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comunidade. Dona Maria Dias da Conceição do Rosário nos conta como isso
aconteceu:
Ó, da vez que foi pra abrir a portera aqui desses Moraes aqui. Foi
Guilherme que andou aqui, deu uma reunião, e eles tava numa
ixigência esquisita quem tivesse criação lá [...] Uma fazenda muito
grande. Aí se tivesse criação do povo aqui lá, eles botava pra fora,
outra hora pagava, cinco real cada cabeça. Ou pagava ou então eles
panhava a criação. Parece que tava até roubando. Menina, mais
esse povo tava um horror! Aí o Guilherme veio aqui e fez a reunião
até lá na Igreja. “Vamo abrir esse cochete”. Menina, apareceu não
sei quantas muié pra abrir esse cochete! [...] O cochete é que nem
assim uma portera. E eles botou cadeado, botou cadeado. A estrada
que ia pra lá pra baixo pontar os outros, não podia passar porque
eles trancava (Entrevista realizada no dia 17 de outubro de 2008, em
Tomé Nunes.Grifos nossos).
Dona Maria acrescentou que esse episódio não aconteceu há muito tempo, e
que representou muito sacrifício para “um povo” que morava em terras do outro lado
da fazenda dos “Moraes”, bem como para os moradores de Tomé Nunes. Isto
porque para fazer visitas uns aos outros precisavam margear o Rio São Francisco, o
que era “muito arriscado”. Para os moradores “do lado de lá” da fazenda ainda
aumentava a distância do povoado do Julião
, localidade que abastece
comercialmente essas comunidades.
[...] tem, tem gente do lado de lá, dos Moares aí, no Lameirão. Que a
gente chama Lameirão. Tem gente daqui. A mulher de Zé Carlos, os
pais dela mora lá. Mas o home não podia passar pra cá, o home não
podia ir no Julião fazer umas compra. Só podia pro lado do rio, só
puro! Porque eles fecham tudo, trancavam tudo. Muié de Deus! Até
uma muié veia que chama Clarinha que mora lá em cima disse que
ia. Aí Guilherme disse, “Se os home não quiser ir, eu vou com as
mulher!” Foi que apareceu uns home, se precisar nós fica lá...
Chegando lá, abriu a portera pra mode o povo de lá passar pra cá, ir
no Julião pelo menos comprar o açúcar. Ah queta com esse povo!
[...] Isso foi, tá com uma base de dois ano a três ano. Eu não sei se
tem esse tanto! Daí eles concertou, eles não botou mais. Aí o
Guilherme falou com eles lá, eles mandou recado pra Zé Carlos que
Zé Carlos fosse lá fechar o cadeado, fechar o cancela. Eu falei, Zé
Carlos você não vai só, junta um bucado de mulher, de home aqui.
Fecha essa portera lá e espera ele lá com um porrete. Se eles entrar
as mulher ajuda. Você não fica só não; Aí eu acho que ele ficou com
medo, soube da conversa, acabou isso! Deixou aberto lá pra todo
Julião é um povoado pertencente à cidade de Malhada/BA. Localiza-se à margem da BR 030,
distante de Tomé Nunes 5 km, aproximadamente.