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considerações de Stylianopoulos nos estudos mais recentes a respeito do Diálogo,
consideramos oportuno fazer uma análise mais aprofundada da hipótese de destinação
da obra de Justino.
Os estudiosos do cristianismo antigo têm se dividido a respeito de qual público
seria o destinatário pretendido por Justino na elaboração de seu Diálogo. Stylianopoulos
(1975, p. 10,11,22) defende que os hebreus, os pagãos e os marcionitas
1
, constituíam o
alvo da mensagem doutrinária do autor do Diálogo. E. R. Goodenough (1923, p. 96ss.)
apud Stylianopoulos (1975, p. 11) opina que o Diálogo foi endereçado a cristãos ou
pagãos devido a sua ênfase inicial da superioridade da revelação cristã sobre a filosofia
helênica. De modo semelhante, Niels Hyldahl (1966, p. 20,294) apud Stylianopoulos
(1975, p. 11) afirma que os leitores almejados por Justino eram cristãos ou pagãos, mais
provavelmente pagãos interessados em filosofia e religião. Allert (2002, p. 61) concorda
com Stylianopoulos sobre o público e a intenção do texto – dirigido a judeus com fins
de proselitismo – entretanto, por tratar-se de obra escrita no seio da comunidade cristã,
seus leitores óbvios também seriam os cristãos. Allert também considera que Justino
pode ter focado os judeu-cristãos, bem como os cristão-gentílicos.
Outro autor que também discorre sobre a destinação do Diálogo é David
Rokéah, que a esse respeito a analisa em duas obras: Jews, Pagans and Christians in
Conflict, de 1982 e Justin Martyr and the Jews, de 2002. No primeiro livro mencionado,
1
Seguidores do teólogo Marcião de Sinope, excomungado por heresia da comunidade cristã de Roma em
144. Após sua exclusão do cristianismo normativo, fundou diversas comunidades próprias. Sua doutrina
era basicamente marcada por uma distinção entre o Deus das Escrituras hebraicas, e o Deus, pai de Jesus
Cristo. O primeiro foi caracterizado como o criador do universo e da humanidade. Entretanto, foi tido
como cruel, volúvel e mesquinho, embora não necessariamente mau,uma vez que ordenava preceitos de
justiça. O segundo Deus, o pai de Jesus, por sua vez, foi caracterizado como exclusivamente benigno.
Mesmo não possuindo qualquer vínculo com a humanidade, se dispôs a redimir os homens de seus
pecados por meio da morte de seu Filho, Jesus. Como corolário dessa crença, Marcião repudiou toda a
Bíblia hebraica, assim como todos os textos cristãos por ele raptados como “judaizantes”, isto é,que
ligassem de alguma forma Jesus, ao Deus das Escrituras. As únicas obras consideradas Escrituras por
Marcião, foram: o Evangelho segundo Lucas e as cartas paulinas (Gálatas, As duas Aos Coríntios, ambas
Aos Tessalonicenses, Aos Efésios, Aos Colossenses, Aos Filipenes e A Filemom), mesmo assim,
devidamente editadas de todo o conteúdo “judaizante” (Aland in Berardino, 2002, p. 881-882).