no saguão e possivelmente deve ter sido
retirado para a colocação do Bendegó. Um Aviso posterior datado de vinte e
sete de agosto de 1895 do mesmo ministério esclarece que em
solução aos vossos offícios n
os
72 e 79 de 19 de junho e 13 de
julho últimos, declaro-vos ter autorisado a despeza na
importância calculada de 400$000 a 500$000, com a remoção
de meteorito Bendegó para o saguão de edifício do Museu e
sua collocação sobre um pedestal, bem assim que nesta data
providencio afim de que o engenheiro deste Ministério effectue
o transporte de accôrdo com a informação que prestou
58
O transporte ocorreu em etapas, primeiro para as dependências da
instituição e posteriormente para as bases, cujas plantas foram fornecidas pelo
Museu Nacional a um engenheiro designado pelo Ministério e colocadas na
entrada do museu, integrando o hall das exposições.
Não possuímos registros sobre o trabalho efetivo de colocação do
meteorito nas suas três bases com inscrições que registram dados de seu
56
Relação de Contas apresentada ao Conselho Administrativo do Museu Nacional em
5/10/1893. ARQUIVO MUSEU NACIONAL. BR MN MN. DR.CO, AO. 5028.VIDE ANEXO
57
Relatório do Ministério da Justiça e Negócios Interiores referente ao período de 1893-1894.
Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1882/000798.html
. Acesso em 15/06/2009. VIDE
ANEXO
58
Aviso n°562 de 27/08/1895 do Ministério da Justiça e Negócios Interiores ao Diretor do
Museu Nacional. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL. BR MN MN. DR.CO, AO. 5534. VIDE
ANEXO
97
achado e seu transporte para o Rio de Janeiro. Em vinte e nove de março de
1900, uma carta oficial
59
do Secretário do Museu Nacional solicita em nome do
Diretor o obséquio de mandar prender as placas de bronze do ‘Bendegó’ no
lado das colunas de mármore que serviam de pedestal.
A colocação desse meteorito na entrada da antiga residência Imperial
pode ser entendida como uma ‘‘formação discursiva’’ voltada para um
‘’discurso’’ científico. Ao entrar no hall o visitante se deparava com um objeto
oriundo do Cosmos e significado pelos pressupostos científicos. As formações
discursivas descrevem os conjuntos de enunciados que compõem os discursos
(FOUCAULT, 2007), nesse caso, as formações discursivas acerca do meteorito
de Bendegó, nos permitem perceber as dispersões e regularidades presentes
no aparecimento e nas transformações do discurso acerca da nação gerado
pelo Museu Nacional.
Após todas essas reformas de adaptação do Paço para abrigar o museu,
o espaço onde o Bendegó foi colocado em exposição foi registrado nas
seguintes imagens entre as décadas de 1920 e 1930, apresentadas nas figuras
13 e 14.
Figura 13 -Hall de entrada do Museu Nacional entre 1920-1930
Fundo Sólon. Arquivo do Museu Nacional.
59
Carta oficial do Secretário do Museu Nacional em 29/03/1900 solicitando que as placas de
bronze do meteorito de Bendegó sejam fixadas nas colunas de mármore que serviam de
pedestal. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL. BR MN MN. DR.CO, AO. 6710. VIDE ANEXO
98
Figura 14 - Hall de entrada do Museu Nacional entre 1920-1930
Fundo Sólon. Arquivo do Museu Nacional
Essas imagens
60
apresentam o espaço por onde até os dias de hoje o
público entra para percorrer as exposições do Museu Nacional. Nelas podemos
visualizar um núcleo composto por três bases que apóiam o meteorito, as
pinturas com representações da fauna e flora nas paredes e um conjunto
escultórico posicionado à direita.
Com a criação do Museu Histórico Nacional em 1922, o Museu Nacional
doa aproximadamente quinhentos itens de suas coleções e passa a se dedicar
exclusivamente às ciências naturais e antropológicas. A partir de 1926, Edgar
Roquette Pinto assume a direção da instituição estabelecendo um enfoque
educacional, ampliando a filmoteca e, em 1931, planejando e estruturando sob
sua chefia o Serviço de Assistência ao Ensino (SAE), entendendo o Museu
Nacional como
Escola que ensina a todos, escola que não ensina tudo. Os
professores do Museu não falam para algumas dezenas de
ouvintes agasalhados numa sala: falam para toda gente, para
os que sabem e para os que ignoram (...) acima disso, um
museu em país de formação étnica não definida, onde as
massas populares têm as admiráveis faculdades nativas em
grande parte anuladas pela bruta ignorância em que se
debatem, deve ser, antes de tudo, casa de ensino, casa de
educação
61
.
60
Estas imagens pertencem ao Fundo Solon. Pertenciam ao professor do Museu Nacional
Solon Leontsinis. ARQUIVO DO MUSEU NACIONAL. Caixa 4 – figuras e fotos.
61
Discurso de Roquette Pinto em comemoração ao centenário do Museu Nacional. Arquivos
do Museu Nacional vol. 32, Rio de Janeiro, 1918, p. 24.
99
Figura 15 - José Carlos Carvalho e Edgard Roquette Pinto no lançamento do livro
em celebração aos quarenta anos do transporte do meteorito em 1928
Arquivo do Museu Nacional
Visando inserir a instituição nos debates acerca das questões nacionais e
do ensino da história natural (LOPES, 1993), promoveu uma reforma no
Regulamento interno, re-dividindo as cinco Seções que compunham o museu.
A 1ª. Seção foi dividida em Mineralogia, Geologia, Estratigrafia e Paleontologia;
a 2ª. Seção ficou estrutura com a Botânica e suas Divisões; a 3ª. Seção foi
composta com as Divisões de Zoologia, separadas em Invertebrados e
Vertebrados; a 4ª. Correspondia à Antropologia, sendo composta pelas
Divisões de Antropologia Física e Etnografia e a 5ª. Seção era formada pelo
Serviço de Assistência ao Ensino, sob sua direção.
No decorrer da década de 1930, a cientista Bertha Lutz representou o
Museu Nacional em uma viagem aos Estados Unidos, onde percorreu
exposições de diversos museus. Ao retornar, produziu um documento
relatando suas visitas e apresentando sugestões para reformulações no Museu
Nacional. O relatório foi entregue ao diretor Roquette Pinto e suas sugestões
não foram implementadas.
Sua gestão terminou em 1937. Neste mesmo ano, foi implantado o Estado
Novo no Brasil, sendo o Museu Nacional transferido para a alçada do Ministério
da Educação e Saúde. Dentro deste novo Estado nacional, o museu volta a
assumir um lugar de destaque. A construção de uma idéia de cultura brasileira
era um problema político que enfocava a formação de uma identidade nacional
baseada na idéia de uma unidade cultural. Participando deste projeto, a
100
instituição deu visibilidade às representações regionais por meio de objetos que
expressavam a totalidade e a unidade do caráter nacional (DIAS, 2005, p. 63-
65).
O Paço de São Cristóvão fez parte do primeiro grupo de monumentos
tombados pelo SPHAN em 1938, durante a gestão de Heloísa Alberto Torres,
confirmada como diretora por Getúlio Vargas um ano antes. Antes de assumir
tal cargo, foi chefe da Seção de Antropologia e Etnologia entre 1926 e 1931,
mantendo interlocuções com instituições museológicas nacionais e
internacionais, visando estabelecer permutas. Foi vice-diretora entre 1935 e
1937, quando assumiu a direção permanecendo à frente do Museu Nacional
até 1955.
Durante esse período o museu enfrentou desafios como o esvaziamento
do quadro de pesquisadores, em especial os antigos naturalistas, causado pela
proibição de acumulação de cargos públicos remunerados contida na
Constituição de 1937. Boa parte dos professores optou por manter seus
vínculos com suas instituições de ensino.
Essa situação gerou um maior intercâmbio com instituições internacionais
e nacionais. Atendendo a um pedido de Torres, o antropólogo Franz Boas –
que havia feito estágio no Brasil por dois anos - recomendou antropólogos da
Universidade de Columbia para que pudessem aqui atuar como professores.
Dentre eles estavam Charles Wagley e Ruth Landes. Sob a interferência da
diretora, outros importantes antropólogos como Claude Lévi-Strauss, Luiz de
Castro Faria, Raimundo Lopes da Cunha e Edison Carneiro trabalharam no
museu.
Naquele período, esforços institucionais se voltaram para a realização de
concursos e contratação de pesquisadores para as áreas naturais. A direção
manteve contato com grupos de naturalistas e buscou auxiliar na tentativa de
permanência do especialista em Ictiologia Goerges Sprague Myers – da
Universidade de Stanford (EUA) - e de Joseph Bailey
62
.
Sob a gestão de Heloísa Alberto Torres, o museu passou a ocupar uma
cadeira no Conselho Consultivo do SPHAN e recebeu a incumbência de definir
o patrimônio etnográfico e arqueológico nacional, em oposição à proposta de
62
Ofício de 26/5/1942. Arquivo do Museu Nacional
101
Mário de Andrade que acreditava que tal função deveria ser exercida por uma
instituição específica, permanecendo o Museu Nacional com os aspectos
relativos à História Natural (DIAS, 2005, p. 98). Nesse momento, as
contribuições do Museu Nacional na elaboração de formações discursivas
acerca da nação voltaram-se para a consolidação de um patrimônio oficial que
compunha os discursos construídos no Governo Vargas.
Em 1941, foram iniciadas obras de reforma e recuperação das salas do
museu, que só foram concluídas em 1950. Durante esses nove anos, as
exposições foram remodeladas visando uma reformulação conceitual. Ao invés
da exposição do maior número de peças possível, buscou-se formar conjuntos
representativos das diversas áreas temáticas, regionais e temporais (SAFRA,
2007, p. 31).
Devido ao longo período em que se estenderam essas obras, a referida
diretora enfrentou desgastes com os pesquisadores da instituição. Inicialmente
planejadas para não interromper as atividades dos laboratórios e de visitação,
no decorrer das reformas constatou-se a inviabilidade de execução nessas
condições, levando à necessidade de solicitação ao Ministro da Educação
Gustavo Capanema de autorização para o fechamento ao público da área de
exposição, concedido em outubro de 1941.
Para orientar os trabalhos de reestruturação - que naquele momento
compreendiam as tarefas de redesenhar o circuito de longa duração e
reorganizar os mostruários – foram convidados por Torres o Diretor do Museu
de Ciência de Búffalo, Charles Cummings e dois técnicos, que tiveram sua
viagem para o Rio de Janeiro patrocinada pela Fundação Rockfeller e
produziram um relatório com suas recomendações para uma nova organização
das exposições. Dentre outras modificações, foi sugerido o deslocamento do
meteorito de Bendegó para a sala de meteorítica.
A partir de 1946, o museu foi incorporado à Universidade do Brasil (hoje
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ) na qualidade de Instituição
Nacional pretendendo a intensificação de seus trabalhos de pesquisa e
atividades acadêmicas.
Após sete anos de reformas, em 1947, as primeiras exposições foram
reabertas ao público. As primeiras dezesseis salas abertas correspondiam às
Seções de Assistência Cultural, Arqueologia Indígena Americana, Arqueologia
102
Clássica e Antropologia Física. Durante a inauguração a diretora ressalta para
“O JORNAL” a resolução de “aproveitar a coincidência da abertura da
exposição comemorativa da semana do índio que está sendo realizada aqui
este ano e (...) inaugurar as seções que já se acham em condições de ser
abertas”
63
.
O professor Luiz de Castro Faria colaborou no planejamento das
exposições e proferiu uma conferência em que destacou a diminuição de peças
expostas para uma melhor compreensão e valorização dos diferentes
conjuntos.
Ao final da administração de Heloísa Alberto Torres, uma boa parte do
circuito de longa duração já havia sido reformulada. Dentre os espaços abertos
ao público estavam três salas de Geologia, Mineralogia e Paleontologia. O
novo diretor José Cândido de Mello Carvalho deu continuidade à reformulação
das exposições a partir de 1956. Uma parte desse projeto foi realizada pelo
artista Georges Julien Simoni por iniciativa da diretoria do IPHAN. Foram
reabertos os espaços destinados à Paleontologia Brasileira, Evolução Humana
e Protozoários. Em 1957, um prédio anexo foi construído para abrigar as
oficinas, o laboratório de Taxidermia e parte dos setores de Ictiologia e
Herpetologia. A construção recebeu o nome do professor Alípio de Miranda
Ribeiro
64
.
As reformas expositivas continuaram e, em 1962, foram reinauguradas as
salas destinadas ao acervo de Zoologia. Com as mudanças no panorama
sócio-político do país nesse momento, uma reestruturação das atividades de
pesquisa e ensino e uma nova política relativa à área de ciência e tecnologia,
levaram a uma descentralização e especialização das atividades científicas. O
papel central desempenhado pelo museu no panorama das ciências no Brasil
foi reduzido.
Durante essas reformulações, o meteorito de Bendegó, que havia
permanecido no espaço de entrada desde o início do século XX, foi transferido
para a exposição de longa duração sobre meteoritos. Nesse espaço expositivo,
eram exibidos diversos exemplares da coleção de meteorítica do Museu
63
Entrevista concedida por Heloísa Alberto Torres para O JORNAL em 15 de Abril de 1947.
Arquivo do Museu Nacional.
64
Naturalista brasileiro com expressiva atuação no Museu Nacional, publicou ao longo de sua carreira
146 publicações sobre vertebrados.
103
Nacional. Uma base de concreto estruturada com vergalhões foi erguida para
que o objeto fosse assentado. Nenhuma fonte consultada faz referência a
qualquer resolução acerca das bases originais com as inscrições, acerca do
transporte ou esclarece os motivos para seu abandono. Os três suportes de
mármore não foram guardados pela instituição, sendo posteriormente
recuperados nos jardins na Quinta da Boa Vista em 2005.
Nos anos que se seguiram, a entrada do museu sofreu modificações, bem
como a exposição sobre os meteoritos, que ganhou novas vitrines sobre o
processo de identificação e coleta dessas peças e sua incidência de queda no
território nacional; pinturas “artísticas” – remetendo à sua trajetória no espaço -
foram feitas junto ao “Bendegó” e do meteorito “Santa Luzia”.
Uma cerimônia comemorativa realizada às doze horas do dia 28 de
novembro de 1988 celebrou na instituição os cem anos do transporte. Em
resposta à correspondência recebida da Diretora do Museu Nacional Leda Dau
– que assumiu interinamente em 1980 e em 1982 foi efetivada, gerindo a
instituição até 1990 - o Diretor do Observatório Nacional Jacques A. Danon
manifesta desejo de participar em conjunto com o Museu Nacional do
Centenário de Recebimento do aerólito “tendo em vista que o Meteorito de
Bendegó é um dos mais importantes dos existentes, seja pela sua massa, seja
pela sua composição
65
”. A figura 16, a seguir, apresenta a exposição de
meteoritos no Museu Nacional na década de 70.
Figura 16 - Meteorito de Bendegó na sala de exposição sobre meteoritos na década de 1970
Fundo Sólon Leontsinis. Arquivo do Museu Nacional
65
Correspondência oficial da direção do Observatório Nacional à Direção do Museu Nacional
enviada em 16/11/1988. ARQUIVO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA – MUSEU DE ASTRONOMIA /
MAST. JD.T.3.2.004
104
Para essa mesma celebração foi projetado um novo obelisco
66
para
substituir o que foi construído para marcar o início dos trabalhos de remoção e
demolido pela população local. Ele teria a mesma forma piramidal do primeiro,
três degraus e corpo central de cinco metros. Suas inscrições registrariam a
data da descoberta, da remoção e os nomes da Regente Princesa Izabel, do
Visconde de Paranaguá, do Barão de Guahy, dos engenheiros da Comissão e
de D. Pedro II. Este monumento não foi erguido, não tendo sido encontrados
registros documentais sobre as razões de desistência de sua construção.
4.2 O retorno para o Hall: inserções expositivas na atualidade
(...)objetos de museus não estão nunca totalmente
mudos porque nossas mentes nunca estão
totalmente vazias (...)
(Simon Knell, 2007)
Durante a administração de Janira Martins Costa de 1994 a 1998, visando
à restauração do prédio sede, foi criado o Projeto Memória para pesquisar e
organizar a história do Paço e da instituição. Em 1995, após o Seminário
Franco-Brasileiro, diretrizes para a implantação de um Programa de
Revitalização foram traçadas. Para a estruturação desse programa foi criado
um Escritório Técnico – Científico que foi responsável pela elaboração de
projetos.
Posteriormente, a Direção de Luiz Fernando Dias Duarte – 1998 a 2002
– foi marcada pela valorização das exposições temporárias e de longa duração,
resultando no início de um processo de reformulação do circuito expositivo com
a abertura das novas exposições.
Como a antiga exposição egípcia ocupava três pequenas salas no andar
das exposições e passou a ocupar uma grande sala, uma reestruturação
parcial do circuito se fez necessária, resultando, no final do ano de 2001, em
dez salas recuperadas - correspondentes aos acervos de Arqueologia
Brasileira, Etnologia Indígena e Estrangeira - além da exposição de Egito
Antigo.
66
Este esboço encontra-se juntamente com as correspondências sobre a celebração do
centenário do transporte e não contém data. ARQUIVO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA – MUSEU
DE ASTRONOMIA / MAST. JD.T.3.2.004
105
Com a publicação de dois volumes do Escritório Técnico – Científico, um
referente à parte arquitetônica e um referente à parte conceitual, o Museu
Nacional / UFRJ finalmente possuía diretrizes institucionais de planejamento.
Dentre as principais propostas estavam a construção de prédios para o
remanejamento das coleções e departamentos científicos, bem como os cursos
de pós-graduação, deixando os três andares do prédio histórico completamente
livres para serem ocupados por exposições de longa duração fundamentadas
em dois eixos temáticos desenvolvidos em parceria com os pesquisadores do
museu – “Planeta e Vida”, onde o meteorito de Bendegó estaria inserido, e
“Cultura Humana” – que contemplariam todas as coleções da instituição.
Após o lançamento do projeto, mediante a inviabilidade de aporte
financeiro para sua implantação total, a direção da instituição em parceria com
o Setor de Museologia decidiu pela estratégia de reformulação das exposições
em etapas, paralelamente à construção dos prédios anexos. Atualmente o
primeiro prédio destinado ao departamento de Botânica está concluído e em
fase de ocupação.
A partir desse contexto, novos projetos foram elaborados e novas
exposições começaram a ser implementadas, porém algumas dificuldades
permaneciam. Acerca dessas dificuldades que podem ser encontradas no
decorrer desses processos encontrados nos museus científicos de uma
maneira geral, Guzmann (2006) ressalta que as várias áreas que compõem um
museu possuem cada qual uma especificidade e estas irão desempenhar as
funções a partir das suas competências.
No interior desse processo de reformulação o aerólito retornou ao hall de
entrada das exposições no ano de 2005 por resolução de uma equipe
composta pelo Setor de Museologia, Setores de Meteorítica e Manutenção da
instituição. Esse processo foi resultado de uma pesquisa realizada para a
exposição temporária “Memória de Visitantes” que possuiu uma vitrine
exclusivamente sobre a visita de Albert Einstein
67
e suas impressões do museu
67
A visita de Einstein à América do Sul foi propiciada por um conjunto de instituições
argentinas que financiaram sua viagem. No Brasil, o Rabino Raffalovich fez contato com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, agendando sua visita a diversas instituições
científicas nacionais. Em 4 de maio, substituindo o então diretor do Museu Nacional Arthur
Neiva, Roquette Pinto – que posteriormente viria a ser diretor da instituição – acompanha o
cientista pelo interior da instituição, a quem explicita as dificuldades do transporte do Bendegó
para o Rio de Janeiro e solicita a pose para uma fotografia (TOLMASQUIN, 2003)
106
baseadas em seu diário
68
. Para compor a iconografia utilizada na mostra, foi
selecionada a foto do referido físico ao lado do meteorito. A partir das
reflexões oriundas das pesquisas desta exposição, foi aventada a
possibilidade de retornar com o objeto para o local de “destaque” que sempre
havia ocupado. A figura 17, a seguir, apresenta o registro da visita de Albert
Einstein ao Museu Nacional em 1925.
Figura 17 -Imagem que registra a visita de Albert Einstein ao Museu Nacional em 1925.
Arquivo do Museu Nacional
Este recente deslocamento do Bendegó foi realizado por uma empresa
especializada. As bases originais que haviam sido retiradas da entrada e
encontravam-se dispersas pela Quinta da Boa Vista, foram localizadas
69
e
recuperadas, permitindo que o meteorito fosse posicionado o mais próximo
possível de sua posição original no Museu. Ao término do trabalho, o ‘Bendegó’
estava novamente exposto no mesmo local em que foi colocado no final do
século XIX. As figuras 18 e 19, a seguir, apresentam as imagens do transporte
do meteorito
68
As impressões da viagem de Albert Einstein a América do Sul estão contidas no livro de
autoria de Alfredo Tolmasquin, Einstein: o viajante da relatividade na América do Sul. Rio
de Janeiro: Veira e Lent Casa Editorial Ltda, 2003.
69
O transporte foi efetuado gratuitamente pela empresa Atlantis e as bases foram identificadas
pelo museólogo da instituição João Carlos Ferreira.
107
Imagem da retirada do meteorito de sua base em concreto em 2005
Seção de Museologia do Museu Nacional
Imagem da colocação do meteorito em suas bases originais em 2005
Seção de Museologia do Museu Nacional
No hall atual, juntamente com o meteorito, estão até o presente momento
expostos um peixe fóssil da espécie Lepidotes roxoi Santos,1953 (DGM 423-P
Holótipo), e um quadro - óleo sobre tela - de autoria de José Boscagli
retratando o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865 – 1958). Um
outro quadro, colocado na lateral direita da entrada – óleo sobre tela - de
autoria de Décio Vilares retrata o Chefe dos indígenas Uaupés, corpo inteiro de
pé, usa cinto de penas, braçadeira, colar de dentes, colar de frutos (à
bandoleira) e cocar de penas coloridas. Esta obra figurou na Exposição
Antropológica de 1882.
As figuras 20 e 21, a seguir, mostram a atual
108
configuração do hall das exposições de longa duração do Museu Nacional após
a reforma de 2005.
Figura 20- Imagem atual do hall de entrada atual do Museu Nacional com o meteorito
de Bendegó ao centro.. Seção de Museologia do Museu Nacional
Figura 21- Imagem atual do meteorito em suas bases originais no hall de entrada
do Museu Nacional em 2008. Seção de Museologia do Museu Nacional
Novas parcerias de financiamento resultaram nas exposições de longa
duração de diferentes temáticas: Evolução Humana, Arqueologia Greco-
Romana, Arqueologia Pré-Colombiana, Paleontologia e Etnologia Indígena.
Em todas essas exposições a arquitetura do Paço foi considerada. Foram
reabertos arcos e algumas janelas originais que haviam sido fechadas, as
exposições ao serem montadas já previam essas interlocuções entre as salas e
a vista da Quinta da Boa Vista remetendo ao período em que o Palácio era
ocupado pela monarquia brasileira.
109
Decorrentes desse processo de revitalização, várias exposições foram
inauguradas. A exposição intitulada “Culturas Mediterrâneas”, composta pelo
acervo doado pela Imperatriz Tereza Cristina, foi estruturada visando a
exibição do acervo não mais pelo tipo de material (bronzes, cerâmica, vidros),
mas pela utilização na vida cotidiana Greco-Romana.
As denominadas culturas Pré-Colombianas estão apresentadas em três
salas, que apresentam núcleos sobre os tipos de mumificação da América do
Sul, cerâmica e metalurgia. A atual exposição de Paleontologia representou um
desafio logístico, já que o conjunto composto por esqueletos de preguiças
gigantes, que se encontrava no centro do espaço desde as reformulações
expositivas da metade do século XX e que permanece como sala de entrada
do circuito, teve que ser movimentado para uma melhor estruturação narrativa,
gerando reflexões acerca desse material como elemento simbólico institucional,
em especial de suas exposições.
Em novembro de 2008, foi inaugurada a nova exposição de Etnologia
Indígena que busca representar os diferentes grupos indígenas. A nova
exposição é estruturada a partir da coleção etnográfica da instituição,
destacando máscaras rituais do grupo Tikuna que não haviam sido expostas
anteriormente.
A instituição continua a implementar progressivamente o projeto de
construção de quatro prédios anexos – um para cada Departamento - que ficou
a cargo do arquiteto Glauco Campello. Atualmente, estão em fase de
conceituação os projetos que contemplam as coleções dos Departamentos de
Entomologia e Invertebrados. Para atender a demandas espaciais para
exibição dessas coleções, parte do circuito será alterado, pretendendo-se uma
integração com as exposições de mamíferos taxidermizados brasileiros e
estrangeiros. Assim como a parte do circuito correspondente à paleontologia,
esta seção também possui objetos de grandes dimensões físicas , como um
elefante – que teve sua pele doada ao Museu em 1900 - e um esqueleto de
baleia.
Desde 2007, o Museu Nacional possui uma exposição itinerante intitulada
‘‘Tesouros do Museu Nacional’’ que visa estender ao maior número de pessoas
possíveis os ‘tesouros’, aqui considerados como preciosidades capazes de
impressionar, desta instituição. Estes são coniderados riquezas que a natureza,
110
por um lado, e o trabalho e o pensamento da humanidade, por outro, tornaram
possíveis ou disponíveis (DUARTE, 2007). Uma das reproduções
bidimensionais em tamanho natural refere-se ao Meteorito de Bendegó,
revelando que, mesmo nos dias atuais, este permanece sendo um item
simbólico deste museu.
Atualmente, o Museu Nacional é uma instituição pertecente aos quadros
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, sua estrutura organizacional
divide-se em duas vertentes : acadêmico-científica e técnico-administrativa.
Possui seis Departamentos : Antropologia, subdividido em Arqueologia,
Antropologia Biológica, Antropologia Social, Etnologia e Linguística ; Botânica,
composto pelos Setores do Herbário, Anatomia, Biologia Reprodutiva de
Angiospermas, Etnobotânica, Ficologia, Palinologia e Taxonomia ; Entomologia
que se subdivide em Orthoptera, Lepidóptera, Apterygota, Blattaria, Coleóptera,
Diptera, Hemíptera, Hymenoptera e Insetos Aquáticos ; a Geologia e
Paleontologia é composta pela Meteorítica – responsável pelos estudos
relativos ao Bendegó – pela Mineralogia, Petrografia, Paleobotânica,
Paleopalinologia, Paleoinvertebrados, Paleovertebrados e pelo Laboratório de
Geologia Costeira e Sedimentologia ; o Departamento de Invertebrados e
subdivide-se em Aracnologia, Carcinologia, Celenterologia, Malacologia,
Porífera e Equinoderma ; o Departamento de Vertebrados dividide-se em
Herpetologia, Ictiologia, Mastozoologia e Ornitologia.
Áreas como a Museologia, Assistência ao Ensino e Memória e Arquivo,
pertencem à vertente técnico-administrativa. Definidas como Seções, sua
função é dar suporte às atividades de pesquisa e ensino, de exposição e de
preservação do patrimônio institucional.
Esse meteorito é uma das muitas peças do Museu Nacional que
permitiriam essa abordagem. Por ser uma instituição criada em 1818, com uma
trajetória importante e elemento integrante da criação da nacionalidade
brasileira, acreditamos que todas as reflexões acerca de suas coleções e
exposições suscitam reflexões acerca dos patrimônios brasileiros.
O acervo do Museu Nacional/UFRJ é composto atualmente de cerca de
vinte milhões de peças. Tal número foi contabilizado durante o Projeto de
Preservação das Coleções Científicas com apoio da Fundação Vitae, que
111
possibilitou a higienização, reorganização e reacondicionamento de todo o
acervo coletado ao longo de seus 191 anos de existência.
Durante o século XX, as preocupações científicas foram estruturadas a
partir da preocupação com a legitimação da heterogeneidade racial como
riqueza cultural e, a partir de sua incorporação ao Ministério da Educação e
Saúde, com o redescobrimento do povo brasileiro por meio da constituição de
coleções e a construção de patrimônios que seriam reconhecidos como
nacional.
O período do Estado Novo foi marcado por uma nova orientação em
busca de uma identidade nacional por meio da construção de narrativas
visando uma unidade nacional e a promoção da idéia de nação. As
transformações político-ideológicas posteriores configuraram a instituição como
espaço primordialmente de construções discursivas focadas na cientificidade.
Atualmente o Museu Nacional está inserido em um processo de
revitalização de suas exposições que decorre da constatação de um
desvalimento da instituição, sendo necessário um acionamento discursivo
visando reforçar, por meio da história da instituição, sua contribuição na
construção da idéia de nação.
112
CONSIDERAÇÕES GERAIS
113
(...) prefiro avançar, mesmo depressa, arriscando
cair, deixando certas fraquezas - mas quem não as
comete, a certa altura, mesmo entre aqueles que
tomam todas as cautelas para não as cometer? -
(...) prefiro a invenção acompanhada do perigo de
erro à segurança rigorosa, paralela ao risco de
imobilidade, tanto na filosofia como na vida, ou na
vida como nas ciências
(Michel Serres, 1996).
A identificação da anteriormente denominada “pedra” como um meteorito
por uma Sociedade européia de Geologia no século XIX marcou sua inserção
nos “discursos” da ciência. Toda uma “formação discursiva” a partir dessa
classificação culminou em seu transporte para o Museu Nacional em 1888.
Dos diversos fatores que contribuíram para a escolha desse museu
podem ser ressaltados o destaque internacional que o meteorito já obtinha na
comunidade científica, sendo por alguns anos o maior aerólito exposto em um
museu no mundo, a representatividade da instituição como principal espaço de
pesquisa científica à época, o pertencimento simultâneo de algumas das
personalidades que articularam essa transferência aos quadros da instituição e
da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
O Museu Nacional funcionou como consultor governamental para
assuntos de geologia, mineração e recursos naturais no século XIX. Possuía
um laboratório de análises e suas amostras eram utilizadas como orientação
para viagens. Diretores como José da Costa Azevedo, João da Silveira
Caldeira, Custódio Alves Serrão, Frederico Leopoldo Cezar Burlamarqui,
possuíam conhecimentos químicos, mineralógicos e geológicos. Todos
dirigiram a Seção de Geologia do museu. A alocação do Bendegó no hall de
entrada da instituição posteriormente, foi também influenciada inicialmente pela
relevância da Geologia nos quadros institucionais.
Uma análise acerca do hall onde o meteorito permaneceu por muitas
décadas faz-se pertinente. Este primeiro espaço, por onde todos os visitantes
passam ao entrar no museu, representaria discursivamente a instituição,
sintetizando-a
, porém não se encontra inserido nas estruturas narrativas
expositivas.
Em diversos museus de história natural há um objeto de grandes
dimensões nos locais próximos da entrada, que de certa forma configuram
“formações discursivas” acerca dessas instituições. No caso do Museu
114
Nacional, o Bendegó representaria a potencialidade de produção científica ao
mesmo tempo baseada nos princípios universais da ciência e voltada para uma
formação discursiva acerca da nação. Neste hall pode ser percebido o ideal de
totalidade presente na formação dos acervos dessas instituições, apresentando
desde elementos oriundos do cosmos até artefatos representativos da cultura.
Na formação discursiva institucional acerca da nação, é possível
investigar também os ocultamentos dos significados acerca do meteorito de
Bendegó que não são acionados neste processo. Em um primeiro momento
podemos questionar até que ponto poderíamos considerar como patrimônio
cultural o obelisco que marcava o início dos trabalhos do transporte e foi
destruído alguns anos após o fim da marcha, tendo sido concebido pelos que o
construíram na época, sem qualquer relação com o cotidiano local. Na
verdade, o marco possuiu um sentido para aqueles que formavam a expedição
e que representavam o pensamento da SGRJ e dos cientistas que valoravam
este transporte. Um outro sentido construído pelo grupo local, onde aspectos
negativos focados na ausência do meteorito foram agregados ao obelisco, que
de certa forma já representava a ausência de meteorito do local, acabaram por
culminar em sua demolição.
Os parafusos e restos do primeiro carretão, bem como o carro projetado
por José Carlos Carvalho anos mais tarde, que tecnologicamente possibilitou
que o aerólito fosse retirado do sertão da Bahia e levado até a estação de trem
de Jacuricy e embarcado posteriormente em um navio para o Rio de Janeiro
não estão expostos com o meteorito. Tal perspectiva nos remete a um
ocultamento discursivo dos elementos relativos à produção tecnológica, vistos
como obsoletos, em detrimento da estruturação de uma formação discursiva
onde o que será destacado é o meteoro em si, a informação de cunho
científico, acionada como elemento legitimador dos discursos da nação.
Buscamos nesse estudo apresentar as diferentes condicionantes que
contribuem para a “formação discursiva” acionada pelo Museu Nacional no que
tange ao meteorito de Bendegó. Ressaltamos inicialmente os valores que
permearam seu destaque e acionaram os mecanismos relativos ao seu
deslocamento para Rio de Janeiro, os quais se encontravam baseados em
pressupostos científicos. Sua integração às coleções do Museu Nacional,
sendo assim musealizado, fez com que o objeto passasse a pertencer aos
115
horizontes daquilo que viria ser denominado mais tarde patrimônio histórico
nacional e, nesse caso em especial, patrimônio científico do Brasil. No
momento de sua incorporação ao museu, o país buscava simultaneamente
consolidar uma identidade nacional e a inserção nos denominados quadros das
nações desenvolvidas. As “formações discursivas” construídas em torno desse
objeto apresentaram características multidimensionais relativas às categorias
“Ciência”, “Natureza” e “Nação”, sendo utilizadas como enunciados na
elaboração de um discurso acerca da nação.
Ressaltamos que as “formações discursivas” são elementos relativos às
regras de formação do discurso e constituídas pela definição de regularidades,
permitindo explicar como os discursos aparecem e se distribuem (FOUCAULT,
2007).
Construídos nos quadros da modernidade ocidental, os museus de
ciência, incluídos aqui os museus de história natural como o Museu Nacional,
estruturaram-se a partir da dicotomia entre as categorias “natureza” e “cultura”.
Conhecer correspondeu a uma nova forma de classificar, organizar e entender
o mundo envolvente, sendo por meio de seus objetos, locais de
institucionalização dos “discursos” da ciência. Nestes espaços destinados à
história natural, o universalismo marcou a formação de seus acervos, baseados
na crença na possibilidade de constituição de uma totalidade. As formações
discursivas que se estabeleceram a partir de uma ordenação e classificação de
fragmentos buscaram representar uma realidade necessariamente maior e
mais complexa. Estas voltavam-se para a consolidação da idéia de nação,
partindo do pressuposto de que a posse de determinadas tipologias de objetos,
a realização de certas pesquisas científicas e a obtenção de certos
conhecimentos conformaram enunciados que, por meio da cientificidade,
visavam delimitar elementos identitários nacionais e inserir o Brasil no grupo
das nações avançadas, no denominado “concerto das nações”.
O Museu Nacional, assim como os demais museus de história natural,
tiveram seu perfil consolidado no século XIX e não se restringiram apenas a
coletar, pesquisar, preservar e expor elementos oriundos da “natureza” e
“cultura”, mas objetivaram exprimir ao mesmo tempo os valores da
universalidade científica e da particularidade nacional exercendo sobre os
116
discursos um poder de coerção em que a única verdade seria aquela oferecida
pelas instituições das quais esses museus faziam parte.
A nação - categoria portadora de heterogêneos significados e sentidos –
aqui entendida como “comunidade política imaginada”, possui em seus mitos,
costumes e línguas elementos iniciais que ganham força por meio da repetição
e difusão, sendo importante entender de que forma esse processo de
imaginação se estabeleceu e quais as instituições – nesse caso sendo possível
a inclusão dos museus - envolvidas nesse processo (ANDERSON, 1989).
A concepção de nação como um espaço cujos limites estão relacionados
aos contornos de um campo de comunicação, ao compartilhamento de
referentes semelhantes, remete de certa forma ao papel desempenhado por
essas instituições museológicas no que tange à formação do imaginário sócio-
cultural, que no caso brasileiro relaciona-se a um discurso hegemônico voltado
para a contenção das alteridades e fixação de identidades.
Instituições como o Museu Nacional, onde o meteorito de Bendegó se
encontra, são pontos de interseção de uma complexa interrelação entre
ciências ‘naturais’ e ciências ‘antropológicas’. Suas coleções e exposições são
formadas por elementos da esfera cosmológica, biológica e cultural humana e
de certa forma podem ser considerados locais de suporte ou substância para
questionamentos acerca dos discursos: no caso deste estudo, quem classificou
o meteorito? Qual seu status e qual seu direito de proferir um discurso? Por
que ele foi transportado para o Museu Nacional? Quais as “formações
discursivas” que envolveram esse processo e quais foram estruturadas após
sua musealização? Essas questões permitem observar as dispersões nas
“formações discursivas” e as diferentes posições que se pode ocupar no
exercício do discurso.
Por esta razão, procuramos refletir sobre os processos de coleta e
incorporação de objetos às suas coleções. Podem ser destacadas as
mudanças radicais dos contextos originais desses objetos quando eles são
coletados e os significados atribuídos no momento de sua “descoberta” por
seus coletores que podem perdurar por sua trajetória museológica, porém, em
muitos casos, são apenas o primeiro de uma série de trocas significativas que
estão relacionadas às “formações discursivas” institucionais onde os objetos
117
são inseridos, focando-se nas suas condições de existência, por meio do que
foi dito, como e por quem foi dito.
Destaca-se a formação de discursos cientificizados, não importando como
os objetos foram musealizados, seu processo de incorporação e contextos de
coleta. O que se ressalta é a informação de cunho científico que esses objetos
representam. Não são destacados os processos de coleta, quem foram os
coletores ou doadores, mas sua classificação científica. Em alguns casos, as
legendas de determinadas espécies expostas nesses museus não informam
quando aquele animal foi coletado ou incorporado às coleções da instituição,
apenas quem classificou e o referido ano. No caso do Bendegó, os nomes dos
responsáveis pelo transporte estão apenas gravados nas bases do objeto, sem
nenhuma contextualização acerca do transporte.
O que se destaca então neste estudo é a prevalência de “formações
discursivas” – estruturadas por unidades do discurso que não são definidas
pelo objeto a que se referem, mas pelas construções do que se disse a seu
respeito - cientificizadas e cientificizantes, voltadas para a elaboração de um
discurso onde a ciência é construída como verdade. Buscamos perceber não
as etapas terminais do discurso, mas os sistemas que tornaram possíveis as
formas sistemáticas do discurso (FOUCAULT, 2007).
Não podemos deixar de ressaltar que durante algumas décadas o
meteorito foi inserido em uma narrativa expositiva científica estruturada a partir
do conhecimento gerado na instituição. A exposição que versa sobre
meteorítica foi inaugurada após as reformas expositivas que marcaram a
instituição a partir da segunda metade do século XX. Ao ser deslocado onde se
encontra atualmente, o objeto saiu de seu contexto científico e foi re-inserido
em um discurso relacionado com uma tradição expositiva institucional,
buscando uma representação de seu papel na construção da idéia de “nação”
pela via da ciência.
Por ser uma peça “natural”, extra-terrestre, sua exposição exemplificaria
os processos de pesquisa de informação científica de valor universal. Assim,
sua exposição estaria relacionada a significados que interligariam sua
excepcionalidade, monumentalidade e nacionalidade. Sua apresentação no
“hall” nos permite compreender um intenso investimento simbólico que no
século XIX serviu para a construção da idéia de nação. Informações acerca de
118
sua origem no espaço, suas proporções, os aspectos tecnológicos que
permearam seu transporte para o Rio de Janeiro, ter sido considerado durante
alguns anos o maior meteorito em um museu no mundo, de certa forma
encontram-se relacionadas com sua excepcionalidade, com o que distingue
esse meteorito de outros aerólitos, inclusive de proporções maiores, expostos
em outros museus.
A forma como foi exposto no espaço de entrada do Museu Nacional sobre
bases desenhadas em estilo neoclássico e esculpidas em syenito róseo com
inscrições acerca de seu transporte e sua classificação científica, nos remete à
utilização de sua monumentalidade como “formação discursiva” acionada na
legitimação da ciência, a partir de suas bases universais e como um dos
enunciados integrantes da construção local da idéia de nação.
É possível identificar na reestruturação do hall ocorrida no ano de 2005,
local para onde o Bendegó retornou, uma tentativa de recuperar a antiga
relevância da instituição para os quadros da ciência no Brasil. Por intermédio
da materialidade, compõem com o Bendegó esse espaço, um fóssil de peixe e
quadros da “Exposição Antropológica de 1882”, buscando-se remeter a um
momento institucional em que, influenciada pelos ideais de totalidade, a
universalidade e a nação encontravam-se ali representadas.
A representatividade do Bendegó como elemento simbólico institucional
também pode ser observada nas diversas imagens em que personalidades que
visitaram o museu foram registradas nesse mesmo espaço de entrada, como
por exemplo: Albert Einstein (fotografado em sua passagem pelo Rio de
Janeiro em 1925 ao lado do meteorito), Santos Dumont e o Marechal Rondon,
(fotografados na porta de entrada do museu com o hall ao fundo). Em 1928
uma imagem de José Carlos Carvalho e Roquette Pinto junto ao ‘Bendegó’ foi
registrada em ocasião do lançamento do livro do Vice-Almirante e dos quarenta
anos do transporte do aerólito para a capital do Império.
Após a inserção da instituição no Ministério da Educação durante o
Estado Novo, o museu também fez parte do contexto de reformas no ensino e
da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN)
sendo um lugar de excelência nessa construção da idéia de nação. Porém
neste momento, destacava-se seu caráter de locus dos debates acerca dos
estudos etno-raciais. As referências ao perfil antropológico delimitado nesse
119
momento encontram-se representadas pelos demais objetos que compõem o
hall do museu, mas cabe destacar que o Bendegó permaneceu no centro deste
espaço.
No que tange à construção de “discursos”, estes são formados a partir da
estruturação e relação das “formações discursivas” que encontram nos
enunciados seus núcleos básicos. Ao priorizarmos o meteorito de Bendegó do
Museu Nacional / UFRJ, aqui entendido como um enunciado, este estudo
buscou refletir acerca das “formações discursivas” que, interrelacionadas,
contribuíram para a construção de “discursos” voltados para a consolidação da
idéia de nação, entendendo a incorporação do meteorito de Bendegó às
coleções desse museu e sua exposição no hall – síntese do sentido profundo
da instituição, espaço do Cosmos, da Bio e da Cultura – como uma forma de
remeter a uma particularidade da nação constituída a partir dos pressupostos
universais da Modernidade Ocidental.
120
REFERÊNCIAS
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130
ANEXOS
131
Planta atual do primeiro pavimento do Museu Nacional com a identificação do hall de entrada
onde o Meteorito de Bendegó foi exposto a partir de 1900, após a adaptação do Paço para
museu, até 1950. Permaneceu na sala de exposição de meteoritos até 2005 quando foi
realocado novamente no hall.
132
Ofício 791 de 17/12/1886 emitido pelo Palácio da Presidência da Província da Bahia para
o Diretor Geral do Museu Nacional.
133
Oficio 57 de 13/06/1887 da Secretaria d’Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio
e Obras Públicas para o Diretor Geral do Museu Nacional
134
Ofício 81 de 12/08/1887 da Secretaria d’Estado dos Negócios da Agricultura, Commercio
e Obras Públicas para o Diretor geral do Museu Nacional
135
Auto de Recebimento do Meteorito de Bendegó no Museu Nacional do Rio de Janeiro,
assinado por José Batista de Lacerda / Diretor Interino; Orville Derby / Diretor da 3ª.
Seção e Francisco José de Freitas / Sub-diretor da 3ª. Seção em 6/11/1888
136
Auto de Recebimento do Meteorito de Bendegó no Museu Nacional do Rio de Janeiro,
assinado por José Batista de Lacerda / Diretor Interino; Orville Derby / Diretor da 3ª.
Seção e Francisco José de Freitas / Sub-diretor da 3ª. Seção em 6/11/1888
137
138
Relatório do Ministério da Agricultura do ano de 1888. p.46 e 47
139
Ofício 82 remetido pelo Diretor Interino do Museu Nacional ao Ministro e Secretário de
Estado da Justiça e Negócios Interiores em 15/06/1893
140
Relatório do Ministério da Justiça e Negócios Interiores de 1893. p.47.
141
Ofício 114 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores solicitando a confecção das
bases do Meteorito de Bendegó com o syenito róseo trazido da Bahia para tal finalidade.
142
Ofício 114 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores solicitando a confecção das
bases do Meteorito de Bendegó com o syenito róseo trazido da Bahia para tal finalidade.
143
Ofício n°3158 de 22/09/1893 da Secretaria de Justiça e Negócios Interiores acerca da
duplicata do transporte do meteorito de Bendegó para o Museu Nacional.
144
Relação de contas apresentada pelo Agente Tesoureiro do Museu Nacional ao fiscal do
Conselho Administrativo em 05/10/1893 que inclui o gasto com o carreto do Bendegó.
145
Aviso n°562 de 27/08/1895 do Ministério da Justiça e Negócios Interiores ao Diretor do
Museu Nacional
146
Carta do Secretário do Museu Nacional solicitando a confecção e colocação de placas de
bronze com inscrições nas bases do Meteorito de Bendegó.
147
Recibo de 19/06/1950 constando, dentre outros serviços, a confecção de duas bases de
concreto para meteoritos.
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