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assinalou Fortes (2001), o fato de que fossem considerados “trabalhadores”, implicando
uma mentalidade de dedicação ao trabalho, com uma auto-restrição no consumo,
imdicando mobilidade social ascendente.
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Somava-se a isso uma percepção de que
seriam portadores de determinados valores morais e religiosos que se traduziriam numa
integração harmônica com os operários locais, com a constituição de uma vida
profissional e familiar disciplinada e regrada. Ainda que certos pressupostos se
confirmassem nas décadas seguintes, também haveria uma forte participação destes
trabalhadores nas manifestações organizadas nas minas, como se verá adiante.
244
243
Ver Fortes, 2001, p.117-131. Em sua pesquisa, o autor ressalta que esses valores eram atribuídos aos
“polacos” por contraste com uma representação negativa do trabalhador nacional.
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É interessante notar como, no caso francês, os poloneses, assim como os italianos, são evocados como
uma imigração “bem-sucedida” nas regiões mineiras, mas esta avaliação é usada para denotar desprezo
em relação aos marroquinos e argelinos, que não tinham as mesmas crenças católicas dos primeiros nem o
hábito de cultivar jardins. Neste sentido, Ponty (1995, p. 14) acentua que, em sua época, os poloneses
também foram considerados como uma imigração problemática. Delmas (2000, p. 73) refere-se ao “falso
debate” sobre a “boa imigração”, mostrando que esse discurso não é neutro, mas pretender opor novos
fluxos (marroquinos e argelinos, por exemplo) aos antigos (italianos e poloneses).
Os imigrantes estrangeiros no Estado
Em 1940, havia no Estado 14.250 poloneses (9380 residentes e 4870
naturalizados), com esta colonização ocupando a quarta posição, depois de alemães,
italianos e russos, segundo dados do Recenseamento do IBGE. Nesta época, o
município de São Jerônimo (que reunia os distritos de Arroio dos Ratos, Barão do
Triunfo e Butiá – onde se localizava a vila do Leão), com um total de 38.269
habitantes, reunia 871 estrangeiros, dos quais 178 eram naturalizados. Em 1950, o
número de poloneses no Estado havia baixado a 9.345, dos quais 1.535 eram
naturalizados e 7.810 estrangeiros. Nesta época, a imigração polonesa continuava na
quarta posição no ranking de estrangeiros no Estado, mas os uruguaios vinham na
primeira posição, seguidos de alemães e italianos, ficando os russos na quinta posição,
pouco acima dos portugueses, argentinos e espanhóis.
No Censo do IBGE de 1960, os poloneses ainda mantinham a quarta posição,
e no de 1970 caem para a quinta posição, ultrapassados pelos portugueses. No Censo
de 1970, observa-se que o número de estrangeiros na microrregião do Vale do Jacuí,
que reúne oito municípios, parte deles de atividade carbonífera como Arroio dos
Ratos, Butiá e São Jerônimo, havia um total de 374 estrangeiros, com os alemães (77),
ocupando a primeira posição, seguidos pelos uruguaios (42), espanhóis (36), italianos
(35), japoneses (23), poloneses (22), sírios (19), argentinos (17), portugueses (9),
russos (9), libaneses (6), austríacos (5), romenos (3) e outros (66). Em relação aos
naturalizados, o maior número em Arroio dos Ratos era de espanhóis (14) e de
poloneses (5), assim como em Butiá (9 espanhóis e 5 poloneses).
Nesta época, o maior número de poloneses naturalizados estava em Dom
Feliciano (29), uma colônia daquela imigração localizada próximo à região
carbonífera. No Censo de 1980, os poloneses haviam caído para a sexta posição entre
os habitantes estrangeiros do Estado, seguidos pelos espanhóis. Nos dados por
município, Arroio dos Ratos contava com 44 estrangeiros, todos espanhóis; São
Jerônimo, com 86 estrangeiros, entre eles, uruguaios, portugueses, argentinos,
espanhóis, italianos, alemães e americanos.