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desejado poema’’ e “Entre a inocência / dos dedos do menino / e o revólver / na mão do
assassino, / há sempre um espaço / de nada, / um trágico destino. (...)”, que, por exemplo,
revelam instantes da mais sublime expressão de sensibilidade para a investigação da natureza
humana, quando revela a alma do homem em busca de si mesmo diante do trágico destino de
viver as contingências de um mundo hostil. Assim, consideramos que a poesia de Cecília
Meireles, que os críticos por vezes consideraram de delicada classificação, exerceu influência
na poesia de Valdelice Pinheiro, levando-nos a reconhecer nela forte influência da corrente
simbolista ou espiritualista para construir uma poesia representativa consoante ao seu tempo
literário.
Em Breve panorama da poesia baiana no século XX, de Assis Brasil, a poesia de
Pinheiro aparece como pertencente ao Segundo Tempo Modernista. Entretanto, se fizermos
uma avaliação mais aprofundada, perceberemos que a poeta itabunense inaugura-se sob a
regência desse tempo, mas estende-se à contemporaneidade, em termos cronológicos, quanto
ao estilo, utilizando-se de diversos estilos e tendências do seio do próprio Modernismo para
revelar as vicissitudes do seu tempo.
No estado da Bahia, porém, antes da estréia de Valdelice Pinheiro, Jacinta Passos
(1914-1973), de Cruz das Almas, ecoava uma lírica repleta de conteúdo político-social, e
Elvira Föeppel (1923-1975), de Canavieiras, mas crescida em Ilhéus, com sua prosa-poética,
imprimia a temática existencialista, formando um elo de diálogos, no qual está inserida a obra
de Valdelice Pinheiro. Essas poetas, emergidas num momento de efervescência cultural no
Brasil, apesar de enfrentarem uma sociedade com raízes patriarcais, definiam-se no campo
artístico pelo exercício da literatura voltada para a definição da condição humana.
Com a publicação de Pacto, em 1977, encontramos o segundo momento de expressão
de Pinheiro. Aqui, o Modernismo Brasileiro, de 1970 a 1980, com sua diversidade de
propostas estéticas, continuava com o convívio da vigência das vanguardas poéticas da
Geração de 45, somadas com a poesia discursiva sobre o cotidiano das grandes cidades, a
chamada “geração mimeógrafo”, a poesia marginal e podemos acrescentar também a invasão
da cultura pop global-local.
A reação contra a poesia disciplinada, liderada pela poesia marginal dos anos 70,
retoma, de certa forma, o caráter dos primeiros anos do Modernismo brasileiro. Os nomes de
Ana Cristina César, Cacaso, Paulo Leminski, Chico Alvim, Sebastião Uchoa Leite, Adélia
Prado, Torquato Neto, Armando Freitas Filho, Waly Salomão, Chacal, Leila Micolis, Roberto
Piva, Afonso Henriques Neto, Carlos Saldanha, Ângela Melim, Geraldo Carneiro, Leonardo
Froes, Hilda Hilst, Roberto Schwarz, Silvano Santiago, entre outros e outras, desenharam