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A colaboração dos pesquisadores, o encontro, e, por vezes, a integração das
disciplinas, dos métodos de trabalho e de pesquisa exigem que especialistas
de domínios diferentes possam se interrogar, dialogar e se compreender. Esta
necessidade favorece o nascimento de terrenos comuns, de zonas de
interface entre disciplinas e contribui para a construção da
interdisciplinaridade. O progresso das ciências humanas contribuiu para o
desenvolvimento da interdisciplinaridade, pelo fato de pegar emprestado de
determinadas disciplinas teorias e instrumentos de trabalho, além da
complexidade de seu objeto de pesquisa exige que se recorra
simultaneamente a diversas disciplinas.
3
O estudo interdisciplinar é transformador. Quando representantes de duas disciplinas
se encontram e se deixam afetar um pelo outro, vivem uma experiência única. Cada um
transmite ao outro características que lhe são inerentes, partilham algo de si, incorporam algo
do outro e sofrem alguma mutação, de tal maneira, que saem do encontro transformados.
Para participar de um estudo interdisciplinar
os especialistas de diversas disciplinas devem estar animados de uma
vontade comum e de uma boa vontade. Cada qual aceita esforçar-se fora do
seu domínio e da sua própria linguagem técnica para aventurar-se num
domínio de que não é proprietário exclusivo.
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Este encontro é positivo, quando respeitadas as especificidades de ambos. Deste
modo, cada parte apreende algo da outra que a complementa, sem perder a sua própria
identidade e, ao final do encontro, saem enriquecidas e melhoradas.
Acredito que o encontro entre a psicologia e a religião pode proporcionar este
enriquecimento recíproco. Mantendo suas identidades, ambas podem aprender entre si muitas
coisas e partilhar conhecimentos que as tornem ainda mais eficazes para responder aos
problemas humanos que lhes são apresentados.
Sobre o encontro entre a psicologia e a religião, Giovanetti afirma que
o tema da espiritualidade tem sido objeto de muitos estudos, extrapolando a
fronteira da teologia e exigindo outras perspectivas para melhor
compreensão desse fenômeno humano. Como não poderia deixar de ser, a
psicologia também se vê as voltas com esta realidade. Assim, o psicólogo,
principalmente o psicólogo clínico, esbarra com esta faceta da vida humana
no seu trabalho. Daí a necessidade de se buscar uma compreensão do que
seja a espiritualidade, a fim de poder compreender melhor o ser humano na
busca de sua ajuda profissional.
5
3
Maria Emília MENDONÇA, A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana,
p.142.
4
Georges GUSDORF, “Reflexions sur l’interdisciplinarité Bulletin de Psychologie”, XLIII, p. 397 apud Maria
Emília MENDONÇA, A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana,p. 145.
5
João Paulo GIOVANETTI, Psicologia e existencial e espiritualidade, in Mauro Martins AMATUZZI,
Psicologia e Espiritualidade, p.129.