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mesmo cruéis. Alguns cientistas sociais receiam que defender a manifestação física da
violência como fazendo parte do padrão comportamental humano possa gerar conivência ou
acomodação diante dela. Mas na atualidade, com a violência invariavelmente presente e
estampada em nossos jornais, é difícil não chegar a essa conclusão.
O comportamento violento tem sido visto como um problema de saúde pública em
nível nacional e internacional (Pino & Werlang, 2006). A cada década a taxa de homicídio
vem ascendendo de forma alarmante. Nos anos 80 e 90, no Brasil, houve um aumento de
109% nas taxas de violência fatal (Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde
Jorge Careli [CLAVES], 2002)
e só no ano de 2007, mais de 50 mil pessoas morreram por
assassinato (Repórter Brasil, 2009).
O ser humano, geralmente, fica estarrecido com a violência que outros da sua
espécie podem manifestar, mas é evidente que o Homo sapiens a manifesta diante de alguns
contextos sociais específicos. Além do mais, qualquer pessoa está apta a cometer atos
violentos. Isso, no entanto, depende de variáveis contingentes que as impulsionam.
No meio urbano, o aumento crescente do risco de morte tem levado as pessoas a
adotarem medidas no intuito de evitar o contato com variantes violentas. Aqueles que têm
recursos financeiros se trancam em seus carros e usam cerca elétrica em suas casas para se
isolar do resto do mundo. O mercado de segurança privada cresceu 13% só no ano de 2008 e
o setor faturou quase 1,5 bilhão de reais (Democratas, 2009).
O clima de insegurança é geral. As pessoas ficam a mercê da violência, sentem-se
amedrontadas e com a sensação de que se vive em uma situação limítrofe, sempre na
possibilidade de sofrer algum ato violento.
O comportamento agressivo, no entanto, também pode se expressar entre grupos,
inclusive na forma de guerras. São comuns conflitos entre coalizões distintas nos quais
membros de um grupo se digladiam com membros de outros grupos, como, por exemplo, as
brigas entre torcedores de times de futebol.
A guerra, também, pode surgir como fruto de desordens políticas e econômicas.
Geralmente, se expressa de maneira escarpada se caracterizando por conflitos entre coalizões
manifestadas por Estados, por seus agentes, pelos grupos dominantes e por bandidos comuns
(Costa, 1999) que geralmente disputam recursos, dizimando uma ampla quantidade de civis.
No ocidente, o Estado tem exclusividade sobre o controle das forças armadas, tornando-a a
única violência aceita socialmente. Mas é justamente essa a forma de violência mais
contundente já que nenhuma outra modalidade apresenta um número tão expressivo de
mortos. Ruanda, Kosovo, e o Iraque são exemplos contemporâneos desse quadro com mais de