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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO ESAG
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
Área de Concentração: Gestão Estratégica das Organizações
Linha de Pesquisa: Organizações e Tecnologias de Gestão
CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA
E VANTAGEM COMPETITIVA:
O CASO COPÉRDIA
ODILIO ARRUDA LINS JÚNIOR
FLORIANÓPOLIS SC
Junho, 2009
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1
ODILIO ARRUDA LINS JÚNIOR
CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA
E VANTAGEM COMPETITIVA:
O CASO COPÉRDIA
Dissertação para apresentação ao Curso de
Mestrado Profissional em Administração do
Centro de Ciências da Administração - ESAG
da Universidade do Estado de Santa Catarina -
UDESC como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Administração
Orientador: Nério Amboni, Dr.
FLORIANÓPOLIS SC
Junho, 2009
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2
Odilio Arruda Lins Júnior
CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA
E VANTAGEM COMPETITIVA:
O CASO COPÉRDIA
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de
Mestre em Administração, área de concentração Gestão Estratégica das Organizações e
aprovada em sua forma final pelo Mestrado Profissional em Administração da
ESAG/UDESC Florianópolis/SC‟
Florianópolis, 10 de Junho de 2009.
_________________________________
Prof. Mário César Barreto de Moraes, Dr.
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
_____________________________ _____________________________
Prof. Nério Amboni, Dr. Profª. Graziela Dias Alperstedt , Drª.
Orientador Avaliadora ESAG/ UDESC
________________________________
Prof. Antônio Diomário de Queiroz, Dr.
Avaliador - FAPESC
3
Este trabalho é
dedicado à minha adorada
esposa Mônica
4
AGRADECIMENTOS
Este trabalho só foi possível graças a estas pessoas, a quem agradeço imensamente:
Minha esposa Mônica por ter me dado, durante o Mestrado, amor, incentivo, apoio,
coragem, motivação, cobertura na empresa, estabilidade emocional e toda a condição
para a realização deste trabalho, mas principalmente por ter me dado nosso Tadeu.
Meu filho Tadeu que me motiva a tudo só por existir;
Meu Pai Odilio pelo apoio nesta e em todas as fases da vida, pessoal e acadêmica, pelo
esforço desmedido em proporcionar as condições para meus estudos;
Minha Mãe Lydia Martini Lins, com muita saudade, por acreditar no estudo como
forma de construção do caráter e pelo DNA (e o exemplo) de garra e luta pelos ideais;
Prof. Nério Amboni pela paciência demonstrada e pela generosidade em repassar o
conhecimento, atitudes que revigoram o gosto pela administração na sua essência;
Rose, Elena, Martini, Débora e demais colaboradores da Copérdia pela atenção,
preocupação e prontidão com que fui atendido;
Aos membros da banca, por sua disponibilidade e colaboração na finalização deste
trabalho;
À ESAG e todo seu corpo docente, uma instituição configurada para o sucesso.
5
CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA
E VANTAGEM COMPETITIVA:
O CASO COPÉRDIA
Odilio Arruda Lins Júnior
Junho/2009
RESUMO
A pesquisa em pauta objetiva compreender a relação entre a configuração estratégica e a
obtenção de vantagem competitiva por uma Cooperativa agroindustrial do Oeste Catarinense,
a Copérdia Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia. A abordagem da configuração
estratégica preconiza, primeiramente, que cada organização é única, pois o produto complexo
de seus recursos, suas competências e seus processos conforma sua maneira particular de agir
e interagir com o ambiente externo. Complementarmente, esta abordagem entende que pode
residir nestas formas de configuração a origem da vantagem competitiva sustentável, posto
que além de visualizar o arranjo dos elementos organizacionais, tem em foco as maneiras
adequadas de interação com o mercado e seus stakeholders. Percebe-se que a atividade
agroindustrial praticada no interior do Estado de Santa Catarina apresenta características
bastante úteis aos estudos sobre adaptação estratégica, dadas as sucessivas mudanças em seu
contexto competitivo ao longo dos anos. Os dados foram coletados por meio de entrevistas,
observação e análise documental. Assim sendo, buscou-se demonstrar a influencia das
configurações estratégicas e a postura competitiva de uma cooperativa agroindustrial através
de uma análise descritiva de sua história, identificando e ressaltando os momentos onde tais
configurações são percebidas com maior destaque, ou seja, os eventos estratégicos mais
significativos ocorridos. A constatação que emerge desta pesquisa denota a real possibilidade
de orientação da estratégia competitiva das organizações pela abordagem da configuração
estratégica dos elementos organizacionais.
Palavras Chave: Configuração estratégica, vantagem competitiva, recursos, competências e
processos organizacionais.
6
STRATEGICAL CONFIGURATION
AND COMPETITIVE ADVANTAGE:
THE COPÉRDIA CASE
Odilio Arruda Lins Júnior
June/2009
ABSTRACT
This research as a whole, has the objective of understading the relationship between
strategical configuration and the obtainment of competitive advantage by an Agroindustrial
Cooperative in the West of Santa Catarina State, Copérdia Concórdia Production and
Consumption Cooperative. The approach of strategical configuration preconizes, firstly, that
each organization is unique, because the complex result of its resources, its competences and
its processes build its characteristic way of acting and interacting with the external
environment. Complementarily, such approach understands that the origin of sustainable
competitive advantage is in these forms of configuration, since, besides envisioning the order
of the organizational elements, they also focus on the best ways to interact with the market
and its stakeholders. The agroindustrial activity practiced in the inland of Santa Catarina
presents useful characteristics to the strategical adptation studies, cause of its successive
changes through time. In this case, sarches demonstrate the influence of strategical
configuration and the competitive position on an Agroindustrial Cooperative through an
descriptive analysis of its history, identifying and standing out the strategical events
happened. The conclusion that emerges from this research denotes the real possibility of
organization strategic competition orientation by strategical configuration approach.
Key words: Strategic configuration, competitive advantage, resources, organizational
processes and competences
7
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 10
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. 11
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ 12
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................ 13
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO ..................................................................................................... 14
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 17
1.3.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 17
1.4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 18
1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................................................. 19
CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 20
2.1 COOPERATIVISMO ................................................................................................................ 20
2.2 ANÁLISE AMBIENTAL ........................................................................................................... 25
2.2.1 Ambiente externo ............................................................................................................ 27
2.2.2 Ambiente interno ............................................................................................................. 33
2.2.2.1 Estrutura organizacional: Conceitos e elementos ......................................................... 35
2.2.2.2 Recursos ....................................................................................................................... 45
2.2.2.3 Competências ............................................................................................................... 47
2.2.2.4 Processos organizacionais ............................................................................................ 50
2.2.3 Análise ambiental integrada ............................................................................................ 52
2.3 CORRENTES TEÓRICAS ACERCA DA VANTAGEM COMPETITIVA ........................................... 53
2.3.1 Análise estrutural da indústria ......................................................................................... 55
2.3.2 Teoria dos recursos .......................................................................................................... 59
2.3.3 Processos de mercado ...................................................................................................... 63
2.3.4 Teoria das capacidades dinâmicas ................................................................................... 65
2.4 CONFIGURAÇÃO ................................................................................................................... 70
CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS .................................................. 74
8
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................................... 74
3.2 UNIDADE DE ANÁLISE E DE OBSERVAÇÃO ........................................................................... 75
3.3 MODELO DE ANÁLISE .......................................................................................................... 76
3.3.1 Configuração Estratégica ................................................................................................. 76
3.3.2 Vantagem Competitiva .................................................................................................... 77
3.4 TÉCNICAS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................... 78
3.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................................... 80
CAPÍTULO 4 CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA NA COPÉRDIA ............................... 81
4.1 A COPÉRDIA ........................................................................................................................ 81
4.1.1 Histórico da Copérdia ...................................................................................................... 83
4.1.3 Ambiente direto da Copérdia ........................................................................................... 87
4.1.4 Estrutura organizacional .................................................................................................. 88
4.1.5 Evolução financeira ......................................................................................................... 91
4.1.6 Aspectos sociais ............................................................................................................... 96
4.2 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS CONFIGURAÇÕES DOS ELEMENTOS ORGANIZACIONAIS ADOTADAS
PELA COPÉRDIA ......................................................................................................................... 99
4.2.1 Fundação ........................................................................................................................ 100
4.2.1.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico ......................................... 100
4.2.1.2 Variáveis ambientais determinantes ........................................................................... 101
4.2.1.3 Configuração assumida após o evento estratégico ..................................................... 103
4.2.2 Implantação da atividade de suinocultura ..................................................................... 105
4.2.2.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico ......................................... 105
4.2.2.2 Variáveis ambientais determinantes ........................................................................... 106
4.2.2.3 Configuração assumida após o evento estratégico ..................................................... 108
4.2.3 Programa de qualidade .................................................................................................. 109
4.2.3.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico ......................................... 109
4.2.3.2 Variáveis ambientais determinantes ........................................................................... 110
4.2.3.3 Configuração assumida após o evento estratégico ..................................................... 110
4.2.4 Profissionalização da atividade leiteira ......................................................................... 111
4.2.4.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico ......................................... 112
4.2.4.2 Variáveis ambientais determinantes ........................................................................... 112
4.2.4.3 Configuração assumida após o evento estratégico ..................................................... 113
9
4.3 CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA VOLTADA À VANTAGEM COMPETITIVA A PARTIR DA ANÁLISE
DO CASO COPÉRDIA ................................................................................................................. 116
CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................... 123
CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 127
6.1 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 127
6.2 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 131
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Os Símbolos do Cooperativismo..............................................................................10
Figura 2: Elementos de Ação Direta e de Ação Indireta de uma organização.........................15
Figura 3: Estrutura organizacional funcional...........................................................................26
Figura 4: Estrutura organizacional por produto.......................................................................26
Figura 5: Estrutura organizacional territorial...........................................................................26
Figura 6: Estrutura organizacional centrada no cliente............................................................27
Figura 7: Estrutura organizacional matricial............................................................................27
Figura 8: Estrutura organizacional múltipla.............................................................................28
Figura 9: Elementos organizacionais básicos...........................................................................30
Figura 10: A competência essencial como capacidade estratégica..........................................36
Figura 11: A cadeia de valores genérica...................................................................................44
Figura 12: Três estratégias genéricas........................................................................................45
Figura 13: Estrutura simples.....................................................................................................57
Figura 14: Burocracia mecânica...............................................................................................58
Figura 15: Burocracia profissional...........................................................................................58
Figura 16: Estrutura divisionada..............................................................................................59
Figura 17: Adhocracia..............................................................................................................59
Figura 18: Estrutura missinoária...............................................................................................60
Figura 19: Eficiência operacional e geração de valor na cadeia de valores genérica...............64
Figura 20: Modelo de sistema cooperativista organizado........................................................68
Figura 21: Relacionamentos da Copérdia no sistema cooperativo...........................................69
Figura 22: Primeira loja agropecuária.......................................................................................71
Figura 23: Área de atuação da Copérdia...................................................................................73
Figura 24: Organograma anterior à reforma administrativa.....................................................76
Figura 25: Organograma atual da Copérdia..............................................................................77
Figura 26: Eventos estratégicos na linha do tempo..................................................................87
Figura 20: Modelo de configuração estratégica no contexto organizacional..........................107
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Recursos Tangíveis...................................................................................................33
Tabela 2: Recursos Intangíveis................................................................................................34
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Comparativo entre cooperativas e outras organizações...........................................11
Quadro 2: O Ambiente Geral: segmentos e elementos.............................................................16
Quadro 3: Seis perguntas fundamentais que os gerentes precisam responder ao projetarem a
Estrutura Organizacional adequada..........................................................................................24
Quadro 4: Organização Mecanicista verus Orgânica................................................................31
Quadro 5: As correntes explicativas da vantagem competitiva................................................40
Quadro 6: Comparação das teorias sobre vantagem competitiva.............................................56
Quadro 7: Resumo das estruturas.............................................................................................60
Quadro 8: Implantação de novas atividades pela Copérdia......................................................72
Quadro 9: Recursos Atuais da Copérdia...................................................................................72
Quadro 10: Evento estratégico: Fundação da Copérdia............................................................91
Quadro 11: Evento estratégico: Implantação da atividade de suinocultura..............................95
Quadro 12: Evento estratégico: Programa de qualidade..........................................................98
Quadro 13: Evento estratégico: Profissionalização da bovinocultura leiteira........................102
13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Evolução do número de cooperados........................................................................78
Gráfico 2: Evolução do número de cooperados entre 1969 e 1980..........................................79
Gráfico 3: Evolução do faturamento total em R$ milhões........................................................80
Gráfico 4: Evolução do faturamento da atividade de suinocultura em R$ milhões..................80
Gráfico 5: Evolução do faturamento da atividade leiteira em R$ milhões...............................81
Gráfico 6: Evolução do faturamento da atividade lojas agropecuárias em R$ milhões............81
Gráfico 7: Participação societária da Copérdia na Maué..........................................................89
Gráfico 8: Participação societária no sistema Sicoob Crediauc ..............................................89
Gráfico 9: Participação societária da Copérdia na Cooperativa Central Aurora......................89
Gráfico 10: Participação societária da Copérdia na FECOAGRO..........................................90
14
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
O capítulo inicial do trabalho, além dos argumentos introdutórios que visam
posicionar o entendimento sobre a temática abordada, apresenta o problema a partir do qual se
constrói a pesquisa, os objetivos almejados, a justificativa que denota a pertinência do temário
levantado e a organização do trabalho.
1.1 Exposição do Assunto
A complexidade e a amplitude da teoria organizacional, por vezes, podem provocar
certa dificuldade na implementação das melhores práticas administrativas nas organizações.
Muito embora sejam uma representação da outra e, portanto, estejam intrinsecamente
relacionadas, teoria e prática podem se distanciar, no cotidiano organizacional, face à
abordagens teóricas nem sempre pertinentes ao mundo corporativo.
Tendo como princípio norteador o de estabelecer uma conexão efetiva entre teoria e
realidade da empresa, este trabalho busca demonstrar a possibilidade de orientação da prática
administrativa por uma abordagem que preconize o fácil entendimento e um ferramental de
análise e modulação da estratégia organizacional. Esta abordagem é a da Configuração
Estratégica.
À luz da abordagem da configuração estratégica, uma organização pode ser
entendida como produto complexo das pessoas que dela participam, com seus conhecimentos,
habilidades e atitudes, dos recursos que possui ou que consegue mobilizar e das relações que
estabelece com seus stakeholders no ambiente organizacional.
Assim sendo, uma organização pode, tendo como base seus objetivos estratégicos,
compor arranjos, ou configurações de seus recursos, competências e dos relacionamentos
necessários ao alcance de tais objetivos. Ambiciona-se descobrir se esta dinâmica tem relação
com o estabelecimento de uma condição de vantagem competitiva, uma vez que a leitura da
organização pela abordagem da configuração estratégica propiciaria o entendimento das
potencialidades únicas de uma empresa, advinda de uma configuração igualmente única.
15
Para demonstrar esta possibilidade, optou-se por uma metodologia descritiva de
pesquisa, analisando-se o retrospecto histórico da Copérdia Cooperativa de Produção e
Consumo Concórdia, denotando os pontos de sua trajetória onde tenham ocorrido processos
de reconfiguração, quer seja para adaptação ao contexto de mercado, quer seja por força de
sua articulação estratégica deliberada.
A atividade agroindustrial desenvolvida no Oeste Catarinense apresenta
características de transformação ao longo do tempo que exigem das organizações inseridas
naquele contexto, necessidade constante de adaptação dos métodos de gestão, de recursos
disponibilizados à execução do negócio e das competências empregadas às atividades.
Para que se tenha uma noção desta transformação, no início da atividade
agroindustrial, os produtores de aves e suínos eram totalmente responsáveis pela gestão dos
recursos produtivos. A indústria, entendida com empresa responsável pela transformação da
matéria prima em produtos acabados, iniciava sua participação na cadeia produtiva na
recepção dos animais vivos na sua planta fabril, até mesmo o transporte dos animais até a
brica era feita pelos produtores. Com a evolução da atividade e aumento das exigências em
termos de volumes e de qualidade, a indústria passou a incorporar recursos para otimizar a
cadeia de fornecimento de matéria prima.
Os produtores passaram a ser fomentados pela empresa, ou seja, a assumirem um
relacionamento de parceria onde quem produz a matéria prima continua a deter alguns
recursos, como aviários e pocilgas, além das propriedades e fornecem a mão de obra para
execução das atividades de engorda e terminação dos animais. Em contrapartida a indústria
passou a fornecer os insumos e o conhecimento técnico necessários ao desenvolvimento das
atividades. Assim sendo ela assumiu, por exemplo, atividades como: a) fornecimento dos
animais jovens, que exigiu a obtenção de recursos como granjas de matrizes e competências
no gerenciamento e operação destas novas unidades; b) abastecimento do suplemento de
rações para a engorda e terminação dos animais alojados, exigindo recursos para a fabricação
das rações, além da aquisição de frota de caminhões para tal transporte; c) transporte dos
animais terminados, outra função logística que demandou aquisição de veículos preparados
para tanto; d) contratação de profissionais com conhecimento técnico para treinamento e
acompanhamento da execução das atividades em campo e, por conseguinte, aquisição de
veículos para seu deslocamento; além de toda estrutura administrativa necessária ao controle e
manutenção do fomento aos produtores, e assim por diante.
As sucessivas crises enfrentadas pelo setor agrícola remetem à reflexão de que no
futuro próximo, mesmo recursos como a estrutura física (aviários, pocilgas, etc.) serão
16
propriedade da indústria, haja vista a incapacidade de investimento dos produtores rurais ou a
falta de perspectiva de retorno sobre este investimento, seja para novas unidades, seja para as
adequações necessárias à qualificação dos processos.
Este overview permite entender a escolha da Copérdia como organização referência
do estudo de caso que embasa este trabalho, tendo em vista o objetivo de compreender a
relação entre a configuração estratégica e a obtenção de vantagem competitiva em uma
organização cuja análise retrospectiva histórica aponte momentos de mudança e a adaptação
estratégica.
São pontos de interesse para a construção do referencial teórico desta pesquisa: a
influência dos ambientes interno e externo, pois é onde se articulam os relacionamentos e de
cuja análise derivam as necessidades de configurações de recursos e competências; os
modelos explicativos da vantagem competitiva, pelo fato do pesquisador admitir ser possível
sua conquista através de configurações adequadas dos elementos organizacionais; além dos
conceitos que fundamentam a percepção de configuração: recursos, competências e processos
organizacionais.
1.2 Problema de Pesquisa
A busca pela vantagem competitiva está na raiz das indagações correntes nos
processos de formulação estratégica. O que uma abordagem baseada na configuração
estratégica visa responder é justamente de que forma a vantagem competitiva pode ser
alcançada levando-se em consideração as potencialidades da organização, observadas sob a
perspectiva de: 1) Quem as pessoas e suas competências para a execução dos planos
estratégicos; 2) Com o quê os recursos disponíveis ou disponibilizáveis de acordo com os
objetivos e planos e; 3) Como os processos organizacionais que podem otimizar a dinâmica
operacional e de mercado e garantir os ganhos pretendidos.
Desde o início da década de 60 e início dos anos 70, a partir dos trabalhos de Edith
Penrose (1963) contrapondo-se aos preceitos da teoria econômica clássica, uma miríade de
trabalhos têm se dedicado a propor explicações e visões das organizações baseando-se em
suas características próprias como fonte de diferenças e de vantagem. O que naquele
momento representou uma ruptura, e que se mostrou fundamental para a evolução da ciência
da administração, atualmente se constitui em um sólido conjunto teórico cuja importância é
aclamada pela literatura.
17
Assim sendo, partindo-se da premissa de que cada organização apresenta
característica únicas, dadas pela sua configuração específica de recursos, competências e
processos organizacionais, procura-se neste trabalho lançar luz à possibilidade de obtenção de
vantagem competitiva através desta combinação de fatores e elementos. Ou seja, posto que
uma empresa detenha arranjos únicos do set de recursos, esta condição poderia levá-la a um
desempenho superior em determinado campo.
Raciocínio contínuo, sendo verdadeira tal percepção, poderiam as organizações, a
partir de uma avaliação de sua configuração, aprimorar a formulação estratégica visando a
capitalização das oportunidades ambientais com eficácia acentuada.
Desta forma, apresenta-se como problema de pesquisa a seguinte indagação:
Qual a influência da configuração estratégica na obtenção de
vantagem competitiva em uma cooperativa agroindustrial do
Oeste Catarinense?
No âmbito prático, o estudo de caso realizado procura fornecer subsídios para a
resposta a tal questionamento e, para tanto, encontra consonância com o referencial teórico
para formatar as constatações da pesquisa.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
A pesquisa tem por objetivo geral analisar a influência da configuração estratégica
na obtenção de vantagem competitiva em uma Cooperativa agroindustrial do Oeste
Catarinense.
1.3.2 Objetivos específicos
Como forma de garantir a consecução do objetivo geral da pesquisa,
especificamente, pretende-se:
18
Identificar e descrever eventos estratégicos que tenham provocado mudança e
adaptação da configuração de recursos e competências da organização;
Caracterizar os elementos do ambiente concomitantes aos eventos estratégicos e suas
contribuições para a mudança organizacional;
Descrever as configurações assumidas pela organização;
Comparar a dinâmica configuracional da organização frente ao desenho ambiental em
cada ciclo evolutivo
1.4 Justificativa
O tema central da pesquisa é a premissa da possibilidade de orientação combinada
de recursos, competências e processos organizacionais, ou seja, uma configuração destes
fatores visando posicionar a organização com vistas a obter maior capacidade competitiva.
Tal condição seria possível através da análise criteriosa do ambiente e pela adequação dos
fatores organizacionais aos objetivos estratégicos oriundos do planejamento, dado o contexto
atual e sua projeção dentro de um ciclo estratégico.
Pela abordagem da configuração estratégica, na execução de eventuais planos de
ação, seriam priorizados arranjos intra e extra-organizacionais necessários ao atingimento dos
objetivos estratégicos pretendidos, com vistas à análise ambiental, de disponibilidades em
termos de recursos e de desenvolvimento humano. Nesta pesquisa, pretende-se salientar a
efetividade de tal abordagem para a prática da administração estratégica.
O trabalho visa contribuir para o entendimento do mecanismo das mudanças
organizacionais e da necessidade de adaptação das ferramentas de gestão, e, por conseguinte
das próprias organizações, para incrementar os níveis de competitividade.
No quesito prático, percebe-se que a organização pesquisada apresenta indícios de
que corresponde ao perfil para a averiguação, pois percebe-se pela análise de seu retrospecto
histórico, períodos de mudanças significativas, tanto como resposta às movimentações do
mercado, como derivadas de sua deliberação estratégica. Esta condição cria um cenário
propício ao desenvolvimento de uma pesquisa cujo objetivo é analisar a influência da
configuração estratégica na obtenção de vantagem competitiva em uma Cooperativa
agroindustrial do Oeste Catarinense.
19
1.5 Organização do trabalho
No primeiro capítulo apresentam-se as referências introdutórias visando posicionar o
leitor no contexto delimitado pelo tema, problema de pesquisa, os objetivos, a justificativa e a
organização do trabalho.
No capítulo 2, revisão bibliográfica, traz-se um apanhado dos argumentos
publicados sobre os assuntos que compõe o temário proposto, iniciando-se com as
considerações sobre o cooperativismo e sua interação com o ambiente externo, bem como as
formas pelas quais as organizações influenciam e são influenciadas pela dinâmica ambiental.
Em segundo lugar, da mesma forma, são expostos os conceitos que conformam a análise do
ambiente interno, direto e indireto e seus desdobramentos em estrutura organizacional,
recursos organizacionais, e demais aspectos. Outra visão contemplada neste capítulo é a
construção do entendimento sobre o que define a vantagem competitiva através da exposição
das diferentes escolas de pensamento que abordam o assunto.
No capítulo 3 é apresentada a metodologia sob a qual esta pesquisa se ampara e
encontra respaldo científico, como ela foi realizada e os mecanismos de análise e mensuração
das informações coletadas em campo.
No capítulo 4 aponta-se a descrição detalhada da organização alvo do estudo de caso
e, complementarmente, a definição dos eventos estratégicos, inseridos em uma escala
temporal, observados pela análise da história da Copérdia.
O capítulo 5 é destinado às conclusões e constatações derivadas da pesquisa teórica,
estudo de caso e do cruzamento destas informações, trazendo ainda as recomendações e
possibilidades de pesquisas futuras sobre a abordagem da configuração estratégica.
Por fim, no sexto capítulo estão as referências bibliográficas utilizadas para dar
forma ao trabalho.
20
CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Com intuito da construção de um quadro teórico que permita o entendimento do
temário abordado, neste capitulo apresenta-se primeiramente a noção de contexto de atuação
das organizações, sobretudo das cooperativas com seus parâmetros e nuances específicas,
propiciada pela análise dos ambientes externo e interno, de cujo entendimento deriva a
formulação estratégica e a competitividade. Em seguida, são discutidos os modelos teóricos
explicativos da vantagem competitiva e como o tema é tratado, em diferentes abordagens na
literatura. Por fim, procura-se discutir o tema configuração estratégica, tanto por sua
construção conceitual ao longo do tempo, através das pesquisas que a exploram, quanto nos
termos práticos empregados neste estudo. Paralelamente, pretende-se delinear o contorno
teórico que permita a demonstração do relacionamento entre a configuração estratégica dos
elementos organizacionais com a obtenção de vantagem competitiva pelas organizações.
No ambiente complexo onde se inserem as organizações, este estudo visa delimitar
um espectro de análise calcado na percepção de que as capacidades internas de uma empresa,
em termos de recursos, competências e processos, podem, continuamente, ser orientadas para
adaptação destas ao contexto ambiental, visando um desempenho que satisfaça suas
pretensões competitivas. Tal adequação, para efeito desta abordagem, não significa uma
relação de dependência hierárquica onde o ambiente externo determina exclusivamente o
encaminhamento estratégico das organizações, mas adequação entendida como integração
complexa entre o ambiente e seus players.
Admite-se que a gestão estratégica de uma organização possa contemplar a análise
ambiental contínua, articulando-se os elementos intra-organizacionais para, assim, obter
vantagem competitiva baseada nas potencialidades reais das corporações.
2.1 Cooperativismo
A atuação da Copérdia, por essência, traz consigo os princípios do cooperativismo
caracterizados, segundo Souza (2004), pela união de pessoas voltadas a idealização de um
objetivo comum. De acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB, 2006), as
21
cooperativas são associações autônomas de pessoas que se unem voluntariamente para
satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma
empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida.
Trata-se de um sistema econômico baseado na realização coletiva de alguma
atividade produtiva e organizado em bases democráticas. Uma união cooperativa, para Souza
(2004), apóia-se na ajuda mútua para atender, solidariamente, às necessidades sócio-
econômicas de todos.
diversas modalidades de cooperativas. As cooperativas de trabalho são
aquelas que envolvem as cooperativas de produção e serviços, onde os
associados possuem os meios (máquinas, equipamentos etc.) para a
produção ou para a prestação de serviços. As cooperativas que
disponibilizam a mão-de-obra de seus associados para execução de
atividades no cliente, são classificadas como cooperativas de trabalho; as
cooperativas de distribuição englobam as cooperativas de consumo e as
cooperativas de provisão (insumos, bens e serviços para que seus
associados desempenhem suas atividades econômicas); as cooperativas de
colocação de produção e as cooperativas de serviços profissionais, cujo
objetivo é a facilitação de serviços ou clientes para os seus associados.
(STEFANO, ZAMPIER e GRZESZCZESZYN, 2006, p.3).
O cooperativismo teve seu início em meados do século XIX na Inglaterra quando
um grupo de tecelões fundou a "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale" visando
compor uma forma de atuarem em um agressivo mercado como o da época.
O cooperativismo enquanto organização sócio-econômica, não de sustenta
sobre uma noção ou teoria social específica, mas sobre um conjunto de
idéias e noções tais como: mutualidade, união de esforços, solidariedade,
associação entre pessoas em função de objetivos comuns, e não exploração
do homem pelo homem, justiça social, democracia e autogestão. (Sindicato
e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Goiás OCB-GO).
A palavra cooperação vem do verbo latino Cooperari, de Cum e Operari, expressão
que pode ser entendida como operar juntamente com alguém. Significa trabalhar junto,
trabalhar em conjunto. Para Cavalcantti (2006), o cooperativismo visa justamente a renovação
social, através da cooperação. Do ponto de vista sociológico, cooperação é a forma de
integração social e pode ser entendida como ação conjugada em que pessoas se unem, de
modo formal ou informal, para alcançar o mesmo objetivo. Quando organizada através de
estatutos previamente estabelecidos, a cooperação origem às cooperativas. Pode-se então,
definir cooperativa como sendo uma sociedade de pessoas organizadas em bases democráticas
22
que visam não somente a suprir os seus membros de bens e serviços, como também a realizar
determinados programas educativos e sociais (OCB, 2006).
De acordo com a Receita Federal do Brasil, as sociedades cooperativas estão
reguladas pela Lei n
o
5.764, de 1971 que definiu a Política Nacional de Cooperativismo e
instituiu o regime jurídico das cooperativas. São sociedades de pessoas de natureza civil, com
forma jurídica própria, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos
associados e que se distinguem das demais sociedades pelas seguintes características (Lei n
o
5.764, de 1971, art. 4
o
):
a. Adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica
de prestação de serviços;
b. Variabilidade do capital social, representado por cotas-partes;
c. Limitação do número de cotas-partes para cada associado, facultado, porém, o
estabelecimento de critérios de proporcionalidade;
d. Inacessibilidade das quotas partes do capital à terceiros, estranhos à sociedade;
e. Retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas
pelo associado, salvo deliberação em contrário da assembléia geral;
f. Quorum para o funcionamento e deliberação da assembléia geral baseado no número
de associados e não no capital;
g. Indivisibilidade dos fundos de reserva e de assistência técnica educacional e social;
h. Neutralidade política e discriminação religiosa, racial e social;
i. Prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos
empregados da cooperativa;
j. Área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle,
operações e prestação de serviços.
Em termos de estruturação do sistema cooperativista há que se considerar uma
organização atuante em âmbito internacional, através da ACI Aliança Cooperativa
Internacional, criada em 1895 e atualmente sediada em Genebra, Suíça, essa associação não-
governamental e independente reúne, representa e presta apoio às cooperativas e suas
correspondentes organizações, segundo informações do Portal do Cooperativismo.
No Brasil, a Receita Federal entende que nos termos do art. da Lei
5.764, de 1971, as sociedades cooperativas são consideradas: 1) singulares,
as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo
23
excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham
por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas
físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos; 2) cooperativas centrais ou
federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo, 3 (três)
singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais; 3)
confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três)
federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de
diferentes modalidades. (RECEITA FEDERAL)
O sistema cooperativista brasileiro conta com a representação da OCB
Organização das Cooperativas Brasileiras constituída, segundo o Portal do Cooperativismo,
constituída em 1969. Todavia são relatados de associações com as características
cooperativistas já em 1847.
A partir da OCB, cada Estado possui sua organização estadual das cooperativas que
congrega e representa as cooperativas participantes. Existem ainda as Confederações de
Cooperativas, constituídas por três ou mais Federações ou Cooperativas Centrais. As
Federações e Cooperativas Centrais por sua vez são constituídas pela união de três ou mais
Cooperativas Singulares. Estas congregando os associados diretamente.
Na Figura 1 apresentam-se os símbolos do Cooperativismo e na sequência a
descrição das simbologias associadas aos símbolos e ao próprio movimento Cooperativista
Figura 1: Os Símbolos do Cooperativismo
Fonte: Portal do Cooperativismo (2009)
Pinheiros - Antigamente o pinheiro era tido como um símbolo da imortalidade e da
fecundidade, pela sua sobrevivência em terras menos férteis e pela facilidade na sua
multiplicação. Os pinheiros unidos são mais resistentes e ressaltam a força e a capacidade de
expansão.
Círculo: representa a eternidade, pois não tem horizonte final, nem começo, nem fim.
Verde: Lembra as árvores - princípio vital da natureza e a necessidade de se manter o
equilíbrio com o meio-ambiente.
Amarelo: simboliza o sol, fonte permanente de energia e calor.
24
Dia Internacional do Cooperativismo: instituído em l923 no Congresso da ACI é
comemorado no primeiro sábado de julho de cada ano, a confraternização de todos os povos
ligados pelo cooperativismo.
Assim nasceu o símbolo mundialmente conhecido do cooperativismo: um círculo abraçando
dois pinheiros para indicar a união do movimento, a imortalidade de seus princípios, a
fecundidade de seus ideais e a vitalidade de seus adeptos. Tudo isso marcado pela trajetória
ascendente dos pinheiros que se projetam para o alto, procurando subir cada vez mais.
Bandeira: O cooperativismo possui uma bandeira formada pelas sete cores do arco-íris,
aprovada pela ACI - ALIANÇA COOPERATIVA INTERNACIONAL em 1932, que
significa a unidade na variedade e um símbolo de paz e esperança. Cada uma destas cores tem
um significado próprio:
vermelho - coragem.
alaranjado - visão de possibilidades do futuro.
amarelo - desafio em casa, na família e na comunidade.
verde - crescimento tanto do indivíduo como do cooperado.
azul - horizonte distante, a necessidade de ajudar os menos afortunados, unindo-os uns
aos outros.
anil - necessidade de ajudar a si próprio e aos outros através da cooperação.
violeta - beleza, calor humano e amizade.
Uma importante fonte de informação no estudo das cooperativas pode ser o esquema
comparativo das cooperativas e seu modus operandi ao das demais organizações, como
demonstrado no Quadro 1.
Quadro 1: Comparativo entre cooperativas e outras organizações
Indicadores
Cooperativas
Empresas Capitalistas
Empresas Públicas
1. Propriedade
Associado / Cooperado
Proprietário /
Investidor
Governo
2. Objetivo
Trabalho
Lucro
Comunidade
3. Decisor
Associados /
Cooperados
Dono / Acionista
Fator político
4. Controle
Um sócio, um voto
Investidores
Poder político
5. Excedentes
Proporcional aos sócios
Proprietário
Ao Estado
6. Subordinação do fator
produção
Capital
Trabalho
Trabalho
7. Condições de ingresso
Adesão livre
Restrita aos interessos
do dono e do capital
Estado
25
8 . Risco que assume
Sócios / Cooperados
Investidores
Estado
9. Fator remunerado
Capital
Trabalho
Trabalho
10. Ineficácia
Sócios / Cooperados
perdem
Dissolução e liquidação
Política, decisão
11. Distribuição
patrimônio
Pagar dívidas / Cotas
dos sócios
Proprietários / ações
sócios
Privatização
12. Sistema de gestão
Solidarismo
Racional
Burocracia
13. Orientação
Dialética
Positivista
Positivista
14. Cultura (tipologias de
Handy, 1985)
Dionísio / Híbrida
Zeus/ Tarefa
Atenas/ Normativa
15. Eficiência
Sócios / Cooperados
Proprietário/Acionistas
Sociedade
FONTE: Silva (2004, p. 180) adaptado de Basãnes (1979).
Através do entendimento do modelo da atuação cooperativista, abre-se espaço para a
visualização de que a vantagem competitiva do ponto de vista de uma cooperativa envolve as
premissas descritas neste tópico, sobretudo no que diz respeito à geração de benefícios aos
cooperados.
A partir desta percepção, pode-se passar à análise dos aspectos ambientais, externos
e internos, cuja leitura iluminada pela contextualização cooperativista contribui para as bases
analíticas deste trabalho, sobretudo em sua pesquisa prática.
2.2 Análise ambiental
O entendimento do ambiente e da dinâmica de interação das organizações com este
ambiente pode ser tido como o ponto de partida para qualquer consideração sobre vantagem
competitiva. McKenna (1999) argumenta que as empresas precisam entender a estrutura do
mercado, para que depois possam desenvolver relações estratégicas com outras pessoas e com
outras companhias de importância vital no mercado.
Diferentes abordagens na literatura oferecem definições particulares do ambiente.
Na Abordagem Cognitiva, por exemplo, “o ambiente é expresso pelo conceito de Domínio
Cognitivo, ou seja, o ambiente é concebido como um repositório de padrões de significado e
padrões culturais criados por indivíduos e organizações ao interagirem” (MOTTA e
VACONCELOS, 2005, p.378). para a Abordagem Institucional, segundo Motta e
Vasconcelos (2005), a interação das organizações, com seus produtos e serviços, compõe o
26
ambiente e desta interação surgem regras de funcionamento que exigem a conformação das
organizações para que sejam legitimadas.
Em uma visão geral Andrade a Amboni (2007) argumentam que as organizações são
sistemas que interagem entre si e se relacionam com o ambiente externo direto e indireto.
Ainda de acordo com Andrade a Amboni (2007) esta relação de via dupla faz com que as
organizações possam, ora afetar o ambiente externo, ora serem afetadas pelas dimensões do
ambiente direto e indireto.
Kotler (2000) compartilha desta visão e complementa salientando que as empresas
bem-sucedidas têm visões do ambiente externo e interno de seus negócios e reconhecem que
o ambiente está constantemente apresentando novas oportunidades e ameaças. Além disso,
segundo Kotler (2000), tais organizações compreendem a importância do monitoramento
contínuo e adaptação seletiva das suas estruturas às mudanças ambientais, desde que
conduzam a resultados positivos.
Para ilustrar este pensamento, Kotler e Trias de Bes (2004), enfocando sua visão na
função de marketing, apontam alguns motivos pelos quais a competitividade no século XXI é
mais acirrada e de difícil entendimento. Segundo os autores, traçando uma análise temporal da
função de marketing e de seus métodos de ação entre a década de 1970 e o início do século
XXI, estas razões seriam: 1) a concentração da distribuição de produtos de consumo
embalados tem aumentado significativamente; 2) o número de concorrentes diminuiu, mas a
quantidade de marcas tem aumentado acentuadamente; 3) o ciclo de vida do produto diminuiu
drasticamente; 4) é mais barato substituir determinados produtos do que concertar; 5) a
tecnologia digital provocou uma revolução em muitos mercados; 6) o número de marcas
registradas e patentes está aumentando; 7) o número de variedades de um determinado
produto aumentou radicalmente; 8) os mercados estão hiper-fragmentados; 9) a saturação da
propaganda está atingindo altíssimos níveis e a fragmentação da mídia está complicando o
lançamento de novos produtos, e; 10) a capacidade de se obter espaço na mente do
consumidor diminuiu.
A partir desta ilustração pode-se realçar a percepção de que tal mudança no cenário
mercadológico conduz a mudanças igualmente impactantes nas demais funções
organizacionais, nas necessidades de recursos e no desenvolvimento de novas competências
por toda empresa. A configuração destes fatores oriunda de uma eventual nova forma de
interação com o ambiente, face às mudanças observadas, pode ser entendida como fonte de
vantagem competitiva, na medida em que pode proporcionar melhores relações com o
mercado e com os consumidores.
27
2.2.1 Ambiente externo
Tradicionalmente, de acordo com Motta e Vasconcelos (2005), denomina-se de
meio-ambiente o conjunto de forças externas que influenciam o modo pelo qual as
organizações funcionam e obtém recursos.
De maneira complementar, o ambiente externo pode ser conceituado como o tecido
social no qual as organizações, os indivíduos e as instituições governamentais coexistem e o
conjunto das interações entre estes agentes determinam o contexto organizacional. Para Srour
(2005) as relações coletivas estruturam o contexto organizacional, tais relações associativas
são mediadas pelos meios de produção, e perfazem o espaço de convívio das organizações.
Andrade e Amboni (2007) também entendem que as organizações operam dentro de
um contexto do qual dependem para sobreviver, desenvolver-se, obter seus recursos, as
informações necessárias ao seu funcionamento e é onde elas colocam o resultado de suas
operações.
A importância da análise do ambiente externo para busca da vantagem competitiva é
avaliada por Hitt, Ireland e Hoskisson (2005) quando argumentam que após analisar
tendências, ameaças e oportunidades ambientais, ajustando as oportunidades às competências
essenciais, através de combinações adequadas, a empresa consegue alcançar a
competitividade e auferir retornos superiores à média (HITT, IRELAND e HOSKISSON,
2005, p.55).
Para tanto, segundo Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), o processo de análise do
ambiente externo deve envolver: a) investigação minuciosa estudo de todos os segmentos do
ambiente geral; b) monitoramento observação contínua do ambiente visando identificar
mudanças que representem tendências de mercado; c) previsões projeções viáveis daquilo
que poderia vir a acontecer, visando as eventuais tendências levantadas pela investigação
minuciosa e monitoramento, e; d) avaliação determina o impacto das tendências do
ambiente sobre a administração estratégica da empresa.
Para detalhar o estudo do ambiente externo, alguns autores promovem uma divisão
conceitual, como Stoner e Freeman (1999) que estabelecem uma conceituação levando em
conta o grau de influenciação da empresa e definem elementos de ação direta e indireta. De
acordo com os autores, o ambiente de ação direta é composto por stakeholders, indivíduos
ou grupos que são direta ou indiretamente afetados pela perseguição aos seus objetivos por
parte de uma organização(STONER e FREEMAN, 1999, p. 47). Andrade e Amboni (2007)
28
explicam que o ambiente direto é também denominado por alguns autores de ambiente
operacional ou específico.
Figura 2: Elementos de Ação Direta e de Ação Indireta de uma organização
Fonte: Stoner e Freeman (1999)
O ambiente direto, para Andrade e Amboni (2007) é composto por clientes,
fornecedores, concorrentes, grupos reguladores e stakeholders. Visão semelhante à de Stoner
e Freeman (1999), como visto na Figura 2.
Stoner e Freeman (1999) estabelecem ainda, como divisão conceitual do ambiente
direto, a definição de stakeholders externos como sendo grupos tais como sindicatos,
fornecedores, competidores, consumidores, grupos com interesses especiais e órgãos
governamentais e de stakeholders internos os empregados, acionistas e o board
1
. Os autores
salientam que, na medida em que a organização evolui e se desenvolve, o papel dos
stakeholders pode se alterar, assim como o grau de influência que exercem, determinando
possibilidades de mudança na conduta organizacional.
A outra definição conceitua o ambiente indireto, ou ainda denominado, segundo
Andrade e Amboni (2007), de ambiente geral, macroambiente e ambiente maior. Como
1
Board. Considera-se o Board Administrativo como sendo o grupo de dirigentes principais da organização, os
responsáveis pela tomada das decisões estratégicas.
29
elementos do ambiente de ação indireta Stoner e Freeman (1999) apontam variáveis sociais
como as demográficas, estilos de vida e valores sociais, variáveis econômicas, variáveis
políticas e variáveis tecnológicas.
A organização pode ser afetada pelos elementos do ambiente indireto,
primeiramente, pois podem ditar a formação de grupos que eventualmente possam se tornar
stakeholders, e, além disso, estes elementos criam um clima no qual a organização existe e ao
qual precisa reagir, segundo Stoner e Freeman (1999). Estes autores ainda enfatizam a
dimensão internacional como agente de forte influenciação, direta e indireta, no ambiente
organizacional.
O ambiente indireto pode ainda ser analisado à luz de dimensões ou segmentos
ambientais como forma de aprimorar seu entendimento. Hall (2004) apresenta sua visão sobre
as dimensões ambientais, assumindo a inevitável ligação de influencia entre as organizações e
o seu entorno, como sendo as condições tecnológicas, legais, políticas, econômicas,
demográficas, ecológicas e culturais.
Com poucas diferenças Hitt, Ireland e Hoskisson (2005) salientam as divisões
ambientais através da tipologia: segmentos do ambiente geral, e decompõe os segmentos em
elementos, conforme o Quadro 1.
Hitt, Ireland e Hoskisson (2005) salientam que as empresas não são capazes de
controlar diretamente os segmentos e os elementos do ambiente geral, mas podem colher
dados e informações necessárias ao entendimento de cada segmento e inserir estas percepções
na seleção de estratégias adequadas.
Quadro 2: O Ambiente Geral: segmentos e elementos
SEGMENTOS
ELEMENTOS
Segmento Demográfico
Tamanho da população
Estrutura etária
Distribuição geográfica
Composto étnico
Distribuição da renda
Segmento Econômico
Taxas de inflação
Taxas de juros
Déficits ou superávits na balança
comercial
Taxa de poupança individual
Taxa de poupança comercial
Produto Interno Bruto
Segmento Político-Legal
Leis antitrustes
Leis tributárias
Filosofia de desregulamentação
Leis trabalhistas de
treinamento
Filosofias e políticas
educacionais
30
Segmento Sociocultural
A mulher na força de trabalho
Diversidade da força de trabalho
Atitudes em relação à qualidade
de vida profissional
Questões ambientais
Mudanças nas preferências de
trabalho e carreira
Mudanças nas preferências
relacionadas com as
características de produtos e
serviços
Segmento Tecnológico
Inovações de produto
Aplicações dos conhecimentos
Novas tecnologias de
comunicações
Enfoque das despesas em
Pesquisa e Desenvolvimento
do governo e da iniciativa
privada
Segmento Global
Eventos políticos importantes
Mercados globalizados críticos
Países recém-industrializados
Atributos culturais e
institucionais diferentes
Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson (2005)
A tendência de comportamento de adequação das organizações ao ambiente exposta
por Stoner e Freeman (1999), Hall (2004) e Hitt, Ireland e Hoskisson (2005) encontra
consonância com a proposição de DiMaggio e Powell (2005) acerca do isomorfismo
produzido pelo racionalismo instrumental exacerbado pela burocracia organizacional. Este
mecanismo pode ter origem no mecanismo de interação com o ambiente e sobreposição das
dimensões, bem como necessidades de acesso a recursos ou mecanismos regulatórios
governamentais, ambientais, fiscais, econômicos e assim por diante.
Em sua argumentação, DiMaggio e Powell (2005) oferecem uma visão sobre como o
modelo racional burocrático conduz ao mecanismo da “jaula de ferro”, tal como visto em Max
Weber². Além disso, DiMaggio e Powell (2005) estendem sua análise para a influência do
ferramental de controle do mercado sobre as organizações, que leva as empresas a se
adequarem a um conjunto de normas de burocratização além dos domínios da empresa. Ou
seja, o que se percebe é uma sobreposição de modelos de burocratização, uma vinda da
própria estrutura de controles da organização e outra pela força normativa dos agentes de
mercado e governamentais. Esta última, levando ao processo de isomorfismo, que para
Hawley (apud DiMaggio e Powell, 2005) constitui um processo de restrição que força uma
unidade em uma população a se assemelhar a outras unidades. Sob a ótica do indivíduo dentro
das organizações, além da burocratização da própria empresa, incide a força do isomorfismo
2
Na tradução da obra original de Max Weber para o inglês encontra-se o uso da tipologia iron cage, cuja
tradução livre para o português originou o termo jaula ou gaiola de ferro. Atualmente reconhece-se como correto
o emprego da terminologia a shell as hard as steel no inglês, com tradução livre para o português como “uma
concha tão dura quanto aço” para designar a real intenção analógica de Weber
31
que, em última análise, acentua a ação da “jaula de ferro”.
DiMaggio e Powell (2005) apontam, a priori, dois tipos de Isomorfismo, a saber:
isomorfismo competitivo e isomorfismo institucional:
Isomorfismo Competitivo: é aquele que se vale da dinâmica de mercado e competitiva para
se manifestar, sobretudo, através de medidas de adequação ao contexto ambiental. Normas
que unem vendedores e comprador, por exemplo, tendem a conter um grau de isomorfismo na
medida em que conformam e padronizam as rotinas operacionais.
Isomorfismo Institucional: além da busca por posições competitivas, as organizações
almejam ainda o poder político, adequação social e econômica, e neste contexto assemelham-
se em adotarem medidas parecidas de adequação. Enquanto institucional, o isomorfismo pode
ainda ser classificado em: Coercitivo quando se manifesta pela imposição da norma
pretendida; Mimético quando as organizações assumem características de outras e;
Normativo quando a norma social aponta a diretriz de atuação.
A argumentação de Hall (2004) define que a forma como estas dimensões são
compostas, em determinados ambientes, proporciona visualizar tais ambientes
organizacionais de maneira mais analítica de acordo com:
Capacidade ambiental: é a capacidade de disponibilização de recursos a uma organização.
Ambientes mais “ricos” oferecem mais recursos, mas também atraem mais empresas
acirrando a competitividade. Ambientes “pobres” requerem maior eficiência operacional,
fusões com outras organizações ou a busca de proteção por meio de sub-ambientes através da
especialização.
Homogeneidade heterogeneidade ambiental: diz respeito ao grau de similaridade ou
diferenciação de processos e rotinas dentro do ambiente. Ambientes homogêneos oferecem
maior estabilidade e processos padronizados, tornando mais cômoda a atuação das
organizações.
Estabilidade instabilidade ambiental: Este indicador permite aferir o grau de
previsibilidade ou incerteza das dimensões ambientais como econômica, política e assim por
diante.
Concentração dispersão ambiental: envolve a distribuição dos elementos no ambiente.
Define se há, por exemplo, concentração de clientes em uma determinada localização ou se
eles estão dispersos em uma área geográfica extensa.
Consenso dissensão do domínio: refere-se à concordância ou não da sociedade e dos
órgãos reguladores quanto à atuação da organização e sua condição de domínio de um
mercado específico.
32
Turbulência ambiental: Aponta condições para a análise da complexidade das interconexões
ambientais, ou seja, avalia o grau de suscetibilidade de uma dimensão ambiental como a
tecnológica a impactos causados por outra dimensão ambiental como a econômica.
Decorre destas análises, na opinião de Hall (2004), a condição de estabelecer o grau
de vulnerabilidade de uma organização às pressões ambientais, isto porque, segundo o autor,
quanto mais uma organização for dependente de seu ambiente, mais vulnerável se tornará. E
sentencia: “quando uma organização é vulnerável, ela reage ao ambiente” (HALL, 2004,
p.205). Como tendência, Hall (2004) demonstra que grandes pressões ambientais levam ao
que chama de “endurecimento” da organização, contrariando a noção de que seriam
justamente as empresas com estruturas menos formalizadas as mais adaptáveis às pressões do
ambiente. O autor cita os estudos de Boddewyn (1974), Freeman (1973), Khandwalla (1972),
Pfeffer e Leblebici1(973), como indicadores de tal relacionamento entre pressões ambientais e
o enrijecimento das estruturas organizacionais.
As organizações participantes de um mesmo segmento de mercado tendem a
competir em dimensões ambientais que se sobrepõe pelos mesmos recursos e estão sujeitas às
mesmas pressões políticas, de desenvolvimento tecnológico, econômicas e demais aspectos.
Outra abordagem proposta por Hall (2004) enfatiza que os relacionamentos de uma
organização individual com seu ambiente ocorrem por meio das ações de outras organizações,
umas afetando às outras. Estes contatos entre as organizações são denominados por Hall
(2004) de relacionamentos interorganizacionais (RIOs). A análise das possibilidades de RIOs
abre a visão para a condição de uma organização adquirir novas características competitivas,
não obstante possa compartilhar e somar competências com outras organizações. Hall (2004)
salienta que as dimensões ambientais tecnológicas, legais, políticas, econômicas,
demográficas, ecológicas e culturais, são fundamentais para a formação das RIOs na medida
em que compõe o contexto de atuação dos players.
As RIOs ocorrem em contextos situacionais de acordo com três razões básicas,
conforme Galaskiewicz (1985 apud HALL, 2004). Primeiramente visando a obtenção e
alocação e recursos tais como instalações, materiais, produtos e receitas (GULATI e
GARGIULO, 1999 apud HALL, 2004). Outra razão apontada consiste em formar defesas e
vantagens políticas. A terceira seria a obtenção de legitimidade ou aprovação pública
(HUMAN e PROVAN, 2000 apud HALL, 2004).
Na visão de Hall (2004) as interações organizacionais no ambiente estão
condicionadas a um conteúdo, ou seja, fluxos de recursos entre as organizações e é através
deles que se manifestam na prática as RIOs. Além disso, o nível de investimento nos recursos
33
exigidos das organizações envolvidas nas RIOs determina a intensidade do relacionamento,
de acordo com Aldrich (1979 apud HALL, 2004). Outra forma de interação são as joint
ventures e alianças estratégicas, tipos especiais de fluxos de recursos onde além dos recursos
do contexto da interdependência, compromisso mútuo de colaboração de outros recursos.
A expectativa é que essas associações e alianças conduzirão a novas oportunidades, na
medida em que novas combinações de produtos e serviços forem sendo desenvolvidas. Sua
finalidade é a inovação” (HALL, 2004, p.218).
Desta forma, pode-se entender como o ambiente externo propicia condições para a
dinâmica organizacional em termos de obtenção de potencial competitivo e perpetuação. Para
Amboni (1997) há, no âmbito do comportamento organizacional, uma ênfase recente à
adaptação da estrutura das organizações para atender às diversas restrições e pressões
ambientais, criando culturas organizacionais para refletir a missão e as metas globais da
organização, bem como para gerenciar a influência crescente de fatores externos na tomada de
decisões e eficácia da organização.
2.2.2 Ambiente interno
O ambiente interno é o local onde se concentram as pessoas, o conhecimento, as
habilidades e os recursos, que orientados em processos perfazem o modo de ser a agir de uma
organização, determinando sua personalidade através das características e da cultura daí
oriundas.
Para Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), ao analisar o ambiente interno, a empresa
determina aquilo que poderá fazer, isto é, as ações possibilitadas por seus recursos,
capacidade e competências.
Kotler (1998) e McKenna (1999) entendem que a análise do ambiente interno
proporciona verificar os pontos fortes e fracos da organização. A verificação dos pontos fortes
e fracos que existem dentro da organização pode ser feita tomando-se por base os elementos
da estratégia, em particular as vantagens competitivas e o uso dos recursos, principalmente os
financeiros. Os autores seguem afirmando que um dos principais pontos críticos para as
empresa está nas deficiências e capacidades de sua base competitiva, e sugere a análise do
ambiente interno através de comparações com organizações concorrentes.
Definir e entender a concepção de organizações, para Morgan (1996), tem
repercussão direta sobre o entendimento de sua dinâmica. Seja internamente, seja no
relacionamento de uma organização com o ambiente e com outras organizações. O estudo das
34
organizações passa pela análise das relações nelas existentes. Srour (2005) aponta os
seguintes tipos de relações possíveis:
Relações coletivas que articulam classes sociais e categorias sociais
(relações estruturais);
Relações coletivas que vinculam organizações e seus públicos (relações
de consumo);
Relações interindividuais que conectam agentes individuais entre si
(relações interpessoais) (SROUR, 2005, p.86).
De forma geral, a literatura aponta como forma de entendimento do ambiente
interno, a divisão funcional. Dividir o trabalho de uma organização em responsabilidades
departamentais contribui potencialmente e de vários modos para uma administração eficiente.
O próprio autor reconhece que esta proposição é apenas potencial, uma vez que se condiciona
a uma estruturação ideal da organização, o que, dado o padrão evolutivo e mutante dos
mercados, não parece tão factível na prática.
O modelo clássico de divisão do trabalho, pautado na racionalidade instrumental
burocrática, todavia, tem encontrado atualmente severos opositores. Para Pinchot e Pinchot
(1994) a burocracia como se conhece, não pode sobreviver às mudanças necessárias para uma
melhor realização do trabalho. “A burocracia é simplista demais para dar conta da
complexidade causada pela diversidade de clientes, de empregados, de parceiros, de
fornecedores e de tecnologias” (PINCHOT e PINCHOT, 1994, p.4). A velocidade das
mudanças nos ambientes de gestão requer, de acordo com Pinchot e Pinchot (1994), a criação
de organizações capazes de atender à necessidade de flexibilidade, de multidimesionalidade,
de criatividade e de soluções complexas.
A burocracia é um sistema que obtém a coordenação confinando as pessoas
em limites tão estreitos, que a maioria não tem chance de explorar uma
variedade maior de talentos. A organização inteligente, em contraposição,
tem em mira liberar a inteligência e a capacidade de cada integrante
(PINCHOT e PINCHOT, 1994, p.21).
Tais limites são manifestados, segundo Pinchot e Pinchot (1994), pela busca da
eliminação da redundância, na fixação de papéis, na rigidez formal como forma de aquisição
de monopólios internos, por essência totalitários e redutores da condição de escolha humana.
Em um cenário mais competitivo e com maiores exigências, onde a mudança e a necessidade
de soluções complexas são elementos fundamentais, este modelo perde a eficácia, pois quanto
mais relações com o mercado, maior o grau de redundância provocada internamente, mais se
35
evidencia a necessidade de papéis flexíveis e maior a orientação para o livre mercado. De
acordo com Pinchot e Pinchot (1994) no livre mercado as empresas têm a liberdade para
escolherem sua cadeia de relacionamentos o que promove maior dinamismo ao mercado.
Pinchot e Pinchot (1994) argumentam que esta postura se reflete internamente na medida em
que os integrantes destas organizações (os autores utilizam a designação de organizações
inteligentes, àquelas que praticam a dinâmica de livre mercado) têm a liberdade e a
especialização necessárias para mudar os seus papéis flexivelmente, de forma auto-
organizada.
Drucker (1996 apud Wood Jr. 1995) argumenta que hoje presenciamos a substituição
da organização máquina pela “organização de especialistas”, baseada em informações. Nestas,
as possibilidades de configuração parecem infindáveis, através de múltiplas combinações
entre recursos e competências, com vistas aos requisitos do ambiente externo.
Hitt, Ireland e Hoskisson (2005) demonstram que fontes de vantagens competitivas
fortes em outras épocas, tais como custo de mão-de-obra, acesso a recursos financeiros e
matérias primas, mercados protegidos e outros fatores tradicionais, tem perdido importância
devido ao aumento da oferta e do acesso globalizado. Desta forma, pode-se buscar
internamente, formas de adquirir novas capacidades que possam gerar novas vantagens. De
acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), sobretudo, esta condição se potencializa através
do desenvolvimento da habilidade de mudar rápida e eficientemente. “O desafio fundamental
ao desenvolvimento desta habilidade é gerar um ambiente organizacional que inclua e
promova a experimentação e o aprendizado” (HITT, IRELAND e HOSKISSON, 2005, p. 99).
2.2.2.1 Estrutura organizacional: Conceitos e elementos
O ambiente interno pode ainda ser visualizado em termos da natureza da organização e
de como ela assume formas diferenciadas para executar as atividades inerentes ao seu
processo produtivo e abordar o macro-ambiente. A natureza e as formas organizacionais
compõe a estrutura organizacional. O estudo da estrutura e do desenho organizacional são
particularmente importantes neste trabalho, pois a forma como a organização se estrutura
define a maneira como são executados os processos operacionais e, assim sendo, é fator chave
na produção e entrega de valor ao mercado. Raciocínio contínuo, a estrutura organizacional e
a dinamicidade de sua arquitetura são elementos decisivos em uma pretensão de busca pela
vantagem competitiva.
36
Hall (2000) entende que a estrutura organizacional pode ser considerada a combinação
das partes organizacionais. Ou seja, os vários setores, quer sejam divididos com base na
função, na dimensão geográfica, na estrutura de poder e assim por diante, e que juntos
conformam a organização, são os elementos da estrutura organizacional.
Assumindo uma posição semelhante, Robbins (2001) argumenta que uma estrutura
organizacional define como são formalmente divididas, agrupadas e coordenadas as tarefas
dos cargos.
Para Hall (2000) a estrutura organizacional condiciona o comportamento das
organizações na medida em que modela o modus operandi em torno de uma expectativa de
resultado para as iniciativas das pessoas no contexto organizacional. Neste caso, o resultado
esperado é a própria atividade produtiva da empresa. Assim sendo, a estrutura organizacional
tem por finalidade garantir a execução de uma determinada atividade produtiva a que se
propõe uma organização através de uma divisão de funções entre as pessoas, alicerçadas por
uma cadeia de comando e fluxo de informações, devidamente organizada.
Com vista às definições de autores como Sewel (1992) e Ranson, Hinings e
Greenwood (1980), Hall (2000) salienta que a estrutura organizacional, tanto condiciona o
comportamento das pessoas como é por ele influenciada, modificando-se ao longo do tempo.
Além disso, segundo Hall (2000) o ambiente externo também exerce ação modificadora e
adaptativa na estrutura organizacional. Tais visões denotam o caráter continuamente
emergente da estrutura organizacional. Organizações menores têm pouca necessidade de
especialização, todavia na medida em que crescem precisam se reestruturar e dividir o
trabalho em departamentos específicos para alguma função. Mas mesmo as empresas de
maior porte passam, segundo o autor, por reestruturações, em média, a cada dois anos.
Hall (2000) aponta três elementos formadores da estrutura organizacional:
complexidade, formalização e centralização. A complexidade diz respeito à forma como as
atividades são dispostas em uma organização em termos de divisão do trabalho, títulos dos
cargos, divisões e níveis hierárquicos, de acordo com Hall (2000). Pode-se definir
complexidade: 1) Pela diferenciação horizontal, que é a maneira pela qual as tarefas
desempenhadas são subdivididas dentro da organização; 2) Pela diferenciação vertical, através
da hierarquia; e 3) Pela dispersão geográfica, que pode ser uma representação de uma das
duas diferenciações anteriores, considerando-se a separação territorial.
A formalização, para Hall (2000), refere-se ao grau de controle da organização sobre
as atividades de um cargo. O autor entende que quanto maior a formalização de uma função,
menor a possibilidade de emprego do julgamento pessoal do indivíduo que a exerce. Em uma
37
estrutura altamente formalizada, as regras organizacionais cerceiam o arbítrio individual em
função dos resultados esperados para cada função. Em contraposição, estruturas menos
formais abrem espaço para interpretações pessoais do executor das atividades. Hall (2000)
salienta que a formalização é medida através do emprego das ferramentas de controle,
diretamente sobre os resultados obtidos, ou mesmo por mecanismos como manuais de
procedimentos, formulários de controle, memorandos, relatórios e assim por diante.
O último dos elementos descritos por Hall (2000), a centralização, dá conta da
distribuição do poder no âmbito das organizações. O autor demonstra que tal elemento pode
ser tido como um resumo da noção de estrutura, uma vez que a distribuição de poder define as
demais ações organizacionais. A centralização pode ser aferida pela programação da tomada
de decisões, ou seja, ela é alta não apenas quando uma única pessoa toma as decisões, mas
sim quando as decisões são programadas dentro da cadeia hierárquica. Isto leva a percepção,
descrita por Hall (2000), de que mesmo quando operários de uma linha de produção tomam
decisões, mas estas sejam determinação da alta gerência, o nível de centralização permanece
alto. Rothschild e Whitt (1986 apud Hall, 2000) associam baixos níveis de centralização à
decisões espontâneas, democráticas e coletivas.
Quadro 3: Seis perguntas fundamentais que os gerentes precisam responder ao projetarem a
Estrutura Organizacional adequada
Perguntas
As respostas são dadas por
1. Em que medida as tarefas são subdivididas em
cargos distintos?
Especialização do trabalho
2. Em que base os trabalhos são agrupados?
Departamentalização
3. A quem se reportam os indivíduos e os grupos?
Cadeia de Comando
4. Quantos indivíduos um gerente pode comandar
com eficiência e eficácia?
Margem de controle
5. Em que reside a autoridade de tomada de
decisões?
Centralização e descentralização
6. Em que medida haverá regras e regulamentos
para comandar os funcionários e gerentes?
Formalização
Fonte: Robbins (2001)
A abordagem de Robbins (2001) por sua vez, assume a existência de seis elementos
fundamentais a se considerar ao se projetar a estrutura organizacional, são eles: especialização
38
do trabalho, departamentalização, cadeia de comando, margem de controle, centralização e
descentralização e formalização. Segundo Robbins (2001) cada um destes elementos é
elencado como resposta a uma questão estrutural importante, como mostra o Quadro 3.
Vasconcelos e Hemsley (1997) enfatizam a capacidade de ganho de eficiência das
organizações cujas estruturas são corretamente arranjadas e lista potenciais benefícios desta
condição: a) Tornar claras a responsabilidade e a autoridade; b) Facilitar a comunicação e o
controle; c) Melhorar a tomada de decisão; d) Diferenciar as atividades; f) Enfatizar
atividades selecionadas.
Como forma de analisar a estrutura organizacional, Vasconcelos e Hemsley (1997)
propõe um modelo baseado em fatores-chaves, como sendo: 1) Estratégia, o autor sentencia
que “a estrutura acompanha a estratégia” preconizando que a conformidade com este
princípio garante eficiência, ao passo que sua violação enfraquece o desempenho
organizacional. A percepção de Vasconcelos e Hemsley (1997), portanto, atribui à estratégia a
condição de guia do desenvolvimento e da modelagem da estrutura organizacional; 2)
Tecnologia, este fator, segundo Vasconcelos e Hemsley (1997) tende a moldar os processos
produtivos e, raciocínio contínuo, a estrutura organizacional em si; e 3) Ambiente, que
influencia o comportamento das organizações e provoca mudanças dado sua condição de
estabilidade.
Em suma, Vasconcelos e Hemsley (1997) conclui que a estrutura organizacional
deve ser um produto composto destes fatores-chaves e o projeto organizacional requer que se
identifiquem, nas organizações, as condições particulares e estratégia, tecnologia e ambiente e
se selecione o tipo de estrutura associada ao melhor desempenho nestas condições.
Além destes fatores, Hall (2000) aponta ainda como fatores contextuais da estrutura
organizacional o tamanho, cultura interna e cultura nacional, e aborda a formulação
estratégica como agente decisivo do projeto organizacional.
2.2.2.1.1 Tipos de estrutura organizacional
Duas vertentes teóricas tratam da descrição dos tipos de estrutura organizacional. A
primeira, ligada à teoria clássica, aponta modelos mecanicistas de estruturas organizacionais,
tal como Hampton (1990) sugere:
Organização funcional: Apresenta uma estrutura separada por funções orientadas em
departamentos ou áreas de conhecimento distintas, mas todas com foco nos mesmos produtos
e serviços gerados pela empresa.
39
Figura 3: Estrutura organizacional funcional
Fonte: Hampton (1990)
Organização por produto: Divide as unidades com base nos produtos, projetos ou
programas.
Figura 4: Estrutura organizacional por produto
Fonte: Hampton (1990)
Organização territorial: Neste caso, as unidades são dividas de acordo com elementos
geográficos. Este modelo é particularmente interessante para empresas que atum em regiões
territoriais marcadas por significativas diferenças culturais, promovendo sua adaptação com
maior eficiência.
Figura 5: Estrutura organizacional territorial
Fonte: Hampton (1990)
Organização centrada no cliente: As unidades são divididas de modo que cada uma possa
atender a um cliente diferente, sobretudo em razão de condições operacionais específicas
destes clientes.
40
Figura 6: Estrutura organizacional centrada no cliente
Fonte: Hampton (1990)
Organização matricial: Este tipo de estrutura organizacional combina a estrutura funcional
com a estrutura organizada por produtos, tendo como resultado uma sobreposição de
relacionamentos funcionais. Ou seja, um determinado cargo pode ser subordinado a um
departamento funcional, mas variar sua atuação no desenvolvimento de determinados
produtos.
Figura 7: Estrutura organizacional matricial
Fonte: Hampton (1990)
Estruturas múltiplas: Aponta a possibilidade de combinação de duas ou mais tipos de
estruturas organizacionais por uma organização, de acordo com sua determinação estratégica,
necessidades de recursos ou demais fatores influenciados pelo ambiente. (Figura 8)
41
Figura 8: Estrutura organizacional múltipla
Fonte: Hampton (1990)
A despeito de conceituações eminentemente operacionais e mecanicistas como
vistas em Hampton (1990) que se atém a descrever os tipos possíveis estrutura organizacional
com vistas ao dimensionamento hierárquico, outros modelos organizacionais são discutidos
de forma mais abrangente por Mintzberg (1995).
Em seu construto teórico, Mintzberg (1995) aponta uma visão dos elementos
básicos (ou forças), das estruturas existentes dentro das organizações, bem como estabelece
42
um mecanismo que descreve o fluxo de autoridade, de material de trabalho, de informação e
de processos de decisão.
A primeira força apresentada pelo autor é o Vértice Estratégico, caracterizado como
o topo da hierarquia, onde se processam a maior parte das decisões. É onde se delineia a
estratégia e onde é feito o planejamento de como decorre todo o processo de produção. Esta
estrutura tem a principal função de assegurar o cumprimento da missão de uma forma eficaz,
mas é também responsável por todo o tipo de supervisão. Esta supervisão pode estar
relacionada com a gestão de recursos e conflitos, com o controle que passa pela revisão das
atividades, ou pela comunicação direta ou indireta com os elementos da organização.
Outro elemento básico visualizado é a Linha Hierárquica Média ou do termo
inglês, o Middle Management tem a principal função de estabelecer a ligação entre as
diferentes partes da organização. Ele é composto por gestores intermediários que tentam dar
resposta às diferentes necessidades existentes no sistema. Este é um centro nevrálgico de toda
a estrutura, pois é por onde passa toda a informação e onde as estratégias são adaptadas. Cabe
a esta força, fazer ligação entre todos os elementos da organização, com particular destaque
entre o Vértice Estratégico, que delineia as estratégias e faz o planejamento, e o Centro
Operacional.
O Centro Operacional, ou “chão de fábrica”, é o terceiro elemento básico. É onde
ocorre a produção efetivamente, quer sejam bens de consumo, quer sejam serviços, de acordo
com a finalidade da organização.
O quarto elemento básico citada por Mintzberg (1995) é a Tecnoestrutura, que se
constitui pelos analistas, engenheiros, contabilistas, responsáveis pelo planejamento e pela
organização de métodos, os quais visam obter sistemas de trabalho que permitam a
estandardização da organização.
Outro elemento básico descrito pelo autor é a Logística, caracterizado como as
atividades de apoio, serviços jurídicos, relações públicas e laborais, investigação, etc. Ou seja,
as atividades que não se relacionam diretamente com a produção, mas fornecem suporte para
tanto.
O autor cita ainda um sexto elemento básico como sendo a Ideologia, que engloba os
valores, as crenças e as tradições que distinguem as diferentes organizações promovem o
modo único como cada empresa se comporta e interage com o meio. Estas estruturas são
visualizadas na Figura 3.
43
Figura 9: Elementos organizacionais básicos
Fonte: Adaptado de Mintzberg (1995)
Com base nesta descrição de elementos básicos e em uma complexa análise dos
fluxos organizacionais de atividades e de comunicação, Mintzberg (2000) propõe algumas
configurações organizacionais, conforme discutido adiante, no tópico 2.4.
Robbins (2001) por sua vez, introduz o modo orgânico de visualização da estrutura
organizacional, baseado na abordagem contingencial. Com vistas a esta teorização a estrutura
organizacional assume formas mais flexíveis e, portanto, mais adaptáveis às inconstâncias
ambientais ou mesmo a uma visão estratégica mais dinâmica e voltada à cultura da mudança
constante do que estável ao longo de grandes períodos de tempo.
A organização orgânica é uma forma oposta à mecanicista. Ela é tão
adaptável, solta e flexível quanto a organização mecanicista é rígida e
estável. A estrutura orgânica é achatada, utiliza equipes para entremear
departamentos funcionais e níveis hierárquicos, possui pouca formalização
e uma rede abrangente de informações (utilizando comunicação lateral,
ascendente e descendente), e envolve ativamente todos os funcionários nas
tomadas de decisões.
(ROBBINS, 2001, p. 179)
44
Robbins (2001) critica severamente o modo mecanicista de estruturação
organizacional, que segundo ele transforma-se em uma máquina de eficiência
2
, com regras
rígidas e padronizadas de comportamento para “minimizar o impacto das personalidades, dos
julgamentos humanos e da ambiguidade, porque estes fatores são vistos como causa de
ineficiências e inconsistências” (ROBBINS, 2001, p. 179).
Ainda segundo Robbins (2001), as organizações orgânicas, em contrapartida,
adotam formas mais flexíveis que lhes permite mudar rapidamente de acordo com as
necessidades. Nestas organizações, observa Robbins (2001), a divisão de trabalho não é
padronizada e se recorre continuamente ao trabalho de equipe com pouca supervisão e regras
formais, onde os funcionários são treinados e estimulados a tomar decisões.
O Quadro 4 mostra um comparativo esquemático de uma estrutura mecanicista com
uma estrutura orgânica.
Quadro 4: Organização Mecanicista verus Orgânica
Fonte: Robbins (2001)
Robbins (2001) lança a indagação sobre por que algumas organizações optam por
estruturas mecanicistas enquanto outras preferem estruturas com características orgânicas? A
resposta a esta questão, como foi mencionado no início deste tópico, está na avaliação
2
Grifo do autor. Robbins (2001)
45
particular de cada organização para os quatro elementos contingenciais: estratégia, tamanho,
tecnologia e incerteza ambiental. Cada organização está imersa em um contexto particular,
produto das interações do ambiente externo com as potencialidades internas e deste conjunto
de fatores aflora a estrutura organizacional, que deve ser dinâmica, face à sua estratégia
específica.
Hall (2000) conclui a discussão sobre estrutura organizacional salientando que
nenhum dos tipos de estrutura organizacional é universalmente correto.
Temos examinado uma série de explicações da estrutura organizacional.
Elas variam de fatores contextuais, como tamanho e tecnologia, a fatores
ligados ao desenho organizacional, como escolha estratégica e isomorfismo
institucional. Qual é a explicação correta?...nem todos os anteriores‟ nem
„nenhum dos anteriores‟ constitui a resposta apropriada. As explicações de
estrutura devem ser consideradas conjuntamente (HALL, 2000, p.99).
Ao analisar a questão da estrutura organizacional com vistas à abordagem
contingencial, Robbins (2001) salienta que uma estrutura organizacional correta para uma
determinada organização depende de quatro variáveis contingenciais: a estratégia, o tamanho,
a tecnologia e o grau de incerteza ambiental da organização. Desta forma, a definição da
estrutura organizacional, à luz da abordagem contingencial, tende a ser única para cada
organização e a variar de acordo com o contexto ambiental, adotando uma arquitetura mais
flexível ou orgânica em detrimento de estruturas mecanicistas tradicionais, conforme se
constata da análise de Robbins (2001).
2.2.2.2 Recursos
Recursos são, de acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), os inputs no processo
de produção da empresa, tais como equipamentos, habilidades individuais dos funcionários,
patentes, finanças e gestores de talento. Nesta concepção, os autores classificam os recursos
em três categorias: físicos, humanos e capital organizacional. Quanto à natureza Hitt, Ireland
e Hoskisson (2005) entendem que os recursos podem ser tangíveis ou intangíveis.
Grant (2002) também categoriza os recursos em tangíveis: aqueles mensuráveis pelo
balanço da companhia como seus ativos físicos e financeiros; intangíveis: aqueles de
valoração mais subjetiva relacionados à marcas, patentes, reputação, clientes, etc; e recursos
46
humanos: a componente dos valores das pessoas que compõe a organização, tais como
conhecimento, habilidades, processo decisório, etc.
Com vistas à explicar a ocorrência dos recursos tangíveis, Hitt, Ireland e Hoskisson
(2005) os definem em quatro tipos básicos: financeiros, organizacionais, físicos e
tecnológicos, como descrito na Tabela 1.
Tabela 1: Recursos Tangíveis
Fonte: Adaptado de Hitt, Ireland e Hoskisson (2005)
Via de regra, os recursos tangíveis segundo Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), podem
ter seu valor definido através dos demonstrativos financeiros, ou seja, conformam o
patrimônio físico das organizações.
Os recursos intangíveis, por sua vez, não são demonstrados como elementos dos
relatórios financeiros, o que conduz à percepção de que “nem todas as fontes de vantagem
competitiva da empresa podem estar plenamente refletidas dos demonstrativos financeiros
corporativos” (HITT, IRELAND e HOSKISSON, 2005, p. 107).
Tabela 2: Recursos Intangíveis
Nadler, Gerstein e Shaw (1994) salientam que o desenvolvimento de recursos
básicos eficientes financeiros, de competência financeira, pessoal etc. fortalece a
capacidade que a organização tem de enfrentar novos desafios.
47
Fonte: Adaptado de Hitt, Ireland e Hoskisson (2005)
Fleury e Oliveira Jr. (2001) denotam que quando se entende a empresa como um
conjunto de recursos, estende-se a percepção para a condição de identificar e desenvolver tais
recursos visando o desempenho superior da organização.
2.2.2.3 Competências
Muito embora as definições para competências sejam inúmeras e não se tenha na
literatura um consenso acerca de tal definição, pode-se deliberar, com base na visão de Le
Boterf (2003), Zarifian (2001), Durand (1999) e outros autores, que competências sejam um
produto complexo do conhecimento, habilidades e atitudes dos indivíduos e que perpassam
seus efeitos para o âmbito organizacional.
A análise do tema competências, possui duas vertentes principais de estudo: a) as
competências do indivíduo e b) as competências da organização.
No nível do indivíduo, destacam-se duas escolas de pensamento, a americana e a
francesa, segundo Ruas et al. (2005).
A escola americana, para Ruas et al. (2005) tem uma concepção comportamentalista
com foco nos atributos fundamentais que permitem aos indivíduos alcançarem um
desempenho superior, enquanto a escola francesa tem uma concepção construtivista com
ênfase na vinculação entre trabalho e educação, indicando as competências como uma
resultante de processos sistemáticos de aprendizagem.
48
Os estudos da escola americana iniciaram-se, de acordo com Boyatzis e Mckee
(2006), no início da década de 70, e visavam associar características comportamentais
semelhantes à pessoas com desempenhos profissionais considerados positivos ou negativos.
Ou ainda, visando determinar eventuais característica que os gerentes necessitavam para
produzirem resultados desejados. Na linha da escola americana a competência, segundo
Boyatzis e Mckee (2006), é uma característica subjacente de uma pessoa que pode ser um
motivo, traço, habilidade, aspecto da auto-imagem ou papel social, ou um corpo de
conhecimento que ela usa.
Já a linha francesa de pensamento adota uma posição construtivista através de
autores como Le Boterf (2003) que entende que as competências podem ser formadas com
base em três elementos, a saber: a formação profissional, as características pessoais e a
experiência profissional. Esta três dimensões se misturam, segundo o autor para produzirem a
capacidade do indivíduo para mobilizar os recursos necessários. Outros autores, como Durand
(1999) e Zarifian (2001) também atribuem ao indivíduo a virtude da ação efetiva como forma
de encadear as dimensões que compõe as competências, assumindo responsabilidades e
articulando recursos e pessoas com vistas ao desempenho das atividades.
Quanto às competências organizacionais, segundo Grant (2002), alguns autores têm
tratado do tema sem a devida profundidade na análise. Para ele, o interessante é justamente a
comparação das competências da organização com a de seus competidores como fonte de
averiguação de certa vantagem competitiva e não apenas a descrição das competências em si.
Grant (2002) propõe ainda uma forma de classificação das competências organizacionais com
base em: 1) Análise funcional da estrutura de atividades da empresa; e 2) Análise da cadeia
de valor da organização uma visão desde a P&D até o atendimento pós-venda, distinguindo-
se as atividades primárias e as atividades de suporte.
As competências organizacionais também são alvo do trabalho de Hamel e Prahalad
(1995) quando definem a terminologia competência essencial (core competence), mostrando
que as empresas bem sucedidas e extremamente competitivas, eram mais que portfólios de
negócios, eram portfólios de competências. O tema central da obra de Hamel e Prahalad
(1995) está no argumento de que a vantagem competitiva será da organização que souber
articular melhor as competências chave.
Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), salientam o fato de que as competências essenciais
refletem a personalidade de uma organização, por isso, desde que bem identificadas e
desenvolvidas, conduzem à vantagem competitiva e são de difícil imitação.
49
A identificação e o desenvolvimento das competências essenciais pode ser feita, na
visão de Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), com base em dois instrumentos: primeiramente
comparando-se uma capacidade com os quatro critérios específicos que caracterizam as
competências essenciais, tais como descritas por Hamel e Prahalad (1995); e em segundo
lugar analisando-se a cadeia de valor da empresa, com vistas a selecionar as competências que
efetivamente criam valor. De acordo com Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), nem toda
capacidade tem potencial para ser uma competência essencial, apenas aquelas que respondem
aos critérios descritos acima. (Figura 10).
Figura 10: A Competência Essencial como Capacidade Estratégica
Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson (2005)
As capacidades não-estratégicas podem ser listadas, segundo Hitt, Ireland e
Hoskisson (2005), como valiosas e raras, porém imitáveis, o que significa dizer que
produzirão vantagem apenas por um certo período de tempo. Mais adiante, no tópico 2.2.3,
serão expostos os motivos da escola austríaca e sua visão sobre rendas schumpeterianas
baseadas em inovações e empreendedorismo que complementam esta abordagem.
A análise da cadeia de valor, para Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), emerge como
outro instrumento de avaliação de uma competência essencial, integrada ao contexto do
processo produtivo. Nesta condição o objetivo da análise da cadeia de valor é definir áreas nas
quais as organizações possam gerar valor efetivo através de seus processos, desenvolve-las e,
desta forma, obter vantagem competitiva.
50
2.2.2.4 Processos organizacionais
Pode-se deliberar que os produtos ou serviços produzidos por uma organização sejam
derivados, ou foram constituídos por processos organizacionais. Segundo Pamponet (2009),
acredita-se que as melhores definições para processos organizacionais sejam: 1) uma série de
tarefas ou etapas que recebem insumos (materiais, informações, pessoas, máquinas, métodos)
e geram produtos (produto físico, informação, serviço), usados para fins específicos, por seu
receptor; 2) uma introdução de insumos (entradas) num ambiente, formado por
procedimentos, normas e regras, que, ao processarem os insumos, transformam-nos em
resultados que serão enviados (saídas) aos clientes do processo; e 3) uma seqüência de tarefas
e atividades utilizadas na entrada (input), que agrega determinado valor e gera uma saída
(output) para um cliente específico interno ou externo, utilizando os recursos da organização
para gerar resultados concretos.
O autor oferece ainda uma visão acerca dos diferentes enfoques sobre os tipos e
classificações de processos, sendo que os principais são:
Processos primários ou de negócio: Os processos primários incluem as
atividades que geram valor para o cliente. Podem ainda ser entendidos como
aqueles que caracterizam a atuação da empresa e que são suportados por
outros internos, resultando no produto ou serviço que é recebido por um
cliente externo. Como exemplo tem-se os processos de: produção, venda,
recebimento e atendimento de pedido (cliente).
Processos de suporte ou apoio: Os processos de suporte são os conjuntos
de atividades que garantem o apoio necessário ao funcionamento adequado
dos processos primários. Como exemplo tem-se os processos de: folha de
pagamento, call center, recebimento e atendimento de pedido (fornecedor de
material).
Processos gerenciais: Processos gerenciais são aqueles focalizados nos
gerentes e nas suas relações e incluem as ações de medição e ajuste do
desempenho da organização. Neste tipo de processos, incluem as ações que
os gerentes devem realizar para dar suporte aos demais processos de negócio
(GONÇALVES, 2000 apud PAMPONET, 2009).
Outro conceito abordado na literatura diz respeito à hierarquia de processos em
termos de seu grau de abrangência na organização. De acordo com esta concepção, Pamponet
(2009) cita: 1) Macroprocesso: é um processo que geralmente envolve mais de uma função da
organização, cuja operação tem impactos significativos nas demais funções. Dependendo da
complexidade, o processo é dividido em subprocessos; 2) Subprocessos: divisões do
51
macroprocesso com objetivos específicos, organizadas seguindo linhas funcionais. Os
subprocessos recebem entradas e geram suas saídas em um único departamento; e 3)
Atividades: os subprocessos podem ser divididos nas diversas atividades que os compõem, e
em um nível mais detalhado de tarefas.
De acordo com sua percepção, Bossidy e Charan (2005) descrevem três processos-
chave para a condução das atividades organizacionais com vistas à integração entre estratégia
e operações. Estes processos seriam: 1) o processo de pessoal, 2) o processo de estratégia e, 3)
o processo de operações.
O processo de pessoal, segundo Bossidy e Charan (2005), tem em seu escopo a
finalidade de avaliar as pessoas, de fornecer bases para identificar e desenvolver talentos em
termos de liderança e garantir o mecanismo de sucessão dos profissionais ao longo do tempo.
O processo de estratégia tem como delineamento as funções de produzir as
estratégias e propiciar os meios para sua execução, d acordo com a argumentação de Bossidy
e Charan (2005).
O terceiro processo-chave na interpretação de Bossidy e Charan (2005) é o processo
de operações que, materializado no plano de operacional teria a finalidade de tornar real o
plano estratégico gerado por meio do processo de estratégia. “O plano operacional especifica
como as várias partes do negócio serão sincronizadas para atingir as metas, trata dos trade-
offs que precisarão ser feitos e das contingências para as coisas que podem dar errado ou
ofereçam oportunidades inesperadas” (BOSSIDY e CHARAN, 2005, p.215).
Bossidy e Charan (2005) salientam que em algumas organizações os processos
operacionais estão intrinsecamente relacionados aos processos orçamentários, ou a eles
subordinados, o que se constitui um erro, na sua avaliação. O processo operacional precisa
refletir as necessidades da empresa em termos de eficiência e eficácia, sobretudo para atender
aos consumidores. Concebido para atender ao orçamento, o processo operacional desvia-se de
sua finalidade primeira de geração de valor, como foi visto no tópico anterior pela visão de
Hitt, Ireland e Hoskisson (2005).
A análise e controle de processos, segundo Riggs (1976), pode permitir às
organizações manterem seus fluxos produtivos operando em níveis desejáveis, assim como
atuam como fator de correção e adaptação nos casos onde haja a detecção de anomalias ou
inconsistências. A análise dos processos organizacionais vai alem de uma questão meramente
fabril, mas estende-se por todos os setores da organização e, em última análise proporciona o
direcionamento de como a empresa executa suas atividades.
52
Para Pamponet (2009), a necessidade da visão sistêmica nas organizações,
impulsionou naturalmente à entender a empresa como um conjunto de processos inter-
relacionados e inter-dependentes, levando a administração à desvincular o foco que detinha no
trabalho, departamento ou funções para o foco no gerenciamento dos processos de trabalho.
2.2.3 Análise ambiental integrada
Uma percepção que ronda os assuntos relativos à análise ambiental quando
associada ao contexto da formulação estratégica, dentro de um escopo orientado para a
competitividade, diz respeito à influencia exercida pelos ambientes externo e interno.
Diferentes correntes de pensamento apontam, uma para a primazia do ambiente externo como
agente fundamental de influencia da estratégia, e outra para o ambiente interno como decisivo
no processo de geração de diretrizes estratégicas. Ruas et al. (2005) apresentam sua visão
acerca dos paradigmas outside-in e inside-out como pontos de referência da teoria da
estratégia. Segundo Ruas et al. (2005) a Teoria da Organização Industrial como expoente do
paradigma outside-in tem como principal autor Michael Porter, sobretudo por Competitive
Strategy, de 1980. Esta vertente teórica explica a aquisição de vantagem competitiva através
da análise priorizada do contexto externo como fonte de orientação das ações estratégicas.
Segundo a Teoria da Organização Industrial “a vantagem competitiva é percebida como um
resultado exógeno à organização, sendo uma questão de posicionamento” (RUAS et al., 2005,
p.59).
o paradigma inside-out, na visão de Ruas et al. (2005) assume que as variáveis
internas à organização devam orientar a ação dos gestores. A Teoria Baseada em Recursos
para Ruas et al. (2005), define a diretriz deste paradigma e busca denotar a importância das
capacidades organizacionais como fonte de vantagem competitiva. Conforme demonstra
Grant (2002) a noção de que os recursos e capacidades apresentam-se como importantes
instrumentos de suporte à formulação estratégica não é exatamente nova. Durante os anos 90
emergiu o conceito de visão da empresa baseada em recursos. Quando chama atenção para a
visão baseada em recursos, Grant (2002) salienta que uma organização é um conjunto de
recursos e capacidades e eles constituem fatores determinantes da estratégia. Fleury e Oliveira
Jr. (2001) argumentam que à luz da visão baseada em recursos, a organização se caracteriza
como sendo um conjunto de recursos, habilidades e competências que oferecem alternativas
para a formulação estratégica.
53
Vasconcelos e Cyrino (2000) apresentam o modelo de capacidades dinâmicas,
baseado na inovação e em reconfigurações contínuas com vistas à dinâmica de mercado.
Segundo os autores, esta teoria elabora as idéias colocadas nas teorias de processos de
mercado (paradigma outside-in) e teoria dos recursos (paradigma inside-out), compondo
contexto organizacional para atuação em ambientes de alta complexidade e mudança
constante.
2.3 Correntes Teóricas Acerca da Vantagem Competitiva
Neste tópico serão expostas quatro escolas teóricas que propõe, cada qual dentro de
seu entendimento, visões sobre a origem da geração de vantagem competitiva pelas
organizações. Estes modelos teóricos seguem a diretriz conceitual demonstrada por
Vasconcelos e Cyrino (2000).
Quadro 5: As correntes explicativas da vantagem competitiva
Fonte: Vasconcelos e Cyrino (2000)
Entende-se que como forma de desenvolvimento das percepções que originam este
trabalho as correntes da teoria dos recursos e teoria das capacidades dinâmicas são as que
mais interessam e, assim sendo, serão aprofundadas nas discussões que seguem.
Com vistas a expor uma razão para a busca de uma vantagem competitiva,
Henderson (apud Montgomery e Porter, 1998) faz uso do princípio biológico de Gause da
Exclusão Competitiva, segundo o qual duas espécies que conseguem seu sustento de maneira
idêntica não podem coexistir.
54
Henderson (apud Montgomery e Porter, 1998) demonstra que quanto mais rico o
ambiente, maiores as possibilidades de uma espécie obter uma vantagem competitiva que lhe
garanta o sustento, muito embora quanto mais rico este ambiente maior número de
competidores atraia. A vantagem competitiva seria desta forma, produto complexo das
características particulares de um indivíduo ou organização e das múltiplas possibilidades de
inter-relacionamento com outros indivíduos e com o meio-ambiente visando garantir
melhores suprimentos de recursos que os concorrentes.
A dinâmica de mercado provocada pelas movimentações das organizações em busca
de vantagem competitiva produz a competição estratégica, que tem como elementos básicos:
(1) capacidade de compreender o comportamento competitivo como um
sistema no qual competidores, clientes, dinheiro, pessoas e recursos interagem
continuamente; (2) capacidade de usar esta compreensão para predizer como
um dado movimento estratégico vai alterar o equilíbrio competitivo; (3)
recursos que possam ser permanentemente investidos em novos usos mesmo
se os benefícios conseqüentes apareçam a longo prazo; (4) capacidade de
prever riscos e lucros com exatidão e certeza suficientes para justificar o
investimento correspondente; (5) disposição de agir. (HENDERSON apud
MONTGOMERY e PORTER, 1998, p. 7)
No que tange a concepção da origem da vantagem competitiva, Vasconcelos e
Cyrino (2000) apontam, na literatura, duas dimensões, a primeira define os atributos do
posicionamento e da dinâmica competitiva externa à organização, tem associação com o
paradigma outside-in, como visto em Ruas el al. (2005). A segunda dimensão entende que a
vantagem competitiva se origina como conseqüência dos fatores internos e sua articulação
com vistas à eficiência operacional, visão esta correspondente às premissas do paradigma
inside-out, conforme Ruas el al. (2005).
A vantagem competitiva ainda pode ser ilustrada com base na literatura, segundo
Vasconcelos e Cyrino (2000) sob a ótica de suas premissas sobre a concorrência. Variando de
uma posição mais estrutural e estática de alguns autores, fundamentada na noção de equilíbrio
econômico, a visões dinâmicas e mutáveis, baseada em inovação, descontinuidade e
desequilíbrio, observada em outras correntes acadêmicas.
Vasconcelos e Cyrino (2000) buscam um formato de demonstração destas nuances
acerca das tentativas teóricas de explicação da vantagem competitiva e posicionam seu estudo
em quatro linhas de análise: (1) Análise estrutural da indústria, baseada no modelo SCP
(Structure-Conduct-Performance) de análise que tem no trabalho de Porter o principal
referencial, levando em consideração a estrutura da indústria como parâmetro de abordagem
55
da obtenção da vantagem competitiva (paradigma outside-in e concorrência estática); (2)
Recursos e Competências, postulado teórico que tem como referencial a Visão da Empresa
Baseada em Recursos e preconiza, em sua forma teórica mais básica, certa estabilidade e
equilíbrio ambiental, explicando a vantagem como atributo dos fatores internos (paradigma
inside-out e concorrência estática); (3) Processos de mercado, concentra-se na dinâmica da
empresa, dos mercados e da concorrência, enfatizando mais os processos de mudança e
inovação do que as estruturas das indústrias (paradigma outside-in ut e concorrência
dinâmica); (4) Capacidades dinâmicas, tem como premissa a convergência das visões de
processos de mercado e teoria dos recursos e competências, atribuindo a vantagem
competitiva a um produto complexo de fatores internos e externos. Baseia-se fortemente na
inovação e nas reconfigurações de recursos como forma de garantir, não apenas a
sobrevivência, mas a performance superior das organizações (paradigma inside-out e
concorrência dinâmica).
O modelo das Capacidades Dinâmicas abordado Vasconcelos e Cyrino (2000)
encontra similaridades com a Teoria da Competição Baseada em Competências vista em Ruas
et al. (2005), uma vez que ambas preconizam a perspectiva integradora das fontes internas e
externas de vantagem competitiva. Além disso, estas abordagens têm em comum a visão de
mudança e adaptação estratégica através da configuração e reconfiguração de recursos,
competências e processos. Desta forma, este mecanismo agiria como catalisador do processo
de mudança para uma rápida recombinação de elementos, melhor atendimento das
necessidades de mercado e, por conseguinte, de potencialização da vantagem competitiva.
A velocidade de mudança e adequação é enfatizada por Stalk (apud Montgomery e
Porter, 1998), quando argumenta ser o tempo a vantagem-chave. Segundo o autor, os
concorrentes mais bem sucedidos são aqueles que percebem a dinâmica de mercado e
movimentam-se com agilidade para manterem-se à frente.
2.3.1 Análise estrutural da indústria
A teoria da organização industrial, de acordo com Vasconcelos e Cyrino (2000) é
originária dos trabalhos de autores como Edward Mason e Joe Bain, que desenvolveram uma
vasta pesquisa visando determinar os impactos dos monopólios e oligopólios no mercado
onde estão inseridos. A unidade de análise da pesquisa, portanto, estava na indústria como um
todo e não na firma individual, ainda na visão de Vasconcelos e Cyrino (2000). Seus estudos
56
denotaram uma relação de causalidade entre estrutura, comportamento e performance (modelo
SCP ou Structure Conduct Performance).
De acordo com esta tendência, a performance das firmas em uma indústria
particular depende do comportamento (estratégia) de compradores e
vendedores no tocante à fixação de preços, níveis de cooperação tácita e
competição, políticas de pesquisa e desenvolvimento, publicidade,
investimento, etc. O comportamento das firmas é, por sua vez, definido pela
estrutura da indústria em questão, caracterizada pelo número e pelo
tamanho relativo dos concorrentes, compradores e vendedores, pelo grau de
diferenciação dos produtos, pela existência de barreiras de entrada de novas
firmas, pelo grau de integração vertical existente, etc. (VASCONCELOS E
CYRINO, 2000, p. 23)
Michael Porter, um dos principais difusores do modelo de análise da estrutura da
indústria, segundo Vasconcelos e Cyrino (2000), utilizou o conhecimento gerado por Mason e
Bain, mas não em uma perspectiva de regulamentação governamental, mas visando
estabelecer o mecanismo de competitividade e geração de vantagem competitiva em mercados
particulares.
Vantagem Competitiva, na visão de Porter (1989), é o valor que uma empresa
consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de fabricação pela empresa.
Por valor, Porter (1989) entende ser aquilo que os compradores estão dispostos a pagar pelo
que é oferecido pela empresa, analisando comparativamente preço e benefícios inerentes.
Decorre desta idéia a noção de que benefícios singulares podem gerar a percepção de maior
valor e, portanto, suportar preços mais elevados.
O conjunto teórico proposto por Porter (1986) descreve ainda de que forma a
estratégia competitiva pode ser influenciada pelas denominadas forças competitivas,
identificadas como sendo: 1) Ameaça de novos entrantes; 2) Intensidade da rivalidade entre os
concorrentes existentes; 3) Pressão dos produtos substitutos; 4) Poder de negociação dos
compradores; 5) Poder de negociação dos fornecedores.
Em Porter (1989) as atividades da empresa são analisadas de acordo com seu
potencial de contribuição para geração de vantagem competitiva (princípios da vantagem
competitiva) em termos de custos e diferenciação, levando em consideração, portanto,
aspectos referentes à organização interna dos fatores produtivos e elementos externos
agregadores de valor. O primeiro princípio defendido por Porter (1989) é a cadeia de valores
genérica (Figura 11).
57
Figura 11: A cadeia de valores genérica
Fonte: Porter (1989)
Para Porter (1989) existem dois tipos básicos de vantagem competitiva: liderança de
custos e diferenciação, das quais decorrem, na percepção do autor, um conjunto de estratégias
genéricas para obtenção de vantagem frente à concorrência. Como liderança de custo, Porter
(1989) sugere que uma organização torne-se o produtor de baixo custo em sua indústria,
através de ganhos de escala, patentes tecnológicas, acesso preferencial a matérias-primas e
outros fatores correlatos. Como decorrência da produção a baixo custo, Porter (1989) segue o
raciocínio argumentando que, ao praticar preços perto ou abaixo da média do mercado para
sua indústria, atrairá mais compradores, potencializando sua vantagem através, tanto de maior
volume de vendas, quanto de maiores margens em relação aos competidores.
Como estratégia genérica de diferenciação, Porter (1989) entende que uma
organização possa entender os fatores importantes para os compradores de uma indústria,
selecionar um ou mais destes elementos e buscar satisfazer estas necessidades. Desta forma,
segundo o autor, obterá vantagem competitiva através do que convenciona chamar de “preço-
prêmio”.
Porter (1986) ainda aponta uma terceira estratégia genérica denominada enfoque.
Segundo o autor, esta estratégia consiste em enfocar um determinado grupo comprador, um
segmento da linha de produtos, ou um mercado geográfico; como na diferenciação, o enfoque
pode assumir diversas formas (PORTER, 1986, p.52). A Figura 12 mostra a conceituação de
Porter (1986) e (1989) para as estratégias genéricas promotoras de vantagem competitiva.
58
Figura 12: Três estratégias genéricas
Fonte: Porter (1986)
Vasconcelos e Cyrino (2000) entendem que as definições de Porter acerca da
vantagem competitiva o típicas do modelo da nova organização industrial”, sobretudo por
dois fatores: primeiramente, Porter utiliza o mesmo parâmetro de análise, a indústria; e em
segundo lugar baseia-se na idéia de casualidade do modelo SCP. “Ainda que outros elementos
sejam ocasionalmente considerados, o posicionamento da firma dentro da estrutura industrial
é o principal determinante de seu sucesso ou fracasso no cenário competitivo. (PORTER,
1980 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 24).
Na medida em que o trabalho de Porter foi se desenvolvendo, segundo Vasconcelos
e Cyrino (2000), incorporou outras idéias para explicação da vantagem competitiva, por
exemplo, os conceitos de atividades e fatores determinantes. Vasconcelos e Cyrino (2000)
entendem que, na perspectiva de Porter, o conceito de atividades para a análise da indústria é
passa a ser primordial, pois:
A vantagem competitiva é, assim, o resultado da capacidade da firma de
realizar eficientemente o conjunto de atividades necessárias para obter um
custo mais baixo que o dos concorrentes ou de organizar essas atividades de
uma forma única, capaz de gerar valor diferenciado para os compradores.
(VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 24).
Como fatores determinantes da vantagem competitiva, segundo Vasconcelos e
Cyrino (2000), Porter evidencia apenas dois: as condições iniciais e as escolhas dos
dirigentes. Por condições iniciais, descreve-se os ativos acumulados por uma empresa no
decorrer do tempo, geralmente, para Vasconcelos e Cyrino (2000), derivados de sua relação
com o ambiente externo imediato (ambiente transacional). As escolhas dos dirigentes seriam
as decisões tomadas visando proteger as posições das firmas dentro da indústria.
59
Na construção de sua teoria, Porter determina, segundo Vasconcelos e Cyrino
(2000), que neste modelo, a estratégia tem por objetivo proteger a firma da ação dos
competidores, ou das forças competitivas, dado o posicionamento adotado dentro da indústria
em questão. Vasconcelos e Cyrino (2000) enfatizam que para os pesquisadores do modelo da
organização industrial, as indústrias mais atraentes são aquelas onde existe a tendência aos
monopólios e oligopólios.
A noção de estratégia é, assim, fortemente orientada em direção à noção de
adaptação (fit). Em primeiro lugar, a noção de adaptação externa
implícita na lógica do posicionamento da firma na indústria. É a partir da
análise objetiva de seu ambiente que a firma será capaz de identificar a
posição mais favorável. A escolha da estratégia correta permitirá à firma
adaptar-se à estrutura da indústria. Em segundo lugar, a estratégia deve ser
internamente coerente, adaptando os elementos internos da firma à sua
posição na indústria. As atividades da firma devem, dessa maneira, ser
configuradas de maneira coerente, cada uma dando suporte e
complementando a outra. É essa sinergia e coerência interna que tornam
possível a execução de uma estratégia bem-sucedida (PORTER, 1980 apud
VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 24)
A crítica que Vasconcelos e Cyrino (2000) fazem ao modelo da análise da indústria
diz respeito à redução das diferenças entre as firmas a aspectos como tamanho e
posicionamento, desconsiderando os elementos intra-organizacionais como potenciais
geradores de condições competitivas. “A estratégia é, nessa perspectiva, uma escolha de
otimização entre tipos gerais de combinações entre produtos e mercados (liderança de custos,
diferenciação e focalização)” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 25).
2.3.2 Teoria dos recursos
Se a teoria da Análise Estrutural da Indústria pode ser considerada como
representação extrema do paradigma outside-in, a Teoria dos Recursos figura no extremo
oposto, no paradigma inside-out. Ou seja, os teóricos desta corrente entendem a organização
como “feixes de recursos” (WERNERFELT, 1984 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000,
p. 25) ou como conjuntos de competências e capacidades, de acordo com Hamel e Prahalad
(1995), e, portanto, tendo no ambiente interno a origem da vantagem competitiva.
Hogarth e Michaud (1991 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000) apontam
quatro fontes de vantagem competitiva baseadas apenas nos recursos organizacionais:
60
a) O acesso privilegiado a recursos únicos, em que as rendas o derivadas
da propriedade ou do acesso a recursos raros e valiosos. Concessões,
patentes ou localizações geográficas privilegiadas são exemplos de recursos
desse tipo. Nesse caso, as rendas derivam diretamente dos direitos de
propriedade ou do acesso aos recursos. É o caso das rendas ricardianas por
excelência.
b) A capacidade de transformação dos fatores de produção em produtos
vendáveis no mercado. Nesse caso, a vantagem competitiva deriva de
capacidades ou processos distintivos acumulados no decorrer do tempo. A
vantagem competitiva se exprime na capacidade de empregar métodos
operacionais mais eficientes que os empregados pelas firmas concorrentes.
No entanto, esses recursos e essas capacidades o fixos, e a firma não é
capaz de modificá-los, embora a vantagem competitiva derive deles.
c) A alavancagem de recursos e capacidades. Nesse estágio, a firma é capaz
de agir deliberadamente para renovar seu estoque de recursos e
competências, aperfeiçoando e recombinando os recursos existentes com o
objetivo de criar novos produtos e mercados.
d) A regeneração de recursos e capacidades. Nesse último estágio, as firmas
devem ser capazes de criar um fluxo contínuo de inovações graças ao
desenvolvimento de competências de ordem superior, ligadas à própria
capacidade de gerar novas competências e recursos. Trata-se, nesse caso, de
construir um sistema capaz de gerar uma série continuada de inovações a
partir da reconfiguração repetida da base de recursos da firma.
(VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p.32)
Grant (2002) salienta a negligência dos fatores internos por alguns estrategistas,
sobretudo durante a década de 80, cujo foco principal estava na analise das forças externas e
no cenário competitivo. A partir dos anos 90 a estratégia baseada nos recursos começa a
florescer. A idéia central da visão baseada nos recursos, segundo Grant (2002), é a de que a
empresa é composta por recursos e competências e estes fatores devem ter um grande peso na
formulação da estratégia.
No trabalho de Vasconcelos e Cyrino (2000) pode-se visualizar que o início da
formatação da Teoria dos Recursos teve a participação de autores e pesquisadores como
Wernerfelt em obra de 1984, e Selznick com estudos intensos sobre a construção de recursos
específicos, dadas as escolhas estratégicas realizadas pelas organizações. No campo da
economia, Vasconcelos e Cyrino (2000) destacam os trabalhos impactantes de Penrose que se
contrapunha às idéia neo-clássicas de que a geração de valor seria atributo exclusivo dos
fatores de produção. Para Penrose, “a firma se definia como uma entidade administrativa e um
conjunto de recursos, e não como uma função abstrata de transformação de insumos em
produtos” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 26).
Deriva desta idéia a noção de que as diferenças na propriedade de determinados
recursos entre as organizações, ou de heterogeneidade entre as firmas, é a fonte de geração da
vantagem competitiva. Esta noção é acentuada pelo postulado teórico da “escola de design
61
estratégico” (ANDREWS, 1980 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 26). Segundo
estes estudos o modelo de análise SWOT (forças e fraquezas, oportunidades e ameaças), onde
forças e fraquezas são avaliadas no ambiente interno e constituem-se nas potencialidades
competitivas particulares de uma organização, e oportunidades e ameaças provêm do
ambiente externo e significam as potencialidade e restrições das forças do mercado.
De acordo com Vasconcelos e Cyrino (2000) os autores que se identificam com a
teoria dos recursos se concentram sobre os fatores e mecanismos que impedem a imitação de
recursos específicos à firma. Ao passo que, para os autores que se identificam com a
economia industrial, as barreiras de entrada e saída (barreiras à mobilidade) são os principais
elementos para explicar a diferença de performance entre as firmas.
A teoria dos recursos, em sua forma atual, fundamenta-se em duas
generalizações empíricas e dois postulados.
As duas generalizações empíricas são:
a) Há diferenças sistemáticas entre as firmas no tocante à forma com que
elas controlam os recursos necessários à implementação de suas estratégias.
b) Essas diferenças são relativamente estáveis.
Os postulados são:
a) As diferença nas dotações de recursos causam diferenças de
performance.
b) As firmas procuram constantemente melhorar sua performance
econômica. (FOSS, 1997 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 26)
Antônio (2001) defende que a geração de vantagem competitiva através da teoria
dos recursos tende a se aproximar da teoria econômica. O autor busca referência na teoria
econômica clássica para definir dois tipos de rendas provenientes de recursos, sendo: 1)
Rendas Ricardianas: provocadas pela exploração de recursos escassos e; 2) Rendas
Schumpeterianas: provenientes de inovações imitáveis, que incorrem enquanto os
concorrentes não utilizam os mesmos recursos. Para Antônio (2001) a teoria dos recursos se
baseia essencialmente nas rendas schumpeterianas, contrariando em parte a visão descrita por
Vasconcelos e Cyrino (2000), sobretudo se levada em consideração a inserção das
competências essenciais, de difícil imitação, no contexto da teoria dos recursos.
Segundo Vasconcelos e Cyrino (2000) contrapõem a visão baseada na teoria
econômica clássica pelo fato de a teoria dos recursos se pautar na heterogeneidade entre as
organizações, heterogeneidade esta estável ao longo do tempo em detrimento da tendência
neoclássica em preconizar a anulação das diferenças ao longo do tempo. Por conseguinte, na
argumentação de Vasconcelos e Cyrino (2000), a vantagem competitiva com base na
heterogeneidade é fruto da diferença de performance econômica, sendo que algumas
62
organizações podem apresentar ganhos acima da média dos mercados, o que contaria a lei de
eficiência dos mercados da economia clássica. Além disso, a noção de heterogeneidade e de
imperfeição dos mercados de recursos faz com que a os ganhos excepcionais proporcionados
pela teoria os recursos advenham das rendas ricardianas em detrimento das schumpeterianas,
contrariando a argumentação de Antônio (2001).
Tal condição se daria, segundo Vasconcelos e Cyrino (2000) pela dificuldade, ou
impossibilidade em certos casos, da transferência dos recursos responsáveis pelos ganhos
acima da média entre as organizações. “A mobilidade perfeita dos recursos eliminaria as
rendas excepcionais, pois estas seriam incorporadas no sistema de equilíbrio geral de preços
por meio do mercado de fatores” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 28).
Se os preços esperados dos recursos estratégicos são homogêneos e
conhecidos (como suposto pela teoria microeconômica e neoclássica) e se
esses recursos podem ser transferidos de uma firma a outra, então, eles
seriam avaliados como um fator de produção da mesma forma que os outros
insumos, e a rentabilidade média do conjunto capital/recursos tenderia a se
igualar a média de mercado. A existência de mercados imperfeitos de
recursos é, assim, uma condição necessária para a existência da vantagem
competitiva (BARNEY, 1986 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p.
29).
Lipparini, Cazzola e Pistarelli (2000) concordam com a relevância estratégica de
uma combinação original e de difícil imitação do conjunto de recursos dominados pelas
empresas e com o desenvolvimento do set destes recursos através de processos de
aprendizagem. Mais que isso, a utilização da teoria dos recursos “reconduz a obtenção da
receita à estrutura dos assets da empresa e a vantagem competitiva a processos de acumulação
e utilização de recursos” (LIPPARINI, CAZZOLA e PISTARELLI, 2000, P.17).
Segundo Grant (2002), a real aplicabilidade da avaliação de recursos e competências
está no potencial estimado de converter tal análise em força motriz de ações geradoras de
retorno financeiro. Este potencial pode ser traduzido como a habilidade da organização de
orientar seus recursos e capacidades identificadas a fim de obter vantagem competitiva; sua
sustentabilidade baseada na durabilidade da exploração daqueles recursos, a potencialidade ou
não de transferência inter-organizacional dos recursos e competências, bem como a
possibilidade de imitação pelos demais players.
Outra constatação apresentada por Grant (2002) é a de que de fato, uma tênue
linha entre a aquisição de um recurso ou capacidade por uma empresa e a geração de ganhos
através de vantagem competitiva efetivos para esta organização.
63
Como forma de auxiliar a conversão de recursos e competências em resultado
efetivo, Grant propõe o que chama de guia prático para tal tarefa. Os passos descritos por ele
são: 1) Identificar os recursos e competências chaves; 2) Promover uma análise destes
recursos e competências à luz de sua importância e do estabelecimento de comparação entre
os recursos e competências identificados com os dos demais atores do mercado com intuito de
denotar as forças e fraquezas da empresa; e 3) Desenvolver estratégias de ação explorando as
forças e gerenciando as fraquezas.
Desenvolver as competências necessárias pode ser feito, para Grant, de cinco
maneiras: 1) Desenvolvendo os recursos humanos; 2) Fusões e aquisições, no caso de
competências que normalmente possuem uma curva de aprendizado muito longa; 3) Alianças
estratégicas, quando se necessita buscar uma determinada competência de forma temporária
ou sem a necessidade de assumir o alto custo de uma aquisição; 4) Incubando competências,
suscitando uma nova capacidade de forma gradual, possivelmente em uma unidade da
organização; e 5) Através do desenvolvimento de produtos, aproveitando o esforço para
viabilizar as competências necessárias à criação de uma nova linha de produção.
Vasconcelos e Cyrino (2000) chamam a atenção para um potencial limite à
empregabilidade da teoria dos recursos, quando ao se enfatizar sobremaneira o contexto
interno, descartar o papel fundamental que pode ser atribuído às condições ambientais como
geradoras de importantes insumos à estratégia organizacional.
2.3.3 Processos de mercado
Outra escola de pensamento e pesquisa sobre vantagem competitiva surgiu na
Áustria a partir dos trabalhos de Carl Menger, Von Mises, Hayek, Kirzner e Schumpeter.
O conjunto de estudos que compõe a teoria dos processos de mercado, segundo
Vasconcelos e Cyrino (2000), atribui à dinâmica da empresa, dos mercados e da concorrência
a eclosão da vantagem competitiva, muito mais do que à estrutura da indústria ou arranjos de
recursos.
De acordo com Vasconcelos e Cyrino (2000), a teoria produzida pelos pesquisadores
austríacos pode ser dividida em quatro temas principais: a) os processos de mercado, b) o
papel do empreendedor, c) a heterogeneidade das firmas e, finalmente, d) um conjunto de
fatores não observáveis.
A partir da argumentação de Vasconcelos e Cyrino (2000), percebe-se que nesta
escola também se percebe uma forte oposição ao modelo econômico neoclássico, uma vez
64
que contrapõe a idéia do mercado como agente de equalização das diferenças entre as
organizações. Na concepção econômica tradicional, fenômenos econômicos que se afastam do
equilíbrio são tratados como eventos temporários e corrigíveis ao longo do tempo pelas
próprias ferramentas regulatórias do mercado, sobretudo o livre sistema de preços. As idéias
da teoria de processos de mercado, para Vasconcelos e Cyrino (2000), partem da constatação
de que discrepâncias ao modelo neoclássico são cada vez mais comuns, ao invés de eventos
isolados e, portanto, precisam de um conjunto teórico que lhes explique.
Para a escola austríaca, o mercado, longe de ser caracterizado pelo
equilíbrio, é um processo de descoberta interativa que mobiliza informações
divergentes e conhecimentos dispersos. As firmas obtêm lucro por meio da
descoberta de oportunidades e da mobilização pioneira de recursos operados
pelos empreendedores (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 30).
A inovação, com vistas às premissas desta teoria, tende a ser constante, motivada
pela perspectiva de ganhos acima da média dos mercados por parte dos empreendedores, o
que produziria, segundo Vasconcelos e Cyrino (2000), o desequilíbrio do mercado como
estado permanente, alimentado pela concorrência pautada da inovação imitação outras
inovações.
Para descrever os processos de mercado Vasconcelos e Cyrino (2000) utilizam o
modelo de Kirzner, que destaca quatro aspectos fundamentais:
a) Competição: é o que mantém os processos de mercado em detrimento da
concorrência perfeita idealizada pela economia neoclássica. A competição por
maiores lucros pelo oferecimento de melhores produtos e serviços provoca a
necessidade de inovações constantes.
b) Conhecimento e descoberta: onde o conhecimento é produzido pela
descoberta interativa com o mercado. Neste contexto, o empreendedor tem
papel fundamental de pesquisador de novas dinâmicas e oportunidades de
aplicação. O conhecimento gerado irá alimentar o processo competitivo.
c) Incentivos e recompensas: na economia neoclássica, o lucro é resultado da
otimização dos fatores de produção. na escola austríaca, o lucro provém da
descoberta de novas oportunidades e da criação de novas combinações dos
fatores de produção.
d) Os preços de mercado: Para a escola austríaca, os preços fornecem a razão de
valor das descobertas e inovações feitas pelos empreendedores de forma
65
pioneira. Produzem como efeito o surgimento de monopólios transitórios, ou
seja, causam uma relação de desequilíbrio no mercado em contraposição à
noção de preços como elementos de regulação e equilíbrio do mercado da
economia neoclássica.
Outra forte influência da teoria de processos de mercado, segundo Vasconcelos e
Cyrino (2000), é a de Schumpeter e de seus trabalhos sobre o empreendedorismo com suas
descobertas e inovações que desequilibram o mercado e proporcionam as chamadas rendas do
empreendedor, ou rendas schumpeterianas. Ao processo contínuo de inovações e renovações,
Schumpeter atribui o conceito de “destruição criadora”, de acordo com Vasconcelos e Cyrino
(2000). Além de promover a ascensão das rendas de empreendedor, esta dinâmica é
caracterizada por renovações nas estruturas organizacionais, processos produtivos e novos
produtos.
Como demonstram Vasconcelos e Cyrino (2000), muito embora os teóricos da
escola austríaca admitam que um dos papéis do empreendedor seja o de tentar imitar os
concorrentes, como parte da teoria dos processos, sinalizam ser muito difícil a imitação
idêntica e, portanto, dificilmente uma imitação irá proporcionar rendas acima da média como
os produtos originais. A dificuldade da imitação é fruto do que os estudiosos desta escola
chamam de fatores inobserváveis. “Esses fatores de natureza subjetiva seriam justamente
aqueles capazes de escapar à dinâmica da imitação do mercado, sendo, assim, responsáveis
pelo estabelecimento da vantagem competitiva” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 32).
Em sua pesquisa, Vasconcelos e Cyrino (2000) promovem uma comparação entre as
abordagens da análise da estrutura industrial e da escola austríaca quanto à performance
organizacional frente à dinâmica de mercado e definem que são a dinâmica competitiva e a
descoberta das inovações que influenciam os níveis de performance econômica. Com base na
escola austríaca “a estrutura da indústria deve ser vista como o resultado endógeno das
diferenças de performance das firmas no decorrer do tempo em vez de ser considerada um
fator determinante da performance destas últimas” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p.
32).
2.3.4 Teoria das capacidades dinâmicas
O conjunto teórico compreendido pela teoria das capacidades dinâmicas, de acordo
com Vasconcelos e Cyrino (2000), compila idéias vistas na teoria dos processos de mercado e
66
na teoria dos recursos. Isto porque os estudiosos desta corrente procuram demonstrar a Co-
evolução da dinâmica de mercado cada vez mais complexa e dos recursos e competências das
organizações. Outra verificação quanto às pretensões da teoria das capacidades dinâmicas
feita por Vasconcelos e Cyrino (2000), diz respeito ao estudo dos “mecanismos e processos
organizacionais capazes de explicar a acumulação e a configuração das bases de recursos das
firmas” (DIERICKX e COOL, 1989; TEECE et al., 1987; SANCHES e HEENE, 1986 apud
VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p.32).
Assim sendo, esta abordagem entende a organização como um conjunto de recursos
relacionados aos processos de mercado, ou seja, a conexão dinâmica entre recursos
empresariais e contexto ambiental. “Partindo da concepção geral da firma como um conjunto
de recursos, esse modelo procura estudar as relações entre os processos de decisão, as ações
empreendidas e suas conseqüências gerenciais, em termos de formação, conservação e
destruição de recursos” (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 32).
As fontes de vantagem competitiva provenientes deste compilado teórico são quatro,
segundo Hogarth e Michaud (1991 apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000), a saber:
a) O aceso privilegiado a recursos únicos, em que as rendas são derivadas
da propriedade ou do acesso a recursos raros e valiosos. Concessões,
patentes ou localizações geográficas privilegiadas são exemplos de
recursos deste tipo...É o caso das rendas ricardianas por excelência.
b) A capacidade de transformação dos fatores de produção em produtos
vendáveis no mercado. Nesse caso a vantagem competitiva deriva de
capacidades ou processos distintivos acumulados no decorrer do tempo.
A vantagem competitiva se exprime na capacidade de entregar métodos
operacionais mais eficientes que os empregados pelas firmas
concorrentes. No entanto, esses recursos e essas capacidades são fixos,
e a firma não é capaz de modificá-los, embora a vantagem competitiva
derive deles.
c) A alavancagem de recursos e capacidades. Nesse estágio, a firma é
capaz de agir deliberadamente para renovar seu estoque de recursos e
competências, aperfeiçoando e recombinando os recursos existentes
com o objetivo de criar novos produtos e mercados.
d) A regeneração de recursos e capacidades. Nesse último estágio, as
firmas devem ser capaz de criar um fluxo contínuo de inovações graças
ao desenvolvimento de competências de ordem superior, ligadas à
própria capacidade de gerar novas competências e recursos. Trata-se,
nesse caso, de construir um sistema capaz de gerar uma rie
continuada de inovações a partir da reconfiguração repetida da base de
recursos da firma. (VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 33).
Comparativamente à teoria dos recursos, onde os recursos e as capacidades das
organizações são vistos como variáveis de estoque, com características mais ou menos
estáticas, Vasconcelos e Cyrino (2000) salientam que na visão da teoria das capacidades
67
dinâmicas o que importa é a potencialidade de acumulação e reconfigurações destes recursos
como forma de obtenção de rendas adicionais.
Vasconcelos e Cyrino (2000) constatam que a condição de configuração dos
recursos e competências é uma derivação do mecanismo de decisões e, sobretudo, dos
processos organizacionais que levam à ações e à produção de ativos, tangíveis e intangíveis.
Segundo os autores, esses processos organizacionais cumprem três funções básicas: a) de
coordenação/integração, com vistas a gerenciar o uso interno e externo dos recursos, b) de
aprendizagem, visando a utilização mais eficaz dos recursos devido à experimentação e
especialização e, c) de reconfiguração, voltada à continuidade de performances superiores
pela antecipação das necessidade de competências e recursos futuros e seu desenvolvimento
proativo.
Este enfoque nos processos organizacionais, de acordo com Vasconcelos e Cyrino
(2000) possibilita à teoria das capacidades dinâmicas construir uma representação da mais
flexível da realidade estratégica em relação às teorias ligadas a economia neoclássica.
Outra percepção que surge do estudo desta linha de pensamento é a de que a
concorrência entre as organizações, além de baseada em produtos e serviços como abordam as
teorias tradicionais, como demonstram Vasconcelos e Cyrino (2000), tende a ser vista como
função dos recursos e das competências das organizações concorrentes. A aquisição de
vantagem competitiva neste contexto, pode ser entendida como produto da capacidade de uma
organização antever as necessidade do mercado e oferecer processos operacionais calcados
em recursos adequados, produzindo maior valor aos consumidores.
O relacionamento com o ambiente, na teoria das capacidades dinâmicas, é visto
como uma condição natural e possível devido à noção ativa de que empresa e ambiente
influenciam-se mutuamente. Para integrar-se com as necessidades ambientais, exige-se das
empresas uma regeneração contínua da base de recursos e competências (VASCONCELOS e
CYRINO, 2000, p.34).
Para que o mecanismo de desenvolvimento de recursos e competências seja
operacionalizado, Vasconcelos e Cyrino (2000) argumentam que a aquisição de conhecimento
seja um processo dos mais fundamentais.
A importância do conhecimento da informação e da tecnologia para a
performance das empresas tem sido amplamente reconhecida por diversas
correntes teóricas. Para os estudiosos da teoria dos recursos e para os que
defendem uma visão dinâmica das capacidades organizacionais, os recursos
e as capacidades da firma são resultado de um processo de aprendizagem
por experiência (learning by doing), que constitui o repertório de ações
68
coletivas disponíveis para as firmas. As competências centrais traduzem,
dessa maneira, os conhecimentos tácitos da firma obtidos com a aplicação
de seus recursos específicos (WINTER, 1987; SPENDER e GRANT, 1996
apud VASCONCELOS e CYRINO, 2000, p. 34).
A noção de desenvolvimento de competências está intimamente relacionada ao
conceito de aprendizagem organizacional. Fleury e Fleury (1995, p.19) conceituam
aprendizagem como sendo “um processo de mudança, resultante de prática ou experiência
anterior, que pode vir, ou não, a manifestar-se em uma mudança perceptível de
comportamento”.
Fleury e Oliveira Jr. (2001, p.158) acrescentam que as competências essenciais são
desenvolvidas com base no aprendizado organizacional. Em idéia complementar, Wick e
León (1997) apresentam seu entendimento acerca do aprendizado intencional como sendo
uma perspectiva consciente dos indivíduos que buscam acelerar seu crescimento e, por
conseguinte da organização, com base no aprendizado pela experiência.
Fleury e Oliveira Jr. (2001) oferecem um modelo para descrever como atua o fluxo de
incorporação de informações, configuração da aprendizagem, formação de competências, até
a junção com o processo de formulação estratégica. Segundo os autores, três dimensões
envolvidas na aprendizagem: a primeira é a transferência e recuperação de informações que
pode ocorrem com base no conhecimento da própria organização ou através de alianças
externas ou outras formas de arranjo em parcerias. Uma segunda dimensão seria a
experimentação, através da qual pode-se aperfeiçoar as habilidades existentes e adquiridas.
Em terceiro lugar, o desenvolvimento de rotinas organizacionais que canaliza os recursos da
empresa em função do desenvolvimento de competências dinâmicas.
Para finalizar este tópico apresenta-se um comparativo entre as teorias que explicam
a vantagem competitiva, (Quadro 6) extraída de Vasconcelos e Cyrino (2000).
Em suma, Vasconcelos e Cyrino (2000) demonstram a constatação de que as bases
de recursos e competências precisam ser re-configuradas continuamente, com vistas às
condições ambientais para que possam ser elementos geradores da vantagem competitiva e
para que esses recursos não se percam ao longo do tempo, provocando o efeito inverso.
69
Quadro 6: Comparação das teorias sobre vantagem competitiva
Fonte: Vasconcelos e Cyrino (2000)
A busca da vantagem competitiva, como demonstrado no apanhado teórico que
compõe o presente capítulo, pode ser entendida sob diferentes óticas. Um outro nível de
percepção faz-se necessário ainda, com vistas especificamente à abordagem discutida neste
70
trabalho, e diz respeito ao entendimento da vantagem competitiva no contexto de uma
organização cooperativa. Tais organizações apresentam nuances e modos de atuação
particulares, típicos do modelo cooperativista, abordado no tópico seguinte.
2.4 Configuração
Os estudos sobre configuração tiveram início em meados da década de 70,
principalmente por autores com Dany Miller e Henry Mintzberg da McGill University
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Surge destes estudos a percepção de que as
organizações tendem a se desenvolver passando por momentos de estabilidade e outros de
mudança. A cada mudança emerge uma nova configuração sob a qual se apóiam os processos
e os fluxos organizacionais.
Mintzberg (1995) propõe um conjunto de configurações pré-definidas em termos de
estrutura e fluxos organizacionais, são elas:
Estrutura Simples: Geralmente estas estruturas são encontradas em empresas de pequeno
porte, normalmente compostas pelo empreendedor diretamente relacionando-se com os
funcionários. Esta configuração é representada na Figura 13, onde sea inexistência de uma
tecnoestrutura e das funções logísticas, assim como a reduzida linha hierárquica média.
Figura 13: Estrutura simples
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
Nesta configuração o vértice estratégico é o elemento chave da organização uma vez
que as decisões são tomadas pelo empreendedor ou proprietário centralizadamente. Como
resultado obtém-se melhor resposta estratégica, flexibilidade e adaptabilidade.
Burocracia Mecânica: Nesta configuração, geralmente encontrada em empresas de maior
porte, observa-se forte especialização por funções, linha hierárquica média bem definida e
amplamente participante nos fluxos operacionais.
71
Figura 14: Burocracia mecânica
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
A configuração burocracia mecânica apresenta a vantagem de ganho de eficiência
pela padronização de processos, amparada pela tecnoestrutura bem definida e atuante. As
funções de apoio também exercem nítida presença na construção dos processos
organizacionais.
Burocracia profissional: Na configuração baseada no profissionalismo, o peso da
tecnoestrutura que elabora os procedimentos burocráticos dá lugar aos serviços de apoio ao
centro operacional. Isto implica que a burocracia profissional se torne uma estrutura
descentralizada quer na horizontal quer na vertical, originando uma maior autonomia
individual.
Figura 15: Burocracia profissional
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
O alto nível de formalização interna mantém a característica burocrática e a
vantagem desta configuração está nas competências e qualificações dos profissionais que dela
pertencem, pelo desempenho das atividades executadas.
72
Estrutura divisionada: É composta por unidades semi-autônomas que podem ser entendidas
como pequenas organizações dentro da grande organização. Deriva desta configuração a
autonomia característica destas estruturas.
Figura 16: Estrutura divisionada
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
Como consequência, a administração ganha a capacidade de concentração nas
questões estratégicas, posto que as micro-unidades são responsáveis pelas decisões cotidianas,
sendo esta a principal vantagem observada nesta configuração.
Adhocracia: Esta configuração está pautada na inovação. As Adhocracias apresentam como
vantagem, o trabalho em equipe “ad hoc” permitindo à organização adaptar-se facilmente às
mudanças e permitindo também uma grande coordenação dos profissionais.
Figura 17: Adhocracia
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
A Adhocracia, é uma estrutura altamente orgânica, que possui pouca formalização,
apresenta especialização do trabalho na sua dimensão horizontal, baixa diferenciação vertical,
é descentralizada, e ainda, apresenta elevada flexibilidade.
73
Estrutura missinoária: As organizações que apresentam esta estrutura são dominadas por
uma ideologia que envolve todos os membros, estes instintivamente exercem força em
conjunto e na mesma direcção.
Figura 18: Estrutura missionária
Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000)
A Estrutura Missionária apresenta pouca divisão de trabalho e ao mesmo tempo uma
reduzida especialização das tarefas, sendo desnecessária uma elevada formalização, ela é
praticamente inexistente.
Quadro 7: Resumo das estruturas
Fonte: Adaptado de Mintzberg (1995)
No Quadro 7 apresenta-se uma síntese das configurações propostas pelos autores
com suas principais características.
74
CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Como forma de viabilizar a consecução do objetivo geral de compreender a relação
entre a configuração estratégica e a obtenção de vantagem competitiva por uma Cooperativa
agroindustrial do Oeste Catarinense, e dos objetivos específicos propostos para a pesquisa, os
procedimentos metodológicos de coleta, descrição, análise e interpretação de dados e
informações são estabelecidos, conforme os itens descritos na seqüência deste capítulo.
3.1 Caracterização da Pesquisa
A pesquisa realizada pode ser caracterizada, em diferentes momentos como
exploratória, descritiva, avaliativa e prescritiva (RUDIO, 1986). Isto porque se procura
compreender, a partir da descrição dos eventos estratégicos da organização alvo do estudo, a
relação entre seu desempenho competitivo ao longo do tempo e as configurações dos
elementos organizacionais por ela assumidas.
O método exploratório de pesquisa foi empregado com vistas à classificação de Gil
(1999) que entende serem as pesquisas exploratórias desenvolvidas com o objetivo de
proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo, acerca de determinado fato.
A pesquisa assume enfoque descritivo quando são relatados os períodos da história
da organização, sobretudo aqueles onde se percebeu alterações nos padrões de configuração
de recursos, competências ou nos processos organizacionais, que em última análise
determinam o modo da cooperativa interagir com o ambiente.
Em outra instância demonstra enfoque interpretativo no momento em que,
analisados os dados, estabelecem-se as bases para a abordagem da configuração estratégica,
dando a entender que esta possa ser empregada em outras organizações como parte de um
ferramental voltado à gestão estratégica, via desenvolvimento coordenado e deliberado de
recursos, competências ou processos organizacionais.
75
Além disso, a pesquisa é qualitativa, que o pesquisador não está preocupado em
verificar a relação estatística entre variáveis independentes e dependentes (KOCHE, 1997).
Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a
complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas
variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos
sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e
possibilitar, em maior vel de profundidade, o entendimento das
particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1999,
p. 80).
Para Alves-Mazzotti (1999) a pesquisa qualitativa possibilita a compreensão das
inter-relações que emergem de um contexto determinado, já que o pesquisador parte de
observações mais livres, fazendo com que interesses pesquisados apareçam durante a coleta e
análise dos dados (abordagem indutiva) e que, na investigação naturalística, a intervenção do
pesquisador, no contexto observado, seja reduzida. A pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e
características situacionais apresentados pelos entrevistados, em lugar da produção de
mediadas quantitativas de características ou comportamentos”. (RICHARDSON, 1999, p. 90).
O delineamento da pesquisa em estudo de caso encontra amparo na visão de Gil
(1999) que define este método como caracterizando pelo estudo profundo e exaustivo de um
ou poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo.
Relacionando-se ao objetivo, entende-se ser o estudo de caso a caracterização mais adequada,
tendo em vista a intenção de compreender profundamente os aspectos da fenomenologia
relativa entre as configurações específicas da Copérdia e de sua condição competitiva.
3.2 Unidade de Análise e de Observação
A unidade de observação compreende os funcionários, prestadores de serviços e
associados da Copérdia. Destes foram entrevistados de forma intencional nove funcionários,
dois prestadores de serviço e seis cooperados, que foram selecionados intencionalmente pelo
pesquisador. Os dados e as informações coletadas na amostra serviram para complementar ou
ratificar o que foi coletado em documentos existentes na organização como se pode perceber
no tópico técnicas de coleta de dados.
76
3.3 Modelo de Análise
O ponto de partida da presente pesquisa é definido pelo problema de pesquisa,
baseado na premissa do pesquisador acerca de um eventual ganho de potencial competitivo
das organizações que tenham em vista, em seu processo de formulação estratégica, as
configurações dos recursos, competências, processos organizacionais e das interações com o
ambiente. Assim sendo o modelo de análise dos dados e informações coletados, segue as
conceituações definidas nos tópicos seguintes.
3.3.1 Configuração Estratégica
A sondagem de campo para averiguação de uma relação entre a configuração dos
elementos organizacionais com a geração de vantagem competitiva por uma organização,
passa pela equalização do entendimento sobre a própria abordagem da configuração
estratégica e dos elementos organizacionais que a compõe.
Enquanto modelo prescritivo, a abordagem da configuração estratégica seria uma
forma de projetar o desenvolvimento dos elementos organizacionais com vistas: a) a uma
otimização dos processos organizacionais, gerando eficiência operacional, em termos de
custos, prazos, taxa de ocupação de ativos e assim por diante e, b) à produção de valor efetivo
para o mercado através de produtos ou serviços adequados aos fatores mercadológicos.
As constatações desta pesquisa, todavia, baseiam-se no modelo descritivo surgido da
descrição e análise da história da Copérdia, sobretudo dos momentos em que houve mudança
da diretriz estratégica. A estes momentos, convencionou-se chamar de eventos estratégicos.
As configurações dos elementos organizacionais foram levantadas considerando-se os
períodos anteriores e posteriores aos eventos, objetivando salientar as alterações dos arranjos
de recursos, competências e processos organizacionais, bem como caracterizar as ocorrências
no macro-ambiente em momentos concomitantes aos delimitados para os eventos estratégicos.
Posteriormente, buscou-se apontar as eventuais relações entre estas adaptações nas bases dos
elementos organizacionais com o desempenho competitivo da Copérdia, quando possível
através dos indicadores de desempenho financeiros, quando não através das constatações dos
cooperados entrevistados.
77
Os elementos organizacionais, para efeito desta análise são considerados os recursos,
as competências e os processos organizacionais, tal como descritos nos tópicos 2.1.2.2,
2.1.2.3 e 2.1.2.4, respectivamente.
3.3.2 Vantagem Competitiva
Nesta pesquisa, busca-se demonstrar a necessidade do emprego de uma análise
convergente das visões de origem da vantagem competitiva descritas no tópico 2.2 do capítulo
2. Na Figura 19 esquematiza-se o entendimento acerca da origem da vantagem competitiva
para este trabalho. Nesta Figura, encontram-se o modelo da cadeia de valores genérica de
Porter (1989) agregando a percepção de eficiência operacional, até o meio da cadeia, ou seja,
pela configuração interna dos recursos, competências e processos, e da produção de valor para
o mercado.
Figura 19: Eficiência operacional e geração de valor na cadeia de valores genérica
Fonte: Adaptado de Porter (1989)
Tal condição provoca a percepção de que a essência da vantagem competitiva passa
pela organização dos fatores internos, visando produzir com eficiência e eclode no ambiente
externo pela necessidade de entregar valor aos consumidores.
O trabalho de Vasconcelos e Cyrino (2000) é particularmente importante na
construção de uma abordagem de configuração estratégica, tendo em vista a constatação de
78
uma forte relação entre vantagem competitiva e mudança organizacional. Muito embora os
autores reconheçam que estes temas sejam naturais de conjuntos teóricos diferentes, a
evolução dos mercados em termos de complexidade, cria uma tendência a estudos
convergentes das teorias citadas.
No campo prático, o reflexo desta evolução é um condicionamento das organizações
a constantes adaptações como forma de competirem em mercados mutantes, daí as mudanças
(ou reconfigurações) passariam a propiciar vantagem competitiva.
3.4 Técnicas de Coleta e Análise dos Dados
As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a pesquisa bibliográfica, a análise
documental, a entrevista não estruturada e a observação. (RICHARSON, 1999).
As entrevistas não-estruturadas, do tipo focalizadas, envolveram perguntas abertas,
com o intuito de proporcionar maior liberdade ao informante. Mesmo sem obedecer a uma
estrutura formal pré-estabelecida, utilizou-se roteiros com os principais tópicos relativos ao
assunto da pesquisa, nas diferentes etapas percorridas pela sondagem de campo, como visto
em seguida.
No período de Julho de 2008 a Março de 2009, foram realizadas as entrevistas não-
estruturadas com Gerentes, técnicos agrícolas dos quadros da Copérdia, funcionários das áreas
financeira, pessoal e comunicação, além de associados da cooperativa, conforme demonstrado
no item 3.3 deste capítulo. No mesmo período, realizou-se pesquisa em dados secundários,
nos arquivos da organização, jornais editados pela assessoria da Copérdia e periódicos
populares, relatórios anuais de demonstração de resultados e demonstrativos contábeis, além
de arquivos magnéticos.
Uma intenção constante no decorrer da pesquisa de campo foi a de, sempre que
possível, cruzar as informações colhidas com os funcionários da organização com as
percepções dos cooperados. Tal procedimento se justifica por discrepâncias iniciais
identificadas nos pontos de vista, por exemplo, quanto a percepção da necessidade do volume
de funcionários, com alguns cooperados não concordando com a política de contratação
alegando ineficiência da relação produtividade versus custos operacionais.
Assim sendo, as entrevistas com os associados foram sendo formuladas na medida
em que as informações coletadas na Copérdia eram organizadas, dinamicamente, ao longo da
pesquisa. Em certos casos, houve a necessidade de refazer uma entrevista com um mesmo
79
associado com vistas a consolidar uma ou algumas informações, enfocando pontos cruciais
para a análise, surgidos a posteriori.
Pode-se determinar que a coleta de dados através das entrevistas foi dividida em
duas etapas distintas. Na primeira delas, objetivou-se identificar e descrever os eventos
estratégicos ao longo da história da organização, desta forma, os entrevistados foram
selecionados, intencionalmente, levando-se em consideração o tempo de relação com a
organização e o grau de conhecimento sobre sua história. Nesta etapa, as entrevistas eram
orientadas de acordo com alguns tópicos e os entrevistados foram solicitados a falar, de
acordo com sua percepção: a) sobre a história da cooperativa, b) sobre que momentos desta
história podem ser considerados os mais importantes e, c) o que considera como os principais
fatores responsáveis pelo sucesso da Copérdia. Considerou-se a ênfase dada pelos
entrevistados a momentos específicos, somada a observação do pesquisador ao conjunto de
entrevistas e à análise documental para determinar os eventos estratégicos.
Uma segunda etapa consistiu em, primeiramente, consolidar junto a outros
entrevistados as percepções quanto a estes eventos serem de fato pontos de mudança
estratégica e, portanto, confirmar o entendimento destes momentos como eventos estratégicos
para fins desta pesquisa. Em segundo lugar, identificar os elementos organizacionais
constantes antes e depois dos eventos, na visão dos entrevistados. Nesta etapa, foram
selecionados funcionários com conhecimento mais específico das áreas onde os eventos
estratégicos ocorreram, como por exemplo, o Coordenador da área de suinocultura para
sondagem da configuração dos elementos organizacionais antes e depois da implantação desta
atividade, identificada como um evento estratégico.
Como já foi salientado, alguns cooperados foram elencados para as entrevistas como
forma de averiguação das percepções do ponto de vista dos usuários dos serviços da Copérdia,
estas entrevistas também obedeceram aos tópicos abordados em cada etapa da pesquisa.
Quanto à pesquisa nos dados secundários, a Copérdia mantém um arquivo físico
onde dispõe dos jornais e relatórios demonstrativos dos resultados, de livre acesso, que
também estão disponíveis em sua home page institucional o que, de certa forma agilizou o
processo de coleta destes dados. Um segundo arquivo de dados financeiros, contábeis e de
pessoal é mantido pela organização, este, todavia, é de acesso restrito e as informações
provenientes destas áreas puderam ser coletadas através dos funcionários que possuem acesso.
Este procedimento de coleta era feito em entrevistas em duas etapas, quando no primeiro
contato relacionavam-se os dados desejados, e em outra ocasião eram coletados efetivamente.
Normalmente, o gap entre as entrevistas era em média de uma semana.
80
Por fim, os dados foram tratados de modo qualitativo. As entrevistas gravadas
tiveram transcritas as partes onde foram mencionadas referências à composição de recursos e
competências nos momentos de interesse. Foram elaborados quadros com os fatores de
caracterização para facilitar a comparação das configurações anteriores e posteriores aos
eventos estratégicos. Os referidos quadros foram construídos tomando-se por base os
fundamentos teóricos em relação aos dados e informações coletados junto à organização.
3.5 Limitações da Pesquisa
No desenrolar da pesquisa algumas dificuldades práticas se mostraram importantes,
a saber:
1) Durante a década de 70, 80 e 90 não havia a preocupação com o registro dos
números em termos de indicativos de desempenho. Assim sendo, não a
informação, por exemplo, do faturamento bruto antes do ano 1999 ou número de
cooperados antes de 1980. Esta condição impede a averiguação quantitativa do
desempenho da organização e a possibilidade de traçar um comparativo entre o
crescimento antes e depois dos eventos estratégicos implantação da suinocultura e
programa de qualidade pela Copérdia.
2) Também não há registro do faturamento por área de negócio antes do ano de 1999,
data em que iniciou-se a segmentar a informação. Esta ausência não permite que se
analise retroativamente o desempenho das atividades separadamente durante a
ocorrência dos eventos estratégicos.
3) A limitação de acesso ao arquivo contendo dados de ordem financeira e contábil
não permite a aferição de veracidade por parte do pesquisador, tendo em vista o
recebimento dos dados solicitados já planilhados.
Sobretudo em razão dos itens 1 e 2, as constatações conclusivas tem forte amparo
nas informações coletadas através das entrevistas, e da observação do pesquisador, não
havendo a condição de averiguação quantitativa. Todavia, as informações colhidas de forma
oral somadas àquelas disponíveis nos dados secundários e o embasamento teórico do trabalho,
permitem determinar a efetividade da abordagem, detalhada nos capítulos seguintes.
81
CAPÍTULO 4 CONFIGURAÇÃO ESTRATÉGICA NA
COPÉRDIA
No decorrer de sua história a Copérdia passou por transformações estruturais,
adaptativas ou pioneiras, que em seu conjunto perfazem a trajetória da organização. Em cada
momento, o produto complexo dos recursos, das competências e dos processos empregados
pela Copérdia denota as configurações pelas quais, em cada momento de sua história, a
organização operou e se desenvolveu, quer com base em resultados positivos ou não.
Este capítulo se dedica a apresentar a organização Copérdia, traçando, com base na
descrição de sua história e na identificação dos eventos estratégicos ocorridos, uma
abordagem para salientar a condição competitiva da organização.
4.1 A Copérdia
A Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia Copérdia é uma organização
constituída como cooperativa singular, vinculada ao sistema cooperativo e aos órgãos que o
compõe, como sintetizado na Figura 20. Desta forma a Copérdia tem, portanto, como
norteadora de sua conduta, as diretrizes sociais e econômicas, além da organização política,
pertinentes ao modelo cooperativo de produção e apropriação de resultados.
Figura 20: Modelo de sistema cooperativista organizado
Fonte: Adaptado de Abreu (2004)
82
No caso específico da Copérdia, a rede de relacionamentos dentro do sistema
cooperativista pode ser descrita conforme a Figura 21.
Figura 21: Relacionamentos da Copérdia no sistema cooperativo
Fonte: Dados da pesquisa (2008)
A missão da Copérdia é declarada como sendo “viabilizar a produção e
comercialização agropecuária, agregando valores, satisfazendo social e economicamente o
cooperado, oferecendo à sociedade produtos e bens de consumo de qualidade”. Para tanto, a
estrutura organizacional está segmentada e distribuída em termos de áreas de atuação, ou
negócios abrangidos pela organização. Estes negócios são:
Insumos agropecuários;
Cereais;
Fábrica de rações;
Fruticultura;
Bovinocultura de leite;
Unidades moageiras;
Reflorestamento;
Suinocultura;
Supermercados.
83
Como condição básica de sua existência, a Copérdia procura viabilizar e aprimorar o
modelo típico de agricultura familiar, baseado em minifúndios poli-extrativistas, praticado no
interior do Estado Catarinense garantindo a formação de mercado para escoamento desta
produção agrícola.
Cada uma destas áreas de negócios esta estruturada de maneira a exercer suas
funções e atividades de forma independente, contudo, o fluxo organizacional é unificado na
função da gerencia geral. Além disso, a estrutura administrativa e financeira também é única
para todas as áreas.
Como forma de garantir a execução das atividades propostas, a organização conta
com uma estrutura física composta por silos de armazenamento de grãos, lojas agropecuárias
e supermercados, moinhos, fábrica de rações e escritório central que reúne as atividades
administrativas e de apoio ao cooperado.
Essencialmente, as atividades da Copérdia visam: 1) prover apoio técnico aos
agricultores cooperados, oferecendo equipes de profissionais para assessoria técnica em cada
uma das áreas de negócios descritas acima; e 2) encaminhar a produção agrícola às indústrias
que irão beneficiar a produção dos cooperados. O provimento de apoio técnico é feito por
funcionários da Copérdia que acompanham as atividades de campo, diretamente nas
propriedades rurais, fornecendo informações e auxílio para o desempenho das funções, bem
como implantação de novas atividades nestas propriedades. O escoamento da produção se dá,
primeiramente através da abertura de mercado, prospectando as indústrias aptas a receberem a
produção ou mesmo via acordos de fornecimento junto às Cooperativas centrais com que
mantém relacionamento. Depois, no decorrer da cadeia de produção, a Copérdia atua como
intermediária na coleta da produção, feita por operadores logísticos terceirizados, e
encaminhamento à indústria.
4.1.1 Histórico da Copérdia
A Copérdia foi fundada no ano de 1967 no município de Concórdia, Santa Catarina.
Na ocasião um conjunto de fatores convergiu de modo a criar uma condição favorável para a
decisão de constituição de uma cooperativa rural nesta localidade. De um lado, a expansão da
produção local de grãos excedentes do consumo pela suinocultura dava-se exponencialmente,
face do crescimento demográfico rural do município de concórdia, ampliação das áreas
cultiváveis e fomento por parte da agroindústria. E de outro lado, o lançamento de planos de
incentivo às cooperativas em todo país pelo Governo Federal. A concepção da Copérdia
84
derivou de uma associação rural existente no município de Concórdia, que congregava os
produtores rurais da região em torno de objetivos comuns.
A estrutura inicial da Copérdia contava com sua matriz, em Concórdia, onde
funcionavam um silo de armazenamento de grãos, uma loja agropecuária (Figura 22) e a sede
administrativa, e outras cinco filiais em municípios vizinhos: Lindóia do Sul, Ipumirim,
Seara, Xavantina e Peritiba, que contavam com unidades de recolhimento e armazenamento
de grãos e pontos de distribuição de insumos agrícolas.
Figura 22: Primeira loja agropecuária
Fonte: Copérdia (2008)
O quadro social era composto, em 05 de Setembro de 1967, data da ata de fundação,
pelos 30 sócios fundadores e, já em Dezembro daquele ano contava com 826 sócios. O
primeiro livro de registro de funcionários, em 23 de Novembro de 1967, tinha 50 efetivos, e o
primeiro presidente foi Ivo Frederico Reich cuja gestão à frente da instituição durou de 1967
até 1971.
Naquele contexto, as atividades iniciais desenvolvidas pela Copérdia eram o
armazenamento e comercialização de trigo e feijão, fornecimento de insumos agrícolas e
produtos de consumo humano. No decorrer de sua história novas atividades e áreas de
negócios foram sendo incorporadas pela Copérdia, a evolução das atividades pode ser vista no
Quadro 8.
No início dos anos 80, sob a presidência de Odacir Zonta, a Copérdia passou a
operar as atividades de bovinocultura leiteira, esta de forma ainda incipiente e a de
suinocultura, altamente impactante naquele momento, pois aproveitava a vocação dos
agricultores da região, uma grande capacidade instalada, conhecimento acumulado na área,
e oferecia ao cooperado uma alternativa de mercado concorrente às indústrias de
85
beneficiamento de suínos instaladas no Oeste Catarinense à época, sobretudo players como
Sadia Concórdia S.A., Frigorífico Chapecó, Seara e Perdigão Agroindústria S.A.
Quadro 8: Implantação de novas atividades pela Copérdia
ATIVIDADE
ANO DE
IMPLANTAÇÃO
Bovinocultura de Leite
1980
Suinocultura
1982
Moinho
1985
Frigorífico
1987
Citricultura
1989
Fábrica de Rações
2000
Reflorestamento
2004
Viticultura
2004
Fonte: Copérdia (2008)
Paralelamente ao movimento de implantação de novos negócios, destaca-se no
histórico da Copérdia a decisão pela busca da qualidade, tanto no nível organizacional, quanto
no processo de geração de produtos junto aos cooperados. Esta diretriz de atuação teve seu
fomento em meados da década de 80, em contínuo aprimoramento até hoje, influenciando
definitivamente o modo de trabalho e a qualidade dos produtos gerados pela Cooperativa.
Quadro 9: Recursos Atuais da Copérdia
RECURSOS
QUANTIDADE
Escritório central
01
Unidades armazenadoras
08
Moinhos
02
Central de compras
01
Fábrica de rações
01
Supermercados
15
Lojas agropecuárias
23
Central de inseminação artificial
01
Franquias
14
Fonte: Copérdia (2008)
Deriva deste contexto relacionado à qualidade, outro ponto de destaque na história
da Copérdia, a qualificação e profissionalização da atividade de bovinocultura de leite, a partir
de meados da década de 90. Hoje esta atividade é tida como a principal área de negócios da
86
cooperativa, tanto em termos econômicos, dado o volume de produção, quanto em termos
sociais, pois representa uma importante fonte de renda para os cooperados.
Atualmente, a Copérdia conta com uma estrutura de recursos organizacionais,
Quadro 9, voltados a atender o core business da cooperativa.
A área de atuação da Cooperativa também foi ampliada e hoje atinge 20 municípios
da microrregião do Alto - Uruguai em Santa Catarina onde existem filiais ou unidades da
Copérdia e outros 9 municípios onde atuação da Copérdia mas sem a existência de filiais.
No Rio Grande Do Sul a Copérdia mantém filiais em mais 5 municípios na região Noroeste
do Estado e 11 municípios sem filiais (Figura 23).
Figura 23: Área de atuação da Copérdia
Fonte: Relatório Copérdia (2004)
Uma prioridade absoluta da Copérdia, e que denota o nível de maturidade atingido
pela organização neste momento de sua história, é a contínua busca pelo desenvolvimento
87
pessoal e profissional do cooperado. Além do oferecimento de serviços como assessoria
técnica em todas as áreas de negócios onde atua, a Copérdia ainda organiza e operacionaliza
um extenso programa de capacitação rural objetivando, de um lado desenvolver o princípio da
qualidade em todas as etapas da cadeia produtiva e de outro lado a melhoria da qualidade de
vida do produtor rural. Tal premissa, discutida mais adiante na descrição das ações sociais
praticadas, intenciona proporcionar maior renda ao produtor rural, mas também ambiciona
viabilizar o desenvolvimento das mulheres do campo e a permanência dos jovens no meio
rural.
4.1.3 Ambiente direto da Copérdia
O ambiente direto de uma organização é composto por clientes, fornecedores,
concorrentes, grupos reguladores e stakeholders.
A noção de cliente para uma organização constituída como cooperativa pode
assumir diferentes conotações. Primeiramente, pode-se entender como clientes os próprios
cooperados, na medida em que utilizam os serviços de assistência técnica, de intermediação
na busca de mercado para escoamento da produção e outros prestados pela cooperativa, além
de consumirem diretamente da Copérdia nas lojas agropecuárias e supermercados. Em uma
segunda visão, as cooperativas centrais podem ser consideradas clientes, tendo em vista que
consomem a matéria-prima gerada pelos cooperados e distribuída por intermédio da Copérdia.
As lojas agropecuárias e supermercados, além dos cooperados, também atendem à população
das cidades onda a cooperativa opera e, portanto, também estes podem ser considerados
clientes potenciais da Copérdia.
No âmbito dos fornecedores, os cooperados têm papel primordial, pois fornecem o
insumo fundamental considerando-se o core business da organização. Além destes, a
Copérdia relaciona-se com diversos fornecedores de materiais de apoio e prestadores de
serviços, tais como frotistas terceirizados responsáveis pela logística da coleta da produção
rural.
Como grupos reguladores, pode-se citar as organizações representativas do sistema
cooperativo, cooperativas centrais Aurora e AgroMilk no caso da Copérdia, Federações de
cooperativas FECOAGRO especificamente, OCE‟s – OCESC da qual participa a Copérdia e
OCB, conforme demonstrado nas Figuras 13 e 14 no início deste Capítulo. Além destes, a
88
legislação federal, através da lei 5.764 de 1971, também condiciona e regula a atuação da
Copérdia.
Níveis de concorrência diferentes também se identificam na análise deste item em
uma organização cooperativa. Do ponto de vista da concorrência industrial, os produtos
comercializados sob a marca das cooperativas centrais que representam a Copérdia enfrentam
concorrência das demais agroindústrias produtoras de gêneros alimentícios de origem animal.
Sob a ótica da aquisição de associados, a Copérdia enfrenta a concorrência das agroindústrias
pela retenção do produtor como seu fornecedor de matérias-primas.
Como stakeholders pode-se elencar os veículos de imprensa, o poder público e a
própria comunidade das localidades onde a cooperativa atua. Os órgãos de imprensa agem
como condutores e conformadores da imagem da cooperativa para a comunidade, além de
constituírem importantes ferramentas de contato entre a Copérdia e seus cooperados. Cita-se
como exemplo, a manutenção de programas diários em rádio, produzidos pela Copérdia, com
objetivo de disseminar conhecimento técnico e informar aspectos operacionais, como por
exemplo, data e horário de coleta de animais para abate, ou entrega de rações e assim por
diante. O poder público em diversas ações é considerado parceiro da Copérdia, por exemplo,
na realização de feiras e eventos voltados à agricultura, ou em ações de capacitação e
treinamento de cooperados. A comunidade por sua vez, pois afeta e é afetada pela operação e
pelos resultados obtidos pela Cooperativa e seus cooperados, salientando-se que a base da
economia local é a agricultura e a Copérdia atua, eminentemente, como agente fomentador da
atividade.
4.1.4 Estrutura organizacional
A estrutura organizacional da Copérdia pode ser analisada em dois momentos
distintos, o primeiro desde sua fundação até o ano de 2007 e outro a partir daí. No primeiro
momento, a estrutura era eminentemente funcional, apresentando uma divisão nítida de
funções, obedecendo à orientação das áreas de negócio estabelecidas pela organização. O
organograma funcional adotado pela Copérdia nesta fase de sua trajetória é apresentado na
Figura 24. Neste desenho organizacional, cada área possuía uma gerência que se reportava
diretamente à presidência.
89
Figura 24: Organograma anterior à reforma administrativa
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
90
Figura 25: Organograma atual da Copérdia
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
91
No ano de 2007, a Copérdia passou por uma reestruturação funcional adotando uma
forma mais centralizada da cadeia de informações. Criou-se o cargo de Gerente Geral que
assume a função de coordenação das áreas de negócios, reportando-se à presidência. O
organograma funcional desta nova estrutura pode ser visto na Figura 25.
As duas estruturas identificadas, antes e depois da reestruturação mencionada pelos
entrevistados, possuem características mecanicistas de arquitetura, como a rigidez na
distribuição de tarefas, forte hierarquia formal e centralização decisória.
O novo padrão de estrutura organizacional da Copérdia denota uma maior
centralização decisória, no cargo de Gerente Geral, assim como também se percebe certo
aumento no grau de formalização, haja vista a implementação de diversas rotinas de controle
desta Gerência para as áreas de negócios. Como resultado desta nova estruturação, dadas as
visões expostas pelos entrevistados, aprimorou-se o fluxo de informações e proporcionou-se
uma maior integração das áreas de negócios, além de ter qualificado o processo decisório.
4.1.5 Evolução financeira
A evolução financeira da Copérdia pode ser demonstrada através de alguns
indicadores de desempenho. O primeiro deles pode ser considerado o número de cooperados
pertencente aos quadros da cooperativa cuja evolução se observa no Gráfico 1.
Gráfico 1: Evolução do número de cooperados
Fonte: Copérdia (2008)
5101
5637
6197
6368
6933
7836
7989
8183
8591
8946
9575
9221
9539
9127
9250
9281
9006
8737
8371
8122
8015
7801
8128
8316
8703
8873
8913
8796
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
92
Pela análise do Gráfico 1, pode-se visualizar o crescimento contínuo do número de
associados até meados da década de 90. Não registros na cooperativa dos dados desde a
fundação até o ano de 1979, mas no Gráfico 2 tem-se uma reta da evolução do número de
associados considerando-se a informação do ano de fundação, isoladamente, e a do primeiro
registro formal encontrado nos arquivos da organização, em 1980. Esta verificação aponta
para um crescimento de 517,55% no período de dez anos entre os dois registros.
Gráfico 2: Evolução do número de cooperados entre 1969 e 1980
Fonte: Copérdia (2008)
No Gráfico 1, percebe-se uma diminuição do número de associados a partir de 1995,
explicada por duas razões. A primeira relativa à implantação do processo de qualidade, dado
que uma revisão nos arquivos foi realizada e optou-se, com base no estatuto regimental, por
eliminar os associados inativos, ou seja, aqueles sem efetuarem transações com a Copérdia. A
segunda razão foi que a partir de meados da década de 90, iniciou-se o procedimento de
retirada dos moradores cujas propriedades foram desapropriadas em função da construção da
barragem de Itá. Houve nesta época um movimento de migração das famílias para a região
central do município, abandonando a atividade rural.
Excetuando-se este movimento de enxugamento do quadro de associados para um
patamar mais realista, nota-se ao longo do tempo uma nítida tendência de crescimento do
desempenho medido pelo indicador número de cooperados.
Outro indicador de desempenho considerado é o faturamento bruto da Copérdia,
número que consolida os faturamentos das diferentes unidades de negócios.
5101
826
1969 1980
93
Gráfico 3: Evolução do faturamento total em R$ milhões
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
A falta de dados relativos ao faturamento bruto, anteriores ao ano de 1999, permitem
traçar uma análise da situação atual da cooperativa em termos deste indicador, mas não
averiguar a evolução do indicador através do tempo e dos eventos estratégicos descritos
adiante.
Gráfico 4: Evolução do faturamento da atividade de suinocultura em R$ milhões
Fonte: Relatório Copérdia (2006)
75,49
127,66
153,80
204,30
221,70
233,90
254,50
221,40
276,14
315,00
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
44,44
57,04
73,26
82,13
77,23
86,70
90,39
65,42
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
94
Da mesma forma, o Gráfico 4 apresenta uma noção do faturamento da atividade de
suinocultura nos dias atuais. Permite uma visão de como a atividade colabora no faturamento
total da Copérdia, mas não oferece a visão desde sua implantação.
Gráfico 5: Evolução do faturamento da atividade leiteira em R$ milhões
Fonte: Relatório Copérdia (2006)
Outra atividade relevante na composição da receita da Copérdia é a de lojas
agropecuárias, atividade presente desde a fundação da cooperativa e cuja situação em termos
de faturamento nos dias atuais é demonstrada no Gráfico 6.
Gráfico 6: Evolução do faturamento da atividade lojas agropecuárias em R$ milhões
Fonte: Relatório Copérdia (2006)
9,19
12,10
12,29
16,75
21,27
26,37
29,81
29,06
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
21,93
32,63
42,48
56,81
66,45
70,47
72,09
65,97
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
95
Também podem ser considerados elementos de averiguação da evolução financeira da
Copérdia, as participações societárias nas outras entidades do sistema cooperativo no qual a
organização interage diretamente.
Gráfico 7: Participação societária da Copérdia na Maué
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
Gráfico 8: Participação societária no sistema Sicoob Crediauc
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
Gráfico 9: Participação societária da Copérdia na Cooperativa Central Aurora
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
96
Gráfico 10: Participação societária da Copérdia na FECOAGRO
Fonte: Relatório Copérdia (2008)
Este conjunto de dados de cunho financeiro promove a percepção da evolução
financeira da Copérdia, enfocando os últimos dez anos de sua história, tendo em vista a falta
de dados anteriores para maiores considerações, sobretudo nos períodos de reconfiguração.
4.1.6 Aspectos sociais
Cumprindo uma das premissas associadas ao movimento cooperativista, a Copérdia
mantém uma equipe cujas atividades destinam-se a promover ações de caráter social, visando
oportunizar o desenvolvimento humano dos cooperados, funcionários e da comunidade como
um todo. As ações sociais efetivadas pela Copérdia são divididas em cinco categorias: 1)
Educação, 2) Saúde, 3) Meio Ambiente, 4) Ações Sociais e, 5) Participações Sociais.
A Educação é um dos itens priorizados pela administração da Copérdia. Diversas
ações e programas são executados pela própria cooperativa e por parceiros elencados para
garantir a efetividade das iniciativas. As principais ações em torno da educação são:
Educação / capacitação do produtor rural A Copérdia desenvolve programas de
capacitação contínua dos cooperados em parceria com instituições como SENAR, SEBRAE,
SESCOOP, Prefeituras Municipais, Aurora e Sindicatos Rurais. Estes programas enfocam
fortemente aspectos de qualidade, liderança, gestão e técnicos específicos das atividades.
Projeto Jovem Copérdia Tem como público alvo os filhos dos cooperados e objetiva
integrar o jovem às atividades rurais tendo em mente questões qualitativas do cotidiano do
campo, estimulando a permanência do jovem nas propriedades rurais.
97
Comitês de negócios São reuniões periódicas com representantes de grupos de cooperados
das diversas regiões e localidades com o objetivo de discutir e apontar diretrizes para as
atividades produtivas.
Comitês educativos femininos Assim como o projeto jovem Copérdia, os comitês
femininos tem a finalidade de unir as famílias em torno de objetivos e práticas comuns.
Participam as mulheres associadas, esposas e filhas dos cooperados, organizadas em 84
núcleos nos diversos municípios onde a Copérdia atua. Nas reuniões são ministradas palestras
sobre saúde, cursos de culinária e além de informações técnicas sobre as atividades rurais.
Programa 5S Baseado nas premissas do sistema 5S de qualidade, é direcionado tanto aos
funcionários no âmbito administrativo e operacional da Copérdia, quanto aos cooperados em
suas propriedades.
Treinamento / capacitação de funcionários Continuamente, são realizadas palestras e
seminários de treinamento das funções cotidianas em todas as áreas da organização.
Unicoper A Universidade Copérdia é uma parceria entre a Copérdia e a Universidade do
Contestado (UnC). Com a ajuda da universidade, foi montado um curso dividido em quatro
módulos, que envolvem aspectos comportamentais, estudos sobre cooperativismo, técnicas
gerenciais e aspectos de gestão da propriedade rural. O projeto tem por objetivo qualificar a
atividade rural através da profissionalização dos jovens com base em conhecimento conciso e
direcionado ao seu contexto. Pretende-se estimular a fixação dos jovens no campo e qualificar
os processos de produção agrícola, aumentando, no médio prazo a competitividade do setor.
Outro elemento social abordado pela Copérdia é a Saúde, através de promoções
como:
BrinkFest Evento realizado anualmente com objetivo de incentivar as atividades físicas e o
contato com as famílias dos cooperados.
Segurança no trabalho Diversas ações desenvolvidas pela CIPA em todas as unidades com
objetivo de diminuir os índices de acidentes de trabalho e a incidências das doenças
relacionadas ao trabalho.
Ginástica laboral Também direcionada aos funcionários, promove a melhoria da qualidade
de vida e da produtividade.
Auxílio saúde, moradia e alimentação Destinada a acompanhar a execução das atividades
pelos funcionários oferecendo melhores condições de trabalho, como por exemplo,
alimentação balanceada a colaboradores que realizam funções de maior desgaste físico.
98
Tradicionalmente, a atividade agrícola é geradora de sérios impactos ambientais,
quer devido ao desmatamento de áreas verdes para o cultivo de grãos e criação de animais,
quer pela gestão dos dejetos das atividades. Ações orientadas ao meio ambiente também
fazem parte do conjunto de medidas de caráter social desenvolvidas pela Copérdia, através de:
Licenciamento ambiental A licença ambiental para as atividades rurais é uma conquista
cada vez mais rara. Através de um termo de ajuste de conduta a Copérdia intermedia o
licenciamento ambiental das propriedades cooperadas junto aos órgãos competentes e auxilia
os agricultores a se adequarem às exigências ambientais.
Coleta seletiva de lixo A Copérdia incentiva a separação do lixo produzido nas
propriedades e sua coleta seletiva, fomentando a reciclagem de materiais.
Tratamento de dejetos Uma das questões mais críticas, sobretudo da atividade de
suinocultura, outrora uma das responsáveis maiores pela poluição dos mananciais hídricos. A
Copérdia orienta e capacita os produtores a utilizarem os dejetos da produção suína de forma
menos poluidora, adequando-se à legislação ambiental vigente.
Recolhimento de embalagens de agrotóxicos Em todas as unidades da Copérdia existem
pontos de coleta de embalagens de agrotóxicos e os produtores são orientados constantemente
a adotarem um manejo adequado de tais resíduos da produção.
Utilização de lenha de reflorestamentos A Copérdia prioriza o uso de lenha de origem
comprovadamente em reflorestamentos nas suas unidades, colaborando para a manutenção
das espécies nativas.
Um outro conjunto de ações são destinadas aos próprios cooperados como forma de
qualificar sua relação com a cooperativa, são elas:
Sócios beneméritos De acordo com a determinação estatutária, os sócios com mais de 65
anos tem direito a receberem 50% de sua cota capital, sem perder os direitos como associado.
Programa troca-troca Realizado em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura,
este programa permite ao cooperado pagar pelos insumos necessários ao plantio com a própria
produção.
Distribuição de sobras As sobras líquidas apuradas são distribuídas aos associados
proporcionalmente à quantidade e volume das transações realizadas com a Copérdia.
PPR Destinada aos funcionários, a política de participação nos resultados visa fomentar as
iniciativas empreendedoras de seus colaboradores e o desempenho da organização
99
4.2 Descrição e análise das configurações dos elementos organizacionais
adotadas pela Copérdia
A premissa norteadora desta pesquisa é a de que o arranjo dos elementos
organizacionais em termos de recursos, competências, processos e das interações com o
ambiente determinam a configuração assumida pelas organizações, em determinados
períodos, no decorrer de sua trajetória.
Assume-se que de tempos em tempos, quer demandados pelas modificações
ambientais, quer por ação deliberada da própria organização, a configuração possa ser revista
e adequada a um novo contexto desejado. O conjunto de fatores que deflagrariam uma
reconfiguração, podem ser reunidos em eventos estratégicos, ou momentos na história da
organização onde há uma revisão da trajetória estratégica e a decisão pela nova linha de
atuação.
Através da metodologia descrita no capítulo 3, coletou-se uma rie de dados da
história da Copérdia, a partir dos quais pode-se demonstrar a existência de alguns momentos
em que houveram significativas mudanças no modus operandi da organização, caracterizados,
portanto como eventos estratégicos.
Na trajetória da Copérdia, identifica-se quatro momentos caracterizados como
eventos estratégicos, dados seus impactos na condução dos negócios, internamente e no
relacionamento da organização com seus stakeholders, são eles:
1) Fundação;
2) Implantação da atividade de suinocultura;
3) Programa de qualidade;
4) Profissionalização da atividade de bovinocultura leiteira.
A Figura 26, demonstra a cronologia destes eventos estratégicos inseridos na história
da Copérdia. Esta visão é particularmente importante em razão da contextualização ambiental,
vista adiante, em cada um destes períodos, sobretudo em face de aspectos como liderança e
articulação de recursos no âmbito interno e fatores macro-econômicos externamente.
A análise dos períodos históricos onde os eventos estratégicos se desenrolaram
oferece a visão do contexto ambiental e a análise dos elementos organizacionais antes e
depois dos períodos delimitados como onde ocorreram os eventos, aponta as configurações
adotadas pela Copérdia.
100
Figura 26: Eventos estratégicos na linha do tempo
Fonte: Elaborado pelo autor (2008)
Em tópicos mais adiante as diferenças entre as configurações antes e depois dos
eventos estratégicos serão avaliadas e descritas inseridas na abordagem da Configuração
Estratégica.
4.2.1 Fundação
O ato de fundação da Cooperativa pode ser considerado um evento estratégico
significativo para esta análise, pois denota o mecanismo de adaptação estratégica e
reconfiguração de elementos organizacionais para capitalização de uma oportunidade
ambiental. Como foi dito, a Copérdia deriva de uma associação de produtores rurais do
município de Concórdia SC, e com vistas às oportunidades de capitalização geradas pelas
variáveis legal, política e econômica, converteu-se para uma forma de cooperativa.
4.2.1.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico
Antes da existência formal da Copérdia, os produtores rurais do município de
Concórdia estavam associados em torno de uma entidade que promovia algumas ações em
benefício coletivo. Como naquele momento a configuração da agroindústria não preconizava,
por exemplo, o transporte de animais, tanto jovens para alojamento, quanto terminados para
abate. A associação rural mantinha veículos para tal logística à disposição dos produtores
associados, que era de sua responsabilidade tal transporte. Outro exemplo da atuação da
associação rural era o controle sanitário dos rebanhos de animais. A entidade mantinha
parcerias com o Governo do Estado para garantir que profissionais capacitados atendessem
101
aos produtores. A configuração da associação rural em termos de recursos e competências era
restrito às atividades de apoio e no âmbito estritamente operacional.
Percebe-se que a associação rural tinha atuação limitada, embora eficiente, devido à
pouca capacidade de desenvolver negócios, mantendo-se como unidade de apoio ao produtor,
mas não de agente de prospecção ou voltada a desenvolver infra estrutura para as atividades
desenvolvidas na região.
4.2.1.2 Variáveis ambientais determinantes
No contexto ambiental à época da fundação da Copérdia, no final da década de 60,
algumas variáveis convergiram de modo a criar um cenário favorável para o desenvolvimento
de uma cooperativa. Assim, os membros da Associação Rural de Concórdia criaram a
Copérdia com vistas ao aproveitamento dos benefícios concedidos a este tipo de associação.
Variável Legal Em 21 de novembro do ano de 1966, o Decreto-Lei n. 59 criou o “Fundo
Nacional de Cooperativismo, destinado a prover recursos de apoio ao movimento
cooperativista nacional. No ano seguinte, em 25 de fevereiro de 1967, promulgou-se o
Decreto-Lei n. 200, que normatizava organização da Administração Federal, estabelecia
diretrizes para a Reforma Administrativa, e que em seu artigo 172 dispunha de benefícios às
organizações com características específicas, conforme o texto do Decreto-Lei:
Art. 172. O Poder Executivo assegurará autonomia administrativa e
financeira, no grau conveniente aos serviços, institutos e estabelecimentos
incumbidos da execução de atividades de pesquisa ou ensino ou de caráter
industrial, comercial ou agrícola, que por suas peculiaridades de
organização e funcionamento, exijam tratamento diverso do aplicável aos
demais órgãos da administração direta, observada sempre a supervisão
ministerial. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)
§ Os órgãos a que se refere este artigo terão a denominação
genérica de Órgãos Autônomos. (Renumerado do Parágrafo Único pelo
Decreto-Lei nº 900, de 1969)
§ Nos casos de concessão de autonomia financeira, fica o Poder
Executivo autorizado a instituir fundos especiais de natureza contábil, a
cujo crédito se levarão todos os recursos vinculados às atividades do órgão
autônomo, orçamentários e extra-orçamentários, inclusive a receita própria.
(Incluído pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)
102
Quando foi promulgada a Lei 5.764, em 16 de dezembro de 1971, incorporou tais
prerrogativas legais em sua base jurídica, garantido a continuidade de um ambiente legal
favorável ao desenvolvimento das organizações cooperativas.
Outro aspecto legal decisivo para o desenvolvimento das atividades agrícolas foi a
inexistência de uma legislação ambiental rígida. A escalada da produção rural, animal e
vegetal sobre o meio ambiente foi fator decisivo para o crescimento exponencial da produção
local e para o estabelecimento de uma sólida planta agroindustrial no Oeste Catarinense.
Atualmente não se considera mais viável tal modelo de desenvolvimento sem base sustentável
e a legislação ambiental, muito mais rígida, impede o avanço da degradação como meio de
promover a agricultura.
Variável Política Politicamente, o momento também se mostrava positivo para uma
configuração tal que permitisse usufruir dos benefícios do artigo 172 do Decreto-Lei n. 200.
Assim, foi necessário constituir uma organização com certa influência política e, sobretudo,
capacidade de articulação política para ter acesso aos recursos previstos nos Decretos-Lei 59 e
200.
Variável Macroeconômica A criação do Fundo Nacional de Cooperativismo associado ao
momento desenvolvimentista da economia nacional serviram de impulso também no Oeste de
Santa Catarina, movimentando e incentivando a ampliação da base produtiva. Vale lembrar
que de 1968 a 1973, a economia do Brasil cresceu à taxa média próxima de 12% ao ano,
período do chamado milagre econômico. A demanda por alimentos também vivenciou
períodos de alta e com isso viu-se um cenário favorável para os investimentos no setor
agrícola.
Variável Demográfica A colonização do Oeste Catarinense se deu em grande parte pela
migração de teuto-ítalo-gaúchos, desde o início do século XX.
Desde a década de 40, vem se desenvolvendo uma base agroindustrial que tem nas
propriedades rurais, em sua maioria minifúndios poli-extrativistas, sua fonte de
desenvolvimento e aquisição de matéria-prima. Do ponto de vista do produtor rural,
fornecedor de matéria-prima para a agroindústria, a atividade de criação de animais para abate
requereu forte investimento em áreas de cultivo de grãos, principais insumos da atividade. O
crescimento exponencial das áreas cultiváveis combinado com o aprimoramento evolutivo das
103
técnicas de cultivo passou a gerar excedentes na produção de grãos, não absorvidos na
atividade de engorda e terminação de suínos e aves. Tal produção de grãos necessitava ser
comercializada, e este se constitui uma das motivações para a associação de produtores.
Variável Cultural A forte presença das culturas Alemã, Italiana e Gaúcha na região Oeste
de Santa Catarina, sobretudo na região de Concórdia compõe o perfil sócio-cultural, bem
como a vocação para a atividade econômica praticada ali. Assim como também é um traço
marcante destas culturas a tendência para o associativismo, essência do principio
cooperativista.
A configuração da cooperativa nos anos seguintes ao evento estratégico
proporcionou o crescimento das operações e o fomento crescente das atividades agrícolas na
região. Desta forma, percebe-se a condição de agregação de potencial competitivo obtido.
4.2.1.3 Configuração assumida após o evento estratégico
No período que se seguiu ao estabelecimento da organização como uma cooperativa,
inicia-se o processo de aquisição de recursos e desenvolvimento de competências, voltados ao
objetivo de aprimorar o relacionamento com os cooperados e, sobretudo, de potencializar a
produção de alimentos.
Em um primeiro momento, as atividades da Copérdia focalizaram a produção de
grãos, posto que havia na época um excedente da produção que era utilizada para a engorda
de animais. Tal volume passou a ser canalizado pela cooperativa e estocado para posterior
comercialização ou beneficiado para o consumo das famílias como farinhas e demais
derivados.
Assim sendo, nos primeiros anos da Copérdia houve a percepção de se articular
recursos de forma a garantir o manejo da produção de grãos, desde a facilitação de verbas
para o custeio das lavouras, até a operação de estocagem em silos próprios e comercialização
em lojas pertencentes à cooperativa.
Como o momento era de consolidação da idéia de cooperativismo, um dos principais
recursos arranjados na configuração assumida na época foi a figura do presidente escolhido
para comandar o período de implantação das mudanças. Foi eleito Ivo Reich, amplamente
conhecido e respeitado pela comunidade local por sua longeva e proeminente atuação na
agroindústria regional.
104
A competência de articulação política foi priorizada para obter-se os resultados
desejados naqueles primeiros anos da Copérdia. Tanto em âmbito interno, como forma de
consolidar a cooperativa junto aos associados, quanto externamente visando atingir as
expectativas de arrecadação de verbas para as atividades rurais.
O Quadro 10 demonstra esta fase da organização sintetizando os principais
acontecimentos e as configurações antes e depois da mudança.
Quadro 10: Evento estratégico: Fundação da Copérdia
Fonte: Elaborado pelo autor
Além disso, outros recursos foram conformados para viabilizar a operação da
Copérdia, principalmente com a construção de silos e armazéns para estocagem de grãos.
Soma-se a isso a necessidade de aquisição de mão de obra com competência para a gestão dos
processos que a atividade exige. Como também era foco a comercialização dos grãos, in
natura, ou beneficiados sob a forma de farinhas e outras, lojas agropecuárias foram montadas
para tal função, provendo ainda o comércio de insumos agrícolas como sementes, herbicidas,
105
ferramentas, armarinhos e assim por diante. Os estoques remanescentes ainda precisavam ser
negociados com outras cooperativas, cooperativas centrais ou mesmo com organizações
privadas e a competência para gerenciamento destas operações também necessitou ser
desenvolvida.
Como forma de viabilizar estas operações, a Copérdia também passou a contar com
o recurso de uma sede administrativa própria, centralizando a gestão das atividades e o
relacionamento com os players do ambiente externo.
4.2.2 Implantação da atividade de suinocultura
O segundo momento onde se observa, com base nas entrevistas e na análise de dados
secundários, mudança estratégica e reconfiguração da base de recursos, competências e nos
processos organizacionais foi a incorporação pela Copérdia da atividade de suinocultura.
Pode-se afirmar que paralelamente à produção de grãos, a suinocultura foi e
continua sendo a atividade mais difundida no interior do município de Concórdia e região. No
início dos anos 80, a economia mundial enfrentava severas crises e a nacional, muito embora
fossem épocas de fechamento econômico, já não era tão otimista quanto em anos anteriores.
4.2.2.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico
A desaceleração do crescimento e o endividamento externo seguido do tormento
inflacionário eclodido nos anos 80 motivaram uma retração do consumo, inclusive de
alimentos, que foi enfrentada pela agroindústria através de um profundo estreitamento das
margens de lucro que culminou em uma redefinição dos patamares de pagamento pela matéria
prima. Como consequência desta política, os suinocultores experimentaram uma das primeiras
crises do setor e, como a maioria estava associada à agroindústria, procurou-se novas
possibilidades de obtenção de receitas de forma independente. Este movimento culminou com
a implantação da atividade de fomento à suinocultura pela Copérdia e, a partir daí, os
produtores passaram a ter novas alternativas de encaminhamento de sua produção.
Outro ponto de destaque na análise do contexto anterior a este evento estratégico, é a
questão do fortalecimento da atividade de fomento à suinocultura pela agroindústria desde
meados da década de 70. Com esta iniciativa a indústria visava aumentar o controle sobre o
processo de criação e terminação de animais, otimizando os tempos de engorda, o manejo
mais adequado, diminuição dos níveis de mortandade e o aumento de rentabilidade dos lotes
106
de animais abatidos. A própria indústria passou a incorporar recursos do processo produtivo
para atingir maiores índices de desempenho, tais como frotas de veículos para a logística de
suprimento de rações e transporte de animais para abate, antes de responsabilidade dos
próprios produtores. Com isso, o produtor abre mão e certa autonomia nas decisões sobre sua
produção e passa a contar com a praticidade de receber alimentação pronta, medicamentos e
assistência técnica, além de um fluxo mais rápido de terminação de animais. O outro extremo
desta situação, todavia, é que o produtor deixa de gerenciar diretamente os custos de sua
produção ficando vulnerável à política da indústria, haja vista que é esta quem passa a
elaborar os preços das rações, medicamentos e do preço final da matéria prima.
Até então, os recursos detidos pela Copérdia se restringiam às atividades de
estocagem e beneficiamento de grãos, lojas agropecuárias e sede administrativa. Assim como
as competências e os processos organizacionais eram voltadas a operacionalização destes
recursos.
4.2.2.2 Variáveis ambientais determinantes
O final da década de 70 e início dos anos 80 foi marcado por profundas
transformações no ambiente. De um lado o enfraquecimento político do regime militar, se
gerava certo otimismo, também produzia incertezas com relação ao futuro, e de outro lado a
mais profunda herança do regime: o endividamento externo e a inflação surreal que corroia o
valor da economia e dos fatores produtivos.
Variável Política no final dos anos 70 já não havia mais espaço para o modelo de
crescimento econômico praticado, nem tampouco para a forma como a política nacional vinha
sendo tratada pelo regime militar desde a sua abrupta ascensão ao poder. Como resultado,
presenciou-se o enfraquecimento do militarismo e a abertura para um modelo democrático de
governo e de representatividade.
Variável Macroeconômica Como mencionado antes, a economia mundial passou por um
momento de retração no início dos anos 80 e, muito embora o regime político brasileiro
mantivesse a economia fechada, as repercussões da crise mundial também foram sentidas no
Brasil. Paralelamente, o endividamento externo provocado pelo financiamento do “milagre
econômico” das décadas de 60 e 70 e a explosão da inflação criaram um cenário econômico
conturbado.
107
Após três décadas de consideráveis crescimentos econômicos (em média de
7% ao ano), financiados com recursos externos e públicos, os anos 80
começam dando claros sinais de esgotamento deste padrão de
financiamento. No que tange aos recursos externos, o aumento da liquidez
internacional patrocinado pelo eurodólar, a partir de meados dos anos 60,
tornou-se a melhor opção para financiar a expansão econômica, no País, das
“procissões de milagres”. Além disso, devemos levar em consideração a
“atrofia do sistema financeiro nacional”, cujas funções estavam
predeterminadas: o Estado financiava projetos industriais de longo prazo via
BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico); a construção
civil, via BHN (Banco Nacional de Habitação); e a agricultura, via Banco
do Brasil; os bancos nacionais financiavam o consumo e o capital de giro
(Carneiro, 1991). A atrofia do sistema financeiro nacional é característica de
um país que, tardiamente, desenvolveu suas forças endógenas de
crescimento, cuja acumulação se dá horizontalmente com a multiplicação de
casas bancárias sem aporte financeiro capaz de financiar projetos de longo
prazo. (GOULARTI FILHO, 2002, p. 86).
A solução encontrada pela agroindústria foi a de minimizar os custos da cadeia
produtiva como forma de manter-se competitiva com impacto direto no redimensionamento
dos ganhos dos produtores de suínos.
Variável Demográfica Não se percebe no período uma mudança no perfil demográfico
regional, continua-se com forte concentração populacional no interior do município, nas
propriedades poliestativistas. O movimento impactante percebido é o de descontentamento
desta população com sua fonte de renda, altamente concentradas no rendimento da produção
de suínos comercializados com uma única agroindústria. A implementação da atividade de
suinocultura pela Copérdia viria a provocar uma migração, não geográfica, mas de origem das
fontes de renda da população rural do município.
Variável Cultural O fator preponderante da variável cultural que levou muitos produtores
ao descontentamento com a atividade foi a queda do poder aquisitivo causada pelo
estreitamento das margens obtidas com a suinocultura. Até meados da década de 70 os
produtores eram independentes para produzirem dentro de seus próprios padrões e com sua
gestão de custos, culturalmente, racionalista. Com o fomento da indústria e a obrigatoriedade
de comprar insumos, os ganhos foram drasticamente reduzidos o que afetou a percepção de
satisfação com a atividade.
108
4.2.2.3 Configuração assumida após o evento estratégico
A decisão pela implementação da atividade de suinocultura provocou a necessidade
de um importante arranjo de recursos e do desenvolvimento de novas competências.
Primeiramente, a estrutura administrativa teve que incorporar novos processos e o
conhecimento necessário para operacionalizá-los e gerenciá-los, tendo em vista que o fluxo de
produção de suínos possui especificidades que até então não eram sentidas.
O Quadro 11 sintetiza o evento estratégico implantação da atividade de suinocultura:
Quadro 11: Evento estratégico: Implantação da atividade de suinocultura
Fonte: Elaborado pelo autor
Paralelamente, foi preciso articular a formação de uma frota de caminhões para a
operação logística de fornecimento de insumos e rações aos cooperados. Cabe salientar que
tais caminhões possuem características específicas para o transporte de rações, são os
109
chamados caminhões graneleiros. Para não precisar adquirir tais veículos, a Copérdia
terceiriza estes recursos através do incentivo a empresários especializados nesta atividade,
comuns na região dado o grande volume de indústrias deste gênero.
Além disso, o mesmo método de disponibilização de recursos foi empregado na
formação de uma frota de caminhões para o transporte dos animais para o abate, veículos
também específicos para tal função.
No que tange a comercialização da produção, a Copérdia tem a Cooperativa Central
Aurora como parceira, isto porque a Aurora possui frigoríficos para o abate e beneficiamento
de suínos e absorve toda a produção dos cooperados.
De acordo com os dados da pesquisa realizada, verifica-se que os funcionários da
Copérdia associam o momento de mudança à capacidade empreendedora da presidência,
assim como associam os momentos de não-mudança à apatia da liderança. No caso específico
deste evento estratégico, todos os entrevistados atribuíram ao então presidente grande parte da
iniciativa em implementar a suinocultura ao portfólio da Copérdia.
4.2.3 Programa de qualidade
A necessidade crescente de otimização do processo produtivo para proporcionar o
suprimento de matérias primas de que precisa a indústria, associada à intenção de
proporcionar melhoria da qualidade de vida dos cooperados, colaboraram para a adoção de
um amplo programa de qualidade pela Copérdia.
Capitaneado pela metodologia e premissas do modelo 5S, as ações em torno de
ganho de qualidade foram implantadas não apenas no âmbito administrativo da cooperativa,
mas também foram extensivas às propriedades dos cooperados, em uma tentativa de produzir
um ambiente integrado voltado à qualidade total.
4.2.3.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico
Desde o início da década de 80, com a implementação da suinocultura, e demais
atividades listadas no Quadro 6 no início do capítulo, a Copérdia vinha operando de forma
padronizada, mas sem compromisso com métodos mais avançados de gestão ou qualidade. A
partir do plano Real com a estabilização da economia e o aumento do consumo, cresceu a
demanda pelos produtos do mix oferecido pela Copérdia e na mesma escala aumentaram as
exigências por eficiência e volumes produzidos.
110
Com vistas a produzir mais e melhor para atender os compromissos de fornecimento
a Copérdia entendeu como primordial engajar-se em um vasto programa de qualidade
objetivando a melhoria dos resultados operacionais.
Outro fator decisivo nesta análise gira em torno do acirramento da competitividade
entre as empresas do setor, tanto no mercado, quanto visando a exportação para os mercados
Europeu e do Oriente Médio.
4.2.3.2 Variáveis ambientais determinantes
Na década de 90 a economia nacional passa para uma fase de estabilidade e o
cenário competitivo passa a premiar as organizações com melhores métodos de gestão, maior
eficiência e preços justos.
Variável Macroeconômica A década de 90 foi marcada pelas medidas de estabilização
econômica e conseqüente expansão do consumo. A abertura do mercado aos produtos
importados também tem reflexo na forma de atuação das empresas nacionais, exigindo maior
eficiência e produtos mais competitivos em termos de qualidade e preços.
Variável Cultural Esta talvez seja a variável mais relacionada com a implantação de um
conjunto de medidas voltadas a qualificação das atividades operacionais de uma organização.
Se houver resistência por força de uma cultura arraigada às tradições, um projeto nestes
moldes pode facilmente falhar. Não parece ser o caso da Copérdia. Com base nas entrevistas,
pode-se determinar que a proposta de implantação dos processos de qualidade não foram
bem aceitos como incorporados ao conjunto de crenças, tanto de funcionários quanto de
cooperados.
4.2.3.3 Configuração assumida após o evento estratégico
O evento estratégico implantação do programa de qualidade teve sua principal
influência nas competências organizacionais da Copérdia, uma vez que são entendidas como
conhecimentos, habilidade e atitudes.
Os métodos de qualidade promoveram na organização uma profunda reforma no
modo de agir e executar as tarefas cotidianas com vistas à obtenção de resultados melhores
com os mesmos recursos e com a otimização dos processos operacionais. Estes, em termos de
111
função e finalidade, também não sofreram mudanças significativas a não ser na concepção de
sua execução, de acordo com as premissas da qualidade total. No Quadro 12, demonstra-se de
forma esquemática o período de transição proporcionado pelo evento estratégico.
Quadro 12: Evento estratégico: Programa de qualidade
Fonte: Elaborado pelo autor
Assim como no evento estratégico anterior, os entrevistados também associam a
iniciativa da adoção do modelo de qualidade total a uma postura da liderança através do
presidente da organização.
4.2.4 Profissionalização da atividade leiteira
A atividade de bovinocultura leiteira era praticada pelos associados da Copérdia
desde o início dos anos 80, mas de forma bastante incipiente. Foi a partir do final da década
112
de 90 que a atividade passou a ser priorizada como fonte de renda importante nas
propriedades rurais.
A erosão da renda advinda da suinocultura provocou um sério impacto no modo de
vida dos produtores rurais que tinham nesta atividade sua principal fonte de sustento. Em
substituição a esta renda, a bovinocultura leiteira assumiu um importante papel como forma
de garantir não apenas o ganho imediato, mas a retenção dos jovens no meio rural
desenvolvendo uma atividade bastante rentável.
4.2.4.1 Descrição da configuração anterior ao evento estratégico
Do ponto de vista operacional, a Copérdia possuía os recursos e as competências
bem como dominava os processos de intermediação na coleta da produção agrícola e
comercialização via cooperativa central. Além disso, havia disseminado e vinha praticando
os preceitos da qualidade total em todos os seus processos.
Do ponto de vista do cooperado, a exaustão da atividade de suinocultura provocava a
necessidade de fontes de renda substitutas e adaptáveis às condições geográficas e culturais
existentes. Paralelamente, no final da década de 90 inicia-se um movimento de instalação de
uma forte planta fabril leiteira na região, que passa a fomentar a atividade, atraindo as
atenções dos produtores rurais.
Programas de financiamento facilitados, sobretudo de incentivo à agricultura
familiar desenvolvidos pelo poder público também ganham corpo promovendo a capacidade
de investimento dos produtores.
4.2.4.2 Variáveis ambientais determinantes
Macroeconômica A consolidação da atividade leiteira na região é concomitante com a
implantação de uma forte planta industrial de laticínios no município e região. Além de
players de grande porte, inúmeros pequenos laticínios atuam hoje no beneficiamento de
queijos, iogurtes e derivados do leite. Muitos destes operam com recursos dos programas
federais de incentivo à agricultura familiar, por exemplo, e outras linhas de crédito para o
fomento da atividade, tanto no âmbito da produção, quanto da industrialização.
Cultural Desenvolvimento da aptidão para a criação de gado leiteiro, sobretudo no escopo
das propriedades rurais típicas da região, associada com aviários, pocilgas e do cultivo de
113
grãos e frutas. Por força do traço cultural, em muitos casos a atividade leiteira era
considerada, do ponto de vista do agricultor e antes do movimento de profissionalização,
como complementar e geralmente função da mulher, que a desenvolve enquanto o marido
trabalha nas demais atividades, como plantio e suinocultura. A transferência de rentabilidade
proporcionada pela bovinocultura leiteira têm causado uma mudança nesta visão, fazendo
com que esta atividade seja considerada a principal fonte de renda das famílias.
Demográfica Pela própria característica das propriedades da região, a variável demográfica
se mistura, na análise da implantação da bovinocultura de leite, à das implementações das
demais atividades, ou seja, existe na região um grande contingente de produtores com área e
disponibilidade para o desenvolvimento de atividades complementares. Outra constatação
relativa ao fator demográfico como influenciador da atividade leiteira, diz respeito à migração
de famílias que tiveram suas terras desapropriadas por ocasião da barragem de Itá. Ao
adquirirem novas propriedades, muitos agricultores substituíram a atividade de suinocultura
pela leiteira, dado o volume de investimento necessário para a aquisição dos recursos
necessários e a expectativa de retorno sobre este investimento.
4.2.4.3 Configuração assumida após o evento estratégico
A intensificação da atividade leiteira, sob a ótica da configuração da Copérdia,
consistiu, por um lado de uma adaptação de recursos, com base na disponibilização de uma
frota de caminhões com capacidade de coletar a produção de leite. De ouro lado com o
desenvolvimento de competências técnicas para orientação dos produtores, assim como para
gerenciar o fluxo administrativo e financeiro provocado pelos processos desta atividade.
Este redimensionamento ágil de recursos e competências propiciou à Copérdia uma
condição de vantagem competitiva no segmento, posto que conseguiu suprir a demanda da
indústria com rapidez e eficiência e internamente oferecer uma alternativa de renda para o seu
cooperado.
A partir das informações supracitadas, percebe-se segundo Pettigrew (apud Fleury e
Fischer, 2004) que, no âmbito da mudança estratégica, particularmente importante na
abordagem de configuração estratégica, faz-se necessário articular as relações entre contexto
da organização, conteúdo da estratégia e processo da mudança. Segundo Pettigrew (apud
Fleury e Fischer, 2004) a noção contextualista preconiza orientar os recursos da organização
(contexto interno) e adequação à contingência emergente do ambiente (contexto externo).
114
Para o autor, umas das fraquezas dos processos de estratégia tem sido o exagerado apego dos
estrategistas à relação entre conteúdo e contexto externo estritamente. Postula o autor: “a ação
para modificar as estratégias e culturas das empresas é muito mais dependente da habilidade
para ligar não apenas o quê (conteúdo) da mudança ao contexto externo da empresa, mas
também ligar e moldar tais sugestões à política interna e contexto da empresa” (PETTIGREW
apud FLEURY e FISCHER, 2004, p.147).
Ao assumir, ainda que sem tal consciência deliberada, uma postura mais contextualista
e favorável à mudança, a Copérdia manteve-se ativa e atenta às necessidades iminentes do
mercado, e às de seus donos, os cooperados. “As organizações suficientemente inteligentes
para lidar com a complexidade e a fluidez do mundo atual possuem o que se denomina
arquitetura mutável. Ou seja, a estrutura se altera conforme os problemas surgidos”
(PINCHOT E PINCHOT, 1994, p.20).
Destaca-se neste processo o papel inexorável da liderança como articuladora e
incentivadora do processo de mudança e re-configuração da base de recursos e competências
para a capitalização de oportunidades. Em períodos onde os entrevistados atribuíram certa
apatia da liderança, sobretudo nos anos 70 e final dos 80, poucas mudanças houveram, com
reflexo no desempenho organizacional. Ao passo que destaca-se a iniciativa empreendedora
dos líderes nos momentos de re-configuração e condução do processo de mudança.
A análise dos eventos estratégicos ocorridos na Copérdia também denota a
fundamental importância de configurações que privilegiem o fator humano. No caso
específico da implantação da atividade de suinocultura, além de uma rede logística eficaz, a
capacidade do cooperado e da assistência técnica foram vitais no desenvolvimento do
negócio. Assim como nos demais eventos estratégicos onde o perfil das competências
desenvolvidas impulsionou a estratégia (padrão de comportamento).
Whittington (2002) entende que supostas vantagens competitivas baseadas em
determinadas tecnologias ou mercados tendem a ser suplantadas no voraz ambiente
competitivo atual. A vantagem verdadeiramente sustentável vem da capacidade interna de
adaptar-se e aprender (WHITTINGTON, 2002, p. 127).
Para Nadler, Gerstein e Shaw (1994) uma fonte de força adaptativa que tem
implicações para todas as outras, é a forma pela qual os esforços da empresa são organizados.
A maneira pela qual a empresa organiza seus esforços pode ser uma fonte de grande vantagem
competitiva, principalmente nas épocas em que aumenta o valor da flexibilidade, da
adaptação e da administração da mudança.
115
No Quadro 13 tem-se uma compilação dos principais elementos da configuração
assumida pela Copérdia, além do contexto ambiental da época.
Quadro 13: Evento estratégico: Profissionalização da bovinocultura leiteira
Fonte: Elaborado pelo autor
Não restam dúvidas que o potencial do mercado e as articulações no âmbito externo,
tais como nos acordos de fornecimento com as cooperativas centrais, também tiveram
fundamental importância no processo de crescimento da Copérdia.
116
4.3 Configuração Estratégica voltada à vantagem competitiva a partir da
análise do caso Copérdia
Como foi dito, não é pretensão deste trabalho propor ou apontar um modelo de
configuração que leve uma organização a adquirir vantagem competitiva, mas sim demonstrar
como uma organização pode obter vantagem competitiva através da consideração de fatores
configuracionais próprios avaliados à luz desta abordagem.
A Configuração Estratégica pode ser considerada produto complexo dos recursos,
das competências, dos processos praticados e dos relacionamentos que uma organização
cultiva com o ambiente. Assim sendo, pode-se trazer à discussão a noção de auto-
organização, como visto em Capra (199 ) e mesmo de auto-eco-organização, de acordo com
Morin (2006), para determinar que a configuração é, em última análise um mecanismo através
do qual é possível controlar a dinâmica dos sistemas e sua relação ecológica. Isto porque a
abordagem da Configuração Estratégica propicia visualizar a organização em termos de que
elemento ou elementos precisam ser desenvolvidos ou abandonados para otimizar sua
integração com o meio obtendo resultados positivos. Esta contextualização leva à visão de
que, através da abordagem da configuração estratégica pode-se, deliberadamente, atuar de
modo a abrandar o processo de entropia ao longo do tempo.
O estudo de caso realizado na Copérdia aponta para a possibilidade de utilização
efetiva da abordagem da configuração estratégica visando posicionar uma organização no
contexto competitivo, tendo em vista que:
1) Em cada evento estratégico descrito, emergiu uma nova forma de estruturação dos
processos organizacionais devido às mudanças na base de recursos, nas necessidades de
novas competências ou no mecanismo de interação com os stakeholders e com os
próprios cooperados.
2) As novas formas assumidas preparavam a organização para o contexto competitivo de
cada período. Esta posição se evidencia, por exemplo, no evento estratégico
profissionalização da atividade de bovinocultura leiteira, que colocou a Copérdia em
condições de competir no cenário que se desenhava com a instalação de um pólo
industrial leiteiro na região, atraindo diversas empresas de atuação nacional.
3) Os indicadores de desempenho organizacional tendem a ser positivos, sobretudo nos
momentos dos eventos estratégicos. Senão veja-se a evolução do faturamento no ano
2000, quando se deflagrou o evento estratégico de estímulo à atividade leiteira, ou ainda
117
em 1995 quando os processos organizacionais passaram a seguir os imperativos da
política de qualidade total.
Ainda com vistas ao estudo de caso, pode-se direcionar uma análise no sentido de
demonstrar a convergência entre as configurações assumidas após os eventos estratégicos com
a condição de vantagem competitiva da Copérdia. No evento de fundação, a possibilidade de
captação de recursos com taxas de juros atrativas foi crucial para o desenvolvimento da
agricultura regional da época. Tal possibilidade foi efetivada devido à configuração da
organização como uma cooperativa para que pudesse usufruir dos benefícios do Decreto-Lei
n. 59 e do “Fundo Nacional de Cooperativismo”, destinado a organizações desta natureza
jurídica.
No evento estratégico seguinte, a implantação da atividade de suinocultura, a
articulação da Copérdia no sentido de montar uma estrutura logística e de assistência técnica
ao cooperado foi condição sine qua non para o sucesso da iniciativa, tanto em termos
financeiros, quanto de oportunidade social para os produtores da região, antes atrelados
unicamente ao modelo de integração praticado pela agroindústria.
O programa de qualidade, por sua vez, propiciou as bases para a continuidade do
desenvolvimento da organização, em termos de aprimoramento das competências para a
execução das atividades operacionais. Sem esta configuração permeada pelos processos de
qualidade, a Copérdia dificilmente teria conseguido alcançar os níveis de competitividade
necessários no desenho atual da indústria de produção de alimentos.
No último evento estratégico identificado, a profissionalização da atividade leiteira,
a configuração assumida pela Copérdia foi decisiva para a consolidação da organização e de
seus cooperados como principal fornecedora de matérias primas para a indústria leiteira na
região.
Isto posto, pode-se argumentar que uma abordagem de gestão estratégica que
preconize a análise da configuração como modo de posicionar a organização no contexto
competitivo, buscando vantagem competitiva com base na sua capacidade de articulação de
elementos organizacionais, parece ser factível.
Quando Chandler (1962) publicou os resultados de sua pesquisa em organizações
como General Motors, Sears e Dupont, lançou luz à perspectiva da configuração em termos
de uma relação de causalidade entre estratégia e estrutura. Posteriormente, autores como Katz
e Kahn (1978), Child (1972), Miller (1976) e Mintzberg (1979) também se dedicaram às
pesquisas sobre configuração, compondo um importante conjunto de postulados teóricos
sobre o assunto. Miller, um dos principais estudiosos da corrente da McGill University, em
118
meados da década de 70 apresenta, de acordo com Mintzberg (2000), a visão sobre arquétipos
- configurações de fatores organizacionais assumidas pelas empresas no decorrer de sua vida -
e de mudanças quânticas vários elementos ao mesmo tempo, em contraponto à noção
incremental vista em Quinn (1980). Na mesma linha de pensamento, Mintzberg (1979; 1983)
apresenta sua percepção sobre tipos de organizações, configurados de acordo com a
contingência contextual. O conjunto do conhecimento gerado pelas pesquisas sobre
configuração alicerça um modelo teórico bastante útil à pratica da gestão estratégica.
Ainda com vistas a demonstrar o desenvolvimento da abordagem configuracional,
pode-se traçar uma perspectiva histórica ressaltando o conceito de configuração. O contexto
onde surgiram as primeiras organizações de caráter capitalista levou à escalada da
organização máquina, centrada nos princípios de Planejamento, Organização, Coordenação,
Comando e Controle, da Teoria Clássica da Administração, conforme Wood Jr. (1995). Neste
modelo, poucas possibilidades de configuração são factíveis. As organizações eram,
internamente, um conjunto de processos margeados pelo controle burocrático rígido e no
âmbito externo não sofriam oscilações contundentes de demanda ou comportamento de
consumidores. Segundo Amboni (1997) até a década de 50, o ritmo de mudanças na sociedade
era relativamente lento e uniforme. As organizações sob esta égide eram constituídas para
conquistar máxima eficiência e se perpetuarem sem sofrer mudanças. Este cenário dominou a
cena da prática administrativa até as primeiras décadas do século XX quando observa-se o
avanço das idéias que compõe o Paradigma Humanista com as teorias de Relações Humanas e
Behaviorista. Nesta perspectiva é possível presumir maiores possibilidades de configuração,
posto que as manifestações humanas passam a ser consideradas como integrantes e
influenciadoras do desempenho organizacional. Mais recentemente, como denota Whittington
(2002) a transição para o predomínio das organizações baseadas na informação, potencializa
as possibilidades de recombinação de recursos para o atingimento das várias nuances de
mercado.
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) comparam a empresa vista através da
abordagem da configuração, metaforicamente, a um camaleão, sugerindo que ela é produto de
sua estrutura influenciada pelo contexto e em contínua adaptação. Decorre desta idéia outra
perspectiva de análise da configuração, a de mudança organizacional orientada, de um lado
pela dinâmica ambiental que imprime demandas e necessidades de adequação, e de outro pelo
conjunto de competências e recursos internos. A construção de Mintzberg, Ahlstrand e
Lampel (2000) salienta ainda a potencialidade de otimização do posicionamento da empresa
frente ao mercado, com vistas à mudança contínua.
119
O entendimento sobre configuração estratégica trabalhado neste estudo, portanto,
denota a possibilidade de estruturar modelos de gestão baseados na abordagem da empresa
como produto de seus recursos e das competências necessárias ao manejo de tais recursos,
integrados ao modelo de negócio. Desta forma, propicia-se condições para entender os
fenômenos organizacionais através da abordagem de configuração da estrutura empresarial.
Observa-se em Whittington (2002) o caso clássico da General Motors na década de 30,
quando a demanda por veículos foi afetada devido à crise econômica da época, a General
Motors aproveitou os ativos e as competências existentes, ociosos na produção de
automóveis, e diversificou seu mix de produtos, passando a fabricar locomotivas a diesel,
aparelhos domésticos e aeronaves.
Para que cumpram seus objetivos as organizações necessitam, ao mesmo tempo, de
uma arquitetura interna e de diretrizes de interação com o ambiente. De um lado, orientar os
recursos internos é a forma de a organização executar a função produtiva a que se predispõe e
de outro lado, articular suas relações com o ambiente possibilita interagir com seus
stakeholders, no contexto de mercado desejado. Este princípio remete à noção de organizar os
fatores internos e modos de relação com o ambiente, dado o contexto específico no qual está
imersa a empresa. Esta dinâmica traz à luz a visão elementar de configuração.
Assim, a abordagem da configuração estratégica preconiza que cada organização
possa arquitetar uma estrutura interna e desenvolver mecanismos de interação com o ambiente
que lhe possibilite obter um desempenho que lhe conduza aos seus objetivos. Todavia, cabe
ressaltar que esta percepção se complementa pela diretiva de Nadler, Gerstain e Shaw (1995)
que afirmam não existir uma maneira “melhor” de se organizar. A forma organizacional é um
produto complexo da história, estratégia e circunstâncias ambientais. Ou seja, a configuração
é circunstancial e contingencial, bem como particular de cada organização, uma vez que
também é delineada por fatores da arquitetura organizacional como: processo administrativo;
capacidade do pessoal; atitudes e valores e pela cultura geral, segundo Nadler, Gerstain e
Shaw (1995).
A partir do estudo de caso, pôde-se elaborar os conceitos expressos na Figura 27,
onde apresenta-se a leitura de uma organização tendo a abordagem da configuração
estratégica inserida como elemento de integração da estratégia com a execução e os resultados
dela advindos. Através da configuração de recursos, competências e processos pode-se definir
o que a empresa irá produzir e de que forma iproduzir. De um lado denota mecanismos
para a busca continuada de eficiência operacional e de outro a condição de orientar os
esforços para a geração de valor efetivo para os clientes. Ou seja, através da configuração
120
estratégica pode-se dimensionar recursos, competências e processos com vista à exploração
das potencialidades existentes ou das necessidades de desenvolvimento e adequação destes
atributos com vistas a um desempenho que garanta vantagem competitiva. Na percepção de
Vasconcelos e Cyrino (2000) a vantagem competitiva é adquirida, em ambientes marcados
pela heterogeneidade entre as firmas, através da condição que uma organização em uma
indústria tem de organizar seus recursos e competências de forma a obter melhor desempenho
que seus concorrentes.
Figura 27: Modelo de configuração estratégica no contexto organizacional
Fonte: Lins, O; Amboni, N. Configuração Estratégica. Florianópolis, 2008 (mimeo).
Complementarmente, Vasconcelos e Cyrino (2000) traçam uma análise acerca da
convergência entre os temas vantagem competitiva e mudança organizacional e estratégica
nos estudos sobre estratégia empresarial. Os dois temas tratam, na visão dos autores, daquilo
que a configuração estratégica se propõe a explicar: de um lado a busca da máxima eficiência
dos atributos internos e de outro sua utilização para conquista de um desempenho superior ao
da concorrência.
121
Buscando-se referência na teoria de Porter (1989) para análise da cadeia de valor ,
argumenta-se que no nível de configuração estão imersas as atividades primárias e de apoio,
que podem variar de acordo com o entendimento de cada organização. A partir da descrição
de Porter (1989) pode-se obter variações como transferir uma atividade, seja primária, seja de
apoio a parceiros de negócios em estruturas terceirizadas. Ou seja, com vistas aos seus
objetivos estratégicos, uma organização pode configurar seus recursos e competências nas
atividades primárias e de apoio, inclusive sem precisar adquirir tais recursos ou competências,
utilizando-se da efetivação de parcerias, para geração de vantagem competitiva. Esta condição
pode ser trabalhada seja em termos de eficiência operacional, buscando qualidade e
racionalização de custos na cadeia de suprimentos, seja em termos de produção de valor e
diferenciação no mecanismo de elaboração do mix de produtos, comunicação e
comercialização.
Não de desconsidera a possibilidade de mudanças quânticas das configurações
adotadas pelas empresas, todavia, entende-se que mudanças de poucas características são
suficientes para induzir uma nova configuração. No caso da Copérdia, o evento estratégico
programa de qualidade, causou mudanças nas competências dominadas pelas pessoas da
organização, ou ainda, causou a necessidade de observância consciente da forma como as
competências são efetivamente aplicadas aos processos. Todavia, não requereu grandes
investimentos em recursos ou mudanças drásticas nos processos organizacionais, apenas na
concepção de como realizar tais processos com vistas à qualidade. Sua caracterização como
evento estratégico está no impacto cultural gerado, mas não necessariamente no tamanho ou
quantidade de recursos detidos ou modificados pela organização.
Por essência, a abordagem da configuração estratégica figura em uma perspectiva
integradora dos paradigmas outside-in e inside-out, assumindo que não predominância de
orientação dos ambientes externo e interno, mas sim um produto complexo da dinâmica da
organização no ambiente. Em dado momento, Grant (2002) concorda em traçar um ponto de
convergência entre a visão baseada em recursos e as oportunidades de mercado, enfatizando o
potencial de geração de vantagem competitiva através do desenvolvimento de competências.
Mintzberg, Lampel, Quinn e Ghoshal (1996) estabelecem um ponto de convergência entre os
conceitos de vantagem competitiva sustentável com a visão baseada em recursos (resources-
based view) e a abordagem baseada em atividades (activity-based approach). De acordo com
os autores, ambas abordagens são úteis mas incompletas isoladamente, havendo, na
integração das teorias uma maximização no cenário de oportunidades estratégicas. Ruas et al.
122
(2005), entendem que um conjunto de estudos deflagrados a partir da década de 90 constitui
base para o surgimento da abordagem da Teoria da Competição Baseada em Competências.
Isto posto, pode-se argumentar que, à luz da análise do caso Copérdia, a abordagem
da Configuração Estratégica encontra consonância com a prática administrativa, podendo ser
utilizada como elemento de referência para os processos de formulação estratégica.
Observada sob a perspectiva da abordagem da Configuração Estratégica, uma organização
pode ser concebida como um conjunto de recursos (ativos materiais ou intangíveis),
competências (pessoas) e processos organizacionais (modos de fazer), e o arranjo adequado,
caso a caso, destes elementos pode conduzir à vantagem competitiva.
123
CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos dados coletados e organizados no estudo de caso realizado,
constata-se que, na Copérdia, as sucessivas mudanças estratégicas, que neste trabalho são
analisadas à luz da abordagem da Configuração Estratégica, possibilitaram a condição de
competitividade e crescimento desta organização ao longo de sua história.
Como referencial comparativo, extrapolando-se a realidade, poder-se-ia afirmar que
se tivesse permanecido configurada como uma Cooperativa de comércio de grãos,
estritamente, como logo após sua fundação, dificilmente a Copérdia teria aumentado sua
receita financeira de forma tão exponencial, número de associados e, por conseguinte, não
teria tamanha representatividade no sistema cooperativo que compõe.
O ponto crucial da análise é justamente a condição competitiva adquirida através de
uma adequada leitura e entendimento do mercado e da configuração para se movimentar na
direção correta. Da abordagem de Henderson (apud Montgomery e Porter, 1998) exposta
anteriormente, acerca do Princípio de Gause da Exclusão Competitiva, pode-se extrair a
noção de que, em busca de uma vantagem competitiva, uma organização pode buscar na
abordagem da configuração estratégica uma fonte desta diferenciação. A vantagem
competitiva sustentada por tecnologias ou mercados, Whittington (2002), aproxima as
organizações do Princípio de Gause, pois promove a competição em termos facilmente
imitáveis e, portanto, isomórficos. A vantagem competitiva baseada na Configuração
Estratégica de uma organização tende a ser única, que a abordagem preconiza o
componente humano como fator chave e assim sendo, duas organizações o podem ser
absolutamente iguais ao mesmo tempo.
Henderson (apud Montgomery e Porter, 1998) aponta o caso das redes varejistas
Norte-americanas Sears, K-mart, Wal-Mart e Radio Shack, que mesmo equivalendo-se em
termos de mercadorias comercializadas, clientes atingidos e áreas geográficas, oferecem
valores, serviços ou produtos diferenciados. Cada uma destas empresas possui recursos ou
competências distintas o que faz com que tenham visões diferentes sobre seu próprio
124
posicionamento (produtos, política de preços, tática de comunicação) e, portanto, adquiram
certa vantagem competitiva frente aos concorrentes, mantendo-se ativas.
Surge deste raciocínio a noção para a possibilidade de prescrição da configuração na
formulação estratégica. Henderson (apud Montgomery e Porter, 1998) entende que a
estratégia surgiu depois da competição como forma de acelerar os efeitos da competição,
sendo justamente a forma encontrada pelos estrategistas para prescrever, através da gica e
da imaginação, dentre outros fatores, os acontecimentos no cenário competitivo e, desta
forma, obter vantagem competitiva.
Vasconcelos e Cyrino (2000) entendem a configuração e re-configuração contínuas
como processos operacionais com a função de garantir a continuidade de performances
superiores. Recorrendo mais uma vez ao estudo de caso, observa-se que no ano 2000, período
onde houve a intensificação do investimento nos recursos, e principalmente nas competências
para o desenvolvimento da atividade leiteira, o faturamento da Copérdia passou para R$
127,66 milhões ante R$ 75,49 milhões no ano anterior. O crescimento de 69,11% naquele ano
denota o impacto da adequação dos recursos e competências destinadas à atividade, assim
como à capacidade da organização em articular os relacionamentos com os stakeholders para
dar vazão à produção crescente.
Além do desempenho financeiro, outro indicador a ser considerado para efeito de
aferição do desenvolvimento e da condição competitiva da Copérdia, é o crescimento
continuado do número de associados. Em uma organização cooperativa, a satisfação dos
cooperados e sua conseqüente retenção nos quadros demonstra a capacidade de criação de
valor, seja financeiro, seja em termos das condições para a execução das atividades rurais, ou
ainda em termos sociais. Para organizações desta natureza, a retenção e aquisição de novos
sócios representa, primeiramente, uma grande fonte de vantagem competitiva, haja vista a
ampliação da capacidade de produção. Em segundo lugar significa que a organização já
desfruta de um cenário comparativamente vantajoso que atrai associados que poderiam optar
por serem fornecedores de organizações concorrentes.
Uma forte constatação obtida pelo estudo de caso, trata da importância do papel do
líder nos processos de mudanças e re-configurações. No caso da Copérdia, todos os
entrevistados manifestaram posições de concordância com o fato de que a cooperativa evoluiu
nos momentos em que foi capitaneada por líderes capazes e expressivos. Pela análise dos
eventos estratégicos percebe-se que, de fato, tais momentos coincidem com a presença dos
líderes mencionados nas entrevistas.
125
Outra percepção emergente do estudo de caso diz respeito à fundamentalidade das
movimentações organizacionais com vistas ao aproveitamento das oportunidades ambientais.
Um novo desenho do cenário competitivo pode apresentar possibilidades de ganhos acima da
média, como a atividade leiteira significou e têm significado para a Copérdia. Cabe salientar
que esta atividade era desenvolvida havia 20 anos por muitos associados da cooperativa,
mas era relegada a uma atividade complementar desenvolvida pelas esposas, quase que como
forma de ocupar o tempo ocioso. Com a eminente eclosão de um pólo industrial leiteiro na
região, a Copérdia lançou mão de um agressivo conjunto de ações e revitalizou a atividade
junto aos seus cooperados, desenvolvendo com agilidade os recursos, competências e
processos organizacionais necessários até tornar a atividade a mais importante do mix da
Copérdia.
Este arranjo dos elementos organizacionais pode ser entendido como a manifestação
prática da abordagem da Configuração Estratégica. Em última análise, como foi dito no
capítulo introdutório deste trabalho, a abordagem descrita, produto do estudo teórico e de
campo, tem como intuito promover a integração entre teoria e prática administrativa. Para
tanto orienta o uso do potencial de converter a pretensão estratégica âmbito teórico de
uma organização em ações de desenvolvimento e articulação dos elementos organizacionais
âmbito prático para atingir as configurações adequadas que a diferencie e a faça produzir
valor e, por conseguinte, vantagem competitiva.
Pelo conjunto teórico e prático da pesquisa realizada, constata-se haver na Copérdia,
forte influencia das configurações organizacionais, sobretudo pela observação e análise dos
eventos estratégicos ocorridos na organização, e a aquisição de vantagem competitiva. Este
relacionamento pode ser auferido tanto pelos resultados financeiros, quanto pela capacidade
percebida de adaptação da Copérdia às oportunidades ambientais, de tempos em tempos, para
contextos mais favoráveis aos seus associados, sem deixar de considerar o papel social de
uma organização cooperativa.
Ao final do trabalho, apontam-se algumas recomendações para eventuais futuros
trabalhos que englobem aspectos relativos à abordagem estudada.
Trabalhos futuros acerca da temática tratada nesta pesquisa poderiam explorar o
potencial prescritivo da abordagem da Configuração Estratégica. Ou seja, poder-se-ia
averiguar a possibilidade de planejamento de configurações estratégicas com base em
cenários projetados de movimentação ambiental, avaliando-se a efetividade da abordagem
pela diferença da estratégia realizada pela pretendida em um determinado período de tempo.
126
Outra possibilidade de estudo seria avaliar o potencial de configurações estratégicas
baseadas em redes organizacionais ou associações de empresas com atividades
complementares e objetivos comuns.
127
CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS
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