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apenas pelas autoridades, mas também pelo cidadão comum, cujos autores eram
homens de imprensa”.
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A ampliação da arena pública ocorreu de modo célere.
Em 1950, os periódicos piauienses mantinham características de um jornalismo de
transição, aproximando-se com avanços e recuos, de uma cobertura maior do cotidiano e
editoração, segmentada conforme temas gerais, tais como: política, cidade, esportes,
cultura e assuntos policiais. Até o momento, assuntos ligados a esses temas eram
cobertos, mas não havia espaços específicos de publicação, sagrados em páginas e
tamanhos determinados e invariáveis. Os assuntos flutuavam à margem gráfica, ao sabor
da composição que o editor julgava mais coerente. Isso gerava a quebra de textos, por
várias páginas, dificultando o estabelecimento de um contrato de leitura com o leitor.
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O jornalista Deoclécio Dantas,
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que começou a trabalhar em jornais impressos de
Teresina em 1955, aos 17 anos, lembra que o processo de seleção para os jornalistas
baseava-se em dois valores: o da boa redação e boa revisão. A princípio, o candidato era
convidado a revisar um texto, em que teria de encontrar os erros que o próprio editor
incluía. Aprovado nesta etapa, seguia para o teste redacional. Para o jornalista, a seleção
era bem-sucedida pela própria dificuldade de se fazer jornalismo impresso.
Era a redação que assegurava o acesso ou não da pessoa. Nesse tempo deu
certo. Dava certo porque na crise, na dificuldade, não tinha formação acadêmica,
não tinha faculdade, não tinha o curso e eram as pessoas no batente, como se
dizia na época, que faziam os jornais saírem. Elas terminavam se adaptando à
prática do jornalismo, fosse em rádio ou fosse em jornal e era assim que acontecia
a seleção. Tinha um secretário de redação que era, quase sempre, a pessoa que
orientava os trabalhos na redação. Os repórteres eram poucos naquele tempo,
então, o que cobria cidades, cobria política, polícia, economia, tudo. Enfim, não
havia a disciplina, a regra, o departamento. A coisa era muito improvisada e muito
difícil. Apesar disso, terminava dando certo, a necessidade terminava produzindo
bons valores. Nossas condições de trabalho eram muito precárias. Não tínhamos
condições materiais, no máximo um telefone. Nós não tínhamos comunicação
fácil. Fazíamos um noticiário do jornal nacional e internacional gravando as
emissoras de outros estados, principalmente, Rio de Janeiro e São Paulo, para
copiar o noticiário. E em plano internacional, a Voz da América e a BBC de
Londres. Era assim: gravava e depois copiava para dar forma àquilo e colocar no
jornal, porque não tinha agência, não tinha sistema. As tiragens de cada jornal
eram pequenas, não era acima de 600 exemplares por dia. Em 1968, quando
transcrevi a leitura do AI-5 no Jornal do Piauí, era tudo feito a mão. Nem linotipo
não tinha. Só O jornal O Dia trabalhava com linotipo. A composição manual era
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SAID, op. cit., 2001, p. 49.
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No resto do País, os jornais já seguiam a periodicidade diária, instaurando, a partir do Jornal do Brasil, a
estruturação empresarial e adotando o modelo norte-americano de produção de textos. Conforme CONTI,
Mário Sérgio. Notícias do Planalto. São Paulo: Companhia das Letras,1999. p. 43.
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O jornal O Dia, onde Deoclécio Dantas trabalhou como revisor, repórter e editor, chegou ao ano de 1955
usando o lema de órgão independente noticioso e político. Em obra sobre a ditadura e o jornalismo em
Teresina, afirma que a linha política do jornal variava conforme as circunstâncias, ganhando linhas editoriais
a partir do grau de intimidade do veículo com o poder. Mais detalhes: DANTAS, Deoclécio, op. cit., 2008. No
Brasil, somente nos anos 1970 são efetivamente estruturados os primeiros cursos de Comunicação Social
com a habilitação específica em Jornalismo. O Piauí, por sua vez, veio a contar com uma graduação desse
tipo apenas em 1984, quando é formada a primeira turma de alunos do curso de Comunicação Social.
Antes disso, a função social jornalística era abraçada por profissionais diversos.