
acordo entre Mussolini e o Vaticano no período após a I Guerra Mundial
13
e no tratamento
pouco mais que diplomático concedido ao Vaticano.
Contudo, diante do processo de globalização, a religião tem surgido como indicadora
de referentes globais como a ética e a ecologia, questões representativas no cenário mundial.
A declaração do Parlamento das Religiões Universais, realizado em Chicago, no ano de 1993,
conclui que, diante do estado de crise generalizado que assola o mundo atual e face à
complexidade de resolução dos problemas, as religiões universais teriam um papel
fundamental na elaboração de um consenso planetário na constituição de uma ordem global
relacionada a uma ética global. A ecologia surge também como um importante referente
adotado por religiosos.
14
Para estes, a integração homem-natureza ou a ação planetária para
salvaguardar a Terra é um paradigma em torno do qual seria possível reorganizar atitudes e
condutas em escala global. “Ética e moral, preocupações antigas, são recuperadas em termos
mundializados” (idem, p. 146).
A assim chamada “sociedade industrial” é aquela na qual, segundo os pós-modernos, a
racionalidade tecnocientífica substitui a religião na interpretação da realidade,
15
posto que o
conhecimento, desde os iluministas, é descoberto pelo homem, enquanto que, para a Igreja,
ele é revelado por Deus (D
ORNELES
, 2008, p. 39, grifos do original). Em que pesem as
tentativas de pensadores e cientistas de isolar a religião da sociedade atual,
16
o que
contribuiria para a constituição de um metarrelato humanista-científico totalizante,
17
outros
estudiosos ressaltam que o pensamento pós-moderno introduz novos processos de reflexão: “o
valor do afeto ante o racional, do pensamento analógico ante o analítico, do parcial ante a
totalidade” (H
OUTARD
, 2003, p. 100), ou segundo o citado Robles, do discurso da intuição em
maior atuação que o da razão.
13
Segundo Ortiz, “essa complementaridade de interesses” demarca “a exterioridade entre poder religioso e poder
secular, garantindo a este último melhores condições para negociar e impor sua autoridade” (2006, p. 133).
14
Sobre a declaração do Parlamento das Religiões Universais cf. A global ethic: the declaration of the
Parliament of the World Religions, New York: Continuum, pp. 18-19; sobre religião e ética universal cf. R.
Mancini et alii, Éticas da mundialidade: o nascimento de uma consciência planetária, S. Paulo: Paulinas, 2000,
e também Hans Kung, Uma ética global para a política e a economia mundiais, Petrópolis: Ed. Vozes, 1999;
sobre religião e ecologia cf. Leonardo Boff, Ecologia, mundialização e espiritualidade, S. Paulo: Ática, 1993, e
ainda Porta-voz vaticano: Importantes chamados do Papa pela proteção da criação. Disponível em
<http://www.zenit.org/article-16211?l=portuguese>. Acesso em 12 mar. 2008.
15
Ver H
OUTARD
, 2003, p. 98.
16
Livros recentes, como Deus, um delírio, de Richard Dawkins, e Deus não é grande, de Christopher Hitchens,
ambos lançados no Brasil em 2007.
17
Segundo John Carroll, o legado humanista “tentou substituir Deus pelo homem, colocar o homem no centro do
universo, divinizá-lo. Sua intenção era instituir uma ordem humana na terra... uma ordem inteiramente humana”
(apud B
AUMAN
, 1998, p. 193). Ver também F
ERRY
, Luc. O homem-deus ou o sentido da vida (Rio de Janeiro:
Difel, 2007).