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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Conjunto IAPI Vila Guiomar – Santo André – SP: projeto e história
ARQ. CINTIA PESSOLATO
ORIENTADOR: PROF. DR. CARLOS AUGUSTO MATTEI FAGGIN
São Paulo
2007
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CINTIA PESSOLATO
Conjunto IAPI Vila Guiomar – Santo André – SP: projeto e história
Dissertação apresentada à Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Mattei
Faggin
São Paulo
2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL: cintiapessolato@yahoo.com.br
Pessolato, Cintia
P475c Conjunto IAPI Vila Guiomar – Santo André – SP: projeto e
história / Cíntia Pessolato. --São Paulo, 2007.
201 p. : il.
Dissertação (Mestrado – Área de Concentração: História e
Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) - FAUUSP.
Orientador: Carlos Augusto Mattei Faggin
1.Conjuntos habitacionais – Santo André (SP) 2.Habitação
popular 3.Arquitetura moderna I.Título
CDU 711.585(81
6.12)Sa237
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, com amor, admiração e gratid
ão, pelo incansável apoio e
dedicação em todos os momentos da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Carlos A. M. Faggin, pela atenção e apoio durante o processo de
definição e orientação.
Ao amigo Ricardo Marques Trevisan, pelo grande auxílio em todas as etapas deste
trabalho.
À amiga Prof. Betty Efraim, pela valiosa contribuição para a conclusão desta
pesquisa.
RESUMO
PESSOLATO, Cintia.
Conjunto IAPI Vila Guiomar Santo André SP: projeto e
história.
2007. 201 f. Dissertação (Mestrado). Orientação: Prof. Dr. Carlos A. M.
Faggin Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2007.
O objetivo deste trabalho é contribuir para o estudo da intervenção estatal na
questão da moradia operária no Brasil a partir da década de 1930, através da
pesquisa sobre um dos mais importantes projetos da época: o Conjunto IAPI Vila
Guiomar, construído a partir de 1939 no município de Santo André S.P. Esta obra
representa um importante papel na história da habitação popular brasileira por ter
constituído uma das primeiras tentativas estatais de construção de moradias em
massa, utilizando os recursos previdenciários e os conceitos da arquitetura moderna.
Apesar de existir uma grande lacuna documental sobre o assunto, o resultado foi um
trabalho que reúne a sistematização e análise de dados, até então, dispersos em
arquivos, relatórios e outras fontes, organizados em ordem cronológica. A pesquisa
é dividida em quatro períodos, que vão até os dias atuais, e nos quais são
abordados aspectos políticos, econômicos, sociais e técnicos de cada época como
forma de contextualizar o estudo da obra.
Palavras-chave: Habitação popular. Habitação para trabalhadores. IAPI. IAP.
Arquitetura moderna.
ABSTRACT
PESSOLATO, Cíntia.
Conjunto IAPI Vila Guiomar - Santo André - SP: project
and history.
2007. 201 f. Dissertation (Master degree). Orientation: Prof. Dr. Carlos
A. M. Faggin Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2007.
The objective of this work is to contribute for the study of the state intervention in the
subject of housing for workers in Brazil starting from the decade of 1930, through the
research on one of the most important projects of that time: Conjunto IAPI Vila
Guiomar, built starting from 1939 in the municipal district of Santo André - S.P. This
work represents an important paper in the history of the Brazilian popular housing for
having constituted one of the first state attempts of construction of homes in mass,
using the resources of the Social Insurances and Welfare Institutes and the concepts
of the modern architecture. In spite of a great documental gap about the subject, the
result was a work that gathers the systemization and analysis of data, until then,
dispersed in files, reports and other sources, organized in chronological order. The
research is divided in four periods that go up the current days and in which political,
economical, social and technical aspects of each time are approached as a form of
creating a context for the study of the work.
Keywords: Popular Housing. Housing for workers. IAPI. IAP. Modern architecture.
LISTA DAS IMAGENS
Imagem 1 – Painéis das tipologias do Realengo 70
Imagem 2 – Estudo do espaço interno das unidades habitacionais 71
Imagem 3 – Fachada da casa de campo 76
Imagem 4 – Caixa d’água projetada para o conjunto 79
Imagem 5 – Planta e fachada 80
Imagem 6 – Planta pavimento tipo 80
Imagem 7 – Implantação IAPI Taubaté 81
Imagem 8 – Planta pavimento tipo 83
Imagem 9 – Cortes da unidade duplex 83
Imagem 10 – Planta da casa de veraneio 85
Imagem 11 – Corte esquemático 85
Imagem 12 – Implantação e corte da cobertura das piscinas 87
Imagem 13 – Plantas das piscinas cobertas 87
Imagem 14 – Cortes transversais das piscinas cobertas 87
Imagem 15 – Fachada da Praça Ma 89
Imagem 16 – Planta de situação com o Trevo da Praça Mauá 89
Imagem 17 – Elevação lateral com extensão de 420 m 89
Imagem 18 – Grande Hall de passageiros da classe 90
Imagem 19 – Vista do restaurante para a entrada do porto 90
Imagem 20 – Grande hall de dispersão da 1° classe 90
Imagem 21 – Perspectiva do conjunto Urbanístico e da Praça Mauá 90
Imagem 22 – Maquete da Associação BB
92
Imagem 23 – Implantação da Associação BB 92
Imagem 24 – Corte da Associação BB 92
Imagem 25 – Levantamento Vila Operária de Santo André 105
Imagem 26 – Estudo preliminar do Conjunto de Santo André 106
Imagem 27 – Ampliação do estudo preliminar do conjunto de Santo And 107
Imagem 28 – Implantação do Conjunto de Santo André 108
Imagem 29 – Plantas das unidades A2 e F3 113
Imagem 30 – Prancha de estudo da tipologia F3 115
Imagem 31 – Prancha de estudo das fachadas da tipologia F3 115
Imagem 32 – Planta do pavimento tipo do edifício com tipologias J1 e J2 118
Imagem 33 – Esquema dos blocos 118
Imagem 34 – Planta do pavimento tipo do edifício com tipologia I2 119
Imagem 35 – Esquema das unidades 119
Imagem 36 – Fachadas frontais e laterais da tipologia J1, J2 e I2 120
Imagem 37 – Fachadas posteriores tipologias J1, J2 e I2 120
Imagem 38 – Cortes transversais 120
Imagem 39 – Casas isoladas no lote 121
Imagem 40 – Planta das unidades 121
Imagem 41- Esquema da planta unidade “HC” 123
Imagem 42 – Fachada dos blocos
124
Imagem 43 – Carimbo da prancha 127
Imagem 44 – Prancha das Fachadas 127
Imagem 45 – Planta com estudo de interior 128
Imagem 46 – Fachada lateral, fundos e principal 128
Imagem 47 – Cortes e fachada lateral 128
Imagem 48 – Planta dos jardins de infância 129
Imagem 49 – Projeto da escola primária 131
Imagem 50 – Elevação e corte da caixa d’água 132
Imagem 51 – Subúrbio de Riverside 140
Imagem 52 – Implantação do Conjunto IAPI Vila Guiomar 140
Imagem 53 – Implantação segundo projeto com blocos altos 148
Imagem 54 – Simulação de fachada original dos “Prédios Novos” 172
Imagem 55 - Simulação de fachada original dos “Prédios Novos”
172
LISTA DAS FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 – Carlos Frederico Ferreira em 1994 69
Fotografia 2 – Fachada da casa de campo 76
Fotografia 3 – Bloco de apartamentos do Realengo em construção 78
Fotografia 4 - Bloco de apartamentos do Realengo em construção 78
Fotografia 5 – Casas unifamiliares geminadas do Realengo 79
Fotografia 6 – Casas de dois andares do Realengo 79
Fotografia 7 – Bloco de apartamentos do Realengo em construção 79
Fotografia 8 – Fileira de casas geminadas IAPI Taubaté 81
Fotografia 9 – Maquete do edifício IAPI Recife 83
Fotografia 10 - Maquete do edifício IAPI Recife 83
Fotografia 11 – Construção da casa de veraneio 85
Fotografia 12 - Construção da casa de veraneio 85
Fotografia 13 – Casa de veraneio do arquiteto 85
Fotografia 14 - Casa de veraneio do arquiteto 85
Fotografia 15 – Maquete do Complexo Esportivo Palmeiras 86
Fotografia 16 – Capa do levantamento topográfico 103
Fotografia 17 – Fotocarta em escala 1:2000 104
Fotografia 18 – Vista do prédio principal da chácara 104
Fotografia 19 – Panorâmica da chácara Guiomar 104
Fotografia 20 –Construções existentes 104
Fotografia 21 – Foto aérea década de 90 111
Fotografia 22 – Casas geminadas tipo A2 logo após a construção 113
Fotografia 23 – Conjunto IAPI década de 50 114
Fotografia 24 – Conjunto Habitacional IAPI 117
Fotografia 25 – Prédio IAPI 117
Fotografia 26 – Conjunto habitacional IAPI 117
Fotografia 27 – Conjunto habitacional IAPI - Quadra 11 121
Fotografia 28 – Quadra 16 – prédio 3 124
Fotografia 29 - Quadra 16 – prédio 1 124
Fotografia 30 - Quadra 16 – prédio 31 e 30 125
Fotografia 31 – Quadra 11 – unidade tipo G 125
Fotografia 32 - Quadra 16 – prédios 26, 25, 24, 23, 27, 28 e 30 125
Fotografia 33 – Prédio do Conjunto Habitacional IAPI 126
Fotografia 34 - Prédio do Conjunto Habitacional IAPI 126
Fotografia 35 – Fachada da escola do conjunto 130
Fotografia 36 - Fachada da escola do conjunto 132
Fotografia 37 – Reservatório de água 132
Fotografia 38 – Quadra 16 – escavação de caixa d’água subterrânea 133
Fotografia 39 - Quadra 16 – fundação da caixa d’água subterrânea 133
Fotografia 40 – Quadra 16 - escavação de caixa d’água subterrânea 133
Fotografia 41 – Quadra 16 – fundação da caixa d’água elevada 134
Fotografia 42 – Quadra 16 – Caixa d’água elevada 134
Fotografia 43 – Quadra 16 – Caixa d’água elevada 134
Fotografia 44 - Quadra 16 – Caixa d’água elevada 135
Fotografia 45 – Quadra 16 – Caixa d’água elevada 135
Fotografia 46 – Conjunto Habitacional do IAPI 135
Fotografia 47 – Conjunto Vila Guiomar com o trecho de prédios e casas 136
Fotografia 48 – Prédio do conjunto IAPI década de 50 141
Fotografia 49 – Bloco projeto por Mies van der Rohe para Stuttgart 141
Fotografia 50 – Conjunto residencial Vila Guiomar 141
Fotografia 51 – Bloco projeto por Gropius para Berlim 141
Fotografia 52 – Conjunto Passo d’Areia 146
Fotografia 53 – Conjunto Passo d’Areia 146
Fotografia 54 – Conjunto residencial IAPI Moóca 147
Fotografia 55 – Conjunto residencial IAPI Moóca 147
Fotografia 56 – Implantação realizada 148
Fotografia 57 – Panorâmica do conjunto IAPI 162
Fotografia 58 – Levantamento aerofotogramétrico de Santo André 163
Fotografia 59 – Tipologia A2 166
Fotografia 60 – Tipologia A2 166
Fotografia 61 – Tipologia G 166
Fotografia 62 – “Prédios Velhos” (1946) 168
Fotografia 63 – “Prédios Velhos” (1946) 168
Fotografia 64 – “Prédios Velhos” (1946) 168
Fotografia 65 – “Prédios Novos” (1951) 171
Fotografia 66 – “Prédios Novos” (1951) 171
Fotografia 67 – “Prédios Novos” (1951) 171
Fotografia 68 – “Prédios Novos” (1951) 171
Fotografia 69 – Detalhe do fechamento da caixa de escada 171
Fotografia 70 – Detalhe do fechamento da caixa de escada 171
Fotografia 71 – Situação Atual – “Prédios Novos” 172
Fotografia 72 – Situação Atual – “Prédios Novos” 172
Fotografia 73 – Áreas livres atualmente 173
Fotografia 74 – Áreas livres atualmente 173
Fotografia 75 – Miolo de quadra da rua Mena Barreto 174
Fotografia 76 – Área livre - setor de prédios 174
Fotografia 77 - Área livre - setor de “Prédios Novos” 174
Fotografia 78 – Fachada da escola 179
Fotografia 79 – Pátio interno da escola 179
Fotografia 80 – Caixa d’água da escola 180
Fotografia 81 – Rampas de acesso às salas de aula 180
Fotografia 82 – Ginásio coberto da escola 180
Fotografia 83 – Detalhe da treliça da cobertura em madeira 180
Fotografia 84 – Rampa de acesso às salas de aula 180
Fotografia 85 – Marquise da escola 180
Fotografia 86 – Escola Estadual 181
Fotografia 87 – “Prédio da Creche” 181
Fotografia 88 – Reservatórios elevados 182
Fotografia 89 – Reservatórios elevados 182
Fotografia 90 – Reservatórios elevados 182
Fotografia 91 – Praça Ministro Salgado Filho 183
Fotografia 92 – Favela Tamarutaca 183
Fotografia 93 – Conjunto BNH 184
LISTA DOS MAPAS
Mapa 1 – Configuração atual do Município de Santo André 95
Mapa 2 – Área provável da Fazenda Guiomar 100
Mapa 3 – Município de Santo André 101
Mapa 4 – Etapas de construção 110
Mapa 5 – Evolução da Mancha Urbana 160
Mapa 6 – Localização do Bairro Vila Guiomar na zona urbanizada 161
Mapa 7 – Bairro Vila Guiomar 164
Mapa 8 – Setores do bairro Vila Guiomar 176
Mapa 9 – Levantamento planialtimétrico com usos 177
Mapa 10 – Localização dos equipamentos públicos 178
LISTA DAS TABELAS
Tabela 1 – Unidades habitacionais por plano 58
Tabela 2 – Comparativo de arrecadações 97
Tabela 3 – Eleitores do ABC em 1953 98
Tabela 4 – Associados IAPI ABC em 1952 98
Tabela 5 – Quadro de área das unidades implantadas no Conjunto 109
Tabela 6 – Censo IBGE (1960 – 2000) 185
LISTA DAS SIGLAS E ABREVIATURAS
ABC Munipios de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
BNH Banco Nacional de Habitação
CAP Caixa de Aposentadoria e Pensões
CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
COHAB Companhia de Habitação Popular
DPU Departamento de Planejamento Urbano
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
IAP Instituto de Aposentadoria e Pensões
IAPAS
Instituto da Administração Financeira da Previdência e Assistência
Social
IAPI Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários
IAPASE Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Servidores do Estado
IAPB Instituto de Aposentadoria dos Bancários
IAPC Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários
IAPE Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Estivadores
IAPETC
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes
e Cargas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IAPM Instituto de Aposentadoria dos Marítimos
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INOOCOP
Instituto de Orientação a Cooperativas Habitacionais
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
INSS Instituto Nacional de Seguro Social
NBR Normas Brasileiras
PSA Prefeitura de Santo André
SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo
SESC Serviço Social do Comércio
SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SUS Sistema Único de Saúde
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
21
1. A MORADIA NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO (1500- 1889)
24
2. A REPÚBLICA VELHA E OS PROBLEMAS URBANOS (1889 – 1930)
26
2.1 PRODUÇÃO PRIVADA: OS CORTIÇOS E AS VILAS OPERÁRIAS 29
2.1.1 Os Cortiços 29
2.1.2 As Vilas Operárias 33
2.2 SANTO ANDRÉ: INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO 36
3. A INTERVENÇÃO ESTATAL DE 1930 A 1964
40
3.1 OS IAPS E A QUESTÃO HABITACIONAL 47
3.1.1 A Produção Habitacional dos Institutos 56
3.2 A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA MODERNA 62
3.3 O ARQUITETO CARLOS FREDERICO FERREIRA 69
3.3.1 A Obra do arquiteto 74
3.3.1.1 Casa de Campo Doutor Nair José Vieira 76
3.3.1.2 Conjunto Residencial IAPI de Realengo 78
3.3.1.3 Conjunto Residencial Vila do IAPI Taubaté 81
3.3.1.4 Apartamentos e Edifício-Sede da Delegacia do IAPI 82
3.3.1.5 Casa de Veraneio do Arquiteto 84
3.3.1.6 Parque Aquático da Sociedade Desportiva Palmeiras 86
3.3.1.7 Projeto dos Armazéns e Terminal de Passageiros do Pier Ma 88
3.3.1.8 Concurso para a Sede da AABB 91
3.4 A INTERVENÇÃO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ 93
3.3.1 Desenvolvimento e segregação 93
3.3.2 O IAPI no ABC 97
3.3.3 O bairro Vila Guiomar e o conjunto IAPI 99
3.3.4 O Projeto do Conjunto 103
3.3.4.1 Levantamento Topográfico (1939) 103
3.3.4.2 Estudo Preliminar 106
3.3.4.3 Projeto Implantado 107
3.3.4.4 Os projetos das unidades 111
3.3.4.5 Os equipamentos coletivos do conjunto 129
3.3.5 Influências sobre o Projeto 136
3.3.5.1 Influência do conceito Cidade-jardim ou Subúrbio-jardim Inglês 137
3.3.5.2 Influência dos conceitos alemães e dos CIAMs 141
3.3.6 Comparação a outros conjuntos do IAPI 144
3.3.6.1 Conjunto Passo D’Areia – Porto Alegre – RS 145
3.3.6.2 Conjunto Residencial da Moóca – São Paulo – SP 147
3.3.6.3 Conjunto Residencial da Baixada do Carmo – São Paulo – SP 148
3.3.7 Ocupação do conjunto 149
4. A QUESTÃO HABITACIONAL APÓS 1964
153
4.1 SANTO ANDRÉ E O CONJUNTO APÓS A DÉCADA DE 1960
157
4.1.1 Vila Guiomar e o Conjunto IAPI 158
4.1.1.1 As Unidades do conjunto 165
4.1.2 As Áreas Livres 173
4.1.3 Os Equipamentos e outras áreas 175
4.1.4 Aspectos Populacionais 185
4.1.5 Situação Fundiária 186
CONCLUSÃO
189
BIBLIOGRAFIA
193
ANEXOS
198
21
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende contribuir para o estudo da intervenção estatal no
setor habitacional do Brasil a partir da década de 30, através da pesquisa sobre um
dos mais importantes conjuntos construídos pelos Institutos de Aposentadoria e
Pensões: o Conjunto IAPI Vila Guiomar, localizado no município de Santo André na
Região Metropolitana de São Paulo.
A escolha do Conjunto Vila Guiomar como objeto desse estudo decorreu do
fato de que, ao ingressar no serviço público municipal em 2002, entrei em contato
com um vasto material sobre o bairro, arquivado na Prefeitura de Santo André. Ao
tomar conhecimento de que a obra ainda não havia sido estudada profundamente e
diante da quantidade de informações disponíveis, resolvi desenvolver esta pesquisa
sobre o tema, tentando sistematizar todo o conhecimento que, até então, estava
disperso, como forma de assegurar que estes dados não fossem perdidos ao longo
do tempo.
Embora exista uma grande lacuna sobre a obra, além da pesquisa
bibliográfica, grande parte do trabalho foi baseada na pesquisa documental com a
localização, na medida do possível, do projeto do conjunto em órgãos públicos. A
busca se iniciou pela consulta dos arquivos da Prefeitura e da Agência do INSS
(Instituto Nacional de Seguro Social) de São Paulo, na Rua Xavier de Toledo, onde
fui informada de que, anos atrás, os arquivos foram descentralizados e
distribuídos pelas agências regionais, de acordo com a localização das obras.
No caso do IAPI Vila Guiomar, tudo que havia sobre o conjunto foi mandado
para a Agência INSS de Santo André, situada à Rua Adolfo Bastos. Segundo um
funcionário do INSS, na ocasião do transporte do material, muita coisa “caiu pelo
22
caminho”; o que restou está ameaçado pela precariedade, falta de identificação e
organização. Além disso, os registros do conjunto, que estavam em um cartório na
cidade de São Paulo, foram perdidos em um incêndio.
Através dessa pesquisa foi possível compreender o contexto de implantação
do projeto, a grande revolução que trouxe para a região e de que forma uma
fazenda tornou-se uma obra de arquitetura moderna reconhecida
internacionalmente. Embora não tenha obtido a aceitação pretendida na época em
que foi implantado (década de 1940), o conjunto inovou ao trazer a uma região,
ainda rural, um novo conceito de moradia e um novo modo de vida. As inovações
tecnológicas, os materiais industrializados, o uso do concreto armado em grande
escala e a rapidez na construção das unidades, são outros pontos a serem
destacados.
A periodização adotada refere-se às diferentes formas de intervenção do
Estado na questão habitacional e coincide com momentos de mudança política e de
governo ao longo da história do Brasil. Em cada um dos períodos procura-se
delinear um panorama histórico geral do país e, posteriormente, focalizar a região do
ABC Paulista (especificamente o município de Santo André), e o objeto de estudo
(Conjunto Vila Guiomar) inserido nesse contexto (exceto no primeiro período).
O primeiro período compreende um breve panorama sobre os Governos
Colonial e Imperial, quando havia raras preocupações com a moradia dos
trabalhadores e a escravidão era vigente. O segundo compreende a República
Velha até 1930, quando a intervenção do Estado ainda era tímida no campo
habitacional. O terceiro inicia-se com a Revolução de 1930, passa pela criação dos
Institutos de Aposentadoria e Pensões, a construção de seus conjuntos
habitacionais e vai até o Golpe Militar em 1964. O quarto e último peodo inicia-se
23
em 1964 com criação do BNH (Banco Nacional de Habitação), que marca uma
profunda mudança na política habitacional até então adotada, e segue até os dias
atuais.
24
1. A MORADIA NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO
Durante o período Colonial (1500 a 1822) a economia brasileira foi baseada
na grande propriedade monocultora escravista para a exportação de produtos como
açúcar, fumo, algodão e, posteriormente, na mineração, que demandavam grande
quantidade de terras e mão-de-obra, em sua maioria escrava. (SILVA, 1992, 50-52).
Não havia preocupações, por parte do governo, com a questão das condições
de habitação do trabalhador brasileiro. Até então, grande parte da população
trabalhadora era constituída de escravos, que moravam em senzalas, que tinham
mais a finalidade de evitar fugas do que servir propriamente de moradia. As
habitações dos trabalhadores livres também não apresentavam condições muito
melhores e assemelhavam-se, muitas vezes, às senzalas. A mesma precariedade
era observada em relação ao mercado da construção civil:
Na metade do século XIX, a construção civil não estava constituída
como atividade industrial. Não havia mercado de trabalho livre, nem
construtoras em bases empresariais, nem materiais de construção
disponíveis para a venda em grandes quantidades e a propriedade
imobiliária não era mercantilizada. A terra só se generaliza como
mercadoria com a famosa lei de 1850. (GITAHY, 2002, p.26).
Pode-se considerar que a ação governamental no campo da habitação
popular no Brasil teve sua origem, ainda no período do Império (1822 a 1889), com a
criação em 1831 da primeira Caixa Econômica do Brasil que, sem apoio legal, daria
origem às Caixas Econômicas oficiais mais tarde. (FINEP-GAP, 1983, p.21).
A partir da segunda metade do século XIX, houve grandes transformações no
país. Com a implantação das estradas de ferro, bem como, o desenvolvimento da
indústria e do comércio, houve a intensificação do processo de urbanização e
modernização dos centros urbanos, além de mudanças nas relações de trabalho.
25
A expansão cafeeira a partir de 1840 e o capital nacional, disponibilizado com
a proibição do tráfego negreiro em 1850, passaram a se tornar fontes de recurso
para o início da industrialização: o café foi o principal responsável pelas
transformações econômicas, sociais e políticas, reintegrando o Brasil aos mercados
internacionais e contribuindo para as relações assalariadas de produção, o que
possibilitou a acumulação de capital e o investimento em setores da economia,
principalmente o industrial. (SILVA, 1992, p.163-168).
As ferrovias começaram a ser construídas a partir de 1858 com investimentos
ingleses e a economia se expandiu. Com a industrialização, cresceu o processo de
urbanização e, com ele, as moradias insalubres e as reivindicações sociais por
melhores condições. A partir de 1882 foram gerados decretos incentivando
empresas a construírem moradias para os operários com normas de saneamento,
como forma de atrair trabalhadores imigrantes e evitar epidemias (FINEP-GAP,
1983, p.25).
No final do século XIX o Império, incapaz de se renovar politicamente, de
acompanhar o processo de modernização e atender às reivindicações sociais,
entrou em crise e foi proclamada a República em 15 de novembro de 1889 (SILVA,
1992, p.177); a partir de então, começam a surgir maiores preocupações com os
problemas urbanos do país, embora a questão da habitação ainda não constituísse
a maior delas, como veremos mais adiante.
26
2. A REPÚBLICA VELHA E OS PROBLEMAS URBANOS
Como foi dito anteriormente, os problemas de ordem habitacional haviam
agravado-se no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, após a abolição da
escravatura, a proclamação da República e a grande imigração européia. A
proclamação da República havia permitido a ascensão de segmentos sociais e
políticos e, desta forma, acabaram ocorrendo várias revoltas em vários Estados e
crises econômicas, que evidenciavam a instabilidade do regime em seus primeiros
momentos (FINEP GAP, 1983, p.31).
Enquanto no Brasil da República Velha (1889 a 1930) a questão da habitação
operária ainda não era o foco principal das discussões em torno das políticas
urbanas, na Europa, a temática da moradia e do homem e sua relação com os
demais espaços habitáveis tornaram-se o núcleo central de estudo no âmbito
disciplinar da arquitetura durante as primeiras décadas do século XX.
A Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX havia trazido grandes
transformações econômicas, sociais e políticas a vários países. A rápida
industrialização e a substituição dos processos manufatureiros pela mecanização
gerou a concentração de indústrias nos centros urbanos existentes e esta situação
acabou atraindo milhões de pessoas para as cidades. Desqualificação e salários
baixos acabaram por acentuar a pobreza e o problema da superpovoação atingia
níveis alarmantes em centros como Londres, Paris ou Berlim, e até mesmo em
cidades do interior. Proliferavam-se cortiços com péssimas condições de
habitabilidade e salubridade, além de aluguéis abusivos, em conseqüência da
escassez de moradias. (FRASSON, 2000, p.06).
27
A partir do início do século XX, iniciou-se uma série de ações no sentido de
promover a desconcentração e a dispersão nos grandes centros urbanos europeus.
Verificou-se um fenômeno de “suburbanização com regulamentações de
planejamento e desenvolvimento urbano, além de avanços no sistema de transporte
coletivo.
A década de 20 foi marcada por reivindicações de transformações sociais e
políticas e alguns intelectuais, inclusive arquitetos e urbanistas, acabam aliando-se
ao Movimento Operário. Ocorreram várias discussões e ações em países como
Alemanha, URSS, Inglaterra, França, Áustria, Hungria, Holanda e EUA, no sentido
de enfrentar o problema da moradia. (FRASSON, 2000, p.06).
O Movimento Moderno surgiu na Europa do início do século 20 na tentativa
de auxiliar na transformação da sociedade através do ambiente construído. O tema
central dessa nova arquitetura vinha a ser a habitação coletiva para os operários, a
arquitetura para a massa das grandes cidades. O Movimento fundamentava-se na
transformação da sociedade no nível da construção do ambiente e consolidou-se no
contexto econômico, social e político do pós-guerra, com raízes mais profundas nos
movimentos operários e utopias do século XIX. (KOPP, 1990, p.14-16 apud
FRASSON, 2000, p.06).
A arquitetura moderna não era constituída por formas depuradas e
pela utilização de técnicas avançadas, mas, sobretudo pelo desejo de
participar o espaço do processo de transformação da sociedade.
(KOPP, 1990
1
apud SAMPAIO, 2002, p.21).
A partir de 1925, a idéia de transformação irreversível no campo da
arquiteturacontinuou a ganhar espaço e começou a envolver a opinião pública de
vários países. Surgiram várias publicações, estudos e ações concretas que
1
KOPP, Anatole.
Quando o Moderno não era um estilo e sim uma causa.
São Paulo: Nobel 1990,
p.146-161.
28
demonstravam uma unidade de intenções” que marcou o início do movimento
moderno (CIUCCI, 1980, p.118). Segundo SAMPAIO (2002, P.19), algumas das
ações concretas que ajudaram a difundir o movimento foram: as exposições de
Weissenhof (1027) e Breslau (1929) e os Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna (CIAMs); entre seus líderes podemos citar os arquitetos: Mies Van der
Rohe, Le Corbusier e Walter Gropius, J. J. P. Oud, que alcançaram reputação
mundial com suas obras.
A concepção moderna quebrou os antigos paradigmas da cidade antiga, que
se formava através do jogo de poderes e interesses, onde as edificações e espaços
eram um subproduto de tal situação, para elaborar propostas urbanas em torno de
uma reflexão arquitetônica que incluía as habitações, as atividades, os usos etc. Os
arquitetos modernos buscavam soluções para o grande problema da habitação das
massas trabalhadoras e essa questão acabou tornando-se o tema central da nova
arquitetura (KOPP, 1990, p.50 apud FRASSON, 2000, p.06). Associavam-se às
questões sociais, as preocupações técnicas e formais de melhorar as condições de
vida da massa operária, como uma forma de reconstrução social e de um novo
modo de vida:
Para esses arquitetos que aspiravam a uma arquitetura utilitária, a
forma deveria estar ou parecer absolutamente determinada por uma
função interna e a estrutura necessária (SAMPAIO, 2002, p.19).
No Brasil, começavam a surgir preocupações com os crescentes problemas
urbanos, principalmente no centro-sul, em cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, que sofriam transformações sociais geradas pela economia cafeeira em
expansão e não estavam preparadas para receber, além de imigrantes, os que
vinham de regiões próximas em busca de emprego e os ex-escravos, que deixaram
as propriedades de seus antigos senhores (FARAH, 1983, P.29). A abolição da
29
escravidão e a grande entrada de imigrantes no país haviam levado à multiplicação
das vilas operárias rurais e nas cidades intensificaram-se as atividades econômicas,
que passaram a atrair um grande número de trabalhadores livres; começaram a
surgir habitações precárias, adensadas e insalubres nos bairros próximos às
fábricas.
Consolidou-se a formação de um mercado de trabalho livre, de locações,
terrenos e moradias, e estabeleceu-se uma indústria de construção civil em bases
empresariais. Surgiram empresas ligadas ao setor como: escritórios técnicos,
construtoras, comércio de importação de materiais de construção e indústrias de
materiais locais. (GITAHY, 2002, p.26).
Embora o Governo Republicano estabelecesse alguns incentivos para a
construção de habitações operárias, como isenção de impostos e regulamentações
de ordem sanitária, o problema habitacional ainda não era o ponto principal nas
discussões sobre reformas urbanas e as maiores preocupações ficavam no âmbito
de afastar dos centros as imagens degradantes dos cortiços”. (CARPINTÉRO,
1997, p.61).
2.1 PRODUÇÃO PRIVADA: OS CORTIÇOS E AS VILAS OPERÁRIAS
2.1.1 Os Cortiços
Durante a Primeira República (1889-1930) o investimento em imóveis para
locação mostrou-se um bom negócio em relação a outros, à medida que a demanda
por moradia ia aumentando, sem controle estatal sobre o valor dos aluguéis. O que
regulamentava os preços era a lei da oferta e da procura. Este cenário tornou a
30
construção de casas para aluguel um negócio muito atraente, pois muitas casas
precárias eram facilmente alugadas e novos conjuntos de habitações insalubres
eram construídos, para suprir uma demanda que não parava de crescer. Segundo
FARAH (1983, p.35), neste período ainda não havia a identificação do Estado como
responsável pela solução do problema de moradia do proletariado. Havia uma luta
direta dos trabalhadores contra os locatários das habitações e contra os patrões por
melhores salários, que possibilitassem o atendimento das necessidades.
Uma das modalidades de habitação que surge na segunda metade do século
XIX, para atender à demanda crescente, principalmente nas grandes cidades como
Rio de Janeiro e São Paulo, foi o cortiço. Constituíam-se de moradias coletivas, em
miolo de quadra ou não, formadas por uma ou mais construções, extremamente
precárias e insalubres, cujo aluguel era cobrado por um proprietário. Uma
característica marcante nesse tipo de moradia era a existência de apenas uma
latrina para várias famílias e a sobreposição de atividades em um mesmo local.
Apesar da precariedade das instalações, sua proliferação foi intensa e constituía um
investimento muito lucrativo para seus proprietários:
O programa das casas de cortiço resumia-se ao abrigo mínimo. Não
havia espaço sequer para que atividades essenciais fossem realizadas
no interior das residências com alguma privacidade. Por isso a vasta
utilização dos pátios e corredores que acabavam se transformando
em complementos da moradia. (...) Possuíam três cômodos: um
dormitório, a ‘varanda’ e a cozinha. (...) As latrinas eram locadas
externamente à habitação. Ficavam no quintal, perto do tanque, na
área de serviço. A construção de cômodos encarreirados decorria da
estreiteza do lote (ARAGÃO, 2000, p.10-11).
Na cidade do Rio de Janeiro, os cortiços começaram a surgir no fim do século
XIX, no momento em que a cidade era a capital do país e o principal pólo de atração
de população de outras localidades. A grande proliferação de epidemias, a fome, a
criminalidade e o aumento dos cortiços se aliavam às ruas estreitas e à sujeira,
31
comprometendo o desenvolvimento da cidade e formando um quadro alarmante. O
crescimento da população ficava ainda mais preocupante quando se considerava o
aumento do desemprego, agravado pelo grande número de ex-escravos sem
trabalho.
Segundo CARPINTÉRO (1997, p.59), os cortiços cresciam em decorrência
dos preços elevados dos aluguéis e dos terrenos. Sem opção, a classe trabalhadora
acabava por recorrer a esta alternativa, dividindo antigos casarões com diversas
famílias e utilizando o mesmo banheiro. Desta forma, a proliferação de doenças
infecciosas e epidemias era grande e não atingia apenas os pobres, tornando-se um
problema da cidade toda. Para os médicos higienistas, as condições precárias das
moradias “insalubres” eram o foco para disseminação de doenças como a
tuberculose e febre amarela. Além dos problemas sanitários, a ameaça de
desenvolvimento de comportamentos criminosos e idéias socialistas também era
uma constante preocupação da classe dominante.
A situação desencadeou pressão da sociedade e ações governamentais
foram tomadas para tentar resolver os problemas de saneamento e embelezamento
da cidade, a partir de 1903. Foi promovida uma intervenção drástica no centro da
cidade, através da “expulsão dos pobres do centro”. Foram demolidos cortiços,
casebres e foi criado um código de posturas para alterar hábitos e comportamento
da população, tentando transformar a imagem do Rio de Janeiro. As áreas
degradadas foram substituídas por avenidas, ruas e praças arborizadas.
Porém, o conjunto de ações para erradicar os cortiços do centro não incluía
soluções de moradia para a população que foi retirada e acabou gerando as favelas
nos morros, denotando o descaso do governo com os pobres da cidade:
32
A escassez de habitações provocava uma elevação dos aluguéis,
tornando as áreas centrais cada vez mais proibitivas às camadas
populares, e estes trabalhadores encontraram uma solução possível
com a construção de casas nas favelas dos morros próximos ao
centro. (CARPINTÉRO, 1997, p.59).
Na cidade de São Paulo, no final do século XIX, com a diversificação de
atividades econômicas (comércio, prestação de serviços, entre outras), surgem os
primeiros indícios de segregação espacial e sinais de preocupação com o espaço
urbano. Até a década de 1870, com exceção das chácaras periféricas, quase não
havia diferenças de um ponto para outro da cidade. As residências da classe alta e
média concentravam-se na área central junto ao comércio e a cidade possuía
dimensões reduzidas. Enquanto a burguesia paulistana preocupava-se em “construir
uma cidade moderna”, as habitações populares na periferia mal eram citadas nos
relatos da época. As poucas informações que chegaram até os nossos dias são
provenientes de relatos técnicos ligados à saúde pública, preocupados com os
problemas de higiene das moradias operárias. (BONDUKI,1998, p.34).
O fato é que São Paulo começou a expandir-se em todas as direções a partir
da década de 1880, com a atração de milhares de trabalhadores ligados à atividade
cafeeira e outras associadas. Este crescimento deveu-se, em grande parte, não
somente ao casamento das atividades comerciais, como também com a chegada de
um grande número de imigrantes. A oferta de moradias e a infra-estrutura instalada
estavam atrasadas em relação à velocidade de produção da cidade, que entre 1886
e 1900, vivenciou o seu crescimento mais vertiginoso; por isso, neste período,
desencadeou-se a primeira crise habitacional na cidade.
Nos novos bairros operários havia carência de calçamento, canalização de
córregos, drenagem, etc. Devido à necessidade de alojar a grande massa de
imigrantes que chegava à cidade, surgiram vários tipos de edificações alternativas,
33
tais como estalagens, cortiços e habitações operárias, com construções precárias
em bairros como Santo Efigênia, Bom retiro, Bexiga e Brás. (BONDUKI,1998, p.20-
21).
A deterioração da condição de vida na cidade e o fluxo de trabalhadores em
péssimas condições de moradia obrigaram o poder público a intervir no controle do
espaço urbano, infra-estrutura e produção habitacional. O temor de epidemias
crescia e, neste contexto, os higienistas ganharam posição de destaque na
administração; assim a questão de higiene tornou-se prioridade pública:
[...] o poder público atacou em três frentes: a do controle sanitário das
habitações, a da legislação e códigos de postura (código sanitário de
1894) e a participação direta em obras de saneamento das baixadas,
urbanização da área central e implantação de rede de esgoto.
(BONDUKI, 1998, p.29).
Apesar de todo o controle, as doenças continuavam se propagando, pois as
causas do problema (pobreza, falta de saneamento) não haviam sido sanadas. Os
cortiços eram tolerados; aforam criados códigos que determinavam padrões para
sua edificação e, aqueles que não estivessem de acordo, deveriam ser demolidos ou
reconstruídos. Entretanto, nem sempre a lei era cumprida.
2.1.2 As Vilas Operárias
Além dos cortiços, outra modalidade de produção rentista, que surgiu no
período da República Velha, foi a vila operária, que consistia em pequenas moradias
unifamiliares construídas em série. Havia dois tipos de vilas operárias: a vila operária
de empresa e a vila operária particular. As primeiras eram construídas pelas
empresas, para alojar seus funcionários, e as outras pertenciam a companhias
mutuárias ou investidores privados do mercado rentista. (BONDUKI, 1998, p.47).
34
As primeiras vilas foram, muitas vezes, construídas em terrenos pequenos,
nos interiores dos quarteirões, seguindo o modelo espacial dos cortiços. O que
diferenciava uma vila de um cortiço era o fato de que cada casa daquela possuía
sua própria latrina, e que a sobreposição de funções não era tão intensa, uma vez
que uma unidade mínima possuía local para repouso, estar e preparo dos alimentos.
Muitos proprietários de cortiços instalaram latrinas no fundo de cada unidade, o que
alterava a categoria de cortiço para vila e assim, podiam aumentar os aluguéis, pois
apesar do termo “vila” também ser socialmente estigmatizado, não tinha uma
imagem tão ruim quanto àquela dos cortiços. (ARAGÃO, 2000, p.09-13).
Embora as vilas representassem as moradias ideais do ponto de vista dos
higienistas, os cortiços continuavam a proliferar de maneira rápida e tornaram-se
uma das formas mais comuns de habitação dos trabalhadores; eram muito rentáveis
e vantajosos para seus proprietários, pois demandavam menos investimentos do
que as vilas na sua construção, apesar da soma dos aluguéis ser igual ou maior.
Segundo CARPINTÉRO (1997), alguns dos pontos que levavam a investir neste tipo
de negócio eram, no caso das empresas, a proximidade do local de trabalho e
disciplina; no caso de particulares, as vantagens econômicas.
Ao recomendar e estimular a construção de vilas, o Estado, ao que parece,
não se referia apenas às vilas operárias construídas pelas indústrias, mas a
conjuntos de casas “higiênicas e baratas”, que poderiam ser construídas por
qualquer interessado - empresas, mútuas ou investidores em geral. (FARAH, 1983,
P.31). Segundo Eva Blay
1
, no livro Eu não tenho onde morar de 1985, os três
objetivos principais dos incentivos fiscais eram: resolver o problema das epidemias,
ocupar os vazios urbanos e favorecer empreendedores.
1
BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: Vilas operárias na cidade de São Paulo. Studio
Nobel, São Paulo, 2000.
35
No Rio de Janeiro, embora a produção de vilas operárias estivesse
diretamente ligada aos interesses empresariais, a elaboração de uma lei municipal,
que motivava a sua construção, demonstrava a existência do poder público nos
assuntos condizentes à formação das vilas:
[...] as cláusulas do contrato firmado entre a empresa e a prefeitura
tratavam de questões concernentes aos tipos de moradia, às plantas e
aos materiais que deveriam ser utilizados na construção das vilas. Não
obstante, ocupavam-se também em indicar as regras necessárias e
obrigatórias para a manutenção, a ordem e a conservação das casas.
[...] Nos contratos estavam incluídos a construção de escolas, creches
e armazéns comerciais, sendo que o plano e as regras de arquitetura
ficavam sujeitos à aprovação do prefeito encontramos várias empresas
que procuraram se beneficiar da lei municipal de 1893, construindo
assim, as vilas operárias. Entre elas, apontamos a vila operária da
fábrica Confiança, em Vila Isabel, e as fábricas Brasil Industrial,
Corcovado e Carioca, todas instaladas no Rio de Janeiro.
(CARPINTÉRO, 1997, p.65).
Em São Paulo, a mesma relação se deu entre prefeitura e empresas, a partir
da lei 489 de 14 de dezembro de 1900, cabendo à Comissão de Higiene e Saúde a
responsabilidade pela aprovação dos projetos de construção. Entre as vilas
paulistanas destacavam-se a Vila Maria Zélia, no Belenzinho; Vila Prudente, no
Ipiranga; Vila Crespi, na Moóca e Vila Nadir Figueiredo. (CARPINTÉRO, 1997, p.65-
66).
Em 1921 é promulgada a primeira Lei do Inquilinato (decreto 4.403/1921) sob
o impacto de uma profunda crise habitacional nos centros urbanos, gerando uma
série de protestos referentes à escassez de moradias ou preço dos aluguéis. Até
então, as relações entre proprietários e inquilinos eram regradas através do Código
Civil e a lei não tinha intenção de prejudicar efetivamente os proprietários, tratando
apenas de exigir dois anos de prazo para aumento de aluguel após a notificação e
regular os casos de locação verbal, respeitando absolutamente os contratos escritos:
“[...] tal lei não constituía (num sentido absoluto, ao menos) uma intervenção estatal
36
na vida do direito privado” (FARIA, 1963
1
apud BONDUKI, 1994, p.98). Apesar de
não ter produzido grandes resultados, esta lei marca o tímido início nas restrições
ao direito absoluto da propriedade na locação de imóveis residenciais” (BONDUKI,
1994, p.98).
A partir de 1930, vilas para atender à classe média foram construídas e o
Estado começou a intervir de forma direta na produção de habitação de interesse
social, como veremos no Capítulo 3.
2.2 SANTO ANDRÉ: INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO
Conforme vimos, até os anos 30 do século XX, a habitação das classes mais
populares das cidades brasileiras se deu, na sua maioria, através de moradias de
aluguel precárias e coletivas (cortiços) e através de vilas operárias. Embora as vilas
operárias recebessem incentivos públicos, o acesso ficava restrito a uma camada da
população formada pelos operários mais qualificados, funcionários públicos ou
comerciantes. Ao restante mais pobre restava a alternativa dos cortiços insalubres,
que proliferavam por todas as cidades. O município de Santo André, na Região
Metropolitana de São Paulo, onde está situado o conjunto objeto do estudo, não
fugiu à regra. Sua história está intimamente ligada à questão da industrialização de
São Paulo e da habitação operária.
Até o final do século XIX, a atividade econômica da região, que viria a
constituir o município, era restrita à locação de pastagens para as tropas, que
1
FARIA, Anacleto de O. As alterações do contrato de locação de imóveis residenciais urbanos
no Direito brasileiro.
São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e administrativas da USP,
1963.
37
subiam do litoral para os campos, e à subsistência de colônias de imigrantes,
instaladas pelo Estado a partir de 1870.
Em meados do século XIX, iniciou-se o processo de urbanização, que gerou o
município, com a implantação da SPR – Estrada de Ferro São Paulo Railway,
ligando o litoral (Porto de Santos) ao Planalto Paulista e ao interior produtor de café.
Em 1867 foi inaugurada a estação ferroviária São Bernardo, ao redor da qual surgiu
um povoado que, mais tarde, constituiria Santo André. Neste local os terrenos eram
considerados baratos, atendiam à mão-de-obra operária e permitiam acesso
facilitado aos produtos provenientes do Porto de Santos. (PSA, 2006).
Em 1889 foi criado o município de São Bernardo do Campo, baseado na
industrialização e utilização da mão de obra de imigrantes, abrangendo toda a região
do atual Grande ABC
1
.
As primeiras indústrias que se instalaram na nova cidade eram, em geral,
ligadas à produção química, têxtil e de móveis: Fábrica Ypiranguinha (Têxtil), Fábrica
de Cadeiras Streiff, Tecelagem Kowarick, Fiação e Tecelagem Santo André, além de
serrarias, carvoarias e olarias, cuja produção era enviada tanto para Santos como
para a capital. Além disso, foram surgindo pequenos negócios como carpintarias,
funilarias, sapatarias, barbearias, pequenas pensões e restaurantes, que deram uma
feição mais urbana à região. (DENALDI, 2006, p.24).
O povoado chamado “Bairro da Estação” começou a se destacar como pólo
industrial do município de São Bernardo e, com a instalação de várias fábricas,
atraiu um grande número de operários. Alguns fatores estimularam a vinda de
indústrias para a área: a proximidade com a linha férrea, acessibilidade, presença de
1
Região que abrange os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.
38
terrenos pouco acidentados e disponibilidade de água, além dos incentivos fiscais
promovidos pela Prefeitura de São Bernardo.
Com a duplicação da estrada de ferro no século XX, o crescimento
populacional se acelerou. A Fábrica Ypiranguinha foi responsável pela instalação e
funcionamento da primeira escola elementar da região do ABC em 1904; em 1910
ergueu-se a primeira farmácia da região e em 1911 iniciou-se a construção da Santa
Casa de Misericórdia de São Bernardo e do primeiro cinema o Cinema Paulista.
(GAIARSA, 1991, p. 178-191). Nesse contexto ressurgiu o termo Santo André
1
, para
nomear o distrito criado em 1910 e que compreendia as áreas próximas à estação.
Por volta de 1912, houve a primeira experiência de construção de vila
operária na cidade: a Fábrica Ypiranguinha implantou dois conjuntos de casas
próximos às suas instalações, nas Ruas Gertrudes de Lima, Coronel Ortiz, Estrela e
do Sol:
O censo de 1920 mostra que grande parte da população de Santo
André trabalhava na indústria têxtil, como a Ypiranguinha e a
Kowarick. Mesmo assim, a mão-de-obra ainda era escassa e, para
‘chamar’ moradores para a região, as indústrias começaram a
construir vilas operárias. As mais famosas foram as da Ypiranguinha,
Kowarick e Pirelli. (MINDRISZ, 1990, p.146).
Desta forma, a construção das vilas operárias estava associada à
industrialização, em virtude da necessidade de mão-de-obra e terrenos baratos;
além disso, na mesma época, o mercado imobiliário particular começou a despontar.
Na década de 20, a industrialização tomou novos rumos; Santo Ande São
Caetano tornaram-se grandes pólos na região do ABC. Instalaram-se indústrias de
porte médio como a Fábrica de Tecidos Bella Vista depois Irmãos Tognato &
Companhia; Casa Publicadora Brasileira; Indústria de móveis Gianoglio & Filho,
1
Santo André da Borda do Campo era a denominação da vila criada na região, por João Ramalho,
em 1553 e que foi, posteriormente, transferida para São Paulo de Piratininga em 1560,
39
Pezzolo & Cia Fábrica de Geladeiras, marcenaria e carpintaria; Tecidos Alfredo
Fláquer & Cia; Matadouro Martinelli – depois Swift-Armour.
Após a Primeira Guerra, grandes indústrias se instalaram nos arredores da
Estação: Rhodia Química, Lidgerwood (máquinas agrícolas); Fichet, Shwartz &
Hautmont (indústria metálica e de cofres); Companhia Nacional de Condutores
CONAC, depois Pirelli (pneus e condutores elétricos); Atlantis do Brasil (produtos de
limpeza); Companhia Brasileira de Cartuchos; Rhodia Têxtil. (DENALDI, 2006, p.24).
A instalação da Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, na cada de
20, e a criação da Represa Billings, na cada de 30, geraram disponibilidade de
Energia Elétrica e também foram estímulos para a industrialização.
O censo demográfico, agrícola e industrial de 1920 mostrava que, dos 24.014
habitantes do município, 7.036 estavam no núcleo de Santo André, 5.772 na Sede
(atual São Bernardo), 4.487 em São Caetano, 3.433 em Ribeirão Pires e 3.286 em
Paranapiacaba (DENALDI, 2006, p.25).
Com o crescimento, surgem empreendimentos imobiliários que se tornaram
bairros como: Jardim Campestre, Santa Maria e Saúde
1
. Nos anos seguintes, outras
chácaras próximas à Estação foram loteadas para atender tanto às classes mais
abastadas como às mais populares, o que exigiu uma ação da prefeitura no sentido
de ordenar o crescimento da cidade através de uma legislação, estabelecendo
padrões de urbanização e a programas de melhoramentos urbanos.
A década seguinte (1930) traria mais desenvolvimento e urbanização para a
região, a emancipação do município e o investimento do governo federal em uma
marcante intervenção no setor habitacional: a implantação do grande Conjunto para
Operários de Santo André.
1
Localizado no Município de São Caetano do Sul.
40
3. A INTERVENÇÃO ESTATAL DE 1930 A 1964
Apesar das grandes transformações sociais pelas quais passaram as cidades
brasileiras, durante a República Velha, a questão habitacional ainda não era o foco
principal das discussões sobre reformas urbanas, conforme visto no capítulo
anterior. Embora o Estado houvesse estabelecido alguns incentivos para a
construção de moradias operárias, passou a atuar, efetivamente, neste setor,
apenas a partir de 1930.
Para compreendermos as razões e formas em que se deu essa atuação,
através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, é necessário fazer algumas
considerações sobre o Brasil, antes e depois da Revolução.
No ano de 1929 iniciou-se a campanha sucessória do presidente Washington
Luís e a Aliança Liberal, frente política de oposição que tinha como candidato
Getúlio Vargas, tinha o intuito de atrair o apoio das camadas urbanas com sua
plataforma política, onde tratava de problemas referentes à relação entre o capital e
o trabalho:
Não se pode negar a existência da questão social no Brasil, como
um dos problemas que terão de ser encarados com seriedade pelos
poderes públicos. (...) Se o nosso proteccionismo favorece os
industriaes, em proveito da fortuna privada corre-nos, também, o
dever de acudir o proletariado, com medidas que lhe assegurem
relativo conforto e estabilidade (...) Urge uma coordenação de
esforços entre o governo central e dos Estados, para o estudo e
adopção de providências em conjuncto, que constituirão o nosso
Código de Trabalho. Tanto o proletariado urbano como o rural
necessitam de dispositivos tutelares aplicáveis a ambos, (...) Tais
medidas devem compreender a instrucção, educação, hygiene,
alimentação, habitação, (...) É tempo de se cogitar a criação de
escolas agrárias e technico-industriaes, (...) saneamento dos
campos, construcção de vilas operárias (...) (Plataforma Política da
Aliança Liberal in NUNES, 1991, p.06).
Diante de uma grave crise econômica, eleições conturbadas e resultados
contestados, agitações populares e articulações políticas, aconteceu a Revolução de
41
30. Getúlio Vargas foi levado ao poder e aliou sua formação positivista ao
populismo, pretendendo atenuar conflitos sociais gerados pelo processo de
industrialização e urbanização do país. Seu projeto visava resolver a polarização
existente entre as classes sociais, através de uma política de conciliação, garantindo
certos direitos aos trabalhadores, que lhes assegurassem uma melhoria real das
condições de trabalho, como uma forma de esvaziar a pressão sobre o Estado
(FARAH, 1983, p.117).
A ação política-administrativa de Getúlio Vargas deixou marcas importantes
em diversos campos da vida econômica e social brasileira. Na economia, por
exemplo, significou o advento da grande siderurgia, através da criação da
Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, bem como da exploração de petróleo,
através da criação da Petrobrás, entre muitas iniciativas relevantes. No âmbito
social, criou a legislação trabalhista, introduzida a partir de 1930. A questão social
passava a constituir um item relevante da agenda do Governo Federal. (BONDUKI,
1998, 76).
Até a década de 30, as normas do Direito Civil eram aplicadas às relações
entre patrões e empregados, embora alguns temas do direito do trabalho tivessem
sido objeto de legislação específica antes da Revolução. Em 1919 foi aprovada uma
lei tratando dos acidentes de trabalho, impondo obrigação ao empregador de
responder sozinho pelos acidentes, o que atualmente está previsto no artigo 7º,
XXVIII da Constituição. No entanto, a primeira lei mais extensa sobre o assunto é a
famosa Lei Helói Chaves de 24/01/1923, criando taxa de previdência nas empresas
ferroviárias, que ensejou a criação do primeiro fundo de pensão do país, então
chamado de Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários. Essa legislação foi
importante porque muitas das regras relativas aos contratos de trabalho tiveram
42
origem na legislação previdenciária, que começou a ser esboçada no país nos anos
vinte. (SLAIBI FILHO, 2000).
Em 1930, logo após a posse do Governo Provisório, teve início a longa
intervenção do governo de Getúlio Vargas sobre a questão social e, particularmente,
sobre a legislação trabalhista. uma redefinição do padrão de relação Estado-
classes subalternas no Brasil”; a legislação trabalhista, a estrutura sindical e a
Previdência Social acabaram tornando-se os “eixos” de redefinição dessa relação.
(FARAH, 1983, p.18).
Segundo SAMPAIO (2002, p.22), Getúlio Vargas estava disposto a conquistar
o eleitorado urbano como sua base de sustentação; considerava o trabalho um dos
pilares da construção do “novo homem brasileiro” e o instrumento de integração do
homem à sociedade. Dentro desse conceito, a moradia e a família assumiam papel
fundamental e foi, através da criação de uma legislação trabalhista e previdenciária,
que se pretendeu atender às carências dessa população, inclusive as habitacionais.
Em novembro de 1930 foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio e, em de outubro de 1931, o Decreto 20.465 reformou a legislação
sobre as Caixas de Aposentadoria e Pensões das categorias, estabelecendo a regra
da estabilidade no emprego após 10 anos de trabalho (SLAIBI FILHO, 2000). O novo
Ministério do Trabalho incorporou as poucas Caixas de Pensões criadas sob a égide
da Lei Eloy Chaves e criou diversos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) de
1933 a 1938, sendo eles:
IAPM (marítimos) - 1933
IAPB (Bancários) - 1934
IAPE (estivadores) – 1934
IAPC (comerciários) - 1934
43
IAPETC (empregados em transportes e cargas) – 1934
IAPI (industriários) –1936
IAPASE (servidores do Estado) - 1938
Embora as Caixas de Aposentadoria (CAPs), geridas independentemente do
governo, tenham servido de modelo para a criação dos IAPs, nestes últimos, a
participação e controle direto do Estado eram determinantes. O controle do Estado
sobre a administração dos Institutos se dava através da indicação dos seus
presidentes e a criação de órgãos de controle de recursos subordinados ao
Ministério do Trabalho, dentro de uma estratégia de centralização administrativa.
(FARAH, 1983, p.23).
Segundo VARON (1998, p.226), a criação dos IAPs “obedeceu em ordem de
prioridade, àquelas categorias profissionais mais politicamente organizadas”. Cada
uma destas instituições possuía legislação específica, o que fazia com que houvesse
muitas diferenças administrativas, financeiras e de assistência. Essas autarquias
tinham orçamento próprio, desvinculado do governo federal, mas os salários de seus
funcionários eram pagos pelo Tesouro.
Desta forma, nasceram os vários Institutos, entre eles o Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) através da Lei . 367 de 31 de
dezembro de 1936, que abrigava os trabalhadores da indústria. Para Guy Calheiros
Gomes de Barros
1
, de todos os IAPs, o IAPI – Instituto dos Industriários - era o mais
organizado administrativamente, com agências em diversas localidades e quadro de
funcionários selecionado por concurso público.
1
Vice-Presidente do SINDPREV-AL. Opinião expressa em artigo ao site do sindicato dos
trabalhadores em seguridade social e trabalho no Estado de Alagoas. Disponível em: <www.sindprev-
al.org.br>. Acesso em: 25 nov. 2006.
44
A partir de 1937, os Institutos de Aposentadoria e Pensões, inclusive o IAPI,
passaram a atuar no setor habitacional beneficiando seus milhares de associados,
através de uma política de construção de habitações em massa em diversas cidades
do Brasil. Tiveram papel fundamental na produção habitacional do período, que foi
fortemente influenciada pelo movimento moderno da arquitetura, que surgia e se
expandia pelo país, como veremos adiante.
Durante a Segunda Guerra Mundial, sob a alegação de situação de
emergência, o governo brasileiro institui o Decreto-Lei 4598 de 20 de agosto de
1942, dando início a uma série de leis sobre o inquilinato, que foram se renovando
até 1964. Estas leis visavam a defesa do inquilino através de congelamento de
aluguéis, regras para locação, despejo, reajuste, cobrança de taxas, entre outras. A
Lei do Inquilinato promoveu uma desestruturação do mercado rentista, uma vez que
houve certo desinteresse pelas locações, gerando transferência de recursos, do
setor imobiliário para o setor industrial e redirecionando investimentos da
especulação imobiliária para incorporações e comercialização de apartamentos, em
edifícios residenciais dirigidos à classe média (GALESI, 2002, p.06).
Em 1945 chegava ao fim o Estado Novo, com a renúncia de Getúlio Vargas.
Em janeiro de 1946 era empossado o presidente Eurico Gaspar Dutra e promulgada
uma nova Constituição, que combinava princípios de liberalismo e normas de cunho
social. Houve controle de importações, congelamento de salários e procurava-se
criar condições para o desenvolvimento da economia urbano-industrial voltada para
o mercado interno. Houve aceleração na urbanização e aumentou a pressão popular
para a solução dos problemas gerados pelo desenvolvimento. (FINEP-GAP, 1985,
p.61)
45
O ponto de partida para a ação do governo Dutra na área da habitação foi a
criação da Fundação da Casa Popular, em de maio de 1946, através do decreto-
lei 9.218, à qual as Carteiras Prediais dos Institutos ou Caixas de Aposentadoria e
Pensões passaram a subordinar-se, na tentativa de sistematizar atividades, até
então, dispersas. (FINEP-GAP, 1985, p.62)
Através de eleições, Getúlio Vargas voltou à presidência da República, em
1951, com um governo conservador. Neste peodo houve fortalecimento sindical, o
governo perdeu suas bases populares e a crise política se agravou. Getúlio se
suicidou em 1954 e o vice, Café Filho, acabou assumindo o governo até as eleições
de 1955, quando Juscelino Kubitscheck saiu vitorioso. (SILVA, 1992, p.269).
O Processo de urbanização do Brasil se intensificou durante o governo JK,
com o impulso da industrialização. A concentração populacional urbana explodiu
com a migração vinda do campo, principalmente nas grandes cidades do Sudeste.
Apesar do grande desenvolvimento econômico e do processo de urbanização,
durante o governo Kubitscheck, a questão habitacional não recebeu atenção, nem
mesmo foi citada no “Plano de Metas” e a crise da moradia se aprofundou. As
atividades da Fundação da Casa Popular foram desenvolvidas até 1955, através do
financiamento de habitações, infra-estrutura, estudos de métodos construtivos,
indústrias de materiais, etc. e foram encerradas, definitivamente, em 1960.
Segundo SLAIBI FILHO (2000), em 1960 houve uma Lei Orgânica, criando
padrão uniforme para todos os Institutos de Aposentadoria e Pensões, com
referência à contribuição e aos benefícios. Tal como as CAPs, os IAPs adotaram o
“regime de capitalização”, através do qual os recursos arrecadados podiam ser
investidos para o aumento do fundo, garantindo os pagamentos e assistências no
futuro. Estes recursos foram amplamente empregados em projetos estratégicos para
46
o desenvolvimento nacional como indústrias, siderúrgicas e até mesmo a construção
de Brasília (BONDUKI, 1998, p.102). Segundo VARON (1998, p.245):
[...] os conjuntos residenciais construídos pelos IAPs em Brasília são
mais um exemplo de como as reservas dos Institutos eram
manipuladas pelo governo para atender seus objetivos estratégicos”.
Coube assim, aos Institutos, papel fundamental na expansão do capitalismo e
da industrialização no Brasil em três frentes: manutenção do consumo nimo das
camadas de menor renda, incapacitadas para o trabalho por velhice, doença ou
morte do chefe da família; elevação da capacidade de trabalho dos assalariados
através da assistência médica; e fonte de recursos para investimento em diversos
setores da economia. (BONDUKI, 1998, p.103).
Em 1960 Jânio Quadros foi eleito presidente, cargo ao qual acabou
renunciando em 1961. No mesmo ano, João Goulart tomou posse e foi adotado o
regime Parlamentarista no país.
Após um governo de crise econômica e política, Jango acabou exilado no
Uruguai em 1964 com o golpe militar, e instalou-se um novo regime (FINEP-GAP
1985, p.62-63). A partir de então, delineia-se uma nova forma de intervenção no
setor habitacional com a extinção dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, a
criação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e do Banco Nacional de
Habitação (BNH), como veremos, com maiores detalhes, no Capítulo 4.
47
3.1 OS IAPS E A QUESTÃO HABITACIONAL
No início da industrialização do país, a força de trabalho era pequena,
especializada e as indústrias precisavam mantê-la. Com o desenvolvimento da
tecnologia, esta tendência começou a desaparecer e surgiu a necessidade de
regulamentar o mercado de força de trabalho, função que passou a ser exercida
pelo Estado. A partir de 1930, o governo brasileiro passou a dedicar grande atenção
à classe operária, não apenas em relação às condições de trabalho, mas também à
previdência, e ao quanto o item moradia consumia dos salários; neste contexto
passou a atuar na questão habitacional. (VARON 1988, p.221)
Como foi dito anteriormente, durante a ditadura Vargas, a questão
habitacional assumiu uma importância jamais vista. A habitação passou a ser
encarada como fator econômico (reprodução de força de trabalho) e crucial na
“formação ideológica, política e moral do trabalhador e, portanto, decisiva na criação
do ‘homem novo’ e do trabalhador padrão, que o regime queria forjar como sua
principal base de sustentação política”. Neste período, surgiram vários profissionais
interessados no problema da habitação operária com o qual, até então, os médicos
e sanitaristas haviam se ocupado. Engenheiros, urbanistas, assistentes sociais,
empresários, sociólogos, entre outros, e instituições tais como o Instituto de
Engenharia, o Idort (Instituto de Organização Racional do Trabalho), a Escola Livre
de Sociologia e Política - apenas para citar algumas delas - começaram a promover
debates sobre o assunto e o problema de moradia tornou-se multidisciplinar.
(BONDUKI, 1998, p.73-74).
Durante a República Velha, os setores sociais, que se beneficiavam do
mercado rentista, tiveram força para impedir todo tipo de ação que pudesse
48
prejudicar seus negócios. Neste período o Estado limitou-se, apenas, a propor uma
legislação para reprimir situações de precariedade das moradias e higiene, em razão
da pressão exercida pelos higienistas, em relação à prevenção de epidemias. A
partir dos anos 30, o problema da habitação passou a ser encarado de outra forma.
Era consenso que a questão não poderia ser resolvida pela iniciativa privada,
demandando intervenção governamental. (BONDUKI, 1998, p.74)
Getúlio Vargas proferiu um discurso em novembro de 1938, defendendo a
racionalização da construção e a implantação de “grandes núcleos de habitações
modestas e confortáveis”:
As casas operárias, construídas pelas Caixas e Institutos em vários
Estados, ainda são em pequeno número e de preço elevado, em
relação às posses dos empregados. Dei instruções ao Ministério do
trabalho para que, sem prejuízo das construções isoladas onde se
tornarem aconselháveis, estude e projete grandes núcleos de
habitações modestas e confortáveis. Recomendei, para isso, que se
adquiram grandes áreas de terrenos e, se preciso, que se
desapropriem as mais vantajosas; que se proceda à avaliação das
mesmas; que se levem com consideração os meios de transporte para
esses núcleos; que se racionalizem os métodos de construção; que se
adquiram os materiais, diretamente, ao produtor; tudo, enfim, de modo
a se obter, pelo menor preço, a melhor casa. Cogita o governo,
também, de permitir, pelo Instituto dos Industriários, o financiamento
de casas a serem construídas nos terrenos das próprias fabricas,
mediante condições vantajosas para os industriais, com a condição de
alugarem aos operários e por preços módicos. (VARGAS, 1938
apud BRUNA, 1998, p.81).
1
Segundo BRUNA (1998, p.81), vários pontos a destacar em relação à
maneira com a qual Getúlio aborda o tema habitacional no seu discurso:
- firmeza, ao indicar que o Estado Novo havia assumido a
“responsabilidade” pelo provimento de habitações adequadas à classe trabalhadora;
1
VARGAS, Getulio. O Estado Novo e o momento brasileiro. (Entrevista à imprensa no primeiro aniversario da
nova Constituição: 10 de Novembro de 1938), in A NOVA POLITICA DO BRASIL, vol. VI. Realizações do Estado
Novo, 1 de agosto de 1938 a 7 de Setembro de 1939, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1940, pg. 99
e 100 (O lar do trabalhador).
49
- a política habitacional não se limitava à construção de “casas isoladas”,
mas também a grandes conjuntos habitacionais multifamiliares, racionalmente
projetados e construídos.
a consciência da necessidade de planejamento do crescimento das
cidades a longo prazo;
- o havia um Ministério da Habitação e Desenvolvimento Urbano, essa
política era aplicada através do Ministério do Trabalho.
Naquele momento iniciava-se profunda mudança no mercado de provisão
habitacional. Manifestou-se uma crise de habitação que atingiu especialmente os
não-proprietários das principais cidades do Brasil. A partir da década de 1940, as
reivindicações relativas à moradia passaram a ser dirigidas ao Estado, em função da
deterioração das condições habitacionais da população nas cidades, além das
novas funções assumidas, no que dizia respeito à classe trabalhadora a partir da
Revolução (FARAH, 1983, p.35).
Não se pode negar que da década de 1930 a 1950, o Estado exerceu um
importante papel na provisão de diversos serviços, como tentativa de regular
processos relacionados à formação e reprodução da força de trabalho no Brasil,
inclusive no setor habitacional através dos IAPs, apesar dessas políticas de bem
estar social não chegarem a se estender, efetivamente, a toda camada carente da
população. Mesmo assim, uma série de propostas, algumas bastante avançadas, foi
levada adiante, com a participação de muitos arquitetos e engenheiros interessados
no assunto (GALESI, 2002, p.06). O governo criou órgãos encarregados de produzir
e financiar a produção habitacional: as Carteiras Prediais dos Institutos de
Aposentadoria e Pensões e, posteriormente, a Fundação da Casa Popular (FCP).
50
Mesmo não tendo sido tão ampla quanto o necessário, a produção
habitacional deste período merece uma observação bastante cuidadosa. O setor
previdenciário foi uma grande fonte de recursos para o financiamento da produção
habitacional estatal. Embora sua principal atividade fosse proporcionar benefícios
previdenciários e assistência médica aos segurados, a sua atuação no setor
habitacional foi de grande importância para o país:
Os institutos representaram uma tentativa de estender a Previdência
Social ao conjunto de assalariados urbanos. Seus recursos
possibilitaram investimentos habitacionais para a classe
trabalhadora, num período em que o Estado iniciava políticas
desenvolvimentistas direcionadas à criação de uma infra-estrutura
industrial. (BONDUKI, 1994, p.154-156 apud GALESI, 2002, p.06).
Até 1930 as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) podiam aplicar
seus recursos em tulos da dívida blica e na aquisição ou construção de prédios
para suas sedes e serviços de saúde. Com a Revolução de 1930, foi liberada a
aplicação na construção de casas para os associados das respectivas Caixas com
garantia hipotecária. (VARON, 1988, p.228). Segundo FARAH (1983, p.40), a
construção de habitações pelas Caixas não era um objetivo adicional dessas
instituições, mas uma “modalidade de aplicação de reservas acumuladas pelo
regime de capitalização” e, qualquer iniciativa nesse sentido, deveria ser aprovada
pelo Ministério do Trabalho.
Em 1937 foi publicado o decreto 1.749, autorizando os recém-criados
Institutos de Aposentadoria e Pensões a terem Carteiras Prediais, e destinarem até
metade de suas reservas para habitação. Além disso, reduzia taxas de juros de 8%
para 6%, ampliava prazos de pagamento de 10 para 25 anos, elevava o limite
máximo de financiamento e autorizava a concessão do benefício para associados
51
que possuíssem casa própria. O principal objetivo da proposta era resolver o
problema habitacional do trabalhador da categoria.
No entanto, devido ao teto mínimo de salário estipulado pelos Institutos, nem
todo o trabalhador, a quem se destinava o projeto, era beneficiado e o mais humilde
ficava excluído dessa vantagem. Para ter acesso à moradia, o trabalhador deveria
ser associado ao IAP da sua categoria profissional e pagar uma contribuição mensal
compulsória, desde que recebesse um salário correspondente ao teto nimo
estipulado pelo seu Instituto. Em relação ao IAPI, inicialmente, os imóveis eram
alugados aos associados que atendessem aos requisitos acima citados. (BONDUKI,
1998, p.104).
Ainda segundo BONDUKI (1998, p.104), embora cada IAP tivesse suas
próprias normas e instruções específicas para o funcionamento de suas Carteiras
Prediais, aos poucos, os três planos de operações imobiliárias do IAPI foram
adotados pelos outros Institutos e vigoraram, sem grandes alterações, até 1964.
Eram eles:
Plano A: Locação ou venda de unidades habitacionais a associados,
em conjuntos adquiridos ou construídos pelos Institutos, sem prejuízo
da remuneração mínima do capital investido;
Plano B: financiamento para a aquisição ou construção em terreno
próprio do associado;
Plano C: empréstimo hipotecário a qualquer pessoa (física ou jurídica)
e outras operações imobiliárias, que proporcionassem uma constante
remuneração das reservas.
52
Unidades Habitacionais produzidas entre 1937 e 1964, por cada plano:
IAPs Plano A Plano B Subtotal
IAPB 5.511 12.347 17.858
IAPC 11.760 16.219 27.979
IAPETC 3.339 2.917 6.256
IAPFESP 742 25.053 25.795
IAPI 19.194 17.219 36.413
IAPM 882 2.451 3.333
IPASE 6.361 - 6.361
TOTAIS
47.789
76.236
124.025
Tabela 1 – Unidades habitacionais por Plano. Fonte: Finep – GAP 1983 apud FARAH 1983:177
Somando-se a produção de unidades da Fundação da Casa Popular (FCP)
no período de 1946 a 1960, que foi de 16.964 unidades, chega-se a um total de
140.989 unidades, que representa um número muito expressivo, ainda mais se
consideramos a época em que foram construídas (ANDRADE, 1982
1
apud BRUNA,
1998, p.83). Os planos A e B tinham caráter social, ainda que tenham beneficiado
associados de classe média ou alta. o Plano C, tinha como principal objetivo a
manutenção da estabilidade econômica e financeira das instituições, além de
permitir aos Institutos comportarem-se como investidores, selecionando as melhores
aplicações, do ponto de vista de retorno de capital. (VARON, 1998, p.234)
Os investimentos nos Planos A e B passaram a ser maiores que os do Plano
C que, até então, era o principal investimento dos Institutos entre 1945 e 1950
(governo Dutra). Apesar da preferência de vários segmentos pela casa própria,
durante a ditadura Vargas, a adoção de aluguel aos associados, através do Plano A,
foi largamente utilizada pelos institutos, sendo que, grande parte dos conjuntos
construídos a partir da década de 30, tinha esse intuito:
1
ANDRADE, Luiz A. Gama e AZEVEDO, Sérgio de.
Habitação e Poder: Da Fundação da Casa
Popular ao Banco Nacional de Habitação.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.
53
Ao manter a propriedade dos conjuntos habitacionais, os IAPs
preservavam e valorizavam um patrimônio que gerava renda de
aluguel, transformando-se numa espécie de rentistas estatais.
(BONDUKI, 1994, p.107)
Ainda segundo BONDUKI (1994, p.107), o Plano A pode ser considerado uma
combinação de programa de habitação social e investimento das reservas
previdenciárias.
Os grandes conjuntos multifamiliares eram novidade no país, pois até então, a
política higienista havia defendido a casa isolada no lote. Embora a grande
concentração de população propiciasse maior potencialidade de manipulação
política e controle das atividades do proletariado por parte do Estado, a habitação
coletiva e a produção em massa, não menos inovadora, seriam a solução para a
grande demanda habitacional provocada pela industrialização e urbanização
recentes:
Até cerca de 1940 a industrialização dos materiais de construção seria
tímida, em escala modesta, quase artesanal. A indústria ainda não
atingira estágio de atendimento do mercado nacional; em verdade, no
que se refere à construção, ensaiava apenas alguns avanços.
verificava-se a importação de muitos equipamentos e materiais
estrangeiros e, em contrapartida, nos centros mais modestos, os
progressos estavam longe de acompanhar os das grandes cidades”
(REIS FILHO, 1970, p. 64).
O porte das obras, a escassez e a falta de padronização dos materiais exigiu
da Divisão de Engenharia do IAPI o desenvolvimento de soluções e suscitou
investigações e reflexões sobre vários aspectos da construção civil, desde projetos
arquitetônicos e urbanísticos, procedimentos e novos materiais, até aspectos sociais
e administrativos, visando à racionalização e redução de custos:
Estudos minuciosos realizados pela Divisão de Engenharia do Instituto
levaram-na a adotar a alvenaria de blocos de concreto como a solução
mais adequada do problema de redução de custo das habitações,
assegurando ao mesmo tempo rapidez de execução e dotando-as de
54
superiores qualidades de resistência e isolação sonora e térmica. Para
a produção dos blocos necessários à execução do programa de
construções traçado dentro do prazo de 30 meses, estudou o Instituto
a montagem, junto à obra, duma fábrica de blocos de concreto pré-
moldados, que é a primeira no gênero entre nós instalada, provida de
mecanismos inteiramente automáticos para o fabrico em larga escala.
(ABCP, 1941 apud GITAHY, 2002, p.118).
Entre os Institutos, o que mais fortemente aderiu às propostas modernistas
foi o IAPI, sendo o principal disseminador de novos materiais e técnicas como, por
exemplo, o uso do bloco de concreto e vergas de portas e janelas pré-fabricadas,
tanto no projeto do Conjunto do Realengo, como no de Santo André, ambos
projetados pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira.
Segundo Ferreira, as realizações inovadoras na produção habitacional
do órgão devem muito aos presidentes do Instituto durante o Estado
Novo e o Governo Dutra, os engenheiros Plínio Castanhede e Pedro
Alim, por terem escolhido pessoalmente os arquitetos contratados e
lhas proporcionado total autonomia. Castanhede teve importante
atuação no desenvolvimento de projetos de grande dimensão, como o
de produção de 2.000 habitações, numa época em que se pensava
em empreendimentos de no máximo 200 casas. O IAPI importou,
entre 1948 e 1950, cerca de 1,33 milhão de sacas de cimento e
construiu ou financiou, na década de 1940, provavelmente mais obras
do que qualquer outro órgão ou empresa individual até então.
(BONDUKI, 1998 apud GITAHY, 2002, p.117)
Em fevereiro de 1946, durante o governo Dutra, foi criada a Fundação da
Casa Popular (FCP), com o objetivo de solucionar o problema habitacional em
âmbito federal. No entanto, sua produção foi muito menor que a dos IAPs, ou seja,
no mesmo período, a FCP produziu 18.132 unidades, enquanto os Institutos
produziram 123.995 unidades. (BONDUKI, 1998, p.115).
A construção de conjuntos habitacionais pelos Institutos (Plano A) atingiu o
apogeu entre 1946 e 1950 com a edificação de 72 conjuntos pelo país. Nesse
período houve um aumento, não do número e do tamanho dos conjuntos, como
55
da implantação de equipamentos coletivos, além de ser dado um destaque maior por
parte do governo a essas realizações (FARAH, 1983, p.77-83).
A partir da reformulação da Lei do Inquilinato em 1950, com a crise financeira
do sistema previdenciário e o esvaziamento de suas reservas, bem como a inflação,
os Institutos acabaram tendo prejuízo nesse tipo de investimento, com a drástica
redução do valor real dos aluguéis. Como forma de compensar perdas futuras, os
IAPs começaram a fixar as prestações dos aluguéis iniciais em níveis muito
elevados, fazendo com que as moradias ficassem inacessíveis, o que propiciou
várias invasões dos conjuntos por parte dos associados. Com o passar dos anos,
ficou evidente a baixa rentabilidade da aplicação de reservas na aquisição de
habitações para os associados e a ameaça de esvaziamento dos recursos passou a
ser uma grande preocupação, reforçada pelo não cumprimento, pelo Estado, da
parte que lhe cabia da contribuição previdenciária (sistema tripartide: empregador,
empregado e Estado). Neste contexto, muitos técnicos passaram a defender o Plano
C como sendo o único meio de garantir o pagamento dos benefícios:
A atuação dos IAPs no setor da habitação popular enfrentou,
entretanto, uma série de dificuldades entre elas dois fatores foram
fundamentais: a pressão inflacionária na economia do país que
cresceu rapidamente após a década de 30 e a Nova Lei do Inquilinato
de 1950 (vigorando até 1964) que congelou os aluguéis tornando a
construção de conjuntos residenciais para locação uma atividade
deficitária ou sem qualquer possibilidade de retorno financeiro.
(VARON, 1998, p.244)
Os IAPs reduziram o número de moradias oferecidas a seus associados.
Surgiram críticas daqueles que defendiam o caráter social dos investimentos,
alegando que os Institutos atendiam aos segmentos de classe média e, até, de alta
renda, excluindo trabalhadores não assalariados, que não podiam se associar a
eles. Este argumento reforçou a idéia de unificação dos Institutos, a qual sofreu forte
oposição por parte dos setores sociais favorecidos pelo sistema de IAPs. Os
56
Institutos chegaram a ser unificados pelo decreto 7.536/45, que criou o Instituto de
Serviço Social do Brasil ISSB, mas na prática, a unificação aconteceria em
1964, com a criação do BNH. (VARON, 1998, p.244).
3.1.1 A produção habitacional dos Institutos
BONDUKI (1998, p.128) afirma que, embora as ações habitacionais desse
período (1930 a 1964) possuíssem contradições e, por vezes, fossem voltadas a
retornos políticos de curto prazo, é necessário reconhecer que houve uma produção
de moradias relativamente numerosa, mesmo que tenha ficado aquém das
necessidades concretas da população carente. Entre 1937 e 1964, os Institutos e a
FCP produziram cerca de 143 mil unidades, um número bastante significativo,
levando-se em conta que a população urbana do país era de 16,2 milhões de
pessoas. Os investimentos foram direcionados para cidades com maior poder
econômico e político, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Brasília.
Segundo FARAH (1993 apud BRUNA 1998, p.83), a expansão da atividade
dos IAPs no setor habitacional, entre 1946 e 1950, não foi apenas em razão da
importância política dada à questão habitacional por parte do Estado. Também havia
o componente de “constituição e sustentação de um setor capitalista de construção
de moradias”, já que o investimento na construção para aluguel entrara em colapso.
Dentro deste contexto, os conceitos do Movimento Moderno acabaram sendo
fortemente disseminados, debatidos e absorvidos pelos profissionais, que estavam
envolvidos nos projetos dos conjuntos habitacionais. Segundo BRUNA (1998, p.84),
57
este fato é demonstrado em vários documentos sobre debates da época como, por
exemplo, os Anais do 1° Congresso de Habitação, organizado pelo Instituto de
Engenharia em maio de 1931, que demonstrava “semelhança entre objetivos e
métodos” com os dois Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (Frankfurt
– 1929 e Bruxelas – 1930).
Do ponto de vista qualitativo, as experiências realizadas induziram a uma
renovação significativa da linguagem e das tipologias arquitetônicas, no que se
refere ao uso habitacional. Os projetos dos conjuntos buscaram soluções
inovadoras, com equipes multidisciplinares de alto nível, introduziram novas formas
de se produzir arquitetura e urbanismo no país, bem como, a industrialização e
racionalização da construção civil. Claramente influenciados pelas experiências
européias, preocuparam-se com o conceito da moradia nima, incluindo mobiliário
para as unidades, equipamentos urbanos etc.
[...] O Instituto (IAPI), após estudos meticulosos do problema em seus
vários aspectos, vem executando seu vasto programa de construção,
dando solução integral ao problema nas regiões onde os salários
mínimos dos associados comportam a construção de Conjuntos
Residenciais modelos, providos, além do mais, de assistência
hospitalar, institutos profissionais, escolas, estabelecimentos de
puericultura, etc. Nas regiões onde os salários são bastante baixos,
surge a solução parcial, e então os Conjuntos Residenciais são
apenas núcleos de casas, com requisitos higiênicos, sem comparação
com os mocambos, favelas ou cortiços, sacrificando-se, porém, as
soluções urbanísticas aconselháveis, com o intuito de reduzir ao
mínimo o valor da habitação.
1
(Revista Acrópole, 53, setembro de
1942, pg.161).
Tanto as propostas quanto as realizações eram grandiosas, principalmente na
década de 1940; não havia monotonia e repetição, cada edifício era planejado
individualmente, resultando em boa qualidade. Com o objetivo de baratear custos,
as grandes habitações coletivas eram abertamente defendidas, e havia a
1
Entrevista concedida pelo Engenheiro Paes Barreto à revista Inapiários e reproduzida na revista
Acrópole n° 53, setembro de 1942, pg. 161.
58
consciência de que a questão não se encerrava na construção das moradias
muitos conjuntos foram construídos e equipados com creches, escolas, postos de
saúde, etc.:
A preocupação com a racionalidade e a modernidade nos conjuntos
construídos pelos IAPs propiciou, particularmente no caso do IAPI, a
incorporação de propostas modernistas inclusive no que se refere à
moradia popular vertical. Este era um conceito que sofria grande
oposição dos setores mais conservadores, que associavam a
habitação coletiva aos perigos da promiscuidade, da agitação
política e da indisciplina dos trabalhadores estigma derivado dos
cortiços. Ao contrário, as propostas modernistas socialmente mais
progressistas frisavam a importância das soluções habitacionais
verticais como forma de maximizar os recursos disponíveis,
aproveitar melhor os terrenos e baratear o atendimento, acentuando
os princípios de racionalização das tipologias e dos processos
construtivos. Muitos dos arquitetos envolvidos na produção da
habitação social, adotaram os princípios do Movimento Moderno,
procurando compatibilizar economia, prática técnica e estética,
objetivando viabilizar economicamente as necessidades dos
trabalhadores de baixa renda, garantindo dignidade e qualidade
arquitetônica. (GALESI, 2002, p.06).
Os Institutos criaram seus próprios departamentos de projeto com arquitetos
próprios, muito competentes e bem informados a respeito do movimento moderno,
para desenvolver pesquisas e estudos de propostas para habitação em massa.
Havia grande interesse em reduzir o tempo de obra, pois o capital imobilizado estava
sendo investido por Institutos de Previdência, o que incentivava o desenvolvimento
de sistemas racionalizados de construção.
Segundo VARON (1998, p.252), os conjuntos dos IAPs eram construídos por
firmas contratadas mediante concorrência pública realizada, tanto para o projeto,
como para a obra ou pelos próprios Institutos, forma esta utilizada para reduzir
custos, e que passou a ser largamente aplicada. Através de administração direta, o
IAPI teve a iniciativa inovadora de usar os blocos de concreto e, estudos minuciosos
realizados pela Divisão de Engenharia do Instituto, levaram a adotar esse tipo de
alvenaria, vergas de portas e janelas pré-moldadas, enquanto solução mais
59
adequada ao problema de redução do custo das habitações, assegurando rapidez
na execução, resistência e isolação térmica e sonora. Para a produção dos blocos
pré-moldados, dentro do prazo do programa traçado de trinta meses, o Instituto
estudou a montagem da primeira fábrica de blocos do país junto à obra, provida de
máquinas automáticas para o fabrico em larga escala:
Acha-se essa fábrica dotada de uma unidade “Super Automática” de
Besser Manufacturing Company, importada diretamente pelo Instituto
e com capacidade de produção, em 10 horas, de 4.000 blocos de
concreto de 20x20x40 cm³ ou 8.000 de 10x20x40 cm³. Completam a
fábrica as estufas para a cura em vapor, com a respectiva caldeira e
os depósitos de cimento, pedra e areia, com rampas de acesso que
permitem a descarga direta dos caminhões que os transportam.
(Boletim Cimento e Concreto, 1941, p. 269).
Quase todos os conjuntos edificados pelos Institutos possuíam unidades de 2
ou 3 dormitórios ou, amesmo, as duas tipologias concomitantemente.Os projetos
seguiam os princípios modernistas de edifício com pilotis
1
, buscavam a
industrialização, a racionalização dos espaços, grandes aberturas, etc. Alguns
apresentam características urbanas de cidade-jardim ou subúrbio-jardim, como é o
caso dos conjuntos Passo de Areia (Porto Alegre), Cidade Jardim dos Comerciários
(Olaria-RJ), e o trecho de casas do Conjunto Residencial Vila Guiomar (Santo
André-SP).
Segundo BRUNA (1998, p.93), uma das personalidades mais notáveis e
influentes dentro deste contexto foi, sem dúvida, o arquiteto Rubem Porto, assessor
técnico do Conselho Nacional do Trabalho, que fazia parte de um grupo de
reformadores sociais católicos, que defendiam a intervenção estatal no setor
habitacional. Seu livro “O Problema das Casas Operárias e os Institutos e Caixas de
1
Colunas que sustentam a edificação, deixando livre o pavimento térreo.
60
Pensões”
1
talvez seja o primeiro trabalho a sistematizar diretrizes para projetos de
conjuntos a serem implantados pelo poder público.
O trabalho de Porto objetivava orientar e normatizar a atuação dos IAPs,
desde a célula mínima até o urbanismo e a legislação correspondente. Preocupava-
se com o interior das unidades, desde o acabamento até o mobiliário, que devia ser
adequado ao diminuto tamanho das células e às condições de iluminação e
ventilação. Neste ponto lembra o trabalho da Bauhaus e dos arquitetos europeus,
principalmente alemães, como Ernest May. Havia também preocupações com a
organização das unidades (casas ou blocos sobre pilotis), custo e espaços livres e
de lazer. Defendia o apartamento tipo Duplex, como uma ótima solução para as
unidades, e o uso de pilotis, como forma de liberar área para outras atividades
comunitárias. (BRUNA, 1998, p.93).
No caso da organização de blocos de apartamentos em grandes conjuntos
habitacionais, adotava a fórmula de Gropius para a disposição dos blocos no
terreno, ou seja, espaços livres entre edifícios de 4 a 5 pavimentos, devendo
corresponder a um ângulo livre vertical de 15 a 25°. A densidade populacional devia
variar entre 200 e 250 pessoas/hectare e, para as vias, reservava 20% do terreno.
Acreditava que os conjuntos habitacionais deveriam funcionar como unidades
autônomas, providas de todos os serviços necessários à população residente.
Segundo BRUNA (1998, p.98) Rubens Porto apresentava, basicamente,
quatro recomendações, no que se referia à disposição dos conjuntos em termos
urbanísticos, que acabaram sendo adotadas em vários projetos pelo país:
1- evitar intervenções parciais ou fracionadas (interior de antigos quarteirões);
2- concentrar programas em escala regional (sobre grandes eixos);
1
PORTO, Rubens
. O problema das Casas Operárias e os Institutos e Caixas de Aposentadoria
de Pensões.
Rio de Janeiro, 1938.
61
3- liberar os conjuntos de tráfego, através de implantação de equipamentos,
serviços e comércio junto aos eixos de acesso;
4- espaços de esporte para a juventude no próprio local.
Um fato interessante é que tais recomendações acabaram servindo de
referência para nomes de peso, como Niemeyer, Abelardo de Souza e de M. M.
Roberto, em empreendimentos para a classe média, o que demonstra sua influência
na cultura arquitetônica da época. Seguiram, principalmente, os princípios
modernistas da economia, a racionalidade, a valorização do espaço público,
incorporação de equipamentos coletivos e padronização, produzindo soluções
parecidas com as destinadas às populações de baixa renda (BONDUKI, 1998,
p.144).
É necessário lembrar que muitos usuários destes conjuntos eram
trabalhadores recém chegados de zonas rurais, com hábitos e costumes
inadequados à sociedade industrial e urbana que se buscava construir. Era preciso
modernizar não somente a habitação, mas também, sua inserção no meio urbano,
sua produção e o modo de morar, o que seria conseguido com uma reeducação
em grande escala.
“Esboçava-se uma racionalização da vida, mas de modo relativo,
apenas em alguns setores dos centros maiores e, mesmo nesses
locais, grande parte das antigas relações de tipo rural preservava-se, a
despeito dos avanços tecnológicos. As noções de tempo e velocidade,
indicadoras sensíveis das transformações das relações entre as
pessoas, subsistiam quase inalteradas” (REIS FILHO, 1970, p. 66).
Os Institutos também se preocupavam com a utilização das unidades pelos
associados (no Plano A). Muitos dirigentes, inclusive Rubens Porto assistente do
Ministério do Trabalho, defendiam a necessidade de assistência social, para ensinar
os usuários a viver nas novas residências, e também o fornecimento de móveis e
62
utensílios, a fim de garantir menor custo e qualidade dos espaços internos das
unidades, assegurando ventilação e insolação.
Ao adotarem soluções de projeto “racionais”, programas atualizados,
sistemas estruturais e construtivos mais eficientes e econômicos, além
de uma linguagem formal ecoando os novos modos de vida urbana a
serem assumidos pelos moradores em apartamentos, os arquitetos
modernos conseguiram traduzir as novas formas de moradia vertical
em realizações de impacto, obtendo, ao mesmo tempo, ganhos
importantes em termos de qualidade e adequação às necessidades
que surgiam. (GALESI, 2002, p.06)
3.2 A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA MODERNA
Não é possível falar da produção habitacional dos Institutos sem associá-la ao
movimento moderno, pois este encontrou, nos arquitetos das Carteiras Prediais,
grandes entusiastas e disseminadores, que inspiraram toda a produção das décadas
seguintes, contribuindo para a formação da identidade da arquitetura brasileira.
Segundo SAMPAIO (2002, p.22), a arquitetura moderna chegou ao Brasil por
vários caminhos, tendo a imprensa como um importante veículo de divulgação. Duas
publicações, em jornais do Rio e de São Paulo em 1925, deram o “impulso inicial” ao
Movimento no país: a primeira consistiu em uma carta de um jovem arquiteto
chamado Rino Levi, ao jornal O Estado de S. Paulo no mês de outubro; a segunda,
um artigo do arquiteto Warchavchik ao jornal Correio da Man do Rio, em
novembro do mesmo ano. Ambos defendiam a praticidade e a economia da nova
arquitetura que surgia. Outro fato que ajudou na disseminação dos conceitos
modernos pelo país foi a visita e as conferências realizadas pelo arquiteto Le
Corbusier no Brasil em 1929.
63
Para MINDLIN (1956, p.25-26), dois acontecimentos, um de ordem cultural e
outro de ordem política, acabaram propiciando condições favoráveis para o
surgimento, o desenvolvimento e a aceitação do Movimento Moderno no Brasil: a
Semana de Arte Moderna de 1922 e a Revolução de 1930. Na opinião do autor, a
Semana de Arte Moderna representou um grande impacto na sociedade da época e
vinha questionar, através de exposições, conferências e recitais, todos os
preconceitos da sociedade e o ecletismo dominante até então. Neste clima, as idéias
modernas teriam encontrando campo fértil para se desenvolverem como uma
alternativa à arquitetura, até então, vigente e assim, quando Le Corbusier chegou ao
Brasil em 1929 para sua primeira visita a São Paulo e Rio de Janeiro, encontrou
terreno propício para a disseminação de suas idéias modernistas. a Revolução,
liderada por Getúlio em 1930, que trouxe um novo regime e estado espírito, teria
influenciado todos os setores políticos, econômicos e sociais do país, e não teria
sido diferente com a arquitetura.
Já para BRUAND (1981 apud SAMPAIO, 2002, P.23), a aceitação nacional da
arquitetura brasileira, por parte da opinião pública, viria a ocorrer em 1943, com o
reconhecimento internacional após a conclusão do Ministério da Educação no Rio de
Janeiro, obra essa que teve a consultoria de Le Corbusier.
De uma forma ou de outra, o fato é que, a partir da década de 30, a produção
de habitação social no Brasil começou a sofrer grande influência dos conceitos da
Arquitetura Moderna, desenvolvidos na Europa no início do século XX e, com a ação
do Estado, as propostas se consolidaram, conseguindo reconhecimento social e
continuidade política.
Os urbanistas e administradores passaram a tentar incorporar o problema
habitacional ao planejamento das cidades. Foi uma época de grande produção
64
intelectual, criaram-se novas entidades blicas e privadas, as quais estimularam a
organização de eventos e debates sobre questões de interesse para o
desenvolvimento nacional. Houve uma forte modernização do setor da construção
no país com a produção de vários materiais (até então importados), pesquisas
tecnológicas e normatização técnica, visando maior qualidade e atendimento às
propostas modernas de edifício. Foram difundidos novos métodos construtivos, entre
eles o concreto armado, e modificou-se a divisão social e técnica do trabalho na
construção civil (GITAHY, 2002, p.15 -17).
GALESI (2002, p.02) faz uma reflexão sobre a influência da nova arquitetura
sobre aquele momento político-ideológico e sua repercussão no modo de vida da
sociedade:
Afirmando-se no entre-guerras e culminando no Estilo
Internacional, o modernismo arquitetônico esteve, na origem,
intimamente ligado a motivações de ordem social. Sua
aplicação no campo da habitação popular, dos equipamentos
coletivos e de outras edificações destinadas a atender às
demandas de massa, passava por uma visão social
progressista ou mesmo esquerdista e trazia importantes
implicações em termos das soluções urbanísticas que deveriam
balizar esses novos usos e a própria transformação estrutural
das grandes cidades. Assumindo inovações como a
verticalização e o transporte automóvel, a arquitetura moderna
teria um papel decisivo na afirmação dos novos modos de vida
urbana e metropolitana.
Em 1931 a Divisão de Arquitetura do Instituto de Engenharia promoveu o I
Congresso de Habitação, cujo objetivo era o de procurar soluções para os
problemas urbanos de São Paulo, e onde foi afirmada a importância da construção
em série para as moradias econômicas, como forma de economia e maior controle
sobre as obras; a necessidade de pesquisa dos materiais de construção; além da
simplificação e padronização do processo de fabricação desses materiais.
(SAMPAIO, 2002, P.14).
65
A casa econômica não resolve o caso particular dos seus
habitantes. A questão deve ser encarada sob o ponto de vista social.
1
(Boletim do Instituto de Engenharia, n°70, 1931, p.111).
A questão habitacional começou a ser considerada de forma mais ampla,
incluindo aspectos sociais. Durante essa discussão, acabaram formando-se duas
correntes dentro do Instituto: a primeira apresentava uma visão sobre habitação
intergrada à arquitetura, ao urbanismo e problemas sociais e era representada por
Anhaia Melo; a segunda defendia o desenvolvimento industrial e a habitação como
um de seus produtos, corrente esta liderada por Roberto Simonsen. (GITAHY, 2002,
p.135).
Os profissionais brasileiros que iam estudar no exterior e as publicações, que
aqui chegavam, eram outras formas de disseminar as idéias modernas. Engenheiros
e arquitetos participavam de uma comunidade técnica ativa, que se alternava entre
cargos públicos, acadêmicos e empresas privadas, criando oportunidade de exercer
influência nos rumos da política urbana e no clima de desenvolvimento vivido pelo
país.
Em 1941, o IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho) promoveu
a Jornada de Habitação Econômica. Entre os assuntos principais discutidos estava a
questão da construção racional como forma de baratear custos, a organização e a
padronização dos materiais. O programa compreendia aspectos sociais,
econômicos, demográficos, políticos e sociológicos, planificadores, construtivos e
urbanísticos. (Revista de Arquitetura n°51, 1941, p.20 -32).
O objetivo principal da Jornada era a propaganda da casa popular e o
aperfeiçoamento dos métodos construtivos, em um momento em que o governo
1
Trecho do texto introdutório do Boletim do Instituto de Engenharia n°70 em comemoração ao
Congresso da Habitação em abril de 1931, p.111.
66
procurava solução para o problema da moradia, através dos Institutos e Caixas de
Aposentadorias. O presidente da Comissão Executiva da Jornada era o Dr. Rubens
Porto (Ministério do Trabalho); a palestra inaugural foi proferida por Roberto
Simonsen (empresário pioneiro no trato da questão habitacional no país) e as três
conferências principais foram realizadas pelos Drs. Paulo Sá, José Mariano Filho e
Plínio Castanhede (Presidente do IAPI). O evento contou com a presença de vários
representantes da sociedade e do governo, inclusive dos outros IAPs; no entanto,
não teve a repercussão esperada pelos organizadores. (Revista de Arquitetura 52,
1941, p.22-24).
No início de 1945 foi realizado, em São Paulo, o Primeiro Congresso
Brasileiro de Arquitetos, onde foram assumidas algumas indicações para o problema
habitacional no país, tais como: a manutenção de política de aluguel para a classe
mais pobre, o apoio à indústria de materiais de construção, a construção de
conjuntos ao invés de casas isoladas, entre outras (FINEP-GAP, 1983, p.55-57).
Segundo SAMPAIO (2002, p.22), embora as concepções fossem conflitantes,
o regime totalitário vigente, que buscava sustentação política, e o projeto de
sociedade modernista, acabaram encontrando pontos de interesse em comum, que
resultaram na difusão dos modelos habitacionais pregados pelo movimento
moderno. Sobre essa questão, BONDUKI (1998, p.149) afirma que:
[...] as concepções que pressupunham um Estado forte sem contestar
a ordem vigente, como as de Le Corbusier, tendiam a ganhar maior
espaço, pois era coerente com a situação vigente no país. Isto porque
muitos imaginavam que os equipamentos coletivos como creches,
escolas, postos de saúde, cinemas etc., nos conjuntos habitacionais,
exerciam o papel de instituições de controle e reprodução ideológica,
tornando seguro o espaço público.
O tema central do . Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
(CIAM), em Frankfurt – Alemanha, “Habitação para o mínimo nível de vida” tornou-se
67
referência para a formação de novos conceitos no enfrentamento do problema em
relação aos espaços, às funções, à tecnologia e à produção habitacional do país.
Essas idéias modernistas acabaram sendo transpostas para nossa realidade por
meio de pesquisas e projetos voltados para otimizar os métodos construtivos. Novas
tecnologias foram incorporadas e os enfeites subtraídos, bem como, as unidades
residenciais uniformizadas e o traçado urbanístico racionalizado. rios elementos
construtivos, decorativos e utensílios domésticos foram, aos poucos, influenciados
pela revisão de gosto, originada no movimento de arquitetura moderna. Tanto as
coberturas, quanto a compartimentação e utilização das edificações, foram
encontrando novas proporções e formas na nova arquitetura:
“Tecnicamente a renovação não se restringiu ao uso do concreto. As
limitações de importação e necessidades internas do país, no período
da Segunda Guerra Mundial, que persistiriam em seguida até hoje,
constituíram estímulo suficiente para que nossa indústria fosse
substituindo completamente os materiais importados, por produtos
nacionais, dia a dia mais perfeitos. Estas mudanças refletiriam na
arquitetura. Os detalhes, sobretudo, perdidos os vínculos com um
processo quase automático de importação, dos mercados produtores
internacionais com tradições próprias, passariam por uma revisão
salutar, tanto do ponto de vista funcional, quanto do ponto de vista
formal” (REIS FILHO, 1970, p. 90).
A racionalização, verticalização e industrialização surgiram com força total na
idéia de baratear a construção, principalmente na produção dos IAPs. Além das
novas tipologias de blocos multifamiliares, surgiram propostas urbanísticas e
equipamentos coletivos associados às habitações. A modernização urbanística e
verticalização também tiveram amparo em intervenções do poder público, pois
naquele momento, o Estado passou a constituir-se em “núcleo organizador da
sociedade, anunciando a construção do capitalismo industrial no país, e inaugurando
os lemas desenvolvimentistas”
1
(FAORO, 1992, p.08 apud GALESI, 2002, p.01).
1
FAORO, Raymundo. A questão nacional: a modernização. Editorial.
Estudos Avançados
, n. 14
(vol. VI), p. 81, 992.
68
Naquele momento, a arquitetura modernista assumiu papel fundamental, tanto no
que diz respeito à disseminação da idéia do condomínio vertical, como às propostas
mais avançadas para habitação popular:
“A década de 1930 a 1940 assistiria à multiplicação de uma grande
inovação no setor residencial: os prédios de apartamento. Essa
verticalização seria aceita inicialmente com relutância, pois
ameaçava costumes que remontavam dos tempos coloniais” (REIS
FILHO, 1970, p. 79).
A adoção destas idéias exigia revisão de conceitos e costumes e, embora
tenham servido como inspiração para os arquitetos e engenheiros de vários
conjuntos habitacionais dos IAPs, houve choque entre as concepções modernas e
as posturas vigentes no Brasil dos anos 40. Segundo BONDUKI (1998, p.149), a
Igreja exercia forte influência sobre a opinião pública que relacionava a moradia com
a família, devendo ser preservada dos contatos perigosos com o espaço público ou
coletivo. Por esta ótica, a solução estava muito mais próxima do “padrão baseado na
ocupação da periferia com casas próprias autoconstruídas, distanciando-se, sob
vários pontos de vista, das propostas do movimento moderno”.
Entre os arquitetos, que buscavam a implantação de uma sociedade
diferente, através da atuação dos Institutos, estava o carioca Carlos Frederico
Ferreira, que viria a chefiar o setor de projetos da Carteira Predial do IAPI e seria
autor de vários projetos habitacionais, entre eles, o Conjunto Vila Guiomar, tema
desta pesquisa.
69
Fotografia 1 -Carlos F. Ferreira
em 1994.
Fonte: BONDUKI,1998, p. 206.
3.3 O ARQUITETO CARLOS FREDERICO FERREIRA
Assim como não é possível falar sobre a
produção habitacional dos Institutos sem o
movimento moderno, também o se pode deixar de
destacar o nome de um dos arquitetos pioneiros
nesse universo, e autor do conjunto objeto deste
estudo: Carlos Frederico Ferreira.
Ferreira nasceu no Rio de Janeiro em 6 de
junho de 1906, filho de Frederico Carlos Ferreira e
Eufrosina de Freitas Ferreira. Segundo depoimentos
de familiares, chegou a iniciar os estudos de
Engenharia Civil na Escola de Minas de Ouro Preto,
curso que não chegou a concluir (ARAVECCHIA,
2000, p.77). De volta ao Rio de Janeiro, iniciou o curso de Arquitetura na
Universidade Nacional de Belas Artes, onde foi diplomado em 1935. Recebeu
influência das obras de Affonso Eduardo Reidy, Paulo Camargo Almeida e Lúcio
Costa, foi colega de Niemeyer e um dos precursores na promoção de habitação
social no Brasil. (CAVALCANTI 2001, p.77).
Embora a maior parte de sua atuação profissional tenha se dado através do
IAPI, sobretudo na área de habitação popular, desenvolveu vários trabalhos dentro e
fora do Instituto, desempenhando um papel importante dentro da história da
arquitetura brasileira. Apesar do trabalho de grande relevância arquitetônica e
histórica, reconhecido e agraciado com vários prêmios e citações em publicações
internacionais, é pouco conhecido nacionalmente.
70
Carlos Frederico Ferreira foi o chefe do setor de Arquitetura e Desenho da
Divisão de Engenharia do IAPI e o coordenador de projetos habitacionais da Carteira
Predial do IAPI por cerca de 25 anos. Contratado, em 1939, como Engenheiro
Arquiteto, acompanhou a produção habitacional do Instituto pessoalmente até sua
extinção em 1964. Seus arquitetos, incluindo Ferreira, quebraram tradições,
preocupando-se com os equipamentos coletivos, a industrialização, a padronização
das construções e a valorização dos espaços públicos.
O arquiteto recebeu vários prêmios internacionais e menções honrosas, por
projetos de assentamentos habitacionais e equipamentos sociais. Sua produção
para os IAPs recebeu medalha de ouro no IV Congresso Pan-Americano de
Arquitetos em 1940, em Montevidéu, devido à originalidade de suas tipologias
(BONDUKI, 1998, P.206).
Imagem 1 - Painéis das tipologias do Realengo para o IV Congresso
Panamericano de
Arquitetos em Montevidéu em 1940. Fonte:
Revista Municipal de Engenharia
, mar.
1940.
71
Foi o autor do que foi considerado o primeiro conjunto habitacional moderno
de grandes proporções no Brasil – o Conjunto do Realengo no Rio de Janeiro
(1942), e disseminador do uso de blocos pré-moldados de concreto no Brasil,
utilizando blocos fabricados no próprio canteiro de obras no referido conjunto. Este
material, não obstante fosse conhecido naquela época, era pouco utilizado.
(GITAHY, 2002, p.116-117).
“A pesquisa do custo mínimo levou-me a considerar alguns materiais
pouco usados até agora entre nós. Quero me referir principalmente ao
emprego de blocos prensados de concreto usados em substituição
aos tijolos comuns de cerâmica e às placas compensadas revestidas
para divisões internas. As vantagens econômicas são consideráveis e
quanto às qualidades técnicas dos materiais em apreço, a construção
de um grupo experimental confirmou inteiramente as previsões feitas”
(FERREIRA, 1940, p77).
Como foi dito anteriormente, ainda que a atuação mais efetiva de Ferreira
tenha sido à frente dos projetos habitacionais do Instituto, não se pode deixar de
destacar outros diversos projetos por ele desenvolvidos, durante sua carreira.
Segundo uma entrevista concedida pelo desenhista e amigo João de Lima de
Imagem 2 -
Estudo do espaço interno das unidades habitacionais. Painéis para IV Congresso
Panamericano de Arquitetos em Montevidéu em 1940. Fonte:
Revista Municipal de Engenharia
,
mar. 1940.
72
Oliveira
1
, o arquiteto acabou projetando para outros Institutos e particulares, graças
a uma lei da época - Norma PAPS - que autorizava os funcionários do Instituto a
realizarem trabalhos para outras entidades governamentais, bem como, para a
iniciativa privada. Ainda segundo o desenhista, o arquiteto foi autor dos projetos do
IAPI em Taubaté, Guaratinguetá e Sorocaba. Através da Norma PAPS, teria
desenhado o Conjunto do IPASE em Vicente de Carvalho Rio de Janeiro e a sede
do IPASE em Florianópolis. Em 1949 o arquiteto foi designado para representar o
IAPI no VII Congresso Pan-Americano de Arquitetos em Havana e, em 1954,
representou o IAPI no IV Congresso Brasileiro de Arquitetos. Em 1959 foi nomeado
presidente da Comissão de Planejamento e Construção do Conjunto Hospitalar em
Belo Horizonte.
O arquiteto participou, juntamente com Vilanova Artigas, Jorge Machado
Morreira, Milton Roberto, Carlos Leão, A. Silva Telles e os engenheiros Otto Vilmar,
Álvaro Lira da Silva, Paulo Botelho e Agostinho Sá, da Comissão da ABNT para a
preparação de uma norma para a Execução de Desenho de Arquitetura no Rio de
Janeiro em 1945 (GITAHY, 2002, p.116-117).
Carlos Ferreira, o engenheiro calculista Joaquim de Almeida Matos e o
desenhista João Lima de Oliveira formaram uma sociedade, para a elaboração de
projetos particulares e participação de concursos, que funcionava à Rua da
Quitanda, no centro do Rio de Janeiro. Com essa sociedade, acabou recebendo
vários prêmios em concursos de arquitetura; a elaboração de cartazes de
publicidade também lhe rendeu várias condecorações na área de design. O prêmio
considerado mais importante para o arquiteto, segundo familiares, foi o Primeiro
1
Entrevista concedida por João Lima de Oliveira, o Zequito, à arquiteta e pesquisadora Nilce
Aravecchia em fevereiro de 2000 para o trabalho de iniciação científica “Habitação social no Rio de
Janeiro e as contribuições de influências de Carlos Frederico Ferreira e Rubens Porto”.
(ARAVECCHIA, 2000, p.78)
73
lugar no concurso para o projeto dos Armazéns e Estação de Passageiros do Píer
Mauá, no Rio de Janeiro, realizado com a colaboração do Arquiteto Sérgio
Bernardes, que não chegou a ser construído. (ARAVECCHIA 2000, p.78-79).
Nos livros de GOODWIN (1943)
1
e MINDLIN (1956)
2
, Ferreira teve seu trabalho
reconhecido através da inclusão dos conjuntos do Realengo e de Santo André,
como exemplos da boa arquitetura brasileira. Além disso, teve alguns de seus
trabalhos publicados na revista francesa L’Architecture d'Aujourd'hui na edição
especial sobre a arquitetura brasileira do ano de 1952 e na revista Habitat, em 1955.
Recebeu influências internacionais e nacionais e, da mesma forma,
influenciou diversos profissionais, pois seus projetos aliavam funcionalidade e
economia. O arquiteto buscava soluções para viabilizar a “habitação mínima”, além
da racionalização, através da utilização, inédita, de blocos de concreto e a criação
de amplos espaços públicos, para compensar os reduzidos espaços privados.
Após a dissolução do IAPI, Ferreira continuou em seu cargo, como
funcionário do INAMPS, asua aposentadoria em 1970. A partir de então, foi viver
em sua casa de veraneio, na zona rural do distrito de Cachoeiras do Macacú, na
região serrana entre o Rio de Janeiro e Nova Friburgo onde faleceu, em 10 de
outubro de 1995, aos 89 anos. (ARAVECCHIA, 2000, p.79).
A respeito da falta do devido reconhecimento por seu esforço em desenvolver
uma arquitetura racional, econômica e fundamentada nos conceitos modernos,
CAVALCANTI (2001, p.77) afirma: “Carlos Ferreira é um arquiteto injustamente
esquecido pelo tempo”.
1
GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: Architecture New and Old 1652 -1942. New York: The
Museum of Modern Art, 1943.
2
MINDLIN, Henrique E.
Modern Architecture in Brazil
. New York: Reinhold Publishing Corporation,
1956.
74
3.3.1 A Obra do arquiteto
Apesar de Carlos Frederico Ferreira não ser amplamente conhecido dentro da
história da arquitetura, realizou obras e projetos de grande importância, em algumas
cidades do Brasil, tanto através de órgãos públicos como particulares. Constituem
algumas de suas realizações:
Recife:
Bloco de apartamentos e Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Industriários (IAPI)
Teresina:
Projeto da Escola Profissional de Teresina.
Minas Gerais
Conjunto Hospitalar em Belo Horizonte
Rio de Janeiro:
Vencedor do concurso para o projeto do Terminal de Passageiros da Praça
Mauá
Conjunto Habitacional do Realengo (com Leal e Mário H.G. Torres)
Casa de campo Doutor Nair José Vieira
Conjunto Residencial Vicente de Carvalho
Associação Atlética Banco do Brasil
Casa de veraneio do arquiteto (Nova Friburgo - RJ)
São Paulo:
Parque aquático da Sociedade Desportiva Palmeiras
Conjunto IAPI Vila Guiomar (Santo André - SP)
Escola Primária do Conjunto IAPI Vila Guiomar (Santo André - SP)
75
Projeto da Fábrica da C.B.L.C. (Companhia Brasileira de Linhas para Costura)
Residência Doutor Carlos Leite
Conjunto Residencial Jardim Piratininga (Osasco – SP)
Vila IAPI (Taubaté –SP)
Vila IAPI (Guaratinguetá – SP)
Vila IAPI (Sorocaba – SP)
Paraná:
Parque Aquático do Clube Atlético Paranaense (Curitiba)
Santa Catarina:
Edifício-Sede do IPASE em Florianópolis
Embora não tenha sido possível realizar a análise dos projetos de todas
essas obras, devido à escassez de informações, reuniu-se material a respeito de
algumas delas, sobre as quais seguem breves análises:
76
3.3.1.1 Casa de Campo Doutor Nair José Vieira
Rio de Janeiro (1941)
Esta casa, construída para o Doutor Nair José Vieira, eleva-se sobre um
terreno plano e foi publicada na Revista L’Architecture d’Aujourd’hui, em 1952. O
proprietário desejava uma casa térrea, em contato com o jardim; desta forma, foi
criado um terraço, protegido do sol, como prolongamento da sala. Os espaços
interiores são ligados entre si por um corredor e a fachada, voltada para a rua, mede
cerca de 10 metros. Outro destaque do projeto é o mosaico de Paulo Werneck e a
variedade de cores usadas nas paredes.
Fotografia 2. Fachada frontal da casa de campo.
Fonte: Revista L’Architecture d’Aujourd’hui, 1952.
Imagem 3. Fachada frontal da casa de campo.
Fonte: Revista L’Architecture d’Aujourd’hui, 1952.
77
3.3.1.2 Conjunto Residencial IAPI de Realengo
R. Mal. Modestino, esq. R. Mal. Agrícola / Realengo - Rio de Janeiro – 1942
“O presidente me chamou e eu fui lá para ver um projeto que tinha que
fazer, de simplesmente 2.000 habitações. Isto era um negócio muito
chocante, porque na época em que nós vivíamos (1938), a intenção
de financiar habitação era muito precária, os governos eram tímidos, o
máximo que o governo construía era 200 casas.
Mas de repente, veio o IAPI e disse que ia fazer 2.000 habitações.
‘Poxa’ o Plínio Castanhede me chamou e perguntou se isso era viável,
se era possível fazer 2.000 habitações.
Eu disse: mas é claro que é possível, precisa saber onde é que vai
fazer 2.000 habitações” (FERREIRA, 1994 in BONDUKI, 1998).
O Conjunto Residencial do Realengo foi o primeiro dos conjuntos de grande
magnitude construídos no Brasil, e possibilitou o teste de diversas tipologias, cinco
ao todo, desde casas unifamiliares até bloco laminar de edifícios. Projetado por
Carlos Frederico Ferreira em colaboração com Waldir Leal e Mario H. G. Torres, a
obra foi publicada na Revista Municipal de Engenharia em 1940 e recebeu a
medalha de ouro no IV Congresso Pan-americano de Arquitetos, também em 1940.
O conjunto foi projetado em uma faixa de terreno sem acidentes e já adquirida
com todo o arruamento feito, tal como ocorreu no Conjunto IAPI de Santo André e
de Osasco. Este fato acabou por influenciar a homogeneidade do conjunto, segundo
o próprio autor. (FERREIRA, 1940, p.77)
Segundo ANTUNES (1997, p.71), o conjunto construído pelo IAPI no Rio de
Janeiro, com 2.344 unidades habitacionais, fazia parte da política de construção de
grandes conjuntos habitacionais. É constituído, em grande parte, por casas
geminadas, duas a duas, com um ou dois pavimentos em terrenos individuais e
acesso por ruas semelhantes à cidade tradicional sem hierarquização, em um
arruamento pré-existente. Os equipamentos como creche, posto de saúde,
78
administração, escola, igreja e áreas esportivas se concentram em uma praça
central do conjunto.
A grande inovação estava no longo edifício de apartamentos com 60 unidades
destinadas a solteiros ou casais sem filhos, cujo projeto de 4 pavimentos previa o
térreo utilizado por estabelecimentos comerciais e serviços. As unidades são
compostas de um dormitório, sala, cozinha e sanitário. A galeria externa que
sobressai do bloco principal dá acesso às unidades, ampliando a linearidade do
bloco. Na fachada oposta, o jogo volumétrico dos balcões intercalados cria uma
relação de movimento.
ANTUNES (1997, p.71) ainda destaca que, outra característica do projeto é a
racionalidade no dimensionamento dos ambientes configurando, não
preocupação com as instalações, como também com a questão estrutural. Segundo
o próprio FERREIRA (1940, p.79):
“Na análise da planta transparece a nossa intenção de neste como
nos demais tipos fazer da habitação um espaço organizado para se
viver”.
Fotografia 3 e 4. Bloco de apartamentos do Realengo
em construção.
Fonte: GOODWIN, 1943, p.127.
79
Imagem 4 -
Caixa d’água projetada para
o conjunto do Realengo.
Fonte: GOODWIN, 1943, p.126.
Fotografia 7 -
Bloco de apartamentos do
Realengo em construção.
Várias tipologias são experime
ntadas neste conjunto
e são semelhantes àquelas usadas no conjunto da
Vila Guiomar- Santo André.
Ao lado: Fotografia 5 -
Casas unifamiliares
geminadas do Realengo.
Abaixo: Fotografia 6 - Casas de dois andares.
Fonte: GOODWIN, 1943, p.127.
Dimensões:
17m de altura
e 6m de
diâmetro.
80
Circulação através
de galerias.
Imagem 5 - Planta e fachada - pavimento tipo com apartamentos de 1 dormitório.
Fonte: ANTUNES, 1997.
Os pequenos balcões salientes
movimentam a fachada oposta e no
térreo lojas voltadas para o
comércio local.
Imagem 6 - Planta pavimento tipo com apartamentos de 1 dormitório.
Fonte: XAVIER, 1991, p. 49.
81
3.3.1.3 Conjunto Residencial Vila do IAPI Taubaté
Taubaté – SP
Diferentemente de outros conjuntos projetados pelo arquiteto, este se localiza
próximo à área central da cidade, consistindo em, apenas, 148 unidades da mesma
tipologia. Os sobrados geminados são organizados em fileiras e possuem áreas
livres frontais, como nos projetos do Realengo e de Santo André. As ruas e a
implantação das unidades acompanham as curvas de nível do terreno acidentado.
(ARAVECCHIA, 2000, p. 104).
A tipologia utilizada assemelha-se às casas sobrepostas do Realengo e o
método construtivo é o mesmo, com uma única laje cobrindo as várias unidades de
uma fileira, que variam entre 4 a 8 unidades, cada uma das quais composta por 2
salas, cozinha, área de serviço, banheiro e 2 dormitórios.(ARAVECCHIA, 2000, p.
104).
Segundo ARAVECCHIA (2000, p. 105), neste projeto é possível perceber a
influência do Movimento Cidade-Jardim através das áreas livres abundantes e a
vegetação por todo o conjunto.
Fotografia 8 - Fileira de casas geminadas
IAPI Taubaté. Fonte: ARAVECCHIA, 2000,
p.131
Imagem 7 – Implantação IAPI Taubaté. Fonte:
ARAVECCHIA, 2000, p.131
82
3.3.1.4 Apartamentos e Edifício-Sede da Delegacia do IAPI
Recife – PE –1942
Esta obra foi publicada na Revista Municipal de Engenharia em 1942.
Localizada na região central do Recife, caracteriza-se por ser constituída por um
edifício, com dois corpos perpendiculares, sendo um deles paralelo à Avenida
Martins Barros. Segundo o próprio Carlos Frederico Ferreira (FERREIRA, 1942,
p.70-81), sua principal característica não é o apartamento tipo “duplex”, mas sim, a
independência absoluta da circulação social e de serviço, e a economia no sistema
construtivo e instalações; estas foram feitas através de poços, bem como caixas
horizontais e verticais, que possibilitariam inspeção em todo o percurso, evitando a
canalização embutida nas lajes.
A orientação e o controle da insolação das fachadas, a utilização de varandas
e placas verticais (quebra-sol) e de esquadrias duplas (venezianas e caixilhos de
vidro), bem como, a vista de salas e quartos para o porto, foram pontos que
receberam especial atenção no projeto das unidades. Um fato interessante é que o
arquiteto partiu do corte para as plantas na concepção e chegou à conclusão de
que, ao contrário da maioria dos projetos de “duplex”, a melhor solução seria entrar
no apartamento através do pavimento dos quartos, com absoluta independência e
economia de circulação.
83
Fotografias 9 e 10 - Maquete do edifício IAPI Recife. Fonte: Ferreira, 1942, p.70.
Ao lado: Imagem 9 -
Planta do
pavimento tipo. (repete-
se de
dois em dois andares dando
acesso às habitações).
Fonte: Ferreira, 1942, p.77.
Ao lado: Imagem 8
Plantas e
Cortes da unidade duplex.
Fonte: ARAVECCHIA, 2000,
P.134.
84
3.3.1.5 Casa de Veraneio do Arquiteto
Estação Boca do Mato, Estr. de Friburgo /Granja Serrana, Nova Friburgo - RJ– 1949.
Na sua casa de veraneio, em Friburgo Rio de Janeiro, o arquiteto Carlos
Frederico Ferreira inovou na aplicação de técnicas tradicionais de estrutura de
madeira e palha, e procurou explorar as condições locais, acentuando seu caráter
rústico. Esta obra se insere na influência de uma corrente arquitetônica, que tentava
conciliar os princípios da arquitetura moderna às tradições coloniais locais, liderada
por Lúcio Costa, a partir da década de 40. (BRUAND, 1991, p.143).
Segundo CAVALCANTI (2001, p.77), a casa é “um maravilhoso exemplo de
rusticidade moderna”; foram aplicadas técnicas de pau-a-pique a uma “gramática
modernista, demonstrando perfeita compatibilidade de ambas”. Os materiais
utilizados foram pedras, argila e madeira da região. A estrutura é sustentada por
troncos de madeira apenas desbastados, algumas paredes são de pedras brutas
talhadas de modo grosseiro e outras de pau-a-pique. O telhado, originalmente de
sapê, acabou sendo substituído por telhas cerâmicas, tipo canal. A entrada é
marcada por um grande balanço no telhado e por finos pilares de madeira, utilizados
em toda a obra. Conforme pretendia o proprietário, a construção foi muito econômica
e oferecia um conforto simples para estadias não-prolongadas.
Esse projeto ganhou o diploma de honra no VII Congresso Pan-Americano de
Arquitetura de Havana Cuba em 1950, dentro da categoria de construção com
materiais locais.
85
Fotografias 11 e 12 - Construção da casa de veraneio. Fonte: CAVALCANTI, 2001, p.78
Fotografia 13 e 14 - Casa de veraneio do arquiteto. Fonte: MINDLIN, 1956, p.44.
Imagem 11 - Corte esquemático. Fonte:
CAVALCANTI 2001:77
Imagem 10 – Planta da casa de veraneio. Fonte:
CAVALCANTI 2001:78
A distribuição dos compartimentos da casa segue os conceitos modernistas de
racionalidade e funcionalidade.
86
3.3.1.6 Parque Aquático da Sociedade Desportiva Palmeiras
São Paulo – 1952
Este projeto foi selecionado, por unanimidade, entre os 10 projetos
apresentados no concurso promovido pela Sociedade Esportiva Palmeiras, para a
construção do seu Complexo Aquático, e foi publicado nas Revistas L’Architecture
dAujourd’hui e Acrópole, em 1952. Descartando deliberadamente as soluções
habituais, foi considerado um grande avanço, tanto do ponto de vista técnico como
arquitetônico.
O complexo seria composto de uma piscina olímpica de 50m x 25m, e outra,
para saltos de 16m x 16m, com trampolim (ambas cobertas), vestiários masculino,
feminino e para funcionários, ambulatório médico, e diversas outras instalações para
o público. Além disso, haveria outras duas piscinas externas retangulares e uma
infantil, de forma livre. As principais características desse projeto eram o uso de
concreto aparente, as esquadrias de alumínio e a bela solução plástica encontrada
pelo arquiteto para vencer o vão de cobertura das piscinas, através de grandes
arcos.
Fotografia 15 - Maquete do complexo esportivo.
Fonte: Revista L’Architecture dAujourd’hui, 1952.
87
Imagem 12 -
Implantação e corte
longitudinal da cobertura das
piscinas. Fonte: Revista
L’Architecture d’Aujourd’hui, 1952.
Imagem 13 -
Planta das piscinas
cobert
as. Fonte: Revista
L’Architecture d’Aujourd’hui, 1952.
Imagem 14 - Cortes transversais das piscinas cobertas. Fonte: Revista L’Architecture
d’Aujourd’hui, 1952.
88
3.3.1.7 Projeto dos Armazéns e Terminal de Passageiros do Pier Ma
Porto do Rio de Janeiro – 1952
Este projeto foi classificado em primeiro lugar no concurso de anteprojetos
realizado pela administração do Porto do Rio de Janeiro (APRJ) do Ministério da
Viação, em 1952. Elaborado em conjunto com o arquiteto Sérgio Wladimir
Bernardes, foi publicado na Revista Habitat em 1955. No entanto, foi abandonado e
a própria equipe técnica da administração do Porto elaborou um outro anteprojeto,
que foi efetivamente executado.
A finalidade do projeto era a construção de um terminal marítimo moderno, que
permitisse manejar e armazenar carga, rápida e eficientemente, além de oferecer
aos passageiros todas as facilidades, no embarque e desembarque, conveniências,
e prazer de uma estação marítima e completa. Para tal, os arquitetos estudaram
vários exemplos de portos europeus existentes na época, pretendendo que o
mesmo pudesse suprir as necessidades locais, por cerca de 200 anos. O projeto era
composto de grande volume único, não aproveitava as estacas previamente
colocadas no terreno com intervalos de 10 m e aumentava o vão estrutural para 12,5
m, por razões de racionalidade do funcionamento das pontes rolantes. O projeto
ainda previa a reurbanização da Praça Mauá, com a construção de um trevo, para
organizar a circulação e estacionamento elevado para autos.
89
Imagem 17 - Elevação lateral com extensão de 420m. Fonte: Revista Habitat, 1955.
Imagem 15 - Fachada Praça Mauá. Fonte: Revista Habitat, 1955.
Imagem 16 - Planta de situação com o trevo da Praça Mauá.
Fonte: Revista Habitat, 1955.
90
Imagem 21 - Perspectiva do conjunto urbanístico proposto e da
Praça Mauá. Fonte: Revista Habitat, 1955.
Imagem 18 - G
rande hall de passageiros de 1°
classe com vista para o restaurante-
bar. Fonte:
Revista Habitat, 1955.
Imagem 20 - Grande hall de dispersão da 1° classe, agências de turismo e lojas. Fonte: Revista
Habitat, 1955.
Imagem 19 -
Vista do restaurante para a
entrada do porto. Fonte: Revista Habitat,
1955.
91
3.3.1.8 Concurso para a Sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB)
Rio de Janeiro – RJ
O projeto vencedor do concurso, concebido juntamente com o Arquiteto Raif
César Habib, tinha como principais características, segundo o júri, o cumprimento do
programa com “bom aproveitamento do terreno sob o aspecto urbanístico” e
harmonia com a paisagem através da bela composição de volumes, e foi publicado
na Revista Habitat em 1956 (Revista Habitat, 1956, p.24-28).
Após exaustiva pesquisa, o partido adotado agrupou os elementos do programa
em 3 conjuntos distribuídos em dois blocos:
1. Grande bloco da sede social com o ginásio coberto, a garagem de barcos e
os vestiários;
2. Bloco de alojamentos;
3. Campo de esportes, predominando o Conjunto Aquático e a quadra de tênis
com 8 lances de arquibancadas.
Os blocos elevados sobre pilotis e o livre acesso garantiam transparência e o
bom aproveitamento do terreno próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas e permitiu uma
localização adequada das quadras esportivas. (Revista Habitat, 1956, p.24-28).
Segundo ARAVECCHIA (2000, p.112), o projeto assemelha-se à linguagem
plástica da arquitetura carioca de outros complexos de lazer implantados na Zona
Sul da cidade do Rio de Janeiro, com um desenho peculiar de pilotis, da marquise
de entrada e da “marquise passarela”, que liga as atividades esportivas.
92
Imagem 22 – Maquete da Associação BB. Fonte: Revista Habitat, n°27, fev. 1956, p.24.
Imagem 23 – Implantação Associação BB. Fonte: Revista Habitat, n°27, fev. 1956, p.24.
Imagem 24 – Corte da Associação BB. Fonte: Revista Habitat, n°27, fev. 1956, p.24.
93
3.4 A INTERVENÇÃO DO IAPI NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ
3.4.1 Desenvolvimento e segregação
Conforme visto anteriormente, a partir da década de 30, iniciou-se um
processo de incentivo à industrialização, por parte do governo Vargas, e a ação do
Estado foi fortalecida em todo o país. A expansão industrial acabou gerando uma
forte migração rural para os núcleos urbanos e esses trabalhadores acabaram
habitando casas precárias nos novos loteamentos ou cortiços.
Da década de 30 até início de 40 formaram-se vários cortiços na região
central da cidade de São Bernardo (que viria a ser Santo André). A migração do
campo para trabalhar na cidade era crescente e, como medida para responder à
demanda por habitações, a então Prefeitura de São Bernardo estimulou a
construção de casas de aluguel, através da concessão de isenções de taxas e
imposto predial por 15 anos, estendida a empresas que construíssem casas
populares. Vários conjuntos foram construídos no atual centro da cidade e bairros
vizinhos. (DENALDI, 2006, p.25).
Com o passar do tempo, os terrenos próximos às indústrias começaram a
ficar mais caros e não se construíram mais tantas vilas operárias. Assim, restou o
mercado imobiliário para resolver a questão. Em 1937 a Lei municipal n°. 326
permitiu lotes com frente mínima de 7 m e área mínima de 210 m² na terça parte dos
loteamentos, gerando lotes de 7x30 m e 10x21 m, presentes ainda hoje na cidade
(DENALDI, 2006, p.25).
O distrito de Santo André abrigava, na década de 1930, várias indústrias
importantes, possuía a Estação de São Bernardo, por onde era transportada grande
parte dos produtos produzidos e tinha, entre seus moradores, vários políticos
94
influentes. Tal situação levou à transferência da sede do município de São Bernardo
para Santo André, em 1939. Toda a região do Grande ABC, composta por rios
distritos passou, então, a ser denominada Santo André.
Segundo FRASSON (2000, p.320), é impossível desvincular a consolidação
industrial de Santo André do movimento sindical. Ao longo da cada de 30, foram
criados sindicatos, que desenvolveram uma trajetória de defesa dos direitos e bem
estar dos trabalhadores, incluindo a questão habitacional como uma das prioridades.
Com o reconhecimento da importância do Estado na questão habitacional, o
município de Santo André acabou recebendo uma intervenção neste sentido em
1939, com a implantação de um conjunto com grandes proporções, através da
mobilização de oito sindicatos de trabalhadores das indústrias (dois de Santo André
e seis de São Paulo) junto ao governo o Conjunto Habitacional IAPI - no recém-
surgido bairro Vila Guiomar. A compra da área de 920 mil foi efetuada no mesmo
ano.
Na década de 40, havia em Santo André 443 estabelecimentos industriais,
que empregavam 27.775 pessoas. A cidade concentrava mais da metade dos
operários da região na época - 46 mil - e também do total de empresas - 741 (PSA,
2006). Nesta década, iniciaram-se vários movimentos emancipacionistas e os
distritos foram se tornando municípios. Em 1945 foi a vez de São Bernardo do
Campo, em 1949 de São Caetano do Sul e em 1953 de Mauá e Ribeirão Pires. A
partir de então, Santo André passou a ter uma área de 174,38 quilômetros
quadrados, contando com os seguintes distritos: Sede, Capuava e Paranapiacaba e
assumiu a seguinte conformação:
95
Na década de 40, o Moinho Santista construiu 200 casas na Vila Assunção, e
a Pirelli, sua vila operária, com cerca de 100 unidades próximas à fábrica. Em 1948,
a Fundação da Casa Popular (FCP) construiu 466 sobrados geminados, em lotes de
40 (área construída de 60 m²) no Bairro de Santa Terezinha. No entanto, essas
iniciativas não conseguiram atender toda a demanda de trabalhadores oriunda do
campo, processo que se acentuou a partir da década de 50. (DENALDI, 2006, p.25).
Em 1950, a cidade possuía 127 mil habitantes, constituindo o maior
centro industrial do Estado, atrás apenas da capital (DENALDI, 2006, p.27). Devido à
entrada de grandes multinacionais, houve a consolidação de uma classe operária
significativa e um forte movimento sindical; com os investimentos estatais e o capital
estrangeiro, ocorreu um crescimento no setor automobilístico, mecânico, metalúrgico
e de material elétrico. Santo André passou a abrigar várias indústrias de autopeças.
A indústria foi, então, delineando um outro perfil. A mão de obra tornou-se
mais especializada e as máquinas mais produtivas. Neste momento a mão-de-obra
deixou de ser determinante para o aumento da produção. Em 1953 foi criada a
Mapa 1 - Configuração atual do município de Santo André – Fonte: Prefeitura de Santo André,
2006. Disponível em: <www.santoandré.sp.gov.br>.
96
primeira Instituição Municipal de Ensino Superior a Faculdade de Ciências
Econômicas (GAIARSA, 1991, p.184).
Antes da década de 50 a cidade apresentava baixa segregação sócio-
espacial, provavelmente decorrente da abundância de terras e algumas intervenções
públicas. Após a segunda onda de industrialização (década de 50) a tendência à
segregação aumentou, criando diferenças entre o centro e a periferia. Segundo
MINDRISZ (1990, p.146), durante a década de 50 a população do município cresceu
cerca de duas vezes e meia, passando para 245.000 em 1960.
Na década de 1960, começaram a surgir favelas. A expansão passou a se
dar, principalmente, pela combinação de loteamentos e autoconstrução, com pouca
intervenção estatal; esta situação se estendeu pelas décadas seguintes, como
veremos no capítulo 4.
97
3.4.2 A atuação do IAPI no ABC
A delegacia regional do IAPI ABC tinha sua sede no município de Santo
André e, através de alguns dados sobre sua atuação, é possível compreender as
razões pelas quais a região foi escolhida para a implantação de um empreendimento
de tão grande porte, como foi o Conjunto da Vila Guiomar.
A Instituição possuía grande importância na região, não somente pelo número
de associados, como por sua arrecadação, que era extremamente expressiva, se
comparada às arrecadações governamentais do mesmo período, como podemos
verificar no quadro a seguir:
Arrecadações anuais e totais correspondentes:
ANO FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL IAPI (ABC) TOTAL
1932
2.868.004,56 1.417.950,91 1.225.621,61 - 5.511.577,08
1933
4.112.129,00 1.823.264,63 1.505.098,39 - 7.440.492,02
1934
5.324.470,40 1.952.745,00 1.777.975,50 - 9.055.190,90
1935
8.033.523,50 2.320.619,80 1.783.935,80 - 12.138.079,10
1936
6.457.036,30 7.217.233,40 2.562.713,80 - 16.236.983,50
1937
9.493.013,30 8.455.312,50 3.028.824,00 - 20.977.149,80
1938
12.468.693,40 9.504.962,20 3.256.314,10 3.489.066,00 28.718.975,70
1939
13.643.700,70 11.795.978,10 5.485.019,50 4.508.357,80 35.433.056,10
1940
18.110.322,30 13.431.251,30 5.247.494,50 4.976.265,30 41.765.333,40
1941
20.775.577,60 14.039.955,80 5.759.285,80 5.726.809,10 46.301.628,30
1942
21.116.461,90 14.390.880,00 6.152.793,30 6.881.000,00 48.541.135,20
Total nos dez anos..............272.119.601,10
Tabela 2 – Comparativo de arrecadações. Fonte: GAIARSA, 1968, p.151).
Em 1952 a arrecadação do IAPI ABC chegou a Cr$ 75.920.656,00, enquanto
o orçamento da cidade de Santo André, para 1953, era de Cr$ 83.000.000,00
(GAIARSA, 1968, p.248). Os dados também impressionam se compararmos o
número de eleitores dos municípios da região em janeiro 1953 à quantidade de
associados do IAPI ABC em 1952:
98
Eleitores da região por município:
Santo André São Bernardo São Caetano Total
30.049 7.283 24.253 61.567
Tabela 3 – Eleitores do ABC em 1953. Fonte: GAIARSA, 1968, p.194.
Associados do IAPI ABC:
Santo André São Bernardo São Caetano Total
25.493 3.371 17.983 46.793
Tabela 4 – Associados IAPI ABC em 1952. Fonte: GAIARSA, 1968, p.248.
Para se ter uma idéia da grande representatividade do IAPI ABC no âmbito
nacional, em 1956, a arrecadação de todos os Institutos somava Cr$
33.000.000.000,00, enquanto Santo André e as demais cidades do ABC contribuíam
com 800 milhões e davam uma despesa de 300 milhões de cruzeiros. (GAIARSA,
1968, p.276-318).
No entanto, apesar da grande arrecadação, era público e notório o problema
financeiro pelo qual passavam os Institutos em todo o país, inclusive o IAPI,
culminando com a extinção na década de 60, como podemos ver nessa afirmação
de GAIARSA (1968, p. 254):
Nesse ano (1953), os Institutos de Aposentadoria não iam bem. ‘’Folha
do Povo’’ reproduz trechos de um discurso proferido pelo deputado
Abreu Sodré na Assembléia Legislativa, no qual cita os desmandos, os
débitos vultuosos da União, os favoritismos e os desvios de verbas em
obras suntuosas [...] O fato foi amplamente comentado. A União devia,
em 1959, mais de 50 milhões para os vários institutos de previdência.
99
3.4.3 O Conjunto IAPI e o bairro Vila Guiomar
Segundo MÉDICI (1989, p.30), antes do processo de urbanização, a área que
originaria o bairro Vila Guiomar e o Conjunto IAPI constituía ponto de passagem
para São Paulo; até o final do século XIX, era zona rural e denominava-se Sítio
Casa Grande. A primeira notícia que se tem da área data do fim do século XIX
quando:
[...] por escriptura pública de divisão e declaração entre partes João
Timotheo de Godoy e sua mulher, Joaquina Maria Vaz; José Luiz
Fláquer e sua mulher, Elisa Fláquer; Francisco José da Silva e sua
mulher, Gertrudes Maria das Dores; e Anna Rosa de Toledo, viúva de
João Manoel Toledo -, lavrada nas notas do Escrivão de São
Bernardo, em trinta de novembro de mil oitocentos e oitenta e cinco,
livro sete, folha cinqüenta e oito verso, foi procedida à divisão do
imóvel denominado “Sítio Casa Grande”, cabendo a cada condomínio
partes certas e determinadas dentro de limites descriptos.
1
A partir de então, a gleba, de mais de um milhão de metros quadrados,
passou por vários proprietários até chegar às mãos do médico paulista Dr. José
Gonzaga Franco Filho e sua esposa, D. Guiomar de Campos Gonzaga; e de Bento
José Gonzaga Franco e sua esposa, Elvira de Campos Gonzaga, por volta de 1931.
Segundo antigos moradores do local, na chácara do Dr. Gonzaga, batizada com o
nome de Guiomar em homenagem à sua esposa, havia um lago e plantação de
uvas, laranjas e pêras, além de servir de área de piquenique aos trabalhadores das
fábricas próximas. (PEREIRA, 1990).
1
“Escriptura de Certidão”, lavrada em 23/05/1939 no livro 146, fl. 77vs. a 82, tendo como outorgante
Dr. José Gonzaga Franco Filho e sua mulher D. Guiomar de Campos Gonzaga, e outorgado Instituto
de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. 15 Offício, Tabelião Olegário Mariano).
100
A área foi loteada e vendida a trabalhadores da região, no início dos anos 30,
e recebeu o nome de Vila Guiomar, em referência à antiga chácara. Possuía ruas
curvas e sinuosas, desenhando quadras de formatos irregulares e lotes com
dimensões diferentes e, apesar da proximidade com a estação de trem, encontrava-
se ainda em zona rural.
Através de uma pesquisa, realizada nos arquivos da prefeitura, constatou-se
que, na seção de Cadastro Fiscal, duas plantas muito antigas da área e
anteriores ao Conjunto IAPI. Em uma das plantas (sem data) aparecem, como
proprietários, o Dr. José Gonzaga Franco Filho e Bento José Gonzaga Franco;
constam algumas ruas do bairro como: Catequese, Capuchinhos, Bartira (hoje
Garcia Rodrigues), Princesa Isabel, Gonzaga Franco Filho, Ramos de Azevedo,
Mapa 2 – Área provável da Fazenda Guiomar. Fonte: PEREIRA, 1992
101
Ministro Calógeras, Borba Gato e Rodolfo Santiago. A outra planta data de 03 de
novembro de 1939, de autoria do Engenheiro Civil Américo de Carvalho Ramos,
compreende as ruas: Castro Calógeras, das Nações, Francisco Alves, Joana Annes,
Tamarutaca e Gonçalves Fernandes, todas elas incorporadas ao projeto do
Conjunto do IAPI, posteriormente.
Mapa 3 - Município de Santo André. Fonte PEREIRA, 1992.
Em vermelho, localização da Vila Guiomar dentro do município.
Antes de a área ser adquirido pelo IAPI, segundo MÉDICI (1989, p.31), o
bairro quase se transformou em estância climática. A Sociedade Paulista de
Imigração e Colonização solicitou em uma carta
1
, ao então prefeito de São
Bernardo, Felício Laurito, no dia 25 de novembro de 1936, que a Vila Guiomar fosse
declarada “estância climatérica
2
”, exaltando as qualidades naturais do local como
suavidade do clima, altitude de 841 m, a água potável e mineral. A câmara municipal
aprovou uma Lei de isenção de impostos por 10 anos, em favor da Sociedade, como
forma de estimular a construção de um hotel modelo ou sanatório no local; no
entanto, o projeto nunca foi implantado (PEREIRA, 1990).
1
Vide Carta da Sociedade Paulista de Imigração e Colonização – Anexo A
2
Climática ou climatológica. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Novo Dicionário da Língua
Portuguesa
. 1° ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira S.A.,1975.
102
Em 23 de maio de 1939 uma grande área do bairro (920.000 m²), que
pertencia ao Sr. José Gonzaga Franco Filho e sua mulher Guiomar de Campos
Gonzaga, foi adquirida pelo IAPI Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Industriários a fim de construir moradias para seus associados, trabalhadores das
indústrias da região. A escritura foi lavrada às fls. 77v e 82 do livro 146 do 15° Ofício
de Notas do Rio de Janeiro Guanabara, e no livro 3 do Ofício de Registro de
Imóveis da Capital, São Paulo, à margem do qual foi feita a averbação da
construção em 12 de março de 1956, sob n° 419.
O Conjunto IAPI Vila Guiomar começou a ser implantado na década de 40,
para atender à grande demanda de operários de indústrias, que foram se instalando
na região do ABC, no fim do século XIX. Sua concepção e implantação ocorreram
em um momento em que a questão habitacional estava em pauta no meio cnico,
tornando-se uma preocupação estatal. Novas experiências eram desenvolvidas e
aplicadas, algumas vezes com sucesso e outras não, como foi o caso desse
conjunto. Em virtude das inovações tecnológicas e conceituais, além das suas
grandes dimensões, constituiu uma intervenção de grande impacto na região, tanto
do ponto de vista arquitetônico como urbanístico e sofreu grande rejeição por parte
da população operária.
O IAPI Vila Guiomar foi o primeiro grande conjunto da região, com uma
população estimada em 8.000 pessoas - cerca de 5% da população do município
que, em 1955, era de aproximadamente de 162.000 habitantes. (MINDRISZ, 1990,
p.146). Representou um importante papel na história da habitação popular, não
apenas no município de Santo André, como no cenário nacional, por ter constituído
uma das primeiras tentativas estatais de construção de moradias em massa
utilizando os conceitos da arquitetura moderna.
103
3.4.4 O Projeto do Conjunto
3.4.4.1 Levantamento Topográfico (1939)
O Levantamento Topográfico da área de implantação do conjunto foi realizado
em 1939, na ocasião da sua compra pelo IAPI, através do Escritório Técnico do
Engenheiro Civil Américo de Carvalho Ramos, localizado à Rua Álvares Penteado,
25, na cidade de São Paulo. É composto de pranchas com desenho topográfico e
fotografia aérea, anteriores à construção do conjunto habitacional. Além disso,
apresenta algumas fotografias terrestres das edificações encontradas na ocasião da
compra da área. Esta documentação encontra-se, atualmente, no arquivo da
Agência do INSS de Santo André.
Como podemos observar na fotografia aérea de 1939, havia um
arruamento sinuoso aberto, com ocupações particulares em algumas quadras; a
grande massa verde, ao centro, representa a área onde, posteriormente, seriam
implantados blocos de apartamentos:
Fotografia 16 -
Capa do Levantamento Topográfico
. 2006. Fonte: PESSOLATO, Cíntia.
104
Fotografia 17
-
Fotocarta em Escala 1:2.000
. Fonte: ESCRIPTORIO TECHNICO DO
ENGENHEIRO CIVIL AMERICO DE CARVALHO RAMOS. 1939.
Fotografia 18 -
Vistas do prédio principal da chácara
(acima) e Fotografias 19 e 20
-
Panorâmicas da Chácara e construções existentes (abaixo)
. Fonte: ESCRIPTORIO
TECHNICO DO ENGENHEIRO CIVIL AMERICO DE CARVALHO RAMOS. 1939.
Loteamento
pré-existente
Área de
implantação
dos prédios
105
O Levantamento Topográfico inclui pranchas de desenho que contém as
curvas de nível e o arruamento existente, na época da aquisição da gleba pelo IAPI.
Nesta prancha podemos perceber as áreas vazias da gleba onde, posteriormente,
seriam implantados os conjuntos de edifícios e as áreas que possuíam
arruamento implantado. Em tom mais escuro, estavam assinalados os terrenos
pertencentes a terceiros e, portanto, não adquiridos pelo IAPI. Foi com base nestas
informações, que o Departamento de Projetos do IAPI, sob a coordenação do
Arquiteto Carlos Frederico Ferreira, desenvolveu o projeto.
Ao compararmos este levantamento topográfico ao projeto do conjunto,
podemos perceber que, embora o arruamento sinuoso existente tenha sido
aproveitado na implantação das unidades unifamiliares (casas), a disposição dos
lotes nas quadras foi modificada.
Imagem 25 -
Levantamento Topográfico Vila Operária de Santo André
. Fonte:
ESCRIPTORIO TECHNICO DO ENGENHEIRO CIVIL AMERICO DE CARVALHO RAMOS.
1939.
106
3.4.4.2 O Estudo Preliminar
A área total da fazenda era de 1.213.508 m², sendo que uma parte foi
utilizada como sistema viário e praças, outra havia sido vendida a terceiros; uma
terceira parcela foi destinada aos antigos proprietários, restando 920 mil m²,
comprados pelo IAPI (MÉDICI, 1989, p.31).
O projeto, conforme dito anteriormente, foi elaborado pelo arquiteto Carlos
Frederico Ferreira, mantendo o traçado sinuoso das vias da área loteada,
considerando a dinâmica industrial e o propenso crescimento populacional de Santo
André, que ainda não havia sofrido desmembramento e compreendia todo o ABC.
Em comparação com o projeto do Conjunto IAPI de Osasco, outra obra do
mesmo arquiteto, o Conjunto de Santo André previa uma maior densidade urbana,
com mais aproveitamento da gleba, em virtude do valor elevado das terras. (Revista
Acrópole, 1942, n°53, 1942, pg.162).
A prancha do Plano da Região
constituía um estudo preliminar da
implantação do conjunto. Como
podemos perceber, a in
tenção inicial era
de ocupar toda a gleba,
comprada pelo
IAPI,
com cerca de 3.000 unidades. O
estudo também previa um centro
comercial e outros equipamentos
públicos que não foram implantados.
Imagem 26 -
Estudo Preliminar do Conjunto
de Santo André. Fonte: Arquivo INSS.
107
3.4.4.3 O Projeto Implantado
“Também na proximidade de S. Paulo vai o Instituto construir
uma verdadeira cidade, cujas casas serão todas de blocos de
concreto”. (ABCP, 1939 apud GITAHY, 2002, p.117).
O conjunto, composto por casas e edifícios de apartamentos, foi implantado
em quatro fases, divididas entre casas térreas e blocos de apartamentos. O projeto
urbanístico incorporou as ruas e quadras existentes, modificando apenas a
disposição dos lotes, e destacava-se pelo fato de conjugar influências do conceito de
cidade-jardim inglesa com os princípios discutidos nos Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna (CIAM). No entanto, tal fato não pode ser atribuído somente ao
Imagem 27 - Ampliação do Estudo Preliminar do Conjunto de Santo André. Fonte: Arquivo
INSS.
108
arquiteto Carlos Frederico Ferreira, que acabou incorporando plenamente o projeto
viário elaborado anteriormente, mas também, provavelmente, ao Engenheiro Civil
Américo Carvalho Ramos ou outro profissional, ciente das discussões sobre
arquitetura na Europa.
Não obstante a gleba tivesse grandes dimensões, o projeto do conjunto
acabou se fundamentando, principalmente, nas unidades habitacionais, com apenas
alguns equipamentos públicos: duas creches, uma escola, campos poliesportivos e
parques infantis; contudo, a obra foi muito elogiada na época de sua implantação e
chegou a receber um prêmio da UNESCO em 1965. (FRASSON, 2000, p.322).
As duas primeiras etapas de construção somaram 345 casas térreas e 312
apartamentos; as duas últimas compreenderam 88 casas e 35 prédios, perfazendo
um total de 666 apartamentos. O conjunto todo compreende 1411 unidades
Casas
Prédios velhos
Prédios novos
Casas
Imagem 28 - Implantação do Conjunto. Fonte: BONDUKI, 1998, p. 190.
109
residenciais, efetivamente construídas, e ocupa um pouco mais da metade de todo o
terreno, embora o estudo preliminar, apresentado anteriormente, previsse mais
unidades.
Tabela 5 - Quadro de áreas das unidades implantadas no Conjunto. Fonte: arquivo INSS.
110
Mapa 4: Etapas de construção. Fonte: PEREIRA 1992.
Etapas de construção do conjunto:
111
3.4.4.4 Os Projetos das Unidades
Conforme dito anteriormente, o Conjunto IAPI Vila Guiomar se caracteriza
pela variedade de tipologias habitacionais implantadas. Foram construídas casas
unifamiliares isoladas no lote com 3 dormitórios, casas unifamiliares geminadas com
2 dormitórios e blocos de apartamentos com 1, 2 e 3 dormitórios. A diversidade era
justificada: as famílias que ocuparam as unidades eram muito diferentes entre si,
tanto no tamanho quando na renda. Sua construção foi realizada em quatro etapas
bem definidas:
Fotografia 21 - Foto aérea - década de 90 - com a indicação dos setores de casas e apartamentos,
escola primária, sede do INSS de Santo André e o centro cívico. Fonte: Prefeitura de Santo André,
1990.
Paço municipal
Prédios
novos
4. etapa
Prédios velhos
2. etapa
escola
Casas isoladas
3. etapa
Casas
geminadas
1. e
tapa
Prédios
novos
4. etapa
112
Para a identificação e diferenciação das tipologias, ao longo da pesquisa,
foram adotadas as seguintes denominações: “Casas Geminadas” (1942), “Casas
Isoladas” (1948), “Prédios Velhos” (1946) e “Prédios Novos” (1951), sendo que as
duas últimas nomenclaturas foram criadas pelos próprios moradores.
Primeira Etapa: Casas Geminadas (1942)
A Primeira etapa começou a ser construída em 1942 e foi concluída em 1944,
compreendia 345 casas, abrangendo a área que possuía loteamento e
arruamento implantados. Localizam-se nas Ruas dos Capuchinhos, Gonzaga
Franco, Paula Souza, Garcia Rodrigues e Adolfo Santiago.
A tipologia é muito semelhante à utilizada no Conjunto do Realengo e,
segundo antigos moradores
1
, as unidades tinham concepções “modernas” para a
época, como banheiro e fogão dentro da casa e tanque no terraço; algumas foram
construídas com alvenaria de tijolo, outras com blocos de concreto; o resultado
econômico foi totalmente favorável à segunda opção. (GITAHY, 2002, p.118).
Essas unidades possuíam 58.58 m², em lotes com 10 metros de testada e
área de 300 m², com recuo frontal e de fundos (tipologias A2 e F3). Possuíam 2
dormitórios, sala, cozinha, banheiro, varanda e área de serviço, e eram geminadas
de um dos lados (tipo A2) ou isoladas (tipo F3). Projetadas para famílias de até cinco
pessoas, eram menores que as casas que foram construídas na segunda fase. Em
ambas as etapas, havia uma perceptível preocupação com a qualidade da
construção:
1
Entrevistas concedidas aos Técnicos da Prefeitura (PEREIRA, 1992.).
113
Num aspecto geral a especificação da construção é a seguinte:
paredes de alvenaria de tijolo; cobertura de telhas planas; assoalhada
e forrada com frisos de madeira; esquadrias de cedro e peroba rosa
dotada de instalações d’água potável, de esgoto e elétrica.
O banheiro e cozinha são revestidos até 1,7m de altura, com
cimentado todo branco impermeabilizado, e contém as seguintes
instalações: banheira de ferro fundido, chuveiro de crivo niquelado,
bacia sanitária, lavatório de louça e pia de cozinha de ferro fundido,
com pedra de mármore
1
. (Revista Acrópole, n°53, 1942, p. 164).
1
Entrevista do Engenheiro Paes Barreto à Revista Inapiários e posteriormente publicada na
Revista Acrópole, n°53, 1942, p. 164.
Fotografia 22 - Casas geminadas tipo A2 logo após a construção.
Fonte: BONDUKI, 1998, p.191.
Imagem 29 - Plantas da unidade A2 e F3. Fonte: arquivo INSS.
114
Os lotes foram dispostos no perímetro das quadras do loteamento pré-
existente, com grandes quintais arborizados, destinando a área interna livre das
quadras à utilização pelos moradores, diferentemente da disposição do
parcelamento anterior, projetado antes da compra da área pelo IAPI.
Embora o material sobre essas unidades seja escasso, foi possível localizar
alguns estudos no Arquivo do INSS, em Santo André, relativos à tipologia F3. Ambos
foram respeitados, integralmente, na edificação das casas, como podemos verificar
em fotografias da época:
Fotografia 23 - Conjunto Habitacional do IAPI, década de 50. Reprodução PMSA.
Coleção Viva Cidade. Acervo: Museu de Santo André.
115
Imagem 30 - Prancha de estudo (a grafite) da tipologia F3. Fonte: arquivo INSS.
Imagem 31 - Estudo (a nanquim) das fachadas da tipologia F3. Fonte: arquivo INSS.
116
Segunda Etapa - Prédios Velhos (1946)
Compreende 312 apartamentos, distribuídos em 26 blocos de 4 pavimentos
(três andares sobre pilotis) com 12 apartamentos cada, e são conhecidos como
“Prédios Velhos”. Localizam-se na área que possuía loteamento, entre as Ruas
das Monções, Rodolfo Santiago e Ramos de Azevedo e foram os primeiros blocos
de apartamentos a serem construídos no conjunto. A construção foi iniciada em
1946 e concluída em 1948 e, embora os blocos sejam semelhantes entre si na
aparência das fachadas, três tipologias diferentes de apartamentos: Tipologia J1
e J2 (agrupadas nos mesmos blocos) e Tipologia I2.
O acesso aos apartamentos é feito através de um corredor ao longo do bloco,
ligado a uma escada lateral anexa; a mesma solução utilizada pelo arquiteto no
Conjunto Habitacional do Realengo. Os blocos estão dispostos de forma linear e
paralelamente, em patamares, com distância constante e levando-se em conta a
topografia, a insolação e a verticalização. Todos os blocos possuem térreo livre,
apoiados sobre pilotis e as fachadas posteriores e frontais estão voltadas para
noroeste e sudeste, respectivamente. Além de passeios largos nos térreos dos
edifícios, foi implantado um parquinho infantil e um campo poliesportivo, além de
terem sido preservadas árvores da antiga chácara. (FRASSON, 2000, p.323).
Os apartamentos possuem áreas construídas que variam entre 77.54 m²,
62.69 m² e 42.56 m², com três, dois ou um dormitório, respectivamente, o que resulta
em dois modelos de edifícios: um com apartamentos de um e três dormitórios; outro
com apartamentos de dois dormitórios. A distribuição interna dos apartamentos
segue o ideário moderno de habitação mínima, com área de serviço e cozinha
racionalizada e reduzida, sendo que, nos espaços generosos nos térreos, estavam
117
previstos serviços coletivos (lavanderias). As áreas molhadas são sempre voltadas
ao corredor de circulação e as salas, à fachada oposta.
Fotografia 24 -
Conjunto
habitacional do IAPI, 1965.
Coleção Octaviano
Gaiarsa. Acervo Museu de
Santo André
Fotografia 26 -
Conjunto
habitacional do IAPI,
1950/54. Coleção
Octaviano Gaiarsa. Acervo
Museu de Santo André
Fotografia 25 -
Prédio
IAPI, 1950. Coleção René
Sch
oeps. Acervo Museu
de Santo André
118
Como já mencionado, as tipologias J1 e J2 são agrupadas nos mesmos
blocos e utilizadas em 8 destes. Nas extremidades está localizada a tipologia J1 e ao
centro, a tipologia J2. A tipologia J1 possui a maior área útil de todas, cerca de
77,54m², sendo composta por três dormitórios, sala, cozinha, banheiro e uma
pequena área de serviço. A tipologia J2 possui a menor área útil do conjunto, cerca
de 42,56m², contendo um dormitório, sala, cozinha, banheiro e pequena área de
serviço.
Imagem 32
Planta do
pavimento tipo do edifício
com tipologias J1 eJ2.
Fonte: arquivo INSS.
Imagem 33 - Esquema dos blocos. Fonte: arquivo INSS.
119
A tipologia I2 é utilizada em 18 blocos de edifício de “forma espelhada”, para
otimizar a instalação hidráulica das áreas molhadas (cozinha, banheiro e área de
serviço). Esta unidade possui área de 62,69 m², sendo constituída de dois
dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço.
Imagem 34 -
Planta do
pavimento tipo do edifício
com tipologia I2. Fonte:
arquivo INSS.
Imagem 35 - Esquema das unidades. Fonte: arquivo INSS.
120
Imagem 37 - Fachadas posteriores Tipologias J1/J2 e I2. Fonte: arquivo INSS.
Imagem 36 - Fachadas frontais e laterais Tipologias J1/J2 e I2. Fonte: arquivo INSS.
Imagem 38 - Cortes transversais. Fonte: arquivo INSS.
121
Terceira Etapa: Casas Isoladas (1948)
Em 1948 foi construído o segundo conjunto de casas, que ficaram conhecidas
como “Caixas de Fósforo” entre os antigos moradores, em razão dos cômodos
serem muito pequenos.
1
Apesar do apelido, eram maiores que as casas da primeira
fase e isoladas no lote. Total de 88 unidades com área construída de 68.08 m².
As casas da tipologia G possuíam três dormitórios e seus lotes variavam entre
300 e 350 m². Diferentemente da primeira fase, as áreas verdes estão localizadas
nas extremidades das quadras.
1
Entrevistas informais concedidas a PEREIRA (1992).
Imagem 39 - Casas isoladas no lote. Fonte:
PEREIRA, 1991.
Imagem 40 - Planta da unidade. Fonte:
PEREIRA, 1991.
Fotografia 27. Quadra 11. Unidades tipo G 2° Grupo e parte do Prédio 13. Fonte: Arquivo INSS.
122
Quarta Etapa: Prédios Novos (1951)
Em 1951, os “Prédios Novos” foram levantados, em um grande setor ao lado
da terceira etapa e em uma pequena faixa próxima aos “Prédios Velhos”,
constituindo a última fase de construção do Conjunto.
Para esta etapa, foram concebidos 35 “blocos-tipo
1
de quatro pavimentos
que, associados em lâminas, formam composições de três, quatro ou seis módulos
sobre pilotis. Cada “bloco-tipo” é composto por seis unidades (duas por andar). Os
666 apartamentos possuem área construída de 76.95 m², com dois dormitórios e um
terceiro reversível (tipologia “HC”). (FRASSON, 2000, p.325).
As caixas de escada se destacam dos blocos e formam saliências na fachada
posterior dos edifícios. Os pavimentos térreos deveriam abrigar espaços livres para
convivência dos moradores e equipamentos coletivos (lavanderias, creches, etc.);
suas implantações respeitam a topografia do terreno e condições de insolação, em
meio a um grande parque verde.
Suas estruturas são de concreto armado com vedação de alvenaria e, como
nos “Prédios Velhos”, nas coberturas foram utilizados telhados, como fator de
economia, evitando-se a solução de teto-jardim, tal como em outros conjuntos do
mesmo período.
O projeto desta fase foi publicado em livros internacionais, como exemplo de
boa arquitetura habitacional moderna brasileira, e mereceu destaque na Revista
Acrópole de julho de 1950:
O conjunto foi projetado pelo IAPI no seu esforço de proporcionar
moradias econômicas, modernas e com todo o conforto para seus
associados.
1
Blocos padronizados.
123
Cada edifício tem quatro pavimentos, com o comprimento de 58
metros cada um e divididos por duas dilatações em três partes
iguais.
Aproveitando-se das linhas sóbrias e singelas do projeto, tornou-se
possível à firma construtora, organizar um programa de execução de
alto rendimento, conseguindo a firma construtora Louzada,
Cavalcanti & Cia Ltda concluir a estrutura de concreto armado dos
dez edifícios, no prazo excepcionalmente curto de 49 dias
consecutivos. (Revista Acrópole, Ano XIII, n°. 147, São Paulo, jul. 1950).
Na década de 60, após mais de dez anos de construção, os “Prédios Novos”
foram invadidos pelos futuros moradores, que estavam diante de apartamentos
prontos, mas sem condições de uso, por falta de ligação de água e esgoto, por parte
da Prefeitura. Após consulta aos diretores do IAPI, no Rio de Janeiro, os moradores
forçaram a administração municipal a fazer as ligações, o que acabou ocorrendo,
quando então, começaram a pagar aluguel ao Instituto.
Imagem 41 - Esquema da planta da unidade HC. Fonte: Arquivo INSS.
124
Imagem 42 - Fachadas dos Blocos. Fonte: Arquivo INSS.
Fotografia 28 - Quadra 16 – Prédio 3. Fonte:
Arquivo INSS.
Fotografia 29 - Quadra 16 – Prédio 1. Fonte:
Arquivo INSS.
125
Fotografia 30 - Quadra 16 – prédio
31 e 30. Fonte: Arquivo INSS.
Fotografia 31 - Quadra 11
Unidade tipo “G”
grupo ao
fundo
plano: Prédio 11 e
parte do 12. Fonte: Arquivo
INSS.
Fotografia 32 - Quadra 16
Prédios
26,25,24,23,27,28 e 30.
Fonte
: Arquivo INSS. Relatório 06 da
construção das quad
ras 8, 11 e 16. Outubro /
1950.
126
Fotografia 33 - Prédio do Conjunto Habitacional do IAPI, década de 1950. Coleção
René Schoeps. Acervo Museu de Santo André.
Fotografia 34 - Prédio do Conjunto Habitacional do IAPI, década de 1950. Coleção
René Schoeps. Acervo Museu de Santo André.
127
Tipologia M2
Este anteprojeto foi encontrado juntamente com o restante, nos arquivos do
INSS. Denominada “Habitação M2 Funcionários”, se tratava de uma residência
destinada a um casal com cinco filhos, também de autoria de Carlos Frederico
Ferreira, como podemos verificar no carimbo da folha.
Possuía área construída de 71.00 m² e contava com varanda e abrigo para
autos. Por razões desconhecidas, esta tipologia não chegou a ser implantada no
conjunto.
Imagem 43 - Carimbo da prancha. Fonte: Arquivo INSS.
Imagem 44 - Prancha de Fachadas. Fonte: Arquivo
INSS.
128
Imagem 45 - Planta com estudo de interior: preocupação com a
utilização do espaço e mobiliário. Fonte: Arquivo INSS.
Imagem 46 - De cima para baixo: Fachada
lateral, de fundos e principal,
respectivamente. Fonte: Arquivo INSS.
Imagem 47 - De cima para baixo: Cortes e
fachada lateral, respectivamente. Fonte:
Arquivo INSS.
129
3.4.4.5 Os equipamentos coletivos do conjunto
Como se pode perceber pelo Estudo Preliminar, a intenção inicial era dotar a
área de vários equipamentos, inclusive centro comercial, o que acabou não se
concretizando. Os equipamentos efetivamente projetados para conjunto foram: uma
escola primária, dois jardins de infância no térreo de dois blocos dos “Prédios Novos”
(que não foram implantados), reservatórios de água (elevados e subterrâneo),
algumas quadras poliesportivas e parques infantis.
Jardins de Infância ou Creches
Os Jardins de Infância foram projetados para ocupar o pavimento térreo de
dois blocos dos “Prédios Novos” (blocos 6 e 30); contudo, por razões
desconhecidas, acabaram não sendo implantados no conjunto, apesar das
estruturas dos espaços de recreação terem sido construídas. Ao examinar
documentos sobre o conjunto, foi encontrada a seguinte proposta
1
:
1
A grafia incorreta da palavra “localizado” faz parte do desenho original que foi fielmente reproduzido.
Imagem 48 - Planta dos Jardins de Infância. Fonte: Arquivo INSS.
130
Escola primária
Implantada na porção mais elevada do terreno e com capacidade para 1.200
alunos em dois turnos, essa escola foi projetada por Carlos Frederico Ferreira e
construída para atender às crianças do conjunto. Trata-se de uma solução racional,
com dois blocos de salas de aula unidas por corredores abertos e passarela;
considerada uma solução econômica, foi um projeto muito elogiado e publicado
internacionalmente.
O pavimento térreo constituía uma área de playground coberta entre pilotis,
onde também estavam os escritórios administrativos. A caixa d’água é independente
e possui uma discreta monumentalidade, que destaca a função social do edifício.
As salas de aula foram concebidas de forma a receber o mínimo de insolação
no verão e o máximo no inverno garantindo, assim, o conforto dos usuários. O
acesso entre os andares é feito por rampas e as paredes exteriores das salas de
aula são envidraçadas com basculantes superiores, garantindo ventilação cruzada.
(MINDLIN, 1956, p.156).
Fotografia 35 - Fachada da escola do conjunto. Fonte: MINDLIN, 1956.
131
rampa
rampa
passarela
Salas de
aula
Planta 2° pavimento
Planta pavimento térreo
sanitários
Térreo livre com pilotis
Imagem 49 - Projeto da Escola Primária
Fonte: Arquivo INSS.
132
Fotografia 36 - Fachada da escola do
conjunto. Fonte: MINDLIN, 1956.
Fotografia 37 - Reservatório de
água. Fonte: MINDLIN, 1956.
Imagem 50
O projeto da escola do conjunto
também previa a
construção de
uma grande torre de reservatório
de água.
Com um desenho elegante e
monumentalidade discreta, possui
uma escada interna de acesso ao
reservatório e fechamento em
elemento vazado de concreto.
133
Reservatórios
Os dois reservatórios elevados foram construídos pelo IAPI dentro do
conjunto, para suprir a falta d’água nos prédios, visto não possuírem caixas d’água
individuais. Um deles localiza-se em uma área livre no setor das casas e outro,
próximo aos “Prédios Novos”.
Além dos reservatórios elevados, o IAPI construiu outro subterrâneo, para
garantir o abastecimento de água do conjunto. Vide, abaixo, fotografias da
construção:
Fotografia 38 - Quadra 16 -
Escavação da
caixa d’água subterrânea. Fonte: Arquivo
INSS.
Fotografia 39 - Quadra 16 -
Fundação da
caixa d’água subterrânea. Fonte: Arquivo
INSS.
Fotografia 40 - Quadra 16-
Escavação da caixa d’água
subterrânea.
Fonte: Fonte: Arquivo INSS.
134
Fotografia 41 - Quadra 16 - Fundação da caixa d’água
elevada. Fonte: Arquivo INSS.
Fotografia 42 - Quadra 16 - Caixa d’água elevada. Fonte:
Arquivo INSS.
Fotografia 43 - Quadra 16 - Caixa d’água elevada. Fonte:
Arquivo INSS.
135
Fotografias 44 e 45 - Quadra 16 - Caixa d’água elevada. Fonte: Arquivo INSS.
Fotografia 46 - Conjunto Habitacional IAPI, lembrança do IV Centenário, 1953.
Foto Elite. Acervo: Museu de Santo André.
136
3.4.5 Influências sobre o Projeto
Através do estudo do projeto do Conjunto Vila Guiomar pode-se identificar
mais de uma influência arquitetônica e urbanística, tanto no trecho de casas como
de prédios. Como foi dito anteriormente, o conjunto destaca-se pelo fato de,
aparentemente, conjugar influências do conceito de cidade-jardim inglesa ou
subúrbio-jardim, com princípios da arquitetura moderna.
Fotografia 47 - Imagem do Conjunto Vila Guiomar com o trecho de prédios laminares e casas
unifamiliares em ruas sinuosas na década de 50.
Coleção: Octaviano Gaiarsa. Acervo Museu de Santo André
137
3.4.5.1 Influência do conceito Cidade-jardim ou Subúrbio-jardim Inglês
Getúlio Vargas tinha a proposta de construir conjuntos residenciais como
verdadeiras cidades-novas”, com um novo padrão de qualidade de vida, junto aos
principais núcleos urbanos. (BONDUKI, 1998, p.202). Embora essa proposta tenha
sido plenamente concretizada no Conjunto Habitacional Passo D’Areia, considerado
o mais completo projeto dentro do conceito de cidade-jardim ou subúrbio-jardim,
também foi colocada em prática no grande trecho de casas do conjunto Vila
Guiomar, em Santo André, como se pode perceber neste trecho publicado na revista
Acrópole em 1942:
Desde o início das construções, tivemos a preocupação primordial
de conservar os bosques existentes e criar um horto florestal, para
atender ao plano intenso de arborização da cidade jardim.
1
(Revista
Acrópole, 1942, n°53, p. 161).
O conceito de garden-city consagrou-se ligado a experiências britânicas do
início do século XX e é entendido de formas diversas; acabou sendo popularizado
pela associação a uma terminologia, que transita pelos termos cidade-jardim e
subúrbio-jardim, nem sempre de maneira precisa. O termo cidade-jardim refere-se a
núcleos urbanos, que buscam independência de outras cidades, possuindo
planejamento com finalidades sociais amplas e a união entre cidade e campo em um
todo, procurando a harmonia que não existe na cidade industrial. o subúrbio–
jardim constitui uma extensão de uma cidade pré-existente, da qual é dependente e,
pode ser ou não, conectado ao tecido urbano. Portanto, enquanto a cidade-jardim
propunha um espaço de rejeição e autonomia da cidade industrial, os subúrbios-
jardim não só, eram implantados aos arredores das cidades industriais, como
dependiam delas totalmente. (WOLFF, 2001, p.23).
1
Entrevista concedida pelo Engenheiro Paes Barreto à revista Inapiários e reproduzida na revista
Acrópole n° 53, setembro de 1942, pg. 161.
138
O termo cidade-jardim acaba se popularizando após o sucesso das idéias de
Ebenezer Howard, concretizadas pelos arquitetos Raymond Unwin e Barry Parker,
em 1903, na cidade de Letchworth considerada a primeira cidade-jardim da
história, e no subúrbio londrino de Hampstead. A proposta de cidade-jardim de
Ebenezer Howard não se referia a um modelo espacial: constituía um “esquema
teórico de uma cidade autônoma” com gestão comunitária, de dimensão limitada por
uma faixa agrícola circundante, com uma grande taxa de área verde, bem diferente
das cidades de até então. Esta teoria foi sistematizada no livro Garden Cities of
Tomorrow (1° ed. 1898). Para Howard, as cidades-jardim constituíam uma
alternativa à cidade industrial, não apenas do ponto de vista formal, como também
no de proporcionar habitações de qualidade ao operariado, que seriam alugadas
através de cooperativas. Além de a cidade oferecer recursos industriais e agrícolas,
os jardins, junto às casas, deveriam constituir hortas, e os cinturões verdes tratariam
de limitar o crescimento das cidades, mantendo a escala humana. (WOLFF, 2001,
p.24-25).
No entanto, a denominação cidade-jardim e os aspectos formais, como o de
fornecer habitações de qualidade e ambiente saudável para seus moradores,
acabaram sendo utilizados em várias experiências urbanas. Esta aceitação das
paisagens, criadas a partir das experiências britânicas, e a conseqüente adoção
como modelo, acabou induzindo ao uso indiscriminado do termo garden-city, tanto
para conjuntos habitacionais populares e de classe média ou alta, como para
cidades planejadas.
Segundo WOLFF (2001, p.29), a paisagem urbana de Letchworth influenciou
os subúrbios do século XX nas formas de ocupação, que integram arquitetura e
paisagem e as tipologias arquitetônicas. Suscitou também pesquisas de habitação
139
social na Europa do entre-guerras, resultando na busca por habitações dignas, mas
com baixo custo para o operariado. Os subúrbios ou bairros-jardim proliferaram
mundialmente, ligados a cidades existentes, ao contrário dos conceitos de Howard,
avesso a grandes distâncias e concentrações urbanas. Este modelo foi, e ainda é,
amplamente aplicado no contexto norte-americano.
O sucesso deste padrão urbano está fundamentado em referências formais
como: ruas sinuosas e arborizadas, integração entre edificações e jardins,
acomodação às condições naturais e à variedade de modelos de casas
desenvolvidos, o que levou a ser aplicado em diversos contextos urbanos por todo o
mundo. Nos subúrbios-jardim britânicos, por exemplo, a construção isolada era um
objetivo, como forma de contraposição às residências geminadas e enfileiradas dos
centros urbanos. Nos projetos habitacionais econômicos, ainda que não fossem
residências unifamiliares, as unidades eram agrupadas duas a duas ou quatro a
quatro em um ou dois pavimentos, mas buscava-se sempre a aparência de casa
isolada. (WOLFF, 2001, p.29).
A partir da segunda metade do século XIX, a expansão do transporte coletivo
acaba favorecendo o surgimento de subúrbios-jardim, geralmente localizados em
zonas de expansão, ou destacados do restante da malha urbana. Esse modelo
urbanístico foi muito valorizado no século XX. As paisagens criadas nas cidades-
jardim e subúrbios-jardim inspiraram a implantação de vários bairros na Europa,
EUA e América do Sul, inclusive no Brasil, como é o caso do Jardim América e do
Pacaembu, ambos em São Paulo.
No conjunto da Vila Guiomar, esse conceito também foi incorporado, como
podemos perceber na similaridade com o subúrbio-jardim americano de Riverside:
140
O fato de haver diversas tipologias de unidades (geminadas ou não), talvez
reflita um desejo de evitar a total homogeneidade; as casas, uma tentativa de
aproximar mais o conjunto da vida rural, que até então, reinava na região, ao
proporcionar identificação das pessoas com o conjunto. No entanto, como foi dito
anteriormente, o se pode atribuir a autoria do projeto urbanístico, integralmente,
ao arquiteto Carlos Frederico Ferreira. O arruamento sinuoso do setor de casas
estava implantado na época da compra da área pelo IAPI e, embora não seja certa a
autoria do projeto do loteamento, aparentemente, houve influência dos conceitos de
subúrbio-jardim na disposição das ruas e quadras. Ao arquiteto do IAPI atribui-se o
projeto e a disposição das casas unifamiliares, ao redor de grandes áreas de uso
comum no miolo das quadras. Estas casas não possuíam muros ou grades na época
de sua construção, sendo implantadas em meio a uma grande área gramada e
arborizada.
Imagem 51
Subúrbio de Riverside. Plano
projetado por Olmstead em 1869 para o subúrbio
de Chicago. Fonte: WOLFF, 2001, p.35.
Imagem 52 - Implantação
do Conjunto IAPI
Vila Guiomar: trecho de casas com ruas
sinuosas. Fonte: BONDUKI, 1998.
141
3.4.5.2 Influência dos conceitos alemães e dos CIAMs
A produção habitacional dos IAPs, inclusive o Conjunto Vila Guiomar, também
foi influenciada pela arquitetura alemã do entre-guerras, tanto do ponto de vista
programático como projectual”. A influência é visível na busca da economia e
racionalização; as idéias de padronização, industrialização da construção,
funcionalidade e habitação mínima apresentadas nos CIAMs são recorrentes.
(BONDUKI, 1998, p.182).
Um trecho do conjunto Vila Guiomar se caracteriza pelo uso de edifícios em
forma de lâmina, com três andares, sem ornamentação, tal como na produção alemã
de arquitetos como Mies van der Rohe, Walter Gropius, Bruno Taut e Ernst May
(BONDUKI, 1998, p.182). A influência fica clara ao compararmos fotografias de
conjuntos alemães ao Vila Guiomar:
Fotografia 48 -
Prédio do Conjunto IAPI,
década de 50. Coleção: René Schoeps.
Acervo Museu de Santo André.
Fotografia 49 -
Bloco projetado por Mies
van der Rohe para Stuttgart.
Fonte: BONDUKI, 1998, p.182
Fotografia 50 - Conjunto Residencial Vila
Guiomar. Fonte: BONDUKI, 1998, p.182
Fonte: BONDUKI 1998:183
Fotografia 51 - Bloco Projetado por
Gropius para Berlim. Fonte: BONDUKI,
1998, p.182.
142
Os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAMs), realizados a
partir de 1928, foram, sem dúvida, muito importantes para o desenvolvimento da
ideologia do movimento moderno, e acabaram influenciando profundamente a
produção arquitetônica dos IAPs.
Em 1929, no segundo CIAM em Frankfurt, cujo tema principal era a
“Habitação para o mínimo nível de vida”, estava presente o conceito de habitação
como célula mínima de composição urbana, cuja repetição e agregação em
unidades de vizinhança planejadas, constituiriam o espaço urbano ideal. A cidade
era vista como uma acumulação de unidades, fossem elas camas, habitações ou
bairros. A racionalização e a industrialização eram defendidas em todos os níveis,
inclusive nas atividades domésticas; todo o trabalho doméstico deveria ser facilitado,
funcionando como uma linha de produção econômica e eficiente. Em 1930, o
terceiro CIAM, em Bruxelas, ampliaria o tema do anterior, estudando “as formas de
agrupamento das habitações, os ‘bairros racionais’ equipados, do ponto de vista
técnico e social, e a utilização da ‘terceira dimensão’ (vertical) na composição dos
conjuntos” (KOPP, 1990, p.148).
Dentro dos debates realizados, no segundo e terceiro CIAM, sobre a
habitação mínima e tipologias habitacionais, respectivamente, o que se procurava
era a racionalização e a industrialização da produção de moradias, como maneira de
reduzir custos, sem deixar de lado o bem estar e as necessidades dos indivíduos. A
célula individual devia superar o módulo de reprodução em miniatura da habitação
burguesa, disseminada até então; para isto, era preciso adaptar o comportamento e
o conceito de morar, racionalizar atividades e renovar o mobiliário, para adaptá-lo ao
tamanho mínimo. Para Ernest May as células eram uma unidade básica da cidade:
143
“[...] varias camas forman uma vivienda, varias viviendas forman uma
unidad tipológica (edificio), varias unidades tipológicas forman um
asentamiento urbano, y varios asentamientos urbanos son la ciudad.”
(MAY apud AYMONINO, 1973, p.91)
Os arquitetos modernos estabeleciam, segundo BONDUKI (1998, p.148),
relações entre habitação, cidade e sociedade e, ao buscar a moradia mínima e a
célula individual, propunham que as funções domésticas fossem transferidas do
espaço privado para os equipamentos sociais e comunitários. Na tese que Gropius
apresentou no segundo CIAM, esta concepção fica bem clara:
Os grandes equipamentos coletivos do bairro as lavanderias
coletivas, as creches, as salas de reunião – têm a mesma função. Sua
multiplicação contribui, ao transferir para fora da habitação tarefas
domésticas que antes ali ocorriam, para a evolução do conceito de
família e para acelerar a passagem da família extensa, necessária
para a realização destas tarefas dentro da casa, para a família
moderna, reduzida aos pais e aos filhos, que se apóia para a maior
parte de suas atividades domésticas em uma rede de equipamentos,
que permitem a socialização dessas atividades. (KOPP, 1990, p.61).
Com isso, tentava-se modificar os conceitos de público e privado, através da
inserção de equipamentos comunitários, que complementavam os conjuntos
habitacionais. As idéias de emancipação da mulher e sua inserção no mercado de
trabalho uniam-se à simplificação dos serviços domésticos, através do
desenvolvimento de equipamentos e, tornando as áreas de serviço coletivas,
adequava-se a unidade habitacional ao mínimo e ao baixo custo. Todos esses
conceitos acabaram influenciando a produção habitacional dos IAPs, tanto do ponto
de vista da composição dos conjuntos, como na concepção das unidades.
Dentro do projeto do IAPI Vila Guiomar pode-se perceber os conceitos de
racionalização, industrialização, economia e célula mínima, presentes em toda a sua
concepção. Também havia a preocupação de liberar espaço para convívio familiar
dentro das unidades, com a disposição de lavanderias coletivas no pavimento térreo
144
dos edifícios e a provisão de equipamentos públicos no conjunto. Uma outra
característica é a valorização do espaço público, coletivo e livre através do
tratamento paisagístico.
3.4.6 Comparação a outros conjuntos do IAPI
Para delinear um panorama mais abrangente da produção habitacional do
período, e inserir o Conjunto IAPI Vila Guiomar num contexto mais amplo, tendo em
vista outras experiências que ocorriam, simultaneamente, na mesma linha, faremos
uma comparação entre o objeto de estudo e outros três conjuntos, da mesma época,
que possuem características semelhantes, tanto na concepção da implantação como
na solução arquitetônica das edificações.
O primeiro é o Conjunto Passo D’ Areia em Porto Alegre, o segundo é o
Conjunto Residencial da Moóca e o terceiro é o Conjunto Residencial Baixada do
Carmo, ambos em São Paulo. Os três conjuntos se caracterizam pelo uso de blocos
em forma de lâmina, com três ou quatro andares, com pouca ou nenhuma
ornamentação, e pelo tratamento dado aos espaços públicos. Através da
comparação entre o Conjunto da Vila Guiomar e os outros três, de autoria de outros
arquitetos da mesma época, pode-se perceber uma certa coerência entre as obras
realizadas pelo IAPI, com partidos e programas que guardavam rias semelhanças
entre si.
145
3.4.6.1 Conjunto Passo D’Areia – Porto Alegre – RS
No, criado, Bairro Passo D’Areia em Porto Alegre, o IAPI adquiriu um terreno,
com cerca de 67 hectares de área rural na década de 1930, e implantou um
grande conjunto habitacional, projetado pelo Engenheiro Marcos Kruter, a partir de
1946. O projeto previa 1.625 unidades, mas durante a execução, esse mero foi
alterado para 2.533 moradias, distribuídas entre casas individuais, casas geminadas
e conjuntos de apartamentos de até quatro pavimentos, em meio a uma grande área
arborizada.
O Engenheiro Edmundo Gardolinski, responsável pela obra, acreditava que os
conjuntos deveriam refletir a diversidade da vida social, evitando a homogeneidade
excessiva, resultante da sua locação ou venda a elementos pertencentes a uma
categoria profissional específica” (NUNES, 1991, p.11).
Da mesma forma como ocorreu na Vila Guiomar, as casas foram construídas
antes dos apartamentos. A infra-estrutura inicial era precária e o transporte, difícil.
Possuía um Grupo Escolar construído pelo Instituto, e um centro de lazer destinado
a vários tipos de esporte, erguido em uma área de 40.000 metros quadrados,
incluindo um estádio. O hospital, previsto no projeto do conjunto, nunca foi
construído.
Como a Vila ficava afastada do comércio da cidade, houve a necessidade de
pré-determinar espaços destinados às atividades comerciais, quando da implantação
do conjunto; estas unidades comerciais eram alugadas pelo Instituto a profissionais
do ramo.
Após a venda das unidades na década de 60, o conjunto sofreu
descaracterização, inclusive dos espaços públicos e equipamentos, tal como ocorreu
146
em outros conjuntos dos antigos Institutos. Acabou tornando-se um bairro da cidade
e como podemos ver nas fotos abaixo, guarda semelhanças com o IAPI da Vila
Guiomar, não somente nas grandiosas dimensões e número, mas também na
arquitetura das unidades, que compreendiam várias tipologias distintas. ainda
semelhanças na concepção do espaço urbano, fortemente influenciado pelos
conceitos de cidade ou bairro-jardim (ruas curvas e respeito ao meio físico e à
paisagem) e sua integração à cidade, após a extinção do Instituto.
Fotografias 52 e 53 -
Conjunto
Passo d’Areia. Fonte: NUNES,
1991.
147
3.4.6.2 Conjunto Residencial da Moóca – São Paulo – SP
O Conjunto Residencial IAPI da Moóca foi projetado pelo arquiteto Paulo
Antunes Ribeiro e construído na década de 40, no Bairro da Moóca, em São Paulo.
Compreende 576 unidades, distribuídas em 17 blocos, de quatro ou cinco
pavimentos paralelos, distribuídos sobre uma grande área verde pública,
diferentemente do restante da malha urbana tradicional do entorno. Uma
característica marcante é a utilização de pilotis no térreo apenas na face frontal dos
edifícios: o espaço gerado constitui uma galeria coberta ao longo dos blocos, que
pode ser utilizada para o convívio dos moradores. apartamentos de um, dois e
quatro dormitórios, esses últimos constituindo unidades duplex, localizados no
quarto andar dos edifícios com cinco pavimentos, solução original para conjuntos
desse tipo na época. (BONDUKI, 1998, p.167).
Em comparação com o Conjunto da Vila Guiomar, podemos notar semelhanças
na variedade dos tipos de unidade, além do uso de pilotis no pavimento térreo, o
gabarito e a disposição dos blocos lineares paralelos, em uma grande área livre.
Fotografias 54 e 55 - Conjunto Residencial IAPI Moóca. Fonte: BONDUKI, 1998, p.187.
148
3.4.6.3 Conjunto Residencial da Baixada do Carmo – São Paulo – SP
O Conjunto Residencial da Baixada do Carmo foi projetado pelo Arquiteto Atílio
Corrêa Lima e sua equipe, e foi construído próximo ao centro da cidade de São
Paulo, na década de 40. Embora o projeto original previsse 4.038 unidades, foram
implantadas apenas 480. (BONDUKI, 1998, p.185).
É composto por blocos lineares, pouco ornamentados e dispostos paralela e
regularmente, em meio a um grande espaço público. O objetivo do arquiteto era o de
obter o máximo de economia e adensamento, em razão da localização central do
conjunto, articulando arquitetura e urbanismo. (Revista Municipal de Engenharia,
1942, p.321-330). Havia, dentro da proposta, previsão para a construção de
equipamentos públicos dispostos ao longo de um longo eixo.
Em relação ao Conjunto da Vila Guiomar, podemos destacar a similaridade de
gabarito e a implantação de blocos retangulares lineares paralelos em meio a uma
grande área verde.
Imagem 53 -
Implantação segundo projeto com
blocos altos. Fonte: Revista Municipal de
Engenharia, 1942, p.327.
Fotografia 56 -
Implantação realizada.
Fonte: BONDUKI, 1998, p.184.
149
3.4.7 Ocupação do conjunto
O processo de ocupação do Conjunto Vila Guiomar seguiu uma dinâmica bem
específica, não apenas por ter ocorrido em etapas, como também pelo fato de ser
constituído de diferentes tipologias. Segundo FRASSON (2000, p.330), na época da
sua construção, o município ainda não apresentava índices significativos de carência
de moradias; portanto, visava atrair uma parte do operariado, que não residia em
Santo André, e se deslocava, diariamente, para a região. Por razões culturais, as
unidades geminadas, com cômodos pequenos, e os apartamentos não foram bem
aceitos, pois os moradores ainda estavam ligados ao passado rural de casas
isoladas, simples, com quintal, horta e criação de animais.
Em 1944 foram entregues as primeiras “Casas Geminadas” e abertas
inscrições aos associados interessados, organizados pelo sindicato dos metalúrgicos
e dos têxteis. Os critérios estabelecidos eram a renda familiar e o número de filhos;
contudo, a procura foi pequena. Um fato que agravava o desinteresse pelo conjunto
era a dificuldade de provisão de serviços básicos, como água e energia elétrica, em
razão de conflitos entre o governo federal e municipal. Como a área era de
propriedade federal, a administração local relutava em intervir, e o Instituto, por sua
vez, responsabilizava o município pelo atendimento da demanda. Além disso, o
controle rigoroso por parte do IAPI, que proibia qualquer modificação nas unidades e
limitava o uso dos espaços coletivos, e os aluguéis elevados provocaram alta
rotatividade nas unidades, sendo que muitas delas permaneceram vazias por anos.
(FRASSON 2000:330).
Após a conclusão das obras, as áreas livres receberam tratamento
paisagístico, incluindo parques infantis e quadras, com manutenção e controle
150
rigoroso do Instituto; eram utilizadas tanto pelos moradores dos prédios como das
casas.
As unidades foram construídas e locadas aos associados e funcionários do
Instituto; durante este período, toda a manutenção das casas, dos blocos de
apartamentos e das áreas livres era feita pelo Instituto, através da contratada
Companhia Califórnia, sendo que os moradores não podiam fazer modificações nas
unidades, por conta própria.
Segundo pesquisa efetuada em documentos dos arquivos do atual INSS, o
processo de locação das unidades acontecia da seguinte forma:
1- A Carteira Predial do IAPI enviava um Boletim de Convocação (BC) para a
Empresa, onde o futuro locatário trabalhava, convocando-o a comparecer
para a escolha do imóvel que desejava locar;
2- Depois de escolhida a unidade, o locatário assinava um “Termo de Escolha
do Imóvel”;
3- Era efetuado um Cálculo Financeiro de Locação.
Exemplo:
Contrato de locação de uma casa da Rua dos Capuchinhos a um funcionário
da GMB em 1947 (segundo ficha do arquivo do INSS):
O salário verificado do locatário era de Cr$ 948,50.
O aluguel máximo a ser pago deveria ser de Cr$ 474,25 (50% do salário).
Cálculo:
Aluguel líquido = Cr$ 105,00
151
Impostos e taxas:
Taxas (5%) ............................................. 7,00
Conservação (10%) ..............................14,00
Administração (5%) ................................7,00
Vacância (5%) ........................................7,00
Total de taxas e impostos ....................35,00
Total (aluguel + impostos + taxas)......................................140,00
Relação de Garantia = Valor aluguel = 14,76 % (dentro da % máxima)
Salário Verificado
4 Redigia-se um Contrato entre o locatário e a Carteira Predial do IAPI
(representado pelo delegado regional do IAPI).
Neste contrato constavam normas que deveriam ser cumpridas pelos locatários,
tais como:
Conservação do imóvel;
Manutenção da higiene (coleta de lixo e limpeza de quintais e casas);
Permissão para a entrada do Inspetor da Administração nas residências, bem
como seus funcionários, para reparos necessários nas unidades;
Comunicação ao Instituto no caso de algum integrante da família residente no
imóvel contrair alguma “moléstia infecciosa ou contagiosa”;
“Evitar a prática de qualquer ato contrário aos bons costumes morais e cívicos
ou prejudiciais à harmonia entre os moradores do conjunto”.
152
No contrato também constavam proibições como:
Modificar as construções;
Colocar letreiros, cartazes, placas ou dependurar roupas, tapetes etc, fora
da casa;
Colocar toldos ou cortinas sem autorização da administração;
Colocar pregos, ganchos e escápulos nas paredes, sem que fosse feito
pelos funcionários da administração;
Usos comercial ou industrial;
Barulho que incomodasse os outros moradores em qualquer horário do dia
ou ruídos após as 22:00 hs;
Prática de esportes nas ruas do conjunto fora dos lugares pré-
determinados;
Uso ou guarda de explosivos e produtos químicos perigosos;
Reuniões recreativas sem permissão da administração.
153
4. A QUESTÃO HABITACIONAL APÓS 1964
Conforme mostrado no capítulo 3, a partir de 1930, o Estado passou a dedicar
grande atenção à classe operária e suas condições de vida. Entre uma das
principais preocupações estava a questão da moradia do trabalhador; a intervenção
estatal, neste setor, acabou ocorrendo através dos Institutos de Aposentadoria e
Pensões e, posteriormente, da Fundação da Casa Popular, o que se estendeu até a
década de 60.
Após o golpe militar de de abril de 1964, foi implantada a ditadura e, com
ela, uma série de mudanças em vários setores, inclusive no habitacional. Com o
objetivo de estabelecer um moderno liberalismo econômico e político, o Congresso
Nacional elegeu, como presidente, o general Castelo Branco; o resultado dessa
política foi o avanço no processo de internacionalização da economia, a aceleração
no processo de urbanização das cidades e o aumento da concentração de renda ao
longo dos anos 60. (FINEP-GAP, 1983, p.83).
A intervenção do Estado, no campo da moradia, adquiriu um nível mais
elevado de coordenação e sistematização, com uma nova legislação sobre política
habitacional e a criação, pela Lei . 4.380 de 21.08.64, do Sistema Financeiro da
Habitação (SFH) e do Banco Nacional de Habitação BNH. O objetivo do SFH era
“facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria, especialmente
pelas classes de menor renda”; o do BNH era gerir as fontes de recursos para
provisão habitacional, ou seja, doações e empréstimos internos e externos. (FINEP-
GAP, 1983, p.83).
Com a nova Lei, o sistema de locação de moradias construídas pelas
Carteiras Prediais dos Institutos extinguiu-se, e os imóveis foram alienados aos
154
locatários ou a terceiros, através do novo sistema em todo o país, de acordo com as
medidas que constavam nas suas disposições gerais:
a- As Carteiras Imobiliárias dos Institutos de Aposentadoria e
Pensões não poderiam mais, a partir da data da promulgação da
Lei, iniciar novas operações imobiliárias, passando seus segurados
a ser atendidos pelo novo sistema.
b- Os Institutos de Aposentadoria e Pensões deveriam, no prazo de
doze meses, efetuar a venda de seus conjuntos e unidades
residenciais, ficando deste modo, extinto o sistema de locação das
habitações praticado por aquelas instituições. (FINEP-GAP 1983).
A partir desse período, foi produzido um grande número de habitações
populares do Brasil através do BNH e dinamizou-se a economia, através da geração
de empregos e o fortalecimento do setor da construção civil, o que se transformou
num elemento estratégico do governo militar. Desta forma, o regime de 64 assumiu
a tese da construção intensiva de casas para a venda, e esta questão passou a ter
um novo significado político:
A nova política contemplava a necessidade de estimular um
importante setor industrial – o da construção civil e, com isso, absorver
significativo número de empregados sem qualificação profissional,
amenizando as possíveis pressões contra o desemprego que o
controle da inflação ameaçava provocar.
Não se tratava mais, portanto, de construir moradias para assegurar
condições mínimas de vida ao operariado, mas sim, de prover
empregos para uma considerável parcela da população, sem
alternativas de obter trabalho. A produção de habitações passava a
ser subproduto da nova diretriz governamental [...]. (FINEP-GAP, p.87-
88, 1983).
Em 1966, pelo Decreto Lei 72, unificaram-se os Institutos de Previdência
e todos os bens dessas instituições passaram a pertencer ao INPS - Instituto
Nacional de Previdência Social. (SLAIBI FILHO, 2000).
A partir de 1967, o BNH passou a gerir os depósitos do FGTS (Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço), que foi criado em 1966; e do SBPE (Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo), sendo que ambos passaram a constituir suas
principais fontes de recursos. Ainda na década de 60, foram criadas novas unidades
para a atuação do Sistema: os INOOCOPs (Institutos de Orientação a Cooperativas
155
Habitacionais), que acabaram se desdobrando, em nível estadual, nas chamadas
COHABs (Companhias de Habitação Popular).
O general Costa e Silva foi eleito presidente em 1967; acabou falecendo, e
uma Junta Militar assumiu o governo em 1969. Durante esse período, a economia
brasileira cresceu como nunca antes na história, configurando o que foi chamado de
“milagre econômico”. No entanto, dentro de uma grande contradição, aumentaram a
urbanização e as ocupações periféricas nas cidades, e o problema habitacional se
agravou.
Em 1973 o general Ernesto Geisel foi eleito presidente, com o objetivo de
conciliar a crise econômica e política para o desenvolvimento; esboçava-se assim, o
início da abertura política, rumo a redemocratização (FINEP-GAP, 1983, p.86).
O INPS foi dividido em INAMPS e IAPAS em 1977. Sob o ponto de vista
histórico, neste ano, foi instituído o Sistema Nacional de Previdência e Assistência
Social - SINPAS, pelo qual cada função passou a ser exercida por um órgão
específico. Assim, coube ao INPS, exclusivamente, a concessão e manutenção de
benefícios; a prestação de assistência médica ficou com o Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social - INAMPS; a gestão administrativa,
financeira e patrimonial ficou a cargo do Instituto da Administração Financeira da
Previdência e Assistência Social – IAPAS (SLAIBI FILHO 2000).
O Presidente João Batista Figueiredo tomou posse em 1979, dentro de um
processo de “abertura política”, recessão econômica e redução das taxas de
crescimento da economia; a crise política e a pressão sobre o regime se agravavam
com a organização da sociedade (FINEP-GAP, 1983, p.87).
Em 1985, com a transição do poder militar para o poder civil, foi eleito o
presidente Tancredo Neves; com seu falecimento, assumiu o vice, José Sarney. Em
156
1986, o BNH foi extinto e incorporado à Caixa Econômica Federal, que assumiu o
papel de maior agente nacional de financiamento imobiliário do país e passou operar
o FGTS.
Segundo DENALDI (2006, p.11), apesar das críticas ao BNH e ao sistema por
ele preconizado, sua importância é indiscutível, por ter sido um período (1964-1986)
em que o país teve uma política nacional de habitação de fato. Havia uma estratégia
clara: estrutura de abrangência nacional paralela à administração direta (BNH e rede
de agentes promotores e financeiros), e fontes de recurso estáveis, permanentes e
independentes politicamente (FGTS e SBPE).
Ainda segundo DENALDI (2006, p.12), apesar de ter financiado cerca de 25%
das novas moradias construídas no país, no período do seu funcionamento, o BNH
esteve longe de suprir a demanda gerada pelo processo acelerado de urbanização,
após a década de 50. Sua atuação não impediu a continuidade da urbanização
informal e periférica dos centros urbanos. A falta de flexibilidade ao acesso à
moradia, o modelo de gestão rígido e centralizado, e os equívocos arquitetônicos e
urbanísticos são algumas das críticas, entre outras, feitas a esse sistema. Em 22
anos de funcionamento, o Sistema Financeiro da Habitação financiou cerca de 4,3
milhões de unidades, das quais 2,4 milhões para as classes populares, através do
FGTS e 1,9 milhões para a classe média, com recursos do SBPE.
Em abril de 1990 foi criado o INSS - Instituto Nacional de Seguro Social - pela
fusão do IAPAS com o INPS, e o INAMPS acabou sendo absorvido pelo SUS -
Sistema Único de Saúde (SLAIBI FILHO 2000).
157
4.1 SANTO ANDRÉ E O CONJUNTO VILA GUIOMAR APÓS 1960
Após a década de 1960, a cidade continuou crescendo com pouca
intervenção estatal e forte presença de loteamentos irregulares e favelas, que
acabaram surgindo em áreas desvalorizadas ou abandonadas.
Na década de 1970, durante o período do "milagre econômico", houve uma
grande expansão e concentração da atividade industrial na região; no entanto, na
década de 80, o ritmo de crescimento sofreu um decréscimo, culminando com uma
grande recessão, que teve reflexos sobre o meio urbano e contribuiu, ainda mais,
para a expansão periférica e irregular.
Durante os anos 90, a produção industrial continuou desacelerada, com os
incentivos fiscais voltados para outras áreas do Estado de São Paulo, além das
dificuldades de transporte e o custo de mão de obra. A região do ABC, em especial
Santo André, perdeu várias indústrias e observou-se um aumento de atividades nos
setores de serviços e no comércio. (PSA, 2006).
Atualmente, o Município de Santo André está situado na área conhecida por
ABC Paulista (juntamente com os municípios de São Bernardo do Campo e São
Caetano do Sul), na Região Metropolitana de São Paulo. Possui uma área territorial
de 175 Km², sua população estimada em 2005 era de cerca de 669.592 habitantes
1
e seu produto interno bruto vem, em grande parte, da atividade industrial e do setor
de comércio e serviços.
2
1
Fonte: Dados IBGE 2005
2
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais - dados 2000-2001.
158
4.1.1 Vila Guiomar e o Conjunto IAPI
Na década de 60, todas as unidades do Conjunto Vila Guiomar, antes locadas
e pertencentes ao IAPI, foram vendidas aos moradores através do BNH, tal como
ocorreu com todos os outros conjuntos dos Institutos. Nesta época, segundo alguns
moradores, o trecho dos prédios já tinha o apelido de “pombal” ou “favela superada”:
Conforme dito anteriormente, enquanto as unidades eram de propriedade do
IAPI, a conservação das edificações e das áreas livres era feita por uma empresa
contratada. Após a venda das unidades, a manutenção das construções e das áreas
comuns passou à responsabilidade dos moradores, que fundaram uma Associação
de Condôminos, para assumir todas as atribuições e questões administrativas.
Quando a Associação foi extinta, após alguns anos, a manutenção das edificações
passou para os moradores diretamente. (PEREIRA, 1992, p. 08).
Na década de 70, a Prefeitura de Santo André comprou do INPS uma área
que ficou vazia, implantou vários equipamentos públicos e concedeu a terceiros,
como o Tiro de Guerra e a Creche Amélia Rodrigues, por exemplo. Também por
volta de 1970, a Cooperativa Habitacional do ABC comprou parte da gleba vazia e
construiu o Conjunto Habitacional Zodíaco ou Conjunto BNH, para metalúrgicos do
ABC.
Com o abandono do restante da área, a sede da fazenda acabou sendo
ocupada, dando origem à favela Tamarutaca; atualmente, possui cerca de 5.000
moradores e encontra-se em processo de urbanização pela administração municipal.
159
Resumo da História do Conjunto Vila Guiomar até a venda pelo BNH:
Eventos em ordem cronológica
Prédios novos
Prédios
velhos Venda dos aptos
1920 1930 1939 1940 1942 1946 1950 1960 1970
chácaras
aquisição casas 2° casas
pelo IAPI
O processo de povoamento da área, que termina na década de 1970, pode ser
dividido em 4 etapas, demonstradas no mapa de Evolução da Mancha Urbana:
1. A primeira etapa, 1906 a 1928, marca a povoação do trecho hoje conhecido
como Vila Alpina (bairro vizinho ao conjunto), onde ficava a chácara do Sr.
Castanho.
2. A segunda etapa, 1939 a 1954, marca a implantação do Conjunto IAPI.
3. A terceira etapa, 1954 a 1970, marca a consolidação do Conjunto IAPI e a
compra de parte da área pela Prefeitura e BNH.
4. A quarta etapa, a partir de 1970, marca a implantação de equipamentos
públicos pela Prefeitura e a invasão de uma grande área remanescente, que
deu origem à Favela Tamarutaca.
160
Mapa 5 - Evolução da Mancha Urbana. Fonte: PEREIRA, 1992, P.58.
161
Atualmente, o bairro está situado a apenas 1 km do centro, constitui um dos
menores da cidade de Santo André, e faz divisa com outros bairros consolidados de
classe média alta, como é o caso do Bairro Jardim e da Vila Bastos. Aliás, a própria
Vila Guiomar acabou tornando-se um bairro, em grande parte, de classe média.
Compreende, além do Conjunto IAPI (prédios e casas), o Conjunto do BNH
(Conjunto Zodíaco) e a Favela Tamarutaca. Sua localização é privilegiada, pois tem
fácil acesso ao centro da cidade e aos municípios vizinhos de São Bernardo do
Campo, São Caetano do Sul e São Paulo.
Mapa 6 -Localização do bairro Vila Guiomar na zona urbanizada do município de Santo André.
Fonte: PEREIRA, 1992, p.06.
162
O bairro acabou sendo incorporado à mancha urbana do município, embora
guarde muita diferença em relação aos bairros vizinhos, tanto na quantidade de área
verde, como na volumetria e arruamento. Apesar de todas as modificações sofridas
ao longo dos anos, em alguns trechos, ainda é possível reconhecer a unidade do
conjunto, principalmente no setor de edifícios. No trecho de casas unifamiliares
ainda se pode perceber os traçados sinuosos das ruas, que acompanham as curvas
de nível do terreno, com grandes áreas livres, conforme o projeto. Embora todos os
terrenos tenham sido murados e muitas das casas tenham sido modificadas ou, até
mesmo, demolidas, não se pode deixar de observar que mantêm uma certa
singularidade, em relação aos bairros ortogonais do entorno.
A área dos blocos de apartamentos possui o maior percentual de área verde
por habitante da cidade, destacando-se do restante do bairro e do seu entorno. Em
meio à região central, a imensa área chama atenção, tanto pela dimensão, quanto
pela disposição dos edifícios e é considerada uma espécie de “pulmão verde”.
Apesar da falta de manutenção, da descaracterização e da privatização dos espaços
livres, ainda mantém árvores cinqüentenárias.
Fotografia 57 - Panorâmica do Conjunto IAPI – Trecho dos Prédios Novos.
Fonte: RAMOS, 2003.
163
A topografia, suavemente acidentada, tem como pontos mais altos as Ruas
Ester e Tamarutaca, divisores que direcionam as águas para o Córrego do Cemitério
(atual Av. José A. A. Amazonas) e Córrego Beraldo (atual Av. Prestes Maia).
A Avenida José A. A. Amazonas (Marginal do Córrego do Cemitério) e a Rua
Catequese formam dois trajetos de grande importância, ao ligarem o centro da
cidade ao Anel Viário Metropolitano
1
. Ao longo da Rua Catequese, desenvolvem-se
atividades comerciais diversas.
A Avenida Prestes Maia é uma via de fundo de vale, marginal à canalização
do Córrego Beraldo (afluente do Tamanduateí). Esta avenida também faz parte do
Anel Viário e, nos terrenos lindeiros, atividades de grande porte, como a
Fundação Santo André, o SESC Santo André e a Faculdade de Medicina do ABC. A
Rua das Monções constitui um outro eixo importante do bairro, servido por
1
Conjunto de vias que atravessam a Região Metropolitana de São Paulo, fazendo ligação de
rodovias.
Fotografia 58 -
Levantamento Aerofotogramétrico do Município de Santo André. Destaque:
Conjunto IAPI. Fonte da base: Prefeitura de Santo André, 1992.
164
transporte coletivo e, ao longo da qual, foram se desenvolvendo comércio e serviços,
que atendem ao bairro e arredores.
O mapa, a seguir, mostra a atual situação do conjunto IAPI no Bairro Vila
Guiomar, com a nova Avenida Marginal do Cemitério (AV. José Amazonas), que
acabou ocupando um trecho da área:
Mapa 7 - Bairro Vila Guiomar. Fonte: PEREIRA, 1992.
Conjunto IAPI
165
4.1.1.1 As Unidades do Conjunto Vila Guiomar
As Casas Geminadas e Isoladas
O trecho de casas foi o que mais sofreu alterações, tanto nas edificações como
nos lotes
e, muitas vezes, é difícil identificar traços das tipologias originais. Enquanto
as unidades pertenciam ao IAPI (até a década de 60), todas possuíam a mesma
aparência e formavam, visivelmente, um conjunto. Após a venda, devido à extinção
da Carteira Predial do Instituto, a uniformidade foi perdida em razão das
modificações e, até mesmo, demolição de diversas casas. Todas receberam
fechamento de muros e grades, bem como garagens ou abrigo para autos. Houve
muitas reformas, demolições, construção de sobrados e alguns lotes foram usados
para edifícios de apartamentos e comércio.
Em razão da possibilidade de modificação das unidades, esta parte do conjunto
foi a que mais se valorizou após a venda; em vista da proximidade ao centro da
cidade, o setor está tornando-se um bairro de classe média, com casas e prédios de
bom padrão.
166
Tipologia A2
Tipologia G
Fotografias 59 e 60 -
Tipologia
A2. Fonte: PESSOLATO, 2006.
Estas casas situam-
se à
Rua Gonzaga Franco e
pertencem ao grupo da tipologia
“A2” geminadas de um lado.
Foram construídas no iníci
o da
década de 40, na primeira fase
do conjunto.
Apesar de terem sofrido
algumas modificações, como a
troca de caixilhos, construção de
cobertura para autos e muro,
constituem um dos raros
exemplares de casas
geminadas, que ainda
preservam o volume original.
Em muitos casos, uma
das unidades foi demolida, para
a construção de uma casa nova
ou edifício, como no caso da
fotografia ao lado.
Fotografia 61
Tipologia G.
Fonte: PESSOLATO, 2006.
Esta casa situa-
se à Rua
Mena Barreto. Pertence à
tipologia “G” e foi construída no
final da década de 40 / início de
50, na terceira fase de
construção do conjunto.
Constitui uma das
poucas casas que mantém as
características originais de forma
inte
gral, sem ampliações ou
reformas. A única diferença em
relação à época da implantação
é o muro construído ao redor do
lote.
167
Os Prédios Velhos (1946)
Ao contrário do que ocorreu com o setor de casas, houve dificuldade na
venda das unidades dos edifícios de apartamentos, em virtude do problema de
regularização dos condomínios. questões de ordem documental, decorrentes da
alta rotatividade de moradores, e a ocupação de áreas públicas e condominiais.
No caso dos “Prédios Velhos”, esta situação se estende até hoje, com
impasses entre as partes envolvidas (Prefeitura, INSS e proprietários). Tais
problemas dificultaram a organização dos moradores e o estabelecimento de regras
condominiais para a manutenção dos prédios. Sem regulamentos e penalidades,
muitos moradores acabaram promovendo modificações de forma aleatória, que vão
desde a troca de caixilhos e aberturas nas fachadas até novas construções. Todas
as alterações têm contribuído mais para a demora na regularização e, como ainda
indefinição das áreas condominiais, os “Prédios Velhos” permanecem sem cercas
ou muros.
Na época, o projeto não previa abrigo para automóveis e os térreos livres dos
blocos deram lugar a garagens fechadas com alvenaria e portões de madeira. Como
não espaço suficiente para os veículos embaixo dos blocos, algumas garagens
foram construídas fora do alinhamento predial, onde há, até mesmo, pessoas
morando e trabalhando.
168
Nesta fotografia observam
-
se os diversos tipos de caixilho
utilizados nas fachadas dos blocos.
Variam os materiais, as formas, as
dimensõe
s e, até mesmo, a posição
das peças, proporcionando
sensação de desordem, que é
acentuada pela presença de varais
externos.
Na fotografia ao lado
observa-
se o fechamento dos
térreos livres do bloco de
apartamentos com alvenaria e portas
de dife
rentes dimensões e, até
mesmo, janelas.
Em alguns blocos foram
construídos volumes adicionais nos
pavimentos térreos, como é o caso
da fotografia ao lado.
Estes volumes adicionais
prejudicam o processo de
regularização do conjunto de Prédios
Velhos.
Fotografias 62, 63 e 64. Prédios Velhos (1946)
Fonte: PESSOLATO, 2006.
169
Os Prédios Novos (1951)
A exemplo do que ocorreu com os “Prédios Velhos”, também houve muitas
alterações no setor dos “Prédios Novos”. Da mesma forma, houve grande
rotatividade de moradores e a regularização, fundiária e das edificações, levou muito
tempo para ser concluída. Hoje, os apartamentos deste setor já têm a documentação
regularizada e foi possível constituir condomínio em muitos deles. A maioria dos
blocos foi cercada com grades ou muros, visto que a área livre condominial foi
demarcada; embora legalmente a situação esteja resolvida, muitas ações a
serem tomadas, do ponto de vista de melhoria nas condições físicas dos blocos.
Algumas modificações foram feitas para adaptar o local às novas
necessidades, como segurança e estacionamento de autos. Os pavimentos térreos,
antes livres, tornaram-se garagens, residências ou local de trabalho.
Coincidentemente, o número de espaços livres entre os pilotis dos “Prédios Novos” é
o mesmo dos apartamentos, o que proporciona uma vaga de garagem para cada
apartamento. Como o intuito do projeto era o de construir lavanderias coletivas nos
térreos dos edifícios (o que não ocorreu) e as áreas de serviço dos apartamentos
são muito pequenas, as pessoas acabam estendendo suas roupas para secar em
varais pendurados nas janelas, o que gera um aspecto desordenado.
A manutenção dos blocos e das áreas condominiais fica a cargo dos
moradores de cada edifício. muitas diferenças entre eles: alguns estão em boas
condições e recebem manutenção regular; outros estão em péssimo estado, como
podemos observar nas fotografias. Apesar de possuir o maior percentual de área
verde por morador da cidade, a conservação dos jardins é feita de forma precária
por cada edifício.
170
Embora existam blocos que preservaram muitas das características originais,
algumas modificações acabaram sendo generalizadas para todo o setor. Entre elas
estão:
a troca de caixilhos por modelos variados na forma, material, dimensão e
posição na fachada;
a eliminação das varandas (incorporadas às salas);
a transformação do térreo livre em garagens fechadas ou, até mesmo, em
comércio e residência;
a transformação de espaço livre em vagas para autos;
a privatização dos espaços livres ao redor dos edifícios, através de muros;
a aplicação de novos materiais e cores nas fachadas e modificação interna
dos apartamentos;
a substituição ou subtração de detalhes construtivos originais, como
elementos vazados da caixa de escada, por exemplo.
Alguns blocos ainda preservam muitas características originais, embora as áreas
livres tenham sido privatizadas:
171
Fotografias 65, 66, 67 e 68. Prédios Novos (1951). Fonte: PESSOLATO, 2006.
Fotografias 69 e 70. Detalhe do
fechamento da caixa de escada
com
elementos de concreto e vidro.
Fonte: PESSOLATO, 2006.
172
Nestas duas simulações, desenvolvidas pelo Arquiteto Sidnei Ramos, com
base em fotografias atuais e memória dos moradores, podemos comparar as
diferenças entre os blocos, originalmente implantados, e as condições presentes. Na
simulação dos blocos originais pode-se perceber as varandas com guarda-corpos
treliçados de madeira (em verde) e os pilotis no pavimento térreo.
antes atualmente
antes atualmente
Imagem 54 e 55 – Simulações de fachada dos Prédios Novos. Fonte: RAMOS, 2003.
Fotografias 71 e 72 – Situação atual Prédios Novos.
173
4.1.2 As Áreas Livres
Os vazios, de miolo e extremidade de quadra, também sofreram muitas
mudanças ao longo dos anos. Algumas destas áreas permanecem inutilizadas e
abandonadas; outras foram invadidas por construções vizinhas. O fato é que poucas
se tornaram espaços de lazer, como pretendia o projeto. Muitas ainda não possuem
regularização fundiária ou foram doadas à Prefeitura, como área verde; outras ainda
pertencem ao INSS e constituem terrenos baldios, depósito de lixo e entulho,
constante fonte de reclamações dos moradores, pela falta de cuidado e
manutenção.
Apenas uma delas, a da Rua Garcia Rodrigues, foi usada para instalação de
um clube, com quadra poliesportiva e campo de bocha o Vila Alpina. A seguir,
fotografias de alguns vazios, que foram selecionados para exemplificar a situação:
Fotografias 73 e 74 – Áreas livres atualmente. Fonte: PESSOLATO, 2006.
Na primeira fotografia, observa-
se um grande vazio localizado no cruzamento da Rua
Antonio Cubas com a Travessa Paula Souza. A á
rea permanece abandonada e é motivo de
reclamação da população pelo depósito de lixo e risco de invasões. Também observa-
se a
existência de um grande edifício de apartamentos em meio às casas, confirmando a tendência de
verticalização.
A segunda fotografia
foi tirada na Rua Luiz Boschetti, de onde se observam as casas tipo
G em frente a uma das áreas de extremidade de quadra, que acabou tornando-
se uma praça,
mas não recebe manutenção regular.
174
Fotografia 75
Miolo de quadra da Rua Mena Barreto. Segundo informação de um morador, aqui
havia um campo de futebol. Hoje é uma área vazia, que acesso às garag
ens das casas que o
rodeiam. Fonte: PESSOLATO, 2006.
Fotografia 76
Área livre setor de
prédios. Neste caso, ainda e usada para
lazer, como campo de futebol ou
playg
round, embora quase não possua
infraestrutura e a manutenção nem
sempre seja apropriada.
Fotografia 77 - Área livre área dos Prédios Novos - Rua Almeida Garret.
Fonte: PESSOLATO, 2006.
175
4.1.3 Equipamentos e outras áreas
Apesar de constituir um bairro predominantemente residencial, comércio e
serviços concentrados, principalmente nos eixos de maior circulação, e uma série de
equipamentos institucionais com importância regional. No projeto do conjunto, em
termos de instituição pública, estava prevista apenas a escola de primeiro grau
“Odylo Costa Filho”, que foi de fato construída. Havia ainda o projeto de duas
creches, no pavimento térreo de dois blocos dos “Prédios Novos”, que nunca foram
implantadas.
Com a aquisição de uma grande área pela Prefeitura, na década de 70,
acabaram sendo implantados vários serviços blicos e/ou foram cedidos terrenos a
terceiros, com caráter particular ou assistencial. Entre esses equipamentos e
instituições estão escolas (de primeiro e segundo grau), tanto públicas como
particulares, a creche Amélia Rodrigues, o reservatório de água, a Igreja de Santo
Antônio, a APAE, o SESC Santo André, clubes, a escola de samba Ocara Clube,
uma unidade de saúde, o Tiro de Guerra, entre outros.
176
Mapa 8 - Setores. FONTE: PEREIRA, 1992.
177
Levantamento Planialtimétrico com Usos:
Mapa 9 - Levantamento Planialtimétrico com Usos. Fonte: Prefeitura de Santo André, 1990.
178
Localização de equipamentos públicos:
Av. Prestes Maia
AV. José
Amazonas
Rua
Monções
Rua Ester
Mapa 10 - Localização de equipamentos públicos. FONTE: PEREIRA, 1992.
Atualização: PESSOLATO, 2006.
179
Escola Estadual Odylo Costa Filho
Esta foi a escola projetada por Carlos Frederico Ferreira; implantada
juntamente com o Conjunto IAPI, atualmente, atende a crianças do ensino básico e
fundamental. Sofreu algumas alterações em relação ao projeto original, como
ampliações na administração e refeitório, troca e retirada de caixilhos e alguns
fechamentos, não previstos originalmente. Encontra-se em bom estado de
conservação, e muitos elementos originais permanecem preservados, inclusive a
bela estrutura treliçada de madeira, que sustenta a cobertura de telhas de
fibrocimento do ginásio de esportes.
Fotografia 78 - Fachada da Escola.
Fotografia 79 -
Pátio interno.
Fonte: PESSOLATO, 2007. (com
autorização da Diretoria de Ensino
do Estado)
180
Fotografias 80 - Caixa d’água e Fotografia 81 -
Rampas de acesso às salas de aula. Fonte:
PESSOLATO, 2007.
Fotografias 82 - Ginásio coberto e Fotografia 83 -
detalhe da treliça de cobertura em madeira.
Fonte: PESSOLATO, 2007.
Fotografias 84 - Rampa de acesso às salas de aula e Fotografia 85
Marquise da escola.
Fonte: PESSOLATO, 2007.
181
Escola Estadual Padre A. Sebastião Vieira
Esta escola estadual foi
implantada em uma parte da área
restante do conjunto, próxima ao
Conjunto BNH, na década de 70.
Atende a todo o bairro, inclusive aos
moradores do conjunto.
Creches (Equipamentos não Implantados).
No térreo de dois blocos dos “Prédios Novos” estavam previstas duas
creches. Os equipamentos não chegaram a ser implantados e a estrutura, que foi
construída no pavimento térreo de um dos blocos, foi demolida. Esse edifício, ainda
hoje, é conhecido como “Prédio da Creche”.
Fotografia 87
Prédio da Creche.
Fonte: PESSOLATO, 2007.
Fotografia 86
Escola Estadual. Fonte:
PESSOLATO, 2007.
182
Reservatórios
Os dois reservatórios elevados, construídos pelo IAPI, ainda existem e são
utilizados para o abastecimento do bairro, embora todos os prédios e casas tenham
instalado caixas d’água individuais.
Abaixo, reservatório construído pela municipalidade, posteriormente, na Praça
Ministro Salgado Filho:
Fotografias 88 e 89 – Reservatórios elevados do IAPI. Fonte: PESSOLATO, 2007.
Fotografia 90 – Reservatório elevado. Fonte: PESSOLATO, 2007.
183
Praça Ministro Salgado Filho e Igreja Santo Antônio
Ao lado da Escola Primária está a
Praça Ministro Salgado Filho. Esta praça
fazia parte da área do conjunto IAPI. Ao
lado, foi construída a Igreja de Santo
Antônio, referência para todo o bairro.
A Favela Tamarutaca
Durante o processo de transição, entre a extinção do IAPI e a criação do
INPS, o restante da área, que não foi utilizado para construção, ficou abandonado. A
sede da fazenda foi se degradando até ser definitivamente ocupada, no início da
década de 70, dando origem à favela.
O nome Tamarutaca foi adotado em virtude da rua que dava acesso ao
núcleo (Rua Tamarutaca). Atualmente, possui cerca de 5.000 moradores, está em
fase final de urbanização, com ruas asfaltadas e infraestrutura implantada, e em
processo de regularização fundiária.
Fotografia 91 - Praça Ministro Salgado Filho.
Fonte: PESSOLATO, 2007.
Fotografia 92 – Favela Tamarutaca. Fonte: PESSOLATO, 2006.
184
O Conjunto Zodíaco (BNH)
A Cooperativa Habitacional do ABC adquiriu uma área, de aproximadamente
95 mil m² do INPS, para a construção de um conjunto habitacional, na década de 70.
As inscrições para a aquisição das unidades se iniciaram em 1966, o loteamento foi
aprovado através do processo 1.470 em 20/01/71 e as casas foram entregues em
1974. O projeto foi desenvolvido pelo INOCOOP SP (Instituto de Orientação às
Cooperativas Habitacionais de São Paulo), compunha-se de 374 residências, com
lotes de aproximadamente 150 e 4 diferentes tipologias de moradia. (PEREIRA,
1992, p.33).
Atualmente, muitas casas mantêm as características originais do projeto, com
boa manutenção, com exceção dos abrigos de auto, que não haviam sido previstos,
e foram construídos posteriormente.
Fotografia 93 – Conjunto do BNH. Fonte: PESSOLATO, 2006.
185
4.1.4 Aspectos Populacionais
A análise dos dados censitários do IBGE
1
, para o trecho de edifícios de
apartamentos do conjunto (61 blocos, incluindo os “Prédios Novos” e os “Prédios
Velhos”), das décadas de 1960 a 2000, indica queda no número de habitantes. É
difícil precisar os motivos que levaram a tal fato, mas uma das hipóteses levantadas
pela administração municipal, seria o esvaziamento ocasionado pelo envelhecimento
da população residente e a saída dos filhos, para constituir família em outros locais.
(PEREIRA, 1990).
Ano do censo
Setores censitários
habitantes total de aptos Hab / apto
1960 110 / 111 / 112 4305 978 4.4
1970 48 / 72 / 73 4076 978 4.2
1980 61 / 108 / 107 3460 978 3.5
1990 54 / 90 / 89 2668 978 2.7
2000 61 / 103 / 102 2366 978 2.4
Tabela 6 Censos do IBGE (1960 a 2000).Fonte: IBGE (censos anos 1960, 1970, 1980, 1990 e
2000).
Ainda segundo uma análise do DPU
2
, o número de habitantes por unidade no
trecho composto por casas, na década de 1960, era muito próximo ao verificado nos
prédios, na mesma época. Conforme foi verificado nos censos posteriores, de 1970
e 1980, a média de moradores das casas também diminuiu. (PEREIRA, 1990).
indicadores que apontam a existência de moradores de baixo poder
aquisitivo, provavelmente os mais antigos. Os novos moradores possuem melhores
condições econômicas e, freqüentemente, adquirem as casas do bairro para
reforma, demolição ou construção de novas unidades, o que explica, em grande
parte, as alterações no aspecto original. (PEREIRA, 1990).
1
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
2
Departamento de Planejamento Urbano da Prefeitura de Santo André.
186
4.1.5 Situação Fundiária
As casas e os “Prédios Novos” já foram regularizados, do ponto de vista
fundiário, e a maioria dos seus moradores possui escrituras dos imóveis. Resta o
trabalho de regularização das áreas livres; atualmente, algumas delas ainda
pertencem, legalmente, ao INSS.
No entanto, os “Prédios Velhos” ainda estão com a situação fundiária
irregular. Desde 1968, imóveis quitados no conjunto, sem que tenham recebido
escrituras.
1
O Instituto enfrentou problemas, de ordem legal, para aprovar seus
conjuntos nos órgãos públicos, em razão das restrições dos códigos e posturas
municipais. Segundo BONDUKI (1998, p.159), essas dificuldades eram relativas ao
loteamento, o gabarito, os pés-direitos mínimos e as vias de circulação.
A partir da década de 60, iniciaram-se ações entre a prefeitura e órgão
previdenciário, no intuito de regularizar totalmente o empreendimento, que havia
sido negociado com os moradores, segundo mostra pesquisa realizada em
documentos e processos da administração municipal:
O Decreto Municipal 3.280 de 31 de agosto de 1966 declarou a área de
utilidade pública, para fins de aquisição para execução de projeto de
urbanização, o que inclui a área onde hoje está a Favela Tamarutaca.
Em 1975, a Prefeitura chegou a apresentar proposta designando onde
seriam implantadas as áreas verdes e ruas, mas houve entrave por parte
do órgão previdenciário.
1
Segundo reportagem do Diário Grande ABC de 05-10-1982
187
Pela Lei 5.020 de 18 de fevereiro de 1976, a Prefeitura foi autorizada a
cancelar débitos referentes aos tributos incidentes sobre o imóvel do
INPS, em vias de aquisição pelo município.
Em 15
de julho de 1982, o IAPAS abriu o processo 25.389/82 na Prefeitura
de Santo André, através de ofício ao, então prefeito, Lincoln Grillo,
solicitando a convalidação do conjunto para solucionar o problema de
titularidade dos imóveis envolvidos.
Em 16 de setembro de 1982 o decreto . 10.611 aprovou o plano de
loteamento e arruamento da área, conforme plantas e demais documentos
do processo 25.389/82. Consta como área total 465.602,76 , dos quais
190.240,00 constituem espaço livre, 73.255,00 constituem ruas e o
restante são lotes. Apesar de aprovadas, essas plantas não definiam a
área a ser ocupada pelos condomínios e sua delimitação.
Em junho de 1990 foi editada a Lei 6.654, que oficializou os logradouros
do empreendimento e suas respectivas denominações.
A Lei 6.782 de 27/06/91 determinou quais áreas internas do Conjunto se
tornaram públicas, passo importante para sua regularização e
conseqüentes escrituras; autorizou a prefeitura a receber, em doação,
uma área de 21.945,77 , até então pertencente ao INSS. A Prefeitura
ficou obrigada a atender à destinação das áreas doadas com finalidade
específica, dentro de três anos, sob pena de reversão de pleno direito ao
INSS.
Em 05 de agosto de 1991 foi lavrada a escritura de doação de dez áreas
pelo INSS à Prefeitura.
188
Atualmente, no entanto, há vários problemas que dificultam a regularização total
do conjunto:
Muitas áreas livres não possuem delimitações definidas e, apenas
algumas, já têm a matrícula em nome da Prefeitura;
Algumas áreas livres possuem situação fundiária indefinida. Não se sabe
se pertencem à Prefeitura ou ao INSS. dúvidas em relação à
destinação das áreas e sua doação;
Muitas áreas blicas tiveram diferentes destinações ao longo do tempo
através de órgãos públicos e terceiros;
Os moradores fizeram várias modificações e ampliações nas edificações.
Em 1999 foi realizado um levantamento, pela prefeitura, mostrando que
muitas das áreas livres foram ocupadas por edificações, e outras,
incorporadas pelos proprietários lindeiros;
Apesar das áreas condominiais dos blocos de apartamentos estarem
registradas individualmente, deve-se esclarecer quais áreas livres devem
permanecer condominiais ou não.
Enquanto estas questões o são resolvidas, muitos moradores permanecem
sem a documentação definitiva de posse dos seus imóveis. A dificuldade de
regularização fundiária acarretou impasses relativos à propriedade, responsabilidade
de manutenção de edificações e áreas livres, contribuindo para a degradação da
área. A impossibilidade de constituição de condomínio dificultou o estabelecimento
de autoridade e regulamentos, que pudessem ser aplicados, para garantir a
integridade de edifícios e espaços comuns.
189
CONCLUSÃO
Após a República Velha, houve uma mudança importante na abordagem do
problema habitacional no Brasil. Até então, a preocupação central era a condição
das moradias e a salubridade, independentemente da situação de propriedade; a
maior parte da classe baixa, bem como, grande parte da classe média, ocupava
casas de aluguel. Como o Estado o facilitava o acesso à casa própria, era muito
difícil adquirir um imóvel e a explosão populacional, que se verificou no mesmo
período, também contribuiu para o aumento do déficit habitacional.
A partir de 1930, a abordagem passou a ser o acesso à casa própria e as
maneiras de viabilizar este objetivo, através de redução de custos: essa
possibilidade simbolizava o sucesso e progresso para o trabalhador. Por outro lado,
a difusão da idéia da pequena propriedade foi um meio de garantir a estabilidade do
regime e o conceito foi amplamente utilizado pelo Estado. A família passou a ser a
base para a sociedade e a habitação unifamiliar, necessária para a formação e
manutenção do lar, afinal, acreditava-se que habitações coletivas eram um foco de
maus hábitos e promiscuidade.
Dentro da busca de barateamento das construções, surgiram duas
possibilidades: a alternativa técnica, através da racionalização e simplificação dos
sistemas construtivos, e a alternativa de localização, através da ocupação das
periferias.
A primeira foi amplamente discutida, nacional e internacionalmente, sendo
que o tema principal foi a necessidade de reduzir custos, para viabilizar o acesso
dos trabalhadores às moradias. As idéias giravam em torno da racionalização,
produção em larga escala e normatização de materiais, idéias essas que acabaram
influenciando a concepção habitacional dos Institutos de Aposentadoria e Pensões.
190
A segunda alternativa, a da expansão periférica, também possuía vários
adeptos e defensores, que viam-na como uma forma de garantir o acesso à casa
própria, sem aumentos salariais; possuía algumas dificuldades, como a falta de infra-
estrutura na periferia, a distância e a necessidade de transporte para o trabalho.
Como a produção habitacional, promovida pelas Carteiras Prediais dos
Institutos, ficou restrita, principalmente, à parcela da população a elas associadas e,
geralmente, composta de uma camada de classe média baixa e operários, às outras
camadas populares carentes restou a opção de aquisição de terrenos periféricos,
mal servidos de infra-estrutura e transporte e, muitas vezes, oriundos de
parcelamentos irregulares precários e a produção doméstica das habitações.
O Conjunto IAPI Vila Guiomar começou a ser implantado no final da década
de 30, como uma forma de atender à grande demanda de operários de indústrias,
que começaram a se instalar na região do ABC no fim do século XIX com a
expansão da via férrea. Sua concepção e implantação ocorreram em um momento
em que a questão habitacional, como foi dito anteriormente, estava em pauta no
meio técnico e tornara-se uma preocupação estatal. Em virtude das inovações
tecnológicas e conceituais, além das suas grandes dimensões, o conjunto constituiu
uma intervenção de grande impacto na região, tanto do ponto de vista arquitetônico
como urbanístico e, embora o tenha obtido a aceitação pretendida por parte da
população onde foi implantado, o projeto inovou ao trazer a uma região ainda rural
um novo conceito de moradia e modo de vida.
O autor do projeto, o arquiteto Carlos Frederico Ferreira, teve um papel muito
importante dentro da história da arquitetura brasileira, principalmente na área de
habitação popular. Além de ser o autor do Conjunto do Realengo, considerado o
primeiro conjunto habitacional de grandes proporções no Brasil, foi o coordenador de
191
projetos habitacionais da Carteira Predial do IAPI por cerca de 25 anos. Apesar da
relevância arquitetônica e histórica do seu trabalho, é pouco conhecido
nacionalmente, embora tenha sido agraciado com vários prêmios e citações em
publicações internacionais. O arquiteto acabou falecendo na década de 90, sem o
reconhecimento devido por seu esforço em desenvolver uma arquitetura racional,
econômica e fundamentada nos conceitos modernos.
Através de uma comparação entre o Conjunto da Vila Guiomar e outros
conjuntos da mesma época, observou-se como algumas soluções foram
recorrentemente usadas nas obras desenvolvidas pelo IAPI, através de diferentes
arquitetos, e como essas intervenções guardam uma coerência entre si, fortemente
influenciadas pelos conceitos modernos. O objeto de estudo guarda muita
semelhança com o IAPI do Realengo no Rio de Janeiro, tanto nos blocos de
apartamentos como nas tipologias unifamiliares de casas: o arquiteto Carlos
Frederico Ferreira - que os projetou - utilizou as tipologias desenvolvidas para o
projeto carioca, com pequenas alterações, e as implantou em Santo André.
As diferenças de concepção das unidades - casas e edifícios - sugerem uma
tentativa de atender a várias necessidades e desejos, através da variedade. As
casas aproximavam-se muito mais da tradicional casa proletária unifamiliar e foram
muito melhor aceitas do que os blocos de edifícios, que traziam em si um novo modo
de morar e se relacionar. Inovações tecnológicas, como o uso de materiais
industrializados e do concreto armado em grande escala, além da rapidez na
construção das unidades, são pontos a serem destacados e percebidos através
desta pesquisa.
Durante sua história de mais de 60 anos, o Conjunto IAPI Vila Guiomar sofreu
modificações nos espaços livres e edificações. Uma parte do conjunto o setor de
192
casas acabou incorporada pela cidade, como um bairro, após a venda pelo BNH,
apesar do traçado sinuoso das vias; o restante do conjunto setor de prédios
continua segregado até hoje. A atual degradação de grande parte dos prédios e a
valorização do setor de casas, após a extinção do IAPI, reflete as dificuldades de
adaptação a novos costumes de moradia e os impasses na regularização fundiária
da área; apesar disso, em alguns locais, ainda é possível reconhecer traços do
projeto original.
A obra estudada representa um importante papel na história da habitação
popular, não apenas no município de Santo André, como no cenário nacional, por ter
constituído uma das primeiras tentativas estatais de construção de moradias em
massa, utilizando os conceitos da arquitetura moderna. Esta pesquisa procurou
colaborar, com a sistematização dos dados dispersos, para o registro e a
compreensão deste projeto reconhecido internacionalmente.
193
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198
ANEXOS
ANEXO A
Carta da Sociedade Paulista de Imigração e Colonização
.
199
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