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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
RODRIGO FERNANDES TIAGO
COMO A EDUCAÇÃO FÍSICA E O TAEKWONDO PODEM
CONTRIBUIR PARA A INCLUSÃO DAS CRIANÇAS NO MUNDO
DA CULTURA CORPORAL
SÃO PAULO
2008
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
RODRIGO FERNANDES TIAGO
COMO A EDUCAÇÃO FÍSICA E O TAEKWONDO PODEM CONTRIBUIR
PARA A INCLUSÃO DAS CRIANÇAS NO MUNDO DA CULTURA
CORPORAL
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação, Arte e
História da Cultura da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre
em Educação, Arte e História da Cultura.
Orientadora: Profª. Drª. Ingrid Hötte Ambrogi
SÃO PAULO
2008
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T551c Tiago, Rodrigo Fernandes
Como a educação física e o Taekwondo podem contribuir
para a inclusão das crianças no mundo da cultura corporal. /
Rodrigo Fernandes Tiago. - - São Paulo, 2008.
82 p. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da
Cultura) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2008.
Orientação: Profª Drª Ingrid Hötte Ambrogi.
Bibliografia: p. 74 – 82
1. Educação física. 2. Taekwondo. 3. Cultura corporal.
I. Título.
CDD: 613.7042
RODRIGO FERNANDES TIAGO
COMO A EDUCAÇÃO FÍSICA E O TAEKWONDO PODEM CONTRIBUIR
PARA A INCLUSÃO DAS CRIANÇAS NO MUNDO DA CULTURA
CORPORAL
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie como requisito
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Educação, Arte e História da
Cultura
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Ingrid Hötte Ambrogi – Orientadora
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Marilda Gioeilli Torres de Carvalho
Faculdades Metropolitanas Unidas
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Rizolli
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Dedico esse trabalho aos meus pais que são a base de
minha educação e princípios. Sem eles e sem as
oportunidades que me ofereceram, não teria chegado onde
estou e não teria os sonhos que ainda realizarei.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Drª. Ingrid Hötte Ambrogi, que soube delimitar o
caminho para o sucesso dessa longa caminhada.
Ao Professor Dr. Marcos Masetto por ter me dado base nesta longa caminhada de
estudos, e por sua atenciosa leitura em minha qualificação.
Ao Prof. Dr. Marcos Rizolli, por sua atenciosa leitura e conselhos em minha
qualificação, e por ter reduzido à imperceptível, qualquer obstáculo desta
caminhada.
À Professora Drª. Marilda Gioeilli Torres de Carvalho, por sua atenciosa leitura em
minha qualificação, e conselhos, que foram fundamentais para o aperfeiçoamento do
trabalho.
Ao Professor Ms. Gilberto Loureiro, que foi, não só um grande Mestre em minha
graduação, mas também, um grande amigo e companheiro.
À Anna Paula Horwath, por seu apoio nas horas em que precisei.
Agradeço novamente aos meus pais por tudo que me oferecem e me ajudam.
Aos meus colegas de trabalho que me deram todo o apoio que precisava. Aos meus
amigos que acreditaram no meu sucesso.
Agradeço ao Programa Bolsa Mestrado do Governo do Estado que custeou parte de
meus estudos de agosto de 2006 a julho de 2008.
E a todas as outras pessoas que participaram desses dois anos de estudos e me
apoiaram de inúmeras maneiras, sem elas eu nunca teria conseguido.
"A Natureza da ação é a expressão do Desejo."
(Charles Taylor)
RESUMO
Este de estudo consiste de uma pesquisa teórica, de natureza qualitativa
bibliográfica, com o objetivo de analisar como a Educação Física e o Taekwondo
podem contribuir para a inclusão das crianças no mundo da cultura corporal.
Norteia-se por referenciais teóricos advindos de documentos como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), das principais abordagens educacionais utilizadas
na Educação Física Escolar: as teorias desenvolvimentista, a construtivista-
interacionista, encontradas em diversos textos e publicações acadêmicas,
demonstrando a relação da modalidade física do Taekwondo ante o processo de
aprendizagem da criança. Nossa intenção é revelar como a criança poderá participar
do processo de inclusão no mundo da cultura corporal, objetivando o
desenvolvimento integral desse aluno como mostra os Parâmetros Curriculares
Nacionais, tendo como atividade base o Taekwondo. Contudo, constatamos que a
Educação Física possui elementos culturais próprios norteadores para um
desenvolvimento integral da criança e inserção no mundo da cultura corporal, e
sugere elementos como a luta para alcançar seus objetivos. O Taekwondo, por sua
vez, enquadra-se perfeitamente como atividade-base dessas ações.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Física, Taekwondo, Cultura Corporal
ABSTRACT
The present study is a theoretical research, a qualitative bibliography, with the
purpose of analyzing how physical education and Taekwondo may contribute to the
inclusion of children in the world of body culture. Guiding by theoretical benchmarks
derived from documents as "Brazilian Curricular Parameters" (PCNs) and main
educational approaches used in the physical education: the developmental theories,
the constructivist-interactionist, found in several texts and academic literature,
showing the relationship between physical form and Taekwondo in the physical
process of learning the child. Our intention is to reveal how a child will participate in
the process of inclusion in the cultural world body, to the full development of that
student as the "Brazilian Curricular Parameters" shows, with the activity based on
Taekwondo. However, we see physical education has cultural elements for guiding
an integral development of the child and integration into the world of culture body,
and suggests elements as the fight to achieve their goals. The Taekwondo comes
well as the basic activity of these actions.
KEYWORDS: Physical Education, Taekwondo, Body Culture
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
11
1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
A Educação Física do século XX
A Educação Física na atualidade
18
19
24
2. A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DA CRIANÇA NO MUNDO DA
CULTURA CORPORAL, SEGUNDO OS PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS 28
3. AS TEORIAS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEAS E A
INSERÇÃO DA CRIANÇA NO MUNDO DA CULTURA
CORPORAL
45
4. O TAEKWONDO COMO ATIVIDADE BASE NA EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
História do Taekwondo
Taekwondo e a Educação
54
57
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS 71
REFERÊNCIAS 74
INTRODUÇÃO
12
Durante a graduação em Educação Física percebe-se a grande importância
que essa disciplina pode exercer sobre os alunos de a séries do Ensino
Fundamental, quanto à formação de caráter, desenvolvimento cognitivo e
desenvolvimento motor. Igualmente é importante a formação do professor do Ensino
Fundamental em relação a ele se tornar um mediador desse processo. Dada a
importância dessas constatações, sentiu-se a necessidade de se aprofundar
revelando a importância da mediação do professor de Educação Física em relação a
conteúdos essenciais, que devem ser apresentados aos escolares durante sua
formação no Ensino Fundamental I.
Aprende-se que o professor de Educação Física, no desempenho de sua
função de educador, pode contribuir para a formação do caráter dos jovens e,
portanto, deixar marcas de grande significado para alunos em sua formação. Ele é
responsável por muitos descobrimentos e experiências que podem ser boas ou não.
Como facilitador e mediador desses processos, deve ter conhecimentos suficientes
para desenvolver tanto os aspectos físicos e motores, como também os aspectos de
cunho social, cultural e psicológico. É também papel do educador transmitir, de
forma consciente, valores, normas, maneiras de pensar e padrões de
comportamento, para se viver em sociedade, que estão presentes nos conteúdos
em metodologia de ensino que, por sua vez, devem envolver e apropriar-se da
realidade do aluno e refletir sempre sobre o trabalho docente.
Ao acompanhar, em nosso processo de formação como educadores, o
trabalho desses profissionais na prática escolar, deparamo-nos com Educadores
Físicos cansados e despreparados didática e pedagogicamente, tendo como
feedback informações antagônicas às que se consideravam ideais na perspectiva de
educador. Em vista disso, os esforços, junto ao Programa de Iniciação Científica e
Monitoria da Instituição de Ensino Superior, resultaram em uma pesquisa que
contextualizou a postura ético-educacional dos professores de Educação Física
escolar e ampliou a perspectiva de como a disciplina de Educação Física nas
escolas de Ensino Fundamental era vista pela sociedade, que resultou em dados de
como a disciplina era ministrada no âmbito escolar. Foram obtidos dados que para
um profissional da área de Educação Física escolar são considerados incompatíveis
com os ideais da disciplina.
Hoje, como professor efetivo da Rede Estadual de Ensino, pode-se ter a
experiência de relacionar a prática e a teoria e perceber o quanto a formação do
13
educador é fundamental e de caráter decisório na formação do aluno, em relação às
suas capacidades motoras e às suas condutas éticas diante da sociedade
contemporânea. Contudo, o despreparo ou a falta de capacitação contínua de
conteúdo, desses profissionais, acarretam um desequilíbrio no processo de
aprendizagem e evolução dos alunos.
Para a área de Educação Física, a questão da cultura corporal, ou seja, de
como o aluno pode agregar-se a uma cultura de movimentos – que enalteçam outras
capacidades, como o raciocínio lógico, a cooperação, a capacidade de resolução de
problemas, o senso crítico, entre outras –, chama muito a atenção, e valoriza o
trabalho pedagógico do professor de forma a alcançar um conjunto de valores
considerados plausíveis em um desenvolvimento total do aluno. Portanto, um
desenvolvimento que abranja as capacidades físicas, cognitivas e sócio-afetivas é
imprescindível. Ante isso, relacionam-se essas questões a uma atividade que se
vinha trabalhando alguns anos com pessoas de diversas faixas etárias e,
principalmente, crianças, o Taekwondo. Dentro desta Arte Marcial há a possibilidade
de se trabalhar a cultura corporal dos alunos, de acordo com as abordagens
educacionais desenvolvimentista e construtivista-interacionista, de modo a alcançar
objetivos motores, psicológicos e sócio-afetivos.
A experiência de trabalhar 12 anos com o Taekwondo mostra as diferentes
formas que nosso corpo poderia expressar, tipo de emoções que ele pode transmitir,
e que, através dele, transparece nossa essência. Aprendizagens novas, a partir
dessa luta marcial, surgem das mais diversas maneiras, por meio de gestos
motores, de troca de experiência, e através dos medos e desafios.
Da criança em formação ao idoso, o Taekwondo tem contemplado todas as
faixas etárias, tanto com seus objetivos motores, quanto às questões psicológicas e
sociais, na experiência comprovada pelas aulas de Taekwondo ministradas na
academia, na escola e no Projeto Social de Taekwondo no Parque da Juventude,
parceria conquistada com o Governo do Estado de São Paulo, na Secretaria de
Esportes Lazer e Turismo.
Acredita-se que a Educação Física, acompanhada de atividades como o
Taekwondo, pode contribuir para a inclusão das crianças no mundo da cultura
corporal. Estudar um processo de mediação de conteúdos em função do
desenvolvimento psíco-físico-social de seus alunos, respeitando o meio social em
que vivem e fornecendo subsídios para a inclusão no mundo da cultura corporal, vai
14
contribuir para um desenvolvimento integral do aluno. É preciso retomar a Educação
em seu ápice em qualidade e dignidade, reformulando as importantes teorias
existentes em Didática e Pedagogia para a realidade prática, enaltecendo a farta
cultura do povo brasileiro e aproveitando-a no processo educacional de nossas
crianças. O aluno é sempre considerado como um ser “total” com as suas
necessidades físicas, psicológicas e com as necessidades de viver em equipe, em
grupo, e de aprender a assumir responsabilidades, e somente o Educador é capaz
de tal façanha.
Mas como a Educação Física e o Taekwondo podem contribuir para a
inclusão das crianças no mundo da cultura corporal?
Nesta dissertação, busca-se mostrar com uma pesquisa teórica, de natureza
qualitativa bibliográfica, norteada de referenciais teóricos advindos de documentos,
como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e as principais abordagens
educacionais utilizadas na Educação Física Escolar: as teorias desenvolvimentista, a
construtivista-interacionista encontradas em diversas teses e publicações
acadêmicas, demonstrando a relação da modalidade física do Taekwondo em face
do processo de aprendizagem da criança. A intenção é revelar como a criança
poderá participar do processo de inclusão no mundo da cultura corporal, objetivando
o desenvolvimento integral desses alunos, como mostram os Parâmetros
Curriculares Nacionais, tendo como atividade base o Taekwondo.
A identificação dos problemas presentes na intervenção do profissional de
Educação Física, ocorrida principalmente nas ultimas duas décadas do século XX,
serviu como estímulo para o surgimento de inúmeros estudos sobre a profissão e a
competência profissional da área.
A Educação Física, desde a década de 1930, tem o objetivo de reforçar a
forma estereotipada de comportamento masculino e feminino, e colaborado para o
adestramento físico e a alienação, ou seja, a sua desvinculação do pensar
(CAMPOS, 2001).
Hoje, a Educação Física está sendo tratada como um componente curricular
de menor importância em muitas escolas da Rede de Ensino público e particular. No
entanto, a Educação Física, ousamos dizer, talvez seja a disciplina que mais
possibilita um aprendizado interdisciplinar, em que crianças e adolescentes têm um
desenvolvimento cognitivo, motor e sócio-afetivo durante o ano letivo. Mesmo como
componente curricular não pode ser desenvolvida de forma isolada do contexto
15
social em que se apresenta a comunidade escolar. A inclusão da Educação Física
nos currículos escolares, como uma importante matéria, possibilita por meio do
esporte, o aprendizado de conceitos que todas as pessoas precisam saber para
conviver socialmente, que entre ela e o mundo existem os outros, que precisam
aprender a convier com vitórias e derrotas. A criança desenvolve, por meio do
esporte, a independência e a confiança em si mesma. Porém, o educador deve ser
um facilitador / mediador desse processo e não um obstáculo.
Investigar a mediação dos professores de Educação Física no seu ambiente
educacional poderá ser um primeiro passo para analisar como está ocorrendo o
desenvolvimento psíco-físico-social dos alunos, e quais as possíveis incoerências
desse processo, dando margem para sugestões e críticas com intuito de melhoras
educacionais.
Dar início a mudanças significativas no processo ensino-aprendizagem é uma
tarefa muito difícil. Deve-se ter em vista que a formação do educador precisaria estar
relacionada com a capacidade de mobilizar recursos cognitivos, para enfrentar
situações previstas e imprevistas do cotidiano profissional. Os conteúdos cognitivos
compreendem as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais próprias da
profissão Educação Física, ou seja, o saber sobre (conceitos e princípios); o saber
fazer (procedimentos); e o saber ser (valores) (VERENGUER e FREIRE, 2002).
A prática de atuar somente sobre o físico e achar que se está atuando sobre
as outras dimensões precisa ser superada, para que o arcabouço didático, junto a
estratégias educacionais, objetivem conscientemente o desenvolvimento do escolar.
A prática deve existir junto a discussões nas quais o aluno possa acompanhar o
raciocínio do professor e entender o funcionamento das atividades propostas. O
professor exerce uma função única dentro da escola, ele é o elemento de ligação
entre o contexto interno (a escola), o contexto externo (a sociedade) e o aluno
(GALVÃO, 2002).
Acredita-se ser de extremo auxílio para o meio acadêmico e profissional um
estudo esclarecendo o que se compreende por processo de mediação do Professor
de Educação Física, ante o desenvolvimento integral do aluno, tratando-o como um
ser total e não fragmentado, e as essencialidades curriculares que devem fazer
parte deste processo. Apontam-se, ainda, as supostas falhas ou compreensão
de conceitos estudados ao longo da pesquisa, por parte dos educadores.
16
Este trabalho tem a finalidade de analisar abordagens pedagógicas e
procedimentos mediadores que facilitem o processo de ensino aprendizagem e a
inclusão dos alunos no mundo da cultura corporal. Entretanto, ressalta-se como
atividade base o Taekwondo, que tem por característica um aprendizado
interdisciplinar, proporciona um bom desenvolvimento cognitivo, motor e socio-
afetivo, e desenvolve a independência e a confiança em si mesma.
As Abordagens Pedagógicas da Educação Física podem ser definidas como
movimentos engajados na renovação teórico-prático, com o objetivo de estruturação
do campo de conhecimentos que são específicos da Educação Física. Elas têm por
intuito buscar novas dimensões e proporcionar ao ensino o auxílio para o processo
de inclusão, promovendo a liberdade de se trabalhar com diversas atividades, entre
elas o Taekwondo.
A construção destas abordagens pedagógicas no campo acadêmico gerou
uma grande diversidade de propostas norteadoras para o ensino, porém, serão
analisadas, exclusivamente, as que se consideram de maior expressão no cenário
educacional e adequadas a um referencial de estudo que se vincule às diretrizes
curriculares de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, que sejam consideradas aptas
aos nossos objetivos.
Uma das abordagens selecionadas é a Construtivista-Interacionista, cuja
intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o
mundo, respeitando o universo cultural do aluno, explorando as diversas
possibilidades educativas de atividades lúdicas espontâneas, propondo tarefas cada
vez mais complexas e desafiadoras, com vistas à construção do conhecimento.
Além de valorizar as experiências, a cultura dos alunos, a proposta construtivista
tem o mérito de propor alternativas aos métodos diretivos, alicerçados na prática da
Educação Física. Nessa proposta, o jogo é privilegiado como sendo um instrumento
pedagógico, ou seja, o principal meio de ensinar (AZEVEDO e SHIGUNOV, 2001).
A outra teoria selecionada é abordagem Desenvolvimentista, que tem como
meio e fim principal a Educação do movimento, que busca processos de
aprendizagem e desenvolvimento, fundamentando-se na Educação Física Escolar. É
uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do
desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem
motora. Procura privilegiar a aprendizagem do movimento, embora possam estar
ocorrendo outras aprendizagens decorrentes da prática das habilidades motoras. A
17
abordagem proporciona ao aluno condições para que seu comportamento motor
seja desenvolvido, através da interação, do aumento da diversidade e da
complexidade de movimentos, oferecendo experiências de movimento adequadas
ao seu estágio de crescimento e desenvolvimento, para que as habilidades motoras
sejam alcançadas (AZEVEDO e SHIGUNOV, 2001).
Ambas as abordagens, citadas anteriormente, colaboram com a inserção da
criança no mundo da cultura corporal. É importante ressaltar também que o
Taekwondo torna-se um instrumento de potencial muito maior, se trabalhado com o
norteamento dessas abordagens, por ter, este, uma origem militar que está
enraizada em suas técnicas. Seguindo a mesma linha de evolução da Educação
Física no Brasil, que também teve seu período de enraizamento em técnicas,
passando por transformações que sugeriram um melhor aprendizado, o Taekwondo
passa por uma transformação semelhante, das mãos da instituição militar, como
eram os primeiros instrutores de Educação Física, a um direcionamento pedagógico
educacional, e hoje tem esse enfoque diferenciado. Enfoque que acompanha os
objetivos da Educação Física, no intuito do desenvolvimento integral do aluno e na
inserção numa cultura determinada. E, acredita-se, será com essas intenções que
alcançaremos um bom trabalho na Educação Física no universo escolar.
Esta dissertação se organiza por quatro capítulos, a saber:
capítulo “Histórico da Educação Física no Brasil” –, que traça os aspectos
históricos da Educação Física no Brasil desde o século XIX até hoje.
capítulo – “A importância da inclusão da criança no mundo da cultura corporal,
segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais” –, que estuda os PCNs com o
intuito de fundamentar a importância da inclusão da criança no mundo da cultura
corporal e as atividades que enriquecem esse processo.
capítulo “As teorias educacionais contemporâneas e a inserção da criança
no mundo da cultura corporal” –, que desenvolve as teorias educacionais
contemporâneas para a inclusão da criança no mundo da cultura corporal.
4º capítulo – “O Taekwondo como atividade de base na Educação Física escolar”
–, que apresenta o Taekwondo como base na Educação Física.
E as Considerações Finais arrolam os efeitos desta proposta apontando os
principais pontos estudados.
18
1
HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
19
A EDUCAÇÃO FÍSICA DO SÉCULO XX
A prática profissional em Educação Física no Brasil tem uma história e uma
profissionalização bem recentes, em especial nas escolas. No Brasil, militares e
médicos contribuíram na estruturação e organização dos conhecimentos para esta
formação profissional, a partir de um momento bastante significativo de sua história,
o início no século XIX, que pode ser considerado um marco da profissão, o então
professor de ginástica.
Segundo Magalhães (2005), a Educação Física iniciou-se no Brasil, com a
vinda da Família Real, em 1808, ao fundar a Academia Real Militar. Foi justamente
por meio dos militares da Academia Real Militar que houve a sistematização dos
conhecimentos práticos das atividades em ginástica, caracterizadas, inicialmente,
pelos métodos ginásticos alemães. A inclusão da ginástica na grade curricular de
uma instituição pública de ensino civil aconteceu no antigo Ginásio Nacional (atual
Pedro II), no ano de 1837, no Rio de Janeiro. Nessa época, os instrutores de
ginástica eram, em sua maioria, os militares, que aplicavam o método alemão
aprendido na Academia Real Militar.
Em 1909 o método de ginástica alemão é substituído pelo método francês de
ginástica, “orientado pelos princípios da fisiologia”, recebendo também, contribuições
de estudos médicos que, com base no modelo biomédico, procuravam explicar
cientificamente os possíveis benefícios anatomofisiológicos conquistados pela
ginástica. E a partir de 1919, os militares intensificaram sua preocupação com a
sistematização e disseminação nacional da prática de atividades físicas. Por essa
ocasião, as discussões a respeito da Educação Física se fortaleceram, também,
entre as autoridades públicas (MAGALHÃES, 2005).
Fundou-se, em 1922, na Vila Militar no Rio de Janeiro, o Centro Militar de
Educação Física do Exército, que se expandiria no ano de 1930, com a criação de
centros regionais em São Paulo e Minas Gerais, fundamentando-se na ginástica,
especialmente, para atingir objetivos de saúde apoiados nos ideais de eugenia.
Como explica Magalhães (2005) em seu trabalho:
O pensamento eugênico construiu-se a partir de uma hipocrisia
da moral burguesa para melhorar e regenerar a raça branca.
Afirmava ser necessário [...] restringir a proliferação de infra-homens,
20
de semi-alienados e de dementes, pela higiene do corpo e do espírito
[...] (além de) fazer com que as pessoas fortes, equilibradas,
inteligentes e bonitas, tenham um maior número de filhos, para que o
número médio destas pessoas [...] se eleve progressivamente.
Para Silveira (1997), o princípio da eugenia teve como principal divulgador a
Escola de Educação Física do Exército que acreditava na criação, aperfeiçoamento
e apuramento de uma raça mais forte e guerreira, tendo esses princípios alcançados
através da prática sistemática e orientada da atividade física; pensando, assim, para
melhorar morfologicamente o biotipo brasileiro, aumentando a resistência da raça
para superar as desigualdades, e transformar-se em um país desenvolvido. E
juntamente com o princípio da eugenia encontra-se o princípio higiênico, ligando a
Educação Física à questão da saúde pública. Entendia-se que para apurar uma
raça, também, se fazia necessário criar condições saudáveis para garantir o
desenvolvimento dos corpos, atribuindo à Educação Física a responsabilidade de
conscientização dos alunos quanto aos hábitos higiênicos e saudáveis.
Desde a década de 1920, a Educação Física apresentava-se como uma
atividade complementar e relativamente isolada nos currículos escolares, com
objetivos no mais das vezes determinados de fora para dentro: treinamento pré-
militar, eugenia, nacionalismo, preparação de atletas (BETTI e ZULIANI, 2002).
Para Campos (2001), a Educação Física Escolar no Brasil teve dois
momentos. O primeiro momento caracteriza-se pela hegemonia de dois paradigmas
que marcaram o discurso da prática pedagógica da área: a aptidão física numa
perspectiva higienista ou biologista, inspirada nos métodos de ginástica europeus e,
posteriormente, a esportivização, cujas bases encontram-se no movimento
desportivo generalizado (década de 1960). O segundo momento consolida um
ideário tecnoburocratizante, materializando-se no campo da educação através de
proposições e ações inspiradas na pedagogia tecnicista, que privilegia a
competitividade, a racionalização produtiva e a eficácia. O modelo esportivista surgiu
como componente complementar das aulas de Educação Física. Imaginava-se que
trazendo modalidades esportivas para o ambiente educacional haveria uma
ampliação das possibilidades de tarefas e finalidades da área, voltadas ao estímulo
dos alunos e à inserção de valores sociais.
Segundo Castro (1996), durante o Estado Novo a Educação Física foi
utilizada como meio para desenvolver o patriotismo e o civismo. O que se traduzia
21
em doutrinar os indivíduos de acordo com a ideologia oficial e produzir cidadãos
leais ao Estado. Outro importante objetivo era a melhoria da raça. Esses objetivos
refletiam a influência da Alemanha nazista daquela época. Até essa época, médicos
e militares vinham fundamentando a organização dos conhecimentos e a formação
profissional da Educação Física.
Com esses objetivos, como aponta Magalhães (2005), a interferência cultural
no crescimento e formação intelectual da Educação Física enfraquece os que
enriqueceriam esta ciência para outros fins.
[...] objetivos da Educação Física na era Vargas
(desenvolvimento da força de trabalho e cultivo de valores morais,
em especial o civismo e o patriotismo) configuraram um obstáculo
para a formação intelectual de seus professores, permitindo que
outros profissionais (médicos e militares) durante algumas décadas
determinassem a organização de seus conhecimentos e da sua
formação profissional, [...].
Segundo Bracht (1992), o esporte sofre, após a Segunda Guerra Mundial, um
grande desenvolvimento quantitativo. Afirma-se, paulatinamente, em todos os países
sob a influência da cultura européia, como o elemento hegemônico da cultura de
movimento.
O esporte seria uma mediação privilegiada entre crueldade e
submissão à autoridade, atividade disciplinadora no sentido de
aceitação das regras do jogo. (ADORNO apud VAZ, 1999, p.1187)
Durante a ditadura militar iniciada em 1964, o desporto universitário foi
amplamente incentivado com o objetivo de afastar os alunos das atividades políticas.
Para Oliveira (2003), a partir da década de 1980, a Educação Física escolar foi
conformada de forma autoritária pelo Estado no Brasil, a partir das reformas
educacionais de 1968 e 1971, baseada no interesse do desenvolvimento de um
maior grau de eficiência produtiva no mundo do trabalho e, pressupondo a
importância da educação escolarizada para se atingir este fim. A tecnicização do
ensino patrocinada pelo governo teria como premissa básica a disciplinarização, a
22
normatização, o alto rendimento e a eficácia pedagógica. Esse pressuposto seria
orientado pelo alinhamento do país a uma ordem mundial calcada no
desenvolvimento associado ao capital internacional, mais explicitamente, ao norte-
americano. Segundo tal concepção, é irrefutável a tese da dependência estrutural, o
que implica necessariamente a dependência cultural, incluída a educação em
geral e, no âmbito deste trabalho, a educação física escolar em particular. O
conjunto de práticas corporais, passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no
interior da escola, resumiu-se à prática de algumas modalidades esportivas. As
práticas escolares de educação física passaram a ter como fundamento primeiro a
técnica esportiva, o gesto técnico, a repetição, enfim, a redução das possibilidades
corporais a algumas poucas técnicas estereotipadas.
Para Magalhães (2005), o caráter competitivo do esporte de rendimento
passou a fundamentar o método educativo em Educação Física. Partiu-se do
pressuposto de que as relações humanas necessitam da competitividade,
objetivando a sobrevivência. Acredita-se que o reducionismo do esporte, nas aulas
de Educação Física, não permite que sejam socializados diversos conhecimentos
que possibilitam ampliar o capital cultural de um sujeito. Lutas como a Capoeira, o
Jiu-jitsu, o Judô e o Taekwondo, por exemplo, permitem aos alunos compreender o
significado de atacar e defender, sem contar que um princípio básico das artes
marciais é lutar com o outro, e não contra o outro, e que as danças, além das
habilidades corporais, exigem possibilidades expressivas dos sujeitos. Pelo
contrário, estimula-se a reprodução de um suposto modelo perfeito e subordinam-se
os que não alcançam este padrão aos que alcançam, como mostra Silveira (1997):
O esporte adotado na escola carregou consigo as
determinações do esporte de alto nível, aquele que deveria ser
praticado em clubes. O processo discriminatório acentuou-se, pois o
esporte de alto nível tem como características a vitoria acima de
tudo, a performance máxima de um atleta, um alto rendimento para a
superação de limites não próprios, mas na verdade estabelecidos
por outro campeão, a padronização técnica para a reprodução do
modelo perfeito de movimento específico esportivo e a subordinação
dos perdedores aos vencedores e campeões.
23
Ao aproximar-se da Educação, os professores de Educação Física
incorporaram práticas pedagógicas que, no início da década de 1970, ainda se
revestiam de influência tecnicista. Somente no final da década, com a abertura
política, aparecem idéias contra-hegemônicas, construindo-se produções
acadêmicas que tentam desvelar a realidade em diversas práticas sociais
(MAGALHÃES, 2005).
No ano de 1979, com a reação à ditadura militar, surgiu um movimento de
denúncia e reação aos valores da Educação Física daquele período. Alguns autores
passaram a clamar por uma Educação Física transformadora da realidade, que
deixasse de perpetuar os valores da classe dominante, e sim se preocupar,
sobretudo, com a conscientização dos seus alunos. Não se poderia mais aceitar um
modelo de Educação Física que se destinava ao desvio de atenção dos estudantes
das questões de ordem sociopolítica,que estimulava a obediência ao superior /
vencedor, e contribuía para a construção do modelo de corpo apolítico, acrítico e
alienado, como aponta Castellani Filho (citado por Silveira, 1997).
A graduação em Educação Física da década de 1970 teve uma formação que
hoje chamamos de tecnicista, cujas principais características são: professores
diretivos, autoritários e que ocupam o papel de treinadores, em detrimento do papel
de professores. A ênfase está na valorização da prática esportiva acrítica e
subjugada, da competição e do desempenho (GALVÃO, 2002).
Segundo Oliveira (2003), a partir de meados da década de 1970, a produção
acadêmica em educação física começava a se desenvolver com critérios científicos,
principalmente pelo início de um processo de titulação (mestrado e doutorado) de
seus profissionais e pela emergência dos primeiros cursos de pós-graduação no
Brasil.
Magalhães (2005) observou alguns efeitos na Educação, como as críticas
contundentes ao tecnicismo e à ideologia subjacente ao processo de ensino-
aprendizagem, negando-se um ensino valorizador da capacidade de memorização,
sem a contextualização político-social. Assim, os professores de Educação Física
que se pós-graduaram em Educação, a partir do fim dos anos 1970, passaram a
rejeitar as influências do modelo biomédico, a hegemonia do esporte de competição
e a docilização dos corpos. Dessa forma, surgiram discursos como este:
24
Cabe à escola, sim, ensinar a multiplicidade de elementos da
cultura corporal: não o esporte, mas também as lutas, as danças,
as ginásticas, os jogos, como atributos a serem reconhecidos dentre
as diferentes necessidades educativas sistemáticas que compõem a
formação da personalidade do sujeito neste espaço. (MAGALHÃES,
2005)
E através desta variedade de atividades, proporcionando um leque de
oportunidades, focaram-se os estudos em busca da intervenção pedagógica através
do movimento, ou seja, um corpo em movimento pode, talvez, aprender mais
circunstâncias de sua liberdade de expressão.
A partir da década de 1970, com o incremento das
pesquisas e o crescente questionamento das tendências
pedagógicas surgido no campo da Educação, alguns professores de
Educação Física querem encontrar novos caminhos, que solidifiquem
a Educação Física como: uma prática de intervenção e o que a
caracteriza é a intenção pedagógica com que trata um conteúdo que
é configurado/retirado do universo da cultura corporal de movimento.
Ou seja, nós, da EF, interrogamos o movimentar-se humano sob a
ótica do pedagógico. (BRACHT, 1999, p. 33)
Foi na década de 1980 que surgiram as críticas mais contundentes à
Educação Física, principalmente em relação ao papel conservador, no sentido de
desmantelar esta postura.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ATUALIDADE
Segundo Castro (1996), ainda hoje, podem-se encontrar traços da influência
militar na Educação Física brasileira. Soldados não são educados para discutir
ordens e sim treinados para cumpri-las. Essa concepção de Educação Física pode
ser adequada para o objetivo dos quartéis, mas não para formar cidadãos capazes
de refletir. A Educação Física tem se caracterizado pela valorização da ordem e a
perpetuação de práticas alienadas; porém, se o objetivo é a reflexão e o
desenvolvimento da consciência, é preciso valorizar o diálogo e os questionamentos.
25
Tem-se vivido a Educação Física do fazer sem saber por quê, nem para quê. O
professor demonstra gestos que têm de ser imitados. Os alunos correm durante 20
minutos durante todas as aulas de um semestre letivo e não sabem qual o objetivo
dessa corrida, o mesmo acontece quando executam um aquecimento, ou aprendem
um gesto desportivo.
A Educação Física escolar brasileira chega ao final do século XX carregando
o estigma da não especificidade, e as ideologias que dominaram a teoria e a prática
da Educação Física escolar ainda vigoram, apesar de pouco adequadas ao
momento histórico (CAMPOS 2001).
Oliveira (2003) cita alguns autores que apontam a Educação Física em crise
desde a chegada das teorias críticas: Medina (1983); Carmo (1985); Guiraldelli Jr.
(1988); Mariz de Oliveira (1988); Bracht (1992); e Tani (1998). Mais notadamente no
âmbito escolar, observa uma Educação Física considerada como uma disciplina sem
um lugar muito claro na escola. Cita muitos outros autores que a caracterizam como
uma atividade sem legitimidade Bracht (1992); sem função social - Betti (1991) e
Coletivo de Autores (1992); sem função política- Guiraldelli Jr.(1988); e até mesmo
sem função educativa- Mariz de Oliveira(1988), no interior da escola. Todos esses
estudos realizados por Oliveira (2003) caracterizam-se por uma visão estrutural
extremamente ampla e um tanto arbitrária: a educação física estaria em crise
porque, dentre outras razões, o governo autoritário instalado no Brasil após 1964, na
tentativa de consolidar sua ideologia, fez uso das atividades desportivas (e da
educação física em geral) com a finalidade de anestesiar a consciência e amainar a
participação popular nos processos reivindicatórios e decisórios. Assim, então, teria
o governo produzido e divulgado uma certa abordagem de Educação Física que se
consolidou de forma incontestável, sem que os profissionais da área pudessem
contrapor-se às suas medidas arbitrárias e autoritárias, que refletiria até hoje.
Segundo Arantes (2000), a Educação Física Escolar no País tem sido
caracterizada, muitas vezes, por uma prática exclusivamente motriz com
fundamentação ora recreativa e sem objetivo, ora por uma prática que, na maior
perte, exclui os alunos, por pautar-se no alto rendimento. A projeção para a
Educação Física Escolar para a atualidade inclui, além do desenvolvimento da
motricidade, outros aspectos, tais como: a formação de conceitos; vivência cotidiana
da cidadania; construção do conhecimento por trabalhos integrados entre
professores e alunos; atividades interdisciplinares; conquista progressiva da
26
autonomia, características estas vinculadas ao contexto histórico-social, intrínseca
da sociedade. O que diferencia esta nova Educação Física daquela praticada
anteriormente é por certo a filosofia construtivista-interacionista, que preconiza a
construção do conhecimento. Estas metas guiam a estruturação dos objetivos, do
conteúdo, propõe as estratégias a serem utilizadas e indica critérios para a
avaliação. A Educação Física atual deve desenvolver o aluno de forma integral e
não restringir sua prática ao ato motor desvinculado da vida, do pensar, do sentir e
do contexto histórico-social, no qual está inserido.
As Diretrizes Curriculares Nacionais defendem a necessidade de se construir
um perfil bem-delineado para intervenção educativa e pedagógica na escola. As
razões disto estão, justamente, no desenvolvimento histórico, científico, cultural e
social desta área de conhecimento, que aponta para um tratamento diferenciado na
formação acadêmica e profissional, em especial, por se tratar de uma área
visivelmente demarcada por uma prática pedagógica, científica e social de natureza
interdisciplinar (DAVID 2002). Porém, uma corrente ainda dominante de inspiração
mecanicista, que privilegia a tendência paradigmática da biologização e da
esportivização da Educação Física, encontra-se presente (CAMPOS 2001).
Segundo KUNZ (1984, citado por COSTA, 2003), hoje em dia, o esporte na
escola constitui-se em uma cópia exata do esporte de rendimento, contribuindo para
seletividade no processo pedagógico e, conseqüentemente, fomentando vivências
de sucesso para uma minoria e o fracasso ou vivência de insucesso, para a grande
maioria.
A Educação Física no Ensino Fundamental I e II proclama insistentemente
seu papel educativo, mas seus professores não conseguem explicitar claramente os
propósitos de sua disciplina. A Educação Física é uma disciplina dentro de um
contexto escolar e, portanto, tem que possuir ligações com a Pedagogia, a Didática,
a Filosofia e a Sociologia em um propósito único. A educação pelo movimento, por
sua vez, tem a vantagem de possibilitar uma maior integração real com uma
proposta pedagógica mais ampla e com outras atividades e objetivos da escola, o
que é fundamental nas primeiras quatro ou cinco séries. Nessa perspectiva, a
Educação Física passa a ter a função pedagógica de integrar e introduzir o aluno no
mundo da cultura corporal, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir,
reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física: o jogo, o esporte, a
dança, a ginástica, a luta (BETTI,1992).
27
Para muitas crianças e jovens, a escola é a única oportunidade de acesso às
práticas de esportes e atividades físicas, e a Educação Física é uma prática
sistematizada de atividade física, exercícios físicos, jogos, lutas, danças e esportes,
que sejam desenvolvidos de forma consciente, ou seja, que tenham uma intenção
na ação e objetivos a serem alcançados (MAIA e ALBUQUERQUE 2002).
Segundo Freire (1999), a Educação Física, como todas as demais disciplinas,
persegue objetivos comuns a toda a escola. O objetivo maior é sempre o da
formação para a cidadania, desenvolvendo atitudes e conceitos como autonomia,
participação, democracia, cooperação, solidariedade, fraternidade, entre outras. E
nas aulas os alunos devem aprender: conhecimento do próprio corpo, conhecimento
do meio ambiente (natural e social) e a cultura específica da Educação Física.
Entretanto, com tantos objetivos e tantas falhas na aplicação deles, segundo
VERENGUER et al. (2002), a sociedade não tem clareza sobre os serviços
prestados pelo profissional da área que, por vezes, é considerado como aquele que
se preocupa apenas com o corpo por motivos estéticos ou de saúde, e exige-se dele
aptidão física.
A sociedade atual está passando por grandes mudanças, dando origem à
denominada Sociedade do Conhecimento (VERENGUER et al., 2002) e dando
origem a supostas mudanças e cobranças no âmbito educacional. A sociedade quer
muito mais que somente a educação de um corpo, ela quer, segundo Betti e Zuliani
(2002), a educação integral corpo, mente e espírito – como desenvolvimento pleno
da personalidade. A Educação Física vem somar-se à educação intelectual e à
educação moral.
Mas enquanto isso não acontece, estudos demonstram uma progressiva
desmotivação em relação à Educação Física, desde o final do Ensino
Fundamental (BETTI e ZULIANI, 2002). Desmotivação por parte dos alunos, por
terem aulas de Educação Física sem um envolvimento do professor e de seu
conteúdo pedagógico, com aulas voltadas para atividades de esportes coletivos e
excludentes. os professores encontram-se desmotivados por todo um processo
que deteriora a Educação Física como um todo, em especial, a Educação Física que
passa de disciplina para componente curricular, flexibilizando sua obrigatoriedade
em espaços escolares.
28
2
A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DA CRIANÇA NO MUNDO DA
CULTURA CORPORAL, SEGUNDO OS PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS
29
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, conhecidos por sua sigla PCNs, são
um conjunto de documentos criados como balizas que norteiam a educação em todo
território nacional, no Ensino Fundamental I e II, destinado a todos que trabalham
em instituições educacionais, especialmente, na educação pública e para seus
professores.
Os PCNs foram produzidos por um Coletivo de Autores, no ano de 1997, que
segundo o Ministro da Educação e do Desporto da época, Paulo Renato Souza,
tinha o objetivo de:
... auxiliar os professores na execução de seu trabalho,
compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças
dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem
como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel
em nossa sociedade. (BRASIL, Introdução, 1998, p. 07)
Em nenhum momento os PCNs tiveram a intenção de determinar o trabalho
do professor, mas de norteá-lo e dar vertentes e sugestões, para a execução de um
trabalho respeitando os princípios democráticos e valores da política vigente.
Sabe-se que para tornar a nova geração cidadãos, temos de oferecer à
criança brasileira o pleno acesso aos recursos culturais relevantes para a conquista
de sua cidadania.
Ainda abordando os PCNs em sua parte introdutória, o Ministro relata que:
Tais recursos incluem tanto os domínios do saber
tradicionalmente presentes no trabalho escolar quanto às
preocupações contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde,
com a sexualidade e com as questões éticas relativas à igualdade de
direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade. (BRASIL,
Introdução, 1998, p. 07)
Acredita-se que esses recursos culturais são necessários para a inclusão da
criança na atividade física, sendo eles contemplados com questões físicas,
cognitivas e sócio-afetivas presentes na Educação Física.
30
Outros aspectos referem-se à Educação Física em relação às possibilidades
interdisciplinares dos temas transversais. Esse aspecto teria como objetivo abordar,
através do corpo e da atividade motora, questões contemporâneas transversais, tais
como: o meio ambiente, saúde, sexualidade, ética, até porque nas aulas de
Educação Física as relações aluno-aluno e aluno-professor são privilegiadas, além
de ser parte fundamental do aprendizado. O professor deve refletir sobre estes
aspectos do cotidiano na prática pedagógica, auxiliado pelas diretrizes dos PCNs. E
é a partir desta questão que se abordará a importância da inclusão da criança no
mundo da cultura corporal, baseando-se nos PCNs de Educação Física do Ensino
Fundamental. Para Rodrigues (2002, citado por NATIVIDADE, 2005), este
documento, aprovado em 1998, traz uma série de inovações ao campo da Educação
Física Escolar. Seu discurso é centrado em uma educação baseada em uma
perspectiva de cultura corporal de movimento, relacionando-os com temas
transversais.
Ressaltam-se os aspectos, a seguir, sobre a função dos PCNs para a
Educação brasileira:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um
referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em
todo o País. Sua função é orientar e garantir a coerência dos
investimentos no sistema educacional, socializando discussões,
pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos
e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram
mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual.
(BRASIL, Introdução, 1998, p. 13)
Nesta citação pode-se ver uma forma de garantir a educação, ou seja, uma
forma de o governo manter a qualidade da educação, e que as diretrizes, que dão as
balizas para as ações docentes, cheguem a todos os professores, independente das
circunstâncias para acesso aos estudos, garantindo os direitos defendidos. Com
isso, vê-se que não temos como nos abster de dar assistência à criança para sua
inserção no mundo cultural, pois mesmo sem contatos com produções recentes de
como proceder no ensino, o professor consegue se organizar e coletar informações
suficientes para uma assistência ao seu trabalho pedagógico, a fim de garantir que:
31
... respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas,
religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla,
estratificada e complexa, a educação possa atuar, decisivamente, no
processo de construção da cidadania, tendo como meta o ideal de
uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos, baseado nos
princípios democráticos. Essa igualdade implica necessariamente o
acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o conjunto dos
conhecimentos socialmente relevantes,... (BRASIL, Introdução, 1998,
p. 13)
A relação apontada demonstra conhecimentos relevantes, como a capacidade
de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural, fundamentais
para o nosso País rico em diversidade cultural. O Brasil, por ter uma grande
extensão territorial e possuir diferentes costumes culturais, que se materializam em
relação a vestimenta, hábitos alimentares, religiões, igualmente possui diferentes
formas de expressão corporal, portanto, manifestações físicas diversas através
dos diferentes corpos culturalmente instituídos.
Para que se possa discutir uma prática escolar que realmente atinja seus
objetivos, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam questões de tratamento
didático por área e por ciclo, procurando garantir a coerência entre os objetivos e os
conteúdos, mediante sua operacionalização em orientações didáticas e critérios de
avaliação. Em outras palavras, apontam o quê e como se pode trabalhar, desde as
séries iniciais, para que se alcancem os objetivos gerais pretendidos.
De acordo com os PCNs de Educação Física, em sua apresentação:
O documento de Educação Física traz uma proposta que
procura democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica
da área, buscando ampliar, de uma visão apenas biológica, para um
trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e
socioculturais dos alunos. Incorpora, de forma organizada, as
principais questões que o professor deve considerar no
desenvolvimento de seu trabalho, subsidiando as discussões, os
planejamentos e as avaliações da prática da Educação Física nas
escolas. (BRASIL, Educação Física,1998, p. 15)
Os PCNs entram para contestar e diversificar o trabalho que ocorria até a
década de 1980 e que, ainda, era perpetuado por muitos educadores; dessa forma,
32
vieram quebrar o paradigma de que a Educação Física age apenas sobre o corpo e
que este possa lhe dar apenas resultados físicos imediatos; veio emancipar a prática
pedagógica dos professores, para que possam trabalhar com outras concepções
educacionais, atingindo a todos e alcançando mais objetivos do que o simples
biológico.
O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental é
importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de
desenvolver habilidades corporais e de ter acesso à cultura, através da prática de
atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com
finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções.
Segundo os PCNs, o que define a Educação Física como uma área de
conhecimento de importância social é: “O trabalho na área da Educação Física tem
seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento,...” (BRASIL, Educação
Física,1998, p. 22).
E continua afirmando:
Por suas origens serem militares e médicas e por seu
atrelamento quase servil aos mecanismos de manutenção do status
quo vigente na história brasileira, tanto a prática como a reflexão
teórica no campo da Educação Física restringiram os conceitos de
corpo e movimento, aos seus aspectos fisiológicos e técnicos.
Atualmente, a análise crítica e a busca de superação dessa
concepção apontam a necessidade de que, além daqueles, se
considere também as dimensões cultural, social, política e afetiva,
presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, que interagem
e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos. (BRASIL,
Educação Física,1998, p. 22)
Nessa longa caminhada em busca de uma nova concepção para o trabalho
com a área de Educação Física, percebeu-se que o corpo em movimento interage
com diversos fatores pessoais internos e externos. Os fatores internos haviam
sido identificados e estavam vinculados às relações fisiológicas e técnicas, contudo,
da mesma maneira que trabalhando somente esta perspectiva havia certa influência
do corpo nos aspectos sociais. Questionou-se, portanto, por que não trabalhar
conceitos que atendessem às necessidades das dimensões culturais, sociais,
política e afetiva, que, de uma forma natural, o homem está envolvido com seu
33
meio cultural e, como sujeito, deve entender as questões culturais e sociais, para
agir plenamente como um cidadão.
Entende-se que o ser humano, desde suas origens, produziu cultura, assim,
sua história é uma história de cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido
num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. E o que seria cultura?
Analisando o termo no seu sentido antropológico, os PCNs revelam:
... afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no contexto
de uma cultura, não existe homem sem cultura, mesmo que não
saiba ler, escrever e fazer contas. É como se pudesse dizer que o
homem é biologicamente incompleto: não sobreviveria sozinho sem a
participação das pessoas e do grupo que o gerou. (BRASIL,
Educação Física,1998, p. 23)
Comprovando essa citação pode-se recordar as idéias do filósofo Rousseau,
em sua obra O Contrato Social (1762): “O homem nasce puro e bom, a sociedade e
as instituições o corrompem”. Ou seja, mostra novamente como o homem pode
sofrer influências do meio em que vive, ou melhor dizendo, sofrer influências de uma
certa cultura.
O conceito de cultura, segundo os PCNs, é entendido como: “... produto da
sociedade, da coletividade à qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e
transcendendo-os” (BRASIL, Educação Física,1998, p. 23).
Continuando a definição de cultura, segundo os PCNs:
A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis
pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da sua
concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância,
aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas
obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as
concebe. (BRASIL, Educação Física,1998, p. 23)
Assim, devem ser abordados os conteúdos da Educação Física como
expressão de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados
34
e socialmente transmitidos. Portanto, a presente proposta entende a Educação
Física como estando vinculada ao conceito de cultura corporal.
Um dos fatores que determinaram o surgimento da cultura corporal na
Educação Física, segundo os PCNs, foi pela constatação de fragilidades nos
recursos biológicos e a necessidade de suprir algumas insuficiências, como se pode
ver na citação:
A fragilidade de recursos biológicos fez com que os seres
humanos buscassem suprir as insuficiências com criações que
tornassem os movimentos mais eficazes, seja por razões “militares”,
relativas ao domínio e uso de espaço, seja por razões econômicas,
que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura, seja
por razões religiosas, que tangem aos rituais e festas ou por razões
apenas lúdicas. Derivaram daí inúmeros conhecimentos e
representações que se transformaram ao longo do tempo, tendo
ressignificadas as suas intencionalidades e formas de expressão,
formando meios de cultura corporal. (PCNs Educação Física, p. 23)
A cultura corporal constitui-se, através do ato de "se movimentar", capacidade
inerente ao homem, em objeto da área de Educação Física. A cultura corporal
envolve todas as atividades do movimento humano, tanto no esporte como em
atividades extras ao esporte (NATIVIDADE 2005). Dentre as culturas corporais
incorporadas pela Educação Física, em seus conteúdos, elas se dividem em: jogo,
esporte, dança, ginástica e luta. Estes têm em comum a representação corporal,
com características lúdicas, de diversas culturas humanas. Todas estas modalidades
ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude lúdica.
Essas ressignificações provêm de diferentes momentos da história humana. O
futebol americano, por exemplo, mostra explicitamente uma reprodução de batalhas
antigas com o confronto homem a homem, com uma disputa que envolve: força,
idéias estratégicas e conquista territorial. Já a capoeira herda movimentos e sons de
representações histórico-culturais, religiosas e de luta dos negros na época da
escravidão. E o Taekwondo, tem sua origem nas ações militares e, portanto, tem por
fundamentos comportamentos rígidos e muita disciplina.
Contudo, os PCNs, ao analisarem a evolução histórica da Educação Física,
como a busca de uma episteme própria, contemplam múltiplos conhecimentos
produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento ao
35
longo do tempo, localizando nessas manifestações os benefícios que fomentem os
conteúdos e objetivos da disciplina, como se pode ver a seguir:
A Educação Física tem uma história de pelo menos um século
e meio no mundo ocidental moderno, possui uma tradição e um
saber-fazer e tem buscado a formulação de um recorte
epistemológico próprio.
Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos
conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do
corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as
atividades culturais de movimento com finalidades de lazer,
expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades
de promoção, recuperação e manutenção da saúde.
Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas
manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios
fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como
instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular
a partir daí as propostas para a Educação Física Escolar. (BRASIL,
Educação Física,1998, p. 23)
Como comentado anteriormente, o Taekwondo pode contribuir com inúmeros
benefícios fisiológicos, de acordo com o rico conhecimento construído por parte dos
treinamentos advindos da sua história, em relação ao tipo de treino, psicológicos,
que um guerreiro deveria ter, além de ser muito bem treinado para suas batalhas,
responsabilidades e pressões sofridas. A capoeira, por exemplo, foi criada com o
intuito de expressão e comunicação entre os escravos diante das opressões dos
senhores de engenho, e hoje é considerada uma manifestação folclórica, um jogo,
uma dança, uma luta. O futebol americano, dos campos de batalha aos campos
escolares, hoje sua função principal é o lazer.
Os Parâmetros mostram que se o professor de Educação Física tiver uma
boa concepção de cultura corporal e entender o processo da Educação Física aos
longos dos anos, seu trabalho resultará em contribuições para o exercício da
cidadania e desenvolvimento da autonomia, cooperação, participação social e de
princípios democráticos. Conforme observado na citação a seguir:
A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da
Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na
medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se
36
propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como
direito de todos, o acesso a eles. Além disso, adota uma perspectiva
metodológica de ensino e aprendizagem que busca o
desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e
a afirmação de valores e princípios democráticos. (BRASIL,
Educação Física,1998, p. 24)
Tendo claro em seu conhecimento o conceito de cultura corporal e de como
didaticamente transferi-los para as atividades de Educação Física, poderemos ter
um componente curricular rico para se trabalhar com a formação dos alunos e
desenvolver, também, conceitos culturais necessários para se viver em sociedade,
como a autonomia, a cooperação, a consciência social, os princípios de democracia,
entre outros.
Esses princípios podem enriquecer cada vez mais o trabalho do professor e,
dessa maneira, promover a exploração de nosso vasto patrimônio da cultura
corporal, e promover que este seja, também, enriquecido com valores ancorados em
princípios da ética:
A Educação Física permite que se vivenciem diferentes
práticas corporais advindas das mais diversas manifestações
culturais e se enxergue como essa variada combinação de
influências está presente na vida cotidiana. As danças, esportes,
lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto patrimônio cultural que
deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso, esse
conhecimento contribui para a adoção de uma postura não-
preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e
expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que
dele fazem parte. (BRASIL, Educação Física,1998, p. 24)
Desde a pré-história, os homens desenvolveram suas habilidades físicas,
como a força, a agilidade, a destreza, a coordenação óculo-motora, a lateralidade, a
noção espaço-temporal, com a caça, passando pela Grécia Antiga, em que estas
habilidades foram aprimoradas em jogos e disputas, trabalhando da competição à
cooperação; e chegando à atualidade, onde o foco de nosso trabalho se volta para o
lazer, para o desenvolvimento integral do aluno, e para o convívio social, comprova-
se como estas variadas combinações e influências culturais estão presentes no
37
cotidiano e sempre estarão de alguma forma cumprindo algum objetivo ou
necessidade.
Ao utilizar esse patrimônio cultural para salientar a inclusão da criança no
mundo da cultura corporal, ou seja, aumentar seus conhecimentos sobre o corpo,
auxiliaremos o seu processo de desenvolvimento e de construção de hábitos
saudáveis e condutas coerentes da sociedade contemporânea, entendendo como
direitos fundamentais para a cultura corporal, os conceitos aprendidos com ela,
como se pode ver a seguir:
Os conhecimentos sobre o corpo, seu processo de crescimento
e desenvolvimento, que são construídos concomitantemente com o
desenvolvimento de práticas corporais, ao mesmo tempo em que dão
subsídios para o cultivo de bons hábitos de alimentação, higiene e
atividade corporal e para o desenvolvimento das potencialidades
corporais do indivíduo, permitem compreendê-los como direitos
humanos fundamentais. (BRASIL, Educação Física,1998, p. 25)
Praticar atividade física é por si um bom hábito, que esta proporciona
melhores condições físicas, psíquicas e sócio-afetivas, mas praticá-la, aprimorando
conscientemente os conhecimentos sobre seu corpo junto ao processo de
crescimento e desenvolvimento, mediado por um educador físico, faz que outros
hábitos, como o da boa alimentação e da higiene, por exemplo, surjam no
entendimento do ser humano, com todos os seus direitos de cuidados fundamentais
com o corpo.
Dentre esses direitos, a criança deve compreender que o esporte e a
atividade física, assim como todos os seus benefícios, são de acesso a todos
independente de suas condições físicas ou sociais, ressaltando que essa postura de
reivindicação pode ser desenvolvida com a prática de atividades corporais inseridas
no contexto escolar. Assim:
Os alunos podem compreender que os esportes e as demais
atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas
ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar
valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é
um posicionamento que pode ser adotado a partir dos
38
conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física. (BRASIL,
Educação Física,1998, p. 25)
O acesso ao esporte e seus benéficos é um direito do cidadão, como o direito
à educação, à saúde, à segurança. Fazer a criança entender e usufruir de seus
direitos é papel do educador e a escola tem obrigação de auxiliar nesse processo,
para a criança crescer e viver plenamente em sociedade.
Segundo os PCNs, diversos meios pelos quais a cultura corporal pode
adentrar aos conteúdos das aulas. A prática da atividade física na escola poderá
favorecer a autonomia dos alunos para monitorar as suas próprias atividades, e
assim, transferir essa responsabilidade para tarefas diárias. Segundo Neira (2003,
citado por NATIVIDADE, 2005), o movimento é uma importante dimensão do
desenvolvimento e da cultura humana, é mais do que um simples deslocamento do
corpo no espaço, constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem no
meio físico e atuarem sobre o ambiente humano.
No que diz respeito à questão do gênero, as aulas mistas de Educação Física
podem dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se,
descubram-se e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a
compreender as diferenças, de forma a não reproduzir estereotipadamente relações
sociais autoritárias. Nos jogos, ao interagirem com os adversários, os alunos podem
desenvolver o respeito mútuo, buscando participar de forma leal e não violenta.
Confrontar-se com o resultado de um jogo e com a presença de um árbitro permite a
vivência e o desenvolvimento da capacidade de julgamento de justiça (e de
injustiça). Principalmente nos jogos, em que é fundamental que se trabalhe em
equipe, a solidariedade pode ser exercida e valorizada. Em relação à postura diante
do adversário, podem-se desenvolver atitudes de solidariedade e dignidade, nos
momentos em que, por exemplo, quem ganha é capaz de não provocar e não
humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitória dos outros sem se sentir
humilhado.
outros autores que defendem a importância da inclusão da criança no
mundo da cultura corporal através da Educação Física escolar, e mostram
resultados semelhantes aos apontados pelos PCNs:
39
Educação Física Escolar é um componente curricular integrado
a um projeto político pedagógico escolar orientado por princípios
educacionais que, a partir da diversidade da “cultura corporal de
movimentos” historicamente definida, se torna uma disciplina
curricular para a promoção do desenvolvimento e a integração do
aluno no espaço escolar, objetivando propiciar o entendimento que
por meio do domínio de sua expressão decorrentes do movimento
humano será possibilitada a conquista da autonomia de suas ações
de cidadania necessária ao seu convívio no contexto social em que
está inserido. (CAMPOS, 2004)
Pode-se ver que, através da Educação Física, como cita Campos (2004), e
como sugere os PCNs, temos em mãos um importante componente que auxilia no
processo de construção de elementos que favorecem o desenvolvimento motor da
criança, o domínio dos conhecimentos necessários para que cresçam cidadãos
conscientes, tendo respeito a diversidades culturais, e tendo a possibilidade da
criação de códigos e símbolos como subsídio para a aquisição de bons hábitos
corporais e sociais. Também pode-se ver que esse processo de construção vem
através da prática de atividades físicas, sendo essas atividades herdadas de uma
cultura corporal, ou seja, os elementos culturais, de uma determinada sociedade,
“incorporados” na criança são cruciais na sua formação para o futuro.
Segundo Silva e Weiss (2004), qual seria a conseqüência de um ambiente
que favorecesse a submissão, a passividade, a dependência e a falta de criatividade
no indivíduo? Um ambiente em que as crianças permanecem sentadas na mesma
posição, cada uma olhando as costas da que está na frente, e educadas em um
mundo de proibições, tabus religiosos e exigências rigorosas, vivendo dentro de uma
tradição cultural, na qual nosso corpo sofre uma série de repressões através de
preconceitos e normas sociais. Será que os elementos apresentados pelos PCNs
teriam algum significado?
A cultura dita normas em relação ao corpo; normas com as
quais o indivíduo tenderá, à custa de castigos e recompensas, a se
conformar, até o ponto de esses padrões comportamentais se
apresentarem tão naturais quanto o desenvolvimento dos seres
vivos, a sucessão das estações ou o movimento do nascer e do pôr-
do-sol. Entretanto, mesmo assumindo esse caráter “natural” e
“universal”, o corpo humano, como sistema biológico, é afetado pela
40
religião, pela ocupação, pelo grupo familiar, pela classe e por outros
intervenientes sociais e culturais. (RODRIGUES, 1983, in: SILVA e
WEISS, 2004)
Quando se diz que incorporamos conceitos e comportamentos, pode-se levar
ao pé da letra e dizer que através do corpo tais normas entram em nossa conduta. A
forma de disposição dos alunos na sala de aula não foi certamente estipulada em
fileiras, um atrás do outro, simplesmente como uma forma de organização, mas
como uma forma de inibição do comportamento dos alunos em sala de aula.
Podemos lembrar daquela visão autoritária do professor em sala de aula, em cima
do palco com uma visão privilegiada de todos os alunos, enquanto eles estavam
direcionados somente para a visão do professor, com todos os alunos enfileirados e
inibidos. E não se pode esquecer daquela pequena janela na porta da sala, que na
ausência do professor, como uma vigilância simbólica, permanece em sala.
Certamente uma forma de controle. Freire (1993) faz uma comparação muito
pertinente com o sistema panótipo de segurança de Bentham, analisado por
Foucault em seu livro Vigiar e Punir. O projeto consistia em um sistema penitenciário
baseado em uma construção circular, em que as celas fariam fronteiras umas com
as outras, todas voltadas de frente para uma torre localizada no centro do presídio.
As celas eram abertas para a torre central e para o mundo exterior, iluminadas pela
luz natural e impossibilitando a privacidade do prisioneiro. Todos os condenados
enxergavam o guarda que os vigiava da torre e nenhum prisioneiro poderia enxergar
os companheiros do lado, sendo assim, um único guarda em posto de sentinela
vigiaria todos ao mesmo tempo. Tanto na escola como no presídio, invariavelmente,
cerceiam as manifestações corporais e ritualizam a vigilância, até que a sentinela se
instale simbolicamente dentro do vigiado.
Dessa forma, vemos o quão é importante a Educação Física e de como ela é
que tem de ser trabalhada, como visto em seus momentos históricos, quem tem o
controle do corpo, tem o controle das idéias e dos sentimentos, sendo assim, quem
fica confinado em salas apertadas, sentado e imóvel, milhares de horas em boa
parte da vida, aprende a ficar sentado em qualquer cadeira, de onde dificilmente irá
se erguer.
41
Pensando desta maneira, pode-se reafirmar a idéia inicial do capítulo, da
importância da inclusão da criança no mundo da cultura corporal, tendo como base,
por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais.
O corpo aprende, e é cada sociedade específica, em seus
diferentes momentos históricos e com sua experiência acumulada,
que o ensina. E, ao ensinar o corpo, nele se expressa: no andar,
dormir, dançar, nadar, nos gestos, na postura das mãos, no jeito de
olhar. É a sociedade que ensina o corpo e nele marca as diferenças
que ela reconhece e/ou estabelece: de sexo, de idade, de hierarquia
social. (SILVA e WEISS, 2004)
A expressão corporal, portanto, define a personalidade do indivíduo, caráter, e
essas características de uma maneira inversa se expressam no corpo. Assim, “O
corpo é um produto da educação” (SILVA e WEISS, 2004).
Haverá coisa mais importante que o corpo? Todas as
revoluções, todas as ordens sociais, quaisquer que sejam suas
enrolações ideológicas, não devem ter como única finalidade fazer
com que os corpos vivam mais felizes? (ALVES, 1985, p.22, in:
SILVA e WEISS, 2004)
É através do corpo que a criança conhece o mundo. Desde sua infância, seus
hábitos e costumes se constroem através de contatos do corpo com o seu mundo
exterior, e esses contatos procedem da maneira que seus pais e pessoas próximas
expõem para ela, criança ainda dependente deles, que por conseqüência herda a
cultura exposta, a cultura corporal.
Para Freire (1993), o sistema escolar encontra-se em uma enorme
divergência, se a criança aprende pelo corpo, por que ela não pode aprender e
raciocinar em movimento, ou jogando? Ou podemos dizer até lutando?
Parece uma loucura, mas é a lógica do sistema escolar:
crianças não podem raciocinar se movendo; não podem refletir
jogando; não podem pensar fantasiando. Então, para que se tornem
42
inteligentes e produtivas, precisam ser confinadas e engordadas.
Essa é a economia do sistema escolar. (FREIRE, 1993)
A Educação Física passa a ter uma maior importância nas escolas, quando
deixa esse estereótipo militar e aprende a praticar a liberdade dos corpos. E seu
espaço deixará de ser ignorado e crescerá sua importância, quando mostrar como o
universo pedagógico poderá ter maior produtividade com a aprendizagem dos
corpos em movimento.
Toda a aprendizagem, desde o início até o fim, passa pelo
corpo. Ele não é apenas um detalhe nos processos de
aprendizagem. É primordial. É o centro absoluto de onde tudo se
irradia. O corpo é a origem de todo conhecimento. (SILVA e WEISS,
2004)
Acrescentando:
O esquema corporal é o núcleo fundamental da personalidade;
é a partir dele que são organizados todos os comportamentos, todas
as condutas e todos os conhecimentos. Esse mundo que envolve a
criança é percebido pela sensorialidade. Sensações, percepções e
ações constituem um ciclo que se desenvolve, se enriquece, se
organiza, se estrutura para constituir a personalidade. (2004)
O ser humano tem diversos mecanismos de aprendizagem desta forma, e
esta pode ser feita através dos nossos sentidos. As maiores fontes de aprendizagem
provêm da forma visual e cinestésica. Por isso, temos muitos estudos, inclusive os
PCNs, que são ricos em informações, enaltecendo a aprendizagem através do
corpo, defendendo o trabalho dentro de uma cultura corporal, que potencializará os
meios e resultados dessa aprendizagem. Alves pontua que:
O que é imediatamente experimentado não precisa ser
ensinado nem repetido para ser memorizado [...] aprendizagem
43
imediata. Quanto mais separado da experiência um determinado
conteúdo, maiores e mais complicadas as mediações verbais.
(ALVES, 1988, p.46)
Vivenciar ou experimentar um novo conhecimento de forma cinestésica,
poderá facilitar o processo de aprendizagem, diminuindo as mediações verbais para
um entendimento mais simples. Como as emoções que funcionam da mesma
maneira pertencem ao corpo. As emoções, também, são absorvidas através do
corpo, aprendemos emoções e as vivemos com nosso corpo. As emoções, portanto,
podem surgir de diferentes manifestações, das diferentes culturas.
Corpo e mente devem ser entendidos como componentes que
integram um único organismo. Ambos devem ter assento na escola,
não um (a mente) para aprender e o outro (o corpo) para transportar,
mas ambos para se emancipar. (FREIRE, 1992, p. 13)
Como se pode ver, elencando todas essas informações, os PCNs têm como
função, analisada anteriormente, a de reunir todas essas condições de
aprendizagem e explorá-las da melhor forma, conduzindo o desenvolvimento da
criança, para que ela não cresça inibida e desprovida de cultura e de um
desenvolvimento psico-físico-social integral. Caso contrário, poderão ser vistas como
atividades corporais que limitam a criança.
A partir da primeira série, as atividades corporais ficam
limitadas e, na maioria das vezes, reduzidas a movimentos
repetitivos. Praticamente se anula a forma construtiva com que o
corpo atua nos processos de ensino-aprendizagem. Parece que, na
primeira série, os alunos são vistos como meros robôs, onde o corpo
deve estar aprisionado para que, assim, seja adquirido o mais
importante: o cumprimento do programa curricular da disciplina.
(SILVA e WEISS 2004)
Segundo Campos (2004), a importância dos PCNs, enquanto um documento
oficial norteador da prática da Educação Física Escolar no Brasil, é, sobretudo,
atender à política educacional vigente, ser aceito por muitos profissionais e
44
questionados, por outros. Esse movimento político educacional é considerado, pelo
autor, normal dentro de uma sociedade democrática, conseqüentemente, aqueles
que idealizam tais referenciais buscam um avanço adequado à política vigente e à
população de alunos que se apresentam naquele momento. Isso faz desses
Parâmetros, para o momento, um avanço na área educacional em termos de
proposta pedagógica e, especialmente, destacados no processo de ensino-
aprendizagem da Educação Física Escolar.
Entre os questionamentos, a relação com a luta é algo intrigante para muitos.
De acordo com as diretrizes dos PCNs ante às atividades sugeridas, que
contemplariam seus objetivos, encontra-se a luta. Mas como lidar com esse conceito
de luta? Deve-se entender a luta como a essência da Arte Marcial ou como uma
atividade qualquer de simples disputa de forças e desigualdades? Talvez, essa falta
de clareza assombre grande parte dos professores que usufruem dos PCNs como
seus parâmetros reais de trabalho. Como trabalhar luta nas aulas de Educação
Física como sugere os documentos? Devem ser ensinados princípios básicos de
Taekwondo ou do Judô? Ou simplesmente trabalhar com o conceito de disputa de
força num simples Cabo de Guerra satisfaria seus objetivos? Acredita-se que a
segunda opção seja muito simplória para a grandiosidade dos objetivos que os
PCNs querem alcançar.
Trabalhar com o Taekwondo, por exemplo, uma Arte milenar com princípios e
parâmetros, que envolve cultura, interação com o próximo, nos parece muito mais
relevante que um simples Cabo de Guerra. Mas aí entramos em outra questão muito
polêmica na área acadêmica, os professores licenciados em Educação Física
estariam aptos a ministrar nas aulas conceitos de uma Arte Marcial? Segundo
Gonçalves Junior e Drigo (2001, citados por LAGE et al. 2007), ainda são raros os
cursos de Educação Física que possuem em sua matriz curricular alguma disciplina
obrigatória ou optativa─ relacionada às lutas, resultando em certo distanciamento
do professor de Educação Física do universo cultural das artes marciais em geral.
Será melhor abordada essa questão no capítulo 4, quando se falar sobre como o
Taekwondo pode integrar-se nesse propósito como atividade base.
45
3
AS TEORIAS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEAS E A
I
NSERÇÃO DA CRIANÇA NO MUNDO DA CULTURA
CORPORAL
46
Discute-se, neste capítulo, como as abordagens desenvolvimentista e
construtivista-interacionista podem contribuir para a inserção da criança no mundo
da cultura corporal, baseando-se nos conteúdos dos PCNs, estudados capítulo 2.
Os objetivos e as propostas educacionais da Educação Física modificaram-se
ao longo deste último século, e todas estas tendências, de algum modo, ainda hoje
influenciam a formação do profissional e as práticas pedagógicas dos professores de
Educação Física (DARIDO e RANGEL 2005). Duas abordagens que deram certo e
perpetuam nas aulas de Educação Física, atualmente, são a desenvolvimentista e a
construtivista-interacionista.
Segundo Darido (1999, p. 18, citada por CAMPOS 2004), a abordagem de
ensino desenvolvimentista está fundamentada no estudo representativo de Tani et
al. (1988), no qual a autora expressa o conceito dessa abordagem nos seguintes
termos:
Os autores desta abordagem defendem a idéia de que o
movimento é o principal meio e fim da Educação Física,
propugnando a especificidade do seu objeto. Sua função não é
desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização e o
pensamento lógico-matemático, embora tal possa ocorrer como um
subproduto da prática motora.”
“... a proposta desta abordagem também não é buscar na
Educação Física solução para todos os problemas sociais do País,
com discursos genéricos que não dão conta da realidade. Em suma,
uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem do
movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens
em decorrência da prática das habilidades motoras. (DARIDO 1999,
p. 18)
Segundo Darido e Rangel (2005) o modelo desenvolvimentista é explicitado,
no Brasil, principalmente nos trabalhos de Tani (1987); Tani et al. (1988); e Manoel
(1994). A obra mais representativa desta abordagem é de Tani et al. - Educação
Física Escolar: Fundamentos de uma Abordagem Desenvolvimentista (1988). Vários
autores são citados neste trabalho, mas dois parecem ser fundamentais: Gallahue e
Connoly (.apudTANI et al., 1988).
Para Tani et al. (1988) a proposta explicitada por eles é uma abordagem
dentre várias possíveis, é dirigida especificamente para crianças de 4 a 14 anos e
busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para
a Educação Física escolar. Segundo eles, é uma tentativa de caracterizar a
47
progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor,
cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função destas
características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da
Educação Física Escolar.
Silveira (1997) faz uma ótima referência citando Freire (1989), explicando a
importância da Educação Física no ensino fundamental e a necessidade das
práticas motoras:
Freire nos alerta sobre a importância da Educação Física na
escola de ensino fundamental relacionando-a ao fato de que os atos
motores são indispensáveis não para a relação com o mundo,
mas também para a compreensão dessas relações. (SILVEIRA,
1997)
Deve-se sempre oferecer experiências motoras diferentes para que a criança
possa, através destes inúmeros gestos motores transmitidos para ela, enriquecer
seu meio cultural, seu meio da cultura corporal. E do mesmo modo pode-se falar em
educação corporal como um dos objetivos a serem atingidos pela Educação Física,
ou seja, uma educação de corpo inteiro, tornando a disciplina importante em suas
respectivas vidas.
Para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Física deve
proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor
seja desenvolvido através da interação entre o aumento da
diversificação e a complexidade dos movimentos. Assim, o principal
objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento
adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de
que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada.
(DARIDO e RANGEL, 2005)
É importante essa diversificação de movimentos, porque é através dela que a
criança poderá se desenvolver interagindo com o meio e a cultura em que vive. E
numa perspectiva mais abrangente, interagir com culturas diferentes,
proporcionando-lhe condições de ampliar seu repertório da cultura corporal, seu
repertório motor, e todos os benefícios acarretados por isso. Para Silveira (1997), o
desenvolvimento motor, está integrado no desenvolvimento do ser humano como um
48
todo, considerando-se a atividade motora como um meio de adaptação, de
transformação, e de relacionamento com o mundo. Para que esse processo ocorra,
a abordagem desenvolvimentista estabelece que se deva respeitar certa ordem de
aprendizagem e desenvolvimento:
Os conteúdos devem obedecer a uma seqüência
fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor,
proposta por Gallahue (1982) e ampliada por Manoel (1994), na se-
guinte ordem: fase dos movimentos fetais, fase dos movimentos
espontâneos e reflexos, fase de movimentos rudimentares, fase dos
movimentos fundamentais, fase de combinação de movimentos
fundamentais e movimentos culturalmente determinados. (DARIDO e
RANGEL, 2005)
Tais conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades,
do mais simples, que são as habilidades básicas, para as mais complexas, as
habilidades específicas. As habilidades básicas podem ser classificadas em:
habilidades locomotoras (por exemplo: andar, correr, saltar, saltitar); manipulativas
(por exemplo: arremessar, chutar, rebater, receber); e de estabilização (por exemplo:
girar, flexionar, realizar posições invertidas). Os movimentos específicos são mais
influenciados pela cultura e estão relacionados à prática dos esportes; do jogo; da
dança; da luta; e, também, das atividades industriais (DARIDO e RANGEL, 2005).
Contudo, não se deve apenas basear nossas teorias na abordagem
desenvolvimentista, porque esta necessita de um enriquecimento maior na questão
sociocultural. E seguindo esta linha de raciocínio, será estudada também, neste
capítulo, a abordagem construtivista-interacionista. Desenvolver um trabalho dessa
abordagem na Educação Física, para Silveira (1997) significa proporcionar
contribuições motoras e de interação com o meio para as crianças em
desenvolvimento.
Para Piaget, segundo Rappaport et al. (1981), existe uma troca constante
entre o sujeito e o meio, bem como uma busca constante de um estado de equilíbrio
biológico e mental. Para isso, mostrou uma visão interacionista, em que a criança e
o homem pertencem a um processo ativo de contínua interação, e procurou
entender quais os mecanismos mentais o sujeito usa nas diferentes etapas da vida
para poder entender o mundo.
49
A preocupação central de Piaget dirige-se à elaboração de uma teoria de
conhecimento, que possa explicar como o organismo conhece o mundo. E o
conhecimento possibilita ao homem um estado de equilíbrio interno que o capacita a
adaptar-se ao meio ambiente. Procura ver a criança como um ser tentando descobrir
o sentido do mundo, lidando ativamente com objetos e pessoas. A criança vai
construir estruturas mentais e adquirir modos de funcionamento dessas estruturas,
em função de sua tentativa incessante de entender o mundo ao seu redor,
compreender seus eventos e sistematizar suas idéias num todo coerente.
Essas idéias das pesquisas de Piaget estruturaram as novas tendências da
Educação e, em especial, na discussão que aqui apresentamos da Educação Física
engajada, que fugiria de um estudo mecanicista, e se complementaria com um
estudo em que a atividade física e os gestos motores fossem enriquecidos pela
interação e construção de um mundo e de experiências anteriores, gerando, assim,
a Educação Física construtivista-interacionista.
Para Silveira (1997), o construtivismo na Educação Física apóia-se na
intenção básica de construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com
o mundo, sendo que a Educação Física se incumbe de contribuir, através do
movimento humano, para tal interação. O movimento é proposto de maneira a
desencadear um desequilíbrio no processo da gênese do conhecimento, desafiando
o aluno a assimilar uma ação nova que será depois acomodada e, então, aprendida.
Para o entendimento da Educação Física na escola, orientada a partir dessa
perspectiva, é preciso observá-la como parte de um processo contínuo de formação
e desenvolvimento do indivíduo, processo do qual a escola construtivista participa,
ao mesmo tempo em que desempenha sua função social de integração do indivíduo
na sociedade.
A proposta curricular de Educação Física para o ensino
fundamental, orientada pela concepção construtivista-interacionista
se propõe a aproveitar o conhecimento que o alunojá traz consigo
fazendo-o avançar pela descoberta de novas formas de trabalho. O
aluno,no seu processo de ensino-aprendizagem, compreende o
significado e a utilidade do seu fazer, atuando como agente criador e
transformador do próprio conhecimento, construindo, assim, o seu
saber. (SILVEIRA, 1997)
50
Para Darido e Rangel (2005), no Brasil e, mais especificamente, no Estado de
São Paulo, a proposta construtivista-interacionista vem ganhando espaço. É
apresentada principalmente nas propostas de Educação Física da Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), que tem como colaborador o Professor
João Batista Freire, com papel determinante na divulgação das idéias construtivistas
da Educação Física. Esta abordagem tem trazido novas contribuições acerca das
práticas instituídas na Educação Física nos diferentes segmentos do contexto
escolar.
Assim, a CENP apóia a metodologia interacionista-construtivista, em oposição
às metodologias anteriores, garantindo um trabalho de desenvolvimento integral dos
alunos, e efetivando, na Educação Física, contribuições motoras e de interação com
o meio que esta poderá proporcionar, como mostra a seguir:
A proposta denominada interacionista-construtivista é
apresentada como uma opção metodológica, em oposição às linhas
anteriores da Educação Física na escola, especificamente à proposta
mecanicista, caracterizada pela busca do desempenho máximo, de
padrões de comportamento sem considerar as diferenças individuais,
sem levar em conta as experiências vividas pelos alunos, com o
objetivo de selecionar os mais habilidosos para competições e es-
porte de alto nível. (DARIDO e RANGEL, 2005)
Esta proposta, como foi dito, veio em meio à oposição das linhas anteriores e
acredita-se que ela complementaria adequadamente a teoria desenvolvimentista em
nosso estudo. Em meios, nos quais o desenvolvimentismo possui um estudo
aprofundado em aprendizagem, através das atividades motoras, não se deve,
contudo, desconsiderar o passado cultural que a criança tenha herdado e a intensa
aprendizagem que possui através da interação com outros meios culturais, tudo
devidamente valorizado na abordagem construtivista-interacionista.
Segundo Campos (2004):
Na perspectiva do construtivismo, o aluno aprende porque ele
interage com os fenômenos que acontecem no meio em que está
inserido, independentemente do professor exigir essa manifestação.
A figura do professor será importante porque existe uma série de
51
conhecimentos complexos construídos pelo homem no seu processo
histórico que precisam ser mobilizados para o processo de ensinar.
Mas, uma vez que o aluno mantém contato com esses
conhecimentos ele desenvolverá meios para assimilá-los. Isso
implica dizer que o construtivismo é interacionista.
Para definir melhor esta abordagem citam-se os autores Azevedo e Shigunov
(2001):
Na Abordagem Construtivista-Interacionista, a intenção é a
construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o
mundo, respeitar o universo cultural do aluno, explorando as diversas
possibilidades educativas de atividades lúdicas espontâneas,
propondo tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com
vistas à construção do conhecimento. Além de valorizar as
experiências, a cultura dos alunos, a proposta construtivista tem o
mérito de propor alternativas aos métodos diretivos, alicerçados na
prática da Educação Física. Nesta proposta, o jogo é privilegiado
como sendo ‘um instrumento pedagógico’ ou seja, o principal
modo/meio de ensinar. Logo enquanto a criança brinca, ela aprende,
defende que este momento ocorra em um ambiente lúdico e
prazeroso.
Como observa Darido e Rangel (2005), a principal vantagem desta
abordagem é que ela possibilita uma maior integração com uma proposta
pedagógica ampla e integrada da Educação Física, nos primeiros anos de educação
formal. Porém, desconsidera a questão da especificidade da Educação Física. Nesta
visão, o que pode ocorrer com certa freqüência é que conteúdos, que não têm
relação com a prática do movimento em si, poderiam ser aceitos para atingir
objetivos que não consideram a especificidade do objeto, que estaria em torno do
eixo corpo/movimento. E para complementar a observação feita aqui, a abordagem
construtivista-interacionista será enriquecidamente complementada com a
abordagem desenvolvimentista, assim trazendo para a prática pedagógica a
especificidade do objeto.
Uma das questões mais importantes ao construir o conhecimento com o aluno
é, antes de tudo, respeitar o seu universo cultural, explorando a gama múltipla de
possibilidades educativas de sua atividade lúdica espontânea e, gradativamente,
52
propor tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras, com vista à construção do
conhecimento e à busca de ampliar seu repertório da cultura corporal.
Silveira (1997) ressalta como a abordagem pode ampliar esse repertório e
mostra que a utilização de técnicas corporais (milenares ou contemporâneas), de
uma forma crítica e em consonância com a realidade em que se trabalha, possui um
significado social e cultural definidos. E a utilização de competições como um
elemento educativo numa determinada direção, apontando para um
desenvolvimento humano de justiça, fraternidade e solidariedade entre os homens,
colabora para os sucessos dos objetivos construtivistas-interacionistas. Portanto,
mesmo sabendo que o Taekwondo provém de comandos diretivos, como se verá no
capítulo seguinte, mas com as mudanças em sua prática e meios de se trabalhar,
com a interação entre os praticantes e a prática de atividades corporais milenares,
ampliando o repertório motor, consideramos uma atividade importante, que se
encaixa na área de lutas abordada pelos PCN´s e trabalha os ideais que a Educação
Física contemporânea qualifica.
A construção do conhecimento vem quebrar o paradigma de que o professor
é a única fonte do saber. A criança poderá aprender consigo mesma e
principalmente pela interação, como aponta Darido e Rangel (2005):
Além de procurar valorizar as experiências dos alunos e a sua
cultura, a proposta construtivista também tem o mérito de propor uma
alternativa aos métodos diretivos, tão impregnados na prática da
Educação Física. O aluno constrói o seu conhecimento a partir da
interação com o meio, resolvendo problemas. (DARIDO e RANGEL,
2005)
E será que todo professor pode ser enquadrado exatamente como
mecanicista, desenvolvimentista ou construtivista? A essência deste capítulo tenta
mostrar a importância de duas abordagens para o trabalho do professor de
Educação Física e para o desenvolvimento integral dos alunos. A construção do
conhecimento, resgatando culturas e conhecimentos trazidos pela criança e
formando-a para a sociedade, é tão importante quanto o desenvolvimento por
etapas dos gestos motores para o desenvolvimento maturacional do ser humano.
Mas quando se busca construir o conhecimento, diversas vezes nos deparamos com
53
a questão: quais conhecimentos se deseja construir através da prática da Educação
Física escolar? Neste momento deve-se retornar aos conteúdos dos Parâmetros
Curriculares Nacional (PCNs), para relembrar que nossos alunos devem construir
um conhecimento que os prepare para a cidadania, que desenvolva e amplie seu
repertório motor, introduzindo o aluno às questões relacionadas à cultura corporal e
guardando as suas características específicas. E, para tanto, deve-se trabalhar num
ambiente prazeroso e lúdico.
Dessa forma, acredita-se que poderemos abordar de forma completa os
meios para a contribuição da inserção da criança no mundo da cultura corporal.
54
4
O TAEKWONDO COMO ATIVIDADE DE BASE NA EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
55
A Educação Física aceita o jogo, a dança, a luta, a ginástica e o esporte como
instrumentos para cumprir seus objetivos e, dessa forma, o corpo pode expressar
experiências e aprendizados. Estas manifestações que compõem a cultura corporal
de movimento trabalham com as formas de representação e compreensão do
mundo expressas por meio do corpo.
Lançanova (2007) observa que os PCNs de Educação Física apresentam
as lutas como componente de ensino na Educação Física Escolar, mas é breve
quando se propõe a discutir o assunto, permitindo interpretações nem sempre
corretas do que deve ser o ensino de lutas nesse componente curricular. Lançanova
afirma a importância das lutas e de sua origem, lembrando-se de que ela sempre
esteve presente na história do homem:
As lutas fazem parte da cultura corporal do movimento
humano. Sempre fizeram parte do homem. Dentro de toda ação de
defesa, contra uma fera ou um inimigo, ou de ataque, como a caça
ou o combate na guerra, usando o corpo ou armas, está presente a
luta, de forma organizada como as modalidades conhecidas, ou
instintiva, emanada da necessidade do ser humano em proteger o
seu próprio corpo.
Para Ferreira (2006), as lutas, ou no nosso caso o Taekwondo, devem servir
como instrumento de auxílio pedagógico ao profissional da Educação Física, até
porque, como visto, possuímos o conceito de lutar dentro do contexto histórico-
sociocultural do homem, que o ser humano luta, desde a pré-história, pela sua
sobrevivência
. Daolio (2004, citado por FERREIRA, 2006), sustenta a idéia de que a
cultura é o principal conceito para a educação física, porque todas as manifestações
corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da
evolução até hoje, ou seja, reafirma a idéia de que a luta faz parte do contexto
histórico cultural do homem, de que ela não deve ser esquecida quando tratamos do
assunto cultura e suas representações.
Sem dúvida, a luta é um elemento da cultura do movimento
humano, é parte integrante da sua natureza. Lutando, o homem
modificou civilizações. A luta é um instrumento facilitador do
potencial emocional, da autopercepção, da comunicação, das
56
transformações do indivíduo e de suas relações com tudo que o
envolve. Por ela aprende-se a conhecer a si e ao outro, compreender
suas limitações e desenvolver suas capacidades e habilidades.
(LANÇANOVA, 2007)
As lutas sempre se mostraram muito ricas e competentes em alcançar alguns
objetivos da Educação Física na escola, como as experiências motoras, o contato
corporal, a elaboração de estratégias de combate, e a troca de informações entre os
alunos. Pode-se perceber, também, que a luta e, no caso, o Taekwondo, são
adeptos do construtivismo apresentado, e que estes resgatam elementos do
cotidiano e experiências culturais anteriores.
Segundo Weil e Tompakow (2003, citados por SILVA e WEISS, 2004):
O nosso corpo expressa os nossos pensamentos, as nossas
emoções, as nossas reações instintivas; expressa a nossa
personalidade e, mudando certos aspectos corporais, poderemos
potencializar a mente e as emoções. Então, o autor aqui citado
sugere vários métodos que conseguem mudar muito os estados
emocionais e atingir a própria estrutura da personalidade: a ioga, a
dança, as técnicas de “relax”, o judô, entre outros. Essas práticas são
formas suaves de dar algo ao corpo, formas de nutri-lo com carinho e
de elevar a qualidade de nossa vida.
(WEIL e TOMPAKOW, 2003)
O Taekwondo (T K D, em coreano) é uma Arte Marcial milenar coreana que,
também, poderá ser uma forma suave de dar algo ao nosso corpo, nutrindo com
elementos que elevem nossa qualidade de vida, e poderá, por meio de nosso
estudo, se tornar um instrumento para expressar as emoções do nosso corpo.
De origem militar, tinha como objetivo proteger o reino, mas ao longo dos
anos foi se modificando para alcançar as necessidades culturais e pessoais dos
praticantes, transformando-se em uma Arte Marcial com objetivos educacionais e
sociais. Hoje em dia, converteu-se também, em um esporte difundido em todos os
continentes, nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, teve seu "batismo de fogo",
quando se converteu em esporte olímpico de exibição. Nas Olimpíadas de Atlanta
em 1996, figurava como esporte para a disputa de medalhas, consagrando-se
como esporte olímpico oficial na Olimpíada de Sidney, em 2000.
57
HISTÓRIA DO TAEKWONDO
1
Descobertas arqueológicas de pinturas nas paredes de Muyong-Chong, uma
tumba real que remonta à época da dinastia Koguryo, permitem evidenciar a prática
de Tae-Kyon (a mais antiga forma de Taekwondo) em um período anterior ao ano de
50 a.C.
As pinturas não deixam dúvidas sobre se realmente representam uma
manifestação da antiga arte do Tae-Kyon: mostram homens desarmados praticando
um combate e utilizando-se de técnicas bastante características da arte, como a
"faca da mão", o punho cerrado e a posição de luta clássica.
E podemos reforçar aqui a idéia inicial de cultura, como apresentada no
capítulo 2, tendo o homem desde sua origem produzido cultura, e sua história é
também baseada nesta. Nessa época, o homem procurava uma forma de se
expressar através do corpo, tais técnicas, necessariamente, não precisariam estar
recordadas nas paredes, se não houvesse a intenção de, posteriormente, praticá-las
com um propósito maior, ou com o intuito de expandir esses conhecimentos através
de sua história cultural. E não poderia ser de outra forma, tais conhecimentos foram
tranferidos de geração a geração, a ponto de serem utilizados como uma forma de
defesa e técnicas militares.
No século VII, a Coréia estava dividida em três reinos: Koguryo, Paekche e
Silla. Nesta época, destes três reinos que viviam em constantes conflitos, Silla (o
menor e menos desenvolvido deles) estava sempre sendo invadido pelo outros, bem
como por piratas japoneses, que se aproveitavam de sua fraqueza e incompetência
militar, para saqueá-los.
Ignorando suas diferenças com seu vizinho mais próximo, e preocupado com
a segurança de seu próprio reino, o rei de Koguryu amedronta-se ante os ataques
dos piratas japoneses e resolve enviar forças militares para prestar treinamento a
alguns guerreiros da nobreza de Silla e ajudá-los a combater, e a se tornarem livres,
e à própria península, dos ataques inimigos. Esta foi a primeira vez que o
Taekwondo (naquela época conhecido como Tae-Kyon) foi introduzido no reino de
Silla, que seria, a partir de então, seu maior propagador. Acredita-se que nessa
1
Sítios: Enciclopédia Eletrônica Acesso em: 14 de abril de 2008; Confederação Brasileira de
Taekwondo Acesso em: 14 de abril de 2008; World Taekwondo Federation Acesso em: 14 de abril de
2008.
58
época, por necessidade, as técnicas, a simples reprodução, foram reforçadas na
prática do Tae-Kyon e herdadas até ainda hoje.
Uma vez contando com o apoio militar de Koguryo, o rei de Silla convocou a
nobreza do reino para que formassem um grupo de elite, que se responsabilizaria
pela defesa e proteção da nação. Esses nobres criaram um grupo que ficou
conhecido como os Hwarang. Os Hwarang foram, então, treinados em diversas
modalidades: arco e flecha; marcha; espada; bastão; lança; táticas militares; e Tae-
Kyon. Tornaram-se conhecidos em todo o reino. Seu rei, porém, acreditava que
ainda lhes faltava uma ideologia, pois do contrário seriam nada mais que um grupo
de assassinos bem treinados. Estudaram, então, história, ética e moral budista, e
filosofia confuciana, que perpetuava ensinamentos e princípios éticos de respeito
pela hierarquia e pela manutenção de uma certa ordem social, baseando-se em
princípios de honestidade e integridade, presentes até hoje no Taekwondo, que
seriam: cortesia, integridade, perseverança, autodomínio e espírito indomável.
Depois de um embasamento filosófico, formularam um código de honra para o
Tae-kyon:
Fidelidade ao rei;
Lealdade aos amigos;
Respeito aos pais;
Nunca recuar ante o inimigo;
Só matar quando não houver alternativa.
Com a formulação deste código de honra, o movimento passou a denominar-
se Hwarang-Do ("Do" significa "o caminho" em todas as artes marciais orientais).
A partir da formação do grupo dos Hwarang, Silla tornou-se tão poderosa em
relação a seus inimigos vizinhos que, no ano de 670 d.C., consegue unificar os três
reinos da península sob a sua bandeira. É por isso que algumas fontes de pesquisa
indicam este ano como o ano de surgimento oficial do Taekwondo, na cidade de
Surabul em Silla; mas, na verdade, a prática desta arte é bem anterior a este
período, como provam as pinturas encontradas na tumba Muyong-Chong, e que
remontam ao século I a.C.
A partir daí, os Hwarang viajam pelo interior da península para conhecer mais
sobre a região e a população, e dessa forma, vão espalhando o Tae-Kyon por todo o
59
reino durante toda a dinastia Silla , que se estende de 668 d.C. até 935 d.C. Durante
esta época, o Tae-Kyon se torna popular como uma atividade de recreação ou um
sistema de desenvolvimento físico, ainda que fosse também uma excelente forma de
defesa pessoal. Somente durante a dinastia Koryo (935 d.C.–1392 d.C.) esse foco
começa a mudar. Nessa época, o Tae-Kyon deixa de ser visto como um sistema de
desenvolvimento físico, passando a ser encarado como uma Arte Marcial.
O Taekwondo nasceu oficialmente nesse período, na cidade de Surabul, com
o nome de Tae-Kyon, que significa “chute pulando”. A prática do Tae-Kyon foi
proibida durante 36 anos, período em que os japoneses ocuparam a Coréia. Após a
Segunda Guerra Mundial, o Japão foi derrotado e os coreanos voltaram a treinar até
conseguir a união de diversas escolas e estilos, adotando então o nome de
Taekwondo.
A partir de 1965, após a criação da Associação Coreana de Taekwondo,
rios mestres foram enviados a diversos países, com o objetivo de divulgar,
difundir e fomentar a ptica dessa arte marcial coreana.
TAEKWONDO E A EDUCÃO
O Taekwondo, portanto, é uma Arte Marcial milenar coreana de origem militar,
que tinha como objetivo proteger seu reino, e ao longo dos anos foi se modificando
para alcançar as necessidades culturais e pessoais dos praticantes, transformando-
se em uma Arte Marcial com objetivos educacionais e sociais. Na etimologia da
palavra, pode-se descartar a parte “marcial” da terminologia, uma vez que, apesar
de sua origem, hoje não se utiliza mais o Taekwondo para a guerra, mas para a
pacificação do ser, partindo-se do seu interior, para fins educacionais e sociais.
A proposta hoje do Taekwondo é de uma conduta educacional, a qual estaria
embasada em um processo de predominância construtivista, pelo qual, através de
conhecimentos prévios de experiências de vida, o aluno desenvolveria seus
raciocínios de aprendizagem, que estariam diretamente relacionados a um
emergente processo de compreensão. Nesse processo não se descarta o
tecnicismo, pois isso seria impossível em se tratando de Artes Marciais, que estão
historicamente enraizadas nas técnicas, embora se realmente, um sentido
60
pedagógico a estas, fazendo que se transformem em instrumentos que conduzirão
processos de aprendizagem, e não somente gestos motores.
O Taekwondo, como agente sociabilizador, é de poderosa influência na
formação de atitudes, na promoção de caráter ético e moral e no auxílio ao
desenvolvimento de valores e responsabilidade. Dessa forma, pode-se dizer que o
Taekwondo é anti-exclusão e trabalha de acordo com as limitações de cada um, ou
seja, na mesma aula podem ser encontrados crianças, adolescentes, adultos,
senhores, homens e mulheres, obesos e magros. Independente do ser, todos
necessitam da interação com outras pessoas e da atividade física contínua para
estar feliz e satisfeito. Para Silveira (1997), a interação que então se estabelece,
promove a descoberta, a criação, a invenção, atividades essenciais para a
construção do conhecimento.
Na Coréia, o povo tem o costume de colocar os seus filhos no Taekwondo a
partir de cinco anos, devido à satisfação no importante resultado que a prática traz
na educação física e mental das crianças. De acordo com o Taekwondo Sport,
2
em
uma pesquisa realizada pela Federação Mundial de Taekwondo (WTF), sede em
Seul, crianças com mais de um ano de prática no Taekwondo apresentaram um
maior índice de QI (Quoeficiente Intelectual) e melhor desempenho no QE
(Quoeficiente Emocional). E a prática da Arte Marcial faz que as crianças melhorem
a coordenação motora, comportamento, coragem, controle emocional, desempenho
escolar e disciplinar.
Andrade e Couzemenco (2003), também, comentam sobre a prática da
modalidade no ensino fundamental na Coréia e em outros países:
Na Coréia do Sul, berço da modalidade, o que se constata
é a prática do Taekwondo a partir dos primeiros anos de idade,
por ser uma das mais puras expressões culturais daquele povo,
com mais de dois mil anos de história.
Além da prática nas escolas de ensino fundamental e
médio, as universidades desenvolvem projetos voltados o à
formão de atletas de alto rendimento, mas tamm árbitros,
instrutores e técnicos.
Já em Cuba, Espanha e xico, através de projetos
fomentados em conjunto pelas áreas esportiva, educacional e
2
Sítio: Taekwondo Sport Acesso em: 14 de abril de 2008.
61
social desses governos, os Centros de Alto Rendimento CAR,
são verdadeiros celeiros de atletas de alto nível, que na verdade
são o resultado de todo um trabalho desenvolvido nas escolas de
ensino fundamental e dio, fazendo com que o Taekwondo seja
mais do que somente o caminho para atletas de nível olímpico,
mas sim um agente importante na formação do indivíduo.
(ANDRADE e COUZEMENCO, 2003)
A apresentação do esporte no Ensino Fundamental proporciona ganhos
inquestionáveis no desenvolvimento da criança, de acordo com a política desses
países. Além de acompanhar o crescimento dos alunos e proporcionar ganhos
motores, cognitivos e sócio-afetivos, participando integralmente na formação do
individuo, tem-se a longo prazo pessoas com formação, capacitada a trabalhar da
mesma forma com futuras gerações. Proposta semelhante encontra-se no Projeto
União de Taekwondo Parque da Juventude, em parceria com a Liga Nacional de
Taekwondo e o Governo do Estado de São Paulo, junto à Secretaria de Esporte
Lazer e Turismo, onde se trabalha com crianças, adolescentes, adultos e idosos,
dos 6 aos 60 anos de idade, com o intuito de proporcionar um desenvolvimento
integral da criança, um acompanhamento escolar aos jovens estudantes, um melhor
condicionamento físico para todas as idades, uma formação de atletas, instrutores e
árbitros, aos que possam estar desprovidos de espaço em nossa sociedade,
melhorando a auto-estima de muitos e, quem sabe, recolocá-los no mercado de
trabalho. Está sendo feito um trabalho em que se espera, através dos princípios e
condutas das Artes Marciais, proporcionar benefícios sociais a estes participantes do
Projeto União de Taekwondo Parque da Juventude, como afirma Netto (2003):
A prática das artes marciais melhora o desempenho
intelectual e o inter-relacionamento pessoal, a medida que
alicerçada na rígida disciplina oriental, aliada a princípios
filosóficos milenares, exigem grau elevado de ateão e
concentrão na execão de tarefas de superação.
Para Andrade e Couzemenco (2003), o Taekwondo pode ser praticado a
partir da primeira idade escolar, desde que as atividades sejam adequadas à
faixa etária enfocada, respeitando-se os limites fisiogicos, estruturais e
62
psicogicos da criança. E estes autores defendem que a iniciação à ptica da
modalidade na escola sirva de estímulo para o desenvolvimento de outras
habilidades da cultura corporal:
A iniciação ao Taekwondo deve ser entremeada com um
trabalho de estimulação para o desenvolvimento das habilidades
motoras sicas, que proporcione à criança um repertório motor
bem variado e estruturado, com as técnicas do esporte sendo
ensinadas de forma bem genérica, com as aulas acontecendo
dentro de uma metodologia lúdica, predispondo o aluno a uma
situação ótima para o aperfeoamento, bem como a
especializão do movimento, que deverá ocorrer, em média, a
partir dos doze anos de idade. (ANDRADE e COUZEMENCO,
2003)
Andrade e Couzemenco (2003), também, ressaltam que a introdução da
ptica desse desporto deve seguir uma conduta pado, focada na progreso
pedagógica e na evolução psicomotora da criança. Deve-se ensinar não
executando os movimentos, mas também de forma que percebam que tais
movimentos m uma história e uma motivação para existir, devendo-se, ainda,
do mesmo modo, respeitar os desejos, habilidades, medos e características
individuais, e o Taekwondo, propriamente dito, seria inserido aos poucos como
pano de fundo, priorizando o aspecto lúdico da atividade. Os autores defendem
a idéia de que se praticarmos uma atividade que nos traga um suporte histórico-
cultural e, também, nos proporcione um aprendizado que amplie nosso
repertório motor, essa atividade auxilia na inserção da criança no mundo da
cultura corporal, como defendem os PCNs. Caminhando nesse raciocínio,
começa-se a ver como o Taekwondo pode integrar-se nesse propósito como
atividade base:
Levando-se em consideração que o movimento é um
suporte, ajudando a criaa a adquirir o conhecimento do mundo
que a rodeia, atras de seu corpo, de suas perceões e
sensões, assim como um esquema corporal organizado,
permite que a criaa se sinta bem, na medida em que seu corpo
lhe obedece, tendo domínio sobre ele, conhecendo-o bem e
podendo utilizá-lo para alcaar um maior poder cognitivo, a
63
prática do Taekwondo vai de encontro a toda essa gama de
qualidades e características fundamentais na evolução do
indivíduo, até porque o desenvolvimento motor fundamental
maduro é pré-requisito para a incorporão com sucesso de
habilidades motoras especializadas correspondentes ao
repertório motor do ser humano. (ANDRADE e COUZEMENCO,
2003)
Andrade e Couzemenco (2003) e Fonseca (2005) tratam especificamente
do Taekwondo no ensino escolar. Outros, como Lançanova (2007); Ferreira
(2006); Oliveira (2006); Ramos (2006); e Natividade (2005) defendem o trabalho
com lutas no ensino fundamental, não especificando a modalidade, mas que
caiba perfeitamente como nossa atividade base.
Lançanova (2007) comenta que o trabalho com lutas engloba uma cultura
corporal de movimento amplo e diversificado, em que, além dos seus movimentos
de golpear e defender, encontra-se um vasto conjunto cultural herdado do povo de
origem da luta, no caso, os coreanos. E que associada às aulas de Educação Física,
estas atividades oportunizam o desenvolvimento de um caráter autoperceptivo dos
alunos, pois, quando utilizadas como instrumento de aprendizagem, colocam
dificuldades motoras e psicológicas, potencializando a formação de um ambiente
reflexivo e autocrítico para solução e compreensão dos problemas. Lançanova
(2007), também, faz um comentário oportuno que, com base nessa definição, é
necessário refletir sobre as lutas como atividade curricular das aulas de Educação
Física. Não mais concebida como uma “opção diferente” de aula, mas um conjunto
de conteúdos previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais, tão importantes para
o aluno quanto são os esportes e as danças.
Ferreira (2006) reforça que atividades como o Taekwondo podem trazer
inúmeros benefícios ao usuário, destacando-se o desenvolvimento motor, o
cognitivo e o afetivo-social. No aspecto motor, observa-se o desenvolvimento da
lateralidade, o controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e da coordenação
global, o aprimoramento da idéia de tempo e espaço, bem como da corporeidade.
Quanto ao aspecto cognitivo, favorecem a percepção, o raciocínio, a formulação de
estratégias e a atenção. No que se refere ao aspecto afetivo e social, pode-se
observar nos alunos alguns aspectos importantes, como a reação a determinadas
atitudes, o comportamento perante a sociedade, a socialização, a perseverança, o
64
respeito e a determinação, proporcionando diversidade cultural e amplitude de
atividades corporais, como aponta os PCNs.
Ferreira (2006) cita a revista do Conselho Federal de Educação Física
(CONFEF, 2002), que reafirma os valores das lutas nas aulas:
A prática da luta, em sua iniciação esportiva, apresenta valores
que contribuem para o desenvolvimento pleno do cidadão.
Identificado por médicos, psicólogos e outros profissionais, por sua
natureza histórica apresentam um grande acervo cultural. Além
disso, analisada pela perspectiva da expressão corporal, seus
movimentos resgatam princípios inerentes ao próprio sentido e papel
da educação física na sociedade atual, ou seja, a promoção da
saúde. (CONFEF, 2002)
Ferreira (2006) faz também uma reflexão sobre as questões a serem
trabalhadas junto ao conceito de luta, baseando-se nos PCNs:
A compreensão por parte do educando do ato de lutar (por que
lutar, com quem lutar, contra quem ou contra o que lutar; a
compreensão e vivência de lutas no contexto escolar (lutas X
violência); vivência de momentos para a apreciação e reflexão sobre
as lutas e a mídia; análise dos dados da realidade das ações
positivas e negativas com relação a prática das lutas e a violência na
adolescência (luta como defesa pessoal e não para “arrumar briga”).
(FERREIRA, 2006)
Um dos conceitos a serem trabalhados nas aulas é a questão da violência.
Arte Marcial não tem vínculo algum com a violência. Quando se pensa na palavra
luta, ou mesmo na atividade de Taekwondo nas aulas, primeiramente se associa a
contato corporal, chutes, socos, quedas, disputa, atitudes agressivas. Mas o que se
esquece, muitas vezes, é que as Artes Marciais não se resumem apenas a técnicas,
elas também ensinam aos seus praticantes a disciplina, valores tais como respeito,
cidadania e ainda buscam o autocontrole emocional, o entendimento de parte da
história da humanidade, a filosofia, que geralmente acompanha sua prática, e, acima
de tudo, o respeito pelo seu próximo, tornando a convivência com o grupo uma
condição fundamental para desenvolver a atividade. A não existência de um objetivo
acaba por transformar a Arte Marcial em simples atos de chutar, socar e bater.
65
Partindo deste pressuposto, o Taekwondo pode ser inserido no contexto escolar,
pois propicia, além do trabalho corporal, a aquisição de valores e princípios
essenciais para a formação do ser humano. Para uma pessoa tornar-se um lutador
necessita de muitos fatores que, somados, vão transformá-la em cidadão. Ao educar
crianças e jovens através de práticas de luta, estaremos cada vez mais difundindo e
reforçando a construção desta cidadania, reforçando a transferência de valores, os
conceitos, a socialização e se estará assim, principalmente, contribuindo para o
desenvolvimento integral do ser humano. Fazendo parte da cultura corporal, as
Artes Marciais representam hoje um meio eficaz de educação e um conjunto de
conteúdos altamente valiosos a serem trabalhados na Educação Física Escolar
(OLIVEIRA e SANTOS 2006).
O Taekwondo, assim como os demais conteúdos da Educação Física, deve
ser abordado na escola de forma reflexiva, direcionado a propósitos mais
abrangentes do que somente desenvolver capacidades e potencialidades físicas,
trabalhando como estratégias metodológicas que não visem apenas à técnica pela
técnica, mas sim que a criança possa vivenciar os aspectos corporais de uma
maneira que lhes proporcione prazer e respeite suas características de crescimento.
Dessa maneira, o Taekwondo poderá agir de forma preponderante no ato de
refreamento do comportamento de agressividade. Estudos comprovam que as Artes
Marciais atuam na formação do caráter das crianças e adolescentes, tornando-os
perseverantes, com a auto-estima positiva e altamente seguros de sua capacidade
de poder vencer sem ter medo de perder. É, com certeza, uma forma de canalização
das tensões do dia a dia (OLIVEIRA e SANTOS 2006).
Ramos (2006), um defensor das práticas de lutas e do Taekwondo nas aulas
de Educação Física, afirma em seu trabalho os benefícios da prática e as possíveis
causas da não aplicabilidade nas aulas. Os benefícios da prática de lutas ou do
Taekwondo nas aulas seriam:
Desenvolvimento do sentido do tato, devido à grande utilização
deste;
Descarrega-se e controla-se a agressividade, expandindo para
outras atividades esportivas o cotidiano dos alunos;
Aumento da responsabilidade, por ter de garantir a integridade
física, sua e de seus companheiros nos treinos;
66
Desenvolvimento das habilidades motoras básicas,
principalmente, os deslocamentos e giros;
Aumenta o condicionamento físico de forma global: força,
resistência, velocidade e flexibilidade;
Ganha-se segurança de realização dos movimentos sem contato
físico;
Produz efeito desestressante das responsabilidades e
repressões das crianças;
Necessita-se desenvolver a percepção, decisão e execução de
movimentos rápidos;
Defende-se a educação integral do indivíduo e o
desenvolvimento harmônico da personalidade;
Favorece a integração e a socialização dos alunos,
independente das condições físicas, principalmente daqueles
que são normalmente excluídos de outras atividades esportivas;
Possui grande grau de motivação;
Pode-se desenvolver em grande parte os objetivos da Educação
Física, incrementando as capacidades psicomotoras, cognitiva,
afetivas, interpessoais, e a inserção social;
Aprende-se a aceitar as normas do grupo e a respeitar os
companheiros;
Conhecer origem e aspectos históricos do Taekwondo;
Associar as técnicas e movimentos aos objetivos de sua criação.
Apesar de todos esses benefícios, Ramos (2006) esclarece por que as
atividades de luta ou Taekwondo não se aplicam às aulas de Educação Física:
Pelo desconhecimento das características das atividades, assim
como seus benefícios;
Por acreditar-se que o aluno poderá correr algum risco com a
prática da atividade, e que poderá perder o controle da
agressividade;
Ausência de propostas desse tipo de atividade nos planos
didáticos de Educação Física;
67
E por acreditar-se que se necessita de muitos materiais e
espaço físico diferenciado para as práticas.
Oliveira e Santos (2006), também, apontam benefícios para a prática do
Taekwondo nas escolas:
Recursos motores: melhora a correção postural, controle de
equilíbrio, coordenação motora.
Recursos cognitivos: elaborar estratégias, construir e apropriar-
se de regras, avaliar, decidir, observar, reconhecer, comparar.
Recursos sócio-afetivos: dominar as suas emoções, canalizar a
sua agressividade, respeitar as regras, aceitar a derrota,
respeitar o outro.
Fonseca (2005) em seu estudo destaca que a prática do Taekwondo nas
escolas, como é feito por ele mesmo, não deve ter a intenção de criar esportistas,
como aconteceu com os outros esportes duas décadas, mas despertar interesse
pela prática da atividade física e interesse pela prática do Taekwondo, explorando
seus benefícios.
Até o momento foram apresentados inúmeros benefícios que o Taekwondo
poderá trazer como atividade escolar, destacados por diferentes autores, mas é
preciso ressaltar que os objetivos da Arte, seus benefícios e a proposta que está
sendo apresentada encontram-se de comum acordo com objetivos da Educação
Física e os planos de ensino escolares. Assim como Akilian (2007), deseja-se
apresentar um professor de Educação Física, que poderá contar com uma
ferramenta pedagógica a mais, o Taekwondo, e que através da atividade física de
sua prática possa transmitir a filosofia, a concentração, os valores de coletividade e
grupo e de cidadania que a Arte Marcial proporciona junto ao desenvolvimento motor
exigido pelo nível maturacional das crianças praticantes.
O Taekwondo escolar pode se desenvolver em sintonia com os
conteúdos propostos pelos PCNs e planos de ensino,
incrementando-os, e explorando as diversas capacidades:
psicomotoras, cognitivo-linguísticas, afetivas, interpessoais, de
68
atuação e inserção social. Como procede na cidade de Buenos Aires.
(AKILIAN, 2007)
Pensando nos planos de ensino e de como o Taekwondo pode ser encaixado
nos seus conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, destaca-se a proposta
de Ramos (2006), que propõe a organização dos conteúdos de acordo com as
propostas da Educação Física (Quadro 1):
Quadro 1 – Organização dos conteúdos
Factuais / Conceituais Procedimentais Atitudinais
Origem e história das
Artes Marciais e esportes
de combate: Taekwondo.
Aprendizagem das
técnicas e habilidades
especificas relacionadas
com as Artes Marciais e
os esportes de combate:
Taekwondo.
Apreciação da
importância do
autocontrole e dos
benefícios do Taekwondo
na vida cotidiana.
Técnicas básicas de
defesa: evolução
histórica.
Melhora das capacidades
físicas básicas.
Aceitação das próprias
possibilidades e
limitações corporais.
Medidas de segurança e
prevenção de riscos.
Adaptação e correção
postural das atividades
realizadas.
Respeito às medidas de
segurança para evitar
riscos desnecessários.
Valorização da relação
existente entre a prática
de atividade física e a
melhora da saúde e da
qualidade de vida.
Para Andrade e Couzemenco (2003), trabalhando desta maneira
proporciona-se a auto-superação, o se limitando a conteúdos p-
determinados, mas atendendo aos anseios e às necessidades do indiduo, não
se comprometendo em adestrar movimentos, mas se preocupando com a
69
corporeidade e, acima de tudo, o visando ao puro rendimento motor, mas
abrindo um leque de opções ilimitadas de movimento, utilizando o Taekwondo
como “pano de fundo.
As atividades de Taekwondo podem, a princípio, ser praticadas sem material
específico e sem um espaço diferenciado. O Taekwondo tem a vantagem de não
possuir quedas bruscas e golpes que necessitariam de uma sala apropriada com
tatame. As aulas podem ser ministradas na quadra ou em uma sala de ginástica
normal.
Como instrumento pedagógico, os professores de Taekwondo utilizam-se das
faixas, com as quais podem fracionar o conhecimento a ser transferido em etapas
que respeitam a individualidade do praticante, estipula metas e traçam uma longa
caminhada. Essas divisões por faixas chamam-se inicialmente Gubs e, em seguida,
Dans. Cada Gub corresponde a uma faixa colorida que o taekwondista amarra na
cintura, sobre o dobok, vestimenta característica dessa Arte Marcial. São elas:
Branca (10º Gub)
Branca com Ponta Amarela (9º Gub) - extinta
Amarela (8º Gub)
Amarela com Ponta Verde (7º Gub)
Verde (6º Gub)
Verde com Ponta Azul (5º Gub)
Azul (4º Gub)
Azul com Ponta Vermelha (3º Gub)
Vermelha (2º Gub)
Vermelha com Ponta Preta (1º Gub)
Candidato a Preta – graduação adicionada.
Preta
Para os professores, a divisão por faixas é muito interessante como
instrumento pedagógico de ensino. A partir daí, o praticante chega aos Dans, cujos
sinais exteriores limitam-se à presença não-obrigatória de pequenos traços
perpendiculares na faixa preta, indicando do 1º Dan ao 10º Dan.
Essa caminhada, segundo Lançanova (2007), é muito mais que o
aprendizado de movimentos de ataque, defesa, constitui-se no entendimento dessa
70
manifestação cultural do movimento humano em todos os seus níveis e relações: a
criação e desenvolvimento dos movimentos, historicamente produzidos, enquanto
finalidade de combate ou autodefesa; os preceitos filosóficos que norteiam o
Taekwondo e a relação dele com o contexto social e cultural na época; a presença
em filmes e desenhos animados e as lutas; os eventos desportivos enquanto
movimentos sociais, econômicos e políticos; os benefícios e riscos, psicológicos e
físicos, da prática.
O Taekwondo é uma forma de integração e atividade coletiva, em que o
educando tem a possibilidade de exercitar a atenção, a percepção, a colaboração e
a solidariedade. Segundo Silveira (1997), um início de cooperação surge com o
trabalho em grupos, por meio do qual a criança começa a interagir com outros.
Basta o professor estimular a verbalização da criança, questionando-a sobre as
construções realizadas durante a atividade para a conscientização da importância da
integração e cooperação entre os colegas e os efeitos que isso acarreta. Contribui,
também, para o desenvolvimento do aluno no que se refere à consciência e à
construção de sua imagem corporal, aspectos que são fundamentais para seu
crescimento individual e sua consciência social. Por meio dele, o indivíduo pode
conhecer a si próprio e aos outros, explorar o mundo das emoções e da imaginação
e criar e descobrir novos movimentos. Mas tudo o que se viu até agora pode
ocorrer por intermédio de quem instrui o aprendiz na arte (LANÇANOVA, 2007).
Dessa forma, analisando essas características, vendo as possibilidades de
integração, o desenvolvimento motor propiciado, a construção de conhecimento e
interação com o mundo, e a possibilidade de resgate da cultura corporal de sua
origem histórica para nossa atualidade, acredita-se que o Taekwondo poderá ser um
significante instrumento de trabalho que contemplará os objetivos dos PCNs,
trabalhando diretamente com a cultura corporal.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
72
Pudemos ver que a Educação Física tem inúmeros recursos disponíveis para
a inserção da criança no mundo da cultura corporal, desde elementos históricos
sociais advindos de sua origem, até a exploração, por meio da classe dominante,
como elementos de sua própria gênese. Elementos estes muito bem explorados
com a Educação Física da atualidade, engajada, com objetivos não mais meramente
extrínsecos, mas integrais em relação ao desenvolvimento do ser humano, ou seja,
que contemplem as necessidades motoras, cognitivas e sócio-afetivas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais norteiam a Educação em todo território
nacional, inclusive a Educação Física, e contemplam as necessidades encontradas
pelos educadores e as lacunas expostas pela disciplina, gerando os recursos
culturais necessários para a inclusão da criança na atividade física, sendo eles
contemplados com questões físicas, cognitivas e sócio-afetivas presentes na
Educação Física.
Um dos recursos apresentado pelos PCNs é a atividade de luta e, como
sugestão nossa, o Taekwondo. Para os PCNs a atividade de luta proporciona um
desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo de grande valor para os alunos e
se enquadra nos objetivos da Educação Física. A luta nada mais é que uma
expressão de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados
e socialmente transmitidos, portanto, está vinculada ao conceito de cultura corporal.
O Taekwondo acompanhou desde sua origem uma trajetória semelhante à da
Educação Física, e caminha paralelamente com objetivos semelhantes. Nesta Arte
Marcial vemos um enraizamento nas técnicas, de que hoje é desvinculado de seu
ensino e prática, oferecidos aos alunos. Ao contrário disso, o Taekwondo privilegia a
interação entre os alunos, a troca de informações, e o aproveitamento de elementos
alcançados pelos alunos para a construção de novos aprendizados, como mostra
o construtivismo-interacionista da Educação Física. Também, desenvolve por
etapas, capacidades físicas e motoras, de acordo com o desenvolvimento e
aproveitamento dos alunos, como mostra o desenvolvimentismo.
Contudo, fica como sugestão o trabalho de atividades de lutas nas aulas de
Educação Física escolar, como forma de complemento didático do professor. Ter a
possibilidade de se trabalhar com o Taekwondo durante o desenvolvimento escolar
das crianças, nas aulas de Educação Física, certamente enriqueceria o aprendizado
delas, completaria os objetivos dos PCNs e da Educação Física de forma adequada.
73
Assim, mostramos como a Educação Física e o Taekwondo podem contribuir
para a inclusão da criança no mundo da cultura corporal.
74
REFERÊNCIAS
75
AKILIAN F. Taekwondo escolar: una herramienta padagógica para la formación integral de
las personas o la exclusión de la actividad por un mito de película
.” Revista Digital
[periódico on-line], v.107, n.12, 2007; Disponível em: URL:http://www.efdeportes.com Acesso
em:8 de abril, 2008.
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