
de Nova Iguaçu. Esta área é a de maior agitação noturna da cidade,
principalmente na quadra onde se encontra a boate Arena, na região apelidada de
“rua da lama
24
”, atraindo público não somente de Nova Iguaçu, mas também das
áreas vizinhas como Mesquita, Belford Roxo, Queimados e até mesmo da Zona
Norte do Rio de Janeiro como Pavuna ou Madureira, já que, como disse
anteriormente, Nova Iguaçu atua como um dos núcleos da Baixada Fluminense.
Pizzarias e churrascarias com karaokê e música ao vivo são a principal atração
da região, que se completa com os bares − alguns também com karaokê e outros
só para se beber e, às vezes, beliscar. Durante o final de semana, sobretudo aos
sábados, a movimentação por esta região é caótica: as casas de comida espalham
suas mesas pelas calçadas, uma colada à outra, impedindo o trânsito dos
pedestres que, por sua vez, optam por caminhar parcimoniosamente pela rua,
desafiando a paciência daqueles que tomaram a decisão de ali chegar de carro −
o que, invariavelmente, origina um enorme engarrafamento. Acho necessário
explicitar que a “rua da lama” onde se localiza a boate Arena, constitui
basicamente um espaço heteronormado:
25
o público das churrascarias é
conformado, majoritariamente, por famílias e casais heterossexuais, e os bares e
pizzarias, por grupos de jovens entre 20 e 25 anos e casais heterossexuais de
diversas idades. Este dado adquire relevância na hora de se pensar a localização
de ambas as boates e a relação que isso guarda com o público que as frequenta.
A boate Plural, no entanto, localizada a umas cinco quadras da rua da Lama
permanece às margens deste point noturno da região.
24
A denominação rua da Lama aparece igualmente em outras áreas da cidade. A quadra onde
está localizada a boate Papa G, em Madureira, recebe esse mesmo nome, e a região onde se
encontrava o já extinto bar Tamino, em Botafogo, também era referida desse modo. Essas duas
últimas áreas da cidade caracterizavam-se por ser espaços considerados GLS, diferentemente do
que acontece em Nova Iguaçu. Infelizmente, não consegui achar referências bibliográficas, nem
explicações dos sujeitos ao longo do trabalho de campo, que permitissem esclarecer tal
denominação.
25
Utilizo a expressão heteronormado ou heteronormatividade em lugar de heterossexual para
referir-me a espaços ou situações em que a norma é estabelecida pela divisão binária entre
masculino e feminino, termo cunhado por Michael Warner, em 1991, na introdução ao livro Fear of
a Queer Planet. De todo modo, as origens do termo podem remontar tanto à conferência “A mente
hetero” (1978) de, Monique Wittig, quanto ao artigo “A heterossexualidade compulsória e a
existência lésbica” (1980), de Adrianne Rich, que analisam a heterossexualidade como uma
categoria construída politicamente e naturalizada pelo discurso científico como “dado” e
normalmente aceito. Essa categoria está presente em todas as instituições sociais que, desse
modo, a reproduzem: escola, trabalho, religião, legislação, família etc. Sendo assim, a
heterossexualidade constitui-se como norma ou molde dos comportamentos socioculturais dos
indivíduos, dividindo de forma binária as socializações em relação ao que se deva considerar
como masculino e feminino.
35