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ao desejo da mãe
24
. É assim que a mãe
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é posta no lugar central da psicose,
pois é ela quem funda o pai, a lei do pai
26
, a impossibilidade da transgres-
são, colocando a criança em segundo plano, porque seu desejo, de mulher,
se volta a outra pessoa
27
. Isso gera um lugar
28
, em primeiro plano, para que
a figura masculina, o pai real, mais tarde, possa ocupar e ajudar a criança
(não-psicótica) a elaborar o luto do pai ideal (pai idealizado pelo/a filho/a)
e a manter a repressão ao ter o seu desejo voltado, em primeiro lugar, para
outra pessoa (enquanto homem desejante - não pai), que não o/a filho/a.
Isso introduz a diferença entre as gerações, que é a “função do interdito
do incesto” (JULIEN, 1999, p. 40). Se a criança ocupa esse lugar primeiro
do desejo da mãe, não há para seu inconsciente a inscrição da lei, que é a
lei do pai, nem tampouco a certeza do pai; é nesta angústia que a loucura
se insere: “O pequeno Hans tem uma mãe maravilhosa; mas é a angústia.
É a angústia no lugar da proximidade entre a mãe e a criança, quando não
há uma dimensão terceira, triangular” (JULIEN, 1999, p. 36). Assim, a
criança ocupa o lugar do desejo da mãe; ela, metaforicamente, torna-se o
falo e não apenas deseja sê-lo: aí está sua psicose.
Portanto, a loucura surge primeiro por a mãe ser uma mãe desejante
e não mulher desejante, ao tornar o/a filho/a alvo primeiro de seu desejo,
e depois pelo pai que torna o/a filho/a alvo primeiro de seu desejo – assim
o que a psicanálise mostra é que “a conjugalidade funda a parentalidade”
(JULIEN, 1999, p. 40), e não o inverso.
Com isso, se a loucura pode relacionar-se com o delírio, é porque na
sua origem está a ausência da lei, o significante Nome-do-pai, pelo seguin-
te motivo: a mãe que, sobretudo, deseja seu filho. Talvez então se possa
24 A metáfora paterna tem “ uma função estruturante, na medida em que é fundadora do sujeito
psíquico como tal. Assim também, se alguma coisa fracassa no recalque imaginário, a metáfora paterna
não advém” (DOR, 1992, p. 96). Dessa maneira, a forclusão do Nome-do-Pai no Outro constitui “a
ausência que dá à psicose sua condição essencial, com a estrutura que a separa das neuroses” (Lacan
apud DOR, 1992, p. 98), comprometendo gravemente “para a criança o acesso ao simbólico, barrando-
lhe mesmo essa possibilidade (DOR, 1992, p. 98).
25 Vale lembrar que, em Psicanálise, tratam-se de posições de mãe, pai, lho, ocupadas por sujeitos
do desejo. Além disto, em Foucault também, tem-se as posições de sujeitos que são constituídas me-
diante relações de poder.
26 A lei do pai “enquanto imaginariamente concebida pelo sujeito como privando a mãe” (Lacan
apud DOR, 1992, p. 86)
27 A mãe reconhece a lei do pai como “o que mediatiza o desejo que ela tem de um objeto que não é
mais a criança, mas que o pai é suposto ter ou não ter” (DOR, 1992, p. 86)
28 Denitivamente não se trata de considerar sujeitos como, por exemplo, mãe ou pai, mas sim posi-
ções de sujeitos, lugares que diferentes indivíduos podem ocupar e se constituírem como determinados
sujeitos (mãe, pai, lho...). Assim, para Foucault (1968), “as posições do sujeito se denem igualmente
pela situação que lhe é possível ocupar em relação aos diversos domínios ou grupos de objetos”(p. 59),
sendo que “um único e mesmo indivíduo pode ocupar, alternadamente, em uma série de enunciados,
diferentes posições e assumir o papel de diferentes sujeitos” (p. 107).