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1.2 O Paradoxo subjacente à teoria de Winnicott
Na “Apresentação à Edição Brasileira” escrita por José Outerial no livro de
R.Roussillon “Paradoxos e situações limites da Psicanálise”
, é feito um
rastreamento da questão do “paradoxo”, desde sua origem até sua influência na
cultura inglesa deste século e no pensamento psicanalítico de Winnicott. Autores
como Lewis Carroll (1832-1898)
, Thomas Stearns Eliot (1888-1965)
, o poeta
preferido de Winnicott, citado numerosas vezes em seus textos, e o Grupo de
Bloomsbury
seriam as influências mais significativas, influências estas assumidas
por Winnicott que disse “ninguém pode ser original senão baseado na tradição”.
Winnicott é autor de algumas expressões tais como “adoecer sadiamente” –
“amor impiedoso” – “agressividade sem intencionalidade” – “estar vivo no momento
da própria morte” – “capacidade de estar só na presença do outro” – “o objeto que
ROUSSILLON, R. Paradoxos e situações limites da psicanálise. São Leopoldo, RS: Editora
Unisinos, 2006.
Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll, nasceu na Inglaterra em 1832, foi
matemático, lógico, fotógrafo e romancista e autor do conhecido “Alice no Pais das Maravilhas” a
partir do qual a maioria dos comentários sobre sua obra (bem mais ampla) são formulados.
Ao contrário do senso comum que afirma um sentido único, o paradoxo afirma dois sentidos ao
mesmo tempo. Daí que as inversões/reversões de Alice (na ordem do tempo, reversões de
proposições, reversões de causa e efeito, etc) surgem como um paradoxo da identidade e conduzem
à contestação da identidade pessoal de Alice. Para Deleuze, a descida de Alice nas profundidades
do poço dá lugar a movimentos laterais de expansão, a profundidade se faz superfície, os animais
dão lugar a figuras de carta, sem espessura. Estas seriam algumas das observações que
evidenciariam que a obra de Carroll joga permanentemente com a dualidade dos sentidos e com a
criação de jogos sem regras definidas e contraditórias entre si.
Thomas Stearns Eliot (1888-1965) – poeta, crítico, ensaísta e dramaturgo.
O grupo de Bloomsbury foi uma associação informal de pintores, escritores, matemáticos,
economistas e intelectuais de várias áreas que desempenhou uma importante influência na vida
cultural da Inglaterra na primeira metade do século passado. Entre seus representantes mais
significativos estavam (segundo Outeiral) Clive Bell (1881-1964), Vanessa Bell (1879-1961), George
Fry (1866-1934), Duncan Grant (1885-1978), Lytton Strachey (1880-1932) (irmão de James
Strachey), Maynard Keynes (1883-1946), Desmond MacCarthy (1899-1952), Leonard Woolf (1880-
1969) e Virginia Woolf (1881-1941), entre outros. T.S.Eliot circulou próximo a este grupo,
principalmente com Bertrand Russel.
Este grupo informal formou-se a partir de um grupo de intelectuais semi-secreto na Universidade de
Cambridge. Interessante notar que não eram unidos por uma ideologia ou posição estética, mas sim
um conjunto de atitudes que os levou a serem identificados como uma “elite intelectual, excêntrica e
transgressora”, revoltada com as restrições artísticas, sociais e sexuais da sociedade vitoriana.
Para compreender este período, e indiretamente compreender as influências sobre o pensamento de
WINNICOTT, é útil assinalar que este período é de transição entre a era vitoriana e a era eduardina.
A era vitoriana foi caracterizada principalmente por repressão dos aspectos instintivos, criativos e
espontâneos da cultura. Um vitoriano ilustre seria Rudyard Kipling “poeta do colonialismo e das boas
práticas morais” em contraste com uma “eduardina ilustre”, como Virginia Woolf, conhecida por todos
pela liberdade de costumes e conteúdo de seus textos.
A formação de Winnicott se deu na vivência desta ebulição/discussão cultural e de costumes.