Capítulo II
forma autárquica, era porque nós pensamos ingenuamente que a
ditadura não resistiria mais do que dois ou três anos, e também
pensávamos que ela cairia no outro dia e ela durou como vocês
sabem vinte e um anos. [...] Nós dizíamos que uma Universidade, me
parece que era mais ou menos assim, não poderia ser uma torre de
marfim, que ela deveria ser o centro irradiador de cultura, eu acho
que era mais ou menos isso, a lógica da época. Que ela não deveria
ser o conglomerado de faculdades isoladas, ela tinha que ter uma
filosofia, ela tinha que se voltar para a centralidade do humanismo. É
central. Nós somos seres humanos, nós temos que ser humanistas. Ela
tem que ser propiciadora do progresso, ela tem que estar junto do
povo e aquilo que estava sendo feito e programado era para atender
interesses estrangeiros, era para atender interesses de uma fundação
que nós não sabíamos qual o destino que ela teria a partir do
momento que ela ficasse aberta para fundações “Rockfeler”,
fundações “Ford”, e outras tantas com outros nomes que poderiam
surgir. Então, o manifesto foi por aí. Denunciando que a forma
fundação não estaria compatível com o interesse dos estudantes, que
nós queríamos uma Universidade autárquica, como o era a Faculdade
de Direito ou, como era a de Economia e de Química que eram do
Estado, não discordávamos que surgissem agrupamentos privados,
constituindo Universidades, como era a PUC, a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, mas isso era outro problema.
Não queríamos que verbas públicas fossem colocadas para uma
Universidade onde somente quem tivesse dinheiro poderia lá estar, ou
quem conseguisse bolsa, porque também já denunciávamos naquela
época, não sei se claro no manifesto, que esse sistema de bolsa, como
os atuais, ao invés de promover o ser humano na forma como nós
conhecemos. Eu acho que não era só por isto, mas não era
implicância pelo nome, porque o nome de Dom Luciano por si só já
representava interesses que nós estudantes de um modo geral
desconfiávamos das finalidades. Primeiro porque na Faculdade de
Filosofia onde se estudava filosofia, inglês, francês, é... italiano,
espanhol português, estudávamos também história, geografia, nessa
faculdade, a faculdade era paga não é? Porque era particular, era de
uma instituição que desde 1889 tinha se separado do Estado que era a
Igreja. Que desde 1889, com a proclamação da república que a igreja
desvinculou-se do Estado, não temos religião oficial né? Temos
protestantes, católicos, espíritas, umbandistas, que a Constituição
permite esta liberdade, né? Então nós achávamos que só o fato de
Dom Luciano estar a frente, haveriam outros interesses que não eram
a favor dos interesses dos estudantes, que não corriam na mesma
linha dos interesses estudantis. Que nós queríamos sim, uma
Universidade gratuita, pública e de boa qualidade. E nós temíamos
que fosse particular, e nós temíamos que pela forma fundação, tivesse
essa ingerência norte-americana, porque o Brasil já tinha firmado os
acordos MEC/USAID e por mil razões. E tanto que discutíamos que
tínhamos descoberto, por mil formas, que estes programas
MEC/USAID era para desestimular os estudantes a ter uma
participação política efetiva. Daí querer iniciar as atenções para o
projeto RONDON, para algumas atividades esportivas muito
presentes, que o interesse era fazer com que o estudante não confiasse