22
diante da vida.”
20
Fazer teologia neste sentido é assumir uma postura de vida que
se comprometa em favor dos menos favorecidos da história. A partir desta
perspectiva apresentada por Gutierrez, e retomada no pensamento de Bruno Forte
somos convidados a reconhecer os rostos daqueles que sofrem, de forma especial
em nosso continente assolado por desigualdades e sofrimentos de todo tipo.
21
A
reconhecer os rostos dos sofredores de nossos dias e sermos uma presença
solidária que contribua na transformação do mundo. “Só levando a sério a dor
humana, o sofrimento do inocente, e vivendo sob a luz pascal o mistério da cruz
no meio desta realidade, será possível evitar que nossa teologia seja um ‘discurso
vazio’ (Jó 16,3)”
22
.
2.2
A Teologia como experiência histórica
Se, por um lado, hoje percebemos a necessidade de uma teologia que responda
aos questionamentos atuais para se tornar relevante, podemos perceber, por outro,
que muitas vezes a teologia foi pensada numa objetividade clássica que a
cristalizou de tal modo que se tornou “estranha ao seu próprio tempo, não incisiva
para a vida nem relevante para a história.”
23
Este enrijecimento da teologia deu
margem ao biblicismo positivista: “Só a Escritura”, que não dá espaço à tradição
20
GUTIÉRREZ, G., Teologia da Libertação, p. 19.
21
Uma grande contribuição neste sentido podemos ter da V Conferência do Episcopado
Latino-americano, ao apresentar os rostos dos sofredores do nosso tempo: “Entre eles,
estão as comunidades indígenas e afro-americanas que, em muitas ocasiões, não são
tratadas com dignidade e igualdade de condições; muitas mulheres são excluídas, em
razão de seu sexo, raça ou situação sócio-econômica; jovens que recebem uma educação
de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar
no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família; muitos pobres,
desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, aqueles que procuram
sobreviver na economia informal; meninos e meninas submetidos à prostituição infantil,
ligada muitas vezes ao turismo sexual; também as crianças vítimas de aborto. Milhões de
pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome. Preocupam-nos também os
dependentes de drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores e vítimas de
enfermidades graves como a malária, a tuberculose e HIV-AIDS, que sofrem a solidão e
se vêem excluídos da convivência familiar e social. Não esquecemos também os
seqüestrados e os que são vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da
insegurança na cidade. Também os anciãos que, além de se sentirem excluídos do
sistema produtivo, vêem-se muitas vezes recusados por sua família como pessoas
incômodas e inúteis. Sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a
grande maioria dos presos, que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa
ajuda fraterna.” (DAp 65).
22
GUTIÉRREZ, G., Falar de Deus a partir do sofrimento do inocente, p. 166.
23
FORTE, B., A teologia como companhia, memória e profecia, p. 180.