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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE
DE
CIÊNCIAS
E
TECNOLOGIA
C
AMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE
MARIA JULIA RAMOS SANT’ANA
Centro e Centralidade Intraurbana em
Bragança Paulista – SP
Presidente Prudente
Novembro de 2010
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MARIA JULIA RAMOS SANT’ANA
Centro e Centralidade Intraurbana em
Bragança Paulista – SP
Dissertação de Mestrado encaminhada ao
Conselho do Programa de Pós Graduação
em Geografia da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho Faculdade
de Ciências e Tecnologia, com vistas a
obtenção do título de Mestre em Geografia
Orientador: Prof. Dr. Arthur Magon Whitacker
Presidente Prudente
Novembro de 2010
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Sant’Ana, Maria Julia Ramos.
S223c Centralidade intraurbana em Bragança Paulista - SP / Maria Julia
Ramos Sant’Ana. - Presidente Prudente : [s.n], 2010
xiv, 136 f. : il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Orientador: Arthur Magon Whitacker
Banca: Everaldo Santos Melazzo, Luciano Antonio Furini
Inclui bibliografia
1. Reestruturação urbana. 2. Centralidade. 3. Morfologia. 4.
Bragança Paulista SP. I. Autor. II.
Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Ciências e Tecnologia. III. Título.
CDD 910
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da
Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de
Presidente Prudente.
Àquele que sabe as minhas lutas e os meus sonhos. Àquele
que me ama como sou. Enfim, àquele que sabe tudo o que é
meu e conhece o meu coração.
Ao meu Deus.
AGRADECIMENTOS
Após quase três anos de lutas a batalha é chegada ao fim e me faltam
as palavras para transmitir os sentimentos que me vem ao coração neste
momento. Mas acima de qualquer dificuldade o sentimento que mais se
destaca é o de gratidão a todas as pessoas envolvidas na execução deste
trabalho e principalmente por ter tido em minha vida a oportunidade e o
privilégio de concluir meus estudos na UNESP-FCT.
Deixo meu agradecimento primeiramente a Deus, pois sem Ele nada do
que foi feito se faria.
A minha mãe pelo apoio incondicional e pela paciência nos momentos
em que tinha que me ausentar.
Aos irmãos, Maura por me receber em sua casa periodicamente durante
todo o período do curso e pelo apoio sempre, Junior e Álvaro pelo apoio e
orações.
As amigas, Viviane por sempre me dizer que devemos nos lembrar do
valor que temos como seres humanos, valor este que independe de quando
vencermos ou perdemos, e por me dar conselhos racionais em meus
momentos de fragilidade. A Lívia pela torcida e incentivo. A Glaucielen, minha
companheira de disciplinas na Unicamp Campinas e a Andréia, pela amizade
de sempre e por ser minha companheira oficial de aventuras em viagens e
congressos.
Aos amigos Márcio Catelan, Julio Zandonadi e Gilmar Soares, por me
ajudarem na execução de tarefas da pesquisa e ao Alex Pecinato, por me
apoiar com seu bom humor e amizade nos momentos finais do trabalho.
Aos colegas da graduação e da pós-graduação, que fizeram parte da
minha vida e não apenas da trajetória acadêmica, sentirei saudades.
Aos colegas de trabalho da Escola Estadual Professora Maria José
Moraes Salles, em especial aos professores Ricardo, Isac e Renata. A
Coordenadora Márcia, ao coordenador Edson, ao vice-diretor Ben-Hur e a
Diretora Dona Célia pelo apoio fundamental e incondicional, e pelas orações.
Aos meus alunos que agüentaram muitas vezes as conseqüências
inevitáveis causadas pela pressão e acumulo de atividades e por me apoiarem
sempre que precisei me ausentar das aulas.
Aos amigos da Igreja Adventista do Sétimo Dia - central de Bragança
Paulista, pelas orações.
A Ivonete, Márcia, Cintia, André e Erynad da pós-graduação pela
dedicação.
A Lúcia, secretária do departamento de Geografia por estar sempre
disposta a ajudar.
A Ana Cláudia, secretária do Gasperr, pela ajuda e incentivo.
Ao Luciano, por ter uma palavra amiga sempre quando me encontrava
confinada na sala de leitura e pelos biscoitos que chegavam bem na hora da
fome.
Aos professores da pós-graduação por todo o conhecimento e
experiência de vida transmitida.
E em especial ao meu orientador e amigo Arthur, pelo apoio em todos os
momentos, pela dedicação ao trabalho e por o me deixar desistir. Enfim, as
palavras são insuficientes para demonstrar a gratidão que sinto. O admiro
muito.
Agradeço a Deus por colocar em meu caminho todos os envolvidos
direta e indiretamente na execução dessa dissertação. Que Deus os abençoe
sempre.
“O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem
pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como
deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus”
I Coríntios 8: 2 e 3.
Resumo
Esta pesquisa teve como interesse principal o processo de
reestruturação urbana e a análise da centralidade intraurbana da cidade de
Bragança Paulista – SP.
Tomamos, pois como objetivo central em nossa pesquisa a busca
pela compreensão das relações existentes entre a morfologia urbana que
aponta para os processos de reestruturação urbana e de formação de novas
centralidades a partir da escala intraurbana da cidade. Com a intenção de
analisar, compreender e também de propor novos questionamentos acerca das
permanências e transformações da cidade, que identificam conseqüências e
tendências do processo de reestruturação urbana. Propusemo-nos a identificar
áreas dotadas de centralidade presentes na cidade de Bragança Paulista e sua
relação com a formação de espacialidades e temporalidades, analisando a
constituição de novos espaços de produção e consumo bem como sua
participação na construção do processo de reestruturação da cidade.
Para isso, nos dedicamos a analisar como se configuram as
atividades econômicas presentes na cidade estudada, pois os dados obtidos
demonstram como se comportam as características relativas ao centro e as
áreas centrais contribuindo para a compreensão da dinâmica social e
econômica do espaço urbano em questão e, desse modo, do processo de
reestruturação urbana.
Palavras-chave: reestruturação urbana; centralidade; morfologia; Bragança
Paulista – SP.
Abstract
This research had as main concern the process of urban
restructuring and analysis of the centrality intra-urban city of Bragança Paulista
- SP.
We therefore main objective in our research the quest for
understanding the relationship between urban morphology that points to the
processes of urban restructuring and formation of new centers from the scale
intra-urban city. With the intention to analyze, understand, and also propose
new questions about continuities and transformations in the city, identifying
trends and consequences of the process of urban restructuring. We have
proposed us to identify areas endowed with gifts of centrality in the city of
Bragança Paulista and its relation to the formation of spaces and times,
analyzing the constitution of new spaces of production and consumption as well
as its participation in the construction of the restructuring of the city.
For this, we are dedicated to analyzing how to configure the
present economic activities in the city studied, because the data obtained show
the characteristics as they behave on the center and the central areas
contributing to the understanding of social and economic dynamics of urban
space in question and thus the process of urban restructuring.
Key-words: urban restructuring; centrality; morphology; Bragança Paulista
SP.
Lista de mapas
1 Mapa de Localização do município de Bragança Paulista
no Estado de São Paulo.
19
2 Municípios segundo tipologia do PIB municipal, 2007. 43
3 Eixos de concentração de Atividades Comerciais e de
serviços, 2009.
48
4 Mapa de zoneamento urbano 81
Lista de figuras
1 Gráfico: Distribuição da população, segundo grupos de
Vulnerabilidade Social Estado de o Paulo e município
de Bragança Paulista – 2000
43
2 Relatório de Mobiliários Permanentes, 2010. 51
3 Teoria das Zonas Concêntricas 71
4 Teoria das Zonas 72
5 Teoria dos Núcleos Múltiplos 73
6 Uma possibilidade para as cidades brasileiras ? 75
7 Foto 1: Rua Coronel João Leme – eixo 4 87
8 Foto 2: Rua Coronel Theóphilo Leme – eixo 5 88
9 Foto 3: Rua Coronel Leme – eixo 6 89
10 Foto 4: Praça Raul Leme – eixo 7 90
11 Foto 5: Avenida dos Imigrantes – eixo 2 92
12 Foto 6: Avenida José Gomes da Rocha Leal – eixo 3 92
13 Foto 7: Avenida Antônio Pires Pimentel – eixo 1 97
14 Foto 8: Rua Doutor Freitas – eixo 12 98
Lista de tabelas
1 Bragança Paulista. Produto Interno Bruto a preço de
mercado total e per capita e população residente... 1995 -
2007
34
2 Bragança Paulista. Produto Interno Bruto a preço de
mercado total e per capita e população residente... 1995 -
2007
35
3 Frota de veículos em Bragança Paulista 2003 – 2007. 36
4
Frota de veículos no Estado de São Paulo 2003 – 2007.
37
5 Listagem de atividades econômicas segundo a CIESP.
Bragança Paulista, 2010.
52
6 Listagem de atividades econômicas segundo a CIESP,
Bragança Paulista, 2010 (Divisões CNAE).
53
7
Bragança Paulista. Listagem de atividades econômicas
com classificação CNAE 2.0. 2010 (fac-símile)
54
8
Bragança Paulista. Listagem de atividades econômicas
com classificação CNAE 2.0. Eixos. 2010.
55
9 Tabulação de dados 61
10 Tabulação de dados com classificação CNAE 2.0. 2010. 62
11 Tabulação de dados (2) 63
12 Tabulação de dados (3) 64
13 Tabulação de dados (4) 65
14 Tabulação de dados (5) 66
15 Bragança Paulista – SP. Centro Tradicional – usos do solo
pela classificação CNAE 2.0. 2010.
85
16 Bragança Paulista SP. Total do uso do solo Centro
Tradicional
86
17 Bragança Paulista SP. Centro Expandido uso do solo
pela classificação CNAE 2.0 2010.
93
18 Bragança Paulista SP. Total do uso do solo Centro
Expandido
94
19 Bragança Paulista SP. Total do uso do solo Eixos a
partir do centro.
100
20 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 1 102
21 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 4 103
22 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 5 104
23 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 6 105
24 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 7 105
25 Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 8 106
Lista de quadros
1 Indicadores que compõem o índice paulista de
vulnerabilidade social, 2000.
41
2 Municípios por grupos da tipologia do Estado de São
Paulo, 2007.
44
3 Eixos de concentração de atividades comerciais,
industriais e de serviços, 2009
47
4 Questionários aplicados nos eixos 57
5 Caracterização do Núcleo da Área Central e da Zona
Periférica ao Núcleo
69
6 Bragança Paulista SP. Tipologia das áreas e retículas
centrais. 2009
76
SUMÁRIO
Apresentação 14
1 Introdução 16
2 Primeiros marcos para a compreensão da urbanização e
da estruturação
20
3 Bragança Paulista: rupturas ou continuidades? 29
4 Procedimentos de investigação 46
5 Centro e centralidade em Bragança Paulista 68
6 Centralidade e áreas centrais: centro tradicional, centro
expandido e eixos a partir do centro
79
6.1 Centro tradicional 80
6.2 Centro expandido 91
6.3 Eixos a partir do centro 96
6.4 Análise comparativa dos setores Centro Tradicional,
Centro Expandido e eixos que se formam a partir do
centro
101
7 Considerações Finais 109
8 Referências Bibliográficas 112
14
APRESENTAÇÃO
Concluída a graduação em Geografia no ano de 2005 pela UNESP -
FCT, juntamente com a alegria e o entusiasmo da festa de formatura vieram
decisões a serem tomadas e era preciso escolher. Escolhi o mais difícil, deixei o que
me era seguro e segui com o diploma, os sonhos e um coração já cheio de
saudades rumo à cidade de Bragança Paulista SP na qual ingressei no cargo de
professora de educação básica pela rede estadual de ensino.
Após um ano de adaptação as novas realidades, acontecimentos, e
tentativas frustradas de remoção para o retorno a região de Presidente Prudente
SP, ingressei junto ao programa de pós-graduação em Geografia no IGE- Instituto
de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Foi um período
relativamente curto, em que cursei duas disciplinas em caráter especial e durante a
execução pude ter o privilégio de vivenciar o cotidiano de uma universidade com o
porte da Unicamp e então ali começar a trilhar os primeiros passos para me inserir
efetivamente no curso de mestrado.
Ainda durante o segundo semestre de 2006 me planejei para prestar a
prova na pós-graduação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP em Presidente Prudente-SP,
mas não fui feliz nessa primeira tentativa. No ano seguinte, em 2007, cursei mais
uma disciplina como aluna especial junto à pós-graduação da Unicamp.
No período em que concluía a disciplina anteriormente mencionada,
me preparava para, mais uma vez, prestar a prova de ingresso no mestrado junto ao
Programa de Pós-Graduação em Geografia pela UNESP/FCT, período no qual me
desdobrava para estudar para a prova de proficiência, executar os trabalhos e
leituras correspondentes a disciplina especial cursada na cidade de Campinas, o
que demandava deslocamentos semanais bem como continuar com as funções
habituais relativas à minha profissão desempenhada na Escola Estadual Maria José
Moraes Salles na cidade de Bragança Paulista, unidade escolar e cidade na qual
trabalho e resido até o momento.
15
Foram momentos que demandaram disciplina, organização e para
confiar e esperar por algo que parecia tão distante de minha realidade, mas todo o
esforço foi recompensado, pois o propósito foi alcançado e ingressei em agosto de
2007 no curso de mestrado pela UNESP/FCT.
O presente trabalho significa a conquista de uma luta intensa e extensa
e que possui fundamental importância em minha vida por muitos motivos, mas entre
eles está o fato de eu ser a única em minha família a conquistar diplomas de ensino
a nível superior e isso tornou-se para mim motivo de muita gratidão, desde o
resultado do vestibular em 2001. Desde então tenho tentado me dedicar.
Neste contexto Centro e centralidade intra-urbana em Bragança
Paulista – SP aborda tentar compreender as dinâmicas inseridas no âmbito da
centralidade urbana que, por sua vez, encontram-se pautadas pelo processo de
reestruturação urbana, fazendo-se presentes através das formas e das funções
expressas na escala intraurbana. Com isso, o que nos motivou a estudar esse
determinado tema foi à intenção de analisar e compreender as novas dinâmicas do
processo de reestruturação urbana presentes na cidade.
16
1 INTRODUÇÃO
A análise das diferentes realidades urbanas pode ser uma chave de
entendimento para a sociedade atual, para as distintas e articuladas maneiras com
que o capital se reproduz e para o espaço, manifestação e condicionante social.
Tomando como ponto de partida essa premissa, inclinamo-nos, neste
trabalho, a procurar compreender as dinâmicas próprias a uma determinada
realidade urbana que, a despeito de suas singularidades, está inserida num amplo
processo de reestruturação em curso no Estado de São Paulo, ao qual, no entanto,
não nos deteremos.
1
Preocupamo-nos, especificamente, em compreender a centralidade
intraurbana de Bragança Paulista e sua morfologia, lembrando que estes dois temas
encontram-se pautados pelo processo de reestruturação urbana, fazendo-se
presentes através das formas, funções e processos expressos na cidade. Esses
mesmos, constituindo-se numa dimensão espacial e produto social, possuem um
grau de determinação sobre as ações que nele se desenrolam.
Encontra-se, assim, uma justificativa para o estudo de um par, Centro e
Centralidade, que diz respeito à forma e ao processo, respectivamente, atrelado a
tríade, morfologia, centralidade e reestruturação formando assim a base de nossas
reflexões nesta pesquisa.
Centro e centralidade são elementos que nos permitem compreender a
estrutura e a estruturação urbanas. Um resultado passível de leitura da combinação
de ambos se dá pela morfologia urbana, delimitando o referencial conceitual sobre o
qual nos debruçaremos.
1
Este processo vem sendo analisado, dentre outros trabalhos, pelos pesquisadores ligados ao
Projeto Temático da FAPESP intitulado “O novo mapa da indústria no início do Século XXI: diferentes
paradigmas para a leitura territorial da dinâmica econômica no Estado de o Paulo”. Tivemos a
oportunidade de acompanhar discussões a este tema relacionadas.
17
Fundamentalmente, o que nos motivou a estudar esse tema foi a
necessidade e o interesse em analisar e compreender dinâmicas dos processos de
estruturação e reestruturação urbanas
2
presentes na cidade de Bragança Paulista
SP (ver mapa de localização. Mapa 1) que se traduzem em alterações na morfologia
e estrutura urbanas.
Isso possui rebatimentos na ampliação e nas transformações nos
papéis desempenhados pelo centro tradicional, pela área de expansão desse centro
e pelos eixos comerciais que a partir dele se constituíram.
Nossa dissertação está organizada da seguinte maneira.
No capítulo 2 abordaremos as relações existentes nos processos de
industrialização e urbanização a fim de compreendermos as dinâmicas relativas à
sociedade, a economia e a política e suas influencias junto à estrutura espacial da
cidade.
No capítulo 3 discutiremos os conceitos de estrutura, estruturação e
reestrutura urbana, fundamental para o entendimento da análise urbana proposta
em nosso trabalho e, portanto compondo o conjunto de conceitos principais por nos
abordados.
No capítulo 4 apresentaremos um perfil sócio econômico da cidade de
Bragança Paulista SP através de descrições a cerca do historio da cidade bem
como a apresentação e comparação de dados obtidos junto a órgãos como o Seade
e o IBGE, a fim de demonstrar como se configuram as diversas esferas que compõe
a nossa área de estudo.
No capítulo 5 descrevemos todos os mecanismos utilizados como
procedimentos de análise e obtenção de dados em nossa pesquisa. Sua leitura
permitiria a apreensão de várias técnicas de metodologias utilizadas, a trajetória dos
2
Há uma discussão ressente sobre a necessidade de se distinguir a reestruturação urbana da
reestruturação da cidade. Tal discussão será apresentada em capítulo adiante. Para compreender
seu significado e pertinência ver SPOSITO (2004).
18
dados obtidos desde a coleta até a aplicação e incorporação das constatações
observadas por meio deles. Embora sua leitura possa parecer enfadonha, optamos
por mantê-lo para que fosse possível reconstruir a trajetória de investigação.
A articulação entre os dados obtidos e a teoria permitiu a compreensão
dos conceitos discutidos no capítulo 3 incorporados na dinâmica urbana da cidade
que, com o objetivo de se entender o processo de reestruturação urbana a partir da
geração de novas áreas dotadas de centralidade elegemos identificar eixos com
maior concentração de estabelecimentos comerciais e fluxo de mercadorias,
pessoas e veículos.
Ao identificarmos e analisarmos a formação de áreas centrais na
cidade no capítulo 6 nos preocuparemos em discorrer sobre os conceitos de centro
e centralidade e as relações dialéticas existentes entre eles. Para isso fizemos um
estudo entre vários autores engajados na compreensão da temática da geografia
urbana e assim atrelamos a nossa realidade de estudo as contribuições mais
relevantes e adequadas por eles levantadas.
No capítulo 8 partimos para a apresentação das áreas que compõe a
tipologia do centro da cidade de Bragança Paulista identificadas em nossos estudos
como áreas caracterizadas por perfis específicos, mas concomitantemente
relacionados. Tais áreas foram estudadas principalmente a partir da análise de
atividades econômicas presentes em cada uma delas, o que nos trouxe a
compreensão do caráter econômico do centro urbano da cidade.
Munidos de base teórica e dados que nos revelaram a situação da
dinâmica urbana no âmbito da cidade partimos para o capitulo que trata da
hierarquização do sistema viário e da expansão urbana da cidade fornecendo-nos
instrumentos para a identificação do sentido do crescimento da malha urbana.
Por fim, apresentamos nossas considerações sobre a pesquisa
desenvolvida, oferecendo uma análise e uma síntese do que foi trabalhado
contribuindo assim para a possibilidade do desenvolvimento de novos estudos na
área urbana a partir do que foi por nos realizado.
19
20
2 PRIMEIROS MARCOS PARA A COMPREENSÃO DA URBANIZAÇÃO E
DA ESTRUTURAÇÃO
Os processos referentes à industrialização e à urbanização estão
associados intrinsecamente com o desenvolvimento do capitalismo e, em
contrapartida, servem para o entendimento da sociedade contemporânea. Para
tanto, é importante estudar as bases do capitalismo industrial, seus
mecanismos de regulação, sua atuação junto à sociedade, bem como sua
influência na estruturação espacial, econômica, política e social da cidade.
Partiremos, pois, tratando da implantação do capitalismo
industrial, que surge na Europa com o rompimento do domínio da economia
feudal, transferindo o caráter da circulação das mercadorias visando não mais
a troca e sim o lucro.
A condição fundamental para o desenvolvimento do capitalismo
industrial é a formação de uma classe trabalhadora livre, organizada com o
intuito de servir de mão-de-obra para a indústria e criando condições junto ao
Estado para a concepção de infra-estruturas que serviriam para impulsionar
esse desenvolvimento.
Para Sposito (1988), essa condição foi essencial e necessária
para o capitalismo. A esse respeito assevera:
Ressaltamos como a constituição dos comerciantes em classe
social a burguesia a partir do fortalecimento da atividade
comercial e da acumulação de capital dela decorrentes, reforça
sobremaneira as condições infra-estruturais (por exemplo,
melhoria das estradas e do transporte marítimo) e
superestruturais (por exemplo, desenvolvimento de instituições
legais que passam a proteger o comércio, em detrimento dos
interesses da aristocracia feudal e das corporações) para este
desenvolvimento. (SPOSITO, 1988. p. 43).
Esses fatores foram somados ao crescimento das cidades pela
divisão do trabalho, agora entre cidade e campo, e a nova condição do servo,
21
que a partir de então se tornava trabalhador assalariado e, estando livre do
julgo feudal, fazendo com que a indústria artesanal passasse por processos de
transformações pelos quais surgiram as corporações de ofício.
Ampliando cada vez mais sua capacidade produtiva, nasce a
manufatura como condição decorrente desse processo, contribuindo de forma
expressiva para a presença do trabalho assalariado e culminando na atração
cada vez maior da população para as áreas urbanas, modificando assim o
caráter da produção artesanal.
Não obstante, esse processo ganhou ainda mais reforço devido
às transformações oriundas do campo, pelo fim das terras comunais e o
crescimento populacional, servindo de vasta mão-de-obra operária.
Desenha-se, então, o quadro para o estabelecimento da
Revolução Industrial, cujo cerne, segundo Sposito (1988), ia além da invenção
da máquina a vapor. A esse respeito ressalta que:
De fato, o que se denomina como Revolução Industrial,
ocorrida na segunda metade do século XVIII, foi muito mais do
que a decorrência da simples descoberta da máquina a vapor
(1769), dos teares mecânicos de fiação (1767, 1768 e 1801),
da locomotiva e da estrada de ferro (1829), como alguns livros
didáticos afirmam. Muito pelo contrário, essas invenções não
se constituem a causa da Revolução Industrial, mas decorrem
de processos de transformação pelos quais estava passando o
próprio processo de produção industrial desde o século XVI
(SPOSITO, 1988. p. 47).
Essas transformações sobre as quais Sposito (1988) menciona
estavam relacionadas às mudanças no caráter da sociedade contemporânea,
que a partir da efetivação da indústria como principal atividade econômica,
passou a estabelecer novas relações políticas, econômicas, sociais e culturais
tendo como palco e espaço de articulação de tais acontecimentos, a cidade,
forma espacial socialmente produzida, portanto, nesse bojo.
Com o aumento da produção industrial, tornou-se cada vez mais
oportuno, devido ao capital acumulado e pelo desenvolvimento técnico e
22
cientifico, a acentuação da urbanização, a qual passou por processos de
modificações estruturais, atribuindo às cidades o papel de espaços
concentradores de capitais.
É pertinente destacar que a urbanização e a industrialização não
foram processos que aconteceram da mesma forma por toda a Europa, como
um movimento invariável.
Ainda segundo Sposito (1988), o melhor exemplo a esse respeito
foi o da urbanização na Inglaterra, o qual constituiu o:
(...) primeiro espaço de desenvolvimento pleno do capitalismo
industrial. No começo do século XIX a proporção de pessoas
nas cidades de mais de cem mil habitantes era da ordem de
10%, sendo que quarenta anos depois era de 20% - aumento
grande se comparado ao crescimento observado no século
anterior na Europa (SPOSITO, 1988. p. 49).
Dentre as mudanças estruturais ocorridas no papel desenvolvido
pelas cidades, podemos destacar: a especialização funcional, reforçando a
divisão social do trabalho no plano espacial; o aumento das relações
econômicas, entre cidades e entre o campo e a cidade; e a homogeneização
dos valores culturais.
Essa especialização funcional alterou as estruturas sociais,
fazendo com que também o espaço fosse produzido socialmente para suprir
essa nova demanda econômica baseada no desenvolvimento industrial.
Entretanto, esse processo não está presente apenas na economia e na
sociedade. Parafraseando Sposito (1988):
Esse processo reflete-se na paisagem urbana. Não dúvidas
sobre as enormes diferenças que existem entre os valores e a
história das sociedades estadunidenses e japonesa. Mas
andando pelas principais vias do centro financeiro de Nova
Iorque ou Tóquio, não vamos notar diferenças marcantes:
edifícios de concreto e vidro, avenidas, viadutos, modernos
automóveis, outdoors, da Coca-Cola e yuppies vestidos ao
estilo de Yves Saint Laurent ou de qualquer costureiro
internacional. Estes mesmos elementos podem ser observados
na Avenida Paulista, às 9 horas da manhã de uma segunda-
23
feira, ainda que São Paulo seja uma metrópole de país dito
subdesenvolvido (SPOSITO, 1988. p. 55).
O que a autora diz é que trata-se de uma especialização cultural,
tendência bastante importante, observada nas cidades do mundo e que vão
muito além de modismos e estilos que vem e vão ao sabor do tempo, mas
dizem respeito às maneiras como as pessoas se apropriam dos espaços
urbanos e interferem no padrão de consumo. Estes espaços e o que neles está
inserido alimentam, assim, o sistema capitalista de produção.
Devemos também nos atentar para o fato que a história do
desenvolvimento capitalista industrial não foi marcada apenas por avanços,
inovações no setor técnico e cientifico e de investimentos financeiros, esse
processo que fez da cidade um local de tomada de decisões também passou
por períodos de crise e estagnação, pelos quais, de maneira direta e/ou
indireta, a cidade também padeceu.
Estes processos, a urbanização e a industrialização, aos quais
podemos traçar considerável paralelismo na época contemporânea, resultam,
em estruturas urbanas que carregam marcas e heranças de modos e de
tempos pretéritos e uma gama de combinações entre o velho e o novo ao que
podemos estabelecer paralelos com a definição de rugosidades espaciais
proposta por Milton Santos.
24
A estrutura urbana e a morfologia urbana são, assim, elementos
possíveis de leitura da cidade. Assim, com o intuito de avaliarmos a
centralidade e a morfologia, nos dedicaremos a discorrer sobre estrutura,
estruturação e reestruturação.
Para compreendermos o conceito de reestruturação urbana
precisamos, antes, abordar o de estrutura urbana. O conceito de estrutura,
segundo Sposito (2004), diz respeito a um momento do processo de
estruturação, a forma como se encontra e se articulam os usos do solo em um
determinado momento.
Segundo essa autora, a estruturação dá a idéia de processo,
responsável pelo desenvolvimento de formas produtivas. Tais posicionamentos
vão ao encontro do que afirma Casas Padilla: “A estrutura não é um
instrumento analítico que sirva para conhecer a realidade, é a realidade
conhecida em um dado momento histórico e conceitualizada a um dado nível
de abstração”. (CASAS PADILLA, 1978. p. 8.). (Tradução livre da autora).
Podemos dizer que o uso da terminologia “estruturação” dá a
idéia de que as estruturas estão em constante mudança, o que realmente
acontece devido às alterações nos modos de desenvolvimento vigentes. A
expressão estrutura urbana dá ênfase aos processos urbanos como um todo,
materializados na forma e na identificação de subespaços na cidade e na rede
urbana, já a estrutura da cidade prioriza as formas, a morfologia da cidade
3
.
Em se tratando da reestruturação, Sposito (2004) afirma que se
trata de um termo que deve ser utilizado a fim de se fazer referência aos
períodos em que é vasta e profunda a atuação das mudanças que orientam os
processos de estruturação urbana e das cidades. Sendo a reestruturação
3
É importante deixar claro que essa distinção feita entre as definições, estruturação urbana e
da cidade e reestruturação urbana e da cidade, são propostas por SPOSITO. Ver
particularmente: SPOSITO, M. E. Beltrão. O chão em pedaços: urbanização economia e
cidades do estado de São Paulo. Tese (livre docência em geografia) - FCT/UNESP. Presidente
Prudente: 2004. A leitura que fazemos é, certamente, de responsabilidade nossa.
25
urbana, termo mais adequado para se tratar das dinâmicas mais recentes nos
âmbitos regionais ou referentes às redes urbanas
4
, e a reestruturação das
cidades, segundo a autora, seria o termo mais compatível às análises dos
espaços da cidade, ou seja, do intraurbano.
Para Whitacker (2003), o conceito também se refere ao processo
de articulações dinâmicas das e entre as localizações, que alteram
abruptamente uma situação preexistente num momento atual. Segundo o
autor, essa reestruturação se expressa em dois níveis, ao se articularem à
questão da centralidade intraurbana: a) na organização e reorganização dos
espaços da produção e do consumo na cidade; b) nos símbolos, signos e
sinais comercializados pela e na cidade e que se traduzem no consumo do
espaço.
Whitacker (2003) também assevera que o processo de
reestruturação urbana se encontra alicerçado nas escalas intraurbana e
interurbana, e é justamente neste ponto que os autores aqui citados entram em
um maior consenso, que lidamos atualmente com cidades que modificaram
seus papéis ao longo da história, articulando suas dinâmicas sócio-espaciais.
Alcançam-se, assim, relações em outros níveis e tomados por
uma dupla dinâmica: a da continuidade espacial e a da contigüidade espacial.
A primeira, não estabelece, necessariamente, relações hierárquicas nos
moldes crhistallerianos e se aproxima de uma interação multiescalar, enquanto
que a contigüidade se estabelece pela proximidade territorial, podendo-se
tomar como exemplo as relações estabelecidas entre uma dada cidade e sua
hinterlândia, ou entre duas cidades em uma conurbação (WHITACKER, 2009).
O entendimento de Soja (1993) em relação à reestruturação é a
de que ela está arraigada à crise do capitalismo, trata-se de uma mudança
estrutural necessária uma vez que as crises cíclicas são inerentes ao
capitalismo. A ordem anterior, assim, não mais explica o presente. Ou seja, não
4
É importante esclarecer que, a respeito do conceito de rede urbana ser tratado neste capítulo, não é nosso
objetivo trabalhar com tal abordagem em nossa pesquisa.
26
representa um processo mecânico e sim um processo indispensável para o
contínuo desenvolvimento da produção urbana da cidade.
Observa-se, então, uma relação entre a reestruturação em sua
dimensão espacial (aqui privilegiadas a dimensão urbana e da cidade, nos
termos acima discutidos) e em sua dimensão econômica.
Essa relação não deve, no entanto, ser compreendida como uma
relação de simples determinação da dimensão econômica (e social) sobre a
dimensão espacial. Vários autores irão nos subsidiar nessa compreensão, mas
devemos fazer uma primeira referência a Milton Santos que estabelece uma
relação entre forma, função, estrutura e processo, relação essa imbuída de um
processo biunívoco de determinação que resulta no espaço, tanto quanto do
espaço, por ser forma socialmente construída, surgem determinações que
incorrerão em transformações ou processos sociais. Permitiu-nos essa primeira
compreensão a obra Metamorfoses do Espaço Habitado. (SANTOS, 1988).
É sabido que os processos de estruturação urbana estão
intimamente atrelados as etapas de desenvolvimento capitalista, mas seria um
equivoco reduzir todas as manifestações do fenômeno urbano a um único
determinante, como o modo de produção capitalista.
Tais fenômenos urbanos podem ser explicados pela relação
existente entre urbanização e industrialização caracterizada por seu caráter
hegemônico, mas é importante destacar que os processos de estruturação
urbana sempre estiveram calcados no desenvolvimento de técnicas.
Citando Santos (1988), “a cidade é um elemento impulsionador
do desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas. Diga-se, então, que é a
cidade lugar de ebulição permanente
5
”. Com isso, podemos dizer que a cidade
se reestrutura através da interação entre os usos de “objetos técnicos” e da
“ação”.
5
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
27
Segundo o autor, conceitua-se como “objetos técnicos” os objetos
produzidos pelo homem, autômatos, dotados de artificialidade, tendo como
finalidade o controle; e a produção de “ações” caracterizadas como a bagagem
simbólica da humanidade, formulada no passado, mas vigentes no presente, e
possuindo como objetivo a liberdade; sendo que nesse processo de interação
os primeiros condicionam os segundos.
Citando Whitacker (2003),
[...] a análise dos modos de produção permite-nos identificar
momentos históricos nos quais o acumulo e o desenvolvimento
de técnicas causam mudanças que, num patamar histórico,
podem ser consideradas profundas. (WHITACKER, 20003.
p.22).
Desse modo, os incrementos da informação, da tecnologia e da
técnica possuem um papel fundamental para a formação de novos espaços e
novos usos dentro e fora da cidade, alterando e gerando um aumento dos
papéis
6
desempenhados por ela, criando, assim, espacialidades e
temporalidades associadas às dinâmicas sócio-espaciais presentes no espaço
urbano, reestruturando-o.
Dessa forma, o que une essa noção de espaço e tempo são as
chamadas “coexistências”, ou seja, a simultaneidade do acontecer histórico
atual, que, ainda segundo Santos (1998), através da consideração de seu eixo
e também do eixo das sucessões, é possível um entendimento dos lugares.
Em se tratando da produção capitalista e da produção do espaço
urbano, podemos dizer que, alicerçados nas idéias de Henri Lefebvre, elas são
processos de criação de obras tanto no tempo como no espaço, como a
chamada produção material e imaterial presente na sociedade, bem como sua
reprodução.
6
A maneira como se configura a questão sobre os papéis da cidade não foi possível se fazer uma análise
satisfatória, pois faltam bases de pesquisa.
28
é possível compreendermos os processos de produção
através do tempo longo, ou seja, do tempo histórico do acontecer social. Tal
acepção ampla, como nos diz Whitacker (2003), explica a análise da
urbanização como processo, pois “leva em conta a historicidade, compreende a
temporalidade dos fatos, a dinâmica dos acontecimentos e os processos de
mudança, permanência e transformação.”
7
Sendo assim a reestruturação produtiva e a reestruturação
econômica se encontram no âmbito da cidade, pois articulam as dinâmicas
sociais e econômicas inerentes a produção do espaço como um todo.
7
WHITACKER, A. M. Reestruturação urbana e centralidade em São José do Rio Preto -
SP. (doutorado em geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade
Estadual Paulista, 2003. p.28.
29
3 BRAGANÇA PAULISTA: RUPTURAS OU CONTINUIDADES?
A compreensão da reestruturação na escala intraurbana,
tomando-se a centralidade intraurbana e a morfologia como elementos
analíticos nos leva a uma primeira questão: há uma reestruturação visível por e
nestas dimensões explicativas: a centralidade e a morfologia? Podemos
identificar rupturas e/ou continuidades em Bragança Paulista?
Bragança Paulista é uma cidade de porte médio, localizada no
Sudeste do Estado de São Paulo, na Serra da Mantiqueira e exerce
considerável poder centralizador na região em que está inserida.
A estruturação de Bragança Paulista está alicerçada na história
de seu processo de formação original, que se inicia no ano de 1763, quando
ocorreu a fundação do povoado denominado Conceição do Jaguary.
Em 13 de fevereiro de 1765, o povoado foi reconhecido
oficialmente com o nome de Distrito de Paz e Freguesia de Conceição do
Jaguari. Pouco tempo depois, Conceição do Jaguary foi elevada à condição de
Paróquia, recebendo seu primeiro vigário.
Em 17 de outubro de 1767, Conceição do Jaguary foi elevada à
condição de vila com o nome oficial de Vila Nova Bragança, nome esse ligado
a tradição Portuguesa, cuja dinastia homônima durante séculos governou
Portugal e o Brasil.
Em 1797, quando existiam apenas 25 casas habitadas em
Conceição do Jaguary (atual Bragança Paulista), vários moradores, assinaram
uma petição, solicitando a emancipação do lugar.Em 24 de outubro de 1856, a
vila foi emancipada de Atibaia recebendo o nome de Bragança.
Em 30 de novembro de 1944, para diferenciar-se da cidade do
Pará de mesmo nome, Bragança passa a se chamar Bragança Paulista.
30
Em função das características climáticas singulares, em 28 de
outubro de 1964, Bragança Paulista é elevada à categoria de estância
climática. Em 1991, os distritos de Vargem e Tuiuti foram emancipados de
Bragança Paulista
8
.
A região em que se situa Bragança Paulista é parte integrante da
chamada Região Cristalina do Norte do Estado de o Paulo, fronteira com o
Estado de Minas Gerais. O clima dominante pode ser denominado de
subtropical. A hidrografia é dominada pelos rios Jaguari e Atibaia, parte da
grande bacia do Paraná. A vegetação é formada em boa parte por formações
arbóreas secundárias.
O relevo de Bragança pode ser esquematizado da seguinte
maneira:
a) bossas cristálias, denominadas popularmente por serras ou
picos, com altitudes entre 1200 - 1330 metros, suportando pastagens, pecuária
extensiva e cafezais decadentes, embora a predominância caiba aos pastos;
b) áreas amorreadas, em média a 900 metros, com café, cultura
de substância (milho) e culturas comerciais (tomate, batata inglesa);
c) várzeas quartenárias, planásseis de nível base, altitude
inferiores a 900 metros, mas superiores a 750 metros, ocupadas com a
rizicultura e a horticultura. O município é em geral montanhoso. Entres as
serras principais deparam-se a leste (lado de Minas Gerais) a serra do Lopo, o
Morro dos Souzas e do Guaripocaba. Ao Sul, o morro da Botina. Ao norte e
nordeste, as serras do Pântano, de Araras e Anhumas.
Trata-se de uma cidade de 154 anos que possui uma estrutura
antiga, de ruas estreitas, principalmente na área central.
8
Informações encontradas nos anuários e arquivos do Centro de Documentação e Apoio à
Pesquisa em História da Educação (CDAPH), da Universidade São Francisco (USF) campus
de Bragança Paulista e através do site da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista.
31
Seu processo de ocupação e urbanização foi realizado na área
mais elevada de um espigão (que hoje compreende a Rua Coronel Theóphilo
Leme, conhecida como Rua do Mercado ou do Comércio). A cidade vem
crescendo através de ocupações em suas áreas periféricas, aumentando o
tamanho e a extensão de sua malha urbana.
Segundo o IBGE, a cidade de Bragança Paulista conta com uma
população de 145.894 habitantes
9
, sendo parte integrante da Região
Administrativa de Campinas e sede de microrregião (ver mapa de localização
na página 19).
Durante o período de formação do município, houve alterações
em vários âmbitos da conjuntura social e um povoado de latifundiários, ligados
à produção do café e à produção agrícola em geral, foi dando margem para o
crescimento da cidade enquanto território e enquanto cenário social urbano,
aglutinando através dos tempos identidade e tomada de decisões. Isso ocorreu
devido a sua própria constituição histórica, o que atribuiu à cidade
características únicas, bem como sua institucionalização, capacitando-a a
novas relações políticas, econômicas e sociais dentro do cenário urbano.
Porém, pudemos perceber em trabalhos de campo e como
decorrência de nossas análises, que Bragança Paulista-SP, embora localizada
a aproximadamente 90 quilômetros da capital, não possui um dinamismo
econômico muito expressivo, o que ainda deve ser mais bem qualificado.
Apesar disso, Bragança Paulista demonstra possuir relativo poder
de atração entre as pequenas cidades localizadas em seu entorno, como:
Atibaia, Itatiba, Bom Jesus dos Perdões, Piracaia, Socorro, Pinhalzinho,
Vargem, Extrema e Camanducáia (essas duas últimas localizadas em Minas
Gerais), o que permite refletirmos sobre sua condição de cidade que exerce
papéis de intermediação devido à importância que exerce ao atrair populações
de cidades vizinhas através de seu comércio e oferta de trabalho, o que, no
9
Dados referentes à contagem de habitantes realizada pelo IBGE em 1 de julho de 2009. Ver
site www.ibge.com.br
32
entanto, não nos qualifica a entendê-la como cidade média, sobretudo, por sua
posição geográfica próxima à Região Metropolitana de Campinas, o que
demandaria análises sobre influência e centralidade no nível da rede urbana
que não foi nosso objetivo central.
É fundamental tomar ciência de que tais definições estão, bem
como os fenômenos urbanos, em constante processo de transformação a fim
de atender e dar conta de elucidar as questões que envolvem as dinâmicas
urbanas atuais, cujo tom é atribuído aos papéis da sociedade em suas diversas
atividades do ponto de vista econômico, político, social e cultural. Sendo assim,
a cidade e seus espaços tem seu caráter modificado a fim de atender as novas
demandas exigidas pela indústria e consumo, como a alteração de vias de
acesso, a instalação de cadeias de lojas, hipermercados, restaurantes e
espaços destinados ao lazer, agências bancárias, financeiras entre outras.
Uma dessas transformações esta diretamente relacionada ao centro e à
centralidade urbana conceitos que ganham nova importância dentro da
realidade da cidade.
Essa modificação no caráter dos espaços pode ser percebida em
Bragança Paulista ao caminhar pelo centro da cidade onde podemos ver
espaços antigos, como prédios e casarões de estilo colonial tomados por novas
funções e usos impostos pelo capitalismo, privilegiando assim certas áreas em
detrimento de outras. Segundo Santos (1999), “a cidade é o fenômeno mais
expressivo e representativo da união dos conceitos de Espaço e Tempo e
através dos avanços nas áreas de ciência e tecnologia, “permitindo que na
prática, isto é, na História, espaço e tempo se fundissem, confundindo-se”.
10
A esse respeito encontramos nos escritos de Santos a seguinte
consideração:
“Na cidade, hoje, a ‘naturalidade’ do objeto técnico (...) essa
historização da metafísica, crava no organismo urbano, áreas
10
SANTOS, Milton. Técnica espaço tempo: globalização e meio técnico-científico
informacional. São Paulo: Hucitec, 1998. p.81.
33
‘luminosas’, constituídas ao sabor da modernidade e que se
justapõem, superpõem e contrapõem ao resto da cidade onde
vivem os pobres, nas zonas urbanas ‘opacas’”. (SANTOS,
1998. p. 83).
Trazendo a análise para Bragança Paulista SP, podemos dizer
que essas áreas luminosas são as áreas da cidade dotadas de infra-estruturas
necessárias para o desenvolvimento econômico e social e por isso dão novos
usos a velhas formas e criam novas formas no espaço urbano. as áreas
opacas se constituiriam como sendo os lugares da cidade onde as infra-
estruturas não se fazem presente, criando assim espaços urbanos pouco
valorizados economicamente.
Junto ao site do IBGE Instituto de Geografia e Estatística,
buscamos dados que nos fornecessem base para traçarmos o perfil sócio
econômico da cidade de Bragança Paulista SP juntamente de acordo com a
análise realizada por nós mediante a aplicação de questionários junto aos
estabelecimentos comerciais e de serviços. Apresentaremos aqui uma
seqüência de dados e informações sobre os indicadores da economia e das
características da sociedade da cidade.
A tabela a seguir mostra a participação dos ramos de atividade no
percentual do PIB de Bragança Paulista no ano de 2008.
34
Tabela 1. Bragança Paulista. Produto Interno Bruto a preço de mercado total e
per capita e população residente... 1995 - 2007
TIPO
DE UNIDADES
%
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 41 0, 6213%
Pesca 5 0, 07576%
Indústrias extrativas 41 0, 6213%
Indústria de transformação 860 13, 03227%
Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 12 0, 18184%
Construção 81 1, 22745%
Comércio, reparação de veículos automotores, objetos
pessoais e domésticos
3676 55, 7054%
Alojamento e alimentação 742 11, 24412%
Transporte, armazenagem e comunicação 199 3, 0156%
Intermediação financeira, seguros, previdência
complementar e serviços relacionados
75 1, 13653%
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados
às empresas
593 8, 98621%
Administração pública, defesa e seguridade social 8 0, 12123%
Educação 89 1, 34868%
Saúde e serviços sociais 177 2, 68222%
Outros serviços coletivos, sociais e de pessoas 421 6, 37975%
Fonte: IBGE, 2008.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
35
De acordo com os dados o ramo de Comércio, reparação de
veículos automotores, objetos pessoais e domésticos é o que mais se destaca
entre os diferentes tipos de atividades, representando 55, 7054% do total do
PIB da cidade. Um dado importante de ser comparado a esse é o PIB estadual
indicando a renda per capita da população residente. Observemos a tabela
abaixo.
Tabela 2. Bragança Paulista. Produto Interno Bruto a preço de mercado total e
per capita e população residente... 1995 - 2007
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Fundação Seade.
Dados disponíveis em www.seade.gov.br/produtos/ipvs/analises/bragancapaulista.pdf
(1) Base 2002=100.
(2) População de de julho de cada ano, estimada pelo IBGE. Para 2007,
considerou-se a estimativa da população enviada ao TCU pelo IBGE e publicada
no Diário Oficial da União em 05/08/2009.
Os serviços principais oferecidos na cidade de Bragança Paulista
– SP podem ser divididos em duas categorias, a de ensino e a de consumo
11
. A
cidade possui duas instituições de ensino superior, a FESB Fundação de
ensino superior de Bragança Paulista, localizada no bairro da Penha e a USF -
Universidade São Francisco localizada no bairro São José próximo ao bairro do
Taboão, que atraem muitos investimentos imobiliários, comerciais e de serviços
11
Essa análise a respeito dos estabelecimentos comerciais e de ensino não foi abordada de maneira
satisfatória nesta pesquisa, pois era necessário um estudo detalhado dos dados com uma exposição clara e
objetiva da localização e quantidade deles. Para tanto uma melhor análise e apresentação faz-se necessária
em pesquisas futuras.
36
para a cidade, pois, recebem todos os anos milhares de estudantes oriundos
de diversas partes da região, inclusive do sul mineiro.
Os estabelecimentos de consumo são representados pelos
supermercados, sendo quatro lojas da rede Hipermercados Big localizadas no
Jardim América (loja 5 e 14), Jardim Novo Mundo ( loja 6) e no bairro do
Lavapés (loja 11).
Outro dado sobre a cidade interessante de ser analisado é o que
aborda o número de veículos por habitante entre os anos de 2003 e 2007.
Observando a tabela identificamos que o número de veículos vem aumentando
na cidade através desse período de tempo o que indica um aumento da
procura de comércios especializados em peças e reparos em automóveis, o
que gera demanda para a criação de estabelecimentos do ramo de comércio e
reparação de veículos automotivos e motos presente na cidade.
Tabela 3: Frota de veículos em Bragança Paulista 2003 – 2007.
Fonte: http://198.106.103.111/userfiles/smp/013GRASSON.pdf
Organização: SANT’ANA, M.J.R. 2010.
37
Em comparação com o número de veículos na cidade de
Bragança Paulista temos o número de veículos por tipo no mesmo período de
2003 a 2007.
Tabela 4: Frota de veículos no Estado de São Paulo 2003 – 2007.
Fonte: http://198.106.103.111/userfiles/smp/013GRASSON.pdf
Organização: SANT’ANA, M.J.R. 2010.
Em relação à renda média da população outros dados do SEADE
e do IBGE nos revelam o grau de vulnerabilidade
12
da população de Bragança
Paulista em comparação com a do Estado de São Paulo através da análise das
condições socioeconômicas e do perfil demográfico. Observemos o gráfico.
12
Estudo realizado pelo IBGE e SEADE no ano de 2000. Ver mais especificamente em
www.seade.gov.br/produtos/ipvs/analises/bragancapaulista.pdf
38
Gráfico 1
Distribuição da população, segundo grupos de Vulnerabilidade Social Estado
de São Paulo e município de Bragança Paulista – 2000 (fac-símile)
Segundo o IBGE e o SEADE existem 6 grupos que indicam o
índice de vulnerabilidade social
13
no Estado de São Paulo sendo eles:
Grupo 1 (nenhuma vulnerabilidade): 5.713 pessoas (4,6% do
total). No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal
médio dos responsáveis pelo domicílio era de R$3.504 e 8,9% deles auferiam
renda de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em média, 12,2 anos de estudo, 98,9% deles eram
alfabetizados e 84,2% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 47 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 7,4%. As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 17,2% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 5,7% do total da população desse grupo.
13
Sobre a questão da vulnerabilidade social se faz necessário dizer que tal questão merecia uma melhor
qualidade de análise para uma maior compreensão da mesma. O que poderá ser realizada em estudos
posteriores.
39
Grupo 2 (vulnerabilidade muito baixa): 33.356 pessoas (26,8% do
total). No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal
médio dos responsáveis pelo domicílio era de R$1.236 e 33,2% deles auferiam
renda de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em dia, 7,9 anos de estudo, 95,5% deles eram
alfabetizados e 51,7% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 51 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 8,6%.As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 27,6% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 5,7% do total da população desse grupo.
Grupo 3 (vulnerabilidade baixa): 23.793 pessoas (19,1% do total).
No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal médio
dos responsáveis pelo domicílio era de R$735 e 47,3% deles auferiam renda
de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em dia, 6,5 anos de estudo, 92,8% deles eram
alfabetizados e 41,2% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 45 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 14,4%. As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 20,3% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 8,5% do total da população desse grupo.
Grupo 4 (vulnerabilidade média): 14.247 pessoas (11,4% do
total). No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal
médio dos responsáveis pelo domicílio era de R$650 e 55,8% deles auferiam
renda de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em dia, 5,9 anos de estudo, 91,2% deles eram
alfabetizados e 36,0% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 42 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 19,8%. As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 22,0% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 11,1% do total da população desse grupo.
40
Grupo 5 (vulnerabilidade alta): 43.791 pessoas (35,2% do total).
No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal médio
dos responsáveis pelo domicílio era de R$510 e 64,3% deles auferiam renda
de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em dia, 4,6 anos de estudo, 85,9% deles eram
alfabetizados e 21,8% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 46 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 16,0%. As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 19,2% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 9,2% do total da população desse grupo.
Grupo 6 (vulnerabilidade muito alta): 3.645 pessoas (2,9% do
total). No espaço ocupado por esses setores censitários, o rendimento nominal
médio dos responsáveis pelo domicílio era de R$509 e 65,4% deles auferiam
renda de até três salários mínimos. Em termos de escolaridade, os chefes de
domicílios apresentavam, em dia, 4,3 anos de estudo, 82,3% deles eram
alfabetizados e 19,8% completaram o ensino fundamental. Com relação aos
indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era
de 42 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 22,7%. As
mulheres chefes de domicílios correspondiam a 13,4% e a parcela de crianças
de 0 a 4 anos equivalia a 11,4% do total da população desse grupo.
Através da tabela a seguir, que trata dos indicadores que compõe
esse índice, fica mais claro os quesitos que agravaram a situação
socioeconômica da cidade e do Estado.
41
Quadro 1
Indicadores que compõe o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – IPVS
Município de Bragança Paulista
2000
Ainda de acordo com o SEADE, analisando a tipologia dos
municípios estadual por ele realizada, contatamos que a cidade de Bragança
Paulista SP configura-se com município com perfil de serviços, o que pode
ser comparado com os dados obtidos através da aplicação de questionários na
execução do trabalho de campo junto aos estabelecimentos comerciais. Para a
Fundação SEADE essa classe de municípios se define como municípios cuja
estrutura econômica mostra-se pouco complexa, baseada principalmente nos
serviços e de pouca relevância no Estado (7,0% do PIB estadual).
42
Apesar da relativa importância que esses municípios têm na
geração do VA
14
da agropecuária paulista (21,9%), essa atividade é irrelevante
para a produção econômica municipal. Observando a composição intra grupo
do VA, o setor de serviços responde por cerca de 70,1%, enquanto o
agropecuário compreende apenas 5,8%. No entanto, cabe ressaltar que a
participação desses municípios no VA industrial e de serviços do Estado é de
6,0% e 7,6%, respectivamente.
O PIB per capita de R$ 12.009,93 desse grupo é o terceiro menor
do Estado, o que possibilita classificar tais municípios com perfil de serviços em
um nível intermediário de riqueza, sem destaque na economia estadual:
encontra-se em patamar mais baixo que o grupo de municípios com perfil
industrial, e relativamente mais alto do que o dos municípios com perfil de
serviços da administração pública. Exibe desse modo, nível muito parecido que
o dos municípios com perfil agropecuário.
Esse grupo de municípios responde por 13,2% da população do
Estado de São Paulo, com média de 30.183 habitantes por município. Apenas
oito deles têm mais de 100 mil habitantes, e o maior deles é Itapevi, com
193.686 habitantes.
Observemos o mapa do SEADE que classifica a tipologia dos
municípios paulistas.
Mapa 2. Municípios segundo tipologia do PIB municipal, 2007.
Fonte: www.seade.gov.br
14
Valor econômico adicionado ou simplesmente valor adicionado ou, ainda, valor agregado é uma noção que
permite medir o valor criado por um agente econômico. É o valor adicional que adquirem os bens e serviços ao
serem transformados durante o processo produtivo.
43
44
Essa tabela que apresentaremos agora também demonstra a
posição da cidade de Bragança Paulista dentro da tipologia dos ramos de
atividades.
Quadro 2. Municípios por Grupos da Tipologia
Estado de São Paulo - 2007
Fonte: www.seade.gov.br/produtos/ipvs/analises/bragancapaulista.pdf
Organização: SANT’ANA, M.J.R. 2010.
45
Esses tipos de dados são de grande importância para
conhecermos mais sobre a cidade e compreendermos suas alterações em
relação ao processo de reestrutura urbana e a formação de novas formas e
usos no espaço urbano.
Neste contexto, tomamos como interesse principal em nossa
pesquisa a compreensão das relações existentes entre os processos de
reestruturação urbana e de formação de novas centralidades a partir da escala
intra-urbana da cidade de Bragança Paulista SP. Consideramos que a
morfologia urbana seja um ponto importante para se observar estas relações e
para isso, propusemo-nos a identificar áreas dotadas de centralidade presentes
na cidade de Bragança Paulista e sua relação com a formação de
espacialidades e temporalidades, rupturas e/ou continuidades, analisando a
constituição de novos espaços de produção e consumo bem como sua
participação na construção do processo de reestruturação da cidade.
46
4 PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO
Existe do par dialético centro e centralidade que, diz respeito à
forma e ao processo. O estudo desse par encontra-se alicerçado na tríade
reestruturação - centralidade - morfologia, importante para a compreensão dos
estudos urbanos, que nos servirá de ponto de partida para a discussão sobre o
processo de reestruturação urbana e a produção de novas centralidades na
escala intra-urbana da cidade. Foi buscando compreende-los que iniciamos
nosso trabalho de investigação.
Para esse fim analisamos como se configura a dinâmica
econômica da cidade mediante, primeiramente, a identificação de
determinadas áreas onde concentração de atividades econômicas e
conseqüentemente, um grande volume de fluxo de pessoas e veículos, embora
esse aspecto não tenha sido por nos pesquisado através de dados que possam
comprovar sua análise, a não ser através da observação empírica.
Para a realização da análise da estrutura urbana da cidade de
Bragança Paulista-SP, realizada com o objetivo de se compreender o processo
de reestruturação urbana da cidade identificando e analisando a formação de
novas centralidades em uma escala intra-urbana, optamos por identificar eixos
com maior concentração de estabelecimentos comerciais e fluxo de
mercadorias, pessoas e veículos. Na seqüência tais pontos foram observados
e pesquisados através da aplicação de questionários.
A escolha de cada eixo teve como base a análise in loco das
áreas que concentram os fluxos mais expressivos na cidade.
No Quadro a seguir, apresentamos a relação dos eixos.
47
Quadro 3
Bragança Paulista SP. Eixos de concentração de atividades comerciais,
industriais e de serviços. 2009.
EIXOS LOGRADOURO SETOR
1 Avenida Antônio Pires Pimentel Centro e Taboão
2 Avenida dos Imigrantes Jardim América –
Jardim Morumbi –
São Lourenço
3 Avenida José Gomes da Rocha Leal Centro
4 Rua Coronel João Leme Centro
5 Rua Coronel Theóphilo Leme Centro
6 Rua Coronel Leme Centro
7 Praça Raul Leme Centro
8 Praça Nove de Julho – Praça Tomas Bata – Av.
Alpheu Grimelo
Taboão
9 Rua Coronel Osório Centro
10 Rua Coronel Luis Leme Centro
11 R. Doutor Cândido Rodrigues Centro
12 Rua Doutor Freitas - Praça Jacinto Osório Matadouro
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Mediante essa identificação dos eixos de concentração de
atividades econômicas da cidade, elaboramos um mapa de concentração
industrial, comercial e de serviços a fim de demonstrar sua localização.
Observemos o mapa de eixos no mapa 2( Eixos de concentração de atividades
comerciais e de serviços. 2009).
48
V
A
R
I
A
N
T
E
D
O
G
U
A
R
I
P
O
C
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B
A
V
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E
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Bº TORÓ
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A
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S
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A
U
L
O
B
E
L
O
H
O
R
I
Z
O
N
T
E
ROD. FERNÃO DIAS
S
G
P
0
3
0
CHÁCARA
FERNÃO
DIAS
Bº CURITIBANOS
S
P
-
0
8
B
G
P
4
3
4
2
Avenida dos Imigrantes
3 Avenida José G. da Rocha Leal
4
Rua Coronel João Leme
5
Rua Coronel Theóphilo Leme
6
Coronel Leme
7
Praça Raul Leme
8
Praça 9 de Julho - Pça Tomas
Bata - Av.Alpheu Grimelo
9
Rua Coronel Osório
10
Rua Coronel Luís Leme
12 R. Doutor Freitas
1
Av. A. Pires Pimental
Organização: Júlio César Zandonadi
Maria Julia Ramos Sant’Ana
11 Dr. Cândido Rodrigues
Escala Gráfica Aproximada
49
Esse mapa foi confeccionado com o objetivo de facilitar a
visualização dos eixos a serem estudados. As linhas em vermelho evidenciam
esses eixos e a numeração presente em cada um deles pode ser comparada à
legenda no canto direito do mapa onde se encontram as correspondências
mostrando cada uma das avenidas e ruas que compõe os eixos de
observação.
Tais eixos foram constituídos através dos anos com funções
ligadas direta e indiretamente ao comércio e a prestação de serviços e, por
esse motivo, foi-se estruturando o centro tradicional da cidade e este, por sua
vez, funcionando como elemento articulador de outras áreas da cidade. Muitas
das formas urbanas e da morfologia urbana presentes atualmente são
resquícios do processo de estruturação que culminou na constituição do centro
tradicional de Bragança Paulista.
Algumas destas formas mantém suas funções e outras tiveram
seu caráter modificado através das novas dinâmicas atuais, o que permite que
se leiam processos retratados nas estruturas e na estruturação e
reestruturação desta cidade.
Após esse estudo das áreas a serem observadas começamos a
coleta de dados, através de trabalho de campo. Junto a Prefeitura Municipal
obtivemos os seguintes materiais cartográficos: mapas de abairramento, viário,
de regiões administrativas, de macro zonas urbanas, de zoneamento urbano e
mapa base da cidade e o cadastro de atividades econômicas.
Em visita a sede da CIESP obteve-se a listagem de atividades
econômicas da cidade, bem como o ramo de atividade, o endereço e outras
informações úteis à investigação.
Pelo site da prefeitura tivemos acesso ao: código de urbanismo,
plano diretor e legislação urbana do município, mapas de zoneamento urbano,
malha urbana e malha viária, total de indústrias do município e histórico básico.
50
Através do acesso em outros sites também pudemos obter a
relação de indústrias da cidade (SEADE), dados relativos ao PIB, saúde,
emprego, educação, produção industrial e agrícola, comércio e serviços
coletivos (IBGE) e código da classificação das empresas (CNAE).
O cadastro de atividades econômicas, obtido junto ao setor de
finanças da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista, em formato PDF
®
, trata
de um relatório com aproximadamente 4950 estabelecimentos comerciais,
classificados por tipo de empresa (comercial, industrial e /ou prestador de
serviços), composto em sua maioria por estabelecimentos comerciais. Esse
cadastro possuía código da atividade, nome real da empresa, número de
inscrição municipal, CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e CPF
(Cadastro de Pessoa Física) da empresa e do proprietário, respectivamente,
número de inscrição estadual, endereço e telefone.
Observemos, a seguir, listagem adquirida junto a Prefeitura.
51
Figura 2
Bragança Paulista. Relatório de Mobiliários Permanentes. 2010 (fac-símile)
Fonte: Prefeitura do Município de Bragança Paulista.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Com a listagem mencionada anteriormente, buscamos novos
dados junto a CIESP e encontrando uma listagem das indústrias e de alguns
estabelecimentos comerciais de toda a região que são membros da CIESP,
listagem esta composta pelas seguintes informações sobre as empresas: razão
social, CEP, telefone e fax, endereço eletrônico, web site, nome do diretor,
gerente financeiro, gerente de recursos humanos (RH), gerente de produção
(seguidos de endereço eletrônico de cada um dos profissionais), principais
produtos e/ou serviços, ramo de atividade, descrição e número de funcionários.
Vejamos a listagem de atividades econômicas obtida junto a
CIESP.
52
Tabela 5
Listagem de atividades econômicas. Bragança Paulista, 2010.
Fonte: CIESP
Organização: SANT’ANA. M.J.R. 2010.
A partir desses dados incorporamos a essa listagem o código da
classificação CNAE das 282 empresas pertencentes à classificação da CIESP
em Bragança Paulista e podemos observar quais são os ramos de atividade
mais presentes na cidade, embora a listagem original concedida pela CIESP
não abarcasse todas as indústrias. O que foi feito foi o acréscimo de mais cinco
colunas na tabela original compondo divisão, grupo, classe, subclasse e seção
da CNAE comparando assim o ramo de atividade descrito pela CIESP com a
classificação mais próxima da CNAE extraindo assim os números que compõe
os códigos
15
.
15
A classificação CNAE é composta de digos e, cada código de divisão corresponde a um tipo de
atividade, que pode ser mais bem identificado conforme se caminha para a análise dos grupos e classes.
53
Observemos abaixo um exemplo de acréscimo dos dados da
CNAE.
Tabela 6. Listagem de atividades econômicas segundo a CIESP, Bragança
Paulista, 2010 (Divisões CNAE).
Fonte: CIESP
Organização: SANT’ANA. M.J.R. 2010.
A fim de fazer uma divisão entre estabelecimentos comerciais e
industriais, a separação das indústrias filiadas a CIESP
16
(Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo) e uma futura inserção da classificação CNAE
17
(Classificação Nacional de Atividades Econômicas) utilizamos as informações
contidas nessa listagem para a confecção de outra contendo 1145
estabelecimentos comerciais compostos por razão social, ramo de atividade e
endereço das empresas situadas nos eixos de análise, sobre os quais
estudamos e buscamos cada vez mais informações.
16
www.ciespbp.com.br
17
www.cnae.ibge.gov.br
54
Esta listagem foi aprimorada com dados da classificação CNAE,
mas devido à falta de dados sobre a razão social das empresas que, mesmo
mediante telefonemas, não foi possível a obtenção de tais informações, pois
muitos dos funcionários se recusaram em concedê-las ou pelo fato do comércio
em questão não existir mais ou por uma possível mudança de seu endereço e
telefone de contato, não foi possível a incorporação do código de ramos de
atividade em todos os estabelecimentos.
A listagem abaixo apresenta a razão social, os ramos de
atividade, o endereço e o código de classificação CNAE de 368 dos 1145
estabelecimentos que compõem os eixos. As marcações coloridas foram
utilizadas para destacar as diferentes seções da classificação empregada.
Tabela 7
Bragança Paulista. Listagem de atividades econômicas com classificação
CNAE 2.0. 2010 (fac-símile)
Fonte: Prefeitura do Município de Bragança Paulista.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
55
Outra tabela foi confeccionada a partir desta incorporação de
dados a fim de demonstrar de melhor forma como se configura a divisão por
ramos de atividade nos eixos estabelecidos para análise. Sendo assim
extraímos desta listagem acima apenas os 368 itens correspondentes aos
estabelecimentos com ramos de atividade e quantificamos o percentual de
atividades desenvolvidas, chegando assim a seguinte tabela (Figura 3).
Tabela 8
Bragança Paulista. Listagem de atividades econômicas com classificação
CNAE 2.0. Eixos. 2010.
Fonte: Prefeitura do Município de Bragança Paulista.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Essa tabela
18
demonstra a diferenciação das atividades ao longo
dos eixos de análise, sendo possível observar que a predominância é de
estabelecimentos do ramo de atividade da seção G, que segundo a
classificação CNAE corresponde ao Comércio; reparação de veículos
automotores e motocicletas com 50% e a menor presença é de
18
Classificamos como figura, pois nesta passagem do texto ela foi obtida graficamente e tem a
função de representar nosso procedimento de construção de matrizes das quais extraímos
dados.
56
estabelecimentos é referente ao ramo de atividade da seção E, Atividades de
gestão de resíduos e descontaminação, com apenas 0,2% dos
estabelecimentos.
Observemos o modelo de questionário utilizado nesta pesquisa na
página seguinte.
57
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE
DE
CIÊNCIAS
E
TECNOLOGIA
C
AMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MESTRADO EM GEOGRAFIA
PESQUISA: “O processo de reestruturação urbana e a produção de novas centralidades.
Bragança Paulista-SP: uma análise acerca da morfologia urbana”.
PESQUISADORA: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
QUESTIONÁRIO
Entrevistador:
Quest. Nº:
Eixo: Ciesp Sim Não
1.Setor: Quadra: Face:
2.Logradouro: Nº:
3.Atividade da empresa:
4.
Localização anterior
(se houver) Logradouro: Nº:
5.Localização atual:
Tempo: É adequada?
Por quê?
Se não, motivo da
permanência:
6.Possui telefone?
Sim Não n/r Nº de linhas:
7.Possui fax?
Sim Não n/r nº de linhas:
8.Possui computador?
Sim Não n/r quantidade:
9.O computador é ligado em rede?
sim não n/r
rede interna rede externa internet Outras
10. O computador é utilizado para:
gestão e controles
Sim Não n/r
compras e contatos com fornecedores
Sim Não n/r
vendas e-commerce
Sim Não n/r
comunicação com outras empresas
Sim Não n/r
comunicação com a empresa
Sim Não n/r
outros
Sim Não n/r
11. Possui página própria na Internet?
Sim Não n/r
12. Possui endereço eletrônico?
Sim Não n/r
13. A empresa é de capital:
franquia Local regional nacional internacional
14. A empresa possui filiais?
Sim Não n/r
quantas? 1 2 ou 3 4 a 8 Mais de 8
15. A empresa pertence a uma rede?
Sim Não n/r
local regional nacional internacional
16. Clientela prioritariamente atingida:
local regional nacional internacional
17. Faixa de renda da clientela atingida:
menos que
1/2a1SM
mais que 1a2SM
mais que
2a3SM
mais que 3a5SM
mais que
5a10SM
mais que 10ª15SM
mais que
15a20SM
mais que 20SM
não sabe
n/r
Organização: SANT’ANA, M. J. R. Com base em WHITACKER, 2003.
58
Para a coleta de dados, a fim de buscar uma maior compreensão
acerca da centralização dos fluxos de pessoas, produtos, capital, informações
e serviços, optamos pela aplicação de um questionário junto ao comércio,
seguindo os eixos mencionados na página 48. É importante ressaltar que a
confecção de tal questionário partiu de um modelo existente utilizado em
pesquisa por uma também pesquisadora da área e pelo próprio orientador do
presente trabalho, devido aos muitos pontos em comum e por terem, ambas as
pesquisas, o tema principal direcionado a questão da centralidade estudada
através do viés do processo de reestruturação urbana
19
.
O questionário contém dezessete questões relacionadas à localização,
ao alcance técnico e logístico das empresas a serem entrevistadas, bem como
dados sobre a própria empresa e o seu alcance em relação à abrangência
social. A respeito da metodologia aplicada durante a execução das análises no
campo através da aplicação dos questionários é importante dizer que não foi
feita amostragem do montante de questionários a serem aplicados e sim uma
delimitação da área de pesquisa em doze eixos sendo aplicados na seqüência
de um questionário aplicado com o intervalo de duas empresas nas quais não
eram aplicados. Lembrando que levando em consideração que a empresa a
ser entrevistada recusasse responder o questionário nós a substituíamos pela
empresa mais próxima.
A denominação estabelecida para os setores da pesquisa procurou
observar aquela utilizada pela Prefeitura Municipal para denominar os bairros
e, com exceção dos eixos 9 e 12, todos foram compostos por um único
logradouro. As quadras foram classificadas por letras com início na letra A,
seguindo até a quantidade de quadras presentes em cada eixo. Tais quadras
eram classificadas de acordo com as faces direita e esquerda que compunham
os eixos.
Primeiramente, fizemos um teste para a aplicação dos questionários no
eixo 12, Rua Doutor Freitas localizada no setor do Matadouro onde foram
19
Ver: AJONAS. Andréia de Cássia da Silva, Centro e centralidade em Itu. Dissertação de
mestrado.Unesp/Fct: Presidente Prudente. 2009.
59
aplicados 30 questionários de maneira seguida, sem pular nenhum
estabelecimento, exceto aqueles que se recusaram a responder. Essa
aplicação teste foi realizada a fim de termos uma idéia de como abordar as
pessoas, do tempo dio de aplicação, da aceitação dos lojistas e de como
encaminhar cada questão a fim de obter uma melhor riqueza de informações
nas respostas. Num segundo momento partimos então para a aplicação efetiva
dos questionários e na seqüência correta. Começamos pelo eixo 12, seguidos
pelo eixo 1 e 3 sem a adoção de nenhum critério especial para essa ordem.
Das impressões obtidas in loco, em relação às aplicações de
questionários e visitas, podemos tirar várias conclusões e questionamentos a
respeito da organização espacial e social dos eixos de análise. Junto à
população e aos comerciantes os questionários foram revelando opiniões e
críticas direcionadas ao uso e função do espaço urbano. Muitas dessas
opiniões eram a respeito da falta de políticas blicas, de melhoria e expansão
do comércio e das vagas disponíveis para o mercado de trabalho,
negligenciadas pelo poder público local e nacional, além de críticas referentes
ao caráter morfológico dos espaços da cidade e sua falta de adequação as
funções contemporâneas necessárias. Essas contribuições eram obtidas
através de conversas informais que, em alguns casos, acompanhavam a
aplicação dos questionários às empresas da cidade, nas quais membros da
população presentes esporadicamente nos estabelecimentos no momento da
aplicação também expunham suas contribuições e insatisfações.
As obtenções dos dados através dos questionários apresentaram
algumas dificuldades, entre elas a desconfiança dos lojistas em responder as
questões referentes à presença de telefone, fax e computador em seus
estabelecimentos. Muitos desses lojistas se recusavam a responder o
questionário por não ter conhecimento da divulgação dos dados futuramente,
mesmo recebendo explicações que esses dados seriam utilizados para fins
de pesquisa acadêmica. Em outros estabelecimentos a dificuldade foi
conseguir fazer contato com o proprietário ou responsável pelo comércio, de
modo que os funcionários ou não eram autorizados a responder ou tinham
receio de nos dar informações que não lhes eram permitidas.
60
A aplicação dos questionários em campo seguiu a seguinte lógica.
Primeiramente era realizada uma visita no eixo de aplicação e anotado os
nomes de todos os estabelecimentos, seguidos dos números de identificação
no logradouro, da face esquerda e direita de todas as quadras pertencentes ao
eixo. Depois então partíamos para a aplicação propriamente dita, seguindo a
seqüência pré-estabelecida. Tal visita realizada a priori contribuía para uma
visão clara do número de questionários a serem aplicados e dos
estabelecimentos a serem visitados, o que facilitava muito no caso de uma
empresa se recusar a responder ou no caso de ser necessário um retorno a
área para aplicação de questionários pendentes.
A respeito da metodologia empregada na tabulação dos dados
descreveremos aqui como foi feita a transferência das informações obtidas em
campo para a planilha de dados.
Através da confecção de uma coluna para cada questão que compunha
o questionário, sendo colocado para as questões de múltiplas possibilidades de
respostas, como foi o caso da questão 10, que possuía cinco subitens nos
quais as respostas deveriam ser marcadas em quadrados seguidos por sim e
não. Sendo assim foi criada uma correlação entre cada subitem a uma letra
(a,b,c,d,e,f) que seguiam a ordem dos itens com respostas assinaladas no
quadro “sim”.
Vejamos um exemplo da questão 10, sobre o uso do computador no
estabelecimento, no quadro abaixo.
61
Tabela 9
Tabulação de dados
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
Depois da transferência dos dados presentes nos questionários
impressos para a planilha do EXEL® foi inserida uma coluna logo após do
nome da empresa constando o código da CNAE. A obtenção desse código foi
adquirida através da busca na web site da Classificação Nacional de Atividades
Econômicas a partir das informações sobre o ramo de atividade que as
empresas entrevistadas respondiam na questão 4 do questionário.
Observemos um exemplo da incorporação dos dados da CNAE nesta
tabela.
62
Tabela 10
Tabulação de dados com classificação CNAE 2.0. 2010.
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
As primeiras três questões que compõem o questionário são referentes
ao setor cujo eixo é pertencente, seguido pela identificação do logradouro e a
atividade econômica desenvolvida pela empresa a ser entrevistada. A questão
4 compreende a possibilidade do estabelecimento em questão possuir ou não
um endereço anterior, o que é de nosso interesse nesta pesquisa, pois,
saberemos qual é a influência exercia pela empresa no espaço urbano da
cidade.
A questão 5 complementa a anterior, sendo que trata do tempo de
permanência da empresa no endereço atual bem como se esse local é ou não
adequado para o ramo de cada estabelecimento comercial e quais são os
motivos dessa adequação sendo que, se a resposta não for afirmativa é
proposta a possibilidade de o entrevistado responder por qual motivo o seu
estabelecimento permanece no local em questão.
As questões 6, 7, 8 e 9 abordam perguntas relativas a utilização de
aparelhos de comunicação, como o uso de telefone, fax e computador.
63
Vejamos abaixo os exemplos da tabulação dessas questões.
Tabela 11
Tabulação de dados (2)
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
Das questões que fazem parte do questionário algumas podem ser
levantadas em nível de comparação entre os eixos de aplicação. Uma dessas
questões tratava da adequação da avenida ou rua ao tipo de comércio exercido
(questão de número 5). Muitos dos entrevistados responderam que era
adequado, porém alegando que, apesar do grande movimento de pessoas e
veículos, e por serem ruas tradicionais de comércio, a reclamação que esteve
presente em muitos dos questionários foi o fato da falta de estacionamento nas
ruas. As avenidas centrais da cidade de Bragança Paulista são geralmente de
mão dupla, sem o canteiro central e a soma desses fatores a topografia da
cidade e especificamente da área central, pois se localiza em um espigão,
dificultam muito o trafego de veículos e o acesso a vagas nessas áreas.
64
As questões 10, 11 e 12 abordam mais especificamente o tipo de uso
dos computadores nos estabelecimentos comerciais, bem como o fato da
empresa possuir ou não página própria na internet e/ou endereço eletrônico. As
questões 13, 14, 15 16 e 17 compõem perguntas relacionadas ao tipo de
capital, número de filiais, tipo de rede comercial bem como sua abrangência
através da clientela atingida e, por fim uma questão referente à faixa de renda
da clientela atingida.
Observemos a tabulação de tais questões no quadro abaixo.
Tabela 12
Tabulação de dados (3)
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
65
Tabela 13
Tabulação de dados (4)
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R.
66
Tabela 14.
Tabulação (5).
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
Esses tipos de informações são relevantes, pois nos ajudaram na
compreensão do processo de reestruturação urbana e econômica da cidade
presente nas diversas formas e mecanismos de produção do espaço urbano,
morfologia está que se altera constantemente a fim de atender as novas
dinâmicas sociais e de mercado. Embora, seja preciso deixar claro que, o
objetivo dos dados não foi alcançado de maneira plena, pois muito do que
obtivemos na análise in loco, através dos questionários e presente na
tabulação realizada posteriormente, não foi utilizado de maneira efetiva devido
à necessidade de escolhas imposta ao longo do processo de pesquisa.
Neste contexto, um dos objetivos em se estudar a cidade de Bragança
Paulista SP está na contraposição entre local e o global, necessária para a
67
compreensão da relação de diferentes escalas dentro do espaço urbano, pois
desse modo, os estudos acerca da dinâmica urbana se enriquece ainda mais,
pois na prática as escalas não se configuram de maneira hierárquica ou linear,
mas sim de modo a trocar suas informações por entre os diferentes níveis aos
quais elas perpassam.
68
5 CENTRO E CENTRALIDADE EM BRAGANÇA PAULISTA
Um conceito importante para a fundamentação de nossas idéias é
o de centralidade que, por sua vez não pode ser explicado sem a compreensão
do conceito de centro.
A produção do espaço urbano irá se materializar no centro urbano,
também identificado como área central. O centro da cidade, de forma geral, é
dotado de uma paisagem arquitetural apresentando monumentos históricos de
grande valor simbólico para a cidade e importantíssima ao seu
desenvolvimento futuro, sendo caracterizado também pela constituição de um
nódulo principal concentrando atividades comerciais e de serviços em todos os
níveis (SANTOS, 1981).
Para Castells (1983, p.272) o centro pode ser “o ponto de partida”
para se compreender a cidade. Para o autor “além das características de sua
ocupação, uma coordenação das atividades urbanas, uma identificação
simbólica e ordenada destas atividades a criação das condições necessárias
à comunicação entre os atores” tornam único esse setor no conjunto da cidade.
Para Corrêa:
[...] a Área Central constitui-se no foco principal não apenas da
cidade, mas também de sua hinterlândia. Nela concentram-se
as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão
pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais
e intra-urbanos (CORRÊA, 2000, p. 38).
Ribeiro Filho (2004) pontua que a Área Central “tornou-se o lugar
mais privilegiado do espaço urbano” devido à “concentração das principais
atividades econômicas e dos fluxos urbanos em uma mesma área”.
Esse autor aponta que o processo de centralização, ao estabelecer
a Área Central, configurou-a de modo segmentado, com dois setores distintos e
complementares: de um lado, o núcleo central (core, Central Business District
69
ou CBD) e, de outro, a zona periférica do centro (frame, zone in transition, zona
de obsolescência), conforme apresentado na página seguinte.
Quadro 5. Caracterização do Núcleo da Área Central e da Zona Periférica ao
Núcleo
NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL ZONA PERIFÉRICA AO NÚCLEO
Uso intensivo do solo área mais
dinâmica devido à maior concentração
das atividades, sobretudo do terciário.
Área com predominância do comércio
varejista e de serviços, reconhecida
como o coração da cidade norte-
americana e solo urbano mais caro na
cidade.
Apresenta uma estrutura interna do
núcleo central diferenciada pelo valor
da terra, pela intensidade comercial,
verticalização, pelo fluxo de pedestres
e veículos ponto-pico (peak land-
value intersection).
Ampla escala vertical com variações
relativas às atividades centrais, aos
fluxos de pessoas, comunicações e
veículos.
Limitada escala horizontal.
Limitado crescimento horizontal.
Concentração diurna, durante as horas
de trabalho, da população de
pedestres.
Foco nos transportes intraurbanos
convergência do tráfego urbano.
Área de decisões. Ponto focal da
gestão do território pelo Estado.
Uso semi-intensivo do solo
comércio atacadista, armazenagem
e indústrias leves, terrenos
abandonados ou vazios.
Ampla escala horizontal as
atividades estão localizadas em
prédios baixos.
Limitado crescimento horizontal.
Área residencial de baixo status
social amplo setor residencial
caracterizados por residências
populares.
Foco dos transportes inter-regionais
localização dos terminais
ferroviários e rodoviários, presença
de depósitos, garagens e hotéis
baratos.
Área receptora de políticas públicas
do tipo requalificação, revitalização,
gentrificação ou outras, pelo Estado
ou capital privado.
Fonte: GARCEZ, Kedma Madalena Gonçalves, 2009. Elaborado a partir de Horwood e Boyce
(1959, p. 319-327), Murphy e Vance (1954, p. 418-446), Corrêa (2000, p. 40-43) e Ribeiro Filho
(2004, p. 155-167).
70
Sposito (2004) destaca em seus estudos que o centro constitui-se
por um processo de centralização de atividades, ou seja, de convergência de
elementos aglutinadores que demandam a concentração de fatores
fundamentais (comércio, serviços, gestão pública e privada, lazer e valores
materiais e simbólicos) para a manutenção da sociedade em um espaço
determinado.
Whitacker (2003) compreende o centro como perenidade, ou seja,
com um caráter de expressão territorial. Segundo o autor os centros (e sub-
centros) fazem parte de uma concentração localizável e localizada na cidade.
Em se tratando de centralidade urbana é importante ressaltar
antes de tudo, que o seu conteúdo individualizado encontra-se presente nas
mais desiguais constituições sócio-espaciais. Dentre as várias interpretações
desse termo vamos aqui nos ater a algumas delas.
A Escola de Chigado possui três formulações acerca do tema
centro e centralidade, as quais são: teoria das zonas concêntricas (Burgess),
teoria das zonas (ou dos setores de Hoyt) e teoria dos núcleos múltiplos (de Liv
e Ullman).
A teoria das zonas concêntricas compreende o desenvolvimento
da cidade a partir de uma área central na qual a forma urbana ganha lugar de
destaque nos processos sociais.
71
Figura 3.Teoria das Zonas Concêntricas
Fonte: Elaborada pela autora com base em CORRÊA, 2000.
72
A teoria das zonas (ou setores) surge como adaptação da teoria
anterior, na qual existiria uma especialização funcional e social da cidade a
partir de eixos radiocêntricos, tendência essa marcada pelo novo papel dos
espaços de habitação na lógica locacional o que altera os espaços intra-
urbanos da cidade.
Figura 4.Teoria das Zonas (ou setores)
Fonte: Elaborada pela autora com base em CORRÊA, 2000.
73
Por fim, a teoria dos núcleos múltiplos que propaga a alteração
dos modelos anteriores pelo padrão celular dos eixos, criando assim vários
núcleos o que intensifica os processos de centralização e descentralização.
Figura 5.Teoria dos Núcleos Múltiplos
Fonte: Elaborada pela autora com base em CORRÊA, 2000.
74
na concepção de Lefebvre, a centralidade abrange várias
escalas, organizando e articulando a cidade em redes de produção em nível
intra-urbano e interurbano. Então podemos dizer que a cidade também é sendo
ela possuidora de estruturas morfológicas e sociológicas, um lugar com
conteúdo social repleto de símbolos e representações. Segundo o autor:
A centralidade constitui para nós o essencial do fenômeno
urbano, porém uma centralidade considerada junto com o
movimento dialético que a constitui e a destrói, que cria ou que
extingue. (LEFEBVRE, 1999. apud: WHITACKER, 2003. p.
135)
De acordo com Whitacker (2003), a centralidade esta alicerçada
na concepção de fluxos, que são implementados pelas comunicações e
telecomunicações, e acabam definindo sua compreensão de forma mais
abrangente que a própria localização.
Sendo assim a centralidade estaria ligada a fluidez,
diferenciando-se do centro que, por sua vez, está ligado à perenidade, ou seja,
a durabilidade e rigidez existentes nos espaços da cidade. Para o autor, a
centralidade é expressão da dinâmica e dos fluxos no interior da cidade.
Partindo desses pressupostos, empreendemos a abordagem da
questão da constituição de áreas centrais na cidade de Bragança Paulista – SP
partindo de uma tipologia identificada através das observações in loco.
Para analisarmos as cidades brasileiras, parece-nos que um
primeiro ponto de partida seria avaliarmos a existência de uma morfologia que,
grosso modo, inverteria o modelo de Burguess, como abaixo apresentamos.
75
Figura 6.
Uma possibilidade para as cidades brasileiras?
Fonte: Elaborada pela autora.
Na literatura sobre o tema, este esquema teórico pode se aplicar
a um conjunto de cidades, estabelecida uma determinada periodização. Não
desenvolveremos esse assunto neste trabalho, mas procuraremos verificar
como esse “modelo” evolui ou involui tomando Bragança Paulista como objeto
de análise
Analisamos a presença de três setores que compõem a área, os
quais denominamos de: 1) centro tradicional; 2) centro expandido; 3) eixos
formados a partir do centro tradicional.
Partindo deste principio, identificamos e incorporamos aos eixos
de análise estabelecidos anteriormente, a seguinte hierarquia.
Observemos o quadro a seguir.
76
Quadro 6.
Bragança Paulista – SP. Tipologia das áreas e retículas centrais. 2009.
EIXOS
Centro Tradicional
4) Rua Coronel João Leme;
5) Rua Coronel Theóphilo Leme;
6) Rua Coronel Leme;
7) Praça Raul Leme;
9) Rua Coronel Osório,;
10) Rua Coronel Luis Leme;
11) R. Doutor Cândido Rodrigues
Centro Expandido
2) Avenida dos Imigrantes;
3) Avenida José Gomes da Rocha
Leal
Eixo
s
a partir do centro
1) Avenida Antônio Pires Pimentel;
8) Praça Nove de Julho – Praça
Tomas Bata – Av. Alpheu Grimelo;
12) Rua Doutor Freitas
Fonte: SANT’ANA, M. J. R. 2009. Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
É percebido também entre os fatores responsáveis pelo processo
de expansão territorial do centro um aumento na intensificação da circulação
dentro e fora da cidade, em diferentes representações (circulação de pessoas,
informações, mercadorias, idéias e símbolos) o que caracteriza o aspecto fluido
da cidade.
Em contrapartida, a cidade se fragmenta, mas não aleatoriamente
como que por acidente, mas intencionalmente engendrada por um processo
duplo, os quais estão atrelados às mudanças no comportamento das empresas
e a instituição da propriedade privada da terra, esta última seguida fortemente
pela especulação imobiliária.
77
Com isso, as empresas vão se instalando fora dos grandes
centros e atraindo para si todas as infra-estruturas necessárias pra o seu pleno
desenvolvimento.
O que temos então são a criação de novas formas e funções aos
espaços, bem como novas funções a formas existentes num processo de
adequação e inadequação às novas dinâmicas impostas. O que, segundo o
entendimento de Whitacker (2003), define-se como a existência de:
[...] novas e velhas formas convivendo com novos e velhos
usos, mas num certo descompasso entre a rigidez das formas
e o uso cambiante dos fluxos, que são cada vez mais
dinâmicos e dinamizadores, e, às vezes, o contrário, ou
seja, uma ausência de fluxos (WHITACKER, 2003. p. 139-140).
A partir do levantamento de dados feitos por eixos, mas
condizentes ao Centro Tradicional, ao Centro Expandido e aos Eixos que
partem do Centro Tradicional, desenvolvemos uma compreensão da
centralidade intraurbana em Bragança Paulista – SP.
Pudemos identificar diferentes arranjos espaciais das atividades
econômicas mediante essa tipologia, como a predominância de determinados
ramos de atividade presentes nos estabelecimentos comerciais identificados
nas áreas de análise.
Esses arranjos foram identificados por meio de análise dos dados
adquiridos com a aplicação dos questionários junto aos estabelecimentos
comerciais, conforme detalhado no capítulo referente aos procedimentos de
pesquisa. Posteriormente foram classificados segundo o estabelecido na CNAE
2.0, o que nos possibilitou identificar os principais ramos de atividades
presentes em cada um dos setores da cidade. Espera-se que com adoção do
sistema de classificação CNAE seja possível a comparação mais acurada entre
os dados que levantamos em trabalhos posteriores.
Como resultado desse trabalho, identificar como se configuram as
atividades econômicas dentro dos setores propostos para análise,
78
depreendendo a centralidade intraurbana de Bragança Paulista é o que nos
propusemos no capítulo seguinte.
79
6 CENTRALIDADE E ÁREAS CENTRAIS: CENTRO TRADICIONAL,
CENTRO EXPANDIDO E EIXOS A PARTIR DO CENTRO
A identificação de áreas centrais no contexto urbano nos ajuda na
compreensão dos diferentes papéis que a cidade exerce criando assim formas
e usos, o que configura novas morfologias urbanas.
A morfologia urbana, aqui analisada à luz da disposição e
conformação das áreas centrais, nos permite depreender que cada uma
dessas áreas possui formas que são determinantes, tanto quanto são
determinadas por usos distintos, moldados pelos fatores econômicos e sociais
que articulam infra-estruturas de acordo com as demandas vinculadas ao
sistema econômico vigente e vice-versa.
Partindo desse pressuposto, identificaremos a definição por nós
empregada para distinguir as áreas centrais dentro da cidade de Bragança
Paulista, sendo elas: centro tradicional, centro expandido e eixos formados a
partir do centro.
80
6.1 Centro tradicional
Foi definido, a partir de observação empírica prévia e de
sistematização de dados da listagem da prefeitura municipal e da legislação,
como descrito a seguir.
Compreende os eixos 4, 5, 6, 7, 9, 10 e 11(Observar mapa Eixos
de concentração de Atividades Comerciais, Industriais e de serviços, 2009 na
página 50).
De acordo com o que foi proposto no Plano Diretor do Município
20
de Bragança Paulista SP, Lei Complementar 534/2007, as áreas
denominadas como macrozonas urbanas são aquelas destinadas à:
a) priorização das funções urbanas de habitar, trabalhar, circular e recrear;
b) implantação prioritária dos equipamentos urbanos e comunitários;
c) ordenação e direcionamento da urbanização;
d) indução da ocupação de terrenos edificáveis, em função da disponibilidade
de infra-estrutura e do cumprimento da função social da propriedade e
e) adensamento das áreas edificadas, onde a infra-estrutura disponível não
estiver saturada;
Observamos o mapa a seguir.
20
Os estudos a cerca do Plano Diretor do Município de Bragança Paulista –SP não foram trabalhados de
maneira satisfatória nesta pesquisa, principalmente por encaminhar as análises para um outro rumo, pois
aborda os limites do município e não da cidade estudada e demandam novos estudos.
81
82
Essa área, demarcada no mapa de zoneamento urbano com a
cor cinza indica o perímetro urbano do município de Bragança Paulista - SP.
É importante ressaltar que a área central vem se constituindo
desde a fundação da cidade de Bragança Paulista e que boa parte das
edificações revela aspectos arquitetônicos da época em que o centro da cidade
era composto apenas por residências, pequenas oficinas artesanais e o
mercado municipal.
O centro tradicional possui, desse modo, também um caráter
simbólico considerável para os habitantes da cidade, pois é nesse centro que
estão impressas as transformações ocorridas ao longo do tempo e que
modificaram aspectos espaciais, econômicos e sociais que redundam na
morfologia urbana de Bragança Paulista.
Por meio das observações realizadas no trabalho de campo e na
aplicação dos questionários, podemos dizer que o centro tradicional ainda
exerce um poder centralizador considerável na cidade de Bragança Paulista,
pois abarca os principais mecanismos econômicos e de infra-estrutura
necessários para aglutinar, em sua área de abrangência, os fluxos de pessoas,
comercio, serviços, automóveis e informações necessários para compor o
espaço urbano.
Para Sposito:
ao manifestar a concentração de múltiplos papéis, tanto mais
necessariamente concentrados e hierarquizados
organizadamente na área de melhor acessibilidade no interior
das cidades, o centro é resultado do processo de crescimento
delas, por sua vez originárias da própria divisão social do
trabalho. Em outras palavras, quanto mais se acentua a divisão
social do trabalho, mais capital se concentra, o que quer dizer
especialização dos lugares, mas também um lugar de
concentração que é o centro (SPOSITO, 1990, p. 13)
Três seriam as características principais do centro da cidade para
Johnson: acessibilidade, verticalização e ausência de população residencial:
83
A acessibilidade é o fator dominante, o que seu caráter ao
centro da cidade; este é o setor da cidade ao qual se pode
chegar com maior facilidade desde o restante da área
edificada. É também a parte mais acessível em geral para os
que vivem dentro da esfera de influência da cidade,
especialmente se se deslocam por meio dos transportes
públicos.
(
JOHNSON, 1974, p.156
)
Também três tipos básicos de comércio se dariam no centro:
estabelecimentos de grande volume de vendas (magazines e cadeias de lojas),
estabelecimentos de menor volume de vendas, porém com grande volume de
dinheiro por vendas unitárias, voltados para uma população diferenciada de
alto poder aquisitivo, como joalherias e galerias de arte, e estabelecimentos de
comércios especializados (como uma livraria técnica).
O primeiro tipo de comércio descrito tenderia a localizar-se nas
ruas principais, devido ao maior fluxo de pessoas; o segundo tipo também
procuraria por uma localização central, por necessitar “captar a atenção do
público”
21
e ser identificada com uma área de certo status; o terceiro tipo,
tenderia a se localizar nas ruas secundárias, por suas próprias características
de comércio altamente especializado, que depende primordialmente de uma
propaganda representada por indicações e conhecimentos pessoais.
Ainda de acordo com Johnson, localizar-se-iam na área central
também um grande número de escritórios (públicos, privados, sedes de
empresas, profissionais liberais) que se beneficiariam mutuamente de sua
proximidade e se aproveitariam do fator acessibilidade por mais um aspecto: a
facilidade de acesso para seus empregados.
Esta proximidade dos escritórios de firmas com vários
profissionais de áreas a ela ligadas, bem como de instituições financeiras,
tenderiam à criação de um setor financeiro no centro urbano.
21
JOHNSON, J. H. Geografia Urbana. p.156.
84
Concomitantemente a estas atividades, estariam localizadas na
área central restaurantes, barbearias, bares etc., com o intuito de atenderem
aqueles que trabalham e passam pelo centro urbano. Tais atividades tenderiam
a se localizar também nas ruas secundárias do centro.
Essa caracterização apresenta, em boa medida, do que podemos
apreender da área que denominamos de Centro Tradicional.
Sua descrição também se aproxima daquela apresentada por
Whitacker (1991) para Presidente Prudente, com análises feitas no final dos
anos oitenta e início dos anos noventa.
Pudemos observar que o centro tradicional da cidade de
Bragança Paulista apresenta um comércio muito variado, composto pelos mais
diferentes estabelecimentos, com destaque aos ramos de confecções,
calçados, óticas, agências bancárias, clínicas odontológicas e lanchonetes.
Essa tendência se encontra presente principalmente nos eixos 4, 5, 6, 7, 9 e 10
e 11, compostos pelas ruas e avenidas que formam esse centro tradicional.
A concentração de atividades no centro tradicional esta voltada
para estabelecimentos do ramo de comércio; reparação de veículos
automotores e motocicletas com 71% do percentual de estabelecimentos,
seguido em menor proporção pelo ramo de serviços, que compõem 29% dos
estabelecimentos.
É importante destacar aqui que para efeito de comparação,
trabalhamos, nesse tópico do texto, com a divisão das atividades pela seção da
CNAE, o que implica em que algumas atividades de serviço, como a reparação
de veículos automotores, seja agregada à de comércio.
85
Tabela 15
Bragança Paulista SP. Centro Tradicional usos do solo pela classificação
CNAE 2.0. 2010.
Fonte: Trabalho de campo.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
Nos eixos 4 e 5 percebemos através da aplicação dos
questionários que são formados de estabelecimento mais antigos, tratando-se
de um comércio tradicional com lojas que fazem parte da economia da cidade
por muitos anos.
Em comparação aos dados obtidos através dos questionários
apresentaremos agora uma tabela criada a partir dos dados da listagem de
atividades econômicas da Prefeitura Municipal.
86
Tabela 16
Bragança Paulista – SP. Total do uso do solo – Centro Tradicional
Fonte: Prefeitura Municipal de Bragança Paulista – SP.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
Os dados nos mostram que o percentual do uso do solo com
base em dados da Prefeitura é de 46% de estabelecimentos do ramo de
comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas e de 52,4% de
estabelecimentos do ramo de serviços. Essa análise revela uma maior
participação do ramo de serviços nos eixos que compõem o centro tradicional
da cidade.
87
Figura 7: Foto 1: Rua Coronel João Leme – eixo 4
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
No caso do eixo 4, a Rua Coronel João Leme, também conhecida
pela população como “Rua do Comércio”, possui em sua maioria lojas de
roupas femininas, óticas, farmácias, salões de cabeleireiros e comércio de
calçados. É uma rua bem conhecida e movimentada, lugar de passagem das
pessoas que chegam em direção bairro-centro nos ônibus coletivos e que
descem na Av. Antônio Pires Pimentel (eixo 1).
88
Figura 8: Foto 2: Rua Coronel Theóphilo Leme – eixo 5
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
No eixo 6 os estabelecimentos comercias são um pouco
diferenciados. Ainda se podem encontrar lojas de roupas, mas podemos ver
também empórios, livrarias e espaços culturais, agencias de viajem, clínicas
odontológicas e de estética, cartórios, oficinas mecânicas, entre outros.
O fluxo de carros nesta rua é moderado em alguns períodos do
dia, mas em sua maioria segue de maneira intensa, pois se trata de uma via
que liga o bairro do Taboão ao centro da cidade. No caso, o fluxo de pedestres
é fraco, possivelmente pelo tipo de comércio instalado ao longo do eixo não
oferecer tipos de serviços de freqüente procura.
89
Figura 9: Foto 3: Rua Coronel Leme – eixo 6.
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
No caso do eixo 7, os estabelecimentos são, em sua maioria,
escritórios, clinicas médicas, lanchonetes, loja de calçados e de roupas,
agências bancárias (cinco agências no total), perfumarias, restaurantes e hotel.
Trata-se não de um espaço de comércio, mas também de um
ponto de encontro entre os habitantes da cidade. Esta é a praça mais
importante da cidade e abriga à catedral da igreja católica, área de passagem
obrigatória de quem se dirige até o centro da cidade.
90
Figura 10: Foto 4: Praça Raul Leme – eixo 7
Fonte: Trabalho de campo.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
91
6.2 Centro Expandido
Foi definido, a partir de observação empírica prévia e de
sistematização de dados da listagem da prefeitura municipal.
A área identificada em nosso trabalho como pertencente ao
centro expandido são compostas pelos eixos 2 e 3, (Observar mapa Eixos de
concentração de Atividades Comerciais, Industriais e de serviços na página 50)
a Avenida dos Imigrantes e a Avenida José Gomes da Rocha Leal, avenidas
principais que ligam a Rodovia Variante João Hermenegildo Oliveira que dá
acesso a cidade de Campinas.
Esse setor é denominado como centro expandido, pois constitui
uma área da cidade localizada ao redor do centro tradicional e que,
paulatinamente, vem recebendo atividades identificadas na literatura, ora como
centrais, ora como pertencentes à zona periférica do centro (CORRÊA, 1989),
como veremos a seguir. Porém, pudemos depreender questões específicas,
como procuraremos desenvolver a seguir.
Os eixos, 2 e 3, possuem a predominância de estabelecimentos
como concessionárias de veículos, cartórios, lojas de artigos para decoração,
matérias de construção, lojas de materiais e veículos agrícolas, bem como
Fórum, Associação da Ordem dos Advogados do Brasil, escritórios, empresas,
supermercados, postos de gasolina e Câmara Municipal.
No eixo 2 encontramos bares, padarias e restaurantes, seguidos
de concessionárias de automóveis, bancos, casas de espetáculos e barzinhos,
agência de câmbio e turismo, lojas de departamentos e de materiais de
construção, lojas de suplementos agrícolas, entre outras.
92
Figura 11: Foto 5: Avenida dos Imigrantes eixo 2.Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Autora:
Maria Julia Ramos Sant’Ana.
Figura 12: Foto 6: Avenida José Gomes da Rocha Leal eixo 3. Fonte: Trabalho de campo,
2009. Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
93
Esses eixos fazem parte do que denominados de Centro
expandido e que estende-se ao longo de três bairros da cidade, Jardim
América, Jardim Morumbi e Bairro do São Lourenço e que demonstra uma
maior variedade de atividades comerciais com maior índice a classe CNAE
“comércio; reparação de veículos automotores, com 45,7%, e de serviços,
compondo 44,9% e as atividades primárias e secundárias os outros 9,4%, o
que demonstra que, embora exista certa especialização do comércio nesta
área a variedade de estabelecimentos é grande, o que deve ser levado em
conta em nossa análise.
Tabela 17
Bragança Paulista SP. Centro Expandido uso do solo pela classificação
CNAE 2.0 2010.
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
aos dados da lista de atividades econômicas se configuram da
seguinte maneira.
94
Tabela 18
Bragança Paulista – SP. Total do uso do solo – Centro Expandido
Fonte: Prefeitura Municipal de Bragança Paulista – SP.
Organização: SANT’ANA. M. J. R. 2010.
As atividades pertencentes ao ramo de comércio; reparação de
veículos automotores e motocicletas representam 66% dos estabelecimentos
presentes sendo que 41,4% dizem respeito às atividades ligadas ao ramo de
serviços. Tais dados vem de encontro com as análises realizadas durante a
aplicação dos questionários.
Os dados pertencentes aos eixos, 2 e 3, formados a partir do
centro, não puderam ser expostos devido ao fato de que nestes eixos não foi
possível a execução da aplicação dos questionários durante o trabalho de
campo, bem como nos eixos 9 e 11.
A análise que podemos fazer dessa área da cidade é que, o
centro expandido se comporta como um setor especializado dentro do centro,
onde se concentram, em maior parcela, serviços ao passo que no centro
tradicional se concentra, principalmente, o comércio da cidade.
95
Neste setor circula um grande fluxo de veículos, pois trata-se de
uma via que liga o centro aos bairros Jardim América, Jardim Morumbi e São
Lourenço e, como foi dito, é uma das avenidas de acesso a cidade. A maior
parte de veículos que circulam neste setor é o de caminhões de transporte,
pois as concessionárias especializadas e os pontos de carga e descarga de
mercadorias se encontram nestes eixos.
Contudo, o centro expandido de Bragança Paulista imprime ao
centro da cidade uma característica de área de especialização, devido ao tipo
de empreendimentos presentes no local.
Outro fator importante de se ressaltar é o fato dos eixos que
compõe o centro expandido ligarem a área do centro tradicional aos bairros.
Dessa forma as infra-estruturas necessárias para equipar essas áreas vão
alcançando novos lugares e assim configurando novas centralidades e criando
novas formas dentro do espaço urbano da cidade.
96
6.3 Eixos a partir do centro
Foi definido, a partir de observação empírica prévia e de
sistematização de dados da listagem da prefeitura municipal
.
Compreende os eixos 1, 12 e 8 (Observar o mapa Eixos de
concentração de Atividades Comerciais, Industriais e de serviços na página
50).
Os eixos que se localizam fora do centro tradicional e que ligam
áreas mais afastadas a áreas centrais da cidade são caracterizadas em nosso
trabalho por três eixos: a Avenida Antônio Pires Pimentel (eixo 1); Rua Doutor
Freitas (eixo 12), a Praça Nove de Julho e a Praça Tomas Bata (eixo 8).
Esses eixos se configuram com considerável nível de
centralidade, possuindo estabelecimentos comerciais de diversos setores da
economia. As atividades estão ligadas aos ramos do comércio e serviços,
tendo maior destaque panificadoras, restaurantes, lojas de decoração,
lanchonetes de rede franqueada, como Mc Donald’s e Habbib’s, bares e
choperias, pizzarias, lojas de conveniência, farmácias, docerias, clínicas
veterinárias, pet shops, entre outros.
Nos eixos 1 e 12 o dado que nos chamou a atenção foi a respeito
do tempo de permanência dos estabelecimentos. Durante a aplicação dos
questionários, esses eixos apresentaram um número considerado de
estabelecimentos recém inaugurados, além do fato que, após a aplicação dos
questionários, outras visitas nos locais revelaram a instalação de novos
estabelecimento e fechamento de outros.
97
Figura 13: Foto 7: Avenida Antônio Pires Pimentel – eixo 1.
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
No eixo 1 percebemos, por meio da aplicação de questionários,
que há um destaque aos ramos de confecções, calçados, óticas, agências
bancárias, clínicas odontológicas, lojas de equipamentos agrícolas e
ferramentas, mecânica de automóveis e som automotivo, lanchonetes e lojas
correspondentes ao comercio varejista em geral.
Por esse motivo, o fluxo de automóveis e pessoas neste eixo é
muito intensa, pois concentra a maior parcela do comércio popular da cidade,
sendo, assim, a avenida mais procurada por habitantes de cidades vizinhas
que se dirigem a Bragança Paulista para realizar suas compras, utilizando-se,
em sua maioria, do transporte intermunicipal, que possui pontos de parada ao
longo da avenida.
No eixo de número 12, 54,8% dos estabelecimentos analisados
possuem menos de 5 anos de permanência no local, 25,8% deles possuem
98
entre 10 e 20 anos e apenas 3,2% dos estabelecimentos tem mais de 50 anos
de permanência.
Já no eixo 1, 60% dos estabelecimentos estão presentes a menos
de 5 anos, sendo a maioria dos outros instalados a25 anos atrás e alguns
acima dessa faixa, chegando aos 40 anos de permanência. Vejamos algumas
fotos referentes aos eixos seguintes.
Figura 14: Foto 8: Rua Doutor Freitas – eixo 12.
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Autora: Maria Julia Ramos Sant’Ana.
99
O eixo 8 localizado no bairro do Taboão, área nobre da cidade e
onde está um dos pontos de maior visitação entre os habitantes locais, o Lago
do Taboão, abarca uma grande quantidade de restaurantes (entre eles
franquias do Mc Donald’s e do Habibbis), choperias, bares, casas noturnas
além de padarias, farmácias, bancas de revistas, área de exposição de
artesanatos, academias e um hospital particular (rede Unimed).
O bairro do Taboão ainda congrega, principalmente, clínicas
médicas, o Hospital Universitário, a Universidade São Francisco e escolas
particulares. É um local muito visitado, também, pela população das cidades
vizinhas que se dirigem a cidade a trabalho, estudo, passeio, ou para se dirigir
ao hospital acima citado.
O eixo 12, por sua vez, caracteriza-se por um comércio composto
por lojas de revenda de automóveis, supermercados, lojas de móveis
planejados e decorações, veterinário e “pet shops”, consultórios médicos e
odontológicos, lotérica, agência bancária do Banco do Brasil e pequenos
comércios como bares e lanchonetes, venda de veis usados, brechós, loja
de materiais elétricos, vidraçaria, papelarias, serviço de moto-táxi, entre outros.
A listagem de atividades econômicas nos revela dados a cerca do
uso do solo neste setor da cidade ajudando a compreender seu caráter
espacial. Observemos a tabela seguinte.
100
Tabela 19
Bragança Paulista – SP. Total do uso do solo – Eixos a partir do centro.
Fonte: Prefeitura Municipal de Bragança Paulista.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Identificamos através dos dados que o uso do solo nos eixos
formados a partir do centro é representado por 40,9% de estabelecimentos do
ramo de comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas e 50,1%
dos estabelecimentos pertencem ao ramo de serviços.
Este eixo se localiza fora do centro e se caracteriza por possuir
relativa centralidade, pois supre grande parte das necessidades dos moradores
ao redor, sem que haja a necessidade dos mesmos se dirigirem ao centro
tradicional com tanta freqüência.
101
6.4 Análise comparativa dos setores Centro Tradicional, Centro
Expandido e Eixos que se Formam a partir do Centro
Com o intuito de apreender a centralidade intraurbana a partir da
análise da tipologia que estabelecemos, Centro Tradicional, Centro Expandido
e Eixos que se Formam a partir do Centro, desenvolvemos uma análise,
comparando os três recortes do ponto de vista das atividades econômicas,
destacando suas principais diferenças e semelhanças.
Essa comparação se estabelece por meio da exposição e análise
de tabelas representativas dos dados obtidos em campo, através da aplicação
dos questionários, obtidos por amostra, junto aos estabelecimentos
econômicos. Para efeito de comparação, trabalhamos, nesse tópico do texto,
com a divisão das atividades pela seção da CNAE, o que implica em que
algumas atividades de serviço, como a reparação de veículos automotores,
seja agregada à de comércio.
A tabela a seguir diz respeito à porcentagem de estabelecimentos
presentes no eixo 1, por ramos de atividade, seguindo a classificação proposta
pela CNAE, a partir da amostragem que estabelecemos, conforme descrito no
capítulo 5.
Ao observarmos os dados, verificamos que a maior parcela dos
estabelecimentos está ligada ao ramos de atividades comerciais e essa
tendência pode ser identificada nos eixos, tanto no centro tradicional, quanto no
centro expandido e nos eixos a partir do centro.
102
Tabela 20
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 1
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
No caso do eixo 1, nota-se uma expressão considerável de
estabelecimentos ligados ao ramo de serviços compondo 55,5% seguido por
37% de estabelecimentos do ramo de comércio; reparação de veículos
automotores e motocicletas.
A próxima tabela demonstra os dados obtidos no eixo 4 e que
apesar de indicar a porcentagem de 74% da presença de estabelecimentos do
ramo de comércio, assim como o eixo 1, possui uma característica diferenciada
pois o segundo maior ramo de atividade presente no eixo é o de atividades
profissionais cientificas e técnicas com 11,4%, o que mostra a especialização
de tipos de serviços presentes em diferentes ruas que compõe o centro
tradicional.
Isso mostra que embora o centro tradicional esteja composto de
praticamente os mesmos ramos de atividades as tabelas nos permitem realizar
103
uma análise comparativa dos dados que muitas vezes ressaltam informações
importantes para a compreensão da configuração desse centro tradicional.
Isso pode ser observado na tabela abaixo.
Tabela 21
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 4
Fonte: Trabalho de campo, 2009.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Os outros eixos que compõem o centro tradicional da cidade de
Bragança Paulista SP acompanham as características mencionadas por nos
sobre o eixo 1 e sua configuração.
A mesma tendência dos estabelecimentos estarem inseridos nos
ramos de atividade ligados ao comércio e aos serviços pode ser observada nos
tabelas que se segue.
104
Tabela 22
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 5
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Conhecida como “rua do mercado”, pois é nela que se encontra o
antigo mercado municipal da cidade, este eixo segue a tendência de abarcar
estabelecimentos com ramos de atividade voltados principalmente para o
comércio, sendo neste caso de 75%, e de serviços com 23,5% dos
estabelecimentos do local.
105
Tabela 23
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 6
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
O mesmo se manifesta no eixo 6 que detém 55,5% de atividades
comerciais, e 44,5% de atividades do ramo de serviços possuindo um
percentual expressivo dado importante para caracterizar o que esse eixo tem
específico.
Tabela 24
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 7
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
106
A Praça Raul Leme, correspondente ao eixo 7, também possui
uma configuração muito própria mas acompanhando os fatores específicos
mencionados para o centro tradicional. A tabela acima demonstra que 90%
dos estabelecimentos são pertencentes ao ramo do comércio.
A Praça Nove de Julho, eixo 8, também possui em sua maioria
estabelecimentos comerciais somando 60% e 40% ligados os setor de
serviços, também muito significativo assim como no eixo 6.
Tabela 25
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 8
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Agora analisaremos o eixo 12 que corresponde ao setor
denominado de eixo expandido.
Como podemos ver na tabela abaixo obedece à tendência de
estabelecimentos comerciais, com 60%, mas por outro lado apresenta 40% de
estabelecimentos ligados ao ramo de serviços.
Observemos a tabela a seguir.
107
Tabela 27
Bragança Paulista – SP. Uso do solo – Eixo 12
Fonte: Trabalho de campo, 2010.
Organização: SANT’ANA, M. J. R. 2010.
Com isso concluímos que o centro tradicional possui, de forma
geral, os mesmos ramos de atividade econômica, com algumas variações em
algumas de suas subdivisões (tomadas por nós como eixos, correspondentes
às principais ruas e avenidas).
Há, porém, diferenciações também nos eixos que partem do
Centro, um com comércio e serviços mais populares (o eixo 1) e outro com
atividades voltadas a outro público, como discorremos sobre o eixo 8.
Nossa análise nos ajuda a construir uma compreensão de que
Bragança Paulista possui uma estrutura monocêntrica, com o início de uma
transição, pelos eixos descritos no parágrafo anterior, para uma estrutura de
centro principal, com sua zona periférica, se irradiando por vias.
A presença de uma estrutura policêntrica, analisada em cidades
de porte populacional semelhante, ou ligeiramente maior, como Presidente
Prudente (WHITACKER, 1997 e LIMA, 2009), São Jo do Rio Preto
(WHITACKER, 2003) e Itu (AJONAS, 2009), por exemplo, não se verificou.
108
Essa constatação demanda, assim como a relação que se faz
necessária entre os questionamentos a cerca do plano diretor juntamente com
os referentes ao sistema viário que, o foram realizados devido à falta de
acesso a esse tipo de material junto a Prefeitura Municipal de Bragança
Paulista SP. Desse modo a discussão em relação ao plano diretor, realizada
em nosso trabalho, encontra-se com algumas limitações merecendo assim,
para se configurar numa melhor análise, uma nova pesquisa.
109
7. Considerações Finais
As estratégias traçadas a fim de alcançar os objetivos por nos
propostos foi o de ir além ao conhecimento dos conceitos buscando uma
profunda compreensão dos processos urbanos envolvidos procurando adotar
os procedimentos metodológicos adequados para atender a essas
expectativas.
Partindo desse principio nos debruçamos no estudo das áreas
dotadas de centralidade no âmbito intra-urbano da cidade de Bragança Paulista
SP, estudo esse baseado nos conceitos de reestruturação, centralidade e
morfologia urbanas, buscando assim compreender acerca das permanências e
transformações da cidade, que identificam conseqüências e tendências do
processo de reestruturação urbana bem como se configuram as dinâmicas
urbanas no contexto atual da cidade.
O conceito de reestruturação, por nos compreendido como sendo
um processo de modificações acerca da estrutura urbana da cidade, alterando
assim suas formas e funções configura-se em Bragança Paulista – SP da
seguinte maneira. A base fornecida através da investigação dos dados nos
ajudou na compreensão da configuração econômica das áreas centrais da
cidade que, embora tivessem a possibilidade de identificação de uma tipologia
do centro composta de três setores, sendo o centro tradicional o centro
expandido e as áreas formadas a partir do centro e o fato de cada uma delas
apresentar suas especificidades notamos que o centro tradicional ainda é o
setor urbano que concentra a maior parcela da infra-estrutura necessária para
atrair a dinâmica urbana, possibilitando assim o uso diferenciado das novas
morfologias incorporadas ao âmbito intra-urbano.
Por outro lado, podemos apreender através dos dados que existe
uma tendência para a formação de novas áreas centrais na cidade, devido ao
alcance maior das infra-estruturas na área denominada como eixos a partir do
110
centro, estendendo assim o comércio e os serviços para além do centro
urbano.
Com isso a análise do processo de reestruturação na cidade de
Bragança Paulista – SP é por nos compreendida segundo dois vieses: o de que
existem rupturas e continuidades. Ou seja, as rupturas dizem respeito às novas
formas e novas funções presentes no espaço urbano, que são fruto do
processo de reestruturação urbana da cidade ao longo de seu processo
histórico. As continuidades por sua vez, representadas por aquelas formas e
funções que permanecem no âmbito urbano, o que é o caso do aspecto
monocêntrico do centro tradicional da cidade.
Na execução de nosso trabalho identificamos alguns pontos que
poderão ser abordados em perspectivas de pesquisas futuras como:
Análises nos diferentes níveis escalares a fim de apresentar a inserção
da cidade de Bragança Paulista nos âmbitos local, regional, nacional e
global e tendo assim mais instrumentos para demonstrar o nível de
participação e influencia presentes na dinâmica urbana;
Levantamento de dados junto às indústrias e a confecção de um mapa
das atividades industriais da cidade para a realização de um estudo em
relação à participação desse ramo de atividade;
Análise da formação de áreas dotadas de centralidade na escala
interurbana;
Realização de um estudo mais detalhado e preciso da questão do uso
do solo intraurbano.
111
Esses e outros estudos, como a análise do sitio urbano e a
questão dos papéis da cidade, indo além da maneira sobre a qual se
configuram nesta pesquisa, contribuiriam para expandir os conhecimentos
acerca dos conceitos de centro e centralidade o que permitirá avanços na
compreensão do processo de estruturação urbana e das transformações
resultantes das alterações provenientes das dinâmicas econômicas e sociais
urbanas.
112
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113
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