ARQUITETURA E SOMBREAMENTO: PARÂMETROS PARA A REGIÃO CLIMÁTICA DE GOIÂNIA
inclinado sobre a eclíptica que provoca as estações, o sistema respiratório, o
sistema digestivo, a noite, o dia solar de 24 horas, sua alternância implacável
mas nuançada, benfazeja etc. (LE CORBUSIER, 2004, p. 7)
Parece interessante que, em plena era maquinista, para usar um termo
do próprio Corbusier, o texto coloque a harmonia como centro de atenções e não
o domínio da natureza pela tecnologia. Isso nos remeterá para a questão ética,
mais à frente.
Esse segundo exemplo fica eleito dentre o acervo da arquitetura
moderna brasileira, sem dúvida profundamente enraizada nos postulados e
preocupações corbusierianas. Essa eleição está embasada numa avaliação de
nível internacional, promovida por personalidades de primeira hora e de primeira
linha, sobre a questão do conforto térmico na arquitetura: os irmãos Olgyay que,
em meados dos anos 50, sistematizaram a interpretação bioclimática da
arquitetura. É em Solar Control & Shading Devices, publicado em 1957, que os
Olgyay mostram e demonstram o “bioclimatic approach” da arquitetura. Cerca de
um quarto dos exemplos arquitetônicos que a publicação apresenta como
soluções qualificadas quanto ao sistema de proteção solar é de projetos e obras
da arquitetura moderna brasileira
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dos anos 30 e 40, incluindo o que se elegeu
como segundo paradigma de referência.
O exemplo é o projeto do Parque Guinle, de Lúcio Costa, realizado no
Rio de Janeiro, nos anos 40. É um projeto consagrado em termos de sua
qualidade arquitetônica, de suas soluções de programa, de implantação, de
integração com o parque e de ocupação de encosta. Este projeto é apresentado
pelos Olgyay com o croquis original de Lúcio Costa e com um trecho do
sombreamento da fachada de um dos edifícios. Destacam eles o sistema de
proteção solar bastante original, formado por diversos tipos de elementos: uns
cerâmicos, com várias formas, e outros, com placas de cimento-amianto na
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Já nas considerações teóricas, na parte inicial do texto, evidenciam-se o respeito e a admiração
dos autores pela moderna arquitetura brasileira, quando, no parágrafo que se reproduz, referente
ao edifício do Ministério da Educação e Saúde – MES, abdicam da língua inglesa “sun-breaker” e
incrustam, no texto, a língua portuguesa “quebra sol”, para dar nome à proteção solar: com
certeza uma forma sui generis de homenagem à contribuição brasileira.
It was in this place that the Corbusier theory was put into practice on a large scale for the first
time. The impetus of this planning has been interpreted with brilliance since then, and that
“quebra sol” became almost the trademark of Brazilian architecture. (OLGYAY, 1957, p. 11)