Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento da arte da navegação, praticada
pelos europeus desde o século XV, como ferramenta de implementação da expansão colonial européia.
Podemos dizer que, ao mesmo tempo em que era impulsionadora, a navegação era impulsionada pelo
alargamento do mundo conhecido.
Com os êxitos portugueses através da costa e ilhas atlânticas africanas, culminando com a
chegada à Índia; bem como com o êxito de Cristóvão Colombo, atingindo terras ao navegar para o
Ocidente, tudo isso ainda nos finais do século XV, vemos a partir do início do século XVI a
“construção” do Novo Mundo, representada pela tentativa de incluir aquele novo e vasto universo no
mundo conhecido pelos europeus. Se as idéias iam sendo construídas pouco a pouco, a economia e a
política integraram rapidamente o novo continente à ordem mundial, pois a exploração de fauna, flora e
população data desde os primeiros contatos. Assim, em meados do século XVI, menos de sessenta anos
depois de chegar ao novo continente, a Europa já o tinha integrado à geopolítica e à sua economia,
tornando-o em “paraíso” para os que colonizavam e “inferno” para os colonizados.
O conhecimento do mundo era cada vez mais complexo. Com as viagens no Atlântico Sul,
novas estrelas foram incluídas nos compêndios de astronomia. A navegação que um século antes
permitia quase que exclusivamente navegar às vistas da terra, agora era dotada de conhecimentos
astronômicos, fazendo com que os navios se localizassem em pleno alto-mar, mantendo seu curso.
Apesar de tudo, os naufrágios ainda eram freqüentes, pois as embarcações ainda eram precárias, e eram
aperfeiçoadas gradualmente. Todo esse desenvolvimento da navegação teve que ser adaptado ao contato
com os novos litorais. Escrivães, a bordo das esquadras, anotavam tudo que pudesse ser observado sobre
estas terras. Em seus escritórios, os cartógrafos transpunham os dados dos pilotos, capitães e escrivães,
para suas cartas e mapas, para que as novas partes da Terra passassem a fazer parte do mundo
conhecido. Tinham que localizar os acidentes geográficos, os locais onde se poderia aportar e descer em
terra. Onde se poderia encontrar água para abastecer as frotas e armadas. Pouco a pouco se conhece os
regimes de ventos e os regimes de correntes marinhas no lado ocidental do oceano. Essas informações
eram fundamentais para a navegação.
No final, vêm à tona aquelas informações tão caras aos primeiros exploradores destas áreas,
quase esquecidas no tempo, pois fica fácil passar por cima de detalhes ao se contar a história desde o
prisma do vencedor. As informações sobre o meio físico do litoral nordestino foram levantadas a peso de
ouro, para não dizer a peso de vidas humanas, nos inícios do processo exploratório. No entanto ao
olharmos para trás, nos dias atuais, parece um período de facilidades, iludidos que somos pelo véu do
sucesso português de conhecer e ocupar esta parte do mundo. As entrelinhas do processo ainda
estão presentes materialmente, concretamente, por estas terras. As praias, as enseadas, os deltas fluviais,
os próprios rios, ainda estão presentes aqui, esperando que se olhe para eles com olhos inquiridores,
perguntando a si mesmos, de que histórias foi palco aquele lugar.