Elisabeth Roudinesco (1998), em base a leitura do texto freudiano, descreve o quadro
sintomático da neurose de guerra composto de alterações físicas, depressão, hipocondria,
angústia, delírio. Decorrente dos contatos que travamos com militares que estiveram no front,
acrescentamos os seguintes sinais: irritação, impaciência, alterações de humor, alterações
fisiológicas – como, por exemplo, modificações sérias na pressão arterial, distúrbios no sono,
mutismo, retraimento social, agitação motora, tremores, cefaléias. Além disso, muitos
militares iniciam hábitos anteriormente inexistentes, como o tabagismo e o alcoolismo. Vimos
que, durante a fase de desmobilização psicológica do Projeto Força Militar de Paz, descrito na
introdução desta dissertação de mestrado, o contingente de mil e duzentos homens é ouvido
pelos profissionais de psicologia, em grupos de círculo hierárquico igual, e também
individualmente. Nesses contatos iniciais verificamos que muitos militares apresentam
sintomas neuróticos únicos ou combinados, alguns gravemente acentuados. Conforme já
assinalado, é oferecido atendimento psicoterápico para aqueles que desejarem. Então, como
fazer psicanálise numa instituição militar? Ora, como Freud ensinou. Comecemos por
algumas considerações teóricas.
No texto Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912, p. 150) o
autor estabelece a regra fundamental do tratamento analítico, a partir da qual o analista pede
que o analisando “comunique tudo o que lhe ocorre, sem crítica ou seleção”. Ao analista
recomenda que volte o seu próprio inconsciente na direção do inconsciente do paciente. Já
nessa época Freud utiliza o termo reconstrução em relação às associações livre do analisando.
No texto Sobre o início do tratamento (1913, p. 164), compara a análise a um jogo de
xadrez, onde “somente as aberturas e os finais de jogos admitem uma apresentação
sistemática exaustiva e que a infinita variedade de jogadas que se desenvolvem após a
abertura desafia qualquer descrição desse tipo”. Passa, então, a estabelecer recomendações
técnicas que balizem o fazer do analista. Sugere, dessa forma, que seja feito um “exame
preliminar” (Ibid., p. 165), para verificar a necessidade de tratamento analítico. “Este
experimento preliminar, contudo, é, ele próprio o início de uma psicanálise e deve conformar-
se às regras desta” (Idem). Isto se confirma na fase de desmobilização do Projeto Força
Militar de Paz. Os militares que desejam são submetidos às entrevistas preliminares, a partir
das quais se desencadeia, normalmente, um processo de análise. Costumam endereçar ao
analista um pedido de respostas objetivas relativas ao tempo de tratamento e cura para sua
dor. Nessas situações tão comuns no universo militar oferecemos a resposta freudiana da
fábula de Esopo: “Caminha!” [na análise]. A técnica freudiana adverte que “ninguém espera