Por outro lado, quando pensamos nas tecnociências, havemos de pensar em cautela, juízo e
prudência face à imprevisibilidade que nos cerca. O ser humano, antes controlador e dominador da
natureza, paradoxalmente não controla mais nada, hoje opera mais como um ser subordinado e
submetido às regras da técnica.
Essa representação de que o desenvolvimento tecnológico otimiza o poder do ser humano é
ambivalente. Na verdade, o homem e a mulher estão dependentes e frágeis com o excesso de poder
e da onipotência da técnica. O ser humano encontra-se cada vez mais desamparado na modernidade
tecnológica, a cada semana as pessoas apostam em uma novidade tecnológica que mude sua vida e,
ao fim das expectativas, a histeria torna-se depressão.
A humanidade corre um grande perigo com o desenvolvimento tecnológico dos últimos séculos.
A prudência, a renúncia e a responsabilidade são elementos essenciais para reverter o uso
imprudente da tecnologia. De fato, não estamos vivenciando a Revolta da Vacina, mas estamos
presenciando algo muito mais complexo: a modificação do humano, porém, sem movimentos
organizados de revolta. Presenciamos silenciosamente, e muitas vezes aplaudimos, a produção da
natureza animal (incluindo também a do ser humano) ou vegetal em tubos de ensaios, em placas de
Petri. Acreditamos que dispositivos de silício sejam mais eficientes do que o arcabouço orgânico,
autorizamos uma natureza mecânica e a mecanização do ser humano.
Nesse processo de desumanização do humano, o homem e a mulher perdem o “status” de
controle e poder, e passam a ser subjugados pela máquina. Isso, de certa forma, gera certo “fator de
medo” e preocupação, pois o ser humano detém poder somente na teoria; na prática, está
condicionado ao uso da ciência como uma necessidade de sobrevivência.
Uma das características da modernidade foi ter desencadeado, por meio da ciência,
processos tecnológicos, sem precedentes na história da humanidade, criando uma
situação paradoxal. Se, por um lado, ela beneficiou-se dos resultados, melhorando
as condições materiais e existenciais pela incorporação dos seus bens ao cotidiano,
por outro, tornou-se fonte real de problemas, resultantes da sua utilização.
Nominamos os ecológicos, os ligados às possibilidades de clonagem, ao
retardamento do envelhecimento e à liberdade de pesquisa. Diante desta realidade
não sabemos quais as conseqüências longínquas, ou os perigos, que poderão advir à
humanidade no futuro. (ZANCANARO, 1998, p. 38)
Não podemos omitir, nem ao mesmo abater os efeitos catastróficos do mau uso da técnica nos
últimos anos. Tal presença levou e continua levando à extinção de um grande número de espécies,
tornando a sobrevivência humana algo muito intricado para o presente e para a próxima geração.
Por outro lado, seria difícil viver sem seus benefícios, principalmente na área
biotecnológica, que contribui para aumentar a produção de alimentos através de
modificações genéticas e da própria medicina. De qualquer forma, os avanços em
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